Para ler Peter Sloterdijk – breve roteiro Paulo Ghiraldelli Jr. Centro de Estudos em Filosofa Americana [ verso !reliminar"
1. Introdução Com Aristóteles, a flosofa antiga nos ensinou a pensar substancialmente. A flosof flosofa a moder moderna, na, com com Descar Descartes tes à rent rente, e, não desobe desobedec deceu eu a regra regra do substancialismo. Falou em termos da substncia e!tensi"a e da substncia pensante. Da flosofa moderna para a flosofa contempornea essa lin#a de pens pensam amen ento to segu seguiu iu seu seu curs curso. o. $!p% $!p%ss entã então o narr narrat ati" i"as as me meta ta& &si sica cass ou parameta&sicas baseadas em dualidades' mente e c(rebro, su)eito e ob)eto, linguagem e mundo etc. *eter +loterdi) pertence à contracorrente dessa "ia, ele desen"ol"e uma flosofa dos meios – uma flosofa do -entre. /esse sentid /esse sentido, o, "e)o0o "e)o0o em pro pro!imida !imidade de com o pro)e pro)eto to de ic#ar ic#ard d ort2 ort2 a respeito do 3ue de"eria ser a flosofa. A agenda de +loterdi) e!p4e um pensamento 3ue pri"ilegia relaç4es e não polos, e toma as narrati"as todas sem grand grandes es preoc preocupa upaç4e ç4ess de #iera #ierar3 r3uia uiass episte epistemo mológ lógica icas. s. 5s itens itens da flos flosof ofa a de +lot +loter erdi di) ) são são dest destru ruid idor ores es de dual dualid idad ades es.. Al(m Al(m diss disso, o, são são desen"ol"idos em termos termos antes liter6rios 3ue propriamente propriamente cient&fcos. 7rata0 se de uma aut8nt aut8ntica ica flosof flosofa a contem contempor porne nea, a, inseri inserida da em um campo campo de trabal#o nitidamente pós0Derrida. Ante Antess de su)e su)eit ito o e ob)e ob)eto to ou ling lingua uage gem m e mundo undo,, +lot +loter erdi di) ) ala ala em ressonância, 3ue por si só comp4e eseras. Antes da di"isão entre nature9a e cultur cultura, a, ele ala em antropotécnicas. :i"rando0se da ;oresta onde moram o idealismo e o realismo, aponta o panorama da bastardia, para mostrar a orça das das rupt ruptur uras as e ino" ino"aç aç4e 4es. s. Desc Descrre"e e"e o 3ue 3ue ( no"o no"o segu segund ndo o tend tend8n 8nci cias as sociedade da leveza leveza regrada antigra"itacionais e de acordo com a criação da sociedade pela -insustent6"el le"e9a do ser. Com esses 3uatro termos < ressonncia, antro antropot pot(cn (cnica ica,, basta bastard rdia ia e soc socied iedade ade da le"e9a le"e9a < +loter +loterdi) di) ela elabo bora ra uma uma esp(cie de grande descrição da modernidade =e da pós0modernidade> 3ue ultra ultrapas passa sa a própr própria ia dicoto dicotomia mia fcção versus rea eali lida dade de ou flos flosof ofa a versus literatura. $sses 3uatro termos comandam o roteiro a seguir, 3ue di9 respeito a uma "isão geral e sucinta do pensamento de +loterdi).
Do modo como a entendo, a flosofa de +loterdi) ( um grande romance do su)eito moderno e pós0moderno, associado a uma pergunta 3ue, segundo ele mesmo, de"eria guiar o flósoo' como ( poss&"el um espaço 3ue responda às moti"aç4es? 5u ainda' como o #ibernante #umano pode se instalar e se aclimatar? 5 te!to abai!o pretende, sem perder essa lin#a #eur&stica, colaborar com o leitor no sentido de adentrar nessas preocupaç4es sabendo0se mo"er nos li"ros principais desse flósoo nascido em 1@B na cidade de Karlsruhe, ao sul da Alemanha, bem próximo à fronteira com a França . essonncia As perguntas in"estigati"as b6sicas de +loterdi) são duas. *rimeira' o 3ue signifca precisamente estar0no0mundoE? +egunda' 5nde estamos 3uando estamos no mundo? 6 flósoos do ora, do e!terior, do aberto. 6 pensadores como +loterdi), flósoos do dentro, do interior, do ambiente ec#ado. $star no mundo ( estar -dentro. *ara ele, o #omem ( um -designer de interiores, desde sempre, e compreend80lo ( compreender sua domesticidade, sua morada, seu ambiente imunológico. G necess6rio a3ui ter em mente a obser"ação de eidegger de 3ue en3uanto a pedra ( -sem mundo e o animal ( -pobre de mundo, o #omem ( )ustamente o -construtor de mundos. 5 #omem só ( #omem como dom(stico e o ambiente dom(stico ( mundo en3uanto mundo do #omem. $ssas pala"ras, no caso de +loterdi), "alem ontogeneticamente e flogeneticamente, ou se)a, tanto para a #istória do indi"&duo 3uanto da esp(cie. 7omando a #istória do indi"&duo, o 3ue "ale in"estigar ( o 3ue regra o interior #umano' ressonncia. A ressonncia ( o termo 3ue +loterdi) introdu9 para a sua cr&tica da meta&sica cl6ssica, tanto antiga 3uanto moderna. Considera problem6ticas as "is4es substancialistas e indi"idualistas. $stas são as 3ue descre"em no ponto de partida o #omem isolado e, então, gastam todo o resto da energia intelectual flosófca nesse enigma, tentando descre"er algo como a nature9a #umana ou coisa semel#ante. Afnal, de"em e!plicar como 3ue o prodigioso b&pede0sem0 penas c#ega à con"ersação e às relaç4es de construção de mundos. +loterdi) tamb(m obser"a impasse nas "is4es 3ue sociali9am ou ressociali9am o #omem por meio da linguagem en3uanto elemento de interação, e!atamente por3ue tais "is4es acrescentam o 5utro abruptamente, 3ue se assim aparecesse não traria nen#uma eeti"a alteridade e não poderia e!plicar a interação. Desse modo, +loterdi) descarta as escolas oriundas de Descartes e as 3ue oram catalisadas em abermas ou por abermas. A pala"ra ressonncia aparece no conte!to da noção de esera, buscando solucionar eHou e"itar esses problemas originalmente meta&sicos.
