MANUAL DE BOAS PRÁTICAS DE INTERVENÇÃO I NTERVENÇÃO NO PATRIMÓNIO PATRIMÓNIO HISTÓRICO DO CONCELHO DE D E SETÚBAL
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ÍNDICE PREFÁCIO 3 INTRODUÇÃO 4 1. ÁREA DE INTERVENÇÃO 6 2. DA OBRA 7 2.1.
AMPLIAÇÕES 7 EM PROFUNDIDADE 7 EM ALTURA 8
3. DOS SISTEMAS CONSTRUTIVOS 9 3.1. 3.2.
ESTRUTURAS DE PAREDES EM ALVENARIA DE PEDRA 9 ESTRUTURAS EM MADEIRA 11
4. DAS COBERTURAS 16 4.1. 4.2. 4.3.
TELHADOS DE DUAS ÁGUAS E TELHADOS DE QUATRO ÁGUAS OU MÚLTIPLOS 16 APROVEITAMENTO DA COBERTURA 18 TELHAS 19
5. DOS VÃOS E CAIXILHARIAS 22 5.1. 5.2. 5.3. 5.4.
JANELAS, JANELAS DE SACADA E SUAS GUARNIÇÕES 24 MONTRAS 30 PORTADAS 31 PORTAS E PORTÕES 32
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6. DOS REVESTIMENTOS 35 6.1. 6.2.
6.3. 6.4. 6.5.
REBOCOS 35 TINTAS 42 TINTAS DE CAL 43 TINTAS DE SILICATOS 46 CORES 48 AZULEJOS 51 OUTROS REVESTIMENTOS 55
7. DOS ELEMENTOS DE REMATE 56 7.1.
CIMALHAS, BEIRADOS, PLATIBANDAS, FRONTÕES, CORNIJAS, BALAUSTRADAS, CUNHAIS E SOCOS 56
8. DOS ELEMENTOS DECORATIVOS 60 8.1.
FRISOS, GUARDAS E ELEMENTOS EM FERRO, PAINEIS DE AZULEJO, PINTURAS MURAIS, TRABALHOS EM PEDRA OU ARGAMASSA 60
9. DA PUBLICIDADE E OCUPAÇÃO DA VIA PÚBLICA 65 9.1. TOLDOS 65 9.2. PUBLICIDADE 67 9.3. MOBILIÁRIO URBANO 70
10. DAS INTERVENÇÕES ARQUEOLÓGICAS ARQUEOLÓGICAS 71 11. EXEMPLOS DE RECUPERAÇÃO RECUPERAÇÃO ARQUITECTÓNICA 73 GLOSSÁRIO 77
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PREFÁCIO O Manual de Boas Práticas de Intervenção no Património Histórico do Concelho de Setúbal que tem nas mãos é um bem de primeira necessidade para todos os que vivem e trabalham nos centros históricos de Setúbal e Azeitão. A sobrevivência das estruturas urbanas antigas é, nos nossos dias, um desafio que todos devemos assumir, com a plena consciência de que preservar e valorizar o passado que elas representam é uma tarefa de todos e de que todos beneficiam. Por essa razão, não hesito em afirmar que as boas práticas enunciadas neste manual devem, a partir de agora, transformar-se em verdadeiras regras de actuação para todos os que intervêm nestas zonas urbanas.
A Câmara Municipal Municipal assume a absoluta absoluta necessidade necessidade de requalificar requalificar os centros centros históricos do do concelho e, por isso, tem em funcionamento um Gabinete que se dedica exclusivamente a esta matéria. Esta publicação é um primeiro contributo para essa grande tarefa de (re)dignificar o nosso Património Histórico, um objectivo que a autarquia assume como um dos pólos fundamentais da sua actividade.
Presidente da Câmara Municipal de Setúbal Maria das Dores Meira
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INTRODUÇÃO A deterioração e degradação dos materiais e das estruturas tradicionais está fundamentalmente relacionada c om a falta de conhecimento sobre estas matérias e, consequentemente, com a forma incorrecta como são feitas intervenções no património histórico, quer as mais profundas, quer apenas as mais simples acções de beneficiação. Não só os materiais e estruturas tradicionais estão a desaparecer, como as técnicas tradicionais de construir, que tão bons e comprovados resultados de durabilidade apresentam, estão a ser esquecidas. O Manual de Boas Práticas de Intervenção no Património Histórico de Setúbal não tem a pretensão de compilar, exaustivamente, as técnicas tradicionais de construção, mas assume-se como instrumento de apoio, de natureza não regulamentar, à população – nomeadamente a residente nos centros históricos de Setúbal e Azeitão – que visa orientar as intervenções a efectuar no património edificado, o qual, não só pela antiguidade, mas também pelas características específicas que possui, exige um cuidado especial no que respeita às obras de recuperação, beneficiação e restauro. As orientações aqui definidas destinam-se, essencialmente, às pequenas intervenções correntes, as quais, por serem, normalmente, as mais negligenciadas pelas entidades e pelos proprietários, porque apresentam, à partida, um impacto menor, são também as que mais contribuem para a descaracterização da imagem do conjunto urbano. São as substituições da telha de cobertura, das caixilharias e das portas, as alterações de cor e a abertura de vãos, as adaptações para a implementação dos usos terciários, etc.
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As grandes intervenções, i ntervenções, que envolvem ampliações ou reconstruções, são sempre, por norma, muito mais acompanhadas e, legalmente, respondem a um processo de licenciamento mais pesado. Contudo, as pequenas intervenções descritas são, na maioria das vezes, desprezadas pelos técnicos e só lhes é dada atenção depois de concluídas e quando, legalmente, a situação já se tornou irreversível. Este Manual deve, também, servir para dar a conhecer as características gerais correntes dos edifícios, ao nível dos materiais utilizados, técnicas construtivas tradicionais e elementos de composição e decoração de fachadas, bem como orientar as intervenções no sentido mais conveniente e indicado para cada caso.
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1. ÁREA DE INTERVENÇÃO
Centro Histórico de Setúbal
Cascos Históricos de Azeitão
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2. DA OBRA 2.1. AMPLIAÇÕES EM PROFUNDIDADE As ampliações de edifícios antigos são, muitas vezes, quase inevitáveis, pois, para que não se tornarem obsoletos, é necessário dotá-los de melhores condições de habitabilidade e salubridade. Contudo, estas intervenções carecem de um cuidado extremo quando são feitas em edifícios situados nos centros históricos, pois podem pôr em causa a integridade estética, histórica e cultural do conjunto edificado. As ampliações em profundidade podem ser ponderadas desde desde que:
Sejam asseguradas as indispensáveis condições de insolação e salubridade do edifício ampliado, bem como as dos edifícios envolventes; Tenham em conta a necessária articulação com a volumetria dos edifícios contíguos; Não comprometam quaisquer projectos ou intenções de revitalização do interior dos quarteirões; Preferencialmente não excedam uma profundidade máxima de 15 metros, devendo manter-se um logradouro descoberto com uma área mínima correspondente a 25 por cento da superfície da parcela, e/ou um afastamento mínimo de seis metros ao limite posterior da mesma, no caso de edifícios de habitação colectiva, e três metros em habitação unifamiliar.
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EM ALTURA As ampliações em altura não são, de todo, desejáveis, na medida em que podem alterar e subverter profundamente as tipologias tradicionais dos edifícios do centro histórico, bem como comprometer a diversidade que caracteriza estes núcleos antigos. Contudo, em casos devidamente justificados ou inevitáveis, este tipo de intervenção deve considerar os seguintes aspectos:
Não pode prejudicar a envolvente ou a leitura da frente urbana onde se insere o edifício; Deverá ser sempre respeitada a cércea predominante no conjunto envolvente; É preferível a constituição de um aproveitamento de cobertura com águas-furtadas, ainda que seja necessário um pequeno aumento de cércea.
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3. DOS SISTEMAS CONSTRUTIVOS
3.1. ESTRUTURAS DE PAREDES EM ALVENARIA DE PEDRA Na maioria dos edifícios antigos, as paredes resistentes e estruturais são constituídas por alvenarias de pedra ordinária (normalmente pedra calcária nesta região de Setúbal) e/ou tijolo, aglutinadas com argamassas de cal e areia, reforçadas com vergas, ombreiras e arcos de tijolo ou com arcos e colunas de pedra. São, geralmente, e por razões óbvias de resistência estrutural, paredes muito espessas. Além da função estrutural, as paredes exteriores detêm, ainda, a importante função de proteger dos agentes atmosféricos, em particular, da acção do vento e da chuva e das variações de temperatura ambiental. A espessura garante o conforto necessário no interior das construções, secas no Inverno e frescas no verão. Contudo, em situações de exposição mais prolongada à acção das chuvas ou em contacto com solos saturados de água, estas paredes têm como contraponto negativo a extrema dificuldade em secar, pois possuem grande capacidade de armazenamento de água. A qualidade das pedras, bem como a da argamassa de ligação, é fundamental para o desempenho da parede e varia muito de construção para construção, consoante a época, a tipologia de construção e as disponibilidades locais, entre a terra mais ou menos argilosa, o barro e as misturas de areia e cal aérea.
Alvenaria de pedra pedra irregular (ordinária) (ordinária)
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As anomalias mais frequentes em paredes de alvenaria de edifícios antigos são a desagregação, o esmagamento e a fendilhação, provocadas por causas de natureza diversa, relacionadas com razões de natureza estrutural, com a presença de água ou com a acção dos agentes climatéricos. A fendilhação ocorre com maior frequência nas zonas das aberturas de portas e janelas e na ligação entre paredes ortogonais, pontos estruturalmente mais frágeis. A desagregação é geralmente originada por humidades infiltradas nas paredes. As principais soluções de consolidação e reforço de paredes resistentes de alvenaria de pedra consistem em injecções de argamassa de cal para colmatação de fendas e de vazios, substituição do material degradado e adição de elementos metálicos para “cozer” fendas. Para situações mais “graves”, pode, inclusivamente, fazer-se a substituição do material degradado. Consiste na remoção do material constituinte da parede na zona degradada, por exemplo na superfície adjacente a uma fenda, e na reconstituição posterior dessa zona, usando
uma alvenaria semelhante à existente, eventualmente aproveitando os elementos removidos, pedras e tijolos. Pode, ainda, recorrer-se às inúmeras técnicas que existem para o reforço estrutural de paredes, desde a colocação de redes metálicas (aço galvanizado), à cintagem das paredes ou à execução de uma estrutura complementar, em betão ou preferencialmente metálica.
Edifícios em avançado estado de degradação.
