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Olimp Olim p´ıadas ıad as de Matem´ Mat em´atica: atica: uma introdu¸c˜ c˜ ao ao Ad´ an J. Corcho & Fernando E. Echaiz & Krerley Oliveira an 27 de maio de 2006
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˜ INTRODUC ¸ AO As Olimp´ıadas ıadas de Matem´atica atica tˆ em em crescido cresc ido rapidamente rap idamente no n o Brasil, Brasi l, com a participa¸c˜ c˜ao ao de milh˜oes oes de estudantes em competi¸c˜ oes oes em v´ario ar ioss n´ıveis ıve is,, desde competi¸c˜ c˜oes oes municipais munic ipais e estaduais estad uais at´e as competi¸ competi ¸c˜ coes o˜es nacionais nacionais e internacionais, ternaci onais, como a Olimp Ol imp´´ıada Brasilei Br asileira ra de Matem´ Mat em´atica atica (www.obm.org.br) e mais recentemente, recentemente, a Olimp´ Olimp´ıada Brasileira de Matem´atica atica das Escolas P´ ublicas (www.obmep.org.br). Al´ ublicas em em de serem um excelente passatempo para os estudantes, as Olimp´ Olimp´ıadas de Matem´atica atica incentivam os mais talentosos para um estudo um pouco mais profundo da matem´atica no ensino b´asico. asico. O resultado resultado dessa combina¸ combina¸c˜ c˜ao ao s˜ao ao alunos motivados e interessados no estudo da Matem´atica, atica, superando o tradicional tabu que existe em torno da disciplina. disciplina. Apesar Apesa r disso, dis so, os textos tex tos dispon´ di spon´ıveis ıveis para p ara o treinamento treiname nto em Olimp´ O limp´ıadas ıadas de Matem´ atica atica s˜ao ao escassos, em compara¸c˜ c˜ao ao com os numerosos e quase sempre mal formulados livros-texto para o ensino regular. Pensando nisso, na necessidade dos bons alunos e professores de ensino m´edio edio no tocante a material adicional de matem´atica atica do ensino en sino m´ edio, edio, ´e que qu e escrevemos es crevemos esse livro. Juntando as experiˆ exper iˆencias encias did´aticas aticas vividas vivida s pelos pelo s autores a utores em trˆes es pa´ pa´ıses diferentes, entes, Brasil, Brasil, Cuba e Peru, Peru, esperamos esperamos tornar tornar para o leitor leitor a matem´ matem´ atica atica mais interessante, mostrando um pouco do imenso brilho e beleza que ela esconde. Agora algumas palavras de como o livro l ivro foi escrito. Os cap´ıtulos ıtulos est˜aaoo baseados em fatos b´asicos asicos da matem´atica atica e trazem alguns teoremas fundamentais. damentais. Como regra geral, geral, os estudant estudantes es podem simplesmente simplesmente ler as demonstra¸c˜ coes, ˜oes, sem a preocupa¸c˜ c˜ao ao em entende entenderr os detalhe detalhess delas. delas. J´a os exemplos e aplica¸c˜ c˜oes oes dos teoremas devem ser lidos com cuidado e muita aten¸c˜ c˜ao. ao. Para os estudantes que desejem treinar para olimp´ olimp´ıadas de matem´atica, atica, sugerimos que formem grupos de estudo para trabalhar os temas 2
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˜ INTRODUC ¸ AO As Olimp´ıadas ıadas de Matem´atica atica tˆ em em crescido cresc ido rapidamente rap idamente no n o Brasil, Brasi l, com a participa¸c˜ c˜ao ao de milh˜oes oes de estudantes em competi¸c˜ oes oes em v´ario ar ioss n´ıveis ıve is,, desde competi¸c˜ c˜oes oes municipais munic ipais e estaduais estad uais at´e as competi¸ competi ¸c˜ coes o˜es nacionais nacionais e internacionais, ternaci onais, como a Olimp Ol imp´´ıada Brasilei Br asileira ra de Matem´ Mat em´atica atica (www.obm.org.br) e mais recentemente, recentemente, a Olimp´ Olimp´ıada Brasileira de Matem´atica atica das Escolas P´ ublicas (www.obmep.org.br). Al´ ublicas em em de serem um excelente passatempo para os estudantes, as Olimp´ Olimp´ıadas de Matem´atica atica incentivam os mais talentosos para um estudo um pouco mais profundo da matem´atica no ensino b´asico. asico. O resultado resultado dessa combina¸ combina¸c˜ c˜ao ao s˜ao ao alunos motivados e interessados no estudo da Matem´atica, atica, superando o tradicional tabu que existe em torno da disciplina. disciplina. Apesar Apesa r disso, dis so, os textos tex tos dispon´ di spon´ıveis ıveis para p ara o treinamento treiname nto em Olimp´ O limp´ıadas ıadas de Matem´ atica atica s˜ao ao escassos, em compara¸c˜ c˜ao ao com os numerosos e quase sempre mal formulados livros-texto para o ensino regular. Pensando nisso, na necessidade dos bons alunos e professores de ensino m´edio edio no tocante a material adicional de matem´atica atica do ensino en sino m´ edio, edio, ´e que qu e escrevemos es crevemos esse livro. Juntando as experiˆ exper iˆencias encias did´aticas aticas vividas vivida s pelos pelo s autores a utores em trˆes es pa´ pa´ıses diferentes, entes, Brasil, Brasil, Cuba e Peru, Peru, esperamos esperamos tornar tornar para o leitor leitor a matem´ matem´ atica atica mais interessante, mostrando um pouco do imenso brilho e beleza que ela esconde. Agora algumas palavras de como o livro l ivro foi escrito. Os cap´ıtulos ıtulos est˜aaoo baseados em fatos b´asicos asicos da matem´atica atica e trazem alguns teoremas fundamentais. damentais. Como regra geral, geral, os estudant estudantes es podem simplesmente simplesmente ler as demonstra¸c˜ coes, ˜oes, sem a preocupa¸c˜ c˜ao ao em entende entenderr os detalhe detalhess delas. delas. J´a os exemplos e aplica¸c˜ c˜oes oes dos teoremas devem ser lidos com cuidado e muita aten¸c˜ c˜ao. ao. Para os estudantes que desejem treinar para olimp´ olimp´ıadas de matem´atica, atica, sugerimos que formem grupos de estudo para trabalhar os temas 2
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3 individualmente, sob a orienta¸c˜ cao a˜o de um professor. O primeiro cap´ cap´ıtulo ´e para introduzir o leitor no esp´ es p´ırit ır ito o do livro e dar uma amostra do tipo de problemas e material que seguir´a nos demais cap´ cap´ıtulos. S˜ao ao propostos alguns problemas, muitos deles com solu¸c˜ c˜oes, oes, e discutimos discutimos alguns m´ etodos etodos important importantes es para uso no dia-a-dia dia-a-dia dos estudantes dantes.. Nesta Nesta discuss˜ discuss˜ ao, ao, inclu´ımos ımos o M´ etodo etodo de Redu¸c˜ cao a˜ o ao Absurdo e algumas regras b´asicas asicas e cuidados que devemos ter ao resolver problemas em Matem´atica. atica. O cap´ cap´ıtulo seguinte trata do conceito de divisibilidade. divisibilidade. Tentamos introduzir o leitor nos principais aspectos b´asicos, asicos, incluindo-se a divisibilidade com resto, m´aximo aximo divisor divis or comum co mum e m´ınimo m´ultiplo ultiplo comum, n´ umeros umeros primos e equa¸c˜ coes ˜oes diofantinas diofantinas.. A organiza¸ c˜ c˜ao ao dos exemplos tenta seguir uma linha em ordem crescente de dificuldade e, para o melhor aproveitamento do curso, o trabalho t rabalho com os exerc´ıcios ıcios ´e parte p arte fundamental. fundame ntal. No cap´ cap´ıtulo de contagem, come¸camos camos com no¸c˜ c˜oes oes uteis u ´ teis sobre conjuntos e prin pr inc´ c´ıpio ıp ioss b´ b asicos a´sicos para contar os elementos de um conjunto. Neste cap´ıtulo, ıtulo, estamos mais preocupados com as aplica¸c˜ c˜oes oes imediatas do que com os aspectos te´oricos oricos do assunto, sugerindo alguns problemas para o estudante inician iniciante. te. Seguim Seguimos os discut discutind indoo os tipos tipos de agrupa agrupamen mento to de elemen elementos tos e suas conseq¨ uˆ uˆenci en cias as.. Um dos cap´ cap´ıtulos mais uteis u ´ teis para o estudante que deseja participar de Olimp´ıadas ıadas de Matem´atica atica ´e o que trata do Princ´ıpio ıpio da Casa dos Pombos. bos. Este cap´ cap´ıtulo ´e um belo exemplo de como algo aparentemente ingˆenuo enuo pode gerar conseq¨uˆ uencias eˆncias interessantes. interessantes. Alguns dos exemplos est˜ao ao conectados com os cap´ cap´ıtulos anteriores e aparentemente aparentemente aplicam o princ´ princ´ıpio de modo inusitado, em problemas de geometria, teoria dos n´umeros umeros e em ´areas areas diversas. Finalmente, o estudante se depara com uma arma poderosa p oderosa do matem´atico. O cap´ıtulo ıtu lo 5 est´ e st´a dedicado a M´etodo et odo da Indu¸ In du¸c˜ cao ˜ Finita . Novamente, procuramos conectar este cap´ cap´ıtulo com ooss cap´ıtulos ıtulos anteriores, re-obtendo re-obtend o com o aux´ılio ıli o do M´etodo eto do da Indu¸ Ind u¸c˜ c˜ao ao algumas coisas que j´a foram deduzidas por outros m´ etodos. etodo s. V´arios arios exemplos e problemas s˜ao ao resolvidos, alguns deles de modo surpreende surpreendente nte e inesperado. inesperado. Para deixar o leitor com bastante trabalho para fazer e fixar as id´ eias eias desenvolvidas, senvolvidas , dedicamos dedicamo s um cap´ cap´ıtulo a problemas pr oblemas de Olimp Ol imp´´ıadas de Matem´ Ma tem´atica. atica. De olimp´ olimp´ıadas regionais, nacionais e internacionais, eles apresentam um desafio suficiente para motivar o leitor num treinamento posterior. Somos gratos a muitas pessoas que colaboraram com a elabora¸c˜ao ao deste
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4 livro com sugest˜oes e corre¸co˜es de muitos erros em vers˜oes iniciais. Entre eles, citamos: Carlos Gustavo Moreira, Ali Tahzibi, Iram Gl´eria, Eduardo Teixeira, Valdenberg Ara´ ujo e Chico Potiguar. Finalmente, dedicamos este livro as nossas esposas e filhos, os quais compreenderam os s´abados sacrificados em fun¸ca˜o de escrevˆe-lo.
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Sum´ ario 1 Primeiros Passos 1.1 Tarefas Imposs´ıveis . . . . . . . . . 1.1.1 A morte do barbeiro . . . . 1.1.2 A prova surpresa . . . . . . 1.1.3 Os Irm˜ aos Gananciosos . . 1.2 Organizando as Id´eias . . . . . . . 1.3 Verdadeiro ou Falso? . . . . . . . . 1.4 O M´ etodo de Redu¸c˜ao ao Absurdo 1.5 Dicas para Resolver Problemas . .
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2 Divisibilidade 2.1 Conceitos Fundamentais e Divis˜ ao com Resto . . . . 2.2 M´aximo Divisor Comum e M´ınimo M´ultiplo Comum 2.3 N´ umeros Primos e Compostos . . . . . . . . . . . . . 2.3.1 O Crivo de Erat´ostenes . . . . . . . . . . . . 2.3.2 O Teorema Fundamental da Aritm´etica . . . 2.3.3 Identificando N´ umeros Compostos . . . . . . 2.4 Um pouco sobre Equa¸co˜es Diofantinas . . . . . . . . 2.5 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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3 Contagem 3.1 Princ´ıpio Aditivo de Contagem . . . . . . . . . . . . . 3.2 Princ´ıpio Multiplicativo de Contagem . . . . . . . . . 3.3 Uso simultˆ aneo dos Princ´ıpios Aditivo e Multiplicativo 3.4 Permuta¸co˜es Simples . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.5 Arranjos Simples . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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´ SUMARIO
3.6 Combina¸co˜es Simples . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91 3.7 Contagem e Probabilidades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 94 3.8 Exerc´ıcios Propostos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 96 4 O Princ´ıpio da Casa dos Pombos 4.1 Primeiros Exemplos . . . . . . . . 4.2 Uma Vers˜ ao mais Geral . . . . . . 4.3 Aplica¸ c˜oes na Teoria dos N´ umeros 4.4 Aplica¸ c˜oes Geom´etricas . . . . . . 4.5 Miscelˆ anea . . . . . . . . . . . . . 4.6 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . .
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5 Indu¸ c˜ ao Matem´ atica 5.1 Formula¸ca˜o Matem´atica . . . . . . . . . . . . . 5.1.1 M´etodo de Indu¸c˜ao Matem´atica . . . . 5.2 Problemas Cl´ assicos . . . . . . . . . . . . . . . 5.2.1 Demonstrando Identidades . . . . . . . 5.2.2 Demonstrando Desigualdades . . . . . . 5.2.3 Indu¸c˜a o em problemas de divisibilidade 5.3 Indu¸c˜ao na Geometria . . . . . . . . . . . . . . 5.4 Miscelˆ anea . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5.5 M´etodo Forte da Indu¸c˜ao . . . . . . . . . . . . 5.6 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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6 Problemas de Olimp´ıadas
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Sum´ ario
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Cap´ıtulo 1
Primeiros Passos Neste cap´ıtulo, faremos uma coletˆanea de problemas e id´eias que servir˜ao para ilustrar v´arios m´etodos que iremos discutir nos cap´ıtulos seguintes e dar um sabor do tipo de argumento que aparece nos problemas em matem´atica. Alguns dos exemplos que discutiremos ser˜ao u ´ teis para orientar quanto ao cuidado que devemos ter quando vamos discutir problemas em Matem´atica. Come¸caremos com trˆes hist´orias interessantes e muito intrigantes, os quais discutiremos superficialmente.
1.1 1.1.1
Tarefas Imposs´ıveis A morte do barbeiro
Num reino muito antigo e muito pequeno s´o havia um barbeiro, que cuidava da aparˆencia Real. O Rei, para agradar sua popula¸c˜ao que estava insatisfeita com seu governo, decidiu decretar o seguinte: Decreto Real: O Barbeiro Real barbear´ a somente aquelas pessoas que n˜ ao
se barbeiam. Caso esse decreto seja descumprido, ordeno a morte do barbeiro. O s´ abio da corte, mago e conhecedor de Matem´atica, ao ver o decreto real que iria ser publicado, correu ao encontro do Rei, clamando para que Sua Majestade desistisse de tal id´eia. O Rei espantado, achou uma impertinˆencia tal comportamento do mago, que prontamente lhe explicou suas raz˜oes: 8
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[SEC. 1.1: TAREFAS IMPOSS´IVEIS
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Majestade, caso Vossa Alteza decida publicar tal decreto, o pobre Barbeiro Real ter´a que ser morto, pois ´e humanamente imposs´ıvel cumpri-lo. Apesar de Vossa Majestade j´a saber disso, vou com sua permiss˜ao tomar a liberdade de me explicar: “Imagine que tal decreto seja publicado e esteja em vigor em seu fabuloso reino. Neste caso, restariam ao barbeiro duas possibilidades:
• O barbeiro n˜ao se barbeia.
Neste caso, Vossa Sabedoria obrigaria ao barbeiro a se barbear, o que seria imposs´ıvel para essa pobre criatura, uma vez que ele n˜ao se barbeia. Resultado: ele seria morto.
• O barbeiro se barbeia.
Neste caso, ele estaria descumprindo seu decreto de barbear somente quem n˜ao se barbeia. Assim ele deveria ser morto.
Note Vossa Sabedoria, que sabe mais do que eu, que ele seria morto de qualquer modo caso tal decreto entrasse em vigor, aumentando ainda mais a insatisfa¸ca˜o do povo. Assim, a humilde sugest˜ ao de seu servo ´e que em sua gra¸ca e bondade, a publica¸c˜ao de tal decreto seja adiada.” Depois dessas palavras s´abias e precisas do Mago da Corte, a vida do pobre barbeiro foi salva e ele viveu at´e os ´ultimos dias de sua vida cortando feliz a barba de quem se barbeasse e de quem n˜ao se barbeasse.
1.1.2
A prova surpresa
O Diretor de uma escola famosa, aborrecido com o mau desempenho dos alunos do primeiro ano, pediu ao professor de matem´atica que comunicasse aos estudantes que na semana seguinte seria realizada uma prova-surpresa, na inten¸ca˜o de fazer com que os estudantes se dedicassem mais. Quando conversou com o professor de matem´atica a esse respeito, o professor disse que de acordo com a l´ogica, ele n˜ao deveria anunciar nada, pois se anunciasse n˜ao havia meios de que a prova fosse surpresa. Como o diretor n˜ao aceitou esse argumento sem uma explica¸ca˜o detalhada, o professor de matem´atica teve que se explicar. Os dois tiveram a seguinte conversa: - P: - Diretor, digamos que eu deseje realizar tal prova-surpresa. Neste caso, n˜ao poderei realiz´a-la na sexta-feira. - D: Mas, por quˆe?
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[CAP. 1: PRIMEIROS PASSOS
- P: Caso a seja realizada na sexta, na quinta-feira os alunos v˜ao perceber isso, pois notar˜ao que ela n˜ao foi realizada at´e a quinta. - D: Ah! T´ a certo. Mas vocˆe pode realizar a prova na quinta. - P: N˜ao, eu tamb´em n˜ao poderei realiz´a-la na quinta. - D: Deixe-me ent˜ao tentar justificar isso. Veja s´o, como vocˆe n˜ao pode realizar a prova na sexta, ela ter´a que acontecer entre segunda-feira e quintafeira. Logo, se ela for ser realizada na quinta, quando chegar a quarta-feira os alunos perceber˜ao que n˜ao houve prova at´e o momento e deduzir˜ao que ela ser´a na quinta, j´a que n˜ao pode ser na sexta! - P: Perfeito, diretor! Vocˆe entendeu o racioc´ınio. Logo ela deve acontecer segunda, ter¸ca ou quarta. Do mesmo modo, podemos argumentar e excluir a quarta-feira. - D: Ent˜ao ela ser´a na segunda! - P: Exatamente! E neste caso deixar´a de ser surpresa. - D: Entendi seu argumento, professor. Acho que vou ter que arrumar outro castigo para esses alunos indisciplinados. Obrigado pela explica¸c˜ao!
1.1.3
Os Irm˜ aos Gananciosos
No dia do anivers´ario dos gˆemeos Cosme e Dami˜ao, seu pai, dono de uma das maiores bombonieres da cidade, decidiu trazer para presentear os dois aniversariantes uma sacola com quarenta doces. A cada minuto, eles se alternam na escolha, podendo pegar um ou dois doces. Caso um deles pegue dois doces, o pai pega a sacola de volta pois considera esta atitude muito gananciosa. Todos os dois sabem disso e sabem que podem ficar com vinte doces cada um, caso n˜ao sejam gananciosos. O primeiro a escolher seu doce ´e o Cosme. O que o Cosme deve fazer? Se vocˆe respondeu “pegar um doce somente”, vamos mostrar a vocˆe que a l´ogica, pura e simples, vai nos levar na dire¸c˜ao contr´aria (apesar de toda pessoa de bom senso come¸car escolhendo um doce). Para ver isso, vamos imaginar que eles j´a fizeram v´arias escolhas e os doces est˜ao acabando. Como o Cosme come¸cou a retirar os doces, depois de 38 retiradas sucessivas haver´a exatamente dois doces na sacola. Neste caso, o que o Cosme faria? Naturalmente, ele pegaria os dois doces. Por´ em, seu irm˜ao Dami˜ao sabe disso e na escolha imediatamente anterior, quando houvesse trˆes doces na sacola ele teria duas op¸c˜oes: tiraria um doce e deixaria seu irm˜ao com dois doces, ou tiraria dois doces e acabaria a distribui¸c˜ao.
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´ [SEC. 1.2: ORGANIZANDO AS IDEIAS
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Como ele conhece seu irm˜ao e sabe que se deixasse os dois doces ele iria tir´a-los, ele acabaria o jogo quando houvesse trˆes doces no saco. Neste momento, argumentamos por analogia: quando houvesse quatro doces no saco, Cosme saberia que se tirasse um doce, Dami˜ao tiraria dois e acabaria com a distribui¸ca˜o. Assim, ele tiraria dois doces e acabaria a distribui¸c˜ao quando houvesse quatro doces na sacola. Por sua vez, o Dami˜ao... Argumentando de tr´as-para-frente, conclu´ımos que o Cosme deveria tirar na sua primeira escolha dois doces e acabar com a distribui¸c˜ao. Entendeu?
1.2
Organizando as Id´ eias
Nesta se¸c˜ao vamos come¸car a montar os alicerces de nossa constru¸c˜ ao em Matem´ atica. Para isso, precisamos ter bem claros em nossa mente alguns conceitos que ser˜ao u ´ teis na hora de distinguir entre o que devemos provar e o que estamos assumindo como verdade em uma afirma¸c˜ao matem´atica. ´ sobre isso que falaremos agora. Come¸caremos observando as seguintes E afirma¸c˜oes: (a) Se como muitos doces, ent˜ao passo mal; (b) Se estudo bastante, ent˜ao passo no exame de inglˆes. Em ambas, estamos assumindo alguma coisa como verdadeira e a partir disso, afirmamos que alguma outra coisa ´e v´alida. Na primeira afirma¸c˜ao, estamos assumindo que comemos muitos doces e afirmamos que, com isto, acabamos passando mal. Em nosso estudo da Matem´atica, ter em mente o que estamos assumindo como verdadeiro e o que desejamos provar ´e muito importante para evitar confus˜oes e erros em nossos argumentos. Para facilitar essa divis˜ao, vamos definir o que entendemos por proposi¸cao: ˜ Defini¸ ca ˜o 1.1. Uma proposi¸c˜ao ´e uma afirma¸c˜ao composta de hip´ otese e tese. A hip´ otese ´e tudo aquilo que assumimos como verdadeiro. A tese ´e tudo aquilo que queremos mostrar. Em nossa segunda afirma¸ca˜o, estamos assumindo que estudamos bastante. A hip´otese neste caso ´e:
• Hip´otese: Estudo bastante.
Queremos mostrar que passaremos no exame de inglˆes. A tese ´e ent˜ao:
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[CAP. 1: PRIMEIROS PASSOS
• Tese: Passo no exame de inglˆes. Forma Direta: Vamos chamar o modo em que apresentamos uma proposi¸c˜ao de forma direta . Por exemplo, quando enunciamos a proposi¸c˜ao “Se x ´e uma laranja, ent˜ao x ´e uma fruta”, estamos enunciando sua forma direta. Vamos descrever agora como podemos obter novas proposi¸c˜ oes a partir da forma direta de uma proposi¸c˜ao: Forma Negativa: Para obter a forma negativa basta que neguemos a hip´ otese e neguemos a tese: Hip´ otese Tese
Forma Direta x ´e uma laranja x ´e uma fruta
Forma Negativa x n˜ ao ´e uma laranja x n˜ao ´e uma fruta
Logo a forma negativa fica sendo: Se x n˜ ao ´e uma laranja, ent˜ ao x n˜ ao ´e uma fruta. Forma Rec´ıproca: Para construirmos a forma rec´ıproca, temos que trocar a hip´otese pela tese (e vice-versa) na forma direta. No nosso exemplo:
Hip´otese Tese
Forma Direta x ´e uma laranja x ´e uma fruta
Forma Rec´ıproca x ´e uma fruta x ´e uma laranja
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[SEC. 1.3: VERDADEIRO OU FALSO?
Assim a Forma Rec´ıproca ´e: Se x ´e uma fruta, ent˜ ao x ´e uma laranja. Forma Contra-rec´ıproca: Para obtermos a forma contra-rec´ıproca a partir da forma direta, temos que trocar a hip´otese pela tese e negar a hip´otese e a tese. Hip´ otese Tese
Forma Direta x ´e uma laranja x ´e uma fruta
Forma Contra-rec´ıproca x n˜ ao ´e uma fruta x n˜ ao ´e uma laranja
Logo a forma contra-rec´ıproca fica sendo: Se x n˜ ao ´e uma fruta, ent˜ ao x n˜ ao ´e uma laranja.
1.3
Verdadeiro ou Falso?
Uma das coisas que distingue a Matem´atica das demais Ciˆencias Naturais ´e o fato de que um tema de Matem´atica ´e discutido utilizando-se a l´ogica pura e, por conta disso, uma proposi¸ca˜o em Matem´atica uma vez demonstrada atrav´es de argumentos l´ogicos corretos, ´e aceita como verdade e n˜ao sofre grandes altera¸co˜es ao longo dos tempos. Como conseq¨ uˆencia desse fato ´e que os resultados provados em Matem´atica `as vezes podem tornar seus descobridores ilustres e se aplicam atrav´es dos s´eculos. Por exemplo, o Teorema de Pit´agoras ´e utilizado at´e hoje do mesmo modo que foi descoberto h´a mais de 2.000 anos e seguir´a do mesmo jeito nos pr´oximos 2.000 anos. Vamos ilustrar melhor essa diferen¸ca com um exemplo em Geografia: Hoje, todos n´os sabemos que a Terra tem aproximadamente o formato de uma laranja, um pouco achatada nos p´olos. Por´em, na ´epoca de Pit´agoras, um dos grandes temores dos navegadores era encontrar o fim-do-mundo. No pensamento de alguns destes aventureiros, a Terra tinha o formato de um cubo, e uma vez chegando em um dos seus extremos, o navio despencaria no vazio. Esse ´e um dos muitos exemplos de como a concep¸ca˜ o da
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[CAP. 1: PRIMEIROS PASSOS
natureza mudou ao longo do tempo, transformando uma proposi¸c˜ao verdadeira num per´ıodo da humanidade em algo completamente falso em outra ´epoca. Por´ em, para nossa felicidade, isso n˜ao acontece na Matem´atica. Uma proposi¸ca˜o ou ´e verdadeira ou ´e falsa e permanecer´a deste modo pelos milˆenios. Mas como saber se uma proposi¸ca˜o ´e verdadeira ou falsa? A primeira coisa que devemos fazer ´e tomar muito cuidado. As aparˆ encias enganam ou, como diziam nossos av´os, “nem tudo que reluz ´e ouro.”O leitor, avisado disso, pense agora na seguinte pergunta:
• Qual ´e a chance de que pelo menos duas pessoas num ˆonibus com 44 passageiros fa¸cam anivers´ario no mesmo dia do ano?
Como j´a avisamos, o leitor deve ter cuidado ao responder a pergunta acima, pois podemos nos enganar muito facilmente. Por exemplo, podemos formular o seguinte argumento errado: o ano tem 365 dias e, como estou escolhendo um grupo de 44 pessoas ao acaso, ´e claro que a chance de que num grupo de 44 pessoas pelo menos duas delas fa¸cam anivers´ario no mesmo dia do ano ´e pequena, pois 44 ´e um n´umero muito pequeno com respeito ` primeira vista isso pode at´ a 365. A e parecer verdadeiro, mas com uma an´alise mais cuidadosa veremos que ´e completamente falso. Na verdade, a chance de que pelo menos duas pessoas do ˆonibus fa¸cam anivers´ario no mesmo dia do ano ´e de cerca de 80%! Quem n˜ao acreditar nisto pode fazer duas coisas: primeiro, ir a sua sala de aula ou no seu ˆonibus escolar, que deve ter pelo menos 40 pessoas, e fazer o experimento ao vivo. Muito provavelmente vocˆe deve conseguir duas pessoas que fazem anivers´ario no mesmo dia do ano. Se vocˆe verifica que existiam duas pessoas que faziam anivers´ario no mesmo dia do ano, n˜ao foi por acaso, pois a chance de isso acontecer era muito alta. Mas, cuidado! Isso n˜ao ´e uma prova matem´atica para este fato. Para provar que este fato ´e verdadeiro vocˆe deve verificar que se escolhermos ao acaso um grupo de 44 pessoas ent˜ao com 80% de chance pelo menos duas delas fazem anivers´ario no mesmo dia do ano. Por´em, se vocˆe faz o experimento e n˜ao encontra duas pessoas que fazem anivers´ ario no mesmo dia do ano, n˜ao se desespere. Lembre-se de que se trata de algo que acontece com chance de 80% e que pode n˜ao acontecer quando fazemos um teste. Em qualquer um dos casos, para ter a certeza de que a proposi¸c˜ao ´e verdadeira o leitor deve passar para o Capitulo 3, onde demonstraremos matematicamente que o que afirmamos ´e verdade.
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[SEC. 1.3: VERDADEIRO OU FALSO?
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Vamos analisar agora outro fato aparentemente ´obvio:
• Num campeonato de futebol onde cada time joga a mesma quantidade
de jogos, cada vit´oria vale trˆ es pontos, o empate vale um ponto e a derrota nenhum ponto. Em caso de empate, o crit´erio de desempate entre as equipes era o seguinte: - A melhor equipe ´e aquela que tem mais vit´orias. Os organizadores decidiram passar a adotar o crit´erio: - A melhor equipe ´e aquela que tem mais derrotas. Vocˆe acha que este crit´erio ´e justo?
Com respeito a esta pergunta, a resposta do leitor deve ter sido que a mudan¸ca de crit´erio ´e totalmente injusta (acertamos a sua resposta?), pois um time que perdeu mais ´e pior que um que perdeu menos. Na verdade, n˜ao houve mudan¸ca nenhuma de crit´erio! Para ver isso rapidamente, lembre-se de que se a equipe A perdeu mais que a equipe B e ainda assim empataram, ent˜ao ela deve ter ganho mais, para que no fim do campeonato a equipe A ainda assim conseguisse empatar com a equipe B. Vamos mostrar isso precisamente. Sejam a1 , a2 , a3 o n´umero de derrotas, empates e vit´orias, respectivamente, da equipe A. Do mesmo modo, sejam b1 , b2 , b3 o n´umero de derrotas, empates e vit´orias, respectivamente, da equipe B. Nossa hip´ otese ´e de que a equipe A obteve mais vit´orias que a equipe B, ou seja, que a3 > b 3 . Como cada equipe jogou o mesmo n´umero de jogos, temos que a1 + a2 + a3 = b1 + b2 + b3 .
(1.1)
Por outro lado, note que o n´umero de pontos obtidos pela equipe A ´e a2 + 3a3 . Do mesmo modo, o n´umero de pontos obtidos pela equipe B ´e igual a b2 + 3b3 . Como as duas empataram, temos que: a2 + 3a3 = b2 + 3b3 . Ou ainda,
− b3) = b2 − a2 ou b3 − a3 = − b2 −3 a2 . Como a3 − b3 > 0 temos que b2 − a2 > 0. Reescrevendo a equa¸ca˜o (1.1), 3(a3
temos que: a1
− b1 = b2 − a2 + (b3 − a3) = b2 − a2 − b2 −3 a2 = 23 (b2 − a2).
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[CAP. 1: PRIMEIROS PASSOS
Logo, temos que a1 b1 > 0, pois b2 a2 > 0. Isso significa que A teve mais derrotas que B, como quer´ıamos demonstrar. Assim, como estes dois exemplos mostram, ao depararmos com um problema em Matem´atica, devemos ter cuidado ao tirar conclus˜oes apressadas para evitar que cometamos algum engano. Pode acontecer que uma situa¸c˜ao que ´e claramente falsa para um observador menos atento, se mostre verdadeira quando fazemos uma an´alise mais criteriosa.