ma boa descrição dessa sa&da de impasses meta&sicos, proposta por +loterdi), pode ser eita le"ando em consideração a rase de Jartin Kubber, 3ue di9 3ue as crianças t8m o -instinto de tudo transormar em tu. 1 7amb(m +loterdi) ad"oga essa esp(cie de sociabilidade antes de 3ual3uer "ida social. Concorda com :acan 3ue a "ida ps&3uica só se e!plica se le"amos em conta o 5utro, toda"ia, ele não p4e na conta da alteridade somente a simbologia e a linguagem, mas toda a situação 3ue estabelece, antes disso, a ressonncia. A ressonncia guarda um -com e um -l6 3ue abrica uma esera 3ue, no caso do pr(0nascimento, ( o próprio espaço uterino. 5 uturo beb8 e sua compan#eira e ampliadora, a placenta, )unto com elementos "6rios e o l&3uido amniótico, ormam um local 3ue potenciali9a relaç4es sonoras 3ue são antes de tudo relaç4es sinest(sicas. $ssa sinestesia dos g8meos =beb8 e placenta> acentua0se e recebe logo a mensagem e"ang(lica, as boas "indas en3uanto -boa no"a. /esse interior #6 o grande aprendi9ado cont&nuo de "ida con)unta e de, digamos, certa disposição cr&tica. A sinestesia prepara o ou"ido, ainda no Ltero, para o não enlou3uecimento 3ue seria ter de escutar todos os sons interiores, inclusi"e a barul#eira do corpo da mãe. 6 a& um iluminismo, um ou"ido cr&tico, 3ue distingue e escalona, e 3ue o a9 segundo o 3ue aprende da alteridade, da proteção e aumento de seu g8meo. Muando #6 a passagem do l&3uido para o meio 3ue ( o ar e, então, a placenta se despede, inicia0se a recomposição da esera. 6 a busca de no"as ressonncias para a continuidade da esera. 5 som interno do próprio beb8 e outros elementos e sons de"em agora ser substitu&dos pelo 3ue a sociedade antiga poderia c#amar de g8nio ou daimon, 3ue outros c#amaram de an)o da guarda, 3ue sobre"i"e logo em seguida no -amiguin#o imagin6rio. A ressonncia precisa continuar. $ntram outros elementos na ressonncia, ampliando os limites da esera' a mãe e não0mãe, o pai etc. 7odo esse tra)eto de aa9eres gan#a o mundo ps&3uico a partir da preparação sinest(sica em continuidade com a sonoridade, e arrumam e desen"ol"em os elementos simbólicos. Muando a linguagem aparece ela encontra um ser duplo 3ue a desen"ol"e a custas de uma alteridade eita pela "ida essencialmente ressoante 3ue, por si, a9 e!istirem os polos da esera protetora, imuni9adora. A alma nunca ( solit6ria, se tudo corre como o esperado, muito menos sobre"i"e num -ora. A modernidade com a sua cultura indi"idualista e isolacionista )amais deu a de"ida importncia para as narrati"as sobre daimons, an)os e pr6ticas de proteção da placenta capa9es de gerar uma cultura de guarda da simbiose e alteridade do interior da esera. *or isso sua narrati"a, 3ue pri"ilegia a ideia de -clube liberal e não de "ida comunit6ria, escorrega para descriç4es cartesianas e #abermasianas. Funciona a&, digo eu, como uma ideologia 3ue não nos dei!a "er 3ue somos sempre g8meos. Dierentemente, a ontologia de 1 Kubber,
J. !u e tu. +ão *aulo' Centauro, N1O, p. PB.
+loterdi) ( sempre ontologia do Dois, nunca do m. Assim, com o flósoo alemão, o problema meta&sico do #omem isolado em busca de sua nature9a ou então ressociali9ado magicamente pela linguagem ( posto de lado. +loterdi) a9 toda essa narrati"a por meio de instrumentos descriti"os liter6rios, mitológicos, antropológicos, flosófcos e, principalmente, com o conceito de não0ob)eto, de 7#omas Jac#o. In"enta o 3ue c#ama de -ginecologia negati"a, para adentrar o Ltero e lidar com não0ob)etos próprios de ambiente onde não #6 su)eito. 6 a& toda uma in"estigação, em termos da ontog8nese, a respeito do -su)eito antes do su)eito. 7rata0se de uma esp(cie de -ar3ueologia da intimidade. $ssa narrati"a ( undamental para, depois, se entender a narrati"a a respeito da sociedade moderna e pós0moderna, a partir da descrição da sub)eti"idade. 5s principais li"ros sobre esse assunto são "ph#ren $ Klasen. Franurt am Jain' +u#ramp Qerlag, 1@@R e %ie "onne unnd ter &od. Franurt am Jain' +u#ramp Qerlag, NN1. Qale a pena, tamb(m, consultar os ensaios sobre a mudança de meio do #omem, 3ue remete a +ócrates, e ao cogito sonoro, 3ue remete a uma cr&tica de Descartes, no li"ro' 'eltfremdheit . Franurt am Jain' +u#ramp Qerlag, 1@@O. O. Antropot(cnica A antropot(cnica ( o termo cun#ado por +loterdi) para se li"rar de barreiras criadas pelas di"is4es entre -nature9a e -cultura ou mesmo -biologia e -#istória, especialmente na sua disposição em aliar com a ontog8nese uma coad)u"ante flog8nese. :i"rando0se do olclórico $lo *erdido entre o #omem e um suposto animal parente do macaco, e utili9ando0se de uma terminologia de eidegger para camin#ar por tril#as 3ue este )amais andaria, ou se)a, o campo antropológico, +loterdi) pretende criar o 3ue c#ama de narrati"a antropológica -ant6stica. 5 ob)eti"o b6sico, nesse caso, ( alar do Dasein, o ser0a&, sem se en"ol"er com o 3ue teria sido o tropeço de eidegger, pressupor de alguma orma o #omem antes de alar dele. /ão #6 nen#um #omem sem antropot(cnica e não #6 nen#uma antropot(cnica sem se a9er en3uanto dispositi"o incessante de criação do #omem. Antropot(cnicas são t(cnicas de geração do #omem 3ue o a9em e!istir e )amais parar de alterar0se. Do Ltero conormado na produção de seres de grande cabeça =somos sempre parecidos com etos> à engen#aria gen(tica passando por inLmeras t(cnicas de ascese =religiosa, atl(tica e intelectual> e pela mão mecnica < eis a& as antropot(cnicas. A esera ressoante (, agora, o ambiente dom(stico do #omem en3uanto elemento da flog8nese, e as antropot(cnicas são tudo o 3ue permite a própria 2 6
"ers4es de "ph#ren $ em ingl8s, espan#ol, ranc8s e italiano. /o momento em 3ue escre"o a "ersão em portugu8s est6 tradu9ida na $ditora $stação :iberdade, mas sem data de publicação pre"ista. 6 "ersão de %ie "onne und der &od em portugu8s de *ortugal, al(m de "ersão em ingl8s.
