A GNOSE PRI Cientistas em busca de uma reaproximação entre ciência, filosofia e religião
RAYMONDRUYER
A GNOSE DE PRINCET PRINCETON ON Cientistas em busca de uma religião
Tradução UL1ANE UL1AN E BARTHOD
EDITORACULTRIX SãoPaulo
L a Gnose Gnose de P rince rince ton
C opyrigh ig ht © Libra ibrair irie ie Arthém Arthémee Faya Fayard rd,, 1974 1974.. © Librairie Générale Française pelo Prefácio, 1977.
EdiçAo
i-2-a-4-n-e-T-a-a.io
__________Ano 89- 9 0 - 01- 92- 03- 94-05
D ire reito tos de tr tradução para ra a ií iíngua portuguesa adquirid idos comexclusiv ividade pela ED ITO RA . CULTRIX IX LTDA . Rua Dr. M ário Vicente, 374 — 04 -270— São Paulo, SP — Pone: 63 -31-41 que se reserva aproprie iedade lit iterária ia desta ta tradução. im presso so nas ojicir iruxs grá ráfi ficos da Edito tora f*ensam & rz£ o.
Baym Baymon ond d Ruyer nasc nasceu eu nos nos V osges osg es..Se Seus us pais paissA sAo oorigin originári ários osda da Lorena Loren ae e da Alsáci Alsácia. a. É anti antigo go aluno aluno daEcote aEcote Normale NormaleSupé Supérí ríeur eure. e. Possui Possui ograudedou ograudedoutor, tor,é é cor respond ondent ente do Inst Instititut uto o e prof profess essor or na Uni Univers versiidade dade de Nanc Nancy. y. Fez a guerra de 1939-40comotenentedereserva,efoiprisioneirodeguerranoOflagXVII-Ade1940a 1945 1945.. Tem Temco como mo colaborad colaboradore ores s ocasionais ocasionais eanônimos eanônimosseus seus dois filhos: filhos: Bemard, Bem ard, pro fessornaUniversidadedeNanterre,eDomtoique,professornaFaculdadedeCiôncias deNancy. Tem Tem sededicado se dedicado sobr sobret etud udoà oà filosofiacientíf filosofiacientífica, ica, mais mais parti particul cularme armente nte à filoso filosofia fia biológ biológic icae aeatu atudoo doo qued que diz respe espeititoàs oàs relaçõesda relaçõesdacon consdô sdônda nda edocorpo: edocorpo:em embriol briolo o gia, gia, função do sistem a nerv nervoso oso.. Intere nteress ssouou-se, se, també também, m,pe pela la cibernét cibernética icae epela pelateori teoria a dainformação. Por outr outro o lado, tem trata atado de prob probllemas emas sociai sociais, s, econ econômi ômico cos s e polit politico icos, s, e também tambémde deproblem problem as religi religiosos,e osos,efo foii nessasopor nessas oportuni tunidadesque dadesque conheceu conheceuos os Gnósti Gn ósti cosameri cos americanos canos e descobriuqu descobriu quea eassdout doutri rinas nas destesparti destespartiamde amde pressupostos pressupostoscientífi científi cos paral paralel elos os aos seus se us,e ,eque que chegavam a conclu conclusões sões muit muito o próxi próximas, mas, porém porém mai mais precisasedemaiorcomprovaçfto.
1. Obras de crítica social: L'Utopie et les Utopies, 1950- P.U.F. Le Monde des Valeurs, 1947 A UB IER La Phüosophie de la Valeur, 1959 - A RMA ND COLIN Etoge de la Société de Consommation, 1969 CALMANN-LÉVY Les Nuisances ¡déotogiques, 1972 - CA LMANN-LÉVY Les Nourritures psychiques, 1975 - CALMANN-LÉVY -
-
2. Obrasnamesmaünhaqueopensamentognósticoamericano: Néo-Finalisme, 1952- P.U.F. La C ybemétique et / Origine de i\Inform ation, 1954 e 19 67 (edição revisada e com p/etada)- FLAMMARION Paradoxes de la conscience e t limites d e f ’auto/natisme, 1960- ALBÍN MICHEL L 'anima!, I’homme, la (onction symbo/ique, 1964- GA LL/MARD Dieu des reUgions, Dieu de la Science, 1970 - FLAMMARION Les Cent pm chains s iéde s. Le destín historique de l'homm e seton la No uv elle Gno se amóricaine, 1977 - FAYA RD.
Sumário 9 16
Prefácio Introduçfio PRiAElRAPARTE Adêncíaneognôstíca
I. II. III. IV. V. VI. VII. VIII. IX. X. XI. XII. XIII. XIV. XV. XVL XVII. XVIIL
Omundopetoladoavessoeomundopetoladodireito Cosmologíados"aqurecosmotogiados“Eus" Avisftoitosl-mesmonâorequerolhos Aschavesdominialseoshótons Aconsdéndacósmica Avisãosemolhose o Cegoabsoluto Umruídodefundooriginárionàopodecriarapalavra Osescotedore8incorporados Oorganismo6umcérebroprimário Aevoluçtobiológicatsmumanverso Estamosrivosdesdeoprindpodomundo OjogodolempoInveròdo OsparidpáveteeoPartlcipáveluniversal Alihguanatema"universal AsInfoinçOesnoespaço easInformaçõesnotempo A“desvKulaçfto" {unbundting)damentenouniverso AtBotojjweognósIlca Ohomeilum"gigantatemporaT
35 40
54 '57 62 65 68 78 82 84 89 93 99 105 111 127 132
SEGUNDAPARTE Asabedoriaeafóneognóstcas
XIX. XX. XXI. XXII. XXIIL
Oorgaitopsfiquioo A edtafbpsicológica As "mortpns"eos“Jogos"comouniverso As “mofípnsdemiséria" A morteiifrnortaldade
CondusAo
BijSograSa
143 155 169 191 196
216
220
Prefácio (1
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7
7
)
Nos últimos dois séculos tem sido moda no Ocidente,nosmeios“adiantados”, falardeDeuscomosefosseummito. Não se refuta um mito ou um conto, mas a história énarrada “deoutro modo": “Deus está morto”, “Deus não atende m ais, desligouseu telefone” - ou ainda, citando umaversãomenos conhecida,deautoriado chevalierdeRevel:1 “Deusmorreuantesdeteracabado suaobra...Tinhaosmais belosevastospro jetosdo mundoetodos osmeios à disposição. Játinha emandamentováriosdesses projetos, um pouco como se ergueandaimes para umaconstrução. Mas,em meio ao seu trabalho, morreu... De modo que,atualmente,tudoestáfeitocomvistasaumobje tivoquenãoexistemais.Nós,particularmente,sentimo-nosdestinadosaalgodoqual nãotemos amínima idéia. Somoscomo relógios que não tivessem mostrador ecujo mecanismo,dotadode inteligência, continuasse girandoatéodesgaste,semsaberpor que,esempredizendoasipróprio:uJáqueestougirando,devoteralgumobjetivo”. A Gnoseda AntigGidade, essaestranha religião helenístco-crístãdos primeiros séculos de nossa era, afirmavaquase a mesma coisa, porém num tom mais sério. Deus,overdadeiroDeus,oDeusbom,nãomorreuantesdeteracabadosuaobra,mas foitraídopormauscontramestres,quetomaram-seosArcontesdomundoesepararam o Deus bom dos pobres homens,malgovernados,inconscientes - atéqueos Envia dosdoBem,atravessando08Abismosseparadores,revelemaoshomensemabando no aVerdade salvadora enelesreacendam a centelha divina,através do verdadeiro Conhecimento. Para os G nósticos cristãos, Cristo era um desses Enviados. ParaMarcion, o Deusdo AntigoTestam entonãoeraoverdadeiroDeusbom,overdadeiroPairevelado peto Cristo,mas um mau Demiurgoquetraiuo verdadeiroDeus Pai,ummalvadoeim piedoso Legislador. Ao ensinaro“ Pai Nosso", Jesusqueria comisso afastaro s ho mens do Deusm au da Leijudaica,paraquepudessemreencontraroverdadeiroDeus. Ouseja,tantoosGnósticoscomoMarcion“contavamomitodeoutramaneira". “Contarom ito deoutramaneira”aindaé,apesardasaparências,ofundoda filo sofiamodernadesdeoséculoXVIII.Afénaevolução,noprogresso,naDialéticaequi-
1. DedaraçAo, essa, aprovadaporBenjamínConstantqueatranscreveuemsuacarta, oacrita em 1790,aMadamedeCharrièra.
vale a não maisdizer;"Deuscriou”,ou“Deusmorreu",ouainda“Deusfoitrafcto”, mas: “ Deus aindanãoexistetotalmente;talvez,umdia venhaaexistir”,ou: “Consolémonos, n ó s,pobres v/Umas, poisum Deussecriacomosnossosprantos”.Condorcet, Hegel, aindadaprojeçãodeummito,ummitoprojetadopelohomsmsobreoirtvsrso. Poderáexistirrstgttosemmito?Provavelmentenão, setraduzimos*sem mito" p o r "sem crençafòrmul&ver. AtômesmoastrásreigitesdaChina:oTaotano,oCon- fuckxiism o e o Budismo - sem contaroMaofsmo que sfto, num certo sentido, “ atôias", não são “a-m/bcas",pelomanosnamedidaemquesãoformuladasenãopre tendem , como o Zen-budismo, expressar-seatravésdealgunsgestosou de algum as caretas. O Céu, a Ordemdo Céu, o Tao,asede deexistir,aIluminação,sãom itos só brios,dificilmente“narráveis”.Maspermanecemmitos,projetadospetohomemsobreo universo,um universomaisadivinhadodoqueconhecido. * «É AprofundaoriginalidadedaGnosedePrincetonéqueelarenunciaatodoequal- qu®r projetadopelohomemsobreouniverso.Elaquerreceberfielmentedouniver so a ciaosentidopróprio,reveladopelaleituramaiscientifica. Segundo os Neognósticos americanos,entreeles,físicos, biólogos e oosmôio9°s^ocientismoherdadodoséculo XIXé,hoje,desmentidopeb“interpretaçãoliteral" 08ciencia Afísica, aastronomia,abiologiadoséculoXIX,comociênciasdeobjetosque se etermiíamunsaos outrosporuma cadela contínua, representavamapenas a préda ciência. O método,sem dúvida,eracorreto,maso verdadeiro mundo da ciênciaaindanãoforarevelado.AciênciapropriamenteditasócomeçanoséculoXX, com amicroffsicadePlanck, acosmologíadeEinstein,aembriologiaeaetologiacom parada,ateoriageraldas continuidadessemânticassubstituindoateoriadacausalida declássica. ^ Poruma circunstânciainfeliz, ouportoüce,asfilosofiaseasreügites,"escalda* as porsuastentativasdeanexaçãodaciência- oumelhor,dapré-históriadaciência ~reso*veramabster-se,justamentenahoraemqueaciência,saindodesuapfé-histó- a,estáentrandoemsuafasedeverdadeiraciênciaepassandoaterumconhecimen torealdomundo. AléoséculoXX,ocientistaseparececomumViajantecelestemíopeque,doal todeumdiscovoadoreintrigadopelavisáoconfusaquetemdasestradaseruaster restres, naAméricaou naEuropa, descreveriao quechamaria de“fluidocirculante" sem distinguiros pedestres dos automóveis, ou descreveria as temporáriassoüdifi- caçóes desse fluido em "bloqueios” ou engarrafamentos como sendo devidos, no verão, àaçãoaparente datemperaturaou,emdeterminadoslugares,àação de luzes verdes ou vermelhas, e acabariadescobrindo leis, queconsideraria fundamentais, a respeitodesse“fluido”edesuas“solidificações” . Só a partirde 1900 é queoViajante celestevem pensando em estudarospró prios indiv/tíuos, em distinguiros homens dos veículos,os engarrafamentosdosuen10
garrafadores", os efeitos das colisõesdosefeitosdas buzinadasoudossinaisdefarol ou da sinalização. Está agoraentendendo ou entrevendo asfabricaçõesou as organi zações operadaspor indivíduos conscientes, entendesuasfábricaseseusescritórios depesquisas.E,oqueeleentendeacimadetudoéque,atéentão,elehaviaobservado apenassuperficialmenteosefeitosestatísticos,enãoaçõesreaisouseresreais. Suamaiordescobertaé, então,quesuaprópriaconsciênciaviva,atuante,ansio sa,de Viajantecósm ico, nãoénenhummilagreexcepcionaleinexplicável,nummundo ondesó houvesse fluidosebloqueiostemporários,masqueomundoemsuatotalidade éfeitode indivíduos conscientes,deintegradores,detrabalhadoresoudeseresatuan tes,mais oumenos vastos epoderosos, mais ou menos hierarquizados,equeomun doemsi, emsuaunidade, sópode servisto como um Indivíduo,umSujeitototalmente abrangente,Sujeitodo qual oespaçoeotempoconstituema aparênciapara todosos demaisseres,vassalosdograndeSuserano. * **
A expressão ‘ Gnose científica" é, aparentemente,umajunçãoparadoxal depa lavras. O Conhecimento (Gnosis) que proporciona o Caminho, a Verdade, a Vida,a Salvação, nãopodeseromesmoque oconhecimentocientifico, paciente emetodica mente alcançado. Tudo parece opor-se entre o cientista experimentador, prudente, avançando passoa passo, e o Gnóstico, quebusca umaRevelaçãototal e instantâ nea.E,afinal,nãoéissoprecisamenteoqueacontece?Osverdadeiroscientistasnão sãoinimigos dos Gnósticos,e os Gnósticos doscientistas? Não sedesprezameles mutuamente, tratando-se reciprocamente de Beócios de laboratório e de Iluminados seminstrução? Quandoalguns cientistas como Newton, PascalouDrieschpassamdeseustra balhos científicospara ateologiaou paraaGnose,passamdaverdadeparaaVerdade, nãoestarãoelessedestruindocomocientistas,esem,poroutrolado,contribuirmuito paraasalvaçãodahumanidade? Masos Neognóstlcos nãoconcordamqueessaincompatibilidadesejairremediá vel. Entre aciênciae a Gnose, é precisoapenasquesefaçaumaoperaçãodecon versão.Aoperaçãoque consisteempassardaciênciamaisrigorosamenteciênciapa raa Gnose, nãoô umaoperaçãoarbitrária.É exigidapelaprópriaciência,é umrevira- mentosegundoomodelodo reviramentoque levou doátomo“material"ao quantumde açãodanovafísica.Aopassarmos,assim,doqueobservamoscomosendoumacoisa para o “atuante”que ela realmente é, estamosna verdade admitindoqueo“atuante” vê-se a si mesmo atravésdesi mesmo, como sujeito,poisumatuantenão podeser umacoisa,esim, umsujeitoquefazoquefaz,equesabeoquefaz.Aciênciadescre vecorretamenteascoisaseomundo,porémpeloavesso.Em seuanverso,cadaseroumelhor,cadaatuante - sepossuiasimesmo. E omundosepossui,ageevê-sea si próprio comosujeito supremo. Eleéo seu própriopossuidor,o seuprópriodonoe senhor. A operaçãoque se faz espontaneamente com um homemou comum animalquando não se acredita na idéia absurda do animal-máquina e que consisteem ir maisalémdesuasimples identificação,deseusgestos,iratésuaconsciênciaque fala ànossaconsciência,iratósuaalmaparentedanossa,essaoperaçãodevemosfazê11
la com todasas individualidades do universo, com Iodas as suas formas atuantes, quando elas não são efeitos superficiais de “engarrafamentos” mas, ao contrário, quandodominamos“acidentesdetrânsito”.Devemosfazô-iacomoUniversotomado emauatotaMdada.oomumUniversoquetem,deumafamamaisevidenteainda,uma Almaparentedenossaalma. OTempocósmiconãoéumsimplesfuncionamento;éumagrande Ação,sensa ta,umaembriogdnesequeforma,primeiro,osmateriaisdeseusdesenvolvimentosfu turos, onde os próprios acasos serfto canalizadoseutizados, onde os se res, des prendeosdograndeSer,parecerãoaprender,balbuciendo,aLinguagemque,nareali dade,elessemprefalaramdesdeaorigem. AnovaGnosecientíficaamericananãoéumanovareligião.Nãolevadiretamen tea alguma discipina socialinstitucionalizada,mastraz umcomponente,fundamental em todas as reigiões.Emcadareligião,antesdosRitos,das Instituições,das Ideolo giasagregadas,há uma Visãodomundo, um Conhecimento,umConhecimento ilumi nadoresalvador,uma IniciaçãoaoMistériofinalmenteapreendido,aoSentido revelado daexistência. •
•• AcrisereNgiosadenossotempoé,antesdetudoe,principalmente,umacrisede todososmitosquecontradizemo conhecimento cientifico.Oshomens,saturadosde informaçõesde todaespóde,aindatêm os mesmosanseiosreHgiosos, mas não oonseguemmaisacreditarnosContosimaginários,cheiosdedevoçãooufantasia.A Gno se de Princeton ofereceoúnico relatonãorefutável peladónela, pois eleéa própria ciência num “reviramento conforme”. O reverso deuma máscara não pode “refutar" seuanverso. Asreligiõesestabelecidastentamemvãosubstituirseusmitosdesqualificadose inverossímeisporideologias políticas. Masessas ideologias, também, são falsa ciên cia, máscarasnão-conformes. De desapontamentosem desapontamentos,chegaráa toraemqueseráprecisovoltar-senovamenteparaumaGnosecientífica,ondeaalma Sunidaaocorpo,ondeo corpoune-se àalma. UmaGnosecientíficatemofuturopara si,poiselaóoúnico“mitoconforme".
Poderáeste“mitoconforme"corresponderaosanseiosreligiosos?Provavelmen- 3 náoatodos.A Gnose cientificadevesercomplementadaporinvençõesorgânicas eritos,instituiçõesecultosdeterminados. Mas,bemou mal,elaterádeser suficienteparaoessencialdaFé.Pois,naverade, náotemosescolhaentrereligiõesmftico-ideoiógicas,falsasefrágeis, eo paga- smomodernizadoqueéaGnosecientífica. Aliás, éomesmo paganismoem suas formas arcaicasqueformaaverdadeira ise permanentedetodas as religiões históricasqueseapresentamsob váriasroupa- ms coloridas. Os Deuses se vão, apesardos esforçosdos homens emquintessen- á-Jos e espiritualizá-los. A Grande Mãepagã,a Naturezaativa, aAlmado Mundo, a >
grandeSuseranado Cosmo, agrandeConsciênciado EspaçoedoTempo,estásem prepresente,incansável, criadorae reguladoradasiniciativasde suas criaturas, temí veleconsoladora. Consoladora, sim, pois seela é a partevisívelrecolocadaem seu anverso,ela tambémultrapassaovisíveleotransfigura,semdesfigurá-lo.
Vários de meus amigos Gnósticos mostraram-semuito reservadoscom aopor tunidadede publicarnaFrança um relatodesuasteses,jáqueseabstiveramdeexpô- las sistematicamente em seu próprio país. Devo confessar queeles nãotêm um alto conceitoda capacidade intelectualdopúblicofrancês.Ficaramsurpresosdiante doin teresse inesperadoque esse públicomanifestou porumaobraque,no entanto, eu ha viaprocuradomantermaisfieldoquedefácilacesso. Nãopudedeixardeenviaradoisoutrêsdeles,entreosmaiscéticos,algunsdos artigosdoscomentaristasfranceses,eelessedignaramconfessarsuasurpresadiante da altaqualidadede muitos desses comentários,emesmodaquelesquechegarama representá-los, eles,os Neognósticos americanos,como astrônomosqueredescobri ramDeusnapontadograndetelescópiodomontePalomar. Oquemeescreveuumdelesarespeitoébastanteinteressante: ... NossaGnose é de fato, antesdetudo, astronomía-cosmología,éevidenteque nãovamos encontrarDeusemalgumrecantodocéuastronômico,assimcomonãoénumcantodocérebroquese encontraaalmadeumhomem.Comovocôdissejustamente,oPaicelesteétãopouooencontrávelno Cosmovisfcelquantoodabossadapaternidadenocérebrohumano.Noentanto, umlatonotáveldque Newton, embora pertencesseôpró-históriadaciôncia,chegouaconsideraroespaçoastronómicogra- vitadonalcomosendo,na verdade,osensoriumdeDeus,istoé,oespaçosensIVeldeumsujeitocons ciente- aomesmotempoemqueconsideravaocérebrohumanocomooaspectomaterialdonossoes paçosensível,donossopequenodominioconsciente.Comisso,Newtonmostrouserumautântioopre cursordanossaGnose.Eestánahoradeadmitimosqueeleeraumgrandeteólogo,tantoquantoum grandedentista.
Minha intençãoeradivertirmeus amigos americanos ao transmitir-lhestambém os poucos artigosdeadversáriosferrenhosdosEstadostinidos, principalmenteaquele queoscomparaa“gatasmiandosobreotetodomundo,enquantoosbombardeirosdo Pentágono»” ,2 etc. Maselesnfiosedivertemmaiscomessetipodeataque.Umdeles escreveu-me: Ouvimoscomdemasiadafreqüênciaessetipodedeclaraçãoporpaitedejovenscolegaspara que aindaachemosIssodivertido...toso podeacabarmal, nãoparanós,masparaaprópriadônda,e tambémparaaAméricaeparatodooOcidente... Entretanto, renunciamosatodoespiritomissionário. Massãoosanti-americanosqueeslãosetomandofanáticoseImperialistas. E elestôm,aqui,dentro dasuniversidadesdenossopafe,propagandistasatfvosemissionáriosentusiastas. * **
2. Pokbque-Hebdo, 19demaiode1975.
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Para entender essa reação, é preciso conheceras duas direções que a Nova Gnose tomou desde 1974.A primeira, quejá tivemosaoportunidadedeesboçarnesta obra, visa uma sabedoriaindividua), uma sabedorianáo-mfocaenóo-mísbca,conbase em “montagens” livrese cuidadosamenteexperimentadas.Asegunda, mais inesperaEsse destino, os Gnósticosacreditam poderanteapéHocomcerteza, utilzando para o tempo histórico seu método dos "antiparadoxos". Mas se,por um lado,eles estfio otim istas quantoaodestinoa m uito tongoprazo,em compensaçãomostram-se preocupados com relaçãoaosdoisou três séculosqueestãoànossafrente. Daísua pouca disposição emachardvertidos os inimigos,mesmoridículos,daculturaociden taltradicional - inimigos essesqueeles nãoconfcndemcomosadversáriosintelgen- tes da dviizaçâo ocidental, uma civilização porelespróprios considerada perigosa mentemalcontrolada.
Uma última palavra,sobre um pormenor que surpreendeu e confundiu umbom númerodenossosprimeirosleitores,eacercadoqualrecebemosumagrandequanti dade de correspondência pessoal; trata-se da atitudenegativaqueadotamos diante dos fenômenos paranormais: telepatia, percepçãoextra-sensorial, telecinesia, premo nição, etc. Os Gnósticos americanos estãomuitodivkJdossobreessaquestão. Nossa atitude negativa ó, na verdade, sistemática. Mais exatamente, é uma atitude depre cauçãosistemática.AvisãognósticadoCosmovivoeconsciente,hierarquiadecons ciências ou de domínios significantes, “sensificantes",intercomunicantes, parece, de fato, levaràcrençaemcomunicações“telepáticas"nosentidoetimológicodotermo,is to é,diferentes dasqueocorrempor choques ladocontra ladoentre corposmateriais, ou por combinações deondas. Aparticipaçãoinformativaque seimpõeembiologiae quetodososGnósticosaceitamé,numcertosentido,umgrandefenômenopar anormal relativamenteàvelhabiologiafísico-química.Porque,então,essanossarecusa,essa precauçãoquetomamos? O fatoéque, como aexperiênciamostrou, oqueocorrecomosfenômenos pa ranormaiséomesmoqueocorrecomosmilagresdasreligiõesestabelecidas:empou co tempo, os fiéis acabam enxergando apenas mlagres, exigindo apenas mlagres. Comisso,deixamde verogrande,overdadeiromilagredesuaprópriaexistênciaden tro de umCosmovivo. Interessar-seporfenômenosparanormaislogopassa asignifi carinteressar-seexclusivamenteporeles. Os Gnósticos- salvoalgumasexceçõesnãoqueremqueos pequenosmilagres,as pequenasluzes,passemaocultaragrande luz,assimcomoasluzeselétricasocultamaluzdodia. Arthur Koestlersalientouumaanalogiamuito instrutivados fenômenos paranor mais,em psicologia, comasexperiências sobreahereditariedade doscaracteres ad-
& ExpusemosestaconcepçãodosGnósticos americanosnumaobrarecentemente publicadapela Fayard: Les Cent procbatns sièctes (Os Cem próximosséculos),comoseguintesubtitulo:Odestino históricodohomemsegundoaNovaGnoeeamericana
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quiridos,em biologia.4 As experiências exatas e cuidadosas delaboratórioquasesem predesmentemosqueacreditamnahereditariedadedoscaracteresadquiridos.Quanto maisprofundasasobservações,menos se pode provar, por exemplo,queosdescen dentesderatosque fizeram aaprendizagemde umlabirintoherdamumaciênciainfusa desse labinnto ou, até mesmo, economizam, por pouco que fosse, no tempo de aprendizagem. E, no entanto... Como entender a evolução se rejeitarmos por completo toda noçãodehereditariedadedaexperiênciaadquirida?Afinal,todasasespéciesdepássa ros nãoconstituem,no fundo, um indivíduo único que, desde oseuestadoderéptilan cestral, foi progressivamente aprendendo a voar? É preciso que tenha havido uma espéciede filtração-participação de algumtipodosindividuos paraaespécie,dentroda grande marcha danatureza - apesardofracasso dasexperiênciasdelaboratórioem captaressafiltração. É provavelmente o mesmo caso que ocorre com os fenômenos ditosparanor mais.Nãohádúvidadeque existem comunicações deseresentresi,deseresooma grande Consciência, assim como existe uma comunicação de indivíduos com sua espécie,muitoalémdosintercâmbiosdesinaismateriais.Mesmoassim,quandooSr. X, ou aSra.Y declara que "Deus lhefalou",ouque“Deuso(a)curou",ouandaque “porsuavontade,acolherfoientortada*’, ospositivistas não têmgeralmentenenhuma dificuldadeparaencontrarexplicaçõesmaisplausíveisemaisterra-a-terra. Determo-nossobreosfenômenosparanormaisseriaenfraqueceranovaGnose, em lugardefortalecéis* A informaçãoporparticipaçãoéum grande fatonaordem da vida.Todoindivíduoemformaçôoouemprocessoderegeneração,todoindivíduose xuado ouanimado pelo instintosexual, uéparticipado”pelaespécie. É verdadequeos indivíduos devem, de algumamaneira, informartambém aespécie,reciprocamente.É verdadeque outrasparticipações suprabtológicas existem,mesmose astentativasde verificaçãosempreparecemmalograr. Muitas vezes nosesquecemos queosistema de Copémicoesbarrou,durante quase três séculos, no veredito negativo das observações dos paralaxes estelares: não se conseguia detectarnasestrelas omais levemovimento aparente, movimento esse quedeveria serproduzidopelo“jogode balanço”da TerraaoredordoSol.5 E,no entanto,aTerrasemovia! RaymondRuyer
4.Cf.Le Chevaf dans Ia tocomotwe,CaJmarm-Lévy, 1 968,L 'Etretnte du crapaud, 1972,eLes Racb nes du nasarú, 1 972,domesmoeditor. 5. Hojeemaia ,é fid lveroquanáoseconseguiuveraté1838, anoemque Besselviumover-se umaestreiadaoonstsiaçáodoCisne.Em 1954,“vw-se”o movimentode10.250estrelas,eeesenú meroaumentaem m asda100acadaano.FoiprecisoparaissoqueoeinsfrumentosdeobeervaçAoti vessemograuadequadodesutileza.Assimocone,provavelmente,oomaatualobservaçãodaheredi- tariedadedaexperiênciaadquirida.
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Introdução Nos Estados Unidos,aexpressão“Gnosede Princeton” é bastante recente:da* tade 1969.Comoacontecemultasvezes,foramadversárioso u espectadores irônicos que acharam a palavra. Assim ocorreu na França, antigamente, emreiaç&o aos im pressionistas,o s cubistas,os(ativistas.Apalavraagradoua os próprios interessados. E, com intuito humorístico, aceitaram essetftuto comoiorma d e desafio em relaçãoa seus colegas “ positivistas”, que os chamavam tambómde "cosm ólatra s",1 de“ paiomaristas"2ou,ainda,deteosofistas. Omovimento,na verdade,âmaisantigodoqueapalavra e possuiváriasorigens precursoras ou ressonâncias. Existeumapréou para-Gnoee q u e pode serdetectada muito longe do seu centro. Omovimento não se reduzaPrinceton eaos seusdentis tas,emborasejaessaasuaorigemprincipal. Oscientistas são, pordefinição,criançasque brincam.Poré m ,em nenhumapar teissose verificatantocomonaAmérica.Gamownosrelata,c o m umaironiaisentade malícia, uma visita que fezaLouisde Broglle; este, emborao m ais simplesedespre tensioso dosseres, pareceuentretanto solenementefrancés a esse“ garoto".Assim como as crianças, também eles s&osérios e maisespontaneamenteteólogosdoque osadultos. Para os cientistas anglo-saxões, Deus é um pai andôo, ao mesmo tempo ve nerávele com quem sepode fazer gracejos.Ele é aomesmo tempo um Cúmplicee umaespéciede Patrãodequem seconhecemmuitossegredos,masnõotodososse gredos- daíoprestigioquecontinuamantendo.Pensaremterm osdeUniversosignifi ca gracejarcom Deus, brincar de ser Deus, brincarcom Deus - ou com “o Velho", comodiziaEinstein.3 A partirdas especulações cosmológicas de Einstein,o sentidoda totalidadeou da totaBzaçãocósmicafoi introduzidonadônciaoficial. EmPrinceton,haviatambéma
1.ExpressãodeH.Dngle. 2.AlusãosolamosotelescópiodoMontePalomar. Omovimento“gnóstico"começouemPasade ra, antesdoqueemPrinceton. Olivro- bastanteatmpllsta- deG.S*romberg: A Alma do Universo,toi eadntoemPasadenaem1938. 3. É bomnotarque Einsteinprovavelmentenãoteriaseguidoos(¿nósticospormuitotempo,apesar dessedefamo semi-humorístico.SuacorrespondênciacomBomnãodeixanenhumadúvidaquantoa isso.
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presença,noslaboratórios,defísicosjaponesesouchinesese,atravésd & les,apresen ça do pensamento budista. Osrecentescaçadoresdepartículase, sobretudo,os teóri cos sutiscriadoresdos“quadros"quesubtendemossistemasdepartículas, suas inte rações, intercâmbioseinterinformações, fizeram homenagem aoBudism o da "Óctupla Senda” , batizandoumapartículamaciçacomonomedeBuda. Os asiáticosamericanizados estavamassim unindo-se aogosto inglês e ameri canopelasabedoriaoriental: aIoga,oTaoísmo,oZen.A"ciência"budista e a“ ciência” bramamstaestavam se unindo à ciência cristã- sóqueno maiselevado níve lmental, longedopantanalondeestãoachapinharosúltimosdiscípulosdeMme.Blavatzky. Mais do que tudo, ô preciso se ter uma idéia do ambiente tão peculiar dessas comunidades cientificas, realmente “tibetanas”, que se sentem como se estivessem sentadas sobre o tetodo mundo - de um mundo que elas dominam através da inte ligência,enãodopoder;deummundoquelhespareceumtantorepulsivo. NaEuropa,esobretudo na França,quando avertigemdasalturasnãosetrans formanuma vertigemdepresunção, isso se traduzprincipalmente em ideologias políti cas e na ambição de se refazer a sociedade. Issotambémocorre na América.E os “positivistas” estão muito mais propensos a issodoqueosGnósticos. Os Gnósticos, por sua vez, assumem uma posição apolítica, em oposição aesse clericalismo dos cientistas. Elesmantêm, comasabedoriadosmongesdaAltaIdadeMédia,ooásisdeseus “mosteiros"oudesuascorporaçõesquasereligiosas.Maisumaveznahistória,asre lações entremestre eaprendizou entremestree discípuloengendraramumacomuni dadereligiosanão eclesiástica eum Estadoconventual,análogo aodoantigoTibeteou aodomonteAthos,separadodoEstadopolítico.Os“Gnósticos”consideramos“Ideó logos”damesmaformaque os monges - antigamenteeaindaum poucohoje- consi deravamospadresdaIgreja:comoclérigossecularesqueseperderamnomundo. Também se parecem comos sábiosda épocahelenística, que testemunharam, dentro de impérios decontornos indefinidos, a dissoluçãodovelhomundopolíticodas cidades. As universidades americanas têm acolhido muitos cientistas vítimasdosnazis tas.Aconteceque, sobretudodeunsdez anos para cá,acidadeamericanavemevo luindo do mesmo modopreocupante como a Alemanhadepois de 1930, embora num sentido completamentediverso. Os esquerdistas, porignorânciaoumáfé,muitasve zesacusamogovernoamericanodefascistaounazista.OsGnósticosmantêm-se na turalmentelongedessatolice. Eles percebemqueasnações,em vezdeseconfederar numasociedade supranacionalcomquesonhavamos cientistasnoiníciodoséculo, na verdadesedissolvem em vários setoresideológicos,numaperigosarivalidade.Obom humornatural dos homens inteligentesmantêmos adeptosdoNovo Movimento numa singular mistura d e otimismo e pessimismo. Encolhemosombros, ou antes, sorriem diantedas pretensõe sde seus colegasuniversitários- osdoclãGalbraith,doclãMarcuse ou ainda d o clã Chomsky - de querer constituiranovaclassedirigente, póseconômica, econtro lara formaçãodeumanovaordemsocial. Elesserecusam aser os“controladoresdasmutações"eapregararevoluçãoouareforma. Nisso,tampouco,elessão“clérigos"e,sim,“monges”. Também querem se parecer com ossábiosdas escolasdofimdaAntigüidade, comosepicuristas e osestóicos. 17
De fato,detodosospontosde vista,asescolasestóica ou epicuristasã o aindaa melhor referênciaparaseapreenderoverdadeiro sentidodesse novo movimento. Es sas escotasdaAntigüidade tinhamtambém sua raiz naciência da época,na física- a do atomismo maleriaistaoudodinamismo vítatela. Proporcionavam normaa de vida deduzidasdaciênciaeresultantesdeumameditaçãosobreas grandesleis d o univer so.Por isso,aapresentaçãoquevamostentarfazerdanovadoutrinamuito se asse melharáaostratadosteóricoseslóicoseao DeNaturaRerum,comquaseosmesmos capítulos sobreos átomos,ossimulacrosdapercepção,aevo luçãodocosm o, aagi tação dos homens, ouaindaafebddadedosâbiodestituido de ambiçãoed e falsote morreligiosooumágico.O conteúdo,éclaro,étotalmentediferenteemuitas vezesaté mesmooposto. Masoestado de espírito é omesmo. Os Neognósticos,assim como Lucrécio, parecem sempre estarsedirigindo aMemmius,a um Memmiuseterno como afraquezahumana. Otítulohojeaceitode Gnósticos(masquepoderámudarnofuturo)não deveen ganar-nos. A Gnose, como se sabe, nascidano Mediterrâneo oriental no sócuio I de nossaera,traziaasalvaçãoatravésdoconhecimento,atravésdaciência.AGnoseéo conhecimentoda realidadesupra-sensfvel,"invisivelmentevisívelnumeterno mistério". Osupra-sensívelconstitui,dentrodomundosensívelealémdeste,aenergiam otorade todaformadeexistência.AGnoserevelaoquesomos,oquenostomamos,olugarde ondeviemoseaqueleonde calmos,eametaparaaqualcaminhamos.Mastratava-se então da ciência de Deus; eraumateosofía, um Conhecimento de iluminação e sal vação,quenãosereferianemaomundonosentidotécnicodapalavra,nemao"eu”tal como é visto pela Psicologia.A aquisiçãodessaciênciaestabeleciadeform a mágica uma conexãomisteriosaentreoIniciado no conhecimentoe aprópriaforçadesse co nhecimento.Assimcomoaluz,elapropiciavaavida- comoaluz,maisdoque comoa visão. OiniciadoaprendiaumahistóriacósmicaeteológicacujotemaeraaQueda,não adohomempecador,comonoCristianismo,masadesubdlvindades,máseinfiéis,os Arcontes rebeldes que haviam traído o bom Deus superior, cavando monstruosos abismosdeespaçosedetempoentreDeuseomundo,mundoesseondeoshomens sofriam em completa “derretiçôo".Salvadores, então, transpunham oabismoe ajuda vamohomem, atravésdaGnose,areacenderacentelhadesuaalmaeaalcançarno vamenteoDeusdeLuz. OsNovosGnósticosassemelham-seaosantigosnofalodeacreditaremnoco nhecimentoena ciência,maisdoquenaaçãoounopoder. Porém,éevidentequeafí sicae abiologiamodernasconstituemumabuscadecarátertécnioo,eemnadase pa recem com o que se pode chamar de iluminação-revelação. O Logos spermaticos estóicoe-gnóstico- cujoculto levouàsestranhas echocantescontorçõesrituaisdos barbebgnósticos e dos discípulos de Basikdes,4 ritosesses que fariam oom que as obscenidadesdoshippies mais sujosparecessembrincadeira- nãoseassemelhaem nada ao Logosparticipável, queos Novos Gnósticosse comprazemem buscaratrás dasdescobertasdaFísicaedaBiologiacontemporâneas.
4. Elestomavam“spermaticos” namaiscruaacepçãobiológicadapalavra,eagiamdeacoido.Basilides,umdosmaisfamososGnósticos,viveuemAlexandriaporvoltade120-140d.C. CLH.Leèsegang,La Gnose, Ed.Payot, 1951,Cap.V,p. 132 (Nota de 1977).
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Seja comofor, otermo“ Gnósticos"foiaceito,mostrandoassimqueeles buscam overdadeiroConhecimentonãosubordinado àutilidadepráticaou pelo menos à utilida deimediata,poisoobjetivo finalémesmoa"existênciarealizada”. Vindode americanos, issoparece, defato,umtantosurpreendente(se équepo demosaindanos surpreendercomqualqueratitudenãoamericananaAmérica). Nesse sentido, o movimento aparenta-se, em seus princípios, às comunidades hippies, aos secessionistas dasociedade industrial. Não obstante,osNeognósticospossuem uma verdadeiraaversão física pelos hippies barbudosecabeludos,pelocheiro queexalam, pela sua promiscuidade, pela suamística de drogados. Ao contrário dos intelectuais franceses,sentemhorrorportodotipodelouco,tantona vidacomona literatura. Entretanto, admitem queexisteesseparentesco,damesmaforma que a Igreja, queiraounão,éobrigada a reconhecer seuparentescocomasseitasdissidentes,as sim comoos grandes socráticos eram forçadosa viverem boa harmonia com ospe quenos socráticos. Masesseparentesconáo deixadeirritá-los.Quandosequerapro fundaro assuntocomeles, arespostaque dãoéqueomovimentohippienaAméricaé apenas um início erradonumadireção certa- uma cruzada decrianças,ou cruzada dos pobres, antesda cruzada dos fidalgos.Cruzadadosloucos,antesdacruzadados sábios. Entretanto,aNovaGnosetem seu lugaremcertosgruposhippies,aquelesque renunciam àdroga e sededicamà meditação. Opanteísmo vem a serodenominador comum. Os NovosGnósticos são, sob muitosaspectos,aindamaisdiferentes doameri canotípico,talcomoeravistoem 1950,doqueosãoos hippiesdaCalifórnia. O movimento é aristocrático em todos os sentidos possíveis da palavra. Isso constituisuafraqueza aparente,mas,quemsabe, também suaforça. Pois éprovavel menteum preconceitoacreditar queos movimentos religiosos,paraseremfortes,de vem surgirdascamadaspopulares.A históriatendeaprovarjustamenteocontrário.O Confucionismo teve uma origem aristocrática, e igualmente o Taoísmo. A religião de Jeovátambém,etambém o BramanismoeoZoroastrismo,bemcomooEstoicismoe, até mesmo, oEpicurismo. O Cristianismo sónãose perdeu emseitas supersticiosas, tantona Palestinacomo nos bairros pobresdeRoma, deAntioquiaoudeCorinto, por que logose tornou aristocrático.A Reforma ea Contra-Reformatambém vieramdeci ma. OMovimentoéconscientementearistocrático,namedidaemquerenunciaatodo proselitismo, a toda publicidade. Não chega a ser secreto, porém é discreto. Os Neognósticos consideram que a atraçãoquetodomistérioexerceêvulgar.Elesrenun ciam ao pitoresco, atudo o que eleschamam de “pequenosimbolismo”.Condenamis socomumrigorqueeuconsideroexcessivo.Suasabedoriaésemelhanteàdosisola dos de Port-Royal,unidos em comunidade porconvicçõesapaixonadas, porémindivi duais,queosatraíamumparaooutro.Éprecisoquecadaumencontreporsipróprioo Caminho, aVerdade,convertendo-se pormeiodeumaprofundamento científico, enão atravôsdealgumainiciaçãoritual. Naturalmente,elesrepudiamqualquertipodecerimonial.Eissorepresentaemsi umaoriginalidadenaAmérica, onde são tão prezadas as sociedades pseudo-seeretas easmaçonariasdetodotipo. pelos brasões que gratuitamenteproporcionam. Elesaté repudiam qualquer cerimonial intelectual, pois cada um seauto-inicia, no seupróprio 19
momento, reinventandoa Regraassim como nojogode cartasinventado porumdeles (o jogo chamado “Eléusis") onde é preciso descobrir a regra, e nao tentar aplicá-la usando a astúcia.No“ Elêusis",obanqueirodojogo(cada um porsuavez setomao banqueiro dojogo) estabelece uma regrasecreta (que ele escrevenum papela ser á6erfcTnõ~fimdo jogo paraverifÍcação)7determinando comoas cartas dosjogadores deverfioseenquadrarnessaregra.Elecolocaurnacartanamesa,evaiaceitandoou recusando a carta apresentada pelosjogadores, e colocando-a & dreita da anterior conformeestejaou nãode acordocomaregra.Aquelequemaisoumenosdescobrea regradojogoKvra-semaiscedodesuascartas.Háváriasfasesdojogo,econtagens diversas dos pontos. Estejogofez muito sucesso dentro das universidades eatraiu tambómpesquisadoresdetodotipo,devidoàanalogiaqueeleapresentacomométodo habitualdepesquisa. A Nova Gnose6comoo Elóusis: cadaumseiniciaa si próprio.Cadaum6,al ternativamente ou ao mesmotempo,jogadore banqueirodojogo.Háuma espéciede cooptação,livreemútua- porémrígida,pois a regrafixada ésutfl.OsGnósticoscon sideram, alémdisso, queo seu sistemainèciâtico representaoprópriosistemadavida real,onde cadaser devedescobrirporsimesmo eporsua própriainiciativa oque é esperadodeleporpartedodesconhecidoBanqueirodoJogo. Os Gnósticosinteressaram-se- porumperíododetempomuitocurto- pelaarte HinferenciaT de John Cage,ondeo ouvintedevecontribuirpelomenos tantoquanto o autor. Mas logo deixaram de levá-loa sério, bem como tudooquese assemelha, de longe ou deperto, ao Zen-budismo,o qual,muitopelo contrário,elesacabaram consi derandoumdosflagelosdonossotempo. A nova Gnose é umafranco-maçonarla sem ritos nemcerimônias de entroni- zação, um Estoicismoou um Epicurismo semreceitasmorais, onde ao contráriocada umpõeáprova,parasieparaosdemais,suasfórmulasdeatitudesoudecomporta mentos,suas“montagens”experimentais,atéqueaRegraeficazaospoucosvaisur gindoe se esboçandoapartir dastentativasedoserros cometidosde boa fé.Nisso, também,osistemaapresenta,emrelaçãoaodos Nppies,umasemelhançasuperficial eumadiferençaprofunda.Pois,aqui,asiniciativas,asinduçõeslivresacabamsendo julgadas- eemsuamaiorparteeliminadas- porumaseleçãocujaessênciaéames maqueadaseleçãonatural,masqueémuitomaisrápida,dentrodeumasociedadein teligenteeflexível. De outro ponto de vista, os Gnósticosnãosãoenãopretendemseraristocráti cos. Nãoqueremser, nem highbrownemegghead,6edetestamospedantesquese escondem por trásde um vocabulárioeruditoparaembairopúbico,quesófalamem democraciaeemsocialismoquandoelesmesmosconstituemumdáprivilegiadodele trados enfatuados.Os Gnósticosse sentemcomo se fossem“donosdeterras",des sasterraecognitaeetincognitaedoconhecimento,comumareverênciadirigidaaoSo beranodesconhecido. Aristocratas, eles poderiam também passar por "reacionários”. Essa palavra, porém, não tem muito sentido na América. Não que eles não sintam nenhuma admt5. Expressões americanasqueservemparadesignarosIntelectuaisouaspessoasqueafetamgos tos“culturais"refinados.
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ração poresses dois grandesdemoliòoresmodernos queforam Marx e Freud,conside rados como “quebradores", redutores e desagregadores da filosofia e da sociedade. Maseles abominam seusseguidores,seus comentaristasecontinuadores,em particu lar Wilhelm Reich e Herbert Marcuse. Na verdade,osGnósticos olham mais adiante, comoobjetivodeclaradodetentaracabarcomoperíododedissociaçãoereduçãoque já durou demais e só acumula estragos.Aliás, umadefiniçãobastante adequada para caractenzar aNova Gnoseé suaambição“orgânica",em oposição ao esnobismode sorganizador quecorróitodas as sociedadescivilizadas.Segundo eles, somentepara asmentessuperficiaiséqueos“redutores”tornaramantiquadoopensamentoorgânico central e normal da humanidade,talcomoé traduzido pelascrenças tradicionais, irra cionais ou transracionais, e por filosofias que visam aprolundar essas crenças sem contudo dissolvê-las. Os “redutores” só têm uma visão muito local do homem, uma visão muitoantropocôntricaecientificamenteultrapassada.OsGnósticos,aocontrário, possuem uma visão cosmocôntrica - para nãodizerteocêntrica- conforme, segundo afirmam, à ciência contemporânea e à sua cosmologia "fechada". Eles não querem uma religião humanista, limitada à comunidade humana. O homem deve manter no mundooseumodestolugardeSímioque,momentaneamente,sesaiubem. Fazer girar a filosofia, a religião, em torno daorganização socialoueconômica (oumelhor,dealgumamodalidadeacessóriadessaorganização),ouemtornodaorga nização policial dos Estados,ou aindaemtomodomodo comosesatisfaz alibidodes seSímiooudamaneiracomoessemacacosempék)falaecomunicasuasimpressões aosoutros macacoscongêneres,tudoissoparece,aosolhosdosGnósticos,umaidéia cômica, uma revolução mental anticopemicana. O macaco sem pêlo ficamaravilhado diantedo momentâneo êxitobiológicodesuaespécie.Adensidadedofervilharhumano obnubila os indivíduos, assimcomoadensidadedoformigueirooudacolméiaisola os insetos individuais do mundo exterior, obcecando-os com a presença e ocontato de seuscongêneresecom amútuaregurgitaçãodoseu alimento. Existe,observam eles,uma tendêncianaturaldetodas aspopulaçõesdensas a sefecharem sobresi, por assim dizer, a se retraírem diante do universo, com umas formasde interaçãointensaseilusoriamenteautônomas.Hoje,amassabiológicahuma na praticamente só cuida desuaprópriaorganização.Achaquepode dispensarqual quer finalidade exterior. Vive passando e repassando suas informações, seus docu mentos e textos,numa espécie de intestino coletivoemcircuitofechado. Enquanto os homens eram tãoraros e espalhadosquantoos ursosdas cavernasouosjavalis,en quantoos caçadoresou os pastores caldeus, em meio avastidões semidesérticas, fi cavam olhando asconstelações eos “ sinaisdeslizantes docéu”, seu antropocentrismo sópodia ser superficial eperdoável, mágico, semelhante à ilusão doshabitantes das ilhas da Polinésia, que acreditam queos cargueirosdos brancos vêmdo paísde seusmortos6 - ilusão alimentada e transfigurada pela visãosemprepresentedohori zonte oceânico, domar e do céu. É somente no fervilhardasgrandescidades, onde cada um reabsorveindefinidamente as idéias dos outros,queos filósofosacabam se convencendo deque "todo ouniversogiraem tomodaorganizaçãodo Estado, oudo sexo,oudalinguagem". 6. VerolivrodePeterLawrenoe: Le Mythe du Cargo,traduzidoparaofrancésepublicadopelaFa- yard em 1974, na coleçflo “ Arthropotogie critique ", dirigida por Alam GheerbranL (Mota do Editor 1977).
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Quando eu objetavaa um Gnóstico eminente7queos filósofos, naEuropa, são tão anti-humanistas quantoantitefstas,eproclamam tanto “ a mortedohomem"quando “amorte de Deus",aresposta,Invariavelmente,era:"Ouseuspensadoresn fio querem dizernadacomissoe.nflopensamnada,ouenfioestãonocaminhodaJSovaGnose» Poisachamos,com efeito,queohomemnfio pode definir-secomoumaespéciedeVí venteabsolutodentrodeumuniversovazio,vaziodequalquersentido.Todasassuas todas as suas culturas, de quevocôs, Franceses, sempre falam,lhe vêm do universo.Seohomemparticipadesseuniverso,ésomentedomodocomoofazemto dos os seres. Se ô isso oque seus pensadores querem dizer,elestêmrazão.Mas, nessecaso,éprecisoparardedizerque“Deusestámorto".Paraentenderasleisda organização social,doamoroudalinguagem,senão queremosatribuí-las&obraarbi trária dos homens,temosquerecorrerauma Fonte, auma Unidade,aumaOrdemuni versal.NãosepodeseraomesmotempooPtotomeueoCopémicodacultura. E, recorrendoaumadesuasidéias prediletas, acrescentava: Quando,aofazer girar um recipiente cheio (fágua, ‘criamos’ umaforçacentrifuga,nãoestamos criando absolutamente nada, apenas constatamos apresençadeuma inércia, aqual,porsua vez, nãoteriasentidonempoderia existirsenãohouvesseoconjuntodetodososele mentos existentes no oosmo. Logo, podemos afirmar, aexemplode Mach8, que é o Universoque,aogiraremtomodobalded*égua,atraiaáguaparaassuasparedes.O quenãoseaceitaéquevocêsfalemdeuma massaedeumanéráa separadas. OconceitodeMach- cuia«osota,aliás,elesnáoapreciam- éumadasraleré ndu constantes dosfstcosgnósticos.Elaestásemprepresentesnsuasmentes.SabemoequeFlnirtoinnelaseInspirou no InJck). MuitosHfhxra gnósticosestâo reassumindo ateoria,aindacontrovertida,deEddinglon, se gundoaqualoefenómenosatômicosesuasdimenaóesestâoemcocrelaçftoertretocomocoemoco- moumlodo- oucosmouranótde,enAopoderiamproduzir-senumuniversovazio. Sdama^FredHoyle eoukosadmitemqueaintensidadedasinteraçõeslocaisestásobadependênciadascondiçfoaoóami- casgerais.
Náosemuma atitude de prudentecortesia- poiselesabiaqueeueradeorigem católica eleacrescentava: “OfatodeaIgrejaCatólicaou,melhordizendo,dealguns padres esnobes fazerem coro com oshumanistas extremistase, sem ousar afirmar abertamenteque“Deusestámorto",consideraremqueohomemJesusdeveseroúni co everdadeiro Deus paraos homens, provaaquepontoos eclesiásticos chegam a ter a mente confusaou pervertida pelosmodismos. Pois é de se perguntarparaque pode servir uma igreja de pedraou de madeira, a não ser paravoltaroolhardos ho mensemdireçãoaoutracoisaquenãosejaoformigueirohumano. "NossoSamuelButler,acrescentavaele,gostavadeverasigrejasanglicanasdo final do século XIX como *bancos musicais' onde eram feitas pseudotransações em moeda espiritual, com base em pseudocapitais‘reembolsáveisa cadatrintamilanos. OsrígidoscapitalistasdaInglaterravitorianaproclamavamcomosendoosúnicosver dadeiros valores os dos bancos musicais, mas nem por isso teriam se arriscado a ofender seus oficiais de justiça e seus banqueiros, pagando-lhes seus honoráriose
7.Eleóastrotfeico,etrabalhanoObservatóriodoMonteWilson. 8.Mach (Emst), (1838-1916), tísico e tiiósotoaustríacofamoso porseustrabalhossobreóticae acústica,eportercriado,juntocomAvenarius,oempiriocriticismo. (Nota de 1977).
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suas prestações prestações em moedaespir moeda espirititual. ual. Hojeem Hojeem dia, vocês voc ês transf transforma ormam ma as igre igreja jase sem m partido partidos s pseudopopular pseudopopulares es ou em clubesde clubes de joven jov ens s guitarristas. Vocês Vocêstr tran ansf sfor orma mamo moss bancos bancosmusicai musicais sem em ‘sindicatos ‘sindicatosmu musicais’ sicais’ - oque o que não nãoé émelhor melhor..E, E, atémesm émesmo, o, podese prefe eferir a mús música de órgão ao jazz azz ou à músi música ca popular de jovens vigários demagogos.” De minhapar minhaparte, te, eu contr contrapun apunhaa haa seus argumentos as audâci audâciasda asda suapró suaprópria Igreja,edelivrostaiscomoHonesttoGod Igreja,edelivrostaiscomo HonesttoGoddeJohnA.T.Robinson,bispodeWollwich. deJohnA.T.Robinson,bispodeWollwich. “O bisp bispo o Robi Robinson nson não é um Neognóst Neognóstic ico. o. Como Como Gnóstic Gnósticos, os, nós não somos ‘cristãos’. Se algu algunsen nsentre trenó nós scon contitinuamvenerandoJesus nuamvenerandoJesus-- assimcomoout assimcomooutros ros vene ram rama a própri própriamã amãe, e, ou a esposa esposa,ou ,oual algu gumm mmestre estre issoé isso éassu assunto nto del deles. es. Tudo Tudo pode servir de ‘janela’ janela’ pessoal sobr sobre ea apr profu ofundi ndidade dade do universo ou sobrea sobrea Unitas. Se Ro binso binson nse sepre preocu ocupacom pacom ofuturo ofuturoda da Igre Igreja ja,,ess essa a é asuafunçãocomobis suafunçãocomobispo po.Ofat .Ofatod ode e a Igrej Igreja ase se deno denomi minar nar cristã leva levanecessariamente necessariamenteseus seus adeptos adeptos acertas acertas cont contor orçõ ções es mentaisafimdedaraJesusumlugarcentraldentrodocosmo.9Pois,éevidenteque, sem sem o nome nome próp própri rio ode de JesusCristo, Jesus Cristo, a Igrej Igreja aC C ristãé ‘inominá ‘inominável vel einexi e inexistent stente’. e’. Mas, de qualq qualquer uer modo modo,, essas conto contorç rções ões são são vãs. Foi Jesusqu Jesus quem emmo morr rreu eu,, assi assim m como morre morrera ram m bil bilhões hões de homen homens se e bilh bilhões ões de bilhões bilhões de seres nos nosmil milhõ hões esd dega e galá láxi xias as existentes.NãofoiDeus.Detestamosessas‘filtragensdeinsetos’eessemodode‘en golircamelos’ [Gnatstrainingsandcarne!swattowing ],essamaneiradepretenderenca rar uma uma ques questã tão o de frente frenteen enqu quan antto se faz faz tudo para para evitá-l evitá-la, a, essa dissi dissimul mulaçã ação od de uma inefá inefável vel insinc insinceri eridade dade sobuma sobuma aparên aparência cia de inefável inefável candura candura..Nós Nós deixamos deixamos Je Je susaoshippies susaoshippieseao eaoshowbusiness. showbusiness.Aoadotá-lo, Aoadotá-lo, elesotomaram ¡nfreqüentável."1 ¡nfreqüentável."10 0 Os Gnóstio Gnóstioostêm ostêm,, emre em rellação açãoàs àsIgr Igreja ejas, s,umaati umaatitudee tudeestr stranha anhament mentecínica,co ecínica,co mota mo també mbémem mem rela relação çãoaos aos Estados. Elesnão Elesnãodeixam deixamdefreqüentá-l defreqüentá-las.Nãodeixa as.Nãodeixamde mde entrar entrare e demor demorar ar-s -se e ás vezes por por um longo ngo tempo tempo nas nas igrej igrejas as de pedr pedra, a, mas nunca nunca quandoocorremcerimôniasoficiaisecomunitárias.Emváriasoportunidades,censurei alguns algunsdeles delessobr sobreiss eisso:“ o:“ Vocêsdesprezamos Vocêsdesprezamosesforços esforços dosbispo dos bisposedos sedos políticos políticosqu que e se preoc preocup upam am em mante manter rhab habititáve áveisessas isessasinsti instituições, tuições,mas masac acab abam amse seaprov aproveit eitando ando desses desses esforços esforços,, assi assim m como Dióg Diógen enes es fazi fazia a com oát o átri rio odos doste templ mplos. os. A maior maioria ia de vocês [eu me diri dirigi gia aa a universitári universitários os eminent eminentes] es] rece recebe be salários salários quase quase tão ‘antecipá- ‘antecipá- veis’sobre ve is’sobreos ospr prod odut utor ores eseconômicosnosE econômicosnosEstados stadosUni Unidos dos comonaFran comonaFrança." ça." Pelosorrisodeles,entendiqueelesestavamperfeitamenteconscientesdisso.E é assi assim m que sejusti sejustifificam: cam: ele eles não ignor gnoram am a impor importâ tânci ncia a eos benefi beneficio cios s das das insti tuições,ou,comoelescostumamdizer,dasarquiteturassociais.Masconsideramode talhedesuaconstrução,desuaevoluçãoedesuahistória,aigosuperficial,indiferente, result resultado adodemil demilca caus usas as incalculáveis, incalculáve is, enãode enãode umadialétic umadialéticaresumf aresumfvei veiem empoucas poucasfra fra ses. Amet A metamo amorf rfos ose ed das institui instituições ções é tão tãoinevi inevitável távelqua quant nto oo osur surgimen gimentode todecade cadeias ias
9. OJesus“ OJesus“ agen agente tecósmi cósmico"dono co"donoss sso oTeilhaiddeChardind TeilhaiddeChardind consideradoum deradoum puroabsurdop puroabsurdopelo elos s NovosGnósti NovosGnósticos cos.. Eles Elesapon aponta tam m para parao otato tatodequeoS/mi dequeoS/mio oqu quese ese ergueusob ergueusobre resuas suaspatas patastrase traseiras iras desempenhounaevoluç desempenhounaevolução ãodoes doespirito piritohumanoum humanoumpapelmuito papelmuitomaior maiordoqueJesus doqueJesus.. 10. 10. Há algumas algumasnu nuan ança çasnas snas alludes allud esdos dosG GrxJ rxJeUcoe.Porexem . Porexemplo: plo: “ Jesus! Jesus!Eu Eu teamo tea mo,,ape apesar sarde de todososteusdefetos!"(W todososteusdefetos!"(Wililh ),ouentão: o: “ Naép Naépoc oca adoCristo,eun doCristo,eunãoter ãoteria ia h a jí thy faut fautts ts I tove tiee s tillf til lf ),ouentã sidoum sido umdeseus deseusdis discíp cípul ulos. os.Êuo Êuoteria teriacondenado. condenado.Mas Mass semor emorgulho!Talveze gulho!Talvezeut utivessesido ivessesidoten tenta tado do!"[a !"[a serseudiscípulo].
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vulcânicas vulcânicaso ou a erosão, erosão ,e emuit muitome omeno nos spre previ visív sível. el. Para Para eles,De eles, Deus use estáno stáno cosm co smo, o,e em cada cada sere na unida unidade de dosser dos seres es,,n na hist histór óriiag a geral dos dosser seres ese eemseusprogressos emseus progressos biológ biológico icoss- masnAo masnAona na históri históriad ados os povo povos. s. A histór história iado dospov spovos osnãoódeifi nãoódeificáve cáveii- ou ou então, então, aexi a existênci stência a de Deusnessa Deus nessa hist histór ória iaé é apenas enas superf superfici icialou alou indireta. Nela,ele colabor colabora accom oacas o acaso, o, na moid moidag agen enii da super superfífície cie do planet planeta apo porexemplo, rexemplo,nosu nosurgi rgi mentodascordilleras,nasfalhasgeológicasenosterremotos.ÊumainfeBeldadeter de viver vive rnu numa ma épocade época de desmor desmoron oname ament ntossociais,d ossociais,deg eguerr uerrase asede de revoluções, revoluçõe s,assim assim comoóumainfelicidadeter-seumacasanumaregiãodefalhasnacrostaterrestre.Só quenão quenão pode podemo mosm smuda udarde rdeépoc épocaassi aassimcomonos mcomonos mudamo mudamosde sde umaregi uma regiãopa ãoparaou raou tra. Masé Mas éig igual ualment mente einút inútilil quererlut quererlutar arcont contraa raasmassa smassas sre revol voluci ucionár onárias iase e contra as ejeções ejeções do magma agma terrestre; terrestre; é igu igualme lmente nte inúti inútill comba combate ter r aerosão aerosão demagógica e a erosão erosãoge geol ológi ógica. ca. S ó podemos podemos prote rotege ger rnos nossa sacasap casapor orum umcer certo totempo tempo,ou ,ou procurar construMaobedecendoatécnicasanti-sísmicas. Estafaltade uma doutr doutrina ina soci social al,,o ou melh melhor or,, polít política ica,pare ,parece ce-me -me ser, ser, confesso, uma umagra grande nde lacun lacuna a da NovaGnos Nova Gnose. e. Poré Porém, m, estalacunaé perfei perfeitamen tamente tecon conscien sciente tee e desejada. desejada.Par Paraos aos Gnósticos Gn ósticos,,isso issoé, é,no nofun fundo do,um ,uma aquest questãodeh ãodehone onesti stidade. dade. Elescon Elesco n sideram levianoe, levianoe,até atémesm mesmocrimi ocriminosofazerexper nosofazerexperiment imentosnapel osnapelehuman ehumana. a.Podemos Podemos nos nospermi permititir r fazerexperiências fazerexperiências ecome ecomete terer rerrose rosem m nossapró nossaprópr pria ia vida.O vida.Oque quenão nãote te mosodireitodefazeréfingirquesabemosoqueconvémaosoutros,quandoosoutros sabemissomelhordoquenós. Os Gnóst Gnóstic icos os mostrammostram-se se ao mesmo temp tempo o fasci fascinad nados os e irri irritad tadosdiante osdiantedos dos inúmerosdebatessobrea“futurfstica"easpesquisassobreos“tuturíveis".Algunsde lescontribuírammuitoparaessesestudos.Fizerampartedosfundadoresda WorldFu tureSodety(criadaemWashingtonem1967).Masacabaramafastando-sedesta,pre tureSodety (criadaemWashingtonem1967).Masacabaramafastando-sedesta,pre ferind ferindo o aderirao aderiraoproj projetode etode um serviço serviçode de avalação da tecnol tecnologi ogia a(qu (queiri eiria asus sustar taros os planospordemaisambiciosos). “A crise crise religi religiosa osa nos nos Estados Estados Unid Unidos os,, reco reconh nhec ecem emos os Gnósticos, Gnósticos, é, de longe longe,, muitom muitomaisgravedo aisgravedo quea que acrise crise econôm econômica icade de 1929 1929.Mas .Masnãopod nãopodemo emosfazerum sfazerumNew New Dealsocial.Aquiloqueépossívelparaasociedadeeconômicanãooéparaasocieda Dealsocial.Aquiloqueépossívelparaasociedadeeconômicanãooéparaasocieda deem gera geraL LNó Nós snãotemos nãotemos apretensã apretensão, o,com comoa oaseitabudi seitabudista stad deNichi N ichirenShoshu,de renShoshu,de iniciara iniciaraT T e rceir rc eira a civilização civilizaç ão".Toda ".Todadou doutr trina inasocialo socialoupol upol/ti /ticaéd caédesti estinadaa nadaaserapenas serapenas uma umaid ideo eolo logi gia,ou a,ou seja, seja, uma teoriafal teoriafalsa. sa. Osre Os respo sponsáv nsáveis eis polít político icos,ou s,ouosque osque sãoin são in vestido vestidos s de algu lgumpoder m poder momen momentâ tâne neoqu oquan ando do as forma formas s tradeionai tradeionais s são destruídas destruídas,, pass passam amde de um expedi expedient ente e aoutr a outro. o. Fabri Fabricar car instit instituiç uições ões sociais sociaisé éal algotão gotãoimpossível impossível quant quantofa ofazer, zer,e em laborat laboratóri ório, o,um um organi organismo smovivo vivocomp comple lexo. xo. Mas,hojeemdia, Mas,hojeemdia,podepode-se se fabricarmolécu fabricarmoléculas las pré-orgânicas,reconst pré-orgânicas, reconstitui ituirum rumvírus vírusdepo depois isde deté-k) té-k) decomposto, decomposto,o ou suscitar sus citarmoléc moléculas ulas pré-vitalselementaresnum pré-vitals elementaresnuma“ a“sopade sopade M Uer"-.1 Ue r"-.11 Queremos,através de nossa nossa reli religi giãobásica, ãobásica,fazer fazer uma uma““ sopade sopade MiHer” social, social, cont contand ando o com com a colabo colabo raçãodoacasoedaconsciência,parapodermosiraJémdas"grandesmoléculas”. Haverá, ness nessa a atitu atitude, de, alguma algumadesesper desesperança ançasecreta secretadi dian ante te dasitu da situação açãopertur pertur badadaAméricadehoje?
11. Alusãoàsmis Alusãoàsmistu tura ras sdehldro dehldrocar carbur buretos etos eamoní eamoníacoapar acoapartir tird das asquaisU quaisUre rey yeMiller eMillerco conse nsegui guiram ram,, em19 em 1955 55,, ácidosam ácidos amin ina ados. dos. Oter Otermo mo““ sopa” édeJ. B.S. . S.Halda Haldaneque, neque, aexemplodeOp aexemplodeOparin arine,tento e,tentou u imaginaroamDientequenteesalgadoondeavidatenasidoelaborada.
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“ Nenhu enhuma ma das gran grande des s rel religiõ igiões es tem tem dado dado qualqu qualquer erreceit receita a polít polític ica. a. Elas estã stão acima acimadisso. disso. Nãoqu Nãoquer erem emos os perder perdern noss osso otemp tempo o refazendo refazendo‘a ‘aRepúbli República’ ca’de de Platão,n Platão,na a certezadeque certezadequeest estar aría íamos mos,,como comoPlat Platão, ão, atrasados atrasados em relação relaçãoà àhistóri históriahumana.Os ahumana.Os Estóicos,osEpicuristas,osCristãoseosAntigosGnósticosqueprocuravamumasal vaçãoindividual,aomesmotempoestavamlançando,emborasemquerer,asbasesde umaordemsocialepolíticarealmentenova." Quan Quando do eu ale alegava gava que que os grand grandes es ideól ideólogo ogos s do nosso tempo tempo::Mar Marx, x, Leni Lenine ne e Maoforamverdadeirosfundadoresreligiosos,equeasreligiõesvivasdehojesãoideo logi ogias, as, eles eles sor sorriam riam:: “Apen “Apena as enun enunci ciada ada,, qual qualque quer r ideo ideollogia ogia já se toma oma anti antiqu quad ada. a. Vocês Vocêspe pens nsam am que quea a Rússia Rússia émarxist é marxista aou ou leninista?QueCuba leninista?QueCubaéca écastrist strista? a?Sóos Sóositita a lian lianos oseos eos franceses francesesacr acredi editam tamai aind nda a hojee hojeemideologi mideologias.Aforçaorgâni as.Aforçaorgânica,a ca,a vismedicatr ca triix natura naturae, e, é mais mais impe impedi dida da do que ajud ajudad ada a poressas por essasestrutur estruturas asde demadei madeiraq raqu ue pret preten ende dem m assumi assumir r o pape apel de esqu esquel elet eto. o. Os grande grandes s prosel proselititismo ismos s reli religi giosos osos,, com efeit efeito, o, têm sido sido mais ideol ideológi ógicosdo cosdo que religiosos. religiosos.Produ Produzir ziram am catástrofese catástrofese assassi natosemmassa.Deixemosqueasreligiões,aospoucos,voltemaserreligiosas,isto é, que reto retomemo memos s ao paga pagani nismo smo natural natural e universal. universal. Nãoque o quere remos mos cruzadas, cruzadas, nem "rearmamentomoral",nemproselitismo,nemconversõesemmassa." Agora, Agora, um relatobreve relatobreve sobr sobre eas as fasesdo fases doMovi Movimento mento..Estecome Estecomeçou çou emPrinceton ton e, tamb também ém,,quase quasea ao mesmo tempo tempo,,e emPasadena m Pasadena,1 ,12 por meio meiode debri brincadei ncadeiraste raste lefônic lefônicas, as,o oudoque udo que pode poderíríamo amos s chamar chamar de“divert de“ divertimentos” imentos” científicose científicos eu umpoucope poucope dant dantes es - algun alguns sdos dosqu quai ais s acab acabar arams amse e transfor transformandoem mandoemteorí teorías aspro profun fundas, das, comoos comoos diagramasdeFeynman. Umaoutra Umaoutravari variantedessas antedessas “brincadeiras “brincadeirassérias sérias”eraa“ ”eraa“cif cifrage ragem mpara paradoxa doxal”l”..Da remosapenastrêsexemplos: I.O últi ú ltimo mo suspiro sus piro de Cásar. Cásar.EstaremosaindarespirandoalgumasdasmoléculasdoarqueJulio César César expio ex piou u quando foias foi assas sassi sina nado do? ?A Aresposta,segund resposta,segundo ou umcálcul mcálculomult omultosimples osimples,ó: ,ó:““ Provavel Provavel mentesim,algumasdezenasacadaInspiração.” A xíc xícar ara a de chà: Enche-se II. A Enche-seum umaxícaraexatame axícaraexatamenteatéa nteatéabord borda.A a.A superficiedo superficiedoliquido liquidon nãoé ãoé plana,massegueacurvaturaesféricadaTenra.Aolevantaraxícaraaummetodealtura,acurvatura diminu diminuiiligei ligeiramente ramentee, e, sematensãosuperficial, sematensãosuperficial, alguma algumasmoléculasdeveri smoléculasdeveriam, am,então, então,ca cair. ir. Sepudés Sepudés sem semos utilizara utilizaraene energia rgia total total dessasmoléc dessasmolécul ulas asseg segund undo oa afór fórmul mula ade de Einste insteire ire E = mc2,o quepo quepo derí deríamo amos sesque esquentar ntar com ela? ela? Uma Umagot gotade adechá? chá? Uma xícarade xícara de chá? chá? Outrachal Outra chaleira eira?Arespo ?Aresposta staé: é: “Outrachaleira"
IN.Diminuir a velocidade da Terra:AosubiraoaltodoEmpireStateBuildng,umhomemdiminui avelocidadedaTenrae avelocidadedaTenra eaume aumenta nta aduração aduração dodia do dia(devidoàoon (devidoàoonser servaç vaçâo âodo do movi movimen mentoemét toemético) ico)..De De quanto?Deumsegundo(aotodo)parecada1022anos.
Dentrodo mesm me smo oestilo estiloer eram am inventadosjogos, inventados jogos,ger geralme almente ntetopológicos,entr topológicos,entreos eos quai quais so o mais mais conhecido eque e que oonq oonqui uist stou ou toda todas sas asuni univer versi sidade dades, s, éojogoch éojogochama amado do Hexo Hexou“ u“jogo jogode de Princeton Prin ceton".Ci ".Citem temost ostambé ambémos“ mos“compu computad tadore oresafósforos”. safósforos”. Essas pequena pequ enas s inven invençõe ções ssá sáo, o, por assim assimdize dizer, r,u uma fon fonma de fugir ugir das limi limi tações tações daroti da rotina na profissional, profission al, pois poisa a profissãoconsistee profissãoco nsisteemt mterid eridéi éiasoriginas. asoriginas.Porvol Porvolta ta de 196 1965, nossos (futuros)Gnós (futuros) Gnóstiticos cos passar passaram amaela aelabor borar aroutr outrosjogos osjogos,,m mais sérios sériose e 12.OndeseencontramosasffônomosdoMontePalomareosdoMonteWilson.
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além além dessarotina profissiona profiss ional. l. Foi a fase fasedos dos“a “antip ntipara arado doxo xos", s",o oudasprát das práticas icas do tipo "É difíci difícildizer ldizero oco contrá ntrário" rio" (com (comexerc exercíci ícios os anexos para“ para “ realizar realizarpl plen enam amen ente teo oa an ntiperadoxo") radoxo").. Essa Es sa fase fas e estâ es tâprovavel provavelmente mente figa figad daao aa o ambiente am biente decont decontestaçãou estaçãoun nive iversal, reigiosa, reigiosa, potf potfüc üca ae e social so cial que, havia unsdezano nsdezanos, s,predo predominavano minavanos sEst Estado ados sU Unidos (queprecediamaEuropanesseponto).SóqueessaBgaçfiosedeu »contn/lo.Esses »contn/lo.Esses anti antiparado paradoxo xos s eram eram às vezes veze s chama chamado dosde sdeIb Ibo/ o/ proofparadoxn.™ Um antipora antiporado doxo xo escapa escapaaqualquerconte aqualquercontestaç stação ãoposs possível,m ível,masnfio asnfio aomodode aomod ode"d "doi oise sedois doissá sáo oq quatro tro”. Ele nAo pode pode ser encaixado num num sist sistema ema de axiomas matemá matemátitico cos, s, o qual qual,po ,porr ser convenc convencion ional, al, é inatacável. inatacáv el. Elenfio Ele nfio depe depend ndede ede nenhum nenhum siste sistemade made ling lingua uage gem mq qual quer. quer. Todoc Todocie ien n tista tis ta- - e, principalmente,t principalmente,todo odofísic físico o-- éum oont oonteet eetado adorpro rprofifissi ssiona onal,l,u um m impla implacá cáve vell perseguidor de postulados, postulados,ssempr empre e pronto aquesfon a quesfonaro aro quee que ele aceito itou junto juntoco com m seus colegas. Descobrirum De scobrirum post postul ulado ado invisível invisíve lé, é, quasesempre, sesempre,de desc sco obrir aomesmo aomesmo tempoqueele tempo queelepode podes ser er-- edeve edeveserser- rejeitado. Seopost Seopostulad uladod odeE eEuc ucfd fdes es sobre sobrevi viveu veu durante durante séculos sé culos,, é porque porquevi vinh nhads adsfarç farçad adoe oem m axio axioma ma.A .Apartir partird dodia odiae em m que que Gaussse Gauss se perguntou se ageometriaeuclidi ageometriaeuclidiana ananfio nfio poderiaserveri poderiaser verificadaat ficadaatra ravvés de medid medidas as astronômicas, astronôm icas, o postuladoda postuladodas sparal paralelas elasjá ján n fio tinh tinhama amais is vali validad dade: e: oes es paço esférico,ouem esférico,ou emformade"duplatro formade"duplatrombe mbeta ta”” ,nfio ,n fiottem emnada nadaq qu ueofaçamaispa ofaçamaispara rad do xaldoqueoespaçoplano.Eupensoespontaneamenteque,seeuderumsoconame sa,nomesmoinstantealgodeterminéveiestaráoco veiestaráocorren rrendo doem em Síriusou Síriusou nane na nebu bulos losad ade e Andrómeda.Mas,perguntavaEinstein,dequemodopossomecertificardisso?Consi deremos,poroutro deremos, poroutro lado,umaafirmaçã lado, umaafirmaçãodo odotipo: tipo:“ “ E xis xiste tepensamentono pensamentonouniverso universojjáq áqu ue euestoupensando.”Estaafirmaçãonfioérejeitávelcomooéopostuladodasparale lasoudasimultaneidadeàdistância. Os Gnósticos de Princet Princeton on logo logoen ente tende ndera ram, m,como como físi físicos, cos, que queexi existe stem mlilim mite ites antiparadoxaisaosparadoxosaparentesproduzidospelacaçaaospostuladosqueeles viam viamser serprati praticada cadaao ao redordeles, nosma nos mais is variadoscampos,epo variadoscam pos,eporama ramador doresi esine nexp xpe e rientes rientes que quepret pretendia endiam ming ingenuamen enuamenterealizar terealizar,no ,noterrenoda terrenoda sociologi sociologia aeda edarel relig igiã ião, o,o o que eles,osfísicos eles,osfísicos,já ,jáfazi faziam am hámuitot m uitotem empo po,mas ,mas para para construir, construir,nfi nfio o paradest paradestru ruir ira a ciênciafísica.Perceber ciênciafísica. Perceberamqueesses amqueesses caçadore caçadoresamadoresdevastav samadoresdevastavamtudo,co amtudo,corr rren endo do oriscodedestruirtu oriscodedestruirtudosemcontraparti dosemcontrapartida. da. Os Gnósticos procuraram, procuraram,então, então,eencontr eencontraram, aram, todaumasériede toda umasériede anti antipa para rado do xos, eisso, e isso, sem, no começo,preocuparcomeço, preocupar-sedemai sedemaisem semdeix deixaralgu aralgumas masteiasdea teiasdeara ranh nha a filosóficas, filosóficas, confian confiandoos doos trabalhosde trabalhosde limpez limpeza aao aos s lógicos lógicos (queelesconsid (queelesconsideramas“fa eramas“fa xineiras"daciência). Comos fooiproofparadoxos já seestavaent seestavaentran randona dona NovaGnose NovaGnose(q (que ue ainda inda nãoti não tinha nhaess essa aden denomi ominaçã nação) o).Os .Os antipar antiparadox adoxos osnão nãosós sósão ão inacessíveis inacessíveisà à"de "demist mistififiicação” - como como sedizn sediz naFr a Fran ança ça - , masain masainda danã nãot otêm êmna nada da ateme atemerd rdacaçaaos acaçaaos pos pos tuladosinvisíveis.ElesdesempenhamsempreumpapelimportantenaNovaGnose,e servemdeprincipiosdecristalizaçãoparatodasasdoutrinasimportantes.Graçasaos antiparadoxos,osprinceton¡anosforamsetomandomaduros,sérioseintelectualmente ascetas,renunciandoàsteoriasfantasiosasepitorescas,assemelhando-senissoaos verdadeiros artistas, que renunciam às técnicas de efeito por levar a arte asério. 13. Alus Alusáo áoaos aosavi aviõe õespar sparaa aama mado dore res, s, prepar preparado adospa spara raque quesej sejavnpo avnpossf ssfvel vel uma umabr brus usca caperda perdade de velocidade.
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A“ cosmologíabásica” Seguiu-se, entretanto, umaou trafase (po r vo lta de 1970), ma rcadapeladecisão coletiva de seesboçarumabasic cosm ology - naverdade,nadamenosdoqueumafi loso fia ou uma teologia fundamental.14 O term o “ co sm olog ía" faz alusão aessenovo capitulo da física, iniciado por Einstein e de S itter antes mesmo da descoberta, por Hubble, da expansão do universo. Há todo um grupo de físicos , quase todos anglosaxões: Eddington, Lemaitre, E. A.Milne, G ôde l, W hitrow , von W eizsãcker, H. P.Robertson, Sciama, Bondi, H oyle,calculando ou e sp ec ula nd o so breo universoemsuato talidade, náo só espacial como temporal. A co ntece qu e, espe cular sobreo universo como umtodo significa pensar,queiramosou na o,em term os teológicos.Acosmotogia não pode se r como os demais capítulosda física . Náo se trata mais deestudarfenô menosque se produzem numespaço enum tem po ind efinido s e neutralizados, homo geneizados, laicizados poressa"indefinidade” . Tra ta-se, ago ra, de “p ensaroespaço" como um todo, fechado como umandador para crian ça, e de “pensaro tempo" como algofinito em direção aopassado, oqual partiu de um pon tosingular, teveumcomeço e,também,pareceterumfim,revelandotalvez,assimcomooespaço,certascurvatu ras (seé que existem linha s"dotipotempo"fech ad as )de um m odoaindainconcebível, masdoquaiacosmotogiadeGôdeljánosdáalgumaidéia.
Oinfinito,oumelhor,oindefinido,ésilencioso,eterno,mudocomootúmulo.Seo espaçoé finito,e provavelmente hiperesfórico, e seo tempo é,ou temumahistória,ir reversível ou fechada, istoô um primeirosinal paraaciênciade queelanão podeser “positivista".O silênciodosespaçosinfinitosnáoéeterno, seelecomeçoucomoBig Bang (isto é, aexplosãoinicial,iníciodaexpansáo).Emtodososcamposdafísicaeda astronomia, apresentam-seosproblemas dagênese.Quer se concordeou serecuse, pormotivosreligiososou,oquevemaserquaseomesmo,pormotivos anti-religiosos, emespecularsobreaorigem,ofatoéqueouniversoseencontra,semdúvida,emde sequilíbrio: as estrelas se desmaterializam; o hidrogênio transforma-se em hélio; a matériaaindaestáemexcessoemrelaçãoàirradiação,masderrete-seemirradiação, assim como oaçúcarnumaxícara;otempopassaouavança.Nadamaisseapresenta estático, tudo estánumvir-a-serou em processo de criação.Nâose acredita maisna permanência de substâncias. Os que ainda se escandalizam com a idéia de uma criaçáoabsolutadematéria(segundoHoyle)estâoadmitindoacriaçãodeespaço(vis toqueouniverso está em expansão). Osque queremcompensar acriaçãodeinfor maçãoaqui, por um aumento pelo menos tfto grandededesordem alhures, admitem, portanto,queexistemdomíniosondeainformaçãopossanascer. É verdadequeexistem cosmólogos queadotamumaatitudepositivista,como H. P.Robertson, eque rejeitamosresíduosde anglicanismoem E. A.Milne,15 dequake-
14.Alimitaçãodecréditosocorrida,sobretudoemPasadera, desde 1970,levouumcertonúmero decientistasaoserrodesemprego.NosEstadosUnidos,areaçãonãoó,comoacontecenaFrança,ade promoveragitaçãosindicalepolítica. 15. Milne (EdwardArthur) (1886-1950), asfrônomo ematemático inglôs, estudou em particular a termodinámicadasestrelase aestruturedamaláriaestelar.Tambémdesenvolveu umateoriaoriginal sobreaexpansãodoUniverso.(Notade 1976.)
