O Pentagrama de Ferro: Uma ferramenta para transformação.
Dentre muitas ferramentas produzidas pela Tradição Feri, os trabalhos com os Pentagramas são os que se fazem mais populares ultimamente e não sem espanto, já que sua eficácia é definitivamente absoluta para aqueles que sabem como usá-la. Mas o que acontece muito e que se torna muito complicado o manejo destes instrumentos é a falta de contextualização. O Pentagrama de Ferro quando elaborado por Victor Anderson estava unido com o Pentagrama de Pérola, juntos formavam o Decagrama. Victor ensinava os dois juntos, já que um fatidicamente leva ao outro, mas no tempo que Starhawk apresentou os pentagramas para a comunidade pagã em geral eles já haviam sido separados em dois pentagramas distintos. A Tradição Feri é assim mesmo, uma tradição viva, que se molda de acordo com quem a ensina sem nunca perder a sua essência. O trabalho com os Pentáculos devem ser sempre feitos, de preferência, supervisionados por alguém que tenha tenha experiência com as energias que ele movimenta. Do contrário pouco pouco benefício se tira, pois logo “perde-se a graça” ou não faz o efeito esperado, nossos bloqueios e defesas começam a arranjar desculpas para evitar o trabalho e é ai que tudo desanda se não tiver alguém por perto para dizer que tudo isso faz parte e que devemos continuar a trazer a tona estes sentimentos sentimentos e frustrações. De nada adianta você ter uma tomada, mas não não saber onde ligá-la. O Pentagrama de Ferro tem se mostrado uma ferramenta poderosa para o trabalho de transformação interna e movimentação energética, se torna rapidamente uma mandala para o praticante, um norteador de prática e ação no mundo, um mapa que pode indicar as questões nas quais a energia (física e psíquica) está sendo desperdiçada, oferecendo ações e reflexões para harmonizar cada aspecto de nosso eu interior. Um verdadeiro talismã de grande poder. A energia gerada pelo pentagrama de ferro é Mana, a forma mais crua de energia, é densa, cheia de vitalidade e poder, nutre e preenche o ser através do Unihipili e desperta forças primitivas, inatas em casa pessoa, pois nos fala de aspectos profundos e selvagens de nós mesmos. Brevemente, as pontas podem ser entendidas da seguinte maneira: Sexo representa a força criativa do universo, é adentrar na corrente Divina de criação, é o orgasmo no qual nos abrimos para a dança Universal do acasalamento e participamos ativamente de sua construção e destruição. Um momento que acontece a todo momento. É o encontro, o prazer, a força natural que compele a criação. Sexo é ao mesmo tempo tempo a peça chave para o controle ou liberdade da humanidade. De todos os anseios fundamentais da humanidade, este é o que tem sido mais temido, o que tem sido submetido aos maiores
controles e repressões e é em contrapartida o mais libertador, o mais curador de todos. Mas se o sexo foi reprimido e negado, foi também venerado em muitas partes do mundo, indo desde procissões cerimoniais com um falo de mármore, ereto em Delos, nos templos Lingam/Yoni na Índia, no misticismo tântrico entre muitos outros. Todo ritual primitivo de fertilidade é uma celebração do poder e prazer do Sexo. Sexualidade, criatividade e espiritualidade são a mesma energia, com a mesma origem e com o mesmo objetivo. São inseparáveis, negar um é negar o outro. Mas nesta questão tem-se que te muito cuidado, sexo é feito com respeito, com entrega e presença, não é somente a satisfação de uma necessidade, é olhar nos olhos do outro e se reconhecer neste olhar, sentir prazer com a troca e aceitar o outro ao invés de negá-lo como temos visto muito ultimamente. Se antes existia uma negação do ato sexual, hoje existe uma exacerbação do mesmo, sem respeito, sem entrega e sem verdade. Orgulho é reconhecer nosso próprio valor e é a capacidade de viver integro, sem reservas, permitindo que a nossa verdadeira natureza brilhe, sem precisar se comparar ao outro, é um estado de completa inocência, viver completamente o momento, orgulhando-se de si mesmo, está muito ligado ao amor-próprio. Self