esericidade, um ambiente surreal de desen"ol"imento do #umano. As antropot(cnicas b6sicas, 3ue participam da narrati"a flogen(tica, se a9em por 3uatro mecanismos' insulaç(o, exclus(o corporal , pedamorose ou neotecnia e, por fm, transfer)ncia. A insulação ( o eeito de causas "ariadas 3ue, enfm, permitem a criação de espaços interiores. m terremoto pode isolar uma população de animais de seus predadores. ma col%nia de elementos em simbiose pode tornar alguns elementos em paliçada para gerar um dentro e um ora. $m suma, #6 "6rios acontecimentos capa9es de or)ar in"ernadas naturais. 7ais in"ernadas são ambientes 3ue acilitam a "ida dos 3ue fcam no seu nLcleo. 5 interior garante uma situação de mais estabilidade, de mel#or clima e imunidade. 7orna animais antes greg6rios e n%mades em animais capa9es de terem progenitoras 3ue se transormam em "erdadeiras mães, e 3ue podem cuidar de suas crias, então tornadas inantes. G poss&"el at( di9er, 3uase 3ue como 3uerendo burlar os darSinistas sociais 3ue a9em a apologia do mais orte =uma "ariação do mais adaptado>, 3ue o processo de isolamento ( 3ue criou a possibilidade das mães serem mães, de cuidarem das crias a9endo "ingar tamb(m os fl#os aparentemente menos ortes e em princ&pio desadaptados. Jas de modo algum esses eram os mais pobres ou mais carentes de dotes e possibilidades. 5 segundo mecanismo, o da e!clusão corporal, ( o 3ue se consegue 3uando o #omin&deo toma ci8ncia de 3ue a pedra est6 à mão, e 3ue esta parece solicitar seu lançamento. $la se a9 interposta entre ele próprio e outro elemento natural. 5 corte, o golpe, a batida e tudo 3ue se pode a9er com uma pedra na mão ( o 3ue coloca um interposto positi"o entre o #omin&deo e a3uilo do 3ual ele não 3uer se apro!imar, do 3ual 3uer escapar. Jas não se trata a& de uma uga simples, mas de um modo de e"itar o contato corporal, sendo 3ue a pedra ( o 3ue ( poss&"el de ser colocado entre o corpo e o ob)eto. 5 contato com a pedra e!clui o contato com o corpo no trato com as coisas. $ntão, -a t(cnica transorma o esorço em soberania. +loterdi) pararaseia corretamente Tittgenstein' -os limites dos meus lançamentos são os limites de meu mundo. $is 3ue o mundo como meio ambiente est6 )6 se desa9endo e se recompondo como mundo propriamente dito =lugar #istórico e geogr6fco do #omem criado pelo #omem>. 5 #omin&deo como lançador, operador e cortador ( um 3uase -produtor do claro para usar uma e!pressão de eidegger O, seguindo de perto O eidegger di9 3ue as plantas e animais estão mergul#ados no seio de seus ambientes próprios, -mas nunca estão inseridos li"remente na clareira do ser < e só esta clareira ( mundoE <, por isso, alta0l#es a linguagem. /ão ( por3ue l#es alta a linguagem 3ue eles são sem mundo. :inguagem não ( e!pressão de ser "i"o. :inguagem ( -ad"ento iluminador0"elador do ser. $la "ela o ser, ilumina0o. -A clareira em si ( o ser. Clareira ( ser, ( mundo, e a linguagem 3ue "ela o ser, ilumina0o, ( a -casa do ser. Muando +loterdi) di9 3ue se est6 produ9indo o claro =no lançamento da pedra 3ue ( an6logo à linguagem>, ele est6 di9endo 3ue est6 se produ9indo o ser, o mundo, pois ao se produ9ir a linguagem se est6 produ9indo a casa do ser. *ode0se "er' eidegger, J. *arta sobre o +umanismo . :isboa' Uuimarães, 1@RB, pp. R0
+loterdi). Afnal, -o golpe preciso pr(0orma a rase. -5 tiro certeiro ( a primeira s&ntese do su)eito =pedra>, cópula =ação> e ob)eto =animal ou inimigo>. -5 corte completo prefgura o )u&9o anal&tico. -As rases são como mimese de lançamentos, golpes e cortes no espaço dos signos, e delas as afrmaç4es imitam lançamentos, golpes e cortes com 8!ito, en3uanto 3ue as negaç4es sur)am da obser"ação de lançamentos errados, golpes al#os e cortes rustrados. Desse modo -3uem não 3uer alar de pedras de"e ser calar sobre o #omem. 5 terceiro mecanismo e"oluti"o d60nos os eeitos mais misteriosos. /esse campo ocorre a pedamorose ou a neotecnia. /ascem por essa "ia os aspectos 3ue estarão mais relacionados com a sub)eti"idade #umana. 5s traços psicológicos associados aos morológicos e fsiológicos se mostram segundo esse mecanismo, 3ue implica em apro"eitar0se do espaço de in"ernada, no 3ual )6 #6 os primeiros instrumentos para impor uma -in"ersão da tend8ncia à seleção. /o espaço de in"ernada, di9 +loterdi), -não sobre"i"e o mais apto no sentido da confrmação de atitudes diante das circunstncias do meio ambiente 3ue são mais duras, senão o mais aortunado no sentido da3uele 3ue conseguiu apro"eitar o clima e as oportunidades internas da in"ernada. 5u se)a, a e"olução #umana se produ9, em boa medida, em um meio grupal 3ue mostra a tend8ncia a -recompensar "ariaç4es esteticamente a"or6"eis e cogniti"amente mais potentes. A partir da&, -o #omem se encamin#a para a bele9a, concedida como pr8mio bio0est(tico à distinção. A "erticalidade, antes de tudo, ( um ruto est(tico. 5 belo ( a bLssola e"oluti"a. /o mbito da atuação desses mecanismos, eetuam0se as c#ances do uturo sapiens incorporar traços inantis nos adultos da esp(cie < isso ( a neotecnia. G "is&"el 3ue na e"olução do #omem #6 uma acentuada entrada de traços etais, 3ue então se mant(m na apar8ncia adulta. Afnal, o espaço de in"ernada unciona como um Ltero e!terno, dando oportunidade de sobre"ida aos nascidos com caracter&sticas etais, como o c(rebro grande na proporção com o corpo, a dilatação do tempo de aprendi9agem, ou se)a, tudo 3ue orça a continuidade da simbiose pós0natal com a progenitora transormada em mãe. As 3ualidades do recinto #umano 3ue -mimeti9am o Ltero se estenderam mais tarde aos adolescentes e aos membros adultos dos grupos, e indu9iram tamb(m neles tend8ncias ao retardamento do aparecimento de ormas maduras. 7al"e9 possamos di9er 3ue isso tem a "er com a plasticidade do #omem, 3ue ( um animal 3ue aprende durante toda a "ida, en3uanto 3ue outros mam&eros encerram rapidamente o per&odo de aprendi9agem e se enri)ecem. *or fm, o 3uarto mecanismo ( o da transer8ncia ou transporte. $sse mecanismo ocorre 3uando os grupos insulados são in"adidos e o local próprio de produção do elemento #omem ( de"astado. /essa situação, )6 PN.
