Teologia da Espiritualidade Pe. Luiz Gilderlane Nogueira
A Experência de Deus na Espiritualidade.
1. Introdução: Para nós cristãos é fundamental Ter uma resposta para esta questão: Como podemos perceber a presença de Deus e como entrar em diálogo com ele? Ou seja: Como fazer uma expereiência de Deus?.sobretudo na sociedade moderna e grobalizada, cuja enfase está no individualismo exacerbado, no consumismo sem medida, no culto hedonista do corpo e na falta de sentido para com a vida, é que as questões acima levantadas tem um sentido profundanmente ontológico e existêncial. Frente a esses questionamentos, as respostas encontradas nunca nos satisfazem. há em nós uma sede insaciável, algo que está na raiz do meu ser: preciso relacionar-me com Deus. Parece que há uma atração irresistível exercida por ele(Deus) sobre cada um e todos nós. Isso é expresso de forma evidente na voz do salmista quando diz: “Para onde irei, para onde fugirei”(SL 138)
É baseado nesses questionamentos, assim como numa numa comprovação comprovação cada vez mais evidente em nossos dias, de que as pessoas buscam cada vez mais na transcendência, respostas para seus questionamentos, sobretudo a partir das mais variadas expressões religiosas existentes, que nós pretendemos nesse trabalho desenvolver de forma sintética, a questão da experiência de Deus no campo da Espiritualidade. Para tal tentaremos abordar esse assunto em cinco pequenos tópicos,.a saber: 1.1. toda experiência é expressão do crescimento humano. 1.2.Marcas da experiência de Deus. 1.3.Experiencia de deus transformadora. 1.4.Espiritualidade( conceito e vivência humana). 1.5.Espiritualidade do jovem cristão( uma abordagem prática e pessoal, a partir de trabalhos que realizei junto a PJMP- pastoral da juventude do meio popular.). A seguir veremos de forma sintética e precisa, os tópicos acima citados. 1.1.A Experiência como como crescimento humano: A própria gênese da palavra experiência já nos diz o que ela siginifica. Ou Ou seja: experiência é sair do limite do próprio próprio ser, o que implica um um movimento constante. Nesse sentido, a experiência supõe tempo para assimilar o que se vai vivendo na sucessão de acontecimentos da vida. No entanto, só é possível viver, aquilo que assimilamos no coração, o que leva-nos a crer, que é algo que trata de um movimento interior e portanto tem tudo a ver com a sensibilidade. sensibil idade. Geralmente quando falamos de expereiência, estamos nos referindo ao que já está interpretado e assimilado pelo tempo, o que supõe algumas vivências significativas acolhidas pela pessoa. Assim também acontece na experiência de Deus. A pessoa que faz essa experiência, relembra continuamente vivências comuns, significativas ou fortes, que foi assumindo, assimilando,e assimi lando,e criando nela uma reação, um movimento vital e essencial do próprio ser da pessoa. Nesse sentido é importante reinterpretar as vivências fortes que faço no dia-a- dia, caso contrário
não faço uma profunda experiência de Deus. Pois a expereiência verdadeira de Deus nos fazem sentir impregnados por marcas profundas. 1.2.Marcas da Experiência de Deus:
A primeira grande marca da experiência de Deus é que ela nos faz re-ler a vida a partir de algumas vivências fortes da presença amorosa de Deus, que vai dando um sentido novo à tudo que nos cerca. Neste sentido, eu me situo e assim me interpreto, buscando me entender de modo bem diferente diante do universo que me envolve. Nisso consiste afirmar que: a vida espiritual começa quando percebo que Deus me ama. Tal percepção supõe em mim uma disposição muito muito forte para reatar laços numa reconciliação consigo e com todos os seres. Nos leva também a recuperar o verdadeiro sentido do projeto da vida humana, que é, a maturidade do homem e da mulher. Nisto consiste saber que a convicção profunda do amor que Deus tem por nós, apaga os medos e dest’roi as máscaras que nos escondem.