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3.2. ESTRUTURAS EM MADEIRA A maioria dos pavimentos elevados e das coberturas de edifícios antigos assenta sobre estruturas de madeira. Este material está presente também no próprio revestimento dos pavimentos, de tectos e nas paredes interiores de tabique. As espécies utilizadas nestas estruturas são, muitas vezes, de castanho de origem nacional, e, em menor grau, de choupo, cedro e carvalho. As casquinhas (Europa Central) e o pitch-pine (América do Norte) têm também uma aplicação frequente, sobretudo em construções posteriores ao século XVIII. Mais raramente utilizavam-se as madeiras exóticas provenientes do Brasil, da Índia ou das colónias africanas. A utilização do pinho nacional só começou a ser recorrente nos últimos séculos, e a este está associada uma reduzida durabilidade, devido à maior susceptibilidade a ataques de insectos (carunchos e térmitas) e fungos. A estrutura dos pavimentos de madeira organiza-se de forma simples, com vigamentos principais dispostos paralelamente, afastados cerca de vinte a quarenta centímetros entre si. A solução mais simples de ligação destes pavimentos com as respectivas paredes consiste no encaixe das vigas de madeira em aberturas dispostas nas paredes, em posição e com a dimensão conveniente. Nas paredes de alvenaria de pedra irregular cria-se uma base para apoio de cada viga utilizando um bloco de pedra com a face superior aparelhada e horizontal.
Esquema de uma estrutura de pavimento em corte. 1
Estrutura de um pavimento em madeira. 1
Estrutura de uma parede de tabique. 1
Imagens retiradas do livro “Reabilitação de edifí cios cios antigos. Patologias e Técnicas de Intervenção. APPLETON, João. Edições Orion. Amadora: 2003. 1
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Madre
Pendural
No que se refere à estrutura das coberturas, nomeadamente as coberturas inclinadas, tradicionais nos centros históricos de Setúbal e Azeitão, esta é constituída maioritariamente por um conjunto de asnas, obtidas pela triangulação de elementos simplesmente ligados entre si. As asnas podem ter inúmeras configurações geométricas e adaptam-se bem a geometrias variáveis de coberturas, podendo ser adaptadas à colocação de lanternins, bem como à execução de trapeiras, com a colocação de elementos adicionais. As coberturas são, ainda, constituídas por um conjunto de elementos secundários – madres, varas e ripas – que recebem directamente os revestimentos de cobertura. As anomalias mais preocupantes neste material relacionam-se, quase sempre, com a presença de água e com os seus efeitos sobre a construção. A humidade afecta as estruturas e os pavimentos de madeira a partir de infiltrações que ocorrem na caixilharia exterior nas próprias paredes e coberturas, criando-se condições propícias para o desenvolvimento de fungos e podridão, favorecendo, ainda, a proliferação dos ataques de insectos xilófagos, em particular as térmitas e o caruncho.
Perna da asna
Diagonal
Linha da asna
Esquema genérico de uma asna.
Degradação de uma estrutura em madeira devido à humidade e consequente apodrecimento. 2
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Imagem retirada do livro “Reabilitação de edifícios antigos. Patologias e Técnicas de Intervenção. APPLETON, João. Edições Orion. Amadora: 2003.
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O próprio envelhecimento do material, com efeitos na degradação de determinadas características mecânicas, também origina a deformação das estruturas de madeira, sendo os pontos mais sensíveis, geralmente, os nós e as entregas das vigas. Para estes problemas de deformabilidade, e caso se conclua, após diagnóstico do estado das estruturas, que os elementos de madeira podem ser mantidos, existem várias soluções que consistem, todas, basicamente, no reforço das estruturas, seja com a colocação de novas vigas, paralelas às existentes, seja com a instalação de chapas colocadas lateralmente, criando-se estruturas mistas ferro/madeira mais resistentes e menos deformáveis. A reparação, substituição parcial ou reconstituição de secções de madeira pode ser realizada por diferentes processos, dependendo da causa da anomalia e da localização da secção. No caso de ataques de fungos e insectos poderá ser necessário garantir a realização prévia de um tratamento preservador da madeira. Seguidamente, poderá remover-se a zona danificada, fazendo a sua substituição por uma peça idêntica do mesmo material. A ligação entre a viga existente e o novo elemento será feito por elementos metálicos auxiliares, sendo recomendável a colocação de chapas metálicas aplicadas em cada uma das faces da viga.
Técnicas de reforço de secções de madeira.
Exemplo do reforço das li gações dos elementos de madeira com chapas metálicas. 3
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Imagem retirada do livro “Reabilitação de edifícios antigos. Patologias e Técnicas de Intervenção. APPLETON, João. Edições Orion. Amadora: 2003.
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Outra solução possível é “empalmar” as vigas degradadas com a aplicação de novos elementos de madeira, num ou em ambos os lados da viga existente, sem remoção das zonas deterioradas. Em asnas de suporte de coberturas, recomenda-se sempre o reforço dos nós com elementos metálicos de ligação. No caso de zonas afectadas por podridão ou por um ataque de insectos, uma das soluções consiste em injectar resinas epoxídicas para preencher os vazios correspondentes à perda de material.
Reforço do nó de uma asna e da sua “entrega” na parede.4
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Imagem retirada do livro “Reabilitação de edifícios antigos. Patologias e Técnicas de Intervenção. APPLETON, João. Edições Orion. Amadora: 2003.
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CONCLUSÕES reconstrução , o novo edifício já Nas intervenções de reconstrução, poderá recorrer aos métodos construtivos contemporâneos, desde que a solução formal seja compatível com os valores estéticos e culturais de conjunto. Finalmente, as intervenções de alteração/adaptação em edifícios antigos devem ter sempre como condicionante principal o respeito pela estrutura existente, que deve ser mantida tanto quanto possível. A construção de novas estruturas paralelas (aproveitamento de sótão, construção de novas lajes) deve ser sempre independente da original, de forma a não sobrecarregar ou exercer dano. O recurso a estruturas metálicas, “soltas” da estrutura autoportante das paredes de alvenaria ou cantaria, é uma solução geralmente favorável, não só porque tem menor impacto (permite perfis mais esbeltos) mas também porque permite um resultado esteticamente mais satisfatório. De qualquer das formas, a intervenção deverá ser sempre assumida, mas não deverá chamar a si o protagonismo no conjunto construtivo do imóvel.
Considerando a datação dos edifícios e, muitas vezes, a sua aparência formal, é possível apreender qual o sistema estrutural e construtivo presente. Partindo do princípio que a maioria das estruturas data do século XVIII ou XIX (muitas corresponderão a reconstruções de edifícios originais de século XVII e mesmo anteriores), presume-se que a estrutura mais recorrente seja a de paredes autoportantes, em alvenaria de pedra ou de tijolo (maciço ou furado, consoante a época de construção). As medidas orientadoras devem, pois, definir que todas as intervenções de recuperação e restauro têm de respeitar os métodos construtivos originais, mantendo o tipo de alvenaria, recorrendo a materiais similares (sempre que possível) ou com comportamentos físicos e químicos semelhantes aos do material original. As situações de paredes interiores com estrutura fasquiada (tabiques) devem, sempre que possível, ser mantidas. As paredes de taipa e adobe (ainda que raras) devem ser sempre preservadas, pelo seu carácter de exemplaridade. 15
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4. DAS COBERTURAS
4.1. TELHADOS DE 2 ÁGUAS E TELHADOS DE 4 ÁGUAS OU MÚLTIPLOS As coberturas tradicionais em Setúbal, e mesmo nos núcleos antigos de Azeitão, são, como em grande parte do País, coberturas inclinadas, de duas ou, na maioria, quatro águas, revestidas a telha cerâmica, de canudo (canal ou mourisca) ou, após intervenções mais recentes, a telha marselha ou a telha de aba e canudo.
Qualquer intervenção de reabilitação não deve considerar a destruição ou alteração das inclinações, dimensões e configuração dos telhados tradicionais. A inclinação original deve ser, sempre que possível, mantida, não devendo, em qualquer caso, ultrapassar os 45 graus.
Telhados de 2, 3 ou 4 águas.
Panorâmica geral das coberturas no Centro Histórico de Setúbal.
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Registam-se, ainda, sobretudo nas tipologias da casa abastada e do palácio, formas de coberturas muito próprias, com pisos amansardados, as quais devem ser preservadas e valorizadas pelo exemplo tipológico que representam. As coberturas planas, os terraços ou as açoteias não são características desta zona.
As tipologias menos correntes, correntes, como os palácios ou casas casas abastadas, abastadas, apresentam coberturas com formas muito próprias e originais, que devem ser preservadas.
As águas-furtadas águas-furtadas são soluções soluções típicas nas nas coberturas coberturas dos edifícios edifícios do Centro Histórico de Setúbal.
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4.2. APROVEITAMENTO DA COBERTURA É admissível o recurso a águas furtadas ou trapeiras para aproveitamentos de cobertura, sendo esta solução preferencial às mansardas, na medida em que estas últimas alteram a forma do telhado, situação pouco desejável. Contudo, as janelas abertas nas águas-furtadas, que devem ser tradicionalmente verticais, devem ficar sempre recolhidas em relação ao plano da fachada, nunca interrompendo o beiral do telhado ou a platibanda, consoante o caso. A dimensão e configuração das janelas em águasfurtadas devem ser cuidadosamente projectadas, considerando alinhamentos com os vãos existentes nas fachadas correspondentes e as tipologias mais características.
Má solução de alteração do volume da cobertura.
O recurso a janelas do tipo “velux” é indesejável, sobretudo nas águas que dão para os arruamentos públicos. Bons exemplos de aproveitamento da cobertura e manutenção das águas furtadas originais.
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4.3. TELHAS Não deverá ser admissível o revestimento de coberturas em fibrocimento à vista, chapa zincada, telha de cimento, telas ou quaisquer outros materiais que não a telha cerâmica. Deve ser sempre privilegiada a manutenção das telhas originais, favorecendo-se a sua recuperação ou substituição pontual. As intervenções de recuperação de coberturas devem ser orientadas para a utilização da telha tradicional e para a substituição progressiva das situações mais dissonantes de telha de aba e canudo ou marselha. No caso da substituição do revestimento, deverá ser utilizada a telha tradicional de canudo, não esquecendo a utilização de peças especiais e acessórios adequados, como os telhões de cumeeira, os espigões e as telhaspassadeira e de ventilação.
Telha de ventilaç ão.
Telha “de canudo”.
Nas obras de restauro, em que é possível o aproveitamento da maioria das telhas, poderá recorrer-se à solução de substituição das telhas caneiras por outras novas (mas tradicionais), devendo recolocar-se as telhas que se encontram em melhor estado como coberta.
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Poderá sempre recorrer-se a soluções de isolamento da cobertura mais modernas. Em qualquer caso, e como já foi referido no capítulo dos sistemas construtivos, a estrutura tradicional em asnas de madeira deve ser mantida ou recuperada. Os problemas de que padecem as coberturas acabam sempre por afectar o resto do edifício. Na realidade, grande parte das patologias verificadas nas paredes e na e strutura dos edifícios tem origem em anomalias das coberturas. A explicação explicaç ão é simples: a cobertura é o elemento envolvente do edifício que mais se s e encontra exposto, e de forma contínua, à acção da chuva e do vento, das variações de temperatura, à deposição de poeiras e à poluição. Acresce, ainda, que, tradicionalmente, as estruturas das coberturas são em madeira, material que, frequentemente, – por falta de qualidade da própria madeira ou por deficiente manutenção – se encontra sujeito à acção destruidora de fungos e insectos. Esta é, aliás, a razão de ser bastante raro encontrar coberturas originais em edifícios com mais de 100 anos, sendo muito frequente encontrar sinais de inúmeras reparações, algumas bastante descaracterizadoras do edifício. A acção da água da chuva é, contudo, a causa mais frequente de degradação e a mais gravosa, porque acaba por conduzir ao apodrecimento da estrutura em madeira e afecta as paredes de alvenaria, criando infiltrações difíceis de resolver. Neste contexto, a melhor intervenção é a preventiva : manter a cobertura o mais estanque possível, revendo com regularidade a limpeza de caleiras, algerozes, tubos de queda, o estado das telhas e investindo num bom isolamento pelo seu interior, de forma a evitar a passagem de água para o interior do edifício. Soluções construtivas simples podem ser bastante eficazes nesta prevenção: a utilização de telhas de ventilação é fundamental para “a boa saúde” da cobertura, o recurso a grampos de fixação garante a solidarização das telhas entre si, devendo, ainda, ser reforçadas, com regularidade, as juntas de argamassa.