completamente #istórica, o #omem transere o 3ue "i"eu de bom para a no"a situação, mas agora no mbito da criação de uma imunologia simbólica e psicológica. ecorda0se das situaç4es anteriores de proteção e d6 abertura para o nascimento das -religi4es reparadoras. 5s mecanismos de transer8ncia a9em com 3ue 3ualidades do primeiro espaço se)am transportadas para as no"as condiç4es, em geral de emerg8ncia, de um espaço estran#o. +urge então o #omem como a3uele 3ue se amolda a no"as situaç4es, aceitando o 3ue não l#e ( campo próprio. *or esses 3uatro mecanismos 3ue são as antropot(cnicas b6sicas no campo flogen(tico, o desdobrar do mundo como mundo interior ocorreu, entre "6rias coisas, principalmente pelo acalentar "indo de progenitoras 3ue se transormaram em mães, as autoras das promessas imposs&"eis, as 3uase mentiras do -tudo "ai fcar bem, 3uando ocorre algo ao beb8. $ssa ( a promessa incorporada e, então, tomada como autopromessa pelo indi"&duo. $la ( o 3ue +loterdi) tem em mãos para elaborar sua narrati"a de naturali9ação do su)eito. Jas essa promessa tornada autopromessa não seria poss&"el sem 3ue o #omem não ti"esse sido a3uele 3ue incorporou seus traços inantis. /ão só por conta de situaç4es de mal nascimento, 3ue se tornaram próprias, mas pela imaturidade geral 3ue permanece na nossa condição de #umanos adultos. +ó imaturos podem tomar a promessa -tudo "ai fcar bem como alguma coisa 3ue realmente acalenta, e só ing8nuos poderiam a9er esorços próprios sa&dos da assunção dessa promessa como autopromessa. 5 #omem ( adulto à medida 3ue ( eternamente inantil, ou se)a, constitu&do como #omem segundo um modelo em 3ue traços de inante perduram. +ua condição de su)eito, então, nessa orma de narrati"a em 3ue o su)eito ( naturali9ado, ( eeito de duplo ator e"oluti"o' sua passagem de cria a inante e suas caracter&sticas de inante na sua constituição adulta. $m termos amplos, ser su)eito ( ser criança no adulto. *odemos "er as antropot(cnicas uncionando em toda a obra de +loterdi). /o reerente espec&fco aos casos a3ui descritos, os li"ros principais são basicamente dois' os ensaios nitidamente antropológicos contidos em icht -erettet .ersuche nach +eide--er Franurt am Jain' +u#ramp Qerlarg, NN1 e pelos estudos sobre -flosofa do nascimento de $urotaoismus
icht -erettet tem uma "ersão em espan#ol e !urotaoismus tem uma edição em portugu8s de *ortugal. 4
3ue est6 pressuposto nos pro)etos pr(0modernos, os 3ue indica"am a ad"ento da "ida indi"idual. +ão Francisco ( tra9ido à baila por +loterdi). A #istória de Francisco ( con#ecida. Desobediente, ele passou a gastar a ortuna de seu pai em beneitorias para padres e necessitados. $ntão, oi le"ado pelo pai para diante do Kispo, na praça da cidade italiana de Assis, para 3ue o sacerdote l#e desse um correti"o. 5 pai espera"a 3ue o )o"em tomasse de modo correto as obrigaç4es da fliação, mas, o 3ue ocorreu oi algo completamente dierente disso. Francisco abdicou do din#eiro do pai e de tudo o mais, e num gesto simbólico de grande impacto, abandonou suas "estes para então negar a ascend8ncia. +eu pai não seria mais o da 7erra, e ele in"ocaria, então, diretamente o pai celeste, o -*ai /osso 3ue estais no C(u. Completamente nu, ele mesmo se e9 bastardo, dei!ando de lado genealogia, tradição e fliação, ou se)a, 3ual3uer mediação, e passou a uma ligação direta com o absoluto. Francisco de Assis não oi o Lnico 3ue decidiu por esse tipo de "ida. $le apenas oi o 3ue gan#ou o direito de le"ar adiante o simbolismo. /a "erdade, de sua (poca para diante, a tarea de imitator *hristi tornou0se uma pr6tica de muitos. 5s )o"ens rompiam laços amiliares e tenta"am se recol#er em monast(rios ou mesmo em lugares comuns, às "e9es segundo uma decisão laica, para "i"er como Xesus, na simplicidade. As ordens mendicantes se f9eram em con)unto com pr6ticas indi"iduais mendicantes, independentes da profssionali9ação eclesi6stica. $ra como 3ue a inauguração do indi"&duo moderno, ainda 3ue de um modo parado!al. *ara poder ser Lnico e, portanto, mostrar0se como um eu bem recortado, a implicação necess6ria era a de abrir mão de tudo, transormar0se num completo despossu&do. A #umildade m6!ima de"eria compor a indi"idualidade m6!ima. *ara não mais sustentar fliação paterna e, então, poder iniciar a "erticali9ação e c#amar a Deus de Lnico pai, o passo era não subir, mas descer ao m6!imo, tal"e9 aos inernos, na "ida mais sem lu!o poss&"el. /ão à toa, con"ersar com os animais podia ser algo bem "isto. Igualar0se com o 3ue nem mesmo #umano era. /ão era um sinal de "erdadeira #umildade? Francisco dei!ou dois ensinamentos 3ue mostram bem como 3ue ele plantou a semente da sub)eti"idade moderna ou, digamos, do indi"&duo, e isso de modo bem peculiar. G dele o ensinamento de 3ue -3uem a tudo renuncia, tudo receber6s. 7amb(m ( dele a m6!ima -tome cuidado com a sua "ida, ela pode ser o Lnico e"angel#o 3ue outros irão ler. 5 primeiro ensinamento ( aparentemente um parado!o' como posso receber se renuncio? +e)a l6 o 3ue eu "ier a gan#ar, ten#o de renunciar e, portanto, o 3ue de ato gan#o? Jas o gan#o ( a renLncia. $is a& o segredo. G na auto0anulação 3ue emerge o indi"&duo na sua imitação de Cristo, ormando uma personalidade no"a e dando se3u8ncia a uma autorreali9ação 3ue, por assim ser, or)a uma