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1.4
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O M´ etodo de Redu¸ c˜ ao ao Absurdo
“Um detetive est´a investigando um caso de roubo de um objeto que ocorreu numa sala onde havia somente duas pessoas. Naturalmente, o criminoso se encontra entre as duas pessoas que estavam na sala. Ap´os investigar criteriosamente a primeira pessoa, ele chega `a conclus˜ao de que esta pessoa ´e inocente. Logo, o crime foi cometido pela segunda pessoa.” Apesar de sua simplicidade, o m´ etodo descrito no par´agrafo anterior ´e uma das ferramentas mais poderosas da Matem´atica. N´os conhecemos este m´etodo pelo nome de M´etodo de Redu¸c˜ ao ao Absurdo ou M´etodo do Terceiro Exclu´ıdo. Resumidamente, se uma afirma¸ca˜o n˜ao ´e verdadeira, ela s´o pode ser falsa. Para escrever o m´ etodo em termos de proposi¸c˜oes, devemos seguir o seguinte roteiro:
• Assumindo a Hip´otese como verdade, tentamos mostrar que a nossa Tese ´e verdadeira.
• Se n˜ao conseguimos isso diretamente, supomos que a Tese ´e falsa. • Ap´os argumentarmos corretamente, deduzimos que a Hip´otese tem que ser falsa. Isso ´e um absurdo, pois estamos assumindo que a Hip´ otese ´e verdadeira.
• Deste modo, n˜ao podemos supor que a tese ´e falsa, onde ela deve ser verdadeira.
Em termos de proposi¸c˜oes, podemos concluir que o M´ etodo de Redu¸c˜ ao ao Absurdo pode ser formulado do seguinte modo:
• Para mostrar que uma proposi¸c˜ao ´e verdadeira, basta mostrar que sua forma contra-rec´ıproca ´ e verdadeira.
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´ ˜ AO ABSURDO [SEC. 1.4: O METODO DE REDUC ¸ AO
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Em resumo, podemos dizer que o m´etodo da redu¸c˜ ao ao absurdo ´e:
Forma Direta
⇔ Forma Contra-rec´ıproca
⇔
O s´ımbolo significa que a Forma Direta de uma proposi¸c˜ ao ´e verdadeira se, e somente se, a sua Forma Contra-rec´ıproca tamb´em o for. Vamos mostrar como esse m´etodo funciona na pr´atica. Dizemos que um n´umero natural n ´e par, se existir outro n´umero natural k tal que n = 2k. No caso contr´ario, este n´ umero ´e chamado de ´ımpar e se escreve da forma 2k + 1 para algum n´umero natural k. Considere a seguinte proposi¸ca˜o: Proposi¸c˜ao 1.2. Se n ´e par, ent˜ ao n2 ´e par.
• Hip´otese: n ´e par. • Tese: n2 ´e par. Apesar de parecer ´obvia, esta proposi¸c˜ao merece uma prova matem´atica rigorosa. Vamos dar essa prova: Demonstra¸ cao. ˜ Se n ´e par, ent˜ao pela defini¸c˜ao de n´ umero par, deve existir um n´ umero natural k tal que n = 2k. Logo, n2 = (2k)(2k) = 2(2k2 ). Denotando q = 2k 2 , temos que n2 = 2q ´e par tamb´em.
Vamos agora considerar uma outra proposi¸c˜ao: Proposi¸c˜ao 1.3. Se n2 ´e par, ent˜ ao n ´e par.
• Hip´otese: n2 ´e par. • Tese: n ´e par.
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[CAP. 1: PRIMEIROS PASSOS
n2 4 16 36 64 100 144
n 2 4 6 8 10 12
Desafiamos o leitor a tentar mostrar esta proposi¸c˜ao partindo da hip´otese e tentando concluir a tese. Note que podemos verificar que nossa proposi¸c˜ ao ´e verdadeira para v´arios valores de n2 como na tabela abaixo, mas isso n˜ao ´e uma prova matem´atica da nossa proposi¸c˜ao. Mesmo verificando para um bilh˜ao de valores de n2 , sempre nos restariam n´umeros para serem verificados. Como nossas tentativas de provar a forma direta desta proposi¸c˜ao est˜ao sendo frustradas, neste momento iremos apelar para o M´etodo de Redu¸ca˜o ao Absurdo, ou seja, para mostrar a Proposi¸ca˜o 1.3, iremos mostrar a sua forma contra-rec´ıproca:
• Negativa da Tese: n n˜ao ´e par. • Negativa da Hip´otese: n2 n˜ao ´e par. Demonstra¸ cao. ˜ Como estamos assumindo que n n˜ao ´e par, logo n tem que ser ´ımpar, ou seja, existe k, n´ umero natural, tal que n = 2k + 1. Logo, n2 = (2k + 1)(2k + 1) = 4k 2 + 2k + 2k + 1 = 4k 2 + 4k + 1 = 2(2k2 + 2k) + 1, chamando q = 2k 2 + 2k, temos que: n2 = 2q + 1 Logo, n2 ´e ´ımpar, de onde conclu´ımos a prova.
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[SEC. 1.5: DICAS PARA RESOLVER PROBLEMAS
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Isto mostra um pouco do poder do M´ etodo de Redu¸c˜ao ao Absurdo. Antes de us´a-lo, n˜ao t´ınhamos a menor id´eia de como mostrar a proposi¸c˜ao 2. Aplicando o m´etodo, constru´ımos uma proposi¸c˜ao equivalente a proposi¸ca˜o 2, cuja prova conseguimos obter sem maiores dificuldades.
1.5
Dicas para Resolver Problemas
Nesta se¸c˜ao, estudaremos algumas “regras gerais”que devemos ter em mente na hora de resolver um problema de matem´atica. Aplicaremos estas “regras”a alguns problemas interessantes para ilustrar sua importˆancia. Vamos `a primeira regra: Ler bem o enunciado do problema e utilizar todas as informa¸co˜es dispon´ıveis.
• Regra 1:
Problema 1.4. Ao encontrar uma velha amiga, um matem´ atico tem a seguinte conversa: M: Como v˜ ao os trˆes filhos da senhora? S: V˜ ao bem, obrigada! M: Qual a idade deles mesmo? S: Vou lhe dar dicas. O produto das idades deles ´e 36. M: S´ o com essa dica ´e imposs´ıvel! S: A soma das idades ´e igual ao n´ umero daquela casa (apontou para uma casa em frente aos dois). M: Ainda n˜ ao sei! S: O mais velho toca piano! M: Agora eu sei! Vocˆe ´e capaz de descobrir as idades dos trˆes filhos da senhora? ´ muito importante neste problema tirar o m´aximo de informa¸ca˜o Solu¸c˜ ao. E das dicas da senhora. Vamos `a primeira dica: o produto das idades ´e 36. Digamos que as idades dos filhos sejam 0 x y z 36. Como xyz = 36, temos as seguintes possibilidades:
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[CAP. 1: PRIMEIROS PASSOS
x 1 1 1 1 1 2 2 3
y z 1 36 2 18 3 12 4 9 6 6 2 9 3 6 3 4
Vamos agora calcular a soma das idades: x 1 1 1 1 1 2 2 3
y z x+y+z 1 36 38 2 18 21 3 12 16 4 9 14 6 6 13 2 9 13 3 6 11 3 4 10
Observe que n˜ao conhecemos a princ´ıpio o n´umero da casa. Por´em, sabemos que ap´os a segunda dica, o matem´atico ainda n˜ao conseguiu deduzir as idades das crian¸cas. Por que ele n˜ao conseguiu? Imagine que o n´umero da casa fosse 14. Ora, de acordo com nossa tabela, s´o existe um terno de n´umeros cujo produto ´e 36 e a soma ´e 14, que ´e o terno (1,4,9). Assim, se o n´umero da casa fosse 14 o matem´ atico teria dado a resposta ap´os a segunda dica. Como ele ficou em d´ uvida, olhando a tabela 2, chegamos `a conclus˜ ao de que o n´umero da casa s´o pode ser igual a 13. ´ Ultima dica: O mais velho toca piano. No in´ıcio essa dica parecia in´util, mas agora ela ´e fundamental para resolvermos o problema. De fato, como o mais velho toca piano, isso significa que
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[SEC. 1.5: DICAS PARA RESOLVER PROBLEMAS
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existe um mais velho, o que descarta o caso (1,6,6). Assim, as idades s˜ao 2, 2, e 9. Problema 1.5. Numa cesta encontram-se 9 moedas idˆ enticas, sendo que oito delas tˆem o mesmo peso e uma moeda ´e mais leve que as demais. Usando duas vezes uma balan¸ca de dois pratos, encontrar a moeda mais leve. Solu¸c˜ ao. Este ´e o tipo de problema que a primeira vista pode parecer dif´ıcil, mas que quando usamos todas as informa¸co˜es do seu enunciado se torna f´acil. A id´eia ´e dividir as moedas em trˆes grupos de trˆes moedas cada, que chamaremos grupos A, B e C . Colocaremos na balan¸ca os grupos A e B e deixaremos o grupo C fora. Podem acontecer duas coisas: (a) Os pratos ficam equilibrados; (b) Os pratos ficam desequilibrados. No caso 1, temos que os grupos A e B tˆem o mesmo peso. Logo, a moeda mais leve deve estar no grupo C . No caso 2, um dos grupos ficou mais leve, o que significa que a moeda mais leve est´a neste grupo. Assim, utilizando a balan¸ca apenas uma vez conseguiremos descobrir qual ´e o grupo em que a moeda mais leve est´a. Digamos que este grupo seja o grupo A. Para achar a moeda mais leve, procedemos de modo semelhante ao que fizemos anteriormente: separamos as trˆ es moedas do grupo A colocando uma em cada prato e deixando a terceira de fora. Podem acontecer duas coisas: (a) Os pratos ficam desequilibrados e assim a moeda mais leve est´a no prato mais leve; (b) Os pratos ficam equilibrados, logo a moeda mais leve foi a que ficou fora. No final, usamos a balan¸ca exatamente duas vezes.
• Regra 2: Fazer casos particulares ou casos mais simples de problemas similares, para adquirir familiaridade com o problema.
Problema 1.6. Numa pequena ilha existem 5 pessoas de olhos azuis e 5 pessoas de olhos verdes. Existe um grande tabu nesta ilha que ´e o seguinte:
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[CAP. 1: PRIMEIROS PASSOS
se uma pessoa descobre que possui olhos azuis ela se suicida `a meia-noite do dia em que descobriu, pulando do alto da prefeitura. Por conta disso, ningu´ em conversa sobre o assunto, olha para espelhos ou vˆ e seu reflexo na agua. Todos se cruzam diariamente e conhecem os olhos de seus amigos. ´ Numa manh˜ a, um estrangeiro chegou a ilha e reuniu as dez pessoas para o seguinte pronunciamento: “Nesta ilha, existe uma pessoa de olhos azuis.” Pergunta-se:
1. O que aconteceu com os habitantes da ilha? 2. Que informa¸c˜ ao nova o estrangeiro trouxe? Dicas: 1. Fazer o caso uma pessoa com olhos azuis e uma com olhos verdes; 2. Fazer o caso de duas pessoas de olhos azuis e duas de olhos verdes. Solu¸c˜ ao. Como em muitos problemas de matem´atica, abordar casos mais simples do problema pode ajudar bastante na solu¸c˜ao. Assim, vamos imaginar o seguinte caso mais simples: na Ilha existe somente uma pessoa de olhos azuis e a outra de olhos verdes. Pensando neste caso, a pessoa que tinha olhos azuis s´o via as que tinham olhos verdes. Quando o estrangeiro afirmou que existia uma pessoa de olhos azuis, ela descobriu que tinha olhos azuis, pois as outras pessoas tinham olhos verdes. Assim, `a meia-noite ela subiu na prefeitura e pulou. Com isso, a pessoa que tinha olhos verdes descobriu que tinha olhos verdes, pois se ela tivesse olhos azuis sua companheira n˜ao se suicidaria no dia anterior. Vamos agora dar um passo crucial na solu¸ca˜o do nosso problema original, considerando o caso onde existem duas pessoas de olhos azuis e duas pessoas de olhos verdes na ilha. Vamos chamar as pessoas de olhos azuis de A e B e as pessoas de olhos verdes de C e D. No dia em que o estrangeiro fez o seu pronunciamento, nada aconteceu, pois as pessoas C e D viam as pessoas A e B com olhos azuis e a pessoa A via a pessoa B com olhos azuis e vice-versa. J´a no segundo dia, a pessoa A teve o seguinte pensamento:
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[SEC. 1.5: DICAS PARA RESOLVER PROBLEMAS
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“Se eu tivesse olhos verdes, a pessoa B teria descoberto que tinha olhos azuis ontem, pois ela veria trˆ es pessoas de olhos verdes. Como ela n˜ ao se suicidou ontem, eu tenho olhos azuis.” Pensando da mesma forma, a pessoa B descobriu que tamb´em tinha olhos azuis. Por isso, `a meia noite do segundo dia, as pessoas A e B se suicidaram. O que aconteceu depois? As pessoas C e D ainda tinham a d´uvida da cor de seus olhos. Para chegar `a conclus˜ao de que seus olhos s˜ao verdes, no terceiro dia, a pessoa C pensou assim: Bem, se eu tivesse olhos azuis, as pessoas A e B veriam cada uma duas pessoas com olho azul. Logo, elas n˜ ao teriam se suicidado no segundo dia, pois n˜ ao conseguiriam deduzir a cor de seus olhos. Logo, tenho olhos verdes. Ufa! Do mesmo modo, a pessoa D conseguiu descobrir a cor de seus olhos. Analisando de modo semelhante, conseguiremos deduzir que no problema original as cinco pessoas de olhos azuis descobrir˜ao que possuem olhos azuis e juntas se suicidar˜ao no quinto dia ap´os o pronunciamento do estrangeiro. Agora vamos descobrir a resposta da segunda pergunta do enunciado: que informa¸c˜ao nova o estrangeiro trouxe? Aparentemente nada de novo foi acrescentado pela frase do estrangeiro, pois cada pessoa estava vendo alguma pessoa com olhos azuis. Mas isso n˜ao ´e verdade. Para ver isso e descobrir qual ´e a nova informa¸c˜ao que o estrangeiro trouxe, vamos voltar ao caso de somente duas pessoas na Ilha, uma de olhos azuis e outra de olhos verdes. Neste caso, a pessoa de olhos azuis somente vˆe uma pessoa de olhos verdes. Com a informa¸c˜ao de que existe uma pessoa de olhos azuis ela pode descobrir a cor de seus olhos. Note que a pessoa de olhos verdes j´a sabia que existia pelo menos uma pessoa de olhos azuis. Mas ela n˜ao sabia que a pessoa de olhos azuis tinha conhecimento de que na Ilha existia algu´em com olhos azuis. Essa ´e a nova informa¸ca˜o que o estrangeiro trouxe. Problema 1.7. Um viajante deseja se hospedar durante 31 dias num hotel. Entretanto, percebe que est´ a sem dinheiro e que a ´ unica coisa que possui ´e uma corrente com 31 elos de ouro (veja figura). Para pagar sua conta, ele
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[CAP. 1: PRIMEIROS PASSOS
acertou com o gerente pagar um elo por dia, sem atrasar ou adiantar o pagamento, durante os 31 dias. O gerente pode dar troco em elos. Depois ele deseja recuperar a corrente e por isso ele quer pagar a conta cortando a corrente no menor n´ umero de peda¸cos. Quantos cortes vocˆ e conseguiria dar e pagar a conta? Solu¸c˜ ao. Uma primeira solu¸ca˜o ´e cortar a corrente 30 vezes, separando todos os elos. Por´em, essa n˜ao ´e a melhor solu¸ca˜o, como veremos a seguir. Vamos iniciar nossa an´alise observando que para pagar o primeiro dia precisamos dar um corte na corrente. Assim, o gerente receber´a um elo. O “pulo do gato”do problema vem agora: para pagar o 2 ◦ dia, vamos cortar a corrente de modo a separar dois elos de uma vez. Assim, daremos dois elos ao gerente e ele devolver´a um elo de troco. Com este elo pagaremos o terceiro dia. Note que pagamos trˆes dias fazendo dois cortes na corrente, como mostra a tabela:
Elos
Gerente 1, 2
Viajante 28
Note que o n´umero 2 denota o peda¸co que cont´em 2 elos. Para pagar o 4 dia, cortaremos a corrente de modo a obter um peda¸co com quatro elos. Entregamos ao gerente este peda¸co e recebemos de troco um elo solto e um peda¸co com dois elos. Com o elo solto, pagamos o 5 ◦ dia. Assim, no 5◦ dia teremos o seguintes grupos de elos: ◦
Elos
Gerente 1, 4
Viajante 2, 24
Assim, pagamos o 6◦ dia com o peda¸co que cont´ em dois elos e receberemos o elo solto de troco. Finalmente pagaremos o 7 ◦ dia com o elo solto. Note que foi poss´ıvel pagar 7 dias com apenas trˆes cortes na corrente. A continua¸ca˜o do procedimento est´a quase revelada. Para pagar o 8 ◦ dia, cortaremos um peda¸co com oito elos. Daremos este peda¸co e receberemos de troco 7 elos, sendo um elo solto, um peda¸co com 4 e um peda¸co com dois elos. Repetindo o procedimento anterior, pagaremos os 7 dias seguintes, pagando at´e o 15 ◦ dia sem precisar de cortes adicionais. Ou seja, para pagar
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[SEC. 1.5: DICAS PARA RESOLVER PROBLEMAS
os 15 primeiros dias, precisamos de 4 cortes na corrente. Neste momento, a corrente est´a distribu´ıda do seguinte modo:
Elos
Gerente 1, 2, 4, 8
Viajante 16
Para pagar o 16 ◦ dia, entregaremos ao gerente o peda¸co com os 16 elos restantes, recebendo 15 elos divididos em peda¸cos de 1, 2, 4 e 8 elos. Se repetirmos o processo, pagaremos o hotel at´e o 31 ◦ dia sem precisar de novos cortes. Assim, o m´ınimo n´umero de cortes ´e 4.
• Regra 3: Mudar a representa¸ca˜o do problema, transformando-o em um problema equivalente.
Problema 1.8. Sabendo que em cada jogada o movimento do cavalo consiste em se deslocar duas casas na horizontal e uma na vertical ou duas na vertical e uma na horizontal, decidir se ´e poss´ıvel sair do tabuleiro 1 e chegar ao tabuleiro 2 sem que em algum momento existam dois cavalos na mesma casa.
(a)
(b) Figura 1.1::
Solu¸c˜ ao: Para resolver este problema vamos usar a estrat´ egia de mudar a representa¸c˜ ao. O que significa isso? Vamos reescrever o problema com
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[CAP. 1: PRIMEIROS PASSOS
outros ingredientes, por´em sem alterar em nada sua essˆ encia. Primeiramente, enumere as casas do tabuleiro com os n´umeros 1, 2, . . . , 9, como na Figura 1.5.
1
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3
4
5
6
7
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9
Figura 1.2:: Vamos agora associar ao tabuleiro, um conjunto de nove pontos tamb´ em enumerados com os n´umeros 1,2, . . . , 9. Se for poss´ıvel sair de uma casa i e chegar `a casa j com apenas uma jogada do cavalo, colocaremos um segmento ligando os pontos i e j. Por exemplo, ´e poss´ıvel, saindo da casa 1 chegar `a casa 6 e a casa 8. Deste modo, o ponto com n´umero 1 est´a ligado com o ponto com n´umero 8. Se analisarmos todas as poss´ıveis liga¸co˜es entre os pontos obteremos a seguinte figura: 9 2 7
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• 6
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•4 •3 •8
1 Figura 1.3:: Assim, se colocarmos os cavalos como no tabuleiro 1, teremos a situa¸c˜ao descrita na Figura 1.4. Deste modo, fica evidente que n˜ao podemos trocar a
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[SEC. 1.5: DICAS PARA RESOLVER PROBLEMAS
posi¸c˜ao dos cavalos branco e preto sem que em algum momento eles ocupem a mesma casa. CP 9 2 CP 7
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• 6
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•4 •3
CB
•8
1 CB Figura 1.4: CB=cavalo branco e CP=cavalo preto.
Use sua imagina¸ca˜o pesquisando caminhos alternativos. Extrapole seus limites!
• Regra 4:
Para exemplificar como o enunciado de um problema pode limitar nossa imagina¸c˜ao, vamos considerar o problema abaixo: Exemplo 1.9. Mostre que podemos cobrir os 9 pontos no reticulado abaixo tra¸cando 4 segmentos de reta sem tirar o l´apis do papel.
• • • • • • • • • Figura 1.5: Cobrir os 9 pontos com quatro segmentos O problema acima ´e o t´ıpico problema de bar . Vou explicar o porquˆe da terminologia estranha: quando vocˆ e encontra um conhecido que vocˆ e n˜ao vˆe h´a muito tempo e fala que est´a estudando Matem´atica, ele vem logo
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[CAP. 1: PRIMEIROS PASSOS
com um desses desafios, imaginando que vocˆe deve ser uma m´aquina de resolver problemas. Resolva isso, afirma ele, esperando que vocˆ e n˜ao consiga imaginar a solu¸c˜ao. Para se vingar desses inoportunos, daremos a solu¸ca˜o desse problema e complementaremos a receita dando uma generaliza¸cao ˜ no exemplo 5.11 do Cap´ıtulo 5. A solu¸c˜ao desse problema passa por extrapolar o convencional. Podemos tentar v´arias vezes cobrir os nove pontos com quatro segmentos sem tirar o l´apis do papel, mas s´o iremos de fato conseguir fazer isso se libertarmos as nossas id´eias e nos permitirmos sair um pouco do convencional. Se vocˆe ´e curioso e n˜ao quer tentar por si s´o resolver esse problema, veja a solu¸c˜ao no exemplo 1.9 do Cap´ıtulo 5. Recomendamos que vocˆe tente resolver sozinho o desafio.
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Cap´ıtulo 2
Divisibilidade A Teoria dos N´ umeros ´e o ramo da matem´atica encarregado de desvendar os mist´erios dos n´umeros e teve sua origem na antiga Gr´ecia. Os bel´ıssimos problemas ligados a esta ´area constituem, at´e hoje, uma das principais fontes inspiradoras dos amantes da Matem´atica. Apesar de se terem passado muitos anos, ainda hoje persistem muitas quest˜ oes naturais e simples sem resposta e outras, da mesma natureza, s´o tˆem sido resolvidas recentemente. Isto faz desta ´area um grande atrativo para os matem´aticos do mundo todo. Este cap´ıtulo ser´a dedicado ao estudo de algumas propriedades b´asicas relativas aos n´umeros inteiros.
2.1
Conceitos Fundamentais e Divis˜ ao com Resto
Denotamos por Z o conjunto dos n´umeros inteiros formado pelo conjunto dos n´umeros naturais N = 1, 2, 3, munido do zero e dos inteiros negativos, ou seja, Z = , 3, 2, 1, 0, 1, 2, 3, . Come¸camos observando que a soma, diferen¸c a e produto de n´umeros inteiros tamb´em ser˜a o n´ umeros inteiros. Entretanto, o quociente de dois inteiros pode ser um inteiro ou n˜ao.
{ ···} {··· − − −
···}
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[CAP. 2: DIVISIBILIDADE
Uma das propriedades fundamentais dos n´umeros naturais que utilizaremos ao longo do texto ´e o conhecido Princ´ıpio da Boa Ordena¸c˜ ao. Este princ´ıpio pode ser enunciado do seguinte modo:
A⊆
Princ´ıpio da Boa Ordena¸c˜ ao: Todo subconjunto n˜ ao-vazio N possui um elemento menor que todos os outros elementos deste. Por exemplo, se ´e o conjunto dos n´umeros pares, o menor elemento de ´e o n´ umero 2. Por outro lado, observemos que o conjunto dos n´umeros inteiros n˜ao goza da boa ordena¸c˜ao. Apesar do Princ´ıpio da Boa Ordena¸c˜ao parecer inocente e natural, muitos resultados importantes a respeito dos n´umeros naturais decorrem do mesmo, como veremos ao longo de todo este cap´ıtulo.
A
A
Defini¸ ca ˜o 2.1. Sejam a e b inteiros. Dizemos que a divide b, ou a ´e divisor de b, ou b ´e m´ ultiplo de a, se existe um inteiro q tal que b = aq. Usaremos a nota¸ca˜o: a b para representar todas as frases equivalentes ditas anteriormente. Se a n˜ao for divisor de b, ent˜ao escreveremos a ∤ b.
|
Exemplo 2.2. 7 21 pois 21 = 7 3. Por outro lado 3 ∤ 8 pois considerando o conjunto = 3k, k N = 3, 6, 9, 12, dos m´ ultiplos positivos de 3 vemos que 8 n˜ao pertence ao mesmo.
| M {
· ∈ } {
···}
A seguinte proposi¸c˜ao ´e um bom exerc´ıcio para entender os conceitos enunciados acima. Proposi¸c˜ao 2.3. Sejam a, b e c n´ umeros inteiros. Ent˜ ao
| | | (b) Se a | b e a | c ent˜ ao a | (b + c) e a | (b − c); (c) Se a e b s˜ ao positivos e a | b ent˜ ao 0 < a ≤ b; (d) Se a | b e b | a ent˜ ao a = b ou a = −b. Demonstra¸ cao. ˜ Se a | b e b | c ent˜ao existem inteiros q1 e q2 tais que (a)
Se a b e b c ent˜ ao a c;
b = aq1
(2.1)
c = bq2 .
(2.2)
e
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i i
i
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i
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31
˜ COM RESTO [SEC. 2.1: CONCEITOS FUNDAMENTAIS E DIVISAO
Substituindo (2.1) em (2.2) temos que c = a q1 q2 ,
(2.3)
q ∈Z
provando isto a afirma¸c˜ao feita em (a). Agora provaremos (b). Com efeito, se a b e a c valem as igualdades
|
|
b = aq1 ,
q1
∈Z
(2.4)
c = aq2 ,
q2
∈ Z.
(2.5)
e Operando com os ambos lados das igualdades (2.4) e (2.5) temos que b + c = a(q1 + q2 ) e b
− c = a(q1 − q2),
r ∈Z
s∈Z
obtendo assim o resultado desejado. Continuamos agora com a prova de (c). De fato, se a b, sendo ambos positivos, ent˜ao b = aq com (2.6) q 1.
|
≥
Logo, multiplicando por a ambos lados de (2.6) temos (como a ´e positivo) que b = aq a > 0,
≥
como esper´avamos. Finalmente, provaremos (d). Com este prop´ osito observamos que se a b e b a ent˜ao a divide b e b divide a . Portanto, pelo item (c) temos que a b e b a , ou seja, a b a . Logo, a = b e conseq¨ uentemente a = b ou a = b.
|
|
|| || || ||≤| | | |≤| |≤| | || || − Exemplo 2.4. Prove que o n´umero N = 5 45362 − 7 n˜ao ´e divis´ıvel por 5. | |≤| |
||
Solu¸c˜ ao. Vamos mostrar isso utilizando o m´ etodo do absurdo. Se este 45362 n´umero fosse divis´ıvel por 5, ent˜ ao 5 7 = 5q. Logo, 7 = 545362 5q, ou seja, 7 seria divis´ıvel por 5, o que ´e um absurdo.
−
−
A pr´oxima proposi¸ca˜o apresenta alguns dos crit´erios de divisibilidade que s˜ao estudados nas li¸co˜es de matem´atica do col´egio. A prova que daremos
i
i i
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[CAP. [CAP. 2: DIVISIBILID DIVISIBILIDADE ADE
para estes est´a baseada na representa¸c˜ cao a˜o de um inteiro positivo na base decimal. decimal. Por exemplo, exemplo, 345 escreve-se escreve-se na base decimal decimal da seguinte forma 345 = 300 + 40 + 5 = 3 102 + 4 10 + 5, 5,
·
·
assim como 2768 se escreve da forma 2768 = 2000 + 700 + 60 + 8 = 2 103 + 7 102 + 6 10 + 8. 8.
·
· · De modo geral, se denotamos por N = b b −1 · · · b1 b0 o n´umero umero inteiro positivo formado pelos algarismos b , b −1 , · · · , b1 e b0 , nessa ordem, ent˜aaoo n n
n
n
N se escreve na base decimal da forma
· · · · · · · · ·
N = bn 00
0 + bn−1 00
n vezes
0 +
+ b1 0 + b0 (2.7)
n−1 vezes
n−1
n
= bn 10 + bn−1 10
+
· · · b110 + b0
Proposi¸c˜ c˜ ao ao 2.5 (Crit´ (Cri t´ erios eri os de divisi div isibil bilida idade). de). Seja N um inteiro positivo, ent˜ ao: (a)
N ´e divis´ divi s´ıvel ıvel por 3 ou por 9, se a soma dos seus d´ıgitos ıgit os ´e divis´ divi s´ıvel ıvel por 3 ou por 9, respectivamente;
(b)
N ´e divis divi s´ıvel por 5, se seu ´ ultimo d´ıgito for 0 ou 5.
Demonstra¸ c˜ cao. ˜ Faremos uso da seguinte propriedade que ´e muito f´acil de verificar. Dado qualquer n´ umero umero m N vale que
∈
10m = 99
· · ·
9 +1. +1.
m vezes
Como j´ a foi observado, se N = bn bn−1
· · · b0, ent˜aaoo
N = bn 10n + bn−1 10n−1 + + b1 10 + b0 = bn (99 9 +1) + bn−1 ( 99 9 +1) +
···
· · · · · · · · · ··· · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · n vezes
= bn 99
n−1 vezes
9 +bn−1
n vezes
= 9 bn 11
+ b1 (9 + 1) + b0
99
9 +
+ b1 9 + bn + bn−1 +
+ b0
n−1 vezes
1 +bn−1
n vezes
11
1 +
n−1 vezes
+ b1 + bn + bn−1 +
+ b0 .
S
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33
˜ COM RESTO [SEC. 2.1: CONCEITOS FUNDAMENT FUNDAMENTAIS AIS E DIVISAO
Ent˜ao, ao, aplicando o item (b) da Proposi¸c˜ cao ˜ao 2.3 temos que se 9 S , ent˜aaoo tamb´ ta mb´em em div d ivid idir ir´´a a N . N . Reciprocamente, suponhamos que 9 N e observemos que S = N 9k , com
|
−
k = a1
|
· 11 · · · 1 +a2 · 11 · · · 1 + · · · + a −1.
n−1 vezes
n
n−2 vezes
Ent˜ao, ao, usando novamente o item (b) da Proposi¸c˜ cao ˜ao 2.3 temos que 9 S . ´ ´obvio E obvio que a prova para o caso da divisibilidade por 3 segue de maneira idˆentica, entica, logo fica provado o item (a). A prova do item (b) segue de maneira muito semelhante e deixamos a mesma a cargo do leitor.
|
Exemplo 2.6. Prove sem fazer muitas contas que o n´umero umero N = 13424136 + 1234567890 ´e divi di vis´ s´ıvel ıve l por po r 3. Solu¸c˜ c˜ ao. Note que n˜ao ao precisamos fazer a soma dos n´umeros umeros anteriores. Para mostrar isso, basta aplicar o item (ii) da Proposi¸c˜ cao ˜ao 2.3 e o item (i) da Proposi¸c˜ c˜ao ao 2.5, observando que cada um dos n´umeros ume ros acima ac ima ´e divi di viss´ıvel ıve l por 3, pois a soma s oma de seus d´ıgitos ´e um u m m´ m ´ultiplo ultiplo de 3. O pr´oximo oximo passo de nossa discuss˜ao ao ´e ver o que acontece quando um n´ umero umero n˜ao ao ´e divi d iviss´ıvel por po r outro o utro.. Por exemplo exem plo,, analise anal isemos mos se 31 ´e divi d iviss´ıvel por 7; para isto listamos a diferen¸ca ca entre 31 e os m´ultiplos ultiplos positivos de 7, ou seja, r1 r2 r3 r4 r5 r6 .. .
