Negritude, masculinidade, homoerotismo e espacialidade em James Baldwin: uma leitura brasileira1 Alex Ratts A vida sabe o revés de uma tentativa mas o incêndio da voz atenua a solidão e o medo de um país incompreensivo. Arde para resistir ao não e revelar-se a alma que mais dentro do desespero percebe o mundo e seu absurdo: só um blues é justo e completo como um abraço. Edimilson de Almeida Pereira – Nova Orleans
Após os primeiros estudos e orientações com foco na mobilidade espacial e social de intelectuais e trabalhadores/as negros/as e em meio à pesquisa acerca dos deslocamentos socioespaciais de mulheres negras, a exemplo da historiadora Beatriz Nascimento (RATTS, 2007a) e da socióloga Lélia Gonzalez (RATTS & RIOS, 2010), começo a voltar os olhos para as trajetórias de homens negros. Por acaso, mas não muito, retomo o contato com parte da obra de James Baldwin (1926-1987), distribuída entre ensaios e romances, acrescida de entrevistas.2 Publicado em português no Brasil à época da ditadura militar, é surpreendente descobrir a quantidade de obras traduzidas, o que demonstra o interesse de um público variado: pessoas “de esquerda”, negras e homossexuais 3. Na leitura tanto dos ensaios políticos, escritos no calor do Movimento pelos Direitos Civis do qual ele é uma voz ativa, como dos romances, é notória a abordagem da sexualidade masculina. Nestes últimos, os personagens gays, negros e brancos, têm destaque inclusive como protagonistas. Uma questão emerge da escrita de Baldwin: a espacialidade destes personagens gays, situados em geral entre os anos 1950 e 1960, tempo de total restrição às afirmações da identidade homossexual e à demonstração pública de afeto entre homens. Devo notar que o autor quase nunca afirmou sua homossexualidade, mas discutiu a questão gay. No entanto, entre aqueles/as que abordam sua trajetória, alguns/umas se referem a ele como um “autor gay”, caminho que trilho aqui. Nos ensaios e nos romances de Baldwin o lugar do indivíduo (negro) na nação traz uma questão que é acompanhada de uma dimensão espacial explícita, que passa por locais como quartos, bairros, ruas, cidades e países. Sua insatisfação com o racismo, 1
Este artigo, reescrito para este livro, foi inicialmente uma comunicação apresentada na III Reunião da Associação Brasileira de Estudos Homoeróticos (Belo Horizonte, UFMG, 2006) e no IV Congresso Brasileiro de Pesquisadores Negros (Salvador, UNEB, 2006). Publicado em: SILVA, Joseli Maria; ORNAT, Marcio José A& CHIMIN, Alides Baptista (Org.) Espaço, Gênero e Masculinidades Plurais. Ponta Grossa, Todapalavra, 2001, p. 261 – 289. 2 Havia lido O Racismo ao vivo (BALWIN & MEAD, 1973) em disciplina ministrada pelo prof. Kabengele Munanga na USP. Devo a Jarbas Ernandes de Oliveira e a Matheus Gato de Jesus a localização e o empréstimo de um exemplar o livro Da próxima vez o fogo que deflagrou a nossa busca pelas obras do autor. Dedico este artigo aos dois e a outros irmãos e camaradas: Rodrigo Reduzino, Joilson Santana, Welberg Bonifácio e Rinaldo Teixeira. 3 À semelhança de ativistas e estudiosos contemporâneos, prefiro o termo gay a homossexual que, por sua vez, deriva de um discurso médico do século XIX (COSTA, 2002). No entanto, o utilizo quando estou centrado no período entre os anos 1950 e 1970, quando o uso do termo gay no Brasil era muito restrito. (TREVISAN, 2004, GREEN, 2000).
2
especialmente com a segregação racial e espacial, leva-o a um exílio voluntário em Paris, que reaparece particularmente nas trajetórias dos seus personagens. Por extensão, a leitura de Baldwin faz pensar nos espaços restritos das pessoas gays, neste caso dos homens negros, e nos seus lugares possíveis de vivência do afeto homoerótico, além dos quartos e do “armário”, muitas vezes sufocantes. A recepção de seus textos no Brasil ditatorial quando o movimento negro e outros movimentos sociais se (re)organizavam me leva a refletir acerca de um dilema que encontro no discurso de intelectuais ativistas negros/as do período: as questões da subjetividade e da individualidade, da pessoa negra, mas também da nação e do território nacional marcados pelo escravidão e pelo racismo. Com alguém que conhece uma parte deste processo, relembro que pensávamos em nós como jovens, como homens, mulheres, discutíamos nossa sexualidade, mas também o país, sua formação e seu destino. Antes de dialogar com a obra de Baldwin em suas traduções para o português e com referência em alguns/umas comentadores/as, indico alguns pontos que permeiam desse estudo: qual o lugar da representação da experiência homoerótica de pessoas negras na ciência e na arte? No caso em foco: qual o lugar da representação textual e imagética da experiência homoerótica de homens negros? Quais as imagens de homens negros nos estudos de gênero e estudos gays e nas obras de homotextualidade? Será o lugar da invisibilidade e do não-dito? Serão os “ardis da imagem” (PEREIRA & GOMES, 2001) ou as “imagens de controle” (COLLINS, 1991) restritas no caso dos homens negros aos quadros de violência, brutalidade, frieza e hipersexualidade (hooks, 2004)? E os homens negros gays? Em quais e quantas páginas, fotografias ou filmes há a sua representação adequada? A meu ver, é com as intelectuais negras feministas estadunidenses e brasileiras que se constitui a possibilidade de abordar de maneira qualificada a intersecção entre raça, gênero, sexualidade e afetividade (DAVIS, 1983; hooks, 1988; COLLINS, 1991, GONZALEZ, 1983; NASCIMENTO, 1990). É também com algumas delas que se abrem perspectivas para discutir heteronormatividade e homoerotismo entre pessoas negras. Poucos autores negros colocam as relações homoeróticas no centro de seus textos de maneira adequada. É aí que James Baldwin tem um lugar específico e especial. Neste artigo tento responder em parte às indagações postas pensando a trajetória socioespacial do autor e de suas personagens fazendo a interseccionalidade entre raça, gênero, sexualidade e espaço por meio da categoria lugar que tem passado por uma discussão complexa mas, que, de passagem, pode ser pensada como lócus de referência, por vezes identitário, passível de apropriação pelo indivíduo e por um grupo social, além da segregação forçada.
3
Cabem as últimas ressalvas: mesmo se tratando de uma leitura brasileira da obra de Baldwin editada em português, faço uso de referências de estudos estadunidenses acerca do autor em foco. Em geral não me refiro a problemas na tradução das suas obras, ainda que tenha consultado as versões em inglês. Para a compreensão dos argumentos utilizados, por vezes, longas citações dos textos em estudo se fazem necessárias.