incubadora da sub)eti"idade moderna, ainda 3ue, claro, tal autorreali9ação se)a apenas uma não reali9ação. 5 segundo ensinamento di9 respeito à pr6tica dessa "ida indi"idual. $la própria, como o 3ue se reali9a na parado!al meta de não ter metas pessoais, ( a boa no"a, ou se)a, a mensagem e"ang(lica. 5 de"oto ( tornado uma esp(cie da3uilo 3ue se tem para mostrar nas cidades. *or nada apresentar de especial torna0se tudo o 3ue #6 para se apresentar. Francisco di9ia 3ue o e"angel#o de"eria ser pregado em todos os momentos, e -de "e9 em 3uando em pala"ras. 5u se)a, o e"angel#o pregado era, na "erdade, a "ida. A pr6tica de"eria substituir as preleç4es, embora at( essas pudessem ser eitas segundo certas necessidades de momento. /ão à toa, 3uando nos reerimos #o)e a +ão Francisco de Assis, o mostramos con"ersando com os 3ue não alamY são os animais, mas estes dão a entender o 3ue 3uerem pelo comportamento. Animais e ranciscanos são o 3ue são por comportamento. +ão para serem lidos por nós ao obser"armos seus comportamentos. Francisco desceu ao m6!imo e se p%s na condição de animal, )ustamente por um ato de bastardia. Juitos oram )unto com ele, mas ora da Igre)a, como laicos e protossu)eitos modernos 3ue, por terem contado direto com o *ai, não orma"am tradição ou no"a genealogia. 7ermina"am ali mesmo, na 7erra, a ligação m&stica com Deus, con3uistada graças à ormação de um eu cu)a caracter&stica era a de não se enaltecer. Isso, de ato, se transormou em uma grande preocupação para a In3uisição, bem antes da eorma começar a apontar a sua cabeça. Jestre $c#art deu se3u8ncia a eitos do tipo de Francisco. Introdu9iu uma problem6tica agostiniana, a da emerg8ncia do -#omem interior. *odemos ir do #omem e!terior ao #omem interior se temos maturidade para tal. *odemos cuidar de tudo 3ue ( e!terior e, por isso mesmo, sabermos distinguir nosso eu interior 3ue se liberta de si mesmo e se "olta para si numa perda 3ue ( um gan#o. 5 mandamento dessa m&stica, se pudesse uncionar em uma par6rase do 3ue "eio depois, com Descartes, assim se e!pressaria' -Desapareço, logo sou. +loterdi) toma essa "irada de $c#art como um ind&cio da bastardia ou, mel#or di9endo, como a decisão de não criar lin#agens, "inda de todos 3ue se dei!aram inectar pelo "&rus da imitação de Cristo. *ois uma repersonali9ação, desse modo, começa e termina no indi"&duo. /ão #6 a& "inculação escolar, ensinamento de dinastia, ainda 3ue, dierentes de muitos, $c#art osse de uma lin#agem, a dos dominicanos. Jas, tamb(m na3uela (poca, a In3uisição )6 esta"a bem preocupada com essas ordens, a dos ranciscanos, a dos dominicanos e outras, todas elas "oltadas para a e!trema pobre9a, para a ideia da "ida como e"angel#o. G como se toda a pr6tica de ser fl#o de Deus pudesse ser le"ada adiante por outros, ora do campo da própria Igre)a. 5ra, sabemos bem no 3ue isso deu, 3uando c#egaram os tempos de :utero. Dos
tempos de Francisco a $c#art, espraiou0se uma moti"ação para 3ue muitos se e!citassem com ideia um tanto parado!al de terem uma "ida de não e!citação. Z. +ociedade da le"e9a A noção de sociedade da le"e9a re3uer atenção. *ara ser corretamente entendida, de"e "ir aliada à ideia de -insustent6"el le"e9a do ser. 5u se)a, nossa sociedade moderna e pós0moderna ( le"e, mas, por isso mesmo, se torna, não raro, sem ar. Cumprimos com nosso destino de "erticali9ação. +ubimos muito e alcançamos camadas de rareação. *rocuramos, então, alguma ncora, algum peso para nos agarrarmos de modo a não "oar a esmo e muito algo. $ssa le"e9a, em seu rosto duplo, ( bem signifcati"a no momento 3ue, pelos processos de bastardia, ormamos o indi"&duo e a própria noção de su)eito moderno e de sub)eti"idade de nossos tempos. *or um lado, o su)eito moderno ( o empreendedor 3ue se desinibe por meio de elementos racionais contidos em si mesmo, ou solicitados a seus consultores, de modo a ser o ator 3ue "ai da teoria à pr6tica. /essa #ora, ser su)eito (, tamb(m, ser a3uele 3ue tem segundos pensamentos, 3ue ningu(m sabe direito o 3ue pensa e, então, pode surpreender. Juitos c#amam