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A ORDENAÇÃO FEMININA
- uma avaliação reformada da história, premissas e prática -
Rev. Ewerton B. Tokashiki Tokashiki SPBC-RO 16 de Maio de 2014
Introdução A questão Porque não ordenamos mulheres para o exercício dos ofícios de liderança? Esta é uma questão que precisa ser respondida. A nossa posição deve ser livre das acusações de machismo, obscurantismo e de que somos alienados às mudanças sociais da pós-modernidade. Pelo menos três argumentos gerais são usados pelos que advogam a ordenação feminina: 1. As mulheres é maioria maioria nas igrejas, por que devem ser lideradas lideradas por uma liderança minoritária de homens? 2. É notório que as mulheres cada vez mais participam em funções de liderança na sociedade, por que não nas igrejas? 3. As denominações denominações protestantes protestantes históricas históricas estão ordenando ordenando mulheres. mulheres. Sabemos Sabemos que denominações com abertura ao liberalismo teológico como a Igreja Metodista do Brasil, a Igreja Evangélica de Confissão Luterana, a Igreja Episcopal Anglicana do Brasil e a Igreja Presbiteriana Independente do Brasil têm ordenado mulheres. Recentemente a Convenção Batista Brasileira aprovaram a ordenação feminina ao cargo de pastor.
Diante desta pressão, primeiramente precisamos nos perguntar qual deve ser o critério para decidirmos, ou não, ordenar as nossas irmãs. Deve ser a pressão social , onde a opinião pública encontra-se seduzida pelo movimento feminista, em moldes de igualdade, senão superioridade aos homens? Seria o critério do pragmatismo pragmatismo, reconhecendo que muitas mulheres têm assumido a responsabilidade de liderar, mesmo sem ordenação, enquanto os homens são omissos em seus deveres na família, na igreja e na sociedade? Ou, ainda deveríamos considerar as estatísticas que apresentam mudanças quanto ao número de denominações que têm ordenado mulheres? Uma tríplice resposta Para responder esta fatídica pergunta é necessário extrairmos a nossa conclusão a partir de três fontes: 1. O testemunho da história da Igreja cristã. Os cristãos em períodos consecutivos ou esporádicos ordenaram mulheres? Perguntas como, quando,
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por que e quem certamente esclarecerá a ocorrência da prática e possibilitará uma avaliação da prática da ordenação feminina no desenvolver dos séculos. Quando a tradição preserva a verdade e a sua prática, ela deve ser honrada (1 Co 11:2-3).1 Logo, a ausente tradição de se ordenar mulheres tem que ter uma explicação, além da acusação simplista das feministas de que a Igreja sempre foi androcêntrica! 2. A interpretação exegética de textos bíblicos que oferecem alguma possibilidade para a ordenação de mulheres na liderança como um princípio regulador. Há evidências a partir do texto bíblico que a comunidade cristã do primeiro século possuía uma liderança feminina, ou que isto era prescrito como normativo, ou devemos considerar como um assunto aberto? 3. A formulação teológica sistematizada a partir do ensino geral das Escrituras acerca do princípio de autoridade, e da relação do homem e da mulher, e suas implicações. A atual inclusão feminina na liderança e nos ofícios deve ser interpretada como um desdobramento e progressão da eclesiologia reformada, ou como uma corrupção doutrinária? Este não é um assunto fácil de ser discutido por vários fatores. Primeiro, por causa da tensão que existe entre aqueles que são a favor e contra. Segundo, a complexidade do assunto. Terceiro, as implicações práticas são intensas. Por isso, este assunto deve ser estudado com um fiel temor à autoridade das Escrituras Sagradas, um senso crítico na abordagem dos argumentos que sejam a favor ou contra a ordenação feminina, tendo como alvo final a verdade, e evitando partidarismo defendido, mas visando o bem comum da Igreja de Cristo. Podemos identificar pelo menos 3 causas históricas: 1. O surgimento do feminismo 2. O igualitarismo como política social e hermenêutica bíblica e jurídica 3. A feminização e androgenia da igreja local [Nancy Pearcey, Verdade Absoluta , CPAD]. HISTÓRIA DO FEMINISMO
Margareth Köstenberger diz que existiram três ondas feministas: 1. A Primeira Onda, na década de 1830, que reivindicava justiça social e racial; 2. A Segunda Onda, década de 1960, que reivindicava igualdade de gênero; 3. A Terceira Onda, década de 1990, que se concentrou numa busca radical por autorealização feminina. 1
Gordon J. Spykman declara que “a tradição é o sangue da teologia. Separada da tradição a teologia é como uma flor cortada que sem suas raízes e sem o s olo, que murchará na mão. Uma teologia sã nunca nasce do novo. Ao honrar a sã tradição assegura-se a continuidade teológica com o passado. Ao mesmo tempo que a tradição cria a possibilidade de abrir novas portas para o futuro” in: (Jenison, Teologia Refomacional, 1994), pág. 5.
