UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO Faculdade de Educação Metodologia do Ensino e Educação Comparada Didática – Terça-feira/Noturno Terça-feira/Noturno Profª. Drª. Belmira Amelia de Barros Oliveira Bueno Aluna: Samara C. R. Marreiro NºUSP: 4964820
RESUMO DO TEXTO: OS CORPOS DÓCEIS – MICHEL FOUCAULT
Em seu texto, Os corpos Dóceis, Foucault discute o tema da disciplina traçando um per percu curs rsoo hist histór óric icoo de como como tal tal conc concei eito to se esta estabe bele lece ceuu em dive divers rsas as esfe esfera rass da organização social. O autor inicia o texto descrevendo a figura do soldado desde o início do século XVII e como tal figura foi mudando com o passar do tempo. No início do século XVII, o soldado se configurava como um representante da honra. Já na metade do século XVIII, o soldado tornou-se algo que se fabrica (..).fez-se a máquina que se precisa .
Foucault faz tais afirmações para chamar a atenção para o
fato de que durante a época clássica, houve uma descoberta do corpo como objeto e alvo alvo do poder poder ,
como algo que se manipu manipula, la, se modela modela,, se trein treina, a, que obede obedece, ce,
responde, se torna hábil ou cujas forças se multiplicam
(p.117). Dentro deste mesmo
período da história, Focault faz menção ainda, à obra de La Mettrie, O Homem Máquina,
escrit escrito, o, segund segundoo ele, ele, em doi doiss regist registros ros (anát (anátomo omo-me -meta tafís físico ico e técn técnico ico--
político), para o filósofo, a obra é ao mesmo tempo uma redução materialista da alma e uma teoria geral do adestramento , analisável ao corpo manipulável -
contendo a idéia de docilidade - unir o corpo
(Eis, provavelmente, o porquê do título “Os corpos
dóceis”). Trata-se Trata-se de um assunto que o século século XVIII demonstrou muito muito interesse. No entanto, o autor suscita o fato de o corpo já ter sido alvo de interesse em muitas outras sociedades em períodos históricos distintos, pois afirma que, em qualquer sociedade o corpo está preso no interior de poderes muito apertados, que lhe impõe limitações, proibições ou obrigações.
Assim, o que aparece de novo neste momento do século
XVIII, parece ser o detalhamento com que o corpo é trabalhado, exercendo sobre ele uma coersão sem folga, de mantê-lo ao nível mesmo da mecânica . A esses métodos que
permitem o contr controle ole minuci minucioso oso das operaç operações ões do corpo, corpo, que reali realizam zam a sujei sujeiçã ção o constantes de suas forças e lhe impõem uma relação de docilidade ,
dá-se o nome de 1
disciplinas. Foucault afirma que processos disciplinares existiam há muito tempo, porém porém nos séculos séculos XVII XVII e XVIII XVIII as disci discipli plinas nas se tornar tornaram am fórmula fórmulass gerais gerais de dominação
(p.118). O papel da disciplina nesse momento histórico seria ter a função
principal de domínio de cada um sobre seu próprio corpo e, cabe ao corpo, a formação de uma relação que no mesmo mecanismo o torna tanto mais obediente quanto é mais útil, e inversamente .
