Folha de Rosto
Créditos
© Editora Globo, 2011 © Monteiro Lobato sob licença da Monteiro Lobato Licenciamentos, 2007 Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser apropriada e estocada em sistema de banco de dados ou processo similar, em qualquer forma ou meio, seja eletrônico, de fotocópia, gravação etc. sem a permissão dos detentores dos copyrights. Edição: Cecília Bassarani (coordenação) Camila Saraiva e Luciane Ortiz de Castro Edição de Arte: Adriana Bertolla Silveira Edição Digital: Erick Santos Cardoso Diagramação: Fernando Kataoka e Gisele Baptista de Oliveira Consultoria e pesquisa: Marcia Camargos e Vladimir Sacchetta Preparação de texto: Página Ímpar e 2 Estúdio Gráfico Revisão: Margô Negro Produção editorial: 2 Estúdio Gráfico Projeto gráf ico: Manifesto Design Diagramação para ebook : Xeriph e-ISBN: 978-85-250-5007-6 Créditos das imagens: Acervo Iconographia (página 17), Acervo Família Monteiro Lobato (páginas 8, 14, 15 e 16), Coleção Vladimir Sacchetta (páginas 12 e 19), Acervo DEOPS Arquivo Público do Estado de São Paulo (página 17). Editora Globo S.A. Av. Jaguaré, 1.485 – Jaguaré São Paulo – SP – 05346-902 – Brasil www.globolivros.com.br
Capa Folha de Rosto Créditos Monteiro Lobato Obra Adulta Não tirar, nem deixar que o tirem O ESCÂNDALO DO PETRÓLEO Primeira Parte Introdução Retrospecto O caso de Alagoas Alagoas, São Paulo e o Brasil Os primeiros mártires do petróleo Carta aberta ao ministro da Agricultura Depoimento de Monteiro Lobato O que somos e o que precisamos ser O “conto do petróleo”
Segunda Parte Onde estávamos em 1936? Que houve depois de 1936? Última reação dos petroleiros A resposta Raciocínio sui generis A confissão dos interesses ocultos Histórico do petróleo do Lobato O mistério Os tratados com a Bolívia Os grandes crimes contra os povos GEORGISMO E COMUNISMO O Imposto Único Bibliografia selecionada sobre Monteiro Lobato
Monteiro Lobato
Monteiro Lobato, por J.U. Campos.
Homem de múltiplas facetas, José Bento Monteiro Lobato passou a vida engajado em campanhas para colocar o país no caminho da modernidade. Nascido em Taubaté, interior paulista, no ano de 1882, celebrizou-se como o criador do Sítio do Picapau Amarelo, mas sua atuação extrapola o universo da literatura infantojuvenil, gênero em que foi pioneiro. Apesar da sua inclinação para as artes plásticas, cursou a Faculdade do Largo São Francisco, em São Paulo, por imposição do avô, o Visconde de Tremembé, mas seguiu carreira por pouco tempo. Logo trocaria o Direito pelo mundo das letras, sem deixar de lado a pintura nem a fotografia, outra de suas paixões. Colaborador da imprensa paulista e carioca, Lobato não demoraria a suscitar polêmica com o artigo “Velha praga”, publicado em 1914 em O Estado de S. Paulo. Um protesto contra as queimadas no Vale do Paraíba, o texto seria seguido de “Urupês”, no mesmo jornal, título dado também ao livro que, trazendo o Jeca Tatu, seu personagem símbolo, esgotou 30 mil exemplares entre 1918 e 1925. Seria, porém, na Revista do Brasil, adquirida em 1918, que ele lançaria as bases da indústria editorial no país. Aliando qualidade gráfica a uma agressiva rede de distribuição, com vendedores autônomos e consignatários, ele revoluciona o mercado livreiro. E não ara por aí. Lança, em 1920, A menina do narizinho arrebitado, a primeira da série de histórias que formariam gerações sucessivas de leitores. A infância ganha um sabor tropical, temperado com pitadas de folclore, cultura popular e, principalmente, muita fantasia. Em 1926, meses antes de partir para uma estada como adido
comercial junto ao consulado brasileiro em Nova York, Lobato escreve O presidente negro. Neste seu único romance prevê, através das lentes do “porviroscópio”, um futuro interligado pela rede de computadores. De regresso dos Estados Unidos após a Revolução de 30, investe no ferro e no petróleo. Funda empresas de prospecção, mas contraria oderosos interesses multinacionais que culminam na sua prisão, em 1941. Indultado por Vargas, continuou perseguido pela ditadura do Estado Novo, que mandou apreender e queimar seus livros infantis. Depois de um período residindo em Buenos Aires, onde chegou a fundar duas editoras, Monteiro Lobato morreu em 4 de julho de 1948, na cidade de São Paulo, aos 66 anos de idade. Deixou, como legado, o exemplo de independência intelectual e criatividade na obra que continua resente no imaginário de crianças, jovens e adultos.