isso de liberdade inerente à autonomia do #omem, principalmente do #omem moderno. $sse mesmo #omem moderno, como su)eito, toma a liberdade como a consci8ncia da necessidade. *or outro lado, a sub)eti"idade moderna ( tamb(m a busca da desoneração completa, a uga da sociedade em busca de um eu sem m6scaras sociais, um eu natural no 3ual o coração sincero ten#a contido inscriç4es da bondade original. Kusca0se então a liberdade no de"aneio, no descompromisso, no completo es3uecimento, na ultra indi"iduali9ação. 5 su)eito moderno ( representado, em +loterdi), pelos Xesu&tas. $les são desinibidos pela tarea da Contra eorma e promo"em uma empresa 3ue con3uista o poder se pondo a ser"iço do *apa. Jas a sub)eti"idade moderna na sua caracter&stica desonerada (, para +loterdi), representada por ousseau no lago Kiel, abandonado em de"aneio e, sem passado ou uturo, ( le"ado pelas ondas e pelo seu som cadenciado. *ara apontar o su)eito Descartes usou o -pensou logo sou, en3uanto 3ue ousseau usou, inusitadamente, o não penso logo sou. $ssa ace de Xanus do su)eito moderno, re3uisitando desinibição e oneração por um lado e, por outro, desoneração e retiro, se coaduna bem com a sociedade da le"e9a. $ssa sociedade nasce do processo de flog8nese e ontog8nese de um b&pede0sem0penas 3ue ( um -designer de interiores e 3ue só pensa em por e repor espaços de mimo. Muer recolocar o -dentro, seu -mundo, sua domesticação no lu!o e conorto. A modernidade e a pós0modernidade são, de ato, uma situação al"issareira à medida 3ue rea9 as in"ernadas especiais' criamos cidades, apartamentos, pr(dios e toda uma ar3uitetura 3ue c#ega at(
mesmo ao condicionamento do ar, criando atmosera, e 3ue se integra pela comunicação "ia sat(lite ou por redes 3ue di9emos -online como sin%nimo de -on air. $stamos nisso a um passo da le"e9a como #ori9onte real. 5u )6 na própria le"e9a. $ssa le"e9a ( um dado sociológico, e #istoricamente a3uela mostrada na a/uent societ0 de Ualbrait#, 3ue +loterdi) segue. G Ltil repetir a3ui as conclus4es de Ualbrait#. 7r8s elementos se destacam e a9em do nosso mundo um mundo de bene&cios e lu!o )amais "isto' em du9entos anos o nLmero de #oras de trabal#o do mundo todo caiu "ertiginosamente gerando um tempo li"re )amais imaginado para tanta genteY nas Lltimas d(cadas os )o"ens oram assumidos como crianças, e a própria inncia e adolesc8ncia se e!pandiram 3uase 3ue se conundindo com a idade adulta, o 3ue proporcionou ao mundo um no"o apreço pela ludicidade, )6 re3uerida pelo tempo li"reY por fm, "eio a capacidade de nos li"rarmos do se!o atrelado à nature9a, desonerando a mul#er e transormando a ati"idade se!ual em m63uina port6til de di"ertimento. Integra0se o se!o no mecanismo )6 pedido pela ludicidade e!pandida. 7odas essas condiç4es, 3ue a9em parte da "ida moderna contempornea, são pro"ocadas pela sociedade da super0 abundncia e ao mesmo tempo a caracteri9am. $ssa sociedade baseada na e!pansão da classe m(dia unifcou gostos, estilos, comportamento, educação e at( mesmo o trabal#o. A ronteira entre o trabal#o e )ogo se perdeu. 5 )ogo )6 não ( mais somente o elemento usado, na dinmica de grupo, para educar relaç4es de trabal#o, ele ( inerente ao próprio treinamento do trabal#o e ao próprio trabal#o. 5 cume disso ( a guerra como )ogo de "&deo game e o "&deo game como )ogo de guerra. /ão #6 distinç4es. $ssa ( a sociedade do lu!o, da possibilidade da -mis(ria americana se a9er sem apresentar mendigos ocidentais 3ue ten#am algo a "er com 3ual3uer caracter&stica dos pobres da [rica. 7rata0se da sociedade do descarte, do e!cesso de li!o e at( da c#amada -e!portação do li!o =#6 na"ios cru9ando os mares por anos, tentando acomodar em algum lugar o li!o tó!ico dos pa&ses ricos> ao mesmo tempo em 3ue e!p4e o e!cesso de lu!o. $ssa modernidade tem em seu seio a indi"iduali9ação 3ue con"i"e com a sociedade de massas, onde o indi"&duo se "8 como mais real 3ue a3uilo 3ue est6 à sua "olta, onde pais e fl#os não se distinguem, onde #oras de trabal#o e la9er se undem no lLdico0trabal#o. /esse espaço, se não #6 nen#um entretenimento imediato à "ista, pode #a"er então o se!o solit6rio ou "irtual, o 3ue em geral d6 no mesmo. 5 sucesso do esporte e outras maneiras de "oltar a ter peso, em busca de perormance, denota a busca de, na le"e9a, read3uirir a alguma coisa 3ue nos diga 3ue estamos no real. +e o reino da necessidade desaparece, nós o recriamos numa antasia 3ue se a9 real por meio de religi4es puniti"as reintrodu9idas, pela esporti9ação do mundo, pelo ati"ismo e tareas de todo tipo 3ue gan#em a apar8ncia da seriedade de antes =isto (, peso> 3uando ac#6"amos 3ue trabal#6"amos em unção de algo seriamente necess6rio.