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1. A PRIMEIRA ONDA, NA DÉCADA DE 1830, QUE REIVINDICAVA JUSTIÇA SOCIAL E RACIAL
Durante os dois grandes Despertamentos que ocorreram nos Estados Unidos da América iniciou a feminização do Cristianismo. 2 (entre 1730 a 1740). Em seguida, Mary Wollstonecraft escreveu o livro A Vindication of the Rights of Woman , publicado em 1792, que provocou a discussão sobre os direitos da mulher. 3 A premissa base é a filosofia naturalista e não a Escritura Sagrada como única regra de fé e prática. Mas, estranhamente as raízes do movimento se encontram entre mulheres cristãs! Ao contrário do que muitos pensam não foi o secularismo que fomentou o surgimento do movimento feminista, mas as mulheres cristãs. Em 1837, Sarah Grimké declarou que “acredito que é o dever solene de toda mulher examinar as
Escrituras por conta própria, com a ajuda do Espírito Santo, e não ser governada pelas opiniões de homens ou grupos de homens.” 4 A segunda parte de sua afirmação desencadeou uma mentalidade igualitarista, que mais tarde resultaria numa oposição à liderança masculina. Elizabeth Cady Stanton liderou um grupo de mulheres que se reuniam para reinterpretar a Bíblia naqueles textos referentes a elas. Elas publicaram a Wom an’s Bible , publicada em duas partes, respectivamente em 1895 e 1898. 5 Numa crítica ao movimento feminista, surgindo no meio da igreja dos EUA, B.B. Warfield analisa um dos seus pressupostos e, declara que talvez, devesse acrescentar um esclarecimento do último ponto para que se faça a diferença entre Paulo e o movimento feminista de hoje [1919], que está arraigado numa diferença fundamental em suas perspectivas em relação à constituição da raça humana. Para Paulo, a raça humana é composta de famílias, e todos os diversos organismos – inclusive a igreja – estão compostos de famílias, unidos por este, ou outro vínculo. Portanto, a relação dos sexos na família continua na igreja. Para o movimento feminista a raça humana é composta de indivíduos; uma mulher é simplesmente outro individuo comparado ao homem, e não podemos considerar nenhum motivo para que existam diferenças ao tratar os dois. Se não podemos ignorar a grande diferença fundamental e natural dos sexos, e destruir a grande unidade social fundamental da família a favor do individualismo, parece não existir razão para que devamos eliminar as diferenças estabelecidas por Paulo entre os sexos na igreja; exceto, se supor-se, a autoridade de Paulo. Em tudo isto, finalmente, retornamos a autoridade dos apóstolos, como os fundadores da igreja. 6 2