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No que respeita ao isolamento, e apenas em caso de reconstrução da totalidade da cobertura, poderá fazer-se o revestimento prévio da estrutura da cobertura com chapa ondulada de cartão betuminoso, de aço ou de outros materiais (encontram-se actualmente disponíveis no mercado bastantes soluções), seguindo-se a aplicação directa da telha sobre essa chapa. No que se refere à drenagem da cobertura, as soluções de intervenção dependem, naturalmente, do estado de conservação do sistema existente, sendo necessário considerar, com frequência, a substituição de elementos completos ou uso de materiais tradicionais, de eficácia e durabilidade comprovada por centenas de anos de uso. Recomenda-se, pois, o uso preferencial destes materiais na substituição de toda a rede. Nestes casos, sugere-se o zinco ou o cobre no fabrico de caleiras, algerozes, rufos, etc, e a execução dos tubos de queda em ferro fundido ou em aço galvanizado. O algeroz deve ser sempre assente sobre a parede da fachada, escondido pelo beirado ou pela platibanda, conforme os casos. Chama-se, ainda, a atenção, uma vez que é geralmente através dos pontos singulares que ocorrem os principais problemas de infiltrações, para a importância dos detalhes nestas coberturas, tais como remates de platibandas, paredes guarda-fogo, chaminés e tubos de ventilação, juntas entre edifícios contíguos, etc. Chapa ondulada para isolamento da cobertura.
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5. DOS VÃOS E CAIXILHARIAS Tal como no resto do País, as janelas e portas encontram-se, também nos núcleos históricos de Setúbal e de Azeitão, dispostas nas fachadas segundo regras e códigos formais próprios, configurando ritmos característicos e harmoniosos. Todos os vãos têm proporções, formas, desenho e dimensões mais ou menos definidas consoante a época de construção. Podem observar-se nos edifícios que constituem estes núcleos várias tipologias de vãos, que variam de acordo com a época e com a tipologia arquitectónica. Registam-se, contudo, diversas situações dissonantes, resultantes sobretudo da abertura e modificação de vãos originais para adaptação a novos usos, como acontece com as transformações de habitação em comércio. Por esta razão, a maioria destas situações corresponde aos vãos do piso térreo. A abertura de portões para estacionamento automóvel também constitui uma matéria sensível, uma vez que, não obstante o objectivo primordial da preservação do património, deve reconhecer-se a necessidade, cada vez maior, de providenciar-se estacionamento automóvel.
A métrica dos vãos vãos nos edifícios edifícios antigos obedece a uma regra que, que, geralmente, geralmente, é facilmente perceptível, perceptível, e que deve ser respeitada e mantida.
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Regra geral, os vãos originais são sempre rectangulares, dispostos nas fachadas verticalmente, tanto no piso térreo, como nos pisos superiores. A caixilharia era tradicionalmente feita em madeira, geralmente pintada, apresentando vários desenhos e cores, sendo as mais comuns o branco e o verde oliveira.
Janela de batente, com bandeira.
Janela de guilhoti na.
Ainda que sejam muitas as alterações sofridas ao longo dos tempos, podem sistematizar-se algumas tipologias mais tradicionais no que respeita à configuração da caixilharia:
Janela de batente.
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Janela de sacada, sistema de batente.
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5.1. JANELAS, JANELAS DE SACADA E SUAS GUARNIÇÕES Devem manter-se, sempre que possível, os vãos originais, quer no que concerne à configuração e dimensão, quer no que respeita à localização na fachada. As intervenções de alteração em qualquer edifício deverão respeitar a métrica e o ritmo dos vãos originais. As adaptações que venham a ser feitas a vãos existentes deverão ser devidamente justificadas, não podendo comprometer a leitura harmoniosa da fachada. As adaptações do piso térreo a utilizações comerciais, por necessitarem de montras, deverão respeitar, na medida do possível os vãos existentes, ainda que lhes seja substituída ou retirada a caixilharia. A abertura de novos vãos deverá d everá considerar a configurac onfiguração tradicional rectangular no sentido vertical, com as seguintes dimensões:
Janelas de peito – largura total entre 0,80m e 1.10m e altura total entre 1,10m e 1,60m, com duas folhas de abrir ou de guilhotina; Janela de sacada – largura total entre 0,80m e 1,10m e altura total entre 2,00m e 2,55m, com duas folhas de abrir.
Podem ser admitidas janelas com configuração diferente, desde que a pretensão seja devidamente justificada e enquadrada na respectiva intervenção e que daí não resulte uma solução dissonante e descaracterizadora da imagem tradicional do centro histórico. Nomeadamente, óculos, frestas e outros vãos podem ser previstos, desde que sejam considerados os ritmos e proporções da fachada, e se integrem de forma harmoniosa e equilibrada na respectiva composição.
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No que se refere à caixilharia caixilharia,, qualquer intervenção de reabilitação deverá recorrer ao desenho tradicional, com a área envidraçada subdividida por travessas e pinázios finos, em madeira pintada, preferencialmente de branco e/ou verde oliveira. Contudo, também é possível verificar que algumas caixilharias de alumínio termolacado apresentam um perfil e um aspecto bastante aceitável, chegando mesmo a apresentar a mesma imagem que os de madeira, porque concebidos com desenhos e sistemas similares. Actualmente é possível encontrar muitas marcas de caixilharia que concebem perfis e desenhos imitando os tradicionais de madeira. Ainda que seja subvertida a questão da autenticidade, e que se assumam sempre preferenciais as recuperações da caixilharia em madeira, considera-se que, exceptuando nos imóveis classificados ou nos que apresentam características mais excepcionais, poderão ser aceitáveis as caixilharias em alumínio termolacado, desde que com um perfil, forma e desenho consentâneo com as originais.
No mesmo edifício, foram substituídas algumas das caixilharias originais (à direita), por caixilharias em alumínio termolacado a branco, com o mesmo desenho. Ainda que o perfil dos vários elementos que compõem o caixilho não seja exactamente idêntico ao original de madeira, esta assume-se como uma intervenção bastante aceitável.
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De qualquer forma, deverá ser imposto que, sempre que a caixilharia em madeira ainda exista, esta deverá ser recuperada, utilizando os métodos e sobretudo os materiais (tintas adequadas) tradicionais. Em situações devidamente justificadas, pode ainda ser considerada a caixilharia em ferro. Nunca deverá ser previsto o uso de alumínio, seja à cor natural ou anodizado, e todas as situações existentes neste material deverão ser progressivamente substituídas. A madeira em cor natural envernizada também não deverá ser uma solução a considerar, excepto em situações devidamente justificadas ou quando se comprove que esta era a solução original. O sistema será sempre o de batente, de uma ou duas folhas, ou de guilhotina. Em caso algum deverão ser previstas janelas de correr. As janelas deverão ser colocadas no interior do vão, no mínimo a cinco centímetros da face exterior da parede.
Maus exemplos de substituição da caixilharia original por caixilharia de alumínio e sistema de correr. O recurso a vidro “martelado” também é completamente completamente desaconselhado.
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As guarnições ou molduras são tradicionalmente em cantaria de pedra calcária rija aparelhada, bujardada (a pico fino) ou amaciada, ou ainda em massa pintada. A sua largura, quer num material quer noutro, variam entre os 18 e os 20 centímetros.
Deverão ser mantidas e tratadas as molduras sempre que possível, prevendo-se a substituição só nos casos em que se verificar a impossibilidade da sua manutenção. O tratamento, limpeza e regularização das cantarias existentes deverá ter em conta as seguintes tarefas em sequência: Limpeza, recorrendo ao escoamento de água durante o tempo necessário ao amolecimento das sujidades e posterior escovagem, de forma a remover todas as impurezas e argamassas existentes, bem como qualquer sujidade que os elementos de cantaria possuam. Apenas quando necessário, utilizar sabão neutro líquido de uso industrial, adicionado em pequena quantidade à água de lavagem; Aplicação, com trincha, de duas demãos de fluosilicato de sódio; Caso existam troços de cantaria fracturados, deverão ser previamente retirados todos os troços desagregados;
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Caso existam falhas e/ou irregularidades acentuadas, deverão ser previamente preenchidas com resina epoxídica misturada com pó de pedra da mesma cor da cantaria; Nos casos em que haja lugar aos trabalhos prescritos no ponto anterior, deverá posteriormente aplicar-se o fluorsilicato de sódio, garantindo oito a dez dias de secagem. Não deverá ser prevista a pintura ou caiação das molduras em cantaria, nem a sua cobertura com reboco ou outro acabamento, ou mesmo a aposição de quaisquer elementos sobre as mesmas. Do mesmo modo, por descaracterizar fortemente a imagem arquitectónica tradicional, não deverão ser utilizadas
molduras em “lâminas” de pedra, colocadas a cutelo como remate dos vãos, nem deverá ser utilizado o mármore ou o granito, seja para o guarnecimento dos vãos, seja nos peitoris de janelas, socos e cunhais. A brecha da Arrábida, pedra característica e única desta região, deve ser sempre mantida e restaurada.
As guarnições de cantaria nunca devem ser pintadas.
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CONCLUSÕES Não substituir as molduras de argamassa por “lâminas” de mármore colocadas no interior do vão. As substituições, quando devidamente justificadas, só deverão ser feitas no caso de colocação de uma moldura em pedra calcária envelhecida, e desde que em consonância com os restantes elementos de remate; Manter a expressão original do emolduramento, quer seja em cantaria ou em argamassa; Nunca pintar os emolduramentos de cantaria ou substituir os seus elementos por outro tipo de pedra;
Nas novas construções em que se pretenda uma imagem formal tradicional, não deve ser permitida a execução de emolduramentos que não sejam em pedra calcária; Devem ser mantidos os alinhamentos verticais e horizontais que, geralmente, pautam a métrica dos emolduramentos.
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5.2. MONTRAS A introdução de montras nos edifícios edifíci os antigos pode afectar profundamente a sua arquitectura, na medida em que, mal concebida, pode deformar a fachada e desequilibrar a sua composição e a relação entre cheios e vazios. Sugere-se pois que, nos edifícios existentes, possam os vãos de portas ser transformados em montras, não podendo, contudo, sofrer quaisquer alterações na sua proporção, estrutura e modelação, sendo apenas anulada a porta e/ou a caixilharia existente para introdução de vidro transparente fixo, ou porta de vidro transparente, ambos sem caixilho. Nunca deverá ser considerado o alargamento horizontal de vãos existentes para a constituição de montras. Pontualmente, e em casos devidamente justificados e enquadrados, poderá ser ponderada a adaptação de vãos de janelas a montras, removendo os panos de peito até ao pavimento, ampliando o guarnecimento.
