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CESÁRIO VERDE Influências artísticas: Impressionismo (constitui uma fuga ao sentimento de decadência) • Impressão pura Percepção imediata · Cor, luminosidade e textura textura Construções impessoais · · A qualidade óptica do objecto (cor) é mais importante que o objecto · Recurso à hipálage Parnasianismo Parnasia nismo (reacção (reacç ão anti-romântic anti-r omântica) a) • · O poeta não diz o que sente, mostra os objectos e desperta ideias – objectividade e impessoalidade Rigor na forma · Realismo (apresentação de situações concretas, do real objectivo; representação da sociedade – critíca • de denúncia social) Naturalismo (funcionalidade – pôr em prática – do real objectivo) • · ·
Influências literárias • João Penha (preocupação com a forma e observação atenta do real quotidiano; humor crítico e irónico) Baudelaire (gosto pelo inédito, pelo repulsivo – n ão esquece os quadros dolorosos, sombrios, os quadros • revoltados da cidade; simpatia pelos humides; ânsia de evasão; o deambulismo; amor ao fabricado, ao geométrico; exercício da análise) Características temáticas · Contraste cidade/campo · Campo = vida; Cidade = morte, repressão Mulher do campo: simples, frágil; Mulher da cidade: fatal, fútil · · Poesia pictórica – pinta quadros por letras · A poesia é um olhar crítico acerca de uma realidade social – realismo Alternância dos planos objectivo e subjectivo · · Descrição objectiva do real – objectividade (realismo) · Frases exclamativas (e interrogativas) – subjectividade · Deambulação do sujeito poético: olha, vê, sente, dá conta do que vê e do que sente · Visualismo: preocupação pela ordem das descrições (primeiro os a spectos genéricos e dps os mais específicos) e por descrever tudo o que vê · Sujeito poético solidário com os que trabalham e são explorados · Republicanismo · Anticlericalismo · Importância da luz, da cor, da forma e da textura - impressionismo Características estilísticas Marcas da estrutura narrativa – espaço, tempo, acção (e nalguns casos personagens) · · Rigor formal (versos decassilábicos ou alexandrinos – 12 sílabas métricas – e quadras ou quintilhas com rima e métrica definidas) – parnasianismo · Vocabulário preciso, concreto, prático → linguagem corrente · Predomínio da coordenação · Conjugação perifrástica (“Ia passando”; hei-de ver”) · Modernidade da linguagem: Tom coloquial · · Adjectivação (dupla, tripla,...) · Anteposição do adjectivo ao substantivo (primeiro realça-se a característica e dps o objecto) - impressionismo · Expressividade do advérbio de modo Verbos (utilização, por exemplo, do p. perfeito – característica do momento narrativo – e do · p. imperfeito – característica do m omento descritivo) · Diminutivos Nòs – elogio do campo, k é fonte de vida e de riqueza; cidade como algo de dramático, centro de desgraça, onde só há morte; triunfo da cidade sobre ele e sobre o campo: protesto, rebeldia, desprezo, manifestações do poeta Deslumbramentos – mulher da cidade: fatal, de humilhante indiferença, sofisticada, moderna, racional, distante, fútil, fria, orgulhosa e sedutora; redução do amante à condição de servo; transposição do plano individual para o colectivo: vingança contra a ordem social personificada pelas “miladies” – denúncia social (republicanismo) A Débil – poema de contrastes: desejo de complementariedade com a mulher; o “narrador” cede à influência corruptora da cidade mas liberta-se pela adesão fiel à mulher k passa – através dela ele tem vontade de ser útil, prestável, de tornar-se numa pessoa melhor; Contrariedades – denúncia social: mulher pobre “abandonada” pelo médico, impresa corrupta e bajuladora; poeta/engomadeira – realidades paralelas; a engomadeira tem um efeito benéfico nele: ajuda-o a acalmar-se pois vê k os problemas dele não são nada comparados com os dela Num Bairro Moderno – marcas da narrativa (espaço, tempo, acção, personagens); descontentamento evidente em relação ao emprego; desejo de uma vida descansada e tranquila; invasão da cidade pelo campo → cabaz de frutos e legumes; mulher do campo (vendedeira): desprendida, humilde, atenciosa, educada, frágil, pálida e magra; ele ganha forças através da vendedeira (k representa o campo); quadro verdadeira/ impressionista: predomínio da cor e luminosidade nas descriçõess
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O Sentimento dum Ocidental (Avé Marias) – desejo de fuga, de evasão; denúncia social: condições de vida precárias para os trabalhadores; dependência de portugal f ace a inglaterra – despreocupação da alta sociedade qt a isso; ciclo vicioso das classes mais baixas: não progridem pk não têm oportunidade para isso; antinomia de personagens, espaços e tempos (trabalhadores explorados e atarefados/lojistas enfadados; edificações emadeiradas/hotéis da moda; antes e depois da industrialização: glória/opressão, miséria, injustiça, dependência)
Figuras de estilo Assíndeto (as ideias não são ligadas por nenhuma conjunção) – ritmo mais violento e agressivo · · Ironia · Comparação Metáfora · · Sinestesia (troca de sentidos: dá sensação àquilo que não a pode ter. Ex: “brancuras quentes”; “luz macia”) · Estrangeirismos · Hipálage (atribuição de uma qualidade a um objecto que logicamente não lhe pertence. Ex: “E às portas, uma ou outra campainha toca, frenética, de vez em quando.”) · Gradação Adjectivação · · Enumeração · Antítese Transporte (continuação da ideia no verso seguinte) · Esquema rimático · Cruzada (ABAB) · Emparelhada (AABB) Interpolada (ABBA) · FERNANDO PESSOA (ortónimo) Características temáticas Identidade perdida Consciência do absurdo da existência Tensão sinceridade/fingimento, consciência/inconsciência, sonho/realidade Oposição sentir/pensar, pensamento/vontade, esperança/desilusão Anti-sentimentalismo: intelectualização da emoção Estados negativos: solidão, cepticismo, tédio, angústia, cansaço, desespero, f rustração Inquietação metafísica, dor de viver Autoanálise
Características estilísitcas Musicalidade: aliterações, transportes, rimas, ritmo, tom nasal (= prolongamento da dor, do sofrimento) Verso geralmente curto (2 a 7 sílabas métricas) Predomínio da quadra e da quintilha
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utilização de elementos formais tradicionais
Adjectivação expressiva Linguagem simples mas muito expressiva – cheia de significados escondidos Pontuação emotiva Comparações, metáforas originais, oxímoros (vários paradoxos – pôr lado a lado duas realidades completamente opostas) Uso de símbolos (por vezes tradicionais, como o rio, a água, o mar...)
O fingimento poético Autopsicografia A arte nasce da realidade A poesia consiste no fingimento dessa realidade: a dor fingida ou intelectualizada A intelectualização é expressa de forma tão artística que parece mais autêntica que a realidade Relação do leitor com a obra de arte: Não sente a dor real (inicial): essa pertence ao poeta ¤ Não sente a dor imaginária: essa pertence ao criador (poeta) ¤ Não sente a dor que ele (leitor) tem ¤ ¤ Sente o que o objecto artístico lhe desperta: uma quarta dor, a dor lida A obra é autónoma, quer em relação ao leitor, quer em relação ao autor (vale por si) Há uma intelectualização da emoção: é recebido um estímulo (emoção) – dado pelo coração – que é intelectualizado – pela razão ; o que surge na criação são as emoções intelectualizadas. Ou seja, o pensar domina o sentir – a poesia é um acto intelectual
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A dor de pensar O poeta não quer intelectualizar as emoções, quer permanecer ao nível do sensível para poder disfrutar dos momentos – porque a constante intelecualização não o permite. Sente-se como enclausurado numa cela pois sabe que não consegue deixar de raciocinar. Sente-se mal porque, assim k sente, automaticamente intelectualiza essa emoção e, através disso, tudo fica distante, confuso e negro. Ele nunca teve prazer na realidade porque para ele tudo é perda, quando ele observa a realidade parece k tudo se evaporou. Ela canta pobre ceifeira – a ceifeira representa os sensacionistas e o seu canto seduz o poeta, que mesmo assim não consegue deixar de pensar; o poeta quer o impossível: ser inconsciente mas saber k o é, sentir sem deixar de pensar – o seu ideal de felicidade; acaba por verificar k só os sensacionistas são felizes, pois limitam-se a sentir, e tem então um desejo de aniquilamento; musicalidade produzida pelas aliterações, transporte, metáfora e quadra Não sei se é sonho, se realidade – exprime um tensão entre o apelo do sonho (caracterizado pela tranquilidade, sossego, serenidade e afastamento) e o peso da realidade; a realidade fica sempre aquém do sonho e mesmo no sonho o mal permanece – frustração; conclui k a felicidade, a cura da dor de viver, de pensar, não se encontra no exterior mas no interior de cada um.