1.James Baldwin: leituras brasileiras
Escritor e ativista do movimento pelos direitos civis negros nos EUA, James Arthur Baldwin, nascido em 2 de agosto de 1924, em New York, e falecido em 1 de dezembro de 1987 em St. Paul de Vence, na Riviera francesa, tem uma obra significativa (ensaísta, romancista, teatrólogo e poeta) que foi em parte traduzida no Brasil por editoras das cidades do Rio de Janeiro e São Paulo entre os anos de 1960 e 1980. Baldwin é relativamente conhecido por militantes da
esquerda
e
do movimento negro
e
homossexual nascentes. No entanto, a leitura segmentada – autor negro / gay – em conjunto com a não tradução e não reedição de suas obras depois deste período prejudica uma compreensão da unicidade e multiplicidade de seus escritos em que as questões de negritude, masculinidade e sexualidade aparecem como centrais nos ensaios e nos romances, além do homoerotismo na obra ficcional. A vida no Harlem, as viagens para o Sul, o exílio em Paris, o retorno aos EUA, são acompanhados das suas vivências espirituais (a ruptura com a instituição igreja), políticas (o ativismo negro) e afetivas (famílias, amigos/as, amores não nomeados), que, de certo modo. Reaparecem nas experiências homo, hetero e bissexuais de seus personagens masculinos negros ou brancos. As traduções de James Baldwin no Brasil e em Portugal entre os anos 1960 e 1980, de textos escritos e publicados nos EUA entre 1950 e 1970, apontam para uma recepção de temas e abordagens, ainda que não completamente inéditos, mas certamente polêmicos para os/as leitores/as tendo em vista a ditadura militar vigente no país. O autor é publicado por editoras das cidades do Rio de Janeiro e São Paulo. Há também textos publicados pela Dom Quixote de Lisboa. Dentre os escritos de cunho político os dois primeiros traduzidos o são por editoras pequenas e hoje desconhecidas: Da próxima vez, o fogo (1967) pela Biblioteca Universal Popular (coleção da Editora Civilização Brasileira) e a coletânea de entrevistas para a TV O protesto Negro: James Baldwin, Malcom X, Martin Luther King (1969) pela Laemmert, acrescida de um escrito de Leon Trotsky a respeito da “autodeterminação dos negros americanos”. A Hemus, de São Paulo, edita os romances Um homem à minha
4
espera/Going to Meet The Man (1969) e O preço da glória/Tell Me How Long the Train’s Been Gone (1969) 4. Mais de 15 anos após sua publicação nos EUA, Giovanni (1972) vem a público no Brasil, no mesmo período, por uma editora de renome, a Abril Cultural, e segue sendo o livro mais reeditado de Baldwin em português 5. Posteriormente a editora Brasiliense edita E pelas praças não terá nome (1973). Somente depois é editado mais um romance Numa terra estranha (1984), escrito mais de vinte anos antes. Não houve edição brasileira de seus trabalhos publicados nos EUA nos anos 1980 e dos póstumos. Na recepção brasileira dos livros de Baldwin, difundidos a partir do eixo Rio – São Paulo, posso inferir que as editoras o ressaltam como “escritor negro”, autor de “ensaios políticos” e que alguns livros são considerados “romances de protesto” por tratarem de temas como relações raciais e homossexuais, dentre outros:
James Baldwin, romancista, crítico e ensaísta, é um dos grandes polemistas pelos direitos civis dos negros nos EUA. Neste livro, ele faz uma análise contundente dos costumes & maneiras da sociedade “branca” americana, assim como a exegese definitiva das iniqüidades a que os negros são submetidos. Trata-se de um dos grandes ensaios humanistas do nosso tempo, leitura indispensável para os que desejam conhecer a fundo esse problema, que representa uma chaga na civilização dos EUA.6 James Baldwin, considerados um dos maiores escritores negros americanos, notabilizou-se por seus vigorosos e polêmicos ensaios sobre a questão racial nos Estados Unidos. Este romance marcou devidamente uma etapa de sua evolução literária. (...) Sem nunca abandonar o tom subjetivo e a extrema sensibilidade, Baldwin mostra também a dificuldade de se encontrar um caminho próprio de inserção social. 7
São obras publicadas durante a ditadura militar brasileira (1964-1985), quase todas nos anos mais duros do regime (1964-1974), quando os movimentos negro e homossexual estão em formação, sem grandes correlações entre si. Parece-me que Baldwin é bastante lido, mas de forma cindida: os ensaios Da próxima vez o fogo e Pelas praças não terá nome por um público “de esquerda” e negro, e o romance Giovanni pelo público homossexual também vinculado ao mesmo campo político. Baldwin foi entrevistado nos Estados Unidos pelo jornalista brasileiro Paulo Francis para o periódico O Pasquim, em 1972, o que indica seu interesse pelo público “de esquerda”. Cabe ressaltar que Baldwin é pouco referido por intelectuais negros/as
4
As edições da Hemus apresentam problemas: não há índices dos capítulos, o conto Sonny’s Blues está sem título na coletânea denominada em português de Um homem à minha espera (1968), expressão que, em conjunto com as capas, permite uma leitura erótica e distorce uma obra que focaliza tensões raciais. 5 Giovanni foi encenado em 1987, em São Paulo, no antigo Teatro do Bexiga, pelos atores Caíque Ferreira e Hugo Della Santa nos papéis de Giovanni e David. www.spescoladeteatro.org.br. 6 Texto da contracapa de Da próxima vez o fogo (1967), edição da Biblioteca Universal Popular. 7
Texto da contracapa de Giovanni (1987), edição da Rocco.
5
brasileiros/as, a exemplo de Abdias Nascimento que, em artigo de 1978, rememora ter lido em português Giovanni, Numa terra estranha e Da próxima vez, o fogo (2002: p. 22). Por ocasião da morte de Baldwin, Nascimento aponta que o escritor “era uma das personalidades que a comunidade negra brasileira esperava para as discussões sobre o centenário da abolição da escravatura” (FOLHA DE SÃO PAULO, 1987). Com exceção de Giovanni, não há edições recentes das suas obras no Brasil. Para ter acesso aos seus livros é necessário ir a bibliotecas públicas ou adquiri-los em sebos. Nos sítios eletrônicos em português há algumas referências bibliográficas, fotografias e vídeos de suas entrevistas. Negro, gay, escritor, ativista, Baldwin é portador de uma voz contundente, que provoca sulcos e vincos na mente de leitores e leitoras, negros/as ou brancos/as, sendo referência contemporânea para intelectuais e artistas negros dos EUA como pensadora feminista bell hooks (2004, 2001), o estudioso das culturas negras Paul Gilroy (2001) e o cineasta Spike Lee (filme A Hora do Show - Bamboozled). No Brasil, segue sendo um ilustre desconhecido.