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rismo em Eddingtone de catolicismo em Lemaítre.Mas,mesmo paraaqueles, entre os Princetonianos, que vêemcom desconfiança asidéiasdeE.A.Milne, édifícilexagerar sua influência.O vocabulárioreligiosoéumjogo,masumjogosério,paraHoylee para Gamow.EoeraparaEinstein,quejávianouniversoumaInteligibilidade”misteriosa, comose,portrásdetudo,houvesseum“Sabe-se”(naformaimpessoal). Otermobaslcèmaisdiffdldeexplicar.Nfioétomadoaquinosentidoqueseusa quandosefaladebaslcengüshoumesmodofrancêsbásico.16Nãosetratadeestabe leceruma espéciedecosmología(oudefilosofia religiosa)minimalista - emboraopro cessodosantiparadoxosàsvezeslembrealgoparecido.Trata-semenosaindadeuma "ciênciareligiosa”, ou de uma“religiãocientífica". O queos Gnósticos entendem por estetermoéoseguinte:umacosmologíatotalizanteparaoespaçoeotempodevetota lizartanto os observadores comoos observados, tantoos pontos de vista como os pontosvistos,tantoos "ego"comoos“aqui eagora”, tantoosMego” comoosalhures, passados oufuturos,tantoos moventesou os deformantes, como osmovimentosou asdeformações. Isso foi oqueMilnetentou fazercom a chamadateoriadarelatividade cinemáti ca.17OsGnósticosconservampelomenosa¡déladesuatentativa.Elesserecusama oporo espíritoàmatéria, osubjetivoaoobjetivo,aconsciênciaàcoisa.Recusam-sea acreditar nessadualidade, nessa “bifurcação” danatureza,que tomaríatotalmente in compreensívelo“Sabe-se"ouo“Pensa-se”nouniverso.
Psicossíntese Afasebasic cosmology levou à última fase, propriamentegnóstica,quepoderse-ia caracterizar como urnatentativade“ psicossíntese"(apalavraépoucousada pe losGnósticos),emcontrastecom apsicanálise,daqualosGnósticos,aomesmotem po,se inspiramedaqualdesconfiam.Adoutrinatomou-sesabedoria etécnica de sa bedoria, àmaneira de um novoestoicismoouepicurismo,porém abertoevinculadoà ciência viva em vezderelacionado comfilosofias simplistase pseudocientfficas. Esta faseduradesde 1971,etalvezn&osejaaúltima.Elaóaomesmotempointeressantee decepcionanteparaos quetém umespiritocientífico rigoroso,pois aequipecompacta efirmedefísicoseastrónomosquefundou aNovaGnoseéhojeumtantosufocadape losnovos recrutas,principalmente porbiólogosemédicos, muitosdelesnotáveiseto dosinteirados das ciênciasfísicas, mascarecendodo espiritoquecaracterizouospri meirosfundadores.
16. Ouentão,seriaprecisoquea“ base”tosseoconjuntodos"cnptotipos", das“ categoriasimplíci tas",segundoB.LWhorf. 17.Ct.cap.II,pág. 43.
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Uma última palavra, desta vez pessoal. Foidurante um “jantar Samuel Butler”, em Londres,queconheci omovimentognósticoamericano.18 Poisestefazde Butleroqueeunão sabia- umdeseusgrandesmestres. Essesjantareseram extremamente saborosos, em todos os sentidosdapalavra. Sabíamos - “ nós”, istoé,osmembrosda Sociedade Butler - que Butler,quenáo havia sidotãofelizem suas especulações na Bolsade Valores comoo foracomLa Vieet1'Habitude,sofreramuitoporterdesecon tentar com refeições parcas. Seguindo sua teoria da imortalidade por procuração, tentávamosfazô-loaproveitardaboacomidaporintermédiodeseusadmiradores. Nessaocasião, eu haviasugeridotimidamente aidéiade que SamuelButlerfora emsuaépocaumaespéciedehippie antesdotempo, masum hippieinteligente,oque mudavatudo.PoiselehaviasededicadoàgrandeObra,àPedraFilosofal,deseutem poe de todosostempos: reconciliarDeuseMammón. EoManmondeButlernãofora dosmaisgordos. Eu também acrescentara quedesejava um movimento,umadoutrina, quefosse para as extravagantes convulsões doshippies oque oestoicismoouoepicurismoha viamsidoparaascontorções doscínicosou doscirenaicos.Hoje,sótemos “pequenos socráticos”.Ondeestarãoosgrandes? Naquelemomento, percebi queeu haviacomoquetocadoumamola secretanos Butterianosamericanos,que,desdeentão,passaramaseinteressarpormim.E,apar tirdali,os“amigosdeSamuelButler”sefundiramcomoMovimentoGnóstico. OsGnósticos,cujaatitude,normalmente,édesprovidadequalquerpose,têmen tretantoumapequenapose antipose .Elesafetamumaatitudedereverênciaparacom Mammón,o dinheiro, epflra comos que sabem fazerdinheiro cominteligência(cha mama isso “encarnar Deus").Naverdade- eissologo verifiquei -, elessãoaspes soas mais desinteressadas, mais verdadeiramente ascetas que conheci. Sentem-se sinceramente constrangidosquando recebem altossalários.Contudo, nãotoleramahi pocrisia, quase tãodifundida nos Estados Unidosquantona França,que consisteem desprezarodinheirocomaspalavrasenquantoselevaumavidadeepicuristadissimu lado. Do mesmomodo, afirmam interessar-se pela gastronomiamas, na verdade, vi vemmuitodesanduíches.
Assim,foiessacircunstânciaque,maistarde,mefezconhecer,bastanteintima mente,osprincipaisfundadoresdaNovaGnose. Nãotenhocerteza,entretanto,deterconhecidoom estre-ouamestra- doMo vimento.Quandosereferiamaessepersonagem,erademodotãovagoque,tantopo-
18. Samuel Butier (1840-1902)tomou*8®umcláasJcoda literaturaInglesaoomsuafamosautopia Erewhon (1872) e seu romanos autobiográficopóstumo: The Way of ali Flesh (1903). Mas Butler tambémescreveuobrasdetttosotlabiológica,comoLaV ieet 1’Habitude (1878),aúnicatraduzidapara ofrancés. Butlerpotemizou oom Oarwin e foiconsiderado injustamenteum amador. Suas principais obras neste campoforam: Evoluüon Okt and New (1079), Unoonsdous Memory (1880) e Luck or Cunning?(1886).ASociedadeButleráqualnosreferimosnestaobraé, naventada,asegunda.Uma primeirasociedade(“OspolaresErewhon")teve,emjulhode1914,suaúltimareunido,preskfdapela sra.BemaidShaw.(Notade 1977.)
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deriasetratard e umaBonaDeamíticacomodeumpersonagemreal(porexemplo,da esposaoudamãeadoradaeveneradadeumdosfundadores). EssesGnósticostãointeligentes,ediantedosquais,apesardesuaextremaoor- tesla,eumesentiamuitasvezescomoumgaroto,principalmentequandoum apergunta queeufaziaeque acreditavapudesseserinteligente,despertavanelesum sorrisomal reprimido - esses Gnósticos, então, lamentoterdedízê-to, conservavam um gosto, que pessoalmente eu achavaexcessivo, pelaficçãocientífica- paraaq ualcontinua vamtrazendofascinantes contribuições. Sabemos queaficçãocientífica, nos Estados Unidos,émuitasvezesaoportunidadeparaexperiênciasmentaisdegrandealcancefi losófico. Alguns Gnósticos chegamquase a pensarque trabalhosdeficção científica poderiamsermaisúteisdoquedissertações,testesou,comonaChinadosMandarins, a composição de poemas, nos exames e concursos acadêmicos, ^ ilto e outros, porém, lutamcontraessa inclinação.Osestetas,argumentameles, sãolevad osacrer que um filmeou um a peçadeteatro constituiuma provasocial ou politica. "Nós, os dentíficos, nãodevemos incorrerno mesmoerro eacreditarque umaficçãodeficção científicapodeconstituirumaprova.” Alguémpoderá quererme perguntar por quenáoacheimais simples traduzire, assim, apresentar algumas desuasobrasescritas.Arespostaéfácil: essasobras náo existem ainda,e provavelmente não irão existir antes de alguns anos.Nãodevemos esquecerque,hoje,os Gnósticosdeclaradosainda náo passamdeunspoucosmilha res. OMovimento,semchegarasersecreto,pretendeserdiscreto.Ostemasgnós- tioos sãoprincipalmentefalados, discutidose, nomáximo, mimeografados. Os cientis tas,queconstituemamaioriadosadeptos,têmcomonormanáopublicarsenãooque forestritamentecientifico. Elestêmuma grande preguiçaquando setratadepublicaremboralevemoassuntomuitoa sério- oque serefere atudooqueeleschamamin distintamentedetheotogy. • • *
Foi pelomenos nessesentido queeu consegui, durantemuitotempo, entender suadiscrição eseugostopeb segredo, oqual,porém,continuouaintrigar-me,poisos Gnósticos estãocada vez mais comares demistério.Poucoapouco,percebiumaou trarazão,maisimportante. O Movimento começou entreos físicos e os astrónomos, depois envolveu os médicose os biólogos, e depois os membros da alta administração.Porém, maisre centemente,tem atraído umgrande número de eclesiásticos,sobretudoentreasaltas esferas da Igreja. Pelo que entendi, muitos bispos sãognósticos— como teriamsido deístas na Inglaterra do séculoXVIII - e haveria atémesmomuitos bispos católicos quepebmenossimpatizamcomoMovimento.Comisso,suasituaçãosetornadelica da. Eclesiásticos podem sedizer ateussemqueisso representeumgrandeinconve niente ou seja motivo de escándate. Afinal, o Budismo, o Confucionismo são Igrejas atéias.Oscatólicosfrancesesprogressistasproclamam-sefacilmente“antideístas"por amor a Jesus Cristo eaosseres humanos. MasumaIgrejaquese denomina“cristã” dificilmentepodeproclamarquenãoacreditamaisnoCristo,quesóacreditaagoraem Deus. Istopoderiaseraceitoapenasnosentidoextremodeummisticismoexaltado, no 30
sentidoemque GeorgesFox interrompeuumpregador,dizendo:“NãoiEscritura, mas o Espírito Santo",no sentidodequeJesuséapenasaexpressãode umageneratioae terna, um mensageiroquedeixade interessar, quando se conheceoAutor da mensa gem. Masos Neognósticos não são pessoas místicas e,é emnomedoDeusdo co s mo, do mundo, científica e socialmente respeitável, que eles deixamJesus Cristo e seus apóstolos para os hippies. Umaatitude, no fundo, honestae louvável, mas difícil de confessarcorampoputo, considerando-se aetimologiadapalavra cristianismo. Es sanecessidadedesegredoacabou,então,estendendo-seatodososadeptos. Há um outroponto, maisdelicadoe mais secreto, talvez até mesmo subcons ciente.Os Neognósticosde origemjudaica (e sãomuitos) muitasvezespensamcomo se esperassem uma espéciedeconversão, ou de reconversãodo cristianismo parao monoteísmo israelita original - enquanto muitos cristãos pouco esclarecidos, mesmo quandosimpatizamcomosjudeus, aindaconsideramojudaísmocomoumestágioreli giosoprimitivoqueocristianismoteriaultrapassado. Acontece que os Neognósticoscristãos, porsua vez,nãoestãomuitolongedo pontode vista dos Neognósticosjudeus, eparecem quasedesejarumaespéciedere conversãodocristianismoparaojudaísmo. Mas essas são coisasdifíceis de confessar,atémesmoasipróprio- sobretudo quandoseépastoroubispodeumaIgrejacristã.
Contudo, nãoescondi delesminha intençãodeapresentá-losao públicofrancês e, sem chegar aentusiasmá-los, meu projetonão suscitoumaioresobjeções- a não seracondiçãoquemeimpuseramdeeunãocitarnenhumnomedeGnósticodeclara do,e esboçara doutrinaatravésde seusinspiradoresedepessoas queestãoàmar gem do movimento. Receio que, talvez,tenham aceitado meu projeto principalmente porque elesnãolevamopúblicofrancêsmuitoasério,econtamcom seupoderdede satençãoecomoesnobismoantiamericanodeseusmeiosintelectuais. Emduasoutrêsocasiões,tomeialiberdadedeinformá-losdeque,emobrasque eu escrevera- eque,naturalmente,nuncahaviamUdoedasquais nem haviamouvido falar eu haviachegado às mesmasconclusões queas deles, sóque umpoucome nos seguras.Mas mostravam-sesurpresos pelo fato deeuconsiderar surpreendentes essesencontros. Paradizeraverdade,minhasurpresaparecia-lhesinfantil,semelhan teà surpresadeumacriançaaodescobrirmaravilhadaque, compapel e lápis,pode-se chegar aos mesmos resultados que com uma máquina de calcular. Nossos leitores acharão- assim esperamos e aomesmotempotememos - queaG nose americana vaimuitoalémdenossasmodestastentativas. ApresenteHhes o manuscrito destaobra, submetendo-o àsua aprovação.Com exceção de algumas correçõesquemesugeriram sobrecertospontos ondeeu havia cometido alguns erros científicos, deram suaaprovação, censurando-me, porém,por eunãoterdado umaênfasemaioràsuacosmología,eterdedicadoum espaçoexces sivoàsuabiologia,matériaemquemesentiamaiscompetente. 31
PRIMEIRA PARTE
A Ciência Neognóstica
CapítuloI
OMUNDOPELOLADOAVESSO EOMUNDOPELOLADODIREITO
Atese A tese fundament fundamentalda alda Nova NovaG Gnoseé noseéa adetodaG detodaGnose: nose:Omund Omundoédo oédomi mina nado do pe pe lo Espírit Espírito, o,fei feito to pelo pelo Espirito, Espirito, ou por porEspí Espíri rito tos sdel delegad egados. os. O Espíritoenco Espíritoencont ntra ra (ou, (ou, an an tes, criapar cria para a simes si mesmo) mo) uma resistência, resistência,um umaoposição: aoposição: aMatéri a Matéria.O a.O homem,através daciência,masdeumaciênciasuperior,transpostaouespiritualizada,podechegarao EspiritoEspirito - ou Ment Mente ecósm cósmica icae, e, se for sábioe sábioeao aome mesm smotempo otempoin intel teligen igente, te,nel nela aenc encon on traraSalvação. A Nova Nova Gnos Gnose e dese desenv nvol olve ve essa tese ese com com preci precisão são e, sobr sobret etud udo, o, cons conseg egue ue torná-larespeitável torná-larespeitávele econfor conforme meà àciênciamais ciênciamais positiva. O que é o espír espíritito? o? É uma consci consciênc ência ia. . O que é o Espi Espirito rito? ? É a Consc Consciê iênc ncia ia cósmica. Oqueéumaconsciência?Étododomínioqueseconheceasimesmo,“vê"asi mesmo emsuaprópri ms uaprópria aun unida idadee deeem em seusdetalhessubordinados, seusdetalhessubordinados,equepod equepodedizerv edizervir ir tualmente“eu",poiseleestápresenteparasimesmo. A Nova Nova Gnose Gnose radical radicaliza izaa a tesegnóst tese gnóstica ica.. O OEspi Espiri rito to nãoencontra nãoencontran na Matéri Matéria ao o seuoposto;eleaconstitui,éseuestofo(stuff seuoposto;eleaconstitui,éseuestofo( stuff ),oúnicoestofo.AMatéria,oscorposma ),oúnicoestofo.AMatéria,oscorposma teriais, teriais, consti constitue tuem m apenas apenas a suaaparê suaaparênci ncia a(pa (paraout raoutro ro espirito),o espirito),ou u o seusubprodu seusubproduto to,, porumefeitodemultiplicidadedesordenada. Ouniversoéfeitoexclusivamentedeformasconscientesdesiprópriasedeinte rações rações dessas forma formas s por informa informação ção mútu mútua. a. Pois Pois a consciênci consciênciaé aéa afo forma rma e a infor infor mação, poré porém mdo do lado direito, direito,nãodo nãodo ladoavesso,comoestrutura-objeto-numa-outra- ladoavesso,comoestrutura-objeto-numa-outra- consciência. Em seu conjun conjuntoeem toeem suaunidade, suaunidade,o ouniversoé universoé conscientedes conscientedesimesmo. imesmo.Não Nãoé é feit feito o de‘ e ‘‘coisas’’, ‘coisas’’, de “ corpos corpos materia materiais is”. ”. Suas uas ener energi gias as não não são“físicas são“físicas”” . Suas Suas infor infor mações mações nãosã nãosão ocegas,ousãocegas cegas,ousãocegastãotão-soment somentee eemsua msua viag viagem ementre entredois“ dois“inf informa orma (cientitififica cao ou não) ão) dos sere seres s nãoprod nãoproduz uz uma uma dos”.Oconhecimento porobservação (cien simple simples s “filtrag “filtragem”, em”, com perda perdade deinf informaç ormaçõesobjet õesobjetiv ivas as-- comoum comoum aparelho aparelhode de tele visão visão em pret preto o e branc branco o que, que, aore o receb ceber er um prog progrrama amaem em core cores, s, perder perderia ia as infor infor maçõessobreacor. 36
É m u ito mais mais graved grave doqu queis isso. Porde Pordetitini nição ção,,u um “obser “observad vador or” ”só só podeobs pode obser er v a r um "o b jeto je to ” ,quan , quando, do, na reaiidade, existealiuma existealiumacons consciê ciênc ncia ia subjetiva. Nãosepo Nã osepo de, p o r d e finiç fin içã ã o , verumaco verum acon nsciê sciên ncia cia.Pode . Pode-seap -seape enasadivin adivinha harum rumacons aconsciênc ciência,ou ia,ou participardela. Se perguntarmo pergun tarmos s ao menino Pedr Pedro: o: "Ondee "Onde está Ped Pedro? ro? MostreMostre-nos nos ondeest onde está á P e dro” dr o” ,ele , ele espontaneam espo ntaneamente enterresponde abri abrindo ndo aboc aboca aoma omais isquep quepode odepara param mostrar ostraro o seu inte in terio rior, r, p a ra nos nos comunica comunicar ra acálidaimp cálidaimpre ressã ssãoq oqu ueeletemdeum eletemdeum“ “den dentro" tro"in inex ex p rim íve ív e l C ada ad a s e rsenteoseu rsenteoseuin intterior ior,ose o seula ulad d o dir dire eito" ito"(q (qu ue,parao ,paraosoutros soutros seres,é seres,é o seu “ ladoa ladoavesso vesso”) ”).Mas .Masel ele es6 s6podeobservaroexterior,apele,oladoavessodos o u tros tro s . Ee E e le observ ob serva ao oseu seup próprio avesso,ta avesso,també mbém,q m,qu uandovêuma vê umapart parted ede eseucor seucor pocomumolharsuficientementemóvel,ouquandoseolhanumespelho. O conhecim conh ecimento ento científicov científicova ai alémda lémda“ “pele”;fa pele”;fazz ounive ounivers rso oabr abririr abocaescan abo caescan caradam cara damente ente,, assim ass im comou como umde mdentist istafariacom umclie clien nte;mas te;mas nunc nuncav avê ê o seuin seuinte te rior, rior,as as suas sua s víscera vísc eras, s,a anã não oser serat atra ravé vésdo sdo model modelod odo oexte exteririor orq queel ueelepo epodeperceb deperceber er.. Umcortemicroscópicoaindaéumexterior,umavesso. Semp Se mpre re achamosque achamos queas asccoisa isas eosse e osseres ressã são ocom comoos vemo vemos: s: umasócasc umasó casca a ou uma um a sópe só pele, le,externaou externaoufa fals lsa amenteinterna teinterna,,umasu umasupe perf rfíc ície iequeref quereflet lete ealu aluz. z. Deum Deuma a pessoa pesso a den de n osso os so conhec conhecimen imento, to, sabe sabem mosqueseu squeseuco corp rpot ote em um lado ladoa aves vesso, so,ou ou an an tes, um ladodire ladod ireito itoqu queé eé suap sua própriavi iavida, da,suapr suaprópr ópriac iacons onsciê ciênci ncia,poi a,pois ses essa sa pessoa pessoa nos fala sobre sob reela elas. s. Um cachorrot cachorrota ambé mbémnos dáte dá test stem emun unho ho dese de seu u anverso,aopro anverso,aopro testar tes tar quando quand o pisam pisa m na sua pata. pata.U Umaárvorenuncapro árvorenuncaprote test staa aaoserpodada,nemt oserpodada,nemtam am pouco uma erva erv a quando quando pisada, pisada,o ou um cristalquand cristalquandosu osubm bmet etid ido o aforte afortepressão. pressão. Por isso são sã o considerados comon como nãote ãoten ndoo “lado “ladodir direi eito to”,co ”,como mosend sendo“ o“sócorpo” sócorpo” .Se o olhode olho de Midas, Midas ,e enãoapenasa nãoapenasasu sua am mão,tivessepodi ,tivesse podido dotr transfor ansformar marem emourotud ourotudooqu ooque e via,Midasteriadito:“Tudoéouro." Omaterialismoconsisteemacreditarque"tudoôobjeto",“tudoéexterior”,“tudo écoisa”.Eleseapóiacegamentenocaráter écoisa”.Eleseapóia cegamentenocaráter"desuperfície”dapercepçãovisualedo "desuperfície”dapercepçãovisualedo conhe conheci cimen mento to cientí científifico, co, toma tomand ndo o como lado ado“dir “direit eito” o” - ou cert certo o - (rightskte)olado (rightskte)olado avesso(wrongside) avesso(wrongside)dosseres. dosseres. Oquedâ Oque dâaomaterialismoessacaracterísticadeverossimilhançaéofatodeque aomaterialismoessacaracterísticadeverossimilhançaéofatodeque a maiori maioria ado dos s seres sere s perceb percebido idos se e conh conhec ecid idos os são,defat são,defato, o, seresfal seresfalsos, sos, corposcom corposcom postos, pos tos,com complexos plexos artificiaisoufortu artificiais oufortuito itos.Umanuvem,u s.Umanuvem,um mrio,umacasao rio,umacasaou uumamá umamáqui qui na, obviamente, nãotê não têm, m, como tais, tais,ne nenh nhumlado“ umlado“direito"consci direito"consciente.Sua ente.Suas smolécul moléculas as component componentes, es, porém,jáque subsi subsiste stem mporsi porsimesma mesmas,conse s,conserva rvam m suaforma suaformaou ouare are constituemeventualmente.Elastêmdepossuiralgumlado“direito",quefazdelasuma realida realidadeindependente deindependenteda dan nossa ossavisão visãoou ou denossos denosso scui cuidad dados. os. Os enor enormes amontoa amontoado dos s de matér matériia das estrel estrelas as e das das nebul nebulos osas as são cons cons ciêncianoestadod ciêncianoestadod epó, uma nevede consciência consciência porassim porassim dizer,feit dizer,feitadebil adebilhóes hóesde de cristaisdegeloqueatomamvisível,enquantoqueogelo(aconsciência)étransparen te. A possessão possessão eróti erótica - na quaJ não não hánada o quepossui quepossuir, r,di dizemos zemos céti céticos nãofazsenãoreproduzirpor“mímica”afusãodasconsciências,dos“ladosdireitos". E o faz com com uma efici eficiênciasurpreendent ênciasurpreendente. e. E a“ superfici superficial aliidade" cientí científica, fica, nessac ir ir cunstância,torna-seumvício.
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Oanimismognóstico A Gnos Gnose e toma a contrapeloocien contrapelo ocientitismoma smomatterialis lista. Todos o s sere seressão ssão cons ciente cientes, s, signi signifificant cantes es - ou, mais maisex exat atam amen entte, cheiosd osde esent sentido informando informando ei e informando-se.Nãosomenteoseu“corpo”(oseu avessovisível)nãopassadeumaspec avessovisível)nãopassadeumaspec tosuperficialparaum uvoyeurexterioraeles,comotambém,naverdade, uvoyeurexterioraeles,comotambém,naverdade,elesnãotôm elesnãotôm corpo, corpo, nãosãocorpo. São Sã oexclusi exclusivamentean vamenteanver verso. so.S Se eele elest stôm ôm um “ avesso", avesso",umco umcor r po,este po,este sóexisteem sóexisteemfun funçã ção odoout dooutro. ro. Elessevêemu Elessevêemun nsao aosoutr soutros ose e , aover ao ver-se -se,tr ,tran ans s formam-semutuamenteemcoisasvistas. O animi animismo smo unive un iversa rsallé éverd verdadei adeiro, ro, nosent nosentid idom oma aisfor isforte tedap dapa a lav la v ra.O ra .Oqueexi queexis s te, é tão-s tão-somen omente te espíritos es píritos indivi individual dualiza izados, dos, alma almas s ou consciê consciênci ncias, as, que não anima imam nenhumcorpo,nãoestãoalojadasemcorpos.Aexistênciacorporalnadamaisôsenão umailusão,umsubprodutodoconhecimentoperceptivo. O aspectopueril aspectopuerildo do animismoé acidental acidental..El Elese esede deve veao ao fatode fatod e que, que,n no o univer univer so, so, há muitas muitasaglomer aglomerações ações que não deve devem m ser tom tomadas por seres se res.. É pueril atri atribu buir ir uma alma, alma, uma consciência ao Missi Mississi ssipi pi trans ransbo bord rdan antte, ao deserto des erto do Ari Arizona zona,, ao Atlântico,àsavalanchas,àsnuvensouaosfuracões. Mas nãohá nãohánad nada ade de pueril puerile em considerar considerarcom comoal oalm ma consciente cons ciente umanimal umanimal,,u um vegetal, vegetal, umaespéci umaespécie e viva, viva , o conjunt conjunto odas dasespécies,aÁr espécies,aÁrvor voredaV edaVidaeo idaeos svínc vínculosin ulosin format formativ ivos os que faze fazem m a unidad unidade e desses desses seres, seres, gran grande des so ou pequeno pequenos. s. Com a única condi condição ção de que não não se trate trate de uma simpl simples es file fileir ira ad de vínc víncul ulos, os, todos cons consci cien ente tes, s, masproduzindoemseuconjuntoefeitoscegosemlugardeumcomportamentounitário. Umafi Uma filad lade e pedestres oudeautomóve oudeautomóveisobe isobedecea decealei leisprati spraticamen camentefísicas,em tefísicas,em boracadapedestreoucadamotoristaestejaconscientedaquelequeoprecede. Existe “fila", “fila", equilíbr equilíbrio ioem em cade cadeia ia,,aces acessor soriame iamente nte,,me mesm smonos onosseres seres vivos vivosin ind di vidualizados vidualizadose e conscientes, "animados” "animados” no sentido sentidoori originaldapalavra. ginaldapalavra. Acirculaçãodo sangu sangue, e, acir a circul culação ação linfática, hormo hormona nalle eaté até mesmo nervosa, nervosa,ope operam, ram, assim,porencade cadeame ament nto, o, com fenôme fenômenos nos de amplif amplific icaçã ação o intempesti intempestiva, va, com com avalan avalanchas chas ou blo lo queio queios, s, assimco assim como mo ocorre oco rre com o movime moviment nto o deumamult de umamultidã idão o indiscipl indisciplinada. inada. Mesm Mesmo o fora fora do domín domínioda ioda fisiologia, fisiologia,a afor formulaç mulação ãodoorganismo doorganismo se faz fazparc parcialment ialmente ese segu gund ndo o esse esse sistemad sistema de fileiras, fileiras, segmentoap segmento após ós segmento. segmento. Normalmente, Normalmente, esses essesequil equilibri ibriosou osou desequilíb desequilíbrios rios secundá secundáririos os são control controlados ados poruminformador porum informadoruni unitár tário, io, porum por umacons acons ciênci ciência adom domin inan ante te..Mas Mas elesdão eles dãoà àpal palavra avra“ “ corpo”um corpo” umsegun segundo dose sent ntid ido, o,m maisconc aisconcre reto to doqueodesimples“reverso"deum"anverso".Ocorpodeumservivonãoéapenas aaparênciadesuaalmaparaquemoobservadefora;seucomportamentovisívelnão éape é apenaso naso seuato seuatoment mental alespecializado; especializado; étambémtud étambémtu d o oque nelesã nelesãosubindivi osubindividuali- duali- dades ades gover governad nadas as-- porém mal malgove govern rnada adas s-- , “funcionamentos contr control olados ados”” - por porém malcontrolados.
Ohomeminvisível Nesse fam famoso roma romanc nce ede de ficção ficção científica, científica, um d o s prim primei eiro rosd sdo ogênero,We gênero,Welllls s imag imagin ina aque quea a inge ingest stão ão de substânciasapropriadas substânciasa propriadas p o d e riafazerco ria fazercom mqu quetodososte tod ososte cid cidos orgâ orgâni nicos cos se tomas omasse sem m transp transpar arent entes, es, assim assim com co m o a cómea tran transp spar aren ente te do 37
olho lho, com comum um índicede índice de retração retraçã o suficienteme suficiente mente nte frac fracopa opara ra nãop ãoproduzir roduzirne nenh nhum um efeito "de vidraça” vidraça”.. Seu Seu homemin homeminvisív visível el parecenão terma termaiscorp iscorpoa oaos osolhos olhosdoobse doobservad rvador. or. Elenãotemmaisaquelapeleimpermeávelrefletindoasondasluminosasqueodese nhariam. Ele 6 uma espócie de almapur alma pura, a, que fala,se la,seexpr expressae essae age segui seguindo ndo in in tenções sensatas sen satas.. (Akás, uma alma"pura alma "pura”” no sen sentido tido nfio nfio-mo -mora rallda da palavr palavra apois, pois, na verda rdade,op ,o protag rotagonis onista tade de WeNséum eNséumladrão,te ladrão,tentad ntadopel opelaap aaparen arentef tefacilidadedocrime acilidadedocrime paraumhomeminvisível,assimcomooGygósdalenda). Hâ uma uma dif dificul culdade dade,, ent entretan etantto: tudo o que é mecanismo subo suborrdnad dnado, o, ou subs subst& t&n nciamal ciamalintegradaoufora integradaouforade deintegração, integração,oumine ouminera raliz lizada ada,dificilmentepoderia, ,dificilmentepoderia, fo rada da ficção ficção científica,tom científica,tomar-se ar-setr transpar ansparente ente-- me mesmoseoor seoorgan ganis ismoencont moencontrass rasseo eo meiodegarantiraalimentaçãodacômeatransparente.Ohomeminvisívelfumadiante deumatestemunha,eafumaçadesenhasuagargantaeseusbrônquios.Logo,édifícil imaginarcomosuavesículabiliar,suabexigaeseusintestinospoderiamnãoserdese nhadostambémdamesmaforma. Oexemplo,portanto,parecepoucoadequadoparanosconvencerdequeocor po ó simple simplesment smente eo o avesso da alma. alma. “O homem homem invis invisív ível el-- 6 palpáv palpável; el; e,aN ,aNás, ele eleé é semprevisívelnaverdade,atravésdesuassubindividualidadesmalgovernadas. Poroutrolado,éfácilimaginarumaficçãomaiscomplexaondeohomemtornár selaimpalpávele selaimpalpáveletãotransparen tãotransparente teàs às interações interações quan quanto too oô ôamatér amatériac iacomu omumparaos mparaos neut neutririn nos. os.Sees Seesse se homemcontinuasse homemcontinuasseaf afalaralar- ouante ouantes, s,a“ a“signifi significar” car”suasidéias suasidéias por me» de processos processos menos menos grosseir grosseiros osdo doqu quefazer efazervi vibr brar ar suala sualari ring nge e ele real realme ment nte e se pare parece ceri ria a com com uma uma alma alma desencamada desencamada,,com com um “ espíri espírito" to" - parao paraos sespír espírititas, as,se se não para para os espiritualistas. Os queestão que estãopróximos próximosa aeleouviri eleouviriam, am, dentrodesi, dentrode si,como como acontececomosalucinados,uma“voz",queatribuiriamaumsersobrenatural. Oscampos Oscam posdafísica dafísica,,que que s&o s&osupor suportes tesde dein inte teraç ração ãoou oude deunidadedom unidadedomin inia ial,l,que que podem també também m viajar numa numaforma“ forma“ materiar’ equeposs e quepossue uem mum umam amassa, assa,nã nãodei odeixam xam deser,afinal,“espíritos”dessetipo.
Atransposiçãognósticadaciência ANovaGnose,pelomenosnasuaprimeirafase,naqualseinspiraemEdding- ton e emMil em Milne, ne,aceit aceitando andose seu upanp panpsiqu siquismom ismomas as reje rejeititan ando dose seu uideal idealismo ismo(“Omundo (“Omundo comosubprodutodonossomododeconstruí-lo”),nãopassadeumatransposição,de umafielinversãodaciência.Ocosmoéumatapeçariaqueaciênciadescrevefielmen te, só que que pelo pelo avesso.A avesso. A Gnose Gnoseconsiste consisteem em conhecer conhecer,, alémou alémou através doseleme doselemen n tosobserváv tos observáveis eisda da ciência,aprópriavida ciência,aprópriavidadossere dosseres.E s.Eónissoqu ónissoqueelaéconhec eelaéconhecimen imento to propr propria iamen mente te dito (Gnôsis) Gnôsis) en e não uma simpl simples es prepa prepara ração ção de conhec conhecime iment nto, o, como a ciência. Somo Somos sto todos dos “ gnósticos”,enão gnósticos”, enãoap apena enas s “ cientistas cientistas conhecedores",quand conhecedores",quando oten ten tamos tamos conhecer conhecer bem bem uma pessoa pessoa ínti íntima, ma, procurando procurando iralémdo conheci conhecimento mento de sua sua pressãoart pressão arter erial ial,,de de sua taxad taxa de colesterol colesterol ou, ou,até atémes mesmo, mo, dos resultadosd resultadosdeseus eseustes tes tes psicológicos. psicológicos. Seria Seriariridícu dículo, lo, numa numaat atititud ude ede depur purismo ismo positivista, positivista,nos nos conten contentar tarmos mos com a simpl simples es leit leitur ura ade de inst instru rument mentos osmédi médicos cos ou com um mero apan apanha hado do de suas suas reações. 38
Somos todos gnósticos, de um modomais geral,quando entendemos umamen sagem, quando lemos uma carta muitas vezes em suas entrelinhas, quando apreen demosum significadoatravésdossinais,umaexpressãoatravés dasformasestéticas. Não se trata, nesses casos, de um conhecimento que vai além do conhecimento, o qualexigiriadonstranscendentesoumilagrosos;trata-sedoconhecimentopropriamen tedito,queassimpodeserchamadoquandonãoselimitaaumaobservaçãoanteriore, sobretudo, quando não considera os seres observados como espécies de puros ele mentosobserváveis,ouseja,corpossemalmaexistindoapenasnacondiçãodecorpo. Oconhecimentognóstico não émaisimaginativodo que oconhecimentocientífi co pois, na verdade, é imaginação, também- mas enganosa acreditarque uma flor seja apenas a “sua descrição botânica", uma “descrição” quetivesse existênciapró pria, independente e fora do âmbito das páginas deum livro de botânica. Imaginar ou pensara alma dos seres, recolocar em pensamentoas figurasdatapeçarianoladodi reito, é simplesmenteestenderatodoouniversooquefazemosespontaneamentecom aspessoasmaisíntimas. Essatransposiçãonãoselimitaàprimeirafasedeumasimptesinversãoaniman te,de uma tradução literaldeestofo material emestofoespiritual{mind stuff).Porém,a reconhecida necessidade dessa transposição,a necessidadedesecorrigira aparên cia pelatransparência, serve defio condutor pararesolverenigmasinsolúveis parao positivismocientífico. Os Gnósticos não sedetêmnessas generalidades. Eleselaboraramatesemais tecnicamente, partindodas concepçõesdeMilne eutilizandooprocesso dosantipara doxos.Tentaremosaseguir,daralgumaidéiadessaspesquisas.
Capítulo II COSMOLOGIA DOS UAQUI” E COSMOLOGIA DOS “EUS” "Pensa-senouniverso*' Pode-sedizer.“Pensa-senouniverso”,naformaimpessoal,exatamentenosen tidoemqueoboletimmeteorológicodiz:“Chovenacostaatlántica”.Pensar“/f thinks"é tomadono maisampiosentidode“ aquiloqueéexperimentadodomodomaisImediato”. Poderíamos dizer, também:MHásofrimentoouprazernouniverso"(“/( enjoys"),ou“es pera”,ou“tristeza". EsteantiparadoxoÔ,evidentemente,maisfirmedoqueurnarocha:“Pensa-seno universo"já que “Eu penso”.N&o poderíamos dizer: “Não existe pensamento em ne nhum lugar do universo”, semestarmos em plena contradição comocontra-exemplo queo“Eu"constitui. Alémdisso,nãoseesclarecese“sepensa"muito,pouco,ouapenasaquienão em outro lugar. Dizer que “chovena costaatlântica" não significaquechoveem todo lugar,ou quetoda ameteorologiaé chuva. Tampoucose esclarece se “está-se pen sando" (“It is thinkingn) hápoucotempo,hámuitotempooudesdesempre.E,menos aínda, se tratadequerersaber,porenquanto, de queformao “Pensa-se"começaou terminadentroda“meteorologia"universal. Exercfcio /.- Duranteurnanoteestrelada,passaranoitesobreaareiadeumapraia,depoisde terlidoalgumacoisasobreasnebulosasespirais,osquasares,asestólasdendutrons,etc.Tentarre presentar-seosbraçosdaGaláxla,oseucentro(emdireçãoaSagitário).Procurarlocalizar,sesetem bonsolhos,anebulosadeAndrómeda,nossavizinha- oqueajudaaveraViaLácteacomoquedefo ra. Sobretudo, tentaraomesmotempoverasi próprionumdosbraçoedaGaláxia, e Imaginar-seem movimento, arrastadopelo Sol aduzentos e cinqüenta quilómetros porsegundo emtornodocentro galáctico. Pensar,enquantoIsso,nasteoriasfbicassobreaformaçãodasestelas,sobreo“caldopri mitivo*'davidasobre aTenra,sobreaformaçãodosácidosaminadosedasmolóculasauto-reproduto- ras. Emseguida, procurar novamentetomarconsdôndado“ Pensa-senouniverso” ,constituídope lasnossasprópriascogitações. Oantiparadoxonosrevelaráentãosuapedradetoque.Háalgoprova velmente errado nasteorias puramenteffelcasacercado Universo.Recomeçaraoperação(apósum longo momentoemquesepensaráemqualqueroutracoisa).MasnãofazerIsso umaterceiravezna mesmanoite.
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Exercício II. - ImaginaroUniversoainda próximodaexplosãoinicial,ouantesdalormaçáodas estrelas, dosplanetasedasmoléculascomplexas.Ou,então,imaginaraTerraaindaemseuestadods aglomeradodepoeirascósmicasecontinuandoareceberchuvasdemeteoritos(odetalhenãoimporta), e,então,dizerparasimesmo:"HaverápensamentonoUniverso”. Exercício III. - ImaginaraTetratendovoltado aserinóspitae estéril,ou atémesmooUniverso em“ degradação"(porconversãodamatériaemirradiação,equalizaçâotérmica, esgotamentodocom bustívelnuclear,etc.),e,então,dizerasimesmo:“ HouvepensamentonoUniverso."
“ Eu”sóposso"pensar”“ aqui-e-agora” Todo pensamento- ou,em outros termos,todapresençadesi parasimesmaé um“aqui-e-agora".“ Meupensamento"e“aqui-e-agora" sãoconvertíveis.Nãose po de pensar alhures, ou outrora, ou amanhã. Pensa-se agora-e-aqui. Se existe pensa mento,existe um “aqui e agora”. E, de modo recíproco, se há um “aqui e agora”,há pensamento. Um sinalde queessadistinçãoentreambosé artificialéqueelarealmen te nunca pode ser feita nem “realizada”. Quando estou distraído, costumo dizer: “Eu nãoestavaaqui.”Seestousonhando,eumevejo“ontem”,“nomeuquartodecriança’’. Se acordode um desmaio, o “eu” não sabe onde está,nem sabe seosofrimentopre senteéseu. Maso “sofrimento presente" nãodesaparececomo,naficçãocientífica,o condutordeumamáquinadeexplorarotempoqueabordaotempoonde“ele"nãoestá. Nem todo “pensamentodiz sempre 'eu' Dizer“eu" supõedifíceis construções psicológicas, sociais, lingüísticas. O“eu” provém, acessoriamente, da autopresença, do âmbito presente aqui-e-agora. A “presença"fazo"eu”presente. Nãoéo“eu” que faza“presença".
Osseres(distintosdemimeforado“ aqui” ) Semmim,elessãopensamentoemseuaqui-e-agora. Eles“dizem”, assimcomoeu: “Eu-aqui-e-agora". Todo ser“emoutrolugar”(paramim, queoestouobservandoemseu avesso,is toé,recebendoasondasluminosasqueelereflete),éum“aqui”emseuladodireito. Aidéiadeumobjetopuro, de uma coisa,deumcorpo,écontraditória.Tudooque subsiste,tudooque“dá um jeitodesubsistir"semqueeu tenhademe preocuparcom isso,deve preocupar-se porsimesmo. E issoôevidentecomrelaçãoaosoutrosseres humanos. Os índios daAmérica semantiverammuitobemdurante muitotempo,sem oseuropeus - evice-versa.E também as espéciesanimaise vegetais daAmérica. E também,porumasimplesrazãodecontinuidade, osvírus,osmicróbios, as moléculas, os aminados ou não,os átomos easpartículas. Hácertosseresdequedevocuidar, como, por exemplo,meus filhos quando são pequenos, sendoqueeles, poroutro lado, crescem por si mesmos.Meus objetoseaparelhos,também sou forçado aconservá- los em bomestadoou consertá-los.Istonãoquerdizerque,umavezabandonadosasi mesmos,eles deixariam de existirou de agir comoum“eu-aqui-e-agora”.Sóque aca bariamcometendototíceâ(petomenosaosmeusolhos).Ascriançaspoderiamferir-se. Osaparelhosseguiriamas tendênciasdos conjuntosdemoléculasqueeles são, epa- rariamdefuncionarouexplodiriam.Ofogodalareira,nãosendocontrolado,provocaria umincêndio. 41
Contudo, asmoléculas e os átomos sabem o quefazem melhor do que os físi cos. Pois, o que os físicos ainda não sabem sobre os átomos, quem mais poderia sabô-k)anãoserosprópriosátomos? O “corpo",o“ Ele",o“Aquilo",o “Vocô”, o “ Movimento” , o“Alhures”, sãoexem plosdelusõeçrecíprocasentreconsciôncias-eu,emrepouso,“aqui”.Osseresnunca passamdeumaconsciència-euemrepousoaqui,maseiessósevêemunsaosoutros como um corpo, lá,umeleou umvocêemmovimento. Acreditovê-lo comocorpo, si tuado ali,eemmovimento,mas ele éEu,consciência, aqui,imóvel,eelemevêcomo corpo, aqui(que, paraele,está “alhures"), em movimento,quandonaverdade seiper feitamente que eu estou aqui, consciente,imóvel. As relações entreos pronomes, as sim como entre o Aqui e o Alhures, como entre os elementos móveis (e,podemos acrescentar,comoentreas direções) sópodemserreais paraumaterceiraconsciên cia envolvente, para um domínio supra-ordenado, que pode continuar “dizendo" eu- aqui-e-agora,imóvel,poisosmovimentosquevêdosseresenvoltosnãoaimpedemde estaraqui-imóvel,assimcomoavisãodosveículosemmovimentoqueeuobservoda minhajanelanãomeimpededeestaraquieimóvel.
Há uma relatividade consciência-corpo, como há uma relatividade imobilidademovimento.Segundo Minkowski-Einstein,todomovimento retilfneouniforme,comvelo cidade inferior a C(velocidade daluz),ésempresuscetíveldesertrazidodevoltapara uma posição de repouso (para oeixotdo tempo).Os demaissistemaséque semo vem, nãoo meu. Umaformadeilustraçãodisso, não muitoexata,masmaisou menos correta em suasgrandes linhas, parase terumavisão dasituação, é desenhar sobre umaborrachaoesquemadoespaço-tempo.Alinha/representaumavelocidadenulae um deslocamento unicamente no tempo. As velocidades nãonulas inferiores aCsão 42
representadaspelas linhas t', traçadasentrete C. Mas, toda vezqueum observa dor l, que se considera imóvel,atribui umavelocidadeaumobservador II, algumdemô nio escondido estica a borrachanum sentidoperpendicularaC,efaz coincidiro obser vador II com o eixo t, demodo que, agora, éoobservador I quepareceteruma veloci dadenãonula. Dessa forma também,sãosempre osoutrosquesão“corpos"; eu não soucor po. E oquechamo de meu corpotambém éapenasuma construçãosecundária,feita comaajudadosespelhos,etambémdosmeusdomíniossubordinadosetomadosob jetos. Eu sou “presença aqui-e-agora", domínio de consciência, e virtualmente "Eu". Nãoobstante, cada ser tem tantos motivosquantoeu tenhopara dizer“Eu”, reduzin do-me à condição de corpoobservado. Oesquema “eu-aqui” e “objeto-alhures”,que podemos moldar sobre ode Minkowski,constituina verdadeasuaorigem, è porser mos um “eu",uma presença-eu, quecadaum de nóspode considerar-secomoestan doem repouso aqui, sendoosoutros, paranós,corpoemmovimento. Aoesticarabor racha, o demônioescondido colocaooutrono lugarde “eu",eeu me torno,ou antes, “eu"setomaoutroparaooutroquediz “eu". Cada“eu"pode afirmar quesempreexistiu (sobrea linha t), quese encontrano lugarmesmo da criação douniverso,doqual eleéocentroeterno,queele é Espírito,e que eleéo Espírito. Eéporissoqueelepode,comofísico,declararseusistemadere ferência imóvel no espaço. É verdade queelenãopodepararotempo. Maso casoé queele faz otempo, enquantoparticipadeconsciências subordinadasou supra-orde- nadas,enãopodedeixardecontinuarafazê-loenquantoviver. O mundo espaço-temporal é feitodo interior, a exemplodaconcha do caracol que,noentanto,vivenela.Éconstituídoportodosos“eu”queneleatuam. OsGnósticos, como Milne, oonsideramateoriadarelatividadecomoumateoriadasinterações através de um intercâmbiodesinais entre“sujeitos”,ecomobasedeumacosmotogiamonadotógicacosmologíaque,porsuavez,servedebaseàtfsica. O Universo espacialôum sistemadeaparênciasobservadasdeumainfinidadedepontosde vista(porobservadores-sujeitos).Milnedissocia(atécertoponto)oaquieoagora,aoconsiderarque, paracadaobservador,apassagemdo tempo:agora...agora...agora...éumdadoimediato,enquanto queoespaçométricoéumaconsfruçãointelectualquepossibilitaumacomunicaçãosistematizadaentre observadores. Apassagem do tempo, segundoMilne,trazconsigoparacada“ eu” umaordem irreversível,e atémesmoumamétrica(oumelhor,umacontagem)elementar.Agora...agora...agora...ordena-seem Depois... depois...depois...AopaasoqueAqui... aqui...aqui...nãomepossibilitasaberseestoume deslocandoecomquevelocidadeeumedesloconoespaço.Poisnãosedeveoonfundir"omovimento" dafísicacomalocomoçãovoluntária,naqualtenhoaimpressão(sensbel)demudarde"aqui” .Parece, portanto, maisindicadocomeçarpelamediçãodotempo. Um únioo"eu”játemoseuprópriorelógio, art)Variamentegraduado,masordenadonatoralmente.Dois,edepoisvários“eus” podem, então,defi nirumtempo,uniforme, cadaum lendosobreorelógiodooutro,porsinaisluminosos. Ocomprimento sópodeserdefinidode acordocom adistância(medidapelaidae voltadosinal).Milneretomaageo metria hiperbólicadeLorentz,1massemorealismoeinsteinianodoespaço.2Eleconsideraterfeitouma
1. Lorentz (Hendrik, Antoon) (1653-1926), físiconeerlandés, principalautordateoriaeletrônicada matéria,ecujostrabalhospermitiramaEinsteinelaborarsuateoriadarelatividade. {Nota de 1977.) 2.JacquesMERLEAU-PONTY: Cosmología du XXe. siècie,p.442.Estaobratratadotemacosmo logíamelhordoquetudooquetolpublicadonaAmérica.
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análisemelhordapassayemdostemposparticularesparaotempoeoespaçopúblicos. OsGnósticosconservaramoprincípiodatesedeMilne,quesustenta,emoposiçãoaosconcei tos“ positivistas” , queo“observador” ó,de talo, essencialmenteum “ego",equeapalavra“observa dor” nSoéumasimplesabreviaturaparadesignarumrelógio registradorque,mecanicamente, perfu rasseumcartãoquandodapassagemdeumaondaluminosaoudeumapartícula. Osffeicosalertamoscomentaristascontraaidéiadequeo“ observador” ,munidoderéguas,de relógiosequenumeraosacontecimentosdequefalaateoriaffeica,sejaumsujeitoantropomdrflco.Pa raofísico,eleéum aparelhopassivoqueregistraelementosobserváveis,comumaréguaeumrelògto "perfurador" e que nãotemamínimanecessidadede serconsciente. Nãoéumsujeitoque pudesse modificarseuobjeto. Aadvertênciadosfísicos 6 totalmentejustificada. Massóumequívocogrosseironos levariaa concluirque: “ Logo, nãohánadaaserprocuradoalémdaffeicadoselementosobserváveisedos“ ob- servadores-aparelhos”,enãocabeconsideraromundodos“ Eus”oudos“ aqui-e-agora"comodomí niosconscientes.” Ofatodequeadescriçãocientíficadoavessodatapeçariasejacoerente,edeque náosedevefazerintervirintempestivamenteinteraçõesdoladodireitosobreoladoavesso, nãoémoti voparedesistirdeolharatapeçariapeloseuladodireito.
Oromanceporcartas Umromancista,usandoumatécnicaforademoda,descrevesuaspersonagens unicamente através das cartas que, supostamente, elas trocam entre si - como por exemploemLa Nouvette Hétoíse.Eleofazseguindosuainspiração,criandosuasper sonagens assim como suas relaçõese interações. Um biógrafo ou um historiador que quisesse descrever a vida de personagens reais pode escrever-lhes pedindo infor mações, ou poderádescobrir cartasqueenviaram no passado. Evidentemente,o uni verso assemelha-se a um universode vidasconjugadas,e não ao universofabricado porumautorderomanceporcartasoureconstituídoporumbiógrafo.
Ostrêstiposdesubsistêncianotempo Se considerarmos os seresreais - emoposiçãoaosaglomerados,aoscompos tos artificiaisou aossimples"efeitos”tais como umeclipse,um horizonteou umarco- íris, que dependem não só da posição do observador, masdo fatode existir obser vação há três tiposde conservação ao longo do tempo: a) ade um fragmento de matéria (uma pedra,um átomodemocrítico); b) ade um sistemaenergético,oudede terminada ação (umaonda no mar, uma ondaenergética); c) e, finalmente, adeuma forma significante, ou dotada de sentido e subsistindo pelo seu sentido (uma palavra numidioma,umórgão numorganismo,opróprioorganismo). A física passou do tipo "manutenção da matéria" para o tipo “manutenção da energia” (ou da ação). Ou melhor,fundiu numa só essasduas "manutenções”: onda luminosae fóton, partículaeondícula, matéria e energiaondulatóría,ouenergiaondu- latóriaqueématéria.Aterceiraespéciede"manutenção"temporalêamaismisteriosa, masé, também, certamenteamaisfundamental. Umservivonãoénem fragmentode matérianemenergia ondulatóría; nãose assemelhanemaum aparelhomaterialnem a umaonda ou a uma chama. Enquanto vive, ele mudadematériae mudadeformade acordo com suas ações “significantes” (ou dotadas de sentido).Esteja elenoestado de germe, de embriãoou de adulto,ele impõeformassignificantesàssuasmatériasou 44
às suas energias. Seus órgãos e seus comportamentos assemelham-se às palavras deum idiomaou a frases típicas,dentrodeumaestruturaou deumaevoluçãolingüísti ca.Elestêmumaetimologiaeumavidasemântica. Seria evidentemente um absurdo considerar que uma palavra, em determinado idioma, só semantém graças à subsistênciamaterialdatintanumdicionário, ou graças àsubsistênciaenergéticadasondasaéreasatravésdasquaisapalavraépronunciada pelosmilhõesde seres falantes. Obviamente,asubsistência da palavraéde outraor dem. Ela dependedo sentidoque encerraem si edavontadedos seresfalantesdese fazerem entender.A palavra nãosedesgastacomoumapedraou comoumaondaque dissipa sua energia. E,quando acontecedeelase consumir"energeticamente” na or dem fonética, comoapalavra“é”- em francêsantigo, derivadadolatim apis (abelha) elaélogosubstituídaporumapalavramaisconsistente(abelha, moscadomel,etc.). O mesmoocorre comos órgãos. Pois, a vida das palavrasou,demodo geral, a consistência estrutural e históricade uma linguagem, é apenas umamanifestaçãoda consistênciasemântica(oudotadadesentido)dos organismosedosórgãos. Meusolhoseminhasmãostêmumaconsistênciasemânticabemdistintadasua oonsistênciamaterial. Meus olhoseminhasmãos são“sólidos", materialeenergética mente falando, comomáquinasfotográficasoucomo pinçasde manipulação iguaisàs queexistemhoje.Maselessãotambémsólidoseconsistentescomoórgãossignifican tes,primeiro para mim, depoispara oanatomistaqueestudaasuaestrutura,amesma para todos os homens da mesmaraça, e aindaparao evolucionista que estudasua origem simiesca.Após aminhamorte, meusolhoseminhasmãos converter-se-ãoem pó, masa mãoeoolhohumanossobreviverãonaminhalinhagem eemtodasas linha genshumanas. As mãos e os olhos materiais não passaram, então, de “manifestações" indivi duaisda mãoe doolhohumanos,em sua subsistênciaudoterceirogênero". As conti nuidades semânticas nfio são interpretâveis através das continuidades materiais ou energéticas.Ocontrárioéqueéverdadeiro. Só há “existência"quando da conjunçãode um elemento “semântico" com um campo formadopeloaqui-e-agora,quandodaação de umsignificado quese materiali za,formandoassimaunidadedeumdomínioespaço-temporal.
Arodadecrianças Criançasse dãoamão para formaruma"serpente”. Arodaserpentinaondula, rompe-se, voltaaformar-se. Elanãoéum ser,masascriançassãoseres,esua“ idéia dejogo" seexpande sobrearodaque formam. Elassequeixamde tersemachucado ao puxar com muita força. Se arodadecriançasnãoéumser,o Mississipi ouoRio Amazonas o são menos ainda. Por isso, eles são cegos. Maseles subsistem pela subsistência, fundamentalmente semântica, das moléculas de água que “se dão amão". Apaisagem Em si-mesma,uma paisageméainda menosums erdoque a rodadecrianças. Masosvegetais,osolo,aáguaformam,porinterações,unidadesfugidias.Talvezseja 45
um erro ver ali a presença de deuses, como acontece ñas mitologías ou nos contos fantásticos, comoaconteciacomos gregos, que ali viam ninfas,ou como heróideAl-
gernon Blackwood, que vía nos salgueiros agitados pelo vento deuses irritados e ameaçadores. Maso tatoéque asárvorese as ervassão seresqueexistem, agem, “pensam”asuaformaesecomportamconformeasidéiasquelhesvêem.
ALuaeoscosmonautas A Lua é um “astromorto", dizia-seantigamente. “Claro que nfioé”- éoquese diz hoje poisexistealiumaatividadesísmica, magnética, etc.Masépreciso, sobre tudo, que subsistam ativamente todas as suas moléculas constituintes. Senão, como poderia ela“ aguardar"oscosmonautas?- como oscosmonautaspoderiamencontrá- la, pousarnela,estudô-la?Nãoseestudaoinexistente,oinconsistente,oinsubsisten te. Deum certomodo,aLuaé,comoaTerra,parecidacomumarodadecrianças:não êumservivo,massuasmoléculas“sedãoamão".
“ Osmarcianosnosaguardam” Quemarcianos?As célulasbacterianas? Maisprovavelmente, sãoasmoléculas quecompõemoplanetaquenosaguardam,quesabemperfeitamenteoquefazemco mo moléculas. Se elas não estãonos aguardando, subsistindo,por quetentarir para Marte?
AGnoseeadoutrinabudistado“Eu” Estou mergulhadona contemplaçãodeumapaisagemmontanhosa,aqui,da mi nha janela.Aquelaárvore,queeu malvejo na periferiado meu campovisual, nem por isso estámenos “aqui” do que essa outraárvoreque vejodistintamente“no centro”. Meu aqui visual é uma superfície, nãoum ponto. Minhas outras sensações também estão aqui,no meu domínio.Aporção deespaçoqueocupo (ouque faço) é um domi nio-sujeto,umasuperflcie-sujeito. É claro que eu não tenho, ainda, de olhar meucampovisualcomoseelefosse umasuperficie-objeto. Eleépresençaabsoluta aqui-e-agora,edasua presença éque emergeomeu “Eu”. “Eu estouolhando"é uma expressãocômoda, masqueinvertea ordem real.A ordem real seria, antes: campo visual -> existência subjetiva -* cons ciênciainformada -» eu (excetose “eu”estiverdistraído) -*• impressão (falsa)de que “euestoudirigindoomeuolharpara...”. Mecanicamente,“eu” (oumelhor,omeuorganismo)efetuocertasmanobraspara olhar. “ Eu” abro os meus olhos,“eu" dirijo adequadamenteos meus globosoculares, como quando quero fotografar algo. Masessa mecânicanãoexplicaavisão. Elanão explicaque um domíniode espaço presentesejaumaformaabsoluta,cujos“detalhes” não são peças colocadas umaao lado daoutra,ligadaspor suasextremidades, mas constituem todos eles um ‘'aqui", emboradistintos. Não é o “eu"que liga essesdeta lhes (esta e aquela árvore); éaunidade imediata das árvoresque vejoe que existem aquicomoflorestaquevejo,equepossibilita,depois,aodomíniodizer"eu". 46
Podemos notar asemelhança entre essa tese e adoutrina budista sobrea nãosubstancialidadedo “ Eu". Odomínio visual (e a consciência em geral) é meu domínio, porqueestáaqui.Mas elenãoestáaqui, porque entãoseriavisto pormim,pois euseria umaquiabstratoe“apriori". Nesse sentido, “ Eu” não existe. É a presença absoluta de umdomínio aquie agoraqueme fazexistir. Semdomínio presente, “eu”nada sou. Eu“ souexistido”pela presençaabsolutadocampodeaqui-e-agora. Uma imagem mental, uma forma absoluta, no campo visual,não é uma imagem comoobjeto físico. Umaespiralou uma suástica,pensada, não podeservistanumes pelhoou portransparência, como seestivesse desenhada sobre uma folhadelgada. Se costumoimaginarumaespiralgirandonum sentido,ou costumosimplesmenteolharpa ra o meu relógio,não serátãofácil imaginaruma espiralgirando em sentidocontrário, ou ler as horasno mostradordo meurelógio visto num espelho. Nocasode umaima gem mental, o sentido nuncaéindiferente, nuncaé indiferenteaofatode ela ser vista ounãonumespelho. Em oposição,pode-sedizerentãoque adescobertadanão-conservaçáodaparidade,danão- indiferençaaosentidoeà “ operação espelho” paradeterminadaspartículas,óaprimeirabrechafeita pelafísica experimentalnomundosupostamente objetivoda cidncia;óa primeiracomprovaçãodireta dequepelomenosalgumaspartículasnãosãoobjetosquepodemsercontornadosouolhadoscomose estivessemdesenhadossobre umpapeltransparente, massão,antes,semelhantesaumasuperflcie- sujeito,aumcampovisual subjetivoquenãopodesercontornadoparaservisto“dooutrolado”.
Os Gnósticos consideram que o “lado direito", subjetivo, do cérebro, isto é, o campo de consciência, longede ser uma anomalia no universo,é reveladordomodo fundamental das realidades. A consciência não pode ser compostaou explicada,em seucaráterdepresençaabsoluta.
Materialismo,estruturalIsmo,matilciallsmo Imaginemos as peças de um quebra-cabeça espalhadas fora de ordem sobre umamesa, emum quarto inabitado.Essas peças irão permanecerforadeordeminde finidamente. Umacriançachegaebrinca,tentandocolocá-lasemordem. Nestecaso,o “espírito" (a consciência visual,maisoconhecimentodojogo)ordenaa“matéria"com asuaintervenção.Ofatoé,aomesmotempo,esclarecedoreenganador.Arealidade, fundamentalmente, assemelha-se antes aoespírito (consciência visual mais as leis e normas de formação) do que à matéria,primeirodesordenada,depois“arrumada”.As peçasmateriais de um quebra-cabeçanãoseordenam por si mesmas (poiselas são “macroscópicas"e, além disso,artificiais).Mas a“matéria"(namicroffsica)ordena-se porsi-mesma, dentro de umespaçoe deum tempo“matriciais”, istoé,análogos aum esquemadetestepsicológico,porcompleiçãooudisposiçãoconformeumsentido.Os átomosconstituem-se comoumquebra-cabeçaquese constróiasimesmo apartirdas partículas, e conforme leis de compatibilidadeou de exclusão (princípiode Pauli).3 As a Pauli(WoHgang)(1900-1958),físicosuíçodeorigemaustríaca,criador,juntocomHelsenberg,da teoriaquârrtlcadoecampos;aetesedeveofamosoprincípio de exclusãoquelevaseunome,edoqual derivamaInterpretaçãodasvalôndaseaimpenetrabilidadedamatéria (Nota de 1977.)
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mofeeulas se constituem a partirdosátomos, asmoléculas cristalizam, etc., comose tossem aomesmotempoaspeçasdoquebra-cabeçaeasimagensdessaspeçasden trodo cam povisualdacriançaqueasordena. A ordenação doquebra-cabeça pelacriança,essafaçanhacerebral,é,portanto, apesar de sua complexidade,o “modeto"deordenação dosseres dentrodoespaçotempo. É a inérciatoladaspeças doquebra-cabeçaqueengana,equerepresentaum caso exc epcio nal,requerendoachegadaexcepcionaldeumaconsciênciadistinta- a criança— para ser recolocado dentrodanorma detodarealidade.Normalmente,toda matéria já éespírito,nosentidoem que “vê”asiprópriaeelamesma seorganizaem seucampodevisão. A Gnose, que é antimaterialista, não éexatamenteestruturalista. Ela é, antes, “m atriciaista". Umamatrizéumquadrode dadosquepodem sercompletadosou dis postos conforme um sentido. Asestruturas (no sentidodos lingüistas) são um caso particular de matriz, com regrasde formação em parte naturais,emparteconvencio nais.Isla estrutura deumafrase,nãohâprincípiosdeexclusãooudediferenciaçãoque sejamtãorigorosos,tão“não-convencionais"quantonaorganizaçãodeumconjuntode átomosoudeumcampoeletromagnético.
TodososseressãoIgualmenteinteligentes O carátermatricialdetodocampode consciência- superfícieabsolutaque“vê” a si própria- implicaquetodaconsciênciaé“inteligente”, ócapaz de completar inteli gentemente seus própriosdados. Desdequetodo seré“ consciência”,logo,todoseré inteligente, etodososseres- jáqueessapropriedadeéessencial- sãoigualmentein teligentes. Eles sódiferem entresipeloconteúdo de aplicação, pelosdadosdoproble ma de formação que eles têm de resolver. Conteúdo e dadosligados àsua própria história,ao“jáformado”,ao“jáencarnado”.Umserprimitivoétãointeligentequantoum ser civilizado; um seratrasado,subdesenvolvido(culturaloubiologicamente)6tãointe ligente quanto um bem-dotado. Somenteoconteúdodeaplicaçãoda mente équedife re. Um cão étãointeligentequantoumhomem;uminfusórioétãointeligentequantoum cão; uma moléculaétãointeligentequanto um infusório.O problemaéque,namaioria dasvezes,entendemos (wetoolishiymean) por “inteligente”, nãoum serque sabede suasprópriascoisas,masumsersupostamentecapazdeentenderasnossas,ecujos assuntosnósmesmosseriamoscapazesdeentender. Sabemos queé ilusório tentarutilizar, para avaliarainteligênciadecrianças de origenseculturasdiferentes,testeselaboradosporpsicólogosquesótinhamemvista testargruposemsuaprópriacultura.Acultura,oshábitosadquiridosinterferemnofator propriamente intelectual (muito difícil de se isolar e dosar). Testes imaginados por psicólogos ingleses desfavorecemoslatinos ou os eslavos,evice-versa.Ospsicólo gos estãotentandoaperfeiçoar testes chamados de culturefree. Masissoéquaseim possível. Mais impossível ainda seria imaginartestesneutros entreas culturasbiológicas produzidas pelahistóriaeos hábitosdasespécies. Umcãoficariaembaraçadodiante de umtestecompapelelápis; um infusório,maisainda.Mas,tambémohomemficaria embaraçado setivessedeseguircominteligênciaumapistaolfativa,ouimprovisar-se um estômago, ou pés, àmaneirade um infusório. Seriaumtantodifícil conceberuma 48
comissão mistade peritos humanos, caninoseunicelulares,paraaperfeiçoartestesde inteligênciaculture freeouspecies íree. Atese segundoa qual“todosos seres são igualmente inteligentes” nos permite compreenderquea vida - e, até mesmo, a “vida” dasindividualidades cham adas físi cas - manifestaem todosos níveis a mesmafantásticaengenhosidade.E xisteames maengenhosidadenaorganizaçãodoformigueiro,dacolméia,namútuaordenaçãodas células que formam ocoraçãoou oolho, nadisposição das sinalizações nervosasou hormonais entre célulasouentreindivíduos,novôodomorcego ouno nado dogolfinho, nastécnicas químicasou mecânicasda vidamais elementar,enastécnicas humanas correspondentes. A unidade de engenhosidade de todos esses desempenhos hete rogêneos, manifesta a unidade da consciência-inteligência. Arquimedes era tão inteli gentequantoGauss,dentrodocontextodaciênciadoseutempo.Domesmomodo,um infusórioétãointeligentequantoum cãodecaça- dentrodoseu contexto próprio.
Asinteligênciasextra-humanasnãosãovagospsiquismos É de se perguntarqualseriaoprocessotipográficoouorufardetamborescapaz de salientar aqui, suficientemente,que a tesegnóstica sobreauniversalidadeda inte ligênciadevesertomadaao pó da letra,equeelaseopõeaoconceitoradicalmentefal so, tão difundido entre os panpsiquistas, ospseudo-espiritualistaseos pseudognósti- cos,deum psiquismo inferior, vago,debilitado, envanescente,àmedidaquenosafas tamos da inteligência humana e chegamos às formas inferiores de vida. Não há ne nhummotivo paraconsiderara consciênciainteligentedeum infusório,deum vegetal, de uma macromoléculamaisvaga,mais confusadoque a inteligênciade umespecia lista envolvido numproblema técnico, ou deum escritor àsvoltascomas dificuldades daobraqueestáescrevendo. Antes, seriao contrário. Oinfusórioou amoléculatrabalhacombasenosdados de suasprópriasestruturas molecularesou atômicas,combasenas partes presentes de seu campo de autovisão. "Ele" (esse campo de autovisãoem suaunidade) movi menta esses dadosdemodointeligente,deacordocomcertasregrasounecessidades “bem definidas”. Ao passo que, muitas vezes, o técnico humano nãotemdiantedele um problemabem colocado,eacabaatrapalhando-seesendoinduzido emerrodevido a esquemas cerebrais falhos.Aconsciênciahumanacerebral sobrepõe-seàconsciên cia orgânica primária. Ela muitas vezes trabalha com “modelos” imperfeitos.Embora sejaprecisa em sua qualidadede consciência, elatrabalha na imprecisão.Ao passo queaconsciência orgânicaou química,limitadaemseucampodeaplicação,nãoéen ganada por modelos interpostos, por “bases” mal-construídas, e consegue resolver seusproblemascomumaprecisãoinacessívelaotécnicohumano. O biólogoprocura colocar-seem pensamentono lugardeumaproteínaglobular, de uma molécula de D.N.A., da“dupla hélice”.4 O físico tentaformar uma imagem e 4. SegundoofamosomodelodeCrickeWatson,amoléculade DNAécompostadeduascadeias denucleótktesenrolando-seemhéliceemvoltadeumeixocomumeparalelasumaàoutra.(Lembra mosqueONA¿aabreviaturadeácidodesoximbonucleico,constituintedonúcleocelularedoscromos somos.) CL A Dupla Hélice deJamesD.Watson(prflmloNobeldeMedicina),traduzidodoInglôs,Laffont, 1968, coleção“Sciencenouveile”.
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calcular os n íve is energéticos de um átomo. Mas, evidentemente, não consegueisso demodo perfeito. Amolécula sabeclaramenteo que faz, muitomaisdoque elepode imaginar. Dizia-se, brincando, queo físico era uma invenção do átomoque queriasaber, através dofís ic o , qualera asuaestrutura.Estaéumaidéiaengraçada, eobviamente erradaOátomo sabeoquefaz,eosabiaantesemuitomelhordoqueNielsBohr,6as simcomoocoraçãodeHarvey6sabiaoquefaziamuitomelhordoqueopróprioHar- veypoderiaimaginaremsuaconsciênciacerebralE,tantoCrickcomoWatsonnãote riam existido s e a "dupla hélice"não tivesse presidido areproduçãode seus genes muitoantesqueeleschegassemaestabeleceroseuesquema. 0vagoê “ vertical”,aprecisãoé“ horizontal".Alémdisso,aconsciênciacerebral sobreposta àconsciência orgânica, como umcomputadornumaempresa, étributária deinternações nfio sóimperfeitascomodeturpadase,muitasvezes,trapaceadas.Ela sofre impulsos disfarçados. Ao passoque o animal obedecea seusimpulsosinstinti vos, sem entender mas,também,semdeturparnada, eoorganismosemcérebroé o mais capacitado paratrataros problemassemsedistrair.Ocaráter“vago"(oumelhor, temático) de um a consciênciaaparece,demodomaisgeral,nassuasrelações oomos domíniosdeconsciência subjacentesou suprajacentes. Cadadomíniodeconsciência, dentrodo seu respectivo nível, é lúcido. A "missão recebida” poreleéque podeser, oreprecisa(quandooinstintotrazsuaprópriatécnica),oraapenastemática. Encontramosumexemplotípicodissonasexualidade.Osimpulsosdafibidosão "vagos" para a consciênciacerebral. Mas aconsciência orgânica, quepresideàfor mação dos gametas através de um rigoroso processo de fabricação, que instala,na embriogênese e , depois, na puberdade, a complicada aparelhagem dos órgãos,ôtão precisaedetalhadaquantoumaempresatécnicaondetudoécalculadocomlucidez.A consciência cerebral, quesofreos surdosimpulsosdaibido,volta aser, em seupró prio campo,em seu próprionível, lúcidaeprecisaparaexecutá-la. UmDonJuanarqui tetaplanoseartimanhas,oudesenvolveumaverdadeiraestratégia (comooprotagonis tadasLiaisonsdangereuses). Cadadomínio, em seurespectivonível, é capazdeatuardemodo preciso(tanto no nível inferior como no superior), é a passagem “vertical”de um nível para outro (neste caso,a dos genesparaaembriogênese, edaembriogêneseparaocomporta mento) queocorre através deum impulsoou missão.Essapassagemparece serum saltodifícil,uma semi-rupturade causalidade,compensadapor sinaisevocadores, es timuladores,porchamadasem direçãoaumpotencial, pordeterminaçõesorientadoras sem determinismo, porparticipaçõesou possessões mnêmicase porpressentimentos ouchamadas. Em cada nível, odomínio conscientetrabalha inteligentemente sobreos dados matriciais.Deum nívelpara outro, osimpulsossão,semdúvida,significativos,expres-
5. Bohr (Nleb, Henrlk, David), nasddoem 1885 na Dinamarca; prflmlo Nobel de físicanuclear tambémdedtoou-seâmecânicaondulatoriaequântica. (Nota de 1977.) 6.Harvey (William) (1578-1657), módico inglés, descobriua drculação sangüínea efeztambém pesquisasessenciaissobreageração:elefoioprimeiroaestabeleceroaxioma omne vivum ex ovo,eo demonstrouafravésdeexperiências. (Nota de 1977.}
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sivos e, se quisermos,até “falantes", mas,gramaticalmente,são vazios, comoessas frases cheias de pronomes e de palavras que podem servirpara qualquer situação: “Algumacoisaseráfeitapormim,logonessesentido...”. O vago "vertical",entre domínios deconsciência horizontalmente lúcidosé, para os Gnósticos, característicodetodoo universo.Ouniversoé como umprédiodemui tos andares, onde somente oslocatáriosdo mesmoandarchegam aseconhecerbem, sendo que mal se conhecem de um andar paraoutro. Coma diferençadeque,nouni verso, a situação se complica: há locatários gigantes quefuram os tetos,ocupamvá rios andares ao mesmotempo e, em conseqüência, conhecem mal a sipróprios e só se comunicam comos outros noníveldecadaandar. Umdiálogoentrenamoradostem pouca consciênciadas técnicasdos gametas machos efêmeas- e vice-versa. Etem pouca consciência, também,do que deseja a espécie no andar superior.Um homem adulto se comunicamuito mal com a espécie humana, com a Árvore da Vida,com a Consciência Cósmica,com Deus. Eletende aconsiderarilusóriososandaressuperio res,dos quais, noentanto,recebe missões - assimcomo recebe dos andaresinferio resimpulsos,queelesóconheceatravésdaspesquisascientíficas. Os Gnósticos vêemnissooequivalentedos“Abismos"dificilmentetransponíveis de que falava a antigaGnose.É o Deussupremo,a Consciênciacósmica sobretudo, queconhecemosmal - talvezporumaprecauçãodessamesmaConsciência,compla centeesem malícia,que, como autoridadediscreta,nãosemostra, paradeixar-nosal gumamargemdeautonomia,semperturbar-noscomseusproblemas. A inteligência humana,em termosdedesempenho, émuitoinferioràinteligência orgânicaprimária,principalmentequandoaplicadaàorganizaçãosocial,porqueémovi da pela paixão e, sobretudo,porque é mal-informada, iludidapormodelossimplistasa partirdosquaisraciocinacorretamente,sobredadosfalsos. Diantede um problema técnicolimitadoepreciso,ohomemtemumdesempenho quasetãobom quantooorganismo. Aconquistadoar,daLua,valequasetantoquanto a conquista do ar pelos répteis que se tomaram pássaros. Ostelescópios e radiotelescópios são quase tãoengenhososeeficientesquanto as antenasdos machosdas borboletas,capazes de detectarumafêmeaaquilômetrosdedistância,emboraas“an tenas”derádiosejambastantetoscassecomparadascomasantenasdasborboletas. As técnicaseletromagnéticasdereprodução, que transportamum concertonoespaço e no tempo, são quase tãosurpreendentes quantoastécnicas de reproduçãodosor ganismos- embora elas sejaminfinitamentemaisrudimentaresetotalmenteincapazes de“telegrafar"umservivo. Amelhormaneirade imaginara consciênciadosorganismosedasmoléculas é representar-se a consciência tensa, encantadae paranóica de um inventor quetudo esquece:mulher, filho s, situação social, para pensartão-somentena suainvenção,e que continua pensando exclusivamente nela, sempre, assim como Keplercom suas trajetóriasplanetárias. Podeacontecerque, umavezsaído de seuencantamento,oin ventor, depois de seu êxito,pense em suaobracomoque do ladodefora,semmuito compreendercomochegou atélá.Énessahora,esomenteentão,quesuaconsciência setoma vaga, com o ao sairdeum sonho. Mas,elaera precisa enquantoeletrabalha va,epodeacontecerde eleestragarsuaobraaovoltarapensarnelasuperficialmente. 51
Asmáquinas“ inteligentes” Ao identificaraconsciência e a inteligência, osGnósticosnãoestarãoseexpondo à objeção de que há máquinas “inteligentes” (machines thatthink) capazes de reações adaptadasàs informações recebidas, ecapazes tambémderesolver proble mas“matriciais"(comoosleamingmatrices7 de Steinbuch ePeske, quepodem servir de máquinas paraexplorarospossíveis, deduziras analogiaseinventar)?Noentanto, essas máquinas,não sendo“seres” auto-subsistentes,não são conscientes- exceto para os autoresdeficção científica. Umamáquina"inteligente”é sempremontadapor uma consciência, que primeiro improvisa ligações pertinentes, fazendo-se, numa se gundafase,substituirpor"percepções”e“ligações”mecânicas.Trata-sesempredeli gações substituídas,defeed-back mecânicos quetomamolugardefeed-backsemân ticosanteriores.
Todososseressãotão“inteligentes”quantoDeus Não sótodo serétãointeligentequantooutro,comotambémtodoserôtãointeli gente, dentro de seupróprio contexto, quanto Deus (ou quanto à suprema Chave* consciente). Os seres sãotão inteligentes quando a Suprema Inteligência”comodi ziamos deístasdo século XVIII. Nisso, nãohánadadeparticularmenteparadoxal.To dos os seres sãodotados de eternidade edeubiqüidade em seurespectivodomínio. Todos dispõem de um modo inteligente seu próprio domínio, restrito, assim como oDominus supremodispõe odele,que sustém ouniverso,ou sesobrepõe a ele. As “maravilhasdacriação",comosecostumadizer,sãoindistintamenteatribuídasàsvá riascriaturasqueasrealizam,ouaocriador,quereúneatodassobasuaautoridade. Esta comunidadede inteligência, e somente ela, nos permite “entenderque se possaentender"equeouniversosejainteligível- emboranãoosejanasuatotalidade, vistoque o nosso domínio é dirigido por domínios mais abrangentes, eque intervém, então,o vago“vertical".SomostãointeligentesquantoDeusnomesmosentidoemque umadenossascélulasétãointeligentequantonós. Aiyuns Gnósticosmostram-sereservadosemrelaçãoaesseúltimoponto- semquesejadada, noentanto, yranúeImportânciaaessasrestrições, quelembramasobjeçôesqueDunsSootfaziaaos teólogosda suaépoca.Nãosomossuficientementeinteligentesparadefinirainteligênciaemgeral.Po dehaver, aomesmotempo,semelhançaessencialediferençaentreainteligônciadosserese aInte ligênciacósmica,comoháentreoseusereodela Aquiestáum exemplodeumadiferençapossível. Deus - ouaUnidadecósmica- secomunica “verticalmente"comosoutrosníveisdeconscidnciaapenasdomodovagoetemáticoquejádefinimos, 7. Essesapresentam-secomoquadroscomentradaduplaefuncionamentomecánico, ecujascolu nascorrespondemaoscritériosdeestruturadosobjetos,easlinhas,aossignificadosconexos. Pode-secriarligaçõesentrecolunaselinhas“condicionando-se”amáquina.Aoapresentarmosàmá quinadeterminadaestrutura, elapode deduzirseu significado,einversamente. Pode-setambémfazer amáquinaprocurarcompatibilidadesouincompatibilidadesentreestruturasesignificados,eencontrar analogias inesperadas. Cf. Raymond Ruyer: La Cibemétique, Flammarion, 1967, p.226. (Nota de 1977.) *Emrei. aosinaigráfico({)usadoparaabrangervárioselementosdeuma mesmacategoría. (N. T.)
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por impulsosoupormissões? Ou ele participa também maisdiretamented e todasasconsciênc iasdo- miniais e ae todas as memórias? Se aceitamos a primeiratese, temos, entáo, de aceitartambém a existênciade um Deus semelhanteaoda A ntjg a Gnose: quasetuaoda realidadeescapaaoSeucon trole, apesarc e Ele servir de suportepara es sa mesma realidadeedefin ir suasgrandes linhas, suas constantes fundamentais, seu s ‘‘tijolos’’ e no rm as deconstrução(velocidadedaluz,constantecósmica, quantum deação, númerode átomosdo unive rso), ínter-relacionadosdeum modointeligível,segundo Eddington, nasantecipações que esse autor tez sobre umaciência ainda futura. Dessesmateriaise normasde construção, Eleaguardaosresulta dos - eufóricocomasaúdedo universo, assimcomonos sentimos eufóricos como bom funcionamento de nossos órgãosou, ao contrário, sombno como um reumático,ou “ inflamadopela ira’’comoo De us da Bíbliaquandoestalamsuas juntas.