O eu fragmentado O poeta é múltiplo: dentro dele encerram-se vários “eus” e ele não se consegue encontrar nem definir em nenhum deles, é incapaz de se reconhecer a si próprio – é um observador de si próprio. Não sei quantas almas tenho – o poeta confessa a sua desfragmentação em múltiplos “eus”, revelando a sua dor de pensar, pk esta divisão provém do facto de ele intelectualizar as emoções; a sucessiva mudança leva-o a ser estranho de si mesmo (não reconhece akilo k escreveu); metáfora da vida como um livro: lê a sua própria história (despersonalização, distancia-se para se ver) Entre o sono e o sonho - símbolo do rio: divisão, separação, fluír da vida – percurso da vida; é a imagem permanente da divisão e evidencia a incapacidade de alterar essa situação (o rio corre sem fim – efemeridade da vida); no presente, tal como no passado e no futuro (fatalidade), o eu está condenado à divisão porque condenado ao pensamento (se fosse inconsciente não pensava e por isso não havia possibilidade de haver divisão); tristeza, angústia por não poder fazer nada em relação à divisão k há dentro de si; metáfora da casa como a vida: o seu eu é uma casa com várias divisões – fragmentação
O tempo: factor de degradação Para o poeta viver é o presente. O passado não interessa, porque recordar não é viver, é estar preso a algo que não volta – “O futuro é algo que não conheço e o passado algo que já não tenho. Um pesa-me como a possibilidade de tudo, outro como a realidade de nada. Não tenho esperanças nem saudades”. Esta atitude mostra que o poeta está descontente em relação ao que foi, pk nao foi nada do que quis, e revela desmotivação e falta de esperança pois crê que também no futuro as coisas não melhoram, também nele os sonhos não vão passar disso. Assim, ele surge como uma sombra, um vestígio da si próprio. Ó sino da minha aldeia – sino é símbolo da passagem do tempo (dolorosa); pouca expectativa em relação ao futuro; inconformismo, procura constante do eu; tempo dividido em fragmentos (o passado não existe, já passou e nele eu não fui capaz de sentir, de ser feliz na altura); solidão ansiedade, nostalgia da infância; musicalidade - aliteração No entardecer da terra – 1o momento em k o poeta descreve o k vê; 2º momento em k faz a passagem p o seu interior; análise ao seu interior: frustração em relação ao passado (os sonhos n se concretizaram), incapacidade de viver de acordo com o momento – só posteriormente se apercebe que que esse momento não foi verdadeiramente vivido (não se sente feliz, realizado em nenhum momento), tristeza, angústia, solidão
O tédio, o cansaço de viver O poeta constata que não é ninguém, ele é nada – o sonho de ir mais além desaparece. Diz que não sabe nada, não sabe sentir, não sabe pensar, não sabe querer, ele é um livro que ficou por escrever. Ele é o tédio de si próprio: está cansado da sua vida, está cansado de si. Bóiam leves, desatentos - poema apresenta um conjunto de elementos que sugerem indefinição e estagnação, estados que provocam o tédio e o cansaço de viver (“bóiam”, “sono”, “corpo morto”, folhas mortas”, águas paradas”, casa abandonada”); todos estes elementos apontam para a dor, a incapacidade de viver, a angústia, o tédio; os seus pensamentos andam como que à deriva, não têm onde ficar, pois ele é nada; são insignificantes, sem consistência, vagos, sem conteúdo; impossibilidade do sujeito saír do estado de estagnação em k se encontra (entre a vida e a não vida); musicalidade: transporte, anáfora (repetição duma palavra), ritmo (lento, parado – como ele) Aqui na orla da praia, mudo e contente do mar - sujeito não quer desejar muito mais para além do que é natural e espontâneo na vida; tudo aquilo a que o homem se pode agarrar é imperfeito e inútil (ex:amor); a melhor maneira de passar pela vida é não desejar, não se sentir atraído por nada (apatia, cansaço total); revela um certo deseho de morte pk já n quer nada; desejo de comunhão com a natureza
Poema síntese: Viajar! Perder países! (p.147) “ser outro constantemente” – multiplicidade, diversidade do eu procura de emoções – ideia de viagem
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“De viver somente” – incapacidade de permanecer no sentir “Nâo pertencer a mim!” – despersonalização, angústia da separaçaõ entre o sonho e a realidade “A ausência de ter um fim” – consciência da efemeridade da vida No último verso: contraste sonho/realidade – a realidade é ultrapassada através da criação Quadras; redondilha maior; rima cruzada; musicalidade (aliterações;repetições; anáfora); transporte
ALBERTO CAEIRO Alberto Caeiro, desejando-se um simples homem da natureza, inteiramente desligado dos valores da cultura, pretendeu, sobretudo, ser. Tentou, assim, desenvolver uma arte de ser. Características temáticas Objectivismo : Apagamento do sujeito ¤ Atitude antilírica ¤ Atenção à “eterna novidade do mundo” ¤ Integração e comunhão com a Natureza ¤ Poeta da natureza ¤ Poeta deambulatório ¤ Sensacionismo : ¤ Poeta das sensações tais como são Poeta do olhar ¤ Predomínio das sensações visuais e auditivas ¤ Antimetafísico : Recusa do pensamento ¤ Recusa do mistério ¤ Recusa do misticismo ¤ Paganismo Desvalorização do tempo enquanto categoria conceptual Contradição entre a “teoria” e a “prática” – apesar do poeta afirmar que não se preocupa com o estilo dos seus versos, a verdade é que ele acaba por se preocupar com o que escreve
Características estilísticas Verso livre, métrica irregular Despreocupação a nível fónico Pobreza lexical (linguagem simples, familiar) Adjectivação objectiva Pontuação lógica Predomínio do presente do indicativo e do gerún dio Frases simples – predomínio da coordenação Comparações simples e raras metáforas
A “Arte Poética” E há poetas que são artistas (poema XXXVI d’O Guardador de Rebanhos) – poetas artistas (não são espontâneos, são artificiais e monótonos, demasiado preocupados com a forma, mais do k com o contéudo); poetas espontâneos (são naturais e variados como ele); ele não procura explicações nem a perfeição, deixa-se levar pela passagem do tempo sem se preocupar; defende k o melhor é viver sem dor nem revolta, ter calma perante a realidade; a sensação é tudo, o pensamento é uma doença O Sensancionista Eu nunca guardei rebanhos (poema I d’O Guardador de Rebanhos) - quatro momentos (o poeta compara-se a um pastor que deambula pela natureza; rejeição do pensamento pk ele não deixa que se aprecie verdadeiramente a natureza e que se seja feliz; ele é um poeta espontâneo, natural, e só escreve aquilo que sente; dirige-se aos leitores e transmite-lhes uma msg de objectividade e espontaneidade e que o vejam como fazendo parte da natureza - quer k os leitores encontrem na natureza a paz e a felicidade que ele próprio encontra); tal como o pastor, o sujeito vive sozinho e isolado; a escuridão traz consigo o “perigo” do pensamento – traz inquietação. Sou um guardador de rebanhos (poema IX d’O Guardador de Rebanhos) – a realidade precisa de ser observada, não pensada; o sentido das coisas reduz-se à sua cor, forma e existência.
O poeta antimetafísico O meu olhar é nitido como um girassol (poema II d’O Guardador de Rebanhos) - o mais importante é ver (procura extasiar-se com o que vê); atitude que ele quer ter perante a realidade: atitude de ingenuidade, sem preconceitos, conceitos ou teorias, como uma criança; o mundo está feito não para pensarmos nele mas para o observarmos e nos sentirmos em harmonia com ele; desejo de um amor espontâneo, sem calculismos
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Li hoje quase duas páginas (poema XXVIII d’O Guardador de Rebanhos) - os poetas místicos pensam e introduzem no que observam a sua subjectividade; a natureza deve ser amada por aquilo que é e não por aquilo que ela provoca em mim; a natureza não tem mistério nenhum (“Porque a Natureza não tem dentro”), as coisas não têm sentido oculto. O mistério das coisas, onde está ele? (poema XXXIX d’O Guardador de Rebanhos) – as coisas são aquilo k parecem ser: não têm significação, têm existência.
O poeta do objectivismo Quem me dera que eu fosse o pó da estrada (poema XVIII d’O Guardador de Rebanhos) - a única maneira de não ter angústias é ser algo concreto, simples e útil – o poeta manifesta o desejo de se transformar em coisas simples, de se dispersar pela natureza; o modo conjuntivo indica apenas um desejo de ser aquilo que não é - Uma vez mais estamos perante o drama de Fernando Pessoa que, através de Caeiro, procura libertar-se da sua condenação ao pensamento (se se realizasse a vontade ele teria alcançado o sonho e era feliz) Se, depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia aceitação calma da ordem natural das coisas; eu controlei a minha vida, ela pertence-me e vivi da maneira que me causava menos sofrimento; predominância da objectividade (“Vi como um danado”); rejeição do pensamento – nunca se deixou absorver por ele; importância do real e da observação – prazer de descobrir a diversidade da natureza.
RICARDO REIS Ricardo Reis não desejou mais que viver segundo o ensinamento de todas as culturas, sinteticamente recolhidas numa sabedoria que vem de longe e que nem por isso deixou de ser pessoal. Viver conforme a Natureza, liberto das paixões, indiferente às circunstâncias e aceitando voluntariamente um destino voluntário era uma parte da sua filosofia. Ele desenvolveu, assim, uma arte de viver. Características temáticas Epicurismo : Busca da felicidade relativa ¤ Moderação dos prazeres ¤ Fuga à dor ¤ Ataraxia (tranquilidade capaz de evitar a perturbação ¤ Estoicismo : Aceitação das leis do destino (aceitação voluntária de um destino involtuntário) ¤ ¤ Indiferença face às paixões e à dor Abdicação de lutar ¤ Autodisciplina ¤ Horacianismo : Carpe diem: vive o momento ¤ Aurea mediocritas: a felicidade possível no sossego do campo (proximidade de Caeiro) ¤ Paganismo : ¤ Crença nos Deuses Crença na civilização da Grécia ¤ Culto do Belo como forma de superar a efemeridade dos bens e a miséria da vida Intelectualização das emoções Medo da morte Características estilísticas Submissão da expressão ao conteúdo: a uma ideia perfeita corresponde a uma expressão perfeita Forma métrica: ode Estrofes regulares em verso decassilábico, alternadas ou não com hexassílabo Verso branco Recurso frequente à assonância (repetição de sons vocálicos), à rima interior, à aliteração (repetição de sons consontânticos), ao hibérbato (alteração da ordem natural das palavras) e ao eufemismo; por vezes também recorre a metáforas e comparações Predomínio da subordinação Uso frequente do gerúndio e do imperativo (na 1ª pessoa do plural, dando um certo tom moralista) Uso frequente de latinismos (insciente, vólucres, etc) Linguagem cheia de símbolos clássicos Estilo contruído com muito rigor e muito denso
O epicurismo
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Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio - sensação de que não podemos viver aquilo que não foi vivido (não podemos voltar atrás); passagem do tempo → angústia → fatalismo; conformismo (tudo é passageiro, nomeadamente o amor, que causa tanta perturbação) → desejo de uma passagem serena pela vida → viver o momento sem paixão → rejeição do apego às coisas intensas da vida → filosofia que resulta da disciplina da razão (coloca a razão acima das sensações); tonalidade nasal – ideia de arrastamento da tristeza (“pensemos”, “aprendamos”; “sossegadamente”) Ouvi contar que outrora, quando a Pérsia – encarar como inutilidade td o k faça sofrer; entrega epicurista ao instante (carpe diem); levar a vida sem competições inúteis; o xadrez é um símbolo: desprendimento, equilíbrio disciplinado, prazer moderado; aliterações, adjectivação, verbos expressivos gradações, anáforas, polissíndeto e assíndeto
O estoicismo e o fatalismo Da nossa semelhança com os deuses - três momentos (semelhança entre os mortais e os deuses - os humanos são como os deuses pk têm vida e ela é tão antiga como a dos deuses; necessidade de gerirmos nós a nossa existência com serenidade e paz - é inútil introduzirmos outro esforço k não seja vivermos e abusarmos de paz); submissão ao destino, tal como os deuses - os deuses são modelo para nós pk vivem em paz mesmo tendo o destino acima deles → aceitemos as coisas da vida pk é impossível mudar o destino; ter uma atitude de conformismo e autocontrole); linguagem erudita com latinismos; imperativo na 1ªpessoa do plural Só esta liberdade nos concedem - aceitação da nossa precariedade/efemeridade: não podemos comandar o destino; contrução da nossa vida apenas para a satisfação do momento; vida como imitação da dos deuses: submissão ao destino e busca da tranquilidade Prefiro rosas, meu amor, à Pátria - preferência das coisas naturais sobre as artificiais; rejeição de tudo o que não é natural, tudo o que é responsabilidade, tudo o que nos obriga a empenharmo-nos; a vida é para ser observada, não para ser vivida; ataraxia (ausência de perturbação); demissão, indiferença perante a vida