é um conceito estranho a muitos na língua portuguesa, é o reconhecimento do seu verdadeiro potencial bem como das limitações, saber quem se é em relação com o outro e com o universo, é aquilo por trás de cada papel que atuamos no dia a dia, nossa parcela de individualidade. Esta ponta do Pentagrama está muito associada com a Responsabilidade, em se responsabilizar por cada ato, por si mesmo e é isso que o liga diretamente com o Poder. Poder, aqui considerado como Poder Interior, é acessar o nosso potencial e expressálo através de ações, de trabalho e serviço. É a ação equilibrada e centrada, é a projeção de nossa essência no mundo que provoca mudanças, que transforma, que é mágica! Nunca é manipulativa, já que o poder interior é o poder fazer, o poder escolher, o poder agir, nunca impondo, já que o verdadeiro poder age em comunidade, cooperativamente com outros seres e outros pontos de vista. O Verdadeiro poder vem de dentro, das nossas camadas mais profundas e é o resultado de muito trabalho e crescimento, nada tem a ver com controle sobre outros, coerção ou manipulação (isso na verdade é falta de poder), Poder é a habilidade de moldar, de criar, de manifestar e estruturar, psíquica e fisicamente. Paixão é a vibração expressiva da vida, a intensidade que dá cor, profundidade e vitalidade a nossa existência. Paixão é a habilidade, o sentimento de estar aberto a experiência da vida e a cada aprendizado que o viver pode trazer, abraçando a alegria intensa bem como o sofrimento profundo. É o incorporar do êxtase. É a ânsia do encontro, é a busca, o sentimento visceral, motivador de partir em busca, é a intensidade de reconhecer a possibilidade de vir-aser. Quando observadas individualmente, as pontas do pentagrama representam aspectos importantes de nossa consciência que são geralmente interpretados de maneira negativa pelo ponto de vista social. Basta olharmos para os padrões sociais de beleza, sexo e trabalho. Buscamos ideais e renegamos o nosso verdadeiro potencial, buscamos nos relacionar com ideias ao invés de nos voltarmos a nós mesmos e buscar compreender como nos relacionamos com o nosso fazer criativo, desde o nosso trabalho até o ato sexual, os conceitos gerais nos desencorajam e diminuem nosso poder interior tendo como consequência uma diminuição no fluxo de Mana e o efeito é dominó, nos sentimos desmotivados, com baixa autoestima, descontentes com nossa vida, nosso trabalho, nosso relacionamento amoroso, preguiçosos, sempre doentes e por ai segue já que no pentagrama, cada ponta influencia diretamente a outra e juntas formam um só diagrama. Para agirmos no mundo de maneira consciente precisamos estar alinhados e em harmonia com todas as pontas, somente assim o Mana flui. Precisamos despertar deste sono social onde vivemos constantemente comparando nossos corpos com os da revista, nossas vidas com tramas de novelas e filmes, nossas
expectativa com livros e romances, precisamos despertar e fugir de sentimentos que nos obrigam a ser modestos o tempo todo, que nos faz sentir egoísta cada vez que aceitamos um elogio ou que nos faz pensar “Não fez mais que a obrigação!” a cada bom trabalho, precisamos mais ainda despertar de uma sociedade que equaliza “Poder” com “Corrupção”. Sim, ser bruxo
é ser agente político também, é transformar a sociedade com cada ato, a cada momento. Reestruturando o nosso relacionamento com cada um destes conceitos podemos harmonizar nossa visão de mundo, removendo os pré-conceitos negativos impregnados em nossa psique. Isso permite termos acesso a nossa autenticidade, reprimida pela cultura dominante, para que possamos agir com integridade e consciência. Somente assim que podemos fazer a magia acontecer. Só quando estivermos livres de medos irracionais é que poderemos viver de verdade e é exatamente isso que os Deuses nos orientam a fazer: Viver. Para podermos mediar o Poder verdadeiro no mundo (A real função de um Sacerdote e Sacerdotisa) nós temos que nos tornar íntegros, fazer as pazes com nosso “Eu” interior, reconhecermos quem e o que somos verdadeiramente. Fácil