(p. 119). A disciplina, assim definida, articula uma anatomia do
poder , uma mecânica do poder , dissociando o poder do corpo, gerando uma relação de
sujeição estrita, pois: A disciplina fabrica assim corpos submissos e exercitados, corpos ‘dóceis’. A disciplina aumenta as forças do corpo (em termos econômicos de utilidade) e diminui essas mesmas forças (em termos políticos de obediência) (p. 119)
Foucault afirma que essa nova anatomia política não se trata de descoberta imediata, mas de um processo complexo que esboça a fachada de um método geral. E assim, tal método é encontrado, já muito cedo, em instituições como colégios, escolas primárias, espaços hospitalares, militares, até mesmo nos espaços industriais. Sua imposição, se deu, lembra o autor, quase sempre para responder a exigências de conjuntura. Ora, para isolamento de doenças epidêmicas (no caso dos espaços hospitalares) ou ainda, na necessidade de inovação industrial (no caso das oficinas), etc. O que o autor quer, de fato, chamar a atenção, é para o fato de como tais técnicas – técnicas essas, minuciosas, intímas, mas que definem certo tipo de investimento político e detalhado do corpo – não cessaram desde seu início, no século XVII, e pouco a pouco, pareceu querer cobrir todo o corpo social. É tal microfísica do poder , sugere Foucault, que levaram à mutação do regime punitivo, no limiar da época contemporânea . O autor está, assim, chamando a atenção para a importância do detalhe e dos modos sutis de interferência na organização social. Diz-se da disciplina como a anatomia política do detalhe
(p.120). Foucault menciona ainda a história da racionalização racionalização utilitária do
detalhe na contabilidade moral e no controle político
para ratificar a importância da
questão do detalhe, afirmando também que a era clássica não é a inaugural desse processo, mas o acelerou, dando-lhe instrumentos instrumentos precisos para seu exercício, exercício, assim: Nessa grande tradição da eminência do detalhe viriam se localizar, sem dificuldade, todas as meticulosidades da educação cristã, da pedagogia escolar ou militar, de todas as formas,
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finalm finalment ente, e, de treina treinamen mento. to. Para Para o homem homem discip disciplin linado ado,, como como para para o verdad verdadeir eiro o crente crente,, nenhum detalhe é indiferente, mas menos pelo sentido que nele se esconde que pela entrada que aí encontra o poder que quer apanhá-lo (p. 120)
Assim, uma observação minuciosa do detalhe, e ao mesmo tempo um enfoque político dessas pequenas coisas, afirma o autor, são utilizados no controle do homem e é cara caract cter erís ísti tico co da era era clás clássi sica ca.. Tal Tal conj conjun unto toss de técn técnic icas as,, de desc descri riçõ ções es,, de esmiuçamentos esmiuçamentos são característicos na formação do homem do humanismo moderno.
A ARTE DAS DISTRIBUIÇÕES A primeira grande ação do ato disciplinar sugere a divisão dos indivíduos no espaço , usando para isso diversas técnicas. A disciplina exige, muitas vezes, a especificação de um local para cada indíviduo fechado em si mesmo. Tal distribuição dos espaços, de clausuras, acontece nos colégios (internatos, conventos, etc), nos quartéis e até mesmo nas fábricas. As razões para cada um deles variam, mas são muito bem justificadas. No caso dos quartéis, a justificativa era de fixar o exército, evitar a violência, evitar o conflito com as autoridades civis, entre outros. Já nas fábricas, a clausura se faz necessária, necessária, pois à medida que se concentram as forças de produção, o importante importante é tirar delas o máximo de vantagens e neutralizar seus inconvenientes (roubos, interrupções de trabalho, etc)
(p. 122).
No entanto, o principio da “clausura” não é nem indispensável, nem suficiente nos aparelhos disciplinares, afirma o autor. A disciplina trabalha a distribuição do espaço através do princípio do quadriculamento . É necessário estabelecer as presenças e as ausências, de tal modo que seja possível localizar indivíduos, estabelecer comunicações, controlar, entre outros. A disciplina assim, sendo um espaço analítico, é também um espaço celular. Assim, afirma Foucault, tal espaço celular, não tem função apenas de vigiar, mas também de criar um espaço útil. O autor cita o exemplo dos hospitais militares, militares, que, diante de epidemias, desertores, ilegalidades, ilegalidades, entre outros problemas, cria esse dispositivo de separação, controle e organização para, justamente, evitar maiores danos.
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Se do pont pontoo de vist vistaa médi médico co,, a disc discip ipli lina na cria cria um espa espaço ço útil útil,, o prin princi cipi pioo do quadriculamento nas fábricas já tem outra função. A individualização dos corpos na indústria permite uma análise e controle singular de cada componente da linha de produção, extraindo-lhe extraindo-lhe o máximo de força produtiva. Foucault afirma ainda que, na disciplina os elementos são intercambiáveis, pois cada um é definido pelo lugar que ocupa numa série. Para exemplificar tal ponto, o autor cita o exemplo da classe no âmbito escolar. Afirma que, a tradição de organizar uma sala em fileiras, uns ao lado dos outros sob os olhares do mestre (p.125), tem suas raízes no século XVIII e que tal separação e ordenação não são aleatórias, mas seguem uma prescrição bem definida: E ness nessee conj conjun unto to de alin alinha hame ment ntos os obri obriga gató tóri rios os,, cada cada aluno aluno segu segund ndo o sua sua idad idade, e, seus seus desempenhos, seu comportamento, ocupa ora uma fila, ora outra; ele se desloca o tempo todo numa série de casas; umas ideais, que marcam, que marcam uma hierarquia do saber ou das capacidades... (p.126)
Dessa forma, a disciplina organizada em celas, lugares , fileiras , como afirma o autor, criam espaços complexos, constituindo quadros que, no século XVIII, é ao mesmo tempo uma técnica de poder e um processo de saber. Trata-se de organizar o múltiplo (...) trata-se de lhe impor uma ordem (p127) .