ÁLVARO DE CAMPOS Esforçou-se principalmente por sentir, em lúcida histeria, de acordo com os ritmos do mundo moderno – uma arte de sentir. Características temáticas 1ªfase (decadentismo) 2ª fase Futurismo : ¤ Elogio da civilização industrial e da técnica Ruptura com o subjectivismo da lírica tradiconal ¤ Atitude escandalosa: transgressão da moral estabelecida ¤ Sensacionismo : Vivência em excesso das emoções (“Sentir tudo de todas as maneiras” → afastamento de Caeiro) ¤ Sadismo e masoquismo ¤ Cantor lúcido do mundo moderno ¤ 3ª fase Pessimismo (reencontro com o ortónimo): Dissolução do “eu” Dor de pensar ¤ Conflito entre a realidade e o poeta ¤ ¤ Cansaço, tédio Angústia existencial, solidão ¤ Nostalgia da infância irremediavelmente perdida ¤ ¤
Características estilísticas Verso livre, em geral muito longo Mistura de níveis de língua Contruções nominais, infinitivas e gerundivas Assonâncias, onomatopeias, aliterações Enumerações excessivas, exclamações, interjeições, pontuação emotiva Metáforas ousadas, oxímoros, personificações, hipérboles, ironia Estrangeirismos, neologismos Estética não aristotélica na fase futurista – a ideia de beleza assenta na ideia de força Desvios sintácticos (“fera para a beleza de tudo isto”; “de todos os nervos dissecados fora”)
O Futurista – 2ª fase Ode Triunfal Vaidade e orgulho por poder conviver com aquilo que os antigos não conseguiram – poeta extasiado
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A fúria do exterior reflecte-se dentro de si e espalha-se por todas as suas sensações – é o que lhe permite escrever Humanização das máquinas (“Grandes trópicos humanos de ferro e fogo e força”) O presente é a concentração de todos os tempos: o presente existe pk houve passado e é o presente k permite k haja futuro Desejo de materialização, de funcionar como uma máquina pois elas funcionam sem sofrer, sem pensar Denúncia dos aspectos negativos da sociedade da civilização moderna: ócio, inutilidade, riqueza, luxo (dos k não trabalham), superficialidade e falta de sinceridade e isenção da imprensa, corrupção (política) Prazer obtido através das máquinas Agora devem ser exaltadas outras coisas k são tão belas como a natureza (“Um orçamento é tão natural como uma árvore”) Alucinação provocada por todo o movimento das máquinas Quebra abrupta no ritmo acelerado e esfusiante: ele pára para pensar, recordar a infância e constata a efemeridade da vida e as próprias mudanças que se operaram nele – infância é a idade da felicidade Termina com um grito de sensacionismo → anulação do eu → viver tudo de todas as maneiras, por toda a gente e em toda a parte Novo conceito de homem – insensível, livre e amoral Irregularidade estrófica, métrica e rítimica; u tilização de palavras agressivas; linguagem técnica; realidades antilíricas; muitas onomatopeias, apóstrofes e interjeições, enumerações, discurso caótico – recursos estilísticos em excesso
O pessimista – 3ª fase Lisbon revisited (1923) – campo disfórico, cansado, rejeitando até as ciências e a civilização moderna (opisção à ode triunfal); reclama o direito à solidão e à indiferença; evocação da infância como momento de felicidade k antecede a dor de pensar e a consciência – felicidade perdida; agressividade e incompatibilidade entre o eu e os outros (sente-se marginalizado, incompreendido, não há aceitação em relação àkilo k ele é); valorização de certos elementos através de maiúsculas, tal como Ricardo Reis; oxímoro; paganismo Dobrada à moda do Porto - sentimento de incomprensão; hostilidade dos outros em relação ao eu, descontentamento; “eu” com muitas carências afectivas mas conformado, aceitando o fatalismo de ser sempre o não desejado e o incompreendido (a vida não lhe trouxe nada de bom – veio “fria”); evocação da infância; metáforas, comprações, perguntas retóricas, antíteses, advérbios de modo e pontuação expressivos, contruções negativas, irregularidade formal,
Comparação entre AlbertoCaeiro e Ricardo Reis: A nível de conteúdo estes dois heterónimos aproxima-se principalmente pelo modo como tentam encarar a vida: tanto Caeiro como Reis, além de considerarem k a felicidade só se alcança através de uma vida serena e em comunhão com a naturesa (aurea mediocritas), defendem a vivência plena do presente, sem preocupação nem com o passado nem com o futuro (carpe diem, disfrutar de cada momento). No entanto, pode verificar-se k são grandes as diferenças entre eles. Enquanto k RR é caracterizado pela intelectualização das emoções e pelo medo perante a morte, A.Caeiro é exactamente o poeta das sensações, considerando o pensamento como uma entrave à observação da natureza, e é o poeta k não se preocupa com a passagem do tempo. Outra grande diferença é k A.Caeiro acredita (num só) Deus enquanto elemento da natureza (tudo é divino), ao passo k RR crêm em vários deuses pois identifica-se com a civilização grega. A nível formal estes dois heterónimos são o oposto: de um lado temos Caeiro com a sua linguagem simples e familiar, a sua despreocupação a nível fónico, a sua irregularidade estrófica, métrica e rítmica e as suas frases essencialmente coordenadas; e, de outro, temos RR com toda a sua compexidade – estrofes e métrica regualres, predomínio da subordinação e linguagem eru dita, cheia de simbolismos clássicos. Comparação entre Alberto Caeiro e Álvaro de Campos: Não é de estranhar k estes dois poetas não tenham muito em comum, uma vez k um é o poeta natural e pacífico, e o outro é o poeta da modernidade, da técnica e é caracterizado por um certa violência e agressividade. No entanto, apesar destes contrastes, têm algunsfactores em comum, considerando a 2ªfase de A. Campos: ambos são poeta solitários, rejeitam a subjectividade da lírica tradicional, tentando ser objectivos na observação do real, e neles predominam as sensações visuais. As maiores divergências, a nível temático, verificam-se na concepção do tempo (para Caeiro só existe o presente, para Campos o presente é a concentração de todos os tempos), no objecto da sua poesia (Caeiro exulta as qualidades da natureza e Campos, na 2ªfase, exulta as da civilização moderna), e na atitude perante a vida (enquanto k Caeiro é feliz, Campos – na 3ªfase – é um homem sem identidade e cansado de viver, pois a vida nunca lhe trouxe nada de bom). A nível formal, apesar de ambos se caracterizarem pela irregularidade estrófica, métrica e rítmica, verifica-se k, enquanto Caeiro utiliza uma linguagem simples e com poucos artifícios, Campos distingue-se pelo recurso a um grande número de figuras de estilo (k tornam a compreensão da mensagem mais difícil) e, por isso mesmo, por uma exiberância k choca evidentemente com a simplicidade e serenidade dos versos do mestre caeiro. Comparação entre Álvaro de Campos e Ricardo Reis: Álvaro de Campos foi um poeta k, pelo seu estilo eufórico e, mais tarde, disfórico, se afastou dos outros heterónimos, já k estes procuravam a serenidade, k Campos tb procurava, de uma forma mais tranquila. Assim, são poucas as semelhanças entre RR e Campos: tanto Canpos (na 3ªfase) como Reis se angustiam perante a efemeridade da vida, consideram a infância como momento de maior felicidade e aceitam o seu destino (conformismo). No entanto, neste último ponto, os motivos para essa aceitação são diferentes: enqt k Reis o aceita pois considera k essa é a melhor forma de ser feliz, Campos fá-lo numa atitude de resignação perante a vida, não deixando de se sentir infeliz por aquilo k ela lhe reservou. Aquilo k mais os distancia é a sua relação com a realidade – campos vive em eterno conflito com a
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humanidade e reis “dá-lhe conselhos” (através da 1ªpessoa do plural no imperativo) – e a solidão k caracteriza campos na 3ªfase. A nível formal tanto um como outro apresentam versos brancos, embora Reis seja regular a nível estrófico e métrico. Pode verificar-se k álvaro de campos, na 2ªfase, utiliza a ode como forma de expressão, tal como RR. Nestes dos heterónimos pode encontrar-se grande riqueza a nível estilísitco, nomeadamente no k respeita `assonância e aliteração, e uma utilização frequente do modo imperativo. No entanto, enqt k RR submete a expressão ao conteúdo, Campos valoriza mais a expressividade dos seus poemas, sendo k esta acaba por se sobrepôr ao seu conteúdo – ou acabar por resumir o último. Características comuns aos três: encontram-se, nos heterónimos, dois factores comuns a todos eles. Primeiro, a descoberta de um equilíbrio entre o sentir e o pensar: Caeiro encontra-se através da natureza; reis encontra-se através do equilíbrio entre a dor e o prazer; e campos não se encontra. Em segundo lugar, verificase k todos associam à infância o momento em k foram verdadeiramente felizes – porque ingénuos e inocentes. No entanto, enqt k reis e caeiro acreditam poder voltar a ser felizes como foram em criança, campos considera essa felicidade perdida, pois só é feliz feliz se for inconsciente, o k só aconteceu na sua infância, na préconsciência.
MENSAGEM Mensagem foi o único livro completo publicado em vida do poeta. É também uma obra de quase toda a sua vida: 21 de Julho de 1913 a 26 de Março de 1934. A obra tem este nome principalmente por razões simbólicas: no Livro Sexto de A Eneida, Anquises explica ao seu filho Eneias, que desceu aos infernos, o sistema do Universo. Pessoa, tal como Anquises, explica aos seus filhos espirituais – os portugueses – o sentido da sua pátria (“Mens ag [itat mol] em”: “o espírito move a massa”). Descida aos infernos da decadência, ela renascerá, como a Fénix, das cinzas e alcançará a etapa final da Perfeição. A Mensagem é uma obra lírica, épica, simbólica e mítica. Nela encontra-se claramente o idealismo platónico, reduzindo o mundo vísivel à cópia grosseira do mundo invisível; na terra “tduo é nocturno e confuso”, tudo são projecções, sombras – no outro mundo é que vivemos como almas. Assim, são as potências do invisível, o mito e a lenda que transformam a existência - mero vegetar - em vida – perseguição do Impossível, grandeza de alma insatisfeita. Foi o ser eterno, “a vida verdadeira” da pátria, o que o poeta tentou na sua poesia. Tal como pretendeu para si próprio e a sua vida. E foi uma certa e peculiar história de Portugal, aquela que ficou expressa na Mensagem, como uma criação mítico-poética. Aí também ele tentou captar um ser “para além do espaço e do tempo”: esse feito de sentido eterno e transcendente múltiplas vezes formulado na sua onra como ideal último a atingir. Estrutura: A estrutura da Mensagem, sendo a de um mito, numa teoria cíclica, transfigura e repete a história de uma pátria como o mito de um nascimento, vida e morte de um mundo (morte que será seguida de um renascimento). Está simbólicamente tripartida – Brasão, Mar Português e O Encoberto. Esta é, assim, uma obra simbólica. 1ªparte – Brasão (consituída por poemas que fazem referência a figuras e mitos que estão relacionados com a fundação e nascimento de Portugal) Os campos (2 poemas) • “O dos Castelos” •
“O das Quinas” Os castelos (7 poemas) “Ulisses” “Viriato” “O Conde D. Henrique” “D. Tareja” “D. Afonso Henriques”
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“D. João, o Primeiro” e “D. Filipa de Lencastre” As quinas (5 poemas) “D. Duarte, Rei de Portugal” “D. Fernando, Infante de Portugal” “D. Pedro, Regente de Portugal” “D. João, Infante de Portugal”
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D. Sebastião” A coroa (1 poema) “Nun’Álvares Pereira” O timbre (3 poemas) “A Cabeça do Grifo: O Infante D. Henrique” “Uma Asa do Grifo. D. Jão o Segundo” “A Outra Asa do Grigo: Afonso de Albuquerque”
2ªparte – Mar Português (corresponde à evocação de todas as proezas que possibilitaram a construção do império português) “O Infante” “”Horizonte”
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“Padrão” “O Mostrengo” “Epitáfio de Bartolomeu Dias” “Os Colombos” “Ocidente” “Fernão de Magalhães” “Ascenção de Vasco da Gama” “Mar Português” “A Última Nau” “Prece”