A introdução de algum peso na le"e9a da sociedade ( signifcati"a principalmente na opção de )o"ens ocidentais pelo terrorismo 3ue se di9 islmico. $m um "&deo 3ue correu o mundo por conta de atentados terroristas em *aris, em N1Z, um )o"em ocidental, con"ertido ao $stado Islmico, dirige um carro 3ue arrasta "6rios cristãos e outros -inf(is. /o "&deo, ele e!plica' -antes eu "i"ia pu!ando sates e carrin#os de rolimã, agora eu pu!o esses inf(is. G como se dissesse' sa& da "ida Ltil, agora aço algo duro e impon#o a dure9a, "olto a tra9er peso ao mundo. Mue ningu(m aça pose de \caro] Xunto com +loterdi) podemos di9er, então, 3ue -o fm da orça de gra"idade nos condu9 a uma no"a era, a da -distensão da sub)eti"idade diante de todas a3uelas "ener6"eis defniç4es de mundo aeitas à in"ocação da seriedade. *ara alar em termos meta&sicos' a substncia monótona e pesada ( então infltrada pela le"e9a e pela ambiguidade. 5 nome utili9ado por +loterdi) ( -giro em direção à le"e9a, 3ue le"a a modernidade a um -e!perimento de le"itação e!pansi"o e transcultural. Admite0se então 3ue o -conceito de ci"ili9ação tem como premissa o de antigra"itação, isto (, trata0se da imuni9ação diante da gra"idade, da super0gra"idade 3ue unciona com uma orça paralisante das aç4es #umanas desde sempre. 7oda"ia, ( )ustamente nessa situação 3ue aparece a criação da simulação da necessidade, )6 3ue esta parece perder sentido. +urgem os en%menos da recuperação da disposição #eroica em uma situação em 3ue 3ual3uer #ero&smo não signifca mais nada. +loterdi) ala do personagem 3ue comentou 3ue a *rimeira Uuerra e!istiu para 3ue ele pudesse pro"ar 3ue não era um co"arde. +egundo o 3ue penso, podemos lembrar algo como a "iagem do )o"em Tilliam Xames ao Krasil, uma orma de ir para uma a"entura de #omem adulto e, assim, compensar sua debilidade 3ue o impediu de participar da Uuerra Ci"il americana. /asce a& a re0oneração intencional. 5 #omem não consegue admitir a despedida da necessidade, ainda 3ue, desde seu surgimento, ele )6 apontasse para uma le"e9a 3ue outros seres nunca con#eceram. Assim, -no desporto, no consumo, nos empreendimentos e, recentemente, tamb(m nos ati"ismos sociais outra "e9 se c#ega a uma -con)unção de trabal#o e )ogo não pre"istos. +loterdi) cita /iet9sc#e para endossar a3ui uma maneira 3uase pró!ima da ideia de -maso3uismo prim6rio como uma e!plicação para essa situação. /iet9sc#e ( 3uem di9 3ue o ser #umano sente aut8ntica "oluptuosidade em dei!ar0se orçar por demandas e!cessi"asE. 5s tempos contemporneos nos di9em 3ue a e!ist8ncia desarmada tem alta de )u&9o cr&tico interno, e da& surge o su)eito 3ue se sente e!posto a uma desoneração banal. +ua le"e9a se mostra 3uase como 3ue um dano. +ente0se como 3ue separado do 3ue realmente poderia l#e causar um dano. 7orna0se indierente a si mesmo, e com certa ra9ão, uma "e9 3ue a maneira 3ue "i"e coloca tudo o 3ue empreende como 6cil e, então, não real. Afnal, o real tem 3ue ter peso] ma "ida sem comoção entedia. 5 t(dio nada ( senão um e!perimentar o tempo como dilatação interior, uma "e9 3ue não se c#ega a
nada signifcati"o. +urge o animal sem missão, 3ue precisa então enga)ar0se em algo e se por entusiasmado, ainda 3ue artifcialmente. G necess6rio matar o tempo preenc#ido pelo t(dio, mas isso nada ( senão mais t(dio inestando toda a e!ist8ncia. 5 desonerado perde o sentido de e!ist8ncia, pois tudo 3ue entendia como e!ist8ncia dependia de algum esorço, algum peso. Assim, o t(dio proundo ( a -ine!ist8ncia realmente e!istente. 5 #omem mostra0se um -Atlas negati"o, a3uele 3ue na e!ist8ncia ine!istente tem 3ue -suportar a total alta de peso do uni"erso. 5 ter03ue0a9er0agora ( amputado do mundo. A modernidade ( a (poca da e!pansão da ideia de 3ue o din#eiro tra9 para casa, e tamb(m bota para ora de casa ou simplesmente a9 desaparecer, tudo 3ue antes possu&a identidade f!a. +loterdi) nos con"ida para "er 3ue essa situação não ( de oneração, mas, se comparada com o regime de pertença, uma realidade mais desonerada. /essa passagem para o uni"erso do din#eiro, todas as dimens4es essenciais do ser são modifcadas por meio da transmissão monet6ria. 6 acesso a lugares antes )amais pensados como espaços de nossa re3uentação, e para tal basta nos colocarmos como compradores de t&tulos de transporte, ou como usu6rios da m&diaY #6 acesso aos bens materiais, se nos colocamos como os usu6rios de meios de pagamento os mais "ariadosY al(m disso, encontramos mais pessoas se e!ercitamo0nos nessas duas pr6ticas. $m uma situação pr(0moderna, todos esses acessos esta"am restritos a grupos e, no interior desses, não raro, imposs&"el para todos. +loterdi) di9 3ue -a "ida do mercado demole con"icç4es, os monismos e as originalidades brutas, substituindo0os pela consci8ncia de 3ue e!istem sempre possibilidades de escol#a e sa&das laterais. -7al signifca, conse3uentemente, 3ue as pessoas fcam mais p6lidas e os ob)etos mais coloridos. Jas os incolores são c#amados a escol#er dentre as coloraç4es. G soberano 3uem decide a cor da estação. Decidir a cor da estação ( a tarea principal de estilistas. A moda ( a derrota do costume, escre"eu Uabriel 7arde. 5ra, o regime de monetari9ação permite e!atamente essa "itória do e8mero e sa9onal, e p4e os estilistas como capitães a respeito do 3ue pode e não pode ser utili9ado do arco0&ris. +ão os profssionais mais signifcati"os de ri"olidade s(ria, da arte 3ue transorma o corpo < obrigando todos à anore!ia < e da competição desporti"a 3ue se instaura de uma "e9 por todas como o 3ue de"e preenc#er o dia. 5s desfles de moda são desporto. +ão s(rios não como arte, mas como desporto. /isso se a9em e!erc&cio 3ue precisam ser le"ados por personagens não marcados por di"is4es pr(0modernas. /ão à toa os capitães da escol#a da cor são fguras da apoteose da androgenia. 6 nisso tudo uma mutação psicossocial. A modifcação ontológica tra9 modifcaç4es cogniti"as. As identidades f!as desaparecem ou se tornam o 3ue sobra para perdedores, e, então, ( o construti"ismo 3ue se mostra como o 3ue pode nos dar ideia sobre as coisas todas. Como ( o construti"ismo? 7udo 3ue encontramos (, logo em seguida, mostrado por nós mesmos como in"entado,
