Teses da existência e inexistência de Deus
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Compreende-se logo que não é pequena tarefa a que deixamos ao ateu, impondo-lhe que harmonize o universo por meio de combinações fortuitas, ainda que lhes demos já» não somente a matéria, em desordem, mas ainda corpos formados, e corpos tais como o Sol, a Terra, Júpiter e os outros, cuja formação lhe daria um certo trabalho, se não tivesse outro auxiliar senão o acaso. Mas as mesmas concessões que nós fazemos devem redundar em glória da verdade; se com efeito mostrarmos com inteira evidência o absurdo das combinações fortuitas, quando se considerem numa cousa fácil, crescerá a fôrça da demonstração na mesma relação que a dificuldade das cousas às quais estas combinações forem aplicadas. Suponhamos em primeiro lugar que para encontrar a única combinação de onde resultaria a harmonia do mundo, não seja necessário considerar os corpos no espaço, nem mesmo sôbre um plano, que basta para isso colocá-los numa certa ordem, numa mesma linha reta; de tal sorte que recebendo-os o ordenador inteiramente formados não teria mais que achar a ordem segundo’ a qual deviam ser colocados. E para falar mais claramente, exprimamos os doze corpos pelas letras seguintes: A, B, C, D, E, F, G, H, I, J, K, L; e suponhamos que tôda a habilidade do ordenador se devesse limitar a descobrir o lugar respectivo destas letras, sempre colocadas, como se disse, numa linha reta. Do mesmo modo que a linha começa por A, B, C, D, é evidente que poderia começar por A, C, B, D, por A, C, D, B, por A, B, D, C, por B, A, C, D, por C, A, B, D, e assim sucessi- vamente; é igualmente evidente que a mesma cousa aconteceria com relação ao arranjo da totalidade das letras. Ora nós não deixaremos o leitor com a idéia confusa que haverJa em que elas se achassem em sua verdadeira ordem; queremos pôr à sua vista o número das permutações possíveis, muito maior certamente do que se imagina. A importância da verdade que queremos demonstrar nos autoriza, segundo cremos, a invocar o auxílio das ciências matemáticas. Os ateus não deixam de buscar um ponto de apoio em tôdas as ciências; não é justo que os defensores da existência de Deus estejam em pior condição. Se temos duas letras A, B, para mudar de lugar, é evidente que as podemos colocar de duas maneiras: A, B e B, A. O número das mudanças é igual a 2. Se temos três letras A,