Exemplos de boa adaptação de vãos de porta e de janela a montras.
Exemplos soluções dissonantes de adaptação de vãos a montras.
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5.3. PORTADAS A generalidade das portadas tradicionais é colocada no interior e constituída em madeira pintada. Contudo, podem também considerar-se como tradicionais as portadas exteriores de meio vão, para protecção de vistas. Estas são as duas soluções que se privilegiam nos centros históricos de Setúbal e Azeitão. O recurso a estores de correr de PVC é desaconselhado, constituindo-se como um elemento altamente dissonante, pelo que os existentes deverão ser progressivamente retirados e substituídos por portadas tradicionais. Sempre que possível, devem ser recuperadas as portadas originais, decapando tintas e /ou betumes existentes, tratando a madeira contra xilófagos e renovando a pintura com tinta de esmalte.
As portadas interiores em madeira, madeira, ou exteriores exteriores de meio vão são são tradicionais tradicionais nos centros históricos de Setúbal e Azeitão.
A introdução de estores é sempre altamente altamente dissonante, dissonante, descaracterizando descaracterizando não só o edifício onde se colocam, mas toda a frente urbana.
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5.4. PORTAS E PORTÕES As portas tradicionais dos edifícios antigos dos centros históricos são em madeira pintada, de uma ou duas folhas, geralmente com postigo ou com almofadas. Também é frequente a porta com bandeira, sobretudo nos edifícios mais nobres. Os guarnecimentos são idênticos aos já descritos para as janelas, em cantaria de pedra calcária amaciada ou bujardada, com largura entre 18 e 20 centímetros. Os edifícios de maior nobreza apresentam, muitas vezes, guarnições ou emolduramentos encimados por cornija, sobretudo a partir do século XVII. À semelhança dos vãos de janelas, também os de portas devem ser mantidos no que se refere ao seu desenho e proporções e ao guarnecimento. Este deverá ser, sempre que possível, tratado ou arranjado, só substituído por outro com o mesmo material, tipo e desenho se se verificar a impossibilidade de o manter. Nos casos de intervenções mais profundas em que tal seja necessário, as molduras deverão ser cuidadosamente desmontadas, numeradas e acondicionadas, para posterior recolocação nos mesmos vãos.
Portas típicas do Centro Histórico, em madeira, com uma ou duas folhas, postigo e almofadas. Por vezes o emolduramento é trabalhado.
Nos edifícios mais nobres, é frequente a porta com bandeira, ou guarnições trabalhadas. A substituição das portas por vidro, sem caixilho pode ser uma solução a adoptar nos edifícios de utilização pública.
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A recorrente substituição de portas de madeira por portas de alumínio tem de ser urgentemente travada, pela grave desqualificação que imprime à imagem do centro histórico.
A substituição massiva das portas portas originais ou ou em madeira por por portas de alumínio (com uma manutenção mais barata) deverá ser travada, sob pena da completa descaracterização descaracterizaçã o dos centros históricos.
A substituição por portas de de alumínio termolacado termolacado com com configuração e desenho desenho muito distinto do original também é desaconselhada.
As soleiras de portas exteriores e degraus devem ser em cantaria de pedra calcária rija, maciça (pelo menos três centímetros de espessura), com acabamento bujardado ou amaciado.
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No que se refere a portões, também estes deverão ser mantidos nas suas características originais. Outra questão mais sensível é a abertura de novos vãos de portão para acesso automóvel. Sendo indiscutível a necessidade de criação de estacionamento automóvel, esta não poderá sobrepor-se às questões estéticas e de salvaguarda dos valores arquitectónicos dos edifícios.
Mau exemplo de abertura de novos vãos de portão para estacionam estacionamento ento automóvel, resultando na descaracterização das fachadas onde se inserem.
Assim, será preferível reordenar o espaço público no sentido de prever zonas de estacionamento automóvel para os residentes, uma vez que a maioria dos edifícios não permite a abertura de portões, sob pena da completa descaracterização das suas fachadas. A adaptação adaptação de antigas antigas cocheiras ou garagen garagenss a novos usos pode ditar a necessidade de substituição dos portões. As novas soluções a adoptar devem ser consentâneas não só com a tipologia do edifício mas também com os restantes vãos.
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6. DOS REVESTIMENTOS 6.1. REBOCOS
Nos edifícios antigos, os revestimentos de paredes exteriores são um dos elementos mais expostos às acções climáticas e, como tal, são, geralmente, os primeiros a necessitar de intervenções. Por outro lado, a função que lhes cabe de protecção das paredes torna a sua manutenção de grande importância para a conservação das construções. Por último, o aspecto dos revestimentos condiciona, significativamente, a imagem dos edifícios e dos próprios bairros onde se inserem, o que aumenta a importância destas reparações. É necessário tratar, antes de mais as causas das patologias identificadas nos revestimentos, antes mesmo de reparar os seus efeitos, restituindo-lhes as suas funções e a eficácia protectora, de grande importância para a conservação do edifício. Esta reparação deve ser executada atempadamente (antes que problemas mais graves, nomeadamente de natureza estrutural, se instalem) e de forma adequada.
Ao revestimento das paredes exteriores cabe a importante função de protecção contra os agentes climatéricos, a erosão natural e a poluição. A ausência de qualquer revestimento pode ditar a rápida degradação da alvenaria e comprometer a integridade da estrutura do edifício.
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É frequente substituírem-se integralmente os rebocos de uma construção antiga por outros novos, de aspecto liso e coeso e cor homogénea, que, no momento, parecem restituir um aspecto agradável à fachada, mas que, alguns meses depois, originam uma degradação generalizada, constituída, geralmente, por fendilhação e perda de aderência em largas zonas. Muitas vezes, surgem mesmo indícios de degradação da alvenaria que lhe serve de suporte. Numa intervenção num edifício antigo, a primeira opção deve ser sempre a conservação, uma vez que não só é a que melhor cumpre o objectivo de protecção do edifício, como também é a que assegura maior durabilidade e, em geral, se apresenta como a solução mais económica. As anomalias mais frequentes detectadas nos rebocos das paredes exteriores prendem-se com:
O recurso (fácil) a argamassas de betão na execução de rebocos pode resultar na degradação da própria alvenaria, no aparecimento de fendilhação e, mais frequentemente, na perda de aderência da tinta. As substituições parcelares de reboco também não são aconselhadas, na medida em que rebocos distintos apresentam comportamentos distintos.
A urgência em solucionar os problemas dos revestime ntos em edifícios antigos, e muitas vezes o desconhecimento, originam, frequentemente, opções inadequadas, descaracterizadoras dos edifícios e potenciadoras da patologia que se pretende tratar.
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Humidade (do terreno, de precipitação, de condensação); Fendilhação e fissuração (Retracção do reboco, dilatações e contracções, argamassa inadequada); Eflorescências e criptoflorescências (presença prolongada de humidade ou de sais solúveis no reboco utilizado);
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Biodeterioração (fungos, algas e musgos originados pela presença prolongada de humidade, deficiente ventilação ou insolação ou acumulação de sujidade); Perda de aderência (descolamento, abaulamento, destacamento originado pela presença de humidade ou de sais ou por um revestimento inadequado com pouca permeabilidade ao vapor de água); Perda de coesão ou desagregação (cristalização de sais, reboco fraco); Erosão (humidade, agentes atmosféricos, esforços mecânicos de natureza diversa); Sujidade (poluição, escorrimento da água da suja).
poderá proceder-se à substituição, parcial ou total, utilizando sempre um novo reboco compatível com o suporte de alvenaria. Os rebocos de reparação e substituição devem obedecer aos seguintes requisitos:
Muitas vezes, os rebocos antigos apresentam uma degradação apenas superficial, como microfendilhação, manchas devidas a ataque biológico e à acção da humidade, mas encontram-se, fundamentalmente, sãos, ou seja, coesos e aderentes à base na maior parte da sua área. Nestes casos, basta proceder a reparações pontuais, recorrendo a argamassas compatíveis. Nos casos em que a degradação do reboco atingiu um nível tal que não é possível conservá-lo integralmente,
A utilização inadequada de argamassas incompatíveis pode degradar a parede com a qual está em contacto porque:
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Não contribuir para a degradação do seu suporte, nomeadamente as alvenarias; Proteger as paredes contra os efeitos ambientais e climatéricos; Não prejudicar a aparência visual da arquitectura nem descaracterizar o edifício; Garantir a maior durabilidade possível, recorrendo apenas a acções de manutenção corrente.
Introduz tensões excessivas num suporte eventualmente fraco, uma vez que as características mecânicas são muito distintas das características das argamassas pré-existentes e, inclusivamente, das do suporte;
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É impermeável ao vapor de água e, como tal, tem tendência para reter água na parede em lugar de facilitar a sua secagem; Introduz, nas alvenarias e outras argamassas, sais solúveis que não existiam antes, provenientes, por exemplo, do cimento.
A cal e o cimento têm características e comportamentos distintos, pelo que a sua utilização em argamassas deve considerar o suporte e o efeito pretendido. O cimento contém sais solúveis, oferece grande resistência mecânica e insuficiente permeabilidade ao vapor de água, razão que faz com que as suas argamassas não sejam indicadas para paredes de edifícios antigos, podendo contribuir para a sua degradação, promovendo os destacamentos que f requentemente se observam. Os rebocos de cimento tendem a impedir a evaporação da água das superfícies em que foram aplicados, tendo como consequência a acumulação de humidade no interior das alvenarias, onde se vão cristalizar os sais que não conseguem sair para o exterior, promovendo a sua desagregação. Pelo contrário, as argamassas à base de cal são compatíveis do ponto de vista mecânico, físico e químico com as alvenarias antigas.
Ou seja, a argamassa a aplicar não deve desenvolver tensões elevadas, deve dificultar a penetração da água vinda do exterior (chuva) até ao suporte, mas, ao mesmo tempo, favorecer a evaporação do vapor de água que existe na própria alvenaria, e não pode conter materiais ricos em sais solúveis.
A durabilidade das argamassas de cal está, fundamentalmente, relacionada com a estrutura porosa, que comanda a capacidade para transportar, reter e expulsar a água por evaporação, influenciando também, em consequência, o comportamento aos sais e ao gelo.
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Além disso, a estrutura porosa condiciona decisivamente a resistência mecânica. A durabilidade implica, ainda, a resistência à colonização biológica, o que se relaciona com a composição da argamassa, mas também com o comportamento face à água, já que períodos longos de humedecimento aumentam a probabilidade de fixação de fungos. A cal não existe pura na Natureza. É resultante de um processo de aquecimento da pedra calcária a uma temperatura muito elevada (calcinação), através do qual o óxido de cálcio (vulgarmente designado por cal viva) é extraído. Ao reagir com c om a água, dá-se o processo de extinção da cal (cal apagada), e, posteriormente, quando misturada na argamassa, endurece em contacto com a água ou com o ar.