A Segunda marca é o conhecimento da vontade de Deus. Ou seja, é a expereiência profunda de saber o lugar que eu ocupo no plano da salvação, em favor do outro. É sobretudo a abertura para a compreensão da missão. Daí, eu vou percebendo a supreendente presença de Deus, mesmo nos caminhos tortos. O conhecimento da vontade de Deus, nos vai impulsionar a buscar e a encontrar Jesus em todas as coisas. É a experiência de vivenciar a espiritualidade de um Deus criador que continua trabalhando em cada um e em todos nós, bem como no hoje da nossa história. Daí então, vamos absolutizando valores já conhecidos, quando se percebe que tais valores são de fato assumidos pelo próprio Deus. A terceira marca dessa profunda e humanizante experiência de Deus, é a do encontro com este mesmo Deus que nos faz estremecer, ficarmos pasmos, maravilhados. O que nos nos faz afirmar com veemência, que que a experiência experiência que vivenciamos na espiritualidade, é como um horizonte, quanto mais caminhamos para ele, mais parece que ele afasta-se de nós. Porém, chegar à ele é na verdade, avançar sempre mais. Mas é justamente nisso, que consiste a nossa paz e a nossa esperança: saber que estamos sempre no caminho. Pois Deus é o inatingível, o não manipulável. Porém, a marca principal desta sede que nunca se sente satisfeita, é a paz interior. 1.3.Nem toda vivência transformadora:
Espiritual
compõe
uma
experiência
de
Deus
De fato, se quisermos saber se uma vivência se transforma em uma experiência de vida nova, ou ou em uma experiência de Deus, é preciso que as mesmas, tragam ao menos algumas marcas assimiladas acimas. É importante observar se elas desencandeiam um processo transformador da realidade vivida pela pessoa. Neste sentido, toda vivência marcante de Deus é inconfundível, torna-se uma marca na história pessoal. Podemos citar por exemplo Moisés e sua experiência de Deus, que culminou com a chegada ao Horeb, onde pode na vivência da sarça ardente, experimentar uma relação nova com Deus. Relação essa desconhecida até então, a ponto de descobrir nela o inicio da sua missão. Isso porque, uma aproximação de Deus com marca de impacto, de estremecimento, requer tempo para ser assimilada, para dar sentido novo a vida, para transformar a pessoa. Por fim, dizemos que que para vivenciarmos de fato uma uma verdadeira experiência de de Deus, quer seja no campo da mística libertadora ou da espiritualidade encarnada, é
imprescindível a abertura total á ele. Isso por que, Deus se comunica e portanto, portanto, provoca aliança conosco. Porém, é necessário de nossa parte, ao menos a disposição de abrir a porta. O que significa dizer, que querer a experiência com ele, é na verdade, estar disposto a percorrer um novo caminho. Parece portanto, ser por essa razão, que o reino é dos pequenos. Pois eles tem menos defesas, não tem muita segurança controlável a que se agarrar, e por isso mesmo, eles se deixam facilmente ser conduzidos. É nesse sentido, que o acompanhamento espiritual pode ser de grande valia, para aqueles que desejam reler corretamente as diversas e variadas vivências, a fim de que, as mesmas possam se transformar em verdadeiras experiências de Deus.
1.4. ESPIRITUALIDADE:
até então vimos alguns fundamentos necessários para entender um pouco, e acolher melhor as vivências e experiências de Deus em nossas vidas. clareando alguns conceitos fundamentais, como é o caso da espiritualidade, iremos possibilitar o nosso crescimento na vida espiritual. É por isso que a partir de agora refletiremos melhor sobre o tema da espiritualidade. Quando se fala de espiritualidade, não somente no passado, mas ainda hoje, se entende como sendo uma experiência religiosa desligada do corriqueiro da vida, longe do que fazemos. Refere-se na verdade, a práticas que ocupam um tempo e um espaço isolado de tudo o mais que fazemos no dia-a-dia. A espiritualidade não é parte de nossa vida, ela é na verdade, a nossa vida. Por isso não podemos separar a vida espiritual, de tudo que nos rodeia. .não deveria haver a separação entre as coisas de cima e as de baixo, pois isso, parte ou separa as pessoas. É bem verdade verdade também, que sem a oração não há vivencia vivencia espiritual, porém a vida espiritual não é somente a oração. A vida espiritual é na verdade uma fonte inesgotável, que se alimenta da fonte maior que é o próprio Deus. A espiritualidade á uma dimensão fundamental da vida. Assim sendo, entendemos espiritualidade apartir da oposição morte- vida e não da oposição almacorpo. Na espiritualidade não está em jogo a “vida da alma” ameaçada pelo corpo, mas
a vida do homem ameaçada pela morte. O homem espiritual não é aquele que busca através das coisas da alma, mas é o homem que guiado pelo espirito de Deus, procura este Deus, dedicando-se a construir a vida. A espiritualidade é a experiência de Deus na realização plena da vida. A nossa espiritualidade é a experiência de fé no Deus vivo que nos da vida e nos liberta da morte. É a experiência do Deus da vida, que não é a de um Deus invisível, abstrato, mas é a experiência de um Deus transcendente, criador, poderoso e libertador na vida histórica do homem. É neste sentido que podemos afirma que a espiritualidade não é somente um momento num processo da libertação, mas, a força impulsionadora da experiência de Deus. Significa portanto, o encontro com o Deus vivo na vida de cada dia. Tal vivencia, tem sua razão de ser, na oração e no compromisso com a construção da vida humana. Deste modo, oração e compromisso com a construção da dignidade humana, não são praticas alternativas, ambas exigem-se e reforçam-se mutuamente. Uma não subsiste sem a outra. A oração não é uma fuga, mas um modo fundamental de seguir Jesus, que nos torna sempre disponíveis para o encontro com o Pai e para a exigência da missão.