2. Escrita negra, masculina, gay e espacialmente situada Auto-exilado em Paris, Baldwin publica em 1953, aos 27 anos, o romance Go tell it on the Mountain, em grande parte autobiográfico, e, dois anos depois, a coletânea de ensaios Notes of a Native Son que se inserem no contexto estadunidense do pós-guerra e do início da mobilização pelos Direitos Civis da população negra. Com a publicação e tradução do romance Giovanni, em 1956, aos 30 anos, e posteriormente dos ensaios Da próxima vez o fogo (1967) e Pelas praças não terá nome (1973), respectivamente em 1963 e 1972, o autor se torna conhecido em seu país, em parte da Europa e em alguns países das Américas. Giovanni consiste em um drama situado em Paris, com personagens brancas, no qual o jovem italiano que dá nome ao livro atrai afetiva e sexualmente, o estadunidense David que, por sua vez, se divide entre ele e Hella, sua noiva e conterrânea. Os ensaios Da próxima vez o fogo (1967) e Pelas praças não terá nome (1973) trazem sua crítica ao racismo e à segregação nos EUA, contêm elementos de sua infância, adolescência e juventude no Harlem, a participação no Movimento pelos Direitos Civis, as viagens ativistas para o Sul dos Estados Unidos, e focalizam a desumanização de homens e mulheres negros provocada pelos mecanismos racistas e também sexistas Cada vez mais James Baldwin inscreve sua presença no mundo como escritor e ativista através de sua identificação racial e dos temas de seus ensaios, da coletânea de contos Um homem à minha espera (1969), de alguns romances como Marcas da Vida (1979) e Numa Terra Estranha (1984). Torna-se um escritor negro que trata de masculinidade, sexualidade e especialmente de relações raciais e sexuais (homo ou
6
heterossexuais) entre casais negros, brancos ou inter-raciais, em narrativas situadas em New York, muitas vezes no Harlem, no Sul estadunidense e em Paris, França. Nestas obras, distintas em gêneros literários e temáticas abordadas, Baldwin comparece por inteiro e com sua escrita veemente, trazendo elementos comuns de suas obras, sejam autobiográficos ou não, que, no entanto, passam a ter recepção diferenciada. Como disse anteriormente, Giovanni é lido como um “romance gay” e os ensaios são assinalados como de autoria de um “escritor negro”. Para leitores/as, admiradores/as e comentadores/as, Baldwin é um homem negro estadunidense, artista e ativista, e, ainda que praticamente não tenha feito seu outing, é visto com gay. James Campbell em À margem esquerda (2000) trata de intelectuais e artistas estrangeiros, alguns deles negros e/ou homossexuais estadunidenses que vivem em Paris entre os anos 1940 e 1960. O autor diz que, por ocasião da sua primeira chegada à cidade, em novembro de 1948, James Baldwin é um homem jovem tenso, franzino, com gestos de mão extravagantes e uma expressão facial marcante que “em apenas um minuto de conversa, podia ir do trágico ao cômico, abrangendo enquanto isso todas as nuances intermediárias” (p. 39)”. Baldwin, que leva uma vida modesta, por vezes precária, tem um ponto de encontro com colegas escritores “radicais jovens fugitivos e clientes habituais”: o bar La Reine Blanche conhecido como um local de homossexuais qualquer que fosse a orientação de seus clientes. Campbell retrata, a partir de informações de outrem, um dos locais de hospedagem do escritor, um hotel na Rue de Verneuil, chamando atenção para as pessoas, inclusive rapazes, que ali eram vistas na companhia do jovem artista estadunidense exilado (2000: 34). Em seu texto Campbell segue fazendo uma espécie de outing de James Baldwin quando nomeia um de seus amores, cuja ruptura, teria contribuído para o retorno de Baldwin aos EUA, em conjunto com o apelo que sentiu para se envolver com o Movimento pelos Direitos Civis (2002: 34). Em relatos autobiográficos, Baldwin, com razões próprias, insiste no motivo político de seu retorno. Neste processo ele conhece pensadores/as militantes afro-estadunidenses de várias gerações como Malcom X, Martin Luther King, Huey Newton e Ângela Davis. Baldwin tinha 24 anos, quando chega à capital francesa e fica por 13 anos no seu primeiro exílio. Em 1949 publicou um ensaio – Preservation of Innocence – não traduzido para o português, onde fazia críticas à representação da masculinidade em romances estadunidenses (CAMPBELL, 2000, p. 46-48). Àquela época, apesar do escritor ser apontado como homossexual, ou mesmo “veado” (p. 47) Campbell aponta que este termo “com todas as suas conotações de facciosismo, era exatamente a palavra errada para o relacionamento ainda em desenvolvimento, ainda exploratório, de Baldwin com a própria sexualidade” (p. 48). O autor conclui que: “A busca de si mesmo era uma missão que ele empreendia com uma espécie de fervor religioso” (p. 48).
7
Em entrevista ao periódico The Paris Review Baldwin afirma que era impossível para ele naqueles anos 1950 tratar da questão negra e homossexual na mesma obra, daí Giovanni’s Room, ter apenas personagens brancas:
Eu certamente não poderia possivelmente ter — não nesse momento na minha vida — segurado o outro grande peso, o "problema negro". A luz da moral sexual era uma coisa difícil de lidar. Eu não podia lidar com ambas as proposições no mesmo livro. Não havia espaço para isto. Eu poderia fazer diferente hoje, mas então, ter uma presença negra no livro, naquele momento, e em Paris, estava completamente fora do meu poder (ELGRABLY, 1984) (Tradução livre).
Em outra ocasião o autor participa de um evento gay interracial e afirma que na adolescência lhe chamaram de faggot (“bicha”), assim como na vida adulta foi vítima de homofobia. A notícia é intitulada Baldwin comes out, ou seja, Baldwin “sai do armário” (TYNNER, S/D). Além disso, estudiosos de sua obra, o reconhecem como um “autor gay” sem que para isso tenham que destrinchar sua bioografia. bell hooks (2001) aponta que nos anos 1950, antes de se formarem comunidades gays, havia certa
tolerância nas comunidades negras segregadas com
pessoas
homossexuais, especialmente com artistas e religiosos/as. A autora não deixa de assinalar situações de homofobia nesta ampla coletividade, inclusive com James Baldwin, confrontado por Eldridge Cleaver, dos Panteras Negras, que o acusa de traidor, de submeter-se política e afetivamente aos brancos, de atacar a masculinidade negra em face de sua homossexualidade que o autor considera uma doença 8. Diante de tudo isso, em síntese, o que importa é que Baldwin, após sua morte, é relido como um autor gay por aficionados/as e estudiosos/as de sua obra que não necessitam esmiuçar sua vida pessoal (hooks, 2001; SHIN & HUDSON, 1998). Ser um autor gay não implica em um processo único, monolítico:
Muitas são as opções. Ser um escritor, gay é afirmar uma afetividade que longe de acentuar o isolamento e a alienação do homem contemporâneo, é uma forma de redefinir práticas políticas marcadas pelo cotidiano, de uma ética de um sujeito plural, como defende Jurandir Freire Costa, de uma estética da existência, para lembrar uma vez mais Foucault (2002: p. 19).
Denílson Lopes segue afirmando o lugar dessa escritura gay dos anos 1990 que nos permite rememorar o texto de Baldwin:
8
O ensaio Notas sobre o filho nativo pertence ao livro Alma no exílio publicado no Brasil (CLEAVER, 1971). Não encontrei referências de alguma repercussão destas ideias entre intelectuais ativistas do período no Brasil.
8
Não mais a estética, nem mesmo a crítica, apenas a escritura. Na volta do autor, nos anos 90, a experiência se sobrepõe ao lugar da identidade. Entre relato de leituras e a autobiografia é o lugar em que quero estar hoje nesta estação chamada estudos gays. Não é um lugar tranqüilo de se estar, não se trata de nenhum país das maravilhas. Frágil, perplexo, humilde me aventuro, aprendendo a balbuciar como uma criança em meio aos ruídos deste fim de século (2002: p. 20).
Baldwin pertence a uma época anterior, mas também experimentou este lugar intranquilo. Recusa e afirma identidades sexuais de forma compreensível. Seus personagens masculinos são homens negros (Léo, Rufus, Arthur, Jimmy) e brancos (Giovanni, David, Eric) que têm seus relacionamentos homossexuais, por vezes, hétero ou bissexuais, intra e/ou inter-raciais, compõem um universo da experiência do sujeito que se desloca entre experiências e identidades raciais, de gênero, sexuais e espaciais, sem
essencializá-las
ou
negá-las.