A segundatese é mais verossímil.Aunidadecósmica participamais diretamente emtodosos níveis, participaali-mesmo ondeela nãointervém, e “vè"sem atuar. Essa segunda tese, entretanto, enfrenta a grave objeçãoda “duplicaçãoinútil” :8 Paraque o detalhe infinito nos vários modos de ser? Paraqueas histórias laboriosas dos seres, se a Unidade cósmicaas vê e prevê em seus mínimosdetalhes? Para que essas ex periências “pedagógicas" dos seres, se o seu resultado é acompanhado de antemão demodoapredeterminarretroativamentesuascondições,alémdeseudesenvolvimen to temporal- comosealgumaConsciência,atrásdanossa, visseoque vemose visse deantemãooquemaistardeiremos ver? Masos Gnósticos se recusam,de modo geral,a ficarpresos nestevelhoatoleiro. Eles apenas observam que oscientistas mais positivistas são, freqüentemente,os que adotam mais ingenuamenteasegunda tese, colocando, por exemplo, nas proprie dades dos “tijolos” douniversotudoo queo universosetomae todos os detalhes da construção- oque,no fundo, equivalea atribuirtudoaonívelfundamental.
8.ExpusemosissoemDieu des rehgions, Dieu de Ia Science, Flammarion,Paris, 1970.
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CapítuloIII
AVISÀODESIMESMONÀOREQUEROLHOS
O que éfascinante na Gnose éque ela nunca seperdegratuitamentenomito. Podeparecer,àsvezes,queeiaseperdenele,masnaverdadeelasempresemantém próximaquerdaciência,querdaexperiênciamais imediata. Tudo éconsciência''pa recealgomfbco. “Tudoéforma”jánãoo parecetanto.Contudo,essasduas tesesse eqüivalem. Toda formaquenãoforum compostoartificialsubsisteemseu “anverso”, semternecessidade,paraisso,deserolhada.Todaformaéserparaelamesma;ela “vê”asiprópriaeé,paraelamesma,forma-imagem.Quandosurgeumsegundoser, comolhoseumcérebro,olhandooprimeiro,umaduplicaçãodaformavistaéproduzida nocérebrodaquelequeestâolhando(porinformaçãoconforme).EstaformaII,quese assemelhaàformaI,étambémparasimesmaasuaprópriaimagem,quenãonecessi taserolhadamaisumavez. Felizmente, pois,qualoolhomágicopoderiaolharavisão jáobtida? A forma II, cerebral, é apenas superficialmente isomorfaem relação à forma I olhada. Elafaz partedoorganismodo“olhador",epodemanifestar-sediantedeumob servadorcientificodo“olhador”. Essaárea ocupa alguns centímetros cúbicosdeespaço. Paraum neurologista, esses poucos centímetros cúbicossãodetalháveiscomouma máquinanervosaonde eledistingue os inúmerosdetalhes, “aqui” eainda“ali”, unidos por vínculosmateriais que lheparecemiguais aos queumengenheiro-fisioiogistatentariaimitarparaconstruir umamáquinadelerasformas. Mas,sabemosqueoestudodas agnosiasvisuais1 temreveladoqueoproblema foi mal colocado, e queo córtex visual,observadodeforacomo sefosseum objeto, nãopermiteentenderaunidadedavisão.Oqueofisiologistaqueobservameucórtex vê(duranteuma operaçãocomtrepanação), nãoéodomínio-visãoquevemaser"eu” - assim como aáiVore vista pormim não é aárvore vegetal,que sabe existirpor si mesmadentrodeumaunidade,eque minhaobservaçãodivideem ramos,folhas,etc., da mesmaformacomoaobservaçãodofisiologistadividemeu córtexvisual em célu las,fibras,etc. 1. Incapacidade de reconhecer umobjeto,dedizer,“ôtal outalcoisa” , emboraavisãosensorial sejanormal(Nota de 1977.)
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Exercitar-seno sentidode apagar a impressão falsade que “eu"estou diantedo meucampovisual.Émeucorpo(commeusglobosoculares)queestádiantedosobje tos reaisobservados.Maso campo visual,umavezconseguido, nãoestá maisdiante de mim. O que me confunde,é que ele contém a visão vaga eperiférica das minhas sobrancelhas, do meu nariz,dosmeus braços e do meu peito. Dafa ilusão deque as imagens visuaisdosobjetosestãodiantedomeu corpo com o os própriosobjetos vis tos, equeumolhoespiritual ou mágicoaindadeveolharoque meusolhos orgânicos e meu centro visualproduziram,a saber, meu própriocampovisualcomo um estado de meucampoorgânicoemseu"anverso”.
Atesegnósticaeapseudo“ percepçãoextra-sensorial” Nãohánadadeparadoxal,nestesentido,emdizerqueoolhonãoéessencialna visão. Os Gnósticos não se referem, aqui, à “percepção extra-sensorial” de Rhine,2 queelesconsideram, se nãoum mistificador,pelomenos um mau experimentador;re ferem-se aofatode que aquiloque “vê"éumasuperfície corticaldeterminada, um teci doorgânico que nãoémais“mágico"doquequalqueroutrotecidoorgânico,equepo deriatersido derivado de algumoutroesboçoembrionário.Se pudéssemos conduzir, comordem, osfótonsou osestímulos correspondentesdiretamente sobreocórtexvi sual, provavelmentehaveriavisão. Aquilodequeavisão não pode prescindiréde uma áreaorgânicaunitáriaquecorrespondaaumaqui-e-agoradominial.Oolhoéummero transportador fiel. Pode-se conceber, e tentou-se realizar, paraos cegos, aparelhos capazes de suscitardiretamente a visão cortical.Um homem assimequipado estaria, de início, menos tentado em "ver" seu campo visual diante dele. Logo em seguida, aliás, ele adotaria a atitude, falsa porém prática, que consiste emfazer como se as imagens visuais estivessem diante dele, como se ele tivesse de olhar ainda - como queforadele- oefeitoda visfio. Aatitude dos GnósticosemrelaçãoaRhineémuitocaracterística(oonvémlembraraquiqueho menscomo A. Koestlerou Ecclesque, semseremGnósticos,estãomuitopróximosdeles,continuama levar Rhine asério). Apercepçãoextra-sensonalde Rhineémágica. Oindivíduodevepoderverex tra-sensorialmentequecarta,tísicamenteInobservável,serápuxadadeummaçocolocadosobreame saecontendovinteecincocartasdecincofiguras(pelomenoscoméxitosestatisticamentesuperioresà purasorte. Paraos Gnósticos, o campovisual não éexplicávelmecânicaoufisiológicamente(nosentido comumdapalavra). Aáreavisual6umdomínioabsolutodeespaço-tempo.Masnãosedeveconfundir "nào-mecântco"e “mágico".Pois, nesse caso,todaa físicacontemporâneaseriamágica.Umcampo eletromagnéticoounucleartampoucodexplicávelatravésdeummodelomecânico. Paraque hajavisão, épreasoque asinformaçõessejamlevadasfisicamente, deummodoou deoutro, atáocórtex.Masoprópriocórtexnãoéumaparelhomecánico, umajuntamentoparecidocom
2. Sãoconhecidasasfamosasobservaçõesestatísticasfeitas porRhinee9eusalunos,comcaitas contendocincofigurasqueaspessoasdevemidentificarsemvô-las.SegundoRhine,osIndivíduostes tados estariam cometendo menos erros estatisticamente do queum individuo“tentandoadivinharao acaso”.(Nota de 1977.)
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o dos elementos deumcomputador.Pode-se suporque, paraum microffeico, estese apresentecomo um enorme sistemacom ligaçõesdeslocalizadas,comoum tecidocujamalha fosseurnamoléculaou umajuntamentodemoléculasoomligaçõesdeslocalizadas. Ocórtex,assímcomotodooorganismo, na
medidaem quenáorecorre asistemasdeligaçõesauxiliares,é, naescalamacroscópica, umsistema “mterotfeico” onde aszonasdeintefaçftonãosâoindtvidualmenleatribuíveis.Asredesdelibrasnervo sas,comsuasligaçõesemcadela,constituemapenasumsistemaauxiliar,urnatécnicasobressalente.
CapítuloIV
ASCHAVES*DOMINIAISEOSHÓLONS
O Deus dos Antigos Gnósticos é incompreensível, inexprimível,transcendente. Mas a superestrutura imaterial do cosmo, intermediária entreo Deus bom eo nosso mundo ruim, é feitapelosEons - ou domínios sobre-humanosdeconsciências,consi deradoscomograndessubunidades, notempomaisdo que noespaço- queemanam deDeuseque,nosmitosgnósticos,aparecemcomfreqüênciaaospares. O problema religioso consiste em conceberalguma conexãoentreoTranscen denteeomundosensível.OsAntigosGnósticosresolviamoproblemafazendodescer um desses Eons, muitasvezesomaisinferiordeles,paraomundosensívelondeeleé rompidoeaprisionado. Há, no homem, uma centelhade supra-sensível.Com isso,o homem possuium representanteno mundotranscendente. SualibertaçãoocorrequandoumdosEonsse fazreconhecerneleeporele,libertandoassimacentelhadivina. AdiferençaentreaAntigaeaNovaGnoseéqueestaúltimadesmitificaosEons, eem seu lugar nosfaladoshótons,1grandessubunidades,grandesdomíniostotalizan tescujacaracterísticajáéencontradanaprópriaunidadeorgânicae,especialmente,no campovisualconsciente. Quando “eu" vejoseresemmovimento,euosvejoemmovimentorecíproco.Ve jo a deformaçãode seu intervalo - enquanto que cadaumdeles,segundooprincípio relativista,podeacharqueestáemrepouso,dentrodeum“aqui"absoluto,sendooou tro,paraele,umcorpoemmovimento."Eu"sou,portanto,oseu“hólon"supra-ordena- do.Eu me encontro em repouso, apesar dosmovimentosedeformaçõesdosobjetos vistosemmeucampovisual.Eusoua“subjetividade",a“presençaabsoluta”desuas relações.
*Verp.53.(N.T.) 1. Um hólonóumatotalidadequeparticipa,comoparte,deumatotalidademaisamplasegundouma áivore hierarquizada. Um hólon é aomesmotempointegradorcomototalidade,emeio-integradocomo partede umhólonmaisamplo;eleó“ bitronte",comoodeusromanoJano. Cf.AithurKoestter,Le Cha val dans la Locomotivo,cap.III,Calmann-Lâvy,1968. (Notado 1977.)
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É evidente, que um campo visual consciente não é pontual.Meu própnocorpo, vistocomoobjetoporumobservadorexterior,nãopodeserlocalizadopormeiodepon tos por esse observador,jáqueomeu corpoéo conjunto coordenado dos órgãos no espaço e no tempo. Os Gnósticosrejeitam,assim,comojáo fizeraWhitehead2 - um dos “antepassados”da NovaGnose a tese ingônua da localizaçã o simples". Os “aqui-e-agora” pontuais sãoapenasumaidealizaçãomatemática.Com eles,nãoseria possívelentenderouniverso.Umserouumacontecimentopontualnáopoderiaserpor simesmo. Nenhum“eu” poderiasurgirdele.Elenãoseriacapazdenenhuma interação vistoque, em toda interação, 6 precisoquea e b, interatuantes, existam porummo mentonumaunidadedominial. Sabemos que a microffsicajáverificouessa impossibilidade.Há limites para a análiseespaciale temporal Náo se podelocalizarumelétron sobre suaórbitaenem dentrodo nêutron, antes queonôutronse decomponhaem próton,elétrone neutrino. Não se conseguedeinear,numamoléculade água, aszonasdeinteraçãoentreoáto modeoxigênioeosátomosdehidrogênio.Oprincípiodeexclusãoregulaconjuntamen teospossíveisestadosconjugadosdaspartículasconstituintesdeumsistema,mesmo quandoessas seapresentam,diantedenós,àdistânciaumadaoutra. As dificuldades atuais da flsica dos núcleos atômicos são absolutamente da mesmaordemqueasdificuldadesdaneurologiadiantedoscamposcorticais.Ospara doxossurgemassimque insistimosemlocalizaralémde um determinadonívelosele mentosconstituintes.Oantiparadoxodanáo-localizaçãosimplesnãoresolvetodosos problemas como pormágica,mas nospermiteabordá-lossemingenuidade. Ofato de que as partículas só podemsercriadas eaniquiladas porpares implica, obviamente, queseus “aqui” estãoconjugados.Todaleideconservaçãoéumaleidesimetriaentre oespaçoeo tempo,eumasimetriaédominialpordefinição. Abiologiamolecularencontraem todaparteofatoestranhodo“reconhecimento” àdistânciade umamoléculaporoutra: na transmissãonervosa, no nível celularemo lecular; natransmissão hormonal,onde acélulareconheceamensagem hormonalpor ela conter moléculas (A.M.P. cíclicas, as “segundasmensageiras”de E. W. Sutherland) capazes de reconhecer à distância a forma da molécula hormonal; na trans missãogenética,onde moléculas do citoplasmasão capazesde reconhecer aforma- mensagemdasmoléculasdeR.NA,eestas,porsuavez,aformadasmoléculasde D.N.A.Essefatoestranho éummistérioinsolúvelsenosobstinamosnumaconcepção “pontualísticaN.Aocontrário, parecer-nos-âperfeitamentenaturalse admitirmosa idéia deuma“auto-supervisãodominial”,semolhosupervisor.Asduasmoléculas(vizinhas no espaço)“vêem”(semolhos)suasprópriasformasconjugadas; uma sabedaoutra, não atravésde um mensageiron + 1,intermediárioentre n mensageiros,masporque elassãoumaformadominialúnica. A impossibilidadede definirno espaço uma direção absoluta, masapenas uma diferençadedireção, a impossibilidade de definir a velocidade de um móvel, masso mente avelocidade relativa de doismóveis ou umaaceleração,éigualmenteum fato dominial.Eodomíniopodesergrandecomoouniverso.Aoladodasinteraçõesnuclea-
2. Whitehead (Alfred,North) (1861-1947),ffsico,matemáticoefilósofobritánico, umdosfundadores dalógicamatemática. {Nota de 1977.)
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res (fortes ou fracas)de muito curto alcance,as interaçõeseletromagnéticas, as inte raçõesde gravitação,as “interações cósmicas"que fazem a inérciaou a curvaturado espaço e a expansãonotempodas nebulosasespirais, essas interações têmouniver so total por domínio.A minhainércia (quemedesequilibrae m e faz cair dentrode um ônibusque freiade repente) vincula-me às massasou àexistênciadoconjuntodouni verso, assimcomoestouligadoaocampogravitacionaldaT erra. Quandoo ônibusIreia bruscamente, minha quedamostraque deixeide ser solidário com o veículo e com a própriaTerra,tornando-me solidáriocom todoouniverso.Os cosmonautas mesmoes tando longe de qualquer massade atração,nem por issodeixariam de ser.pressiona dos contra osseus assentosassim que fizessemfuncionara espaçonave, poisseen contramnouniverso. Segundoo princípiodeMach, atorçacenWfugaódominial. Podemos entáoadm itirqueóouni versoquegiraemtomodobaldeondeaágua é pressionadacontraassuas paredes e que,seouniver so que giranôo expenmenta, porsuavez, nenhuma torça centrífuga,é porquenáoestá envolvidopor umsupra-universoquegiraemtomodele. Afilosofia de Mach,seuultrapositivismo inspiradoemBerkeley, ô dosmais contestáveis,esa bemosqueEinstein,queotinhacomoseumestre,acabouseafastandodesuasteorias.PoisMachpre tendeexplicarainércia, náopelateoriado"canpo"e,sim,pelainftudnciacausaldoscorpos(nosenti dorestito),istoé,dasmassasmateriaisafastadas,enquantoque,para Einstein, ocampoéoessencial, sendoamatéria—nosentidotradicionaldapalavra—apenasumazonadocampo. Mach desconfiavada idéiade campo comosendo umaconstruçãodosfísicos semperceber queeraocampo(ou oaqui domlnlalnfio-pontual)overdadeiro“ material dofelco” ,enáoos“ aqui” quasepontuaisdamatéria,tomadanosentido Contudo,oprincípiodeMach,ocarátercósmicoda inércia, independenteda filosofiadeMach, aplicadoaocampoe náoámatéria(e,atémesmo,aocampovaziode matéria nosentidoclássico)per manecesólido. Dequalquermodo,inérciaeyravitaçãogstfrpestreitamenteaparentadas.Sciamacon seguiureconciliarMacheEinsteinpois,paraele,agravitaçáonãopassadeumcasodeinteraçãoestá ticadasinteraçõesdeinércia.3 Explicando issodemodo grosseiro- porém náoinexato- os camposdegravrtaçáo,oscampos eletromagnéticos podemserconsiderados como “corposobserváveis” ,nosentidoamplo,tantoquanto oscorposmateriaissobreosquaisserefletealuz. Adiferençaéqueoscampossáoobserváveisdeformamaisindireta,através dosdesviosque produzemnasondasounoscorposde testes.Masessesdesviossáoumfenômenofísico- materialse quisermos- tantoquantooricocheteamentodostótonssobreamatérianosentidodãssico. Ascríticasque Lenlnfezáfilosofiade Mach não deixamdeserpertinentes,com aressalvade que elecomprovaorealismoachandoque estácomprovandoomaterialismo, econfundeomauidea lismode Berkeley-Mach com umpanpdquismoA maneiradeLeibnizque, longedeser incompatível como “materialismo"- ouantes,comorealismo- dafísica,representaaocontrárioacondiçãoparaa suaexistência:a“malária"sópodesubsistirporsimesma,independentementedequalquer“conhece dor",seelanáolor“coisa",puroobjeto,maspodepossuirasiprópria,emsuaformaecomportamento ativo. Oscampos, os sistemasdeligaçõesedeinteraçãodominiailigadosem chavessão serestão auténticosquantoossubdomínlosligadosemsubchaves. Elestômumamassa,viqjam.Sóque,neles, concebemosmaisfacilmentequeoaspecto"corpo"sejaapenasoavessodoumcampodeconsciência deligaçfio, Inobservávelcomo ligação unificadora etematizante, eobservávelsomente,comocorpo, atravésdeseusefeitosfísicos.
3.DennisW.Soiama: The Physical Foundations of General Relatívity, Nova York,1968.
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Terminaremos este capítulo com oqueosGnósticoschamam detestesde “sen sibilidadecosmológica”.
I. - Ofoguetemaisrápidodoque osgasesexpelidos Umfoguetelançadoaumavelocidade vpode,naturalmente,atingireultrapassar essa velocidade de lançamento. (Ele atinge uma velocidade igual à velocidade de massaatual lançamentoquandoarelaçãodemassa -----------r- r-rjfor igual a e, ou seja 2,718.) massainiciai Apartirdomomentoemqueavelocidadeultrapassav,umobservadorterrestrepoderia ve r a matéria expelida correndo atrás do foguete, auma velocidade inferior, mas no mesmosentido.Oquepareceestaremcontradiçãocomoprincípiodeigualdadeentre ação0reação. Oparadoxopodeserresolvidodeduasmaneiras: a) porumraciociniorelativistasimples:podemos,aqualquermomento,conside rar que ofoguete parteda velocidade 0; foguete ematériaexpelida afastam-seum do outrocom velocidadesdiferentes - algosemelhanteà balaeàespingardarecuandoeemsentidosopostos; b) mas, quando se tem“a sensibilidadecosmológica”, essa solução nospare cerá superficial. Deve-se levar em conta todaa matériaque jáfoiexpelida (o foguete podejá estarfuncionando hámuitotempo),enão apenasachama expelida quecorre atrásdo foguete. O centro degravidade doconjuntodo sistema"foguete + matériajá expelida” nãomuda. Existeunidade cosmológica não apenas dentrodoespaço,mas tambémnoespaço-tempo.Omovimentoatualdofoguetedependedaspartículasexpe lidas,que podem estaradistânciasconsideráveisepodemtersidoexpelidasnumpas sado muito distante, mas cujo movimento continua conjugando-se com omovimento atualdofoguete. É possível,assim, entender,comesseexemplosimples,apassagem quasequeobrigatóriadofísicoao cosmológico“totalitário"ou"unitário” .
II. - A naveespacialguiadapela “consciência"cósmica4 Essa“consciência” ématerializada porumsegundosatélite, queflutuadentrodo primeiroe não sofrenenhumaaceleraçãoemrelaçãoànaveespacialenquantoestase deslocalivremente. Quando um movimentorelativoentreanaveeocorpoflutuantein ternose produz, oerrode rumoédevidoàpróprianaveespacial(porexemplo,quando sua velocidadediminui porcausada poeirainterestelarou de uma atmosferararefeita residual).A“consciência”normaaciona,então,pequenosfoguetescompensadores.O exercício-testeconsisteemmeditarsobrea“ciência”surpreendentedosatéliteinterno, quenãotocanempercebeanaveespacialmasque,noentanto,segueperfeitamenteo
4. ExemplodeMartin Schwarzschlld, citado por E. F. Taylore J. A. Wheelerem:Space-Time Physics, SáoFrancisco,1966.
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percurso desta quando não há nenhuma freada ou perturbação acidental, e o corrige quando há perturbação. O que, ou quem estápilotando essa “consciência” (e a nave quando não há freada)? E que tipo de conexão existe entre elas, se a “consciência" não precisaintervir? As leis de Newton? Oprincípio deMach?A naturezalocaldoes paço?Deonde amassarecebeas ordensqueregem seudeslocamento?
III. - O casal sobrevivente
Depois de umacatástrofeuniversal, de toda a espécie humana apenassobrevi veram um homemna América e umamulhernaEuropa.Seriapossívelpensarquetoda a realidade desses dois seres humanos está contida dentro dasua pele,que contém suas vísceras funcionando eseuDNA? Eles formam umaunidadebiológica apesarda distância, uma unidade enraizadano maisdistantepassadobiológico (e podem, teori camente, reconstituiraespécie humana),assimcomoofogueteeogásexpelidoformam uma unidadecosmológica. Eles manifestam arealidadede um “hólon"quefazpartede um “hólon”mais abrangente - aVida aqualporsuavezestáintegradaaum"hólon” cósmicoaindamaisabrangente.
Capítulo V A CONSCIÊNCIA CÓSMICA Existiram PadresdaIgrejaGnóstica,ou melhor,santos padroeirosbemanterio res aos fundadores recentes. Primeiro,houveLeibniz,que foiRosa-cruzalémdecierv tistae filósofo,etambémum políticointeligente,aomesmotempoconservadorsociale voltado para ofuturo. Noséculo XIX,SamuelButlerfoioquemaisse destacou e,por fim, no século XX, Whitehead, Eddington, MilneeJ.B.S. Haldane.1 SamuelButleréo maisveneradoentretodos.Todos"anunciam"aConsciênciacósmica. Na verdade, podemos encontrar na Gnose muitos rudimentos para uma nova teologia. Se umdomínio“aqui-e-agora"nãopuderserpontual,nadaimpedequeele possa sero contrário, istoé,universal,vastocomoouniverso.Acontecequeo“eu”,comojá vimos, nada tem de substancial, nem mesmo dereal. Elesimplesmentedesignaofa tode que tododomínio é, para si mesmo, espaço-tempo-sujeito, superffcle-sujeito.O domínio vasto como o universo, quesemanifesta pela inérciade todosos corposno universo, mas também, de forma mais geral, pelas interações subjacentes às inte raçõesdecurtoalcanceequeconstituemaunidadedessas,deveentfioaparecerdian tede si próprio,damesmaformaqueaparecediantedesipróprioomeucampo visual, limitado, para um observador,aos poucos centímetroscúbicosdomeucórtexoccipital, de onde pareceemergira minhaconsciência eoserquediz“eu".Emlugardospou coscentímetroscúbicos do meu cérebrooccipital,étodaahiperesferadomundo, cujo raio é calculado em milhõesdeanos-luz, queé o"aqui-e-agora", o “campo visual”da Consciênciacósmica. Mas, se oGnósticoprincipiante conseguiu fazero“exercíciobudista",2 ele não incorreránoerro grosseirodeJacob Bohmeque, pornãoterfeitooditoexercício,ima gina a Unitas como um Olho queolha, e que se vê,e cria a Visão.Paraesse velho Gnóstico,o Absolutodivinoquerseconhecer.Eleé,portanto,capaz deveredeolhar. Eleê, conseqüentemente, um EspelhodeumOlho,pois,dizBõhme,oquevêéumolhc^
1. Eddington (1882-1944),astrónomoeffsioobritânico,famoso por seustrabalhossobreatempe raturae aconstituiçãocentraldasestrelas;dedicou-setambémàcosmologíaeàsteoriassobre aex pansãodoUniverso.Haldane é oautordepesquisasfundamentaisembiologia.(Nota de 1977.) 2. CLsupra,p.55.
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e não se pode conceberuma Visão semestabelecer aexistênciadeumOlho.E, visto quenão há nadaforado Absoluto,éprecisoqueestesedesdobreemOlhoeEspelho, demodoque possaolhar a si mesmo: “ Eleé assimo seupróprioEspelho,noqualele se reflete e se olha, um Olho ouum Espelhocôncavo; um Olho queé visto e queao mesmotempovê”.3 Osfilósofos menos ingênuos dizemmais ou menos amesmacoi sa,emfrasesmaisabstratasemenosdivertidas.Seu"sujeito",comousemmaiúscula, continuasendooOlhodeJacobBõhme. A Unitascósmicaé,emcertosentido,umDeuspessoal.Emoutrosentido,entre tanto, ela nãoé um Deus pessoal. Elaé um Deus pessoal- quepoderiadizer“ Eu”senãoatravésdamesmailusão (projetadasobreo universo) queme fazacreditarque “eu"estou diantedo meu campovisual.A analogiaentreomeudomíniodeconsciência (comosuperfície-sujeito) eo domíniouniversalé válida. Masnáodevemos,apartirdaí, nosequivocarsobre omodo de serque éomeu domínio.Eu nãosou umserabstrato, umpuro indivíduoqueolha seu próprio campodeconsciência.Eu souapenasaunida de do meu campode consciência,osujeitode uma superfície-sujeito.Domesmomodo, Deus ou a Unitas não ô um Ser,um indivíduo, que olhariaouniversodefora.Eleéa Unidadedominial,aUnidade-EudessaSuperfície-sujeitototal. Tenho,quantoamim,algumajustificativapragmáticaparafalardemimcomouni dade biológica, esobretudocomounidadesocial.Mas nãoháevidentementenenhuma parafalardeDeus,oudaUnidadedocosmo,comodeum“Eu”quasebiológicoouso cial. A menosque não recuemosdiantedomito- comofazia,pordivertimento,J.B.S. Haldane, umadasmentesmais livres donosso tempo,quefazia do nossouniversoe do seu pseudo “Eu"omembro de uma sociedadede deusesmaisampla.Aliás,J.B.S. Haldane só falavaem Diretor—ou Diretora4 - da Via Láctea, paraevitar,diziaele,de falardeinfinidades. Samuel Butlertambém esboçou um mitodesse tipo.5 Naturalmente, ele nãose referia, em 1879, aoespaço-tempocósmico.Masconsideravao conjuntodetodosos seresvivos comoum tipode GrandeSerVivo,cujosorganismosdetodasasespécies formavam as células.Aele referia-secomoaÁrvoreda Vida. Umaárvoreécomposta de uma multidão de árvores subordinadas, sendo cada brotoumindivíduoquaseque distinto sobre um vastoesqueleto, mais “mineral"do queorgânico. A verdadeira co nexão entre eles não é visível; ela consiste na participação de cada broto, de um mesmoEspírito, istoé,deumamesmaVisãodascoisas edeummesmotipodecom portamento. Contantoqueessa Unidade se manifeste, apresençaou ausênciadeum esqueleto “mineral”, unificandoaspartes constituintes por laços visíveisemecânicos, não temmuitaimportância. E existemárvores-quimeras produzidas por enxerto,cujos ramoscarregamfrutosdiferentes.
3.Ct.A.Koyré:La Philosophia de Jacob Bõhme,p.331. 4.Pois,assimcomoosGnósticos,elenfioera“ violista". 5.Em:God lhe Known and God lhe Unknown.EstaobraestáesgotadanaInglaterra.OsGnósticos americanosestãocuidandodesuareedição.
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Imaginemosumaárvorecomsuasfibraslenhosasinvisíveis.Brotosefolhaspa recem subsistirnoarsemsuportes.Sóadisposiçãoarborescentedasfolhagensóque sugereaunidadedeumprincipiodeexistênciaedecrescimentodosramosinvisíveis. Imaginemos aindaque essaarborescôndaseja tantotemporalquantoespacial,eque brotosderamos“fósseis”estejamemseulugar,recobertoseprolongadospelosbrotos e ram os atuais.Teríamos alguma dúvidaemchamaressaÁrvoredeÁrvore,apesarde seuesqueletofibrososerinvisível? Essa Árvoreda Vidaéocorpo,acarne de Deusconhecido,doúnicoDeusque nos seja dadoconhecer,poisfazemosparte Dele.Elenos aparececomoCarne.Mas, em si, eleó Espírito,Consciência.Ele sevêe se sente como“nôs",brotosdaÁrvore, nosvemosenossentimos. Assim comoJ. B.S. Haldanedepoisdele, Butierconforma-secomaslimitações do seu Deus. ODeusdosteólogos, dizele, estáonipresentenoespaçoenotempo.É tido comoonipotenteeonisciente, eterno. ODeus cujaÁrvoredaVidaéocorpo apa rente só começou, parafalarapenas da Terra, há alguns bilhões de anos.Elenão é nem infinitamentepoderoso, nem infinitamente sábio, nem infinitamente bom ou justo. Ele se engana,é malsucedido emmuitosdeseus ramos,queacabammurchando.Ele se contradizmuitasvezes. Ele devoraasipróprio, e náoconsegue conciliartodas as suasforçasetodasassuasqualidades. Mas,comocontrapartidadessaslimitações,eletem‘‘credibilidade”e, atémesmo, apesar de seus defeitos, óamável eadmirável,quandoassumeaformadasasas da borboletaoudopássaro,daspétalasdasfloresoudorostodosseresqueamamose admiramos.
Há, evidentemente, algo de verdadeiro nesses mitos de um Deus limitado à Galáxia,ou deum Deus limitadoàÁrvoreda Vida - masnessateoriahátambémalgo tão insustentávelque, naverdade, nemButiernem Haldanenelasedetêm.AÁrvoreda VidaeaGaláxiafazempartedouniverso,neleestãoenraizadas.Nouniverso,aorigem da vidanãonosfazentenderaorigemdamatéria;aorigemdoprotoplasmanãonosfaz entenderaorigemdaáguaedoar.SeoDiretor,ouaDiretora,daViaLácteacontacom os“caldosmoleculares"dosplanetasou,talvez,comosugereFredHoyle,das nuvens cósmicasparaquea vida possanascer,assimcomoesfregamosum fósforocontando com que algumas moléculas de fósforo irão oxigenar-se, devemos então supor que existe,alémdoDeus conhecidoelimitado, um Deus desconhecidoe mais amplo, que tem como corpo,não determinada partedo mundooudeterminado tipode existência, mas todoo universo, todoo espaço-tempoe,maisalém, um Deus ainda mais desco nhecidoque fazao mesmotempoo Ninho(istoé,omundo material) eo Pássaro(isto é,oDeus-Vida).
CapítuloVI AVISÃOSEMOLHOSEOCEGOABSOLUTO A NovaGnose nãoé umamitologia.Os Gnósticos,aomesmotempo,acolhem o mito e o restringem com veemência. O usual na "explicação" mítica é transferir as grandes experiênciasda existênciaedavida, comoum jogode espelho,aum estado Primordialno qualoquefazemosdeusesnãonecessitadeexplicação.Paraos"cienti- ficistas”, o Primordial não é um tempo divinoantesdo tempo; é simplesmente umpri meiro Fenômeno, do mesmo tipo queos fenômenos atuais. O mitoé laicizado, mas permanece um mito. O atomismoantigoé,nessesentido, ummito:oscorpossão com postos de corpúsculos (ou pequenos corpos), os remoinhosde átomos sãocomoos remoinhos de areia. O atomismo moderno também permanece um mito quando ele considerao BigBang inicialcomoumaexplosãonuclearemmaiorescala,ou comoum “ cozimento” aceleradodosátomos.SamuelButlersecomprazemdarmais“vigor”ain da,miticamente,asuaÁrvoredaVida.Elenãosónãotentadissimularo“jogodeespe lho" como, antes, oreforça.Oconjuntodosseresvivos formaum GrandeSerVivo.A Árvore e seus brotos são brotos de uma árvore maior.Ohomem e suas células são a céluladeummegantropo.Cadaorganismo aprendee seadapta.OGrandeOrganis mo aprende e se adapta.E Deus,dizButler, jádeve terpassado porum crescimento análogoaoqueEleconheceusobreaTerracomoÁrvoredaVida,emumnúmeroinfini tode mundos e de universos,e égraças aissoqueElepôdeaprender suafunçãode Deus, de modo que Ele adquiriu experiência, assim como cada embrião sabe como transformar-seem adulto porter adquiridoessa experiênciaao longodas milharesde vezesemque repetiuecumpriu praticamenteamesmatarefa.JacobBohme,também, secompraz em aperfeiçoaraimagemdo Absolutodivinoprimordialcomo umOlhoque se olha num espelho. Se somos visualmente conscientes porque temos olhos,oPri mordial deve ser um Olho e umavisão. Imagem enganosa, como jádissemos, mas conceitoexato. Os cientificistas rejeitam com palavras toda e qualquer mitologia. Elestratamo mito - ode JacobBõhme, ode Samuel ButlerouodeJ.B.S.Haldane- comum des prezode beócios para,no fim,adotaroquepoderíamoschamardemitodoCegoabso luto.Ouniverso,emsuaunidade,nãosevê,nãoconheceasimesmo.Eleéumaágorados corpos, ondeos corposseencontramsemsaberqueseencontram, numacida dequenãofoiconstruídaporninguém,dentrodeumanoiteondeosseressãofeitosde uma noite inconsciente,onde os fótonssãointermediáriosinconscientesentrecorpos 65
inconscientes,onde"informações"mecânicasfuncionamàscegas, onde osemissores
ereceptoresdas“mensagens”sãotãoinconscientesdasmensagensquantooscabos telefônicos,ondeoscarteirosdoscorreios são iletrados e cegos, ondea própriaorga nização dos Correiossefezentre seresquenãosabemnemfalarnemescreverepara osquais as mensagenstransmitidasetrocadas nãotôm nenhum significado, ondeos “aqui-e-agora" cegos conseguem, entretanto, conjugar-se, por milagre, numespaço- tempo ordenadoeunitário, igual a um mercado onde os preçosfossemfixadosentre compradoresevendedorescegosequenãotômnecessidades. O Cegoabsolutoé um mitoabsurdo. Eleé mito, já queconsisteem repetir,em espelho, alguns dos fenômenosefetivamente cegosda nossaexperiênciahumanaco mum. Uma torrente, uma avalancha, uma multidãode pessoas ou uma fila qualquer, embora compostade videntes,écegaedestróisemver.Todososfenômenosdafísica clássicasãocegos- isso,seconsiderarmos, porabstração,apenasosefeitosestatís ticos,sem analisarmosas interaçõeselementaresquefazemcomqueseusconstituin tes“tomem a fila”informando-se sobre seusvizinhos,esemanalisarmos,tampouco,o campouniversalondeosefeitosestatísticospodem,ocasionalmente,tomar-seformas. As moléculas de uma bolha de sabão tomam a fila “dando-se asmãos". Elas formamàscegasumaesferaquaseperfeita.ATerraóesféricasemquehajanecessi dade de compasso. Sua órbita é elíptica, sem alfinetes em seus focos, sem lápis, e semofioqueumDeusclarividente,providodeolhosedemãos,pudesseterestendido noespaço-tempo.ATerraécega;oespaçoécegoemrelaçãoàmultiplicidadedasin teraçõeseletromagnéticasenucleares,assimcomoessasinteraçõessãocegasrelati vamenteàsinteraçõesdegravitaçãooudeinércia. Masoespaço nfiopodeseroCegoabsoluto.Sabemos que ele nfiooéselem brarmosqueoolhonãoé absolutamenteessencialna existênciadeum campo,deum domíniode visão,cujaunidade éimediataecujosdetalhesconstituintesnãosãoestra nhosuns aosoutros, mas seencontramno mesmo “aqui” dominial. Entre aTerraeo Sol,entreoSoleasestrelasdaGaláxia,entreasnebulosasespirais,nfiohánenhum “eu” ou olhounificante. Mashá um campo de interações,eosgravitons’ nãopodem ser carteiros cegos e inconscientesentre corposcegose inconscientes,assim como os fótons, tampouco, podem ser carteiros cegos entre correspondentes cegos e in conscientes. Mitopormito,pelomenosaGnoseescolheuaquelequenáoéabsurdo.AGnose poderia ser definida como filosofía da Luz consciente, em umuniverso semelhante à área visual de um cérebro vivo, que tem um “Lado Direito”, uma verdadeira unidade, enfio afalsaunidadedocérebrodeumcadáver,cujasmoléculasvoltam aformarparte damultidãopulverulentadasmoléculasterrestres. Uma molécula de águaoudebenzeno écapazdeseordenarou de voltar a se ordenar por sereladomíniode auto-supervisão- eos físicos constatam,aseu modo, essa auto-supervisão nas zonas moleculares onde os elétrons de ligaçãocombinam seus sistemas ondulatórios. Assim, também, os domínios do córtex cerebral, emseu Lado Direito, ordenam-se asi mesmos, pois se véem em suaprópriaunidade, como campo visual,ou campodos esquemasmotores possíveis. Damesmafomria,um pro-
1.Partículahipotéticaquecorrespondeãsinteraçõesgravfbcas. (Nota de 1977.)
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tozoário ordena-se a si mesmoe improvisa uma boca, um estômago, pseudópodes, porqueele “se vê”em suaprópria unidade.Os neurônios demeu córtex sãosubdomf- niosdentrodaáreacortical,esupradomímosdasáreasmoleculares. O exemplo da criançabrincando de colocar emordem as peçasde um quebra- cabeça é tão complexoque pode chegaraenganar.Dir-se-iaoEspíritovindoordenara Matéria. Mas a análise mostra quenãohá nemmatéria nemespírito; há simplesmente sobreposição de domínios quese entrelaçam unsaosoutros em chavesmaisou me nos amplas ou em “hólons" mais ou menos vastos. Quantomais amplo forodomínio onde se ordenam os domínios subordinados, mais este terá um aspecto espiritual. Quantomais houverpódemicrodomfniosinsuficientementecoordenados,maisexistirá ali um aspecto material. Não é, portanto, surpreendente queodomínio entreosdomí nios, isto é, o universo, oespaço-tempoem sua unidade cosmológica, nos apareça comooEspíritoporexcelência,comoDeus, especialmentequandoelepareceestabe lecer uma Ordemdominial unitáriaou faz umaAção unitária.Mas,também,nãoésur preendente que ele nos pareçaMatériainconscientequandodominamalamultidãoeo pódosdomíniosmenos amplosqueeleabarca. Poishá tiposdiversos de interaçãoe unificação,eaextensãododomíniounitário nãoétudo. O espaço-tempo(da gravitação edainércia,noconceitodeMach)nãoé o Cegoabsoluto mas,aparentemente, nãoétampoucoumaespéciedecórtexvisualem todas as suas propriedades, pois aspercepçõese movimentosque aliacontecem só estãomuito sumariamenteconjugados.OEspíritocósmico “sabe”quetalplanetaetal meteoritode grandesproporçõesestãoseaproximandoumdooutro,masnadafaz pa ra evitarsua colisão. É comose ele fosseumaconsciênciamuitodistraídaoumuitoin diferenteaodetalhe. Parece-se com um departamentodetrânsitourbanoquecuidasse apenas do plano geral dos itinerários sem preocupar-se com os acidentes, deixando aosmotoristasaincumbênciadecuidardosmesmos.
Capitulo VII UM RUÍDO DE FUNDO ORIGINÁRIO NÃO PODE CRIAR A PALAVRA Para os Gnósticos, o universo nfio ê,portanto,um universodeseres materiais oudeforçascegas,esim,umuniversodeformas,deinformaçõesconscientesedein formantes conscientese ativos, quedeciframelêem informaçõescirculantes, mensa gensque,provisoriamente,setomaminconscientes. Aqui, também, a ciênciaobjetivistadescreve as coisas corretamente, maspelo avesso. Descreve o antiacaso apartir do acaso, aordem a partir da desordem, as mensagens apartirdoruidodefundo,osorganismosapartirdeumapoeiradefenôme nos químicos, as linguagensouos sistemasde comunicaçãoeinteraçãoa partirdas emissõeserecepçõesdedisparadoreselementares. Essasegundainversão daciência(explicaraordem apartirdadesordem)agra vaaprimeira(transporoladodireitoparaoladoavesso). Aotentardecifrarpeloladodefora,aotentardescobrirosentidopelossinaisma terializados,aleiturapelob-a-bá,amensagempeloquesai-do-ruído-de-fundo,a ciência tendearetardar,indefinidamente,aleiturapropriamentedita,ainterpretaçãodossinais. Porquererreagircontraatendênciaaumainterpretaçãoprecipitada,pelofatode umaintuiçãodemasiadohumana que, não apenas pressupõeemtoda parte aexistên cia de umaconsciênciae de umalinguagem, mas,tambémdeumalinguagemquase humana, e porquererevitaroantropomorfismo, aciênciaacaba caindono mecanicomorfismo,erecusa-se a veras conseqüênciasde seuprópriotrabalhodedecifração, assim como um lingüista que não quisesse atribuir aos falantes estudados por ele, qualquerconsciênciadosignificado. O universo apresenta-se, assim, paradoxalmente, como umaespéciedeRuído defundooriginário,sendoos serese suas mensagensmerasflutuaçõesque,milagro samente, conseguissem subsistirporum momento antes de afogar-senovamenteno Rufdo. É conhecidoojogoqueconsisteem pronunciarumafrasea meiavoznoouvido de um parceiro, o qual deve repeti-la a outro,e assim por diante. Issoproduz efeitos surpreendentes,assimcomoacontece comtraduções sucessivasemidiomasdiferen tes: “O espírito é pronto e a carne é fraca” poderá transformar-seem: “O vinho era 68
bom, mas a cameeraestragada”; ou então(pela passagem do francés paraoinglés, depois para o chinês, e novamente para o francês): “Longedos olhos, longe do co ração"poderáacabarficandoassim:“Oinvisíveléumaloucura”. A ciência “cientificista” consiste em admitir que o universo começa com flu tuações perpetuadas porerrosde tradução dessetipo,jáque, pelo acúmulodeerros, eleconseguepronunciarpalavrasinteligíveis. Relativamente àmensagemque transmite,umalinhatelefônicaéainda maisinin teligentedo quetodauma cadeia detradutoresignorantes.Masoscientificistas,teme rariamente,pretendemfazernascerapalavrainteligíveldessechiadotelefônico. Hoje em dia, os filósofos do“Deus estámorto” às vezesse expressamassim: “Deusdesligouseutelefone:Elenãofalamais.” Essenãoé nenhumretornomodernoa um dosmitosdoDeusgnosticista: Deus separadodomundoporabismosintransponí veis feitosdetrevas esilêncio.Paraoscientificistas,nuncahouve umDeustelefonista ou instalador de telefones.É o"chiado”origináriodo espaço-tempo, éoruídodefundo do universoque deu origem aumavoz,a um idioma, aseresfalanteseaseresouvin tes. Quandose “realizou”oprincípiode Carnot,1oscientistasnãopuderamdeixarde fazerteologia.Jáquetodasasenergiassedegradam,jáqueastemperaturas,osníveis tendem aigualar-se,jáque os pesosdesceme não tornam asubirporsimesmos(in cluindo os pesos do pêndulo deum relógio), é preciso então queAlguémdê cordano início doTempo,desse Tempo quepossui umaseta.Aconservaçãodaenergiapossi bilita ummundo eterno; a degradação da energiarequer,no princípiodouniverso,uma reservade ordem ou de não-desordem. A expansãodo universo, adesconcentração dasnebulosas,atransformaçãodematériaemradiações,provavelmenteapontam para ummesmofato,quelevaàmesmaconclusão,comosmesmoscorolários"teológicos”: houve, então, no iníciodo universo,umareservadeenergiabem ordenada, um reser vatóriodeágua. Com o princípio de Shannon2 acerca da degradaçãoda informaçãoedasmen sagens, a situação é ao mesmotempo idênticae diferente. Idêntica, com atentação ainda maisfortede se colocarnoprincípio douniversoumareserva,umacaixa d’água de informação - mas, dessa vez, não sob a forma daexplosão de um “núcleo" que contivessetoda aenergiado universo,mas sobaformadeum Deus antropomorfo In ventorderelógios,enãoapenasencarregadodeudar-lhescorda".
Mas a situação étambém muito diferente. Se ninguém, entre os teóricos da in formação,retomou a velha teologia de Paley,3 nãoéapenas porque ateologiasaiu de moda;óporqueoestudodosfatos,quemostraumadegradaçãorealdaenergíaenun caumprocessoinversoglobalascendente,aponta,entretanto,paraumbalançopositi vodainformaçãodentrodaordemdavida.Avidaélocal”dentrodocosmo,masavi daexiste.Ainformação aK sedegrada,mastambémse revela,eisso,deummodofa miliar, aparentemente sem mistério. Oshomens compõemsuas mensagens, realizam obras,inventammáquinas.Todospodemtentarfazô-lo.Asespéciesvivassurgiramhá muitotempo, mas muitotempo depoisdaexplosãoinicial. Elas se transformam diante dos nossos olhos, eprovavelmente não existia, dentro do átomoou'doYlem primiti vos,4enemnaTerraprimitiva,ogermeocultocontendodeantemãoasformasdosse resvivos. Pode-se“ compensar”oprocessolocalascendente,deordemenergética,porum processo “descendente” maisimportanteem outraparte:paraeu poder reerguerope sodo péndulodorelógio, éprecisoqueeu tenhacomido osuficiente,isto é,queeute nhadescontadodeumareservacósmicadeordemenergética.Masnãofazmuitosen tido- apesardos esforços deffsicoscomoL Brillouin- compensaroaparecimentode umaformaçãocoerenteaquiporumdecréscimoenergéticoalhures.Minhasinvenções dehomemconscientenãosãogratuitasdopontodevistaenergético.Mas,nãoéoque eucomiestamanhã,enemogastodeluzelétricademinhalâmpadaquepodemexpli carasfrasesqueestouanotandonomeupapel. Além disso, não tenhoaimpressãodeestardescontandominhas invençõesde uma espécie de reserva primordial. Essa impressão pode ser falsa. Os Gnósticos acreditamqueela é falsa- massuficientementeforteparaeumejulgardispensadode recorreràteologia. Paraosgeneticistas, éamesmaleiquefaz com que asmoléculasdo universo físicosemisturem,suaenergiasedegrade,ecertasmoléculas,aocontrário,sereproduzampordecalque,nãosómultiplicandosuas formas, mas aumentandosuacomple xidade com formasauxiliares quefacilitam essa reproduçãodecalcada, sendo assim conservadas e multiplicadasporseleçãoautomática.É amesmaleiquefazoautoma tismodadegradação, e(nocasodas moléculascapazes de auto-reprodução),oauto matismodosurgimentodeinformação. Assimcomo nãopodemos impedirquea águacorra,queasmontanhassenive lemou queasestrelas convertamsuamatériaemradiação, nãopodemosimpedirque umaespécie,queoacasogenéticotomou mutante emaisaptaareproduzir-se,sees palheesuplanteaespécieprimitiva.
3.Teologia,essa,muitobemresumidaporVoltaJre: "L ’ünivers m'embarasse et ¡e ne pois songer Que cette hortoge existe, et n 'ait pas d'horioger. [“Ouniversomecontundeeeunãopossoconceber Queesterelógioexista,enãotenharelojoeiro,>](Nota de 1977.) 4. Teimo inventado porGamow ifl, Criação do Universo, trad.francesa,Dunod, París),apartirda paiavragregauié (matéria).OYlem óotermoqueeledáàmaláriaprimitivadouniverso,noscincopri meirosminutosdaexpansão,antesqueseformassemosnúcleosatómicos. (Nota de 1977.)
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O viticultor luta contra a erosão de seu terreno e contra a proliferação dos pulgões,osquais vãose tornando imunes aos inseticidas quando seuscromossomos e DNA “inventam" (semquerer)formasmutantes resistentes. Dessas duas calamida des, uma - a erosão- é uma degradaçãodeforma;eaoutra,um aparecimento intem perantedeformas,masambassãoautomáticas. Oacasonãovemantesdoantiacaso Paraa NovaGnose,essamaneirade veré superficial, e essateoriatãocontra ditóriaqueacabatornando-seumdosmelhoresargumentosafavordaNovaGnose. No princípio, dizem os Gnósticos,não hánenhum Grande Informanteuniversal, pelo menos nenhumGrandeInformante cujo cérebrocósmico ou cujopensamentopu desseconterde antemãotodasasformasqueapareceram,desdeoschifresdorinoce ronte atéaplumagemdo pavão,todas asmensagensescritas, todasas palavras pro nunciadasatéhoje. Mas, pensem apenas no seguinte: Num sistemaestelarfeito quaseexclusiva mentedehidrogênioedehélio,equentedemaisparaquemoléculascomplexaspudes sem subsistir ou paraqueo carbono pudessequeimar“molecularmente”, nãonos sur preende o fato de surgirem, assimque ascircunstânciassetornamfavoráveis, essas moléculascomplexasquenosparacem,então,virtualmentepresentesantesmesmode existirem,numa espécie dequadrodas “possíveis ligações”edos“ possíveis corpos resultantesdessasligações".Aosnossosolhos,issonãoémaissurpreendentedoque oaparecimentodogeloquandoaáguaseesfria.NaTerrae,provavelmente,emmuitos outros planetas galácticos e extragalácticos, existem hoje milhõesde compostosquí micos e,também, milhões deespéciesvivascujaestrutura,segundoosgeneticistas, é uma espécie de formação molecular ou de cristal aperiódico.5 Essasespécies não se organizam em quadrostãoregulares etãobempreenchidosquantoo quadrodeMendeleíev6 ou oquadrodos carburetos saturados. Acontecequeasespéciesorgânicas, segundo a genéticamolecular,seformam apartirdas espécies químicas.Sendoesse processo aparentemente automático, logo a "informação” dessas espéciesorgânicas estava então virtualmente contidanas partículasda estrelae, aseguir, nasmoléculas doplanetaenosseustiposdeligações,assimcomopodemoselaborartodasasmon tagens possíveis apartir deumjogodeconstrução, ou assimcomotodasaspossíveis jogadasdexadrez podem virtualmentesercalculadas porum computador, aoqualfos se dadootempo necessário- umtempoastronômico,apesardarapidezdamáquinaparacalculá-las.
5. Umcristalnormalmentedperiódico,istoé,dotipo:abcabc.Schiodingerpressentiraquearepro duçãodosorganismosdeviabasear-senareproduçãodemoléculasordenadasdeummodonão-repe- titivo,comoasletrasdeumamensagem.(Notade 1977.) 6.Classificaçãoperiódicadoselementosquímicos,estabelecidaem 1879peloquímicorussoMendeleTev(1834-1907). MendeleTev tiveraaidéiadedeixarneste quadroalgunscompartimentosvazios que deviamcorresponderacertosoorpos desconhecidoscujaspropriedadesquímicas poderiamser previstas. Asdescobertasdo gálio, doescândioedogermâniologovieramconfirmaressa hipótese. (Nota de 1977.)
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Segundoagenéticamolecular,éum fato esperado verosorganismosse forma rem a partir de um “caldo primordial", num planetaque levou consigoos elementos químicos desse “caldo” - assim como éum falo esperado oaparecimentodos com postosferrososedossicaAos,ouoascenderdeumfósforoporfricção. Oacasodesempenhaalgumpapelnodetalhehistóricodosurgimentodasformas vivas,como no detalhedaformaçãodasmoléculas complexasou nodetalhedo acen derdeumfósforo.Mastrata-sedeumpapelinteiramentesubordinado.
AscriaçõesconscientesdeInformação Passemos agorada origem cósmica dainformaçãoparaaexperiênciaatualde criaçãodeinformação,sejabiológica(pormutaçãoouporerrodereproduçãomolecu lar),ou psicológica(pelainvençãodemáquinas, de obrasdearte,demensagens).Es ses dois tiposde aparecimentodeformasnão tômentresinenhumarelaçãoconcebí vel.Enquantoofiloxeralutacontraosinseticidasdoviticultoratravésdemutaçõesfor tuitas einconscientes,oviticultorlutacontraofiloxeracertamentedeumaoutramanei ra, por meiodeesforços conscientes. Um homemouumanimalesforçando-senáoé ummeio onde possamocorrermutações.Ao redigirmosuma carta, mesmobanal,não estamosfuncionandocomoumamáquinasegundoligaçõespreestablecidasdentroda estruturadoorganismo,ousegundofalhasdefuncionamento.Quandocompomosuma carta“originar,istonãoocorredeacordocommutações cerebraisquímicasdamesma espécie que as mutações genéticas. Em nosso “aqui-e-agora”dominial, “subjetivo", queabarcamos totalmente, tentamos fazer surgircompatibilidades ou incompatibilida des,segundodeterminados temasepossibilidades."Preenchemosdeterminadosbran cos” de um quadro já apresentado ou imaginado.Compomos,em psicogênese, não somenteapartirdosresultadosadquiridosdeumamorfogôneseorgânicaeprévia,mas também em continuaçãoaessa morfogénese. Recolocando ascoisas nos eixos,po demosdizerqueédefatoeantesamorfogénese- queétodaamorfogénesequepre cisaser interpretada como psicogênese.Se aevoluçãobiológicapodeser"internaliza da”,éporqueelanuncafoi“externa”.
Nãosepodefalarouescreverpeloavesso,partindo-sedoacaso Umaoutramaneira,entretanto,deevitaracontradiçãoéestabelecerumparalelo entrea teoria da invenção psicológicae a teoriadas mutaçõesfortuitas.Jáse tentou isso. A teoriamecânicada invençãorepresentaocasotípicode uma "colocaçãodas coisas pelo avesso”porumaciênciapordemaisengenhosa.Elaconsisteem sustentar quetodainvençãoédevida,quandonãoamutaçõesgenéticasousomáticas,pelome nosaacasos,equeessesacasospodemsercaptados,nãoporumaconsciênciado minial,esimpelasprópriasligaçõesestruturais— no sentidomecânicodapalavra, não nosentidosemântico. O acaso,de fato,desempenha um papelimportante, mesmonainvençãocons cientedeformasedeinformação.Asanedotassobreoseupapelnainvençãocientífica ou estéticaenchem os tratados.Todo criadorcolaboracomoacasoe,hoje,utilizamá72
quinasaleatórias,misturadoresde sonse combinadoresdelinhas. Em certas épocas, esta parte do acaso é reduzida ao máximo possível. Em outras épocas,oartista faz questão de serapenasumaespéciede introdutordiscretooude apresentadorterminal doacaso. As ligaçõesmarkovlanas Em vez de compormos uma mensagem inteligível numamáquina de escrever, deixando de propósito, eventualmente, para que soe mais natural, um certo “jog o” no usodaspalavras,podemospartirdopuroacaso- deixando,porexemplo,umautômato baterinicialmente ao acaso sobre o teclado da máquina para depois irreduzindoe canalizando oacaso, com aintrodução na máquinadeligaçõesmarkovianas, ondeas seqüências das letrasou das palavras sejam conformes às probabilidades dentro do idiomautilizado. Umacadeia de Markov éuma seqüênciasemifortuita:oselementos sãoescolhidosao acaso, oomonojogodecaraoucoroa,mascomumaprobabilidadedefinidadefransiçâodeumelementopara outro. Se estabelecermos, porexemplo, que, depoisdecara,coroateráduaschancesdeaparecerem cadatrês, enãoumaemcadaduas, eque,depoisdecoroa, carateráumachanceemcadatrês,tere mosentão umacadeiade Markovelementar. Aligaçãomarkoviana podeserfeitademodoaseachar dependente, não apenas do sorteio anterior,masdos dois ou trôssorteiosanteriores. Independente mentedosignificado, a sucessãodasletras numa mensageminteligível e numdadoidiomapode ser consideradaoonfonnea umacadeiadeMarkov. Em francés,a legra q ésempreseguidaporu;emin glês,t éseguidoporhemmaisdecinqüentaporcentodoscasos.Emfrancés,depoisdeum/,aproba bilidadedeseterumuébastantereduzida(existemapenasalgumaspalavras:sciure, reliure, diume); o h é precedidoporcemquaseametade doscasos; osédepreferência,seguidoportquandoháume antesdos,sendoqueIssonuncaacontecequandoháumaconsoanteantesdos. Oautômatoescritor,diantedeumamáquinanão“seqüenciada"deprincípiomarkoviano,come çaaproduzirprimeiro:w l - l d q v h r n m j x h i d ? - z e . Em seguida, se o teclado foi montadode modo alevarem conta as ligaçõesprováveis, em francês, comaletraanterior, pode-seobteralgumacoisadessetipo: agüe po paurer le sous Igelique. Depois, levando-se em conta as seqüências prováveis com as três letras anteriores [em francês],teremosalgocomo: les net Pourra ten danges leurs organiements, et ent fait Ou,emInglês: in no ist lat why eracüct froure birs grocid ponde name of demonstraturos ofthe Reptagin is. Esse “ Reptagin” ôquasedigno doJabberwockyde Lewis Carroll,7 observaG.A.Miller,que fomeoeuoexemploqueapresentamos. Entretanto, segundoosGnósticos,ôpoucoprovávelqueodinossaurotenhanascidodeumjogo de azardesse tipo, apesar dasemelhançaformal queexisteentreumamontagemmarkoviananuma máquinadeescrevereocomportamentodasmoléculaspré-vitaisreplicativascapazesdereconhecer- seentresipeloprocessodeencadeamento,edeformarcomplexosnáo-covalerites. Podemos, porúltimo, introduzirnamáquinadeescreverligaçõesdeordemsuperiorsegundoas seqüências prováveis das palavras e seguido certasregrasdesintaxe. Podemostambém programar
7.Cf.H.Parisot,Lewis Carroll,París,Seghers.
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certas coerências quasetemáticas através de seleçõesseqüenciadasde“registros”.Podemosassim obtertextosgramaticalmentecorretosqueapresentem,quando náoumsentidogeral,pelomenosuma aparência de sentido ede informaçãocoerente.8 Poemas fabricadossegundo essesistemanãosão m uito maisestanhos doquétantosoutros.9Discursosfabricadoscomummisturadordeexpressõesem voga nãoparecerão maisvaziosdoquemuitosdiscursospotfMcosmediocres.Certosliteratossofistica dos masdentiffcamentBingênuosconsideramqueoflnodofino,emIttarafajra,óproduzirtextosquenáo tenhamoutopropôsI o senãoodeseremtextos,textos-objetos(“ estruturalisinoemação”,conformedi zem),textosondeapalavracriaalinguagemqueatomadedfrávelcomopalavra,sobrepseudo-temas tais oomoosquepoderiamserfabricadospelocérebrodeum esquizofrênico ouporumamáquinade comportextos.Osurrealismo produziupseudo-sentidoseàsvezes umaexpressividadenáoisentade umce rtopoderde atração,partindodoacasooudosemi-acasomartovtano,esuasproduçõesnáosáo pioresdoqueoertasobrasinteligíveiscujosignificadonãointeressaamaisninguémvinteanosdepois desua produção (jaois, dequalquermaneira,aculturahumanadequetantoseorgulhamos homens náoé multacoisadentrodavastidãodouniverso).
Assim sendo - eéesteoponto importante - partindodo acaso,oautômatoin consciente parece, graças às ligações markovianas,reaproximar-seassintoticamente dosignificado. “NoprincípioeraoVerbo",dizSãoJoão- eaGnose. Não,respondemos antignósticos: “No princípioeraaletra(oumelhor,asletras) deondenasceuoVerbo.” “NoprincípioeraaVida,aVontade.” Não, respondemosbiólogosantignósticos: "Noprincípio eramas Moléculasauto-reprodutoras,deondesurgiuaVontadedeviver.” “No princípioeraa Ordem,ou oGrandeOrdenador, ou oAntiacaso,ou aCons ciência,ouaSubjetividadecósmica”,dizemosGnósticos. Não, respondemoscientificistas: “NoprincípioeraoCegoabsoluto, aDesinfor mação, de onde surgiu aInformaçãointeligíveldepoisde ter-seformado,porpuro de terminismo,umgrandeComputadormaterial."
Opassedemágicaantignóstico Qual o segredo do passe de mágicaantignóstico? Consiste no fatode os antignósticos pretenderemqueo acasose canaliza porsimesmo sem canalizador; que elecaptaasipróprio sem captador,escolhesem escolhedor, selecionasemseletor,ou queos captadores,canais,escolhedores eseletores seformamàscegas,captandoe selecionandoàscegas. Ora, um domínio de subjetividade, de consciência, éoúnicocaptadorpossível, querele atuediretamenteou por ligações impostase interpostas. Voltemosàsituação doAutômatoescritor. 0. Exemplo: ”We are going Io see him is not corred to chuckle budly and depart from home... [Va mosvé-lonáo6corretorirporentreosdentesoomocriançaesairdecasa...] 9. Exemplo: Bulletin de versement tout mon sang et l'intelligence grats je ne veux ríen fichez-moi la paix ni crier ni me taire ni chimique vulgarité de 1‘absolu.. ["Ficha de depósitotodomeu sangueeainteligênciagrátisnãoqueronada deixem-meem paznem gritarnemcaiarnemquímicavulgaridadedoabsoluto.."](TristanTzara).
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Primeiro caso: Oautômato bate ao acaso sobre um teclado,semnenhuma co nexãomarkoviana. Mas, atrásdele estáum homemquerendocomporumamensagem inteligível, cuja idéiaelejátem, vistoqueele a formulouemseu cérebro.Amensagem pode, porexemplo,sera seguinte: “No princípio,eraa subjetividadecósmica."Ou seja, unscinqüentasinais e espaçosem branco. Seohomemaguardar, seminterferir,queo autômato consiga compor essa mensagem de uma só vez,ele teráde aguardar mais de mil bilhões de séculos (ouseja, muitomaisdoqueapresumívelduraçãodocosm o). Mas, seeleescolher uma apósoutraasletrascertas,eliminando (mentaloufisicamen te) as erradas, poderá ir quase tão rápido como se ele fosse baterdiretamente sua mensagem. Há oitentae quatrosinais. Podemos suporque oautômatodá uma batida noacasoacadasegundoepode,portanto,bateremmédiaumaletracertaemdoismi nutos. Amensagempoderáentãoserelaboradaemmenosdeduas horas. Nesse caso, a existência e o papel do Escolhedortomam-se evidentes. Muito superficialmente, o Autômato é queé ativo (eletoma ainiciativada batida),e o Esco lhedor équeé passivo - ou negativamenteativo(eleaguarda asletrascertaselimita se a eliminaraserradas). Deum pontode vistamenos superficial,éóbvio quetudoo que existe de mais positivo e de positivamenteativonesta históriaédevido ao Esco lhedor. Segundocaso: OEscolhedor pode, também, tentareliminarasimesmoprogres sivamente, tornar-se cada vez menos indispensável, aplicando ao Autônomo escritor limitaçõeseconexões markovianastiradasdeestatísticasentreasseqüênciasdasle tras e palavras no idioma utilizado. Ele seafasta eaguarda. OAutômatofará, então, num tempo muitobreve,umafrasequeterá, eminglêsouem francês, aaparênciade uma frase, paraum leitor muitodistraído.Masserátãodifícilcomonoprimeirocasoele conseguirfazerafraseinteligívelqueoEscolhedortinhaemmente.E,alémdomais,se o Escolhedor voltar e tentar escolher entre as produçõesdo Autômato, ao qual foram aplicadas limitações markovianas, ele não poderá ser tão rápido em suas escolhas como oseria com o Autômatobatendoaoacasoletrasdesconexas.Eleseráimpedido ouarrastado,semquerer,pelasmontagensauxiliares. Porém, em ambos os casos,atarefa acaba sempre sendoconcluída, não pelo acaso sozinho - o qual nãopoderiafazernada- , mas pelaconsciênciaque escolhe, queeliminaou conserva.A única diferençaéque,no segundocaso,aconsciênciaes colheconexõesdeacordocomsuaexperiênciapréviadoinglêsoudofrancês,eacaba fazendo as vezes das mesmas, limitando-se em suas possíveis escolhas atuais.A consciência poderá achar vantajoso acrescentar ou diminuiro númerode conexões canalizadoras,conformea naturezadasua tarefa.Se elase contentacomumresulta do aproximativo, as conexões sãovantajosas. Mas seeladesejarealizaçõesprecisas dealgumaidéiaprévia,nessecaso,elaprecisariadeummáximodedesconexão. Como se sabe, imprimia-se muito antes de Gutenberg. Sua invençãofoi ade dessolidarizar os sinais. Otipógrafovaimuitomaisrápidopegando asletrasemseus respectivos compartimentos do que procurando palavras ou seqüências já prontas. Mas, aindaépreciso umaconsciênciacaptadora, sejaoacaso puro ou canalizadode antemão por uma consciênciaqueescolheumontagensmarkovianas,emvezdeesco lher tiragens totalmente aleatórias.Aconsciência poderáestarmomentaneamenteau sente se ela montou captadores automáticosqueasubstituem:armadilhas,composito res automáticos, captadores de flutuações, canalizações, etc., que podem funcionar 75
serr e la . Mas ela teve de estarpresenteparaescolherotipodefuncionamentoeo“jo go"aleatórionofuncionamentoemsi. O paralelismoentreoaparecimentodainformaçãoeoaparecimento“ locardeantl-entopia10é mulloesclarecedor.O exem plodesecolocarumrecipientecontendoáguamornasobreofogãoapaga do6espera rque a águacongelenofundodorecipienteenquantofervenasuperficie-e Issosempo derescolher,como a mlcrooonsciénciadodemôniodeMaxwell,11 asmoléculasapropriadas- 6tão inúllquanto esperar que o Autômato escritorelabore umafraseínteligfveLColocaráguamornanum aparaiho d e reMgeraçAoe esperarqueelacongeleó,aocontrário,perfeitamentenormal-assim como ânormal esperarenoonfrar,no verão,cubosdegelodentadabebidaquenoséservidae,noinverno, umaonda decalorvindodoaquecedordeumapartamentosituadonumimóvelbemconstruido.Asmá quinas e suasmontagensinterpostas, exfraemparanóscalorias "antí-Camot”ou “frasesenergéticas ínleUgtois” ,cujosdetalhessintáticos,nessacircunstância,pouconosimportam.Oqueéhumanamente improvável(ecausaescândalo)óumaquecedorfrioeumlíquidomomodentrodorefrigerador. M as seriaumabrincadeiraconcluir. “Jáquebastaumamáquinamontadaadequadamentepara tomar provável o Improvável, podemos entâo explicar mecanicamente o aparecimento da ordem energética, bem como o surgimento defoimasorgânicasede informaçõesinteligueis.Aconsctônda queescolhe,humana,infra-humanaousupra-humana,podeentãosereliminadadocosmo." Num universo democrfUco deátomos desconexoseuniformemente"momo”,nãohánenhuma possibilidadede se formar gelo. Masótambémremotaapossibilidadede seformaralgumamáquina tigoifficacapaz,maistarde,detomarprovávelenaturalaformaçãodogelo.
OsAutômatosmarfcovianosnocosmo A s máquinas, montadas por uma consciência, com um jogo nas ligações de acordo com certas conexões markovianas, maisse parecemcommáquinas deinven tar do que com máquinas de calcular com precisão. Náodeixam de ser,entretanto, “substitutas", fazendo as vezes da consciência, e só tôm sentido através da cons ciência. O músico apaixonado pormúsica aleatória pode fazer um computador compor uma música pseudo-bachiana. Pode também inventaruma sintaxemusicalde acordo como seu gosto e aguardaro resultado. A música não temo significadopreciso de umafra se utilitária, mas apenaso significado imprecisoqueó aexpressividade. Seu jargfio markoviano e a miscelânea de temasqueapresentapoderão, então, ser indis- cernfveis parao ouvinte deumamúsicainventadadiretamente segundo temas "senti mentais”. Simplesmente, eladeixade serinteressante.Mas,dequalquermodo,éindis pensávelquehaja umaconsciência,tantoparacaptarouvisaralgumaexpressividade, comoparavisaroucaptaralgumsignificado. Os Autômatos markovianos, numa primeira aproximação,dão a chave doque chamamos de natureza,emrelaçãoao GrandeInformante - ou à Consciênciaprimor dial.Deus nãopareceassemelhar-seaum megantropovigiando umuniversomecânico e aleatório, como ohomem situadoatrásdoAutômatoquebateletraporletra,vigiaca da letra certa. Ele nãoparecesernenhuma Providênciaintegralqueutilizeaomesmo
10.Vernota1,p.166. 11. Esto demôniosupostamentedeveselecionarasmoléculasdeumamistura, manobrandouma comportasemmassa, demodoadesmisturá-laseadiminuiraentropia. (Nota de 1977.)
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para sua sua criaç criação ão,, leis leis univers universais, ais,mo monta ntage gens ns gerais, gerais, poru por um lado e, porou r outro tro,, tempo, para acasos acasos ínfim ínfimos os,, histór histórico icos s e individ individua uais. is. Por que quera razã zão oDeus Deus iria iria trapacear, monta montand ndo o apar aparen ente tes s jogos jogos de azar azar para ara depo depois is alte lterar rar esse azar, fazen fazendo do por por exemplo os cro mossom mossomos os xy x y escolh escolhere erem, m, na base deca decara raou ou coro coroa, a,menin meninoo ooumenin umenina,edep a,edepoi ois sal al terandoess terandoesse eres resulta ultado do parafazernascer paraf azernascer um menin meninodesejadonum odesejadonumafamil afamilia iade dequ queele eele fosse cuida cuidar r em partic particula ular? r? Os fatos fatos leva levam m, antes, antes, a acreditarque acreditarque a Consciênciapri Consciência pri mord mordial ial utiliza utiliza o métod étodo o markov markovian iano o de inven invençã ção, o, sem sem recupera recuperações ções falsificadas,dei xandoanaturezafalarseuprópriojargão,pelomenosdentrodeamplossetores. Isso é partic particula ularm rmen ente te marcan marcante te nas nas formas formas vegeta vegetais. is. Um pinhe pinheiro, iro, uma umabé bétul tula, a, umplá um plátan tano oe eum um salgue salgueiro irofor forma mam m uma umaca cade deiadeMark iadeMarkovcompleta ovcompleta.Conf .Conforme ormea aespé cie,cadaramocrescesegundoumaprobabilidadedefinidadesubiroudedescer,debi furcaro furcar ou decre de crescer scer,, única e retilí retilíne nea.Ca a.Cada da espécietem espécietem seu próp próprio riojeito, jeito, seu seu próp próprio rio estilo, estilo, dirig dirigid ido o pelas pelas monta montage gens ns materia aterialm lmen ente teinsc inscrita ritas sem em seus seusge gene nes sou ou fixadasem fixadasem sua memó memória. ria.As As mutações mutaçõesgen genéticas éticaseve eventua ntuais is nãomodificam nãomodificamdiretamentesuaform diretamentesuaforma, a, mas modif modifica icam mas as monta montage gens nsq que levam levam àforma, forma,e e aspró s própria prias smutaçõ mutações es sãomarko- sãomarko- vianas, vianas, no sentido sentido que queelas elassã são oa ao mesm mesmotemp otempo o livre livres s (ou (ou probab probabilísticas), ilísticas), cana canaliza liza das,enãosimplesmutaçõesindefinidas. Osanimaissãomenosmarkovianos,excetoemseusórgãosornamentais.Estão maisestritam mais estritamente entesujeito sujeitos s ao sentido sentido(u (utilitá tilitário rio) )de de seusórgãos seusórgãosvitais.Éo vitais.Éoconjuntod conjuntodos os seresvivos seres vivosqu que ete tem m um jeito markov markoviano iano - daía compa comparaç ração ãona natu tura ralcomaÁrvore lcomaÁrvoreda da Vida,oucomocaráter Vida,oucom ocaráter“ “piram piramidalM idalMdecadaespécie. decada espécie. Omesmoocorrecomasproduçõeseobrasdosseresvivos,principalmentecom os idioma idiomas. s.O O inglôs inglôs nãofoicriad nãofoicriadoapartir oapartirde deumpseudo-ing umpseudo-inglêsfabrica lêsfabricadopormáq dopormáquina uinas s aleatórias, aleatórias,e esim, sim,crio criou u a si próp próprio rio atravésde através de semi-automa semi-automatismos tismosconscientes (apala conscientes(apala vra importa importante nte,, aqui, aqui, é “ conscientes"). conscient es").Se Se podemos podemos fazer um pseudo-ing pseudo-inglês lêsem em cade cadeia ia de Marko Markov, v, é porqu porque eoinglês oinglês,,com comotodos otodos os idiom idiomas as,,é é parcia parcialm lmen entemarko temarkovian viano,ao o,ao estruturado unitariam unitariamente ente num numa consciência improvisad improvisadora. ora. mesm mesmo o tempo tempo em que que 6 estruturado Os hábito hábitos s fonéticose fonéticos esemâ semânticos nticos predomin predominante antes sno noss sseres eresfala falante ntes, s,suasmo suasmonta ntage gens ns psíqu psíquicas icas e bioló biológic gicas as,, suas escolha escolhas s hab habituai ituais s confe confere rem m a cada cada idio idiom ma uma uma carac carac terísticaque terística quepod pode eser serreconh reconhecidade ecidade longe longe,,como comoasilhu asilhueta etadeum deumpinh pinheiro eirooude oude uma bétula bétula.. Um desenhista desenhista conseg consegue ue imagin imaginar arfaci facilme lmente nte um salgu salgueir eiro oou ou uma uma bétu bétula la,fa ,fa zendoatuarlivre zendoatuar livreme mente nte - masconform masconforme esua suas s““ montagen montagens” s” habit habitua uaisis- o tiposa tiposalg lgue ueiro iro ou otipobétu otipo bétula. la. Um computadorfaria computadorfariaomesm omesmo, o,e e pode poderiafabricar riafabricartam també bémornatosdo mornatosdo tipo tipo maia ou aste asteca ca - com com a cond condiç ição ão de que que um enge ngenhe nheiro iro ten tenha ana analisa lisado do as seqüências seqüências prováveis prováveis dessesornatos desses ornatos,, eten e tenha ha progra programa mado doo o compu computad tador orde de acord acordo o com essas seqüências. seqüências. Pode Poderia ria també tambémf mfabrica abricar rhistó histórias rias,, conto contos s épico épicos, s,se seqü qüên ência cias s dramáticas oumitológicas, ou mitológicas, arquitetu arquiteturas rasbarrocas barrocasou ourom romântica ânticas, s,eaté eatémesmo mesmovege vegetais tais fantásticos - enfim, enfim, toda todaum umanature anaturezae zaeto tod dauma a umacu cultur lturape apelo lose seula ulad doavesso,vaz avesso,vazia ia de significado e sem vida,parecidacomanatureza vida,parecidacomanaturezaviv vivae aeconsc consciente,da iente,daqu qualte alteriaem riaem prestado prestado,tomando-osmecâ ,tomando-osmecânico nicos,seus s,seusprocessos. processos.
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Capítulo Capítulo VIII OS ESCOLHEDORES INCORPORADOS Vamos repor anat a natur ureza eza na suaposiçãocorreta.O sua posiçãocorreta.OEscolhedor, Escolhedor, humano humano ou so bre-humano, sit situado uado atrã atrãs s do Autôma Autômato to escritor esc ritore e queesc queescolhe olhe as letras certasou as montagens markovianas markovianascertas,de certas,de modoque modo que oAut o Autômat ômato oesc escreva reva algumamensagem alguma mensagem ou algum poema poemasignifi significativo, cativo, ô, portanto, capaz, porsuavez porsuavez,de ,deesc escreve reverdiret rdiretamente amente essamensagemouessepoema.Emais:oorganismodoEscolhedorvivoformou-se, por suavez,no vez,no universo universodoespaç doespaço oe edo dotempo, tempo, semque semque houvesse ainda,atrá ainda, atrás sdele, dele, aparentemente,nenhumEscolhedormegantropo,distintodele,riscandosuas"letraser radas”.Êpreciso,entâo,quehajaemseuorganismovisívelalgumEscolhedorincorpo radoinv radoinvis isíível, vel,fazendo fazendo sua escolhaen escolhaentreos treosresult resultadosdos adosdosjogo jogosdeaza sdeazar,m r,mai aisoume soume nos cana canaliliza zad dos, os,do do organismoobservâveL organismoobservâveL Comefeito,adualidadeAirtô Comefeito,adualidadeAirtôm m ato-Esco ato-E scolhe- lhe- dore dor existe em todoorganismo todoorganismovivo, vivo, mas sobumafor sob umaformamais mamaissutildoque sutildoque aimage aimagemdo mdo Autôm tômato datilógraf datilógrafo o edo e do home homem m situadoatrás situado atrásdele,ou dele,ou do queo que o mitoanál mito análogode ogode um deusesculpindoaargilaorgânica.