1.5. Espiritualidade e Oração:
falar da experiência de Deus na vida espiritual da pessoa humana, leva-nos necessariamente, ao campo da mística e da oração. Por isso traçaremos agora, em poucas palavras, a relação que há entre a espiritualidade e a oração. Apontaremos também, a dimensão transformadora e o compromisso que há de brotar, de uma vida espiritual alicerçada na oração. Sem dúvida nenhuma, foi a tradição da vida religiosa, que privilegiou a oração como o lugar da experiência de Deus. Assim sendo, a missão era vista apenas, como o final do processo que começava com a oração. Esta por sua vez, motivava e alimentava a missão. A relação entre oração e missão, oração e ação, acontecia numa só direção, cujo ponto de partida era sempre a oração. No entanto hoje, vamos compreendendo a íntima relação que há entre a oração e a ação, nas duas direções. Portanto, a partir de uma espiritualidade encarnada no hoje de nossa história, é possível afirmar que : “a oração leva ao compromisso e o compromisso leva de volta à oração”.
A oração não pode ser, e nem deve ser alienada, ela deve sim, se converter em atitude vital, de maior qualidade. O que significa dizer, que a pessoa espiritual( pessoa na sua totalidade) ou de oração, deve e tem por missão, viver mais humanamente, criando relações humanas-humanizantes, respeitando e lutando sempre pela promoção da dignidade da pessoa humana. O documento de Puebla no número 727, se refere a uma oração que de fato leve a pessoa à um compromisso libertador, bem como, de uma vida também pautada em momentos fortes de oração, intimidade com Deus. Desse modo, a oração, continua sendo o centro da experiência de Deus. Hoje também somos atraídos à uma nova compreensão que diz: é possível fazer uma profunda experiência de Deus, dentro do compromisso libertador, que se expressa como uma verdadeira contemplação na ação, oração na vida, contemplação ativa e compromisso contemplativo, no qual, deus é encontrado, no coração da vida humana. Nesse ponto, vemos que a vivência
da realidade, não apenas exige de nós momentos fortes de oração, onde se encontra Deus e ao mesmo tempo se fortalece para a ação, sobretudo, torna-se o lugar privilegiado, da experiência de de Deus. Na verdade, a vivência vivência plena da espiritualidade, o encontro com Deus, acontece no próprio trabalho que pretende transformar a realidade, no compromisso com os crucificados da história, na solidariedade com os desfigurados de ontem e de hoje, na partilha de seus sonhos, na caminhada comum, a ponto de partilhar se necessário, até o seu destino no martírio o que na tradição Bíblica chamamos do culto à Deus, na prática da justiça. Nesse contexto, queremos enfatizar que o centro da experiência de Deus passa a ser a missão, entendida entendida a partir do mistério de Jesus Cristo. Pois ele, sendo sendo o enviado enviado do pai, entrega-se totalmente à causa do reino, realizando a sua missão, em plena comunhão com o pai que o envia. É a luz do projeto de Deus, que Jesus contempla o mundo, a realidade do ser humano, comprometendo-se radicalmente e incondicionalmente, ao anúncio do reino. Dai ser a sua vida, a efetivação da chegada do reino, por isso ele afirmava:” o reino de Deus já está entre vós”. Tudo isso ele fazia imbuído de uma relação intrisica com o pai. Relação essa, motivada por uma mística profunda, que o levava ao mesmo tempo ao encontro dos desfigurados da história. Esse diálogo intimo com o pai, brota do coração e do compromisso. Isso percebemos claramente, quando Jesus se retirava para orar, pois o conteúdo central da sua oração, é o reino, o plano de Deus sobre o mundo e sobre o destino humano, bem como, a sua fidelidade a esse plano. plano. assim a oração não é instrumento para a missão, mas na na
verdade ela expressa, a comunhão interior com Deus, que dá sentido e consistência não somente à nossa vida, mas também, à própria missão. Para concluir este tópico gostaríamos de frisar, que tanto a oração, quanto a espiritualidade, numa profunda experiência de Deus, são na verdade atitudes de vida. A espiritualidade e oração, consiste, em viver diante de Deus, contemplando e compreendendo a vida, à luz do seu projeto. A oração e a espiritualidade, são nesse sentido vistas, como atitudes de vida que não excluem a necessidade de momentos fortes do que chamamos de oração pessoal, silêncio interior, intimidade com o pai de Jesus e nosso pai. Na verdade, trata-se de rezar a vida e a história, história, de expor a existência pessoal e a missão, diante de Deus. É colocar diante do pai a própria vida, a vida do nosso povo, a vida do mundo, com toda a carga de sofrimentos, lutas, vitórias, desafios e conquistas. São momentos de louvor, agradecimentos, e súplicas, mas sempre algo muito concreto, humano e humanizante, que brota a partir de algo vivido, sofrido, partilhado, porém, carregado de sinais de esperança. É desse modo que aparece a experiência de Deus, a espiritualidade e sobretudo a oração, na Bíblia.