3ªparte – O Encoberto (esta parte é toda ela um fim, uma desintegração; mas também toda ela cheia de avisos e pressentimentos, de forças latentes prestes a ressurgir, que irão ser o motor para a construção do 5º Império, o império espiritual, que é aquele que a tudo resiste – para Pessoa) Os símboloas (5 poemas) • “D. Sebastião” “O Quinto Império” “O Desejado” “As Ilhas Afortunadas” •
“O Encoberto” Os avisos (3 poemas) “O Bandarra” “António Vieira”
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“Screvo o meu livro à beira-mágoa” Os tempos (5 poemas) “Noite” ”Tormenta” “Calma” “Antemanhã” “Nevoeiro”
Repare-se que o conjunto de poemas da Mensagem está agrupado intencionalmente em blocos de 2, 7, 1, 3 e 12, num total de 44 poemas. Pessoa tira assim partido do simbolismo do número três e dos seus múltiplos. De notar que o número um é reservado apenas para o poema “Nun’Álvares Pereira”, inserido sob o título de “A Coroa”; este caso assinala a importância concedida a este herói nacional, que se destacou na luta contra os castelhanos. Tal facto está de acordo com a simbologia desse número: a totalidade, a comunhão com o transcendente. Também os nomes dados a cada parte e alguns nomes referidos nos poemas são também simbólicos: • Brasão: o passado inalterável Campo: espaço de vida de de acção • Castelo: refúgio e segurança • Quinas: chagas de Cristo – dimensão espiritual • Coroa: perfeição e poder • Timbre: marca – sagração do herói para missão transcendente • Grifo: terra e céu – criação de uma obra terrestre e celeste • Mar: vida e morte; ponto de partida; reflexo do céu; princípio masculino • Terra: casa do homem; espelho do céu; paraíso mítico; princípio feminino • • Padrão: marco; sinal de presença; obra da civilização cristã Mostrengo: o desconhecido; as lendas do mar; os obstáculos a vencer • Nau: viagem; iniciação; aquisição de conhecimentos • Ilha: refúgio espiritual; espaço de conquista; recompensa do sacrifício • Noite: morte; tempo de inércia; tempo de germinação; certeza da vida • Manhã: luz; felicidade; vida; o novo mundo • Nevoeiro: indefinição; promessa de vida; força criadora; novo dia •
Os poemas: Ulisses (1ªparte – Os Castelos) (Ulisses, segundo a lenda, terá aportado no rio Tejo e aí fundado uma cidade com o seu nome. Olisipo=Lisboa) – sendo Ulisses o pai mítico dos portugueses, estes terão herdado as marcas genéticas daquele – são, pois, predestinados para as aventuras marítimas; o mito/sonho é imprescindível para a realidade: sem ele a vida não tem sentido D.Dinis (1ªparte – os Castelos) – visonário; importância da cultura na grandeza da nação: o Quinto Império será cultural; lança as sementes dos descobrimentos
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D. Fernando, Infante de Portugal (1ªparte – as Quinas) – Deus é o agente da história, o homem é o seu instrumento, para o bom e para o mau – o k importa é a acção, não o resultado (visão messeânica da história); D. Sebastião, Rei de Portugal (1ªparte – As Quinas) – é o sonho (loucura) k dá sentido à vida e à morte, é atrvés dele k se criam novos mundos; sem ideal, cai-se no viver materialista; apelo de alcance nacional e universal: pede aos seus destinatários k continuem a perseguir o sonho e a agir; O Infante (2ªparte ) – é a vontade de Deus (agente) e a sua escolha de um instrumento k desperta o sonho no homem e levam a k a obra se realize Mostrengo (2ªparte) – exaltação da coragem, audácia e capacidade de superar os medos, do povo português Mar Português (2ªparte) – os perigos, a dor, o sofrimento, os sacrifícios do povo português; atingir um objectivo implica sofrimento e a pátria justifica o sacrifício individual; simbolismo do céu – neste contexto, é a realização do sonho e da glória: o mar espelha o céu, quem conquistar o mar, conquista o céu = a glória Prece (2ªparte) – esperança num novo mundo, k ainda pode ser avivada; apelo para k a glória volte e os portugueses voltem a sonhar, este poema constitui o desenvolvimento do tema presente nos dois últimos versos do poema “O Infante” e faz a ligação à 3ª parte, pois é um apelo: ultrapassar o período de decadência e voltar aos tempos de glória O Quinto Império (3ªparte) – a insatisfação constante é o motor k conduz à felicidade, à realização; o sonho evita a mediocridade da vida e possibilita a grandeza da alma; passados os quatro impérios que a tradição estabeleceu surgirá o Quinto Império: a idade perfeita, a eterna luz, a paz universal; o advento do Quinto Império apenas se concretizará com o regresso de D.Sebastião; qual Fénix, fará surgir das cinzas o Império Universal, cuja cabeça será a pátria lusitana. Retoma o poema “O dos Castelos”, fortificando assim a unidade da obra Screvo meu livro à beira-mágoa (3ªparte – Os Avisos) – trizteza perante a situação do mundo; a crença na existência de D.Sebastião atenua o sofrimento do poeta, levando-o do desespero à esperança; o sonho pode concretizar-se no futuro, só é preciso k alguém o concretize; o sebastianismo é encarado como uma nova religião, k substituirá o cristianismo, trazendo a paz universal e afastando o mal e a infelicidade – o poeta é o seu profeta; Nevoeiro (3ªparte Os Tempos) – incerteza, indefenição, obscuridade, mas tb esperança/promessa de um novo dia → depois do nevoeiro vem a luz k permitirá encontrar o caminho certo para a glória, apelo para k todos lutem por um novo Portugal
Síntese da temática da Mensagem O mito é tudo: sem ele a realidade não existe, pois é dele que ela parte • Deus é o agente da história; ou seja, é ele quem tem as vontades; nós somos os seus instrumentos que • realizam a sua vontade. É assim que a obra nasce e se atinge a perfeição O sonho é aquilo que dá vida ao homem: sem ele a vida não tem sentido e limita-se à mediocridade • A verdadeira grandeza está na alma; É através do sonho e da vontade de lutar que se alcança a glória • Portugal encontra-se num estado de decadência. Por isso, é necessário voltar a sonhar, voltar a arriscar, • de modo a que se possa construír um outro império, um império que não se destrói, por não ser material: é o Quinto Império, o Império Civilizacional-Espiritual. D.Sebastião, além de ser o exemplo a seguir(pois deixa-se levar pela loucura/sonho), é também visto • como o salvador, aquele que trará de novo a glória ao povo português e que virá completar o sonho, cumprindo-se assim Portugal. Comparação entre Os Lusíadas e Mensagem: Semelhanças: concepção mística e missionária/missionante da história portuguesa, preocupação arquitectónica: ambas obedecem a um plano cuidadosamente elaborado, o reverso da vitória são as lágrimas. Diferenças: Os Lusíadas foram compostos no início do processo de dissolução do império e Mensagem publicada n a fase terminal de dissolução do império; Os Lusíadas têm um carácter predominantemente narrativo e pouco abstractizante, enqt k Mensagem tem um carácter menos narrativo e mais interpretativo e cerebral; no primeiro o Adamastor é sinónimo de lágrimas e mortes, sofrimento e audácia k as navegações exigiram, enqt k no segundo simboliza os medos e terrores vencidos pela ousadia; nos Lusíadas o tema é o real, o histórico, o factual (os acontecimentos, os lugares), em Mensagem o tema é a essência de portugal e a necessidade de cumprir uma missão; para Camões os deuses olímpicos regem os acidentes e as peripécias do real quotidiano, para Pessoa os deuses são superados pelo destino, k é força abstracta e inexorável; nos Lusíadas os heróis são pessoas com limitações prórprias da condição humana, mesmo se ajudados nos sonhos pela intervenção divina cristã ou pelos deuses do Olimpo, em Mensagem os heróis são mitificados e encarnam valores simbólcos, assumindo proporções gigantescas; Lusíadas: narrativa comentada da hist. de portugal, Mensagem: metafísica do ser portugês; Lusíadas: heróis e mitos k narram as grandezas passadas. Mensagem: heróis e mitos k exaltam as façanhas do passado em função de um desesperado apelo para grandezasa futuras; Lusíadas apontam para o passado e Mensagem aponta para o futuro, k é promessa, expectativa messiânica, visionação, o Quinto Império.
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MIGUEL TORGA Características temáticas A problemática religiosa: Indecisão face ao absoluto, ao divino, ao sagrado Negação da transcendência Negação de Deus e a obcessão da sua presença A revolta e o protesto; angústia e desespero Conflito entre o humano e o divino – revolta contra a transcendência divina, rejeitando Deus, pois não aceita a sua distância em relação aos homens e aos seus problemas O sentimento telúrico: «Fidelidade» à terra; a natureza é onde o poeta busca a plentitude, é nela que ele recarrega as forças Ligação da terra com o sagrado O sentimento institivo, sexual e mortal da vida – o Homem, numa aliança com a terra, tem a capacidade de estimular a criação (no entanto, há o reconhecimento da presença de um outro poder) O Homem deve ser capaz de se realizar no mundo, deve unir-se à terra, ser-lhe fiel para que a vida tenha sentido e o próprio sagrado se exprima. A terra é o lugar concreto e natural do Homem O desespero humanista: Actividade de médico evidencia os limites do homem – contacto com o sofrimento humano Amargura perante o encontro com os outros A consciência da grandeza trágica da nossa condição A solidão e o isolamento “um poeta não pode deixar de ser rebelde” – não deve pretender corresponder às expectativas do exterior, ele não pode ser o símbolo de nada O drama da criação poética: O artista é um insatisfeito A poesia é, para aqueles que decidiram viver sem Deus, a procura de uma coesão e de um sentido para a vida – a poesia é a religião do Homem
Caracterísiticas estilísiticas Irregularidade estrófica, métrica e rítmica Preocupação fónica – muitas aliterações Adjectivações, comparações e imagens Metáforas
A problemática religiosa Desfecho – revolta do humano face a um deus autoritário, impertinente, omnipresente mas silencioso k não resolve os seus problemas O sentimento telúrico S.Leonardo de Galafura – axaltação da beleza da terra, ao mostrar a vontade de um santo de continuar no cais humano; tristeza perante a morte; apelo para k se retenha tudo através dos sentidos e k se aproveite cada momento ao máximo (prolongamento do momento); mito de Anteu: Anteu era um gigante, filho de Neptuno e da Terra. Na luta contra Hércules, Anteu recuperava forças cada vez que tocava no solo, e era invencível. Então, Hércules ergeu-o nos braços e conseguiu dessa maneira eleminá-lo. Miguel Torga pode identificar-se com Anteu, na medida em que é na terra que recupera as suas forças e valoriza-a sobretudo como terra-mãe. Regresso – importância da terra natal para o sujeito poético – é nela k ele alcança a felicidade e se realiza plenamente; contraste entre o entusiasmo/vida na sua terra e a insatisfação/desencanto orivocada pelo “desterro”
O desespero humanista Orfeu rebelde - mito de Orfeu: Orfeu era um cantor e um músico maravilhoso. Os sons da sua lira domavam feras, que se deitavam a seus pés. Tendo sido sua mulher Eurídice sido mordida mortalmente por uma serpente, Orfeu desceu aos Infernos, habitação dos mortos, para a ir buscar. Com a doçura do seu canto obteve das divindades infernais a permissão, com a condição de não se voltar para trás enquanto não tivesse transposto os limites das sombras do Inferno. Tal não aconteceu e Orfeu nunca mais voltou a ver Eurídice; poeta como um rebelde k não aceita os limites k lhe são impostos e k os combate através da poesia (deixa a sua marca); o k interessa é a mensagem, não a forma/beleza do poema Dies irae – protesto contra um contexto onde falta a liberdade; o poeta é o porta-voz do contexto social;
SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN Características temáticas