O CONTROLE DA ATIVIDADE Foucault faz suas reflexões sobre o controle da atividade, atividade, referindo-se principalmente, principalmente, à questão do tempo. O autor discute a questão, dividindo-a em cinco partes: 1) o horário, 2) A elaboração temporal do ato, 3) Donde o corpo e o gesto postos em correlação, 4) a articulação do corpo-objeto e 5) a utilização exaustiva. No primeiro item, Foucault discorre sobre a questão do horário, que tem suas raízes já nas comunidades monásticas e é formado por três processos: estabelecer as cesuras, obrigar as ocupações determinadas e regulamentar os ciclos de repetição (p. 128) .
E,
mais uma vez, as instituições que aplicavam tais métodos de controle de horário eram os colégios, hospitais, conventos, oficinas e até mesmo os quartéis. No caso das fábricas, estas guardaram o rigor da postura religiosa para adaptar a massa de proletariados vindos das zonas rurais. Procura-se, não só garantir o controle do tempo, como também 4
sua qualidade. No caso do tempo medido e pago das indústrias, todo o esforço e produ produti tivi vidad dadee deverã deverãoo ser extraí extraídos dos ao máxim máximoo dentro dentro de um perío período do de tempo tempo determinado. Quanto à elaboração temporal do ato, o autor se apóia no exemplo do controle da marcha dos soldados que se apresentam de formas diferentes em dois momentos distintos da história para mostrar que, o controle do tempo pode também ser feito, não por sua contagem numérica (o horário), mas pelo ritmo em que os corpos se põem - como a uma máquina - onde todos os menores movimentos são programados e funcionam de forma sucessiva. Assim, o tempo penetra o corpo, e com ele todos os controles minuciosos do poder (p.129).
No item terceiro, o autor chama atenção para o fato de que o controle disciplinar exige mais que apenas a imposição ou aprendizado de gestos definidos. É preciso antes, ter-se o controle disciplinar de todo o corpo em relação ao gesto que se deseja realizar, a fim de não haver emprego inútil e ocioso de tempo. Para tanto, Foucault cita o exemplo de se ter uma boa caligrafia – não basta ter o controle das mãos para desenhar bem as letras, mas primeiro é preciso ter uma postura condizente com o corpo todo. Quanto à articulação do corpo-objeto, este tem a ver com as relações que o corpo estabelece com o objeto manipulado. Este ponto é exemplificado pela relação do soldado com sua arma. O que acontece, no entanto, é uma codificação instrumental do corpo (p.130), e o poder, segundo o autor, é introduzido, amarrado um ao outro, na relação de um com o outro. No último item, sobre a utilização exaustiva, o autor traça uma reflexão sobre como o princípio de utilização do tempo, visando o não desperdício desperdício do precioso horário contado por Deus e pago pelo homem
(p. 131), foi colocado de maneira negativa. E
que, por outro lado, a disciplina organiza uma economia positiva, pois coloca o princípio de uma utilização teoricamente sempre crescente do tempo
(p.131). Dessa
forma, uma nova técnica vai substituindo o corpo mecânico, e dá lugar a um corpo composto de sólidos e comandado por movimentos – o corpo “natural”: (...) é o corpo suscetível de operações especificadas, que têm sua ordem, seu tempo, suas condições inte intern rnas as,, seus seus elem elemen ento toss cons consti titu tuin inte tes. s. O corp corpo, o, torn tornan ando do-s -see alvo alvo dos dos novo novoss mecanismos do poder, oferece-se a novas formas de saber. (p.132).
Assim, cita o autor,
o comportamento e suas exigências orgânicas vão pouco a pouco substituir a simples física do movimento (...) o poder disciplinar disciplinar tem por correlato uma individualidade individualidade não só analítica e “celular”, mas também natural e “orgânica”(p.132).
A ORGANIZAÇÃO DAS GÊNESES 5
Foucault, a partir do exemplo da escola dos Gobelins nos séculos XVII e XVIII, traça a gêneses da organização da instituição escolar. No exemplo dos Gobelins, há uma aprend aprendiza izagem gem corpor corporat ativ iva, a, de tot total al depen dependên dência cia ao mestre mestre.. Este Este lhe lhe transm transmite ite o conhecimento enquanto o outro lhe oferece seus serviços. Assim, é neste período clássi clássico co que é formul formulada ada uma nova nova técn técnic ica a para para a apro apropr pria iaçã ção o do temp tempo o das das existências existências singulares; para reger as relações do tempo, dos corpos e das forças; para realizar uma acumulação da duração; e para inverter em lucro ou em utilidade sempre aument aumentado adoss o movim moviment ento o do tempo tempo que passa passa (133) (133)..