Océre Océreb brocom rocomoconve oconversoresp rsorespaço aço -» transe tran sesp spad adal al Sabemosqueasinformaçõesmudamfacilmentedesuporte.Aspalavrasfaladas são veic veicul ulad adas as pelasondas pelasondasaé aére reas as;;depois, depois,pelas pelascor corrent renteselétricasmodulada eselétricasmoduladasdofio sdofio tele telefô fôni nico co;;depoi depois, s,recon reconvert vertidas idase em ondasaérease, ondas aérease, em seguida,em seguida,em correntesnervo sas dentro dos nervos nervos acústicos. acústicos. Ao chega chegare rem m na áreaauditivado aauditivado cérebro, cérebro,a as pala pala vrassãoouvidaseentendidas.Aspalavrasescritassâolidasquandopassamdopapel paraaáreavisual. Enq Enquanto os suportes suportes mater materia iais is - ar, ar, papel papel,, cera cera,,fio fioelé elétr tricoico- dete deteri rior oram ama ain in form formaç ação ão,o ,o suporte suportecerebr cerebral,embo al,embora ra às vezestambém vezestambém possadeteri possa deteriorar orarainf ainforma ormação ção quandoêincompetenteeperdeosignificado,emgeralécapaznãoapenasdeconser vares var esse se signif significado icadomas, mas, se necessário,de necessário,derestau restaurá-l rá-lo. o.El Eleé eé antiacaso, antiacaso,eleé eleéanti-r anti-ruí uí do.Apresentemosestaseqüênciadeletrasparaseremlidas: EPI- NHIPO- TANOPA TANOPAL L Sem Sem nenh nenhum um terceiro terceiro olho olhooccipital, occipital, pelo pelo simples simples efeito efeitode de “superfí “su perfície cieabso absolut luta” a” da área área visual em seu seu“lado “lado direito direito", ",o o conjun conjunto to dessaslet dessas letrasjá rasjápos possui sui certaexpressi certaexpressi 78
vida vidade de.. Basta Bastae entã ntão sugeri sugerir ra a pala palavr vra“ a“ árvores” árvores” , e lê-s lê-sequa equase se imedi imediat atamen amente te:: ip ê , pi nho,plátano. Pode Podemo mos s até perce perceber ber isso isso espo espont ntane aneame ament nte, e, sem sem a ajuda uda do “ pont ponto” o” — com co m o setodaconsciênciadispusessedeumpontoíntimo,quelhedesseossignificados. Aleit A leituraé uraérel relati ativamen vamenteindi teindifer ferent ente eà àcom combi binaç nação ãofor fortui tuita tadas dasinform informaçõe ações. s. E laé la é restaurador restauradora ae ecri criadora, adora, cont contant anto,apena o,apenas, s, que queas as info informa rmaçõe ções spresentes presentes sugir su giram am seu seu senti sentido dogeral geral:osent :osentidosu idosuger gerid ido orest restaurae aurae regener regeneraseus aseussu supor porte tesmutil smutiladosou adosou m istu is tu rados. rados. A desord desordem em objetivados objetivados elemen elementos tos de informaç informação, ão, quan quando do trazida para a área área visual ouauditi ou auditiva,transforma-se va,transforma-sevirtual virtualmenteemordem, menteemordem, antesmesmo antesmesmo queadesor queades orde dem m sejaefetivamentereparada.Seestouprocurandopregosmisturadoscomparafusos,ou percevej percevejos os verdes verdes mistu misturad rados os com com percevej percevejos os cor-de-r cor-de-rosa, osa,e eles les se apresentam apresentam com toda aevidên a evidência: cia: a desord desordemobjetiva emobjetiva(ent (entropi ropia) a)torna-seord torna-seorde em virtualden virtual dentr tro o do meu campo campo visual,ant visual, antes esmes mesmoque moque eu tenha tenhafei feito toum um sómov sómovime iment ntovisandoe ovisandoesc scolh olher, er,a ar rumar rumar e diminuir diminuir,,fis fisicamente, icamente, a desord desordem emcontra contraoprincípiodedegradaçãoautomática oprincípiodedegradaçãoautomática daenergia. Diante Diante do nosso exemp exemplo lo,, pode podemos mos ainda ainda chicane chicanear, ar, apel apelan ando do para para a ação aç ão de umamem umamemóri ória aestocada estocadaem em algu algum mcant canto odocérebro. docérebro. Podemo Podemosaleg salegarqueu arqueumcompu mcomputatador-leitor, dor-leitor, com memória, memória,ta tamb mbém émpod poder eria iareconstitui reconstituir ro otextoembara textoembaralh lhado ado,procurando ,procurando nessa nessa memóri memória a palavras palavras estocada estocadas s corretas, corretas,seel seelefosse efosse prog progra ramad mado op para aranão não levar emcontaa m contaaordemdas ordemdas letras letrasconstitui constituintes. ntes. Porém Porém,,aoconceber aoconcebera a idéia idéiado do seu quadr quadro, o, Mendeleí Mendeleíev ev nãotinhana nãotinha name memó móriria aa alilistados stados element elementos osquí químic micosquepresumi osquepresumiaen aenqu qua a drarem-se drarem-se nos espaços em branco branco doquadro. oquadro.Um Um teste teste psicol psicológi ógico, co, cont contend endo o fig figura uras arbitrárias arbitrárias num numquadrom quadromatri atricial, cial, onde sedevepreencher sedeve preencherosespaçosvazios, osespaçosvazios,não não pode seru ser um teste bem-sucedidocomaúnicaaj bem-sucedidocomaúnicaajudadamemór udadamemória. ia.Ser Seria iap preciso,ent reciso,então, ão, acre acres s centa centar r ao computador computador com com memór memóriia uma uma máqu máquin ina a de induzi induzir re ede deext extrapol rapolar. ar. Essas máquinas máquinasexistem existem (matrizesdeSteinbuch). Mas,novament Mas,novamente,osenti e,osentido,ali do,ali,é"ex ,é"exec ecut uta a do”, do” ,enão enãoass assumeacaracterísticadet umeacaracterísticadetema. ema. O s quadros conscientes consc ientesauto-restauradoresdão auto-restauradoresdãoa achave chavede de todaacri todaacriação açãode deiin n formação. Essa Ess anão não se produz àmaneirade umamancha umamanchade de óleo, óleo,por porpr pre eench enchim imen ento to emcadeia dos vazios (ou então, esseefeitosecundário esse efeitosecundáriodemancha demanchadeól deóleo eo édevi devidoà superfíciegrandedemaisdoquadro,comonumjogodepalavrascruzadas,giganteou não, onde é preciso começa com eçar rpor poral algum gum canto).Aquel canto). Aqueleque equeestivesse estivesseope operan randoà doàm ma neiradeumamanchadeóleoparapreencheramatrizdotestepsicológicoestariasujei toaenga toa enganar-se, nar-se, como também também acometer a cometererros errosdeort deortografia.(Anti ografia.(Antigament gamente,os e,os profes sores de primário, na França, mandav mandavam am repet repetir ir sem sem parar: parar: “Jesdi “Jes diant antedeum edeumv ve erbo não altera altera a conjugação do verbo” ; eles queri queriam am evitar, na consciência consciênciada daccrian iança,o efeitode“manchadeóleo"). A criação criaçã o de informação informação sefaz se fazatravés atravésd deuma e uma relaçãoest relaçãoestabel abeleci ecida,n da,nã ãoen entre um“aqui” um“ aqui” noespa no espaço ço e umoutro um outro “aqui” vizinho,mas vizinho, masentreoconjunto entreoconjuntodod dodom omín ínio ioe espa cialcom cial comum um ualémdo ualémdoes espa paço ço”” ,queéa“ ,que éa“ regiãodosignificado,oudaexp regiãodosign ificado,oudaexpres ressiv sivida idade, de,o ou u aindadotemaideativoourelacionai. Notesteclássicoqueconsisteem“acharointruso”,porexempla ipê, pinho, plátano, trigo, trigo,co co monotestequ monoteste que econsiste consisteem em““ preencherum preencher um espaçoembranco",óindispens espaçoembranco ",óindispensável ável:a)pe :a)perrcebe ceber, r,a allavés doselementos dos elementos dehífo de hífonre nreçA çAo o apresentados, qualotema, qu alotema,aIdéia, aIdéia, arelação generat generativa iva;;b) b)ap apa artir do tBma, tBma,desc descernovamen ernovamentepara teparaasInfor asInformações maçõesforneci fornecidasaf dasafim imdecomp decompletá-las,o letá-las,oureti uretificáficá-las. las. 79
D ú v id a s podem podemoco ocorrer rrerco comfreqüência, mfreqüência,ásvez ásvezesi esimp mpos ossí síveis veisde dere ressolver lver.. S e m p re serápossível, teoricament teoricamente, e, atribuirum atribuir umte tem ma dife difere rent nteda edaqu que ele quen quenos ospare parecesero cesero temanatural tema natural É arriscadocorrigirumtextoqueoontómerros(embora arriscadocorrigirumtextoqueoontómerros(emboraa a hesáaçáomultasvezesnáoseja permitida.) perm itida.) quan qu ando do nãohácont nãoh ácontexto extosu suficie ficiente ntecom comsuperabund superabundândad ândadeI eIndí ndícios cios(re (redundâ dundâncias ncias).O ).Oequ equíí vocod vocodas as corre co rreçõ çõe esjustamente sjus tamentee expM xpMcao caossmuHo muHoe eerro errosde sderep reprod roduçã ução,o o,os squ quais ais,ao ,aoseac seacumula umularem,ta- rem,ta- zema zemass le n t a s evoluçâesdasespéciesvivas evoluçâesdasespéciesvivaseda edasdifer sdiferente entesc scuku ukures res.P .Por or“repr “reprodu odução ção”,épreciso ”,éprecisoen en tender tenderu u m a reproduçãoconsciente,enão reproduçãoconsciente,enãoum umsimplesd simplesdec ecalq alque uema mater teria iaL L O b toot tootoo oo matriciaismullasvezessáo matriciaismullasvezessáoe eq q u ípe íp e o s. Como Comottam ambé bém mos ostes testes tesde“ de“ achar acharoinkuso oin kuso”” .
■ □ O □
□
T o d a s asfigur as figuresacimasão“ esacimasão“ inüusas", inüus as", atémesmoo atémesmoopeq pequen ueno oqu quad adra rado dooco ocode detra traços çoscheios,o cheios,o únicoaapresentar-sesemprecomoamaioria:pequeno,oco,quadrado,detraçoscheios.
9 O N A o ,o , o intruso intrusonáoéame náoéamenin nina,éotriângulo,a a,éotriângulo,a únicaf únicafigur igura amas mascul culina ina.. Eaquitemosumteste-matizequívoco:
a
b
ab
c
d
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ac
bd
?
acbdouabcd? D e qualquermodo qualquerm odo,,6inút 6inútilil imagina imaginarque rquetud tudopod opodeserexpli eserexplicado cadopor pormei meiodoúni odoúni cop co plano lano do espaço, equepode e quepodemos mosdispensa dispensara radua duallidade idadeespaço-t espaço-transespaç ransespaço.O o.O cé rebr rebroviv ovivo o é “ supor suporte te mágic mágico”, o”, em contraste contraste comos com os suportesm suportesmat ater eria iais is:pape :papel,l, ar, fio fio elét elétri rico, co, pois ele eleestâ estâ em rela relação ção,em ,em estadodetensãobip estadodetensãobipol olar ar,com ,comareg aregiião do trantransespacial; sespacial; ele 6 uma umasuperf superfíci ície eabsol absolutaunitária(s utaunitária(semnen emnenhu humpon mponto todesupervi desupervisãoex sãoex terior),aomesmotempoemqueéumasuperfície“material”ondeoselementosdein formaçãopodemprojetar-secomosefossesobreumatela. Esta dual dualidade dade superf superfície cie m ater ateriial = superffcie-em-ressonância-com-a-regiãodos-temas-significativos,desempenhaomesmopapelqueadualidadeAutômatoescri torteclandoaoacasoehomematrásdeleescolhendoasboasletras. Se o home omemé m éum um poeta poetaorigi originalee naleescre screve ve direta diretamente mentesua sua mensa mensage gem mpoéti poética, ca, ele ele se desdobra.Seu desdobra.Seu cérebro cérebro,,co como momá máqu quin ina anervosa nervosacom com memórias memórias semimate semimateri riais ais e defun de funci ciona onament mento o sem¡-aut ¡-automát omátic ico, o, fornece-l fornece-lhe he materiais materiais num num fluxo fluxo verbal semi-orde- semi-orde- nado nado.. Mas,comosuperfícieabsol Mas, comosuperfícieabsoluta uta relacio relacionada nada comaregiãodostemase comaregiãodostemasedas dasidé idéias, ias, elefa elefazz umaescolha umaescolhaentr entre eesses essesmate materi riais ais (procurando, (procurando, se assimo assim oexigira exigiramoda, moda,dei dei 80
xar bastante desordeme,atémesmo,aumentá-la,paradaraim pressãoda vida - mais expressiva doqueinsipidamentesignificante). O cérebro vivoé"suporte mágico” dasinformações materializadas queele rece be porque realiza, sob uma forma mais sutil, a dualidade “co nsciência escolhedorae autômato teclando ao acaso”. Eleé superfície,ou domínio, ou tela material no espaço mas, pela sua unidadedominial absoluta,estáemressonânciacom a“ região"transes- pacial dos temassignificativos.Um homem, sejaelepoetaounão, está sempreemdiá logo consigo mesmo. Elese faz perguntas: “O que istosignifica? Com oissopodeser feito?” Eleseinforma ativamente. Elese faz perguntas eo faz sobre todas as coisas. Ele “se perguntase...".Eessediálogoéumvaivémcontínuoentreo espaçoeo sobre- espaço,entreosignificadoeaordemouadesordemmaterial. O cérebro vivoéum conversordedupladireção: dostemas em figurasedasfi guras em temas. Assim como um dínamoconverteomovimento em correntee a cor rente em movimento,océrebroconverteainformaçãotematizadaem informaçãoestru turada,einversamente. O tema das palavras pronunciadasououvidas,queopõe-se às palavrasrealiza das (transformáveis por máquina em corrente modulada), ó umaforma "potencial"de informação materializada. Representa, relativamente à informaçãoque interessa aum engenheirodas Comunicações, uma quase-informação,invisível,que elenãopodeob servar. Mas,é evidenteque não se tratadeuma não-informação, oude uma desinfor maçãooudegradaçãodeinformaçãojáque,segundooprincípiodeShannon,adesin formação porrufdo-de-fundonãoseconverte por si sóem informação,aopassoquea informação-sob-fomna-temática-ou-potencialacabareconvertendo-se (atravésdocére broe doorganismo) eminformaçãoestruturada,ou reconstituindo aestrutura, mesmo queestaseencontreumtantodeteriorada. Naordem da vidaem geral(enãomais apenas da vidacerebral consciente), é impossível alguém confundir uma informação potencial, temática, com uma desinfor mação. Um ovode galinhaou umagalinha embrionária não pode serconfundidacom uma galinha-que-se-tornou-cadáver-de-galinha, por decomposição. O ovo reconstitui uma galinha viva, com a ajuda do memento genético. Agalinha mortanão ressuscita mais. A informação, no sentido habitualda palavra,édupla,ao mesmotempoespacial e transespacial, e a análise doengenheiro oudoquímico biólogoé queéo artifício. O significado não é nenhumfantasma invadindo a estrutura espacial; é um constituinte ativoessencial.Falar em conversor“ mágico"ou“feérico", comoosGnósticosgostam dedizer, fazendo alusão ao jogo de xadrez de Lewis Carroll (que inventara regras e peçasnovas),é, da partedeles, umasimplesbrincadeiraprovocadora.Pois,naverda de,étoda informação, etodaforma auto-subsistente- portanto,todaanaturezaquan donão a vemos pelo seu avesso comoo faz odoutoengenheiro- queé“mágica”ou “feérica” . A informação mecânica é apenas uma informação mutilada, uma perna mecânicaqueseriaconfundidacomumserqueanda.
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Capítulo IX O ORGANISMO É UM CÉREBRO PRIMÁRIO É um temaabsurdo, observam os Gnósticos, mas já havíamos desenvolvido pessoalmenteestetemaantesdos Gnósticos,1 considerando océrebro, e o sistem a nervosoem geral,como umórgãodefabricarconsciência,fazendocomqueum orga nismo,ondesupostamentenãohouvesseconsciência,setomasseconscientegraças aesseôrg&o.Emseuanverso,todoorganismo assimcomotodaformaindividualizada édomíniodeconsciência.Océrebroéumórgãoquerecolheoselementosmateriaisde informação vindosdomundoexteriore,aorecebê-lossobreumtecidovivo,os fazpar ticipar da “subjetividade" do domínio orgânico. Elefaz assim surgir, dentro da cons ciênciaqueoorganismotemdesimesmoeatravésdaqualele“vê"suaprópriaforma, umaconsciênciaperceptivaqueo fazveraformadeobjetosexternos. Eleêo suporte mágico das informações recebidas, porque ofereceaessas informaçõesmateriais a "subjetividadedominial"inerenteatodoorganismo. Os organismos sem cérebro nem sistemanervoso manifestam com evidência que têm consciência da suaprópriaforma,tendocomportamentosformativos e ativa mente adaptados,enãosimplesfuncionamentos. Em seu desenvolvimento,eles regu lam os incidentesquando esses não são muitograves.Preparamofuturoatravés de esboços. Reservam-secertaschamadasmnêmicasoportunasatravésdetodoumsis tema de evocadores químicosque, aos olhosdo cientistaobjetivista, apresentam-se como“disparadoresmateriais",masque,dentrodoembriãoverdadeiro,“noanverso”, devematuarcomoumcheiroconsciente,evocandoalgumaaçãoinstintiva. Aembriologiaéumacriaçãoou recriação tematizada, apoiadaemseusdetalhes pormecanismosauxiliaresqueareativamporencadeamento.Ésemelhanteaopreen chimentodeespaçosembranconumjogodepalavrascruzadascomplexoquetivesse umtemadominantecomsubtemasordenadosentresiporuregiões".Umaembriogêne seolerece,empequenaescala,umexemplodedomíniosemchaves,semi-autõnomos, ondecadaumrecebeumamissãodeumdomíniosupra-ordenado,aexecutacominte ligência,distribuindo porsuavezmissõesmaisespecializadas.
1.RaymondRuyer.Paradoxos de Ia conscience e limites de 1'automatisme.AlbinMichel,Paris.
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Aárea embnonáriaque,a partirdoesboçonervoso, formaosistemanervoso eo cérebro, éum desses domínios subordinados.Aparecenoembriãoprimitivo, n a néurula, como em todasas demais regiões, sem nenhumaanimação especial. Sua missão, ou determinação, consisteemcolocar-se como receptordasinformações exteriorese como quadro vivo para os esquemas decomportamentodoorganismo. Aopassoque asoutrasáreastêmpormissãoapenasestruturar-se,segundoamemóriaorgânica,uti lizando informações internas auxiliares eamnemotecniadosistemagenético, de modo a transformarem-se - com algum fundosubsistentedecomportamentoautônomo- em instrumentos aserviço dos esquemas decomportamentoelaboradosno “computador’’ cerebral. O cérebro, montado como um computador, não é mais consciente do que qualquer computador material. Eleé consciente, como todo o restodoorganism o,na sua qualidade de tecido vivo - como superfície matricial.Simplesmente,o cérebroé umaáreada“superfícieorgânica”destinadaaotratamentodasinformaçõesexternas. Océrebro não faz surgir por milagre a consciência, a inteligência,ocomporta mento orientado, dentro de um universo ineptoe cego, e numorganismo táo ineptoe tão cego quanto esse universo. Ele faz comqueaorganização instintivae inteligente quejáoperanoorganismo, transborde paraomundoexterior.Quandoinventa,através de técnica externa,sóo faz seguindo o mesmo processo de invençãoorgânica pelo qualelemesmoprimeiroseformou,ede acordocomamesmalógicamatricial. Assim, não éde se estranhar se as máquinas externas tãofreqüentemente se parecemcomasmáquinasinternas,esejáexistembombas,retortas,filtros,pilhaselé tricas, aparelhosdenavegaçãooureguladorescom feed-backemorganismossemcé rebro, ou tora do cérebro. Nãoé de se estranhar sea históriasocialdastécnicas se parececom a históriadasespéciesede seusórgãos,ou sedeterminadoórgãosepa rececomalgumaferramenta. Umaconsciência, aofazersuaescolhasegundodeterminadotema, nãopodees tartotalmente ausente do organismoem formação,parasó aparecerdepoisdaconsti tuição- supostamente sem nenhuma temática consciente - docérebro. Seria como admitir que um rio secoécapaz detransbordare inundar as planícies vizinhas,fertili zando-as.A consciência cerebral criadora não pode nascer num organismo que, por sua vez, fosse derivado de algum funcionamento mecânico cegoe queelaborasse, semosaberedemodonão-intekgente,algumórgãocapazdeinventar.
Capítulo X A EVOLUÇÃO BIOLÓGICA TEM UM ANVERSO OSeietor,segundoatesedaseleçãoautomática,não éumespirito,urnamente ouconsciência;ele6simplesmenteanatureza,ouanecessidadenatural.1 Masanatu reza(ouanecessidade)podeserentendkJadeduasmaneiras: 1.Cadaespécieencontrananatureza,comoumaespéciedemoldecóncavo,um lugarondeconseguesubsistir.Anaturezaelminatodaformaqueestejaforadoseulu garpossível,efavorecetodaformabemencaixadadentrodomolde“ecológico".Cada serpodeserexplicadoportodososdemais.Anatureza6umaespéciedequebra-ca- beçacompactoondecada peça se encaixa,onde osespaçosem branco provisórios acabam preenchendo-se automaticamente, por pressãolateral enãopor algumafeliz descoberta, onde as informações resultam de uma espécie derecorte da superfície preenchida,numespaçoondecadaformaédesenhadapeloscontornosdasformasvi zinhas. 2. Não nos deteremos nessainterpretaçãoqueóapenasumsubterfúgiológicoe é contrária aos fatos. Na realidade, os seresvivos têm iniciativas de comportamento. Elestêmpreferênciasparadeterminadoalimentooudeterminadoabrigo.Taispreferên cias implicam novos modos de comportamento, que modificam o meio utilizável ao mesmotempo emque dependem- mascommuito “jogo"- dasmodificaçõesdomeio. Anaturezasóôseletivademodosecundário.Adireçãodaescolhadependedasinicia tivas da espécie, aqual improvisa, com dificuldades no início, algum comportamento inabitual,edepoisseadapta,graçasacertospadrõesdeacomodaçãomaisfisiológicos queanatômicos(brânquiasdesenvolvendo-senumaáguapobreemoxigênio,músculos atrofiando-se na ausência de gravidade) e,depois,graçasacertasmutaçõesde sus-
1. Os Gnósticosmatemáticosencontraram, nateoriaseledonista,certoserrosincontestáveisemre lação,náoaocálculodasprobabilidades,masàscondiçõesortodoxasdasuaaplicaçáo.Segundoeles, oscálculosdaprobabilidadedasmutaçõesfavoráveisestáoerrados.Sobreesteponto,noslimitaremos aremeteroleitoraonossoartigo: “ Lespostulatsdusélectionnisme" (fíevue Philosophique, 1967).
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tentação e consolidação que fixam esses padrões de acomodação nos mecanismos genéticos (comoascalosidadesqueaparecemnas partesdapele ondeaavestru zse acocora, onde ojavali africano“se ajoelha"paraescavar; ou como a curvatura dare giãocervicaldafoca,facilitandoonadodecabeçaerguida). As iniciativasde comportamentosempre desempenharamum papelfundamental na evolução. Os peixes dipneustas rastejaram sobre a terrafirme, levando assim ao aparecimentodosanfíbios.Certosinsetívoros primeiropularam, depois planaram epor fimvoaram.Certos mamíferosterrestrescomeçaramaalimentar-sedepeixes eamer gulhar. Inúmeras espécies preferiram parasitaroutras espécies. Pré-homens acostu maram-se à marcha bípede, utilizaram sua laringe para emitirsinais vocais. As mu taçõessurgirama partirdaí. E, nãofoiomeio,como moldecôncavo,quedesempenhou afunçãode"programa”, reguladorecaptador dasmutaçõesfortuitas;foi- admitemos genetícistas- onovocomportamentoescolhido. Mas,assim, voltamos àsituação normal daConsciênciaqueescolheos acasos, da Consciênciaque controlaautomatismos subordinados.É fácil entender que as ex plicaçõespelaseleçãonaturalsejamtantasvezescalcadassobreasexplicaçõespela divina Providência,enãoexijammuitomaisesforçodosbiólogos para ainterpretação dasfinalidadesde fatoconstatadas.É fácilentender quesepossasubstituir,emtodas asfrases, "a Providência”por “a Seleção"(ouinversamente).Oesquema dosdoisti pos de explicaçãoéomesmo: umaConsciênciadominialetematizante,queinventadi retamente, ou que controlaeutilizaacasose mecanismossubordinados.Emambosos casos, hásempre umaConsciênciaqueantecipaeescolhe,tenhaelaounãodeespe rarpacientementemutaçõesconsolidantes. AteoriadaSeleção natural sópode substituiroconceitode umaconsciênciadi vina, não apenasprimordial, mas única, escolhendoa formade todososorganismos, pelaidéia de que cada espécie viva, em sua consciência psicobiológica, escolheela mesmaseu comportamento dentrodoslimitesdasformasjáadquiridase,conseqüen temente,orientaa loteriagenética. Passamosassimde uma Consciênciaúnica- cujo âmbitoé vasto comoo mundo,equeestariaregendonãoapenas asestruturasgerais doespaço-tempo,nãoapenas ahabitabilidade ea adaptabilidadegerais, mas também asestruturas adaptadasdosdomíniossubordinados- paraumamultidãodeconsciên cias,emchave,ondecadaumarecebeetambémmodificasuaprópriamissão. O erro está em achar que a seleção naturaldispensa qualquer intervenção da consciência. Aseleçãoô,semdúvida,muitoeficaz.Aeliminaçãoéperemptória,maisperem ptóriado que arasuradeumapalavra- aqualainda pode ser reconsideradapelo ho memque vigiaoAutômato.Mas elasóvale para construir, soboâmbitodeumtema consciente. A neogenética descobriu em resumo que, ao contrário do lamarckismo ingênuo,2 um tema conscienteorgâniconãotemopoderdemodificar aformamilagro2. Lamarckismo: TeoriapropostaporLamarck(1744-1819),criadordotransformismo,paraexplicar aevolução; baseava-seemduasregras, quenãoresistiramàexperiência:a regra do uso e do nSo-uso (a necessidade cnaoórgão, etc.), e a regra da hereditariedade dos caracteres adquiridos. (Nota de 1977.)
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sámente, mas deveaguardar,como oEscolhedoratrásdoAutômato,os felizes acasos d«sseAutômatointernoqueéosistemagenético,emvezde“escrever”diretamenteno espaço. OSeletorativopodeserumaconsdénciadistintadaconsdéndadoorganismoenvolvido.Exis- ts m , ocmosabemos, seleçõesdessetiponanatureza,antesdoaparedmentodocriadorhumano.As lo re s s s u a s lormasmuitasvezescuriosasequase>signiflcanleslflmsidoselecionadaspelosinsetose p o rseucampovisualouolfativa Osornamentossexuaistémsidoselecionadospelocampovisualdos radMduosdosexooposto. OtemaUsmoseletivoencontra-se,entretanto,namakxiadasvezes,nopróprioorganismo,onde •le pode atuaremváriosníveis:nonfveldeumcomportamentogeralescolhidopeloorganismoadulto (escoihadoalimento,doterrenooudatécnicadecaça,daposturahabitual,domododelocomoção); n o nfveldoorganismojovemoularval:nonfveldaembriogóneseedosprooessoedeformação. Esteúltimonívelé,provavelmente,omaisimportante.Conefeito3existempelomenosdoistipos distintos de fd aptwgfo anatómica, quepodemosdenominartipoAeUpoB.OtipoBcorrespondeàs adaptaçõesquepodemserprecedidasporusoscomportamentais:mododearticulaçãodosossoslon gos,disposiçãocontarmeaspressflosetensõesdastrabéculasósseas,espessamentoslocaisdaepi dem ia,etc. MasoUpo AémultomaisImportante(porexemplo:asbolsasdearquetomammaisleves o s ossos dos pássaros, atransparênciadascélulasqueformamacórnea, amodificaçãodascélulas epidérmicasque asfazsecretarosuor,etc.). EssasadaptaçõestipoA,óImpossívelconcebó-lascomo a continuação de umcomportamentogeral Inicialmenteimprovisado.Nãoédetantoolharafravés de urnaepidermeopacaouligeiramentetranslúcidaqueessaepidermepodetomar-semaistransparente. NladatezsuporquequalquertentativadevôotenhatidoporefeitoIntroduzirasbolsasdearnosossos. Aparentemente, aexplicaçãopelasmutaçõesaoacaso,conservadasporseleção cega,parece prevalecer. Porém, osfatosda embriogéneseapontamcomtodaaevidênciaparatemasformativosdo minando o jogo dos instrumentosquímicos; apontam para "comportamentosdeformação”,paralelos aosoomportamentosadultos,porémmaisfundamental^maispróximosdaoonsaéndaorgánicamatri cial, estruturandoseudomíniodemodointeligente,como uma“ palavracruzada"que preenchesseos seus próprios espaços.Afuturaoómeatoma-setransparentequandoemcontatocomabolsaóticaem- orionária(afuturaretina),atravésdeaigumestímulo,chamadaouevocaçãoemanadadessabolsapara que acórneasetometransparente.Essachamadaéuma mensagemquímica,assimoomoamensa gemtelefônica6eléWca. Mastrata-sedeumaverdadeiramensagem,portadoradesignificadoparaum informadoqueentende.Sabe-sequeurnaoómeatransparentepodeserinduzidanaepidermecomum seurnabolsaótica(apré-rettna)forcolocadaemcontatocomaepiderme,sejapeloexperimentadorou poralgumacidentenodesenvolvimento,emfaseprecoce.Aepidermeé"competente"- comodizemos embriologistas, usandournametáforaquenaverdadenãooé- pararecebereentenderasmensagens do tecidopré-retínlano.Semessacompeténda,ovefculoquímicodamensagemnadaé- assimcomo as palavrasdamensagemtelefónicanadasãopara umsurdoou paraumhomem quesofredesurdez verbal. Esses interajustasatravésdemensagens- quecolocamosolhosbemdiantedasórbitas- estáo porsuavezrelacionadoscomofundodo domíniodeconsdéndaprimárioorgánico, asskncomocada cantodapalavracruzadatemáticaestárelacionadacomofundodoconjunto.Seassimnáofosse,essa competénda dacórneade tomar-se transparente, assim comonáopoderiajustificar-se, na vidado adulto,pelosimplesesforçodeolhar,náopoderlatampoucoserexplicadapelosúnicosaperfeiçoamen toseinterajustessecundários.Otematismododesenvolvimentoorgánico,aexemplodocomportamen toconscientenasadaptaçõesdotipoB,édistribuidoduranteodesenvolvimentodemodoquecadaes boço,urnavezdeterminado(nosentidoembriológicodapalavra,istoé, “ umavezorientadopara...” ),é semelhanteaurnamatrizdentrodamatrizgeral,quevaisecompletandosegundoseuprópriosignifica do numa independênciaprovisóriaoudefinitiva, corrigidapormensagem químicadeajuste.Assimco-
3. Elta distinçáo foi salientada por P. B.Medawar em: “Problems of Adaptabon” {New Biotogy, 1951,11).
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mo um projetoidealizadoem comum,edepoisdistribuídoacadaum dosagentesdaexecução, deve seraperfeiçoadoatravés de inúmeros telefonemas. Fatos análogosaparecemtambém nasinduções recíprocas.4 Atribuirtudoaosimplesacasodemutaçõesquaisquer,nocasodasadaptaçõesdotipoA, é ain damais inverossímildoquefazê-loemrelaçãoàsadaptaçõesdotipoBpois,nesteúltimocaso, aindaé possível aleyar a escolha, pelo animal, de um comportamentogeral que pudesse canalizar as mu tações. Se oorganismoemformaçãonão“visse"asimesmo, nasuaconsciênciaprimária,elenão po deriafabricar para si mesmoolhos a fimde adaptaressa autovisão à visão (sensorial e cerebral) do mundoexterior.
As informaçõesmateriaisdasnucleoproteínasgenéticasdesempenhamumpapel mnemotécniconaformação,assimcomoasmodulaçõesmateriaisdàsproteínascere braisdesempenham um determinadopapel, subordinado,namemóriapsicológica. Con tudo,os fatos não mostramqueessasmicroinformações,estruturadasnoespaço, tor nam-seasformasanatômicasgerais,pelosimplesfuncionamento. Mas o fato de as nucleoproteínas terem a capacidade de "comprar” no “m onte" (no sentido usado no jogodedominó)de ácidos aminadosvizinhos eserem capazes de reconhecê-los,combina, então,como jávimos, comtoda aparteessencialdatese gnóstica. Pois o “comprador” encontra oqueele procura.Elenãofuncionaàscegas, eleage. As mutaçõesverificadasem laboratório sãoquasesempre superficiais e pertur badoras relativamenteàformageraldosórgãos.São muitasvezesmortaisedestruido ras. Elas suscitam, dentrodaorganização,encadeamentosmarkovianosqueseeman cipam. Essas fabricaçõesgeradasporacasosinternoslevam,comfreqüência,otema- tismo orgânico,assim comoo cavalolevaaquele queomonta, láondeelenãotencio- nava ir, eisso, quando elasnãoo"atiramparaforada sela".Ainvençãobiológica,co mo a invençãoestética, científicaou como a exploraçãogeográfica, é uma misturade sorteede habilidade, de espertezaede acasofeliz,de navegação porinstrumentose dedescobertasinesperadaspornavegantesdesviadosdesuarota.Semhabilidade,o acaso nada pode fazer. Sem uminformador consciente, as máquinas de informação nadasão. Os captadores e escolhedoresexternos só podemvirdepoisdoscaptadorese escolhedoresinternos. Não sãoos horticultoresenemmesmoosinsetosquepoderiamtercriadoflores, porseleção,apartirdo“ruído”dasmutaçõesfortuitasdasespóciesvegetais,sejánão tivessem existido captadores conscientes primários, temas florais supra-ordenados nasespécies vegetais. Os órgãosornamentais, osórgãos de defesaou decamufla gem dos animais provavelmente foram aperfeiçoados pela seleção dos parceiros ou dos predadores, mas depois ou junto com a açãoconstitutiva primária do organismo queseornamentaou sedefende,eque achavantajosooqueo acasopodelheofere cer. A insuficiência das mutações químicascegas nas moléculas genéticaseviden cia-se ainda mais nesse terceiro tipo de adaptação, próximadas do tipo B, que po-
4. Sobre asquais EtienneWottjustamenteinsistiu:osmembrosòoembriãodegalinhadesenvol vem-sesobainfluênciaindutorarecíprocadomesobiastodobrotodomembroedoepiblastoqueore veste.(Nota de 1977.)
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deríanos denominar adaptações do tipo C,eque constituem todas as técnicas exter
nas,ferram entas e máquinas mediante as quais aevoluçãobiológica se prolongaem evolução cultural.Os instintosanimaisjáutilizam todaurnatécnicaexterna:ousode materiais pa ra aconstruçãodos ninhos, paradelimitaro território,ou aindaocasode umpintassilgo-verde dasflhas Havaí,que usaespinhosdecactoem lugardopróprio bicopara caçarinsetos(ao passoqueseuscongéneresdasespéciesvizinhasjápos suem um b ic o comprido anatomicamente adaptado).Nohomem,océrebroéumaárea orgânica q u e permanece indefinidamente noestadodeesboçoembrionário,demodoa poderreproduzir, sem envolver-seorganicamente, órgãosexternos,ferramentasemá quinas, ao passoque os demaisesboçosembrionáriosacabamdiferenciando-se, irre- versr/elmente,noprópriolugarondeseencontram,emórgãosinternos.Ofatodeoes boçocard ía cotomar-secoração, oudeoesboçonervosotomar-secérebronão.repre senta um fenômenodiferente daquele mediante o qualocérebroadulto se torna, por suavez, um a espécie deesboço paraarealização,emtécnicaextema,debombasin- dustrais ou demáquinasdecalcular- de acordocomo estadojáexistentedessatéc nicana cultura humana,assimcomoaembriogeniadosórgãosedosaparelhosorgâni cos se produz de acordo com oestadoda técnica interna,de acordocom a fase da “cultura”orgânica. Não fa z nenhum sentidotentar procurar algumarelaçãodiretaentre determinada mutação dessemolde paraenzimas - queogene-,entrealgumanovaformamolecu lar ealgum comportamentoinstintivoadaptado aum circuito externo.Quealguma mu tação genética tenha alongado o bico deuma espécie de pintassilgo, é um fato con cebível. Mas isso não significa que ela tenha provocadoem seucérebroaidéia de usar,emlugardo bico,umespinho(cujousoteriaantes,porefeito,interromperasmu tações anatômicastomadasinúteis,assimcomoatécnicahumanadispensaohomem demutaçõesanatômicase,emprimeirolugar, deacomodamentosfisiológicos). Éfalarenáodizernada,tentarassociaraumasériedemutaçõesumcomporta mento instintivo complexo,de construção oude comunicação, no qual oanimal deve reconhecer determinadas situações, ser alertado por sinais-estímulos que voltam a despertar sua atividadeno momento certo. Qual ogeneresultadode mutação,qual a formamoleculargénicapoderiaexplicarofatode umatérmitesepôraconstruirum pi lar quando cada pequenotorrão de terra atingiu certadensidadecrítica? Ouofato de uma abelhausar uma dançaagitadaparaindicaràs suascongéneres adireção deal guma provisão de alimentoemrelação àposiçãodo Sol, levandoem contatambéma hora?E, se o mutacionismoéumapseudo-explicaçãoparaoinstinto,somos levadosa pensarque ele também poderiaserinsuficienteparaexplicar asformas anatômicas:o ferrãodaabelhae não apenasasuaMlinguagemn; obicodospintassilgos enãoapenas ousodeumespinhodecactoàguisadebico. Segundoatesedos Gnósticos,seaevoluçãobiológicapodeser“ interiorizada”nas iniciativas instintivas, nas técnicas voluntárias, naculturahumana- , é porque ela sempre foi “interior" - nasiniciativasdosinstintos formativos, natécnicaorgânica, na Uculturanorgânicasobaformadeumaconsciência primária. OsGnósticos se recusamaacreditar queo universosejaum Cego absoluto,ou umabengaladecegodirigindoumcego,primeiroinconscienteequenãovaiparalugar algum, atétransfonmá-lomilagrosamentenumaConsciênciaquesepusesseaquererir paraalgumlugar. 88
CapítuloXI
ESTAMOSVIVOSDESDEOPRINCÍPIODOMUNDO1
Dizer "Eujáestoumorto”é puraloucura. Dizer‘‘Eu aindanãomorri” éenunciar umantiparadoxo.Aasserçãoseverificaporsimesma. Masos Gnósticosvãomais longe- mais umavez seguindoafiligranadaciência mais positiva. Eles propõem a seguinte fórmula: “‘Eu’ ainda nunca morri, desde o princípiodo mundo”. Basta tomaro"eu” num sentidoamplo,comosinônimode “indivi- dualidade-sujeito”.As duas células germinais de onde o “eu” seoriginou se fundiram sem aniquilar-se,sendo cadauma resultadodeumabifurcaçãocelularque,tampouco, representouqualqueraniquilamento. A individualidadebiológicadeondeemergiuomeu “eu” remonta sem interrupção, de geração em geração,às célulasvivas mais primiti vas, e essas, por sua vez, às moléculas pré-vitais, às individualidades “físicas” que subsistem notempopelacontinuidadesemântica de suaatuação.Nenhumaconsciên ciaquediz “eu”, nenhum neurônio cujasligações manifestam essaconsciêncianoes paço,nenhuma céluladeumservivoatualjamais morreu - nem mesmoaquelacélula epidérmica que se resseca e acabadestacando-se de minha pele. Nenhum ser vivo atualjamaismorreu.Todosremontam,comoeu,aoprincípiodomundo. A probabilidade a priori de umatal sobrevivência porparte de uma célula viva atual é incrivelmente baixa (muito maisbaixadoqueganharmil vezesemseguidana loteria).Quantasdassementes formadas poraquelabétula, ou dosovosformadospor aquele arenque, ou dosespermatozóidesformados poraquelehomemconseguirãode senvolver-seatéa faseadulta?E, qual seria a proporçãodos sobreviventes-entre-os- sobreviventes-anteriores,selevarmosemcontaumalongaseqüênciadegerações? Por outro lado, porém, a continuidade vital-consciente, longe de ser precáriae frágil,éao contrárioessencialmente sólida,edeve essasolidezatodasassuas“mon tagens” orgânicas ou mecânicas. Todos os mecanismos, todos os instrumentos fa lham,paramde funcionar;os mecanismosauxiliaresantifalhastambém param,porsua vez, de funcionar. Somentevulgarizadoressemconhecimentooucientificistasdogmá
1. Quenoesejapermitidolembraraosleitoresfrancesesque,tambémsobreesteponto,jáhavíamos sustentadotesesanálogasàsdosGnósticosamericanos.
ticos conseguem acreditar que máquinas cibernéticas sejam capazes de automanutenção,de auto-restauraçãoedeauto-aperfeiçoamento,semasupervisão humana. Só
a consciôncia-vida éabsolutamente antifalha- eodemonstra,de fato,aodurarindefi nidamente. Oqueinduzemerroéqueaquase-totalidadedosseresvivosatuais,edesuas células ou elementos constituintes vivos,estáfadada a morrerdentrode algunsanos ou de alguns minutos.Como odizia umfísicode Prínceton, umespermatozóidetemna verdade pouquíssimas possibilidades de se tomarpresidentedos Estados Unidoscomo também tempouquíssimaschancesde setomarumserhumano adulto,embora, sem chegar a ser um homunculus, como os “espermatistas" acreditavam no século XVIII,2elepossavirtualmentedizer“eu”. Os cemitérios estão lotados. Como cantaOmar Khayyamem meioàs suas li- bações,caminhamossobreoscadáveresdeantigosseresvivos.Milhõesdeespécies desapareceram,enem sequertemos seusesqueletos- ousuasconchas.Sim,porém há milhões deespéciesebilhõesdeanimais e homensque ainda subsistem.E éisso queépreciso vereentender,antesdeentender- muitofacilmente- amortedeantigos seres vivos aindamais numerosos, levadosàmortepelaprecariedadedesuasmáqui nassubordinadas. E a vida consciente que dá sua resistênciaàs máquinas,e é a fragilidade das máquinas, e não ada vida,que provocaaprecariedade - totalmentesecundária- da vida. Aolado dos cemitérios humanos, temosos cemitérios deautomóveis. Forados cemitérios, outros homens vivem eoutras máquinas rodam. Mas éevidente que, se elas rodam, é porque homens vivosasconstruíram,“pensando-as”,e cuidam desua manutenção.Muitos homenssãovítimasde acidentes de automóvel:os cemitériosde automóveis sãoacausa de uma partedos cemitériosdoshomens.Masnão éporque os homens sãofrágeis queosautomóveis são frágeis.Aocontrário,é pelo fatodeos homens serem muito menosfrágeise, atémesmo,seremantiacaso,antifalha, antimor te,queaindaexistemautomóveis. Etotalmenteabsurdoinverterascoisaseassociarasubsistênciadoshomense dos organismos à subsistência mecânica,em algumaparte deseus corpos,de suas máquinasinternas:moléculasemestadodeconservação,ouNDA.Bilhõesdemãosou de olhos humanos transformam-se em pó nos cemitérios. Masa môo, como tipode órgãovivo, subsisteevem evoluindodesde osprimatas, nossosancestrais,eapartir dos órgãos, de tipo diferente, dos quais deriva semánticamente- ao passoqueas obras queessa mesma mãoproduziu sósubsistem,emseus ‘'descendentes"mecâni cos, se continuarem a ser “pensadas" por seres vivos. É absurdo associar a sub sistênciadamão vivacomo“tipo"àsubsistênciadaminhamãoatualemsuaqualidade de tenaz muscular sólida.E éigualmenteabsurdo associar essasubsistênciatípicaà subsistência mecânicaouquímica dealgumas moléculasnos cromossomos.Istoequi valeaexplicaroautomobiiistapeloautomóvel,por umaespéciede“automóvelinterno” queotransportaria,semnenhumafalhanomotor,atravésdotempo,durantemilhõesde anos,independentementedesuavontadeesemelesaberdisso. 2. Osespermatistasacreditavamqueoespermatozóidedomacho continhatodasaspartesessen ciaisdoembriãoeatómesmodohomemadulto.Segundoalguns“ espermatistas*’,cadaespermatozói deeraumaespéciedehomunculus. (Nota de 1977.)
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Ascontinuidades“ infladas”notempo Já sabemos que, para a Gnose, nenhuma continuidade (ou “genidentidade”) é materialou energética:elaéessencialmente semântica,feitadesignificado.Masos se res vivos, as linhagens vivas, salvoalgum acidentemecânicointerno ou externo, não se limitam anunca morrer,apesardadesordem e do“ ruído-de-fundo”do universo.Mui tas continuidades - a maioria - limitam-se asubsistir notempo.Éocasodos átomose dasmoléculasque,porisso,sáoconsideradosnão-vivos. Todavia,existemoutrasque mudam, evoluem, parecem inflar-se a partir de seu próprio passado- ou de alguma fontedesconhecida.Asespéciesbiológicaspossuem,evidentemente,algomaisdoque as espéciesquímicas. Suasubsistência, sempre mais “informada",mais“ciente”, não é, apesar do que possam afirmar Schrõdinger e os geneticistas, a subsistência sem progresso das moléculasdeum cristal, quenada aprendemalém do quejá sabem fa zerdesdeque foramconstituidas,quenãose informammais,que refazemsempararo quesemprefizerame só conhecem aquilo,nãotendointeligência,ou antes,sendolimi tadas, não como "coisas” (já que há "coisas” no universo), mas comodomínios de ação repetidosaoinfinitoe simétricosnotempo.Elas sãooquesãoporqueelasfazem oquefazem; elas nãofazem oquefazemporqueelas sãooquesão. Massemprefa zemamesmacoisa. Um ser vivopropriamente dito,peto contrário, faz oquefaz levando em conta o queele jáfez. Oseu” aqui-e-agora” éinflado pelos seus “aqui-e-agora”passados.Se pegarmoso casoextremo,um homem vivonãoôapenasoseuprópriopassadoindivi dual;eleétambémopassadodasuaespécie,dasualinhagemindividualizadaespecí fica. Ele é primata, mamífero, vertebrado. O embriãohumanoainda sabe tudo o que souberam fazeros embriõesde seus ancestrais, humanosepré-humanos. Ele ainda se lembrado tempo em queele encontrava, para seudesenvolvimento, uma reserva nutritivadentrodoovo,eacabafixando,em conseqüência,um esboçodecirculaçãovi- telina, comoseainda existisseuma“gemadeovo”, antesde estabeleceracirculação placentáriadeseusancestraismamíferoseantesdeprepararacirculaçãopulmonarde suafuturavidadeadulto. As linhagens de continuidade temporais dos indivíduos não correm indefinida menteparalelas umas àsoutras. Nãosão tubos fechados,soldadosejustapostos,co moostubos de um órgãode igreja. Elasseentrelaçam,se separamevoltamasefun dirdentrodas divisões ou fusõesdedesenvolvimentooudereprodução.Existe todoti po de transição possívelentre asdivisõescelulares de desenvolvimento(individual)e as divisõesde reprodução(que resultamem dois indivíduos,distintos noespaço).Cir cunstânciasínfimaschegamadecidirsedeterminadadivisãocelularcontribuiráparaa diversidadedos tecidos e dosórgãosdo mesmo individuo, ou se irá resultaremseres gêmeos. Inversamente,duascélulasinicialmenteseparadasnoespaço,podem unir-se, transformando-se novamentenumúnicoser.Todoser vivoé,portanto, “gêmeo idênti co” de seus pais. Ele é o mesmoser queo serde cada um deseus pais, num outro momento do tempo, assim como dois irmãos gêmeos idênticossãoomesmoserem dois lugares doespaço. Aúnicadiferença(entregêmeos idênticos notempoegêmeos idênticosnoespaço)équeo“gêmeoidêntico”notempo“temtempo”paraacrescentar (algo infinitesimal) ao tesouromnêmico queele dividecom o membrodo parque éo seu parente.Sem falar, é claro, no fato de que, na reproduçãosexual, eledispõede umamnemotecniagenéticaquecombinaaoacaso"sinais”mnêmicostiradosdosdois
pais, s e n d o ele, portanto, antes umgêmeo fraterno do que um gêmeo idêntico. Masos casos d e partenogênese,dereproduçãoporcissiparidade,mostramqueacomplicação
sexual n ã o tem,aqui,nadadeessencial. E s s a “informação mnêmica" seria então uma metáfora? Um produtoda imagi nação, indignodo rigorcientífico?De forma alguma. Aocontrário, éo conjuntodeima genssu pe rfic iais queinduzemerroequefaz comqueoobservadoracreditequeavi daéum funcionamentoatual,eamorte,umaparadadefuncionamento. U m homemmorre- digamos, num acidente detrânsito,externoouinterno.Seus órgftos m aciços paramimediatamentedefuncionare, logodepois, suascélulaseteci dostam bém . Mas oseu corpoparecesubsistir(comou semos cuidadosdos embal samadorestãoocupadosnosEstadosUnidoscomooeramnoantigoEgito).Porém,lo go"ele” ficará reduzidoapó, oquenos levaa pensar queeledeveria - semainércia puramente mecânicadeseusconstituintesmateriais- transformar-seempónopróprio instante de sua morte.A subsistênciamomentânea do corpoéqueé uma imagemen ganadora,quedeveserretificadaporumacontra-imaginação. Acelerem os o tempo. Teremos então uma imagem e, em conseqüência, uma idéiamuitomaiscorretaeprecisadamorte.Aquelehomemvivia,falava,agia,sobresi mesmo e sobre os queocercavam, sobre os seresvizinhos,esobreaspropriedades e máquinas de que cuidava. Ele morre. Instantaneamente (no tempo acelerado), seu corpo e su as máquinas ficam desinformados e reduzidos apó. Assim, por exemplo, umalimalha de ferro, disposta segundo as linhas de força de um campo magnético, umavez desaparecido essecampo, logo sereduzasimplespóem desordem(oucom uma ordem aparente agora apenas residual e precária). A comparação é somente aproximativa, poisocampomagnético, queligaeinforma,nãotem memória- pelome nosnenhuma memória acumulável. Namorte do homemoudoseuorganismo, nãoé apenas a informação atualque se desvanece de repente,étodoo-seu-passado-que- contribui-para-a-informação. “Ele” perde seu passado com a sua consciência. Aquilo quese form ara em todaasua linhagem durantemilhões de séculos,o quepassarano espaço e no tempo atravésdeumalenta informaçãocriadora,e que“ ele” conservara semruptura, tudo aquilodesvanece,desaparece, forado espaço.Seo procuramos, é por hábito. O quepermanece, é apenas pó e alguns quilos de carbono, de vapor de água,de moléculasde ferro, desal, queatuamtão-somentedeacordocomseushábi tosquímicossimplistas. Nenhumasimetriaentreonascimentoeamorte- ouépura imaginaçãoacreditar quehajaalguma.Nósaindanuncamorremos;amorteéumacontecimentosemprece dentes.Semprecedentesesemreversibilidade.
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CapítuloXII OJOGODOTEMPOINVERTIDO
Imaginemos otempo,nãoapenasaceleradomas invertido.Nosentidonormal,os seres vivoscrescemesedesenvolvemprogressivamente- elentamente, mesmo com umaforteaceleraçãoimaginária.Maselessereduzemapóinstantaneamente.Aacele ração, domesmo modo como faz pareceremmaisvivos emais conscientes o cresci mento dos vegetais e seusmovimentos, os gestostafeantesde suasgavinhas oude suas raízes,fazcom queapareçam mais claramenteostematismos, asconsciências, ossignificadosprimáriosquemodelam(pormutaçõeseacasosinterpostosquesãouti lizados)osórgãosvivos,assimcomoumaaceleraçãomoderadafariacomqueaescri ta, elaboradapor meio de um autômato queteclasse ao acasoletrasqueum homem escolheria em vez de formá-las diretamente, parecesse tão rápida e tão puramente conscientequantoumaescritadireta. Avidaeamorte,aorganizaçãoeadesorganizaçãocontinuariam,entretanto,as simétricas,comoosdentesdeuma serra. Aorganizaçãoóprogressivaecompreensí vel (quandonão,explicável).Adesorganizaçãoeamortesãoinstantâneasedestruido ras de significado. Em um filme acelerado, mas rodando no sentido normal, as for mações e criações orgânicaspareceriam, sem dúvida, mais semelhantes a criações humanasdeobrasdearteouainvençõestécnicas demáquinas.Nãohánadade es tranhonisso,jáqueocérebrohumanoéjustamenteuminstrumentodeaceleraçãodas invençõesorgânicas. Mas elas não pareceriam ser nem maismilagrosas nem mais mágicasnemmaisincompreensíveisdoqueasinvençõesecriaçõeshumanas. Contudo,numfilmeaomesmotempoaceleradoeprojetadonosentidocontrário, nãohádúvida queestaríamos,então, em plenamagia eem pleno absurdoao mesmo tempo.Saindo dopó,semomenor sentido,surgiriaumhomemvivo,doente ou ferido, porémvivo,equenuncadeixariadeestarvivo.Queumaglandesetransformeemcar93
valho é um fato inexplicado(apesar do que os geneticistaspossamafirmar),masnãoé
um íato absurdo, incompreensível.Mas,que um montedecinzas, poralgumprocesso àsavessas, se transformeinstantaneamentenum carvalhoadulto,isso pareceriamila grosoeabsurdo. Além do mais, os seres “saberiam”, sem ter sido informados porfótonsoupor fônons.Se filmarmos um animal avançandoedesviando-se dos obstáculos,ao proje tarmos ofilme no sentidocontrário, veremos queo animal,andandoparatrás,desvia sepor premoniçãodosobstáculosqueelenãoviu.Tendoultrapassadoessesobstácu los em sua andança paratrás, ele continua sem vê-los, na realidade, pois são seus olhos que projetam fótons sobre os objetos (como na concepção pré-cientíTica da visão). Esses exercícios de imaginação náo são jogos arbitrários.Elesencobremuma análisecientíficarigorosa.Acausalidadeautêntica,emoposiçãoaessapseudocausa- lidade queseria um funcionamento segundoodeterminismo,é sempreumainformação ativa, queocorre no espaço, que se insere no espaçoe modifica temáticamente os domíniosestruturadosatuais. Consideremosumamesade bilhar:duas bolas imóveis eaboladojogadoratin gindo aprimeira,edepois asegundabola, comunicando-lhes sua quantidadedemovi mento.Emseguida,astrêsbolasparamderolar(peloefeitodosatritos).Filmemostudo isso, projetando a seguiro filmeaocontrário. Para amecânica,todos os movimentos ao contrário são perfeitamenteortodoxos. As leis de conservação (da quantidade de movimentoedaenergiacinética)sãorespeitadas. Odeterminismoclássico tambémé respeitado.Se abola A atingeabola B,pode-seconsiderarigualmente que éabolaB queatingeabolaA,eofilmeinvertidoparecetãonaturalquantoofilmenormal. Entretanto, oconjunto do filme invertido parece uma seqüênciademilagres. As bolas se põem emmovimentoporconvergênciamilagrosadepequenos movimentosde bilhões de moléculas do feltro. Seus movimentosterminam,pormilagre, no únicomo vimento deuma bola que vem atingirotaco seguradopelo jogadorcujos músculos se contraem, capitalizando pormilagre a energia, eenviam um influxo aocérebro,oqual esqueceou “anticoncebe” a idéiaque eletinha da tacada a serdada ao ver a dispo siçãodasbolas- oinfluxocerebralindot eletambém,nosentidocontrário,istoé,daárea motoraparaaáreavisual.Umesquecimentototalsucedeaumapremoniçãomilagrosa. Na fase dos movimentos mecânicos, não existiria milagre na inversão se hou vesse ligaçõeselásticas (nosentido geral)unindo asbolas: nãoficamossurpresosao verobalancimde um pêndulosubirdenovo,ouumramoflexívelendireitar-se.Se hou vesseligaçõeselásticas cerebraisdomesmotipo,ojogador, comoopêndulo,passaria da idéiada tacada a serdada para a suaexecução, voltando depois a subir,da exe cuçãoparaa idéia,eassimindefinidamente.O sentidonormal do tempo éaconsciên cia visual da disposição das bolas, que transforma as bolas, isoladas materialmente sobre a mesa, em imagens-de-bolas-num-domfnio-unitário, evocando (na regiãocere bralmotora)umesquemadatacadaaserdadasegundoasregras. A consciênciaé,defato, aformaçãodeligações“elásticas",masnumsentidoto talmente novo, dominial, e sem“encadeamento".A consciênciapossibilitaa inserção, no funcionamentofísico,de um tema-de-tacada-com-algum-sentido.Executadaataca da, as "ligaçõeselásticas"cerebrais são rompidas,as bolas voltama serobjetos mó94
veissujeitos às leis da mecânica,e só restaaojogadoresperar, sempoder influir m a gicamente com seu pensamento,sobre asdireçõesdos movimentos(embora se m p re procurefazê-loinstintivamente). Mas, nomomentoem que atacadaé concebida,é precisoentãoquealgove n h a inserir-se na mecânicacerebral:os neurôniose asmoléculasdosneurôniosainda não poderiam sercomo bolas sobrea mesa de bilhar.É precisoquealguma coisaas u n ifi que para quea percepção dascircunstâncias e,depois,aorganizaçãodaação, sejam possíveis. Esse algo éotemaevocado, transversoaoespaço,equeconfereaod o m í niocerebral,noseu“anverso"deconsciência,umcomportamentoflexívelesensato. É essa inserção que faz otempo progredir numsentido irreversíveletorna im possível a "operação T” (inversãodo tempo dos físicos) no mundo real. Osdeterm i- nismos reversíveis, as reversibilidades mecânicas, as oscilações elásticas não p a s samde fatos-limitedevidosaelasticidades porencadeamento, a interações não-dom i- niais (ou, pelo menos, num pó de microdomínios). Não podemos nosobstinaracre di tando que tudo deva serexplicado atravésde um determinismoobservávelounão , já que existe um sentidodotempo, ou acreditandoqueoindeterminismoé apenasn egati vo, ou não passa de um simplesjogodeixadonosfuncionamentosestruturais atuais. Se assimfosse,umfilmeprojetadono sentidocontrárionãodeveriaparecerabsurdo ou mais milagroso do que um filme projetado normalmente. É precisoqueocorraalgum a inserçãotransversa ao espaço- digamos, alguma idéia de manobra jáque ex iste um progresso irreversível do tempo. A causalidadeé ativa.A vidaconscienteinforma constantemente, modificando-o e orientando-o, o funcionamento dos mecanismos mi- crodominiaisqueela domina. Num filme projetadoao contrário,os fragmentosdeumpratoquebrado voltam a colar-se por si mesmos, semcausa.No ato deuma consciênciaqueseinforma ein venta,osfragmentosdeumatotalidadeintelectualpossívelsecombinamcomoquepor simesmos, sob aaçãodealgumsentidoou de algum temaentrevisto.ArthurKoestler comparou a sfntese newtoniana, depois de Kepler e Gaileu, a uma “ explosão pelo avesso". Duas coisas pareceriamtão pouconaturaisuma como a outra: uma que, no conceitode Newton,asíntesese redissocia,eaoutraque, narealidadefísica,osfrag mentosdeumpratoquebradovoltamacolar-seporsimesmos.
AsinversõesespaciaiseaInversãotemporal Sabemos queainversãonumespelho(porexemplo,ainversãodeummostrador derelógioque fazcomqueomovimentodos ponteiros pareçainvertidoemrelaçãoao temponormal) equivale até certopontoauma inversãodotempo(emumfilmeinvertido - espécie de"espelhotemporal”- os ponteirosdo relógiotambémfuncionam ao con trário).Masaanalogia é apenasparcial:umfilmeinvertidonáoinverteadireitaeaes querda,eumespelhonãofazaparecerasduashorasdepoisdastrêshoras. Assim, também, a inversãode carga(operaçãoC, que inverteas cargas positi vasenegativas,eproduziriaantímatéria)assemelha-se,atécertoponto,àinversãodo tempo. 95
aniquilaçàodepares
/ 9
\
^
\ e -\
1 VJ/ ^ e -\
e+ /
criaçãodepares
tempo
Nos diagramas de Feynman, aemissão de umaantipartículaequivaleàchegada deumapartícula.Oelétronpositivo,ouposltron,éconsideradoumelétroncomumne gativo,masqueremontaocursodotempo.1 Mas a inversãodotempo(operaçãoT)resisteàstentativasdereduçãoà sime tria perfeita. Um universo que fosse submetido à operação C, ou àoperação P (in versãodecargaouinversãoemespelhoespacial),nãoseriaabsurdo,em princípio.Ao passoqueouniverso,depoisdaoperação T,éabsurdo, poisnãoémais“causar.Ele éumteatrodemilagrespermanentes.2 E, maisainda, parecequeas resistências, parciais, darealidadediantedasope raçõesPouC,sãodevidasàssuasresistênciasfundamentaisàoperaçãoT.Assim,a inversãodecargadoelétronnodiagrama,interpretadacomoumaregressãonotempo, embora nadatenhadeabsurdo emsi(contantoqueseconsidereisoladamente aparte datrajetóriana qualoelétronépositivo), chegaaserabsurdase considerarmosocon juntodastrajetórias dostrêselétrons(umdosquaisépositivo)comoumaúnicatrajetó ria de um único elétron, fazendo um ziguezague no espaço-tempo (seta pontilhada). Pois, nesse caso, deve-se presumir queo elétron positivo, em vez de encontrar por acasoum elétroncomum- oqueproduz aaniquiiação - , é apenasuma partedavida deumelétronúnico,queutilizafótonsenergéticosnomomentocerto,paradarumavi-
1.ignora-seem queconsisteacargadeumapartícula.Mas,elapodeserpositivaounegativa,por tantoanálogaaoque podemser“ um objetoesuaimagem"em um espelho,ou“ ummovimentoesua imagem"em um filme projetado ao contrário. Osdiagramasde Feynmanesquematizamastransfor maçõesdaspartículasemcolisãoepodemserlidosnosdoissentidos. (Nota de 1977.) 2. Cf.R. Gouiran: Particules et accélérateurs, Hachette, 1967, p. 130:“ Overdadeirofenômenoin vertido,notempo, daexplosãodeumnêutronquegiraaocontrárioseriaaqueleondeveríamosprecipi tar-se,um contraooutro, umpróton,umelétroneumantinêutron,paracriarumnêutronquegirasseno bomsentido."
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radano espaço-tempo,como seprevissequeum físicofossefazerumaexperiênciade materializaçãooude desmaterialização. O queseriaumfeitoaindamaisimprováveldo que o da fumaça acorrendode todos os cantosdo horizonte paraentrarno buracoda chaminé, ou oanimaldesviando-sedeobstáculosqueelepróprionáo percebe. O mesmo pode ser dito da operação P (inversão por espelho espacial). Meu quarto, visto num espelho,nada temde absurdo. Masse eu quiser fazerumdesenho seguindo aimagemdo espelho,terei certa dificuldadedevidoaosmeushábitospsíqui cos, istoé, devidoàs minhasmelodias mnêmicastemporais.Oquepermitesuporque, namicrofísica, anão-conservaçãoda paridade (ou a conservaçãoda imparidade)está ligada,ela também,aumaespécie de hábito quase-psfquico das partículasenvolvidas (nas interações fracas com neutrino3). Porisso, um físico gnóstico propôs chamar o neutrinode“mnêmico”.
A“ elasticidade” semântica Existeumacertareversibilidadeentreotemaorganizadorconscienteeaestrutu ra no espaço dominial, entrea informação(nosentidodetomarconhecimento)eain formação(nosentidoativodeorganização).Hápassagemnosdoissentidos.Veruma disposiçãoestruturalevocaotemasignificante,epensarotemalevaaumadisposição correspondente. O atode perceberlevaaoatodereorganizar,eareorganizaçãomodi fica o “percebido”. Um pensamentoativo,que produziuporexemplo umtexto claroe inteligívelparaele, pode morrer,deixandoessetexto,suscetíveldepermanecerincom preensível porum longotempo, como um cadáver reduzidoa pó.Aparece, então, um outropensamento queressuscitaesse texto,portê-lomeditadoeentendido,ou portê- lo percebido segundo o seu próprio sentido. Esse texto,maisexatamente,ressuscita numoutropensamento. Toda obraculturalpassa normalmentepor essasalternânciasdemorteederes surreição. Umabiblioteca semleitores éum columbárío decadáveres.Todasasobras humanas estão mortas, à noite, na cidade adormecida, e ressuscitam na manhã se guinte. Culturas mortassãoreanimadaspelos historiadoresou arqueólogos. É bastante raroqueessa reversibilidadeseja perfeita.Assimcomoocorrecomumatradução,toda tradição perdida e depois retomadatrai o seu original, mas às vezes, tambémoenri queceaoinseriroutrossignificadosnasobrastransmitidas. No entanto, essa reversibilidade não pode de forma alguma ser explicada pela reversibilidademecânicadeum funcionamento. Otextomaterialnãopodeauto-ressus- citar-se. Do mesmo modo, o movimentodasbolasnãopode (comono filmeinvertido) precedere refazera idéia eaintervenção organizadoradojogadorde bilhar.Areversi- bilidadesemânticasófuncionadentrodacontinuidadedas consciências. Seaespécie humanaseextinguisse,asbibliotecasestariamdefinitivamentemortas. Acabamosvoltando, então, ao caso das individualidadesduradouras,e quepo dem seraperfeiçoadas no tempo, pois são capazes,não só deinformarativamenteo
3.Oneutrino 6umapartículaemitidasimultaneamentecomoelétrondurantearadioatividadebeta. (Nota de 1977.)
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e s p a ç o , nelas mesmoe ao seu redor, mas ainda porque conservam e recolhem seu p ró p rio passado, ao mesmo tempo em que inseremtemastransespadaisnoespaço, num a memóriainventivaounumainvençãoauxiliadapormemória.
Capítulo XIII OS PARTICIPÁVEIS E O PARTICIPÁVEL UNIVERSAL TalvezestejaaquíachavedetodaafilosofíadosGnósticos.Paratodaindividua lidade dominial, consciente e subsistindo no tempo, existem dois modos de serinfor mado: porobservaçãoeporparticipação;observandoosoutrosnoespaço,graçasaos fótons,ouaos fónons, ou a outras partículasouondasqueessesemitemoureemitem, e participando de temas transespaciais ou do seu própriopassado - oqual, lembra mos,jáquenenhumservivojamaismorreu,estende-separamuitoalémdonascimento individual,remontandoatéoprincípiodavidaedouniverso. Ficamosinformados sobreosoutros observando-os,ouantes,observandoseus comportamentosmanifestados,suasobras,olhando-osououvindo-os,jáqueatelepa tia ou a intuição simpática - presumindo-se que elaexista- não estácientificamente comprovada. Informamo-nos sobre nós mesmos, não “consultando” a nossa própria memória,ouobservandoanossamemória,comoseessefossealgumregistrooulivro deimagens - como costuma-sedizer,às vezes,por metáfora- masparticipandodos nossos outros “eu” mnêmicos evocados pelo “eu" atual ou quese apoderamdo “eu” atualporsuaprópriainiciativa. Náose fala apróprialínguamaternaconsultandoalgumagramáticaoudicionário interior, assim como um computador faria,fazendo passarcertos circuitos, de acordo comseusprogramas, porsuas memórias magnéticas.Aofalar, "eu" sou“participado” pelofrancêsoupeloinglésquemeinforma,quefazdemimum"eu"misto,“possuído”, ao mesmotempoídeo-motor,emnémicoouinventivosegundotemasgeradores.Minha línguamaterna metomanastrajetóriasquelhesãopróprias,meinspiracomoum“pon to" íntimo, me assimila, depois de tersido assimilada subconscientemente na minha infância. A aprendizagem tardia de uma língua estrangeira (que começa com infor mações objetivas) quasesempreacabatransformando-se,quandobem-sucedida, nu maquase-participação (que provavelmente seaproveitada préviaassimilaçãode uma língua materna, já que as “crianças selvagens”, passada a época de assimilação lingüística,nuncamaisaprendemafalar). Oinstintoémanifestamentemuitosemelhanteaumalínguamaterna,paraoani mal.Aúnicadiferençaéqueoanimaléparticipantede...(ouéparticipadopor...)um ou tro “eu”que guia,quenão éumoutro“eu”individualmas,sim,um“outro”supra-ind ivi- dual, umamemória específicacujopoderinformantenãoépercebidopeloanimal,e que 99
náo é ne nh um objetopara asua consciência e, sim, umsujeitoativodentrodele. Esse
"sujeito instintivo”, essa participaçãoinstintiva prolonga naturalmente aparticipaçãode desenvolvimento.Osinstintosdecomportamentoprolongamosinstintosformativos,is toó,oatodeparticiparnosoutros“eu"mnêmicos,responsáveispelaembriogênese. O animal emdesenvolvimento nãoé como uma peçafabricada,moldada numa máquina automáticade acordocom um gabaritopreexistenteno espaço. No princípio, uma simples célula,depois um esboçooudomíniodeesboços,elesedesenvolveese diferencia, assim como a consciênciadoadultopossuído pela“ aura” de umalembran ça, se diferencia e passa do esboço mnêmico para a realização estruturada da lembrança. Oorganismoé“umdesenvolver-se",assimcomoaconsciênciacerebralé“for madorad e imagens",“memoriante”,“ falante”,naformaativa,enãoénenhumrecipien te de imagens quase-materiaisou de “padrões’'jáprontos decomportamento.Suaati vidade não élivre,jáque, normalmente,aembriogênese repeteaespécie.Nãoélivre, mas náo é tampoucoum-fundonamento-segundo-um-determinismo.A “determinação” dequefalamosembriologistas,quandoqueremdizerqueumesboçoestádestinadoa uma certa diferenciação, nãoé “determinista”, apesarda etimologia da palavra. Mas tampouco ó “livre". Estâ além dessa oposiçãoconvencional. Aatividadeformadoraé uma atividade possuída, participada.Oesboço embrionário, primeirosem orientação,e depoisdeterminadopelachegadadeumindutorquedesempenhaopapeldeevocador mnêmico,é captadoporumtema informante,porum“outroeu"biológico. É um postuladonáo verificadoadmitir umaúnicafontede informação: um objeto observadoe conhecido. Podemosnos informar também“ pelaoutra extremidade”,par ticipando de um“segundo sujeito” , já informado- assim como, além da alimentação normalpara umorganismo,existe aalimentaçãopor sondaouporinjeçãointravenosa. Enquantoo conhecimentocomumé informaçãotrazidapor umobjeto, aparticipaçãoé informação trazida porum sujeito. Trata-sede uma telepatia interna. Alémdisso, en quanto a observaçãose fazno espaço, do aqui paraoaqui, ainformaçãoporpartici pação ocorre do transespacial para o espaço. Pois o “outro eu", mnêmico, biológico, lingüístico,situa-seforadoespaço. É sobre esse ponto que a Nova Gnose maisse afasta da ciência clássica.A ciênciapositivaclássicanãopode,éclaro,desconhecerumfatotãoimportantecomoa participação.Sóque elao disfarça, reduzindo-oaosimplesfuncionamentode umaes trutura atual,deuma memóriainscritanasproteínas orgânicasou cerebrais.Elafazdo homemque se lembra,do animal quesegue seuinstinto,doorganismoquesedesen volve,umaestruturaatual,quefuncionanoatualefazpassarsimplesmenteoscircui tos de efecção pelo desvio da “leitura” de algumestoque mnêmicosemelhanteao de umafitamagnética. Ou então, no caso do desenvolvimentoembrionário,elaconsidera odesenvolvimentocomo umaespéciedetranscrição,em traduçãoao pé daletra,das informaçõesinscritasnosgenes.Ouseja,consideraauxiliaresmnemotécnicoscomoo essencialdamemória.
Ascontradiçõesda memória-vestíglo A participação mnêmicaé sem dúvida não-milagrosa, no sentido de queé cha mada e suscitada porconstelações atuais,porevocadores, por sinais-estfmulosepor 100
oportunidades.Mas ateoriadamemória-vestígio,dopassado conservado sim plesm en te como vestígio atual, não deixade ser literalmente absurda. Não faz sentido achar que os acontecimentos percebidos e os atos executadosse inscrevem no espaço, e queotempopassadoéuma inscrição atual sobre opapelou omármore. Se essa ins crição modificaapenaso funcionamento atual do seu suporte, em que m edida existe memória ou “agenda"? Um disco colocado na vitrolanão “se lembra” . A quase-subs- tancialização constituintede umaidentidade temporal que diz virtualmente “eu" é algo completamentediverso. A velha teoriada memória-vestígioé uma herançada ciênciaclássica. Trata-se de uma teoriacaducaeinconciliávelcom afísicacontemporânea.Os átom os do papel, do mármore, das proteínas cerebrais,dos DNAgênicos,são porsuavez açõesestruturantes e não substâncias materiaisqueseriamdotadasde uma estrutura e que fun cionariamdeacordocomessaestrutura. Ateoriada memória-vestígioécaducatantoquanto ateoriadoátomoque fariao que faz porele seroqueé,ouateoriadoétersuportedasondas.Namedidaem queo átomo é o que é por fazer o que faz, não podemos mais recorrerainscrições sobre substratomaterial, ainscrições sobreoespaço- vistocomo umpapel,ummármoreou uma ceraprimordial - para explicarumaindividualidadetemporal.Apassagemdotem po,o“processo”, é primário, eo tempoqueparticipadelemesmo, naslinhagensbioló gicaseemtodasas individualidadesverdadeiras,apesardeserum fatomisterioso, pe lo menos não pode serexplicadorecorrendo-se ainscrições sobreoespaço.Eessa participação que explicaaquase-substancialização. Esta, porsua vez,nãopode ser explicada pela presença de substâncias materiais dispostas desse ou daquelejeito. Nãodevemosinverterasquestões.
Participaçãoetelepatia “ Participar de...” nâo é“confundir-se com...” . “Participar de seupassado" nãoé “voltarao seupassado". Umretornopuro(aoseuprópriopassado) nãopoderiaconhe cer-secomotal:seriaumadesordemnotempo. Assim também uma telepatia propriamente dita- se a telepatiaexistisse - não poderia conhecer-se comotal, e seria umadesordemnoespaço:omeu“aqui”confun- dir-se-iacomo"aqui"dooutro,enãosaberiaqueeleéo“aqui"deumoutro. Namedida em que todo “aqui" é dominial e não-pontual, nãohádúvidade que existe, defato, umaespéciede alteridade interior (quepermiteprincipalmente as bifur cações,os desdobramentos e asfusões das partículas,das célulasvivas,dos esbo ços embrionários, equetambém permitequeum domínio controle subdomínios subor dinados); mas não há telepatia, já que o outro interior,o outrodominado,não estáá distância. Como adulto, eu observoos outros, conheço-os,não participodo seu “eu". Provavelmentehouve umaépoca,durante aminhaexistênciaindividual,emqueeu te riapodidooudesdobrar-meespecialmente- eu teria sido,então,membrodeum“par” , eteriaumirmãogêmeoidêntico ourefundir-mecomo“eundeumoutro,noestadode célulaprimeiro separadae depois refundida.Masagoraétardedemais.0outroencon tra-seàdistância,eatelepatiaentreseresadultoséinverificável,eprovavelmenteuma lenda. 101
Umaparticipaçãopura como adotempoparticipandodelemesmo,dotempopre sente participandodo tempo passado, não poderia tampouco conhecer-secomo tal. Essa participaçãopura sereaMza, entretanto, demodoaproximativo, nosonho- essa memóriadesordenada, oumemóriademasiado triunfante- noqualo“eu”atual ó cap- ladopelos"eu*mnômicosenáosabequeécaptado,etambémnoinstinto,ondeoser vivonáosabequeeleselembra.Naverdade,umaparticipaçãonuncaó puraanãoser demodoaproximado.Elanuncaéumpuroretomo.Opresentesempreprevalecesufi cientemente para enriquecer-sedo passado, sem confundir-secompletamente como passado:adesordemdosonhooudoinstintoésemprerecuperadapelaordem.
Observáveis e participéveis
A ciênciapretendeconhecer apenaselementos“observáveis”, objetosqueemi temourefletemondasdiversas,ouqueproduzemefeitosque,porsuavez,podemser observados. Ela ignoraos elementos “participáveis”,oupretendereduzi-losanãose rem,narealidade,maisqueelementosobserváveis.Daíasteoriascomoadamemória estruturadanas proteínas cerebrais,ou ado desenvolvimentoembrionáriocomo fun cionamentodas informaçõesgenéticas.A ciênciadesconheceosparticipáveisporque elesnãoestãonoespaço.Porisso,estácondenadaanuncaentenderasepigêneses temáticas,asmorfogênesesnosentidoprópriodapalavra,asinyençóesdeformas,ou anuncaentenderascontinuidadesindividualizadas,osserescapazesdeparticipardo seu própriopassadoededizervirtualmente“eu".Taldesconhecimentoégrave,elimita oalcancedoconhecimentocientífico.Poissãoosparticipáveis,emsimesmosintêm poras ou destemporalizados (namemória),quefazemdotempo algo mais doque um tinción amento de estruturas espaciais, edão um sentido(tomado, ao mesmo têmpo, comodireção- úme'sarrow - ecomosignificado- meamny-)aotempo. Os participáveis são de trêsou, talvez,de quatro espécies. Primeiro,os parti- cpâveisdamemóriaindividual.Depois,osparticipáveisdamemóriabiológica(instintos específicos de formação ou de comportamento). Desses,devemos distinguiros parti cipáveisculturais,queseassemelhamaumamemóriabiológica,taiscomoosidiomas. Finalmente,é naturalconsiderarmoscomoparticipáveisos tiposeessênciassupra-individuaisesupra-espec(ficos. Essesparticipáveisnãomnémicossão intemporaisea- espaciais,numsentidomaisfortedoqueointemporalmnémico,queconservaalguma afinidade eletiva para certos “aqui-e-agora"- os participáveis da memóriapsicológica sendo, inclusive, reservados para um único indivíduo, seguindo-o em toda parte em suas viagens espaciais. Alémdisso, nãotrazemparao participado informações total mente constituintes queelesótivessede atualizar,damesma formaqueum animal atualizaoinstinto específico,mastrazem apenas regras, normas que tomam aação possívelouimpossível,válidaounáo,precáriaounão. Essesparticipáveis supra-individuaise supra-especlficos,é naturalqueos con sideremos, poranalogia, comopertencendoaoDomíniodosdomínios,à“Consciência universal" daqualtodososseresparticipam,ouainda- paralevarmosaanalogiaatéa umametáfora semimítica- aoPassado universal, queétambémo Futurouniversal,a um “ Eu"ou aum “Si” universaisdosquaistodaaatualidade do universoéo “aqui" e “agora". 102
Ospartlclpáveiseafilosofiareligiosa Enquantoqueaciência, atéhoje (excetonos últimosdesenvolvimentosdafísica das partículasedacosmología)nuncaadmitiuainformaçãopor participação,afilosofía e, sobretudo, ateología,eruditaou popular,aaceitaramhámuitotempo.Porém,infeliz mente, sob urna forma mítica eem certos campos ondeaparticipação, pormaisreal queseja, édifícil de captar,ouentãocontestável porestarnoslimitesda suaesfera. E, ao mesmotempo, filosofíae teologia tômdesconhecidoaparticipaçãojustamentenos camposonde elaó certaefácilde serdetectada,ouseja,napsicologiada memóriae dosonho,nabiologiadodesenvolvimentoenaestruturadosidiomas. A participaçãojá foi um tema filosófico banal. Basta lembrarmos o“ineísmo”,a “visão em Deus", as teorías do Logos, do "Eu" transcendental, do Espirito absoluto, etc. Elatem sido, tambóm, umtema religiosoporexcelência: ainspiraçãoprofética(ou inversamente, a possessãodemoníaca), agraça, as vozeseossonhospremonitórios oudemandamento. Em todas as religióes esclarecidas, Oeus é, antes, um Participável do que um Observável. Logo, é um Incognossível nosentidocomum. Todas as experiências reli giosas tradicionais são, em certosentido, experiênciaspsicológicas,transpostasmiti camente.O“outroeu"mnêmico,ouinstintivo,ôaliinterpretadocomosendoDeus,ouo Diabo,ouaindaoDemônioinspirador. Maspodemos também- enissoconsistetodaaNovaGnose- considerarquea experiênciapsicológica,biológica e lingüísticada participaçãoé,de fato, umaespécie de revelação natural,devalorreligioso.Assimcomoateoriada seleçãonatural —do In formadorqueescolheatrásdo Autômato—opõe-seapenas aparentemente àteseprovidencialista, assim também as "reduções" psicológicas da experiência religiosa, de HobbesaFeuerbacheaFreud,nfiosãotãoopostasquantopareceàfédocrenteque vê todaexperiência psicológicaondeintervémparticipáveis comouma experiênciado divino, uma experiênciaondeeleparticipa de Grandes Seres, ou do Grande Ser, de grandesdomínios,oudoDomíniosupremoquenosésupra-ordenado. Os Gnósticos invertem afórmula de Hobbes. Estedeclarava:“Quando alguém diz que Deus lhefalouemsonho,écomosedissessequeelesonhouque Deuslhefa lava." Sim, respondem os Gnósticos.Masafórmula temdois gumes.Bastaque oso nho manifeste algum instinto, ou uma memóriabiológica- alibido, porexemplo, pode alimentarsonhoseróticosnumjoveminocente-,ouexpressearquétipossemiculturais, sem¡biológicos- oque nãoé provado, mas não é im prová vel-, poderemos,então,di zer: “Eleacreditatersonhado comoamor,comumaGrandeMõe, comumvelhosábio, mas está enganado: é oGênio daespôcie, é oseu Daimõn, é Deusque lhe falouem sonho." O mito, paraos seres primitivos, é uma espéciede participação, apesarde sua origem cultural, e não algo de estritamente instintivo. Oserprimitivoidentifica-secom os deuses ancestrais quando necessita de seus conselhos. Neles ele se transporta. Seusdeusesopossuem,eelepossuiosseusdeuses.Eleseilude?Mascomoafirmar issoseoconselhodosdeusesforbom?Seoquefaladentrodeleéa“línguacultural", maissábiadoqueele? 103
A Gnoseconsiste em querer fazercom que osparticipáveiseaparticipaçãose jamintroduzidos,tantonaciênciacomonafilosofiareligiosa,pelo portãoprincipal,enão pelo p o rtã o anexodeumapsicologiasuspeita,ligeiramentecientificaevagamenteocul tista, p e lo portãoprincipaldamcroflsica,dabiologiadodesenvolvimento,dapsicologia compreensiva, dalingüísticanão-pavioviana, adeB.L Whorfou deN. Chomsky.Ela consiste em mostrarque aciónciatem reveladoaparticipação,mas vendo-asomente pelos e u ladoavesso.