= 31 = 31 = 31 = 31 = 31 = 31
− 7 · 1 = 24, 24, − 7 · 2 = 17, 17, − 7 · 3 = 10, 10, − 7 · 4 = 3, − 7 · 5 = −4, − 7 · 6 = −11 11,,
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[CAP. [CAP. 2: DIVISIBILID DIVISIBILIDADE ADE
Claramente 31 n˜ao ao ´e divi d iviss´ıvel por 7, pois po is caso contr´ contr ´ario ario ter´ıamos ıamo s que qu e alguma alg uma das diferen¸cas cas acima ac ima seria se ria igual i gual a zero, zero , o que ´e imposs´ imp oss´ıvel ıvel pois p ois as diferen¸ di feren¸cas cas rq := 31 7q com 1 q 4 s˜ao ao todas positivas e com q 5 s˜ao ao todas negativ negativas. as. Entretan Entretanto, to, notamos notamos que dentre as diferen¸ diferen¸cas cas positivas a ´unica unica que ´e menor menor que 7 corresponde corresponde ao caso q = 4. O resultado resultado seguin seguinte te nos diz o que acontece no caso geral da divis˜ao de um inteiro b por um inteiro positivo a.
−
≤ ≤
≥
Teorema 2.7 (Algoritmo (Algo ritmo da Divis˜ao). ao). Dados dois inteiros a e b, com a > 0, existem unicos ´ inteiros q e r tais que b = aq + r,
0
≤ r < a.
Se a ∤ b ∤ b, ent˜ ao r satisfaz a desigualdade estrita 0 < r < a. a. Demonstra¸ c˜ cao. ˜ Por simplicidade, suporemos que b ´e positivo. posi tivo. Se b < a, basta tomar q = 0 e r = b. Se b = a, ent˜ao ao tomamos q = 1 e r = 0. Assim, assumir ass umiremos emos tamb´em em que q ue b > a > 0. Consideremos o conjunto
R = {b − aq ∈ Z; b − aq ≥ 0} ⊆ N ∪ {0} (2.8) Notemos que o conjunto R ´e n˜ao-vazio, ao-vazio, pois b − a ∈ R, j´a que b − a > 0. Deste modo, pelo Princ´ Princ´ıpio da Boa Ordena¸ Ordena¸c˜ cao ˜ao temos que R admite um menor elemento, elemento, que denotarem denotaremos os por r . Claram Claramen ente te r = b − aq, aq, para algum q ≥ 0; assim como r ≥ 0, pois foi escolhido com essa condi¸c˜ caao. ˜o . Al´ Al ´em em disso, r < a pois caso contr´ario ario r=b
− aq ≥ a ⇒ b − a(q + 1) ≥ 0.
(2.9)
Ali´ as, as, a>0
⇒ b − a(q + 1) < b − aq.
(2.10)
Das desigualdades (2.9) e (2.10) segue que
≤ b − a(q + 1) < b − aq, contradizendo o fato de que r = b − aq ´e o menor meno r eleme e lemento nto n˜ao-negativo ao-negativo de R. 0
Agora provaremos que de fato r e q escolhidos desta forma s˜ao ao unicos. u ´ nicos. Com efeito, suponhamos que existem outros inteiros r1 e q1 tais que b = aq1 + r1 ,
0
≤ r1 < a.
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˜ COM RESTO [SEC. 2.1: CONCEITOS FUNDAMENTAIS E DIVISAO
Ent˜ao resulta que aq + r = aq1 + r1 . Logo, (r
− r1) = (q1 − q)a;
(2.11)
sendo assim, r r1 ´e m´ ultiplo de a. Mas em virtude de a < r r1 < a, o u ´nico valor que r r1 pode tomar, sendo este m´ultiplo de a, ´e r r1 = 0. Portanto, r = r1 , de onde se deduz diretamente de (2.11) que q = q1 .
−
−
−
− −
Os n´ umeros q e r no enunciado do teorema acima s˜ao chamados, respectivamente, de quociente e resto da divis˜ ao de b por a. Os exemplos a seguir apresentam a utilidade do Teorema 2.7. Exemplo 2.8. Encontrar o ´ultimo d´ıgito do n´umero 22043 . ´ claro que este n´umero ´e muito grande e seria muito tedioso Solu¸c˜ ao. E multiplicar 2043 vezes o n´umero 2 para descobrir o ´ultimo d´ıgito de 22043 . Entretanto, se calculamos as primeiras potˆencias vemos que existe regularidade nos resultados, como mostra a tabela a seguir. 21 25 29 213
=2 = 32 = 512 = 8192
22 = 4 26 = 64 210 = 1024 214 = 16384
23 27 211 215
=8 = 128 = 2048 = 32768
24 = 16 28 = 256 212 = 4096 216 = 65536
Agora observamos que:
• na primeira coluna da tabela s´o aparecem potˆencias da forma 24 +1, com k = 0, 1, 2, 3, · ·· , e todas elas terminam em 2; • na segunda coluna da tabela s´o aparecem potˆencias da forma 2 4 +2, com k = 0, 1, 2, 3, · ·· , e todas elas terminam em 4; • na terceira coluna da tabela s´o aparecem potˆencias da forma 24 +3, com k = 0, 1, 2, 3, · ·· , e todas elas terminam em 8; • na quarta coluna da tabela s´o aparecem potˆencias da forma 24 , com k = 1, 2, 3, · ·· , e todas elas terminam em 6. k
k
k
k
Portanto, s´o resta saber que resto deixa 2043 na divis˜ao por 4. Como 2043 = 510 4 + 3, o n´ umero 22043 aparecer´ a na terceira coluna da tabela, logo o u ´ltimo d´ıgito deste ´e 8.
·
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[CAP. 2: DIVISIBILIDADE
O pr´oximo exemplo, como veremos, motiva a procura de caminhos eficientes para encontrar o resto que deixa um n´umero quando ´e dividido por outro. Exemplo 2.9. Um turista brasileiro chega a Cuba e troca parte de seu dinheiro na casa de cˆambio, recebendo 175 notas de 50 pesos e 213 notas de 20 pesos. Ele decide trocar este dinheiro pela maior quantidade poss´ıvel das famosas moedas de 3 pesos cubanos, devido `as mesmas terem gravadas a imagem do guerrilheiro Che Guevara. Quanto sobrou do dinheiro depois de fazer a troca pelas moedas? Solu¸c˜ ao. O problema ´e f´acil de resolver. Basta achar o resto que deixa o n´umero N = 175 50+213 20 quando ´e dividido por 3. Entretanto, queremos destacar que n˜ao ´e preciso fazer os produtos e a soma envolvidos no n´umero N . Em lugar de fazer isto substitu´ımos cada n´umero que aparece em N pelo resto que este deixa na divis˜ao por 3, formando assim um novo n´umero N 1 , ou seja, N 1 = 1 2 + 0 2 = 2.
·
·
·
·
Agora procuramos o resto que N 1 deixa na divis˜ao por 3, que obviamente ´e 2. A surpresa ´e que este resto ´e o mesmo que deixa N na divis˜ ao por 3. Logo, sobraram 2 pesos depois de fazer a troca. A solu¸c˜ao do exemplo anterior ´e uma aplica¸c˜ao particular do seguinte lema que ´e de muita utilidade na resolu¸ca˜o de problemas. Lema 2.10 (Lema dos Restos). A soma e o produto de quaisquer dois n´ umeros naturais deixa o mesmo resto que a soma e o produto dos seus restos, na divis˜ ao por um inteiro positivo a. Demonstra¸ cao. ˜ Sejam N 1 , N 2 n´umeros por a temos que
∈ Z. Fazendo a divis˜ao com resto de ambos
N 1 = aq1 + r1 com 0
e N 2 = aq2 + r2 ,
≤ r1, r2 < a. Ent˜ao N 1 N 2 = (aq1 + r1 )(aq2 + r2 ) = a2 q1 q2 + aq1 r2 + aq2 r1 + r1 r2 = a(aq1 q2 + q1 r2 + q2 r1 ) + r1 r2 = aq + r1 r2 ,
(2.12)
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i i
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˜ COM RESTO [SEC. 2.1: CONCEITOS FUNDAMENTAIS E DIVISAO
onde q = aq1 q2 + q1 r2 + q2 r1 . Agora dividimos r1 r2 por a para obtermos r1 r2 = ap + r,
p
∈ Z,
0
≤ r < a.
(2.13)
Das igualdades (2.12) e (2.13) segue que N 1 N 2 = aq + ap + r = a( p + q) + r,
0
≤ r < a.
(2.14)
Portanto, de (2.13) e (2.14) conclu´ımos que os restos que deixam N 1 N 2 e r1 r2 na divis˜ ao por a s˜ao iguais, ficando provado o resultado para o produto. A prova para a soma ´e an´aloga. A vantagem do lema ´e que em certos problemas que envolvem n´umeros muito grandes podemos substituir estes por n´umeros muito menores e mais confort´ aveis para trabalhar. Vejamos isto atrav´es dos seguintes exemplos. Exemplo 2.11. Prove que o produto de dois n´umeros naturais consecutivos ´e sempre divis´ıvel por 2.
∈
Solu¸c˜ ao. Se n N temos que provar que N = n(n + 1) ´e divis´ıvel por 2. Quando fazemos a divis˜ao de n por 2 temos duas possibilidades para o resto: r = 0 ou r = 1. Analisemos os dois casos por separado.
• [r = 0] Neste caso o resto que deixa
N na divis˜ ao por 2 ´e o mesmo que o resto que deixa 0(0+1)=0, logo N ´e divis´ıvel por 2.
• [r
= 1] Neste caso podemos substituir N por 1(1+1)=2 e o resto que este u ´ ltimo deixa quando ´e dividido por 2 ´e 0, logo N tamb´em ´e divis´ıvel por 2.
Mostraremos agora como utilizar o exemplo anterior pra resolver um dos problemas da 1a Olimp´ıada Brasileira de Matem´atica. Exemplo 2.12. Prove que se n ´e ´ımpar, ent˜ao n2
− 1 ´e m´ultiplo de 8. Solu¸c˜ ao. Como n ´e ´ımpar, podemos escrever n = 2k + 1, para algum k ∈ Z. Logo n2 − 1 = (2k + 1)2 − 1 = 4k 2 + 4k + 1 − 1 = 4k 2 + 4k. Assim,
n2
− 1 = 4k(k + 1).
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i i
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[CAP. 2: DIVISIBILIDADE
Observe que de acordo com o exemplo 2.11, k(k + 1) ´e m´ultiplo de 2. Portanto, k(k + 1) = 2q para algum q Z, de aonde
∈
n2
− 1 = 4k(k + 1) = 4 · 2q = 8q,
como quer´ıamos demonstrar. Exemplo 2.13. Prove que em qualquer triˆangulo retˆangulo com lados inteiros, pelo menos um deles ´e m´ultiplo de 3. Solu¸c˜ ao. Comecemos analisando quais s˜ao os restos poss´ıveis para a divis˜ao por 3 de um n´umero que ´e quadrado. De acordo com o Lema dos Restos temos a seguinte tabela para os restos de n e n2 , na divis˜ ao por 3: n 0 1 2
n2 0 1 1
Resumindo, se um n´umero n˜ao ´e m´ ultiplo de 3 ent˜ao o resto da divis˜ao de seu quadrado por 3 deve ser igual a 1. Agora denotemos por a e b os catetos e por c a hipotenusa. Suponhamos que nenhum deles ´e divis´ıvel por 3. Ent˜ao a2 e b2 deixam resto 1 na divis˜ao por 3. Logo, a2 + b2 deixa resto 12 + 1 2 = 2 na divis˜ao por 3; mas isto ´e uma contradi¸c˜ao pois, pelo Teorema de Pit´agoras, a2 + b2 = c2 e c2 deixa resto 1 quando ´e dividido por 3.
2.2
M´ aximo Divisor Comum e M´ınimo M´ ultiplo Comum
Nesta se¸c˜ao estudaremos dois conceitos fundamentais, que aparecem naturalmente em v´arios problemas de divisibilidade, assim como a rela¸ca˜o existente entre eles. O primeiro destes conceitos est´a relacionado com os inteiros positivos que dividem simultaneamente a dois inteiros pr´e-fixados e ´e denominado M´ aximo Divisor Comum . Daqui por diante s´o consideraremos os divisores positivos dos n´umeros.
i
i i
i
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´ ´ [SEC. 2.2: MAXIMO DIVISOR COMUM E M´INIMO MULTIPLO COMUM
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Defini¸ ca ˜o 2.14 (M´ aximo Divisor Comum). Sejam a e b inteiros diferentes de zero. O m´aximo divisor comum, resumidamente m.d.c, entre a e b ´e o n´ umero d que satisfaz as seguintes condi¸c˜oes:
|
|
(a)
d ´e um divisor comum de a e b, isto ´e, d a e d b;
(b)
d ´e o maior inteiro positivo com a propriedade
(a).
Neste caso, denotamos o m.d.c entre a e b por d = m.d.c(a, b) ou por d = (a, b). Se (a, b) = 1, ent˜ao dizemos que a e b s˜ao primos entre si. Exemplo 2.15. Observando que 12 = 6 2, 18 = 6 3 temos que m.d.c.(12, 18) = 6. Por outro lado, m.d.c.(4, 15) = 1, logo os n´umeros 4 e 15 s˜ao primos entre si.
·
·
Vejamos agora algumas das propriedades mais importantes dos divisores comuns de dois inteiros. Proposi¸c˜ ao 2.16. Sejam a e b dois inteiros. Ent˜ ao valem as seguintes afirma¸coes. ˜ (a)
Se a ´e m´ ultiplo de b, ent˜ ao (a, b) = b;
(b)
Se a = bq + c, c = 0, ent˜ ao o conjunto dos divisores comuns dos n´ umeros a e b coincide com o conjunto dos divisores comuns dos n´ umeros b e c. Particularmente, (a, b) = (b, c).
Demonstra¸ cao. ˜ Come¸camos com a prova de (a). Com efeito, todo divisor comum dos n´umeros a e b ´e um divisor de b. Reciprocamente, usando que a ´e m´ ultiplo de b, todo divisor de b ´e tamb´em um divisor de a, ou seja, um divisor comum dos n´umeros a e b. Portanto, o conjunto dos divisores comuns dos n´umeros a e b ´e igual ao conjunto dos divisores de b. Como o maior divisor de b ´e ele mesmo, resulta que (a, b) = b. Vejamos (b). Usando o item (b) da Proposi¸c˜a o 2.3 temos que todo divisor comum de a e b tamb´em divide c e, conseq¨ uentemente, ´e um divisor de b e c. Pela mesma raz˜ao todo divisor comum de b e c tamb´em divide a e, conseq¨ uentemente, ´e um divisor de a e b. Portanto os divisores comuns de a e b s˜ao os mesmos que os divisores comuns de b e c. Particularmente, tamb´em coincidem os maiores divisores comuns, ou seja, (a, b) = (b, c). O teorema a seguir ´e uma das ferramentas b´asicas na resolu¸ca˜o de problemas que envolvem o m.d.c entre dois n´umeros. O mesmo ´e devido ao ´ matem´atico francˆes Etienne B´ezout (1730-1783).
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i i
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[CAP. 2: DIVISIBILIDADE
Teorema 2.17 (Teorema de B´ ezout). Se d ´e o m.d.c de a e b, ent˜ ao existem n´ umeros inteiros x0 e y0 tais que d = (a, b) = ax0 + by0 . Demonstra¸ cao. ˜ Considere a combina¸c˜ao linear ax+by, onde x e y percorrem todos os inteiros. Este conjunto de inteiros, denotado por
C = {ax + by; x, y ∈ Z}, inclui valores positivos e negativos. Al´ em disso, escolhendo x = y = 0, vemos que tamb´em cont´em o zero. Pelo Princ´ıpio da Boa Ordena¸ca˜o, podemos escolher x0 e y0 tais que λ = ax0 + by0 seja o menor n´umero inteiro positivo contido no conjunto . Agora mostraremos que λ a e λ b. Provaremos que λ a e o outro segue analogamente. Usaremos para este prop´osito o m´etodo de redu¸c˜ao ao absurdo, ou seja, vamos supor que λ ∤ a e obteremos uma contradi¸c˜ao. De λ ∤ a segue que existem inteiros q e r tais que a = λq + r com 0 < r < λ (pelo Teorema 2.7). Portanto,
C
|
|
C
|
r=a
− λq = a − q(ax0 + by0) = a(1 − qx0) + b(−qy0) e assim r est´ a no conjunto C , o que contradiz a hip´otese de λ ser o menor elemento positivo contido em C .
Uma vez que λ divide a e b s´o resta provar que λ = d. Com efeito, desde que d = (a, b), podemos escrever a = da1 , b = db1 e λ = ax0 + by0 = d(a1 x0 + b1 y0 ). Assim d λ. Logo pela parte (c) da Proposi¸c˜ao 2.3, conclu´ımos que d λ. Agora d < λ ´e imposs´ıvel pois d = m.d.c(a, b), e portanto d = λ = ax0 + by0 .
|
≤
A seguinte proposi¸c˜ao resume algumas conseq¨uˆencias importantes da demonstra¸c˜ao dada ao Teorema de B´ezout. Proposi¸c˜ ao 2.18. Sejam d, k afirma¸coes: ˜
∈N
e a,b,c
∈ Z. Ent˜ ao valem as seguintes
(a)
Se d a e d b, ent˜ ao d (a, b);
(b)
O m.d.c.(a, b) ´e o menor valor positivo de ax+by, onde x e y percorrem todos os n´ umeros inteiros;
|
|
|
i
i i
i
i
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i
41
´ ´ [SEC. 2.2: MAXIMO DIVISOR COMUM E M´INIMO MULTIPLO COMUM
(c)
(ka,kb) = k(a, b);
(d)
Se d a e d b, ent˜ ao ( ad , db ) =
|
|
1 d
(a, b). Conseq¨ uentemente,
a b , (a, b) (a, b)
(e)
Se (a, c) = (b, c) = 1, ent˜ ao (ab,c) = 1;
(f)
Se c ab e (b, c) = 1, ent˜ ao c a.
|
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= 1;
|
Demonstra¸ cao. ˜ A prova de (a) ´e conseq¨uˆencia imediata da igualdade (a, b) = ax0 + by0 anunciada no Teorema de B´ezout; assim como (b) segue diretamente da demonstra¸c˜ao dada a este teorema. Para provar (c), primeiro observamos que (ka)x + (kb)y = k(ax + by) onde x, y
∈ Z.
Usando o item (a) e o fato de k ser positivo, da igualdade acima segue que
∈
(ka,kb) = menor valor positivo de (ka)x + (kb)y, onde x, y Z = k menor valor positivo de ax + by, onde x, y Z = k(a, b).
·{
∈ }
A afirma¸c˜ao feita em (d) segue diretamente de (c), observando que (a, b) =
a b d ,d d d
=d
a b , d d
.
Continuamos com a prova de (e). De (a, c) = (b, c) = 1, temos que existem inteiros xj e yj , j = 1, 2, tais que ax1 + cy1 = 1, bx2 + cy2 = 1. Multiplicando lado-a-lado as igualdades obtemos (x1 x2 ) ab + (ax1 y2 + y1 bx2 + cy1 y2 ) c = 1.
x
y
Ent˜ao, usando o item (a) e a igualdade acima resulta que ( ab,c) = 1.
i
i i
i
i
i
i
42
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[CAP. 2: DIVISIBILIDADE
Finalmente, provaremos (f ). Das hip´oteses temos que existem inteiros x0 e y0 tais que bx0 + cy0 = 1. Multiplicamos a igualdade acima por a em ambos lados para obtermos abx0 + acy0 = a. Por outro lado, ab = cq para algum inteiro q. Usando esta condi¸ca˜ o na u ´ltima igualdade temos que cqx0 + acy0 = c(qx0 + ay0 ) = a, logo c a.
|
Apesar de conhecermos propriedades te´oricas do m.d.c entre dois inteiros, encontr´a-lo de fato pode ser uma tarefa complicada, sem aux´ılio das ferramentas corretas. Lembrando o seu significado, o leitor talvez pudesse pensar que devemos calcular todos os divisores de a, todos os divisores de b e descobrir qual ´e o maior elemento comum aos dois conjuntos. Na pr´atica, para achar o m.d.c se faz uso de um importante m´ etodo denominado Algoritmo de Euclides. Teorema 2.19 (Algoritmo de Euclides). Dados dois inteiros positivos, a e b, aplicamos sucessivamente o algoritmo da divis˜ ao para obter a seguinte seq¨ uˆencia de igualdades
· ··
b = aq1 + r1 , a = r1 q2 + r2 , r1 = r2 q3 + r3 ,
· ·· · ··
rn−2 = rn−1 qn + rn , rn−1 = rn qn+1 .
0 0 0
≤ r1 < a, ≤ r2 < r 1, ≤ r3 < r 2, ·· · ·· · 0 ≤ r < r −1 , n
(2.15)
n
O m.d.c.(a, b) = rn , ou seja, ´e o ´ ultimo resto n˜ ao-nulo no processo de divis˜ ao anterior. Demonstra¸ cao. ˜ Come¸camos observando que o processo de divis˜ao (2.15) ´e finito. Com efeito, a seq¨uˆencia de n´umeros inteiros rk ´e estritamente decrescente e est´a contida no conjunto r Z, 0 r < a , portanto n˜ao
{ ∈
≤
}
i
i i
i
i
i
i
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43
´ ´ [SEC. 2.2: MAXIMO DIVISOR COMUM E M´INIMO MULTIPLO COMUM
pode conter mais do que a inteiros positivos. Examinando as igualdades (2.15) de cima para baixo e usando a Proposi¸ca˜o 2.16 temos que (a, b) = (a, r1 ) = (r1 , r2 ) =
·· · = (r −1, r n
n)
= rn .
Observa¸c˜ ao 2.20. Notemos que o Teorema de B´ezout tamb´em pode ser obtido como conseq¨ueˆncia do processo de divis˜ao (2.15). Com efeito, podemos escrever rn rn−1
= rn−2 = rn−3
− r −1q − r −2q −1 ⇒ r n
n
n
n
n
= rn−2
− (r −3 − r −2q −1)q n
n
n
n.
Logo, conseguimos escrever rn em termos de rn−2 e rn−3 . Utilizando a express˜ ao rn−2 = rn−4 rn−3 qn−2 podemos escrever rn como combina¸c˜ao de rn−3 e rn−4 . Repetindo este processo v´arias vezes, concluimos que existem x, y Z tais que d = rn = xr1 + yr 2 .
−
∈
−
−
−
Ora, como r1 = b aq1 e r2 = a r1 q2 = a(1+q1 q2 ) bq2 , ent˜ao, substituindo estes valores na ´ultima igualdade obtemos o Teorema de B´ezout. Exemplo 2.21. Achar o m´aximo divisor comum dos n´umeros 471 e 1176. Solu¸c˜ ao. Aplicando o algoritmo de Euclides obtemos a seguinte seq¨uˆencia de divis˜oes com resto:
·
1176 = 471 2 + 234, 471 = 234 2 + 3, 234 = 78 3,
·
·
ent˜ao o m.d.c(471, 1176) = 3. Exemplo 2.22. Provar que a fra¸c˜ao natural n.
2n+8 4n+15
´e irredut´ıvel para todo n´umero
Solu¸c˜ ao. Usando o algoritmo de Euclides temos que 4n + 15 = (2n + 8) 1 + 2n + 7, 2n + 8 = (2n + 7) 1 + 1, 2n + 7 = (2n + 7) 1.
· ·
·
i
i i
i
i
i
i
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[CAP. 2: DIVISIBILIDADE
Ent˜ao o m.d.c.(4n + 15, 2n + 8) = 1 e portanto 4n + 15 e 2n + 8 s˜ ao primos entre si para qualquer valor de n. Exemplo 2.23. Achar o m.d.c.(111
·· · ··· ·· · ··· ··· · · · 111, 11
100vezes
11)
60 vezes
Solu¸c˜ ao. Primeiro escrevemos os n´umeros na base decimal, isto ´e, 111 = 10 99 + 1098 +
111
+ 1,
100 vezes
11
11 = 1059 + 1058 +
+ 1.
60 vezes
Aplicamos agora o algoritmo de Euclides para obter as seguintes igualdades 111
111 = (1059 + 1058 +
·· · 100 vezes 59 58
·· · + 1)1040 + 1039 + 1038 + · · · + 1,
·· · + 1 = (1039 + 1038 + · ·· + 1)1020+ + 1019 + 1018 + · ·· + 1, 1039 + 1038 + ·· · + 1 = (1019 + 1018 + · ·· + 1)1020 + + 1019 + 1018 + · ·· + 1. 10
+ 10
+
Disto resulta que 11) = 1019 + 1018 +
··· ···
m.d.c.(111
111, 11
100 vezes
60 vezes
· · · + 1 = 11 · ·· 11 .
20 vezes
Agora passamos ao segundo conceito importante desta se¸c˜ ao. O mesmo est´ a relacionado com os inteiros positivos que s˜ao simultaneamente m´ultiplos de dois inteiros pr´e-fixados e ´e denominado M´ınimo M´ ultiplo Comum . Defini¸ ca ˜o 2.24 (M´ınimo M´ ultiplo Comum). Sejam a e b inteiros diferentes de zero. O m´ınimo m´ultiplo comum, resumidamente m.m.c, entre a e b ´e o inteiro positivo m que satisfaz as seguintes condi¸co˜es:
|
|
(a)
m ´e um m´ ultiplo comum de a e b, isto ´e, a m e b m;
(b)
m ´e o menor inteiro positivo com a propriedade
(a).
i
i i
i
i
i
i
´ ´ [SEC. 2.2: MAXIMO DIVISOR COMUM E M´INIMO MULTIPLO COMUM
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Neste caso, denotamos o m.m.c entre a e b por m = m.m.c(a, b) ou por m = [a, b]. Resumimos a seguir algumas das propriedades fundamentais do m.m.c de dois inteiros. Proposi¸c˜ ao 2.25. Sejam a,b,c afirma¸coes: ˜
∈Z
e k
∈ Z.
Ent˜ ao valem as seguintes
|
(a)
Se c ´e m´ ultiplo comum de a e b, ent˜ ao [a, b] c;
(b)
[ka,kb] = k[a, b];
(c)
|ab| = [a, b] · (a, b).
Demonstra¸ cao. ˜ Come¸camos com a prova de (a). A divis˜ao com resto de c por [a, b] nos d´a c = [a, b]q + r, 0 r < [a, b]. (2.16)
≤
Da igualdade acima, basta provar que r = 0 para obter o resultado desejado. Suponhamos, pelo contr´ario, que 0 < r < [a, b]. Notemos que tanto a como b dividem c e [a, b]. Logo, pelo item (b) da Proposi¸ca˜o 2.3 e a igualdade (2.16), temos que a e b tamb´em dividem r, ou seja, r ´e m´ ultiplo comum de a e b e n˜ao pode ser menor que [a, b], contradizendo nossa suposi¸c˜ao. Prosseguimos com a prova de (b). Observemos que k[a, b] ´e m´ ultiplo comum de ka e kb, logo pelo item (i) vale que [ka,kb]
≤ k[a, b].
(2.17)
Por outro lado, [ka,kb] = q1 ka = q2 kb, para alguns inteiros q1 e q2 ; logo, [ka,kb] ´e um m´ ultiplo comum de a e b. Portanto, k [a, b]
≤ [ka,kb] ⇔ k[a, b] ≤ [ka,kb]. k
(2.18)
Das igualdades (2.17) e (2.18) segue que k[a, b]
≤ [ka,kb] ≤ k[a, b],
de onde vem diretamente o resultado. Para provar (c) podemos supor sem perda de generalidade que a e b s˜ao positivos devido `as igualdades [a, b] = [a, b] = [ a, b] = [ a, b].
−
−
− −
i
i i
i
i
i
i
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[CAP. 2: DIVISIBILIDADE
Dividiremos a prova em dois casos: Caso 1: (a, b) = 1. Sabemos que b [a, b] e [a, b] = qa, para algum q N. Ent˜ ao b qa e al´em disso (a, b) = 1. Logo, pelo item (v) da Proposi¸c˜ao 2.18 temos que b q. Portanto, b q e conseq¨ uentemente
|
|
∈
|
≤
ab
≤ aq = [a, b].
(2.19)
Entretanto, da defini¸ca˜ o de [a, b] vale que [a, b]
≤ ab.
(2.20)
Das desigualdades (2.19) e (2.20) segue que ab [a, b] = [a, b] 1 = [a, b] (a, b).
·
·
≤ [a, b] ≤ ab.
Caso 2: (a, b) > 1. Da parte (c) da Proposi¸c˜ao 2.18 sabemos que cando o caso anterior vale que
a b a b = , (a, b) (a, b) (a, b) (a, b)
·
·
Assim, ab =
a b (a,b) , (a,b)
a b , (a, b) (a, b)
= 1. Apli-
.
Multiplicamos esta ´ultima igualdade por (a, b)2 e usamos o item (b) provado anteriormente, assim como a parte (d) da Proposi¸c˜ao 2.18 para obter
a b ab = (a, b) , (a, b) (a, b) (a, b)
a b , (a, b) (a, b)
·
= [a, b] (a, b).
Exemplo 2.26. Dois amigos passeiam de bicicleta, na mesma dire¸c˜ao, em torno a uma pista circular. Para dar uma volta completa um deles demora 15 minutos e o outro demora 18 minutos. Eles partem juntos e combinam interromper o passeio quando os dois se encontrarem pela primeira vez no ponto de partida. Quantas voltas deu cada um? Solu¸c˜ ao. Denotemos por N 1 e N 2 , respectivamente, o n´umero de voltas que d´a cada um dos amigos. Notemos que o tempo total da corrida ´e o menor valor positivo de T que satisfaz as igualdades T = 15N 1 = 18N 2 ,
i
i i
i
i
i
i
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47
´ ´ [SEC. 2.2: MAXIMO DIVISOR COMUM E M´INIMO MULTIPLO COMUM
ou seja T = [15, 18] =
15 18 = 90. 3
·
Portanto, N 1 = 6 e N 2 = 5. Finalizamos esta se¸c˜ao com um exemplo que nos fornece uma bela interpreta¸ca˜o geom´etrica do m´ınimo m´ultiplo comum. O mesmo foi proposto na Olimp´ıada Brasileira de Matem´atica. Exemplo 2.27. Um retˆangulo de lados inteiros AB = m e CD = n, ´e dividido em quadrados de lado 1. Em cada um dos v´ ertices ele possui um pequeno orif´ıco. Um raio de luz entra no retˆangulo por um dos v´ertices, na dire¸c˜ao da bissetriz do ˆangulo reto, e ´e refletido sucessivamente nos lados do retˆangulo. Quantos quadrados s˜ ao atravessados pelo raio de luz? Solu¸c˜ ao. Se fizermos alguns testes preliminares dando valores a m e n, veremos que em cada caso a resposta coincidir´a com o m.m.c.(m,n). Provemos que isto de fato vale para m e n quaisquer. Para realizar a prova nos auxiliaremos da seguinte figura D
C
A
B Figura 2.1::
Primeiramente, notemos que cada vez que o raio de luz atravessa um quadrado ele avan¸ca uma unidade tanto na dire¸c˜ao horizontal como na dire¸c˜ao vertical. Usando este fato fazemos as seguintes observa¸co˜es
• Se o raio entra pelo v´ertice A, ter´a que atravessar m quadrados at´e
chegar ao lado BC , imediatamente mais m para chegar ao lado AD,
i
i i
i
i
i
i
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[CAP. 2: DIVISIBILIDADE
depois mais m para chegar novamente ao lado BC , e assim sucessivamente. Al´em disto, depois do raio percorrer pm quadrados, com p N, estar´a batendo no lado BC ou no lado AD.