Dentro dessa organização, é
importante que as disciplinas, que organizam o espaço, também capitalizem o tempo. O autor exemplifica esse modo, mostrando quatro processos, utilizados na organização militar, são eles: 1º) Dividir a duração em segmentos, sucessivos ou paralelos; 2º) Organizar essas seqüências segundo um esquema analítico; 3º) Finalizar esses segmentos temporais, fixar um limite a ser atingido; 4º) Estabelecer séries de séries, prescrevendo cada um de acordo com seu nível; Não cabe aqui explicar cada um desses itens, no entanto se faz necessário apresentá-los de modo modo sucint sucintoo para para exemp exemplif lific icar ar como como tais tais class classifi ifica caçõe çõess formar formaram am o tempo tempo disc discip ipli lina narr que que até até hoje hoje domi domina na as prát prátic icas as peda pedagó gógi gica cas. s. Prát Prátic icas as,, essa essass como como conhecemos hoje, de seriação, de nivelamento e hierarquização do menor e menos complexo para o maior e mais complexo. Tal colocação em “série”, cita o autor, permite todo um investimento da duração pelo poder, de possibilidade de um controle detalhado e de uma intervenção pontual (p.135).
O autor discorre ainda, sobre a forma linear que orientam e direcionam o evolutivo da form formaç ação ão esco escola lar. r. Faz Faz um umaa refl reflex exão ão sobr sobree o pape papell do exer exercí cíci cioo nas nas ativ ativid idad ades es pedagógicas e traça a introdução do programa escolar, com sua origem religiosa, pelo grupo os Irmãos da Vida Comum.
A COMPOSIÇÃO DAS FORÇAS Para discorrer sobre a composição das forças dentro do campo da disciplina, Foucault exemplifica usando, mais uma vez, a questão da organização militar. Neste caso, o autor discorre sobre a organização da infantaria, da movimentação de cada indivíduo dentro do todo, como que uma máquina que se articula de acordo com o deslocamento deslocamento de cada 6
peça a seu modo e a seu tempo. Isso tudo para argumentar que, a disciplina não é mais simplesmente simplesmente uma arte de repartir os corpos, de extrair e acumular o tempo deles, mas de compor forças para obter um aparelho eficiente. (p.138) . A disciplina, dessa forma,
combina diversas séries cronológicas para formar um tempo composto e utilitário. Foucault afirma ainda, que será no ensino primário que o ajustamento das cronologias diferentes diferentes será mais útil (p.139). Do século XVII em diante o mecanismo complexo da
escola será constituído. A questão da divisão do tempo e da força para realizar as tarefas serão muito bem estruturadas. O uso do sinal como código para indicar o que deve ser feito a cada momento será crucial nessa formação da escola: o aluno deverá aprender o código dos sinais e atender automaticamente a cada um deles
(p.140).
Feitas tais considerações sobre a prática no sistema escolar, o autor, refletirá sobre a noção que, a disciplina produz: (... (...)) a parti partirr dos dos corp corpos os que que cont contro rola la,, quat quatro ro tipos tipos de indi individ vidua ualid lidad ade, e, ou ante antess uma uma individualidade dotada de quatro características: é celular (pelo jogo da repartição espacial), é orgâni orgânica ca (pela (pela codific codificaçã ação o das ativid atividade ades), s), é genéti genética ca (pela (pela acumul acumulaçã ação o do tempo) tempo),, é combinatória (pela composição das forças). E, para tanto, utiliza quatro grandes técnicas: constrói quadros; prescreve manobra; impõe exercícios (...) para realizar a combinação das forças, organiza “táticas” (p. 141).
Foucault termina sua reflexão afirmando que também o exército usa de técnica e saber para projetar seu esquema sobre o corpo social (p.142). Pois se, por um lado, há a estrat estratég égia ia pol polít ítica ica e mil milit itar ar que defron defrontam tam forças forças econô econômic micas as e demogr demográf áfic icas, as, há também o uso da tática militar e política que exerce controle dos corpos e das forças individuais. Dessa forma, o controle direto da massa social é menos relevante para a disciplina que os processos de coerção individual e coletiva dos corpos.
Referência: FOULCAUT, Michel. Os corpos Dóceis . In: Vigiar e Punir: nascimentos da prisão; tradução de Raquel Ramalhete. 35 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008. Págs. 117 -142.
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