Nancy Pearcey, Verdade Absoluta, págs. 373-375. A. Brown, “Feminismo” in: David J. Atkinson, org., Diccionario de Ética Cristiana y Teología Pastoral (Barcelona, CLIE, 2004), p. 614. 4 Citado por Nancy Pearcey, Verdade Absoluta (Rio de Janeiro, CPAD, 2006), pág. 364. 5 Rosino Gibellini, A Teologia do Século XX (São Paulo, Edições Loyola, 2ª ed., 2002), pp. 415-417. 6 B.B. Warfield, Paul on Women speaking in Church in: John W. Robbins, ed., The Church Effeminate (Unicoi, The Trinity Foundation, 2001), p. 215. 3
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2. A SEGUNDA ONDA OCORRE NA DÉCADA DE 1960 REIVINDICANDO A IGUALDADE DE GÊNERO Na metade do século XX as igrejas históricas começaram a ordenar mulheres. 7Os luteranos na Suécia iniciaram a prática em 1958, e os alemães também seguiram o exemplo. A Igreja Reformada e a Igreja da Escócia [presbiteriana] ordenaram a partir da década de 60. Recentemente aderiram à ordenação feminina os batistas e os metodistas na Grã-Bretanha e Austrália. A Igreja Anglicana do Canadá, na década de 1970, e a Episcopal da América em 1991, nomearam mulheres como episcopisas. 3. A TERCEIRA ONDA, DÉCADA DE 1990, QUE SE CONCENTROU NUMA BUSCA RADICAL POR AUTOREALIZAÇÃO FEMININA
Sobre uso linguagem sexista para Deus http://www.monergismo.com/textos/antropologia_biblica/deus_genero_frame.htm
Uma avaliação hermenêutica da feminina A autoridade final da Igreja é a Escritura. Logo, é necessário que se submeta à Escritura, e dela se extraia o ensino de como a Palavra de Deus prescreve aqueles que deverão participar no exercício dos ofícios da Igreja de Cristo. Entretanto, não podemos pensar que todos lerão a Escritura sem preconceitos teológicos, e que chegarão às mesmas conclusões. Existem diferentes perspectivas hermenêuticas, mas será analisada apenas aquela que está comprometida com uma interpretação em favor da ordenação de mulheres nos ofícios da Igreja.
A hermenêutica feminista
O primeiro obstáculo do caminho É praticamente impossível a tentativa de se realizar uma análise abrangente da Teologia Feminista. Algumas questões geram expressivas dificuldades para se avaliar o movimento sem cometer injustiças. Eis algumas dificuldades: 1. Cada teóloga expõe a sua própria versão desta teologia. 8Não só divergências de contexto denominacional, mas de perspectiva teológica. Cada escritora tem o 7
Robert G. Clouse, et al., dois reinos (São Paulo, Editora Cultura Cristã, 2003), pp. 576 -577. As teólogas mais expressivas do movimento subscreveram que “não pretendemos oferecer uma dogmática feminista unificada, e esperamos que tal coisa nunca venha a existir. Também não nos foi p ossível, nem foi pretensão nossa, chegar a uma perfeita homogeneidade dos diferentes artigos” in: Elisabeth Gössmann, et.al., orgs., Dicionário de Teologia Feminista (Rio de Janeiro, Editora Vozes, 1997), págs. 10-11. 8
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seu compromisso teológico orientado pelo seu contexto social e “experiência de opressão”.