∈
• Analogamente o raio bater´a no lado AB ou no lado DC se, e somente se, atravessar qn quadrados, com q ∈ N. • Somente nos v´ertices B, C e D do retˆangulo pode acontecer que o raio
incidente saia do retˆangulo, terminando assim o processo de reflex˜ao.
Usando as observa¸c˜oes acima ´e f´acil ver que o raio chegar´a a um v´ertice quando chegar simultaneamente a dois lados perpendiculares do retˆangulo. Portanto, deve ter atravessado um n´umero x de quadrados tal que x = ´ claro que a pm = qn, ou seja, x dever´a ser um m´ultiplo comum de m e n. E primeira vez que o raio chega a um v´ertice o n´umero x ´e o menor m´ultiplo comum de m e n, isto ´e, x = [m, n]. Finalmente, observamos que nenhum dos quadrados ´e atravessado duas vezes no percurso do raio de A at´e bater no primeiro v´ertice, pois como vemos na figura numa das dire¸c˜oes os quadrados atravessados ser˜ao todos cinzas e na outra dire¸ca˜o, ser˜ao todos brancos.
2.3
N´ umeros Primos e Compostos
Ao longo da Hist´oria da matem´atica, os n´ umeros primos foram protagonistas de c´ elebres problemas que motivaram o desenvolvimento de teorias e t´ ecnicas pelas mentes mais f´erteis, como Fermat, Euler e Gauss. At´ e hoje muitos destes problemas, simples de enunciar, que envolvem n´umeros primos s˜ao desafios intelectuais para toda a humanidade. Esta se¸ca˜o ser´a dedicada ao estudo de propriedades b´asicas dos n´ umeros primos. O n´ u mero 1 tem um ´unico divisor, precisamente ele mesmo. Isto faz dele um n´umero bem peculiar dentro dos n´umeros naturais. Todo n´umero natural N maior do que 1 tem pelo menos 2 divisores, claramente 1 e N . Isto motiva a seguinte defini¸ca˜o. Defini¸ ca ˜o 2.28 (N´ umeros Primos e Compostos). Um inteiro positivo N ´e dito primo se os u ´ nicos divisores que ele tem s˜ao 1 e ele pr´oprio; caso contr´ario, ´e dito composto.
i
i i
i
i
i
i
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49
´ [SEC. 2.3: NUMEROS PRIMOS E COMPOSTOS
Exemplo 2.29. Os n´ umeros 1, 3, 5, 7, e 11 s˜ao primos e os n´ umeros 10, 15, 35, e 348 s˜ao compostos. Proposi¸c˜ ao 2.30. Seja N > 1 um n´ umero inteiro. Ent˜ ao (a)
O menor divisor de N diferente de 1 ´e um n´ umero primo;
(b)
Se N ´ e composto, o seu menor divisor diferente de 1 n˜ ao ´e maior que N ;
√
Demonstra¸ cao. ˜ Come¸camos provando (a). Seja p o menor divisor de N , diferente de 1. Se p fosse composto teria algum divisor q tal que 1 < q < p; mas q p e p N,
|
|
√ e conseq¨ uentemente vale N ≥ p.
≥
o que nos diz que q N , e isto contradiz a hip´otese levantada sobre p. Para provar (b) denotamos por p o menor divisor de N , diferente de 1. Portanto, N = pq com q p. Multiplicando ambos lados da desigualdade por p obtemos N = pq p2 ,
|
≥
Agora vamos enunciar um dos resultados mais cl´assicos da matem´atica, que garante a existˆ encia de infinitos n´umeros primos. At´ e onde se conhece, a demonstra¸c˜ao a seguir foi a primeira demonstra¸c˜ao escrita utilizando o m´etodo de redu¸c˜ao ao absurdo, e ´e devida a Euclides (300 a.C.). Teorema 2.31 (Teorema de Euclides). A quantidade de n´ umeros primos ´e infinita. Demonstra¸ cao. ˜ Faremos a prova por redu¸c˜a o ao absurdo. Suponha que existe uma quantidade finita de n´umeros primos e denotemos estes por p1 , p2 , p3 , . . . , pk . Consideremos o n´ umero N = p1 p2 p3
· ·· p
k
+1
e chamemos de q o seu menor divisor primo. Obviamente q n˜ ao coincide com nenhum dos n´umeros pi , 1 i k, pois caso contr´ario, como ele divide N , teria que dividir 1, o que ´e imposs´ıvel. Logo, temos uma contradi¸c˜ao `a hip´ otese de termos uma quantidade finita de primos.
≤ ≤
i
i i
i
i
i
i
50
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[CAP. 2: DIVISIBILIDADE
Os n´ umeros primos tamb´em podem ser caracterizados da seguinte maneira: Proposi¸c˜ ao 2.32. Um inteiro positivo p ´e primo se, e somente se, satisfaz a seguinte propriedade:
|
⇒ p|a
p ab = onde a, b
|
ou p b
(2.21)
∈ Z.
Demonstra¸ cao. ˜ Primeiramente, suponhamos que p ´e primo e que p ∤ b, logo ( p,b) = 1. Ent˜ao, pelo item (f) da Proposi¸c˜ao 2.18 temos que p a. Reciprocamente, suponhamos que, a propriedade 2.21 ´e v´alida e al´em disto vamos supor, pelo absurdo, que p n˜ao ´e primo. Ent˜ao,
|
p = d1 d2 ,
com 1 < d 1 < p, 1 < d 2 < p.
(2.22)
De (2.21) segue que p d1 ou p d2 ; conseq¨ uentemente
|
|
p
≤ d1,
ou p
≤ d2,
(2.23)
contradizendo isto o afirmado em (2.22).
2.3.1
O Crivo de Erat´ ostenes
Apesar de sabermos que existem infinitos n´umeros primos, determinar se um n´ umero ´e primo nem sempre ´e uma tarefa r´apida. Uma das principais ferramentas utilizadas para esse fim ´e um m´etodo simples, denominado Crivo de Erat´ ostenes, que nos permite achar todos os n´umeros primos que n˜ao s˜ao maiores que um inteiro N dado. O m´ etodo consiste nos seguintes passos: Escrevemos os n´umeros de forma ordenada a partir de 2, isto ´e, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 16, 17, . . . , N
(2.24)
• Observamos que o primeiro primo que aparece em (2.24) ´e 2 e ime-
diatamente apagamos da lista (2.24) todos os m´ultiplos de 2 maiores que ele, por serem compostos; resta assim a seguinte lista 2, 3, 5, 7, 9, 11, 13, 15, 17 . . .
• O primeiro n´umero n˜ao apagado que aparece na lista restante ´e 3, que
tamb´em ´e primo. Imediatamente apagamos da lista todos os m´ultiplos de 3 maiores que ele, por serem compostos; resta agora a lista 2, 3, 5, 7, 11, 13, 17, . . .
i
i i
i
i
i
i
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51
´ [SEC. 2.3: NUMEROS PRIMOS E COMPOSTOS
• O primeiro n´umero n˜ao apagado que aparece na lista que restou do
passo anterior ´e 5, que tamb´em ´e primo. Imediatamente apagamos da lista todos os m´ultiplos de 5 maiores que ele, por serem compostos. Se repetirmos este processo at´e o maior n´umero menor que N , os n´umeros que sobram s˜ao exatamente os n´umeros primos.
√
Por exemplo, se N = 40, temos que o m´etodo: 11 21 31
2 12 22 32
3 13 23 33
4 14 24 34
5 15 25 35
√40 = 6, 324555 . Ent˜ao, aplicando
6 16 26 36
7 17 27 37
8 18 28 38
9 19 29 39
10 20 30 40
Passo 1: Ordenamos os n´umeros 2 11 21 31
3 13 23 33
5 15 25 35
7 17 27 37
9 19 29 39
Passo 2: Tiramos os m´ultiplos de 2 2 11
3 13 23
31
5 25 35
7 17
19 29
37
Passo 3: Tiramos os m´ultiplos de 3 2 11
3 13 23
5
31
7 17
19 29
37 Passo 4: Tiramos os m´ultiplos de 5
Como 72 = 49 > 40, paramos agora.
i
i i
i
i
i
i
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[CAP. 2: DIVISIBILIDADE
Note que ao come¸c ar a apagar os m´ultiplos de um n´umero primo p podemos come¸car a apagar a partir de p2 , pois se supomos que existe um n´umero composto N 1 n˜ao apagado menor que p2 , temos que N 1 = p1 q1 , sendo p1 seu menor divisor primo. Ent˜ao, pelo item (b) da Proposi¸ca˜o 2.30, p1 < N 1 < p, logo N 1 deveria ter sido apagado pois ´e m´ultiplo de um primo menor que p.
√
2 31 73 127 179 233 283 353 419 467
3 37 79 131 181 239 293 359 421 479
5 41 83 137 191 241 307 367 431 487
7 43 89 139 193 251 311 373 433 491
11 47 97 149 197 257 313 379 439 499
13 53 101 151 199 263 317 383 443 503
17 59 103 157 211 269 331 389 449 509
19 61 107 163 223 271 337 397 457 521
23 67 109 167 227 277 347 401 461 523
29 71 113 173 229 281 349 409 463 541
Tabela 2.1: Os primeiros 100 n´ umeros primos
Os n´ umeros primos al´em de belos e desafiadores do ponto de vista matem´atico, s˜ao extremamente importantes para as atividades usuais de nosso dia-a-dia. Por exemplo, nenhuma transa¸ca˜o banc´aria ou pela internet estaria segura sem o uso de n´umeros primos muito grandes. Assim, surge naturalmente a pergunta de como podemos produz´ı-los em grandes quantidades. Essa pergunta sempre intrigou os matem´aticos e continua sem solu¸c˜ao at´e os dias atuais. Apesar deles serem abundantes, em quantidade infinita de acordo com o Teorema 2.31, n˜ao existe nenhum m´etodo razo´avel de produ¸c˜a o de n´ umeros primos, mesmo tendo em m˜aos a alta tecnologia de hoje em dia. Por´ em, ao longo do tempo algumas f´ormulas se mostraram u ´teis para a descoberta de n´umeros primos. Entre estas f´ormulas, destaca-se o que chamamos de primos de Mersenne. Marin Mersenne (1588-1648) foi um monge francˆ es que nasceu na cidade de Maine e foi um dos grandes influenciadores da matem´atica francesa nos s´eculos XVI e XVII. Apaixonado pelos n´ umeros, teve entre seus correspondentes Descartes, Fermat, Pascal e Galileu. Entre suas v´arias descobertas,
i
i i
i
i
i
i
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53
´ [SEC. 2.3: NUMEROS PRIMOS E COMPOSTOS
ele estudou os n´ umeros da forma: M n = 2 n
−1
Observe que vale o seguinte fato a respeito desses n´umeros: Proposi¸c˜ ao 2.33. Se M n ´e primo, ent˜ ao n ´e primo. Demonstra¸ cao. ˜ Provar essa proposi¸ca˜o equivale a mostrar que a sua forma contra-rec´ıproca vale. Ou seja, que se n ´e composto, digamos n = a.b, com a b > 1, ent˜ao M n tamb´em ´e composto. De fato, podemos decompˆo-lo do seguinte modo:
≥
M a.b = 2ab
−1=
2a(b−1)
− 2 ( −2) + · ·· + 2 a b
a
−
+ 1 2b
1 .
Por´em, n˜ao ´e verdade a rec´ıproca da afirma¸ca˜o acima. Por exemplo, Hudalricus Regius mostrou em 1536 que M 11 = 211 1 = 2047 n˜ao ´e primo, j´a que 2047 = 23 89. Em 1643, Mersenne afirmou que para
−
·
n = 2, 3, 5, 7, 13, 17, 19, 31, 67, 127 e 257, os valores de M n s˜ao todos primos e para todos os outros valores de n menores que 257, M n ´e composto. Hoje sabemos que Mersenne errou na sua afirma¸c˜ao, esquecendo trˆes valores de n onde M n ´e primo: 61, 89 e 107 e incluindo M 67 e M 257 como n´umeros primos. Esses fatos s´o foram mostrados em 1947. O maior n´ umero primo conhecido at´e 15 de Dezembro de 2005 ´e M 30402457 que possui 9.152.052 de d´ıgitos! Para descobrir esse n´umero, o grupo de pesquisa liderado por Cooper, Boone, Woltman e Kurowski (GIMPS) precisou do aux´ılio de mais de 700 computadores! Para mais informa¸co˜es veja a p´ agina: www.mersenne.org.
2.3.2
O Teorema Fundamental da Aritm´ etica
Os n´ umeros primos s˜ao as c´elulas dos n´ umeros naturais, no sentido de que qualquer n´ umero natural ´e produto de n´umeros primos. Por exemplo, 560 = 56 10 = 7 8 5 2 = 7 2 2 2 5 2,
·
· · ·
· · · · ·
i
i i
i
i
i
i
54
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[CAP. 2: DIVISIBILIDADE
onde cada um dos fatores que aparecem no produto s˜ao n´ umeros primos. Perguntamo-nos, o que acontece se come¸camos com uma outra fatora¸c˜ao inicial de 560, por exemplo, 560 = 28 20. Vejamos:
·
·
· · ·
· · · · ·
560 = 28 20 = 14 2 10 2 = 7 2 2 5 2 2. Surpreendentemente chegamos `a mesma representa¸c˜ao anterior, salvo a ordem dos fatores. 2 2 2
7 5
2 Figura 2.2: O n´umero 560 ´e composto de 4 c´elulas do tipo 2 , uma c´elula do tipo 7 e uma c´ elula do tipo 5.
O fato observado acima vale para qualquer n´umero natural maior que 1. Especificamente, temos o seguinte resultado conhecido como Teorema Fundamental da Aritm´etica . Teorema 2.34 (Teorema Fundamental da Aritm´ etica). Todo n´ umero natural N maior que 1 pode ser escrito como um produto N = pα pα pα 1 2 3 1
·
≥
2
αm m
· · · · p , (2.25) ∈ N e p ´e primo para todo 1 ≤ i ≤ m 3
onde m 1 ´e um n´ umero natural, αi i . Al´ em disso, a fatora¸c˜ ao em (2.25) ´e ´ unica se exigirmos que p1 < p2 < < p m.
···
Demonstra¸ cao. ˜ Seja N um inteiro maior que 1. Denotando por p1 seu menor divisor primo tem-se que N = p1 β 1 ,
1
≤ β 1 < N .
Se β 1 = 1, ent˜ao N 1 = p1 e a fatora¸ca˜o desejada ´e obtida. Caso contr´ ario, denotando por p2 o menor divisor primo de β 1 tem-se que N = p1 p2 β 2 ,
1
≤ β 2 < β 1.
i
i i
i
i
i
i
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55
´ [SEC. 2.3: NUMEROS PRIMOS E COMPOSTOS
Se β 2 = 1, ent˜ao N = p1 p2 e novamente chegamos `a fatora¸ca˜o desejada. Caso contr´ario, denotando por p3 o menor divisor primo de β 2 tem-se que N = p1 p2 p3 β 3 ,
1
≤ β 3 < β 2.
Continuando este processo sucessivamente obtemos ent˜ao uma seq¨uˆencia estritamente decrescente de n´umeros naturais αn , ou seja, N > β 1 > β 2 > β 2 >
·· · > β
n
> β n+1 >
·· · ≥ 1,
Ent˜ao, pelo princ´ıpio da boa ordem, s´o pode existir uma quantidade finita de indices n tais que β n > 1 e conseq¨uentemente β n+1 = 1, de onde segue que N = p1 p2 pn .
···
Notemos que na representa¸ca˜o acima os pi podem-se repetir, resultando finalmente a representa¸ca˜o desejada em (2.25). Provaremos agora a unicidade de tal fatora¸c˜ ao. Com efeito, suponha que existem duas fatora¸c˜oes: pα pα pα 1 2 3 1
·
2
·
3
·· · p
αm m
= N = q1β
1
β2
β3
βs s
· q2 · q3 · · · q
Pela Proposi¸c˜ao 2.32 temos que cada pi divide algum qj , logo pi = qj , por serem primos. Portanto, cada pi aparece no lado direito da igualdade acima, e, um argumento an´alogo nos d´a que cada qj tamb´em aparece no lado esquerdo da igualdade. Ent˜ao, como os pi s e os qj s s˜ao diferentes dois a dois e organizados crescentemente, temos m = s e a igualdade se reduz a pα pα pα 1 2 3 1
·
2
·
3
·· · p
αm m
= pβ1 pβ2 pβ3 1
·
2
·
3
· ·· p
βm m .
Suponhamos agora que α1 seja diferente de β 1 ; sem perda de generalidade vamos supor que α1 < β 1 . Portanto, pα pα 2 3 2
·
3
· ·· p
αm m
= pβ1
1
−α1
β2
β3
· p2 · p3 · ·· p
βm m ,
−
e como β 1 α1 > 0 ent˜ao, pela Proposi¸ca˜o 2.32 temos que p1 divide algum pj , com j > 1, o que ´e imposs´ıvel. Portanto, α1 = β 1 . Similarmente provamos que αi = β i , com i = 1, , n.
···
Observa¸c˜ ao 2.35. O Teorema Fundamental da Aritm´etica foi enunciado precisamente por Gauss (1777-1855). Seus antecessores, Fermat, Euler, Lagrange e Legendre, utilizavam este teorema sem a preocupa¸ca˜o de tˆe-lo enunciado ou demonstrado com preciss˜ao.
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i i
i
i
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[CAP. 2: DIVISIBILIDADE
Uma prova alternativa deste teorema ser´a apresentada no Cap´ıtulo 5, usando o m´etodo de indu¸ca˜o. Exemplo 2.36. Prove que um n´umero N ´e par se, e somente se, o n´umero 2 aparece na fatora¸ca˜o de N em fatores primos. Solu¸c˜ ao. Obviamente, se 2 aparece na fatora¸c˜ao em primos de N , ent˜ao N ´e par. Ora, se N ´e par temos que N = 2q. Por outro lado q e N se fatoram, respeitivamente, como q = q1α q2α 1
Logo,
2
αm m
· ·· q
2 q1α q2α
·
e αm m
1
= pβ1 pβ2
2
·· · p
βs s .
βs s
·· · p . Pela unicidade da fatora¸c˜ao, para algum i, com 1 ≤ i ≤ s, o correspondente 1
2
·· · q
N = pβ1 pβ2 1
2
pi deve ser igual a 2. Portanto, 2 aparece na fatora¸c˜ ao de n.
´ poss´ıvel decompor o conExemplo 2.37. Seja = 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7 . E junto em dois subconjuntos disjuntos tais que o produto dos elementos de um seja igual ao produto dos elementos do outro?
A
A {
}
Solu¸c˜ ao. Mostraremos que ´e imposs´ıvel fazer esta decomposi¸c˜ao. Com efeito, suponha que existem tais conjuntos, 1 = p1 , p2 , , pr e 2 = q1 , q2 , , qs . Ent˜ao
{
A
·· · }
{
· ·· } A
· ·· · ·· p1 p2
pr = q1 q2
α
qs
β
e al´em disso, como os conjuntos 1 2 s˜ao disjuntos, temos que o n´umero 5 aparece no produto α ou no produto β , mas n˜ao em ambos simultaneamente. Por outro lado, o Teorema 2.34 nos diz que a fatora¸c˜ao em primos de α ´e igual a` fatora¸c˜ao em primos de β , logo o n´ umero 5 deveria aparecer tanto no produto α como no produto β , contradizendo isto o fato anterior. Portanto n˜ao existe uma decomposi¸c˜ao com as condi¸c˜oes exigidas.
A A
Exemplo 2.38. Encontre todos os n´umeros inteiros e positivos n com a propriedade de que o conjunto
A = {n, n + 1, n + 2, n + 3, n + 4, n + 5} pode ser particionado em dois subconjuntos tais que o produto dos elementos de um dos subconjuntos seja igual ao produto dos elementos do outro.
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i i
i
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57
´ [SEC. 2.3: NUMEROS PRIMOS E COMPOSTOS
Demonstra¸ cao. ˜ Digamos que seja poss´ıvel essa decomposi¸ca˜o para algum n e vamos denotar os conjuntos que obtemos com a decomposi¸c˜ao por 1 e ca˜o dos elementos dos subconjuntos em fatores 2 . Observando a decomposi¸ primos, temos que todo fator primo de 1 tamb´em dever´a pertencer a 2 . No conjunto dos seis n´umeros s´o podemos ter um m´ultiplo de 7, por isso n˜ao podemos tomar n como m´ ultiplo deste primo. Analogamente para primos maiores que 7. Analisando o primo 5, conclu´ımos que n e n + 5 s˜ao m´ultiplos de 5, pois se n˜ao, cair´ıamos na an´alise anterior. Assim, os n´umeros n + 1, n + 2, n + 3 e n + 4 s˜ ao da forma 2 α 3β . Como entre eles existem dois ´ımpares, logo teremos duas potˆencias de 3 cuja diferen¸ca ´e 2, um absurdo. Assim, n˜ ao existe n que satisfaz as condi¸c˜oes do enunciado.
A
A A
A
Finalizamos esta se¸c˜ao com um exemplo que mostra como podemos combinar os fatos estudados para resolver problemas mais dif´ıceis Exemplo 2.39. Encontre todos os n´umeros que s˜ao formados por 4 algarismos da forma aabb e que sejam quadrados perfeitos. Solu¸c˜ ao. Como o n´umero aabb ´e um quadrado perfeito, significa que: N 2 =aabb ;
N 2 =103 a + 102 a + 10b + b = 103 + 102 N 2 =1100 a + 11 b ;
· ·
·
a + (10 + 1) b ;
·
N 2 =11 100a + b = 11 99a + a + b ; Como 11 ´e primo ´e f´acil ver, usando a Proposi¸c˜a o 2.32, que 112 N 2 . Segue-se ent˜a o que 11 (99a + a + b). Portanto, 11 (a + b). Como aabb tem 4 algarismos, segue-se que a = 0; portanto a 1, 2, 3, ,9 e b 0, 1, 2, , 9 . De onde a + b 18. Logo, necessariamente devemos ter a + b = 11. Podemos observar que a = 1, pois se a = 1 ent˜ao b = 10. Analogamente, b = 0, 1. Portanto,
|
∈{
| ∈{
·· · } ≤ a ∈ {2, 3, 4, · ·· , 9} e b ∈ {2, 3, 4, ·· · , 9}.
|
· ·· }
Como em todo n´umero quadrado perfeito o algarismo das unidades somente pode acabar em 0, 1, 4, 5, 6 e 9. Segue-se que b
∈ {4, 5, 6, 9}.
i
i i
i
i
i
i
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[CAP. 2: DIVISIBILIDADE
Certamente b = 5, pois todo n´ umero que acaba em 5 quando ´e elevado ao quadrado sempre acaba em 25. Assim,
b
• Se b = 4, ent˜ao a = 7.
∈ {4, 6, 9}.
Neste caso o n´ umero seria 7744 que ´e um
quadrado perfeito;
• Se b = 6, ent˜ao a = 5. Neste caso o n´umero seria 5566 que n˜ao ´e um quadrado perfeito;
• Se b = 9, ent˜ao a = 2. Neste caso o n´umero seria 2299 que n˜ao ´e um quadrado perfeito.
Finalmente, a u ´ nica solu¸c˜ao poss´ıvel ´e aabb = 7744 = 882 .
2.3.3
Identificando N´ umeros Compostos
N˜ ao existe uma regra geral que nos permita determinar imediatamente se um n´ umero inteiro ´e primo ou composto. Entretanto, existem alguns crit´erios, baseados fundamentalmente em identidades alg´ ebricas, que nos ajudam nessa dif´ıcil tarefa. Crit´erio 1. Todo n´ umero que ´e diferen¸ca de quadrados de dois inteiros positivos, com diferen¸ca distinta de um, ´e composto. Demonstra¸ cao. ˜ Com efeito, se N = a2 b2 , ent˜ao N = a2 b). Logo, como a b = 1, temos que N ´e composto.
−
−
Exemplo 2.40. Prove que o n´umero N = 220
− b2 = (a − b)(a +
− 254 ´e composto.
Solu¸c˜ ao. Escrevemos N de outra forma, com o objetivo de facilitar nosso trabalho. Com efeito, observemos que N = (210 )2
− (252)2 = 10242 − 6252 ,
logo ´e composto por ser diferen¸ca de quadrados. Al´em disso, N = 10242 6252 , = (1024 625)(1024 + 625), = 399 1649, = 3 133 1649.
·
·
− −
(2.26)
·
i
i i
i
i
i
i
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59
´ [SEC. 2.3: NUMEROS PRIMOS E COMPOSTOS
Portanto, podemos concluir que 3 N . Notemos que neste exemplo n˜ao ´e muito pr´atico aplicar o crit´ erio de divisibilidade, estudado na Proposi¸ ca˜o 2.5, para ver se o mesmo ´e divis´ıvel por 3.
|
O segundo crit´erio ´e uma generaliza¸ca˜o do primeiro. Crit´erio 2. Sejam a, b inteiros positivos, com a n 2. Ent˜ ao a b divide an bn e, portanto, an
≥
−
−
− b ≥ 2, e n ∈ N, com − b ´e composto. n
Demonstra¸ cao. ˜ Os casos n = 2 e n = 3 seguem das cl´assicas fatora¸co˜es:
• a2 − b2 = (a − b)(a + b), [diferen¸ca de quadrados] • a3 − b3 = (a − b)(a2 + ab + b2), [diferen¸ca de cubos]. Estas igualdades sugerem a seguinte fatora¸c˜ao para o caso geral an
−b
n
= (a
− b)
an−1 + an−2 b + an−3 b2 +
·· · + ab −2 + b −1 n
n
,
de onde segue diretamente o resultado desejado. Para provar esta igualdade, denotamos por β o lado direito, ou seja, β = (a
− b)
an−1 + an−2 b + an−3 b2 +
·· · + ab −2 + b −1 n
n
e desenvolvemos o mesmo para obtermos
−
β = an + an−1 b + an−2 b2 + n
−b =a −b n
n
· · · + a2b −2 + ab −1 a −1 b + a −2 b2 + ·· · + a2 b −2 + ab −1 n
n
n
n
,
n
n
terminando assim a prova. Exemplo 2.41. Prove que N = (999994)1234567890 333331.
− 1 ´e divis´ıvel
por
Solu¸c˜ ao. Escolhendo a = 999994, b = 1 e n = 1234567890 pelo crit´ erio 2 temos que a 1 = 999993 N. (2.27)
−
|
i
i i
i
i
i
i
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[CAP. 2: DIVISIBILIDADE
Al´em disso, 999993 = 3 333331; portanto
·
333331 999993.
(2.28)
|
Ent˜ao, usando o item (a) da Proposi¸c˜ao 2.3 e as afirma¸co˜es feitas em (2.27) e (2.28), temos que 333331 N .
|
Outro crit´erio muito valioso ´e a Identidade de Sophie Germain , devido `a matem´atica francesa Sophie Germain(1776-1831), que enunciamos a seguir. Crit´erio 3. ( Identidade de Sophie Germain ). Dados a, b igualdade a4 + 4b4 = (a2 + 2b2 + 2ab)(a2 + 2b2 2ab).
∈ R, vale a
−
Demonstra¸ cao. ˜ A prova segue das seguintes igualdades: a4 + 4b4 = a4 + 4a2 b2 + 4b4 = (a2 + 2b2 )2
− 4a2b2
− 4a2b2
= (a2 + 2b2 + 2ab)(a2 + 2b2
− 2ab).
Como aplica¸c˜ao desta identidade vejamos os seguintes exemplos. Exemplo 2.42. Mostre que para qualquer inteiro positivo n > 1 o n´ umero n 4 qn = n + 4 nunca ´e primo. Solu¸c˜ ao. O conjunto dos n´ umeros naturais ´e particionado em duas classes disjuntas: o conjunto dos n´ umeros pares e o conjunto dos n´umeros ´ımpares. Estudaremos cada classe por separado. Assim,
• se n ´e um n´umero par, ent˜ao n = 2k para algum inteiro positivo k ≥ 1. Deste modo,
n4 + 4n = (2k)4 + 42k = 16k 4 + 24k ,
= 2 8k4 + 24k−1 . Portanto, neste caso, n4 + 4n ´e um n´ umero par maior do que 2. Logo, se n > 1 ´e qualquer n´umero inteiro positivo par temos que n4 + 4 n n˜ao ´e um n´umero primo.
i
i i
i
i
i
i
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61
´ [SEC. 2.3: NUMEROS PRIMOS E COMPOSTOS
• se n ´e um n´umero ´ımpar, ent˜ao n = 2k + 1 para algum inteiro positivo k ≥ 1. Assim, n4 + 4 = (2k + 1)4 + 42 +1 = (2k + 1)4 + 4 · 42 4 = (2k + 1)4 + 4 · 24 = (2k + 1)4 + 4 · 2 . n
k
k
k
k
Logo, tomando a = 2k + 1 e b = 2k , o resultado ´e uma conseq¨uˆencia direta da identidade de Sophie Germain. Exemplo 2.43. O n´ umero N = 4 2005 + 20054 ´e primo? Solu¸c˜ ao. Notemos que 42005 + 20054 = 4 42004 + 20054 = 4
·
·
4501
4
+ 20054 .
Na Identidade de Sophie Germain considerando a = 2005 e b = 4501 , temos que N = (20052 + 2 41002 + 2 2005 4501) (20052 + 2 41002
·
·
·
·
·
Logo, o n´ umero 42005 + 20054 n˜ ao ´e primo.
501
− 2 · 2005 · 4
).
Tamb´ em podemos resolver problemas deste tipo de v´arias formas. Exemplo 2.44. Mostre que o n´umero 520 + 230 ´e composto. Solu¸c˜ ao 1. Escrevemos
·
520 + 230 = 5 5·4 + 22 228 = 55
·
4
+4
27
4
,
de onde podemos usar a Identidade de Sophie Germain com a = 5 5 e b = 2 7 para comprovar que o n´umero 520 + 230 ´e composto. Solu¸c˜ ao 2. As seguintes igualdades s˜ao v´alidas:
· − · · · − · · − ·· · − ·
520 + 230 = 510
2
+ 215
= 510
2
+ 2 510 215 + 215
= 510 + 215
2
= 510 + 215
2
2
2
2 510 215
2 510 215 510 216
= 510 + 215 + 55 28
510 + 215
55 28 .
i
i i
i
i
i
i
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[CAP. 2: DIVISIBILIDADE
Au ´ ltima identidade mostra que o n´umero 520 + 230 ´e composto. Finalizamos esta se¸ca˜o com mais alguns exemplos interessantes. 5125 −1 525 −1
Exemplo 2.45. Mostre que o inteiro positivo Solu¸c˜ ao. Sabemos que x5 x5 x
´e composto.