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Os 4 elementos primordiais (Água, Ar, Fogo e T erra): Sophia mantém um relação priveligiada com estes quatro elementos pois acredita que é neles que está a plenitude e cabe ao poeta a função de descobri-la No jogo desses quatro elementos não só busca a beleza poética e o fascínio ou e meditação para celebrar a vida e td o que existe como manifestação do Absoluto, mas tenta o reencontro e a comunhão com o primitivo e a verdade das origens. É na natureza e, de forma priveligiada, no mar, que procura a base estrutural da perfeição e da harmonia. É no mar que encontra os seus símbolos mais autênticos e a sua respiração vital. O mar é o símbolo da vida e da morte. As águas em movimento mostram a dinâmica da vida. e no mar escondem-se os segredos mais profundos do ser e do mundo. A águe é a alegoria da nossa existência. A criação poética: “a poesia é a minha convivência com o mundo; é ela que me faz viver e através dela retrato o mundo real, o meu mundo”; a poesia é a sua convivência/intimidade com o rela, especialmente com a natureza a poesia é a forma de estabelecer uma relação com o universo, com as coisas concretas e com as pessoas concretas. Por isso, ela surge naturalmente e provém da interiorização do mundo concreto a sua arte é um serviço que presta, uma doação, uma entrega total. A sua arte é um canto mágico que fecunda o mundo, procurando a alma, o tal “suplemento de alma” que lhe falta; a missão do poeta é clarificar o mundo em que vive A natureza ou a “religião do real” a natureza dá-lhe a plentitude que a religião também pode dar ela nomeia as coisas como forma de restituir aos objectos a sua pureza primitiva, a sua realidade concreta e precisa. Por isso, os textos não descrevem apenas, mas evocam paisagens, fazem emergir a plenitude secreta que as habita ao poeta cabe a missão de restabelecer a aliança com a natureza, as coisas e os homens No tempo dividido é o tempo em que o homem não se realiza; aponta para todos os limites da condição humana, que são impostos ao homem e tb pelo homem (a exploração, a hipocrisia,...). é tempo de tomada de consiência, apontando para a saída de um tempo dividido; essa missão cabe ao poeta – deve colocar a sua poesia ao serviço de denúncia dessa ausència de valores poema é, assim, uma arma de denúncia e de compromisso com o seu tempo (um tempo dividido, de hipocrisia, injustiça, corrupção, calculismo,...); o tempo absoluto é o da plenitude do homem onde há valores, onde há justiça A Grécia – tempo de unidade a reconversão da civilização far-se-à na recuperação da “luz de Creta”, no reencontro com o mundo grego mais perfeito; assim, essa “luz de Creta” surge em sophia como um caminho para alcançar a perfeição, pois é o que permite ao homem fazer a sua renovação o homem virtuoso surgirá da junção das duas civilizações: a cristã e a grega. Nessa altura haverá um tempo de unidade, de perfeição
Características estilísticas ausência de pontuação (expressa um desejo de liberdade) irregularidade estrófica, métrica e rítmica (poema completamente livre) musicalidade, com muitas aliterações metáforas, anáforas, comparações, sinestesia (ex: “o cheiro da terra era fundo e amargo”), adjectivação, assíndeto, inversão e hipálage (transposição de uma qualidade de um substantivo para outro com o qual não tem ligação directa)
Símbolos os templos clássicos → equilíbrio e perfeição a luz → fim das trevas e do caos; harmonia, encontro do mundo a água → pureza; símbolo da vida e da sua dinâmica a água da fonte → princípio de todas as coisas; alegoria da nossa existência a nudez do corpo → beleza artística, exacta, verdadeira e autêntica A criação poética Poema – o poeta é um escutador do real, k interioriza o mundo exterior; a vida vai-se construido à medida k vai vendo e descobrindo a plenitude nos quatro elementos primordiais; ausência de pensamento, limita-se às sensações; O poema – a poesia trasmite calma e permite o reencontro com as origens e superar a solidão; poeta tem a missão de clarificar o mundo em k vive; infância como tempo de tranquilidade Quando - infância profundamente ligada à Natureza; Natureza → beleza, perfeição e eternidade; eu não sou importante, o que será importante é a minha poesia e a eternidade da Natureza (que a minha poesia transmite) - Só através da poesia serei importante
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A natureza ou a “religião do real” Paisagem – natureza como fonte de plenitude e de força – comunhão com esta; cada ser é um portador de essencialidade Casa Branca – as origens como fonte de vida: longe/fora delas só há sofrimento, infelicidade e desencanto pela vida; expressa a necessidade de voltar para viver – o k fico intacto é k é, para o sujeito poético, a perfeição, a harmonia
No tempo dividido Porque - o poeta deve denunciar a ausência de valores da sociedade; a mensagem básica é a marginalizaçãi de kem é coerente (uma minoria) e procura a justiça e a verdade, e o apelo à necessidade de denunciar os “podres” da sociedade A Grécia – tempo de unidade Ressurgiremos - a palavra-chave deste texto é Ressurgiremos – um futuro que contém toda uma mensagem de esperança no reencontro com a pureza da civilização grega primitiva, herdeira da de Creta; homem só se renovará quando encontrar a “luz de Creta” e, nessa altura, surgirá um tempo absoluto, de unidade APARIÇÃO Aparição é um romance-ensaio/problema - pois tem como objectivo fundamental pôr um problema, fazer interrogações - e um romance-personagem - há uma persongem que está no centro de toda a obra (Alberto) à volta da qual tudo e todos gravitam. Pode então descobrir-se uma intriga muito mais sofisticada e profunda que consiste no combate que a personagem-narrador tem de travar para vencer determinados condicionalismos, limitações e contradições até ao desnudamento de si próprio, nos limites do possível. O narrador não se apresenta como individualidade pura, mas como modelo do ser humano. “O Eu de que me ocupo é mais profundo do que o Eu que fala de si. É um Eu que diz respeito a todos os homens.” (pois todos temos presentes na nossa vida, de uma forma ou de outra, a problemática da morte e da existência de Deus). Aparição é um romance nocturno: os grandes acontecimentos dão-se sempre à noite, o que remete para o intimismo, o secretismo e a reflexão. Por outro lado, todos estes acontecimentos são acompanhados pela natureza (a tempestade no dia em que Carolino tenta matar Alberto, ou a beleza desta quando se prepara para receber Cristina) O romance Aparição situa-se dentro da corrente filosófica do existencialismo. Este é um humanismo enquanto liberta o homem dos tabus, sobretudo religiosos, e propõe a construção do homem a partir de si próprio – cabe ao homem construír a sua própria vida, através dos actos; o homem vai sendo e o mundo das coisas e das ideias só existe através dele. “O que pretendi exprimir em Aparição foi a necessidade, para uma realização total do homem, de ele se redescobrir a si próprio, não nos limites de uma estreita «individualização», mas no da sua «condição humana». Há que reconhecer o que somos e reabsorver em plenitude o que se transpôs outrora a uma dimensão divina em que já não acreditamos.” . O Homem necessita de criar uma plentitude, uma consciência, uma responsabilização. Em Aparição há um eu-narrador (narrador-autor), distante dos acontecimentos que narra, e um narradorpersonagem, auto (qd ele é a personagem principal e é ele q narra os acontecimentos) e homodiegético (qd é ele o ouvinte). O narrador-personagem movimenta-se no tempo da diegese: os acontecimentos passados cerca de vinte anos antes, de Setembro a Junho, numa época em que leccionou no Liceu de Évora, acontecimentos que ocupam os 25 capítulos da obra. O narrador-autor move-se num tempo posterior aos acontecimentos narrados e num espaço bem determinado: um casarão herdado, na aldeia. Terá sido a sala vazia e silenciosa (a que o narrador se refere tanto no prólogo como no epílogo), evocadora dos acontecimentos da sua infância e juventude, que desencadeou o processo da narração, favorecido pela noite de luar quente de Verão. O processo da escrita irá prolongar-se por cerca de nove meses, traçando um percurso paralelo às peripécias da diegese, coincidindo muitas vezes o tempo da escrita com o tempo da história (Verão, Primavera. Páscoa e Feira de S. João – tds tmps evocados em ambos os tempos).
A estrutura O romance inicia-se com um prólogo escrito em itálico, no qual o narrador se apresenta no acto da escrita, provovado pela necessidade de evocar factos passados que ficaram gravados na sua memória. Neste texto são referidos os principais temas da diegese, que re cria um passado distante de cerca de vinte anos, ocupando a duração de um ano lectivo, no Liceu de Évora, e um outro passado mais distante que desce até à infância do narrador, abrangendo factos familiares. A obra termina com um epílogo (conclusão), dividido ele mesmo em quatro aprtes: as duas primeiras dizem respeito à h istória narrada durante o ano lectivo: a terceira parte contém informações de caractér autobiográfico e familiar; a última retoma circularmente o prólogo. Esta circularidade, que se regista diversas vezes ao longo do romance, contém um valor simbólico de não só simbolizar o que o autor chama de tom do romance, mas ainda corporizar o mito do eterno retorno, a nunca consumada resposta às inquietações existenciais. A um outro nível, esta circularidade pode representar a existência humana como um círculo: nascimento, vida e morte A acção Aparição oferece-nos uma matéria diegética emocionalmente ligada ao narrador naquilo que o marcou, no combate que travou consigo e com os outros. Esta matéria prende-se a dois espaços e a dois tempos: a cidade de Évora no ano lectivo em que o narrador ensinou no liceu e a aldeia natal, na montanha, onde nasceu, foi educado e inciou o seu percurso existencial conflituoso. Distingue-se então uma acção principal (a narração dos factos que decorrem em Évora – é a diegese propriamente dita) e uma acção secundária (que tem lugar na montanha, e se baseia numa infância relembrada, na evocação do passado mais distante). Tudo se passa à
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volta de duas famílias: a do Dr. Álvaro Soares e D. Susana Soares e seus filhos Tomás, Alberto e Evaristo; e a do Dr. Moura e da Madame Moura e as suas filhas Ana, Sofia e Cristina. A disposição tripartida ou o número três está presente na estruturação da obra. Ambos os casais têm três filhos, o ano lectivo tem três períodos, o narrador estabelece relações especiais com três personagens (Ana, Sofia e Carolino), a existência de três momentos fulcrais: nascimento, vida e morte. Pode-se visualizar a presença destas duas acções numa linha horizontal, em que se notam os capítulos e a extensão das acções. Verifica-se que a referência à aldeia vai diminuindo à medida que os eventos na cidade são mais intensos.
A tragédia Este romance vai tendo, no seu desenrolar, claros indícios de tragédia, sendo que desde o princípio se anuncia um fim trágico, e a sua estrutura tem também caracterísiticas de tragédia, como seja o facto de haver um conflito interior da personagem principal. Assim, Alberto encarna o papel do Destino, elemento essencial da tragédia. É ele quem vai despertar as consciências adormecidas ou esquecidas, lançando-lhes a semente da interrogação e da angústia. Ele próprio torna-se uma vítma de si mesmo, pois não consegue alcançar a paz consigo próprio e com os outros. Alberto desafia Deus ao abandoná-lo e ao querer substituí-lo, procurando alcançar a sabedoria total sobre si mesmo e sobre os outros. Mais, interpreta-se como o messias, dizendo-se portador de uma extraordinária notícia (a necessidade de ver para ser, para o homem se poder construír). Por isso, terá que ser pundio, como foi Prometeu quando roubou o fogo do Olimpo e com ele fabricou seres humanos ou como foram Adão e Eva ao quererem ser como Deus. Sofia desafia tudo e todos, as leis da vida e da morte. Os seus comportamentos revelam tratar-se de uma personagem possuída de grande loucura, indiferente às aflições da família e com tentativas de suicídio. Terá que pagar pelo seu atrevido desafio. Carolino é, desde logo, apresentado como louco que decide substituir-se aos deuses e agir em seu lugar. Todas estas personagens sofrem o peso do seu desafio, das suas inquietações,das suas angústias. Herói Hybris (o desafio) Pathos (o sofrimento) Agon (o conflito) Anaké Coro Katastrophé
Alberto: personagem nobre; Sofia: personagem nobre; Carolino: o duplo de Alberto Soares Alberto desafia Deus e os outros; Sofia desafia tudo e todos; Carolino desafia Deus Alberto, Sofia e Carolino sofrem As três personagens combatem os deuses e os homens, vivem um profundo conflito interior A presença do Destino é sistematicamente referida. Até Cristina, inocente, é vitima do mesmo Destino As reflexões contínuas fazem o papel de moderador Os acontecimentos levam à morte de Cristina (vítima inocente), de Sofia e de Carolino.