Muitas vezes, a cal que se utiliza na construção é combinada com cimento (argamassas bastardas) para se obter uma argamassa mais resistente e porque se torna mais rápido o processo de presa. A argamassa feita com a cal hidratada com óleo apresenta, no entanto, vantagens em relação a qualquer tipo de argamassa bastarda, sendo, seguramente, mais durável e mais benéfica para a manutenção da construção no seu todo. A cal hidratada com óleo confere às argamassas, sejam para consolidação ou para rebocos, as seguintes características:
Na construção, utilizam-se, fundamentalmente, dois tipos de cais:
Reboco de cal hidráulica – Só endurece em contacto com a água ou em ambientes húmidos, servindo para construções como cisternas, poços, pontes, fundações.
Reboco de cal aérea – Só endurece em contacto com o ar, sendo a mais adequada para alvenarias e rebocos;
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Grande resistência e durabilidade; Grande plasticidade, sendo facilmente trabalhável em obra; Ausência de fissuras durante a secagem e endurecimento; Impede a condensação de humidade no interior da casa porque deixa respirar a construção;
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É hidrófuga, impedindo a formação de sais no interior das alvenarias; Pode ser aplicada como uma argamassa de cal aérea (faz presa em contacto com o ar) ou como uma argamassa hidráulica, endurecendo debaixo de água ou em ambiente húmido.
No apagamento da cal devem ser tomadas as devidas precauções de segurança, pois enquanto reage com a água, a cal pode provocar sérios danos na pele.
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CONCLUSÕES As intervenções em revestimentos de edifícios antigos devem ser, sempre que possível, p ossível, no sentido s entido da preservação e reparação dos revestimentos existentes. Sempre que tal não for possível, os revestimentos de substituição a escolher devem ser compatíveis com os materiais dos elementos pré-existentes, o que implica que apresentem características semelhantes; Os rebocos com base em cal aérea, sem hidrófugos, são os mais adequados e os que menos riscos apresentam. A adição de materiais com características pozolânicas, naturais ou artificiais, desde que isentos de sais solúveis, permitem obter bons resultados mesmo em zonas húmidas ou com exposição se vera à água; Um reboco bastardo de cimento e cal aérea pode ser uma solução de compromisso admissível, se não se tratar de um edifício de grande valor histórico, pois é possível doseá-lo de forma a ter uma deformabilidade (minimizando o aparecimento de fissuras) e uma permeabilidade à água e ao vapor aceitáveis; A estrutura tradicional mais adequada para rebocos feitos em obra deve respeitar as seguintes camadas: camadas de regularização e protecção (emboco, reboco e esboço) e camadas de protecção, acabamento e decoração (barramento pintura e, nos casos mais elaborados, ornamentação).
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6.2. TINTAS A escolha da pintura final é, também, uma questão difícil. As tintas sintéticas, nomeadamente as baseadas em resinas acrílicas e, ainda mais, as do tipo membrana, são completamente desadequadas, apresentando um comportamento incompatível com as paredes antigas. Tanto as tintas de cal como as de silicatos são compatíveis com as argamassas de cal encontradas nos edifícios antigos. Os revestimentos de cal e de silicatos apresentam ambos uma elevada permeabilidade ao vapor de água. No entanto, os revestimentos de silicatos são mais resistentes aos agentes atmosféricos que os de cal e consegue-se um efeito cromático mais constante. As tintas de cal, coloridas com pigmentos minerais, são consideradas pouco duráveis, pois existe a ideia de que é necessário renovar a pintura todos os anos, como se fazia (e ainda faz!) no Alentejo. Na verdade, as repinturas frequentes têm a ver com a manutenção da brancura e com as propriedades de desinfecção atribuídas à cal, mas as pinturas de cal podem manter-se em boas condições durante vários anos.
A utilização de tintas inadequadas ou incompatíveis com as argamassas de reboco originam a sua rápida degradação, observando-se zonas de destacamento da pintura.
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Uma vantagem muito importante das tintas de silicatos, relativamente às tintas de cal, reside no facto de a natureza do endurecimento físico-químico entre o ligante e a superfície originar um revestimento bastante coeso e aderente ao substrato, altamente poroso e permeável ao vapor. Tanto as caiações, como as tintas de silicatos têm poucas gamas de cor devido ao uso restrito dos pigmentos minerais. TINTAS DE CAL Ao longo dos tempos, a pintura das paredes dos edifícios tem tido como principal objectivo conferir-lhes cor, tornando-os mais agradáveis. No entanto, além da função de decoração, a pintura detém a importante função de protecção das paredes, integrando a chamada “camada de sacrifício”. As tintas plásticas, que se generalizaram no século XX, são boas e muito resistentes para os edifícios contemporâneos, mas não devem ser utilizadas nos edifícios antigos, uma vez que, sendo completamente impermeáveis, não deixam “respirar” as paredes antigas, feitas geralmente em alvenaria de pedra, apresentando elevada porosidade e teor de água e de sais solúveis. Além de um mau desempenho funcional de protecção, as tintas plásticas podem mesmo contribuir para acelerar a degradação de suportes, devido à imposição de uma película que pode funcionar como barreira impermeável, originando as tão conhecidas “bolhas”.
As tintas plásticas originam uma “barreira” imperme ável, formando bolhas entre esta e a camada de reboco.
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Além disso, do ponto de vista decorativo, a pintura com tintas plásticas apresenta um aspecto que se afasta do proporcionado pelas antigas tintas à base de cal. A pintura a cal é a mais adequada para a preservação de edifícios antigos e é altamente permeável ao vapor de água, ainda que necessite de manutenção anual ou bienal.
Actualmente ressurgiram (existem desde a Antiguidade) no mercado as tintas à base de silicatos alcalinos, que também são adequadas para as paredes antigas, com a vantagem de apresentarem uma maior durabilidade em relação às tintas de cal. Vantagens da utilização de tintas de cal:
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São perfeitamente compatíveis com as argamassas de cal dos edifícios antigos; Apresentam uma elevada permeabilidade ao vapor de água, em simultâneo com uma elevada impermeabilidade à água; É um material ecológico e barato (baixo custo); A técnica de aplicação é fácil de aprender, podendo ser aplicada por qualquer pessoa à medida que for sendo necessário (facilidade de aplicação); É bastante versátil quanto à sua utilização: consoante a sua diluição em água, obtêm-se diferentes tipos de tintas, tais como tinta para caiação, tinta de cal, leite de cal e “patine”.
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Podem considerar-se os seguintes ligantes para as tintas de cal, aos quais é adicionada água e, se se pretender, os pigmentos:
Cal aérea em pasta Cal aérea em pó Cal hidráulica natural
Receituário: 1.
Num recipiente misturam-se a cal, uma vela de sebo e alguma quantidade de água. A vela vai derretendo completamente enquanto a cal “ferve”. Durante esta operação, deve mexer-se a mistura com um pau ou uma colher de madeira, tomando muito cuidado, uma vez que as queimaduras provocadas pela cal “a ferver” podem ser graves. Tendo apagado a cal, a pasta ou leite de cal resultante deve permanecer algum tempo em repouso para garantir que toda a cal viva tenha reagido com a água;
2.
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Depois dos ingredientes misturados, à massa pastosa que se obtém deve juntar-se a água necessária, até se verificar uma consistência tal que faça com que o pincel corra com facilidade na parede. A consistência ideal será aproximada à do leite, pois facilita a carbonatação e previne o aparecimento de fissuras no revestimento. Esta pasta deve ser decantada a fim de excluir qualquer material desnecessário antes de ser aplicada.
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3. A pasta final está está pronta para ser aplicada. No entanto, se se quiser dar alguma cor à pintura, poderão juntar-se pigmentos apropriados à pasta. Em tintas de cal só devem ser utilizados pigmentos inorgânicos (minerais e óxidos), uma vez que, por ser alcalina, a cal destrói os pigmentos orgânicos. Em geral, os pigmentos são previamente diluídos em água pura aquecida, devendo a mistura repousar antes de juntá-la ao leite de cal.
5. O controlo da secagem secagem é muito importante importante na execução da pintura de cal. Esta deve ser efectuada num intervalo de temperaturas entre cinco e trinta graus centígrados. É conveniente proteger a superfície do vento, pois a exposição directa ao sol provoca uma secagem muito rápida e inadequada. Naturalmente que em condições chuvosas também não poderá ser realizada a pintura. Nas pinturas novas devem ser aplicadas três demãos e na repintura podem ser aplicadas apenas duas.
4. Para efectuar efectuar uma uma pintura em cal é necessário ter em conta o tipo de suporte e as condições ambientais (gelo, sol, vento ou humidade) e é aconselhável a realização de ensaios de pintura preliminares. Quando um revestimento de cal velha for preparado para repintura, é necessário remover qualquer material solto e toda a superfície deverá ser perfeitamente limpa, usando uma escova apropriada para garantir a eliminação completa da poeira. As superfícies a pintar devem ser adequadamente humedecidas (e não encharcadas) com água limpa;
TINTAS DE SILICATOS A utilização de silicatos alcalinos em pinturas é milenar, mas começaram a ter maior expressão desde há duzentos anos, com a descoberta do vidro de água de potássio e sódio. Actualmente, as tintas de silicatos apresentam como constituintes principais a água, o silicato de potássio, um ligante orgânico de natureza polimérica e diversos tipos de aditivos, cargas e pigmentos.
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A grande vantagem de uma aplicação correcta c orrecta das tintas de silicato é que a aderência do ligante ao substrato é muito forte, formando uma estrutura inorgânica porosa e garantindo uma elevada permeabilidade à passagem do vapor de água. Esta tinta apresenta um aspecto mate com um alto grau de dureza e assegura uma boa resistência aos poluentes atmosféricos e ao desenvolvimento de algas e fungos. É, ainda, resistente ao fogo e à ignição e a sua estrutura microcristalina torna possível a reflexão da luz e da radiação do calor, evitando um aquecimento excessivo do paramento, prevenindo o aparecimento de fendas na superfície. Devido ao carácter inorgânico e ao processo de secagem, as tintas de silicatos são apropriadas para suportes com rebocos antigos e paredes de alvenaria de pedra ou, ainda, sobre revestimentos por pintura envelhecidos de cal e silicatos.
limpo e livre de pó e gordura. As partículas soltas, sujidade, musgo e fungos devem ser completamente eliminados. As pinturas antigas, que formem película e impeçam a difusão do vapor ou que não estejam firmes, devem ser eliminadas com decapante ou por meios mecânicos. Para garantir uma maior eficácia deste revestimento, aconselha-se a esperar pelo menos 12 horas entre demãos. Em superfícies muito expostas recomenda-se a aplicação de três demãos. A superfície não deve ser tratada com repelentes de água até à fase de aplicação da última camada de tinta. As condições climatéricas recomendadas para a aplicação destas tintas são: Temperaturas entre 5 e 25 graus centígrados (durante e pelo menos 48 horas após a aplicação); Humidade ambiente relativamente elevada (mas sem chuva); Baixa incidência de raios solares directamente sobre o paramento a pintar; Ausência de vento quente e seco.