− 1 = (x − 1)(x4 + x3 + x2 + x + 1), de onde
− 1 = x4 + x3 + x2 + x + 1 = (x2 + 3x + 1)2 − 5x(x + 1)2. −1
Tomando x = 525 obtemos 5125 525
−1 = −1 = =
2 · − 5 · 525 525 + 1 2 , 2 2 550 + 3 · 525 + 1 − 526 525 + 1 , 2 2 550 + 3 · 525 + 1 − 513 525 + 1 ,
550 + 3 525 + 1
que ´e composto por ser uma diferen¸ca de quadrados.
Exemplo 2.46. Demonstre que o n´umero 1 000 . . . 00 1 ´e composto.
2006 zeros
Solu¸c˜ ao. Observemos que 1000 . . . 00 1 =102007 + 1;
− 2006 zeros
= 10669
da identidade a3 + 1 = (a + 1)(a2
3
+ 1;
a + 1) segue-se que:
1000 . . . 00 1 = 10669 + 1 2006 zeros
101338
− 10669 + 1
.
Esta u ´ ltima igualdade mostra que o n´umero 1 000 . . . 00 1 ´e composto.
2006 zeros
i
i i
i
i
i
i
63
˜ [SEC. 2.4: UM POUCO SOBRE EQUAC ¸ OES DIOFANTINAS
x
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y
Figura 2.3::
2.4
Um pouco sobre Equa¸ c˜ oes Diofantinas
Come¸camos esta se¸c˜ao com uma brincadeira interessante. Jo˜ ao, ao sair da aula de matem´atica do professor Peit´agoras, encontrou Pedro e lhe propˆos a seguinte brincadeira: - Pense numa pe¸ca de domin´o, Pedro. Vou adivinhar que pe¸ca ´e essa usando uma f´ormula m´agica. - Ok, Jo˜ao. Pode come¸car, j´a pensei. - Escolha um dos n´umeros na pe¸ca e multiplique por 5. Depois disso some trˆes a esse resultado. Multiplique agora o n´umero que vocˆe obteve por dois. Some isto com o outro n´umero da pe¸ca. Qual foi o resultado? - Foi 40. - Ent˜ao a pe¸ca que vocˆ e escolheu foi a 3 com 4! - Como vocˆe acertou? Me ensina! Claro que de m´agico Jo˜ao n˜ao tinha nada e decidiu contar seu segredo a Pedro. O jogo funciona assim: cada parte da pe¸ca de domin´o pode ser considerada como um dos d´ıgitos de um n´umero de 2 algarismos, o qual denotamos por N = xy = 10x + y (veja a Figura 2.3). Acompanhando os passos de Jo˜ao, temos que: (5x + 3)2 + y = 40
⇔ 10x + y = 34,
(2.29)
que claramente, tem por solu¸c˜oes: x = 3 e y = 4, usando a representa¸ca˜o de 34 na base decimal. A equa¸ca˜o (2.29) ´e um caso particular da seguinte forma mais geral: ax + by = c,
(2.30)
i
i i
i
i
i
i
64
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[CAP. 2: DIVISIBILIDADE
onde a,b,c Z, com a = 0 e b = 0. A equa¸ca˜o (2.30) ´e chamada de equa¸cao ˜ diofantina linear e uma solu¸ca˜o ´ conhecido desta ´e qualquer par de inteiros (x, y) que satisfa¸cam (2.30). E que todos os pontos do plano, com coordenadas ( x, y), que satisfazem a igualdade (2.30) representam, geometricamente, uma reta. Logo, as solu¸c˜ oes de uma equa¸c˜ao diofantina linear s˜ao os pontos de coordenadas inteiras (tamb´em conhecidos como pontos latices) que est˜ao dispostos sobre a reta que esta representa. Por exemplo, os pontos ( 1, 2) e (1, 1) s˜ao solu¸co˜es da equa¸c˜ao diofantina 3x 2y = 1, veja a Figura 2.4.
∈
− −
−
3
y
L
2
1
•
0
x -1
-2
•
-3 -3
-2
-1
0
1
2
3
Figura 2.4: A equa¸ca˜o da reta L ´e 3x − 2y = 1. ´ sempre poss´ıvel achar solu¸c˜oes para Naturalmente nos perguntamos: E uma equa¸ca˜o diofantina linear ? A resposta ´e n˜ao; o pr´oximo resultado nos diz quando isto ´e poss´ıvel. Al´em disso, se uma equa¸ca˜o diofantina linear tem uma solu¸c˜ao na verdade ela tem uma infinidade de solu¸c˜ oes. Proposi¸c˜ ao 2.47. A equa¸c˜ ao diofantina linear ax + by = c,
a, b, c
∈ Z,
com a = 0 e b = 0,
(2.31)
|
tem solu¸c˜ ao se, e somente se, d c, onde d = (a, b). Al´em disso, se (x0 , y0 ) ´e uma solu¸c˜ ao, ent˜ ao o conjunto de solu¸c˜ oes de (2.31) ´e constitu´ıdo por todos os pares de inteiros (x, y) da forma: x = x0 + t db
e
y = y0
−t
a , d
t
∈ Z.
(2.32)
Demonstra¸ cao. ˜ Primeiramente suponhamos que (x0 , y0 ) ´e uma solu¸c˜ao de (2.31), logo ax0 + by0 = c. Usando que d = (a, b) sabemos que existem
i
i i
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˜ [SEC. 2.4: UM POUCO SOBRE EQUAC ¸ OES DIOFANTINAS
inteiros q1 e q2 , tais que dq1 = a e dq2 = b. Portanto, se verifica a igualdade dq1 x0 + dq2 y0 = d(q1 x0 + q2 y0 ) = c,
|
de onde segue obviamente que d c. Reciprocamente, suponhamos que d c e portanto c = qd com q inteiro. O Teorema de B´ezout nos garante a existˆencia de dois inteiros, x0 e y0 , tais que ax0 + by0 = d. Multiplicando ambos os lados desta u ´ ltima igualdade por q temos que ax0 q + by0 q = c,
|
logo o par (x1 , y1 ), com x1 = x0 q e y1 = y0 q, ´e solu¸c˜ao da equa¸c˜ao diofantina. Resta provar agora que temos infinitas solu¸c˜oes da forma (2.32). Com efeito, sendo (x, y) uma outra solu¸c˜ao qualquer al´em de (x0 , y0 ), vale que ax0 + by0 = c = ax + by, de onde ax0 + by0 = ax + by. Desta igualdade obtemos a(x x0 ) = b(y0 y) e dividimos esta ´ultima por d para obtermos
−
−
a (x d
− x0) = db (y0 − y). Como o ( , ) = 1, ent˜ao temos que | (y0 − y) e | (x − x0 ). Logo, existe inteiro t tal que x = x0 + t e y = y0 − t . a d
b d
a d
b d
b d
a d
Por outro lado, ´e f´acil verificar que para qualquer inteiro t as express˜oes achadas acima para x e y resolvem a equa¸ca˜o diofantina. A seguir damos um exemplo de como proceder para resolver equa¸c˜ oes diofantinas. Exemplo 2.48. Achar todas as solu¸co˜es inteiras da equa¸ca˜o 12x + 33y = 27. Solu¸c˜ ao. Observemos que (12, 33) = 3 e que 3 27, logo a equa¸c˜ao tem infinitas solu¸ c˜oes. Como sabemos, basta achar uma delas e teremos as restantes. Para achar esta solu¸c˜ao particular podemos trabalhar de duas maneiras, que descrevemos a seguir: Alternativa 1: Reduzimos a equa¸c˜ao `a forma equivalente
|
4x + 11y = 9,
i
i i
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i
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[CAP. 2: DIVISIBILIDADE
e por tentativa e erro vemos que x0 = 5 e y0 = Ent˜ao pela Proposi¸ca˜o 2.47 temos que x = 5 + 11t e y = 4t
−1 solucionam a mesma.
− 1, t ∈ Z,
esgotam todas as solu¸c˜oes que procuramos. Alternativa 2: Aplicamos o Algoritmo de Euclides para achar o m.d.c (12 , 33), obtendo os seguintes resultados:
·
33 = 12 2 + 9, 12 = 9 1 + 3, 9 = 3 3 + 0.
·
·
Da segunda e primeira igualdades temos, respectivamente, que 3 = 12
−9·1
e 9 = 33
− 12 · 2.
Usando estas duas obtemos
− −
− · · · · − · y0 = −1, garantidos pelo Teorema de B´ezout,
3 = 12 (33 12 2) 1 = 12 33 + 12 2 = 3 12 1 33,
ou seja, achamos x0 = 3 e que validam 3 = 12x0 + 33y0 . Multiplicamos por 9 esta ´ultima igualdade para obter 27 = 12(9x0 ) + 33(9y0 ). Portanto, x0 = 9x0 = 27 e y0 = 9y0 = 9 resolvem, particularmente, a equa¸c˜ao diofantina. Analogamente, como na alternativa, anterior podemos escrever a solu¸c˜ao geral da forma:
−
x = 27 + 11s e y = 4s
2.5
− 9, s ∈ Z.
Exerc´ıcios
1. Encontre o resto que deixa
i
i i
i
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[SEC. 2.5: EXERC´ICIOS
(a) 2001 2002 2003 2004 + 20052 quando ´e dividido por 7;
·
·
·
(b) 2100 quando ´e dividido por 3;
(c) 1237156 + 34
28
quando ´e dividido por 111.
2. Provar que o n´umero n5 + 4n ´e divis´ıvel por 5 para qualquer n´umero natural n. 3. Provar que o n´umero n3 natural n ´ımpar.
− n ´e divis´ıvel por 24 para qualquer n´umero
4. Mostre que se n ´e ´ımpar, ent˜ao n2
− 1 ´e divis´ıvel por 8.
5. Prove que se a ´e ´ımpar, ent˜ao a2 + (a + 2)2 + (a + 4)2 + 1 ´e divis´ıvel por 12. 6. O n´ umero 21093
− 2 ´e divis´ıvel por 10932 ?
7. Utilizando o fato de que o resto de um quadrado quando dividido por 4 s´o pode ser 0 ou 1, dˆ e uma outra solu¸ca˜o para o problema do Exemplo 2.39. 8. Dados 3 inteiros tais que x2 +y 2 = z 2 , mostre que x e y n˜ao s˜ao ambos ´ımpares e que xy ´e m´ ultiplo de 6. 9. Demonstre que o quadrado de um inteiro ´e da forma 8 n ou 8n + 1 ou 8n + 4. 10. Trˆes n´umeros primos p, q e r, maiores que 3, formam uma progress˜ao aritm´etica, ou seja, q = p + d e r = p + 2d. Prove que d ´e divis´ıvel por 6. 11. Demonstrar que existem infinitos n´umeros primos da forma 4m + 3 e da forma 6m + 5, onde m Z.
∈
12. Encontrar o ´ultimo d´ıgito dos n´umeros (a) 19892005 ; (b) 777777 + 250 ; (c) 1 + 2 2 + 32 +
·· · + 20052.
i
i i
i
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[CAP. 2: DIVISIBILIDADE
13. Prove que a soma dos quadrados de cinco n´umeros consecutivos n˜ao ´e um quadrado perfeito.
· · · ···
14. Prove que 1 00
00 5 00
100−zeros
00 1 n˜ao ´e um cubo perfeito.
100−zeros
15. Use o Lema dos Restos para dar uma prova diferente para a Proposi¸ca˜o 2.5. 16. Dados n
∈ N e a ∈ Z, L = ax j
n
n
n
·· · , n; a > 0. Prove que o conjunto + a −1 x −1 + · · · + a0 , x ∈ Z
j = 0, 1, n
n
n
cont´em infinitos n´umeros compostos. 17. Prove que os n´umeros (a) αn = 1 + (b) β n =
1 3
+
1 2 1 5
+ +
1 3
+
· ·· + 1 , com n > 1,
· ·· +
n
1 2n+1 ,
com n > 0,
n˜ao s˜ao inteiros. 18. Dizemos que um conjunto n formado por n inteiros positivos escritos no sistema bin´ario (base 2) ´e regular se, para qualquer s inteiro n˜ao negativo a quantidade de n´umeros de n que contemplam 2 s na representa¸ca˜o bin´aria ´e par. Dizemos que n ´e irregular se, pelo menos para algum s este n´ umero ´e ´ımpar. Demonstre que um sistema irregular pode se converter em regular excluindo-se apenas um ´unico elemento do mesmo, e, um sistema regular pode se converter em irregular excluindo-se qualquer um dos seus elementos.
A
A A
19. Seja n um inteiro positivo. Demonstrar que todos os coeficientes do desenvolvimento do binˆomio de Newton (a + b)n s˜ao ´ımpares se, e somente se, n ´e da forma 2s 1.
−
20. Prove que se (x0 , y0 ) ´e uma solu¸ca˜o da equa¸ca˜o diofantina linear ax by = 1, ent˜a o a ´area do triˆangulo cujos v´ertices s˜ao (0, 0), (b, a) e (x0 , y0 ) ´e 1/2.
−
21. Qual ´e a menor distˆancia poss´ıvel entre dois pontos (x1 , y1 ) e (x2 , y2 ), com coordenadas inteiras, situados sobre a reta definida pela equa¸ca˜o diofantina ax by = c ?
−
i
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Cap´ıtulo 3
Contagem Neste cap´ıtulo discutiremos problemas envolvendo a contagem de elementos de um conjunto dado. Por exemplo, responderemos perguntas do tipo: de quantos modos podemos distribuir 32 sele¸co˜es nacionais de futebol em seis grupos de quatro times cada? Para tanto, utilizaremos como ferramentas b´asicas os princ´ıpios aditivo e multiplicativo da contagem. Veremos tamb´ em que o uso simultˆaneo destes princ´ıpios ser´a muito u ´ til para resolver problemas com certos n´ıveis de complexidade. Al´em disto, ser˜ao abordados os conceitos de permuta¸c˜oes, arran jos e combina¸co˜es, sendo estes de muita importˆancia por serem os alicerces de um ramo da matem´atica denominado Combinat´oria. Antes de prosseguirmos daremos algumas defini¸c˜oes e nota¸c˜oes que ser˜ao u ´teis ao longo de todo o cap´ıtulo. Dado um conjunto denotamos por a quantidade de elementos que este possui. O produto cartesiano de n conjuntos 1 , 2 , . . . , n−1 e n ´e o conjunto definido por
A
A A A A A1 × A2 × · · · × A := (a1, a2, . . . , a n
n );
ai
∈ A , i = 1, 2, . . . , n i
|A|
,
onde cada elemento (a1 , a2 , . . . , an ) ´e chamado de n-upla ordenada. Denotaremos o conjunto vazio com o s´ımbolo .
3.1
∅
Princ´ıpio Aditivo de Contagem
O princ´ıpio aditivo da contagem garante que dados dois conjuntos que n˜ao tˆem elemento em comum, o n´umero de elementos da uni˜ao ´e exatamente a 69
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i i
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[CAP. 3: CONTAGEM
soma do n´ umero de elementos de cada um, ou seja, se (isto ´e, 1 ao 2 = ), ent˜
A ∩A
∅
A1 e A2 s˜ao disjuntos
|A1 ∪ A2| = |A1| + |A2|. Apesar de sua simplicidade, muitos problemas podem ser resolvidos utilizando esse simples princ´ıpio. A seguir enunciamos uma extens˜ao deste princ´ıpio para um n´umero finito qualquer de conjuntos. Princ´ıpio Aditivo da Contagem: Dados os conjuntos 1 , 2 , . . . , e, i , i = j), temos que n dois a dois disjuntos (isto ´ j =
A A
A
A ∩A ∅ ∀ |A1 ∪ A2 ∪ · · · ∪ A | = |A1| + |A2| + · · · + |A |. n
n
Exemplo 3.1. Em Macei´o entraram em cartaz 4 filmes distintos e 2 pe¸cas de teatro. Se Pedro V´ıtor s´o tem dinheiro para assistir a um filme ou a uma pe¸ca de teatro, diga quantos s˜ao os poss´ıveis programas de Pedro V´ıtor. Solu¸c˜ ao. Denotemos por f 1 , f 2 , f 3 e f 4 os quatro filmes que est˜ao em cartaz e por t1 e t2 as duas pe¸cas de teatro. Agora, representemos pelo par (i, j), com 0 i 4 e 0 j 2, o programa que consiste em assistir ao filme f i e `a pe¸ca tj (caso i = 0 ou j = 0 isso significa que n˜ao ser´a assistido a nenhum filme ou a nenhuma pe¸ca, respectivamente). Pelas limita¸co˜es econˆomicas do Pedro V´ıtor temos que ele s´o pode escolher um programa dentro dos seguintes conjuntos disjuntos:
≤ ≤
A1 =
≤ ≤
(1, 0), (2, 0), (3, 0), (4, 0)
e
|A ∪ A | |A | |A |
A2 =
(0, 1), (0, 2) .
Logo, no total s˜ao 1 2 = 1 + 2 = 6 programas distintos, entre os quais Pedro V´ıtor ter´a que escolher um. Exemplo 3.2. Numa reuni˜ao havia um certo n´umero de pessoas e todos os presentes apertaram as m˜aos entre si. Sabendo-se que ao todo foram feitos 66 cumprimentos, calcule o n´umero de pessoas presentes `a reuni˜ao.
P
Solu¸c˜ ao. Vamos enumerar as pessoas com os n´umeros do conjunto = 1, 2, . . . , n . A cada aperto de m˜ao associaremos um par (i, j), significando que a pessoa i apertou a m˜ao da pessoa j. Assim, os apertos de m˜ ao envolvendo a pessoa 1 foram:
{
}
A1 = {(1, 2), (1, 3), . . . , (1, n)}.
i
i i
i
i
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i
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71
[SEC. 3.1: PRINC´IPIO ADITIVO DE CONTAGEM
Do mesmo modo, definimos os apertos de m˜ao envolvendo a pessoa 2 que n˜ao envolvem a pessoa 1, como:
A2 = {(2, 3), (2, 4), . . . , (2, n)}. Note que o aperto (2, 1) ´e o mesmo que o aperto (1, 2), j´ a que se 1 aperta a m˜ao de 2, ent˜ao 2 aperta a m˜ao de 1. Analogamente,
A = {(i, i + 1), (i, i + 2), . . . , (i, n)}, para 1 ≤ i ≤ n. Note que A ∩ A = ∅ para i = j. Observe tamb´ em que todos os apertos aparecem em um dos conjuntos A . Assim, A1 ∪ · · · ∪ A cont´em todos os i
i
j
i
n
apertos de m˜ao. Logo, pelo Princ´ıpio Aditivo:
|A1 ∪ A2 ∪ · · · ∪ A | = |A1| + |A2| + . . . |A | = (n − 1) + (n − 2) + ·· · + 2 + 1 (n − 1)n = = 66. n
n
2
Resolvendo em n, temos que n = 12. Vimos que o princ´ıpio aditivo nos fornece o n´umero de elementos de qualquer uni˜ao de conjuntos dois a dois disjuntos. Discutiremos agora uma extens˜ao do princ´ıpio para qualquer uni˜ao de conjuntos, n˜ ao necessariamente dois a dois disjuntos. Proposi¸c˜ao 3.3. Considere
A1 e A2 dois conjuntos arbitr´ arios, ent˜ ao: |A1 ∪ A2| = |A1| + |A2|−|A1 ∩ A2|.
Demonstra¸ cao. ˜ Observe que
A1 ∪ A2 = ( A1 − A2) ∪ A2 onde a uni˜ao ´e dois a dois disjunta. Pelo principio aditivo, temos que
|A1 ∪ A2| = |A1 − A2| + |A2|.
(3.1)
Analogamente, aplicando novamente este pric´ıpio, temos que
|A1| = |A1 − A2| + |A1 ∩ A2|;
(3.2)
A Proposi¸c˜ao segue imediatamente combinando as igualdades (3.1) e (3.2).
i
i i
i
i
i
i
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[CAP. 3: CONTAGEM
Para chegar a uma express˜ao an´aloga `a do princ´ıpio aditivo, vamos fazer mais um caso, considerando agora trˆ es conjuntos.
A1, A2 e A3 trˆes conjuntos quaisquer. Ent˜ ao, |A1 ∪ A2 ∪ A3| =|A1| + |A2| + |A3| − |A1 ∩ A2| + |A1 ∩ A3| + |A2 ∩ A3| + |A1 ∩ A2 ∩ A3 |.
Corol´ ario 3.4. Considere
Demonstra¸ cao. ˜ Pela Proposi¸c˜ao 3.3 temos que,
|A1 ∪ (A2 ∪ A3)| = |A1| + |A2 ∪ A3|−|A1 ∩ (A2 ∪ A3)|, de onde,
|A1 ∪ A2 ∪ A3| = |A1| + |A2 ∪ A3| − |(A1 ∩ A2) ∪ (A1 ∩ A3)|. Novamente, pela Proposi¸c˜ao 3.3 temos que,
|A1 ∪ A2 ∪ A3| = |A1| + |A2| + |A3|−|A2 ∩ A3| − |(A1 ∩ A2) ∪ (A1 ∩ A3)|. Aplicando mais uma vez a Proposi¸ca˜o 3.3 temos que,
|(A1 ∩ A2) ∪ (A1 ∩ A3)| = |A1 ∩ A2| + |A1 ∩ A3| − |(A1 ∩ A2) ∩ (A1 ∩ A3). Combinando as duas ´ultimas igualdades obtemos
|A1 ∪ A2 ∪ A3| =|A1| + |A2| + |A3| − |A1 ∩ A2| + |A1 ∩ A3| + |A2 ∩ A3| + |A1 ∩ A2 ∩ A3 | ,
como desej´avamos.
AA
A
Para facilitar nossa escrita, vamos denotar por 1 2 . . . k o conjunto ario 3.4 ´e a k . Assim, outra forma de enunciar o Corol´ 1 2 seguinte:
A ∩ A ∩ ·· · ∩ A
A |A | − 3
3
i
i=1
=
i
i=1
1≤i1
|A A | + i1
i2
1≤i1
|A A A |. i1
i2
i3
i
i i
i
i
i
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73
[SEC. 3.1: PRINC´IPIO ADITIVO DE CONTAGEM
De forma geral, dados conjuntos nos levam a definir os n´umeros:
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A1, A2, . . . , A
n,
as express˜oes anteriores
n
S 1 =
|A | |A A | |A A i
i=1
S 2 =
i1
i2
,
1≤i1
.. . S k =
i1
1≤i1
.. . S n =
i2
...
A |, ik
|A1A2 . . . A |. n
Assim, a vers˜ao mais geral do princ´ıpio aditivo, tamb´em conhecida como princ´ıpio de inclus˜ ao e exclus˜ ao, ´e: Princ´ıpio Aditivo - Vers˜ ao Geral: Dados quaisquer conjuntos A1 , A2 . . . , An , vale:
n
i=1
Ai = S 1
− S 2 + S 3 − S 4 + · · · + (−1) −1S . n
n
N˜ ao iremos provar essa vers˜ a o, mas o leitor pode (e deve!) mostr´a-la como exerc´ıcio, repetindo os argumentos anteriores. Vamos agora a uma aplica¸ca˜o: Exemplo 3.5. Num col´ egio foram entrevistados 78 estudantes. Destes, 32 estavam fazendo um curso de francˆ es; 40 um curso de f´ısica; 30 um curso de matem´atica; 23 um curso de hist´oria; 19 francˆes e f´ısica; 13 francˆes e matem´atica; 15 f´ısica e matem´atica; 2 francˆes e hist´oria; 15 f´ısica e hist´oria; 14 matem´atica e hist´oria; 8 francˆes, f´ısica e matem´atica; 8 francˆes, f´ısica e hist´oria; 2 francˆes, matem´atica e hist´oria; 6 f´ısica, matem´atica e hist´oria e 2 estavam fazendo todos os quatro cursos. Quantos estudantes estavam fazendo pelo menos 1 curso nas 4 ´areas mencionadas?
i
i i
i
i
i
i
74
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[CAP. 3: CONTAGEM
Solu¸c˜ ao. Denotemos por 1 , 2 , 3 , e 4 os conjuntos dos estudantes que fazem francˆes, f´ısica, matem´atica e hist´oria, respectivamente. Observemos que as igualdades
A A A
A
|A1| = 32, |A2| = 40, |A3| = 30, |A4| = 23, 4
nos d˜ao que S 1 =
|A | i
= 125; as igualdades
i=1
|A1A2| = 19, |A1A3| = 13, |A1A4| = 2, |A2A3| = 15, |A2A4| = 15, |A3A4| = 14, nos d˜ao que S 2 =
1≤i1
|A A | = 78; as igualdades i1
i2
|A1A2A3| = 8, |A1A2A4| = 8, |A1A3A4| = 2, |A2A3A4| = 6, nos d˜ao que S 3 =
1≤i1
|A1A2A3A4| = 2.
|A A A | = 24; assim como que S 4 i1
i2
i3
Segue-se ent˜ao, do princ´ıpio aditivo, que 69.
A
=
4
i
i=1
= 125
− 78 + 24 − 2 =
i
i i
i
i
i
i
75
[SEC. 3.1: PRINC´IPIO ADITIVO DE CONTAGEM
Defini¸ ca ˜o 3.6. Definimos o complementar do conjunto conjunto como sendo um subconjunto de dado por
U
A
c
=
U x ∈ U ; x ∈ /A
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A em rela¸ca˜o ao
.
U A Figura 3.1: A a´rea pintada de verde corresponde a sentado por todo o retˆ angulo.
Neste caso ´e f´acil verificar que os conjuntos c = . Segue-se do princ´ıpio aditivo que
U A ∪ A
c
A
e o conjunto
U ´e repre-
c
A e A s˜ao disjuntos e que |U| = |A| + |A |; portanto, c
c
|A | = |U|−|A|. Analogamente, dados dois conjuntos A1 ⊂ U e A2 ⊂ U , temos que A1 ∪A2 e (A1 ∪A2 ) s˜ao disjuntos e, ali´as, U = ( A1 ∪A2 ) ∪ (A1 ∪A2 ) . Novamente, c
c
pelo do princ´ıpio aditivo, vale que
c
|U| = |A1 ∪ A2| + |(A1 ∪ A2) |; e conseq¨ uentemente temos que c
|(A1 ∪ A2) | = |U|− (|A1| + |A2|) + |A1A2|. Similarmente, dados trˆes conjuntos A1 ⊂ U , A2 ⊂ U e A3 ⊂ U podemos demonstrar que
c
|(A1 ∪ A2 ∪ A3) | = |U|− (|A1| + |A2| + |A3|) + (|A1 A2 | + |A1 A3 | + |A2 A3 |) − |A1A2A3|. Ent˜ao, usando a nota¸c˜ao S 0 = |U|, temos a seguinte proposi¸c˜ao:
i
i i
i
i
i
i
76
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[CAP. 3: CONTAGEM
Proposi¸c˜ao 3.7. Para toda fam´ılia de subconjuntos Ai vale a rela¸cao: ˜
n
i=1
c
⊂ U , i = 1, 2, . . . , n,
− S 1 − S 2 + S 3 − S 4 − · · · + (−1) −1S = S 0 − S 1 + S 2 − S 3 + S 4 − · · · + (−1) S ,
Ai
= S 0
n
n
n
n
ou resumidamente,
i=1
c
n
Ai
n
=
c
c
c n
|A1A2 · · · A | =
−
( 1)j S j .
j =0
Observa¸c˜ao 3.8. Observemos que na ´ultima rela¸c˜ao da proposi¸ c˜ao usamos a conhecida lei de Morgan: o complementar da uni˜ao de uma familia finita conjuntos, em rela¸ca˜o a um conjunto , ´e a intersec¸c˜ao dos complementares de cada um deles.
U
3.2
Princ´ıpio Multiplicativo de Contagem
Come¸camos esta se¸ca˜o discutindo um problema relacionado com o apaixonante jogo de xadrez. O mesmo consiste no seguinte: queremos saber de quantas maneiras diferentes podemos colocar duas torres num tabuleiro de xadrez de forma tal que nenhuma ataque a outra. Uma situa¸c˜ao como a que procuramos ´e mostrada na Figura 3.2, pois lembramos que torres s´o se movimentam na dire¸ca˜o horizontal ou na dire¸c˜ao vertical do tabuleiro. Antes de prosseguir deixamos claro o seguinte: se na Figura 3.2 trocamos a posi¸ca˜o da torre a com a torre b consideraremos isto como uma situa¸c˜ao diferente. Notemos o seguinte: uma vez que coloquemos uma das torres numa casa do tabuleiro n˜ao podemos colocar a segunda torre na mesma linha ou coluna em que esta se encontra, pois ela seria amea¸cada. Como cada linha e cada coluna cont´ em 8 casas do tabuleiro, sendo uma delas comum a ambas, ent˜ao temos 15 posi¸c˜oes proibidas para colocar a segunda torre, ou seja, ela s´o pode ser colocada em 64 15 = 49 posi¸co˜es diferentes. Resumindo, por cada uma das 64 poss´ıveis posi¸co˜es para a torre a temos 49 possibilidades diferentes para colocar a torre b, totalizando 64 49 = 3136 formas diferentes de colocar ambas as torres no tabuleiro sem que elas se ataquem.
−
·
i
i i
i
i
i
i
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77
[SEC. 3.2: PRINC´IPIO MULTIPLICATIVO DE CONTAGEM
a
b
Figura 3.2:: O exemplo acima traz a essˆencia do que ´e chamado princ´ıpio multiplicativo da contagem : se um evento 1 pode ocorrer de m maneiras distintas e, se para cada uma dessas m maneiras poss´ıveis de 1 ocorrer, um outro evento 2 pode ocorrer de n maneiras distintas, ent˜ao o n´ umero de maneiras de ocorrerem sucessivamente os eventos 1 e 2 ´e m n. Na linguagem matem´atica: dados dois conjuntos 1 e 2 , temos que
A
A
A
A A A A |A1 × A2| = |A1| |A2|.
·
Uma extens˜ao deste princ´ıpio para um n´umero finito qualquer de con juntos ´e a seguinte: Princ´ıpio Multiplicativo da Contagem: Dados os conjuntos . . . , n temos que
A
A1, A2,
|A1 × A2 × · · · × A | = |A1|·|A2|···|A |. n
n
Note que neste princ´ıpio, n˜ao ´e necess´aria nenhuma hip´otese adicional sobre os conjuntos i . Vamos agora dar alguns exemplos de como aplicar esse princ´ıpio.
A
Exemplo 3.9. Em Macei´o entraram em cartaz 4 filmes distintos e 2 pe¸cas de teatro. Se agora o Pedro V´ıtor tem dinheiro para assistir exatamente a um filme e a uma pe¸ca de teatro, diga quantos s˜ao os poss´ıveis programas que Pedro V´ıtor pode fazer.
i
i i
i
i
i
i
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[CAP. 3: CONTAGEM
Solu¸c˜ ao. Denotemos por f 1 , f 2 , f 3 e f 4 os quatro filmes que est˜ao em cartaz e por t1 e t2 as duas pe¸cas de teatro. Definamos os conjuntos
A1 = {f 1, f 2, f 3, f 4}
e
A2 = {t1, t2}.