No
entanto,
num
mundo
heteronormativo
e
hegemonicamente branco, a escrita de Baldwin torna-se negra e gay.
Masculinidade negra, sexualidade e a possibilidade do amor
James Baldwin pode ser inserido no rol de escritores afro-estadunidenses que trataram da masculinidade negra seja por um viés autobiográfico e/ou literário : Black Boy de Richard Wrigth (1993) e O homem invisível de Ralph Ellison (1990), datados originalmente de 1945 e 1947. Tais temas não têm merecido maiores e mais aprofundados estudos e debates. A primeira parte do ensaio Da próxima vez, o fogo é constituída por uma carta endereçada ao sobrinho homônimo do autor e foi escrita por ocasião do aniversário de 15 anos do rapaz e do centenário da emancipação em 1963. Baldwin vincula seu quadro de vida próximo, familiar, ao contexto aparentemente distante da nação, tendo como tema o racismo e a situação da população negra:
Este inocente país lançou-o num gueto no qual, de fato, desejava que você perecesse. Deixe-me traduzir exatamente o que quero dizer com isso, pois o essencial da questão está neste ponto e a raiz da minha pendência com o meu país. Você nasceu onde nasceu e se defrontou com o futuro com que se defrontou porque era negro e por nenhum outro motivo. Esperava-se que os limites da sua ambição fossem, assim, fixados para sempre. Você nasceu numa sociedade que traduzia numa clareza brutal, e no maior número de formas possível, que você era um ser humano sem valor. Não se esperava que aspirasse à perfeição: esperava-se que fizesse as pazes com mediocridade. Para onde quer que você tenha se voltado James, no curto espaço de tempo em que se encontra neste mundo, disseram-lhe aonde podia ir e o que deveria fazer (e como podia fazer) e onde podia morar e com quem podia casar. (BALDWIN, 1967: p. 24. Grifo do autor)
9
Refletindo acerca dos mecanismos de desumanização provocados pelo racismo e pela segregação historicamente prolongados, Baldwin suscita o sobrinho a preparar-se com firmeza e também com afeto para sobreviver ao emparedamento racial, espacial e social. No princípio do longo ensaio Ao pé da cruz: carta de uma região da minha mente (BALDWIN, 1967: p. 27-111), contido no mesmo livro, encontramos a imagem do adolescente e jovem negro que cresce no gueto e cujas pressões de uma masculinidade, que podemos denominar de heteronormativa, aliada ao risco da criminalidade, são percebidas com agudeza. Baldwin rememora sua adolescência, por volta de 1940, de uma maneira que consideramos tratar-se de uma correlação entre raça, gênero e espaço:
O que vi em torno de mim naquele verão no Harlem foi o que sempre vira: nada mudara. Mas agora, sem qualquer aviso, as prostitutas, rufiões e malfeitores da Avenida tinha-se tornado uma ameaça pessoal. Antes não me ocorrera que eu poderia transformar-me num deles, porém agora compreendia que havíamos sido gerados pelas mesmas circunstâncias. Muitos dos meus camaradas tomavam nitidamente o rumo da Avenida e meu pai dizia que eu estava no mesmo caminho. Meus amigos começavam a beber e a fumar, e aventuravam-se – de início com avidez, depois a gemerem – em suas carreiras sexuais. (1967: p.31-32)
Mencionando as transformações que podem ocorrer também com as garotas, Baldwin àquela época muito envolvido com a igreja, parece extremamente preocupado com o que se denomina em termos contemporâneos de vulnerabilidade e risco para ambos os gêneros:
(...) algo existia de mais profundo que essas modificações; e menos definível, que me aterrorizava sobremodo. Era um fato possível de constatar que nos rapazes quer nas moças, embora de certa forma mais patentes entre os primeiros. No caso das moças, era como se tornassem matronas antes de se tornarem matronas ou mulheres. Começavam a dar mostras de uma curiosa e perturbadora estreiteza de espírito. (...) Pois as moças tinham consciência também do que se passava na Avenida, sabiam o preço que teriam que pagar por um passo em falso, sabiam que tinham que ser protegidas e que nós representávamos a única proteção possível, acreditavam ter que atuar como chamarizes de Deus, salvando as almas dos rapazes para Jesus e sujeitando-lhes os corpos através do casamento. (p. 32-33)
Baldwin rememora que, para repetir esta situação, busca manter-se na escola e entrega-se à igreja, à vivência religiosa, com a qual ele rompe depois. Menos que a reprodução de estereótipos raciais, sexuais e de classe, com base na moral cristã e na heteronormatividade, posso inferir que o que está em questão é a preocupação com os
10
destinos da juventude negra e com suas possibilidades restritas em uma sociedade racista segregada. Nos seus ensaios políticos publicados no Brasil, Baldwin além de tratar da masculinidade negra, traz cenas que focalizam a hipersexualização do corpo do homem negro, um conteúdo relativamente incomum para a época no que diz respeito a um escrito deste cunho. No ensaio Leve-me para a água que constitui a primeira parte do livro E pelas praças não terá nome (BALDWIN, 1973:p. 9-62) o autor trata de outra situação-tema que interessa no tocante ao vínculo entre raça e gênero: o fetiche falocêntrico em relação aos homens negros. Baldwin evoca uma cena ocorrida nos dias de ativismo pleno em que um homem branco poderoso de uma cidade do Sul toca seu corpo, seu pênis, sem consentimento:
Eu escrevi sobre aqueles primeiros dias no Sul, mas de uma distância mais ou menos impessoal. Eu nunca escrevi, por exemplo, sobre meu inacreditável choque, quando percebi que estava sendo alisado por um dos homens mais poderosos de um dos Estados que eu visitei. Ele se achava suado de bêbado a fim de conseguir o seu desesperado gozo. Com os olhos úmidos fitando minha cara e suas mãos úmidas alisando o meu pau, nós estávamos, ambos, abruptamente, no bolso anal da história. Era muito assustador – não o gesto em si mesmo, mas a degradação disso, e a hipótese de uma cumplicidade rápida e repugnante: como minha identidade estava definida pelo seu poder, conseqüentemente minha humanidade deveria ser colocada à disposição de suas fantasias (1973: p.49).
