EXCESSO DE SENTIMENTALISMO O tema do amor romântico tornou-se onipresente nos romances e nos manuais de savoir-vivre. Repentinamente, revelou-se nas pessoas uma intensa necessidade de invocar os ardores do sentimento; elas fugiam para longe do corpo, como se fossem anjos diáfanos, e se entregavam a sonhos com amores etéreos. O discurso romântico era recheado de metáforas religiosas: o amante era uma criatura celeste; a moça, um anjo de pureza e de virgindade; o amor, uma experiência mística. Falava-se de confissão, do sofrimento que redime, de adoração; as pessoas ficavam “perdidas de amor”, os corações “sangravam”... A palavra, escandalosa demais, era substituída por um leve toque, um rubor, um silêncio, um olhar... Era a imagem da boa moça de família, sentada diante do seu piano, as madeixas soltas, o rosto iluminado pelos candelabros, olhos perdidos no vazio... Tudo se passava em torno da perturbação do encontro, a silhueta fugitiva percebida numa curva do bosque, a doçura do perfume, ou um aperto de mão, tudo em meio à evocação e à distância. 10 Os românticos deleitavam-se em ser ostensivamente sentimentais, melancólicos, tempestuosos ou choraminguentos, conforme as oportunidades. Tom Moore, o poeta irlandês, ao cantar algumas baladas patéticas num auditório, comoveu tanto o público que as pessoas, uma a uma, se retiraram num pranto inconsolável. O próprio Moore, da mesma forma comovido por suas próprias canções, também explodiu num mar de lágrimas. As noivas desmaiavam no altar; os ministros, por vezes, choravam à mesa. O poeta Keats ficou em ocionado por uma urna, e Shelley pelo vento. Mas Coleridge se mostrou profundam ente sensibilizado por um jumento, e Wordsworth se emocionou na presença de rochas e pedras.11 POR QUE O ROMANTISMO? Houve grande mudança entre o amor vivido no século XVIII e no século XIX. Morton Hunt destaca alguns importantes aspectos. 12 O mundo dos monarcas absolutos, no qual o Iluminismo havia florescido, estava com os dias contados. Mesmo antes das guerras e revoluções que destruíram esse mundo, o padrão finamente polido da vida europeia das classes superiores já estava sendo modificado. As fábricas iam se multiplicando, e os homens de negócios tornavam-se mais ricos do que muitos aristocratas. Alguns desses novos-ricos procuravam copiar as maneiras das classes superiores, mas observou-se a infiltração para cima dos costumes da classe m édia. O gosto das filhas dos comerciantes em relação às novelas sentimentais ia se