CapítuloXIV
A“LÍNGUAMATERNA”UNIVERSAL
Os seres agem e, até mesmo,percebem (jáque apercepç&o,como aação, é sempre temática e impregnada de significado) somente através de sua participação numsupra-universo - tesouroinobservável, mas participávelàmaneiradeuma língua materna. Não um tesouro constituídoe, sim, constituinte,etambém, emparte,consti- tuível pelas açõesindividuaisdos“falantes".Os lingüistas estabelecemumadistinção entre o idiomae a palavra,entreaestruturadoidiomaeoscostumesatualizantes.O estruturalismotem usadomuitoessa distinção, bemcomo,de modo geral,asanálises doslingüistas,em todosos campos,enãosemcertosabusos.OsGnósticosvãoain damais longe,jáqueelesgeneralizamadistinção“paiavra-idioma,,l chegandoaaplicá- laàcosmología.Masfazemquestãodesalientarquea“línguacósmica"nãoérealmen teumalíngua,poisouniverso“sensifica"sem“significar".Elenãoseutilizaoriginaria mentedesinais; elemanifestasentidos.Existemgramáticas,dicionários,códigospara os significados. Essesnãoexistem,originariamente,paraasmanifestaçõesde sentido. A comparação com uma língua materna refere-se mais ainda a “materna" do que a "língua". Consideremos um organismo vivo complexo, não observado de fora, mas em seu próprio“si-mesmo“ . Eleviveemantémasuaformanotempo.Seucomportamento é dotado de sentido, ou temático, segundo intençõesimplícitas.Suaforma, elaborada emsuafaseembrionáriaequeelemantémerepara,éelamesma“dotadadesentido”. Seusórgãos são“dotadosde sentido"(oriméum “filtro",oolho, um “vigiadefótons", etc.).Eleviveem sua própriaduraç&o,assimcomoum homemfala,formafrases,com iniciativas, mas segundo um sistema específico, segundo uma língua “biológica”, in temporal,estruturada (nosentidolingüísticodapalavra)numsupra-espaço,ounumsu- pra-espaço-tempo, n&o-observávelmas participável. Seus atosecomportamentos se guem aomesmotempo as normas dessa língua biológicae as circunstâncias atuais sobre as quaisele procurainformar-se medianteobservação, percepçãodesinaisou demensagensemanadosdosoutrosseres.Atravésdessaparticipação,seu“eu”(vir tual) é também um ueleH, ou antes, um “outro eu", executando frases-tipoda"língua biológica”. Mais umavez, nãodevemos levarlongedemais acomparaçãolingüística. Uma língua ondeos “falantes” não “significam” nãoélíngua. O servivo encama, atualiza 105
significadosou temasválidos.Elefala-a-sua-vida,muitomaisfundamentalmentedoque elesignifica, comunica, enviamensagens - o que certos seresvivos também conse guem fazer, mas ocasionalmente. Ele fala-a-sua-vida com muito mais freqüênciado quefaladasuavidaaoutrosseresvivos.Eleouvesuaprópriamelodia,suaprópriapa lavra; e le “sensifica"enfim, e só raramente significa.Eleé como o seu própriocripto grama ou, ainda, ele é como uma encarnação dessas línguas ameríndias onde os “constituintes’’estãoreunidoscomo numcompostoquímico, com“funções” nosentido químico,combinandomutuamente,eondepodemosexpressartemasdotipo“açãoda mãosobre um objeto quese dobra e resiste”, ou certos efeitosplásticos, unindo por exemplo:“espéciedecaibro"com“formadehaltere”.Oservivosóexcepcionalmente informa os outros seres vivosatravésde mensagensconscientes. O que elefaz, an tes,¿ dar“informaçõesdepresença", semdirigir-se a ninguémemparticular,queser vemde alimentopsíquicoaos“informados",quesustentameconsertamseuorganismo psíquico (oquealinguagemhumanatambémfaz,masnumafunçãoacessória.1) Ummorcegonãovoacomoumpássarooucomoumamosca.Sua“línguabioló gica' maternaémuito diferente. No entanto, todos esses animais voamdeummodo funcionalmente eficaz, assim como seres falantesconseguemexpressarosmesmos temas significadores, em seusrespectivosidiomas, atravésdeprocessos lingüísticos bemdiversos- equechegamamodificarligeiramenteostemas,porinfluência“remon tante". O “vôo"nfioé umamensagem.0 “típico”ea“adaptaçãofuncional"embiologia só vagamente correspondem ao “típico” e ao “funcional” doslingüistas. As comuni cações entreseres vivos- entreórgãos,entre indivíduosdamesmaespécie,entrein divíduos de espécies diferentes- consistem, na maioriadasvezes, não em mensa gensou sinais e, sim, em sinaisqufrnicosouóticoscomfreqüênciainvoluntários:as sim,otipodevôopodeservirdesinalparaopredadorouparaocaçador. Essessinais,contudo,podemserconsideradosquase-lingüísticosnamedidaem que eles são disparadores mnêmicos, e não mecânicos, e recorrem acapacidades mnêmicasporpartedos receptores, enão adeterminadasmolaspré-montadasnoes paço,ou a “fechadurasestruturais”, no sentidogeométrico,nasmoléculas deDNAou nasestruturascerebrais. Todos osseresindividualizados,em oposiçãoàsmultidõesou aosconglomera dos,são,nestesentido,seres“falantes",comoosãotambémosorganismoscomple xos.As chamadas individuafidades físicas também“falam”, existem segundoumsis tema, existem ativamente segundo uma estrutura quase-lingüística, estruturam-se no espaço de acordo comessaestrutura semântica- e nãodeacordocomo funciona mentodealgumaestruturaespacialanterior. O Tesourodas línguasbiológicas,edalínguacósmica,implicaumprimeirolance normativante muito acimadospoderesdos indivíduos, poisosprópriosindivíduossão constituídospeloTesouro primordial. EsseTesouroé igual aumidiomaque secriasse sozinho, nãoapenasaspalavraseostiposortodoxosdefrases,mastambémos falan tes. 0 que representa uma diferença profunda com aslínguashumanas, constituídas instintivamentemas,também,dentrodeumquase-contrato,peloshomens.
1. Cf. R aym ond R uyer, LesNourriturespsyehiques, Paris,Ed. CaJmanrt-Lôvy, 1974,C oi."L iberté del'espftrdirigidaporR.Arori. (Notadoed itor, 1977.)
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O universo “sensificante”primordialnãodeixade ser, entretanto, a condiçãode vidados seres excepcionais que, no universo, “ significam". A própria existência das línguashumanasconstitui,sozinha,aprovadequeouniversonãoéum universomate rial, leito de átomos ou de combinaçõesespaciaisdeátomos que, por milagre, sepu sessematalar- paranãodizernada. Não haveria talantes, nosentidopróprioda palavra, se nãohouvesse “falantes" no sentido mais geral,isto é,seresqueencarnameexpressamsignificados.Enão ha veria“falantes”,nessesentidogeral,senãoexistisseumalínguamaternauniversal. Comooexpressoumultobem B.L Whort, queteriasidoumGnósticonâotossesuamortepre matura,ummundonumeral- dehiperespaçodedimensãosuperior- aguardaserdescobertoportodas as ciências sob o seu aspecto primordial: o dos domínios, daschaves estruturantes... Essemundo apresentaumaindiscutívelafinidadecomocomplexosistemadaIfngua,eenglobaasmatemáticasea música. Elejáfoipressentidonaidéiados"aspectaepreensfveis” ,deWhitehead,enocontinuumdatí sica relativista... Existe, nalinguagemou nasublinguagemmental,apremoniçãodeummundodesco nhecidomaisvastonoqualoaspectofísicorepresentaapenasasuperficieoua enoqual,entre tanto, nósestamose aoqualpertencemos.Essemundotemumcaráterserialouhierárquico,comuma sucessãodeplanosoudeníveis,manifestando-secadaumdelesatravésdeestruturasquecontômou trasestruturas, em“moflvos" (nosentidodecorativodapalavra)contidosunsdentro dosoutros: “ A pa lavra éoque o homemtez demelhor. Mas,semdúvida,Deustenhaentendidoqueoatonívelnoqual sesituaumfenômenotãoorganizadocomoessefoideumacertatormaextorquidodouniverso".2 LeeWhort aquemnfio desagradavaumpoucode provocaçãoequealingüisticatransformara emteósofo,chegaatémesmoaevocar,aoladodeWhiteheadedaIfeicarelativista,o Tertium Organum deOuspensky. EletambémadmiravamuitoFabre d'Olivet®esuaIfngus hebraica restaurada, bemco mosuas análisesdohebraico emfilosotemaspslcollrtgúfsbcos- pelomenossuatraduçãodoGênese na“ línguadosreis",ouna"línguadosdeuses”: 1.Pnmeiramente-em-princfpk), ele-cnou-EIohim, ELE-os-deuses, oSerdos-seres,aipseida- de-dos-céuseaipseidade-da-terra. 2. E-a-terra existia força-contngente-de-ser numa-torça-de-ser e-a-escuridão (torça com- pressivaeendurecedora) estava-sobre-a-superífete do-abiamo(torçauniversale contingente deser); e-o-soprod'ELE-os-deuseseragenerativamentemovediçosobre-a-supertfcie-das-águas(passivida deuniversal). Obviamente,trata-se aqui deum hebraico“ bramanlzado”. Mas, setentamx»,como lingüista científico,traduzirrealmentedeacordocomosesquemasclassificadoresdalínguatraduzida,deaoordo comosegundo-planomentalaosfalantes,umalínguamultodiferentedoIndo-europeu,comfreqüência chegaremosaeleitosdomesmotipo.Assim,oApache,porexemplo,paraconstruirumafraseque,tra duzida para a nossalíngua(e numatraduçãoinflei)seria"é umatontoquecone", ofazdestemodo: *Comoágua,a brancurasemovepara-baixo". Ou, emdialeto nootka:“ Eleconvidapeaso**paraum banquete”áexpressoporuma sópalavra:“ Ferver” ,seguidadecincosufixos,oquenosdáalgocomo: “ Ferver,cujoresultadoécomidopeloshomensqueeletolconvidar."Umatraduçãofielficariaparecida oomumatraduçãodeFabred’Oltvet AadmirávelorganizaçãodasformascaracterísticasdecadaIdiomanãoprovémdocírculoestrei todaconsaéndapessoal,aqualtemtãopoucaconsciênciadessaquantodosraloscósmicos.
2.BenjamínLeeWhortLanguage, Thought and fíeattty.TraduzldoemIrancêssobotitulo: Linguistique etanthropoiogie, Denoêi-Gonthéer,Paris, 1969(verprincipalmentep. 185esega.). 3.Faore d'Olivet(1766-1825),lamosoMuminlstafrancésdoséculoXVIU,tambémconheddocomo um precursordosfédbres, comseu compêndio de poesias languedodanas: Le Troubadour, poésies occilaniques du XHIe siède(1803).(/Votade 1977.)
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Tudo acontececomoseamenteindividualqueescolheaspalavras,masqueesqueceuosmo delosaosquais elu sereterem, estivessesobodomínio deumamentesuperior,muitomaisintelectual,
para a qual osoonceilosde casa,decama,depanelatossemmaisoumenosestranhos,masquecon- aeguisse manipuksistemasematemáticasaxnurnafadUdadeenumnfveltalquenenhummatemático denoasaseecola*jarnabalcançou.4
Todosossaresinteragem,estãoligadosporinteraçõesem chavequeos fazem e x is tir e entrar nosistemauniversal (gravitaçâo, interdependênciadainérciaedocon ju n to das massas, interdependência dos subsistemas: ligações eletromagnéticas, li g a ç õ e s fortes oufracas,ligaçõesorgânicas).Todosos seresindividualizadosedominiai8 “ sensificam". Muitos “assinalam” e agem conforme sinais. Alguns dentre eles “ s ig n ific a m "epercebemsinais.Algunsdentreeles (oshomenseoshumanóides)falam ee ntendem umalinguagem. Tudo é “ significante” na embriogénese, e ossinais químicos agem, não como c a u s a s mecânicas, mas comoorientadores do significado. A situaçãodos esboços em brionários,desua fasedediferenciação, sópodesertraduzidaporfrasesabstratas. Tudo acontece como seum esboçodissesse,oudissesseasimesmo:"Eucefalizo" ou "c audifico", “Eu ventralizo”, ou “Estou fazendouma partedorsal","Sou umesboço de p a ta direita, ou esquerda, depataanterior,ou posterior",“Ajeito-meemformade bolsa,deranhura,detubo","Voumedesdobrar”,“voufusionar". Imaginemosqueumcientistapositivistaquisesseridicularizarecaricaturaressa interpretação,sugerindoumatraduçãodomesmotipoparaumaparelhomecânico,por exem plo,paraofuncionamentodasrodaseengrenagensdeumabicicleta.“ Tudoacon tece — traduziriaele,ironicamente- como sea rodadissesse asimesma: ‘Eusouro da; logo, giroemtomo do meu eixo...’‘Eu souengrenagem,ou rodadentada, logo,eu engreno.'"Eleapenasestariasalientando,semquerer,adiferençaentreumfunciona mento e umcomportamentointeligível. Suatraduçãonadaacrescenta;éapenasumdi vertimentoverbalAsrodasdentadasengrenamempurrando-seporprocessodeenca- deamento. Asrodas giram, semquenadanelassintaanecessidadededize r "Estou rodando” .Mas, paraoscomportamentos doembriãoedeseusesboços,aspalavrase as frases abstratas são o modo descritivo obrigatório dosfatos. Comoexpressarem linguagem puramente mecânica, ou química, que um esboço ocular tomar-se-á um olho? E de quemodooesboçopodesediferenciarse, porsereleumpuroajuntamento de moléculas,nadasabedosentidodoque estáfazendo? Umovo derã fecundado na chamadafasedo “crescenteanzento"- temuma partedorsal,cefálica,direita,an tesmesmodequalqueroutradiferença observáveldessaspartes,“evocadas"apartir dopontofortuitoderompimentodoespermatozóide.Emais,seperturbarmossuasdife renciaçõesprecoces,oovoteráacapacidadedeseajustar.Elereconstituirásua“fra seformativa" completando-a deoutromodo. Ele6igualaoinventorhumanodasrodas edasengrenagens,quepodefalar,ecujaaçãoinventivapode“serfalada".Nãoéigual àengrenagem emfuncionamento, cujos movimentos nãopodem“serfalados",jáque resultamdeumaestruturajáexistentenoespaço. Estaráoátomomais próximodo embrião ou da rodadentada?Istonãoteriasido motivode controvérsiaantesde 1900.A respostateriasidoentão:“darodadentada".
4. Oo. d t , p.201.
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Mas sabemos hoje que o átomonáo funciona segundo uma estrutura jáexistenteno espaço. Ele “se faz" no espaço-tempo,oque,apesarde todas as diferenças,otorna maispróximodoembriãodoqueda rodadentada. ALíngua-Mãeéconstituinte O Tesouro primordial quase-lingüístico do universo lornece aos falantes e aos quase-falantesaprópria substânciade todasas palavrasexpressasoutrocadas entre eles.Todososseres procuram “falarbem”suaprópriavidaou suaexistênciasegundo oSistema-Norma. Os seres vivos propriamente ditos assinalam e vigiam os sinais tão-somentepara viverem bem. Oshomens,no fundo, só falam paraexpressarjuízos de valor: “Eu faço bem, e você faz mal. Aja de outro modo. Eu teriade agirde outro modo. Deus está conosco, não com vocês." Nesse sentido, toda linguagem humana propriamente dita é umaespéciede metalíngua, auxiliardalíngua fundamentaldavida. Apalavrahumana é umaespécie de debate gramaticalapaixonado,emuitasvezesul trajantesobrecertos“pontosdegramática”, sobre aartedefalarbemavida. Deus- ou a GrandeMãe nessesentido,não"diz"nada.Porém,eledáatodos osseresapossibilidadedefalar.OsGnósticosretificamsobreessepontosuaprimeira tese. Deus não é “inteligente” à maneira de todosos seres. Todos osseres nãosão tão inteligentesquanto Deus. Deuséaquelequepermitequeos seressubordinados (e os hólons) sejam inteligentes em seus comportamentos ou em suaspalavras. Ouni verso, em suaunidade fundamental, é umalíngua paraserfalada, nãoumtextopara serlido,queemanasse de algumFalanteou Autor, edo qualfosse precisoentendere decifrarexatamenteamensagemassimtransmitida. Desse modo, a leituradesconfiadadouniverso,queodenunciaria comoabsurdo ou mistificante,a exemploda leituradesconfiadadeumtextohumanoquedelefaz,não o esforçosupostamentesincerodeumaconsciênciapara significaralgum sentido,mas uma“produção"sintomática,a seranalisada,interpretada,segundooinconscientepsi cológico ou social do seu autor- umatal “leitura"éimpossível paraouniversocomo um todo,jáqueeste nãoéum textoe,sim,umapossibilidadegeraldeconstituirtextos aoinfinito. Deus (ou a Unitas) certamentenãoénenhum “doente",nenhum"neurótico",oua vítima iludida de alguma ideologia, visto que ele nem mesmoé propriamente um “eu" quefalaouescreve. AAntiga Gnose,porém, acreditava nisso, e representava Deus,quandonãoco mo um Embusteiro,pelomenoscomotendo sido iludidopormausministros.Eomes moocorrehojecom osque, ingenuamente, serevoltamcontraanaturezadas coisas, achandoque podem fugir, numa liberdade absoluta, a todas as normas, atodas as gramáticas, e não apenas às normas convencionadas da sociedade humana, enfim, queserecusam a “colaborar” com Deus, no mesmoestiloem queosmembrosdare sistênciaserecusavamacolaborarcomoinimigonacional. MasosGnósticosinteligentesdão-se perfeitamente contadoridículodeumaati tude comoessa.Nãosetrainadaao colaborar comDeus.Pode eventualmente haver traição ao se colaborarcom falsos deuses, comídolos,com ideologias deificadas,ou ainda,comum“hólon”maiordoqueohomem,masabaixoda Unitas. 109
Em ANuvemNegra de Fred Hoyle,um grupodecientistas,emcomunicaçãodi reta com esse GrandeSer (aNuveminteligentequeinvadiraosistemasolar),põe-sea favor dessa Inteligência superior eavisaaNuvemsobre um ataque insensatoqueos govemos dos Estados pretendem lançar contra ela. Um poucocomo aconteceu com dentistas atomistas ocidentaisqueacharamporbem, emnome da humanidadeou da verdademarxista, comunicar aosrussosossegredosatômicos americanos,peloque foram,obviamente,acusadosdetraição. Os Gnósticos modernos entendemque a consciência é liberdade, mas uma li berdadesegundoanatureza;elesentendemqueahistoriahumanaaindaé umahistória natural,nemmaisnemmenoslivreeinteligíveldoqueahistóriadasespéciesquímicas e biológicas, apesarda disposição diferente das hierarquias das consciências e do “materiaTdainteligência.ElesentendemqueDeusnãoéumPatrão,oualgumFalante dignode suspeita mas, sim, uma Línguamaternaouprimordial, aquémdetodasaslín guas, e queelenãoé nenhum sermítico,porqueeleé,precisamente,ofundamentode todososmythoi. Deus - ou aGrande Mãe - é o Participâveluniversal.Ele nãoó Falante; eleé Línguauniversal, subjacenteatodasaslínguas. Umalíngua verdadeiramenteuniversal, verdadeiramente maternal, umaLíngua“viva” (que dá avida),uma Língua quesefaz falar,nãoporimitação,masporinvençãoparticipante. Enquantoaslínguashumanassóestãoconscientesnaconsciênciadosfalantes, aLíngua-Mãe,Deus,éconscientedesimesma.E,nessesentido,aConsciênciadivina ouaInteligênciadivinaédiferentedaconsciênciaedainteligênciadosseres.
OUniversoétodocultura- enãonatureza Poderíamos ainda expressar a mesma idéia dizendoqueo universoé cultura, não natureza;queele éhábitoativo,e nãoum sertodo constituído.Costuma-se, com freqüência, opor a cultura social, extrabiológica, que passa de uma geraçãoà outra numaespéciedehereditariedadesocial,àhereditariedadecromossômicadasgerações vivas. Mas, seobservarmosmaisatentamente, aprópriahereditariedadebiológica as- semelha-se à cultura; elaé umaculturabiológica. Elase serve das estruturasbiológi cas constituídas como "carregadores" efêmeros. Elasóos moldade umaforma mais radicaldoqueaculturasocialofazcomseuscarregadoresindividuais.Contudo,acul tura humana, no sentido amplo, éaculturatantodohomembiológicocomodosocial. Antes de tudo, sãotodas as memórias biológicasdas linhagensque terminamno ho mem, tanto quanto as memórias recentes,socialmenteconstituídas, quelhedão suas linguagens,seus costumes,suascrenças.Osembriões humanos,mediantesuaparti cipação na memória biológica, aprendem a desenvolver-se, assim como as crianças humanas,pormeiodesuaparticipaçãonamemóriaculturalsocial,aprendemafalarea comportar-sesocialmente. Mais ainda: porbaixodessaculturabiológica,épreciso imaginarumaculturaain da maisfundamental, queensina- tambémporparticipação- atodasas individualida des,mesmoàschamadasfísicas,asregrasdocomportamento.
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Capítulo XV
AS INFORMAÇÕES NO ESPAÇO E AS INFORMAÇÕES NO TEMPO Oespaçoéumreservatórioprodigiosodeformas,coordenadasounãoemdomi nios,edeInformações,istoó,de“formasqueviajam”,quepassamsemdeixarnenhum vestígio. O tempo “universal”, considerado (erroneamente, aliás) como quarta di mensão, e,ele também, comorecipientede informações,éaindamaisprodigioso,visto que“contém"todasasinformaçõesespaciaispresentes,mastambémaspassadase asfuturas.Todososflocosdenevedeumatempestadedeneveencontram-se,acada instante,numlugarbem definidodo espaço (se deixamos de levaremcontaaindeter- minação microfísica). Eles passamsemdeixarvestfgios.Astempestadesde nevede anosanterioresedostemposgeológicosnãodeixaramvestfgios,nemnoespaço,nem notempo,seninguémas viu.Ousontlesneigesd’antanT Entretanto,asmoléculasde águacontinuamexistindo- assimcomoasmoléculasde ardoúltimo suspirodeCésar. Elasseconservaramasimesmasnotempo. Até mesmo as tempestades de neve, como acontecimentos meteorológicos, existemainda, grossomodo,nalembrançadastestemunhasvivas.Otempodosdomí niosindividualizadosé, em cadacampo, menosricoem informações doqueoespaço, masconservamelhorsuasinformações. Um homemquepasseiaporumafloresta registra acada instante, acadaolhar, emsuas retinas,um conjuntodeformasmuitocomplicado,ondecadaramo,cadafolha visível é localizado.Ao mudarde lugar, ele continuapor algumtempo vendoas mes mas árvores, asmesmas folhas, sobum ângulo ligeiramente diferente.Todo mundo, espontaneamente,adota a teoriafalsaeirrefletidasegundoaquallançamosoolharso breobjetosqueseguimoscomosolhos, como um raioapalpadorquesaíssedoolho e fosseemdireçãoaoobjeto.
* “Ondeestfioasneves deoufrom?”(dopoemadeFrançoteVillorc Bailado des Dames du Temps Jadis). (N.T.)
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Oolho-rede Esse homem quç passeia pela floresta, se estivercaminhandodevagar, terá a impressão de estarvendo as mesmas árvores, equase os mesmos desenhos minu ciosos de seus ramos e folhas. No entanto,segundo a teoria científicadas condições físicas da sensação visual,acadadeslocamento, pormenorqueseja,sãooutrason das luminosas, outros fótons que penetramem seuolho; não sãoasmesmas formas vistas sob um ângulo diferente.Podemos substituiroolhodohomemque caminhapor um a câmaraescura móvel. Em cada “ponto", se for dedia, há no espaço fótonssufi cientesparaforneceremumaimagemcomplexaeprecisa.Oolhonãoestácolocadona extremidadedeumaespéciede“varadeluz",tateandoatéoobjeto.Eleé,antes,uma espéciederede,queencontraemtodaparte,excetonaescuridãocompletaouatrásde um écran, desenhosinformativosemanadosdos objetosiuminados, e queelesótem de recolher. Em cada pòntodoespaço, pode-sefotografaruma paisagemterrestreou, à noite, estrelas aosmilhões. O desenho complexodos circos lunares deve “existir” comoconjuntodefótons,emtodosospontosemvoltadaLua,jáqueumanaveespa cial, habitada ou não, pode fotografá-losemtodo lugar.AnebulosadeAndrómeda, visí vel aolho nu paraquem tem vistaboa,“ existe”numaesferacujoraioédeummilhãoe meio deanos-luz,eem cadamilímetrocúbicodessaesfera. Oespaçoé umoceanode informações onde podemos pescar,praticamenteemtoda parte, milhõesdeelementos deinformação. Orádioeatelevisãotômmostradodeforma sensívelparatodosessariquezado espaço,jáque,emqualquerpontodoplaneta,pode-secaptarconcertoseespetáculos. Maséprecisonãoesquecerqueoolhoéumcaptadorexatamentedomesmoti po queum receptor de rádioou televisão.Passeamoscomosnossosoihospeloespa ço assim comopasseamos comonossoràdio-transistor. Aúnica diferença é que a multiplicidadedosemissoresoureemissoresluminosos- cadadetalhedecadaumdos corpos quenos cercamé umemissordistinto- fazcomque arecepçãoluminosacon vide a consciênciaa desenharespontaneamenteomapageográficodosemissores, ao passo queoouvinteque passeiacomoseu rádio-transistorouvea músicaquesaido seu rádioseletordefreqüênciassemsepreocupar,normalmente,comalocalizaçãoda emissora ou como mapa geográficodas emissorasquepodem ser captadas. Um rá dio-transistorque não fosse seletivono sentidocomumdapalavra,masquefosseca paz deselecionaradireçãodasondas equecaptasse,nãooconcertode umaemisso ra,mastodosos fragmentos de concertode todasasemissoras,“desenhando”assim a localização dessas, seria um verdadeiro olhopara a“paisagem”das emissorasde rádio. É exatamentedessa formaqueexisteuma“ rádio-astronomia”, porradiotelesco pios- que captamondasmaislongas doque asondasvisíveis, capazesde localizar com exatidão as fontes emissoras e dedesenhar um mapado céu que se possa so brepor ao mapa ótico da astronomia comum. Um radiotelescópio constitui, assim, a provadequeélegítimocompararoolhodapessoaquepasseiacomoseurádio-tran- sistor. No teatro, aimagem deuma atriz podesercaptadaem todaparteaoredordela. Odesenhodoseu sorriso, de seus olhos,doscachosdeseus cabelos, estáem toda parte, como um sistemadeondasou de fótons,onde oolhode um espectador possa captá-lo. 112
Numa exposição de pintura, os visitantes que passeiam olhando para os q u a dros, passeando a “rede” de seus olhos a alguns metros de distância das cornijas, captam imagens luminosasqueseencontram,portanto,em todapartedosalão,jáq u e eles as vêem de todo lugarquando outrosvisitantes nãoimpedem avisão.Aatriz s ó está viva no palco; suas múltiplas imagens não vivem (ou revivem tão-somente na consciência de cada espectador). No salão de exposição, porém, as imagensca ptá- veis não existem menos do que na tela dos quadros. Elas existem até mesmom uito mais,jáque apintura é, antes,umaartevisualdoqueumamanipulaçãode pigmentos, ejáqueopintor"pensou"deantemãoasimagensvisuaisdoespectador. Imaginemos,finalmente,queo salãode exposiçãocomporta espelhosparalelos. A riqueza do espaçoemtermosde informaçõesfísicas torna-seentão vertiginosa: de todasas partes, posso vera multidãodasformas egestosindefinidamente repetidos. Logo,éemtodapartequeessasformasexistem- existemfisicamente.
Oespaçocomoholograma Nas fotografias denominadas “ hologramas", registra-se sobre a chapaasinter ferênciasentre aonda emitidadiretamenteporum lasere amesmaondadifundidapelo objeto (apósdesviograças a umespelhosemitransparente). Nafotografiaassimobtida, cadafragmentoécapaz derestituirotodo. Suponhamosqueasimagenscomplexasdequeestávamosfalando(umaflores ta, um palco deteatro, um salãodeexposição),sejamrecebidasatravésdeumavidra ça. A um dado momento, fótons eondas luminosas se encontram, então,no vidro da vidraça,comose ali estivessemcongelados- e nadanos impede desuporquetodos os fótonsque ainda seencontram atrásdavidraçaforamaniquilados.Acontecequeeu possofixarmeuolhosobrequalquerpontodessavidraçaeconseguireiveroespetácu lo. Cada fragmento, cadaesférula davidraça,dediâmetro igual ao diâmetro daminha pupila é, portanto, hologramática. Cada milímetro cúbicoda vidraça, portanto, contém informações sobretodo o espetáculo.Além disso,ao olharo mesmo fragmentodavi draça sob ângulos de visãodiferentes, podereivermais distintamente essaou aquela partedoespetáculo. Oshologramas porraio laserparecemmilagrosos.Masoquefazem,naverdade, é apenasmaterializar,tornarsensível umapropriedadeabsolutamentecomumatodos os meiostransparentes - e ao próprioespaço.Oespaçoé umreservatórioprodigioso, não apenas de matériaou de energia como,também,de informações.Osfótonsque incidem sobre as folhas dos vegetais verdes participam da fotossíntese, contribuindo assimparaa“informação" - no sentidoetimológico - do vegetal,doserdominialtem poralizado que sabe se utilizar dessa informação para sua própria construção. Os fó tons que incidem sobre os olhos dos animais tambéminformam a estes, no sentido comumdapalavra, assimque são utilizados comomoduladoresdocampocerebral,já consciente de si mesmo como parte do domínio orgânico em sua continuidade temporal. 113
Sónosinformamosdentrodeumacontinuidadetemporal As info inform rmaç açõe ões s que viaja iajam m no espaço, ou no espaço-t espaço-tempo1 empo1 dos dos físicos, naonaotemp tempor oral aliz izad adas as numa numa linh linha ad de participação participação individual individual,, são sã o apenas apenas materi materiais ais de infor infor mação enã e não oin info forma rmaçõ ções es autenticas. autenticas.Se Seo o quecaptaa que captaas s informaçõesespaciais informaçõesespaciaisfosse fosse apenas,ainda,umaestruturaespacial,seapupilaearetinadoolhofossemtfio-somen teas partesde partesde uma câma câmara raescuraffeicae escuraffeicaeatu atual,aordem al,aordemdessas dessasinfor informaçõeseq maçõeseqüiva üiva leria a uma umatr trem emen enda da deso desord rdem em.. Paranos Para nos convencermo convenc ermos sdisso, disso, bastapensarmos bastapensarmosno no seg seguinte inte:: uma pessoa pessoa “conhe “conheci cida da nossa” nossa” , como se costuma costumadizer, dizer,apr aprese esenta nta-s -se e vi sualmenteanósdemilmaneiras.Nósaolhamosdeperto,delonge,defrente,deperfil, dirigimosnossoolharparaosseusolhos,seuscabelos,suasmãos,suasroupas.Cap tamososfótonsqueessapessoarefletedaformamaislivreevariadapossível.E,no entanto,sempreareconhecemoscomosendoamesmapessoa. entanto,sempreareconhecemoscomosendoa mesmapessoa.Seanossaretina,ou Seanossaretina,ou noss nossaárea aárea visua visuall-- fosseape fosseapena nas sum umachap achapafotográfica,asobrep afotográfica,asobreposiç osiçãodasima ãodasimagen gens s instantâne instantâneascriariauma ascriariaumaperfei perfeitadesordem tadesordem.. Aobservaçãopurasósetornainformaçãoauténticaporelaser,também,partici paçã pação onu num m sentido sentido transespaci transespacial. al. Umam Umamemóriatotalmen emóriatotalmente tefísica físicaou oumecânica mecânica seriao princípiomesmodadesordem(poracumulação),enãopoderiademodoalgumpôror dem noespaço, vistoqu visto queve evestígios stígiosacresc acrescentar-se-ia entar-se-iam maoutrosves aoutrosvestígios,com tígios,comoacon oacon tece tecenuma numach chap apaf afotogr otográfica áficautilizadapor utilizadaporengano enganovárias váriasvez vezes. es.Aordemsópodeserin Aordemsópodeserin trod troduz uzid ida a nasnossa s nossas s observa observações ções,, no afluxo incessante incessantedo dos s‘'‘'observáveis”, observáveis” , através através deuma partici participaçã paçãoo- verdad verdadeir eiramen amente te mnômicano mnômica nose sentido ntidopróp própririo o-- nanossa ano ssain indiv divii dualidadetemporalizada,quenospossibilitapensareseguiraindividualidadedosseres observados. Quandominhaatençãoédirigidaparaumaporçãodocamposensorialqueadqui re, assim, um valor de pres presen ença ça,, isso se deveaum deve aum caso leve leve depar de partiticip cipaçãoação-fasc fascíínaçã ação no qualo “ eu" atua tual, observa observador dor,, é capta captado do por um“out m“ outroeu" roeu"mn mnêmi êmico co queo queo separadopresente.Pois,apesardaetimologia,umpresentepuronãopoderianosdar asensaçãode“presença”deumser:“Vocôestáaí,évocêmesmo!". Assim o home homem me e atémesmooanimal“ atémesmooanimal“ platoni platoniza” za” espont espontane aneame ament nte, e,isto istoé é,re , re conheceascoisaseosserescomosendo“elesmesmos”.Característicoéousodos demon demonst stra ratitivo vos s e, sobr sobret etud udo, o, a passag passagem, em, freqü freqüent ente e nas líng língua uas s indo indo-e -eur uropé opéia ias, s, do demonstrativoparaoartigo,queéum“destemporalizador”,oumelhor,um“despresen- nomotorna-se“ohomem”,ohomememsi,ohomemcomoconceito.Do tificador".///e nomotorna-se“ohomem”,ohomememsi,ohomemcomoconceito.Do mesmo mesmo modo modo,,ess esse e homem-i homem-indi ndivídu víduo osó só éreconheci é reconhecido do como elepróp ele próprio riomedi mediant ante eum um mist misto ode deobserv observação ação ede e de partici participação. pação. A continu continuida idade de tempo tempora ralltem temco como mo condi condição, ção, aparenteme aparentemente nteparadoxal, paradoxal, umapartic umaparticipação ipação numelemento numelementointemporal.Ép intemporal.Éprecis reciso oqu queeu eeu seja “dest “destemp empor oral aliz izad ado" o",, por por part partic iciipação pação no signi signifificad cado o ou nos meus meus “outros “outros eus” eus” mnêmicos, mnêmicos,pa para ra quemi que minh nhaex aexistência istênciaseja sejaindi individual vidual eparaque e paraque eu possaperceberos possaperceberos outroscomoseresexistentesduradouros.
1. Mais Mais exat exatam amen ente te,, as info inform rmaç açõe õeslu slumi mino nosa sasse ssesit situa uam“ m“ entre"oespa entre"oespaço ço eotem eotempo po,no ,nom máximo imo marcada marcadaspela spela““ velocidade"da velocidade" daluz, luz, e n teo te o““cone” dotempo dotempoe eoespaç oespaço.Elasnão“ o.Elasnão“ava avança nçam” m”no note tem m po,não“ po,não“ envelhe envelhecem” cem”;seus“ ;seus“agora" agora"não nãose sesuce sucedem. dem.
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Na lingu linguag agem em dos dos físicos relativistas, relativistas, cada corpoou corpo oucorp corpúsculo úsculodescreven descreveno oes- es- paço paço-te -temp mpo o uma uma “ lin linha de universo universo”” . A fís física ica,, clássica e relat relativ ivis ista ta,,nã não ofa fazdis zdistin tinçção entre entrea a linha linhadeunivers deuniversode odeumacaixade umacaixadefósfor fósforos os eade ead eum um servivo, servivo,de de umam umamar ario ione ne te mecânic mecânica ae e de urna rna bailar bailarina ina.. No entanto, entanto,a a dança da bailarin bailarina assóé ó é uma uma verda erdade deira ira dançapo dança por rela ela estara estar ao mesmo tempo tempo no presente (elasegue (elaseg ueoritm oritmoda odadança)eno dança)enoin in temporal temporaldo do tema temadadanç dadança, a, doqu do qual alabailarin abailarinac acontin ontinua uaparticipando participando(oque (oqueIh Ihe eperm permite ite particip participard ardos os movim moviment entos osobservadosde observadosdeseuspar seusparceiros). ceiros). Adançaentredoisespelhos2 Uma Uma baila bailarin rina aest está ádanç dançando ando entre dois dois grandes espelhos espelhos parale paralelos los.. Ela é,e , em princípio, princípio,refle refletida tida ao infinit infinito. o. Emcad Em cada aponto pontod doesp oe spaço aço situadoent situado entre reos osdoisespe doisespelho lhos, s, um espectador espectador poderá poderá captar captar dezenas dezenas deima de imagen gens s dabaila da bailarina rina..Oolho Oolho-red -rede ete tem m bas bas tant tante e o que pescar pescar e do que alimen alimentar tar-s -se. e. Ele pode pode tanto tanto observar observaras as baila bailarin rinas as em imagenscomoabailarinaemcarneeosso. Quand Quando oum um objeto objetoseme semexenum xenumespelho, espelho,voc você êdiriaqu diriaque e algo algooempurrou oempurrou Seum Seum senhordecartolaavançaentreosespelhos,vocêirápercebervinteoutrintacartolas. Sealgué alguém m chega chegar r e fiz fizer er cair a carto cartola la com uma uma varin varinha, ha, as vinte inte ou trint trinta a carto cartola las s cairão ao mesmo mesmotem tempo po.. Não hesitamo hesitamos semafirmarqueénecessár emafirmarqueénecessáriaalgumaforça iaalgumaforçapa pa ra fazerca fazer cair ira a "verdadeir "verdadeira” a” cartola. cartola.Ma Mas, s,e e asvin as vinteoutrin teoutrintacartola tacartolas srestante restantes? s? Terã Terão o elas elas caído caídosozinha sozinhas,po s,porassimdiz rassimdizer er?Ouse ?Ouse limita limitaram ram afazercom afazercomoas oas outras?3 Existir Existirá áum uma adif difere erenç nça aab abso soluta luta entre entre a queda queda dacart da cartola ola rea reale l e aquedadas quedadas car tolas tolas nas imag imagen ens sdo dosespelhos? sespelhos? Não, ão,pois pois os efeitos efeitos quéaverdad quéaverdadeira eiracartolaexerc cartolaexerce e não nãosão sãoele eleme mentos ntos mais “forçadores”doqueos “forçadores” doqueosmovim movimentos entos conjuga conjugados dosdesuasima desuasima gens nos espelhos.Aogirarmoso espelhos.Aogirarmoso comutador elétriconumquartoescuro, elétriconumquartoescuro, modificamos modificamos a aparênc aparência iade de todos todosos os objetosque objetosque nelese nelese encontra encontram,e,noent m,e,noentan anto, to,o ocentro centrocaus causai ai - a lâm lâmpada pada acesa acesa-- age comoinf como infor orma mado dor,enã r,enãocomo“forçado ocomo“forçador” r”.. Seos efeito efeitospro spro duzidos pelo centro centrosã são omo movim vimento entos, s,esses esses movim movimen entos tos nãodevem nãodevemser serinte interpre rpretado tados s do mesmomo mesmo modo do que osmovim os movimentosd entosdeuma eumab bolaatin olaatingida gidaporoutraque poroutraque lhe transmiteo seu seu próprio próprio movim moviment ento. o. Eles Eles sepa se parec recem em,, antes antes,,com comos os movime movimento ntos sde defuga fuga deum e uma a multidão multidãono no meio daqual daqual se soltasseum soltasse um tigre ameaçador.4 Vistodecimaedelonge,o tigre tigre parece parece exercer umaforça umaforça de repuls repulsão. ão. Na realid realidad ade, e,as as pessoasfogem porelas porelas mesmas, mesmas, porq porque ue viram viram otigre o tigreou ou ouvira ouviram mo o seu rugido rugido.. Elas las correriam correriam comamesma com amesma rapidezsepudessemperceberessasondassemqueotigreestivesseali.
As“ influênciasca influênciascausais"sefa usais"sefaze zempor mporinf informação ormação E,assim E, assim comootigre nãorepel nãorepele, e,o oSoltamp Soltampouco oucoat atra rai.O i.O Solé, Solé, simplesmente,o centro centro de uma uma família família de movime movimentos ntos.. Seus Seus rugi rugido dossãoo ssãoos s"gravitons” "gravitons” que informa informam m 2. OsGnfcticos OsG nfcticosse seins inspir piram, am, aqui, aq ui,no noque que elesdeno elesdenomi minam namopara oparado doxo xopré-gn pré-gnósticodeB. ósticodeB.Russel Russell, l, expostosmAnalysi expostosmAnalysiss olMatter eem eem ABCof ABCofRelativity Relativity(esteúltimotraduzidoemfrancéssobotlhio: (esteúltimotraduzidoemfrancéssobotlhio: ABC ABC de Ia relativtté,col.10/18,Paris). relativtté,col.10/18,Paris). 3.B.Russell: ABC ABC delarelativitô, de larelativitô, p.18 p. 181 1. 4 . 0 exem exempl ploâ oâdeB deB.Russ .Russel ell,l,op. op.a a i,p. i,p. 165.
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da sua sua pres presen ença ça o espa espaço ço e os demais demais corp corpos os doespaço, doespaço, indu induzi zindo ndo-os -os a se aproxi
mar. Emais: E mais: paraafísicacont afísica contemp empor orâne ânea, a,aind aindaacon aacontece teceomesmo omesmocomo comom movimento ovimento dabolaatingidaporoutrabola.OsátomosdabolaAnãoentramemcontatodiretocom o s átomos da bola B.O cho choque mecânico é, naverdade,uma naverdade,umaint interaçãoeletromagnéti eraçãoeletromagnéti caàdistância,com"mensageiros”(osfótons). De uma umafo form rmam amais ais geral, toda todacausal causalidadesereduza idadesereduzaum umaint ainteraçãocom eraçãocom““mensag mensageir eiro": o": omésonnasinteraçõesnuclearesfortes,oneutrinoeapartículaWnasinteraçõestracas,ogravitonnasin terações terações degr de grav avita itaçã ção. o.O Osffsic sffsicos os "materializam "materializam""os“ os“me mensa nsageiro geiros” s”,,imagin imaginando ando-oscom -oscomose osefoss fossem em partículasqueveiculamainteraçãoeoscilamentreaspartículasligadas(assim,porexemplo,ofótonY entre entre elétron elétrone epr prót óton onem emintera interação ção,,o omés méson on entrepró entrepróton tone enôu nôutron),ouentão tron),ouentãoima imagina ginamo“ mo“mensagei mensagei ro'* comose comosefoss fosseum eumanuve nuvem m quev queve este steonêutrond onêutrondura uranteuma nteumaparte parte doseule doseulem mpo” po” . Masosff asosffsicos sicos nãopodemdeixar-seiludirporessasimagens,poisasoscilaçõesparecemocorrernumtempo(10-23 segundos) segundos)e ea an nuvem vem pare parece ce ocup ocupar ar um espaço espaço(1 (10~ 0~1 13 centimetros)nol centimetros)nolimi imiardaIncerte ardaIncertezaquântica. zaquântica. Mas, enquanto enquantoos os““mens mensag ageiro eiros"sã s"são ovirtuaiscom virtuaiscomoco ocorpúsc rpúsculosou ulosounuve nuvens, ns,asi asinteraçõ nterações,p es,porsua orsuavez, vez, sAo reais, e podemos multo bem afas afasta tarres essa sas sIm Ima agens gens epe e pens nsarque arque esta estam mos, os, assim assim,, não nãona na in formação formação““quevi queviaja" aja"(p (por orm me ensag nsagen ense se mensa mensage geiros),mas iros),mas simna simnainformaç informação"realizada” ão"realizada”," ,"encam encama a da” , análoga análogaâdeu âdeum mcam campovisualco povisualconscie nscienteo nteonde ndeos osdetalhesnãoma detalhesnãomaisseenc isseencontra ontramôdistânciauns môdistânciauns dos dosout outros, ros, ouque ouqueela elaóanáloga& óanáloga&informação-parücipaçâodeumo informação-parücipaçâodeumoom omportam portamentoco entocomme mmemóriatemamóriatemaMzadaeformamelódca,igualádançadabailarina.
Asmelodiasorgânicasouvemasimesmas Para Para as info informa rmaçõ ções es realiz ealizada adas, s, “ substancial substancializadas izadas" " nos indiv indivíd íduos uos domini dominiais ais,, que participam participamdo dose seu u própriotem própriotempo po,,que quetô tôm muma uma memóri memória, a, e cujo cujodomí domínio nioéinf éinforma orma do, não apenas apenaspe pela las smen mensag sagens ens vindasdeoutro vindasdeoutro lugarcomo lugarcomotam també bém mpelossenti pelossentidose dose os temas trans transesp espaço aço-t -tempo emporai rais,os s,os““ rosários"ou rosários"ou “ famílias" famílias" deaconte deacontecimen cimentos tos estão estão unidos porligaçõ porligaçõestemáti estemáticaso casousemânti usemânticas. cas.Em Ems si,em i,em seu“ seu“anverso", anverso", asinformações assim“substancializadas"sãonecessariamenteconscientes. As info informa rmaçõe ções, s, uma uma vez vezemit emitida idas, s, podem odem muitobe muitobem mviaj viajaresvazi aresvaziadas adasde de seu seu sentido sentido (com (como o uma conver conversa sa tele telefó fóni nica ca trans transfo forma rmada da prov provis isor oria iament mente e em corre corrent ntes es elétricas elétricas na linha) linha)..Ma Mas s elas não pode podem mest estaremtodapar aremtodaparte te e sempr sempreesvaziadas eesvaziadas de seu seu sentid sentido. o. Cheg Chega a um mome moment nto o em que preci precisa sam m tomar tomar ou retom etomar ar algu algum m sent sentiido dentrodeindividualidades,duradouras,participandodossentidosintemporais. Tantoé Tantoéver verdad dade e que B. Russel Russel,, apesar apesar de seus seus precon preconcei ceito tos s “ positivistas”, positivistas”,fo foii levadoespontaneamenteaoconceitodemelodiaorgânica.Éprecisoimaginarapartícu la, la, não não como como um fragme ragment nto o de matér matéria ia desprov desprovido ido do dom dom da ubiqüi ubiqüida dade de,,ma mascomo scomo umasériedeacontecimentosqueconstituiahistóriacompletadapartícula.Apartícula deveservistacomosendoasuaprópriahistória,enãocomoumaentidadequetivesse uma umahistóri história. a. Um aconteciment acontecimento,um o,umpontono pontono espaço-tempo, espaço-tempo,nã não opo pode de nemdeslocar- nemdeslocar- sene se nem mdur durar. ar. Ele possui possuiuma umaexistência existênciabre breve, ve, edesapar e desaparece ecepara parasempre sempre.Ma .Maséu séum m fato fato que apart a partícul ícula adu dura ra,, persiste. persiste. Sua vida vida pode podesermuit sermuito obre breve, ve, mastam mastambé bém mp pode ser muito muito longa onga - apar a partítícul cula, a, e també ambém m os átomo átomos, s, assi assim m como comoos os orga organi nismo smos. s. Os aconte acontecimen cimentos tos constituint constituintes es são coorden coordenado ados: s: "É preciso preciso vê-los vê-los como como ‘rosários ‘rosários'' de 116
acont acontecim eciment entos, os, com comligaçõ ligações es orgânicas, orgânicas, bastan bastante tesemel semelhantes hantes à sucessãodas sucessãodas nota notas s numalinhamelódica”.5 Isto Isto nada mais mais é do que a tese tese gnóstica. gnóstica. Se uma uma fam família ília de acon aconte tecim cimen ento tos s 6 uma umafa fam mília “melódica”, “melódica”, seu seu “ anverso” éum é uma afor forma ma melódica melódicaqu que eouve ouve evê e vê a sim si mes es ma.Entre a. Entre umapa umapartitur rtituraesc aescrita ritaeam eamúsicaexecutada úsicaexecutada,,há há correspondênciade correspondência deestrutu estrutura. ra. Um surdo surdode de nasc nascim imen ento, to, mas que que sempretivesseconvivido sempretivesseconvivido commúsicos,acabaria commúsicos,acabaria enten entende dend ndo o que que as partitu partituras ras musicais musicais sãoosím sãoo símbo bolode lode algum alguma acoisa, coisa, cuja cuja essên essência cia íntima íntimaé é radic radicalm almen ente te diferen diferente tema mas s cuja estrutura estruturaé é a mesma. Ele Elepod poder eria iafaz fazeram erama a temáticadamúsica,jáqueamatemáticadamúsicaouvidaéamesmaqueamúsicada partitur partitura aesc escrita rita.. “ É desse desse modoque modoque conhecem conhecemos os a natureza natureza:: sabemos sabemos ler suas suas parti parti turas,masnãoouvimossuamúsica.” Os Gnósticos Gnósticos se limit limitama amaacr acrescent escentar: ar: “ Nós Nósmesmo mesmos, s, comoseres reai reais scon cons s cientes, ouvimo ouvimos s nossaprópri nossaprópria amúsicamúsica- petomeno etomenos s a parte parte que que cantamos cantamosden dentr troda oda poli polifo foni nia a viva viva da qual qual somos somos uma umafr frase. ase. Temos Temos,, entã então, o, de imagi imaginar nar as parti partitu tura ras s ob serváveis serváveis dosoutr dosoutros osser seres es comoo comoo lado avesso de cantos cantos verdadei verdadeiros ros..A Aim imen ensa sa va riedadedaspartiturasobservadasnãopodeserosilêncioeternodesuaprópriaescrita. Emboranãoparticipemosdiretamentedocantointeriordosoutrosnoespaço,pelome nos nos parti partici cipamos pamos,, no temp tempo, o, do nosso nosso própr próprio io canto canto que que faz faz a nossa nossacon contitinui nuidad dade. e.A A memóri memória, a,org orgâni ânicaepsic caepsicológi ológica, ca, permit permite e nãoapenas nãoapenas as continu continuidad idadesmelódi esmelódicas, cas, co co motambémosdacapo, motambémos dacapo, as repetições, repetições, asvari as variaçõessobreum açõessobreum tema.Ela tema.Elafazdenós fazdenósal al go mais do que umasér umasérie ie desconexade aconteci acontecimentos mentosqu que eseri seriam amtão tãoatô atômic micos osn no espaço-tempoquantoosátomosmateriaisdeDemócritonoespaço.Proustseemocio na ao ouvir ouvir nova novame ment nte ea a pequ pequena ena frase frase melód melódic ica ada dason sonat ata a de Vinteui Vinteuil,l, pois, pois, dessa dessa forma, forma, está parti particip cipando ando do seu própri próprio o passado, passado, deseus de seus‘‘outros outros eus’; e,al e, além ém disso, disso, essa parti partici cipa paçã ção o com ele mesm mesmo o possi possibi bililita ta-l -lhe he uma quasequase-te tele lepa patitia a - impe imperrfeit feita a-como‘eudeumoutro',o'eu'doartista." Luzfísicaeluzgnóstica Os “cadáver “cadáveres esd de informaç nformação”, ão”, assim assimco como mo os tçxt tçxtos osde de um livroou livroouossulc ossulcos os deu e umdisc m disco, o,res ressusci suscitam tamna na consciência consciênciadeum deum leitorou leitoroude de umouvinte. ouvinte.Seu Seu retor retornoà noà vidafaz presu pre sum m ir- e nãoexplica- aexistênciade aexistênciade consciênciasindividual consciênciasindividualizadas. izadas.Eles Eles não não pode poderi riam, am, defo de form rmaalg aalguma uma,,ressuscitar ressuscitara a si mesmos.O mesmos. Olei leitor tor ouoouvinte ouoouvinteh herdo erdou u sua conti continui nuida dade de conscie consciente nte,, não não das informa informações ções materi materiais ais que querecebe recebe,, masdesua rela relação ção inint ninter erru rupt pta, a, dura durant nte e milh milhõe ões s de século séculos, s, com um transes transespaci pacia! a! mnêmi mnêmico co e semânticoqueoinformou(aeleeaseusancestraisdiretos)porparticipação.Umavez rompid rompidos os a relaç relação ão e ocont o contato ato,,oouvint oouvinte e ouoleitormorreirremediavelmenteenão ouoleitormorreirremediavelmenteenão ressuscitaasimesmomaisdoqueumlivroqueninguémmaislesse,ouumamáquina quenenhumservivovoltasseausar. Expressando Expressando isso isso metafor metaforica icamente mente,,a a luz luz gnóstica,a gnóstica, aconsciênciados consciênciad os significa significa dosé dos é algo algo que quenão não tem tem nada nada quever quever comagregaçãodefót comagregaçãodefóton ons, s, com aluzfísica.Alu aluzfísica. Aluz z gnóstica gnóstica é uma ilumi lumina naçã ção o porpar por partitici cipaç pação ão no signif significa icado. do.Osfót Osfótons ons só trazem trazem a luz luz
5.Op. Gft, p. 170. 170.
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para um ser iluminadoouiluminávelporsuaparticipaçãono significadoenasuaprópria
m em ória dosignificado.Os fótons nãosãoluminososporsimesmos.Oespaço,quan donãoé“pescado”porolhosvivos,étãotenebrosoquantoocentrodatérra,mesmo sendo tão repleto de informaçõesem cadaumdeseuscantosquanto umafotografia- ho logram a. O espaço torna-ee“luminoso”,informante, no sentido real, somente para ums e rverdadeiramentetemporalizadoe“possuidordeumsentido”. T op olo gia e semantismo AlgunsfísicosmurtopróximosdaGnose,emparticularL L Whyte, G.N .LewiseDavidBohm, tômdesenvolvido oseguinteraaocíruo:Considerandoque, nosdiagramasrelativistas, ointervaloque separa dois acontecimentos ligadosporum raioluminoso éIgual azero,podemos, então, considerar que esses doisacontecimentos estãoem contatomútuoepodemreagirfisicamenteumsobreooutro portransterôna a diretadeenergia. Assim, quando observamos anebulosadeAndrómeda, distante, métricam ente,deummilhãoemeiodeanos-luz, estamosemcordatodireto- topologicamente- com seusátomosemissores.Nós,terrestres,somos“tocados"pelosandromedianos. Ossistemasdereferônda noespaço-tempotomecem-nosumasimplesprojeçãodetodoopro cesso, expressandocorretamentedeterminadas relações edeformandooutras.Umateoriatopológica doespaço-tempo que cuidasse das incidênciasecontatos, e nãodosIntervalosmétricos,permitiria, partlndo-sedosprocessosreaisnosquaiscadaacontecimentoestádiretamenteligadoaoutros,cons truiracessoriámenteoespaço-tempométrico. Todaação,todocontatoóessencialmenteumcontatodi retonavelocidadedaluz.Asaçõescomvelocidademenorprovdmdecontatosdesegundaoudeter ceira ordem , ederivamdoscontatosprimários(navelocidadedaluz).Suatrajetóriaéformadaporuma sóriedeziguezague(Zitterbewegungen)ouespirais. Nessesentido,avelocidadedaluzóaúnica“velocidade” . Todasasvelocidadesinferioresderi vam das“ reflexões”daaçãosobreindivíduosIntermediários. DavidBohmutiliza,aqui,otermo“reflexão"numsentidoMuco,naturalmente.Maséprecisole varemcontaqueainterpretaçãotopológicaestá,porsuavez,subordinadaaumainterpretaçãosemân tica maisprofunda; porisso,otermo“reflexão”devesertomado aqui numsentidoquasepsicológico. Cadaátomo, num cristalondesepropagaumraioluminosoaumavelocidadeaparentementeinferiorà velocidade da luz, levaporassimdizerum certotempo,real, para“entenderoqueestáacontecendo oom ele", porreferôndacom otransespadal doqual ele partidpa.Dafoatraso.Ossegundosou os centimetrosque medem essa veloddadesão apenas abstraçõessubordinadas. Otempoeoespaço são feitos exclusivamentedessas“ reflexões” dosseresinformados,que"entendemoqueestáaconte cendocomeles”. Retomandooexemplocitadoacima,aImagemluminosadotigresoltonomeiodamultidãocorre navelocidadedaluz.Poróm,opánicosósepropagaaumavelocidadebemmenor,poisosespectado res não “ficam dentes” do perigo instantaneamente. Otempo de “ficar dente" não ó otempo ma- croscóplco-môtrico da ffsica relativista,enemotempotopológicode Bohm. É umtempo maisprimor dial,simultaneamenteffeicoehlperffeico; éumaaçãonaqualo t(otemposimbólico),quesecombina comaenergiaoucomoc(comprimentoigualmentesimbólico), quesecombinacom mv,aquantidade demovimento,nãoé nemumtemponemumcomprimentonosentidocomum,jâque,narealidade,ele significa umapartidpação elementarnotransespaço-temporal. Noentanto, essetempo-mais-primor- dial-que-nâo-ó-um -tempo fazo tempo comum, assimcomoo comprimento-que-náo-é-um-comprimentofazoespaçocomum.Assimcomo, provavelmente,acarga positivaounegativa, ospin,onúme robariônioo,aprópriamassa, podemserconsideradosrelacionadoscom- oucomo“ projeçõesde” asrealidadesmaisfundamentaisdohiperespaçooudoiso-espaço(oespaçoisotópico),doiso-spin,da hipercarga,ou“estranheza”.6 6. Haldane (numa conferôndade 1963)incitava06biólogosanãoficaremparatrásemrelaçãoaos físicos, eaconsideraremqueos“ acavalamentosquânticos”temporaiseespaciaispermitemquesefa le, em certoscasos, deum“estadovivo"desistemascominteraçõesdeslocalizadasdistantes,comose taladeestadogasosooudeestadolíquido,deacordocomoalcancedasinterações.
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Utilizemos provisoriamente,como David Bofim,7a metáfora (incorreta) dosvestfgiosmnêmicos. O espaço-tempo da lísica clássica,ou relativista,tazsupor um conjuntocontínuodemomentoscoexistentes. Mas tudooquepodehaver,naverdade, éo instantedistinto.Quandouminstanteé, seupassa do ésemprepassado, edelesópermaneceumvestígio.Seu futuroestásempreporvir,maseleéape nas uma projeçãoainda, ouumahipótese. Umoutromomento vemaseguir,noqualomomentoante rior está contido sob a torma de vestígio. E elecontém igualmente umaprojeçãodosmomentosque virãodepois. Existem, alémdisso,vestfgiosindiretos(assim comolembramosque,ontem,lembrávamos de anteontem). Emoutraspalavras,cadamomentotemseu passadoeseufuturo. Essaconcepção éumaespéciedetranscriçãoparafísicosdamonadologialeibniziana.Aordem dos acontecimentos notempoenoespaçoestáoontidadentro decadamomento,nosentidodequeela faz parteda estruturade cadaaoontecimenlodentrodo processototal.Cadamomentoé‘'interiormente posterior"atodososqueneledeixaramumvestigio.Omesmo acontececomrelaçãoaoespaço,pois a estruturaespacialdecada vestiglorefleteaestrutura espacialcorrespondentedosacontecimentosqus deixaram vestigios. Aestrutura Interna decadaacontecimento encerra implicitamentesua posiçãono espaçoe notempo. Elaoontóm, enfim- para usar a linguagem psicológicadeLeibniz- memóriae apetiçáo(parafazerotempopassadoefuturo),epercepção(parafazeroespaço). Ointeressequeestaconcepçãorepresentaparaofísicoéqueelapermite \talómdosconceitos clássicos (erelativistas) sobre eepaçoetempo,ealémdateoriadoscampos.Trata-se,então,paraofí sico,deencontrarum mododeexpressarmatematicamenteo conjuntodas relaçõesdevestígios,ede vestígiosdevestígios, quedefinemcadamomentoemfunçãodoseupassadoedoseumeio.Acreditaseserissopossívelpormelode‘'matrizes”,nosentidomatemáticodapalavra, que tenhamaproprie dadedeseremostermosde umadeterminadaseqüônda, cadauma delas podendoserconseguidaa partirdaanteriormedianteumaoperaçãomatricial característica Domesmomodo,oespaçopodeser consideradooomoumoonjuntodescontínuodeestruturas(simplexos),deajuntamentosladoalado(no caso do vazio), ou com buracos (quando há matéria), segundo relações de congruência ou de homología.
Os Gnósticosdesejam boa sorteaos físicos emsuabuscadosgruposmatemá ticos (gruposdeLie, ououtros)graças aosquais poderãoexpressarcomexatidãoes ses conjuntosde vestfgiosdevestígios.Porém,nãoacreditamnumsucessototal.Eis so porque os físicos“topologistas” ainda permanecempresos àmetáforadamemóriavestígio, ao postulado segundoo qual o aqui-e-agoraelementardeve ser pequenoe, até mesmo, quase-pontual, os fenômenos macroscópicos sendocomponíveisecom postosdesseselementos.Ocorrequeessepostuladolevaacertas contradições,jáno nívelda teoriafísica. Seoacontecimentopresentecomportavestígiosestruturados,ele é dominial, e não pontual. Pormais que o seu aqui-e-agora seja presente,semoutro passadooufuturoanãoserinterno,esemoutro“alhures”senãooqueconstaaqui,ele é,portanto,antesum "complexo"doqueum“simplexo”.Assim sendo,porquepostular que, em sua“biografia” ou emsua“forma”, elesempredeva ser,no sentidogeral,mi croscópico?Porque constituiroespaço-tempocomumcomnovos“átomos”queconti nuam moldados, mesmo que de longe, sobreo velhomodelo dos átomos materiais, apesardeseremconsideradosátomosespaço-temporaisdeaçõescoordenávetô? Principalmente no campo dabiologia, tudo pareceindicar,apesardos preconcei tos vigentes,queum organismoétão “ monádico”, tãounidominial, apesardos inúm e ros subdomíniosem mecanismos subordinados, quanto os “simplexos” da nova mi-
7. Cf.DavidBohm,artigopublicadoemThe Sáentist Speculatos,obracoletivadirigidaporI.J.Go* od. Traduzidoemtincôssobotítulo: üuand le s savants laissent//orecours à leur imaginatíon,Dunod, 1967(p.169).
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crofísicí.Mas,obviamente,éextremamenteduvidosoqueseconsigaexpressaroses tados sjcessivosdoembriãopormeiode matrizes (matemáticas)operáveise de gru pos“decongruênciaoudehomología".Asucessãodeseusestadoslembramuitomais umasucessãode"soluçõesdematriz"(destavez,nosentidopsicológico)oude“pala vras cruzadas’ temáticas,soluçõesessas nasquaisoembrião,emsuaunidade,éau xiliadoporindíciosespaciais(comparáveisavestígios,sequisermos),massobretudo pelas rremórías transespaciais das quais ele participa, memórias transespaciais e, também, transtemporais, onde o futuro,tantoquanto o passado, alimentao presente dominialsemserpropriamentelimvestígioouumaprojeção. Se o universo, hipoteticamente falando, fosse constituído de um únicoembrião em desenvolvimento, nemo temporeal,nemoespaçoreal, nemoespaço-tempoas- semelha-se-iam aos diagramas de Minkowski. Na verdade,é pelofatodeexistiruma grande quantidade de desenvolvimentos (geralmente, muito mais “microscópicos" do qu e umdesenvolvimentoorgánico) queoespaço eo tempo adquirem oaspecto ho mogéneoesuperficialmenteordenado(nosentidousadonafísicaclássica).Éporisso queoconjuntodosacontecimentostemumadireçãogeralquevai,paradoxalmente,no sentido inverso do tempo de um desenvolvimento individual, equeadegradação das formas, por suas interferências fortuitas esuperficiais,parecepredominar em relação ao seuaperfeiçoamento.É porissoqueoacaso pareceprevaleceremrelaçãoàinfor maçãoativa. Mas os físicos, quando querem cavar mais profundamenteporbaixodesse as pecto e aparênciade homogeneidade eordem por entropia máxima,cometem, obvia mente, um engano emquerer trabalhar aindae tão-somente com base em aconteci mentos ou“biografias"atômicas.Seu método podesermomentaneamentecompensa dornamedidaemquepermitemaiorexatidão,masnãoédifícilperceberporqueesse mótodo,talqual,nãolevaaresultadoalgum.Oembriãoencadeia,porsimesmo,suas próprias matrizes (psicobtológicas) de invenção-reprodução. Ele não obedece a ne nhumafórmulamatemáticadetransformação.
Aschavesdominial* Oespaço-tempoglobal,clássicoerelativista,éfeitodedomíniosativos,emcha ves,enãodepontos-acontecimentosatômicosoumonádicos. Podemos captara passagem deumdomínioparadoisou para vários subdomínios em todosos fenômenos decriaçãoede aniquilamento depares, enofatodeque as materializações ou as desmaterializações da energia sempre ocorrem sobre' um fundodeleisdeconservação,englobandoasmicro-individualidades. Aschavesdominiaissemanifestamsobretudonabiologia. Umacélulaque se divide em duas,duas célulasque seunemesefundem,dois esboçosquesefundemouumesboçoquesedesdobra,sãofatos,também,eprova velmente aparentados com as criações de pares da física, a despeito das compli caçõesquepodemser acrescentadas edos mecanismos auxiliaresderealização.Os desdobramentos dos genes que a biologiamolecularconsidera,hoje,comoum decal que deinformaçõestotalmente materializadas, devem,antes, serrelacionadoscomos desdobramentosdeesboçosembrionáriosque,porsuavez,nãopodemmanifestamen- 120
te explicar-sepelo processo de decalquee sãotão primários, dentro do “campodo m i- niar,quantoascriaçõesdeparesdamicrofísica. Quandoum homem adultoimprimedoismovimentos conjugados e simétricosaos seus dois braços (sem precisarvigiar particularmente oqueo braçodireitoeoesquer doestãoexecutando),suaárea motora cerebralé semelhante nasua essênciaao que representa um diagrama de microfísicapara uma criação de pares.Assim, também,o surgimentodeuma simetriabilateralnumovofecundado - simetriabilateralquetem,às vezes, como resultado uma gemelidade, na qual os dois gêmeos"idênticos"apresen tamàsvezes,característicasemespelho(comoduasdasirmãsDionne,cujoscabelos se encaracolavam em sentidos contrários,oucomo certos “pares”,raros, de gêmeos idênticosondeumdelestemocoraçãonoladodireito). Oque faz parecerem gratuitostaisparaleloséofatodeque,na criaçãode pares biológicos, aparticipação nas memórias transespaciais pode, depois, acabar diferen ciandoessassubindividualidadesformadas inicialmente demodosimétrico. Doisesbo ços pares poderão permanecer simétricos, mas poderão também diferenciar-se pro gressivamente, se opotencial mnômico for“distribuído". Suas “biografias",aprincípio analógicamente semelhantes, passam entãoa divergir,eessadivergência diferencia- doraconfirma,depoisde ocorrido,queodesdobramentosimétrico nãoeraum simples decalque.
Asindividualidadescomoespelhosespaciaisdotransespacial Cada domínioô comoum espelhoquepodeseparar-seemduaspartes,primeiro semelhantes, não apenas emsuamaterialidade deespelhoscomotambémnaidentida de do que eles refletem. Depois, à menordiferença deorientação, cadauma dessas metadespassa a refletiroutra coisa,umaoutrapartedo mundo refletido. Asmemórias (transespaciais) de uma espécie, seusinstintos formativose decomportamento, são assim “refletidos” , numa distribuição diferenciada, no que diz respeitoaosesboços, a princípio semelhantes,deórgãosdiferentes,aossegmentosdoeixoorgânico,aambos ossexos,eàsformasespecializadasdasespéciespolimorfas. Esta comparação temavantagem defazerentender ocaráterrelativododeter minismomnèmico. Um deslocamentomínimodoespelhoênecessárioparaqueelere flitaoutracoisa. Masesse minúsculodeslocamentonãoexplicaasdiferençasdoqueé “refletido”. Assim, algumas moléculasdeumasubstânciaelaboradaapartirdocromos somoXouVorientamoembriãoparaosexomasculinooufeminino.Masseriaabsurdo acharquese pode explicaraimensacomplexidadedo“sabersermacho”oudo“saber serfêmea”pelanaturezadasubstânciaquímica. A comparação é imperfeita na medida em que transforma em informação por meiode elemento observável (oreflexodascoisasnoespelhovivo)oque,naverdade, émais doque um reflexo; é informaçãoporelemento participâvel. Ela substituiporum esquemapuramenteespacialumacontecimentodominial,quefabricaestruturasespa ciais a partir de temas transespaciais e que fabrica tempo-processo a partirdo in temporal. 121
S o m o s iludidospelariquezadoespaço A fantásticariquezado espaço em termosdeinformações estruturadasdisponí v e is , nas quaisosseresperceptivosapenas têmde pescar,desperdiçandoquasetu do, contribui para que se acredite queas informaçõesmnômicas, as ubiografias,’, as continuidades semânticas dos seres vivos e sua reproduçãopossam ser explicadas poressariquezaespacial. Nahistóriadasidéiascientfficas,hásemdúvidaumarelaçãoInteressanteentreasteoriasdaóti ca e asteoriasbiológicasdareproduçãoporencaixedosgermes.NosséculosXVIIeXVIII, causavaas sombroaóticadacâmaraescuraedoolho,ondeosraiosluminososeramcapazesdeconcentrar-seo suficiente parapassaremporumminúsculoorifício,dispersando-seemseguida, osuficiente parade senhar todosos detaJhes de uma paisagem. Deuma tomamaisgeraJ,omicroscópiodeuaidéiade um a informação infinitamente subi doespaço,ondeosaparentesdesenvolvimentosnotempopodiam sercontidos. Assim, Adãocontinha,peloencaixedos germes,todaahumanidadefutura. Oproblema da “ passagem estreita” paratantasinformaçõesnáomaispareceuumproblema. G.Bonnetextraiudis sotodaumafilosofia.Teoriasmuitomenossimplistas,noséculoXIX,sãotributáriasdomesmo“ encora jamento” .Ocorpoenviarepresentantesdesuasestruturasnoselementosgerminaisquetornamadis persar-senumnovocorpo, assimcomoaimagemdeumvastoespetáculopassapeloorificiodapupila.
Hojeem dia, não serecorremais aessas comparaçõesóticas,mascontinua-se confiando na riquezado espaçoparaentenderainformaçãonotempo.Umafitadegra vador nãocontémtodasasinformaçõesdeumasinfonia?Bastadesenrolare “ler”afita pelo processo mecânico doencadeamento. O cérebro temespaçomaisdoqueo ne cessário paracontertodaamemóriapsicológicade um indivíduo. OsgeneseosDNA representam informaçãoespacial suficiente para queo desenvolvimento temporalnão seja um mistério. Nãoépornenhum processo de mágica que, de todasas partes,a quilômetros de distância, podemos ver uma paisagem; o fato é que essa paisagem existe realmenteem cada pequeno volumedoespaço. Não é nenhumamágicaofato de podermosouvirumasinfoniadesenrolandoafitamagnética:emcadaponto,suaes trutura molecular conserva o vestígio da passagem das ondas sonoras. Do mesmo modo,oaspectoaparentementemágicodaformaçãoembrionáriaedoscomportamen tos instintivosexplicar-se-iapelaleitura(mecânica) dasinformaçõesespaciaiscontidas nosgenes. Pormaisqueo estudodiretodosfatosdamemóriaoudaformaçãoembriogênica manifestamentetemática reveledeformaimediataaimpossibilidadedessa reduçãoao espaço,essareduçãocontínuaasebeneficiardeumprestígiocientíficototalmenteime recido. Quandoos embriologistas consideram que, noembrião jovem, qualquerparte podeserequivalente, em informaçãopotencial,aotodo; quando Lashleyconsideraque amemóriacerebral deuma aprendizagemnãoélocaiizável;quandooslingüistasmos tram a impossibilidade de se entender a composiçãoda palavra a partirde reflexos condicionados,as mentes científicascontinuam achandoquedevem manteraidéiade basedeque,aindaassimeemúltimainstância,oespaçoéricoosuficienteparaexpli cartudo. Ointencional, osintático,oestrutural- nosentidonão-mecânico- ,aorgani zação interna da enunciação, como do desenvolvimento ou do comportamento, por mais que seadmitatudoisso, mantém-seaesperançadepoderreduzirtudo,porfim,a estruturasmecânicas eespaciais.AtémesmoN.Chomskyconsidera-senaobrigação, para livrar-seda“horrível"acusaçãode utilizarumaterminologia“mentalista”, dedecla 122
rar, num parágrafo final :8 “Podemos es tar certos de que haverá uma explicação física para os fenômenos em questão"- ac res centan do apenas: “Mas o conceitode expli cação física provavelmente acabará se nd o ampliado, exatamente como foi ampliado parareceberaforçagravíficaeeletromagnética.”
Opreconceitoacercadoelementaledacausalidadeascendente Segundo a tese gnóstica, essa ampliação será tal que o próprio termo "física" acabará enganando, exceto se remontarmos ao sentido etimológico da física como ciênciadaphysis, da natureza,ondeosse res crescem evivemnotempo.Então,afas tadoqualquer preconceito cientificista,vemos queos temasdocomportamento,partici pados,dominamoinfinitodos detalhes e não derivam deles, que acausalidadetemáti caédescendentedechaveemchave,equesóóremontante, desdeos detalhes su bordinadosaté otema, noscasos de aperfeiçoamentos cuja soma, integradaaotema, é sem dúvida muitoimportante— ela desenha o universo visível mas que só têm sentidorelativamenteaotemaprimitivo. Mesmo na percepção e na “pesca dos observáveis” quando, por hipótese, o domínioconscienteseoferecepassivamenteàmodulaçãopelosdetalhesinformantes, se ofereceaosacasosda pesca,um ser vivo, ainda assim, só toma noespaçooque eleprocura,deacordocomseustemasdepercepçãoesegundosuas“gnosias”instin tivas. O mundo percebidopor uma espécie animaljá veminscritode antemãoem seu potencial quase tão rigorosamentequanto seus instintos formativos. Em outras pala vras ainda, tanto na percepção como na ação, o "distai” sempre prevalece sobreo “proximal",osentidogeralprevalecesobreosdetalhes.Se,nodecursodaevoluçãoda espécie,acausalidadetevedeser“ascendente"paraqueaespéciepudesseaprender o seu “mundo" (Umwelt),provavelmenteoencontrou,senãobuscando-odiretamente, pelo menos buscando um mundo onde pudesse viver e ampliando aos poucos seu domínio. Todoser vivo- na verdade,todoser real - éumartista,aomesmotempoinspi radoe semprealertaparautilizaroacaso.Seaarte“aleatória”, seamúsicaou apintu rainformal,àbasedecombinaçõesaleatórias,épossível,éprecisamenteporqueoar tistaesperapodertocar,apontandoaoacaso,um significadooualgumaexpressividade transespacial.Ele"brincacomoespaço”,masparasairdele,assimcomosetentaao acasováriaschavesparaabrirumafechadura. Parao comportamento ativodos seres dotados deum sistemanervoso, issoé ainda maisevidente. Os detalhesnervosos (neurológicos) da realizaçãode algumato sãodeumacomplexidadequepareceindefinida. Eccles conseguiumostrar, em 1964, porquais mecanismos químicosos nervos se excitam e se inibemumaoutro, pela passagemdelònsatravés de uma superfície interna polarizada, provocando sua despolarização. Já que os efeitos denervo para nervo,edenervoparamúsculosãosimilares,umaversãogeneralizadadahipótesede Eccles pode servirdemodeloparatodasasformasde excitamento ede inibição.9
8.Le Langage et ia Pensáe,Payot,p.139. 9.Ct.DonaldLonymore:Le Coeur, Hachette,1970.
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Quando em repouso, aplaca terminal (najunção nervo-músculo) ou a sinapse
(na junçãonervo-nervo) tem os pórosde suaparede receptoraobstruídos.Aodesen cadear-seaação,aplacaouasinapseliberaumasubstânciamediadoraarmazenada numlugarpróximoao póro, ecombina-se comamoléculaobstruidoradetalmodoque essa molécularodopia para cima,abrindoopóro.íonspassam,então,poressaabertu ra e provocam adespolarizaçãoexcitadora. Numajunçãoinibidora,passamlòns dife rentes(ospórosefetuamessaseleçãopelacargaelétricadesuasparedes)e,emse guida, enzimas próximas dositio no receptor destroem asubstânciamediadora,eos pórosvoltamafechar-se(tudoisso,numoudoismifi-segundos).Osprodutosqueblo queiamumsitionoreceptornumexcitamentonãotômnenhumefeitosobreumajunção inibidora.Além disso, existeespecificidadedessesprodutosdeumnívelparaoutroe, mesmo,de um gânglionervosoparaoutrogângliovizinho,do cordãomedular- assim comoexiste,numgrandeedificiodeescritórios,umachavediferenteparacadaporta.10 Se esses complexos mecanismos se desenvolvem ao acaso, só se podecon seguirum nível estatísticodo tônus nervoso- oquenãovemaserumaaçãomaisdo queumruidodefundovemaserumamensagem,ouumapulverizaçãohomogêneade pequenospingos depintura viriaaserumquadro.Paraqualquercomportamentodota dode sentido, pormenorque seja(porexemplo,enunciarumafraseoufazerumsinal), sãonecessáriosmilharesdenervosdescarregando-senumconjuntoorganizado,emi lharesde fibrasmusculares reagindodemaneiracoordenadapeloprocessodechave de um esquema, elaboradona áreamotora cortical pelaaçãoda consciênciamotora habitualouinventiva. Eccles teve o raro mérito de estudarcomminúciadetalhes como esses, sem perderdevistaanecessidade quehaviadeummestredojogo,deumsenhordodomí nio,supra-ordenado, e sem a tolapretensãodequererexplicarocomportamentopelos determinismos acumulados, pelo avesso (embora,para desempenharesse papel de Msenhor dodominio”,tenhacometidooerrode apelar para um “espíritomágico”, inspi rado pelasexperiências duvidosas de Rhine, eexercendocamposespaço-temporais de influênciassobreos milhõesdeelementos nervosos levados até umnívelcríticode excitabilidade).11 é muitomais simples rejeitar opostulado injustificávelsegundooqual os domí nios individualizadossó podemser“pequenos",esegundooqualosdomíniosmaiores sãoapenas'conglomeradosde pequenos domíniosqueestaríamfazendotodaareai- dade do grande domínio. Em quea noção de umdomíniocerebral decomportamento unitário seriamenoscientificado queanoçãodeumaunidadecelular,ou deumauni dademolecular?Umaflorcompostapossuitantaunidadequantoumarosáceaouuma papilionácea, esabemos queos mesmostemas morfogenéticosoperam, tantonafor ma composta como naforma simples.Pormaisqueensinemosàs criançasque uma margaridanãoé“uma” flor,nãopodemosimpedi-lasdedizerem que elastêm namão “uma"flor.Oquenãoestátotalmenteerradopois,entreumainflorescênciamuitocon densadaeumaflornãoexisteumlimitepreciso. Favargerdemonstrouque,emmuitas
10.Ibid., p.104. 11.J.C.Eocles: The Neuro-Physfologicaj Basis of Mind,Oxford,1953,p.204.
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flores que parecem simples, devemos verinflorescèncias condensadas e simplifica das.12 Os lingüistas há muito tempo sabem queos esquem as lingüísticos não podem ser compostos com microelementos, e sim, submetem-se a "modelos” temáticos. E elessuspeitamdaexistência,porbaixodessesmodelos,detemasinstintivosegenera tivosmaisprofundos. O cérebro, no embrião, forma-seemseuconjunto. Quando adulto, ele funciona, em parte, segundodiferenciações adquiridas e irreversíveis, porém conserva, da uni dade dominialde sua formação em área “totipotente"13 para aneurulação, apossibili dade de comportar-se, no sentidopróprioda palavra,ede agir segundo temas signifi cantes.Océrebroadultoó, noorganismo, umaáreaque, numcerto sentido,permane ceu embrionária,isto é, um esboçodiferenciável (capazde diferenciar-se) nesteouna quelesentido,deacordocomasinformaçõesechamadasmnômicasquerecebe. Nos vegetais,tambómexistemzonasque, noorganismoadulto,permanecemembrionárias.No animal,ocoraçãoencontra-seatécertopontonumasituaçãoanálogaàdocérebro,poréminversa.Seu comportamentorítmicoé autônomo e independente dosestímulosnervosos. OfeixedeHis,umadas tontes desseritmoautônomo, é,naverdade, um músculoembrionárioqueconservaacapacidadeem brionáriadecontrações rítmicasespontâneas.Sobrepostasaessecomportamentoembrionário, estão as regulaçõesquefuncionamporinibiçãoeexcitaçãopara-eorto-simpáticas.Emresumo, nocoração, umfuncionamentoficasobrepostoa umcomportamento.Nocérebroadulto,ocomportamento(análogo ao comportamento inventivomnémicodoesboçooerebral)fica, pelocontrário, sobrepostoaosfuncio namentos nervososdeefecçáo.Écomose,nocoração,ocentrodeHis, bemcomoosnósauriculoven- tricularesinuso-auricularusassemcomoelectorosistemaorto-epara-simpático.Naverdade,asdife rençasseatenuam. Pois, em todooorganismovivo, náoexistenuncaumfuncionamentopuro, apartir deestruturasdiferenciadasnoespaço,masumfuncionamentosempresupra-lmpostoousubimpostoao funcionamento-comportamentoque constituioureconstitui asestruturas. Um organismoquenáocon servamaisnadadeumesboço,autoconstltulnteporparticipaçãomnémlca,éum'organismomorto.
Holismoereduclonismo “Seria possível conceber que um engenheiro marciano,querendo interpretar o funcionamento de uma calculadoraterrestre, conseguiria chegar aumresultadoqual quer se se recusasse, por princípio, a dissecaros componentes eletrônicosde base queefetuamasoperaçõesqueseesperadoaparelho?” Pois bem. É aindamais duvidosoqueeleconsigaentenderocomputador,oseu uso,e não apenas o seu funcionamento,seele selimitaraestudarseuscomponentes eletrônicos sem ter a mínima idéia do tipode operaçãoqueseexigedamáquina.Os embriologistassóconseguiramfazersuaciênciaprogredirutilizandoconceitos“holfsti- cos” , istoé, “dominiais": os conceitos deesboço, de induçãoglobal,depotencialidade totalou parcial, dedeterminaçãoorientadora, de diferenciação, de epigônese, deregu
12.C lC.Favarger:FloteetVégátaiondesAlpes, l p.256. 13b Uma área embrionáriadtotipotentequandoconsegue fornecerqualqueruma daspartesdo oonjuntoqueela estádestinadaasetornar:ametadedeumovo,depoisdaprimeiradMsáo,aindapo dedarumorganismointeiro. Umadas metadespermaneceuumtodovirtual; permaneceu totipotente. (Nota de 1977.)
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lação dominam as interações moleculares. Setivessemprocuradoanalisardiretaeex clusivamente as interações moleculares (às quais eles chegam em alguns casos), a embriologia científica não existiria. O exemplo de Eccles mostra que a tentativa de
compreenderocomportamentoglobaldeumdomínio, nocaso,do sistemanervoso,não ó em nada incompatível com a minúcia no estudo das interações nervosas ele mentares.