Personagens 1. Personagens ligadas ao espaço de Évora: Alberto Soares 1ªfase (infância) – educação na moral tradicional e na religião familiar; protegido pela família e pelo • ambiente rural; crente por influência familiar e social 2ªfase (a 1ª crise: da imagem do espelho à imagem do pai morto) – rejeita os comportamentos • tradicionais; inicia as interrogações existenciais; começa a construír a sua existência a partir de si próprio, afastando-se de Deus; a morte do pai reaviva momentos apaziguadores da infância mas provoca ainda mais interrogações; o mistério da morte incomoda-o, não encontrando explicação lógica 3ªfase (Alberto face a Évora e aos outros) – diz-se messeanicamente portador de uma extraordinária • notícia: revolucionar o mundo com a descoberta de que o homem se constrói na negação de Deus e na afirmação de si próprio; é rejeitado e considerado cobarde; torna-se num ser angustiado pk não tem respostas para os problemas que levanta; a aldeia da infância vai progressivamente desaparecendo, dando lugar ao espaço citadino; não faz apóstolos: Carolino deturpa a sua mensagem e volta-se contra ele; Sofia, sua cúmplice, volta-se contra ele; Ana enfrenta-o seguramente e desmonta os seus equívocos tornando-se a sua mais forte oponente; continua a perguntar-se “Quem sou eu” e apenas se sente consolado na música de Cristina, música que o faz rezar e deixa transparecer k não é tão descrente como afirma; não se deixa abater pelo facto da sua mensagem ter falhado e continua a defender a filosofia existencialista 4ªfase (Alberto no presente da escrita) – ree ncontrado o lugar original a sua aldeia, relembra o passado; • parece ter-se encontrado na paz da montanha, na luz da lua e na música de Cristina, embora persistam algumas interrogações; sente que alguém o chama para a eterna comunhão Sofia 1ªfase (até conhecer Alberto) – criança muito difícil; desafia tudo e todos, desaparecendo de casa; • desafia a vida, tentando o suicídio; beleza demoníaca, excepcional • 2ªfase (após o conhecimento de Alberto) – conhece imediatamente a grande notícia de que o narrador diz ser portador; semelhante a Alberto nas suas inquietações; consegue dar voz às mesmas, enquanto k alberto se cala; é o grito revoltado; ajuda à revelação existencial do narrador, atraindo-o (através do relacionamento com ela alberto procura descobrir-se); portadora de um destino de tragédia • 3ªfase (aoós o conhecimento do Carolino) – continua a loucura, sendo k a loucura de Carolino atrai a de Sofia; afirma a sua liberdade face à pressão de Alberto; é o centro de atenção de todos e sente um prazer demoníaco em se mostrar superior; evidencia a solidão e a angústia de Alberto Carolino • 1ªfase (o aluno de Alberto) – é influenciado pela “pregação” do mestre; traz a marca da loucura; tinha olhos azuis (aguado), com uma lucidez serena; “mastiga as palavras”, isto é, terá descoberto o valor da
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palavra no que pode representar da descoberta de si próprio e dos outros; identifica-se c/ o mestra na tentativa de descobrir a sua própria condição 2ªfase (o “duplo” de Alberto) – alberto sente a força da loucura e da violência, mas não a realiza senão • atravé de Carolino; Sofia fixa Carolino como o “duplo” de Alberto; tem a mesma violência libidinosa de Alberto 3ªfase (a ciratura ultrapassa o criador) – alberto despertou em Carolino forças adormecidas, fazendo-o • acreditar-se como um deus; carolino cria um pacto secreto com sofia; albereto comçea a ver em carolino um inimigo; carolino serve-se da sua força para tentar matar quem o “croi”, um pouco como alberto fizera com os deuses da sua infância; carolino assassina sofia, afirmando a força da sua loucura, avivada por alberto Ana 1ªfase (a mulher k enfrenta alberto) – resiste à notícia de que alberto se diz portador; compreende de • imediato que alberto é um ser cheio de contradioções e angústias; alberto sente-se atraído pela grandeza desta mulher; ana questiona alberto, embora tenha também grandes problemas; tem de comum com alberto o facto de ter abandonado a fé; alberto identifica-se com ana pela sua ambiguidade: aparente/ é tranquilo e carinhoso mas por vezes revela-se violento e agressivo. • 2ªfase (a mulher k regressa “loucura” e k reencontra a paz e a serendiade) – é portadora de uma sabedoria k seduz o narrador; o “gato preto” que a acompanha parece indicar o sentido de defesa sa sua dona contra a notícia de alberto; a morte de cristina, que era a sua confidente, ilumina-a e descobre o sentido da vida e da morte; reintegra-se na fé inicial e faz parte de um mundo diferente, afastando-se de alberto Cristina • 1ªfase (antes da morte) – criança admirável, fazendo parte da galeria (romântica) de personagens míticas, k nem parecem deste mundo; ela e a sua música revelam um mundo maravilhoso de harmonia, k se contrapõe ao mundo conturbado das outras personagens, o seu nome sstá ligado ao natal: Cristina – Cristo; ela é a inocência da montanha oposta ao pecado da cidade • 2ªfase (a sua morte) – morre fora da cidade, no campo, o espaço digno para a acolher; ana transporta-a ao colo a caminho do hospital: unidas na vida, unidas na morte; com a sua morte inicia-se a catástrofe • 3ªfase (cristina na memória) – continua viva na mem´roa de todos, sobretudo na de alberto; a sua música ultrapassa os limites terrenos e faz-se ouvir no silêncio da montanha; subjugado pela força mágica e pela imagem idílica de Cristina, alberto como k reza, embora não seja crente; a música de cristina permite atingir o absoluto As restantes personagens são planas (não têm alterações de comportamento) e representam estratos sociais, entidades colectivas ou dimensões profissionais: Alfredo Cerqueira – o homem ligado à sabedoria da terra Dr. Moura – o homem crente, de prática religiosa tradiocional, o médico afável, velho patriarca Chico – o engenhiero, agressivo, intelectual medíocre, voz acusadora do vazio da cidade, oponente de alberto Manuel Pateta – personagem típica de Évora, caricatural e, como o nome indica, patético Sr. Machado – dono de uma poensão, moralista barato, alvo de chacota da cidade Reitor – o típico cumpridor do regulamento, defensor da moral tradicional, representante de um certo estatuto cultural. A ausência do nome é significativa, pois para o existencialista os nomes é o que dá vida à pessoa e a identifica Os ceifeiros – explorados As criadas – prolongamento daqueles k servem Bailote – representante dos trabalhadores k a sociedade, dps de usar deles e abusar, rejeita. Nele, todavia, revela-se a problemática existencial do homem, face ao destino, face a si próprio e face à morte 2. Personagens ligadas ao espaço da aldeia (Beira) Álvaro Soares (pai de Alberto) – tolerante e possuidor de uma serena sabedoria; encaminhou o filho na escolha da profissão; é o seu protector em momentos de angústia existencial, qd a pergunta fundamental se levanta (“quem sou eu?”); morre repentinamente, provocando no filho um caudal de interrogações sobre a vida e a morte Tomás – homem discreto, acolhedor, ligado totalmente à terra-mãe; irmão preferido de alberto, com quem este gostava de dialogar, mas d kem tinha inveja, pois este já tinha encontrado o sentido para a sua existência; homem reconciliado com a via e com a morte Evaristo – extrovertido, ousado e inconveniente; certa animosidade contra alberto, a quem chama “monge”; alberto tb n gosta dele por este ser espalhafatoso e extremamente volúvel (inconstante, influenciável); materialista Susana (mãe de alberto) – mulher calma, discreta e submissa; mulher realizada como mãe e como esposa; acabou por se resignar numa vida solitária, encerrada na casa da sua solidão, detentora de perfeita sabedoria sobre a morte Tia Dulce – compreensiva para com alberto; o seu álbum evocará em alberto o tempo quente da memória; contou as histótia k alimentou a fantasia da criança alberto e, por isso, nunca mais se lhe apagará da memória; identificação de alberto com a tia por terem o mesmo “problema” – o fascínio do tempo: milagre da vida vs absurdo da morte.
O narrador O narrador é autodiegético na maior parte da história que narra, isto é, conta, na primeira pessoa, uma história de que é personagem principal; é, em pequenos momentos, homodiegético, quando outro narrador se instala e o primeiro e principal escuta a narração. É o caso da história do Baiolote, contada pelo mesmo ao Dr. Moura e ouvida tb por Alberto. Alberto apoia-se na memória, contando os factos que, pela sua importância quanto ao tema da obra – harmonizar a vida com a morte -, aí ficaram gravados. O seu ponto de vista é spr muito subjectivo: recria o passado debaixo de uma forte tensão emocional pq revive os acontecimentos de que foi protagonista e que o iluminaram. Mesmo o que conta de outras personagens fá-lo spr relacionando-o com as suas inquietações e emoções.
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O narrador é simultaneamente protagonista e escritor. Como escritor interpela as personagens da diegese e reflectir, por exemplo, sobre o poder das palavras (“Estamos condenados a pensar com palavras, a sentir em palavras, se queremos pelo menos que os outros sintam connosco. Mas as palavras são pedras.”). Odeia os que usam as palavras feitas e não lhe sabem o sentido ou não o reinventam, como se pode ler na parte final do prólogo. Propõe ainda uma outra forma de comunicação: a da arte - a música de Cristina reintroduz o narrador em momentos de plenitude. Como escritor, explica ainda por que e para que escreve. Escrever é para Vergílio Ferreira um acto vital, não podendo existir sem essa actividade; os mesmo acontece com Alberto Soares: escreve para ser, para não deixar desaparecer os momentos de aparição e para se esclarecer.
O espaço Évora: é uma cidade mitificada, irreal, aberta à capacidade poética da “aparição; é um espaço ideal para a procura do eu e para o encontro consigo próprio. É uma cidade que, vista de noite, aparece como lugar de acumulação de séculos, uma cidade branca, uma “cidade-eremida” (ligada ao sagrado), que “abre horizontes até ao limiar da memória”. O “eu”, que a vê numa situação de angústia, encontra nela o “espelho” de si mesmo, pois ela é labiríntica, o que se identifica com o estado de espírito do “eu”. É a cidade labirinto, tal como labirinto é o símbolo das inquietações e insatisfações das personagens principais. Évora surge-nos como uma cidade mística, carregada da ideia de morte (“èvora mortuária, encruzilhada de raças, ossuário dos séculos e dos sonhos dos homens”) e associada à ideia de solidão, pois as suas muralhas isolam a s pessoas do mundo (“Criar relações em Évora era um milagre. Tudo ali tinha muralhas: a sociabilidade, os jardins e, enfim, a própria cidade. Mas de vez em quando aquela gente ía a Lisboa. E então era vê-la desabafar”). Templo de Diana: cultura literária, mitologia, presença dos romanos • A estátua de Florbela Espanca: escritora trágica, irmã da planície e da angústia do eu narrador, que • várias vezes a visita A Sé de Évora: lugar do sagrado, do encontro com Deus • A casa do Alto: o “templo” de alberto (como lhe viria a chamar ana), espaço de reflexão, de isolamento, • de reencontro consigo e com os outros; espaço do conflito da angústia A planície e Bailote: exploração social, angústia de viver, vida sem sentido, o absurdo da morte • A planície e Sofia: a tragicidadade, a explosão da vida, a inquietação metafísica • A montanha: o narrador mitifica a montanha, como um espaço de liberdade, de iluminação, de pureza, de algo que dura (é imutável) e faz pensar, de algo que transmite serenidade e tranquilidade, mas que tem a característica da transcendência. Não importa ler literalmente a descrição, mas o que nela se projecta ou o que dela emerge: o mistério da vida.
O tempo (qt ao tmp da escrita e da história, estes já são referidos logo no princípio) Tempo do discurso: a obra começa com um prólogo e termina com um epílogo, onde se repete a mesma afirmação que no princípio (“Sento-me nesta sala vazia e relembro”). A narração processa-se entre estes dois marcos. Por isso, o processo técnico utilizado é a analepse: o narrador conta o que aconteceu num passado mais ou menos distante, a partir de um presente. Dentro da analepse global há outras analepses, antecipações ou prolepeses, pausas ou catálises, estas para dar lugar a refexões/evocações. Podemos falar ainda do tempo da distância, que permite ao narrador não só relatar mas sobretudo fazer reflexões constantes (verifica-se que, mts vezes, que só no acto da escrita é k o narrador “digere” aquilo k lhe aconteceu), mostrar como os acontecimentos o iluminaram e iluminaram os outros. Existe tb o tempo da memória, que aparece sobretudo ligado à morte do pai, mas k ocupa td a obra, pois td ela é narrada com o auxílio da memória.