Obra Adulta[1] CONTOS • URUPÊS • CIDADES MORTAS • NEGRINHA • O MACACO QUE SE FEZ HOMEM ROMANCE • O PRESIDENTE NEGRO JORNALISMO E CRÍTICA • O SACI-PERERÊ: RESULTADO DE UM INQUÉRITO • IDEIAS DE JECA TATU • A ONDA VERDE • MISTER SLANG E O BRASIL • NA ANTEVÉSPERA • CRÍTICAS E OUTRAS NOTAS ESCRITOS DA JUVENTUDE • LITERATURA DO MINARETE • MUNDO DA LUA CRUZADAS E CAMPANHAS • PROBLEMA VITAL, JECA TATU E OUTROS TEXTOS • FERRO E O VOTO SECRETO • O ESCÂNDALO DO PETRÓLEO e GEORGISMO E COMUNISMO ESPARSOS • FRAGMENTOS, OPINIÕES E MISCELÂNEA • PREFÁCIOS E ENTREVISTAS • CONFERÊNCIAS, ARTIGOS E CRÔNICAS IMPRESSÕES DE VIAGEM • AMÉRICA CORRESPONDÊNCIA • A BARCA DE GLEYRE • CARTAS ESCOLHIDAS • CARTAS DE AMOR
Não tirar, nem deixar que o tirem
O escândalo do petróleo, 1a edição, 1936
Radiografia da epopeia que durou exatamente uma década, de 1931 a 1941, este livro comprova o traço apaixonado e quixotesco de Monteiro Lobato na sua campanha para modernizar o Brasil. Em tom didático, mas indignado, abre citando A luta pelo petróleo, obra de Essad Bey que ele, em mais uma de suas jogadas estratégicas, lançou em junho de 1935 pela Companhia Editora Nacional. Traduzida por Charlie W. Frankie, seu colaborador em levantamentos geofísicos e de prospecções, traz o resumo das vantagens do petróleo sobre o carvão como matéria combustível. No longo prefácio transcrito sob o título de “Retrospecto”, o leitor encontrará uma análise comparada da
atividade de outros países do continente como Estados Unidos, México e Venezuela, por exemplo, com tabelas sobre o número de poços perfurados, a quantidade de barris e respectivos valores em dólares. Ao mesmo tempo, Lobato aproveita para denunciar a ineficiência do Serviço Geológico, órgão oficial encarregado das pesquisas, a quem acusa de encampar a política dos trustes internacionais. “A Lei de Minas, feita sob medida para atender aos interesses da Standard, e imbecilmente endossada pelos próhomens da revolução, tira todo o estímulo, com a criação duma infinidade de embaraços desalentadores”, escreveria ao deputado federal por Santa Catarina Henrique Rupp Júnior, em 1935.