2. A articulista Helen Schüngel-Straumann nota que nem todas as teólogas feministas adotam a mesma perspectiva em relação à interpretação da Bíblia. Ela declara que em relação à Bíblia
(em Collins 93s) distingue cinco atitudes: 1. A de uma rejeição total da Bíblia, de que é exemplo a obra de Mary Daly . 2. A de uma interpretação leal, que vê a Bíblia como revelação/palavra de Deus e que não admite dúvida a este respeito. Uma 3ª abordagem é a que ela denomina de revisionista. Nela é criticado unicamente o enfoque androcêntrico, voltando a ser prestigiadas as tradições feministas esquecidas. Como exemplo desta linha a autora menciona Phyllis Trible. A 4ª abordagem é descrita como sublimacionista, onde os preconceitos ideológicos (como o de que o feminino seria superior ao masculino) desempenham um papel importante e onde predominam as interpretações simbólicas-isoladas de que qualquer contexto político-social. Como 5ª abordagem, que ela vê como a mais importante em nossos dias, Osiek descreve a interpretação da Bíblia segundo a teologia feminista da libertação, a que associa os nomes de Rosemary Radford, Letty M. Russell e Elisabeth Schüssler Fiorenza . No espaço lingüístico alemão não se pode deixar de mencionar aqui Luise Schottroff .9 Carolyn Osiek
Edificando sobre a areia movediça A abordagem exegética não-conservadora mais comum e militante em favor da ordenação feminina é a da Teologia Feminista. Ela é um ramo dentro da conhecida Teologia da Libertação, entretanto, em vez de ser usada para uma interpretação em favor dos pobres, a aplicação dos princípios da libertação quanto à mulher, como desfavorecida num ambiente predominantemente de domínio masculino. A interpretação feminista das Escrituras tem o seu ponto de partida num dos seus pressupostos básicos: a teologia deve fundamentar-se sobre a análise da realidade sociopolítica da mulher . Ela não começa com o texto da Escritura, mas com o contexto social da mulher, como sendo oprimida numa sociedade, pressupostamente machista. Rosemary R. Ruether delineia as bases da hermenêutica feminista quando falamos da experiência das mulheres como uma chave hermenêutica (ou teoria da interpretação), estamos nos referindo exatamente àquela experiência que ocorre, quando as mulheres criticamente se tornam conscientes das experiências falsificantes e alienantes impostas a elas, como mulheres, através de uma cultura dominada por homens. A experiência das mulheres é, desta forma, em si um evento da graça, uma introdução do poder libertador que procede do que está além do contexto cultural patriarcal, que as permite criticar e resistir a essas interpretações androcêntricas sobre quem e o que elas são.10
A adoção do pressuposto subjetivo da “opressão” é essencial na interpretação
das Escrituras. A teologia feminista se propõe denunciar todos os textos e tradições que perpetuam as estruturas e ideologias patriarcais consideradas opressivas. Loren
Wilkinson observa que a teóloga feminista “Elizabeth Schüssller Fiorenza, por 9
Helen Schüngel-Straumann, Bíblia in: Elizabeth Gossmann et al., orgs., Dicionário de Teologia Feminista (Petrópolis, Editora Vozes, 1997), pp. 210-214. 10 Rosemary R. Ruether, “Feminist Interpretation: A Method of Correlation”, in: Feminist Interpretation of the Bible, ed. Letty M. Russel (Philadelphia, Westminster Press, 1985), pág. 114.
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exemplo, em Bread, Not Stones , argumenta que as mulheres devem tomar como ponto de partida a definição da sua situação de opressão, e depois abrir a sua Bíblia, a fim de
descobrir o meio de alcançar a libertação.” 11 Além da “opressão”, outro pressuposto da Teologia Feminista é que a “experiência” feminina possui determina o resultado e a ação teológic a. Christine
Schaumberger observa que
o que é novo e especificamente feminista não é, pois, o realce sobre a categoria teológica da experiência, mas sim o concentrar-se no perceber e no refletir as experiências femininas . Experiências femininas é o ponto de partida da teologia feminista, e a medida para a crítica, o engajamento e o compromisso, para a criatividade re-visionária.12
Entretanto, Schaumberger não define o que ela quer dizer teologicamente com “experiência” (do alemão erfahrung ) dificultando a análise da sua tese. Na nova hermenêutica a interpretação e sistematização do ensino não é algo extraído das Escrituras, mas da experiência subjetiva do intérprete que impõe sobre o texto sagrado a sua opinião. Robert H. Stein conclui que “em razão disso, há „leituras‟ ou interpretações marxistas, feministas, liberais, igualitárias, evangélicas ou arminianas do mesmo texto. Ou seja, para esta corrente os vários significados legítimos podem ser extraídos mediante a concepção de cada intérpre te.”13 A premissa de Schaumberger despreza que o fator determinante do significado do texto é o seu autor. Augustus Nicodemus observa que “as hermenêuticas feministas são uma variedade de reader response , baseados nos conceitos de Gadamer .”14 Discordando dela, e unindo aos intérpretes que adotam o método gramático-histórico, afirmo que a passagem significa aquilo que o autor original, com consciente intenção, quis dizer ao redigir o texto . A formulação
não depende da experiência de gênero do intérprete, mas da precisa exegese do texto em sua estrutura gramatical, o seu contexto histórico e sistematização das informações extraídas a partir das Escrituras. Em outras, precisamos perguntar: o que o texto quer dizer, e não, o que o leitor quer que ele diga! Este subjetivismo é uma característica das novas hermenêuticas que surgiram
no século XX. Moisés Silva observa que “se há algo diferente na hermenêutica contemporânea é justamente a ênfase que ela dá à subjetividade e relatividade da interpretação.” 15 A hermenêutica feminista não é uma exceção entre as novas
hermenêuticas que surgiram neste período.