O autor nos situa melhor diante do poderio daquele homem branco face à prática de prisões e linchamentos de pessoas negras, durante a mobilização pela dessegregação:
Este homem, com um telefonema, podia prevenir ou provocar um linchamento. Este era um dos homens para quem você telefonava (ou um amigo seu telefonava) a fim de pedir para tirar seu irmão da prisão. Conseqüentemente, era preciso ser muito amável: mas o preço disso era seu pau (1973: p. 49). Em seguida o autor nos remete ao período escravista em que a sexualidade dos homens negros escravizados era limitada pela presença e intervenção dos homens brancos senhores:
O escravo sabe, muito embora o seu mestre [senhor] possa ficar desiludido nesse ponto, que ele é chamado um escravo porque sua masculinidade foi, ou pode ser, ou será, tomada dele. Ser escravo implica ter a masculinidade engajada numa dúbia batalha, e este duro fato não é alterado por qualquer que seja a devoção que alguns mestres [senhores] e alguns escravos podem ter chegado em seus relacionamentos um com o outro. (1973: 49)
11
Essa limitação se estende aos relacionamentos entre mulheres e homens negros e deixa marcas para além do período escravista:
No caso da escravidão americana, o direito de um negro para com suas mulheres, bem como seus filhos, era simplesmente tomado dele, e por mais bastardos que o homem branco gerasse nos corpos das mulheres negras, estes tomavam a condição de suas mães. Os negros não eram os únicos garanhões nas fazendas de escravo! E um dos muitos resultados dessa conspiração lucrativa e sem amor era que, dando aos mestres todas as concebíveis lições sexuais e comerciais, também libertava-se de qualquer responsabilidade humana – para suas mulheres, para seus filhos, para suas esposas, ou para com eles mesmos. Até hoje os resultados desta blasfêmia neste país ressoam em todos os níveis sociais públicos e privados. (1973: p. 49-50)
Ainda que, nesta última citação, Baldwin esteja circunscrito ao universo heteronormativo é importante destacar que ele levanta a correlação entre racialização, sexualização e gênero na formação do país que nos remete ao processo denominado por Carneiro (2003) de subalternização do gênero segundo a raça em que mulheres e homens negros, em face do ônus da desvalorização social, estética e cultural, não correspondem aos ideais de mulher e de homem. Devo destacar que tais questões, aparentemente esquemáticas, devem ser interpretadas de acordo com contexto histórico e geográfico em pauta. Baldwin volta ao caso do homem branco que o tocara sem consentimento, anunciando que considera “qualquer toque sem amor uma violação”:
Quando um homem segurou meu pau, eu não pensei nele como uma bicha, não pelo fato de ele ter uma esposa, filhos, casa, carros e uma posição respeitosa e poderosa na sociedade, que tudo isso não significa nada, mas pelo fato de que na verdade ele não era: eu olhava para os olhos dele, pensando, com grande tristeza, A vida não examinada não vale a pena ser vivida. O desespero entre os não amados é que eles precisam narcotizar-se antes de tocar qualquer ser humano. Eles então fatalmente tocam a pessoa errada, não porque estão cegos, ou perderam o censo do tato, mas porque não têm mais nenhuma maneira de saber que qualquer toque sem amor é uma violação. (p. 50. Grifo do autor)
Na leitura que procedo de inúmeros textos de autores/as e ativistas negros/as brasileiros/as dos anos 1970 e 1980, não encontro nenhuma linha acerca dessas questões, nem mesmo menção a tais passagens da obra de James Baldwin. Minha hipótese é que se tratava de um tema tabu, em face de um quadro de hegemonia masculina e heterossexual no movimento negro, além da existência de homofobia na comunidade negra, o que é quebrado a partir da organização das mulheres negras e mais recentemente de grupos negros LGBTT (RATTS, 2007b). Noto que outras obras
12
literárias de autores afro-estadunidenses que tratam da masculinidade negra foram publicadas em português nos anos 1990, a exemplo dos livros dos mencionados Richard Wright e Ralph Ellison. Ainda no ensaio Leve-me para a água, editado em E pelas praças não terá nome (1973), Baldwin aborda sua trajetória, o racismo e a mobilização pelos direitos civis nos EUA, e o seu exílio em Paris. Falando de si, aos 46 anos, o autor nos dá indicações de sua difícil inserção social, o que inclui sua sexualidade: “Eu tinha percorrido o meu caminho e a vida concluiu a sua inexorável matemática – e o que no mundo era eu agora, exceto um maduro, solitário, dúbio sexualmente, ultrajado politicamente, indescritível aleijão instável?” (1973: p. 21). No ensaio, Baldwin principia a falar de amor, em parte se desculpando por abordar um tema que parece inusitado para o propósito do livro:
Meu amor não é assunto deste livro, e contudo, honestamente vejo-me obrigado a colocá-lo entre os detalhes, porque – acho que sei – que minha estória (sic) seria muito diferente se o amor não tivesse me forçado a experimentar a mim mesmo (1973: 24)
Vinculando amor e tensões sociais e afirmando que “amor não tem cor” (pensamento que em parte se modifica em seus escritos posteriores), Baldwin evoca o lugar ideal do afeto entre duas pessoas como um sentimento alternadamente forte e frágil, livre e preso, face aos “problemas do mundo”:
De qualquer forma, então, o mundo muda, e muda para sempre. Porque se você ama um ser humano, você vê o mundo diferente da maneira pela qual você o tinha visto antes – talvez, eu só pretendia dizer que você começa a ver – e ambos são mais fortes e mais vulneráveis, ambos livres e amarrados. Livre, paradoxalmente, porque, agora, você tem uma casa – os braços do seu amante. E amarrado: para aquele mistério, precisamente uma amarra que o liberta para alguma coisa da glória e do sofrimento do mundo (1973: 24-25).
Na obra ensaística de Baldwin encontramos o afeto – mas não o sexo – entre homens negros, entre irmãos e a possibilidade do amor. É o que ele anuncia para o seu sobrinho como um dos elementos de contraposição à desumanização provocada pelo racismo. O amor entre irmãos, não sem a dureza das relações familiares, aparece com nitidez neste contexto:
(...) carreguei seu pai em meus braços e nos ombros, beijei-o e espanqueio e vi-o a prender a caminhar (...) Outras pessoas não podem ver o que vejo sempre que contemplo o rosto do seu pai, porquanto por detrás do
13
rosto dele como é hoje encontram-se todos aqueles rostos que também foram dele um dia. Quando ri, vejo um porão do qual seu pai não se recorda e uma casa de que guardo na lembrança, e ouço no seu riso de hoje o de quando era criança. (...) Mas não há quem possa limpar as lágrimas que hoje ele verte às escondidas, que se pressente no seu riso e na sua voz, e nas suas canções. Bem sei o que o mundo fez com o meu irmão e com que dificuldade ele a tudo sobreviveu. (BALDWIN, 1967: p. 22).
Posso inferir que Baldwin, por ter experimentado o auto-exílio, pensa naqueles/as que se limitavam ao quadro espacial e social restrito. O afeto entre parentes e semelhantes, aqui entre irmãos, é colocado na arena política
9
. Reencontramos em
algumas de suas obras ficcionais, essa possibilidade de uma relação potencilamente horizontal frente aos impasses e assimetrias da vida. Observamos nelas tanto o afeto entre irmãos, quanto o amor e o desejo entre homens.
Afeto e sexo entre homens negros: um país de irmãos
Além de Giovanni, acima comentado, outros romances de Baldwin trazem personagens brancas que, por vezes, se relacionam com personagens negras. No romance Another Country, traduzido como Numa terra estranha (1984), alguns personagens masculinos e femininos, negros e brancos se interrelacionam em New York, cidade que representa metonimicamente o país inteiro com o qual todos se sentem insatisfeitos, porque
experimentam
vidas incompletas:
Rufus, um
músico negro
conhecido nos bares e clubes de jazz, que se suicida; Eric, um jovem ator branco em ascensão,
originário
do
Sul,
de
onde
migrou
por
não
conseguir
viver
seus
relacionamentos homoeróticos e inter-raciais; Ida, irmã de Rufus, uma jovem negra que trabalha como garçonete e depois se torna uma cantora de jazz; Vivaldo, um homem branco adulto, empregado em uma livraria e escritor inédito, amigo de Rufus e depois namorado de Ida; Cass, uma mulher branca, que parece ser “somente” dona de casa e mãe bastante entediada, que chega a ter um relacionamento com Eric; e, por fim Richard, seu marido, também branco, um “tedioso escritor iniciante” que atende aos apelos do mercado. Neste romance, os relacionamentos inter-raciais hétero ou homossexuais são repletos de tensões raciais e de gênero: em New York Rufus conhece Leona, uma mulher branca vinda do Sul, que foge de um marido violento e posteriormente sofre agressões físicas do mesmo Rufus, o que a leva a graves transtornos mentais e a uma internação 9
Ideia retomada por hooks (2001) e outras autoras, no que se refere às relações de gênero na comunidade negra estadunidense e às suas fissuras internas. O artigo de nascimento (1990) tem sentido similar para o Brasil.