Neste caso, as condi¸co˜es econˆomicas do Pedro V´ıtor permitem que ele escolha um elemento do conjunto 1 e outro elemento do conjunto 2 . Este tipo de escolha representa-se pelo conjunto
A
A1 × A2 =
A
(f i , tj ); 1
≤i≤4
e 1
≤j≤2
,
onde cada par (f i , tj ) representa o programa que consiste em assistir ao filme f i e `a pe¸ca tj . Logo, no total s˜ao 1 2 = 1 2 = 8 programas distintos.
|A × A | |A | · | A |
Exemplo 3.10. Se numa loja de doces existem 9 tipos distintos de balas e 5 tipos distintos de chiclete, diga quantas escolhas podemos fazer para comprar somente uma bala e um chiclete. Solu¸c˜ ao. Denotemos por b1 , b2 , b3 , b4 , b5 , b6 , b7 , b8 e b9 os nove tipos distintos de balas e por c1 , c2 , c3 , c4 e c5 os cinco tipos distintos de chicletes. Definamos os conjuntos
B = {b1, b2, b3, b4, b5, b6, b7, b8, b9}
e
C = { c1 , c 2 , c 3 , c 4 , c 5 } .
Como precisamos comprar simultaneamente um elemento do conjunto e um elemento do conjunto , ent˜ao o conjunto me d´a o conjunto de todas as escolhas poss´ıveis. Logo, o n´umero de escolhas poss´ıveis para comprar simultaneamente um tipo de bala e um tipo de chiclete ´e = 9 5 = 45.
C
B
B ×C
|B×C|
·
Exemplo 3.11. O alfabeto Portuguˆes ´e formado por 5 vogais e 18 consoantes. Suponha que uma s´ılaba do alfabeto esteja formada por uma ´unica consoante seguida de uma ´unica vogal. Diga quantas s´ılabas tem nosso alfabeto. Solu¸c˜ ao. Considere os conjuntos,
V ={ a, e, i, o, u }, C ={ b, c, d, f, g, h, j, l, m, n, p, q, r, s, t, v, x, z }.
i
i i
i
i
i
i
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79
[SEC. 3.2: PRINC´IPIO MULTIPLICATIVO DE CONTAGEM
Uma s´ılaba, pela defini¸c˜ao dada no nosso problema, ´e formada por uma u ´ nica consoante seguida de uma ´unica vogal. Assim, o conjunto de todas as s´ılabas de nosso alfabeto ´e formado pelo conjunto . Como = 18 e = 5, segue-se que o n´umero de s´ılabas poss´ıveis ´e 18 5 = 90.
C × V ·
|V|
|C|
Exemplo 3.12. De quantas maneiras 2 pessoas podem estacionar seus carros numa garagem com 10 vagas? Solu¸c˜ ao. Observando que a primeira pessoa pode estacionar seu carro de 10 formas distintas e que a segunda pessoa pode estacionar seu carro de 9 formas distintas, temos pelo princ´ıpio multiplicativo que existem 9 10 = 90 formas poss´ıveis nas quais duas pessoas podem estacionar seus carros numa garagem com 10 vagas.
·
Exemplo 3.13. Dado o n´ umero 720, diga (a) quantos divisores inteiros e positivos ele possui; (b) dentre seus divisores inteiros e positivos, quantos s˜ao pares; (c) dentre seus divisores inteiros e positivos, quantos s˜ao ´ımpares; (d) dos divisores acima aludidos quantos s˜ao quadrados perfeitos. Solu¸c˜ ao. Pelo Teorema Fundamental da Aritm´ etica, todo n´umero inteiro positivo ´e primo ou produto de primos. Observe que a decomposi¸ca˜o de 720 em fatores primos vem dada por: 720 = 24 32 51 .
(3.3)
· ·
Agora definamos os seguintes conjuntos:
A ={ todos os divisores de 720 que s˜ao da forma 2 , onde k ∈ Z+}, B ={ todos os divisores de 720 que s˜ao da forma 3 , onde m ∈ Z+}, C ={ todos os divisores de 720 que s˜ao da forma 5 , onde n ∈ Z+}. Observemos que 0 ≤ k ≤ 4, pois se k > 4 ent˜ao pelo menos a potˆencia 25 deveria estar presente em (3.3); como isto n˜ao acontece segue-se que 0 ≤ k ≤ 4, de modo que A = 20, 21, 22, 23, 24 , k
m n
i
i i
i
i
i
i
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[CAP. 3: CONTAGEM
seguindo o mesmo racioc´ınio, podemos demonstrar que 0 0 n 1. Assim,
≤ ≤
B=
30 , 31 , 32
C=
e
≤ m ≤ 2 e que
50 , 51 .
(a) O conjunto de todos os poss´ıveis divisores de 720 vem dado pelo con junto . De onde o n´ umero de divisores inteiros e positivos de 720 ´e . Por´em, o Princ´ıpio Multiplicativo nos garante que = . Portanto, o n´ umero de divisores inteiros e positivos de 720 ´e 5 3 2 = 30, pois = 5, =3 e = 2.
A×B×C |A×B×C| |A×B×C| |A|·|B|·|C| × ×
|A|
|B|
|C|
(b) Para obter o conjunto de todos os divisores pares de 720 devemos remover o elemento 2 0 do conjunto . Assim, o conjunto de todos os divisores pares e positivos de 720 vem dado pelo conjunto 20 . O princ´ıpio multiplicativo nos garante que 20 = 0 2 . Portanto, o n´umero de divisores pares e positivos de 720 ´e 4 3 2 = 24, pois 20 = 4, =3e = 2.
A
B×C A − { } ·|B|·|C| × ×
A − { }
A−{ }A−×B×C{ } ×
|B|
|C|
(c) Para obter o conjunto de todos os divisores ´ımpares de 720 devemos remover os elementos 2 1 , 22 , 23 e 24 do conjunto . Assim, o con junto de todos os divisores ´ımpares e positivos de 720 vem dado pelo conjunto 21 , 22 , 23 , 24 .
A
A − { } × B × C } × B × C A − { } ·|B|·|C| ×× } |B| |C|
O princ´ıpio multiplicativo nos garante que
A − { A − {
21 , 22 , 23 , 24
=
21 , 22 , 23 , 24
.
Portanto, o n´umero de divisores ´ımpares e positivos de 720 ´e 1 3 2 = 6; pois 21 , 22 , 23 , 24 = 1, =3e = 2. (d) Para obter o conjunto de todos os divisores de 720 que s˜ao quadrados perfeitos devemos ficar com as potˆencias pares nos conjuntos , e , respectivamente. Portanto, devemos remover os elementos 2 1 , 23 do conjunto . Tamb´em devemos remover o elemento 3 1 do conjunto . Finalmente do conjunto devemos remover o elemento 5 1 . Logo, o conjunto de todos os divisores quadrados perfeitos e positivos de 720 vem dado pelo conjunto
C B
AB
A
C
D := A − {21, 23} × B − {31} × C −{51} .
i
i i
i
i
i
i
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81
[SEC. 3.2: PRINC´IPIO MULTIPLICATIVO DE CONTAGEM
O princ´ıpio multiplicativo nos garante que
D A − { A − { { =
} B − { } }
21 , 23
} · B − {31} · C −{51} .
Portanto, o n´ umero de divisores quadrados perfeitos e positivos de 720 ´e 3 2 1 = 6; pois 21 , 23 = 3, 31 = 2 e 31 = 1. Observe que 1, 4, 9, 16, 36, 144 ´e o conjunto dos divisores de 720 que s˜ao quadrados perfeitos.
· ·
C − { }
Exemplo 3.14. Se um n´ umero natural n se fatora como n = pk1 pk2 1
·
2
·· · p
kr r ,
onde os pi s˜ao n´ umeros primos distintos e cada ki divisores positivos de n,denotado por d(n) ´e
(3.4)
∈ Z+, ent˜ao o n´umero de
d(n) = (k1 + 1)(k2 + 1) . . . (kr + 1). Solu¸c˜ ao. Defina o conjunto m1
A1 ={ todos os divisores de n que s˜ao da forma p1
, onde m
∈ Z+ },
e em geral, defina mi i
A ={ todos os divisores de n que s˜ao da forma p , onde t ∈ Z+ }. Observemos que m ≤ p , pois se m > p , ent˜ao pelo menos a potˆencia p +1 deveria estar presente em (3.4); como isto n˜ao acontece segue-se que m ≤ p , de modo que A = p0, p1, p2, . . . , p , para i = 1, 2, 3, . . . , k . ´ imediato ver que A = k + 1. E O conjunto de todos os poss´ıveis divisores de n vem dado pelo conjunto A1 × A2 × · · · × A . De onde se conclui que o n´umero de divisores inteiros i
i
ki i i
i
i
i
i
i
i
i
i
ki i
i
i
i
r
e positivos de n ´e
d(n) =
|A1 × A2 × · · · × A | = |A1|·|A2|···|A |, r
r
i
i i
i
i
i
i
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[CAP. 3: CONTAGEM
onde na u ´ ltima igualdade usamos o Princ´ıpio Multiplicativo. Portanto, o n´umero de divisores inteiros e positivos de n ´e d(n) = (k1 + 1)(k2 + 1) . . . (kr + 1).
Exemplo 3.15. De quantas maneiras podemos escolher dois inteiros de 1 a 20 de forma que a soma seja ´ımpar? Solu¸c˜ ao. Observemos que
• A soma de dois n´umeros inteiros pares ´e um n´umero par. Com efeito, para quaisquer a, b ∈ Z temos que 2a + 2b = 2(a + b); • A soma de dois n´umeros inteiros ´ımpares ´e um n´umero par. Com efeito, para quaisquer a, b ∈ Z temos que (2a + 1) + (2b + 1) = 2(a + b + 1);
• A soma de um n´umero inteiro par com qualquer outro inteiro ´ımpar sempre ´e um inteiro ´ımpar. Com efeito, para quaisquer a, b ∈ Z temos que 2a + (2b + 1) = 2(a + b) + 1.
Isto nos sugere definir os conjuntos
P = {2, 4, 6, 8, 10, 12, 14, 16, 18, 20}, I = {1, 3, 5, 7, 9, 11, 13, 15, 17, 19}, P × I |P × I| |P|·|I|
onde s˜ao todas as formas poss´ıveis de somar um n´umero inteiro par com outro ´ımpar. O princ´ıpio multiplicativo nos garante que nossa resposta ´e = = 100, pois = = 10.
3.3
|P| |I|
Uso simultˆ aneo dos Princ´ıpios Aditivo e Multiplicativo
Aproveitamos esta se¸ca˜o para apresentar problemas um pouco mais dif´ıceis que os tratados nas se¸co˜es anteriores. Nestes problemas, precisaremos empregar simultaneamente o princ´ıpio aditivo e o princ´ıpio multiplicativo. Vamos ao primeiro deles:
i
i i
i
i
i
i
ˆ [SEC. 3.3: USO SIMULTANEO DOS PRINC´IPIOS ADITIVO E MULTIPLICATIVO
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83
Exemplo 3.16. Sabemos que no in´ıcio da premia¸c˜ao da 1a fase da Olimp´ıada ´ Alagoana de Matem´atica existem 10 livros diferentes de Algebra, 7 livros diferentes de Combinat´oria e 5 livros diferentes de Geometria para homenagear os vencedores. Danielle ´e a primeira a pegar o prˆ emio que consiste em 2 livros, com a condi¸c˜ao de que estes n˜ao podem ser da mesma mat´eria. Diga quantas escolhas Danielle pode fazer para pegar seu prˆemio. Solu¸c˜ ao. Denotemos por = a1 , . . . , a10 , = c1 , . . . , c7 e = g1 , . . . , g5 , os conjuntos de ´ livros de Algebra, Combinat´oria e Geometria, respectivamente. Observemos que = 10, =7e = 5 e Danielle tem as seguintes possibilidades de escolha:
A { |A|
} C { |C| |G|
} G {
}
• Escolher um livro de A e um livro de C . Neste caso, Danielle tem |A×C| = |A|·|C| = 70 escolhas poss´ıveis (devido ao Princ´ıpio Multiplicativo).
• Escolher um livro de A e um livro de G . Neste caso, Danielle tem |A×G| = |A|·|G| = 50 escolhas poss´ıveis (devido ao Princ´ıpio Multiplicativo) ou
• Escolher um livro de C e um livro de G . Neste caso, Danielle tem |C × G| = |C|·|G| = 35 escolhas poss´ıveis (devido ao Princ´ıpio Multiplicativo).
Agora o Princ´ıpio aditivo nos garante que o n´umero total de escolhas que Danielle pode fazer ´e 70 + 50 + 35 =155. Exemplo 3.17. H´ a 18 mo¸cas e 12 rapazes, onde 5 deles s˜ao irm˜aos (3 mo¸cas e 2 rapazes) e os restantes n˜ao possuem parentesco. Diga quantos casamentos s˜ao poss´ıveis naquela turma (sabendo que irm˜aos n˜ao se casam). Solu¸c˜ ao. Observemos que 15, dentre as 18 mo¸cas, n˜ao tˆem parentesco nenhum com os 12 rapazes, logo, pelo Princ´ıpio Multiplicativo temos que ´e poss´ıvel efetuar 15 12 = 180 casamentos diferentes entre eles. Por outro lado, as 3 mo¸cas restantes podem efetuar casamento com 10 dos 12 rapazes, pois 2 deles s˜ao seus irm˜aos. Novamente, pelo Princ´ıpio Multiplicativo ´e poss´ıvel realizar 3 10 = 30 casamentos diferentes neste caso. Finalmente, o Princ´ıpio Aditivo nos d´a que podem ser realizados um total de 180+30 = 210 casamentos.
·
·
i
i i
i
i
i
i
84
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[CAP. 3: CONTAGEM
Exemplo 3.18. Quantas palavras de 5 caracteres podem ser formadas com as letras α, β e γ de modo que em cada palavra n˜ao falte nenhuma dessas letras? Solu¸c˜ ao. Definamos os seguintes conjuntos,
U :={ palavras de 5 caracteres s´o com as letras α, β e γ }; A :={ palavras que est˜ao em U e onde n˜ao aparece a letra α}; A :={ palavras que est˜ao em U e onde n˜ao aparece a letra β }; A :={ palavras que est˜ao em U e onde n˜ao aparece a letra γ }. α β γ
Por exemplo,
• a palavra γγγγγ ∈ A ∩ A • a palavra γααγα ∈ A ; • a palavra βαβββ ∈ A .
β;
α
β
γ
U
Primeiramente, notemos que cada caracter de pode ser escolhido de 3 formas distintas. Segue-se ent˜ ao do Princ´ıpio Multiplicativo que existem 35 formas de escrever uma palavra de 5 caracteres usando um alfabeto de 3 letras, isto ´e, S 0 = = 3 5 = 243.
|U|
|A |
Calculemos agora α , isto ´e, o n´ umero de palavras onde n˜ao aparece a letra α. Para isto, observemos que cada caracter em α pode ser escolhido de 2 formas. Logo, o Princ´ıpio Multiplicativo nos garante que existem 2 5 palavras em α , ou seja, α = 25 . Analogamente, podemos mostrar que 5 β = γ = 2 . Portanto,
|A | |A |
A
A
|A |
|A | + |A | + |A | = 25 + 25 + 25 = 96. Prosseguimos com o c´alculo de |A A |, isto ´e, do n´umero de palavras onde n˜ao aparecem as letras α e β ; portanto, cada caracter em A A pode ser escolhido de 1 forma. Logo, o Princ´ıpio Multiplicativo nos garante que existem 15 = 1 palavra em A A , ou seja, |A A | = 1. Similarmente, podemos mostrar que |A A | = |A A | = 1. Portanto, S 2 = |A | + |A | + |A | = 3. S 1 =
α
β
γ
α
β
α
α
α
γ
β
α
β
α
β
β
γ
β
γ
i
i i
i
i
i
i
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85
˜ [SEC. 3.4: PERMUTAC ¸ OES SIMPLES
Por fim, achamos α β γ , que nos d´a o n´ umero de palavras onde n˜ao aparecem as letras α, β e γ ; mas cada palavra em α β γ tem que usar pelo menos um dos caracteres proibidos. Logo,
|A A A |
S 3 =
AAA
|A A A | = 0. α
β
γ
Finalmente, observamos que o conjunto das palavras de 5 caracteres que podem ser formadas com as letras α, β e γ de modo que em cada palavra n˜ao falte nenhuma dessas letras ´e exatamente o conjunto cα cβ cγ . Usando a Proposi¸ca˜o 3.7, temos:
AAA
c α
c β
c γ
|A A A | =S 0 − S 1 + S 2 − S 3 =243 − 96 + 3 − 0 =150.
3.4
Permuta¸ c˜ oes Simples
Defini¸ ca ˜o 3.19. Uma permuta¸c˜ao simples de n objetos distintos ´e qualquer agrupamento ordenado desses n objetos. Denotaremos por P n o n´umero de todas as permuta¸c˜oes simples de n objetos dados.
{
Por exemplo, todas as permuta¸co˜es dos 3 elementos do conjunto a1 , a2 , a3 s˜ao:
}
σ1 σ2 σ3 σ4 σ5 σ6
A=
= (a1 , a2 , a3 ), = (a1 , a3 , a2 ), = (a2 , a1 , a3 ), = (a2 , a3 , a1 ), = (a3 , a1 , a2 ), = (a3 , a2 , a1 ).
≥ }
Proposi¸c˜ ao 3.20. Seja n 1. O n´ umero total de permuta¸coes ˜ simples de n objetos = o1 , o2 , . . . , on ´e dado por P n = n!
O {
i
i i
i
i
i
i
86
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[CAP. 3: CONTAGEM
´ claro que a f´ormula vale para n = 1. Vejamos agora que Demonstra¸ cao. ˜ E existe a seguinte rela¸c˜ao entre P n e P n−1 para n 2:
≥
P n = nP n−1 .
(3.5)
Para comprovar isto, para cada i definamos i como sendo as permuta¸co˜es dos n 1 objetos o1 , . . . , oi−1 , oi+1 , . . . , on . Note que i = P n−1 , para cada i = 1, 2, . . . , n. Assim, para obtermos uma permuta¸ca˜o dos n objetos, basta que fixemos o objeto inicial oi e tomemos um elemento do conjunto i , que ´e uma permuta¸ca˜o dos n 1 objetos restantes. Pelo princ´ıpio aditivo, temos que: P n = 1 + 2 + + n = nP n−1 .
−
A }
{
|A |
A
− |A | |A | · · · |A | Como nossa equa¸c˜ao (3.5) ´e v´alida para todo n ≥ 2, podemos aplic´a-la para n − 1, obtendo: P −1 = (n − 1)P −2 , n
n
de onde vem que P n = n(n
− 1)P −2. n
Repetindo este argumento, obtemos que P n = n(n
− 1)(n − 2) · ·· 3 · 2 · 1 = n!,
como quer´ıamos demonstrar. Exemplo 3.21. De quantas maneiras podemos formar uma fila com 4 pessoas? Demonstra¸ cao. ˜ Observe que se enumeramos os lugares da fila e enumeramos as pessoas, pa , pb , pc , pd , cada distribui¸ca˜o vai corresponder a uma permuta¸c˜ao do conjunto 1, 2, 3, 4 . Por exemplo, a distribui¸c˜ao ( pc , pa , pb , pd ) corresponde `a permuta¸c˜ao (3, 1, 2, 4). Assim, o n´ umero de distribui¸co˜es na fila ´e 4! = 24.
{
}
Exemplo 3.22. De quantas maneiras k mo¸cas e k rapazes podem formar pares para uma dan¸ca? Solu¸c˜ ao. Estando as mo¸cas em uma fila e os rapazes em outra, podemos enumer´a-los com n´umeros de 1, 2, . . . , k. A uma permuta¸c˜ao desses n´umeros, digamos (a1 , a2 , . . . , ak ) com ai 1, 2, . . . , k faremos uma associa¸ca˜o da mulher i com o rapaz ai . Por exemplo, a permuta¸c˜ao (2, 1, 3, . . . , k) significa
∈{
}
i
i i
i
i
i
i
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87
[SEC. 3.5: ARRANJOS SIMPLES
que a mo¸ca 1 dan¸car´ a com o rapaz 2, a mo¸ca 2 com o rapaz 1, e a mo¸ca i com o rapaz i, para i 3. Observe que toda associa¸ca˜o de k mo¸cas e k rapazes produz uma permuta¸c˜ao, de modo que o n´umero de associa¸c˜oes poss´ıveis das mo¸cas com os rapazes ´e igual ao n´umero de permuta¸co˜es do conjunto 1, 2, 3, . . . , k . Pela Proposi¸ca˜o 3.20 existem k! modos diferentes de combinar as mo¸cas com os rapazes.
≥
{
3.5
}
Arranjos Simples
Defini¸ ca ˜o 3.23. Consideremos n objetos e p um inteiro positivo tal que 0 < p n. Um arranjo simples de classe p dos n objetos dados ´e uma sele¸ca˜o de p objetos distintos dentre estes que diferem entre si pela ordem de coloca¸c˜ao ou pela natureza de cada um, isto ´e, o que importa ´e quem participa ou o lugar que ocupa. Denotaremos por A pn o n´umero de arranjos simples de classe p de n objetos.
≤
Por exemplo, dados os objetos o1 , o2 e o3 todos os arranjos poss´ıveis de classe 2 s˜ao: 1 = (o1 , o2 ), 2 = (o2 , o1 ), 3 = (o1 , o3 ), 4 = (o3 , o1 ), 5 = (o2 , o3 ) e 6 = (o3 , o2 ).
A A
A
A
A
A
Observa¸c˜ ao 3.24. Notemos que um arranjo simples de classe n de n objetos dados n˜ao ´e mais que uma permuta¸c˜ao desses n objetos. Logo, P n = Ann = n!. Proposi¸c˜ ao 3.25. Seja n 1. O n´ umero total de arranjos simples de n! classe p de n objetos = o1 , o2 , . . . , on ´e dado por A pn = (n− . p)!
O {
≥
}
Demonstra¸ cao. ˜ Para n = 1 a f´ormula ´e obviamente v´alida. Similarmente ao caso das permuta¸co˜es, primeiramente provaremos que para n 2 vale a seguinte igualdade: 1 A pn = nA pn− (3.6) −1 .
≥
A
Agora definimos os conjuntos i como sendo os arranjos simples de classe 1 p 1 dos n 1 objetos o1 , . . . , oi−1 , oi+1 , . . . , on . Note que i = A pn− −1 , para cada i = 1, 2, . . . , n. Assim, para obtermos um arranjo simples de classe p dos n objetos, basta que fixemos o objeto inicial oi e tomemos um
−
−
{
}
|A |
i
i i
i
i
i
i
88
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[CAP. 3: CONTAGEM
elemento do conjunto i , que ´e uma arranjo de classe p 1 dos n 1 objetos restantes. Pelo princ´ıpio aditivo, temos que:
A
−
−
|A1| + |A2| + · · · + |A | = nA −−11. Como nossa equa¸c˜ao (3.6) ´e v´alida para todo n ≥ 2, podemos aplic´a-la para n − 1, obtendo: −2 1 A − −1 = (n − 1)A −2 , A pn =
n
p n
de onde vem que A pn = n(n
p n
p n
− 1)A −−22. p n
Repetindo este argumento sucessivamente, obtemos que
− 1)(n − 2) ·· · (n − ( p − 2))A −−(( −−1)1) = n(n − 1)(n − 2) ·· · (n − p + 2)A1 − +1 . Notemos agora que A1 − +1 = n − p + 1; logo, da igualdade acima segue-se A pn = n(n
p n
p p
n p
n p
que
A pn = n(n n(n = =
− 1)(n − 2) · · · (n − p + 2)(n − p + 1) − 1)(n − 2) · ·· (n − p + 2)(n − p + 1) × (n − p) · · · 1 (n − p) ·· · 1
n! , (n p)!
−
como desej´avamos. Agora vamos dar alguns exemplos de como aparecem problemas pr´aticos que requerem fazer este tipo de c´alculo. O primeiro dele tem a ver com a forma¸c˜ao de palavras diferentes com um conjunto dado de leras. Um anagrama de uma palavra ´e uma transposi¸c˜ao de letras dessa palavra para formar outra palavra. Por exemplo:
• Um anagrama de amor ´e Roma; • Um anagrama de C´elia ´e Alice; • Um anagrama de Caterina ´e Nat´ercia;
i
i i
i
i
i
i
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89
[SEC. 3.5: ARRANJOS SIMPLES
• Um anagrama de Elvis ´e Lives. Exemplo 3.26. Quantos anagramas de p letras distintas podemos formar com um alfabeto de 23 letras, sendo p < 23 ? Solu¸c˜ ao. Claramente nosso problema consiste em achar todos os arranjos de classe p de 23 objetos dados, que neste caso s˜ao as 23 letras do alfabeto. Logo, este n´umero ´e 23! Ak23 = . (23 k)!
−
Exemplo 3.27. De quantos modos 2 pessoas podem se sentar em 5 cadeiras que est˜ao em fila? Solu¸c˜ ao. Este problema ´e equivalente a achar o n´umero total de arranjos de classe 2 de 5 objetos, correspondendo as 5 cadeiras aos 5 objetos e as duas pessoas indicando a ordem do arranjo. Logo, este n´umero ´e dado por A25 =
5! = 20. 3!
A Tabela 3.1 mostra como fazer todas as distribui¸c˜oes poss´ıveis. Na mesma, p1 e p2 denotam as duas pessoas e c1 , c2 , , c5 as 5 cadeiras em fila. Observe que a tabela ´e dividida em 5 grupos de 4 filas cada um, correspondendo o i-´esimo deles (1 i 5) a todos os arranjos poss´ıveis quando a pessoa p1 se senta na cadeira ci .
···
≤ ≤
Exemplo 3.28. Considere os d´ıgitos 2, 3, 4, 5, 7 e 9. Supondo que a repeti¸c˜ao de d´ıgitos n˜ao seja permitida, responda as seguintes perguntas: (a) Quantos n´umeros de trˆes d´ıgitos podem ser formados ? (b) Dentre os achados em (a) quantos s˜ao pares ? (c) Dentre os achados em (a) quantos s˜ao ´ımpares ? (d) Dentre os achados em (a) quantos s˜ao m´ ultiplos de 5 ? (e) Dentre os achados em (a) quantos s˜ao menores do que 400 ?
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i i
i
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[CAP. 3: CONTAGEM
c1 p1 p1 p1 p1 p2
c2 p2
c3
c4
c5
p2 p2 p2 p1 p1 p1 p1
p2 p2
p2 p2 p2 p1 p1 p1 p1
p2 p2 p2
p2 p2 p1 p1 p1 p1
p2 p2 p2 p2
p2 p1 p1 p1 p1
Tabela 3.1: Cada linha da tabela indica uma forma diferente de distribuir as duas pessoas nas 5 cadeiras.
Solu¸c˜ ao. Seja
O = {2, 3, 4, 5, 7, 9} nosso conjunto de ob jetos
(a) A quantidade de n´umeros de trˆes d´ıgitos que podemos formar sem repeti¸ca˜o de algum deles ´e claramente o n´umero de arranjos de classe 3 dos 6 d´ıgitos de , isto ´e,
O
A36 =
6! = 120. 3!
(b) Sabemos que em todo n´umero par o ´ultimo d´ıgito ´e um m´ultiplo de 2, isto ´e, ele acaba em 0, 2, 4, 6 ou 8. Ent˜ ao, em nosso caso as ´unicas possibilidades s˜ a o que o n´u mero termine em 2 ou 4. Supondo que
i
i i
i
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˜ [SEC. 3.6: COMBINAC¸ OES SIMPLES
o u ´ ltimo d´ıgito seja 2, temos que preencher as duas casas restantes com os d´ıgitos pertencentes ao conjunto 2 . Assim, existem 5! 2 2 A|O−{2}| = A5 = 3! = 20 n´ umeros dos achados em (a) que finalizam em 2. De forma an´ aloga, existem A2|O−{4}| = A25 = 5! umeros 3! = 20 n´ dos achados em (a) que finalizam em 4. Logo, dentre os n´umeros achados em (a) existem 20 + 20 = 40 n´umeros pares.
O−{ }
(c) Todo conjunto de n´umeros pode ser dividido em duas classes disjuntas: a classe dos n´ umeros pares e a classe dos n´umeros ´ımpares que pertencem ao mesmo. Segue-se que dentre os n´umeros achados em (a) existem 120 40 = 80 n´ umeros ´ımpares.
−
(d) Todo n´umero m´ ultiplo de 5 acaba em 0 ou 5; no nosso caso temos que a u ´ nica possibilidade para o ´ultimo d´ıgito ´e 5. Assim o problema consiste em preencher as duas casas restantes com d´ıgitos do conjunto 5 . De onde se segue que a quantidade de n´umeros m´ ultiplos de 5 existentes em (a) vem dada por A2|O−{5}| = A25 = 5! = 20. 3!
O −{ }
(e) Para obter os n´umeros menores do que 400 a casa das centenas s´o poder´ a ser ocupada pelos d´ıgitos 1, 2 ou 3. Como 1 / , temos que as u ´ nicas possibilidades em nosso caso s˜a o 2 ou 3. Ent˜ ao, supondo que o primeiro d´ıgito do n´ umero seja 2, devemos preencher duas casas restantes com os d´ıgitos pertencentes a 2 . De forma an´ aloga, existem A2|O−{3}| = A25 = 5! = 20 n´ u meros dos achados em (a) e que 3! come¸cam com 3. Logo, dentre os n´umeros achados em (a) existem 20 + 20 = 40 menores do que 400.
∈O
O−{ }
3.6
Combina¸ c˜ oes Simples
O conceito de combina¸c˜ao simples surge naturalmente quando intentamos responder `a seguinte pergunta: de quantas formas diferentes podemos selecionar p objetos dentro de n objetos dados? Por exemplo, suponha que queremos enfeitar uma festa de anivers´ario com bolas de dois tipos de cores e na loja onde as compraremos existem bolas nas cores azul, verde e vermelha. De quantas formas distintas podemos ´ claro que podemos enfeitar a festa de 3 formas enfeitar nossa festa ? E
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i i
i
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i
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[CAP. 3: CONTAGEM
diferentes: com bolas em azul e verde; com bolas em azul e vermelho ou com bolas em verde e vermelho. Notemos que, ao contr´ario do caso em que trabalhamos com arranjos, quando fazemos uma sele¸c˜a o de duas cores n˜ao estamos interessados na ordem em que elas foram escolhidas. Defini¸ ca ˜o 3.29. Consideremos n objetos e p um inteiro positivo tal que 0 < p n. Uma combina¸c˜ ao simples de classe p dos n objetos dados ´e uma sele¸ca˜o de p objetos distintos dentre estes que diferem entre si apenas pela natureza de cada um, isto ´e, o que importa ´e simplesmente quem participa no grupo selecionado. Denotaremos por pn o n´umero de combina¸co˜es simples de classe p de n objetos.
≤
Proposi¸c˜ ao 3.30. Seja n 1. O n´ umero total de combina¸c˜ oes simples de classe p de n objetos = o1 , o2 , . . . , on ´e dado por pn = p!(nn−! p)! .