A linguagem O discurso de Aparição é heterogéneo: narração, descrição, reflexão, monólogo directo e indirecto, prosa poética e linguagem simbólica. O seu discurso é rico: no uso do substantivo - dominam os substantivos ligados ao campo semântico da “aparição”: revelação, • iluminação, milagre, alarme, sonho, fulgor, anunciação, etc no dos verbos k correspondem aos substantivos referidos – são frequentes os verbos olhar, ver, lembrar • e relembrar no uso do adjectivo – através deste o narrador cria as mais diversas associações, desde emocionais e • reflexivas até às impressionistas, como “silêncio duro, “lua verde”, e irónicas como “riso idiota e babado”. no uso do advérbio – destaca-se o advérbio k está ligado à surpresa da aparição: subitamente, • inesperadamente, bruscamente,etc nos tipos de frase exclamativa e interrogativa – o narrador-personagem exclama para manifestar • entusiasmo e surpresa perante aparições ou indignação e angústia perante a sua solidão e frustração, arrastando com a sua a voz das personagens mais modeladas nos vocativos – o narrador interpela-se ou interpela os outros directamente ou no tempo da memória, • estabelecendo, deste modo, uma comunicação muito viva no uso de figuras de estilo – a personificação transmite-nos a ideia de k a natureza é sempre animada; a • comparação, a metáfora e a imagem conferem às palavras associações inesperadas; a sinestesia e a hipálage estão ligadas a notações impressionistas Elementos simbólicos • A montanha – símbolo da trasncendência (faz a união do céu e da terra), da solidão, do encontro connosco; aparece, nesta obra, quer ligada à infância, idade de ouro, quer à revelação, à paz, à ausência de conflitos. É a ela que o narrador regressa, que nas férias, quer após o fim da sua carreira de professor. A planície – é o símbolo do espaço terrestre ilimitado; na obra pode ligar-se tanto a um espaço de • realização da totalidade do ser humano, desligado da relação com o transcendente, como pode simbolizar a vida e a morte, as infindas inquietações do homem existencialista; ela é trágica, como trágica e absurda é a
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morte; a montanha e a planície têm muitas afinidades, ambos são espaços abertos à aparição, à revelação e à iluminação. O sol – é o símbolo da vida e da morte: vida, pois sem luz não há vida, morte pois, por vezes, é • destruidor, criando a seca mortífera; alberto identifica o seu percurso ao do sol: da noite ao dia, da descida aos infernos da angústia à luz do dia; é tb símbolo de ressurreição e imortalidade e, por isso, centro espiritual primordial; o sol é o espírito, o conhecimento directo, activo, imediato A lua – simbolizando o femenino, é sinal de renovação e crescimento; tendo várias e sucessivas fases, • simboliza o tempo, desaparecendo três dias em cada mês lunar e reaparecendo dps em td o seu esplendor, simboliza a passagem da vida à morte e da morte à vida, reflecte a luz do sol; a lua está tb ligada ao mistério e à noite, ao secretismo A noite – é uma espécie de prisão, de imobilidade, tempo favorável à interrogação; ligada à morte e à • solidão (a morte é a noite sem fim); relaciona-se com os lugares de origem, aos quais se regressa dps d uma ausência mais ou menos prolongada • A chuva – símbolo da fecundação da terra e da iluminação do espírito; no contexto de “Aparição” a chuva abre o presente e o passado, fertilizando a memória. A chuva é aparição, revelação. Por isso, alberto gosta de andar à chuva, de cabeça descoberta, deixando k a água o banhe e o inunde de revelação A neve – simboliza a pureza, a plenitude, opondo-se à sujidade do quotidiano dos homens; destruindo • determinados seres malignos, derretendo-se em água, abre terra à renovação, cobre o velho mundo para k um novo surja; a neve é do inverno, estação k contém em gérmen o futuro radioso; neve e noite=vida; neve e sol=esterilidade O fogo – o simbolismo do fogo é a purificação e a regeneração; a purificação pelo fogo é complementar • da purificação pela água, o fogo queima e destrói, purifica e regenera; a Cidade Nova k alberto quer construír é-lhe sugerida pela visão da queimada (recomeço) A música – é uma forma priveligiada de atingir a perfeição; a perfeição seria o fim as inquietações e o • apaziguamento total. É essa a função mediadora da arte e consequentemente da música – em aparição os coros de Natal e a música de Cristina cumprem essa função; a música apela para um mundo novo, de ahrmonia e paz; o canto de sofia e o coro dos ceifeiros inquietam pk têm algo de trágico – quem os escuta não pode ficar indiferente O espelho – símbolo da revelação e da consciência; quando bem limpo representa a harmonia, a • sabedoria e o conhecimento; quando sujo simboliza a separação e a ignorância; nas várias religiões está tb ligado à manifestação de Deus no mundo e nas pessoas As duas palmeiras (“Em frente havia um jardim cercado de um alto muro (...) duas palmeiras explodiam • no céu como granadas”) – no contexto, representam as duas irmãs: Ana e Sofia, dois seres problemáticos, cheios de interrogações que “explodiam” a todo o instante Ana – no 1ºlivro de Samuel, ana era uma mulher estéril, ausada injustamente de pecadora; Deus teve • misericórida dela e tornou-a fecunda; o nome é tb habitualmente identificado com a mãe de Nossa Senhora; aponta para o aspecto maternal e para o saber ancestral Sofia – nome que significa sabedoria, ciência. Casa bem com uma personagem dotada de grande • conhecimento, poder de descoberta e de inquietação, embora usado para a destruição de si e dos outros Cristina – o nome vem de cristo, o salvador; cristina e a sua música, única forma de comunicação, • tornam-se salvadoras: de Ana, após a morte, do narrador, desde sempre
Conclusão Na sua acção de despertar consciências, alberto escolherá aqueles que naturalmente pertencem ao seu pequeno círculo de relações. Depois de chico, a sua atenção prender-se-á sobretudo em três personagens: sofia, carolino e ana. Mas alberto fracassará na sua tentativa de comunicar a aprendizagem da descoberta do que é fundamental para o homem, por várias razões: Em primeiro lugar, podemos considerar aquelas que derivam de uma mentalidade do senso comum, • dominada pelos costumes. Para aqueles cuja vida é determinada pela utilidade imediata, ou que se esgota nas formas de estar e pensar correntes, não questões existenciais e metafísicas que os preocupam. São exempçlo disso o dr. Moura e o reitor Quando alberto se decide a assumir a sua missão “profética”, espalhar a sua boa nova depois do suicídio • de baiolote, é Chico quem ele vai procurar, pq ele era a única personagem k parecia reunir algumas condições para compartilhar da revolução metafísica do jovem professor: era alguém empenhado na dinâmica cultural de Évora. No entanto, chico revela-se o principal oponente de alberto, pois a sua principal preocupação é a da sobrevivência. Na óptica de alberto, trata-se de uma solução parcial para o homem (se, por hipótese, se resolvessem de vez os problemas de base económica e social, a resposta para as grandes questões existenciais continuaria em branco. A Vida, no seu valor mais alto, continuaria à espera de ser “conquistada”). Por isso, a mensagem tb não “passa” por chico, pois ele vê em alberto um perigoso sonhador, um “mórbido” idealista, chegando mesmo a responsabilizá-lo por todos os acontecimentos da tragédia. Anulada tb a hipótese de poder comunicar com chico, resta a alberto um grupo de personagens que será • verdadeira/ afectado por ele: sofia, carolino e ana. Têm em comum o facto de a descoberta fundamental comunicada pelo narrador-personagem constituir algo para o qual já estavam predispostas. E sofia já sabia. O que faltava era, no fundo, a linguagem, a palavra, para que pudesse explicitar o encontro que tinha tido consigo mesma. Com estas três personagens tudo parece encaminhar-se para um desejada partilha: carolino entende bem a mensagem do professor e ana compreende as inquietações deste quando o conhece. Mas o desenrolar dos acontecimentos vem mostrar a impossibilidade de comunicação (comunhão). Quanto a ana, é dps da morte de cristina k resove a sua inquietação com o retorno à sua crença, à fé. Assim, afasta-se de alberto pois, ao solucionar a sua inquietação pelo “refúgio” numa atitude religiosa institucionalizada (na igreja) ela assume apenas uma solução parcial Carolino leva a mensagem de alberto para uma direcção oposta. O jovem aluno acaba por olhar o poder de “criar” a morte (de matar) como uma resposta ao acto divino de fundar a Vida...o jovem irá agir em sentido contrário: morto Deus, o homem toma o seu lugar – não pk cria, mas pk pode destruirm matar. O que ele descobre no mais fundo de si próprio é o lado negativo do homem: julgar k encontra grandeza na possibilidade de anular os outros
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Sofia tb se afasta de alberto ao dizer que, para ela, a vida não tem solução, que as soluções são para os cobardes Desta forma, a “missão” de alberto acaba por saír fracassada. No entanto, ele continua a defender os ideias existencialistas e não desiste, nunca desiste: vai fundar noutro local a “Cidade do Homem”; encontra finalmente a paz e a serenidade, não porque conseguiu achar resposta para o seu grande problema (justificar o milagre da vida perante o absurdo da morte), mas pk se rende à evidência da condição humana (o k importa é valorizar a vida, não a morte, e quem constrói essa vida é o homem). Continua a ter interrogações, pois nem todos os problemas estão respondidos, e o homem só é quando ele próprio é interrogação.
FELIZMENTE HÁ LUAR! Felizmente há luar! é um drama narrativo de carácter social dentro dos princípios do teatro épico. Defende as capacidades do homem, k tem o direito e o dever de transformar o mundo em k vive, oferecendo-nos uma análise crítica da sociedade em procurando mostrar a realidade em vez de a representar, para levar o espectador a reagir criticamente e a tomar posição Felizmente há luar! interpreta as condições da sociedade portuguesa do início do século XIX e a revolta dos mais esclarecidos, muitas vezes organizados em sociedades secretas contra o poder absolutista A figura central é o general Gomes Freire de Andrade “que está sempre presente embora nunca apareça” (didascália inicial) e que, mesmo ausente, condiciona a estrutura interna da peça e o comportamento de todas as persoagens Felizmente há luar! destaca a preocupação com o homem e o seu destino, a luta contra a miséria e a alienação, a denúncia da ausência de moral, o alerta para a necessidade de uma superação com o surgimento de um sociedade solidária k permita a verdadeira realização do homem A defesa da liberdade e da justiça, atitude de rebeldia, constitui a hybris (desafio) desta tragédia. Como consequência, a prisão dos conspiradores provocará o sofrimento ( pathos) das personagens e despertará a revolta do espectador Tendo como cenário o ambiente poklítico dos inícios do séc XIX (a conspiração de Gomes Freire), Sttau Monteiro provocou a refelzão (no seu tempo e numa situação histórica tb de opressão), denunciou as injustiças e avivou a chama da esperança de liberdade O recurso à distanciação histórica e à descrição das injustiças praticadas no início do séc XIX, em k decorre a acção, permitiu-lhe colocar em destaque as injustiças do seu tempo e a necessidade de lutar pela liberdade As personagens, psicologicamente densas e vivas, os comen tários irónicos e mordazes, a denúncia da hipocrisia da sociedade e a defesa intransigente da justiça social são características marcantes desta obra; nas suas falas, as personagens dirigem mensagens ao espectador (matilde: “enquanto nos não matarem, aquele de nós que estiver livre tem de lutar”)