14
num centro psiquiátrico. Os momentos de diálogo e sexo que marcam o relacionamento de Ida e Vivaldo são racialmente tensos. Por sua vez, Eric, ainda menino no Sul, sente uma atração que não compreende bem por Henry um trabalhador da sua casa que perde o emprego devido a essa aproximação. Na adolescência Eric e LeRoy, um jovem negro e pobre, têm sua atração mútua ameaçada pela segregação racial. Por fim, Eric chega a fazer amor com Rufus que, uma vez, lhe agride verbalmente. Em Marcas da vida (1984) os personagens centrais são todos negros e sua saga se estende entre New York, o Sul dos Estados Unidos e a França. O narrador Hall Montana, um publicitário negro, narra a história de seu irmão mais novo Arthur, um cantor gospel que participa de um grupo musical que se envolve na luta pelos direitos civis e neste grupo experimenta o amor e o sexo com outro colega. Hall, de passagem, também relembra que se relacionou de maneira fortuita com colegas brancos do exército por ocasião da Guerra da Coréia. Em O preço da glória, o protagonista, o ator negro de teatro Léo Proudhamer, tem mais de um relacionamento com mulheres brancas, especialmente com Bárbara uma colega de companhia, antes de se envolver com Christopher, um ativista negro. Na sua obra ficcional destaco um aspecto que Keith Clark (2004) denomina de Brother’s Country, que numa tradução livre pode significar um país de irmãos, um lugar de afeto entre irmãos, no caso de Baldwin, irmãos negros. É o que se observa em Marcas da Vida um dos textos que traz as cenas mais longas e não estereotipadas de amor e desejo entre homens negros. Cabe destacar que o narrador do romance é Hall Montana, o irmão mais velho do personagem principal Arthur. Hall descreve e interpreta com acuidade e carinho o desenrolar dos afetos do irmão mais novo. No conto Sonny’s Blues,incluído na coletânea Um homem à minha espera, o argumento é a preocupação de um homem negro com o destino do seu irmão mais jovem. Cabe ressaltar que tanto Hall e o professor de matemática, irmão de Sonny, são homens que se inserem no quadro da masculinidade negra senão hegemônico, almejável para muitos: prestam serviço militar, casam, tem filhos e profissão definida, como observa Clark (2004). Na trajetória homoerótica de Arthur, narrada por Hall, em meio a uma turnê, Arthur, por volta dos seus 18 ou 19 anos, se apaixona por Croc, um pouco mais velho e também mais escuro e mais alto que ele. Quando fazem amor, em cena descrita com sutilezas, sentem “um movimento amistoso, alegre”, como algo “tão alto que não se possa passar sobre ele” (BALDWIN, 1984: p. 198) e igualmente “tão baixo que não se possa passar sob ele” (p. 199), um estado de êxtase e completude. Os outros dois amigos do grupo de cantores, Amendoim e Ruivo, percebem e comentam o enlace de Arthur e Croc: “riam abraçados às vezes, felizes demais para recear” (p. 200). O narrador assinala este amor nascente nos indicando que está ameaçado:
15
Eram jovens demais para recear. Pelo que sabiam, pelo que se importavam, o que acontecia entre eles jamais acontecera em toda a história do mundo. Os outros têm palavras para o que quer que seja, muito ruins, muito tristes – eles não seriam encontrados nesse dicionário. Andavam na luz dos olhos um do outro, absolutamente conscientes de brancos e de pretos, acordando às vezes nos braços uns dos outros, sem saber em que cidade se encontravam, sem se importarem: eram chamados ‘periquitos’, eram chamados ‘Romeu e Romeu’ por estarem sós, distantes dos demais, em perigo (p. 200). Mais uma vez Baldwin procura o lugar seguro, tranquilo, para o afeto e o sexo, o safe place a que bell hooks (2001) se refere. As longas páginas de afeto e sexo entre homens negros desta obra parecem ainda não ter correlação na literatura negra que circula no Brasil, publicada originalmente em inglês ou português. O protagonista de O preço da glória (1970), Léo Proudhamer, ator maduro, um dos mais famosos artistas negros de sua época, rememora sua infância no Harlem, parte de sua juventude vivida pelas ruas, a entrada como auxiliar de uma companhia teatral, a amizade e o relacionamento com Bárbara, atriz branca também iniciante. O narrador relembra os momentos em que colocou sua figura pública a favor do Movimento pelos Direitos Civis, quando encontra Christopher, um jovem negro ativista radical, com quem se envolve afetivamente. É nesse cenário que ele descobre o amor, na sua relação com o jovem, quando ambos têm cerca de 40 e 20 anos respectivamente:
(...) encontrei-me resistindo e lutei contra o fato de que alguma coisa havia acontecido comigo. Eu digo alguma coisa porque eu estava relutando em dizer a palavra amor – a palavra me atingiu como água fria e fez-me prender a respiração e me sacudiu. Certamente não me tinha ocorrido que o amor tivesse o descaramento de chegar como uma carga preta, pesado e perigoso. De qualquer maneira, amor não era exatamente o que parecia. Eu não sabia com o que se parecia o amor. (BALDWIN, 1970: p. 379)
Ao nomear o sentimento que estava nutrindo por outro homem, depois de procurar em sua memória ou em seus sonhos algo semelhante, o protagonista reflete acerca de como a sociedade, o mundo, o nomeia: Eu não podia mesmo me refugiar em qualquer termo onde o mundo pudesse me chamar. O mundo já havia me chamado de muitos nomes e enquanto eu não sabia que minha indiferença [para com o mundo] não era tão grande ou tão profunda como a de Christopher – não era mesma quantidade, de maneira alguma – o mundo nunca seria capaz de me intimidar daquela maneira. (p. 380) Na mesma sequência, tomando ciência de sua reputação pública, ao caminhar nas ruas com Christopher, o personagem repensa sua imagem aos olhos dos outros:
16
Algumas pessoas me consideravam um coroa, outras um herói; para outros, finalmente, era um pederasta, homossexual ou apenas o titio. Minha fama me prejudicava algumas vezes, porém procurava não me entreter muito com esse pensamento. (p. 380)
Sem insistir em correlacionar por demais vida e obra, observo que a postura reflexiva de Léo se parece com aquela de Baldwin de pensar como “o mundo” lhe vê. Inúmeras pessoas gays, em diversas fases de sua vida, indagam-se como são vistas e acabam por ver a si mesmas como um corpo estranho, uma figura abjeta, contrária às normas sociais. Observo que nos textos em que a condição racial e a homossexual de suas personagens é fundamental, James Baldwin constrói relacionamentos horizontais como possibilidade de rompimento com as assimetrias masculino/feminino, homem/mulher, heterossexual/gay, branco/negro.