≥ O {
}
Demonstra¸ cao. ˜ Veremos a seguir que arranjos simples e combina¸c˜ oes simples de classe p est˜ao estreitamente relacionados. Com efeito, para cada combina¸c˜ao simples formada por p objetos distintos de podemos gerar todos os arranjos simples de classe p formados por estes p objetos. Basta para isto fazer todas as suas permuta¸c˜oes poss´ıveis. Obt´em-se assim p ! arranjos simples diferentes com esses p objetos. Resumindo, para cada combina¸c˜ao simples de classe p formada com p objetos diferentes de podemos fazer p ! arranjos simples diferentes de classe p com estes mesmos objetos; logo, no total, teremos a seguinte rela¸c˜ao:
O
O
p ! de on segue-se que
n n! = A pn = , p (n p)!
−
n n! = . p p!(n p)!
−
Exemplo 3.31. De quantas formas podemos dividir um grupo 5 pessoas em um grupo de duas e outro de trˆes ?
Solu¸c˜ ao. Temos 52 = 25! 3! ! = 10 formas diferentes de escolher duas pessoas do grupo. Por cada uma dessas escolhas o outro grupo de trˆ es pessoas ´e automaticamente determinado; logo, temos 10 possibilidades diferentes de fazer a divis˜ao.
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˜ [SEC. 3.6: COMBINAC¸ OES SIMPLES
Exemplo 3.32. De quantos modos podemos dividir 6 pessoas em: (a) dois grupos de 3 pessoas cada? (b) trˆes grupos de 2 pessoas cada? ` primeira vista, parece que a resposta deve Solu¸c˜ ao. Come¸camos por (a). A n 6! ser 3 = 3! 3! = 20, similarmente ao exemplo anterior. Por´em, aqui h´a um problema pois, devido ao fato de estarmos dividindo em grupos que tˆem a mesma quantidade de pessoas, ent˜ao as permuta¸c˜oes de cada dois grupos formados s˜ao consideradas divis˜oes iguais; logo, devemos dividir o resultado por 2 !, obtendo assim 10 formas diferentes de obter dois grupos com 3 pessoas cada. Para resolver o item (b) seguimos os seguintes passos:
• Primeiramente calcularemos o n´umero de formas poss´ıveis para dividir 6 pessoas em um grupo de 2 e outro grupo de 4; esta quantidade vem dada por 62 = 4!6!2! .
• Agora dividiremos as 4 pessoas restantes em4 um grupo de 2 e outro 4!
grupo de 2; esta quantidade vem dada por
2
=
2! 2! .
6! Pelo princ´ıpio multiplicativo temos que existem 62 42 = (2!) possibilidades de dividir 6 pessoas em 3 grupos com duas pessoas cada. Igualmente ao caso anterior, aqui as permuta¸c˜oes poss´ıveis de cada 3 grupos formados s˜ao consideradas iguais; logo, devemos dividir este ´ultimo resultado por 3 !. Portanto, existem 15 formas diferentes de dividir 6 pessoas em trˆ es grupos de 2 pessoas cada. 3
Exemplo 3.33. Se vocˆe possui 10 amigos, de quantas maneiras vocˆe pode jantar com 2 ou mais deles? Solu¸c˜ ao. Esquematizamos a solu¸ca˜o da seguinte maneira:
• Primeiramente, vamos encontrar a quantidade de10maneiras pelas quais vocˆe pode jantar com 2 amigos; isto ´e feito de
2
formas diferentes.
• Depois, vamos encontrar a quantidade de 10maneiras pelas quais vocˆe pode jantar com 3 amigos; isto ´e feito de
3
formas diferentes.
• Em seguida, encontramos a quantidade de 10maneiras pelas quais vocˆe pode jantar com 4 amigos; isto ´e feito de
4
formas diferentes.
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i i
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[CAP. 3: CONTAGEM
• Em geral, o n´umero de maneiras diferentes que vocˆ e tem de jantar 10
com p amigos ´e dado por
p
.
Pelo Princ´ıpio Aditivo, temos que a quantidade de formas diferentes que vocˆ e tem de jantar com 2 ou mais de seus amigos, ´e dada por:
· ·· 10 10 + + 2 3
+
10 10 + 9 10
= 1013.
Exemplo 3.34. De um grupo de 10 pessoas das quais 4 s˜ao mulheres, quantas comiss˜oes de 5 pessoas podem ser formadas de modo que pelo menos uma mulher fa¸ca parte? Solu¸c˜ ao. Sendo que o grupo tem 10 pessoas e 4 destas s˜ao mulheres, seguese que no grupo temos 6 homens. Para formar um grupo de 5 pessoas com pelo menos uma mulher, temos as seguintes alternativas:
• Nosso grupo ´e composto por uma mulher e 4 homens; neste caso poder4 6 emos formar
1
4
= 60 comiss˜oes de 5 pessoas.
• Nosso grupo ´e 4composto por 2 mulheres e 3 homens; neste caso poder6 emos formar
2
3
= 120 comiss˜ oes de 5 pessoas.
• Nosso grupo ´e 4composto por 3 mulheres e 2 homens; neste caso poder6 emos formar
3
2
= 60 comiss˜oes de 5 pessoas.
• Nosso grupo ´e composto por 4 mulheres e um homem; 4 6 poderemos formar
4
1
neste caso
= 6 comiss˜oes de 5 pessoas.
Pelo princ´ıpio aditivo temos que ´e poss´ıvel formar 246 comiss˜oes de 5 pessoas de modo que pelo menos uma mulher fa¸ca parte.
3.7
Contagem e Probabilidades
Uma das aplica¸c˜oes interessantes da contagem de elementos de um conjunto ´e quando desejamos estudar a probabilidade de eventos aleat´o rios. Por exemplo, se lan¸carmos um dado de seis faces, temos os seguintes resultados poss´ıveis: Ω = 1, 2, . . . , 6 .
{
}
i
i i
i
i “Livro˙Olimpiada˙
i
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[SEC. 3.7: CONTAGEM E PROBABILIDADES
Se desejamos saber qual ´e a chance de que ocorra um n´umero primo no lan¸camento, devemos contar quantos primos aparecem em 1, 2, 3, 4, 5, 6 e dividir por 6. Ou seja, a chance de ocorrer um n´umero primo num lan¸camento de um dado de seis faces ´e 3/6 = 0, 5. Em geral, definimos ent˜ao a probabilidade de um subconjunto Ω como
{
}
A⊂
A
p( ) =
|A| . |Ω|
Tamb´ em chamamos o subconjunto Ω de todos os resultados poss´ıveis de espa¸co amostral e um subconjunto de Ω de evento. Por exemplo, podemos calcular a probabilidade de escolhermos um n´umero par no conjunto 1, 2, 3, . . . , 15. Neste caso, o conjunto Ω est´a claro e ´e igual a Ω = 1, 2, 3, . . . , 15 . O conjunto ´e = 2, 4, 6, . . . , 14 . Logo,
A
A A {
{
}
A
p( ) =
}
|A| = 7 . |Ω| 15
Assim, fica claro que a maior dificuldade para calcular a probabilidade de um evento ´e contar quantos elementos pertencem a este evento e quantos elementos pertencem ao espa¸co amostral. A seguir, veremos um exemplo mais elaborado onde aplicamos a no¸ca˜o de combina¸c˜oes simples. Exemplo 3.35. Vamos agora calcular a probabilidade de que escolhendo um grupo de 44 pessoas, existam pelo menos duas que fazem anivers´ario no mesmo dia do ano. Podemos reescrever isso do seguinte modo: num saco existem bolas enumeradas com os n´umeros 1, 2, . . . , 365 (correspondentes aos dias do ano). Retiramos a bola b1 e anotamos o n´umero que apareceu. Devolvemos a bola ao saco e efetuamos uma nova retirada, anotando novamente o n´umero que aparece. Repetindo este processo 44 vezes, obtemos uma lista com 44 n´umeros. Assim, a pergunta se transforma em : de quantos modos diferentes podemos escolher 44 bolas enumeradas com os n´umeros 1, 2, 3, . . . , 365 com reposi¸ca˜o, tal que existam pelo menos duas bolas com o mesmo n´umero? A primeira coisa que devemos fazer ´e calcular o espa¸co amostral, de todas as possibilidades poss´ıveis de resultado. Como escolhemos 44 bolas enumeradas num saco, cada resultado poss´ıvel ´e uma lista (n1 , n2 , . . . , n44 ) com 44 n´umeros. Observe que, pelo princ´ıpio multiplicativo, Ω = 36544 , pois temos 365 op¸c˜oes para escolher n1 , 365 op¸c˜oes para escolher n2 , etc.
| |
i
i i
i
i
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[CAP. 3: CONTAGEM
A segunda pergunta trata-se de saber quantos resultados s˜ao favor´aveis, ou seja, quantas s˜ao as escolhas tais que existam pelo menos duas bolas com o mesmo n´umero. Para isso ´e mais f´acil contar quantas escolhas existem tais que os 44 n´umeros s˜ao diferentes. Neste caso, devemos escolher 44 n´umeros distintos entre 365. Como n˜ao importa a ordem em que eles aparecem, s˜a o ao todo 365 grupos de 44 n´u meros. Logo, o n´ umero de resultados 44 favor´aveis, isto ´e, onde existem pelo menos duas pessoas que nasceram no mesmo dia ´e 365 de onde conclu´ımos que a probabilidade de que este 44 evento ocorra ´e 365 365
−
36544 44 44 p = =1 . 36544 36544 Com ajuda de uma f´ ormula matem´ atica chamada f´ ormula de Stirling e de uma calculadora, obtemos que p ´e aproximadamente p = 0.80, como hav´ıamos prometido no Cap´ıtulo 1.
−
∼
3.8
Exerc´ıcios Propostos
1. De quantas maneiras p odemos escolher trˆ es n´umeros distintos do con junto I 50 = 1, 2, 3, . . . , 49, 50 de modo que sua soma seja
{
}
a) um m´ultiplo de 3? b) um n´umero par? 2. Considere o conjunto I n = 1, 2, 3, . . . , n 1, n . Diga de quantos modos ´e poss´ıvel formar subconjuntos de k elementos nos quais n˜ao haja n´ umeros consecutivos?
{
−
}
3. Considere as letras da palavra PERMUTA. Quantos anagramas de 4 letras podem ser formados, onde: a) n˜ao h´a restri¸c˜oes quanto ao n´umero de consoantes ou vogais? b) o anagrama come¸ca e termina por vogal? c) a letra R aparece? d) a letra T aparece e o anagrama termina por vogal? 4. Calcular a soma de todos os n´umeros de 5 algarismos distintos formados com os algarismos 1, 3, 5, 7 e 9. 5. Quantos n´ umeros podem ser formados pela multiplica¸c˜ao de alguns ou de todos os n´umeros 2, 2, 3, 3, 3, 5, 5, 6, 8, 9, 9?
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[SEC. 3.8: EXERC´ICIOS PROPOSTOS
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6. Dentre todos os n´ umeros de sete d´ıgitos, diga quantos possuem exatamente trˆes d´ıgitos 9 e os quatro d´ıgitos restantes todos diferentes? 7. De quantas maneiras podemos distribuir 22 livros diferentes entre 5 alunos se 2 deles recebem 5 livros cada e os outros 3 recebem 4 livros cada? 8. Quantos s˜a o os n´ umeros naturais de sete d´ıgitos nos quais o d´ıgito 4 figura exatamente 3 vezes e o d´ıgito 8 figura exatamente 2 vezes? 9. De quantas maneiras uma comiss˜ ao de 4 pessoas pode ser formada, de um grupo de 6 homens e 6 mulheres, se a mesma ´e composta de um n´ umero maior de homens do que de mulheres? 10. O comprimento de uma palavra ´e a quantidade de caracteres que ela possui. Encontre a quantidade de palavras de comprimento 5 que podemos formar fazendo uso de 10 caracteres distintos, de forma que n˜ao existam trˆes caracteres consecutivos idˆenticos em cada palavra. 11. Quantos n´ umeros inteiros existem entre 1 e 10.000 que n˜a o s˜ao divis´ıveis por 3, 5 e 7? 12. Quantas s˜ ao as permuta¸co˜es da palavra PROPOR nas quais n˜ao existem letras consecutivas iguais? 13. De quantos modos 6 casais podem sentar-se ao redor de uma mesa circular de tal forma que marido e mulher n˜ao fiquem juntos? 14. Quantas s˜ ao as permuta¸c˜oes das letras da palavra BRASIL em que o B ocupa o primeiro lugar, ou o R ocupa o segundo lugar, ou o L o sexto lugar. 15. De quantas formas podemos representar o n´umero 15 como soma de v´arios n´ umeros naturais? 16. Quantos quadrados perfeitos existem entre 40.000 e 640.000 que s˜ao m´ ultiplos simultaneamente de 3,4 e 5? 17. Oito amigos v˜ao para o cinema assistir a um filme que custa um real. Quatro deles possuem uma nota de um real e quatro possuem uma nota de dois reais. Sabendo-se que o caixa do cinema n˜ao possui nenhum dinheiro, como eles podem organizar uma fila para pagar o filme permitindo o troco pelo caixa?
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i
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[CAP. 3: CONTAGEM
18. Se considerarmos todas as configura¸c˜oes do tabuleiro com duas torres que n˜ao se atacam, como no Exemplo 3.2, sem distinguir as torres, quantas configura¸co˜es obteremos? 19. Continuando o problema anterior, generalize-o para 3, 4, 5, . . . torres que n˜ao se atacam, encontrando tamb´em o n´umero m´aximo de torres que podem ser colocadas no tabuleiro de modo que duas delas n˜ao se ataquem. 20. Tente fazer o problema anterior para cavalos de xadrez.
i
i i
i
i
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Cap´ıtulo 4
O Princ´ıpio da Casa dos Pombos Um importante instrumento para tratar problemas matem´aticos relacionados `a existˆencia de elementos de conjuntos validando certas exigˆencias ´e o chamado princ´ıpio de Dirichlet, tamb´em conhecido como Princ´ıpio da Casa dos Pombos (PCP). Este princ´ıpio foi usado por Dirichlet (1805-1859) para resolver problemas na teoria dos n´umeros, entretanto ele possui um grande n´umero de aplica¸co˜es em diversos ramos da matem´atica como combinat´oria e geometria. A vers˜ao mais simples do Princ´ıpio da Casa dos Pombos afirma o seguinte: Se distribu´ımos N + 1 pombos em N casas, ent˜ ao alguma das casas cont´ em dois ou mais pombos. A prova deste princ´ıpio ´e muito f´acil e decorre de fazer uma simples contagem dos pombos contidos em todas as casas depois de distribu´ıdos. Com efeito, suponhamos pelo contr´ario que em cada casa n˜ao existe mais do que um pombo, ent˜ao contando todos os pombos contidos nas N casas n˜ao teremos mais do que N pombos, contradizendo isto a hip´oteses de termos N + 1 pombos distribu´ıdos nas N casas (ver Figura 4.1) N˜ ao ´e dif´ıcil detectar quando o princ´ıpio pode ser usado, mas a principal dificuldade para aplicar o mesmo reside em identificar, em cada problema, quem faz papel de pombos e quem faz papel de casas. 99
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i i
i
i
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[CAP. [CAP. 4: O PRINC PRINC´IPIO DA CASA DOS POMBOS
·········
P 1
P 2
C 1
C 2
P N N C N N
P N N +1 Figura 4.1: Em cada casa C j , 1 ≤ j
u ´nico pombo, denotado ≤ N , coloca-se um unico
por P j . O pombo restante, restante, denotado denotado por P N N +1 +1 , deve ir para alguma das casas, juntando-se ao que j´ a se encontrava contido nela.
Nas seguintes se¸c˜ coes o˜es discutiremos v´arios arios exemplos de diferentes naturezas, onde o Princ´ıpio ıpio da Casa dos Pombos ´e aplicado aplicad o com sucesso. sucesso .
4.1
Prim Primeir eiros os Exemp Exemplo loss
´ conhecido que uma Exemplo 4.1. Numa floresta crescem 1000 jaqueiras. E jaqueira n˜ ao ao cont´em em mais do que 600 frutos. Prove que existem 2 jaqueiras na floresta que tˆ em em a mesma quantidade de frutos. Solu¸c˜ c˜ ao. Temos 1000 jaqueiras, representando os pombos, e 601 casas identificadas tificadas pelos n´ umeros umeros 0, 0 , 1, 2, 3, , 600. O n´ umero umero k associado a cada casa significa que nela ser˜ao ao colocadas jaqueiras que tˆem em exatamente exatamente k frutos. Como 1000 > 602 602 = 601+ 1, o PCP nos garante que existem duas jaqueiras com a mesma quantidade de frutos.
···
Exemplo 4.2. Em uma reuni˜ao ao h´a n pessoas. pessoas. Mostre Mostre que existem duas duas pessoas que conhecem exatamente o mesmo n´umero umero de pessoa p essoas. s.
i
i i
i
i
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[SEC. 4.1: 4.1: PRIMEIROS PRIMEIROS EXEMPLO EXEMPLOS S
Solu¸c˜ c˜ ao. Os pombos neste caso s˜ao ao as n pessoas. As casas s˜ao ao enumeradas com os n´ umeros umeros 0, 0 , 1, 2, , n 1, indicando i ndicando estes que q ue na mesma ser˜ se r˜ao ao colocolo cadas pessoas que tˆem em essa quantidade de conhecidos. Notemos que uma das casas enumeradas com 0 ou n 1 permanece desocupada, pois a possibilidade de conhecer 0 e n 1 pessoas n˜ao ao acontece simultaneamente. Logo, nas n 1 casas restantes haver´a uma ocupada por dois ou mais pombos, depois de serem distribu´ıdos. ıdos. Portanto, Portanto, existem no m´ınimo duas pessoas com o mesmo n´umero umero de conhecidos.
··· −
−
−
−
Exemplo 4.3. Dados 8 n´ umeros inteiros mostre que existem dois deles cuja umeros diferen¸ca ca ´e divi di vis´ s´ıvel ıve l por po r 7. Solu¸c˜ c˜ ao. Consideramos os 8 n´ umeros como sendo os pombos e as casas como umeros sendo os 7 poss´ poss´ıveis restos na divis˜ao ao por 7. Como Como temos temos 8=7+1 n´umeros umeros o PCP nos diz que existem dois n´umeros umeros dentro dentro dos 8 dados que tˆ em em o mesmo mesmo resto resto quando quando divididos por 7. Finalment Finalmente, e, observamos observamos que se dois n´umeros umeros deixam o mesmo resto na divis˜ao por 7 ent˜ao ao a diferen¸ diferen¸ca ca entre eles ´e divi di vis´ s´ıvel ıve l por po r 7. Uma forma alternativa e muito ´util util na qual pode-se po de-se apresentar ap resentar o Princ´ıpio ıpio da Casa C asa dos Pombos ´e a seguinte: Se a soma de n n´ umeros naturais ´e igual S , ent˜ ao existe pelo menos um deles que n˜ ao ´e maior que S/n, S/n, assim como existe pelo menos um deles que n˜ ao ´e menor men or que S/n. S/n. Exemplo 4.4. Numa familia formada formada por 5 pessoas a soma das idades ´e de 245 anos. Prove Prove que podem ser selecionado selecionadoss 3 mem membros bros da familia cuja soma das idades n˜ao ao ´e menor que 147.
5! Solu¸c˜ c˜ ao. Temos um total de 53 = 3!2! = 10 trios diferentes formados por membros da familia. f amilia. Al´ em em disso, cada pessoa p essoa aparece exatamente exatamente em 42 = 4! ao, ao, denotando por E j a soma das idades dos membros de 2!2! = 6 trios. Ent˜ cada trio T j , j = 1, 2 10, temos temos que que
···
· · · + E 1010 = 6 · 245 = 1470; conseq¨ uentemente existe algum trio T tal que E ≥ 1470 uentemente 10 = 147. E 1 + E 2 +
j
∗
j
∗
i
i i
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4.2
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[CAP. [CAP. 4: O PRINC PRINC´IPIO DA CASA DOS POMBOS
Uma Vers˜ Vers˜ ao ao mais Geral
A seguinte vers˜ao ao mais geral do PCP ´e basta ba stante nte util u ´ til na resolu¸c˜ cao ˜ao de alguns problemas. Ela afirma o seguinte: Se distribu´ dist ribu´ımos ımos N k + 1 pombos em N casas, ent˜ ao alguma das casas cont´em em pelo menos men os k + 1 pombos. pombos. A prova prova deste enunciado mais geral ´e similar `a anterio anterior. r. Com efeito efeito,, suponhamos pelo contr´ario a rio que em cada casa n˜ao ao existe mais do que k pombos, ent˜ao ao contando todos os pombos contidos nas N casas n˜ao ao teremos mais do que N k pombos, contradizendo isto a hip´oteses oteses de termos N k + 1 pombos pombo s distribu distri bu´´ıdos nas N casas. Notemos que se k = 1 esta vers˜ao ao mais geral coincide com a vers˜ao ao mais simples. Exemplo 4.5. Num col´egio egio com 16 salas s˜ao ao distribu´ di stribu´ıdas ıdas canetas nas cores preta, preta, azul e vermelha vermelha para realizar realizar uma prova prova de concurso. concurso. Se cada sala recebe canetas da mesma cor ent˜ao prove que existem pelo menos 6 salas que receberam canetas da mesma cor.
·
Solu¸c˜ c˜ ao. Fazendo a divis˜ao ao com resto de 16 por 3 temos que 16 = 3 5 + 1 . Consideramos as 16 salas como sendo os pombos e as trˆes es cores, preto, azul e verme vermelho lho como sendo sendo as casas. casas. Log Logo, o, podemos podemos “colocar” “colocar”cad cadaa sala sala em uma das trˆ es es cores. Assim, o PCP com N = 3 e k = 5 nos d´a que existe uma casa com pelo menos menos 6 pombos, pombos, ou seja, existem existem no m´ınimo 6 salas que receberam canetas da mesma cor. Exemplo 4.6. Uma equipe formada por seis alunos de matem´atica ati ca ´e selecionada para representar o Brasil numa olimp´ olimp´ıada internacional. Mostre que necessariamente necessariamente existem trˆes es deles que se conhecem mutuamente, ou trˆes es deles dele s que n˜ao ao se conhecem mutuamente. Solu¸c˜ c˜ ao. Resolveremos o problema com o aux´ aux´ılio da Figura 4.2. Cada aluno Aj , com j = 1, 1 , 2, , 6, ´e repres rep resentad entadoo por p or um u m dos v´ertices erti ces de um u m hex´ hex ´agono agono regular. regular. Quando Quando dois alunos se conhecem tra¸camos camos o segmento de reta que liga os v´ertices ertices correspondentes na cor azul; caso contr´ario ario tra¸camos camos este segmento na cor vermelha. Logo, usando este esquema, o problema equivale a provar que sempre existe um triˆangulo angulo azul ou um triˆangulo angulo vermelho com v´ertices erti ces no conjunto conj unto = A1 , A2 , , A6 .
···
A {
···
}
i
i i
i
i
i
i
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103
˜ ´ [SEC. 4.3: APLICAC¸ OES NA TEORIA DOS NUMEROS
Temos 5 segmentos (pombos) (p ombos) incidindo no v´ ertice ertice A1 , cada um deles pintado de azul ou de vermelho (estas duas cores s˜ao consideradas como as casa casas) s).. Como Como 5 = 2 2 + 1, pelo PCP temos que 3 dos 5 segmentos s˜aaoo azuis azuis ou verme vermelho lhos. s. Suponha Suponhamos mos que 3 s˜ao ao azuis (caso contr´ario ario o argumento ´e similar) e denotemos estes por A1 A3 , A1 A4 e A1 A6 (ver Figura 4.2). Se algum dos segmentos segmentos A3 A4 , A3 A6 ou A4 A6 for azul ent˜ao ao este segmento junto aos que se ligam com A1 formam um triˆangulo angulo azul. Por outro lado, se nenhum deles for azul, ent˜ao ao eles formam um triˆangulo angulo vermelho, completando isto a demonstra¸c˜ c˜ao. ao.
·
A3
A2
A4
A1
A5
A6
Figura 4.2: O triˆangulo angulo A1 A2 A5 indica que os alunos A1 , A2 e A5 n˜ ao ao se conhecem mutuamente e o triˆangulo angulo A1 A4 A6 indica que os alunos A1 , A4 e A6 se conhecem mutuamente. mutuamente.
4.3 4.3
Aplicac˜ c ¸˜ oes na Teoria dos N´ oes umeros umeros
Nesta se¸c˜ c˜ao ao apresentamos alguns exemplos de aplica¸c˜ c˜oes oes do PCP na Teoria dos N´ umeros. umeros. A primeira pr imeira delas ´e: e: Exemplo Exemplo 4.7. Se n e m s˜ao a o n´ umeros umeros naturais, naturais, ent˜ ent˜ao ao o conjunto m + 1, 1, m + 2, 2, . . . , m + n possui algum divisor de n.
{
}
A=
Solu¸c˜ c˜ ao. Temos n n´umeros umeros diferente diferentess no conjunto acima. Vamos utilizar o m´ etodo etodo de redu¸c˜ c˜ao ao ao absurd absurdo. o. Se n˜ ao ao existisse nenhum m´ultiplo ultiplo de n, quando divid´ıssemos ıssemos os n´umeros umeros do conjunto por n, os restos pertenceriam ao conjunto = 1, 2, . . . , n 1 , que possui n 1 elementos. elementos. Logo,
B {
− }
A
−
i
i i
i
i
i
i
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[CAP. [CAP. 4: O PRINC PRINC´IPIO DA CASA DOS POMBOS
devem existir dois n´umeros umeros m + i e m + j, j , com 1 i < j n tais que o resto da divis˜ ao ao de m + i por n ´e o mesmo que qu e o resto da divis˜ di vis˜ao ao de m + j por n. Logo, m + j (m + i) ´e um m´ultiplo ultiplo de n, o que implica que n > j i 1 ´e multiplo u ´ ltiplo de n menor que n (absurdo!). Logo, deve existir algum m´ultiplo ultiplo de n no conjunto .
≤
≤
−
− ≥
A
Como conseq¨ uˆ uencia eˆncia desse exemplo, podemos resolver o seguinte problema: Exemplo 4.8. Demonstrar que todo inteiro tem um m´ultiplo ultiplo cuja representa¸c˜ cao a˜o decimal decimal come¸ come¸ca ca com o bloco de d´ıgitos 1234567890. Solu¸c˜ c˜ ao. Se m e n s˜ ao ao inteiros positivos, positivos, pelo exemplo anterior anterior um dos n´umero umero m + 1, m + 2, . . . , m + n ´e multiplo u ´ ltiplo de n. Assim, Dado n um inteiro qualquer, escolhe-se m = 1234567890 10n+1 . Deste modo, modo, todos os inteiros inteiros m + 1, m + 2, . . . , m + n come¸cam cam com 123456789 12345678900 e algum deles ´e m´ultiplo de n.
×
Exemplo 4.9. Dado um n´ umero umero inteiro positivo n, mostre que existe um m´ultiplo ultiplo de n que se escreve com os algarismos 0 e 1 apenas. (Por exemplo, se n = 3, temos 111 ou 1101, etc...) Solu¸c˜ c˜ ao. Consideramos os n + 1 n´ umeros umeros 1, 11 11,, 111 111,, 1111 1111,,
· · · , 111 · · · 1 ,
(4.1)
n+1−vezes
como sendo os pombos e n casas enumeradas com os n´umeros umeros 0, 1, 2, 3,
· · · , n − 1,
ou seja, com os poss´ poss´ıveis restos na divis˜ao ao por n. Similarmente ao exemplo anterior existem dois n´umeros umeros na lista (4.1) que deixam o mesmo resto na divis˜ao ao por n e, portanto, a diferen¸ca ca entre entre o maior e o menor menor ´e m´ultiplo ultiplo de n. Obviamen Obviamente te a diferen¸ca ca entre dois n´umeros umeros quaisquer da lista (4.1) resulta em um n´umero umero formado apenas pelos algarismos 0 e 1. Exemplo 4.10. Prove que entre n + 1 elementos escolhidos no conjunto 1, 2, 3, 2n existem dois que s˜ao ao primos relativos.
{
··· }
i
i i
i
i
i
i
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105
˜ ´ [SEC. 4.4: APLICAC¸ OES GEOMETRICAS
Solu¸c˜ ao. A escolha das casas e dos pombos neste exemplo n˜ao ´e t˜ao ´obvia. Os pombos representam os n+1 n´ umeros escolhidos do conjunto 1, 2, 2n e as casas s˜ao escolhidas como sendo os n conjuntos:
{
C
j
· ·· }
{ − 1, 2 j }, 1 ≤ j ≤ n.
= 2 j
Logo, pelo PCP , quando distribu´ımos os n + 1 n´ umeros nos n conjuntos , 1 j n, dois deles ficar˜ a o juntos em algum conjunto j j , ou seja, estes n´umeros ser˜ao consecutivos e portanto primos entre si.
C
≤ ≤
C
Finalizaremos esta se¸c˜ao com uma outra prova do Teorema de B´ezout: Exemplo 4.11. Seja d = (a, b) o m.d.c. entre os n´ umeros naturais a e b. Ent˜ao, existem x e y n´umeros inteiros tais que ax + by = d. Solu¸c˜ ao. Denotando por m = a/d e n = b/d, podemos supor que a e b s˜ao primos entre si. Realmente, se podemos escrever mx + ny = 1 ent˜ao, substituindo os valores de m e n na equa¸c˜ao acima, temos que ax + by = d. Se (a, b) = 1, considere a sequˆencia = a, 2a , . . . , b a . Afirmamos que existe algum n´ umero no conjunto A que deixa resto 1 quando dividido por b. De fato, se isso n˜ ao ocorresse, ter´ıamos b n´umeros em A deixando no m´aximo b 1 restos diferentes quando divididos por b. Logo, pelo PCP , dois deles, digamos ia e ja com b > j > i 1, devem deixar o mesmo resto quando divididos por b. assim, ( j i)a ´e divis´ıvel por b. Como estamos supondo que (a, b) = 1, temos que b deve dividir j i > 0. Como b > j i, temos um absurdo. Assim, algum dos n´ umeros em a deixa resto 1 quando divididos por b. Digamos que esse n´umero seja ax. Logo, ax 1 ´e m´ ultiplo de b, onde ax 1 = by, o que encerra nossa prova.
A {
−
−
≤
−
−
−
−
4.4
}
Aplica¸ c˜ oes Geom´ etricas
Na geometria tamb´em encontramos belas aplica¸co˜es do PCP . Vejamos os problemas a seguir para constatar isto.
i
i i
i
i
i
i
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[CAP. 4: O PRINC´IPIO DA CASA DOS POMBOS
Exemplo 4.12. Mostre que se tomamos cinco pontos quaisquer sobre um quadrado de lado 1, ent˜ao pelo menos dois deles distam menos que 2/2.
√
Solu¸c˜ ao. Vamos dividir o quadrado em quatro quadradinhos de lado 1 /2, como mostra a Figura 4.3
• 1
• • • •
Figura 4.3:: Logo, pelo PCP pelo menos dois deles devem estar no mesmo quadradinho, uma vez que temos 4 quadradinhos e 5 pontos. Logo, como a maior distˆancia num quadrado ´e a diagonal, o teorema de pit´agoras nos garante que a distˆancia desses dois pontos ´e no m´aximo 2/2, como quer´ıamos mostrar.
√
Exemplo 4.13. Qual ´e o maior n´umero de quadradinhos de um tabuleiro de 8 8 que podem ser pintados de preto, de forma tal que qualquer arranjo de trˆes quadradinhos como mostra a Figura 4.4 tenha pelo menos um dos quadradinhos n˜ao pintado de preto?