# A relação Feminismo e Marxismo produzindo uma teologia feminista Gloria Solé Romeo observa que
11
Loren Wilkinson, A Hermenêutica e a Reação Pós- Moderna Contra a “Verdade” in: Elmer Dyck, ed., Ouvindo a Deus (São Paulo, Shedd Publicações, 2001), p. 160. 12 Christine Schaumberger , Experiência in: Elizabeth Gossmann et al., orgs., Dicionário de Teologia Feminista (Petrópolis, Editora Vozes, 1997), p. 183. 13 Robert H. Stein, Guia Básico para a Interpretação da Bíblia (Rios de Janeiro, CPAD, 1999), p. 23. 14 Augustus Nicodemus Lopes, A Bíblia e seus intérpretes (São Paulo, Editora Cultura Cristã, 2004), pág. 232. 15 Moisés Silva, Visões Contemporâneas da Interpretação Bíblica in: Walter C. Kaiser, Jr. & Moisés Silva, Introdução à Hermenêutica Bíblica (São Paulo, Editora Cultura Cristã, 2002), p. 233.
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precisamente por influência feminista e marxista algumas teólogas propuseram fundamentar teologicamente o movimento da liberação da mulher na Igreja, a partir da feminismo e não da fé revelada; ou seja, feminismo teológico mais do que teologia da feminilidade ou feminista. 16 # As teólogas feministas não querem somente serem ordenadas Rosemary Radford Ruether, Sexismo e linguagem sobre Deus (1983). Elizabeth A. Johnson, Aquela que é [ She Who Is ]. “Elizabeth Schüssller Fiorenza, Bread, Not Stones.
1. 2. 3. 4.
Mal da sociedade é o patriarcalismo Deve ser desconstruída toda estrutura masculina A “imagem” de Deus como Pai é questionada (deusa-mãe) Proposta de traduções com linguagem inclusiva ou sexista, bem como liturgias
Colocando as armas sobre a mesa Ao iniciar o nosso tratamento do assunto precisamos identificar alguns pressupostos. Se a Escritura deve ser usada como referência de autoridade para se decidir alguma questão, então, a autoridade da Escritura deve ser aceita integralmente, e não apenas onde for conveniente. O que a Escritura diz, Deus diz, porque ela é a Palavra de Deus. A inspiração e a doutrina da inerrância das Escrituras Sagradas são aceitos numa perspectiva conservadora. 17 A exegese dos textos bíblicos adota uma perspectiva em que a Escritura é a revelada Palavra de Deus, e única fonte de autoridade para a fé e prática. O texto significa aquilo que o seu autor teve a intenção de comunicar proposicionalmente. A historicidade das narrativas bíblicas. O método hermenêutico adotado nesta obra é o gramático-histórico. 18 Uma avaliação da proposta igualitarista Não se pode desprezar os teólogos igualitarista rotulando-os como teologicamente liberais, neo-ortodoxos ou feministas. Existem muitos estudiosos que são favoráveis à ordenação feminina, e que são cristãos fiéis à autoridade da Escritura, mantendo-se nas fileiras do protestantismo histórico conservador. Por exemplo, o livro organizado por Bonnidell Clouse e Robert G. Clouse com o título de MULHERES NO MINISTÉRIO – Quatro opiniões sobre o papel da mulher na igreja, publicado pela Editora Mundo Cristão, tem a participação de dois autores que defendem a participação da mulher no ministério ordenado da igreja, sendo eles renomados autores evangélicos de orientação conservadora. Adotando uma hermenêutica complementarista 16
Gloria Solé Romeo, Historia del feminismo (siglo XIX y XX) , p. 81. Norman L. Geisler, org., A Inerrância da Bíblia (São Paulo, Editora Vida, 2003). 18 Quem deseja conhecer em teoria e prática o método “gramático -histórico” consulte Walter C. Kaiser, Jr. & Moisés Silva, Introdução à Hermenêutica Bíblica (São Paulo, Editora Cultura Cristã, 2002). 17
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Mas qual é a relação que Deus estabeleceu para o homem e a mulher? Podemos resumir didaticamente esta relação em quatro proposições: 1. Homens e mulheres são iguais em valor diante de Deus. 2. Homens e mulheres têm diferentes papéis no lar, na igreja e na sociedade. 3. Homens e mulheres têm funções complementares. 4. Homens em tudo têm a primazia de autoridade.