Aplicação: Aplicação: Todas as superfícies a pintar devem estar em condições de garantir uma boa penetração da tinta nos poros e capilares. O suporte deve estar firme, seco, absorvente,
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6.3. CORES A aplicação de pintura como acabamento final tem dois grandes objectivos: expressar uma intenção estética e proteger os materiais subjacentes, contribuindo ainda para a higiene e a salubridade das edificações. A cor na arquitectura obtém-se fundamentalmente de três formas: pela selecção das características cromáticas dos materiais de construção e revestimento na sua expressão natural (pedra, tijoleira, etc.), pela aplicação de um reboco cuja cor provém da selecção dos seus agregados ou pela adição de pigmentos e, por fim, pela pintura com uma fina camada de tinta. As substâncias que transmitem cor designam-se por pigmentos: existem em todos os materiais, tenham sido ou não pintados, transmitindo as cores quando a luz incide nas suas superfícies e as atravessa. Na pintura, os pigmentos são as substâncias colorantes finamente divididas, insolúveis no veículo que as integra, fornecendo cor às superfícies sobre as quais forem aplicadas.
As cores a utilizar utilizar não deverão deverão descaracterizar descaracterizar o edifício, edifício, nem o conjunto conjunto onde este se insere. Nestes dois casos esta condição foi observada.
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Os edifícios antigos do Centro Histórico devem manter a cor primitiva, a qual poderá ser inquirida nos de vestígios existentes nas sucessivas camadas de reboco. Admitir-se-á a utilização dos pigmentos tradicionais e de de outras cores que mantenham o equilíbrio do conjunto edificado onde se insere. A pintura dos elementos de remate (socos, frisos e molm olduras) com cores distintas das originais pode descaracterizar por completo o edifício. Nos exemplos ao lado, a descaracterização é ainda acentuada pelo número excessivo de toldos (em cima), e pela indevida substituição das caixilharias e pela colocação das caixas de gradeamento. A classificação dos diferentes tipos de pigmentos é estabelecida em função da sua origem, ou seja, natural ou sintética, e ainda com base na sua natureza química (orgânica ou inorgânica). Os pigmentos inorgânicos (minerais e óxidos) são os mais adequados para as pinturas com cal. Dentro dos minerais, os tons variam consoante a natureza das terras e o grau de saturação na execução da tinta.
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Os pigmentos inorgânicos mais comuns são os ocres (amarelo e vermelho), Terras de Siena, Terras Verdes, Terras de Umbria, o Almagre (vermelho), o amarelo de zinco, o azul de Ultramar ou o negro de fumo.
A aplicação da cor não deve resultar num cenário incómodo e monótono espartilhado por normas rígidas. Contudo, a espontaneidade ou a escolha indiscriminada de cores, ainda que em alguns casos interessante, poderá acabar por descaracterizar o que se pretende preservar. Nos casos de cima, a escolha das cores resultou enriquecedora para o conjunto urbano. Contudo, nas situações ilustradas em baixo, a combinação de cores, sobretudo dos elementos de remate, acabou por resultar infel iz e descaracterizadora.
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6.4. AZULEJOS A azulejaria detém um papel importante na caracterização da arquitectura, na medida em que faz parte da própria identidade portuguesa, sendo uma das expressões culturais de maior impacto e uma das contribuições mais originais do génio português para a cultura universal. O azulejo é uma peça cerâmica de faiança vulgar, constituído por uma placa, tradicionalmente quadrada, de barro cozido e vidrado na face exterior. Como revestimento arquitectónico não se resume a apenas um elemento, pelo que a unidade decorativa é geralmente conferida por um conjunto de maior ou menos número de azulejos. Os revestimentos azulejares parietais, sejam totais ou parciais (em silhar) podem caracterizar-se como sendo de padrão ou figurativos. Entre os de padrão, os primeiros azulejos conhecidos, além dos romanos, são os árabes, mais vulgarmente designados por mouriscos, os quais influenciaram e inspiraram a produção azulejar em Portugal. A partir do século XVI são característicos os azulejos hispanomouriscos, de gosto “mudéjar”, os quais são produzidos
com várias técnicas, nomeadamente quanto à execução da decoração e vidrado (técnica de “corda seca” e técnica de “aresta”). Os revestimentos de azulejos “enxaquetados” – azulejos de cor lisa que, na sua alternância, criam malhas decorativas nas paredes – que surgem entre finais do século XVI e inícios do século XVII, são característicos de muitos edifícios religiosos. Os grandes painéis figurativos, que surgem também no século XVI, de influência italiana e flamenca, são utilizados geralmente nas paredes interiores, como alternativa mais económica às grandes tapeçarias, representam cenas quotidianas, de caça, mitológicas ou religiosas e chegam a ser composições monumentais, sobretudo em igrejas, palácios e casas nobres. A partir do século XVII, até aos dias di as de hoje, são utilizados os azulejos produzidos em série no revestimento de grandes superfícies, sobretudo nas paredes exteriores de edifícios de arquitectura civil.
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zonas com falhas e/ou vidrados em destacamento, manchas de sujidade, fracturas, lacunas, zonas com sais e/ou fungos, azulejos trocados ou zonas em que a inadequada utilização de cimento Portland como argamassa de assentamento provocou o destacamento de vários azulejos.
Edifícios correntes do século XIX totalmente revestidos a azulejo de padrão.
Silhar de azulejos do século XVIII XVIII em escadaria interior, apresentando várias lacunas.
Os revestimentos azulejares dos séculos XVI a XX encontram-se, em muitas situações, deteriorados. Tal facto deve-se a factores como a deficiente manutenção, inadequadas intervenções anteriores, problemas inerentes à factura dos azulejos, mas, sobretudo, desagregação do seu suporte, infiltrações, etc. As patologias relativas a estes revestimentos correspondem geralmente a
As intervenções de restauro dos revestimentos azulejares devem, sempre que possível, ser executadas por técnicos especializados.
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No entanto, enunciam-se algumas recomendações que devem ser consideradas em qualquer proposta de tratamento:
dentes) e uma solução de água, detergente neutro e álcool etílico; Aplicação de um pesticida pesticida quando necessário; Consolidações/colagens pontuais nos azulejos com destacamentos de fragmentos de vidrados e de chacotas, recorrendo a adesivos celulósicos; Manufactura de azulejos/réplicas para a reconstituição dos painéis, segundo as técnicas e métodos tradicionais das épocas em que foram executados os originais, quer no que diz respeito às pastas, quer aos vidrados, registando, sempre, no tardoz do azulejo o ano da sua manufactura; Preenchimento de falhas e lacunas, com materiais cujas características e propriedades não afectem a pasta cerâmica e os vidrados do azulejo original. A pasta a utilizar para estes pequenos preenchimentos deverá ser composta por
Registo gráfico, antes da intervenção e registo fotográfico exaustivo antes, durante e após o tratamento; Limpeza superficial dos vidrados e contornos, muito cuidadosa, efectuada a bisturi, de forma a remover as sujidades que melhor se destacam; Limpeza, por extracção através de solventes (álcool, acetona ou derivados halogenados de hidrocarbonetos) de sujidades orgânicas; Remoção, apenas quando imprescindível, de azulejos onde se observe o destacamento do suporte, de azulejos muito degradados ou quando trocados e que a sua remoção não acarrete danos significativos para o conjunto azulejar; Remoção de argamassas fendilhadas, com bisturi, evitando lascar os contornos das superfícies vidradas; Limpeza de argamassas velhas existentes nos espaçamentos das juntas, utilizando escovas de cerdas de nylon, macias (escovas de unhas e
farinha de sílica, cal apagada e barro “pastoso”, e deverá ser homogénea e moldável para ser aplicada com espátulas flexíveis. A pasta deve aderir bem para o preenchimento ter durabilidade e a superfície ser homogénea e lisa;
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Recolocação dos azulejos removidos e das réplicas segundo os métodos tradicionais, ou seja, com cal apagada, areia argilosa e areia do rio; Preenchimento dos espaçamentos das juntas, recorrendo a uma argamassa fina, composta por cal apagada, saibro fino argiloso, areia do rio, óxido de zinco e um pouco de barro líquido (lambugem). Quando todo o revestimento azulejar se encontrar irrecuperável, poderá admitir-se a sua total substituição por novo revestimento azulejar idêntico ao original.
Neste edifício, todo o revestimento azulejar foi substituído por um novo, idêntico ao original, conseguindo-se um bom resultado
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6.5. OUTROS REVESTIMENTOS R EVESTIMENTOS Outro factor de grande descaracterização dos edifícios antigos tem sido a substituição dos revestimentos tradicionais por outros, de características modernas, que em nada valorizam a sua arquitectura. É o caso da colocação de revestimentos cerâmicos diversos (sobretudo tijoleiras) ou mesmo de azulejaria inadequada, de placagens em pedra ou imitações desta, etc.
Resultam, muitas vezes, de uma noção errada de “modernização” do edifício, de uma necessidade de “mudança”, mas acaba por ter consequências nefastas para o edifício, se não em termos construtivos, seguramente em termos estéticos e arquitectónicos.
Colocação de revestimento cerâmico moderno, completamente descaracterizador da arquitectura deste edifício antigo.
Não só a colocação indevida de revestimentos mas também o recobrimento de cunhais com placagens de pedra podem descaracterizar fortemente o edifício.
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7. DOS ELEMENTOS DE REMATE
7.1. CIMALHAS, BEIRADOS, PLATIBANDAS, FRONTÕES, CORNIJAS, BALAUSTRADAS, CUNHAIS E SOCOS São os elementos de remate das coberturas que maior variedade apresenta. A construção tradicional nos edifícios dos núcleos históricos de Setúbal e Azeitão inclui desde beirados “à portuguesa” a cimalhas, platibandas e balaustradas.
As platibandas e as balaustradas, remates frequentes em edifícios correntes do século XIX, são bastante comuns nestes núcleos, devendo impor-se, sempre que possível, que se mantenham nas características e desenho exactos como foram construídas, porque revelam muito das tendências arquitectónicas da época e caracterizam fortemente a tipologia de edifício.
Exemplos de edifícios do século XIX com balaustrada e platibanda . Grande parte do Centro Histórico de Setúbal apresenta estes remates.
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Os duplos beirados também podem ser encontrados, ainda que com menor frequência. Geralmente são executados com uma sucessão de telhas argamassas.
Pormenor de execução de uma platibanda.
Pormenor de execução de um remate de cobertura: cornija com algeroz e “bar atelha”.
Em qualquer dos casos acima descritos, o algeroz deve ser assente sobre a parede da fachada, escondido pelo beirado ou pela platibanda. Pormenor de um remate de cobertura com balaustrada.
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As cimalhas ou cornijas também constituem elementos de remate importantes na caracterização das diferentes tipologias de edifícios. Mais simples ou mais trabalhadas e exuberantes, distinguem a maior ou menor nobreza da construção. Muitas vezes são pintadas de cor distinta da do resto do edifício, de forma a acentuar mais a transição entre a fachada e o telhado.
A recuperação e restauro destes elementos deve ser feita atendendo às especificidades de cada um, recorrendo a profissionais especializados.
Pormenor de cimalha com cobertura amansardada.
Pormenor de cimalha trabalhada, existente em edifício nobre do Centro Histórico de Setúbal.
As cornijas são normalmente executadas em alvenaria e massa, mas, em edifícios mais nobres, podem constituir peças em pedra trabalhadas notavelmente.