Capítulo XVI A ‘DESV INCU LAÇÃO " (UNBUNDLING)D AMENTENO UNIVERSO
O usuário de um computador não precisa sabercomo,na realidade, funcionam os componenteseletrônicos debase. Eleestámuitomais preocupadoemterbonsmo delosde utilizaçãoou,comose diz, de software.Ocomputadoréumaparelhomaterial que serve para compor um número indefinidode “modelos analógicos" dosfunciona mentos, cujo rendimento se pretende estudar, num pré-experimento sem perigo, num experimento quase-mental. O software éo conjuntodosesquemas demodelos a se remcompostos. Umfabricantedejogosdeconstruçãoparacriançasnuncadeixadeacrescentar váriosmodelos de construçõespossíveis que o seu hardware permite. O softwarena da maisédoqueum conjuntodessesmodelosdemontagenspossíveis. Apesar de muitastentativas, tem sidoimpossívelencontrar palavras francesas para traduzir esses termos delíngua inglesa. Hardware(aaparelhagemmaterial)cos tumaásvezessertraduzido por“lataria"- quenãoôumtermomuitofelizquandoque remos aplicaresse conceito, como vamos fazê-lo,àbiologia.Paraosoftware,“recei- tuáriodemontagens"pareceseraexpressãomaisexatapossível,pelomenosamais curta. Océrebrocomo hardwareparaamente,transformadaem softwareautônomo Todososseres quenão sãosimples aglomeradossemunidade verdadeirasão, em seu “anverso”, subjetivos, emplena posse de si mesmos. Eles seutilizam de si próprios como um engenheiro montador se utiliza de um computadormaterial. Como unidade individual, eles sãoengenheiros montadores de seuprópriodomínio, queeles utilizamcomoteclado ou instrumento.Todos osseres sãoaomesmotempoengenhei rosemáquinas,datilógrafoseteclados,pianistasepianos. O cérebro— ou antes o seu “anverso": o campode consciência - representa apenasumcasoparticulardesseestatutouniversaldosseres.Eleéprimitivamenteao mesmo tempo engenheiroem seuanverso emáquinaem seureversoobservávelde tora. Eleéteclado e pianista.Porém, a riquezadosoftware cerebral - istoé,dorecei- tuário de montagens diversas - no homem, para quem as memórias culturais vêm 127
acrescentar-se às memóriasbiológicas,étalqueoque é indissociávelou poucodisso- ciâvelnos outros seresdissocia-se noseucaso. Amenteparece serumaespéciede engenheiropuro,dehomem-mentenohomem-corpo,dotadodemilhõesdereceitasde montagenseutilizando-sedocorpocomodeumaaparelhagemmaterialdisponível. O“ eu"pareceservir-sedo cérebroparaperceber.Nósnáorecebemos- ounão recebemosapenas- inúmerasinformaçõesdemodototalmentepassivo;tambémpro curamos as informações importantesdentro da confusão deondase fótons. Nósnão sofremos- ou nãosofremosapenas- condicionamentos: nós noscondicionamosvo luntariamente,nós“nosmontamos"conformeasnecessidadesdaaçãoprojetada. Um ponto mais paradoxal é que não nosdeixamos invadir pela nossa própria memória,a qual, noentanto, porfazer nossa biografiaindividualizada, nosopõeaoes paço; masprocuramostambémlembrançasúteis,lançandoparaissocorrentesexplo radoras, assim comoquem utiliza uma calculadora pode colocarem seu “programa” exploraremdeterminadomomentoasmemóriasmagnéticas. Ou seja,a “mente" pareceserumutilizadortranscendentedo“corpo”e,empar ticular,docérebro, servindo-se deste como de um instrumento, como deuma‘ lataria nervosa",oucomoumpianistaseutilizadeumpiano.AGnosepré-cientflicainventou mitologias pitorescas e complicadas sobre essetema: o Espírito,totalmenteindepen denteda Matéria, sobrevindo de um outromundoe, às vezes, inimigodamatériaque elenãoconseguemaisdominar. Comefeito, o Espíritotomou-se- quase - um serautônomo,pelaenormevarie dadedas montagens possíveis,emcontrastecomadisposiçãopadronizada- emtoda aespédehumana,e atémesmoemtodasasespéciesdeanimaissuperiores- dosis temanervosocentral.AfirmaI.B.M.,desdejunhode1969,vendeseparadamente,efa turaemseparado,seuhardwareeseusoftware.Essemétodocomercialfoibatizadode unbundíng(desvinculaçãooudesenfardamento).Anaturezaigualmenteacaboufazen douma“desvinculação”damente,masissodeformaprogressiva,primeironosseres vivos com memória“independente”, isto é, nãovinculadaaodesenvolvimento e, de pois,emmaiorescala,no homem,quetemumamemóriaculturalsobrepostaàmemória biológica. O quedenominamos “cultura" é, na verdade, uma enorme coleção de “monta gens", de “jogos” possíveis sobreomesmocérebro.Assim,porexemplo,a músicade piano étodoum mundoàparteem relaçãoaomesmopianoinstrumentomaterial,como avariedadedos usos possíveisde um computador éum mundoàparteem relaçãoao aparelho padrão. Os papéis sociais, as linguagens diversas, os ritos, os comporta mentos culturais, indefinidamente variados, sedesenvolvem, se inventam, secompli cam e se diversificam em arquiteturas psíquicas variadas, queseutilizam domesmo instrumento cerebral, cujas variedades biológicas, raciais e até mesmo específicas quasenãoimportammaisdoqueimportaamarcadeumpiano,comparadacomasdi ferençasdamúsicaoudoexecutante,comadiferençaentreChopineGerschwin. Ahistóriada música,da arte edaciência, ahistóriadasidéiaspolíticasereligio sas,edasinstituiçõesemgeral,étotalmenteindependentedahistóriabiológicadocé rebro. Haendel é Haendel comomúsico ocidental do séculoXVIII muito mais do que comohomosapiensnordicus. Durante sua vidaterrestre,a“músicadoséculoXVIII"o visitava, autônomaesobre-humana comoumanjo, e tocavano seu cérebrocomoele mesmo, depois, tocou no seu cravo. Após suamorte,sua música continua mais viva 128
doque nuncana mentede milhõesdeouvintes. Podemos realmente(alar,comoos e s piritualistas mais entusiastas, ou comoos devotos mais imbuídosdefraseologia devo ta,oucomoosGnósticosantigos,em“restosmortais”deHaendel. desenvolvimentodosoftware(cultura,composiçãomusical, etc.) é praticamen teindependentedoprogressodo hardware(océrebrodosmúsicos). Nessesentido,todo homem,é um “ele", ou uma espéciede consciência im pes soal, dentro da constelação ou estrutura cultural, tanto quantoum“eu”com iniciativas próprias. Entretanto, essa disjunção Espírito-Matória na utilização docérebro pelamente não deve iludirquando se tratadoaspectogeraledanaturezadavidanocosmo. Essa disjunção revela, semdúvida,umadisjunçãouniversalentreaformacomoidéiatemáti ca e a formacomo estrutura no espaço. Mas, ao revelá-la, acabaampliando-a detal forma quepode chegar a iludir,dandoorigem às mitologiaseàsdivagações da antiga GnosesobreoPneumaeoEspírito,imaginadoscomosendototalmenteindependentes da Matériana qual seatolam. Normalmente,a disjunção, ou bifurcação,permaneceno estado nascente. Nos fenômenos microfísicos, a disjunçãojá aparece,como vimos. Ela se manifestaem particularpeladificuldadeque se temde processaraoperação T (a inversão do sentido dotempo)do mesmomodo queaoperaçãoP (asimetrianoes pelho), ou seja,umainversãopuramentegeométrica.Contudo,elaacabasendo imedia tamentediluídaemfenômenoscoletivosestudadospelafísicacomum. O
AdisjunçãoEspfrito-Matértanaembriogênese Nos fenômenos biológicos, a disjunção se afirma. A consciência, a mente, não sáo apenaso anverso docorpo;amenteutiliza-sedocorpocomodeuminstrumentomas de umaformaainda suficientementediscretaparaquepareçapossível,emúltimo caso, mantero pontode vistadocientismoestreitoeconsideraraautonomiadamente umailusão.Aembriologia, entretanto,nãodeixamuitolugarparadúvida:opróprioem briãojá se parececom um cérebro(assimcomoo cérebrose assemelha a umaárea que permaneceu embrionária), porsuas surpreendentes propriedades potenciais, por suarelativa indiferençaem serorientadopara essaou para aqueladiferenciação,pela facilidade com que o experimentador pode mudar o destino de suas partes mediante “evocadores” químicos absolutamente banais.Sabemos que o experimentadorpode fazer surgir um esboço nervoso fora do seulugarnormal,sobreaparte ventrale não sobreoectoderma dorsal,equequalquerparte do ectodermadorsalpode,conformeo evocadorrecebido, gerarumaparte qualquerdo sistemanervoso,ou aretina,ouainda osimpático,oesqueleto visceraldocrânio,ahipófise.etc.E comoseaáreaembrioná riamaterialfosseapenasumaespéciede hardware,masumhardware muitoflexívelapesardaetimologiadapalavra- equalquermontagembiomnêmicapudessefuncionar ali, do mesmo modo com queo cérebro adulto pode servir de suporte para qualquer montagempsicomnêmica.
As“ remontagens” decausalidade Em nenhum domínio, porém, a autonomiado Espírito se torna absoluta.Amente nuncasetorna um fantasma,ouumdeus,queandasselivrementepelo espaço.Emto129
da parte ocorrem "remontagens" de causalidade, damatéria até oespírito. As infor maçõesconstituídas reagem sobreainformaçãotemáticaque,noentanto, foiaquede inicio as improvisou. As receitas culturais da humanidade,que possibilitam, hoje, ao homem montar toda espéde deidéias em seucérebro, sãotributárias de umalonga capitaízaçõodessasidéiasedasferramentasouinstrumentosInventadosnopassado (muitasvezescomaajudadefefizesacasos).Os músicoseospianistasusamopia no, quiseram um instrumento detedado, conseguiramimprovisá-lo e depois aperfeiçoá-b (ou buscaram esses aperfeiçoamentos). Nesse sentido, só existem pianistas porque existem pianos, assim como sóexistemcompositoresouvendedoresde soft ware paraoscomputadoresporqueexistem computadoresmateriaisàdisposição.As "culturasbiológicas”que,hoje,permitemqueoembriãodeumaespécieconsigamon tar, comuma iberdadeespacialquasetotal, qualquerórgão especifico,ouquepermi tem quepraticamentequalquer partedeum vegetalconsiga reconstituiro conjuntodo mesmo,sãoigualmentetributáriasdetodasasaquisições(muitasvezesfortuitas)ante riores, sejam ou não essas aquisições do tipomutaçõesintegradas no potencial es pecífico. A psicologia patológica, como ateratología biológica, evidenciade modo muito claro as ‘ remontagensde causaldade" do tipo:"Aexecuçãode um pianistadepende dobomestadodopiano.”Podeatéocorrerqueamentesolciteessasremontagensde causalidade.Osmúsicosuptodatetocamnumpiano“preparado”,istoé,metodestruí do. Escritores"preparam”seucérebropormeiodoálcooloudedrogasvariadas.
O espirito predomina
Pensando bem,porém,aindaestaremosmenoslongedaverdadeseadotarmos astesesmaisextremasemaismíticasdognosticismodo Espírito-que-se-toma-matéria-e-depois-a-dorrÉia, doque seassumirmosatese cientificistaextrema,da Matériaque-fabrica-o-Espíríto.OEspiritoémodificadopelosseusinstrumentos,pianosoumá quinas.Noentanto,éelequeosconcebeprimeiro,equeosrealza.Sóexistempianos porque existem pianistas. Só existem músicos humanos porque existe uma música universal. Nãohá nenhumacontradiçãoemconsiderara MatériacomoEspírito “ pulveriza do”,dominável oudominado, utilizávelcomomaterialporumcompositordemaiorcom petência:ummúsicopodetantoseutilizardecoristascomodeinstrumentos;aopasso quehácontradição,ouapeloparaopensamentomágico,quandosepretendefazersair o Espíritodomaterialqueeleemprega.O Espíritose serveda Matéria (oudoEspírito mais ou menos“ pulverizado”) damesmaforma comoum serfalante se servedaspa lavrasedossonsqueconstituemaspalavrasparaseexpressar. Não é absurdodizer que opássaro-indivfcluo voa porque ele tem asas que se põemafuncionar,oudizerqueopintrihodábicadasquerompemsuacascaporqueele temumbico(fabricadocomaajudadaquímicadeseusDNA).Nãoéabsurdodizerque oseuconhecimento instintivodovôoeda bicada(seusoftware)chegaaserquasein- distingüível do funcionamentode suas máquinas, das quais é um mero utilizador,se gundo um método deuso já montado noseu cérebro.O indivíduoencontra-sequase queisentodegenialidade- sebemquetodososindivíduosemfasededesenvolvimerv 130
to, todas as crianças tenham genialidade até umcerto ponto- porqueosmodelos de comportamentojá estãotodosmontadosnele segundoumamemória específica. Mas é impossível dizerda espécieoquepodeserdito,até certoponto,doindiví duo.Seospássarosvoam,seosrépteiseosmamíferosandam,éporqueseusances trais “quiseram" voar ou andar- e as mutações, lentamente, tornaramseus organis mosmais aptosa efetuaressasmontagens, aprincípio, improvisadasde modoprecá rio. As “espécies" (species) são “especialistas" (species is nothin g, ifit is not speciaístic). Elas foram se modificando - acrobáticamente - ao modificaremorumo de seus interesses: “A formaorganizadaéaexpressãodeumaopiniãoorganizada."A adoçãoda posturaverticalpelospeixes-chatos,amarchabípededohomem, sãoacro baciasprimitivasconsolidadas.Amarchabípededohomemtalveztenhasido,nohício, consideradadefeituosa ou afetada. Talvez fosse a imitação1 de alguma deformidade, imitaçãoestadestinadaa agradaralgumchefe semi-símio,queperderaseusbraços e nãopodiamaisandardequatro. O universo inteiroé,assim,um tecladoque ao mesmotempofuncionapara e é improvisadopeloseumontador.É umaacrobaciaconsolidadado Espírito. Não vemos em quepodeser mais,oumenosmítico, considerarqueoEspíritoin tervém, sejasob a formada vontadede voar, ou de andar,em determinados períodos da evolução de certas espécies, ou sob a formade invençõestécnicaspek) cérebro humano adulto, seja de uma maneira mais fundamental, comoInspiradoruniversalde todososutilizadoresdoespaçoedotempo. Sabemos que os vendedores de "montagens" (de software)sãode duas espé cies: os vendedores de “montagens sob medida”, epara umuso bem definido; ou os vendedores— segundoosistemadenominadod e "package"- deesquemasdemonta gensgenéricas,destinadosaresolverproblemasdeumcertotipoenfrentadosporem presas diferentes, mas cujas atividades sãosuficientemente análogas para queseus problemastenhamsoluçõesanálogas. AssimcomoounbundlingdaI.B.M.podesercomparadoaounbundlingdamente, osistemadepackageé perfeitamente comparável ao processo da vida,biológicaein- frabiológica,que sobrepõeou subimpõe às memóriaseinteligênciasindividuaismemó rias e inteligênciasespecificas, e, aessasúltimas, inteligênciase memóriasmaisfun damentaisainda, eque constituemtodoosistemadoespaço-tempo.OgrandeVende dordesoftware realizaa“venda"segundoosistemade package.
1. ...conformesugeriuumGnósticohumorista. 131
Capítulo XVII ATEOLOGIANEOGNÓST1CA OEspirito,comotema,ouidéia,ouconsciência,ouprojeto,éformador,éenvol vente,antecipandoasestruturasdeseussuportesmateriais.AGnoseéessencialmen te antimaterialista. Urna reaüdadematerial, física, nãopodepreceder aconsciência.A consciência ô, ao mesmotempo, o “anverso"e o invólucro constituinteda realidade material. Antimaterialista, aGnose é “deísta”. Os Gnósticosnãogostammuitode usara palavra“Deus” . Masos “sinônimos preferíveis” muitasvezes são incómodos parao quesepretendeexpor.Demodoquenãopretendemos,aqui,serpuristas. Deus é o “Anverso" supremo quefaz aunidadedo universoeoimpedede ser “ pulverulento”. Eleóo“ Distai”supremo,1do qualtodosos seressubordinadossãoos m ebs “proximais". Ele é a Causalidade descendente, que se aproveita detodas as causalidades ascendentes,integrando-as. Eleóparaouniversooqueoinstintoforma- tivoespecíficoéparaoembrião,visívelnoespaçoediferenciadonotempo.Eleé,por oposição ao espaço das estruturas materiais e dos funcionamentos cinemáticos, o tempocriadoredinámico.Maseleenvolvetodooespaço-tempo. Existeumadiscordânciaentre, porum lado, aprioridadenormal daidéiasobrea sua realizaçãoe, por outro,oaspecto geralda evolução cósmica,ondetudosempre pareceiniciarpelosátomos (ouequivalentes)eos microacasosdeondeparecemsur giraconsciência,aidéia, amente.Superficialmente- eparaumaciência,aliás,hojeul trapassada - o universo, emsua história, pareceirdamatériaparaaconsciênciaou, mais precisamente,deum estadodemocrftico,deumtecladodeletrasdesconectadas como acasocomo único datilógrafo, paraumestado markoviano(com conexõesque começamacanalizaro acaso:moléculassubvitaisauto-reprodutoras,vírus,pré-vege- tais,vegetais) esomente entãoparao surgimentode seresconscientes,os animaise oshomens,dotadosdeumcomportamentointeligível,deum softwarequase-autônomo.
1. Distai = Norma,objetivodistante.Umcegosenteoobjetonapontadesuabengala(distai),enfio emsuamão(proximal). (Nota de 1977.)
132
O sentido parece (historicamente) surgirdo quase-sentido (markoviano),oqual, porsua vez,parece nascerdo “não-sentido”. A históriado universo(parauma ciência superficial)parece contradizeraprioridade, racionalmenteindispensável,dosentido. Domesmomodoqueaobservaçãocientíficaconverteautomaticamenteos seres em “objetos” e os vê pelo avesso, a históriacientíficado cosmoinverteaprioridadeló gicadosentido,doantiacasosobreoacaso,ecolocanaorigemoreinodoacaso. Essas duas inversões são, entretanto,muitodiferentes.Nãosepodedizerquea históriado cosmoseja urna simples"ilusãodoobservador". Não nosenganamosacre ditando que a Terraonde vivemos e pensamos já foiinicialmente“informee nua”,ou "desertae vazia”, antesde produzira grama “...eárvoresque produzemfrutosconfor mesuaespécie,egrandesquantidadesde animais”(tradução Dhorrr^ou, segundoa curiosa traduçãode Fabre d’Olivet, queos Gnósticos americanos vieram a conhecer através de B. L. Whorf, "... antes que as Águas emitamem abundância os principios vermiformesevoláteis deurna Almade vida, movente sobrea terra, eesvoaçandona expansãoetéreadoscéus”. Essa inversão “histórica”, essa visão “em espelho” do surgimento histórico do significadoedo antiacaso,queparece impor-se à ciência,requerimperativamente,co mo corretivo, uma Consciência ou um Sentido que seja primordial, independente do tempo eda história cósmica, portrásdos“teclados”aparentemente desconectadosdo espaço-tempo, teclados, esses, destinados desde aorigemà Línguaeà Escritacós micas. Aliás, devemos acrescentar que a cosmología científica contemporânea, inde pendentemente de qualquerteologiaou teosofía,estácomeçando acorrigirainversão histórica das cosmogoníascientificistas. No princípio nãohaviaos átomos, mas muito provavelmente o Átomoinicial,noqual, enão semmotivo,não havia leisestatísticasou leis coletivas, vistoque nãohaviacoletividade algumae, portanto,nenhumreinoprimiti vodoacaso. Deus é o Espírito recolocado no seu verdadeiro lugar, fundamental e primário, apesardas aparências “emergentistas"queenganamas cosmogoníassuperficiais.O Espírito transforma-se em teclado material antes de tocar, sobre ele mesmotransfor madoemteclado,suasprópriasmelodias. Deus é o Pensamento do qual o mundo constituído é o cérebro. Um cérebro indócil mas que, por sua própria indocilidade, é inventivoearrasta oPensamentoen volvente emmilhares deaventuras não previstas, ao mesmotempológicasefantasio sas como um sonho- um sonhoque,nofimdascontas,sempre acabasendorecupe radoeutilizadopelalógica. Deus éoAntiacaso,ou antes - pois estaexpressão parece fazersuporque o acasoé primárioquando, na verdade,éobviamente secundário— Deuséofundadore o utilizadordo acaso,que ele quisecriou,inicialmentedividindo-seou “explodindo",e constituindoumuniversodemiríadasdeseressemi-alheiosunsaosoutros,massem previnculadostambémàsuaUnidadesubjacente(ousuprajacente).
2.TraduçâodaBiblianaediçãodaPléiade(GaRimard).(Nota de 1977.) 133
D eus éaorigemnão-mecânica detodasasmáquinas, análogadesta vez aoovo totipotente que,aodividir-seemmúltiplascélulas, estádando asi próprioum material. Um m aterialque constitui órgãos ou ferramentas orgânicasque funcionamcomoauxi liaresde seu comportamentoorientado,efadadosaosacidentesdefuncionamentoeà morte, m as aosquaiseiesempreirásobreviver,poissuatotipotônciaestásempre re servada, seja por processos biológicos de reprodução germinal, sejapor outros pro cessosdesconhecidos. DeuséaNatureza-que-se-crianumduplosentido: a) Como Envolvente fundamental, ele constituiacondição geralde umuniverso deexistentes,ondeavidaeasinteradaptaçõessãopossíveis- pelaspropriedadesge rais do espaço-tempo, pelostiposdeligaçõesedeinterações,deinformaçãopercepti vaou de participaçãomnômica, e, sobretudo, pela possibilidadedadaaosseresindivi duais de extraírem dele essônciasevaloresintemporaisesupra-individuais, parade poisconvertê-losem“suas”idéiasouem"seus”valores. b) Poroutro lado,ele éo Atual, eoAtualizador, decadaseraqui-e-agora, pelo menosna medidaemque.esse sernão selimitaafuncionar,massecomportasegundo um sentido participadoe improvisanovos“métodosdeutilização”doseu própriodomí nio. Com o atualidade de Iodos os atuais, Deus não é mais apenas linguagem em suas estruturas aistórícas, mas 6também palavras, e frases pronunciadas aqui-e- agora; ou ainda, Deus é semelhante ao engatamentode um fecho éclair,ondedomí nios, subordinados uns aosoutrosde acordo com sua envergadura, se fecham me diantemecanismossubordinados. Consideremos amenordasações de um organismo complexo. Ele anseia por sobreviver- porsobreviversegundoumidealdevidaquepercebedemodo confuso,e quesetraduzporumtrabalhoquetemalgumobjetivo.Essetrabalhonãoéinstantâneo no seu desenvolvimento,porém, acada instante, elesefecha,numatoprecisooupre sente, utilizando (edegradando)umaenergiadisponível,parapoderconstruirconforme oobjetivodotrabalhoemcurso.Quandomeapressoparadeterminadoobjetivo,decar ro,debicicletaouapé,osfuncionamentosdeminhasmáquinasauxiliares,nopresente, comoacarburaçãodeummotoraexplosãoouapressãodosmeuspéssobreospe dais,estão subordinadosàs montagens nervosas quetraduzemminhaaçãoproposita daeorganizadaemseuconjunto.Falo,eosmúsculosdaminhalínguafuncionam; es crevo, eaminhacanetadepositatintasobreopapel.Aomeuredor,nomesmoinstante, todos os seres se ativam do mesmo modo e fecham as duas bordas de seu fecho éclair pessoal,engatamentresioselementos materiaiscujaação requeroengatamen to- assim como umtearengataosfios da urdiduraeofiodalançadeira, ou uma má quina deescrevergrudaaletrasobreo papel. As árvoresdo jardim estão, acadains tante,autilizaraluz,atravésdaclorofiladesuasfolhas,para‘lechar”econcluirasfo- tossínteses em curso quecompletam sua edificaçãoorgânica. Os pássarosestãotra balhando na elaboraçãodoseu ninho, queentrano ciclo doseu instintodenidificação, queentranociclomaisamplodasuareprodução. O tempo, com suas atualizações e criações quefazemos instantespor acres centarem-seumas àsoutrasporqueosprópriosinstantesasacrescentamumas àsou tras, é a criação em curso. Portrásdecadaatualizaçãoedecadaatualizador indivi 134
dualizado, existe umaatualizaçãoe um atualizadorde maiorenvergadura. Portrásde cada lampejode consciência queenvolve cada atualizaçãoemseuaspectomecánico, existe uma consciência mais ampla, instintiva, biológica,até chegar a umasupraconsciênciacósmicaquenãoémaisconsciênciaperceptivaouconsciênciaativa,vistoque ela nãoprecisa maisinformar-sedosdetalhesdasua açãoparafechá-la,instanteapós instante, ou frase após frase,ejánão émais consciência-palavrae, sim,consciêncialinguagem, fontede todapercepção compreendidaedetodapalavraouaçãodotadade sentido. Toda ação acaba,porfim, ‘‘linearizando-se” emfecho éclairsubordinadodepois de ter descido, de chaves em chaves, até os mecanismos terminais, até as várias “máquinasdecostura"dotempo. Os dois limitesda açãosão, porum lado,o Intemporal, queenvolvetudo,aLíngua-Mãe,o Espíritoe, poroutro,otempolinearizado,palavraspronunciadas,máquinas funcionando instante após instante. É absurdo partir do “instante após instante" para entenderotemae osignificadodeumadeterminadaação,oupretenderentenderoins tintopelosreflexos, aescritapelasletras,oorganismopelasmoléculas,assimcomoé absurdopartirdas máquinaspara entenderosignificado ea invençãotécnicadasmá quinas, da carburação para entenderomotor, do motor para entender o sentidodos deslocamentos com a ajuda do motor, dosdesgastes energéticos de funcionamento paraentenderouso da energiaparaa ação.É absurdo partirdas palavraspronuncia das paraentender aformação mental da frase, e das frases para entender opensa mento. Na faltade telepatia, somos forçados,comoouvinteeinterlocutor,a partirdas palavrasdeumoutroparaentendero seupensamento,masnãoopensamentoemge ral,eomodocomoelesetraduzempalavrasnos"conversorescerebrais”. Tentar entendero universo eterno através do universo instantâneo podia ainda fazeralgum sentido dentro de concepçõestãoinfantisquanto asdosatomistasdaan tigüidade que acreditavam em“pedaços de matéria” subsistindonovácuo:esses áto mos estão presentes “agora”, eestiveramesempre estarão“presentes" no universo, poiseles sáocoisaseternas- eternasnosentidode “semprepresentes”. Mas,então, é de seperguntar,paraqueexisteumpresente?E,oqueos átomos fazemdentrodele,jáque,nele,nada fazemdeparticular? O mesmo acontece com relação a concepções “infantilmente científicas” (por assimdizer) de um universoondeháconservação de energiaou,deformamaisgeral, leis de conservaçãoe de simetria. Se aenergia se conserva eternamente, para que existe um presente? Para que as transformações reversíveis? Leis de conservação sãoindispensáveis ao cientista para eledesemaranharascomplexidadesda experiên cia, assimcomo a audiçãodas palavraspronunciadas eoconhecimentodocódigoda língua sãoindispensáveis para entender um interlocutor; masnãopodem fazerenten der,dopontode vista filosóficoegeral,o universoeternoalémdopresenteedas con servaçõesetransformaçõesenergéticas,etemonosentidode: “que garanteapassa gemdotempo”,“quegaranteoatualpelaatualização”. A concepção gnóstica do universo - aúnica verdadeiramente científica— com “genidentidades"semánticas,enáomateriaisouenergéticas,cominformações-partici- pações - é de qualquer modo incompatívelcomapretensãodesecompreender, uni camenteatravésdopresenteedasimplespresençadosomdaspalavras,osentidode 135
uma frase. Alémdisso,ela fazentendero porquê do atual,assim comoafrasefazen
tender o uso das palavras. Ela faz entender o papel dopresente: trabalho por enca- deamento, “ costura"querealza omodelodeumcostureiro,oqualestáalémdo“enca- deamento”. É absolutamenteincontestávelaexperiênciasegundo aqual"seeuaindanunca morri” , "eu" (comoindividuodistintodaminhalinhagem) n&omeflz nascer, enfiocon cebi a mim mesmo. "Eu” só falo e ajo com basenum "outroeu”mais fundamental. Acontececom umindivíduooqueacontececom umalembrançaevocada.Eleéapró priaevocação,aevocaçãosuscitandooevocadorqueelacontém,comoumaespécie de vetorprópriodirigido sobreelamesma.Aatualizaçãodeumaidéiatoma-se:"Tenho uma idéia” , e,a seguir: “Eu tenhouma idéia”. O tema atualizadoassim comoalem brança evocada éuma"consciênciaativa”,depois,uma"consciênciadeatividade",e depois, “ a consciênciadeserum‘eu’ativo”.Oatualizadorparticularnadatemdesubs tancial (pelo menos no sentido material ou energético); elenãoéum serque, depois, agina. A ação se produz (comosentidorepresentado)e,namedidaem queela nãoé um puro funcionamento, faz existir um "eu” comonovo ser, aomesmo tempo livree expressandoaliberdadecriadoradeum"outroeu”maisfundamental,e,porfim,deum "outroeu”universal,oudeDeus,parausarmosaterminologiatradicional.Assimcomo, ao pronunciaruma longa frase,ãs vezes esquecemos a oração principaletomamos autOnomaumaidéiaincidentequedeveriatersidosubordinada,aUnidadedouniverso, oLogos,pronunciafrasestãolongasqueassubordinadastomam-seindependentese pronunciam-seporsimesmas,entretanto,sempreseparadasporvírgulas,enuncapor pontos.
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Capítulo XVIII OHOMEMÉUM“GIGANTETEMPORAL” Observou-se que,dentrodaescalaquantitativadoespaçoedotempo, entreas partículas,medidasporunidadesdaordem do “férmio" equeduram menosde umnano-segundo,1 e o universo hiperesférico, cuja duração é de algumas dezenas de bi lhões deanos e cujo raiotem alguns bilhõesde anos-luz,o homemsitua-senumaes cala bastante“ média”, tantopelo seuvolume como pela suaduração(embora umele fante,cuja vidafossebrevecomoadeumefêmero,representeaindamelhoramédia,e o homem, menordoque amédiados seres na ordemdoespaço,seencontre ligeira mentefavorecidoquantoàduraçãodesuavidaindividual,naordemdotempo). Todavia, se considerarmosohomem,não maisnasuavidaindividualmasdentro dalinhagemininterruptaqueremonta,vistoquenenhumadascélulasatualmentevivas aindamorreu,atéoprincípiodavidaedasmoléculasauto-reprodutoras,ouseja,vários bilhõesdeanos,ohomemcomoservivonãoétãominúsculonotempo,mesmoemre laçãoàsidadesgeológicasecosmológicas. Seoroseaupensant"òsuperior,comoseupensamento,àsforçaseseresqueo esmagam pelas suas dimensões espaciais, é porque ele ó, na verdade, um gigante temporalque“pensa”,que acumulaseus pensamentose, sobretudo,queorganiza,in formaativamente e conserva as informações na suamemóriabiológica hábilhõesde anos.Ohomeméummicróbio,ouum "pobre”espacial,maséumbilionáriodotempo. Nesse sentido, a superioridadedoroseaupensant nada temdeparadoxal. Pelo contrário,é naturalque umsertão velho, tãoinformado e experimentadosejasuperior àsforçasdo mundo físico, que,aiãs, também"pensam”etambémparticipamdeinfor mações, mas não souberam informar-se atravésde acumulações mnêmicas, amon toandoseupassado. Quantoaos animais e aos seresvivosatuais, elessãotãovelhosquantoo ho mem.Masnãotiveram aoportunidadedeumaexperiênciatãovariada.Maus alunos, ti veram,emníveisdiversos,derepetirdeano.
1-Nano-segundo=10~®segundo. 0 h on em . (ref. a"Uho m m e est un roseau pensant", Pascal). {N.T.).
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Todos os domínios individualizados fazem ativamente o espaço e o tempo.Os microdomíniosformamos micronósdeumatapeçaria,que nãosãomaisfundamentais nem mais reaisdoqueosoutros.Osdomíniosdemaiorenvergadurainseremnatape çariaasidéiaseostemasmais complexosdosquaiselesparticipam.
Podemos imaginar, sobreo "aqui-e-agora" abstratodo esquemade Minkowski, umacabeça(ouumcérebro)humano(queô,comovimos,o reversoeoinstrumentodo domíniodo eu consciente). Podemosusaracabeçahumanacomoamostradedomínio deindividualidadeparaentenderomodogeralcomqueseurdeoespaço-tempo.Aca beçahumanaéumcentropara"ondeconvergeainformaçãoedeondeirradiaaação” (esquemaA). Nossa cabeça (ou nossocérebro, istoé,nossocampodeconsciência comoelementoobserváveldoladodefora) fica najunçãodosdois conesde luz,odo passadoeodofuturo,foradosquaisexisteo“alhuresabsoluto”,os“outros”simultâ neos, com os quais não podemos nos comunicar. O córtex anterioré,grossomodo, organizadordeação,eocórtexposterior,receptordeinformações. Além disso, nossacabeça-consciênciaestá emparticipaçãocomumtransespaço-temporal,commemóriaspsicológicasebiológicasatravésdasquaiselasesubordi naadomíniosmaisamplosqueoseu,ecom“possíveis” medianteosquaiselasesu bordinaàunidadecósmica(opróprioesquemaAestáenvolvidodentrodoesquemaB). Temaspaitidpâveto (Futuro‘lomadoapeto")
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Memóriasparticipáveis (Passadomnêmlco)
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Sobre esse ponto,é prová ve lqueos povosprimitivos,ouantes, aslínguasprimi tivas saibammais, àsvezes,doque a nossaciência. A Nova Gnose e a m etafísic a Hopi Aciênciacontemporânea - excetoa novaáénciadaspartículas- etambém o caráterdaslín guasindo-europóias,temporalizadorasdemodomultoabstrato,tendemaversomenteoesquematem poral"plano":passado,presente,futuro. Entretanto,o aspecto de atualização ou o tipode participaçãodoatualnafontetransespacial mnômicaoucósmicaéigualmenteimportante. Existemculturase línguas muitodiferentes dasnossas,e queparecemmaisaptasaapreender esse ladoessencial doeserese do tempo. Lee Whorttentouextraira“metafísicaHopi”(inerenteàlín guadessepovo).Os Hopisnãodistinguem umespaçoeumtemposegundoumadivisãoternárlaPara eles, osdoisgrandes princípiossAo: oManifestado (oobjetivo)eoManifestante(osubjefvo).OMani festadoincluitudooqueforacessível aossentidos, ofisicamente observável,semdistinçãoentepre sentee passado(quando o passado deixou vestígios no presente),eexcluindooquedenominamos “futiro". OManifestante (osubjetivo) inclui esse futuro, masnão apenasisso; eleinclui omentalou, antes, o “ coração", o"peito” ,consciente, animador, vivo, ocoraçãodo homem etambémodosani mais,dasplantas,dasooisas,docosmo(oqueosGnósticoschamamde“omundoemseuanverso"). O futuro náo écalculável ou calculado; ele é desejado, aguardado, preparadomentaloucor dialmente,dinamizadoemdireçãoA manifestação. Amaiorpartedonossopresentepertenceaodomí nioobjetivo.Assimsendo, elenãose distinguedopassado.A“gestaçãoativa” é interior(oanverso);o “realizado”éexterior(éoavesso). Oespaço(oavesso)estáligado,entretanto,àdimensãotransespacial,ao“ coração”dascoisas. Existeumeixoverticalinterior,quecorrespondeacadapontodomundoobjetivoesemelhanteàhas te-mãede umaplanta, deumaimportânciaprimordial, equeéafontedofuturo.Mas,paraoHopi,não háfuturotemporal,nãohásériesnaturais,emDgaçâocomasdistâncias.Assimsendo,paraoHopinão se trata desaberse as coisasquese encontramnumvilarejodistanteexistemnomesmoinstantedo presentequeasqueestãosituadasnovilarejoondeeleseencontra.2 Quandooextenslvo-objetivo se dHui naimensidão,o“subjetivo’', queseencontraportrásdo palco, oonfunde-secomoobjetivo:éanoitedoetempos,dostemposedoslugaresdequefalam osmi tos,dosquaissétemosumconhecimentomental.Chega-seaesseconhecimento,maispeloeixoverti calinteriordoquepelosprocessosobjetivosdavisão. OsverbosHopi nãopossuem“ tempos"comoosnossos, esim, "formasdevalidade", queex primemosaspectoseastendênciasdasmanifestaçõesalualizantss(semmetáforaespacial).Enquanto que onossolempoobjetivadoaparecenanossaimaginaçãoenosnossosesquemasmentaisimplícitos como umafitaouumatalxa,divididasemespaçosembrancodeIgual dimensão- fazendosuporque alguma "inscrição"viráregistrar-seemcadaumdeles nalíngua Hopioverbonãomarcanenhuma diferençaenteopassado, opresente, ofuturodoacontecimentoemsi,massempredeveIndicaro tipo devalidadequeaquelequefalapretendeexpressar,eseelefalaconformeoquevéouconformeoque pensa, conformeun campo objetivoou conformeuma espera,conforme a hastevertical Interior, por “ envolvimentofntmo"e“ participação”, porum"tomara peito”dopresenteou dofuturoquesem ani festa,ou.pormeraobservaçãodomanifestado. Essadistinção Hopi é,semdúvida,nomínimo, tflo pertinentequantoasnossas.Segundo Lee Whort,nalínguactdchewa(aparentadaoomozUu),existemdois"tampos”paraindicaropassado:um para 06 acontecimentospassadosquecontinuamaterumainfluênciasobre o presente,eooutropara osque nôoMmnenhumprolongamentoatual.Umfilósofoou teósofochlchewausariao 1 tempopara falardainvduçâopassada, individualizada,quefezcomqueomundo seencontrasseemseu estado atual, masservir-se-ladoIItampoparafalardas"nevesdeoutora”oudossistemasplanetáriosque nãoexistemmais.Essadistinção,temosdeadmiti-lo,tambémémultopertinente.
2.B. L WhortLanguage, ThoughtandReality,"Mediations'Vp.13ss. 139
Para se r franco, achamosqueexisteum poucode esnobismoporpartedos Gnósticosem dar tamanhaônfase à“metafísica”Hopi.Elespoderiamterevocadomuitasoutrasfilosofiasnão-ocidentais, comoporexem plo, asteoriasfilosóficasepsicológicasdaíndiaque,muitomaisdoqueosHopisouos ZuK js,hám uitotBmpojáentendeuasituaçãodohomementreoseupassadoeopresente,aoposição menteeoorpo (sobaformadaopoeiçâoentre“ corposutil”e“corpogrosseiro"),opapeldaconsciên cia,receptora das percepçõesatuaiscomoquecondicionadaspela massa dosrastos inconscientes acumulados e organizados em todasasvidasanteriores, einstrumentodeaçãoqueditaascondutas atravésde um aescolhametódicadesuasváriasetapas(oque,comovamosver,correspondeperfeita menteaoqueosGnósticoschamamde“montagens”). Contudo, existenosEstadosUnidostamanhaquantidadedepublicaçõesdetodaespócieede valormuitoirregularsobreopensamentoindiano,quepodemosentenderareservadosGnósticos.
Nosso cérebro recebe informações (pattems de fótons),eonosso eu as com preende, convertendo-as emsignificados, graçasàsua participaçãonotransespadal. Masele não é apenas umobservador informado, um receptordeinformações.Eleé também um organizadore uminformadorativo. Somos capazes, não apenas de ver umaordem já objetivamente constituida, massomoscapazes,também, ao veralguma desordem ou alguma ordem imperfeita, de ordená-la segundo um tema - em outros termos,de “ fazer” ofuturo. Essas duas operações correspondem, grosso modo, ao córtex cerebral pós- rolândco, que recebeinformações, eaocórtex pré-rolândico,queorganizaesquemas deação. Nosso cérebroposterioré voltadopara o presente,paraorecebimentodein- formaçóes-observaçõesjá constituídas (que chegamatravésdo“ conedeluz”dopas sado).Nossocérebroanteriorévoltadoparaofuturo,eparaainvençãodeesquemas decomportamento adaptados. Eoconjuntodonossocérebroparticipadasmemóriase essências transespaciais, tantopara perceber como para inventar. O cérebromédio, sobretudo o hipotálamo, participa mais especialmente das memórias e esquemas de comportamentos instintivos e afetivos, das percepções de expressividades, mais do quedasleiturasdesignificado;dofuturo“tomadoapeito”,maisdoquedesuasprepa raçõesracionais, cujodetalheestáacargodocórtex- Ocórtexapesardoseuvolume edasuaorigembiologicamente“moderna’’,estámaisfreqüentementeaserviçodocé rebroHinstintivo” doqueregentedoinstinto. Nós nos“montamos” paraorganizareparaagir. Essas “montagens” sãopsicocerebrais eaplicam-seao "teclado"das redesnervosas. Aomesmotempoemqueor ganizam apartedo mundo acessível, essas montagenssãotambémumaorganização arquitetônica do nossopróprio domínio psicorgânico. Temos um corpoorgânicoe te mos também umcorpopsíquico(o “corposutil”dos psicólogosindianos), umaarquite tura mental, feita detodas as montagens (instintivas, culturais, pessoais), quenós (e todos os ancestrais da nossa linhagem) organizamos com a ajudadas informações- participações. Durante afaseembrionária,protegidado mundoexterior,“nós”estamosessen cialmenteocupadosem “montar-nos” organicamente. Na fase adulta, nósnosmonta mos mais em funçãodas informações recebidasdefora. Mas nãoháqualquerdiferen ça essenciale, uma vez adultos, continuamos nossa formação embrionária, aqualjá era um tanto inventiva e circunstancial. Em todas as fases, executamos, comcerta margemdeautonomia,missões“participadas”.
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' S Y . V . V iN O A
ea 'Çé ^eogn ósticas
K Sabedoria
Capítulo XIX OORGANISMOPSÍQUICO
Essa imagem da Cabeçahumana,aqui-e-agora, como conversordeduplosenti do entre o espaço e o transespacial, serve aos Gnósticos parapassar da Gnósis à Praxis - ouantes, vistoqueapalavraPraxisestá,hoje,desvirtuadapordemasiadas ideologiaspoliticas- à Sophia,&Sabedoria. Parauma tesiemunhaexterioresuperficial,paraumIntelectualeuropeu- econ fessotersidoeumesmoessatestemunhasuperficial-,náohánadademaisinespera do, de menos lógico,do que a sabedoriados Neognósticos relativamenteaosseus conceitosespeculativos.Se ouniversoéum universode informação, então podemos pensar, vamos nosInformar,nos Instruir, náo sejamos cegosnum universoondenão reinaoCego ouaCegueira cósmica. Oconhedmento,adónde,seráasalvação.Irá fazer-nosparticiparmaisconscientementedosgrandesdominiosconscientesquesub- tendemnossadébilindividualidade, fazendo-nosporflmparticipardaUnitas,deDeus oudaGrandeDeusa. ° ra* asabedorianeognósticarejeitaveementemente taisconclusõesque consi dera pueris.Os Gnósticosacreditamnadénda,mas náo na dônciaensinada,nains trução, nas luzes queseespalhampara.guiar ohomem, e,sobretudo, paraguiaros homens. Nesteponto, elesnáofazemjusaotituloquelhesfoidado,equeelesaceita ram,pois,aexemplodos Padres daIgreja,inimigosdosGnósticosdoseutempo,eles acreditamantesnafédoquena Gnôsis.Issoquasechegaaserumaespéciedeobs curantismo,bastanteInesperadoempessoasdasquais esperar-se-ía,antes,umcerto “luminismo". Obscurantismo
Esse obscurantismoébastanteestranho,mas,pensando bem, 6menosestra nho doque perece.OcorreumfenômenoInversoesimétricocomosultrepositívistas, oomo osão, porexemplo,osneogenettdstBS. Essesacreditamqueouniverso éum Cegoabsoluto,queaprópriavida6umacrlstalzaçáo cega.Acontecequeécommais entusiasmo ainda queelesadotamcomoideal aconquistadaverdade dentffica;eles queremorientarparaadéndaoesaendaldasatividadeshumanas.Domesmomodo, ainda,osdeterministas acreditamnaliberdade(poHtica),sendoospredestinadonistas
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os mais entusiásticos e preocupados na tentativade salvação pelafé. Ao passoque, inversamente, os espiritualistas, os que acreditam na liberdade filosófica eteológica, costumam se r, nocamposocialepolítico,conservadorese autoritários. OsGnósticoscuriosamenteobedecemaessaleide inversão.Sendoouniverso forma,informação» saber, opapeldohomemé,antes,tom ar-seumsersuficientemente opaco eespesso paraserobscuro,enáotransparente,eparanãoperder-senumaluz anónima. OsGnósticosexecramosriosdeimpressoseimagensquesubmergemoscivi lizados. Deploram ainflaçãodoensino, principalmentedo ensinoliterárioeartístico(sa be-sequeexistem professores pararomancistasou para dramaturgos nasuniversida desamericanas). Na própria ciência, pela superabundânciade informações,estamos devolta ao tempo emque, porfalta de informação e de comunicação, os cientistas, seestavam geograficamentedispersos,nãopodiamterlidoasmesmascoisas,terfeitoasmesmas leiturasdebase. As intoxicações cerebraispelainstrução são,paraeles, bemmaisgravesdoque asintoxicações pelos subprodutosda indústria;os atravancamentosdeinformações, bem maisgraves doque os atravancamentosdemáquinaseutensílios;asindigestões desiglas, bem maisgraves do que as intoxicações alimentares.O flagelodomaterial impresso,dizemeles,seriaaindapiornãofosseelecompensadoporessainvençãoar tesanalqueé...ocestodepapel. Maseles também falam de modo mais sério. Noorganismo,existemórgãosde proteção contra asinformaçõesintempestivasou excessivas: pálpebras, filtros nervo sosda zona reticulada,sono,etc. Oespaçoé“hotogramático" mas, pelomenos, nele asinformações (ou o material dessas informações) passamsem deixar vestfgios.Ao passo queo espaço social está, hoje, saturadode informações quedeixamvestfgios perigosos. E, contraesses, faltamasinstituiçõesque pudessemexercerafunçãodas pálpebrasou das zonas reticuladas cerebrais.Como as serpentes que, nãotendo pál pebras,dormem de olhos abertos,oshomens sóconseguem salvar-seatravésdo so noedoentorpecimento.Sópodemescolherentreaindigestãoeoembrutecimento. Em qualquer sociedadesemi-instintivaetradicional, existemórgãosde censura extremamenteenérgicosefiltrosdeinformação.Osinformadoresintempestivos,oshe- reges, os ideólogosacabamsendoimplacavelmenteeliminados. É aesse preçoqueas sociedades duram indefinidamente; e a maioria das sociedadesacabaextinguindo-se pornãoterpodidoproteger-secontraasintoxicaçõesinformacbnais. Outrasperecem,aparentemente,petomotivooposto,porteremtampadoosolhos eosouvidosemdemasia,eporfaltadeadaptaçãoaummundoemtransformação.Em qualquer caso, porém, para poderem durar, as sociedades devem filtrar as infor mações,estabelecercensuras,cortinasde ferro.Devem pegarumtanto,elargaroutro tantoentretodasasinformaçõesqueasinvadem,eassimilaroqueresolvemaceitar. Seria,pois,muitopueril desconhecer essa leibiológico-socialeconsiderarcomo um ideal a abertura sem discriminação,o não-protecbnismo mental. O liberalismo é uma palavraquesoa bemeencobre,oua fraquezamental e a incapacidade de julga144
2°) A expressão religiosanáovalemais doqueaexpressãodoesquizofrénico,e ó precisoabandonartodaessafiguração,tantocoletivacomoindividual. 3*) Finalmente,podemostambémdizer"Éprecisorejeitartodosostabussociais e, depois, estudarcomveneraçãooscomplexosdoscérebrosperturbados,poisóne le s quereencontramos os verdadeirosprincipiosdeumnovohumanismo, alémdohu manismoúogentíemanoudohomemhonesto." Somente aprimeiraconclusãoérazoável.
Sim bolism o e fetichismo
Osímbolo,oritosimbólico,comobaseematerialparaaconstruçãodaalma,so fre daimpossibilidadeemqueestamos,hoje,de transporosímboloem“magiapodero sa", pela qualaquiloquesepretende significaréconsideradoaigopresentee atuante, comonos“ sacramentos"deumareligiãoprimitiva.Quandoobatismo,ossantosóleos e a comunhãodeixam de ser considerados como agentes mágicos, acabam conver- tendo-se em cerimônias vazias. Elespodiam ter um conteúdo válido,social, quando náo científico e "verdadeiro”. Mas, uma vez destruídaa magia fixativa,o símbolotor na-seoco.Instintivamente,osinteressadosprocurampreencheressevaziocomideo logias,maisfalsas ainda doqueoconteúdoprimitivo,porémmaisquentesemaisple nas,equeapelemparadeterminadaspaixões,taiscomooressentimento,avontadede poder,avontadedearistocratismo. Na falta de crenças mágicas inculcadasdesde ainfância,os ritosdas “ordens” filosóficas, maçônicas ou gnósticas, arcaicas, nosquais os adultosiniciamsemcon vicçãooutrosadultos,sãovaziosdesignificadoefrios.6 Os Novos Gnósticos quiseram a todocustoevitaressetipode cerimônia.Eles consideram queó umaformadefragilizaraalma enãode solidificá-la,quererrecons- truf-lacomessepapier-mâchô.Elesachamqueédefendermalassacralizaçõesouos tabusindispensáveis,fetichizá-Josdestemodo.Pararesistiraosdesmistificadorespro fissionais,nãoconvémdarmotivoparaqualquersuspeitademascarada. Não obstante, para construir a arquiteturapsíquica, sãonecessários materiais psíquicos, crenças, e não meros saberes. O problema parece insolúvel. Os Novos Gnósticos,entretanto,nuncaprovaramtantoaoriginalidadeeaforçadoseumovimen to como ao proporemasoluçãopormeio das“montagens”.Assim,evitam aomesmo tempoasideologiaseossímbolos-fetiches. Para o conhecimento, a Gnôsis propriamentecttta,elesadotamcomoquadrode referênciaos quadroscientíficos.Pareaaçãoeasabedoria,oqueelesadotamnãosãomontagensreferenciais,mas montagens-açOesdo Upo “esportista” (isto 6, análogas àsmontagens-atitudesde umesportistaque correoscem metosouostrdamilmetros),quetômavantagemde nãoserem“ nemverdadeirasnem falsas".Parasuaatitudereligiosa, adotamafé“deJò".istoé,excepcionalmente, umamontagem“ re ferenciar,porémvirtual ou abertaâmaneiradeumamontagem-ação- quesesituaaiémdosreferen-
6. Osvínculosente Gnósticosetranco-maçons,emboradfbeisdeseremdefinidos,vistoqueas diversascorrentBSdamaçonarianosEstadosUnidossAoostreramenteramificadas,existemsemdúvi da,comempréstimosrecíprocos.MasosGnósticossãohoelisaosimbolismo.
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o aisque podem serverdadeirosou falsos, eque forçam umadedsáodeordemcientíficasobrea“ba lança”entreostermosIIeIII.
As montagens como “espirito que se en ca m a”
Toda montagem, mesmo quando sugerida pelasituação,é urna iniciativado ser vivo. Porisso, mesmonuma situaçãoinalterada,oorganismotantopodedeslocarsua atividade como mantê-la,mudardeobjeto de aplicaçãoou mudarde método,ou ainda mudar as perguntas formuladas. As montagens, dispostas em chaves, conciliam a permanênciae os deslocamentos,oobjetivo distantee os objetivosimediatos,osenti dogeraleossentidossubordinados. Em suaqualidadede guiadaação em curso, as montagenspodemserconside radas como reguladoresimprovisados - reguladores não-mecânicos,dos quais urna idéia (transespacial) éoórgão de controle. Em nenhumacircunstânciapodeumamon tagem ser puramente mecánica ouanatómica. Urnamontagem-idéiaprecedeeenvolve a montagemmaterializada.Trata-se de um temasignificante, geradordeatosoudelei turasemnúmeroindefinido. Essaregulaçãonão-mecânicaenvolveasregulaçõesou feed-backmontadosfi siológicamentenoorganismo.Osfeeó-backauxiliaresdeefecçãopodemàsvezesdifi cultaramontagemsignificantequeosenvolve,principalmenteseelesseantecipamàs exigênciaspsicológicas(comonaemoção,nomedo,etc.).Mas,normalmente,osignifi cante dominao quase-mecânico. Tendo as montagens comobase o significado, po demos entenderque elasse apresentamemchavesesesucedem,deumobjetivose cundárioaoutro,comoaspartesdeumafrasepensadanoseuconjunto. Ou seja, as montagens constituemo software das “máquinas"orgânicas. Elas sãooespírito,amentequeseencarna,queseconverteemplanosdiretores,utilizando ojá encarnado e prosseguindo a encarnação, organizando e construindo. Elas são conformes, na psicologia especial dos animais com cérebro desenvolvido, ao estilo fundamentaidetodososseresindividualizados.Representamapassagemdotemático parao semimecânico,que realizaotemático noespaço. Representamainvenção,so bretemadotadode sentido,deumaregulaçãosignificante,quedominaofuncionamen todosfeed-backfisiológicos. Asmontagensnãoselimitamautilizarmecanismos funcionais,autilizá-los sem deixar maisvestígiosdo queautilizaçãode umcomputadordeixariasobreasua“lata- ria”, que permaneceintacta para novo uso. Elas realmentecorrigemos mecanismos, introduzindo neles ligações quemodificamde formaduradoura (e,às vezes, irreversí vel) os funcionamentos-comportamentos. Fenómeno,este, quenãotemseuequivalen te na ordem mecânica puraequeexplicaacriaçãoprogressivadaformapelamente, do“corpogrosseiro”pelo“corposutil". Osestudosmaleposttvoesobreosorganismosunicelularesevidenciam fatoequemudóseas semelham ft passagem de um puro tema Improvisado do comportamento pare uma materiaJfeaçflo anatômica, cujofuncionamentoreguladochega, com aumentada eficácia,aomesmo resultadoqueo comportamentoImprovisado. Secompararmos, porexemplo, aamebaaoutrosprotazoáriosqueparecemmaisevoluídos(In fusónosciliados),passamosdeumasimplespolaridadenooomportamenlo,queImprovisaumaespdde de "cabeça"provisóriaelábil,paraumapolaridadedecetaüzaçfiom aisregularmentealternantee,por
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fim, paraumapolaridade permanenteeparaumaespóde de quase-cabeçaanatômica. Acabeça, os póseotubodigestivosão,assim,montagensativasantesdeseremesfruturasanatômicas.Por isso,no homem,amfio-ârgáoécomoo hardware da“ mSo"oorticaJqueknprovlsasuasutilizações- mãoque oe sedivertemdesenhando-asobraohomúnculoda áreamotore- eoolho-árgfio6ohar dwaredaáreavteualoorBcaL Todoaervtvopossuiumafaculdadedeauto-mgutaçâoque já semanifes tanasreaçõesmetabóNcas,anteedequalqueredificaçãodeumsistemanervosaOquepermitesupor queeseaedificaçãoéguiadaporbed-tiocktemáNooaestgnNcantse.
Encontramo-nos aqui, aparentemente, nos antípodas da ortodoxia científica vi gente. Mas, trata-se, antes, como emtoda a teoriagnóstica, de urna simples recoto- caçôonoladodireito,oudeurnavisfiopeloladodreítodaquiloqueaddnciaortodoxa vôcorretamente,maspeloavesso- começando pelo"próxima!",omecánicoouoquí mico,eremontandoatéo"distar(queelaesperapoderexplicaratravésdo“proximaT).
As montagens • a “sabedoria"
Asmontagensresolvemmelhoro problemapráticodo"comportamento”doqueo recursoaossímbolos, aosritossimbólicoseaostabus.RitosetabusÔbasedesímbo lossão eficazes parareforçarasmontagens, numa sociedadetradteional eprotegida. Todavia,nomomentoemquepodemserconsideradosfalsos,elescolocamemperigo as própriasmontagens.É possívelconceberumritopuro,semcrençateórica,umrito- açáo. Mas, então, das duas uma: se elepretende, pormagia, atuarsobre o mundo, acabamalogrando,ecedooutardeéabandonado;seeleageapenassobreapsicolo giadoexecutante,todaasua substAndaestánamontagemqueosubtende.Dentrodo ambiente decapante da civilização contemporânea, émelhorater-seao "núcleo” não contestável. Sendoum órgãoimprovisado, uma montagem não éem si mais verdadeiraou maisfalsadoque um órgãoconstituído. Serve para aconservaçãoe para oaperfei çoamentovital, ouentãonão serve; étudo oque sepodedizeraseu respeito. Uma montagemnão impNca crençasespeculativas("acreditarque»."),semprecriticáveise “falsificáveis”,e sim,apenas crençasativas,tãopoucorefutáveisquantoaMbido ou o instintodeconservação.Umamontagempertenceaoâmbitodaaçfio,nãodoconheci mento.Elaéuma idéiaencamada.Visa uma idéia- mas,aqui,apalavra"visar” éim própria:uma idéianão éum elementoobservável- arrtes,participadela.Ora,uma par ticipação,na medida emque representaumaresolução,voluntáriaounão, nemé ver dadeiranemfalsa.Umartistaagnósticoemrelaçãoaouniversopodeacreditarnaarte pelaarte(ou seja, adotar a atitude de.-). Um cientistapositivista pode refugiar-sena ciônda pela ciência. Ele não é mais refutável do que um entusiasta colecionador deselos. Um Gnóstico não é mais refutável doqueum agnóstico,quandoresolveadotar algumaatitude,algumacrença-fé.E,alémdisso,eleémaiscoerente.Elesabequees saadoçãovoluntáriadeumaatitudeéocaminhotípicodetodososseres.Eleseriacri- ticávelerefutávelsepretendessededuzirsuasatitudespráticasdateoriagnóstica,se dissesse,porexemplo;"Omundoéfeitodeformasoudeinformaçõesdotadasdesen tido”; logo,“esforcemo-nos porpensarcorretamente”,ou“dediquemo-nosadifundiras luzes”,etc.Maselenãodiznadadisso.EleadmiteaGnoseteóricasem,porisso,fa zerdoseu conteúdoteóricooprincípioda suaconduta.
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O Gnóstico apenas tem a satisfação de saber que, ao adotar voluntariamente qualquer atitude (até mesmo e, inclusive,aatitudeobscurantista),estáfazendooque fazem todosos seresdo mundo. Os seres vivos têm utilizado os processosmais va riados paralocomover-seou defender-se: dãopicadas, coices, mordidas,envenenam, seescondem,assustamoinimigooufogem.Elesnãoprecisam,antesdeiniciarseuti po de defesa, teorizarpreviamentesobrea anatomiae a fisiología gerais dosseresvi vos. Inventaram suas armas, suas patas ousuas asas sem nenhuma dedução lógica dasleise dasformasgeraisdavidadasquaisparticipamnarealidade. Para edificar o homem, os iniciadoresde comportamentos, os inventores - mui tos deles anônimosedesconhecidos- denovasmontagens,os profetase fundadores - que acreditavamterdescobertouma verdademasquetraziam,antes,umnovoórgão vital- têmsidomaiseficazesdoqueos“teoréticos”. O fato de uma montagemnão ser nemverdadeira, nem falsa,nãosignificaque nãodevasernem boa,nem ruim, no sentido amoraldapalavra.Elapode sereficazou ineficaz, útilou perigosa.Certasarmasorgânicas, certasinvençõesde órgãos, certas escolhas de comportamento, têm se revelado mais eficazes do que outras. Uma in- venção-criaçãodeórgãos, emboranão possa serjulgadateoricamente, acaba, noen tanto, sendojulgada,emúltimainstância, pela seleçãonatural, poressa face negativa do cosmoqueantigamente erachamada, no sentido positivo, de Destino, Tao, Fatum, Providência. Pode ocorrer quedeterminadascondutase atitudes “virtuosas" só consigamle varos virtuosos aodesastre. Podeacontecertambémqueoutrossejammaus, semse alterarem com isso- pelo contrário, como o caso do vegetariano de Butier, que se censuravamuitoporcomer carneàs escondidas, masque sedavamuitobem comis so, embora sua consciência oreprovasse. Nessecaso, aliás, éde sedesconfiarque elesnãosãotãomauscomoseacredita,ecomoacreditamser. Apalavra“montagem”, emfrancês,teminfelizmenteumsentidoàsvezes pejora tivo queos termos correspondentesem inglês nãotêm. Uma “montagem” é também uma mentira,uma trapaça,uma emissãode ações semgarantia,umrombofinanceiro. Aliás, apalavra“ invenção" tem também comfreqüência essesentidopejora tivo.Mas as montagens-mentiras nuncasão montagens puras: são conseqüência de erro ses peculativossemivoiuntários; sãoobrade uma funçãofabuladora,ao passoq u e nãohá nenhumafabulação no aconselhar uma atitude tal como: “Suporte e abstenha-te",ou então:“Pratiqueanão-ação”.
História das idéias e história das montagens
Muitos sábios, ou fundadoresde religiões, deixaramde teridéiasespe cu lativas. Muitos deleschegaram mesmoarejeitarexplicitamente asidéiasou os m ito s —como Buda,Confúdo,Lao-Tzu,queserecusarama“fabular”. Poder-se-ia reescrever a históriadas religiões edas filosofias,ta m bém , desse pontode vista: considerando-as, não comopesquisas edescobertas de ve rdades- o queelasjulgamser - esim,comoinvençõesde montagens,comm uitos“m olhos"es peculativosoumitológicos. 165
Nos animais, os comportamentos criadores de órgãos (que orientam as mu tações consoladoras) são improvisados por necessidade,sem discurso interior(e ófácilentenderporquê).Ospeixesdpneustasnáo tiveram queinventarnenhummüo para arrastar-sesobreatérrafirme, ou oarqueopterixparapairare voar.Paraosho mens,emcompensação,óIcitosuporqueamarchabípedeeasemissõesvocaisfo ram ritualizadasouenvolvidaspormitosde reforço.O núdeosóidodeimensasespe culaçõesnfiopassa,namaioriadasvezes,deumamontagem:umaatitude,orgânicae mental,deoração,deprostemação,deadoração,deentrega,deresignaçãooudere volta,decontestação,dereivindicaçãoigualitária,defruiçãodespreocupada,deapetite paraotrabalho,denão-ação,de“controledarespiração"oudecontroledomovimento, desorrisocético,indulgenteoudesiludido,oudeféqueaceitaomartírio. Asfilosofiaseasreligiõeschinesas,indianas,sôonofundoumacoleçãodemon tagens.Omesmoocorrecomasfilosofiaseasreligiõesocidentais,namedidaemque nãoseinspiramnaciência.Oneoplatonismo,oestoicismo,oepicurismo,oceticismo,o materialismo, antigoou moderno, sãomontagens e atitudes. E tudoisso, envoltoem enormes quadrosde fumaçaespeculativos- quesódivertem,aliâs,umapequenami noria.Ninguém,excetoosespecialistas,seinteressamuitopelosconsiderandosdoes toicismo,tomadosda física de Herádto,ou pelosdamoralepicuristaoudo atomismo democrftico.Todavia,comoatitudes,oestoicismoeoepicurismocontinuammuito vi vos. Assimtambém a atitudede"lutade classes”, de“ódiocontraaexploração”, do marxismo, “mantém-se"porsisó,aopassoqueateoriapseudodentfficadamais-vafia tem sidorefutadahámuitotempoeadialéticahegelianasóinteressaaosuniversitários.
PotênciaeImpotênciadasmontagens Asmontagenssãoextremamentepoderosas, tantoperaobem comoparaomal, quando não são mais sentimentalmente neutras, quando náo são mais montagens “técnicas” de orientação,de percepções e de ações subordinadas, equando corres pondemacrenças”quentes”. Mesmo "neutra”, ou puramente “técnica”, sem gravidade, uma montagem já é muitopoderosa.Manteropédurantehorassobreoaceleradordocarroqueseestádi rigindonumaiongaviagemparece algo até agradávelparamuitagente.Mantero pé do mesmo modo,ficando nagaragemeporordemdealguém,seriaum suplício. Um ma cacocosmonautamorredeterroroudetédioaliondeohomemsobreviveporquecom preende e, sobretudo,porque estámentalmente preparado. Um trabalho imposto,em geralrequermenosesforçodoqueumesporteviolento,masémuitomaiscansativo.A vida num campo de prisioneiros é muito mais penosa do que uma vida monacal consentida. Os efeitosdivergemcada vezmais, oupara a neurose,ou para uma edificação psicológica.E, se valorespessoaisestiverememjogo, os efeitoscumulativos incons cientes podem levar a torturas insuportáveis.Daías causasridículasdedivórcio:”Meu marido ronca!”.Ao passoqueuma mulher queamaomaridodiz,emocionada: uOcoi tadinho dorme tão bem!”.Desprezaraquiloque seé forçado arespeitarexteriormente, ter consciênciadainutilidade ou danocividade doque nosforçamafazer,tera sen sação de serexplorado por um patrão em vez de trabalharpara a edificação de um 166
mundo novo, serincompreendido, sercastigadoinjustamente,tudo ¡ssopode criar um despeitoquechegaadominaro restodavida- mesmoindocontraointeressepessoal - equesobreviveàscrisesprovocadoras. As montagens, comoatitudesespirituais àbasedevalorizaçãoentusiástica, co moescolha fundamental, como fé numa causa, num ideal coletivo ou sobre-humano, obviamente não são todo-poderosas. As maiores invenções dos Fundadores se per dem no esquecimento, na indiferença, nos deslocamentos, nas perdas ou nas in versõesde significado.Osestoicistaspodemmuitobemnãosermaisestóicos.Os bu distasseesquecemdequedevemextirparasededeexistir,oscristãosseesquecem dequedevemamaro próximo,osmísticosse perdemnapolítica,osrevolucionáriosse transformamemreformadorescomplacentes. As evoluções e revoluções das montagens, nas culturas,aomesmotempoem que se assemelham às montagens deórgãos daevoluçãobiológica, contrastamcom essas quantoàduraçãoeàprofundidade.Semfalardas“ atitudesemvoga",efêmeras sobreoefêmero,e atémesmodasatitudesmaisprofundas,da“personalidadebásica", dastradições étnicasenacionais,quepassam esesucedemsemdeixarrastrosapa rentes. Elas moldam fortemente opsiquismodos indivíduos, moldama vida individual, masnãoparecemcorroeraespécienemmodificar,comosediz,ogenotipo.Nãoexiste hereditariedade-de-caracteres-adquiridos-por-montagens. Em relaçãoà espécie bioló gica Homo, as culturas, as crenças filosóficas e religiosas, não deixam maior im pressão, aparentemente,sobreapele humanadoquedeixariaqualquercálculoparticu larsobreumamáquinadecalcular,ouqualquertextosobreumamáquinadeescrever. Nãodevemoslevaro contrastedemasiadolonge, comoChomskyomostroupa raalinguagem.Asetnias históricasesecularessãorealmenteumprimeiropassopara oestadoqueproduziuas raçasmilenaresepré-históricas.Numaescalademilhõesde anos,anaturezabiológicanãopassadeumhábito. A diferença, na escalada históriahumana,nãodeixacontudode serenorme, e issorepresentaao mesmotempo um mal eum bem.Semutaçõesbiológicastivessem “consolidado” ocomportamentodos povoscaçadoresou colhedores,esses povosja mais poderiam ter se tomado povos agricultores e, depois, industrializados. Se mu taçõestivessem consolidado oestágiodoanimismoou da magia,ohomemjamaispo deria ter inventado as grandes reigiões como o cristianismo ou o islamismo, ou ter criadoa ciência. Provavelmente os ressurgimentos damagiasedevem umpoucoàs inércias biológicas- apontodeosbiólogossugeriremqueocérebrohumanomanifesta “fenômenos de rejeição" em relação à atitude cientifica. Mas elessão devidos princi palmente ainérciasculturais. Costuma-se lamentarqueos civilizados aindanãopassemde bárbarosmalsaí dos doseuestadoselvagem.Contudo,issoétambémumaboacoisa- pelomenospa raosquegostariamdedecivilizaroureorientaracivifização. Dessepontodevista,compreende-semelhorasabstençõesdosGnósticos,sua neutralidade diante das instituições politicas e até mesmo sociais. Essasinstituições representam para eles algo superficial naquilo que já é (biologicamente) superficial. Age-semenos superficialmenteao recomendarnovasmontagenspsíquicas, asquais pelomenosmodificam aarquiteturapsíquicaindividual, já quenãomodificam,oumodi ficampouco,aespéciehumana. 167
Nisso, os Gnósticos retomam a matéria de todos os grandes Fundadores,que menosprezaram a ¡déia de criarprogramaspolíticosou ideológicos epregaram novas atitudes mentais. Adiferençaéqueos Gnósticosnãopregam, não queremfundarne nhumanovareligião,esóagemsobresipróprios. Há um lado experimentalista na Nova Gnose, figado à profissão geralmente cientfficadosprimeirosNeognósticos.Diantedaexistência,elessãocomoosjogado resdoElôusiscujaregraconsisteemadivinhararegradojogo.Mas,comoelessãoao mesmotempohonestos,achamforadequestãoexperimentaratitudessobreosdemais - à diferençados ideólogos que,com umamonstruosaleviandade,quandojulgam ter uma idéia, propagam-na e procuram impor essa idéia.Essa honestidade reforça sua vontadedeabstençãopolíticaeos leva a buscarmontagenseatitudes“peranteouni verso”,antes doque“perante os homens".Toma-seàs vezesdifícilsepararcomple tamente as duas atitudes, mas seria criminoso, emsuaopinião, "brincar com os de mais”,àmaneiradosneuróticosdeEricBeme.
Capítulo XXI AS“MONTAGENS”EOS‘JOGOS”COMOUNIVERSO
OlivrodeEricBerne:GamesPeoplePlay,' foitraduzidoemfrancês2 sobotítulo: Des Jeux et des hommes. Seria melhor algo como: “Táticas psicológicas”, ou “As Comédiasque as pessoas representam", pois,na verdade, nãose trata, de forma al guma,dejogosalegres.Essesjogos,aocontrário,sãodesprovidosdequalquerhumor. Eric Berne inspirou muito os Gnósticos. Berne é um médico psicólogo, inventor da “análisetransacional”em psicoterapia. Osrelacionamentossociaisbaseiam-senaânsiadereconhecimentopelo"Outro”enaânsiade estruturaçãodotempopor“ programação"- técnica,emse tratandode umtrabalho;rttualística,emse tratandodealgumaatividadesocialefamiliar.Jápodemosveraíaanalogiacomas"montagens”dos Gnósticos. Atransaçãosocialelementar,quandoestáalémdeumsimplespassatempoeaquémdeumain timidade sem manobras, ó um “jogo" do qual cada um procuratirar tantas vantagens psicológicas quantopossfvel. Cada ego, diantedo álter, pode brincardeserum Paiou Mãe, um Adultoou uma Criança,eessejogo,natransação,depara-secomojogodoOutro,quepodesercomplementarou,ao contrário,cruzado(oqueacabaproduzindofaíscas). “ Ondeestão minhas abotoaduras?”pergunta,comoadulto,omaridoparaamulher.Amulher pode respondercomocriança: “ Vocéestásempremecensurandoapropósitodetudo!"- comoseo maridofosseum pai e nãoum adulto. Maselatambém poderesponder."Porque vooônãocuidade suas próprias coisas? Vocô não é mais umacriança!’’- comose elafosse umamãe, eomarido, umacriança. Osjogossãotransaçõesdesonestas,commotivaçõesocultas,equerepresentamciladasparao Outro. Sãooperaçõespsicológicas fraudulentas. Se alguém pedirabertamentequeotranqüilizem, e consegueisso, trata-seaídeumaoperaçãosimples.Sealguémpedeparasertranqüilizadoe,apóster conseguidoisso, mudaasituaçãodetaimodoqueessa acabeficandoemdetrimentodo“tranqüiliza dor”,tratar-se-á,então,deum“jogo”. Ojogadordesonestonãoestátotalmenteconsciente doseujogo. Ele não estárealmentebrin cando. Seamulher,apropósitodasabotoaduras, brincaderepresentarecaçoadomarido,nestecaso, nãosetraiamaisdeum"jogo",nosentidodadoporEricBeme.
1. GrovePress,NovaYork, 1964(IU:“ OsJogosqueasPessoasJogam”). 2.Stock, Paris, 1966.
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Vejamosalgunsexemplos,segundoE.Beme. Ojogo uSem Vocé”. Uma mulher seconvencedequeomaridoaimpedederealizaralgode que, narealidade,elatemfobia:“ Nôoóqueeutenhamedo;ôqueeiemeImpede.Semete,euviaja ría,teriaumavidasodaT,etc.Narealidade,omaridoestápoupandoamulherdesofrermedosneuróti cos,dando-lheumaconfortávelposiçãodemártir. OJogodo“ Alcoólaira” djogadoemd rico:oAlcoólatra,oPerseguidor, oSalvador,o“Boboda histeria"(amãequedáodinheiroouodonodobarquevendeacródto)eoAbastecedor(o barman).O queoAlcoólafraprocura, nfioótantooprazerdebeberoudedrogar-se,esim,detornar-seum"ho memquedeveaersalvo",umnáufrago, queatraiaatençãodafam ília,dasorganizaçóesfilantrópicas oureligiosas,um“pratocheio"pareacensuraouparaagenerosidadepiegas. No"SchlemieT(termoifdche),oIndividuoAoometeumagato,ouqualqueratovilougrosseiro paracomB- nSoporprazerdestrutivo,maspareconseguiroperdãodeB,numa“cenadeperdáo". Em"APernaMecânica”,osujeitorepresentaopapeldeenfermo,realouImaginário:“Oque vocôspodemesperardeumhomemquefezaguerradaCoróiaoudoVletoá?Deumhomemquevive numa sociedadecaptalsta? Deumhomemcujospaisse ¿bordaram?Deunapobreviúva?De um professoracujadisposiçãooEstadoserecusaacolocarumgrandecomputador?" Em "OCavalheiroesua Dama” ,oIndivíduoA,geralm enteumhomemsemintençõesreaisde conquista,aproveitacadaoportunidadeparaextasiar-secomasqualidadesdeB(umaprincesadistan te).Eiepode, assim,manifestardiantedelasuacriatividade,originalidade,virtuosismonaaite doselo gios.Brespondeoomurru"Vocééformidável".Oobjetoéa“acfrrtraçáomútoa".
Os “jogos" gnó sticos com o universo9
Essesjogos neuróticose caricaturais mostram, entretanto, opoderpsicológico das montagens. A sabedoriagnóstica seinspiraneles,aoconsiderar asatitudes,que sãoo núcleo dasfilosofiasmorais oureligiosas,como“jogoscomouniverso”. Perante ouniverso,ohomemtambém"joga".Eleadotaumaatitudedaqualesperaobteralgum lucropsicológico.Ohomem estabeleceuma"transação”comoprincípiodaexistência. EletemamesmaânsiadereconhecimentopeloOutro. Teoricamente, poder-se-iapensarqueos jogos com ouniverso nãopodemser "demâfé",comoosjogoscomoshomens.Ouniversoéimpassível.Sejaeleconside radoEspíritoou Matéria,comoalgocheiodeSignificado oucomouma Máquinaabsur da, como Deus vivoou comoum Mineralmortoe cego,trata-se- por contraste,peb menos,comum paiou mâe, comuma criança, comum igual- deumJuizimpassível, ou,antes,deumMuro. Os jogos diante desse Muro poderiam lembrar, aparentemente, aqueles jogos que umameninasolitáriainventaquandobrincacomasuabola,eadotandooucriando suas próprias regras e figuras:"Sem rir- Sem mostrar os dentes - Roda- Grande Roda- Gira", etc., sem poderacusaroMurodetrapacear- embora elamesmaseja tentadaatrapacearcomassuasprópriasregras.
3. Cosmic Games.
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Na verdade, somosmuitasvezes um jogadorde máfé como universo,etrapa ceiro também. Com ele, assumimos opapel de criança e até mesmo de pai ou mãe. Mesmoque a religiãonem sempresejauma neurose, comoFreudsustenta,averdade é que muitas neuroses, quando projetadas na esfera religiosa, tendem antes a agra var-sedo quecurar-se.Fazer sozinho as perguntaseasrespostasdiantede um Muro e de um Mudo, é uma atitudeessencialmenteneurótica. Assim comocontinuar,como umacriança alucinada, um diálogodurante todaavidaadultacom Isvara,comAli,com "Jesus" ou com a “VirgemMaria” , ou, como o neurótico do famoso filmeHarveyeo Coelho,comograndecoelhodepelúciadesuaprópriainfância. Podemosjogar comouniversoojogodo “Alcoólatra”, ou ojogodo “Náufrago a sersalvo",dohomemque,caídoemsualatadelixo,esperaporGodotesejulgacom certos direitos sobre ele; o jogo do “Grande Pecador”, que se considera um grande santo (virtual); o jogodo “Schlemier, no qual oindivíduo se rebola na sujeira parafa zer-se perdoar; ojogo do “Sem Você” ou o da“Perna Mecânica” , no qual se acusa amásorte. Podemos esperar desses jogos trapaceados certos benefícios psicológicos momentâneos, na falta de benefícios mais espirituais (que sórecompensam as boas “montagens” e os jogosde boa fé).Há “jogadores"que, mesmo sendosinceros, são sempre tentados a exigir benefícios psicológicos e até mesmo benefícios materiais, além dos benefícios internos,de quererserfeliz nestemundoe nooutro,de sersábio, de serrico,ou,comoostaoístas,deteroelixirdelongavidaevoarsemasas. A maioriados jogos ou das “montagens” de má fécomouniversoacabam pa gando, assim comoaneurose,os benefíciosinternosmomentâneoscomgravesincon venientes, pessoaisousociais,amédioprazo.“Tome seu sonhoporrealidade”, ou“ Exijamos o impossível”,ou ainda “O paraísoagora!” dãoaindamenos rendimento com osdeusesdoquecomoshomens. O indivíduo pode ser “extra-punitivo” (istoé, acusaroOutroemvezdeacusara si próprio) com o mundoem geral,como Cosmo,comafamília ou coma sociedade. Ele pode jogar a imagem do santona frigideira, como oagricultorcalabrôs desiludido, ouainda,comoLuísXIVdepoisdeumaderrota,acusarDeus:“Depoisdetudooquefiz por Ele!", e com o mesmo alívio imediato mas com menos vantagens reais, pois as normasnaturaisestãoalheiasàculpabilidadequesepretendeprojetarsobreelas. Narealidade,é difícilseparardemaneiraabsolutaosjogoscomoshomensdos jogoscomouniverso. Pordetrásdosjogoscomoshomens,namaioriadasvezes,há uma atitude para com ouniversoque seria vantajoso destacarclaramente pois,uma vez consciente, elatornariamais sadiaaatitudeperanteoshomens.Aambigüidadeda palavra “mundo” é característica. Trata-se do mundo dos homens, mas também do mundoemgeral.Mas, se podemos fugir domundodoshomens,nãopodemosfugirdo mundo, docosmoe de suasleis.Pode-seesperartodaespéciede benefíciosao “refu giar-senadoença”: amor do próximo,importância, poderdedominarpelapiedadeque inspiramos, e atémesmo,rendasepensões.Quandoseédoentedeverdade,pode-se também tratarDeus comoseElefosseum pai,fazendo-lhesúplicas,agradando-o com odevotamentoou com sacrifícios compensadores. Todavia, sua impassibilidadelogo 171
leva opaciente a tomar atitudes mais realistase mais verdadeiramente benéficas, tais
comoacoragemdebuscar“obomusodadoença”. Os “sentimentos transcendentes” Arthur KoestJer,que tem, como já saientamos, um estreito parentesco com os nossosGnósticos, propôsqueseestabelecesse,comrelação aossentimentosou às “emoções” , umadistinção entre asemoçõesqueospsicólogoseneurologistasvivem estudando - a raiva,otemor,a tensãosexual,etc.- quetendemasuscitarumaativi dade motora aberta, agressivaoudefensiva, de ayto-afirmação (SA),e as que não suscitam nenhuma atividade aberta- asimpatia,aadmiração artística, a adoração, o amor nâo-sexual masproduzemuma espéciedebem-estar.4 KoestJerchamaa es tasúltimasde emoçõestranscendentes (S.Tr.).São, porassimdizer,asbastardasda psicologiamoderna, consideradascomouma categoriasuspeitade pseudo-emoções quenão merecemaatençãodos laboratórios.E,óverdadequeelasmuitasvezessão hipócritassobopontode vistasocial. Mas,quando sãosincerasefeitascombaseem “montagens” deboafó comouniverso, elasacaJmam onossocorpoe anossaalma. São “comoventes”semnosfazer“mover em direçãoa— ".Seudenominadorcomum6 umsentimentodeparticipação,deidentificação,depertenceraumTodoquepodeser aNatureza,ouaAlmadomundo,queseexpandeparaalémdoslimitesdoindividual.O reflexofisiológicocaracterístico,associadoaessacategoriadeemoções,consisteem chorar,numa espéciederelaxamento,deapaziguamentocatárticodetodooorganismo - mas aqui a catarsenão énegativa;elaabreoegoparaos GrandesSeresque oen volvem.Oriso,emcontrastecomaslágrimas,expressaapercepçãodocômico,mas vem geralmente acompanhado de uma excitação agressiva,que aumentaotónuse proporcionaapenasum relaxamento superficialparaumEuque seafirmaesedefende contraoOutro. A Intimidade além d ot Jogos
Essas “emoções transcendentes” estão além dos jogos, e mesmo além das montagensdirigidas para ouniverso.Elassurgemquandomenosesperamos, quando nos encontramossubmergidospelaenormidadedodestino,vencidosearrastados pela corrente à qual acabamos nos entregando,fascinados pelo“encolherdeombros da eternidade**. Na categoria doscomportamentos comouniverso - ou Unitas— ,elaspertencem ao que Beme,noâmbitodas transações sociais,chama deentregaàintimidade, sem manobrasnembuscasestratégicasdebenefícios,aformamaisperfeitadosmodosde vida humana: "Para certos seres afortunados, existe algo quetranscende todas as classificaçõesdocomportamento,quedominaqualquerprogramaçãodecondutaeque dá maissatisfaçãodoqueosjogos:trata-sedaintimidade”.6
4.ArthurKowttecInsigMand Outlook, Macmüian,NovaYork, 1949. 5.EricBeme,op.ÒL,p.200.