Uma reflexão teológica da ordenação feminina O princípio da autoridade masculina Deus usa para em Sua auto-revelação uma terminologia predominantemente masculina. Esta constatação não pode ser ignorada. John M. Frame escrevendo sobre a linguagem masculina usada para descrever Deus
na Escritura o principal nome de Deus é Senhor, que indica a sua liderança nas alianças, entre si e as suas criaturas. Na Escritura, a relação na comunidade da aliança é tipicamente uma prerrogativa masculina. Reis, sacerdotes e profetas são sempre homens. Autoridade na igreja concedida aos presbíteros (1 Co 14:35; 1 Tm 2:11-15). O marido é a cabeça da aliança formada pelo casamento. Um desvio para a figura feminina de Deus poderia certamente diluir a sólida ênfase sobre a autoridade pactual que é centralizada na doutrina de Deus. Esta não seria a única razão, pois, como tenho indicado no capítulo 2, algumas teólogas feministas, incluindo Johnson, atualmente se opõe a ideia do senhorio de Deus.19
O termo “cabeça” como metáfora de autoridadde
O uso do termo “cabeça” para indica a autoridade do homem sobre a mulher. 20
A submissão feminina é uma maldição pós-Queda? Carolyn Mahaney, As sete virtudes da mulher cristã , págs. 204... Adão foi criado para liderar. A submissão não faz parte da maldição, mas ela é ratificada por causa da desordem causada pelo pecado, que toda a raça inevitavelmente herda. O fato de Deus criá-lo primeiro (Gn 2:4-8); de colocá-lo para reger toda a criação (Gn 2:15-17, 19-20); a sua esposa foi tirada dele, sendo sua dependente (Gn 2:21-22); e ao nomeá-la (Gn 2:23) indicam a sua primazia. A beleza da submissão A submissão é uma benção que muitas mulheres nestes tempos pós-modernos rejeitam. A sociedade cada vez mais competitiva tem estimulado os casais a entrar nesta louca avalanche de medição de forças, em vez de buscar uma vivência complementadora.