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Da mesma forma, também os socos devem ser mantidos nas suas características originais, em pedra calcária ou em argamassa pintada.
tectonicamente os edifícios, marcando igualmente a sua individualidade, mas contribuindo para a unidade do conjunto. Os cunhais, além da função de remate, detêm, também, uma importante função estrutural, pelo que deve ser imposta a sua manutenção devida.
Mau exemplo de substituição do soco original por lâmina de mármore. Bom exemplo de recuperação,
Especial atenção deve votar-se também a elementos como os cunhais de pedra, os quais caracterizam arqui-
deixando o cunhal de cantaria “à vista”.
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Má intervenção. Os cunhais em cantaria nunca devem ser pintados.
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8. DOS ELEMENTOS DECORATIVOS
8.1. FRISOS, GUARDAS E ELEMENTOS EM FERRO, PAINEIS DE AZULEJO, PINTURAS MURAIS, TRABALHOS EM PEDRA OU ARGAMASSA Os elementos decorativos são de variada natureza, podendo constituir todo o tipo de trabalhos em ferro, em pedra ou em argamassa, bem como os painéis de azule jo com a função exclusivamente decorativa, etc.
Deve ser sempre imposta a manutenção destes elementos, muitas vezes indícios únicos e órfãos em edifícios já completamente alterados. Não deve ser fomentada a deslocação destes elementos, pelo que, sempre que possível, deverá manter-se o seu local original.
Alguns edifícios apresentam trabalhos decorativos únicos, de grande pormenor e qualidade. O seu restauro deve ser minucioso, respeitando as características do material, bem como a cor ori inal do trabalho.
As placas com indicações, monogramas, ou brasões, também podem constituir valiosos elementos decorativos.
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edifícios antigos), assumem também especial relevância pela antiguidade. O restauro deste tipo de elementos, pela precisão que muitas vezes representa, exige a intervenção de um especialista, como um mestre serralheiro ou pedreiro.
Gárgulas em pedra. Estes elementos detêm uma importante função na correcta drenagem das águas pluviais da cobertura, mas resultam também em elementos decorativos notáveis.
Elementos como gárgulas em pedra, nichos e estatuária em pedra ou porcelana devem ser preservados a todo o custo, na medida em que, muitas vezes conferem uma riqueza ímpar a edifícios aparentemente anónimos. De todos os elementos decorativos, os que efectivamente assumem maior importância são as guardas em ferro, as quais também caracterizam determinadas tipologias e épocas, bem como os elementos decorativos em pedra, mais comuns nas construções apalaçadas. Os painéis de azulejo, quando correspondem a determinada época (muitos foram colocados já no século XX em fachadas de
Estatuária em porcelana e nichos com excelentes trabalhos em pedra. O restauro destes elementos deve ser levado a cabo por especialistas.
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A manutenção de guardas em ferro pode, no entanto, ser facilmente assegurada pelos proprietários dos edifícios, considerando os seguintes aspectos: Após decapagem da p intura existente nos elementos em ferro, a limpeza dever-se-á efectuar, em regra, com jacto de areia seco ou húmido, de modo a que toda a superfície fique isenta de ferrugem, cascão ou outros resíduos; Depois de limpas, as peças deverão sofrer uma lixagem e aplicação de diluente para limpeza de produtos oleosos, à qual se seguirá a aplicação de um primário de zarcão (primário anti-corrosivo baseado em resinas alquídicas, com pigmentos de zarcão). Este primário deverá penetrar em todas as irregularidades e recessos; Seguidamente as peças deverão ser barradas com betume sintético para enchimento de todas as superfícies deterioradas, ao que se seguirá nova lixagem, primeiro com lixa grossa e, depois, com lixa fina, para obtenção de melhor nivelamento; Será aplicada uma sub-capa sobre a segunda demão de zarcão passado a lixa fina, com produtos sintéticos de base alquídia,; Pormenor de um elemento decorativo executado em argamassa. Apresenta já alguma degradação, sendo o seu restauro urgente.
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Bom exemplo de guarda em ferro restaurada no âmbito de intervenção de recuperação do edifício.
Pormenor de um elemento decorativo em ferro, apresentando já alguma degradação.
A primeira demão de acabamento deverá ser dada, pelo menos, 24 horas após a aplicação da sub-capa, com esmalte sintético de base alquídica, na cor e brilho original da peça, ou na cor definida em estudo para o local;
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As peças serão lixadas para que todas as superfícies brilhantes desapareçam e sofrerão a aplicação da segunda demão de acabamento, com o mesmo esmalte aplicado na primeira demão. Todos os trabalhos deverão ser realizados em compartimentos ou locais previamente limpos de todas as poeiras. Finalmente, têm ainda relevância nos elementos decorativos os painéis de azulejo. A sua correcta manutenção deverá seguir o receituário já apresentado no capítulo do revestimento azulejar.
Seja no exterior ou no interior, os painéis azulejares devem ser sujeitos a intervenções periódicas de manutenção.
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9. DOS TOLDOS, PUBLICIDADE E MOBILIÁRIO URBANO 9.1. TOLDOS A questão dos toldos, tol dos, suportes publicitários e mobiliário urbano em geral é especialmente sensível, uma vez que são muito raras as situações encontradas que se afiguram adequadas. Regra geral, todos os toldos apresentam volumes, formas e cores bastante dissonantes e as placas publicitárias são, geralmente, muito grandes e deficientemente colocadas nas fachadas, sem qualquer preocupação com o seu enquadramento. Neste aspecto, as medidas não poderão ser unicamente orientadoras, mas deverão possuir um carácter regulamentar. Porém, até à entrada em vigor do instrumento legal que consagrar medidas desta natureza, deverão ser consideradas as seguintes posturas para os toldos:
1.
2.
3.
4.
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A instalação de toldos na na fachada não deverá perturbar a sua correcta leitura nem provocar obstruções nas respectivas panorâmicas, afectar a estética ou o ambiente, assim como a sua colocação deverá obedecer a critérios de sobriedade e de relação de escala com os edifícios, de tal forma que não se tornem elementos dissonantes da arquitectura e da paisagem urbana; Como tal, deverão os toldos ser desmontáveis desmontáveis e/ou e/ou rebatíveis, em tecido tipo lona, de cor branca ou clara, sem brilho, direitos, de uma só água e sem sanefas laterais; Não deverão deverão ter publicidade impressa, excepto excepto a impressão da designação do estabelecimento comercial a que pertence, limitada à sanefa/banda da parte inferior do toldo; Devem cobrir apenas um único vão e a largura deverá ser, preferencialmente, correspondente à largura interior do vão respectivo ou, em alternativa, correspondente ao somatório do vão, respectiva gola e guarnecimento;
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7. 8.
A colocação na fachada não deverá sobrepor-se a qualquer elemento arquitectónico do edifício; A colocação dos toldos deverá ter como única finalidade a protecção solar de vãos comerciais de estabelecimentos de restauração e bebidas ou empreendimentos turísticos, devendo ser recolhidos logo após o período de insolação diária e ser regularmente limpos, de forma a apresentar condições compatíveis com a dignidade do Centro Histórico.
Toldos rebatíveis, de lona branca, de uma só água e sem sanefas laterais.
5.
6.
Deverão ser colocados a uma altura mínima de dois metros, contados do solo à parte interior da sanefa, e o balanço não deverá exceder os dois metros, deixando sempre um espaço livre em relação ao limite externo do passeio não inferior a cinquenta centímetros; Em caso algum a instalação do toldo poderá exceder os limites da frente do estabelecimento a que pertença e ultrapassar o nível do seu tecto; 66
Mau exemplo de colocação de toldos.
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9.2. PUBLICIDADE Já no que concerne aos elementos de publicidade em fachadas, a sua colocação deverá ser extremamente restritiva, definindo-se um conjunto de regras a observar: A colocação de publicidade exterior não deverá perturbar a correcta leitura das fachadas dos edifícios dos núcleos históricos, nem provocar obstrução de perspectivas panorâmicas, afectar a estética ou o ambiente, assim como a sua colocação deverá obedecer a critérios de sobriedade e de relação de escala com os edifícios, de modo a não se tornarem elementos dissonantes da arquitectura e da paisagem urbana; 1. A escolha dos suportes publicitários deverá cumprir, para cada edifício, regras de conjunto no que se refere a dimensões, cores, material e iluminação; 2.
a)
Deverá apenas apenas ser considerada a instalação de suportes publicitários do tipo chapa ou placa, tabuleta, letras soltas ou símbolos e apenas nas seguintes condições: Os suportes do tipo chapa chapa ou placa não deverão ter uma espessura superior a cinco centímetros e a s ua
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imensão deverá ser contida e consonante com o vão sobre o qual deverá ser aplicado, ou com a dimensão do nembo. O preenchimento abusivo da área disponível dos nembos entre vãos deverá ser evitado. As letras soltas recortadas em chapa são, muitas vezes, a solução mais adequada; b) A colocação das placas indicativas ou letras recortadas junto às entradas dos edifícios ou estabelecimentos nunca poderá ser sobre as cantarias; c) Os reclamos reclamos luminosos, sobretudo os do tipo prismas e caixas acrílicas, são sempre de não autorizar, pela forma como comprometem a imagem global e a expressão dos edifícios e do ambiente urbano. Os suportes publicitários deverão ser sempre objecto de iluminação cuidada, preferencialmente com luz indirecta.
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3. a)
A instalação de suportes publicitários nas áreas dos núcleos históricos deverá ainda respeitar as seguintes condições: Não se poderá sobrepor a cunhais, emolduramentos de vãos (portas, janelas ou montras), socos, gradeamentos, cornijas ou quaisquer outros elementos
de remate ou decoração de composição arquitectónica das fachadas; b) Não deverá ultrapassar a frente do estabelecimento a que se refere, nem localizar-se fora da mesma; c) Não deverá ultrapassar o nível nível do piso térreo. térreo. Nos Nos casos em que acima do piso térreo exista mais do que um estabelecimento ou empresa, deverá ser instalado um único suporte junto à respectiva porta de acesso, concentrando toda a publicidade necessária; d) A mensagem publicitária deverá circunscrever-se à designação do estabelecimento a que se refere, símbolo e actividade aí exercida, com o mínimo de dizeres, sobriedade e com boa qualidade gráfica, não devendo fazer propaganda a produtos ou marcas.
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As letras soltas ou ou os painéis painéis de azulejo decorativos de pequena dimensão dimensão resultam, resultam, geralmente, numa boa solução.
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9.3. MOBILIÁRIO URBANO Não deverá ser permitida a colocação de aparelhos de ar condicionado nas fachadas principais ou confinantes com arruamentos. Do mesmo modo, as antenas parabólicas ou outras não poderão ser colocadas em fachadas ou locais demasiado visíveis. Deverá ser definida uma linguagem de mobiliário urbano para todo o centro histórico, com a qual se deverão identificar elementos como “pins” de impedimento ao estacionamento automóvel, papeleiras, sistemas para aparcamento de bicicletas (como incentivo às deslocações por velocípede), bancos, floreiras, etc. A imagem do mobiliário urbano, indiscutivelmente contemporânea, deverá, contudo, reflectir e respeitar o carácter histórico do aglomerado, não podendo desvalorizá-lo. O recurso a linguagens demasiado arrojadas, bastante desejáveis para os aglomerados mais modernos, pode resultar nefasto para a imagem do conjunto, pelo que qualquer solução deverá ser devidamente estudada e enquadrada.