Paralelismo histórico-metafórico ¤ Tempo: Século XIX, ano de 1817/Século XX, ano de 1961 Regime: absolutista/salazarista ¤ Sociedade: classes exploradas e classes exploradoras/idem ¤ Povo: péssimas condições de vida/idem ¤ Conspiração: manuel, símbolo da consciência popular, tenta participar na conspiração para derrubar o ¤ regime vigente/militantes antifascistas sublevam-se contra o regime ditatorial mas são sufocados Denúncias: Vicente, Andrade Corvo e Morais Sarmento são símbolos dos denunciantes hipócritas contra ¤ Gomes Freire/muitíssimos foram os chamados “bufos”, denunciantes k ajudaram a manter o regime de salazar Forças policiais: dois polícias contribuem para o sustentar do regime/constituídas, sobretudo, pela PIDE, ¤ eram sem dúvida o sustentáculo do regime Classes dominantes: são representados por Beresford (marechal estrangeiro), Principal Sousa (padre) e ¤ D. Miguel (nobre)/representadas pelas forças forças estrangeiras (Inglaterra), pelos monopólios e pela Igreja Processos: há um processo de condenação sem provas/muitos foram os processos de condenação sem ¤ provas ¤ Execuções: executa-se o General Gomes Freire de Andrade, um general sem medo, mas...Felizmente, Felizmente há luar! – estimula futuras rebeliões e em 183a o liberalismo triunfa/as execuções foram muitas, mas em 1965 executar-se-ia o General Humerto Delgado, o “general sem medo”, mas...Felizmente, Felizmente há luar! – estimula futuras rebeliões k culminarão no 25 de Abril, onde a democracia triunfa Intencionalidade do autor Objectivos: levar o leitor/espectador, através da aná lise crítica da sociedade portuguesa do princípio do séc XIX, a reflectir sobre a situação portuguesa actual (1961), desmascarando situações gritantes de injustiças e exploração Como atingir os objectivos:
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Pela acção da narrativa: entre o clero, a nobreza, o exército e o povo, o autor recruta elementos k interagem com base num acontecimento histórico: a conspiração de 1817 Pela caracterização das personagens (D. Miguel Forjaz, Principal Sousa, Beresford, Vicente, Manuel, ¤ Sousa Falcão, Frei Diogo de Melo e Matilde) Pelas notas à margem do texto: o autor lembra k “o público tem de entender, logo de entrada, k tudo o k ¤ se vai passar no palco tem um significado preciso. Mais: k os gestos, as palavras e o cenário são apenas elementos de uma linguagem a k tem de adaptar-se”. Efectivamente, são os gestos, o tom de voz e a linguagem (k o autor se encarrega de anotar) k muito contribuem para a caracterização psicológica das personagens ¤ Pelos elementos de luz e de som: em vez de as +ersonagens se movimentarem entre a escuridão e a luz, são a luz e a escuridão k se movimentam entre as personagens e o espaço, incidindo ora sobre aquelas ora sobre este, chegando a haver jogos de luz e de sombra ou apenas de penumbra. Salienta-se o som dos tambores k ameaça ou prepara um clima de guerra, tal como acontece com o tocar um sino a rebate. Há tb um “murmúrio de vozes humanas”, o “murmúrio da multidão”, entrecortado, de qd em qd, pelo latim “dos padres k acompanham os presos pelo Campo de Sant’Ana”. ¤ Pela linguagem: sempre apropriada a cada personagem é, por exemplo, em D.Miguel, a do político astuto, no cardeal, é a de um homem fanático; em Beresford, é a do interesseiro, trocista e sarcástico; em Matilde, é a da mulher em devaneio ou em desespero ou em revolta ou, finalmente, daquela k faz a glorificação do herói. ¤
Personagens Gomes Freire: figura carismática k preocupa os poderosos, k arrasta os pequenos, k acredita na justiça e luta pela liberdade D. Miguel Forjaz – primo de Gomes Freire, prepotente, assustado com transformações k não deseja, corrompido pelo poder, vingativo, desumano, calculista; nas palavras de Sousa Falcão, D.Miguel “é a personificação da mediocridade consciente e rancorosa”. Principal Sousa – fanático, corrompido pelo poder eclesiástico, odeia os franceses pk “transformaram esta terra de gente pobre mas feliz num antro de revoltados”, afirma preocupado k “por essas aldeias fora cada vez é menor o número dos k frequentam as igrejas e cada vez maior o dos k só pensam em aprender a ler...” Beresford – poderoso, mercenário, interesseiro, calculista, trocista, sarcástico: a sua opinião sobre portugal fica claramente expressa na afirmação “neste país de intrigas e de traições só se entendem uns com os outros para destruír um inimigo comum e eu posso transformar-me nesse inimigo comum, se não tiver cudado”. Vicente – demagogo, sarcástico, falso humanitarista, movido pelo interesse da recompensa material, adulador no momento oportuno, despreza a sua origem e o seu passado, capaz de recorrer à traição para se promover socialmente Manuel – “o mais consciente dos populares”, andrajosamente vestido, assume algum protagonismo por dar início aos dois actos, denuncia a opressão a k o povo tem estado sujeito (as invasões francesas, a “protecção” britânica após a retirado do rei D.João VI para o Brasil) e a incapacidade de conseguir a libertação e de saír da miséria em k se encontra (“e enquanto eles andam para trás e para a frente, para a esquerda e para a direita, nós não passamos do mesmo sítio!”) Matilde de Melo – “a companheira de todas as horas”, corajosa, exprime romanticamente o amor, reage violentamente perante o ódio e as injustiças, afirma o valor da sinceridade, desmascara o interesse e a hipocrisia, luta sempre (embora ora desanime, ora se enfureça, ora se revolte) Sousa Falcão – “o inseparável amigo”, sofre junto de Matilde perante a condenação do general, assume as mesmas ideias de justiça e de liberdade mas não teve a coragem do general... Opiniões a propósito das novas ideias liberais k começavam a ganhar força Dos elementos do Conselho de Regência: D. Miguel Forjaz, representante da nobreza na Regência, afirma: “Trama-se uma conjura destinada a ¤ atacar a própria estrutura da sociedade em que vivemos. Se não tomarmos as necessárias precauções, dentro em breve teremos a desordem nas ruas e a anarquia nas almas!”; “não lhes nego, Excelências, que não sou um homem do meu tempo. Um mundo em que não se distinga, a olho nu, um prelado dum nobre ou um nobre dum popular não é mundo em que eu deseje viver; não concebo a vida, Excelências, desde que o taberneiro da esquina possa discutir a opinião d’el-rei nem me seria possível viver desde que a minha opinião valesse tanto como a de qualquer arruaceiro” O principal Sousa, representante do clero no Governo, admite: “Senhor Governador, tenho medo. Há ¤ dois dias que quase não durmo e mesmo quando passou pelo sono persequem-me imagens terríveis: imagino-me réu perante um tribunal que me não respeita. Dedos imundos tocam-me as vestes. Sonheu já três vezes que estava no Campo de Sant’Ana, subindo ao cadfalso, enquanto à minha volta os gritos do povo me não deixavam sequer ouvir a sentença...” O marechal Beresford teme essencialmente perder or privilégios de que goza e realça a gravidade do ¤ momento, impelindo os outros à acção: “O que interessa é saber a melhor forma de sufocar a revolta que se prepara”; “Não percam tempo, Senhores. O momento é grave e a causa é justa. Vão.”; “os chefes?! Quem são os chefes?”; “Já que temos de crucificar alguém, que escolhamos alguém que valha a pena crucificar” Do Povo: A classe explorada depositava nos movimentos liberais a grande e sperança de alteração da situação em ¤ que se encontrava: Manuel, a propósito do general Gomes Freire de Andrade formula um desejo “Se ele quisesse...” Na altura da execução, as últimas palavras de Matilde são de coragem e de estímulo para que o povo se ¤ revolte contra a tirania dos governantes: “Olhem bem! Limpem os olhos no clarão daquela fogueira e abram as almas ao que ela nos ensina! Até a noite foi feita para que a vísseis até ao fim... (pausa) Felizmente...felizmente há luar!” Os símbolos A saia verde: a felicidade (a prenda comprada em Paris – terra da liberdade -, no Inverno, com o dinheiro da venda das dua medalhas); sendo um presente de Gomes Freire para a sua amada em “tempos de crise”, simboliza a sua coragem, altruísmo e o seu amor e carinho por Matilde; ao escolher aquela saia para esperar o
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companheiro após a morte, destaca a “alegria” do reencontro (“agora que se acabaram as batalhas, vem apertar-me contra o peito”); o facto de ser verde remete para a esperança e é uma cor tranquilizadora, refrescante e humana; O título/a luz/a noite/o luar: o título surge por duas vezes, ao longo da peça, inserido nas falas das personagens: D. Miguel salienta o efeito dissuasor que aquelas execuções poderão exercer sobre todos os k discutem ¤ as ordens dos Governadores (“Lisboa há-de cheirar toda a noite a carne assada, Excelência, e o cheiro háde-lhes ficar na memória durante muitos anos...Sempre k pensarem em discutir as nossas ordens, lembrase-ão do cheiro...” Logo de seguida afirma “é verdade que a execução se prolongará pela noite mas felizmente há luar...”); esta primeira referência ao título da peça, colocada na fala do governador, está relacionada com o desejo ezpresso de garantir a eficácia da execução pública: a noite é mais assustadora, as chamas seriam visíveis de vários pontos da cidade e o luar atrairia as pessoas à rua para assistirem ao castigo k se rpetendia exemplar Na altura da execução, as últimas palavras de matilde são de estímulo para k o povo se revolte contra a ¤ tirania dos governantes (“Olhem bem! Limpem os olhos no clarão (...)”) A luz, simbolicamente está associada à vida, à saúde, à felicidade, enquanto a noite e as trevas se associam ao mal, à infelicidade, ao castigo, à perdição e à morte. A lua, simbolicamente, por estar privada de luz própria, na dependência do sol, e por atravessar fases, mudando de forma, representa a dependência, a periodicidade e a renovação. Assim, é símbolo de transformação e de crescimento. A lua é ainda considerada como “o primeiro morto”, dado que durante três noites em cada ciclo lunar ela está desaparecida, como morta, depois reaparece e vai crescendo em tamnha e em luz..ao acreditar na vida para além da morte, o homem vê nela o símbolo desta passagem da vida para a morte e da morte para a vida... Por isso, na peça, nestes dois momentos em k se faz referência directa ao título, a expressão “felizmente há luar” pode indiciar duas perspectivas de análise e de posicionamento das personagens: A força das trevas, do obscurantismo, do anti-humanismo e a utilização do lume (fonte de luz e calor) ¤ para “purificar a sociedade” Se a luz é redentora, o luar poderá simbolizar a caminhada da sociedade em direcção à redenção, em ¤ busca da luz e da liberdade.. Assim, dado k o luar permitirá k as pessoas possam saír de suas casas (ajudando a vencer o medo e a insegurança na noita da cidade), quanto maior for a assistência, isso significará: Para uns, que mais pessoas ficarão avisadas e o efeito dissuasor.. ¤ ¤ Para outros, que mais pessoas poderão um dia seguir essa luz e lutar pela liberdade... A fogueira/o lume: assume um papel de fonte de esperança, de apelo para a mobilização dos esforços do povo contra a opressão do regime, de luz que indica o caminho a seguir; pode também ter um papel dissuasor, na medida em que impressiona e mete medo aos menos convictos da causa liberal
A Linguagem Natural, viva e maleável, utilizada como marca caracterizadora e individualizadora de algumas das ¤ personagens Uso de frases em latim com conotação irónica por aparecerem no momento da condenação e execução ¤ Frases incompletas por hesitação ou interrupção ¤ Marcas características do discurso oral (frases curtas, por vezes inacabadas, sendo frequentes as ¤ repetições, hesitações, apóstrofes, entoação, gestos e mímica) Recurso frequente à ironia e ao sarcasmo ¤ A Didascália A peça é rica de marcações com referências concretas (sarcasmo, ironia, escárnio, indiferença, galhofa, desprezo, irritação – normalmente relacionadas com os opressores; tristeza, esperança, medo, desânimo – relacionadas com os oprimidos). As marcações são abundantes: tons de voz, movimentos, posições, cenários, gestos, vestuário, sons (o som dos tambores, o silêncio, a voz que fala antes de entrar no palco, o sino k toca a rebate, um murmúrio de vozes,...) e efeitos de luz (o contraste entre escuridão e luz: os dois actos terminam em sombra, de acordo com o desenlace trágico). De realçar que a peça termina ao som de fanfarra (“Ouve-se ao longe uma fanfarronada que vai num cresecendo de intensidade atá ao cair do pano”) em oposição à luz (“Desaparece o clarão da fogueira”), no entanto, a escuridão não é total porque “felizmente há luar”. Acção trágica dentro da acção principal Podem encontrar-se, no desenrolar da acção, algumas características prórprias da tragédia: as premonições (por exemplo, quando o Antigo Soldado fala em “tom profético”), a referência ao destino e ao fatalismo (matilde: “é o destino de todas as mulheres.(...)”) e a prórpria existência de: hybris (desafio – de gomes freire ao regime), pathos (sofrimento – todas as personagens vão sofrendo, os opressores pk querem parar a revolta, os oprimidos pk vêm k vão ser esmagados e k perdem força), agon (conflito), anaké (a presença do destino – referenciada por matilde e pelo povo, k vivem uma situação “circular” pois nunca têm oportunidade de melhorar a sua vida), katastrophé (catástrofe, castigo – a morte de Gomes Freire) e catárse (as consequências).