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As satisfações de uma intimidade com o Outro, livre de qualquer jogo, sãotão grandesque, até mesmopessoasdepersonalidadefrágil,depoisdeexperimentá-las,e quando tiveramasortedeencontrarum parceiroadequado, podem, com toda a segu rança,comtodaaalegria,desistirdosseusjogos. A“intimidade" é a sinceridadeespontânea, alibertaçãodacriançaqueapessoa temdentrodesi, masnumsentidosadio,semintençãofraudulenta,da criançaingênua, carinhosa,cujasinceridademobilizasentimentospositivos,nelaprópriae nooutro.
Aintimidadecomouniverso Oacesso àbem-aventuradaintimidade comouniversoéaomesmotempomais fácil e maisdifídl doque aintimidadecomos homens.Maisfácil,namedidaemqueo universoéneutroeleal: acriançaespontâneanãopodetransformá-lonumpaicorrom pido. Ao passoquepode existiruma intimidade unilateralentreoshomens, falsa,efa zendo partedealguma manobra.Porexemplo, quandoum sedutorprofissional,capaz de seduzir sua“ vítima" semqueesta, porsua vez, consigaseduzHo, incitaoOutroa se abrir, a seexpressar livremente, enquanto ele toma ocuidado de só fingirqueestá fazendoomesmo. Nada disso pode existir na intimidade com o universo. Os Dom Juan, ou as criançasmimadasoufalsamenteinocentes,nãopodemseduzi-lo.Proust,porexemplo, em “intimidade”com amãeenquanto “manobra"comopai,nãopode entretantoserto talmentesincero com ela, já que oculta seus próprios vícios elheextorquebeijosde paz. Mas, emsuaobra, elesemostra verdadeiramente “íntimo"como universo,com suas grandes leis,como tempo, queé ao mesmotemposeu passadomaisíntimoea revelação universaldo verdadeirosentidoda existência. SãoFranciscode Assis tem menosdesgostoscomseu“irmãoSoroucomseu"irmãooFogo",mesmoquandoes se“irmão"otortura,doquecomseuslimitadoscompanheiroshumanos. Maso acessoà intimidadecomouniversoétambémmaisdifícil,foraosmomen tos exaltantes,masmuitas vezesterríveis,quelibertam emnósmesmos os sentimen tos “oceânicos” eas lágrimas. Comoconseguirmanterpormuitotempoumsentimento de intimidade comum cosmo mudoqueexigeanossavida,mastambém anossam or te, quetantasvezestem a aparência deumTodo,distintode nós,quepareceaprovar nossa conduta e favorecè-la através doêxito, masque implacavelmente sanciona o menordesvioem relaçãoàlinhadoTaoeterno,mesmoquandoessedesvionãoocorre porculpanossa, mas, sim,porculpa da espéciebiológica àqual pertencemos,ou por culpadaevoluçãosocial,sobreaqualnãotemospraticamentenenhumcontrole? O fato de asreligiões,deas Igrejasseremefêmeras 6algoqueseadmitefacil mente,visto que semprepodemos censurá-las por seremapenasmontagensimperfei tas, comsegundasintenções de manobra. Contudo, além dos limites da religião, êa própriaGnose,ouoEspíritotalcomoohomemoentende,queoEspíritocósmicopare ce desprezar,jáque ele destinaparaomesmopó final, tantoasobrasperfeitascomo asobrasmal-acabadas,tantoosêxitosespirituaiscomoosêxitosmateriais.Quandoa Terranãoformaishabitável,ondeestaráadiferençaentreumgrandesanto,umgrande artista,eumartistaouumsantomedíocresoufalsos?Lugar-comumdesdeo“Cantodo Harpista"egípcio. 173
Como ter essa intimidade com um cosmo destinadopor fim à desinformação, à voltaaoestadodepó,dotipo“superfícielunar"?Perspectivacuriosaparaumuniverso gnósticodoEspírito,essedesaparecimentofinaldoEspírito,quedeixa,noespaçoeno tempo, como único vestígio, a“lataria”dasmáquinasedosorganismosqueelemesmo montou, e inclusive uma latariadestruída, despedaçada. Perspectiva final que,aliás, muitoseparececomaperspectivainicial,naqualaspartículas,osátomos,asenergias e os materiaisparecem preexistiraos princípiosdeorganizaçãodosquaissurgiramos seres vivos,os homens, o mundoespiritual,enaqual asobraseosseresfuturos só existiamnoestadode “luminescênciasesparsasde hidrogênio". Oque se pode dizeré quetodasas experiências- paranósqueestamosentre essecomeçoe essefim- manifestamaexistênciaeopredomíniodaconsciênciaso breosmateriaisqueelaorganiza.Ofatodeessepredomínioserprecário,difícil,sujeito aosatrativosouàsfalhasdesuamatéria,emnadaalteraofatodequeoEspírito,isto é, aconsciênciaeo significado,nelasemanifesta.Aidéiaquetemos- comaajudada ciên cia - do começo e do fim do cosmo, é suficiente para esfriar nossas boas in tenções de intimidade com o universo. Masnão pode fazer vacilar a fé gnóstica no Sentido, além do pó edos cadáveres, além dasnebulosas amorfas ou das estrelas “degeneradas”. Suponhamos queumhomem, favorecidopelosdeusesoupelasorte,tivesse co nhecido a feliz intimidadecom um outroser,comamãeouamulherquerida.Quando esseoutrosermorre,elesevênummundoque,paraele,perdeuaalma,numaterra que lheparece tãovazia,tãofriacomo seeletivesse sidotransportadoparaosgelos do planetaNetuno.E, no entanto,ouniversofoicapazdelhedaressemomentodein timidade com um Outro que, como ele, surgiu do mundo.A intimidade humanei, displi centementedestruidapelamarchainflexíveldouniverso,foi-lhedada,noentanto,pelo própriouniverso;elasaiudaintimidadesubjacentedaUnitas.Paraaquelequecontinua aversobreafacedocéuorostodequemamou,sãoas“luminescõndasesparsasde hidrogênio”,ouosgelosdeNetuno,queparecemsuperfidais.QuandoesseRosto,so- breimpressosobre afaceaparentedo universo- erevelandoassim,semcontestação possível,umFundamentalvivoedotadodesentidosobumaaparentedesolaçãomine ral- , quandoesseRostooacompanha sempre,o Sábionãotem, assim,nadaem co mum com oneuróticoque semprevemacompanhadodograndecoelhodepelúda de suainfância.
Amostrasde“ montagensemrelaçãoaouniverso” Entrea má fé dos “jogos”análogosaos jogos comos homens,equevisamma nobras,eaintimidadedifícil- conseguidasem terderecorrera um misticismo queos Gnósticos rechaçam, que apagaria o mundo, que oaniquilariacomo uma ilusãoentre Deusenós,efariadosentimento“oceânico",nãoumlimiteraramentealcançado,mas um estado permanente,destruidordetodaforma, maisseguramentedoqueopiorniilis m o -, restaentãoorecurso deprocuraro meiotermodasmontagensedas atitudes corretas. SeiqueosGnósticos,emdeterminadaópoca,tiveramoprojetodeumaespéciedeRepertório, semelhante a umtratadosobreacolheitadoscogumelos. Umrepertórionâo-aentffico, porémprático,
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oom asindicaçõesde:“ comestível” , “delicioso”, "indigesto”, "perigoso",“mortal” iÉ umapenaquete nhamdesistidodesseprojeto. Masnadanosimpedederetomá-lo,naformadeumesboço.Eleémuito característicodasabedoria,todaprática,dosGnósticos,baseadanaexperiênciapsicológicaehistórica. Esse Repertórionáopoderia sercientífico.Oqueinteressaaocolhedor deoogumelos,náoé a sistemáticadosgênerosedasespécies(pois namesmaespéciepodemcoabitarosdeliciososeosve nenosos,comoasamanitasfalóideseasamanitascomestíveis);oqueinteressaaocolhedoréumaboa identificação. Tambémnãopoderiasercientíficoporestaoutrarazão:adeque“montagens”muitoan tigas,como as atitudesestóicas,epicuristas,budistas,aindasãovivaseutilizáveisemrelaçãoàsmon tagensinventadasemépocamaisrecenteeaindaparasereminventadas. Que nossejaperdoadaafaltadeordemdanossaenumeração. Mas éprecisamenteessade sordemquedaráaidéiamaisjustada sabedoriagnóstica, empíricaeseletivadentrodeumcomporta mentotateante. Se ohomemocidentalaindaestivessenumaculturatradicionalista,quefoiseadaptan doduranteumalongahistóriatranqüila,asmontagensseriam“ordenadas"emtodosossentidosdapa lavra. Nãohaveriaproblemasteóricosoupráticos.Masofatoéquejápassamosdessafase,eéporis soqueoGnósticodeveagircomoEdison,experimentandocentenasdemateriaisquepossamservirde acumuladoresdeeletricidade, enãocomo Newtonou mesmoPtolomeu, pondo emordemaastrono miadeposiçãodeseusprodecessores.
Asmontagenstradicionaiseapaleontologiasocial É um fato patenteque, tudo o que é conformeuma longatradiçãoé“boa mon tagem"quaseque pordefinição,equetodamontagemtradicionaldeveserconsiderada dignade atenção.Tudooqueseapresentabemequilibradoprovém, pordefinição,do “estado de repouso” das coisas e dos comportamentos: afamília,os costumes, os processosartesanais,ostrabalhoseasfestashabituais. As montagenstradicionaisconstituem,hoje,umaespéciede paleontologiasocial. Mas aindamerecem ser estudadas e analisadas quanto ao seu processogeral, pois eram “orgânicas”, conformes de antemão ao quepedea sabedoria gnóstica. Apoia vam-se sobreumaforteestruturaçãodomundo, dotempoedo espaço,sobre“leituras” à basede artificios, porémmuitoeficazes para estruturar, por indução, apsique. Des sas, deve-se reter algoa contrario. Constitui umperigo parao equilíbriomental tudoo que é desorganizante, desestruturante: os estudos teóricos universitários interminá veis; asviagensindustrializadas, tão nefastasquantoeram benéficasas romarias tra dicionais; oócio,asfériasprolongadas,enquanto queasfériasescassase regulares, ao contrário, ajudam à estruturaçãodotempo;asfestasmuitoseguidasepermanentes (idealtolode certos culturalistas),aopassoqueasfestasraraseregularessãobenéfi cascomoperegrinaçõestemporais. Sabemos que foi a “montagem", luterana, da santificaçãodo trabalhoquefez a grandeza da Alemanha,assim como a santificaçãocalvinistadoôxito comercialein dustrialfoiresponsávelpelosucessodocapitalismoliberal,eassimcomooaprimora mento religioso nabuscadahabilidadetécnicaporconformidadeao Tao,fezagrande za da China clássica,quando combinava- aomesmotempoemqueseopunha aeles - com orespeitoconfucianodosritosea minuciosa estruturaçãodotempobem como doespaço.
Aceitarafunçãosocial Visto que muitastarefas e funçõesdentrodaeconomiacontemporânea,sociali zada ou não, são irremediavelmente enfadonhas, é melhor encará-las de vez como 17 5
umamaçadanecessária à qual devemossujeitar-noscomboavontadeparapodermos serlivresporoutrolado. Subindomaisumgrau,chegamosàaltasabedoriadoestóico,queconcordaem representar qualquer papel,porquepode livrementebrincarde representá-lo tãobem quantopossfveL Entretanto, pode existir também um antagonismo entre as "montagens” e os papéissociais.Concordaremrepresentarqualquerpapelsignificadesprezaressepa pel. E essedesprezopode chegarao desprezoanarquista- “Eseeume recusassea ser umator,não importasebomou ruim?”“ E seeu saísse detodoessesistemafun cionalsocialparapoderentrarnaliberdadeabsoluta?". Ésempresutiladistinçãoentreumaatitude“religiosa"eumaatitudeanarquista. Toda “montagem com o universo",qualquer que seja,comportanecessariamenteum certodespreendimentosocialqueóprecisocontrolar.
Asmontagens-revoltas Sejam agressivas, contestatárias, reivindicadoras, revoltadas ou negativas,to das elas são ruins, mas muito pioresseforemdirigidascontraouniversoea vida do queseo fossemcontraoshomens easociedade.Arevoltacontraasociedadecostu maserinfantil,encobrindoalgumpseudomoralismo,umainvejadissimulada,faltadein teligênciaouinconsciênciaparanóica,ouàbasedeambições,aliás,muitopositivas.
“ Pondoasganasdefora” Às vezes pode sernecessário “pôr asgarrasde fora” paradefender-se, ou ter algum escudo, se deixou de predominara boa vontadeou outilitarismointeligente na sociedade, eseestasetornou uma selva.Mas,numasociedadeassimdegenerada,o melhoréo desprezoirônico, sem amargura, eoretiro.Com,miticamente,odesejode serinvisívele,na prática,avontadede reduziraomínimooscontatoscomoshomens, semferir seuamor-próprio,que temasgarrasdeuma fera.AlutadeZoroastroemfa vor do Bem,contraoMal,sóôlouvávelquandooBemjáéouaindaémajoritário. Caso contrário, não passade uma ilusão,de uma cruzadadesesperada e desesperadora, onde.apessoadesgastainutilmentesuamenteesuavida. Os Gnósticos, rompendo comumalongatradiçãoamericana, fazemquestãode manter-se “despoütizados” ou, antes, udesproselitizadosN, e não lutam pornenhuma causahumana. As revoltas satânicas ou byronianas contra Deus, contraodestinoou contrao universo, sãototalmente pueris. O“jogoda derrelição"dosantigosGnósticos,retoma do pelos existencialistas,ojogodo “Maldito”,de“Caim",dopactocomoDemônio,são dignosdeBedlam(oudeCharenton).*
* Hospíciosdealienados,respectivamentenaInglaterraenaFrança. (N. T. )
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ÉprecisoqueDeusmeouça O "É preciso queDeus me ouça"deJó,dePrometeu,éumamontagem umpou co diferente.Assemelha-se, antes,ao“jogo” de Eric Berne,6 no qualoclientede uma agênciaexigeodireitodesuscitarreclamações,nãoparaterseudesejosatisfeito,mas para poder serouvidopelas autoridades responsáveis. Nesse caso,as autoridades não devem procurar levar em conta as reclamações; também não devem acusar o queixosodeserexigentedemais.Devemlimitar-seaouvi-lopacientemente,mostrando sinaisdeinteresse.Oqueixosonãopedemaisdoqueisso.Oqueelequeréreivindi car,nãonecessariamenteconseguir(oquemuitasvezespoderiaembaraçá-lo). Éocasodosjovensdentroda sociedade, quenãosabemoquequerem,exceto quequerem“dizerumasverdades”aosadultos. Essa montagem pode serválidase, ao formularsua queixaa Deus, oqueixoso se tornadepois conscientede suaatitude pueril, chegando,assim, aexemplo deJó,a umaconsciênciamaisprofunda- everdadeiramentegnóstica- douniverso.
“Oeternoretomo” O mito-montagem do EternoRetorno deNietzsçheaproxima-se bastantedo an terior,porémédiferente.Temeleocaráterdeumdesafio,masdeumdesafiomaispara consigomesmodoquepara comDeus:“ Deusestámorto.Permaneçosozinhonouni versocomoconsciêncialúcida.PodereidesempenharopapeldeDeus,substituirDeus - istoé,suportara eternidadesob aformadoeternoRetomodeumaexistência-que domina o tempo, que setomou cíclica?Sim, se euaceitaresuportaroeternoretorno da minhaexistência.”
Asmontagens-bravatas Muitasatitudesde revoltacontraDeus(ououniverso)sãocomobravatasdo“la drãoquedesejaserpreso”, comonojogo infantildaPolíciaedoLadrão.Oladrão-que- quer-ser-preso, àdiferençadocalculista,deixapistas, umanchasn, insultos,“advertên cias”. Do mesmo modo,napolítica, há doistipos derevolucionários ede inimigosda sociedade. Ao lado dos calculistas háos falastrões quese expõem,se mascaram, “sujam”,desafiam,insultam. Perante o universo, os epicuristas egoístas - quenão devem ser confundidos com os utilitaristas benéficos— sãocomo ladrõescalculistas, quando dissimulamseu egoísmo.Aopasso queosateusfanfarrõesdesejamserpresos— para,naturalmente, serem salvos no fim, epreferidosaté mesmo aosdevotos.Existirão,estes, notempo do “ Deus está morto7 Sem dúvida,eeles aguardam uma espécie de prêmio Nobel cósmico,umaprisão-panteãoouummartírio-apoteose.
6.EricBerne:op. d t ,p.148.
Aesperadomilagre Muito próxima damontagem anterior, apesardas aparências,estáaesperado milagre. Byron,Põe,Melville,BaudeiaireeRimbaudviveramessamontagem, aomes mo tempo sob aforma de bravata ede esperadomlagre. Masaesperado milagre, numsentidomaisexato,requerumafé,sejaelaingênuaoujuveni. Kierkegaardfoioquemaiscaracterizouessa“esperadomilagre”.Nfioobstante todasassuasfinurasfilosóficas,elelevavaasérioahistóriadeAbraãoedeIsaac.Eie esperava queDeus,pormilagre,lhedevolvesseRegina, anoivaqueperdera,julgando queessemilagrelheeradevido.Muitosjovens hippiesejovensesquerdistas,tantona Europa como na América, vivemnaesperadomilagre político e cultural,edo Novo Homem.Ocurto-circuitoda vadiagemgeneralizadaedadrogasótemsentidonamedi daemqueháumaesperadomilagre,daParúsiasocialecósmica. Esta“montagem"estavasocialmentemuitodifundidanostemposantigos,een contra-se,hoje,difundidaentreosprimitivos,comoentreosprimeiroscristãos,oscru zadospobres,osfanáticosdoApocalipsenofimdaIdadeMédia. O “Mendigo de Deus"
Jánosreferimosaoparaleloexistenteentreojogodo Náufrago, caídona suali xeira,eojogodoAlcoólatra.OjogodoNáufrago,doMendigodeDeus,temavantagem de transformaro universonum pai, severoporémindulgente,que se compadeceein tervém. Uma associaçãoanthalcoóücaouantidrogacósmicahádeacolheroinfeliz,em quem elaentrevó um santo. O Mendigo de Deus se dirigeaumpúblico mal-definido, meio social, meio cósmico: “Considerem eobservem... se há no mundo umpecador, que só quer sero maiordos santos”.Eleseapresentacomo orefugo,odetrito,mas tambémcomoo“desviador",ocontraryonedocosmo,oqual,elepresume,deveestar muitointeressadonoseucaso.
“VocénfioIriaàminhaprocurasenfioestivessecerto dequenfioIriameencontrar" As religiões estabelecidas geralmente instalam postosde reabastecimentoede “reenchimento” espiritual. Mas fica claramente definido que o cliente nfiodeseja ne nhumresultadodefinitivo.Omecânicoreligiosodáconselhos,masnãoesperaquees tessejamseguidos. Nãoesperadeforma algumaqueo cliente façaqualqueresforço no sentido de poder, mais tarde,dispensar o postode abastecimento. Na confissão católica,ficasubentendido queofielvoltaráindefinidamenteparaconfessar-se. Seele nãovoltamais,nãoseconcluiqueeledeixoudepecar,masqueabandonouaprática religiosa. Aqui,mais umavez, essa montagemde“ reenchimento¡denfinido”assemelha-se aum“jogo” comhomensoucom instituições.7 Aassistentesocial,contratadaporuma agência para ajudar os indigentes a acharem algum trabalho, não deve sereficiente 7.Ct. EricBerne,op. d l , p. 160. 178
demais. Odesempregado, por seu lado,procura trabalhomas, a exemplodo heróido ColossodeMaroussi,deHenryMiller,semnenhumaintençãodeencontraralgum:“Por mais desesperadoque eu achavaque estivesse, eu nem medera ao trabalhodeper correrascolunasdeofertasdeemprego." Essa atitude é muito freqüente perante o universo. Os agnósticos são, com freqüência,desempregados religiosos que fingem estarprocurando,eacabamtranqüi lizando-secom aidéiade quenãohásolução. Essa atitudese expressapelarevalori zaçãodo mistériodoIncognoscível, nãocomo uma reservapositivaaserconquistada mediante o invento de engenhos psicológicos, e sim, como um oceano parao qual, graças a Deus, não temos nem barco nem vela. Osvelhos sábios são consultados apenas pró-forma. O consulentedeixaaentenderqueelesnãosãomaissábiosdoque ele, equeelenãotemque“ procuraremprego”- metafísicoou religioso. Oshumanistasdifíceis Os humanistas difíceis adotamfreqüentementeuma atitudesemelhante. OsDió- genes procuram um homem, coma garantiade quenão irãoencontrá-lo. Quando, em certas culturasbem-sucedidas, surgembelostiposdehumanidade,comoobeloebom Grego, o Cavaleiro sem medo e sem mancha, o homem honrado, o gentleman - o s Diógenes, em vezdemaravilhar-se, procuramvaiá-lo,insultá-lo e tratá-lode hipócrita, de fariseu.Marx colocano mesmonívelobeloebomGregoeoempresáriocapitalista, considerandoamboscomoparasitas.Todohomem honradoôum“porco"- umpig. As nações que parecem conseguir um início de conciliação entre o homem e Deus, entre a prosperidade material e a saúde espiritual, são as mais insultadas.Os povos eas pessoas felizessãoapresentadoscomoseresobcecadospelosuicidio,ou então, a satisfação simples é vista de antemão como uma satisfação simplória. Se vocêestáfeliz,éporquevocêéumtoloconformista. Goefie,aindajovem,iniciaseuFaustoouseuWilhelm Meister,edecidedeantemãoqueojogo consistiráem não ternenhumôxito. Quando Faustoacreditaestarapontodeterôxlto,ficaentendido queestáamalograr.SabemosqueGoethe, maistarde,mudoudeatitudeeacredhounas“ boasmonta gens’', positivas,no saint-simonismo, notrabalhoprodutivo, semmagiaou semteatro, naaristocracia porcooptação. ASociété de Ia Tour, com o curioso personagem Makário queexperimentapelasua sensibilidadeoestadodo cosmo, dirigeoomsabedoriaesecretamenteaeducaçãodosneófitosbem- intencionados, que pretendem respeitartudooque érespeitável,tantono homemcomoemtudoque estáacimadohomem.
OSuspeitadoruniversal Estaé apiorde todas as montagens, e trata-sede umainvençãorecente. Ela destróide antemão, como disfarcede umafalsaconsciência,tudooqueéatitudeposi tiva. Elezombadequalqueresforço“construtivo”,jáqueoReader'sDigest,emépocas passadas,louvoudeformaabusivatudooqueeraconstrutivo. Essaantimontagem que, no entanto,nãodeixadeserumamontagem,consiste em instalar, de antemão, na armação da arquitetura psíquica, uma máquina infernal, umaarmaredutoraedestruidora. 179
O desejode não serenganado(pelos outros)não éem si umaatitudecondená vel - e falta muito para isso. Ét atémesmo, umaatitude damaisrigorosaprudência, ainda que os instintosdedefesacontenham algodeperigosamentemecânicoemseu funcionamento.Porémaquiháumavontade,oumania,sugeridapelosmistificadoresda contramistificação,de nunca ser enganadoporsipróprio,pelos movimentos positivos espontâneos da própria consciência- quedevemos encararsistematicamente como simples resquícios de velhas sugestões infantis e de uma credulidade residual para comos pais, omeiosocial,a primeiraeducação religiosaou patriótica.Oinfelizassim munido da arma destruidora interior, da máquina infernal psicológica, está perdido: qualquerconselhopositivo,qualquertentativadeeducaçãoéimediatamenteneutraliza da como “tentativade logro”. Se ele tem um sincero desejo de empreender algo,de pôr-se a trabalhar,oudedesistirdealgumprazerque nofundonãoo atrai realmente, ele ouve a vozinteriordo Suspeitador universalqueo retém: "Você estásendo enga nado!”, e que acaba condenando-o à vida de preguiçoso entediado ou do revoltado amargo.Apolitizaçãosuspeitadoradavidapsicológicaétãomortalquantoapolitização universaldavidasocial. LivredopaifamilarcomoSuper-Eu,tomou-seescravododemagogoDesmistifi- cador, queocontaminacomo um víruseacaba substituindoseus própriosgenes, he reditáriosetradicionais,queatéentãoorganizavamseuorganismopsíquico. Quandonãolevamaumavadiagemgeneralizada,oqueosSuspeitadoresmuitas vezesfazem épreparar,medianteseu trabalhodestrutivo,otriunfo dosideólogos sim plistas.A passagemdadesconfiançauniversalpara acredulidadeingênua,dorepúdio detodasasidéiasparaoenvolvimentoirrefletidoemalgumaideologia,équaseautomá tica,poisumaéoavessodaoutra.Porirvstintodeconservação,o“desconfiado”con taminadoseagarraaodogmasimplistatrazidopelovírus contaminador.Elenãoacredi ta em mais nada anão serno psicanalista emvoga, no marxista, no marcusista, no filósofo presunçoso e semilouco, queviveobcecadocontrao “modode vidaamerica no”,noetnólogoneurótico,elemesmodoente,alheioouquesetomoualheioàsuapró priacultura,eodiandoasaúdedosoutros,noartista malsucedido, masque, habilmen te, consegue convencer que qualquer obra perfeita, bem-sucedida ou agradáveldeve imediatamente ser desprezada e ridicularizada. O esnobismoda desconfiança acaba setransformandoporsisóemesnobismocrédulo. A desconfiança política esocialpodefacilmente passarparaadesconfiança“universal", isto é, para a desmistificaçãodouniversoedaexistência. Toda atitudereli giosa positiva pode ser apresentada como uma simples “projeção”dealguma atitude social.Todoaristocratismofilosóficopodesersuspeitodeserodisfarceinteressadode uma aristocracia social, deseruma “montagem”política (destavez nosentido de tra paça)disfarçadaemmontagemgnóstica. Não vemos emque,algumaristocratadasaúde,oudamente, oudoêxitosocial, teriamenos condiçõesdoque um vadio,oudoqueum sersubdesenvolvido,oudoque umdoente,paraterumaatitudereligiosaválida. As distorções de perspectivas são, em princípio, inevitáveis em qualquer si tuação, elevada ou inferior. Historicamente, asatitudesreligiosas são,comefeito,de pendentesdasatitudessociais.Cadaclassesocial,cadaprofissão,cadaespecialidade dáumcoloridoespecíficoàsuavisãodocosmo.Náoéapenasohomememgeralque fazDeusàsuaimagem;cadafunçãosocialtambémofaz.Éesteprecisamente ocaso 180
do clã dos suspeitadores. Ele pretende erguer-se acima do homem comum que aceita a vida. E é essa presunção social que rege a presunção intelectual, e a ensoberbece. Os suspeitadoresdesconhecemporém ofatode queahistóriahumanatambém se fez peladependênciacontrária.Osqueadotamvoluntariamenteumaatitude positiva perante o cosmo acabam formando, mais tarde, urna aristocracia humanae social. O bramanismo,o confucionismo, o zoroastrismo,oestoicismoformaram,fizeram, literal mente,uma aristocracia humanae,depois, social- assim como,aumgrauabaixo, as ideologias políticas fazem as novas “elites" políticas que se apoderamdo poder - no momentoemque ídeologias-veneno intoxicamasantigaselitesdemissionárias. Nietzscheteve amesmaambição religiosapositiva.Ele nãoéoDestruidor ouo Suspeitador universal em que alguns pretendem transformá-lo, contrariando as afir mações mais claras do próprio Nietzsche. Suas desconfianças e suspeitassão mais freqüentemente dirigidas contra os negadoresdoquecontraoscriadores. Ele apenas procedeu de modoinadequado,do altodo seupoleiroalpestre.Nãosepodemais,hoje em dia, falar aos homens como um profeta,comoumpregadorquetrazum novoevan gelho,doaltodeumamontanhaemmeioàsnuvensdeumatempestade. O movimento gnóstico é precisamente urna tentativa com vistas a formar, por cooptaçãosilenciosaediscreta,urnaaristocraciafilosóficae,secundariamente,social.
Oslibertadoresdosinstintos Os que tornam suspeita toda e qualquer montagem positiva, toda e qualquer norma tradicional, não podem deixar de serem levados a uma contrapartidapositiva. Eles aencontram,ou naliberdade purada existênciaque sóédeclaradaauténticase for nua e vazia, ou nalibertaçãodos instintos,na “descolonização psíquica"detodos os “alienados”: alienados propriamente ditos, que eles fazem sair de seus hospitais psiquiátricos; trabalhadores, crianças e mulheres, que elesfazem sairdo“deformatórío"familiar. Rejeitaressas tolices éaprimeiratarefa dosGnósticos.Édesnecessáriovoltar mos a isso. OsG nósticos relembramao mesmotempo queosinstintos biológicos (a auto-afirmação, alibido,etc.) nãosãoforçasamorfas, mas,aocontrário,sãosignifican tes e organizadores,secanalizamasipróprioseselimitam, passamporsimesmosdo esboço temático para aformaestruturada, tantonoorganismopsíquicocomonoorga nismobiológico."Libertarosinstintos”pode,portanto,terumsentidopositivo,seenten dermos com isso que não se deve contrariar as passagens espontâneas do esboço paraaforma,ou as compensações naturais quelimitamdeterminadoinstintomediante algum instinto antagônico. Asimpatiaespontâneacompensaoinstintodedefesa.0pu dorespontâneo (pré-social) é tão instintivo quanto alibido, vistoque semanifestaem todas as culturas. O instintodeordem,deveneração,deritualismoou,comodizV.Pa reto no seu jargão, a “ persistência dos agregados” , é também um instintopoderosoe universal. Sãoos instintosque animam,com sua“gramáticaformativa",asdiscjpfnas tradicionais. Mas os libertadores de instintos nãosabem, aparentemente,oqueéum instinto, comotampouco osexistencialistas sabem oque éaexistência,ouseja,aen carnação laboriosa, numa linha temporal individualizada e contínua, de sentidos "participados”. 181
Osveneradoresdosloucos Atécertoponto,osloucosnosensinamumacertasabedoria:elessãoumexem plo, visto sob uma lente deaumento, dos processos universaisda vidaparaoperar montagensàbasedetabus,deritos,decrençasedeatitudessimbólicas.Exatamente como o estudo das monstruosidades orgânicas, dos desdobramentos anormais, das másharmonizaçõesdeesboçosembrionárioséumguiadeinformaçõespreciosaspa raosembriologistas. Todavia,seriaridículoconsiderarummonstrodeduascabeçasouummicrocéfa- to como sendo tão normal quanto umsernormal, sobopretextodequeo conceito de normalidadenãoécientífico(segundoospreconceitospositivistas).Maisridículoainda seriaacharqueosmonstrostômreveladomaiorcriatividadedoqueosseresnormais, etomá-los comoguiasparaumanovadireçãodaevolução.Aevoluçãobiológicaéfeita pormontagensoucomportamentosnovoseheróicosnosseresnormais(consolidados eventualmentepormutações).Elanãoé,comose afirmou,uma“teratologíafecunda”. Omesmo ocorrecomaevoluçãodas culturas.É verdadequeaveneração dos loucoséfreqüentenasculturasprimitivas.Nelas,aloucuraévistacomoumamanifes tação divina, umateofania. Nasculturasadiantadas,emtodososcamposondearazão e o cálculo nada podem fazer, como nocasoda decisãode soberania legítima, das grandes escolhas políticas, da guerra ou da paz, dosjogos caprichosos da históriaevento,os homensse sentemtentadosase entregarao acasodeificado,aoacasoda hereditariedade ou da descobertado novo Dalai-Lama, ao acaso dos presságios, às entranhas das vitimas - ou aos loucose profetas parasairdo impasseedainde cisão,em virtudedo princípioracional deque,umaformaqualquerémelhordoquene nhumaforma.Oquenãodeixadeapresentarcertosriscospodendolevararesultados catastróficos" Mas a história-cultura não temnenhumarazãopara serconsideradadamesma forma.Existemacasosnainvenção, logo,uma certaesquisiticenaaparênciada novi dade.O que é lamentável é superestimarsistematicamentetodoartista, porexemplo, quemanifestaalgumaanomaliacrua,nãosuperada,erecusarverqualquergenialidade emtudooqueésadio.Asboasépocasdaculturasempremostraramotriunfodosse resnormaissobreosexcêntricos,sobreosbeberrões,ospoetasdebaresouosfuma doresde ópio.Asdecadênciascomeçamquando ossábios imitamos loucoseprocu rampassarporloucos. NaFrança,éconhecidaalinhadeFtimbaudaLautrôamont,Jarry,CharlesCros, AntoninArtaud.AAmérica,em suaépocasaudável,tinha razãoem nãofacilitaravida a Edgar Póe. A América (universitária) de hoje parecequererseguira linha francesa, com a diferençadeque os artistasdeliramegesticulamnuma espéciede hospíciode alienados, separado, por enquanto, por paredes invisíveis da massa que ainda se mantém saudável. Mas o queeles querem éfugirdo hospícioparadominaromundo. Alémdisso,elesconservamdamentalidadeamericanaumcertosensopráticoque,por um lado, os toma mais perigosos por serem mais eficazes, masque, poroutrolado, abrandaumpoucoasualoucura. Os Gnósticosdetestam os adoradoresdosprodutosbrutos do inconsciente, os surrealistas, os intoxicados físicosou psíquicosde todaespécie.Acrençanosloucos, 182
como a crença nos demônios, éuma forma de politeísmo.ANovaGnose é profunda mentemonoteísta. Usaraboatécnica Com o“anseio pelatécnica”, ficamosmaispróximosdaregiãodas boas monta gens, tanto para com o universo como para com os homens. O anseio por urna boa técnicatem isso deútil: ela foge ao duploinconvenientedaextrapunitividade (“É culpa dooutro...dasociedade...domundo...dodestino”)edaautopunitividade(“Éminhacul pa... Eu sou um fracassado”, etc.). No diálogoquase permanente que oego mantém com ele próprio, o mais"eu” dos dois egos do diálogo desempenha o papel de urna espécie de Deus, testemunha humorístico. O "eu”testemunhadiz parasi mesmo, ou diz para o “eu" ingênuo que ele observa: “ Você não usou a maneira certa, mas tem condiçõesnofuturodeusarojeitocedo". Na históriabiológica,todosos progressos importantesforamresultadodemonta gensdeboatécnica.DeussiveNaturaévisivelmenteamantedatécnicamaisdoque demoralidadeoudejustiça. Elenãotempiedadealgumapelosmaustécnicos.Asnormasdominamemtodos os campos, ao contrário das crenças ingênuas dos idealistas da liberdade, da fé, da criatividade arbitrária. E essas normas são técnicas,enãomorais. Dopontodevista econômico, social, demográfico, político, todos os êxitos são técnicos. Só que ouso dasboastécnicasnemsempreédevidoaumanseioconscientepréviopelatécnica,e sim,aocontrário,acrençasmitológicas quenãovisamdeformaalgumaqualquerêxito técnico. Umavantagem psicológicaimediatadesse anseioconscienteporuma boatécni ca- como montagem - é queelaéumaatitudeadulta, enãode“criança”oude“pai". Aquele que deseja ajudar a si próprio, que diz para si mesmo: “Serei omeu próprio conselheiro”, que nos acontecimentos incertos, pratica o “Vamos esperar para ver” , que confia em si próprio porque elequer trabalhar- e não representar-, aprende a respeitarouniversoaomesmotempo emque temrespeitoporsipróprio,semporisso levar-se a sério - ou apenas namedida emquetrabalha comseriedade. Eledeixade seracriança,comseusváriossalvadores,religiososouideológicos.E,também,deixa deseropaiouoguiaparaosoutros.ElesecolocafrenteafrentecomumDeusadulto, com o qual nem sempretem uma intimidade mística, mascujos métodosele procura seguir, e como qual procura manter-se em sintonia: “ Seguiro Caminho, oTao. Viver ‘emharmonia’”,etc. Oerrodo Oriente- ou, antes, dos “orientalizantes" - sempretem sidoodepro curar uma intimidadepura- eemcurto-circuito - comouniverso.Aintimidade(nosen tido de Eric Berne) valemuito, pois vai além dos jogos de má-fé e, até mesmo, das montagens- e dastécnicas. Masela só consegue envolveressas montagens,essas técnicaseas formas constituídas, ou então transfigurá-las,assimcomoagraçanasce deumaarteperfeitamentedominada.Aintimidadepuracontinuatãoinsustentávelentre o“Eu” eo universo comooseriaentredoisjovensetolosamantesquepretendessem “viver seu amor” semnenhumatécnica familiarou social, sem atividade profissional, numaviagemdenúpciasperpétua. Obviamente,muitasvariedadesde“montagenstécnicas”têm valorduvidoso. 183
O“tecnólogopedante” Éo equivalentefilosóficoou religioso dotecnocrataqueimperou particularmente nos Estados Unidos nos anos50, eque ingenuamente pensava: “ Finalmente,salmos da pré-história. Tecnicamente, podemos fazer tudo. Podemos escolher tudo: poder, “grande sociedade”,segurouniversal, cultura,erradicaçãototaldadoença,davelhice, educaçãouniversal,conquistadoespaço,controledaevoluçãobiológica.”Asterríveis crisesmoraisdos anos 6 0 - quefavoreceramonascimentodoNovoGnosticismo- fi zeram parecertão ridiculas essas pretensõesqueé melhor evitarirlonge demaisna reaçãoeconservarosentidodovalordaboatécnica.
Ofariseu Hámuitooquedizerafavordofariseu,seentendermosporfariseuohomemque mantémumacertaposturasocialereligiosa,queseapegaftfachadaeaodecoro,que manifestaaconfiançaqueeletememsi mesmo enoseuprópriosistemadevidaape sar dos tempos difíceis, que não se deixa perturbar, afastando os suspeitadores, e desprezando-os, e quetemo sentimento de constituirurna aristocraciahumanatanto quantosocial.Eleseempenhanisso.Aexemplodospioneirosamericanosdosséculos XVIIeXVIII,eleóoseupróprioexército, asuapolícia,oseucorpomilitardeengenha ria técnica.Créem Deus e no seudireito. Todaaristocraciatoiassimconstituidapor umequilíbrioentretrabalho,sacrifícioseprivilégioslegítimos,conquistadosàvivaforça. Ofarisaísmoapresentaalgodepositivofrente&sanálisesintemperantesquede compõemtodos os postuladosdeconduta,destronamtodasas virtudes,reduzindo-as àpurasorte,einocentamtodososcrimesaoexplicá-lospelascircunstânciaspsicoló gicas ou sociais. “ Eu não quero saber disso”é, muitas vezes, uma interrupçãone cessáriadadecomposição. O abusosó começaquandosurgeo ritualismo, apresunção,oesgotamento do esforçointeriorportrásdafachada,comos“Vejamcomoeuvencinavida",“Vejama minhaboa saúde, os meus êxitos,a prosperidadedaminhafamilia”. Ofariseu,então, emseudiálogoconsigomesmo,atribui aseuméritotécnicooque, naverdade,édevi do à sorte, à suasituaçãode prebendado social ou de serbiologicamentefavorecido. ElesóagradeceaDeusparamelhoradmirarasipróprio. Hojeemdia,aliás, ofarisaísmodos revolucionários-que-admiram-a-si-própriosé muitomaisdifundidodoqueofarisaísmodosconservadores.
Atécnicaperfeitaeas“viasrégias” “ Voumostrar-lhesdo queeu soucapaz” ,nasociedadehumana,equivalemuitas vezesa:“Tereiaminharevanche".Ohumildeempregado,aodominaratécnicado.fu tebol com perfeição,torna-semais famosoemais prestigiadodo queoseupatrão.Na realidade, ele procura sobretudo se auto-estimar “diante do universo". Dominar uma técnica tem um valor religioso. É umavingançasobreanulidade maldosa. Os Orfeus humanos, os bons tocadores de lira, não domesticam as feras: domesticam a si pró prios. As boas técnicas sociais, a ciência confucianados costumese ritos sociaise, 184
sobretudo, o respeito das normasde êxito social são aindamais louváveis por serem maisdifíceisdoqueodomíniodastécnicasesportivasouartísticas. A atitude que consisteemdizer: “ Estou acima da técnica”, “ Estou na Via régia” é, a maioria das vezes, puro auto-engano. Desanimado diante da escaladada monta nha que representa uma longa aprendizagem, o jovem estudante, ou o jovem artista, põe umtermo a isso alegando queestá acimadas técnicas. Quandonãobusca a ge nialidade e a revelação instantâneanadroga, acabausandoaartimanhada“ revolução radical cultural’1, retomando tudo da raiz e desprezando todas as regras. Ele, então, passaaconsiderar-seempédeigualdadecomosmais hábeis. As “montagens taoístas” oscilam entre o sonho de uma “técnica perfeita”, que possibilitasse milagres artesanais na profissão, na arte ou no comportamentodosho mens, e o sonhode uma “técnicasem técnica", que remontasse até aprópria raizdo Tao, atéanormadas normasquedispensaasnormas. O Zen-budismodesmonta todas as montagens, desprezandoosmeios simbóli cos comuns de fixar os sentidos animadores dos comportamentos humanos, e ex pressando sua própria perfeição com gestos absurdos que pretendem ir além do significado. Ele é, assim, o antípoda de toda Gnose. Mas também pode, em última análise, passarpor um complemento detodaGnose,vistoque- e os Gnósticosoreconhecem - a consciência humana nunca pode realmente participar da Consciência cósmica a nãoserdemaneiraimperfeita,edeve,portanto,simbolizartambémessaimperfeição.O gestoabsurdoreadquireum significado,quandoémodesto- enão“ perfeccionista” .
Otaoístamodesto Osprodígiosdevirtuosidadetécnicapossuemfacilmenteumaspectodemoníaco. OsGnósticos valorizam,antes, amontagemàqualderamonomede“otaoísta modes to”: “Procuro atingirumatécnica razoável” , “Eu me limitareia chegar pertod os melho resresultados,eistojáseráalgumacoisa,pois,afinal,souapenasum hom em .” O “estóicomodesto”diz: “Procurareime manter calmo, na medidado possível” . O“epicuristamodesto”: “Cultivarei a artedifícilde saberoquemedá um realprazer.” O"místicomodesto”:“AtmanãoétotalmenteBrama;'eu'nãosou‘Deus’,maseu'parti cipo' modestamente.” Umdos Gnósticos americanoschegou mesmoa escre veraes serespeitoalguns“Conselhosdeimperfeição”.
Viveraquémdassuaspossibilidades Num certo sentido, por ela ser um início de criaçãoorgânica, toda montagem consisteemviver além das própriaspossibilidades. Trata-sedeumaantecipaçãoou sada,baseadaem possibilidadesainda imperfeitas;trata-sede umem préstim onáore embolsável, deuma petiçãodeprincípio.Todaaevoluçãobiológicasefezd e s ta manei ra: oarqueopterix nãotinhameiosdevoarbem,ospré-homenscam inhavam e comuni cavam com dificuldade.Amentesempre temgovernadouma matéria re belde e insufi ciente.Elasempretemestadoàbeiradodéficit. 185
Os Gnósticosconstatamque, na civilização contemporânea, tem havido um ex cesso momentâneoeartificialde meiostécnicos,que atrapalhae, sobretudo, quear rasta. Mas não estamosdestinadosausartudo.No mundo físico,comoobservou um físico gnóstico, reinao principio “datirania absoluta”: ‘Tudo o queé permitidoóobri gatório”.(Seum certo"saltoquântico’ épermitido,podemosestarcertosdequeeleirá ocorrer). Os homens tambémtendem a“realzar tudoo que é permitido”. É possível voar mais rápido do que o som? Então, vamos fabricar aviões supersônicos, etc. Porém,aocontráriodosdemaisseresdomundofísico,oshomenstambémconseguem livrar-se - os ascetas provaram isso - do “principo datiraniaabsoluta”, através de “montagensdeabstenção”. Assim como seria absurdo“quebrar” a técnica, comooqueremos extremistas da contracivilização,éumaatitudesensataviverum pouco aquémdas suas possibili dades. Em virtudedesseprincípio, muitosGnósticosdesistem, nãodoconfortomasdo luxo inútil - nãoapenasdeobjetosmateriaiscomotambômde informaçõespoucoas similáveis. Elesdesistem das residências de verão, dos cruzeirosmarítimos, da tele visão,docinema, restringemacompradelivros,derevistas,dediscos,deequipamen tosesportivos.Elesserecusamatémesmoainteressar-sepelaetnografía,echegam àsvezesaterumacertaaversãopelomaterialimpresso,praticandoo“cultodocesto depapéis” erepudiandoacultura-de-gente-culta.E,obviamente,boicotamtudooqueé filme,peça,obrapornográfica,sádicaoudemagógica. Épreciso,noentanto,acrescentarqueháoutrosGnósticosquenãoaprovamto das essas restrições e contestam o fato de que poderia haver realmente superabundância dos meiostécnicos e até mesmo das produções industriais. Elesadmitem queos homens,afinal,sabemoque queremmelhordoqueos highbrowsouoshead eggsquepretendemimporaosoutrosseuprópriogosto.
Experiênciassemcatástrofe Amodadastransgressões,dosantivalores,darejeiçãodetodasasregrasbati zadas tabus, tem isto de legitimo: o verdadeiroâmbito deuma lei naturalsó pode ser sentido e apreendido por meiode pequenos princípiosdetransgressão. Umregulador sópodefuncionar“percebendo”pequenosprincípiosdeirregularidade.Umequilibrista, ou até mesmo um homem caminhando,se aproximaaomáximodapossívelqueda, e chegaautilizarpequenosiníciosdequedacomopequenosempréstimosdeenergia. Mas uma transgressão técnica só é aceitável se fizer parte de algum esforço orgânico.A boatransgressãoéuma antecipaçãode equilibrista,quepodeserrecupe rada.Atransgressãouniversalporprincípio,emtodososcampos,semmedida,radical, irreversível, é pura estupidez.Não seavaliadeformainteligentealei da gravidadejo gando-sedosextoandardeumedifício. Os Gnósticos são muitas vezes tão “ radicais” (no sentido inglês da palavra) quantoos hippies em suas especulações.Masnãosãoloucos.Nãosejogampelasja nelas,nemseesborrachamnacalçada. 186
OSócratesdosNovosGnósticos:SamuelButier Desdea fusão dos "Amigosde Samuel Butier"comoMovimento,muitosGnósti cos vêmconsiderando Samuel Butiercomo o seuSócrates.Todosmanifestamporele a maior admiração e todos encontram motivos particulares para admirá-k).Os físicos descobrem que ele é um dos muito raros antecipadores da mecánicaondulatória, e mesmodamecânica“matricial"(em Unconscious Memory).Osbiólogosaprovamsuas criticas sobrea seleção darwinianamecânica, bem como seumnemismo (Life and Habit, Evolution Oíd and New). Os sociólogos estimam que a suaversãodo materialismo ou, antes, da tecnologia histórica, supera a de Marx (em Erewhon), e que ele soube prevercomoseriaaatualcrisedasIgrejasestabelecidas.
Ossetepecadoscapitais Contudo, obviamente, é sobretudo o Butiermoralista que é visto como o novo Sócrates - emesmo comoonovo Moisés.OsGnósticosadotarama novalistabutlerianadossetepecadoscapitais- oudos“ pecadosmortais” (deadly sms): Afalta de dinheiro, asaúdedeficiente,omau temperamento,acastidade, opedantismo (knowing thatyou know things),osvínculosfamiliares(family lies),afénumaideologia
S. Butiermencionara como sétimo pecado a crença na religião cristã. Masse referiacom isso ao dogmatismodo cristianismo.SegundoosGnósticos,hoje,asideo logíaspolíticasé quesetornaramdogmáticase fanáticas.Samuel Butier foioprimeiro verdadeiro Gnóstico. Elefoium hippie inteligente,um radicalconservador,um "desvia dor", contra a família vitoriana, a religião estabelecida, a culturae a ciênciaoficiais. Mas, ao mesmotempo, conservou omaior respeito paracomaverdadeira religião,a verdadeira cultura, averdadeiraciência. Continuousendoum cultuador da Norma, en camadapeloGootí Breedfng. Os Gnósticos americanoscomfreqüência lembramentresi“ asegundapartedo preceitodeButier”: Um homemdigno destenome: 1e,deveterum idealelevado: 2*.deve deixarterminantemente esse idealdeladoaoprimeirosinal dosensocomum.
Transformarocírculoviciosoem"circuitodoseleitos” Mas o que vem asero sensocomum,assimerigido paradoxalmente comojuiz supremoporcientistasesábios? Butiersedivertepersonificando-ona deusaYdgrundisfarcetransparentede“ MadameGrundy” ,arespeitabilidadeencarnada: AdespeitodetodoobarulhoqueosErewhonianoslazememtomodosseus(dolosedospadres queelesmantém,nuncaconseguimeconvencerdequeareligiãoqueprofessamconesponde,neles,a umsentimentomuitoprofundo.Maselestinhamoutrareligião,adadeusaYdgrun,queosdirigíaemto dasassuasações.Narealidade,elaeraoseuguiasupremoeabússoladesuasvidas...Osquemais altoclamavamqueIdgrunnãoerasuficientementeelevadaparaelesmalhaviamseelevadoatóaaltura de Ydgrun. Aoonteda-me comfreqüência encontrarurnacertaclassede homens queeucostumava chamarcomigomesmode‘Osaltosydgrunistas’, equemepareciamteralcançadotodaaperfeiçãode 187
queanaturezahumanaécapaz.Eramgentíeman emtodaaforçadotermo. Eoquemaissepoderiadi zerquandosedizisso?
Ao adotar como critório supremo a aprovação de Ydgrun e, como ideal, o gentíeman, o homem honrado, o círculoviciosotoma-seevidente.Qualéo idealmais elevado?Éaqueleque,silenciosamente,éjulgadocomotalpelosmelhoreshomens,os mais amáveis,osmais sensatos.Quaissãoesses homens?Osqueseguemalei,não escrita, que define o homem honrado, o gentíeman, o homem dotado de urna boa natureza.8 O círculodos eleitos eleva-se semsuporte paraoéter,como a carruagemdos deuses. O idealdohomem honrado,dogentíeman,estáhojeultrapassado?Semdúvida. Mas, afavor deque, senãodeumoutroidealdemesmaespécie?Paraquetipodecoi sa podemos apelarcontra ele, senão para um outroidealhumano domesmo género, menos limitado? Ocritériosó ésocialnaaparência.Cadasociedade,comocadaindividuo,encar naao seu modo, comtoda sortede imperfeições históricas,oque vaicompletamente além da história humana,eque, longe deserummeroproduto desta, acabaorientan do-a. Ninguémestá rigorosamentesobreoeixo,finocomoumcabelo,doquepodemos chamardea Vontadedivina,oTao, aNorma, paraalémdotempo.OGoodBreeding6 uma expressãofelizmente equívoca, entreo“vital"eo"social”, equeultrapassaume outro na medidaemque possui um valor religioso. O quejulgaatémesmo os deuses só pode sero próprioDeus. Deuséopróprioprincípiodojulgamento,que,nohomem, julgaosdeuses. Mas aconsciênciaquejulgadificilmentefuncionanonada. Somosincapazesde definir o ideal humano a não ser com base em amostras encamadas que podemos comparar entre si. E é porissoque ojulgamento,sem que oseu princípioseja social pornatureza, é tanto mais seguroquanto mais amplamente social for,assimcomo a memória, fenômeno individual, é muitomais garantida quando é um esforçocoletivo, após tersido um esforço biológicodetodososindivíduosdeumaespécieou deuma longalinhagemdeseresvivos. Ojulgamentoinstintivoquenos dáo critériodas"boas montagens”éumaespé ciede “memóriado porvir” . A organogênese espiritual, vista de dentro, implica a participação numa cons ciênciaqueseexpandealémdenós,assimcomoamemóriaimplicaaparticipaçãodo nosso“eu”nos nossos “eus” passados,eno“eu"daespécie. Oparadoxo,aaparente contradição de uma “memória do porvir”justifica, defato, orecursoaum vocabulário religiosoparaexpressá-la.Orecursoao“sensocomum”porpartedosGnósticosame ricanos, longe de ser um fracasso da doutrina, representa para esta, pelo contrário, umtriunfomuitosutil. Pois,enquantoa infelicidadedostempos tornapordemaisminoritáriosocultode Ydgrun e orespeitopela verdadeirarespeitabilidade, asabedoriaconsisteem darmo
8.Talcomo,porexemplo,oTom JonesdeFieldlng.
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mentaneamente as costasàs tolicestriunfantes e em reconstituir uma pequenasocie dadedosensocomum,contandocomaseleçãonatural,eliminadoradastolices. Vejamos uma comparação que será mais elucidativa para oleitorfrancês, pois refere-seàmoda.Porumlongotempo,amodafemininaparisiensedeuotomaomundo civilizado ocidental- nãoamodamuitas vezesfeiaeexcêntricalançadapelos costu reiros, mas a modafiltradapelobomgosto,médioe espontâneo,das parisiensesdeto das as classes. Hoje, esse bom gostomédio “explodiu".As “desviadoras”sãoquase majoritárias, vestindo farrapos exóticose pseudo-etnográficos. Quasenão há maisna modauma“linhacentral".Asmulheressensatasnãorestaoutraopçãosenãotornar-se “desviadorasdosdesvios"evoltar,comomomentâneaminoria,àlinhacentraldo“sen socomumdovestir”. Viversemcoroa Os Gnósticos não querem lutarcontra osdemônios (cósmicos ousociais) ese mantêm afastados deles.Eles nãoquerem nemacoroadomártir, nema coroadavitó ria. Estão dispostosafazermuitossacrifícios de vida exterior em prol dauvida verda deira”, como todos os primitivos o ensinam, etodos elessão ascetasporconvicção profunda. Masnãoacreditampoderconquistar comissonem méritosnempoder.
Osverdadeirosfeministas Optarpeloorgânicoemdetrimentodoideológico,pelasmicro-edificaçõesorgâni casemdetrimentodosgrandessistemasdeidéias,significaoptarpelasmulherescon traos homens. Ou antes,optarpeto“feminino", na humanidade,contrao“masculino", pela vontade profundae inconsciente das mulheres contraas manifestações voluntá riasesuperficiaisdoshomens;contrao “virilismo". O“feminismo”costumadesignar,antes,oseucontrário:o “virilismo”. As mulhe resachamquedevemconquistarosdireitos,escritosenão-escritos,doshomens,ado tarseus costumes e hábitos,seu gostopelocinismo, pelagrosseria,seusanseios por uma vida aventureira e por uma mentalidadedesordeira. Por pseudofeminismo- na realidade, por "virilismo” -, asmulherescomeçarama fumar,quandoo verdadeirofe minismo deveriater levado os homens a parardefumar. Mais de acordocoma etimo logia, o “feminismo" dos Gnósticos consiste, paraos homens, emadotar o ponto de vistafemininosobreavida- ou,pelomenos,emnãodesvalorizarousubestimaropon to de vistafeminino, e em colocaramulher numnível nomínimo tão altoquantoo do homem diante do universo. Porisso,os Gnósticosfazemquestãode falarda Grande Deusa,oudaGrandeMãe,damesmaformapelaqualfalamdeDeus. Os Gnósticos, comojá vimos,nãoacreditam deformaalgumaqueo“espíritofe minino”sejaoresultadodeumasimplesmontagemsocial.Esseespírito,segundoeles, baseia-se em “temas gerativos"muitomaisprofundos,numa espéciede com petência biológicaou“lingüística"paratiposdeatitudesedecomportamentosquetêmpelome nosumvalorigualaodostipos“viris”correspondentes:suavidade,aversãopelaobs cenidade,pela violêncianaguerraounarevolução,aversãopelaideologiaabstrata,pe la aventura, pela façanha gratuita, apegoà tradição,àreligiãotradicional, à hierarquia 189
social eao caráter quase-religiosoeatémesmoeclesiásticocio Estado;gostotambém pela boa educação, a cortesia,orefinamento,avidaemtomodeumcentroorgânico, submetidaaessecentro,enãoemlinhareta,lógicaouaventureira. UmadasrarasIdéiaspotfttcasqueeuosouviexpressareraadequeasmulhe resdeviamdirigi’asIgrejasedepoisfazerdasIgrejasparassodedades,paragovernos, demodoqueconstituíssem,nofim,umpoderespiritual,numalutaquaseabertacontra as vulgaridadesmasculinas,ideológicasououtras.Os Gnósticosdeploramo pseudo- feminismo dessas mulheres exaltadas que rivalizam, em seu extremismogrosseiro, comoshomens.
OValorizadordomundo “Louvara belezadomundo” - éuma atitudeque parecepueril.Equivalemuitas vezesasefazerdecriançadiantedomundo,ajogarfloressobospésdosdeusesque nelaspisamsem vô-las. Umjogodivertido, quandoé superficial. Às vezes reconfor tante,quandovividoprofundamente.Pois,comefeito,a naturezaémais bela doquea Dama idealizada pelo seu Cavalheiro. Um jogo também mais positivo que aatitude schopenhaueriana,poisacontemplaçãoestéticaNbertadaprisãodavontade. DohinodeAkhenatonaodiscosolar,ao CánticodeiSole deSão Francisco,os poetas religiosostémenaltecidoabelezado mundo,e as ideologiasnaturistasouteís tasauxiliaresnãofazemmuitadiferençaentreoReieoSanto: Tuteerguesbelodo horizontedocéu,Aton,Solvivo,quevivesdesdeaorigem...Enchesteto dasasnaçõesoomatuabeleza...EstásnosemblantedoshomensetuasvindasnossAodesconheci das...Atravésdeti,opintinhoqueestánoovotalanacasca...Tulhedásnoovoopoderderompê-lo. Elesaidoovoparagritaroquantopodee,quandosai,caminhasobresuasprópriaspatas.
Ouentão,dosantoitaliano: Sedelouvado,oh Deus, particularmentepeloAltíssimoSol que, porsuaespléndidabeleza,re presentaaVossaImagem...SedelouvadopelaBrancaLua,pelasestrelasenantes.8
Mastalvez seja mais digno de um adulto louvar ao mesmo tempo a belezado mundoesuaimpiedosaferocidade,e,como WilliamBlake, louvartantootigrecomoo cordeiro.Olouvadortransforma-se,então,emvalorizador. O valorizadoré o inverso do desmistificador.Mas eleóoverdadeirodesmistifi cadordosvaloresartificiaisemproldosvaloresnaturais,mesmonoseuaspectoater rador.Afégnósticaadmite,comoafédeJó,certoslimitesà Gnôsisteórica: Orugidodosleões,ouivodoslobos,afúriadatempestade...sãoporçõesdeeternidadegran desdemaisparaoolhardohomem.10
Capítulo XXII
AS “ MONTAGENS DE MISÉRIA” As montagens queconstituem o essencial dasreligiõessãogeralmentemonta gens de “esperança na desesperança": “Eu sofro, masexiste um Salvador”, "Sofro, mas o Milênio está próximo” , ‘ Sofro, mas essaé avontadede Deus; porisso,resignemo-nos,quesejafeitaavontadede Deus";“Sofro,masofereçoomeusofrimentoa Deus como um sacrifícioqueserá recompensado", ou ainda: uTomo a iniciativade um sacrifício, e Deus outorgar-me-áa graça de umoutrosofrimento queestava prestesa meenviar”.
Oquietismo É evidentequeum Gnóstico não pode,assim,brincardecriançacom ouniverso - e todas essas montagens são próprias de uma criança.Aatitudedoquietismotem algode mais profundo:entregaafetiva,enãouniãointelectualcomDeus, renúncia ao julgamento,puroamor,sem Gnose esemprática,místicasentimental.Háaindaumla doinfantilnoquietismo,masosGnósticosconseguem,entretanto,aproveitaralgodes se lado,precavendo-secontraaatitudedeserenidadeolímpica do homemque preten debrincardevelhosábio;oucontraaarrogânciadopedantetecnólogo, ou contraaati tude impassíveledesdenhosadoíndio“atadoao postede tortura"eencarandooseu adversário; ou contraapresunçãodo crenteconvencidodeque faz partedo povo de Deus edo exército celeste, ou contraapresunçãodoperegrino heróico àIa Bunyan, embuscadasuasalvação,desprezandoaCidadedaPerdição.1 O quietismo é positivoquando é uma busca de intimidade com o universo e quando setoma uma montagemdo tipo: "Valorizaro presenteedeixar para Deusou paraosdeuses- istoé,paraosgrandesdomíniosintermediários - apreocupaçãocom ofuturoecom ouniversal”.Ouniverso eouniversalsãotantomaisvivosnopresente
1. A Viagem do Peregrino(1678)deJohnBunyan(1628-1686),obraalegóricaquenarraaviagem de Chrisüan(o cristão)da CidadedaPerdiçãoatôaCidadeCelesta,bina Inglaterrado séculoXVII quasetãolidaquantoaBíblia(100.000exemplaresforamvendidosemdezanos). (Nota de 1977.) 191
na medidaem querepresentammenos preocupação,físicaou metafísicaeconstituem um pano-de-fundotransfigurador, enãoumobjetodecálculo.Meu“aqui-e-agora”sóse podefundirharmoniosamentenoEternona medidaem que náoficatotalmenteabsorto em cálculosalongoprazo, e conseguedesfrutaropresente. Depoisda minhamorte, as árvoresaindaestarãoaí,maseu nãoestareimaisaíparavê-las,ou paraver,pelo seu“avesso", a“ÁrvoredaVida":“ Essaéarazãoquemepermiteolhá-lasagora,com a maiorintensidadepossível." Osino-americanoLin YuTang,inspiradopor outrossá bios chinesese pelosgrandesanônimosdetodosos tempos,GnósticossemGnose, soubeexpressarmuitobemessaatitudeemseu ImportanceofLiving.
Ohumoreo“sentimentooceánico” A sensaçãodocômico surgequandovemosdois“registrosde significados” ou duas ordensde valoresde tipodiferente,nãoapenas contrastadosmasprojetadosde forma desajeitada um sobre ooutro, um adotando a linguagemdooutroeparecendo, assim, distorcido como uma imagem refletida num espelho deformado. (Como, por exemplo, o assassinatodeCésar narrado porMark Twainnumestilode crônicapoli cial,ouumincêndiodescritoporumrepórterdacolunasocial.) O trágicoé o confito entreduas ordens devaloresesuas normas, conflitoque não é devidoà inabilidadehumana, mas à própria natureza das coisas.A antinomia, essencial, condena o homem ao erro, ao crime perante determinadovalor, mas em obediênciaaoutrovalor: matar porrazõesdeEstadoou pordever patriótico,mataros animais para sobreviver, matar por piedade, destruir abeleza natural para o bemco mum, preferiroinfanticidioao“ infanticidiodiferido",a eutanásiaao sofrimentosemes perança,imporumapuniçãocruelparaevitarocontágio,escolherentreadesordemea injustiça,etc. Esses conflitos,menores ou maiores, sãoumaprovadecisivade queouniverso é de fato “semântico", e náomecánicoe material. Mas projetam uma sombra sobre aUnitas divina ejustificam as antigasteogonias escalonadas,onde as primeirasge rações de deuses, absurdoseestupidamentecruéis,sáosubstituídas pornovosdeu ses,ou pordeuses salvadores,maisinteligentesemaishumanos. Elestambémjustifi camasvelhasGnosesdoDeusbomedosmausdemiurgos,seusministrosinfiéis. Existem “montagens resolutivas” diante dos conflitos e contrastes menores. O humor,nosentidopróprio,consisteemperceberemnósmesmosounosoutros,oser roscômicos, em confessá-losde bomgrado, eem perdoá-los,em nós mesmosenos outros,restabelecendoassimaintimidadeprazenteira. Masohumorperanteocosmoéáspero,quandovaialémdeumsimplesjogoque investecontraas formas infantisdas figurações religiosas. QuandoMarkTwain escre ve:“Mergulhado em seus pensamentos,o Criadorestava sentadonoseu trono...”, o que fazemos é sorrir. Masos conflitosmaiores e trágicosnão podem sertratadosda mesmamaneira. O humornegro, diantedadoença,damorte,docosmoquenosesma ga,daausênciade Deus, da presençadoabsurdo,muitasvezesnãopassadodesejo deaparecerdealgumposeur. Os “ridiculos” de Deus nãopodemser resolvidosmedianteumaatitudehumorís tica,que só valeparaos ridículosdo homem. Aindaé possívelzombar delevedoPa192
rafso cristão- pois foi inventado pelos cristãos,e nãopor Deus desse estranho lu gar de deleitesdeondesão excluídosos prazeresdoamor- eaoqual,noentanto,os humanos dãotanta importância , e ondeoseleitoscantam hinoserezam inaeternum ao passoque, sobrea Terra,taisatividadesos entediam,embora a elas sedediquem menosdeumahoraporsemana. Contudo, além do Deus da ingênua fé cristã, existe Deus- sive Unitas - que, de uma formaou de outra, inventoutantoo amor como a morte, harmoniosamenteco ordenados, é verdade,paraogrande domínioda espécie,vistoqueum implicaneces sariamente a outra, masem conflitotrágico para opequenodomíniodaconsciênciae davidaindividual, etambémdavidasocial,ondeoamorenfrentaproibiçõesinevitáveis, exigidas,nãoarbitrariamente, pelaordemsocial. Comohumorista,MarkTwainpodeescreverqueNoédeumeia*voltacomsuaarca quando percebeu quehaviamesquecidoumamosca, aqualacabousendoencontrada e acolhida naarca com hinos de ações de graças. Mas ele rangeosdentesquando acrescenta:“Aconteceuqueessamosca,salvapelaprovidência,eraoprincipalagente dedisseminaçãodafebretifóide;elateriafaltadonesseexércitodiligenteedevastador, concebidopeloCriador,queatacaacriançalogoquenasce:crupe,sarampo,caxumba - e quepersegueohomematéotúmulo.” Desta vez, não se pode acusar a estupidez humana e perdoá-la desdenhosa mente.Seohomempodeparecerridículochamandoochefeeogeneraldosexércitos de micróbios de “ Nosso Pai celeste”, por outro lado, Deus ou a Unitas criadora, ao mesmo tempo Deus e Demônio, sublimoe apavorante, não pode ser consideradacô mica, ou suscetívelde sertratadacom humor, mas como algotrágico,eque podeser tratado tão-somente - quando a atitude técnica é impossível - por esse equivalente gnósticodohumorqueéa“resignaçãodeJó"ouo“sentimentooceânico". A intetectualização sem graça que a Antiga Gnose fazia aoconceberum Deus bom, enganado porseuscontramestresmal controlados, sópodeservista pela Nova Gnose, jáqueesta procuraevitaro humorásperoe airritação neurótica,comoumali mitação da inteligência humana. As Figuras do mundo, significantesou expressivas, têm comopano de fundouma Figuraunitária,sempreexpressiva,masnãomaissignifi cante.Elaadmite,portanto, uma“última palavra”,nãosemântica. Como na imagemde SomersetMaugham, a vidae aexistência se assemelhama um tapete persacheiode figuras,masque, nasuaunidade,pertenceàartenãofigurativa.Osignificadonãoaca ba seperdendonoabsurdo- simplescontrapartidanegativadaexpectativahumanade umsentidoacessívelaohomem masnum“Além-do-significado".
Asmontagensnosofrimento,ou“ Dobomusodamorfinapsíquica” A Nova Gnoseéocidental nosentidode que as“montagens" preconizadaspor ela são ósseas ou cartilaginosas, e não gelatinosas. As boas montagens não são agressivasà maneirados espinhos, mas são, de fato,um esqueletointerno.Aopasso que os Orientais- ou talvez, sobretudoos “orientalizantes"- preferem afusãoàdis criminaçãoouao“distanciamento”, e recusamnão sóa tensãonervosa,mastambém atensãomental, que incluia consciênciado“eu” , àespreita,percebendoouatuando. 193
Hácasos,entretanto,emquea“gelatina”temalgodebom,bemcomoaperdada consciênciade um “eu”distintoeorganizadordotempo. Numasituaçãodeforteansie dadeou de grande sofrimento,espontaneamente, antesdo reflexodo desmaioouda sincope, o“eu" se perdena “superfície absoluta", seesquece de queódelemesmo que se trata, como Livingstone no momentoem queoleãolheesmagavao braço,ou como um condenadoque,diante domurode fuzilamento, assiste àcena semreagir, nãosabendomais“quem”estáenvolvido. Assim desarmado, o homem, comooanimal,“se faz de morto"- eRivers de monstrouqueexisteum“fazer-sedemorto”espontâneoantesqueesteestadoseja,no animal,utilizadosecundariamentecomoumprocessoouumatécnicadesobrevivência. Oquelhepermite,então,enfrentaroaspectomonstruosodosrépteisedasferascar niceiras, bem comoosofrimentoe amorte, pois nãolutamais contra eles. Eleseas semelha a um homem drogado ou lobotomizado que continua a sofrer, mas numa espéciede indiferençaaosofrimento,o quaJ, pornãoenvolvermaiso“eu”, perdeu seu efeitoestimulador. Osorientalizantesvivemrepetindo,comcertamonotonia,queexisteumaidenti dadeinterior,demodoquesofrimentoealegria,serenôo-ser,vidaemortenadamais são,equeamortepassaaservistaapenascomoum"retomoàinferioridadeocultada qualnascemos."2 Essas montagens antimontagens fazemos Gnósticosencolheremos ombros e se sentiremaindamaisirritadospetofatode queelesmesmosdizemquase amesma coisa, mas sobuma formaque consideramprecisa,positivaecientificae,sobretudo, respeitandoaboatécnica,o usavoir-vivre’\ emvezderejeitartodatécnicaetodafor ma. O erro “orientalizante" toma-semanifesto quando, afimdesealcançarmais rá pido a“fusão”,recorre-seàsdrogasqueembotamo“eu"organizador, semdiminuira acuidade daconsciência,e quando se pretendeperder-senaprópriaidentidadecoma natureza,comonumauniãosexual. Oexemplodauniãosexualestâsemprepresentedeformavisívelnamentedos orientalizantes. Eles gostariam que a natureza se entregasse aeles, não através da claridadefriadoconhecimento,maspormeio de um contatosurdoenacálidainferiori dade das profundezas do seu corpo. Como se a sexualidadedeixassede ser uma obra-prima de sutilidades"técnicas” , em sobreposições vertiginosas, da microffsicaà biologiamolecular,àfisiologíanervosaehormonal,comotambémàarquiteturapsíquica e cultural. Oque, evidentemente, não significaque aconsciência-eu, pulando para o outroextremo,devapreocupar-secomtaistécnicas,quepertencemaquelesdomínios da consciência totalmenteforado Ueu". Afunçãodo"eu”é,sobretudo,ade continuare prolongarabuscadaboatécnicaemseuspróprioscamposdecompetência. Entretanto, mais uma vez, uma atitude consideradadeplorável na vidacomum podeviraserrecomendávelemcircunstânciasexcepcionais.Mesmocertosmédicos, contráriosàeutanásiainstituida,nãovàcilammuitoemadministrarfortesdosesdemor finaaosagonizantes.
ZAlan,W.Watts:Amouret connaissance,Gonthier,p.49.
Obomusodomasoquismo,ou:“ Viversemcouraça" Este é um outro ponto - com modificações - que os Gnósticos tomaram dos orientalizantes. Quando osofrimento é inevitável, uma boaatitudeéentregar-se a ele, aceitá-lo,dar-sealiberdadedegemerquandoosgemidosaliviam,semprocurarresistir como um estóico, comuma vontadejáanuladade antemão, pelomenosavontadeindi vidual ou social,e nãoaquela vontade, mais profunda dentrode nós,de aceitaravida subjacente,expostapornaturezatantoàdorcomoàalegria,vistoqueelaésensível. Um sádico, comoobserva A. W.Watts,quer antesde tudo “rompera couraça” de sua vítima,3 forçá-laa confessarqueasua vontade orgulhosa estáligada aocorpo e, como ocorpo, évulnerável.Deus, sive Natura,nãoésádico.Maspodemosfazerde contaque Eleoé, eaceitardeantemãooladocrueldeShiva, desistindodacouraçada consciência individualizada. Ao passo que as figurações religiosas superficiaisdeum Deus rigoroso, punidor e quetorturaporcálculo,quefazosnossoscabeloscaíremum porumdenossacabeça,paraforçar-nosaadmitirque“somospecadores"equeeleé “omaior”,essasfiguraçõeslevam,cedoou tarde, á revolta. TransformaraDisneylándlacientíficaemreinodeDeus O reino de Deus vive no mais profundodasalmas, nasubmissãoalegreàs leis inevitáveis e, para os científicos, nodivertimento das invençõesde todo tipo. Esteé, numa visão futura, o“programade sonho"dosGnósticosdePrinceton. Maselesestáo cientesda dificuldade préviadetransformarprimeiroomundocomum numaDisneyián- diaprincetoniana, antesde transformarporsua vez aDisneylândia em reinode Deus. Assimsendo,preferemarealidadeaosonho.
“ Vá,ecomaoseupãocomalegria...” Quandoidentificamos nossa vidacomumaideologiaqualquer, nãoédesurpre enderque avida sempreacabe parecendoinútilevazia.Quandoseviveodiadehoje sema preocupação doamanhã,deumarefeiçãoàoutra,decansaçoem descanso,do diapara anoite, oquepoderiahaverdevazio nessa redede encadeamentosondeos fiosaprazíveisseentrelaçamemmaiornúmerocomosdesagradáveis?Masépreciso combinar esseotimismo“de textura" comumafaltaabsolutadeambição ou de vaida de. Os Gnósticos adotaram, combinando-acomas fórmulasbutlerianas,afórmulada felicidade segundo Edgar Poe: oamorde umamulher,aausênciade ambição,a vida aoar livre (ou“umavidatão natural quantopossível"), eabuscade umanova beleza (osGnósticospreferem:“abuscadaverdadecientífica”).
“Eoventolevou” Não podemos afirmar que nossavidanãotem sentido.Maselacertamente não tem nenhumaimportância. Nãodevemos confundirsentidocomimportância.Poderdi zer: HE o ventolevou” , sem amargura e, atémesmo, comumotimismo cósmicoe um sentimento“oceânico”,éumpassodecisivoemdireçãoàsabedoria. 3.AlanW.Watts,op. cit, p. 94 . 195
Capítulo XXIII
A MORTE E A IMORTALIDADE AmorteéumapedradetoqueparaaNovaGnose- connotambémparatodasas doutrinas fibsóficas oureligiosas porém mais aíndaparaaGnose,pois elaparece aomesmotempo confirmareinfirmaradoutrina. Elainfirma adoutrina.Jácomaperspectiva- científicamenteprovável- damor te docosmoporequalizaçãotérmica, esgotamento das“bombasH"estelares,trans formaçãodamatériaemradiações,desmateriaizaçfloemirradiaçõesdasestrelas,de- generescôndasdiversasdamatérianasestrelasanfisbrancasounasestrelasdenêu trons, ou nos residuosde supernovas ounosquasares.Seja como for,amortecerta da Terrae do sistemasolar, fadados aespalhar emvãonoespaçoopódos nossos cadáveres, essamortecósmica,perfeitamentenaturalparaumaconcepçãomaterialis ta do universo,éinadmissívelpara umafilosofiaqueacreditana prioridadedo Espirito sobreaMatéria, dosoftwaresobreohardware,dosignificadoedofimsobreosmeios, e que acredita nas “gerúdentidades" e continuidades semánticas, mais do que ñas substâncias materiais indefinidamente subsistentes alóm de suas degenerescéncias eventuais,ounaconservaçãodaenergíaalómdassuasdegradações. Já, para a ciência- umaciência,na verdade, muitoextrapoladaeconjetural-, a matériae aenergia surgem (noBigBang inicialou atravésdacriaçãocontínuade hi drogênionoespaçoemexpansão)antesdavidaedaconsciência,nosentidocomum dessas palavras.Paraaciência,matériaeenergiasãotambémdestinadasaprolongar sua existência como matériae energiadegeneradas muitoalémdafase- comparati vamentecurta- davidae daconsciência'informadas*. Ao menos localmente. Emborao conceitode umtempocósmiconãosejamais uma noçãoclaraesimples, desdearelatividadegeneralizadaeosseusprolongamen tos cosmológicos, embora não sepossamaisfalarde um presentesimultâneo para o conjunto docosmooudavida- nestemomento- deseresconscientesnasnebulosas em recessão,embora nem mesmose saiba mais, como osugeremK. GõdeleG. L. Omer, se, na ausênciado tempocósmico unitário, nãohá linhas-do-tipo-tempofecha das, comaconseqüênciade quepoderíamosteoricamentevoltarparaopassadosem, entretanto, percorrer otempo ao contrário, tudo issonão impedeque,localmente,po demosemtodapartedefinirumsentidodotempo,umapassagemdamorteparaavida 196
(pornascimentoeingressodeinformações),edavidaparaamorte(pordestruiçãoou degradação).
Amorteindividualdosseresvivosedoshomensparecedesmentirviolentamente a Gnose.Avidadeum homem,tantoorgánicacomopsíquica,édefato, conformeàte segnóstica, uma "continuidade designificado", e nãodeenergiasoudeimateriais.Ma terias e energias limitam-se apassar nasformassignificantes dos órgãos,garantindo sua solidez tísica, subordinadaàsua solidezsemântica.Amorte, porém, parece des mentir tudo isso.Uma“ pane"defuncionamento,umacidente naresistenciafísica (par ticularmenteaquebra de um encanamentoou urna rupturadeaneurisma), náosó pro voca odesmoronamentodocorpo comotambém apagaaconsciência, amente, como se a continuidade semântica fosse tributáriada continuidadematerial,ao contráriodo querezaadoutrina. Numa execução orquestral, umacordadeviolinoquequebranãodestróiaparti tura musical,nem sobretudoamúsica“pensada-. Numamáquinadeinformação,uma pane nos circuitoselétricosnãoatingeo software- pelo menososoftware“despaco- tado” equese apresentacomo uma“partitura"para oengenheiro. Numorganismovi vo onde entretanto, osoftware, comovimos,predomina- naqualidadedeconstituinte n a embriogênese, dominante no comportamento,ereparador quandoapaneouo aci denteé benigno qualquer pane graveoaniquila,fazendoassimcomquepareça,por fim e tudoanalisado,umaresultante precáriadaquiloqueeleparecia,entretanto, consti tuiredominarduranteavida. O maisextraordinário, porém,nesteparadoxo, équeamorteconfirmatambéma tese gnóstica. Uma prova, poder-se-ia dizer,deque as informações,as ligações de sentido, os temas, mnêmicos ou originais,queprogressivamenteforamdiferenciando os esboços orgânicos etransfigurandoosfuncionamentos em comportamentos, eram defatoconstituintesedominantes,éque,umavezdesaparecendotaisinformações, só permanecemdoex-servivoalgunsquilosdeágia,carbonoecálcio,umpóouumanu vemde moléculas,indistinguíveis dentrodamassadasoutrasmoléculas.1 Segundoos mitos prim itivos, aalma seevola,saipelabocadomoribundoco m o último sopro. Sobram os restos corporais, q u e n§o desaparecem instantaneamente. Essesmitosnãodãoadevida im p o rtâ nc ia à W , esãoiludidosporumaaparência. Seasestruturascorporaisnãosubsistissemporalgum tempo,porefeito deumasim ples coerência física totalmente secundária,ocesaparecimento ou a saldada “alma" teria por efeito instantâneo um desaparecimentoo u uma volta do corpoaopó.Tería mos, então, uma visão mais correta dalurçâodaalma. Poderíamos assim“ver”, por assimdizer,a"forma”deixandooespaço;elaseria“vista”negativamente,pelodesmo ronamento instantâneo que a sua saldaprovocariano espaço. Desse modo,aalma nãopoderiasertãofacilmenteconcebidacomounsimplessoproamorfo,saindodeum corpoestruturadoporsimesmoeconservandoaaestruturaaindaporumlongoperío dodetempo.Elanãopoderiaserimaginada c o n o u m simplescalorvital.Seriavista demodomais verídico- como a própriatoma®corpo,comooconjuntodasIgações constituintesque fazem docorpo umcorpoorganizado,diferentedeumsimplesamon-
1. Ct. supra,p. 93. 197
toado de moléculas unidas porencadeamento mediante ligações físicas banais.Sua realidadetornar-se-iaevidenteparatodospeloprõpriofatodoseudesaparecimento.O pómaterial que eladeixariacair instantaneamenteaosumir, aevocariademodomais irresistíveldoqueasroupasabandonadasnumapraiaevocamocorponudonadador. Tomar-se-iaconsciênciadoprestigioqueiludíaosolhos.Ocadáver,aparentementein- tato,conduziraos olhares parauma direçãoerrada. Parecia-secomessesmanequins que substituem oatornumaquedaperigosaduranteumafilmagem.Uma vez desiludi dos,osolharesbuscariamemoutradireção.Espontaneamente,acreditariamnumapar tida,numdesaparecimento,enãonumaniquilamento.