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10. DAS INTERVENÇÕES ARQUEOLÓGICAS O património arqueológico constitui-se como um elemento essencial para o conhecimento da história e da cultura dos povos, testemunhando a sua evolução. Encontra-se gravemente ameaçado de destruição, não só pelos riscos naturais, como pela multiplicação de grandes ocupações urbanas, levadas a cabo, na maioria das vezes, sem qualquer respeito pelas preexistências. A falta de prospecções arqueológicas prévias, ou mesmo as escavações clandestinas ou desprovidas de carácter científico, também ditam a destruição de potenciais achados arqueológicos ou, pelo menos, do seu devido estudo e divulgação. Constata-se que, neste aspecto, o público em geral se encontra ainda bastante desconhecedor dos procedimentos legais ou devidos, no que se refere à necessidade de se proceder a prospecções arqueológicas no âmbito de determinadas intervenções em edifícios localizados nos centros históricos. A preservação do património arqueológico cabe não só à administração, com a promoção de medidas reguladoras, mas também à população, a quem incumbe a protecção do seu espólio cultural.
Fábrica romana de salga, encontrada aquando de uma intervenção num edifício do centro histórico de Setúbal. A sua musealização teve efeitos na promoção turística da cidade.
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Sempre que uma intervenção implique trabalhos no solo e subsolo, como demolições ou remoção e substituição de pavimentos, deverá ser antecedida por uma prospecção arqueológica ou, em alguns casos, por uma escavação integral. As escavações e as prospecções arqueológicas são efectuadas de forma científica e considerando os seguintes pressupostos:
desde que tal seja compatível com a utilização quotidiana dos espaços urbanos, ou permanecer enterrados, após o seu estudo e registo.
Os métodos de investigação empregues não devem ser destrutivos e só podem ser efectuados por pessoal qualificado e especialmente autorizado para o efeito; Os testemunhos do património arqueológico não devem ser removidos para fora das escavações sem que se tomem medidas que visem a sua preservação; Preferencialmente devem os elementos do património arqueológico ser conservados in situ, ou seja, à vista, devidamente acondicionados e
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11. EXEMPLOS DE RECUPERAÇÃO ARQUITECTÓNICA
Ainda que não tenha sido possível remover os estores nem substituir as caixilharias dissonantes, substitui-se o reboco e pintura, recuperaram-se as cantarias, retomando o cunhal o seu aspecto original, com a pedra à vista. Foram ainda removidos os toldos, que contribuíam consideravelmente para a descaracterização da imagem do edifício.
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A recuperação de rebocos de revestimento e a execução de novas pintura é indispensável na intervenção de reabilitação dos edifícios dos centros históricos. Nestes casos, foram repostas algumas caixilharias tradicionais, ou, pelo menos, pintadas as portas, de forma a conferir ao conjunto uma imagem mais homogénea. A remoção de elementos publicitários dissonantes é igualmente fundamental para a qualificação da frente edificada.
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A escolha das cores nas novas pinturas, no âmbito de uma intervenção de recuperação do património edificado, é fundamental para a requalificação do centro histórico. Nestes casos, foi uniformizada a cor do edifício e devidamente removida a tinta que cobria os socos em cantaria. As cores escolhidas estão dentro da paleta de cores tradicionais que devem figurar no centro histórico. A colocação de mobiliário urbano adequado, neste caso de iluminação pública em suporte de consola pode também contribuir para a dignificação dos edifícios e do espaço público.
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É indiscutível a mais-valia que um património edificado em bom estado de conservação pode trazer aos núcleos urbanos. Assegurar uma imagem digna e qualificada das frentes urbanas contribui não só para a valorização estética dos centros históricos, mas, sobretudo, para a preservação de memórias fundamentais para a história e cultura das cidades e dos povos.
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GLOSSÁRIO Açoteia – Cobertura em terraço muito utilizada na arquitecAçoteia – tura do sul de Portugal. Adobe – Mistura de terra e palha amassada com água, com a qual se fabricam tijolos secos ao sol. Água-furtada – Água-furtada ou trapeira é a designação que se dá geralmente ao último andar de uma c asa, aproveitado sob o madeiramento do telhado, no qual se abrem janelas para iluminação e arejamento. Difere da mansarda, uma vez que esta constitui uma forma especial do madeiramento do telhado, ao passo que a água-furtada não o altera, havendo unicamente a intersecção do telhado pequeno da janela com a água principal do telhado da casa. Frequentemente também se designam por águas-furtadas ou trapeiras as próprias janelas abertas na água do telhado e que servem para iluminar e ventilar os compartimentos existentes. Algeroz - Canal de escoamento e recolha das águas pluviais que contorna a parte inferior dos telhados, despejandoas por canais verticais até ao solo (tubos de queda). Podem ser de pedra, madeira forrada a chapa de zinco, chapa de zinco ou plástico. Alpendre – Também designado por telheiro, é um telhado saliente, geralmente para cobrir a entrada do edifício ou uma
zona de varanda. Pode ser sustentado por colunas ou pilares. Alvenaria – Conjunto de materiais, de dimensão apreciável, ligados entre si por argamassa ou apenas travados por sobreposição, dispostos convenientemente de forma a constituírem maciços em paredes, arcos, abóbadas, etc. Asna – Armação de madeira que sustenta coberturas ou telhados. Balaustrada – Parapeito ou anteparo constituído por uma fila de balaústres dispostos regularmente, coroado por corrimão ou imposta. Tem a função de remate de uma construção ou de anteparo de um vão, de uma varanda, de um balcão ou terraço. Beiral ou beirado – Parte avançada do telhado sobre o corpo do edifício, com a finalidade de dar queda às águas pluviais. Última fileira de telhas que forma a aba o telhado. Caixilho – Obra de carpintaria, marcenaria, serralharia ou cantaria que serve para preencher um vão de porta ou de janela e onde se colocam os vidros ou vitrais. Caleira – Canal para escoamento das águas. O mesmo que algeroz. Cantaria – Pedra aparelhada, para utilizar como acabamento ou na execução de muros e paredes.
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Cércea – Dimensão vertical da construção, contada a partir do ponto de cota média do terreno no alinhamento da fachada até à linha superior do beirado ou platibanda ou guarda do terraço. Cimalha – Moldura com tanta saliência como altura, formada por dois arcos de circunferência, côncavo o superior e convexo o inferior, e que serve de remate da cornija. Cornija – Cornija – Elemento arquitectónico s aliente que coroa o friso de um entablamento, um pedestal, uma balaustrada. Na arquitectura clássica, integrada no entablamento, obedece a regras e proporções determinadas consoante as várias ordens. Cumeeira – Trave no alto do telhado onde se vêm encostar as extremidades das vigotas. Cunhal – Ângulo formado pelo encontro de duas paredes. Sendo um ponto mais fraco da construção, deve ter a resistência necessária às cargas que suporta, exigindo por isso materiais de melhor qualidade, geralmente blocos de pedra de dimensão relevante, aparelhada de forma a ficar bem travada. Emboço – O mesmo que esboço. Primeira camada de argamassa que se aplica numa parede. Espigão – Cumeeira, pedra, tijolo ou telha inclinada que coroa a parte superior de um telhado. Fresta – Vão de janela de abertura muito pequena, servindo apenas para a função de ventilação.
Friso – Faixa trabalhada em relevo ou apenas pintada, geralmente colocada nas paredes exteriores indicando a divisão entre os pisos e a parte superior da parede. Frontão – Coroamento da fachada principal de um edifício, de uma porta, janela ou nicho. Na arquitectura clássica, situava-se sobre o entablamento e era constituído por um triângulo, e, mais tarde, por um arco de circunferência. Gárgula – Gárgula – Pedra trabalhada, com formas reais reais ou grotescas, com um canal escavado, por onde se escoam as águas pluviais da cobertura. Lanternim – Torrinha aberta lateralmente que se sobrepõe a uma lanterna, decora um telhado, uma torre, um pináculo, etc. Mansarda – Andar superior de um prédio, sobre o qual assenta o telhado e de cuja armação ou madeiramento faz parte. Tem uma estrutura bem característica, em corte, por duas paredes inclinadas e telhado de duas águas pouco inclinadas. Obras de alteração - As obras de que resulte a modificação das características físicas de uma edificação existente ou sua fracção, designadamente a respectiva estrutura resistente, o número de fogos ou divisões interiores ou a natureza e cor dos materiais de revestimento exterior, sem aumento da área de pavimento ou de implantação ou da cércea.
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Obras de ampliação - Obras de que resulte o aumento da área de pavimento ou de implantação, da cércea ou do volume de uma edificação existente. Obras de conservação – obras destinadas a manter uma edificação nas condições existentes à data da sua construção, reconstrução, ampliação ou alteração, designadamente as obras de restauro, reparação ou li mpeza. Obras de construção – Todas as obras de criação de novas edificações. Obras de reconstrução - obras de construção subsequentes à demolição total ou parcial de uma edificação existente, das quais resulte a reconstituição da estrutura das fachadas, da cércea e do número de pisos. Óculo – Janela circular ou ovalada na fachada de um edifício. Platibanda – Muro, grade ou balaustrada que rodeia um terraço ou um telhado. Reboco – Argamassa de cal e areia ou de cimento que se coloca sobre o emboço de uma parede, servindo de acabamento final superficial. Sanca – Cimalha, ornada ou não com molduras, que liga as paredes ao tecto. Parte do telhado que assenta sobre a espessura da parede. Soco – Base aparente das paredes dos edifícios, que estabelece a ligação com o terreno exterior.
Soleira – Peça quadrangular, geralmente de pedra ou cimento, onde assentam os umbrais das portas ou das janelas. Tabique – Divisória ou parede delgada que não suporta carga, feita de tijolo ou de tábuas, engradadas e ripadas, que se cobre de argamassa ou estuque, servindo para a divisão de galerias, salas ou quartos. Taipa – Sistema construtivo muito antigo que consiste numa parede ou muro de barro misturado com pedrinhas, batido a malho, por vezes apertado entre enxaiméis atravessados de fasquias, outras vezes com fiadas de tijolo ou pedras entre as faixas de barro. Telha – Peça de cerâmica, ardósia, metal, madeira ou vidro utilizada no fabrico de um telhado. Existem vários tipos de telhas (geralmente cerâmicas), sendo os mais utilizados os Marselha, de canudo, canal ou meia-cana, flamenga, de ponta e de aba e canudo. Telhão – Telha grande, utilizada normalmente para o fabrico do beiral ou da cumeeira. Trapeira – Janela ou postigo aberta no telhado, para arejamento. Xilófagos – Xilófagos – Relativo ao que come madeira. madeira.
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FICHA TÉCNICA EDIÇÃO Câmara Municipal de Setúbal COORDENAÇÃO António Araújo Arquitecto Isabel Pratas Sousa de Macedo Arquitecta INVESTIGAÇÃO E TEXTO Isabel Pratas Sousa de Macedo Arquitecta COLABORAÇÃO Maria de Jesus Gonçalves Banza Arquitecta Florbela Martins Sousa Historiadora CAPA Isabel Pratas Sousa de Macedo Arquitecta
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