Escola Secundária Filipa de Vilhena Português – 12º ano
Fernando Pessoa - Ortónimo e heterónimos
Quadro-síntese dos quatro sujeitos poéticos
Pessoa ortónimo é um sujeito poético marcado pela angústia existencial e pelo inconformismo que ditam o desejo de despersonalização. Em todos os heterónimos Pessoa procurou dissipar-se e encontrar uma resposta para a sua constante inquietação, o seu permanente desassossego. Deste modo, será possível reconhecer a existência de alguns motivos temáticos transversais aos quatro sujeitos poéticos que, embora distintos, sofrem a mesma angústia, o mesmo desassossego, o de existir, e anseiam o mesmo objectivo, o de viver plenamente. Contudo, essa procura, essa busca revelaram-se infrutíferas, porque nenhum dos heterónimos por ele criados constituiu uma solução pacífica para o seu problema de existir. Como ele próprio afirma “há barcos para muitos portos, mas nenhum para a vida não doer, nem há desembarque onde não se esqueça”.
Pessoa
Relação “eu” / mundo exterior
Relação consigo próprio
Caeiro
Campos
Reis
. Inadaptação ao real; . incapacidade de “viver” e ser feliz; . opção pela solidão; . incapacidade de sentir; . domínio do pensamento, da consciência; . fascínio pelo racional; . incapacidade de agir.
. A relação faz-se através das sensações, de forma equilibrada; . abolição do pensamento – “Pensar é estar doente dos olhos” ; . aceitação calma da vida; . anulação do que no ser humano pode originar sofrimento; . o olhar inocente como modo privilegiado de conhecer o mundo; . deambulismo.
. Excesso de sensações conducente a estados de euforia/disforia; . interferência do pensamento – dor de ser lúcido; . inadaptação ao real; . masoquismo; . ser dividido entre o sonho e a realidade.
. Primado do pensamento sobre a sensação – “pensa o que vê”; . desejo de manter a integridade, mas renunciando a tudo o que é factor de perturbação; . busca da ataxia; . conciliação de resignação e moderado prazer.
. Ser em permanente rutura, fragmentado, dividido; . ser que vive obcecado pelo pensamento; . ser em constante autoanálise.
. Estabilidade, paz, segurança; . ser uno e reconciliado consigo mesmo.
. Instabilidade: fase futurista, marcada pela exaltação e euforia; fase decadentista, marcada pela incapacidade de se aceitar; fase abúlica, marcada pelo tédio, angústia, fragmentação.
. Estabilidade conseguida através do exercício da razão; . autocontrolo; . ser uno que privilegia a razão.
Tempo
. O presente é o tempo do desencanto, do sofrimento, da dor, do tédio e da angústia existenciais; . nostalgia do passado e da infância perdidos, embora desprovidos de experiência biográfica; . anseio por um futuro melhor que o presente, mas indefinível.
. Enquanto categoria mental, é rejeitado; . vivência epicurista – carpe diem.
. Aguda consciência do tempo que gera inquietação; . nostalgia do passado, da infância perdida; . insatisfação pelo presente; . ânsia de um futuro desconhecido mas sempre preferível ao presente.
. Consciência do desgaste operado pelo tempo: transitoriedade e efemeridade da vida; . aceitação resignada das leis da vida – estoicismo; . atitude epicurista de aproveitar todos os instantes.
. Angústia decorrente da inevitabilidade da morte.
. Aceitação calma, tranquila sem mágoa.
. Consciência angustiante da morte; . a morte como refúgio procurado.
. Mágoa pela certeza da morte; . angústia de quem vive sempre à espera do fim.
. Linguagem simples e sóbria (níveis lexical e sintáctico); . reminiscências da lírica tradicional popular; . suavidade rítmica e musical.
. Aparente prosaísmo; . espontaneidade discursiva; . registo corrente; . vocabulário concreto.
. Discurso torrencial; . linguagem excessiva; . sintaxe aberrante.
. Discurso elaborado; . linguagem erudita; . sintaxe alatinada.
. Busca de resposta à dor de pensar; . desejo de inconsciência; . busca de eterna inocência.
. Dor de ser lúcido; . nostalgia da infância; . fragmentação interior; . tédio, solidão.
. Peso do pensamento; . felicidade inatingível; . infância como idade ideal; . abulia
Morte
Expressão
Em comum com o ortónimo