constru&do. 7udo tem algum manual de construção ou uma pol&ticaE. 5 natural perde espaço ou se reordena como parte da cultura. 5s limites entre o natural e o cultural tendem a desaparecer de "e9. Ali6s, na própria teoria de +loterdi), isso alude ao 3ue ele c#ama de -antropot(cnicas. /ão se trata mais de "er o #omem como um ser natural 3ue produ9 cultura, mas simplesmente como o 3ue ( eeito de -antropot(cnicas 3ue não distinguem entre o Ltero e o não0 Ltero ou 3ue, na flog8nese, elimina de "e9 o mito do -elo perdido. A parcela da sociedade com al-um poder de compra nota nessas condiç4es uma orma de desoneração 3ue resulta da necessidade 3ue se transorma em liberdade. 5ra, na "erdade, onde #a"ia necessidade, ad"(m o capric#o. Xunto do t(dio 3ue corre amigo da pa9 permanente e do di"ertimento cont&nuo, tamb(m surgem os 3ue ol#am para tudo de modo a alar do peso. +omente nessa sociedade desonerada, com espaços de mimo ampliados e modifcados, pode0se criar a pala"ra stress 5 estresse )amais e!istiria numa sociedade 3ue não osse le"e. Aparece )ustamente por3ue podemos por alguns minutos "er o 3uanto ( oneroso "i"ermos numa situação 3ue, sendo de desoneração cont&nua, ad3uirimos mais acilidade para fcarmos cansados por pouca coisa. 5s espaços de mimo de uma sociedade assim se desen"ol"em em cinco n&"eis. *rimeiro, ( 3ue com o din#eiro aparece o -poder de compra, o 3ue torna as coisas como de acesso acilitado. 6 algo de m6gico no din#eiro. /ão à toa, em 1ZN@ apareceu o #erói Fortunatus, com uma bolsa em 3ue surgiam 3uarenta moedas de ouro tão logo as primeiras 3uarenta ossem gastas. $m um segundo n&"el, #6 a pa9 e, portanto, uma desagregação r6pida da "irilidade #istórica. Isso ( apoiado pela m&dia e, logo em seguida, toda orma de androgenia, eminismo e #omoerotismo ( elicitada. /o terceiro n&"el "80se um aumento assustador a respeito das e!pectati"as de segurança. 7udo ( seguro. $ o 3ue não ( seguro, então, de"e gan#ar algum n&"el de segurança. Kombeiros se tornam o passado no presente. *ois o presente mesmo pertence aos planos de saLde, medicina pre"enti"a, engen#aria gen(tica e as seguradoras e compan#ias de proteção da "ida ci"il prolieram de modo a modifcar a noção de uturo. 5 impulso à ri"olidade abarca a todos. Com isso aparece o risco permitido, como se não osse um risco] 5s esportes radicais são isso' uma no"a orma de a"entura por3ue o risco parece não e!istir. A própria guerra ( assim tomada. Juitos soldados americanos se acreditam in"enc&"eis, e de certo modo o são mesmo. $m um 3uarto n&"el #6 a substituição de uma cultura 3ue ad"in#a da ormação, da 1ildun-, por uma no"a cultura desonerada 3ue ( a da consulta a terminais de inormação de todo tipo, inclusi"e )6 #6 "inte anos ligados em rede mundial de computadores. A pesada pessoa culta, a3uela cu)a biografa casa"a0se com os li"ros 3ue lia, torna0se incompreens&"el para os 3ue di9em saber algo #o)e
em dia. /ingu(m mais tem e!peri8ncia, 3ue ( algo 3ue onera, só #6 o 3ue est6 no mbito do -descarregar, e por isso mesmo o mecanismo de acesso e #omogenei9ação r6pida do saber tem o nome de do2nload. Com isso, como di9 +loerdi), -perfla0se um regime de cognição pós0pessoal, pós0liter6rio, pós0 acad8mico. /o 3uinto n&"el do sistema de conorto 3ue reordena o espaço de mimo ocorre a democrati9ação inaudita da acilidade e rapide9 para se tornar c(lebre por não a9er nada de tão importante, e tamb(m por desaparecer logo em seguida. 6 uma (poca da -glória dos artistas sem obras. Claro 3ue os no"os desonerados podem se parecer b6rbaros. A inantili9ação ( algo pelo 3ual sempre lutamos, mas 3uando a temos, ela parece ser um problema. 6 sim algo de barb6rie nisso. Jas não tanto, afnal, de"emos sempre lembrar 3ue Jussolini di9ia 3ue -o ascismo ( o #orror à "ida conort6"el. 5 li"ro 3ue descre"e a sociedade da le"e9a (, basicamente, o "ph#ren $$$ +c#^ume. Franurt am Jain' +u#ramp Qerlag, NN. As teses complementares aparecem no "ph#ren $$ Uloben. Franurt am Jain' +u#ramp Qerlag, 1@@@. 5s temas da sub)eti"idade, posta pelos )esu&tas e por ousseau, encontram0se respecti"amente em' $m 'eltinnentaum des Kapitals < F_r enie p#ilosop#isc#e 7#eorie der Ulobalisierung. Franurt am Jain' +u#ramp Qerlag, NNZY +tre` und Frei#eit. Franurt am Jain' +u#ramp Qerlag, N1. ma sub)eti"idade superadora est6 nos estudos sobre /iet9sc#e, nos estudos sobre energia timótica, nas 3uest4es do ascetismo com algo para al(m da religião e, tamb(m, nas 3uest4es en"ol"idas com a epoc#(, necess6ria aos flósoos e intelectuais. especti"amente nos li"ros =todos da +u#ramp Qerlag>' 3ber die .erbesserun- der -uten nachricht ' /iet9sc#e _ntes -$"angelium =NN1>Y 4orn und 4eit =NNP>Y %u mu5t dein 6eben #ndern =NN@>Y e "cheintod im %en7en =N1N>.Z
5 $sses
li"ros possuem "ers4es em ingl8s, espan#ol, ranc8s e italiano. 5 "olume III da trilogia das eseras em ingl8s est6 para sair. $!ceto a trilogia das eseras e o %u mu5t dein 6eben #ndern, todos os outros possuem "ers4es em portugu8s, de *ortugal ou do Krasil. 5 "cheintod im %en7en recebeu em ingl8s o t&tulo de &he art of 8hilosoph0