Tudo ia muito bem até que Godofredo entrou na minha aula, pediu licença e foi falar com D. Cecília Paim. Só sei que ele apontou para a flor da jarra. Depois saiu. Ela então olhou para mim com tristeza. Quando a aula terminou, chamou-me. - Quero falar contigo, Zezé. Espera um pouco. Ficou a arrumar a bolsa. Via-se que não estava com vontade nenhuma de me falar e procurava coragem. Finalmente decidiu-se. - Godofredo contou-me uma coisa muito feia de ti, Zezé. É verdade? - Da flor? É sim, senhora. - Como é que fazes? - Levanto-me mais cedo e passo junto do jardim da casa do Serginho. Quando o portão está só encostado, entro depressa e roubo uma flor. Mas há lá tantas que nem faz falta. - Sim, mas isso não está certo. Não deves voltar a fazer isso. Não é um roubo, mas já é um pequeno furto. - Não é, não, D. Cecília. O mundo não é de Deus? Tudo o que há no mundo não é de Deus? Então, as flores são de Deus também... E eu sou filho de Deus. Ela ficou espantada com a minha lógica. - Só assim é que eu podia, senhora professora. Em minha casa não há jardim. Uma flor custa dinheiro... E eu não queria que a mesa da senhora ficasse sempre de jarra vazia. Ela engoliu em seco. - De vez em quando a senhora não me dá dinheiro para comprar um bolo recheado?... - Poderia dar-te todos os dias, mas tu somes-te... - Eu não podia aceitar todos os dias... - Porquê? - Porque há outros meninos pobres que também não trazem merenda. Ela tirou o lenço da bolsa e passou-o, disfarçadamente, nos olhos. As lágrimas estavam descendo. - Tu vais prometer-me uma coisa, Zezé, porque tens um coração maravilhoso. - Eu prometo, mas não quero enganar a senhora: eu não tenho um coração maravilhoso. A senhora diz isso porque não me conhece lá em casa. - Não tem importância. Para mim tens. Daqui em diante não quero que me tragas mais flores. Só se ganhares alguma. Prometes? - Prometo sim, senhora. E a jarra? Vai ficar sempre vazia? - Essa jarra nunca vai ficar vazia. Quando eu olhar para ela é como se lá visse sempre a flor mais linda do mundo. JOSÉ MAURO DE VASCONCELOS - O meu Pé de Laranja Lima (adaptado)
1. Que opinião tens acerca da atitude de Godofredo?______________________________
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função de «alguma» (32) 6. Escreve a regra que motiva a acentuação gráfica das seguintes palavras: Cecília porquê coração 7. Justifica a existência de: • Uma vírgula a seguir a «aula» (1)_________________________________________________ ______________________________________________________________________________ • Uma vírgula a seguir a «contigo» (5)_______________________________________
__________________________________________________________________ • Parágrafo em «quero» (5)_______________________________________________ __________________________________________________________________ • Travessão em «como» (10)______________________________________________ __________________________________________________________________ • Dois pontos a seguir a «senhora» (29)______________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________
8. Passa as frases seguintes do discurso directo para o discurso indirecto: • - Ó João, ontem verifiquei que esta minha bicicleta não serve para andar aqui.______________
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__________________________________________________________________ 10. Diz o que está errado na frases seguintes: a) A maioria dos convidados estavam felicíssimos.________________________________
b) As irmãs quiseram oferecer no dia do aniversário ao filho mais novo da sua melhor amiga de infância a bicicleta._____________________________________________________