falar, difícil é fazer. Cada ponta do Pentagrama de Ferro representa um estado de nossa consciência que quando isolada das outras pontas se apresenta pouco útil no desenvolvimento saudável de nosso ser, de nossa psique. Quando conectamos cada ponta podemos entender como o conceito atua na realidade e como evolui, de um estado para o outro, criamos uma relação. Isso nos abre a possibilidade de reconhecer como cada ato no mundo reflete em mim e como isso me afeta, positiva ou negativamente. No início faz parte meditar sobre cada ponta individualmente, mas isto precisa evoluir até certo nível em que um conceito leve a outro diretamente, até que tudo junto forme um conceito só, o centro da questão é que se torna uma fonte de energia, é assim que o poder flui. Sexo, Orgulho, Self, Poder, Paixão, Sexo... Formando um espectro multicolorido. Juntas as pontas do Pentagrama se harmonizam como as vozes de um coral, se tornando algo maior que a soma das partes. Quando as cinco pontas atuam em conjunto, é como se a Deusa fiasse o tecido da existência, um portal psíquico se abre nos levando aos reinos féricos mais profundos, pois nos coloca em conexão com a Energia Divina Criadora. Assim damos o primeiro passa para construir relacionamentos saudáveis, uns com os outros e com o mundo, passamos a ser mais humanos em cada ato. Mas a pergunta que não quer calar é: Por que numa tradição neo-pagã precisa-se focar em ferramentas que são obviamente psicológicas? Por que não deixar que o praticante faça terapia e deixe que os assuntos da psique sejam cuidados por especialistas no assunto? O trabalho psicológico se faz muito mais amplo que tudo isso e com certeza, todo bruxo que se preze precisa viver o seu momento psicoterápico com um profissional, mas não seria sábio eu dizer que os reinos da psicologia não interagem com o espiritual. Mas para um bruxo ter a mínima base psicológica necessária para manusear e intermediar o entre mundos, se faz necessário esse olhar mais profundo para o nosso ser, em todos os níveis. O Pentagrama de Ferro não é somente um exercício psicológico-espiritual, se tornou uma egrégora, ele é um símbolo vivo que cresce a cada dia e atua sobre o nosso ser de maneira inteligente e independente. Isso faz deste trabalho algo único e muito poderoso. Por anos, praticantes de várias tradições, mas principalmente da Tradição Feri, vêm usando estas mesmas pontas como foco em meditações e manejo energético com sucesso, então quando alguém o incorpora nas práticas diárias não está sozinho, está sempre bem acompanhado. Focando-se nisto, o Pentagrama de Ferro é de certa forma, um lembrete de como estamos interconectados num nível mais pessoal e que podemos trazer este pessoal para o mundo. O Pentagrama de Ferro é o primeiro passo para incorporarmos em nosso ser e em nossa psique os aspectos divinos da criação e a partir disto começarmos a transformação interior e a agir no mundo. Os trabalhos com os Pentagramas nos abrem para o Mistério e nos garante acesso a Grande Mãe, o estado primordial de ser. Assim como o ferro em nosso sangue é a fundação de nossas vidas e de nosso bem-estar, o Pentagrama de Ferro se torna a
fundação de nosso fazer mágico, despertando o nosso verdadeiro potencial, o potencial de ser humano, por completo. Os trabalhos com o pentagrama podem acontecer de duas maneiras: A primeira é rodeando o Pentáculo, Começando em cima, na testa com Sexo e partindo para a esquerda, Self, Paixão, Orgulho, Poder e novamente Sexo, ou pode ser entrelaçado, começando com Sexo na testa, partindo para Orgulho no pé direito, Self na mão esquerda, Poder na mão direita, Paixão no pé esquerdo e Sexo novamente na testa. Claro que as direções podem e devem ser invertidas, assim como as pontas poder ser trocadas. Cada experiência é uma experiência e revela diferentes aspectos de nós mesmos. Muito mais pode ser e já foi falado sobre os pentagramas, mas a melhor maneira de apreendê-los é vivendo cada ponta e trabalhando com o sistema como um todo, sentir o impacto desta energia no seu corpo e no seu cotidiano.