Campo petrolífero de Araquá, município de Águas de São Pedro, São Paulo
Depois de explicar em detalhes as tentativas de extração no território nacional, sobretudo em Alagoas e Araquá, São Paulo, revela as consequências nefastas da luta que ia fazendo vítimas fatais. Em “Os primeiros mártires do petróleo”, nos mostra como, desde o alemão José Bach, descobridor das azidas de Riacho Doce, os pioneiros foram sendo assassinados por forças ocultas. Em seguida, após a carta aberta ao então ministro da Agricultura, que administrava o uso do subsolo, ele bate na tecla que permeia todo o volume: “não tirar petróleo e não deixar que ninguém o tire”. Este é o cerne do se depoimento ao presidente da Comissão de Inquérito sobre petróleo, constituída a pedido dele próprio no início de 1936. Formulado em cinco partes, reitera sua acusação contra os órgãos governamentais de usar informações privilegiadas para beneficiar diretamente uma empresa norte-americana. Enfatizando a ideia de que abrir mão da matéria-prima combustível equivalia ao suicídio econômico e militar da nação, conclui que o problema principal residia na nossa tendência para resolver problemas só pelo lado teórico, com desprezo absoluto do aspecto prático. Para agravar, os empreendedores independentes ainda precisavam lidar com os “obstáculos artificiais, filhos da burocracia”, interpostos pelo Estado.
Torre de perfuração em Araquá. Lobato aparece na plataforma, c. 1935
Nos trechos seguintes Lobato vai desfiando os casos de sabotagem, as medidas arbitrárias e persecutórias contra si mesmo e seus companheiros de cruzada como Hilário Freire, que abraçou de corpo e alma a causa lobatiana. Aborda a criação do Conselho Nacional de Petróleo, comandado pelo general Horta Barbosa, contra quem se indispôs, além da constituição da sua Companhia Matogrossense de Petróleo, para perfurar em Porto Esperança, Mato Grosso.
Da direita para esquerda, Edson de Carvalho, Monteiro Lobato, Anísio Teixeira e Octales Marcondes Ferreira em foto de 1932
Aparece aqui também reproduzida a carta a Getúlio Vargas em que dá o histórico da situação e grifa o recado ao ditador: “O destino das nações depende muitas vezes da atuação dum homem que enxerga mais longe que os outros”. O artigo seguinte fala da resposta em forma de voz de prisão, onze meses depois, pela “audaciosa e injustificável irreverência”, “afirmações destituídas de verdade, inteiramente falsas, com o objetivo evidente de injuriar os poderes públicos”. Em 8 de abril de 1941, recolhido à Casa de Detenção onde, diz ele, não havia generais nem técnicos do Departamento Mineral a “infectar” o ambiente, mas só “lealíssimos assassinos e ingênuos transgressores dos códigos humanos”, soube que fora absolvido em primeira instância pelo juiz do Tribunal de Segurança Nacional, coronel Maynard Gomes, cuja sentença transcreve na íntegra.
Monteiro Lobato fotografado na Delegacia de Ordem Política e Social (DOPS), março de 1941
Já “Os grandes crimes contra os povos”, publicado inicialmente no Diário de São Paulo em 1935, a respeito da queima de café, foi revisto e atualizado por Lobato para suas Obras completas. Nele, enxergamos seu lado intuitivo, que previa a era do capital financeiro transnacional a impor sua lógica de mercado às nações periféricas. Segundo o pesquisador Humberto Marini, trata-se de um dos escritos mais consistentes do autor, “implacável no lancetar a enrustida corrupção estadonovista”. O volume fecha com Georgismo e comunismo, folheto de 1948 alardeando as vantagens do “Imposto Único” sobre a terra. Em vez de abolir a propriedade como nos regimes comunistas, limita-se a taxar quem não produz, penalizando os latifúndios em favor dos pequenos lavradores rurais. Ideia ingênua do visionário cidadão que insistia em apostar no futuro da sua pátria.
Georgismo e comunismo, capa da 1ª edição, 1948