Outros quartos, outras cidades, outros países: deslocamentos espaciais
Imagens do Harlem, um dos bairros negros nova-iorquinos, são comuns na literatura estadunidense. Baldwin o retrata nos ensaios como seu espaço próximo, em várias fases de sua vida (1973; 1967) e o contrapõe ao quadro nacional. Nos seus romances é um topos constantemente referido com afeto e, às vezes, com repulsa. Um repertório de espaços, em várias escalas, emerge em sua obra: quartos, guetos, ruas, cidades, países que podem, com o devido cuidado, ser abordados tendo em mente a categoria lugar. De um lado, além da diferenciação e correlação explicitada no pensamento geográfico crítico entre lugar social e geográfico (SANTOS, 1987, p. 81, 11), também há quem proponha as análise como passível de apropriação pelo corpo (CARLOS, 1996, p. 20-21). De outro, pode-se pensar o lugar na vertente humanística que o elabora como ligado à experiência (TUAN, 1983) e como espaço de referência pessoal e coletiva em várias escalas, indo da casa/lar até ao país (CARNEY, 2007). Na geografia contemporânea os estudos de gênero e sexualidade e de relações raciais e étnicas podem recuperar parte destas reflexões posto que adentram e reelaboram a discussão excessivamente polarizada e naturalizada entre espaço público e privado, entre a condição social dos indivíduos e grupos e outras particularidades que se tornam diferenciações. No entanto, a primeira abordagem referida pouco reflete (ou refletia) as dimensões étnica, racial e de gênero e a segunda muitas vezes abstrai ou remete para segundo plano o quadro de desigualdade e de conflito que marcam os diferenciados indivíduos e grupos sociais.
17
Em um artigo de um campo que se excetua aos seus estudos, Carlos (1996) focaliza os guetos e capta seus múltiplos significados entre local segregado e lócus identitário. No entanto, a geografia, especialmente a brasileira, pouco discute as espacialidades “pequenas”, “privadas” e “fechadas” – a casa e suas partes (sala, quarto, cozinha, etc.), o palco e seus anexos (o camarim, por exemplo) – a não ser entre estudiosas e estudiosos da diferença, como as geógrafas feministas que problematizam os espaços e os lugares do que é referido constantemente ao privado (MCDOWELL, 1999; SILVA, 2009). O “quarto de dormir” é um dos espaços freqüentes na obra de James Baldwin
10
.
Quarto em que o amor homoerótico, impossível lá fora, parece sufocar a vida de dois homens brancos ou ao menos de um deles. Giovanni’s Room. O quarto de Giovanni. Quarto de dormir ou “de morrer”, como diz Peter, um jovem ator negro em busca de emprego numa New York que ele diz odiar, personagem do conto A condição prévia publicado na coletânea Um homem à minha espera (1969). O protagonista, na iminência de um despejo pensa sozinho: “Na pior das hipóteses o que pode acontecer? Você não ter mais o quarto. Afinal o mundo está cheio de quartos” (p.100). As obras referidas até aqui foram escritas em tempos correlatos à formação de espaços homossexuais muito limitados – bares e outros pontos públicos de encontro. O amor, de certo modo, mal ousava dizer seu nome. No entanto, mais de duas décadas após a morte de Baldwin, algumas coisas mudaram, outras nem tanto. Parece que o quarto ainda é o lócus do existencialismo homoerótico, local das dúvidas atrozes e íntimas, em contraste com os espaços externos, locais de outras indagações:
Bombas explodem em mascaras no céu. O sol é uma cabeça a rodar no horizonte. Nuvens. Ondas. Flores caindo num palco monumental. Meu corpo verga, gira, dilacerado ainda se move. Sangue. Perfume. Cores. Mergulho no ar. Tudo é artificial aqui no meu quarto. Escuro. Escrito. O rumor de cabelos pelas minhas mãos. O sol brilha no peito. Embora o tempo me fira, eu continuo. Morte (LOPES, 2002: 48). O exílio em Paris foi um tempo de experiências amargas, como a ruptura com Richard Wright, o principal escritor afro-estadunidense que lhe antecedera e lhe apoiara, e da emergência como um autor relativamente reconhecido (CAMPBELL, 2000). O retorno aos Estados Unidos em 1957 pode ser caracterizado, rememorando a expressão de Rimbaud, como “uma estação no inferno”: conflitos raciais abertos e explosivos, desaparecimento, prisão, linchamento e assassinato de lideranças negras. Para o escritor é um período de intensa criação ficcional e não ficcional.
10
Outros espaços de pequena área comparecem em sua obra, mas, por falta de “espaço”, não posso abordálos nesse texto. É o caso do camarim e do palco para o ator de teatro Léo Proudhammer no romance O preço da glória (BALDWIN, 1970) e também do bar e do palco para músico Sonny no conto Sonny’s Blues (BALDWIN, 1969). Nos palcos dos teatros, a todo tempo, espacialidades são recriadas nas encenações.
18
Posso depreender que em Numa terra estranha (1984), escrito no início dos anos 1960, Baldwin vincula envolvimentos socialmente interditados com o próprio contexto socioespacial onde ocorrem – New York / EUA – em que todos almejam um outro país (Another Country), como o título original do romance. Dentre as “saídas” mais pungentes estão o suicídio de Rufus e os transtornos psíquicos de Leona. Eric apenas consegue viver um relacionamento mais estável com Yves, outro jovem branco, quando reside na França. Nesta obra, Baldwin toca de perto os impasses da aproximação entre pessoas negras e brancas nos Estados Unidos. O primeiro exílio para a França não implica apenas em sair do país, é deixar o local da experiência vivida, da segregação racial. Tal deslocamento leva na outra ponta a uma situação de não se sentir-se em casa, a semelhança de imigrantes e outros exilados em que oriundos de colônias francesas na África e negros estadunidenses se encontravam assemelhados e distintos na visão de Baldwin (1973: p. 24-32). Nos anos 1970, Baldwin se auto-exila novamente em Paris, mas continua a escrever tendo sua “estranha” terra natal como contexto de suas obras, ficcionais ou não, até sua morte. Neste retorno ele também estranha a cidade (BALDWIN, 1973: p. 32). Os deslocamentos não implicam necessariamente em ruptura com o sentido de lugar (MCDOWELL, 1999). Baldwin (ou algum personagem seu) entra e sai dos espaços fechados, fisicamente
restritos
e
socialmente
confinados
como
quartos
de
hotel,
bares
segmentados, bairros segregados, como qualquer outra pessoa em seu trânsito afetivo e sexual, e aborda esse deslocamento em seus textos ficcionais, no desejo de alargar o repertório de possibilidades das pessoas, personas, personagens. A obra de James Baldwin, ficcional e não-ficcional, bastante estudada nos EUA, merece atenção no Brasil em face de sua importância para os estudos de relações raciais, sexualidade, gênero e, no meu entendimento, espaço. Trata-se de um pensador das espacialidades restritas para indivíduos e grupos específicos, figuarndo ele mesmo pessoas negras, em especial para homens negros gays, o autor solitária.