Mortee“estradamnêmlcaH Contudo,seriaumapartidaporumaestradadoravanteinterrompida. Maismaravi lhosoaindadoqueamáquinadeexplorarotempo,quevaidopresenteaopassadoou ao futuro, oorganismov iv o - eparticularmentea cabeçahumana- “vai” dotempoao intemporal,edointemporalaotempo.Omístico6considerado,tradicionalmente,como remontandoemdireçãoao Uno,aoEterno,paraalémdetodatécnica.Omúsico,quan donão éum simples “fabricador”, mas“recebe" um temainspirado, sente, paraalóm dotema,algo“indizível"queeleexpressa,fazendocomquenós,também,seusouvin tes,possamosentrevé-io. A morte,aodestruiramáquinaorgânica,parecedefatodestruirqualquerpossibi lidade, tantode compreender como de expressar. Uma máquina reversível, uma vez destruída,seu trabalhopára,tantonumsentidocomonooutro. Foiprecisoatécnicace rebralparaqueomísticopudesseconsiderar-sealémdequalquertécnica. Um místico, após a sua morte,nãoseassemelha,aparentemente, aummístico emestadodetranse.Odesmoronamentobrutaldetodasassuasmáquinasorgânicas pode dar a impressãodeque elesimplesmentedeixou,um poucomais rápido doque de costume, nosso baixo mundo a fim de alcançar o mundo da Contemplação e do Uno.Maseletambémdá aimpressãodequeumaestradaacabadeser irremediavel menteinterditadaporalgumacatástrofe.Parece-nosdifícilacreditarqueumacatástrofe possasero aspectoque toma, aosnossosolhos, umacrisede inspiração um pouco brusca. O lugarmisterioso de onde descia a inspiração do místicoou domúsicocerta menteaindasubsiste.Mas,dequemodoomísticoouomúsico,seéquealgodeleain daexiste,saberiareencontrá-lo,quandotodososseusinstrumentos,queofazemmo ver-se ao longodadimensão hipergeométrica, guando todos os seus órgãos viraram cinza? O caminho nãotem mãoúnica, mas para percorr&-lo em qualquer sentido, é precisoestarvivo.
OcaminhomnêmlcoeamortedoIndivíduo O indivíduo, semelhante a um peso suspenso auma cordaelástica,podesubir ou descerenquanto vive, pode aproximar-seou afastar-sedopontoondeacordaestá fixada. Mas oprincípiodavida não lhepertencepessoalmentemaisdo que amemória orgânicadaespécieà qual elepertence. Rompida acorda,oindivíduonãoéaparente 198
mente mais nada.Aespéciesobrevivea ele, eoprincípiodavidasobreviveàespécie, visto que milhõesde espéciesestãoextintas,bemcomo bilhõesde indivíduos,enoen tantoavidacontinua. Éjustamenteporestarazãoque,namortedoindivíduo,nãosabemosexatamen te oque é destruído e o quesubsiste. Se destruirmos todas as propriedades de um homemrico,ou todaaferramentaextemadeum homem válido,sabemosperfeitamente queelepoderá reconstituí-las.Se ferirmosum organismo, sabemosqueele poderáre generaremalgunscasososórgãosdestruídosousobreviver,adaptando-sesemaque les órgãos. Massedestruirmos completamenteumorganismo,como poderemossaber o queacontece como conjunto da consciência edamemóriaorgânica,oucomaquele agente desconhecido que estáalémda consciência momentânea e dafase momentâ neadotrabalhoqueelaestárealizando?Oconjuntodocaminhomnêmiconãopodeser aniquilado pelo fatodedesmoronaraconstruçãomaterial, aponte, que correspondea uma simples etapa desse caminho.Mas, então, “quem”viajaalémda ponte desmoro nada? Ou, voltando ao exemplo da corda, oque exatamente subsiste além do ponto de ruptura?
OhomemnacaixadeElnstein Sabemosque Einsteinilustrouetalvezdescobriuoprincípioda relatividade gene ralizada através de uma experiênciamental. Ele imaginou umhomem quetoma cons ciênciado que o rodeia no momento em que se encontra numa espécie de caixade elevador. Ele se encontra depé, com uma sensaçãode pesodos seus pés sobreo soalho doelevador. Em tornodele,nãohá nadasenãoovazio. Erguendoacabeça,ele descobre (o tetodoelevadorô transparente)que acaixa doelevador estásuspensa por uma corda comprida, tãocompridaque ele não conseguever sua extremidade. Entãose pergunta:“ Será quea caixa estánum campodegravitação,eacorda,atada em algum pontofixoinvisível,me impedede cair?Ou será quenãohánenhumcampo de gravitação, e um Ser desconhecido estápuxandominha caixacomummovimento uniformemente acelerado, de modo que, porinércia,acabo pesandosobreo soalho?” Ao escapar-lhedasmãos, seucanivetecai,masohomem percebequeessaexperiên cia nãopode responderàs suas perguntas,jáqueasduas hipótesesigualmente permi tem prever esse resultado. Ele conclui,então,queessasduashipóteses,porserem ri gorosamente indiscem íveis quanto aosefeitosqueelaspermitemprever,vêm adarna mesma.Eassimdescobre arelatividadegeneralizada. Do mesmomodo, não temosnenhummeio desaberoquehánesse além aoqual estamos visivelmente suspensos, mas paraoqualnâopodemos subir de volta. Não sabemos se a morte,o rompimentodacorda,deixaalguma coisada almaalémd opon toderuptura,epermite a estareunir-se aomisteriosopuxador dacorda. Oque écerto,é que anossa presençaatualnoespaçoenotemponãopodevir a sertoda a nossarealidade,etodaarealidade.Algonos prende,ouAlguémestá nos puxando. Os movimentos eosanseiosdavidasãoumaprovadisso.Oinstinto - oins tinto formativo ou oin stin to puro- ,oapelodosvalóresedosideaissãoumaprova dis so.Quersejamos puxados oususpensos,existeumvínculoquenosuneaum além. 199
Ohomemsó Imaginemos o homem deEinsteinsozinhonouniversoeconseguindosobreviver mediantealgumatécnicaapropriada.Poderáeleserauto-suficiente?Seráohomemso litário semelhante, metafisicamente falando, aoZaratustradeNietzschedepoisdesua autodeificaçSo? Formular aperguntaequivalearesponderaela.Ohomemsolitárionão é Deus; ele está “suspenso”. Suspenso, até mesmo, nao por um únicovínculo,mas pordois- semfalardovínculorealqueseguraasuacaixa. Por um lado, elefoijogado paraa existênciasem queele o quisesse, ea sua própriaformavemdoalém.Seu“eu”apareceu,trazidoporumalinhamnômicaquede certomodoerasua,mascujovínculoinicialelenuncaconheceu. Poroutrolado,suas própriasintençõesestãoalémdoseuentendimento.Elenáo émuito maisdonodo seufuturodoquedoseupassado.Elenãopodeimpedirseupró prioenvelhecimentoesuamorte. Se ohomem fosse Deus, éasolidão absolutaque deveriarevelar-lheisso.Mas essa solidãolheensinaqueelenãoémaisdoqueumpobreaspectodoSer, quesurge no espaço sementender oque lhe estáacontecendo.Igual auma marionete,elenão sabedeonde vemo fioqueoestá movendo. Tudooque sabeéqueelenãoé, porsi só,Deus- equeexisteportantoum Outro.
OOutro Mas,comopoderáohomemsó,conceberoOutroaoqualeleestáligado?Cha mando-o de "Você"e perguntando-lheporqueeleosuspendeudestelado dos céus? Oudirigindo-sea elecomosefosse um HEun superioresquecido, umaAlmatranscen dentetransformadaemAlmadomundo?Istoseria,então,comoimaginar,dooutrolado, umsegundohomem semelhante a ele, tãomonstruosoeabandonadoquanto elepró prio,emborativesseopoderdesegurarporumacordasuapobreduplicata. Não se pode, com efeito, deixar deadmitirquedeveriahaveralguma formahu mana,ouotemadeumaformahumanatambémnoalém,jáqueessetemapenetrouno espaçoduranteodesenvolvimento. Mas, alémdessealémrelativo,êprecisoquehaja aindamaisum,quesejamais“outro”.Seouniversofossereduzidoaumaserpenteou a uma mosca em lugar de ser reduzido a um homem, dever-se-ia então admitir a existência de um Deus-serpente ou de um Deus-mosca? Um Deusantropomórficoé tãoabsurdoquantoumhomemdeificado.Saímosdeumabsurdoparacairemoutro. A única solução, se é queela poderia serconsiderada como tal, é admitir um Deus-campo, incompreensível e incomensurável. Nesse Deus, toda vidase encontra submersa, como num campodegravitação. Mas trata-sedeum campode gravitação hiperfísico, noqual experimentamos, nãosensaçõesde peso,masdeatrações“ideati- vas"2 Ele rege o nosso comportamento, deixando-nos a liberdade de execução e de adaptação. Elenos guiaedomina, nãoporumacordaouporumfiodemarionete, mas fazendo-nos“participar".
2.TraduzimosdestaformaoqueosGnósticoschamamdeSemantic gravity.
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Jáquenãopodemostomar ao pédaletraaimagemdacorda,nãopodemoscon ceber a morte individual como um rompimento da corda. Nossosvínculoscom Deus, dominador de todosos domínios, princípioda unidadede todosos campos, sãomuito maisestreitos. Deus é, em nós, oproprio campoorgânico, aalmado corpo. E é Deus mesmo que, à nossa morte, abandonandoo corpo material, deste só deixa subsistir opó.
Morteindividual, mortedo cosmo, mortedeDeus Amorte do cosmo - claramenteentrevistahoje- podeirmuitoalémda simples mortetérmicaimaginadanoséculo XIX, na qual planetasmortoscontinuamgravitando em tomodeestrelas esfriadas, num espaço cheiode‘ cadáveresconformes"desiste mas solares, numespaço repleto de matériasuniformementefrias- ou antes, mornas - sem diferenças ou desequilíbrios térmicos “animadores". Existem, provavelmente, estrelas mais “mortas”,istoé,mais amorfas,nas quais os tiposde ligações informan tesda matériacomumdesapareceram,assimcomoexistemoutros“objetos”cósmicos nosquaisessestiposdeligaçõesinformantesaindanãosurgiram. Numa obra de ficção científica, é possível conceber a morte do universo num sentidomais radicaldoqueamorte térmica, e maisparecidocomoque amorte deum organismo realmente é. Basta imaginaro desaparecimento de todas as formasde li gação,odesvanecer dagravitação, doeletromagnetismo,dasligações“fracas",das li gações nucleares,das ligações M (sede fatoexistem).O cosmo,então, não apenas transformar-se-iaem estrelas “apagadas" ou em“ planetas mortos".Tomar-se-iaona da,vistoque as ligações não seacrescentamàmatéria:sãoelasquefazemamatéria, equefazemoespaçoeotempo. Aoperderaalma,oservivonadamaiséquecinzas.Aoperdera“alma”forma doraeunificadora,ocosmonãoémaisnada. Este é apenas um jogo daimaginação,no sentidodeque,embora hajade fato, localmentenouniverso,certasregiõesrelativamenteamorfasetalvez,comosugeriram Eddington e Oppenheimer, ex-estrelas ou ex-objetosdemasiadodensospara produzi rem qualquer irradiação, e “saídos” do espaço-tempo comum, formando assim uma espéciede "gota” destacada da“membranadeborracha"doespaço-tempo,dificilmen te poderíamos conceber umdesaparecimentouniversaldasligaçõesfísicasfundamen tais, ao passo que testemunhamos a cada diaodesaparecimentodasligaçõesorgâni cas. Essejogo, porém,tem avantagem denosdar o únicosentidoprecisoconcebível paraaimaginação- ou parao pesadelo, queremontaaJean-PaulRichter- da"morte deDeus". Se chamarmos Deus de Almaunificadoradouniversomaterial,e seessaAlma pudesse aniquilar-se, como, aparentemente, aniquila-sea almadosorganismosindivi duais,entãoamortede Deusou,se preferirmos,aseparaçãodocosmoedeDeus,só poderiasignificaroaniquilamentodocosmo. Naverdade,comojásabemos,naretóricacontemporánea,amortedeDeusnfiosignificanada aJóm damortedosmitosreligiososcomo sentidos animadoresda arquiteturapsíquicadohomemeda arquitetura ideológica das sociedadeshumanas. Os que lançamessa“ demitfflcagfio” compreendem muito bem que odesvanecerdosmitosnAotransformaaarquiteturapsíquicaouaorganizaçãosocial 201
MOm B • ■ n o nU M M O
in i M I II M ia n a
Aalmaindividual,isto6,oconjuntodasRgaçõesinformantesqueseguramasar quiteturas orgânicas e psíquicas,é feita principalmentedeinform ações-partidpações, de informações modificadas por acúmulo de memóriasbiológicasou sociais.A morte individualnãoé amorte,nemdaculturaque “pousara"sobreesseportadorentremui tosoutros, nemdaespéciequecontinua. As ligaçõesfísicass&o,ouparecem ser(ex ceto naficção científica) nãodestacáveisda"matéria",poisa matôria-energiacomum, que parece nãotermemória, conseqüentemente parece sereterna.E as ligaçõesfísi casquefazemamatéria,conseqüentemente,parecemtãoeternasquantoamatériaem si. Ao contrário,ligações orgàrüco-psfquicas, mnômificáveis por participação, são destacáveisdoseusuportematerialeformamumsistema,umcomplexoouumaestru turasemântica,nãoeternaouimortal,porémmaisduráveldoqueosportadoresindivi duais. Omúsicomorre, masamúsicae suaevoluçãoquaseautônomacontinuamdu ranteséculos.Aandorinhamorre,masaespéciecontinuaemantémseusrepresentan tes noespaçoeno céudos campose dascidades.Asespéciesmorrem,ousetrans formam,masaArvoredaVida,enquantooplanetaforhabitável,sobreviveàquedade suasfolhasedeseusramos. Muitoshomensestãodispostosacontentar-secomessaimortalidadeintermediá ria . Quandouma célularessecaese desprendedenossaepiderme,essa célulaque, com o todas as células do nossoorganismo, jamais haviamorrido,visto queprovinha em linhacontínuade umaoutracélulaviva,por definição- nós não costumamos nos compadecerdela.Achamosquefoiumahonraparaelafazerpartedonossoser“supe rio r” .Assimtambém,quandotivermos demorrer, teremos deadmitirquefoiumagran d e honraparanós conseguirmosfazerparte,tantodeumaculturasocialmaispreciosa d o queanossaínfimacontribuição,comotambémdeumaespécieHomoemrelaçãoà q u a lnossamorteindividualnãopassadeumaescamaçãoinsignificante. Podemosatémesmopensarquesómorreremosdemodomuitorelativo,voltan d o , antes,afundir-nos noconjuntodoqual participávamos.A cultura,socialoubiológi c a , era tudooquehaviademais preciosoemnós- sendo nossaindividualidadesepa ra d a ummerocelofaneenvolventequeserasgae recolocaseuconteúdonamassa,ou n o “ complexosemântico” do qualtiravatodooseuvalor.Vivfamosporparticipaçãoim p e rfe ita .Sobreviveremos demodoimpessoalnumafusãomaisperfeita,numareidentifi- c a ç & o como“participado”intermediáriodoqualbifurcamos. Emsuasobrasdeficção,comotambémemobrasmaissérias,3Hoylefoioprin c ip a l defensor da"imortalidadeintermediária". Segundoele, náopodemos nem deve m o s decentementedesejar uma sobrevivênciapessoalou, antes, individual.Qualoin
3. 24-«-249).
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Frod Hoyle: The Black Ctoud eThe Nature of lhe Universe (Ct. J.Merieau-Ponty, op. cit,p.
teresseemagarrar-seauminvólucrodecelofane,quandotemoscertezadequeocon teúdonãoestáperdido? A sociedade industrial desperdiça asembalagens. A naturezatambém. E esta usaprocessos melhoresdoqueosnossosparaevitarasembalagensnão-biodegradá- veis.Seriaridículoqueixamno-nos. Umartistasinceropreferesuaobraàsuavida.Uma jovemmãeatirar-se-iano fogo para salvara vidados seus filhos. Muitosanimaispos suem essetipo de heroísmoinstintivo. Elessesacrificam facilmenteem prol dasobre vivênciadaespécie àsvezesnopróprioinstantedareprodução. Contudo, há algo que soa errado nessa concepção. A participaçãodos indiví duos, tantoda espécie comoda cultura, épordemaisíntimaeativaparaserrepresen tadacomouma simplesembalagem emcopo de plástico,comouma apropriaçãopas sageiraereversível deuma memóriacoletiva.O indivíduotambém inventae,aoinven tar, ele visa, para alémdomomentoculturaloubiológico,valoresnão-intermediáriose queele espontaneamente considera universais e supremos.A própriaarte parece si tuar-se paraalémdo “momentocultural” .Um escritor,aomesmotempoemquevenera asualínguamaterna,desejasertraduzido,eelegostariaquesuaobrativesseumvalor universal. As religiõesnãoquerem ser uma simples formareligiosa entreoutras; cada umaprocuraestarmaisnoâmagodomistériodaexistência. A natureza desperdiça mais os indivíduos doquedesperdiça asespécies.Mas também desperdiça as espécies. Se o desperdício possui em alguma partealguma contrapartida de “ capitalização” - ou de passagem paraoeterno essa contrapartida deve, portanto, valertanto para os grandes “complexos” como para os individuos,e tantoparaosindividuos como paraos domíniosintermediários.Nãohânenhummotivo para se querer salvarunspelosoutros.Ovelhoconceito davolta para Deus- dore tomo universal - pode ser um mito mas, em termos de verossimilhança,vale tanto quantoomitodas ¡mortalidades oudas sobrevivências“ intermediárias”porretomo,ou transferênciaparaosGrandesDomínios.
Dissimetriadapré-vidaedoapóe-vida Voltemos à morte individual.Éumlugar-comumoquedizemos positivistas:'Po demos representar-noso após-vidatomandocomomodelooqueháantesdela:onada, aausência absoluta de consciência.” Mas, de acordo comosdados científicosmais seguros,trata-se de umafalsa simetria. Nósainda nuncamorremos,óoqueosGnós ticos não param de repetir. Nenhuma denossascélulasvivasjamais conheceunada senãoavida,desdehámilhõesdeanos,vistoqueprovêm,pordivisãooufusão,deou- tras células vivas, as quais, por suavez,derivam de moléculasprevitais.Tudo oque podemos dizeré que “ nós" (nossa consciênciacerebral),nãotemosm ais lembrança danossa existência celular - embora essaexistência celular,antesdo nossonasci mento propriamente dito, se ja tão certa e evidente quanto a existência do muido exterior. A morte é, portanto, para nós, umanovidadeabsoluta,sem precedentesesem nenhuma analogia possível. “ Nós" nunca tivemossenão umaexistência separada separadadaUnitas. Não tem os nenhumaexperiênciadeumaexistêncianãoseparada. 203
A mesma dissimetria é manifesta, como vimos,no aspecto eno modo da informação-partjcipação. Todocrescimento, todainformação orgânicaélenta,progressiva. Amorte,aocontrário, 6umadesinformaçãoinstantânea. O s desabrochamentosperió dicosdasindividualidadessobrealinhacontínuadascólulasgerminaiseasmortespe riódicas dos“brotos" apresentam-se como dentes de serra - istoé: ainformaçãose fazemprogressãosuave;adesinformação, em quedaabrupta.Umfilmequemostras se esse processodedentesde serraaocontrárioseriaantinatural,poisneleveríamos ascinzaseosossosvoltandoaser,instantaneamente,umseradultovivoqueiriase desinformandolentamenteatéoestadoembrionárioecelular. Essadissimetría,diga-sedepassagem,tomatotalmenteinverossímeisasdoutri nassobremetempsicoseoureencamação,tãodifundidasnaÁsia.Sealgosobreviveà morte de um homem ou de um animal, esse algo não poderá reiniciar uma outra existênciaindividual, já quetodas as existências individuais sãofios contínuos e, por nãoterem nenhum início propriamente dito,não podemoferecer,aumfioqueacabade serinterrompidocomamorte,nenhumreinicio. Todorecém-nascido—ounovo s e r- ó,naverdade,enumcertosentido, umre começo, na medidaem que participadenovo da memóriaespecifica. Masele nãoé uma continuação, ele não sucede anenhumbrotoindividual queacabassedemorrer. Eleapenascontinuaacélulagerminalqueelenuncadeixoudeser. No âmbito da cultura, as coisas acontecem de modo um poucodiferente. Uma (muitorelativa)metempsicoseépossível.Umartistapodequererligar-âe,náoaoesta doatualdacultura,masaalgumprodecessorqueeleadmira(quepodetermorridohá muitotempoouqueacabademorrer).Assimfazendo,eleretomaumfioindividualrom pido,reatando-oao seu próprio.Porém,éevidenteque éelequeescolheo prodeces sor, o antepassadoque eleestá reencarnando;nãoé oantepassado queseapodera dele(emboraissopossaserditodeformametafórica).
A s transferênc ias mn êmlcas por participação
A metempsicose, ou areencamação,e' inverossímil,eaté mesmosemsentido. Porém, as transferências dememória- porparticipaçãoe não porinformaçãoexterna e por leitura damemóriaespecificadoindivíduo,essastransferênciassãoum fato. O s Gnósticos rejeitam a teoria genéticaque pretende explicar, medianteuma leitura dos D.N.A.,os comportamentos instintivosdo indivíduo. Umaformamolecularnumge nenãopodecorresponder,emsuaestruturaespacial,aumaaçãocomplexaeflexível, ta l comoa dançafrenéticadasabelhasou umamigraçãoalongadistânciadeumpeixe o u deum pássaro. UTna formamolecularpodeatuarcomoum auxiliarmnemotécnico. M as um auxiliarmnemotécniconão deveserconfundido comamemóriatemáticaque e le “dispara". Algumas moléculas odoríferas queemanamde uma fêmeapodemde senca dear, porémnãoexplicam acomplicadaperseguição sexualdomacho. Asestru tu ra s doscromossomos Xou Y,eospré-hormônios cujafabricação induzem, podem de se nc adea r mas não podem explicaromundo imenso dasformas orgânicas e dos com po rtam entos psicológicos dosexo masculinooudosexofeminino,paraoqualeles apen as orientam, mediante um efeitode switch (interruptor), amemóriaespecífica. É obrig ató rio invoca raqui uma informaçãomnêmicapor participação, nãoporleitura.To2 0 4
da aembriogênesedo indivíduo,tantoorgânicacomopsíquica,éuma participação,dis paradaeorientadaporindutorquímico,damemóriaespecífica. Aparticipaçãoinversa- naqualamemóriaespecíficaparticipadamemóriaindividual,emoutros termos, ahereditariedadedos caracteresadquiridos- ómuitomaisduvidosa. Elachegainclusiveaser definitivamenterefutadapelaexperiência, não obstante osinúmeroscasosúefixaçãogenéticadosca racteresquesurgem, primeiro, comoajustesnãohereditáriose que, em últimaanálise, podemserin terpretadoscomomutaçõesconsolidantessurgidasdepois. Porém,édifíciladotarumaatitudedogmáticasobreesseassunto,principalmentedesdeLashley, Chomsky,LeeWhorf,erefutarterminantementeumaretroaçáo,sejaelaqualfor,dasaquisiçõesindivi duaissobreo capitalmnêmico daespécie- umaretroaçáoquenáopassanecessariamentepelasmu taçõesquímicasdosgenes -, esemaqualaevolução biológicaé,contraditoriamente, umamáquina cibernéticasemfeed-back. Seadmitirmosessaparticipaçãoinversa,podemosentãodizerqueoindivíduonãomorreporin teiro. Sua morte não só deixa intacta a memóriaespecíficadaqualele participava, como suavida tambémenriqueceessamemória. Amemória biológicaparecer-se-ia, então, com amemóriacultural.Nós“participamos"danos salínguamaterna.Elaseapoderade nósenos"anima".E,poroutrolado,comoseresfalantes, nósa modificamosinfinitésimamente.Amortedosserestalantesnãodestróialínguafaladae,poroutrolado, osfalantesdeixamnelaovestígioinfinitesimaldasuaexistência. Também as línguas, como as espécies vivas,morremquandoseustalantes se tornam rarose acabamextinguindo-se; estefoiocasodo"polábio"edo"cómico",noséculoXVIII.4Mas,namaioria dasvezes,aslínguasquemorremdeixam algonoidiomaqueasabsorve. E,naturalmente,tantopara aslínguascomoparaasespécies biológicas, aoladodosramosestárels,certosramossetransformam indefinidamente.Amorte,comoaimortalidade,érelativa.
Imortalidade cósmica e retomo a Deus
Vemosque,paraos Gnósticos,oenigmadamorteeda imortalidadeparece estar estreitamente ligadoàsuatesesobreainformaçãoeamemória-participação.E leestá ligadomaisespecificamenteàtesequeseadotasobreosentidodessaparticipação. Seapenas oindivíduo participada informaçãoe damemóriaespecífica, e nãoo contrário,se aespécie- ainformaçãoespecífica- ignoraoindivíduoqueelaanim apor algum tempo, entãoamortedo indivíduo éabsoluta.Seoindividuo temparte na infor maçãoespecífica,seoretornonãoestácortado,suamorteórelativa. Essa imortalidade relativa é, contudo, bastante austera, tão austera quanto a imortalidadeporcontribuiçãonasformasculturais. Os Newtoneos Einsteinsão raros,comotambémosSócrateseosConfúcio.A contribuição de um homem paraa suaculturanamaioriadasvezes sóse manifesta sobaformadeerrosdegramática,quepoucoapoucovãoseincorporandonaprática. Trata-se de algoduplamenteirrisório, comotambémInfimoe muitas vezesdecadente, antes queprogressista.A contribuiçãoindividualpara aespéciebiológicaéainda mais ínfima. Nãoexistem mutantes milagrosos,eosinventoresdosnovoscomportamentos,
4 .0 polábiodumalínguaeslava doNorte.Ocómico,IfoguacélticadaCornualha,estáextinto desde oséculoXVIII;chegou-seaconhecerapessoa- umaandfl- que,porumcuitoperiododetem po,foia únicaafalarocómico.(Nota de 1977.)
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muitoprodutivosnaevolução,comoospeixesrastejadoreseossímiosbípedes,perde ram-sena multidão esãoaindamaisesquecidosdoqueos gêniosnahistóriadascul turas humanas. AJém disso,trata-se,afinal,apenasdeumaimortalidadeintermediária, nosentido deHoyle,oudeumaimortalidadedoshótonsnosentidodeArthurKoestlersendooshólons,ouosGrandesSerescósmicos,elesprópriosmortais. Haverátransferênciaparaa Unitas cósmicadas memóriasdasespéciesvivas que desaparecem?Se raciocinamos por analogia com amorte individual,isto parece bastante improvável. Sendo a hereditariedade dos caracteres adquiridos - isto é, a transferênciadamemória individualpara a memóriaespecífica - já tãocontestávele precária, uma espéciedehereditariedadedoscaracteres cósmicos portransferência para a Unitas da memóriadas espécies (e eventualmentede outros Grandes Seres, supra-individuaisesupra-especfflcos)éaindamaisdifícildeseimaginar. Masnãoétotalmenteinconcebível.Comefeito,nãosepodedizerqueouniverso nãopossui memória. Domesmomodocomo nãosóécabívelcomoobrigatóriaahipó tese deque "Existe pensamentono universo", visto quepelo menos alguns seresdos quaisnós mesmos - sãopensantes,tambéméobrigatóriaahipótese deque“ Existe memória no universo". Dissonftosepode concluirque"Existeuma memóriado universo”ouque"Ouniverso,emsuaunidade,é'memorante'”.Masissopelomenos tomaapropostanãoabsurda,dignadeestudo econcebível. Ostiposdeligaçõesqueafísicaconheceparecemn&opossuirmemória.Oes- paço-tempo, na sua unidade, n&o pareceestar participando do seupassado,comoo faz umaindividualidade viva; nfio parece conservar nenhum vestígiodas curvaturas, deformações,distorçõesou passagensdiversasqueo informamaumdadomomento. Osoftwaredomundofísico,oqueoanima,nfiopareceterapossibilidadedetomar-se autônomo,àmaneirado softwarebiológicocapazdepulardeumsuporteindividualpa raoutro,ouàmaneiradeumsoñwaremental,capazderesistiràsdegradaçõesfisioló gicasmoderadasdocérebroetatémesmo,depassardeumageraçãoparaoutra,co mooespíritodeumacultura. O quedevemosadmitir,noentanto,équeasindividualidadescomcapacidadede memória nãopodem surgir no universo poremergência milagrosa,edevemtersuas raízesnaspropriedadespré-mnêmicasdosseresedasligaçõesfísicasaparentemente sem memória, assim como a vida tem suas raízes nas propriedades pré-vitaisdas moléculas.Anãoconservaçãodaparidadeparacertaspartículaspodenosdaralguma idéia disso, ou a não invariãncia, em relação ft inversão do tempo, das interações “fracas". A irreversibilidade do tempo,o fatodequeotempopassa, indicapor si sóuma espécie de memória do mundo físico, ou pelo menos alguma forma de sobrevôo do tempoqueofazescapardapulverulênciados"instantes"comotambémdapulvemlên- ciados “aqui".O espaço-tempocósmicopossuiuma história,vistoqueouniversose encontraemexpansão- oqueimplicaalgumaformadememória. Existeumtempocósmicoirreversível,maisfundamentalmentedoquepeloúnicoeletiodaleidos grandesnúmerosdamecânicaestatísticaedasmisturas i IaCamoLAirreversibilidadeestatísticanfioô suficiente, parsisó, parajustificaro sentidodotempo.Otemponfiopára,mesmoquandoamisturaal cançouoestadoestacéonáno.Aoprincipiodeentropiacrescente,éprecisoacrescentarumprincípiode interdição que impede a leituraao contrário, emretrodiçâo enfioem prediçfio, de alguma fórmula, mesmodeumfenômenonâo-estatístico,comoumaeméssfiodeirradiações.AremateriailzaçfiodaIrra-
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diaçáoéumfatomuitomaisrarodoqueadesmaterializaçáoemirradiação.Afamosa fórmulaE = MC2 deveriaserindicadacomasetaMC2 -» E.Poiselasignificamuitomaisapossibilidadedesetirarener giada desintegração damatóha do que dese extrairmatóriaapartirda reintegraçãode energiairra diante. Háumaevolução globalnãocompensadaAexpansãoassemelha-seàdegradaçãoestatfstca, masémaisfundamental.6 Quanto àsteoriascosmológicasbaseadasnaperiodicidade(alternânciadeexpansãoedecon tração):a)ouessaperiodicidadeóperfeita,dentrodeumuniversofechadoeoscilante,segundoahipó tese de Pachner - que nãose deveconfundiroom ateoria cosmológicade Gódel, onde não existe orientaçãoúnicadotempoeondeaslinhasdotemposereúnemporsimesmas,independentementeda expansãoou dacontração.Ahipótese de Pachner consiste em admitirqueosperíodossãoindiscri mináveis,equeotempoéfinito,confundindo-seoinídodociclodotempocomofim,confundindo-seo antescom odepois. Umfilmeinvertidodouniverso seriaindiscriminável de umfilmenormal; estaria simplesmenteinvertendoaexpansãoeacontração,asondasadiantadaseasondasretardadas, assim comoofilmeinvertidodasondas,produzidassobreasuperfíciecirculardeumabaciacheiadeáguapor umaexcitação centralcomexpansãopara asbordase,aseguir,retomodasondasemdireçãoaocen tro, redispersão, e re-retomo,seriaindiscriminávelde um filme normal; b) ouentãoaperiodicidadeó imperfeita,oquefazcomqueosperíodossejamdiscemíveiseseproduzam,então,sobreabase deum tempoirreversívelondeópossívelnumerá-los,emperíodo 1,2 ,3 etc.
Opontoimportantenãoé,aqui,airreversibilidadeouaperiodicidadeabsoluta.No fundo, todas as teorias admitem a irreversibilidade,ou ocaráter “flechado” do tempo: tanto as teorias da periodicidade(excetoade Pachner) como as teoriasdacurvatura espiral das linhas do tempo (quesó podemos seguir em umúnico sentido), ou aindaa teoria do steadystate (se as nebulosas aparecem num universo em expansão, elas desapareceriam num filmequefosseprojetado ao contrário, mostrando ouniversoem contração,eonde otempoiriaacontratempo).® O pontoimportanteé o seguinte: seria o sentidodotempo criado apenas pelos fenômenos de mistura,de aumento de desordem? Ou será ele amanifestaçãodeal guma realidade informante, mais fundamental, na qual oaumento da desordem seria apenasumaconseqüência? ParaosGnósticos,estepontoéfundamental.Admitir,comoeles,asegundatese significa aceitaro Espíritoe aMemóriacósmica.Admitiraprimeiratese (ouseja,airre versibilidadecomo puro fatodemisturaedemaiorprobabilidade)significa,aocontrário, postularumuniversosemconsciôncianemmemória,jáque,nestecaso,eleseasse melhaaumjogodesorteondeasprobabilidades,comosabemos,sópodemsercalcu ladas cientificamente seadmitirmosquea roletaou o dadonáotôm “ nemconsciência nemmemória". Aexistênciade extensas zonas onde airreversibilidadeédesse tipo, eondedo minamasleisestatísticaseasmisturasprováveis,óumfatoaceitoportodos.Todaa física clássicasebaseiano estudodessas zonas.OqueaGnosesustenta,comami- croffsicae todas as ciências queestudam os individuosenáo as multidões,6 quea passagemdotemponaslinhasdecontinuidadeindividualémaisfundamentaldoqueas misturassecundáriasdeindividuaidades. Apassagemdo tempoimplica, portanto, que ouniverso,em sua individualidade, náoselimitaafuncionar,queeleseinformaporparticipação,comoqualquerindividua 5.Cf.J.Merleau-Ponty,op. c it,p.302ss. 6. loid.,p.451.
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lidade autêntica, e que há algoque sempre vem acrescentar-se, transformandoofun cionam ento das realidadesjá presentesem comportamento ativoouinventivo, coma conservação mnêmica do já adquirido- apesardas inúmeras misturasedesestruturações aparentementepredominantesmas,narealidade,secundárias. Evidentemente, a memóriaelementar inerenteao lam po universal que passa", aocosrncprocess, nãoó a memóriapropriamentedita,separáveldoprocessocomo nasindividualidadespsicobiológicas.Nadaapontaparaumamemóriadestacáveldesse tipo no cosmo. Seocosmo "vive"e nãose Umita a funcionar, não pareceentretanto capaz de utilizar suas própriasexperiências comoofaz um animal.Ele nãotrocade “montagens” comoumamáquinanas mãos deumengenheiro,oucomo um animalou um homemque seauto-utikzadeacordocomsuasnecessidadesouanseios,eéele mesmooseu próprioengenheiro.O cosmonãoperdesèutempoaprendendoumoutro idioma, ou convertendo-se a uma outra fé ou deixando-se arrebatar por uma nova ideologia. Também não morre por completo; a todo instante elemorre localmente, porde gradaçãotermodinámica, pordissipaç&oem irradiação,porexpansãonão compensa da, aomesmotempoem que vive, porinformação-participação.Eleprovavelmentejá nasceue certamente devetermomentos,locais,decrises renovadoras. Mas não sa bemoscomoelepoderia“morrer"porinteiro,nemcomoelepoderiaserimortal,ouseja, fazer um transporte qualquer para um X - para Deus ~, de um Espírito ou de uma Memóriacósmica enriquecida com asuaexperiência.UmaMemóna cósmicaautôno ma,destacadadoresto,óinconcebível. Morte e Deus transversal
Recorre-se,evidentemente,a um artifícioaoconsiderarocosmo, emsuaunida de,combasenomodelodosgrandessistemasintermediáriosqueelemesmocontéme domina.Esseartifícioapareceaindamaisclaramentequandoseespeculasobreamor tedocosmoequandoseespeculasobreoseunascimento.SeadmitimosqueDeus, considerado como o Anverso ou o Espírito universal, reúne a memória total de um cosmo que parou de “passar" no espaço-tempo, como conceberoque Eleiráfazer oom essamemória? Utilizaressa “experiência" paralançarosfundamentosdeumou trouniverso mais bemordenado? Essaidéiaou essafantasiaôrefutadaporserconsi deradaummito pueril. Mas, será menos puerilimaginar um cosmoque voltouparaum estado de pulverulência absoluta, sem comportamentonem funcionamento,esemne nhum elementoqueoenvolva? Im aginarocosmo comoum sertotalquevoltou parao nada? Imaginarquetudoo que fo i não foi?Estasegundaconcepçãoacrescentaalgu macontradiçãointernaàpueriüdade. Éimpossível,hoje,refugiar-se na tesedotempo-como-aparênda, aqualdeixaria empatadosos que debatem o assunto . O tempo passa; esteéum fatoquea ciência nãoinventa, nem amentehumana. Ele passaemnóseforadenós;epassanocosmo como passanas espéciese nos indivíduos. Os físicos ecosmólogosesquematizame interpretameste fatodemuitas m aneiras; elessemdúvidadeformamarealidadee,so bretudo, amutilam ou a reduzem, m as nãoainventam.Pode-se“brincar'’ (intelectual mente) comas linhasdo tempo, co m o ReichenbachouGódel,masnão comapassa gemdotempo. 208
A realidade dessa passagem, cujairreversibilidade não é um simplesefeito es tatísticomas,sim,oefeitoeosinaldeumaparticipaçãoinformante,impõe aidéiadeum Transversal (não-geométrico) a todos os domínios, grandes ou pequenos, de um Transversal como Origemdasnovas formas,alémdofuncionamentodasformasadqui ridas, Origem dos Possíveis, das Normas,dos Vabres queregulam as atualizações, Origemquesobrevivea todasas morteseàprópriamorte docosmo. Os seres como desenhos sobre um mata-borrão
Osdomíniosque seenglobamunsaosoutros se comunicamentresiporpartici paçãomnêmica, mas precariamente, poruma espéciedefiltragem, de ressudação, ao passo que a participação no Transversalé manifestaem toda parte onde há maisde um funcionamentoreversível, ou mais de uma irreversibilidademecânica pormistura, emtodaparteondeexistecomportamentoorientadoepassagemprimáriadotempo. Usando-se uma comparação, o espaço-tempo é parecidocom um mata-borrão sobreo qual oartista desenha traços emanchasqueacabamfundindo-seunsnosou trosecompletam,assim,porsimesmos,odesenhocomseusborrõesintercomunican tes. O “Desenhista” é ao mesmo tempoativo e passivo; elevô suas maneias fundi rem-se, informarem-se vagamente umadaoutra, envolverem-seumana outra, masé ele quem dirige e conheceojogoem todososseuspormenores aomesmotempo. O Desenhista(Deus) fazcom quetodas asmanchas(as formasespaciais) eslejam“en volvidas” pelasuaubiqüidade,etodososborrõesdasmanchassobreomata-borrão(a passagemdotempo)sejamenvolvidospelasuaeternidade. O reverso, o anverso e o anverso do anverso
Aqui, a Nova Gnose dáumpassoalémnateseexpostaatéagora,a qual,assim, passaarepresentarapenasumpontodepartida. A tesegnóstica,comojávimos,con sisteprimeiroemconsideraromundoobjetivodaciênciacomooreversodeumanver so, consciente e subjetivo, feitode domíniosque possuem a siprópriosemsuas for mas e comportamentos. Mas, evidentemente, e sabemosissoatédemais, "ser cons ciente desi próprio” aindatemalgode superficial.Comoseresconscientes,compreen demos as nossas ações conscientes, dirigimos em certa medida a nossa vida,mas não sabemos nemde onde viemos nemparaondevamos. Apsicanálisenosesclare ce,emprincípio,sobrenossasmotivaçõesinstintivassubconscientes,mas nadarevela sobre metafísica. A biologia, o conhecimento daevolução,da embriologia, transposta para a filosofia dos Grandes Seres que são as espécies, esclarece-nos um pouco mais,assimcomoahistóriadaculturaouacompreensãodesuasfases.Mastudoisso ainda permanece sobre um fundode inconsciênciaede mistério. A presençadaespé cie humana, da Árvore da Vidanomundo, mesmo comopresençaparaelas mesmas, permanecetãoenvoltaem mistérioquantoaminhaprópriapresençaconscienta. Minhavisão consciente me ensinamuito e me possibilitamuito.Elam eguianos labirintosemedá apossibilidadede nãoprocedertolamente portentativas eerrosce gos, masnão medáa chave, nemdascoisasvistaspormim,nemdemim mesmoco mo observador,achaveda suaexistênciaoudaminhaexistência,surgidad a noite.Ela éumagnose,masnãoéaGnose. 209
UAnaturezaéumanévoasobreoolho”,dizLichtenberg (autorqueosGnósticos gostamdecitar).Transporanaturezanasuaaparênciamaterialparaumanaturezavi va e consciente; transpor asformasespaciais para formas-temas,auto-informantes; transporos.comportamentosparaações,issotudorepresentaumprimeiropasso,im portantemasnftodecisivo.Anatureza“roturante"permanecetfiomisteriosaquantoa natureza“ naturada".Elaaindaóuma"névoasobreootio ". Avisãoaindaéuma"névoasobreoolho".Easabedoriapopularsenteissoper feitamenteaoatribuiraclarividênciaespiritualaoscegos.Aconsciênciaéo“anverso" deste"reverso”,queéocorpoobservávelevisível.Maséprecisoquehajaum“anver so”desseanverso,vistoqueaconsciêncianfioresolvetodososenigmas. Este novo passo dos Gnósticos banaliza numcertosentido asuafilosofia.Os budistas,os taoístas, os místicosdetodosos tempos,quenfiocostumamdeter-se,e com razão, nessaprimeira fase detransposição para uma“consciência”douniverso cientifico,já reconheceramasuperficialidadedaconsciência.O“Sem-nome“estáalém dos “Dezmil seres", etambém alémdasvisõesedasidéiasqus esses “Dezmil se res" pudessemter. Seria, então, aNovaGnose,nofundo, apenasumanova maneira dereencontraresselugar- comumprofundo? Não, pois apassagem pela ciênciae,maistarde, pelatransposiçãodos“obje tos",taiscomoaciênciaosvê,para"anversos"conscientes,permiteàGnosecolocar a consciência em seulugarcerto, intermediário. Na ausência da etapa “científica” e, mais tarde, daetapa"científicaconvertida",os sábiosouos AntigosGnósticossópo diamvisaroalémdasconsciênciasdeummodovagoeimpreciso. ParaaNovaGnose,emboraaconsciênciaaindasejasuperficial,elaéentretanto indicadoradoseualém. Elanãoésuperficialdemodoabsoluto.Elanáo éumaespécie de espaço físico convertido talqual em campo de consciência. Ela tem propriedades hipergeométricasehiperfísicasque aparecemindiretamentena ciência,principalmente quandoestatentaaplicaràforça no campo visual,porexemplo,certasnoçõesextraí dasdocampofísicooudaanatomiadaáreavisual:elenfiotembeiras,eleépresença absoluta, é matricial, auto-regenerador, está ligadoaotransespacialdos temas e do significadoetc.7 Aconsciênciaépercepçãodomundoedosseres,masétambémpresençado ser, comliberdadede ação.O"Eu” é Deus, noseupróprioâmbito limitado.Oespaço visto efimina o espaço e ligasuas partesexternasumasàs outras. Otempo vividoe consciente elimina a sucessão pura dos instantes. Somos dotados de uma microubiqükdadeedeumamicro-etemidade,por“divinizaçáolocar,apartirdaqualépossí velalcançaraidéiadadivinizaçãototaldomundo. Alémdisso,existemváriosníveisnosdomíniosdaconsciência:acoerênciaime diata do meu campo vjsual apóia-se na coerênciaorgánica (à base de consciência orgânica) do meu córtex individual vivo, o qual por sua vez apóia-se na coerência biológica(àbasedeconsciênciaedememóriaespecífica)daespéciehumanaque,por sua-vez, pressupõecoerências biológicasmais amplas,comoasdosprimatas,asdos mamíferos,asdosvertebrados,aindamanifestasnaembriogênese.
7.CtR.RuyerParadoxos de Ia conscience et limites de l’aukxnatisme.AlbínMichel,1966.
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Embora não se devatomartotalmente ao pédaletra esses nivelamentos,e por mais quetodos eles participem de um Transversal doqual nãonosdão muito bem a chave porsimplesanalogia, aconsideraçãoeoestudodequesãoobjetos proíbem,en tretanto,de se falargrossomodo, comoofazemosmísticos,daNatureza comoMaya, comoumvéuaserrasgadoparasealcançaroAbsoluto. Alan W. Watts8 define Deus, à maneira oriental, como “o interiorprofundo das coisas".Tendo falado assim, nosdiz ele,diantedosseusfilhos,eleosvêcortaremum bago de uva e, a seguir, cortaremnovamenteametade,para aindaencontrarem ape nas um “exteriordointerior”. Mas Deus, explica-lhes Watts, nãoéo “interior exterior"; eleéo“interiorinterior”,inacessível.AGnosetem,damesmaforma,perfeitaconsciên ciadasuperficialidade,nãosódosinterioresgeométricoscomotambémdasconsciên cias em váriosníveis. Elatambémadmitequeestamosalienadosdanossaprópriainfe rioridade,eque nãoiremosencontrarDeusabrindo-nos anósmesmosmaisdoquese fôssemos abrir um bago de uva.Somos como uma mancha de tinta sobreo mataborrãoque,suspeitandoqueestánumaobradearte,procurasseencontraraconsciên cia do artista,sejaem seu própriocentro, sejaem seus contatos com asoutras man chas. A morte individual das consciências
Essa exterioridade residual enãoeliminávelemtodaconsciênciaviva,justificaa morte, que apaga essa exterioridade residual da interioridade, mas apaga, também,o indivíduo. Ao “escândalo damorte” queapagaa consciência,acrescenta-seoescân dalo mais específico da morte do sábio, que apaga uma consciênciaconsideradatão consciente,inteligentee profundaque amorte parece,então,estardestruindonãoape nasum ser individual mas também o próprio sentidoda vida edomundo.Esseescân dalo é tal quenos recusamos a aceitá-loe acabamos por divinizaro gênio, o santo, osábio. Esse santo,esse sábioparecetãotransparenteque,pornão interceptarnada, merecerianãoserapagado.Àdistância, porém, aimpressão édiferente. Percebemos nelelimitaçõeseopacidades- que elepróprio suspeitaraduranteasuavidase, defa to,erainteligente esábio. À distância,Sócrates nosparecetersidoquasetãoingênuo quantoAn/tos.Todohomemsenteoquantofoi“inconsciente"apenasdezanosatrás, como se voltasse de um sonho. Se for sábio, acabará concluindo que ele, portanto, ainda é inconsciente e “merece" entãomorrer, semlamentaçõesvãsesemaspirara umaimortalidadeindividual,àmaneiraegípcia,porembalsamentoemumificaçãodasua consciência. Uma consciência verdadeiramente interiorizada não mereceriaa morte; mas justamente ela por simesmadeixariade vivernoestado separado eopaco, per dendo-sedeantemãoemDeus. “Montagens diante da morte”
Amorte,paraoser primitivo, é umato, umritosagradoexecutado emnomedo morto,pelossobreviventes(e,àsvezes,pelomoribundo).Amorte-como-ato-sagradoé 8. Alan W. Watls: Nature, Man and Woman. Tradução francesa de P. H.Gonthier 90b o titulo: Amour et Connaissance.
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um conceito muitomais profundodoque a crençanasobrevivência,ou mesmoque a crença naimortalidade individual.A morteéum atoritualporserconsideradaumapas sagem para uma outra forma de vida. E a representaçãodessa“outraforma”,desse “ além", precede e rege a representaçãodaformadevidadoindivíduonoalém.A so brevivência pura e simplesnãoéa imortalidade, queéreservadaaosdeuses.Asreli giões quepregam asalvaçãoconsistemjustamente em prometerque a sobrevivência será, alémdisso, uma participaçãodosiniciadosnaimortalidadedMna.Seos“deuses imortais” desaparecem, sendosubstituidospelo Deus eterno,aimortalidade da alma vem a ser, então, um retomo para o Deus eterno.A imortalidade individual passa, então, a parecer tãomítica quantoasobrevivênciaindividual,masamorte, comisso, nãodeixadeser- muitopelocontrário- umatosagrado,umapassagemreligiosa. Alémdosmitosdasobrevivênciaedaimortalidadeindividual,existeo“mitover dadeiro” do EspAito divino. Para os Neognósticos, todos os seresindividualizados e temporalizados não passamde“Idéias"divinas,aquem éconcedidaprovisoriamente uma certa autonomia. As consciências individualizadas apresentam-se, assim, como uma espéciedeinconscientedivino, de“sonhode Brama”, comoespéciesde“outros eus de Bramaaosquais Bramase deixa levar,aomesmotempoemquedeles par ticipa“transversalmente". Quando Brama acorda, osonho, em suaautonomia,sedesvanece.Amemória interiordosonhodeixadeestarfechadasobresimesma,perdeseu"invólucrodecelo fane , étransferidaparao Despertado.Osonhadorhumanotambémconsegueselem brardeseusonho:o“outroeu",o"eumnêmico"passa,então,afundir-seno“eu"atual, central. Podemostantodizerque osonhadordesperta(eaniquilaoseusonhoou,an tes,aautonomiadoseusonho),comodizerqueosonhodesperta,seaniquilaasipró prio na sua autonomia, parasefundirna “consciência-eu"única, e aindaverasipró prio, mas dopontode vista doser que despertou eque recordao seusonho, enáo mais dopontodevistado sonhoque vive porsimesmoesevêdentrodasuaprópria esferafechada. Assim, nestesentido, morrer não significa retomarparao nada, esim,voltara ser o Deus único. Os indivíduos vivos sãoos "outroseus", fascinados, de Deus. A morteabreessasfascinaçõesfechadas. AlgunsentreosnossosGnósticos,quenãodesejamrompersuaafinidadecoma maçonaria mística, adotamasexpressões maçõnicas paraamorte: passagemparao Orienteetemo,Iniciaçãosuprema,etc. Essa é a doutrina fundamental. Mas, para os “fracos", os Gnósticos propõem uma sériede exercíciosauxiliares9 contra aansiedadedodesaparecimentoda indivi dualidade. I. A milionésima borboleta: Enormes bandos de borboletas podem, numa mi gração,tomaruma direçãoerradae perder-se nooceano. Amilionésimaborboletaque assim pereceu (ou a 27.3019 ...) tinha tantos pretextos quanto nós para agarrar-se à suaindividualidade.
9. Paraos quaisos Gnósticos muito nos honraram servindo-se de nossaobra: Paradoxes de Ia Conscience et Limites de/' Automatismo,AlbínMichel, 1966. 212
II.Oirmãonãonascido:Mesmopertencendoaumafamílianumerosa,denovefi lhos, poderíamos tertidoumdécimo irmão. No entanto,nãonos viriaàmentecompa- decermo-nos dessedécimoirmãonão nascidoporelenãoestarvivohoje. Noentanto, eleteveumavidapré-nataltantoquantonós,sobaformagerminal. III. Voltaraserorecém-nascidoquefomos :Vocêrecebeapromessadeque,no instantemesmodasua morte,voltará aserinstantaneamente- porumacurvaespiral do tipoGõdel ou, antes, dotipoReichenbach, emsualinhadetempo10- orecém-nascido que você foi.Oque isso viria acrescentar para você, já que suas experiências serão, por hipótese, exatamente as mesmas, constituindo ou não uma segundavida (numericamentefalando)ouumaenésimavida?Eemque"sobreviver”seriamuitodife rentede"recomeçarasuavida”? IV.Oaniquilamentomomentâneo: Se lhepropusessemoaniquilamento absoluto durantecincohoras,com acertezaderevivereretomarotodasuavida,aexperiência nãoterianadadeespantoso.Aspessoassesubmetemsemmedoàanestesiageral.E nadaimpededeconsideraraanestesiacomoumaniquilamento(daindividualidade-ce- lofane), e imaginar quehaveriaoutrocelofane aenvolvê-loquando despertardaanes tesia. Nesta perspectiva, o aniquilamento da primeira individualidade é tão absoluto quantoamorte.Oquevemdepoisdaanestesianãolhedizrespeito. Aúnicadiferençaentreodespertardeumaanestesiaea"reencamação"asiáti ca é que a segunda individualidade readquire a mesma memória. Mas isso nadatem que vercom a primeira individualidade. E “quem” pode saberque se tratada mesma memória?Pelomenos, aprimeira individualidadeéquenãopodesabê-lo,jáqueelafoi aniquilada. Se, por um lado, a reencamação asiática éfalsapela razãoquejá indicamos11 (um recém-nascido continua uma linhade existência celulargerminal; togo,elenãopo de retomar a linha de existência de outroadulto), poroutro lado, ela é verdadeirado pontodevista transversal,divino, no sentidodeque aconsciêncianáodesaparecedo universo:elareapareceemcada recém-nascido,comosefosseacontinuaçãodeuma outraconsciência.Umfilhoparecidocomopaiécomose,nele,opaiestivessedesper tandodeumaanestesia. V. “Nãosepodeperder”a vida: Édaroqueninguémperdeavida,pordefinição, jáquenãohámaisperdedor. Chorarosmortosé absurdo-absurdo,aliás, reconheci do pelosenso comum.Nãoobstante,osensocomumvacilaquando alguma vidapro missoraécortada prematuramente: “ Éumapena."Mas,obviamente, éumapenapara osoutros,nãoparaoex-servivo.Vemosavidadodesaparecidocomosefossecom posta pela parte realepelaparte virtual,aniquilada.Masparaeleavidanãoé aniquíla
10. Segundo Reichenbach, nfio seria oonfrário à lógicaque umserfizesseumacurva espiralno tempodemodo a reencontrarotem pocomum, assimoomosereencontaumcaminho, depoisdeter andadoemcírculopelosarredoresdo mesmo. Gõdelacreditaquepoderíamosvoltarao iníciogeraldo tempo.(Nota de 1977.) 11.Cf.supra,p.204. 213
da.Se elese viumorrer,eledefatosofreu, mascomoservivo.Amorte,comosediz, übertou-o- o que, emúltimaanálise, não sepode dizer, poiso“eu” nãoexistemais, tanto no acusativocomo no nominativo embora, comona MortedeIvanimtch,de Tolstoi,seuúltimopensamentodemoribundopossatersido,porantecipação,odeum atfvio,deumatoertaçâo,depotedetantospensamentosdeagonia. O fundoda questãoóqueo “mal" não6onegativo, maso“complexo",odes perdicio,porcolisãoehlbrídação,a"morte-em-vida",adoença,olutodossobreviven- tes,alembrança-parUcipaçãoqueesbarradolorosamentecomaidéiadequeopartici padonãoexistemais. VI. AmorteeacorridadeAquilesedatartanjga: Existeumaanalogiaentreacor ridadeAquiles,quenãochegaaalcançaratartaruga,poisnuncaconseguealcançaro pontoondeelaestavaeaindatemsempredeatingironovopontoondeeta está,quese tomaentãoopontoondeelaesteva- eacorridadeumservivoquevaiparaamorte. Em cadaidade,eletem umaesperançadevida,calculávelporestatística,que diminui masnuncachegaasernula.Elesempretemamesmapossfcidade,umapossibilidade calculável,deultrapassaressaesperançadevidaepoderbrincardecaraoucoroapa raverse conseguesuperarapróximafatiadevida,sempremenordoqueapreceden te.Quandoperde,nãorecuperanemultrapassanada.Poisnãohámaiscorrida. Vil. ■Eleprecisavamorrer... Mas,comouma criançaquenãoconsegueadorme cereficaagitadaechora,elenãoconseguiaencontrarseuúltimosono." Amorte,depoisdeumadoençabastantegraveoudeumavidaexaustiva,éuma necessidadenatural.Masseriaprecisodeixá-lanoestado“natural”,semtodosaqueles artifícios que lhe são acrescentados, semas cerimôniasmédicas, sociais,religiosas, fiscais.Oanimalquemorrenaturalmente,decansaçoouvelhice,nanaturezasolitária, nãodevesofrermuito. Na divertida comédia filmada O Paida Noiva - uma sátirados ritos sociaisdo casamentonosEstadosUnidos,cadavezmaiscomplicados— ,amoça,navésperado grandedia,mostra-sepreocupadaenervosa.Opalachaqueelaestáinquietadiante da iniciaçãoao amorfísico: “ Nãose tratadisso, pai,poiséumacoisanatural.E,por queiriaeuficarapavoradacomoqueénatural?Oquemepreocupaéaperspectivade tantascerimôniassociais.” Amorte,naturalcomooamor,nãodeveriasermaisapavorantedoqueisso. VIU.Pequimeoano2000:Amorteéumalimitaçãonotempo:eunãovereioano 2000,enenhumseratualmentevivoviveráoano3000.Porque,então,sofrerporessa ümítação no tempoquando,poroutrolado, nãocostumosofrercomaminhalimitação noespaço?EuriuncavereiPequim,eninguémsobreaTerrajamaisveráoshabitantes danebulosadeAndrómeda. Porqueessadissimetriasentimentalentreosdoiscomponentesdoespaço-tem po?Provevelmente,porquetodoservivoé,defato,velhocomoomundo,aopassoque nunca foi vasto como om undo. Por isso, o Hmite final doseutempoparece-lhe mais crueldoqueolimitedoseuespaço. IX. "Eu"nãopossoperderaconsciência: Umdomíniosubjetivo,um“espaço-su- jeito” nãoé umobjetoperdível,poiso“eu"éapenasumnomedadoàunidadedominial. 214
sejaelaatual, ou inchadapelasuaparticipação nos"outroseus”, mnêmicos (os quais, porsua vez, são apenas a unidade dos domínios subjetivos mnêmicos participados). Minha consciência não pode ser desvinculada de mim. Não posso perder a minha consciência. É oque osepicuristascostumavamexpressar,sobumaformanegativae imperfeita:“Eusou,amortenãoé;elaé,eunãosou”. X. A vida consciente nãotem “extremidades”: A vida conscientenãotemmais extremidadesdoque ocampovisualconsciente. Nossa retinamaterial temextremida des, mas a visão, não. O “eu” da consciência não pode ver as extremidadesdasua visão pois, como unidade da visão, não pode colocar-se simultaneamente sobre a visão e a não-visão, e ver assim a fronteira. Podemos ver a extremidade doenteda nossa retina que sedesprende,assimcomoummoribundo se vêmorrendo. Masnão podemos maisveraextremidadedaretinaumavezqueapartedoenteédestruidapela coagulação cirúrgica. Uma consciência não consegue, no tempo, ver-se iniciar ou ver-seacabar. XI. A morte não éindividual ou nominativa: Os túmulos, que trazem os nomes dos defuntos, suscitam a idéia de que “os” mortos permanecem individualizados. É evidente, contudo, quea desindividualizaçãoéabsoluta. Amorte nãotemdeser“ima ginada” ou “pensada”. Imaginar os mortos como“dormentes individuais" no reinoda morterepresentaumailusãodentrodailusão. Oque énotável é que aconcepçãoimagináriadeumaimortalidadeindividualdi feremuitopoucodaidéiadosmortosindividuais"dormindo”,masconservandoosseus “nomes”. Umase resumenaoutra. Os“dormentes” sãosimplesmenteimaginados,na crençadaimortalidadeindividual,comotendoumpesadelo semfim.OssonhosdePa raíso,ésabido,degeneramfacilmenteemimagensdepesadelo. OsGnósticos,evidentemente,dãopoucaimportânciaaessesexercícios,nega tivos,istoé, destinados a neutralizarimaginações absurdas.Suaverdadeirateseéo retorno paraDeus, oaniquilamentodasindividualidades em Deus,comaconservação (ou,antes,a“destemporalização")doseuconteúdodevalor.
Conclusão Astesesgnósticassôocientificamentemuitosóidas,vistoqueselimitamacon verter as aquisições mais seguras dadénda, sem contradizê-las, exceto em alguns pontos controvertidos entre os próprios dentistas. Elas só contradizem o ingênuo dogmatismo dentificista - que sempre tem sido bem menos predominante entre os dentistas angk>saxÕes doqueentreosdentistasfrancesesou os dentistas dos paí sescomunistas. ANovaGnosereduzomitoaomWmoindispensável.ReduzHomaisaindaseria ilusório,emesmocontraditório.Pdsouniversoétal-que-a-ciénda-nete-ó-poss/vel,ea possibilidadedadéndaritopodeevidentementeserdeduzkJa,explicadaoucompreen- dkJa cientificamente.Poisadéndajáégnose na suaintençfio,istoé,umailuminação conscientementeprocurada.Elanfioénenhumaespédedecristalizaçãoqueaparece emdeterminadoscérebros,comoosaltrenummuro. Queouniversoé“gnóstico",nosentidoetimológico,istoé,urnaconsdéndaque buscaaluz,ôumaevidência.Astesesgnósticassófazemtorná-iaexplícita.Existeno universo umesforçoem aigum lugar,aqui mesmo, nestemomento, ou na consciência donossoleitor,paraexplicareentenderouniverso.Issoéumfato.Estarlaessacons dé nd a emergindo apenas sobreo planetaTerra? Nfio poderiadeixar de enraizar-se maisprofundamente,oudeenvolveroTodoetê-losempreenvolvido.Adisputaentreo teísta eoateu,comofd ditoumdia, resume-se no seguinte:“ Devemoschamar Deus de Deus, ou dar-lheoutro nome?".Adisputa entre o Gnósticoe oagnósticoóessa: “ Devemos chamar de “gnóstico” o universo, nasuaquaMdadedeuniverso-se-conhe- cendo,oudar-iheoutronome?”. Em todo caso,háalgodebastantelimitadonatese,quesejulgaracional- masé apenas racionalista- segundoaqualohomeméoúnicoeoprimeiroaparecimentodo Espirito. Fred Hoyle denunciaessafaltade imaginaçãonaficçãocientíficacomum.Esta pretendetratar deformasde vidaedeconsciênciaimaginárias.Contudó,oqueencon tramos num livrodeficçôocientífica?"Sereshumanos.Eésó."Océrebrode urnacria tura de ficç&ocientíficaéessencialmente humano- mesmo queo autorotenha intro duzido no crâniodealgumlagarto giganteou de um humanóidequalquer, apresentado às vezes como umautômatoquepensa:“Seessasnoçõesumtantogastasselimitas semàficçãocientífica,omalnãoseriatãogrande.Masassimquetentamospensarse riamente numaformadeinteligênciaexterioràTerra, asnossas idéiasacabamficando iguaJmentelimitadas,eimaginamoshumanóidesemoutrosplanetas." 216
Os velhos mitos dos deuses, dosdemônios, dos anjos, dosarcontesce* lestes, no fundo são mais originais, emboraestejam sujeitos às mesmas limitações. Contudo, em suas tentativas de "teologia-ficção”, Aristóteles (antesdo motor automó vel), Santo Tomás, comsuateoriadosanjos, Dantee suadescriçãodo Paraíso,fize ramum esforço louvável,querecentementefoiretomadopor Stapledon,J.B.S. Halda ne, G. Stromberg, E. Whittaker e o próprio Hoyle, para fugir do conceito banal do humanóide. Temos de admitirque é difícil imaginardiálogos com GrandesSeres realmente sobre-humanos, comoGênioda espécie,comoDiretor(ouDiretora)da ViaLáctea,ou com o espaço-tempo. Em A Nuvem Negra, Hoyle tentou imaginarum Servivo cons ciente cujamassatotalé da mesmaordemquea massado planetaJúpiter, àbasede moléculas interestelares.EsteSer vaiem buscadeestrelasquelhepossamservirde alimento energético. Graças à sua unidadedominial, ele consegue ter um comporta mentosensatoe atémesmomaisinteligentedoqueoscomportamentoshumanos.Es safantasia(inspiradanos MarcianosdeStapledon)nãocarecedepertinênciafilosófica. Hoyle postula corretamente a identidade da vida e da consciência, a identidade da consciênciaedeumcampodominialdecomportamentounitário. Stapledon costumava imaginar GrandesSeres ainda maisestranhosdo queos seusmarcianosoudoque A NuvemNegradeHoyle,sobretudoemStarMaker.Éca racterísticoo fato de ele visivelmenteter se inspirado, nesses exercícios dealtonível em ficção científica,na zoologiacomparada. É de um tratadode zoologiaque elevisi velmente extraiu modelosde organismos sobre-humanos, semicoloniais, de formas e comportamentos supreendentes. Uma boa ilustraçãodatese gnósticasegundoaqual “todos os seres, em todos os níveis, são igualmenteinteligentes,conformeomaterial queelestêmdetratar”. Na UniãoSoviética,ésomentesobomantodaficção científica queos conceitos neognósticosconseguem difundir-se hoje.Assim,em Solans,ofilme de ficção científica (ou de ficção teológica) de Andréi Tarkovsky, um planeta inteiro possuiumaconsciência-oceano,comparávelàdeumcérebrohumano,que transmite a astronautas terrestres um magnetismo capaz de materializarsuas lembrançaseleválosadesejarafelicidadeeterna. A literatura fantástica, ao contrário da ficção científica, consegueevocarrazoa velmente bempotências maléficassobre-humanas (comAlgernon Blackwoodesobre tudocomLovecraft). Quantoàs Potências eàsConsciências sobre-humanasbenéficas, asalmasre ligiosas têmconseguidoevocá-lasmelhordoque oscientistas òuosautoresdeficção científica, pelo menos aparentemente. Imaginar os diálogos com um Deus tradicional nãoé difícil- mas éporque esse Deus éomais antropomórficoentreossobrehuma nos.Mas, como falarcom overdadeiro Deus, comoTao,com Brama, como Uno?Só podemos obedecê-lo, obedecendo à nossa própria consciência ou, antes, ao posso próprioinstintoorgânico. A NovaGnosetem procurado restringiros mitosaté o limiteindispensávele, ao mesmotempo, renová-los.Mas issodentro da maisextremasobriedade.Elanadatem emcomumcomasfantasiaspseudocientíficasou“iniciáticas‘,. Essa sobriedadeé, inclusive, talquequalquercriticaque sepudessefazerà No vaGnoseseria, antes, pelo fatode ela não sediferenciarm uito do purocientificismo, e deabafar,tantoquantoeste,todaressonânciareligiosa. 217
A“monadologiacientífica”deMilnetemurnacertaressonânciareligiosa.Masnão há mais nada de religioso, aparentemente, nateoríadepurada ematemáticaque Whi- trowextraiudela, ou nateoríaqueSdamatíroudasobservaçõesdeMach- oudeBer- keley- sobreainérdadoscorpos,quesópodeteralgum sentidoemrelaçãoaocon juntodosdemaiscorpos,revelandoassimaunidadecósm ica. Não há nada de religioso nateoría em si da memória autónoma,e nateoríada participação em temas transespadais, ou noconceito da “alma’’ como arquitetura e montagem. Deixemos de lado,portanto,apalavra “religioso",cujosentidonãotemumalcan ce muito maior doque a palavra "barroco"ou apalavra“romántico’', e simplesmente aludeaurna“cor”cultural. Parece,contudo, que a Nova Gnose, aotransporouniversovistopeladénda, ao cotocá-lo doladodireito, o transfigura. Éo mesmouniversoe, noentanto,éoutro. Nãoémaisaquelamáquinaabsurdademovimentoperpétuo,ouaquelamáquinatérmi caque se estría, ouessaimensacoleçãode“bombas H” estelaresqueüuminamnu vens de poeiraouaquecempequenosamontoadosde poeirasaglomeradas, sobreos quaisas moléculaseventualmentesecristalizamemformasgeométricasouemformas orgánicasauto-reprodutivas,queaseleçãonaturalconservaediversificaantesqueou traexplosão,ououtroacidentecósmicoqualquer,venhaaniquilaressesinsignificantes subprodutos. OuniversodaGnosenãodifereemnenhumdetalhedouniversodadénda.Mas existe entre os dois universos a mesma diferença que existiríaentre um servivoe amado e um robó que o imitasse com perfeição, mas do qual saberíamos que não sentenada. ‘7knowthatmyRedeemertiveth”,* canta-senoMessiasdeHaendel.Poderdizer: “ Sei que estou vivo dentrode um universo vivo.Sei que sou conscientena Unidade eterna da Consdéncia divina” , não deixa de sertáo exaltante quanto a fé em algum Messias, em algum Salvador semipolftico- mesmo que não se possaacrescentar “Andthoughwormsdestroythis body,yetinmyfleshshaHIseeGod”.1 Existeummistérioparatodafilosofiagnósticaquenãoquerignoraradénda.O Espirito domina sobre a Matéria.O significadoprevalecesobreos meios técnicos e a consciência sobre os seus “órgãos” . E,náoobstante,omundoparecetersidodefato, naorigem,essaestranhamáquinaàqualnosreferíamos,ouaquelasuperbombaH.Ele pareceterseconvertidonouniversognósticoquando,parasè-lohoje,eledeveriatê-k) sidosempre. Paraa Nova Gnose,essemistérioéurnachave.Atransposiçãognósticamostra primeiroqueo universo, aparentemente,enquantoobjetoexplosivonoseu“avesso”é, no seu “ladodireito” , um sujeitoem auto-explosão.Elamostraque osobjetos aparen tementemateriaisqueelecontém,equeforamproduzidospelaexplosão,continhamo
*“ SeiquemeuRedentorvive” .(/V. T. ). 1.Cf.asreflexõesdeF.Hoyleem The Nature otthe Universe,p.116. [ME,emboraosvermesdestruam estemeucorpo,aindaassimemminhacarnevereiDeus". (W.T.).]
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suficiente para tornarem-se não apenas “subjetividades” dissociadas, como também consciências comcapacidadede autonomia. A transposição torna-se transfiguração quando a Nova Gnose acrescentaque esse surgimento, aparentemente retardado do Espírito no Espaço e no Tempo, é a prova, nãodeque amatériaéprimáriaeessencial, mas, pelocontrário,dequeexiste um Além doEspaçoedoTempo,um“ Eu"ou um "Si"absoluto, paraoqualnãohánem “alhures"nem“antes-depois". Assim,longede serumnovo humanismo,a NovaGnoseapresenta-semais co moumnovoteocentrismo. Para umeuropeu, pode parecer bastante estranho esse renascimento de um teocentrismo no país da técnica futuristae nessa Disneylândiade ciência avançada quesãoPrincetonouPasadena. Basta lembrar, porém,aimpressãode estranhezamaioraindadiantedasprimei rasfotosdos hippies universitários cabeludosebarbudosnoscampusdas Universida des de Berkeley ou de Columbia, por seuenormecontraste com os cosmonautasde barba feitaetão“tipicamenteamericanos". Nossos Gnósticossão, de umaformadis creta, um pouco oque são,na suaformadoida, os hippies ou tantas seitas religiosas extravagantes. A mentalidade bíblica puritana aindacontinuamuito em evidência nos Estados Unidos. O teocentrismo modesto, orgânico, não-ideológico da Nova Gnose nãodeixade ser, ainda,umaexpressãosemdúvidamuitooriginalmas,nofundo,con forme,davelhamentalidadebíblica. Esse teocentrismo favoreceo isolacionismo morale ocaráterapolíticodoMovi mento.Favorece a moderação nosobjetivos próximoseaconfiançanotrabalhoorgâ nico.Aoisolar-se, ao colocar-sediantedesi mesmoediantedocosmo,ohomempode esperarencontrar, procurando bem, as boas técnicasde vida. Quantoàsboastécni cas da vida sociale política, ahistóriatemmostradoquesópodemosencontrá-lasse deixarmos que as forças orgânicas trabalhem por um longotempo comanossamo destacolaboração,sempretendermossersuperioresàConsciênciasupremacujosob jetivosdistantessâoimpenetráveis. Devemos ver, nessa atitude, uma timidez lamentável porparte decientistasexi gentesedesconfiadosemrelaçãoàsciências- ouàspseudociências- humanas? Ou tratar-se-ádesabedoria— umasabedoriaquecontrastafelizmentecomaleviandadede tantosintelectuaisqueassumem,hoje,tantasresponsabilidadesalarmantes? É possível, também, que, sobre esse ponto, nossas informações arespeitode ummovimentocercadopormistérionãotenhamsidocompletas,equehaja,dentrode determinados grupos mais secretos - comoassubseitasdosPitagóricos,osprincetonianos da Antigüidade - certas preocupações políticas. Alguns indícios nos levam a suporisso. Oqueécerto, contudo,équenãosetratadeformaalgumade políticaambiciosa ou arrogante. Pois todos os Gnósticosconcordamcom isto:asboastécnicas,navida socialepolítica, só podem serencontradasmedianteumtrabalho“celular",queadmite e que busca aindispensável elongacolaboraçãodas forças orgânicas,sujeitaspor suavezàConsciênciadocosmo.
Contarmejá assinalamos,náoexistonenhumaobraqueexponhaa doutnnaemseuconjunto. Maso leüorpoderáenoontrarlodasasrafeesetodososelementosdaNovaGnosenestabibliografia sumária,ondeescolhemosasobrasmaisfacilmenteacessíveisaoleitorfrancés. f ís i c a e c o s m o l o g ía
Náofaremos,aqui,nenhumareferênciaaessespré-gnóstkx»queforamEddington, Whitehead eJeans,mascitemos: E.A.Mlne:ModernCoetrologyandtheChnsbanIdeaofG od (Oxford,1952). já entramosnaNovaGnoseoom: G u s ta v S tro m b e r q , asfrónomonoObservatoriodoMontoWilsone, mais tarde,professano InstitutoCamegiedeWashington:L 'Ame de runiv ers (Ftammarion, 1051). V. F. WEissKOPF,ffeicodoMasaachussetb'sInstitutoofTechnology,colaboradornoprojetoMa nhattanem1943,diretorgeralnoC.E.R.N.de1961 a1986:Nature, Matíère, Vte (Hachetto,1967). E. T. W h i t t a k e r , « bíco em Prtncetone em Edhnburgo: Space and Spirit(Nelson, NovaYork, 1946); Le Commencement et la fin du monde(AlblnMtehel,1953). C. F. Von W e iz s a c k e r , oconhecidoffeicoalemflo: Le Monde w par Ia physique(Flammarion, 1956). G.J. W H ítro w , professordefísicaedecosmologíaemLondreseNovaYork: The Structure and Evoluton ofthe Universe (Harper’a,NovaYork, 1959); The Natural Phitosofy of Time (Nelson, 1961). 0. W. S&ama, professorem Princelon: The Unttyofthe Universe (Faber, 1959); The Physical Foundations of General Relativity(NovaYork,1969).Tituloemfrancés: Les Bases physiques de Ia relativité générale(Dunod, 1971).Estaobra,muitooriginai,abordaEinstelnfalandodeBerkeleyedeMach, ediscuteoproblemada“ induçãodeinércia." D a vc Bohm, ho je professorde físicateóricanoB iikbeckC ollege: Essaide formularon topotogi- que de Ia théorie quantique. P u b l i c a d o e m : LJ.Gooo: The Sdentíst Speculates(1962). AobracoletivadeLj.GoodfoipublicadanaFrançaporDunodem1967sobotftufo: Ouandles savants donnent libre cours i leur imaginaüon. I. J.Good reuniuopensamentodemuitosprincetonia- nos. DavidBohmteminsistidorecentementesobreanoçâode“ holodclodinâmico"emoutraobracole tiva:ResponsabUité btologique,publicadanaFrançaporHeimann,Paris,em1974. F r e o H o y le . O famoso astúnomoinglês, quetornou-seprofessor de astrofísicanoCalifórnia
InstituteofTechnology, estámultopróximodasIdéiasneognósticasmaisessenciais: La Nature de IVntvers(P.U.F., 1952); Auxfrontlêrse de l'astronomle(Correa, 1956): L'Astronome(Laftont, 1963);Hommesetgalaxias(Dunod, 1969).Seus rormnces deflcçflodentfRcatambém sflomuito Importantes:Le Nuagenoir(Dunod,1962),eLe ieroclobre,Iseratroptard(Dunod,1968). V.AF«soff:Vie, intelligence et galaxias(Dunod,1970). R.P. Feynmann,ofamosofísicodoCaliforniaInstituteofTechnology,prêmioNobelde1965: La Nature des Icxs physiques(RobertLaffont, 1970). Depoisde terdesprezadoa cosmotogia,oscientistassoviéticos estãosededicandoaelacom entusiasmo.As especulaçõesdecaráterneognósticoestãosurgindoemmassanaUniãoSoviética,não muitobemvistasporpartedasautoridadeseoomfreqüênciadissimuladasemobrasdeficçãocientifica. E. Pa r n o v : Au carretourdes infinis (Ed.Mir,Moscou, 1972).EstelivrodePamov,extremamente interessante,éumverdadeirotratadodecosmologíaneognóstica. 1. C h k o v s k i : Univers, vie et raison (Ed. deIa Paix, Moscou-Paris). Este autortendeaseran- tignósticoemrelaçãoaosproblemasbiológicos.
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Entreosautoresfranceses: Jacques Meruead-Ponty, professor na faculdade de Nanteire: Cosmoiogie du XX6 siécle (Gallmard, 1965),e(oom BrunoMorando): Les Trois Etapas de la Cosmoiogie(Laftont,1971).Jáassi nalamosograndeInteressedestaobra,quenãotemnenhumequivalente,mesmonaAmérica. o. costa deBeauregaro, diretadepesquisa no C.N.R.S.; suasidéiassãomuitopróximasda Nova Gnose: La Notion de temps (Hermann, 1963); Le Second Principe de la Science du temps(Le Seuil, 1963). BIOLOGIAEPSICOLOGIA AlémdasobrasdeJ. C. Eccles,já antigasmasquecontinuamclássicas,sobretudo The Neuro-Physiological Basis o í Mind(Oxford, 1953), edoslivrosdeficçãoctentltica (maisdoquesuasobras sobreagenéticaeaorigemdavida)dofamosobiólogoJ.B.S.Haldane: Possible Worids] Callinicus', My Fnend Mr. Leakey(GeorgeAlien,Londres),podemosmencionaraquí: J. Marquano: Life, its Nature, Origins and Distributioris. Publicado na França por Dunod em 1972,sobotftulo:Qu'est-co que la vie? W.M.Elsasser: Atom and Organism(PrlncetonUntversityPress, 1966).Esteprofessor,conhe cidoemPrinceton,físicodeorigem,pubttooumultasoutrasobrassobreoassunto. W.S.Beck: The Riddle ofLUe, Essays in Adventuros otth e Mind(NovaYork,1960). E.P.WK3NER,professornoCaliforniaInstitute: Remarques sur le s relations de l'esprit etducorps, publicadopor L J.Gooti naobracoletiva The Sdentist Speculatos. Traduzidoemfrancés porDu nod,París, 1967. ArthiwKoestier: ins,ght and Outlook (Mac MHIan,NovaYork, 1949). Todososlivrosdeslefa moso romancista estflo mullopróximosdasdoutrinas neognósticas. A KoeaUertambémcolaborouna obracoletivadeI.J.Good. B.LWhorf: Language, Thought and Reality.Traduzidoemfrancéssobotftulo: Linguistique et anthropologie(Denoól, 1969). B.L Whorfmorreuprematuramente,mas fo t, antesdotempo,urrnéo- gnósüco. ERIC Berne, médico epsiquiatranosemináriodepsiquiatriasocial deSan Francisco: Analyse Iransacüonnelle en psychothárapie(Evergreen, 1961); Games People P lay. Traduzidoemfrancéssobo tftulo:Desjeux et des hommes(Stock, 1964). Acrescentamos, aqui, duas obras denossa autoría que oontfim (por antecipação)oespirito gnóstico: L'Animal, L’Homme, la Fonctíon Symbolique (Gallimard, 1964); Raradoxes de la consnence et limites de /'automatismo(AlbinMichel, 1966). Duranteestesúltimosdoisanoa/osNeognóstioostãmseinteressadosobretudo,pelofunciona mento e petocomportamentodo cérebro. Nesteporrto,também,eles p a rte n daobeervaçâodeMfflca maisestrita,aparentementemais‘ materialista” . Masestão,naverdade, realizandoa“reversãopxtoti- ca".Nãonosfoi possfvei aprofundaresseassuntonapresenteobrap o is 6 pordemaisrecente«mere ceriaumestudoàparte.OsNeognóstioostambémlémsededicadoaoscamposbiopsíqulcos“çiase- fnagnátjoQe",aobtofeed-òacdc,àsondascsrebrals.aos“ estadosa lte ra d o s" deconedônda,àtunçâodo rinsncéfato, aosonho, àmemóriacomofenômenocerebrale supra cera bra Leaosfenômenosdavisão comohoiograma.Sobreestesassuntos, consultar: A. H. Maslom,presidente dodepartamentode peiootogiad a UntyenidadedeBrandas ReHgious Valúes and Peak Experiences(OhtoStateUniversttyPress, 19 62); TowardaPsychotogyolBetng, emfrancéspelaFayard,em1972,sobotftuto: Vers une pa ych o to g e del'ê*e. C.K Taht: AMerodStates ofConsctousness(J.Wiiey.1970). j. Wh t t e: The Higher Statae otConadousness (Anc hor/Doub ledsiy. 1972). V.Levy:Le Mystèredu Cerveau(ed.Mtr,Moecou-Paris.1972). * Aprimeiraediçfiode A Gnose de Princeton ê de1974.(A/.T.) 221