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John Frame, The Doctrine of God, p. 384-385. D.A. Carson, A exegese e suas falácias (São Paulo, Edições Vida Nova, 1992), p. 35
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O tema submissão como papel feminino é considerado descontextualizado, senão antiquado, para mente feminina do século XXI. O movimento feminista, que tem afetado parte da Igreja, dita as regras do que é politicamente correto na sociedade, constrangendo os cristãos a afrouxarem a sua postura. Apesar dos cânones pósmodernos irem contra a Palavra de Deus, devemos manter firme, a nossa convicção de que a Escritura Sagrada é a nossa única regra de fé e prática. O princípio bíblico determina uma relação onde o homem deve exercer a sua liderança no lar e na sociedade. Mas, para conferirmos se estamos falando a mesma linguagem quando usamos a palavra submissão vamos esclarecer que: 1. Não significa que a mulher seja inferior ao homem . É notório que há muitas mulheres mais capazes do que os homens. Existe um grande número de mulheres que são mais inteligentes, dinâmicas, organizadas e etc. Todavia, as suas virtudes e dons devem ser usados para potencializar as virtudes dos maridos e estimular a sua liderança. 2. Não significa que a mulher deva anular a própria maneira de pensar . Se ela fizer isto, estará sendo insubmissa pela omissão do seu papel como auxiliadora. 3. Não significa que as mulheres devam desistir de influenciar os homens . Muitas vezes, nós maridos estamos errados, mesmo que sinceramente errados, a companheira não pode omitir a sua opinião, nem desistir de se esforçar em demonstrar no que a liderança do marido poderá prejudicar toda a família. 4. Não significa que elas devam render-se a toda exigência dos homens . A mulher não é um objeto do seu esposo, pelo contrário, Deus a criou em igualdade de valor, e deve-se respeitar as suas opiniões, necessidades, anseios, sentimentos e limitações. Homens são pecadores e as mulheres não podem ceder a todos os caprichos masculinos. Eles necessitam aprender a exercer domínio próprio, mortificar o seu orgulho e todos os demais impulsos e hormônios. Mas, o que significa submissão? Submissão é aceitar a liderança masculina, auxiliando-o, e respeitando a sua autoridade em todas as esferas da sociedade. A autoridade que pertence ao homem não é imposta à mulher, mas deve ser conquistada pelo exercício responsável dos seus deveres. As quatro principais responsabilidades masculinas para que a mulher possa sentir segurança em seguir e submeter-se a ele são: 1. Liderança . O homem deve ser alguém que tem iniciativa, firme decisão, coragem e envolvimento no processo que lidera. 2. Protetor . A esposa necessita sentir-se confiante que o seu marido se esforçará para prover segurança, tendo boas intenções na liderança do lar. 3. Amoroso. A submissão está no coração da mulher, e é pelo coração que o marido atraí e lidera a sua companheira. O amor masculino é o fator que fará com que a esposa sinta prazer em ser submissa. 4. Provedor . É neste ponto que algumas esposas têm encontrado dificuldade em ser submissas aos seus maridos. Quando o homem se acomoda, e desiste de ser o provedor do seu lar, a mulher por necessidade da circunstância não se omite. Todavia,
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as esposas em vez de assumirem este papel devem exigir dos seus esposos o exercício da sua responsabilidade. O casal para que consiga viver a harmonia liderança e submissão precisa: 1. Fortalecer um clima de compatibilidade no casamento. 2. Viver a prática da mutualidade entre os cônjuges. 3. Manter o sentimento de cumplicidade do lar. 4. Cada cumprir com fidelidade o seu papel dentro do lar. A triste perda da feminilidade da mulher O sermão de Peter Marshal 1948 “O guarda das fontes”.
Mulheres têm ministérios na igreja Alguns conceitos necessitam ser esclarecidos: 1. O termo ministério no Novo Testamento é de amplo significado. Mesmo um exame superficial na ocorrência deste termo grego servir [ diakoneo ] nos induzirá a concluir que, num sentido amplo, qualquer atividade que um crente faça para ajudar na obra da Igreja é um ministério. 21 2. As mulheres têm dons e devem exercê-los nos diferentes serviços [ diakonion ] (1 Co 12:4-5). 3. As mulheres não devem exercem o seu dom anulando a liderança masculina. 4. O ministério feminino na igreja é complementar à liderança masculina.
Questões práticas da ordenação feminina 1. 2. 3. 4.
As mulheres são prejudicadas no convívio da igreja por não serem ordenadas? Existe vocação pastoral para as irmãs que têm o dom pastoral? As mulheres poderiam estudar em seminários teológicos? Como seria o convívio das mulheres ordenadas que se tornarem membros da Igreja Presbiteriana do Brasil?
Referência bibliográfica Autores contra a ordenação feminina
21
Thomas R. Schreiner, Mulheres no Ministério da Igreja in: Homem e Mulher – seu papel bíblico no lar, na igreja e na sociedade, orgs, John Piper & W. Grudem, (São José dos Campos, Editora Fiel, 1996), pág. 86.
11
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