Bibliografia
BALDWIN, James. Giovanni. Tradução: Affonso Blacheyre. Rio de Janeiro: Rocco, 1987 [1956]. 2ª. ed. ________.Numa terra estranha. Tradução de Gilberto Miranda. Rio de Janeiro: Globo. 1984 [1964]. ________.Marcas da vida. Tradução: Clarita Melo Motta. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980 [1978] ________.E pelas praças não terá nome. Tradução: Crayton Sarzy. São Paulo: Brasiliense, 1973 [1972]
19
________.O preço da glória. Tradução: Iran Silva. São Paulo: Hemus, 1970 [1968] ________. Um homem à minha espera. Tradução: Roberto Pires. São Paulo: Hemus, 1969 [1965] ________. Da próxima vez, o fogo. Tradução de Christiano Moreira Oiticica. Rio de Janeiro: Biblioteca Universal Popular, 1967 [1963] BALDWIN, James & MEAD, Margareth. O racismo ao vivo. Lisboa: Edições Dom Quixote, 1973. CAMPBELL, James. À margem esquerda. Rio de Janeiro: Record, 2000. CARLOS, Ana Fani A . O lugar no/do mundo. São Paulo: HUCITEC, 1996. CARNEIRO, Sueli. A mulher negra na sociedade brasileira: o papel do movimento feminista na luta anti-racista. In: MUNANGA, Kabengele (Org.) História do negro no Brasil. Vol. 1. Brasília: Fundação Cultural Palmares, 2004, p. 286-336. CARNEY, George O. Música e lugar. In: CORRÊA, Roberto L. & ROSENDAHL, Zeny (Org.) Literatura, música e espaço. Rio de janeiro: EdUERJ, 2007, p. 123-150. CLARK, Keith. Black manhood in James Baldwin, Ernest J. Gaines and August Wilson. Champaign: University of Illinois Press, 2004. CLEAVER, Eldridge. Alma no exílio: autobiografia spiritual e intelectual de um líder negro norte-americano. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1971. COLLINS, Patricia Hill. Black Feminist Thought. Boston: Unwin Hyman, 1991. COSTA, Jurandir Freire. A inocência e o vício: estudos sobre o homoerotismo. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 2002. DAVIS, Angela. Women, Race & Class. New York: Vintage Books, 1983. ELGRABLY, Jordan. James Baldwin, The Art of Fiction No. 78. The Paris Review No. 91, 1984. Disponível em: http://www.theparisreview.org/interviews/2994/the-art-offiction-no-78-james-baldwin. Acessado em: 28/02/11. ELLISON, Ralph. O homem invisível. São Paulo: Marco Zero, 1990. Folha de São Paulo. Morre o escritor James Baldwin. 02/12/1987. Disponível em: http://almanaque.folha.uol.com.br/ilustrada_02dez1987.htm Acessado em: 11.02.2006 GILROY, Paul. O Atlântico Negro: modernidade e dupla consciência. São Paulo, Ed. 34 / Rio de Janeiro, Universidade Cândido Mendes – Centro de Estudos Afro-Asiáticos, 2001. GREEN, James N.. Além do carnaval: a homossexualidade masculina no Brasil do século XX. São Paulo: Editora Unesp, 2000. GONZALEZ, Lélia. Racismo e sexismo na cultura brasileira. Ciências Sociais, Hoje. São Paulo: ANPOCS, 1983, p. 223-244. hooks, bell. We real cool: Black men and masculinity. New York: Routledge, 2004 ________. Salvation: Black People and Love. New York: Perennial, 2001.
20
________. Ain’t I a Woman: black women and feminism. Boston: South End Press, 1988. LOPES, Denílson. O homem que amava rapazes. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2002. MCDOWELL, Linda. Gender, identity and place: understanding Feminist Geographies. Minneapolis: University of Minesota Press, 1999. NASCIMENTO, Abdias. Quilombismo: documentos de uma africanista. Brasília: Fundação Cultural Palmares, 2002. 2ª. ed.
militância
pan-
NASCIMENTO, Beatriz. A mulher negra e o amor. Jornal Maioria Falante, No. 17, Fev – março, 1990, p. 3. PEREIRA, Edimilson de Almeida. Zeosório Blues – obra poética I. Belo Horizonte: Mazza Edições, 2002. PEREIRA, Edmilson de Almeida & GOMES, Núbia Pereira (2001). Ardis da imagem: exclusão étnica e violência nos discursos da cultura brasileira. Belo Horizonte: Mazza Edições/PUCMinas, 2001. RATTS, Alex. Eu sou atlântica: sobre a trajetória de vida de Beatriz Nascimento. São Paulo: imprensa Oficial/Instituto Kuanza, 2007a. ________. Entre personas e grupos homossexuais negros e afro-lgttb. In: BARROS JR. Francisco de O. & LIMA, Solimar O. (Org.) Homossexualidade sem fronteiras: olhares. Rio de Janeiro: Booklinks/Teresina: Grupo Matizes, 2007b, p. 97-118. RATTS, Alex & RIOS, Flávia. Lélia Gonzalez. São Paulo: Selo Negro, 2010. SANTOS, Milton. O espaço do cidadão. São Paulo: Nobel, 1987. SILVA, Joseli Maria. Fazendo geografias: pluriversalidades sobre gênero e sexualidades. In: ________. (org.) Geografias subversivas: discursos sobre espaço, gênero e sexualiadades. Ponta Grossa: TODAPALAVRA, 2009, p. 25-53. SHIN, Andrew & HUDSON, Barbara. Beneath the Black aesthetic: James Baldwin’s primer of Black American masculinity – African American gay author. African American Review, June, 1998. Disponível em: http://findarticles.com/p/articles/mi_m2838/is_n2_32/ai_21059954/ Acessado em: 11.02.2006 TINNEY, James S. Baldwin comes out. Blacklight. S/D. Disponível http://www.blacklightonline.com/baldwin.html Acessado em: 28/02/11.
em:
TREVISAN, Dalton. Devassos no paraíso: a homossexualidade no Brasil, da colônia à atualidade. Rio de Janeiro: Record, 2004. 6ª. Ed. TUAN, Yi-Fu. Espaço e lugar: a perspectiva da experiência. São Paulo: DIFEl, 1983. WRIGHT, Richard. Black Boy: infância e juventude de um jovem negro americano. Rio de Janeiro, Espaço e Tempo, 1993.
21
Apêndice Obras de James Baldwin publicadas em inglês e traduzidas para o português
Título em inglês Giovanni’s room
1ª. ed. 1956
Título em português Giovanni
1ª. ed. 1972
Cidade Rio Janeiro Rio Janeiro
1969
Editora Abril Cultural Biblioteca Universal Popular Hemus
The fire next time
1963
Da próxima vez, o fogo
1967
Going to meet the man The Negro Protest
1965 1963
Um homem à espera O protesto negro
São Paulo
Contos
1969
Laemmert
Entrevista
Preço da Glória
1970
Hemus
Rio de Janeiro São Paulo
Tell Me How Long the Train’s Been Gone The Amen Corner
1968 1968
Esquina do Amém
1972
Lidador
Teatro
A Rap on Race
1971
O racismo ao vivo
1973
Lisboa
No name in the street
1972
1973
Brasiliense
Just above my head
1979
E pelas praças não terá nome Marcas da vida
Rio de Janeiro Dom Quixote São Paulo
1980
Another country
1962
Numa terra estranha
1984
Nova Fronteira Globo
minha
Rio Janeiro Rio Janeiro
de
Gênero Romance
de
Ensaio
Romance
Entrevista Ensaio
de
Romance
de
Romance