×
Figura 4.4::
×
Solu¸c˜ ao. Primeiramente, pintamos o tabuleiro de 8 8 como um tabuleiro de jogar xadrez, ou seja, 32 quadradinhos pintados de branco e 32 quadradinhos pintados de preto (ver Figura 4.5). Notemos que uma vez pintado o tabuleiro desta forma ´e satisfeita a exigˆencia do problema, pois nunca temos 2 quadradinhos vizinhos (quadradinhos com um lado comum) pintados de preto.
i
i i
i
i
i
i
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˜ ´ [SEC. 4.4: APLICAC¸ OES GEOMETRICAS
Figura 4.5:: Mostraremos agora que se pintamos 33 quadradinhos de preto ent˜ao a condi¸ca˜o exigida no problema falha. De fato, se dividimos o tabuleiro em 16 quadrados de 2 2 (casas) e pintamos 33 quadradinhos de preto (pombos); ent˜ao, como 33 = 16 2+1, pela vers˜ao geral do PCP um dos 16 quadrados de 2 2 cont´em 3 quadradinhos pintados de preto. Portanto, este ´ultimo cont´ em um arranjo como na Figura 4.5 completamente pintado de preto. Resumindo, o n´ umero m´aximo de quadradinhos que podemos pintar de preto ´e 32.
×
×
·
Exemplo 4.14. Na regi˜ao delimitada por um triˆangulo eq¨ uil´atero de lado 4 s˜ao marcados 10 pontos. Prove que existe ao menos um par destes pontos cuja distˆancia entre eles n˜ao e maior que 3.
√
Solu¸c˜ ao. Dividimos o triˆangulo equil´ atero de lado 4 em 16 triˆangulos equil´ ateros menores de lado 1, conforme a Figura 4.6. Agora pintamos os triˆangulos nas cores verde e cinza de maneira que dois triˆangulos vizinhos, isto ´e, com um lado comum, s˜ao pintados de cores diferentes. Se tiv´essemos dois pontos no mesmo triˆangulo a distˆancia m´axima poss´ıvel entre eles seria 1 e o problema estaria resolvido. Se tiv´essemos pontos em triˆangulos vizinhos, a maior distˆancia poss´ıvel entre eles seria 3 e tamb´ em isto resolveria o problema. Se n˜ao tiv´essemos nenhum dos casos anteriores, n˜ao seria dif´ıcil ver que os 10 pontos deveriam estar situados sobre os 10 triˆangulos verdes, contendo cada triˆangulo exatamente um ponto. Dividendo o triˆangulo DBE em 4 triˆangulos iguais de lado 3/2 pelo
√
i
i i
i
i
i
i
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[CAP. 4: O PRINC´IPIO DA CASA DOS POMBOS
C
•
•
• • • A
D
E
• •
• •
•
B
Figura 4.6:: PCP temos que pelo menos dois dos 6 pontos contidos em DBE est˜ ao num destes 4 triˆangulos, logo a distˆancia entre eles n˜ao ´e maior que 3/2 < 3. Com isto terminamos nossa prova.
√
4.5
Miscelˆ anea
×
Exemplo 4.15. Em cada quadradinho de um tabuleiro 3 3 ´e colocado um dos n´ umeros: 1, 0 ou 1. Prove que entre todas as somas das linhas, colunas e diagonais do tabuleiro h´a duas que s˜ao iguais. Por exemplo, no tabuleiro abaixo a soma da segunda linha ´e 2, que coincide com a soma da terceira coluna.
−
-1 1 0
-1 0 -1
1 1 0
Solu¸c˜ ao. Seja S = a1 + a2 + a3 , onde cada a1 , a2 e a3 podem tomar valores: 1, 0 e 1. Ent˜ ao, temos 7 valores poss´ıveis para S (casas), que s˜ao: 3, 2, 1, 0, 1, 2, 3. O tabuleiro 3 3 tem 3 linhas, 3 colunas e 2 diagonais, portanto, ao somarmos os elementos de cada uma das linhas, colunas e diagonais, obteremos 8 n´ umeros (pombos). Como existem somente 7 valores poss´ıveis para estes n´ umeros, pelo PCP pelo menos dois deles devem ser iguais.
− − − −
×
i
i i
i
i
i
i
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ˆ [SEC. 4.5: MISCELANEA
Exemplo 4.16. Dado qualquer conjunto formado por 10 n´umeros naturais escolhidos entre 1 e 99, inclusos, demonstre que existem dois subconjuntos disjuntos e n˜ao-vazios de tal que a soma dos seus respectivos elementos ´e igual.
A
A
´ conhecido que Solu¸c˜ ao: E tem 210 1 = 1023 subconjuntos n˜ao-vazios diferentes. A soma dos elementos de cada um deles d´a uma quantidade menor do que 1000, pois o subconjunto com no m´aximo 10 elementos de maior soma poss´ıvel ´e o formado por 90, 91, , 99, e nesse caso 90 + 91 + + 99 = 945. Agora consideramos os pombos como sendo os 1023 subconjuntos distintos de e as casas como sendo as somas poss´ıveis dos elementos de cada um dos conjuntos. Logo, como o n´umero de conjuntos ´e maior que o n´umero de somas poss´ıveis, devem existir dois conjuntos e de , de tal modo que a soma dos elementos de ´e igual `a soma dos elementos de . Se e s˜ao disjuntos, acabou a prova. Se n˜ao, considere = e = . Logo, os conjuntos e s˜ao disjuntos e a soma dos seus elementos ´e a mesma, pois retiramos de ambos a mesma quantidade.
A
−
·· ·
· ··
A
C
A C B C D B − B ∩ C E C − B ∩ C
B
B D E
Exemplo 4.17. Dados sete n´ umeros reais arbitr´arios, demonstre que existem dois deles, digamos x e y, tais que 0
≤ 1x+−xyy ≤ √13
Solu¸c˜ ao. Primeiramente observamos que a express˜ao na f´ormula tan α tan β tan(α β ) = . 1 + tan α tan β
x−y 1+xy
nos faz pensar
−
−
(4.2)
·· ·
Sejam x1 , x2 , , x7 os sete n´ umeros selecionados arbitrariamente. Lembramos que a fun¸ca˜o tangente ´e uma bije¸ca˜o entre o intervalo ( π2 , π2 ) e os n´umeros reais R, logo para cada xi , 1 i 7, existe um αi ( π2 , π2 ) tal que tan(αi ) = xi . Dividimos o intervalo ( π2 , π2 ) em seis subintervalos de comprimento π6 , como mostra o desenho abaixo.
− ∈−
≤ ≤ − αi
π
−2
αi
1
π
6
2
π
2
i
i i
i
i
i
i
110
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[CAP. 4: O PRINC´IPIO DA CASA DOS POMBOS
Pelo PCP dois dos n´ umeros αi pertencem ao mesmo subintervalo. Denotemos os mesmos por αi e αi e suponhamos, sem perda de generalidade, que αi αi . Ent˜ao vale 1
1
≤
2
2
0
≤ α − α ≤ π6 . i2
i1
Usando o fato de que a tangente ´e uma fun¸c˜ao crescente e a f´ormula (4.2) temos que π tan(0) tan(αi αi ) tan( ). 6 Equivalentemente, xi xi 1 0 . 1 + xi xi 3
≤
≤
4.6
2
2
−
−
1
1
2
1
≤
≤√
Exerc´ıcios
1. Seja x um n´ umero real arbitr´ario. Prove que entre os n´umeros x, 2x, 3x,
· ·· , 101x
existe um tal que sua diferen¸ca com certo n´umero inteiro ´e menor 0,011. 2. Mostre que entre nove n´umeros que n˜ao possuem divisores primos maiores que cinco, existem dois cujo produto ´e um quadrado. 3. Um disco fechado de raio um cont´ em sete pontos, cujas distˆancias entre quaisquer dois deles ´e maior o igual que um. Prove que o centro do disco ´e um destes pontos. 4. Na regi˜ao delimitada por um retˆangulo de largura quatro e altura trˆes s˜ao marcados seis pontos. Prove que existe ao menos um par destes pontos cuja distˆancia entre eles n˜ao e maior que 5.
√
5. Seja a um n´ umero irracional. Prove que existem infinitos n´umeros racionais r = p/q tais que |a − r| < 1/q2 .
i
i i
i
i
i
i
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Cap´ıtulo 5
Indu¸ c˜ ao Matem´ atica Imagine uma fila com infinitos domin´os, um atr´as do outro. Suponha que eles estejam de tal modo distribu´ıdos que, uma vez que um domin´o caia, o seu sucessor na fila tamb´em caia. O que acontece quando derrubamos o primeiro domin´o? Apesar da simplicidade da pergunta acima ela tr´as em sua essˆencia toda a id´eia usada no M´etodo da Indu¸c˜ ao Matem´ atica . Esse m´etodo ´e uma das grandes armas do matem´atico moderno e tem utilidade na solu¸ca˜o de v´arios problemas, como iremos ver ao longo deste cap´ıtulo.
5.1
Formula¸ c˜ ao Matem´ atica
No in´ıcio do s´eculo XX o matem´atico Giuseppe Peano (1858-1932) estabeleceu os axiomas necess´arios que nos permitem hoje descrever com precis˜ao o conjunto dos n´umeros naturais denotado por N = 1, 2, 3, . Ou ´ltimo dos seus axiomas diz o seguinte: Seja um subconjunto de N ( N). Se 1 e se, al´em disso, cont´em todos os sucessores dos seus elementos, ent˜ao = N. Este axioma ´e conhecido como axioma de indu¸cao ˜ e serve como base do m´etodo de demonstra¸ca˜o por indu¸c˜ao matem´atica, o qual ´e de grande utilidade para estabelecer provas rigorosas em matem´atica.
∈A
A
A
A
{
···} A⊂
111
i
i i
i
i
i
i
112
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˜ MATEMATICA ´ [CAP. 5: INDUC ¸ AO
5.1.1
M´ etodo de Indu¸ c˜ ao Matem´ atica
Neste cap´ıtulo, n˜ao assumiremos o axioma da indu¸c˜ao. Ao inv´ es disso, iremos utilizar o Princ´ıpio da Boa Ordena¸c˜ao, enunciado no in´ıcio do Cap´ıtulo 2, para mostrar que o M´ etodo da Indu¸ca˜o Finita ´e verdadeiro. O motivo de fazer isto ´e mostrar ao leitor que os axiomas da boa ordem e de indu¸ca˜o n˜ao s˜ao independentes e sem nenhuma conex˜ao. De fato, eles s˜ao equivalentes, ou seja, se consideramos o axioma da boa ordem como sendo um postulado podemos deduzir o axioma de indu¸c˜ao e, reciprocamente, se consideramos o axioma de indu¸c˜ao como sendo um postulado podemos deduzir o axioma da boa ordem. Aqui, P (n) representa a propriedade P em rela¸c˜ao ao natural n, podendo esta se verificar ou n˜ao. Teorema 5.1 (M´ etodo de Indu¸ c˜ ao Finita). Considere n0 um inteiro n˜ ao-negativo. Suponhamos que, para cada inteiro n n0 seja dada uma proposi¸cao ˜ P (n). Se podemos provar, simultaneamente, as duas seguintes propriedades:
≥
(a)
A proposi¸c˜ ao P (n0 ) ´e verdadeira;
(b)
Se P (n) ´e verdadeira ent˜ ao P (n + 1) tamb´em ´e verdadeira, para todo n n0 ;
≥
ent˜ ao P (n) ´e verdadeira qualquer que seja n
≥ n0 .
A afirma¸ca˜o (a) ´e chamada de base da indu¸c˜ao e a (b) de passo indutivo. Demonstra¸ cao. ˜ Definamos o conjunto
V := {k inteiros n˜ao-negativos; k ≥ n0 e P (k) ´e verdadeira} Notemos que V ´e n˜ao-vazio, pois a condi¸c˜ao (a) nos assegura que n0 ∈ V . A prova do teorema ´e equivalente a mostrarmos que
V = {n0, n0 + 1, n0 + 2, n0 + 3, · · · }, ou equivalentemente, a provarmos que o conjunto
F := {k inteiros n˜ao-negativos; k ≥ n0 e P (k) ´e falsa} ´e vazio. Provaremos que ´e vazio por contradi¸c˜ao; para isto suponhamos que ´e n˜ao-vazio. Pelo axioma da boa ordem segue-se que existe um menor elemento k0 , onde P (k0 ) ´e falso. Observemos que,
F
∈ F
i
i i
i
i
i
i
´ [SEC. 5.2: PROBLEMAS CLASSICOS
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113
• k0 ≥ n0 +1. De fato, k0 ≥ n0, por´em a possibilidade k0 = n0 contradiz a condi¸c˜ao (a);
• k0 − 1 ∈ V . Com efeito, P (k0 − 1) ´e verdadeira pois, caso contr´ario, k0 −1 ∈ F e, al´em disto, k0 −1 < k 0 , contradizendo isto a minimalidade de k0 .
−
Finalmente, como P (k0 1) ´e verdadeira, segue da condi¸c˜ao (b) que P (k0 ) tamb´em ´e verdadeira, o que ´e imposs´ıvel pela defini¸ca˜o de k0 . Portanto, o conjunto ´e vazio, concluindo assim a prova.
F
O grande trunfo do m´ etodo da indu¸c˜ao ´e poder provar que uma quantidade infinita de afirma¸c˜oes ´e verdadeira, simplesmente verificando que uma quantidade finita destas afirma¸c˜oes ´e verdadeira. Vamos deixar clara a utilidade deste m´ etodo resolvendo alguns problemas.
5.2
Problemas Cl´ assicos
Muitas descobertas em matem´atica s˜ao feitas baseadas na realiza¸c˜a o de testes que nos fornecem evidˆ encias emp´ıricas. Tais evidˆencias s˜ao estudadas para efetivamente verificarmos se os resultados que elas insinuam s˜ao verdadeiros. O m´ etodo de indu¸ca˜o finita constitui uma ferramenta muito u ´til na hora de desvendar a veracidade de resultados provenientes deste tipo de estudo. Dentro da grande gama de problemas que podem ser abordados aplicando o m´etodo de indu¸c˜ao podemos distinguir trˆes importantes grupos:
⋄ Demonstra¸c˜ao de identidades; ⋄ Demonstra¸c˜ao de desigualdades; ⋄ Demonstra¸c˜ao de problemas de divisibilidade. A seguir damos v´arios exemplos de como aplicar o m´etodo em problemas referentes a cada um destes grupos.
5.2.1
Demonstrando Identidades
Come¸camos com os seguintes problemas cl´assicos:
i
i i
i
i
i
i
114
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˜ MATEMATICA ´ [CAP. 5: INDUC ¸ AO
(P1) Determinar uma f´ormula para a soma dos n primeiros n´ umeros pares, isto ´e, S p (n) := 2 + 4 + 6 + + 2n.
·· ·
(P2) Determinar uma f´ormula para a soma dos n primeiros n´ umeros ´ımpares, isto ´e, S i (n) := 1 + 3 + 5 + + 2n 1.
·· ·
−
Para induzir ambas as f´ormulas, primeiro fazemos os c´alculos para v´arios valores de n, os quais apresentamos na seguinte tabela. n S p (n) S i (n)
1
2
2 =1 2 1 = 12
·
3
6=2 3 4 = 22
4
12 = 3 4 9 = 32
·
·
5
20 = 4 5 16 = 42
·
30 = 5 6 25 = 52
·
·· · ·· · ·· ·
Os resultados na tabela sugerem que S p (n) = n(n + 1) e que S i (n) = n . Entretanto, isto n˜ a o constitui por si s´o uma prova rigorosa destas f´ormulas, pois para poder garantir a veracidade das mesmas utilizando a tabela ter´ıamos que verificar cada valor de n natural, sendo isto imposs´ıvel. Provaremos agora que, de fato, as f´ormulas induzidas s˜ao v´alidas usando o m´etodo da indu¸c˜ao finita. 2
Exemplo 5.2. Demonstre que para qualquer n 2+
∈ N, ´e valida a igualdade:
·· · + 2n = n(n + 1).
Solu¸c˜ ao. Definamos a proposi¸c˜ao P (n) : 2 +
·· · + 2n = n(n + 1)
e observemos que a mesma vale para n = 1 (base da indu¸c˜ao), de fato P (1) : 2 = 1(1 + 1). Agora partimos para a prova do passo indutivo:
• Hip´otese: Suponhamos que P (k) ´e verdadeira para um certo k 1, k ∈ N. • Tese: Devemos mostrar que P (k + 1) tamb´em ´e verdadeira.
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´ [SEC. 5.2: PROBLEMAS CLASSICOS
Com efeito, como 2+
· ·· + 2k = k(k + 1),
somando 2(k + 1) a ambos lados desta igualdade, temos que 2+
·· · + 2k + 2(k + 1) = k(k + 1) + 2(k + 1) = (k + 2)(k + 1).
Esta u ´ ltima igualdade afirma que P (k + 1) tamb´em ´e verdadeira. O M´etodo da Indu¸c˜ao nos garante que P (n) ´e verdadeira para qualquer n N.
∈
Exemplo 5.3. Demonstre que para qualquer n 1+3+5+
∈ N, ´e v´alida a igualdade:
· ·· + 2n − 1 = n2.
Solu¸c˜ ao. Aqui definimos a proposi¸c˜ao: P (n) : 1 + 3 + 5 +
· ·· + 2n − 1 = n2
e notamos que a mesma ´e v´alida se tomarmos, por exemplo, n = 1 e n = 2. De fato,
· −1
P (1) : 1 = 2 1
· − 1 = 4 = 22 .
e P (2) : 1 + 3 = 1 + 2 2
Agora s´o resta provar o passo indutivo:
• Hip´otese: Suponhamos que P (k) seja verdadeira para um certo k > 1, k ∈ N. • Tese: Devemos mostrar que P (k + 1) tamb´em ´e verdadeira. Com efeito, como 1+3+5+
·· · + 2k − 1 = k2,
somando 2k + 1 a ambos lados desta igualdade, temos que 1+3+5+
·· · + 2k − 1 + 2k + 1 = k2 + 2k + 1 = (k + 1)2 .
O Princ´ıpio de Indu¸ca˜o nos garante que P (n) ´e verdadeira para qualquer n N.
∈
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˜ MATEMATICA ´ [CAP. 5: INDUC ¸ AO
Uma conseq¨ uˆencia imediata do exemplo 5.2 ´e a f´ormula para a soma dos n primeiros n´ umeros naturais, dada por S (n) = 1 + 2 + 3 +
·· · + n = n(n2+ 1) .
(5.1)
Com efeito, como 2+4+
·· · + 2n = n(n + 1),
ent˜ao dividindo por 2 ambos os membros da igualdade acima, obtemos a equa¸c˜ao 5.1. Continuando com o mesmo racioc´ınio, ´e natural nos perguntarmos se ´e poss´ıvel obter uma f´ormula para a soma dos n primeiros quadrados perfeitos, ou seja, determinar Q(n) onde: Q(n) := 12 + 22 + 32 +
· ·· + n2.
Para induzir a f´ormula, consideramos os valores de S (n) e Q(n) numa tabela: n S (n) Q(n)
1 1 1
2 3 5
3 6 14
4 10 30
5 15 55
6 21 91
· ·· · ·· · ··
Aparentemente s˜ao existe nenhuma rela¸c˜ao entre S (n) e Q(n). Mas, se considerarmos o quociente Q(n)/S (n) vejamos o que acontece: n Q(n)/S (n)
1 3/3
2 5/3
3 7/3
4 9/3
5 11/3
6 13/3
·· · ·· ·
Isso nos sugere que vale a rela¸c˜ ao Q(n) 2n + 1 = , S (n) 3 logo nosso candidato para valor de Q(n) ´e Q(n) =
S (n)(2n + 1) n(n + 1)(2n + 1) = . 3 6
Convidamos o leitor a provar a veracidade da equa¸ca ˜o acima utilizando o m´ etodo da indu¸ca ˜o.
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´ [SEC. 5.2: PROBLEMAS CLASSICOS
5.2.2
Demonstrando Desigualdades
Apresentamos agora alguns exemplos de como usar indu¸ca ˜o para provar desigualdades. 2
Exemplo 5.4. Prove que 3n−1 < 2n para todo n
∈ N. 2
´ claro que P (1) ´e Solu¸cao. ˜ Denotamos por P (n) a propriedade: 3n−1 < 2n . E valida, pois 1 < 2. Agora supondo que P (n) ´e verdadeira temos que 2
3n = 3 n−1 3 < 2n
·
2n+1
·2
2
= 2(n+1) ,
logo P (n + 1) tamb´ em vale. Observamos que na desigualdade acima usamos o 2n+1 fato de que 3 < 2 para qualquer n N.
∈
No mesmo esp´ırito do problema anterior damos o seguinte exemplo: Exemplo 5.5. Mostre que para todo n´ umero n
n
∈ N maior que 3 vale 2
< n!.
Demonstra¸cao. ˜ Para n = 4 a desigualdade ´e verificada, pois 24 = 16 < 4! = 24. Vamos assumir como hip´ otese de indu¸ca ˜o que a desigualdade ´e v´alida para n 4. Ent˜ ao, precisamos mostrar que a mesma vale tamb´ em para n + 1. De fato, por hip´ otese de indu¸c˜ ao: 2n < n! (5.2)
≥
Como 2 < n + 1, po demos multiplicar o lado esquerdo da desigualdade em 5.2 por 2 e o lado direito por n + 1, sem alterar o sinal de desigualdade. Logo, temos que: 2n .2 = 2n+1 < n!(n + 1) = (n + 1)!, concluindo nossa demonstra¸ca ˜o.
5.2.3
Indu¸ c˜ ao em problemas de divisibilidade
Agora damos alguns exemplos de problemas de divisibilidade que podem ser mostrados utilizando o M´etodo da Indu¸ ca ˜o: n
Exemplo 5.6. Mostre que
j ! ´e um n´ umero ´ımpar.
j =1
1
Solu¸cao. ˜ A afirma¸c˜ ao ´e verdadeira para n = 1, pois
j ! = 1, que obviamente
j =1
´e ´ımpar. Partimos agora para a prova do passo indutivo:
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˜ MATEMATICA ´ [CAP. 5: INDUC ¸ AO k
•
Hip´ otese:
j ! ´e um n´umero ´ımpar para k > 1.
j =1
k+1
•
Tese:
Com efeito,
j ! ´e um n´ umero ´ımpar.
j =1
k+1
k
j ! =
j =1
j ! + (k + 1) !
j =1
Sendo k > 1 afirmamos que (k + 1) ! ´e um n´ umero par, pois, (k + 1) ! = 2 [3 k (k + 1)]. Portanto,
···· ·
·
k+1
j ! = n´ umero ´ımpar + n´ umero par
j =1
= n´ umero ´ımpar.
Exemplo 5.7. Mostre que para qualquer n 3.
3
∈ N, n
+ 2n ´e sempre divis´ıvel por
Solu¸cao. ˜ Para n = 1 a afirma¸c˜ ao ´e v´alida, pois 13 + 2 1 = 3, que obviamente ´e divis´ıvel por 3. Assumamos como hip´ otese indutiva que a afirma¸ca ˜o vale para algum k N, isto ´e, Hip´ otese: k3 + 2k ´e divis´ıvel por3.
·
∈
Devemos mostrar que a afirma¸ca ˜o tamb´em ´e verdadeira para k + 1, ou seja, temos que provar que Tese: (k + 1)3 + 2(k + 1) ´e divis´ıvel por3. Para provar isto u ´ ltimo, usamos o fato de que (k + 1)3 + 2(k + 1) = (k3 + 3k2 + 3k + 1) + (2k + 2); agrupando adequadamente, (k + 1)3 + 2(k + 1) = (k3 + 2k) + (3k2 + 3k + 3) = (k3 + 2k) + 3(k 2 + k + 1)
m´ ultiplo de 3
m´ ultiplo de 3
= m´ ultiplo de 3,
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˜ NA GEOMETRIA [SEC. 5.3: INDUC ¸ AO
concluindo assim a prova. Exemplo 5.8. Mostre que a soma dos cubos de trˆes nu´meros naturais consecutivos ´e divis´ıvel por 9. Solu¸cao. ˜ Definamos a seguinte proposi¸ca ˜o: p(n) : n3 + (n + 1)3 + (n + 2)3 ´e um m´ ultiplo de nove. Notemos que P (1) ´e v´alida, pois 13 + 23 + 33 = 1 + 8 + 27 = 36 = 9 4.
·
Precisamos provar agora o passo indutivo, isto ´e,
• •
Hip´ otese: P (k) ´e verdadeira para algum k Tese: P (k + 1) tamb´em ´e verdadeira.
∈ N.
Para provar isto, observamos que (k + 1)3 + (k + 2)3 + (k + 3)3 = (k + 1)3 + (k + 2)3 + (k3 + 9k2 + 27k + 27) .
α
Ordenando adequadamente o lado direito da u ´ ltima igualdade, temos que
α = k3 + (k + 1)3 + (k + 2)3 + (9k2 + 27k + 27) = k3 + (k + 1)3 + (k + 2)3 + 9(k2 + 3k + 3)
m´ ultiplo de 9
= m´ ultiplo de 9,
m´ ultiplo de 9
completando assim nossa demonstra¸ca ˜o.
5.3
Indu¸ c˜ ao na Geometria
Tratamos aqui alguns exemplos que mostram a utilidade do M´ etodo de Indu¸ ca ˜o na resolu¸ca ˜o de problemas geom´etricos. Vamos come¸car estudando duas propriedades importantes dos pol´ıgonos. A primeira delas trata da soma dos ˆangulos internos de um pol´ıgono de n lados (n-´ agono). Exemplo 5.9. Mostre que a soma dos aˆngulos internos de um pol´ıgono de n lados (n 3) ´e igual a (n 2)π radianos.
≥
−
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˜ MATEMATICA ´ [CAP. 5: INDUC ¸ AO
A4
A4
A3 A5
A1
A2
A3
A1
A2
(a)
(b) Figura 5.1::
Solu¸cao. ˜ No caso de n = 3 a propriedade acima ´e muito bem conhecida. Desde Tales de Mileto e Euclides se conhecia que a soma dos ˆangulos internos de um triˆ angulo ´e π radianos. Fa¸camos mais um caso, tomando n = 4. Neste caso, podemos dividir um quadril´ atero em dois triˆ angulos, como mostra a Figura 5.1(a) Assim, a soma dos aˆngulos internos de um quadril´ atero ´e 2π radianos. Para elucidar o processo de indu¸ca ˜ o e n˜ ao deixar d´ uvidas sobre o que iremos fazer, vamos considerar mais um pol´ıgono, o pent´ agono (n = 5). Neste caso, para mostrar que a soma dos seus aˆngulos internos ´e (5 2)π = 3π radianos, iremos dividir o pent´ agono A1 A2 A3 A4 A5 em um quadril´ atero A1 A2 A3 A4 e um triˆangulo A1 A4 A5 , como mostra a Figura 5.1-(b). Assim, a soma dos angulos ˆ internos do pent´ agono A1 A2 A3 A4 A5 ´e igual a` soma dos a ˆngulos internos do triˆ angulo A1 A4 A5 (igual a π) mais a soma dos aˆngulos internos do quadril´ atero A1 A2 A3 A4 (igual a 2π), ou seja, ´e igual a 3π. Finalmente, vamos assumir como hip´ otese de indu¸c˜ ao que para um certo n 3 mostramos que a soma dos aˆngulos internos do n-´ agono ´e (n 2)π. Precisamos mostrar que a soma dos aˆngulos internos de um n + 1-´ agono ´e [(n + 1) 2]π = (n 1)π. De fato, podemos repetir o processo acima. Vamos denominar de A1 , A2 , . . . , An , An+1 os v´ertices do (n + 1)-´ agono. Podemos dividi-lo no n-´ agono A1 A2 . . . An e no triˆ angulo A1 An+1 An . Logo, a soma dos aˆngulos internos do (n + 1)-´ agono ´e (n 2)π + π = (n 1)π
−
≥
−
−
−
−
−
Exemplo 5.10. Mostre que o n´ umero de diagonais de um pol´ıgono convexo de n(n−3) n-lados ´e igual a . 2 Solu¸cao. ˜ Observe que para n = 3 temos que existem 0 = 3.(3 3)/2 diagonais num triˆ angulo. Para n = 4, temos 2 = 4(4 3)/2 diagonais num quadril´ atero convexo (veja a figura 5.2).
−
−
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˜ NA GEOMETRIA [SEC. 5.3: INDUC ¸ AO
Vamos agora assumir como hip´ otese de indu¸c˜ ao que se n ´e um n-´ agono convexo ent˜ ao o seu n´ umero de diagonais ´e n(n 3)/2 e vamos provar que a f´ ormula vale para um (n + 1)-´ agono convexo. De fato, denote por A1 , A2 , . . . , An , An+1 os v´ertices do n + 1-´ agono. Podemos decompˆ o-lo como a uni˜ a o do n-´ agono A1 , A2 , . . . , An e do triˆangulo A1 , An , An+1 . Neste caso, para contarmos as diagonais do (n + 1)-´ agono devemos considerar os seguintes casos:
−
•
Diagonais do n-´ agono A1 , A2 , . . . , An ; por hip´ otese de indu¸ca ˜ o, o n´ umero dessas diagonais ´e n(n 3)/2.
−
• n − 2 diagonais que partem do v´ertice A
n+1
mais a diagonal A1 An .
Assim, o n´ umero total de diagonais do (n + 1)-´ agono ´e n(n 3) + (n 2
−
2
2
− 2) , − 2) + 1 = n − 3n 2+ 2n − 2 = n −2n − 2 = (n + 1)(n 2
como quer´ıamos demonstrar.
A4
A4
A3 A5
A1
A2
A3
A1
(a)
A2 (b)
Figura 5.2::
Exemplo 5.11. Mostre que podemos cobrir os n2 pontos no reticulado abaixo tra¸cando 2n 2 segmentos de reta sem tirar o l´apis do papel.
−
Solu¸cao. ˜ O caso n = 3 j´ a foi enunciado no exemplo 1.9 do Cap´ıtulo 1. A figura abaixo mostra a solu¸ca ˜o, onde o caminho realizado com as 4 linhas ´e o seguinte: A B C D B. Daremos a prova do problema acima por indu¸ ca ˜o. Para isso, veja que podemos resolver o caso n = 4 continuando a solu¸ ca ˜o do caso n = 3. Como paramos num dos v´ ertices do quadrado 3 3, acrescentamos mais uma linha e uma coluna para obter um reticulado 4 4. Assim, conseguimos cobrir os 16 pontos utilizando
→ → → →
×
×
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˜ MATEMATICA ´ [CAP. 5: INDUC ¸ AO
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•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
n×n−pontos
Figura 5.3::
C A
D
•
•
•
•
•
•
•
•
•B
Figura 5.4::
4 + 2 = 6 linhas, sem tirar o l´apis do papel e cobrindo dois lados do quadrado, como mostram as linhas descont´ınuas na Figura 5.5. Finalmente, vamos assumir como hip´ otese de indu¸ca ˜o que podemos cobrir n 2 um reticulado n n com 2n 2 linhas, sendo que a u ´ltima delas cobre um dos lados do reticulado. Acrescentando 2n+1 p ontos como mostra a figura, obtemos um reticulado (n + 1) (n +1) que pode ser coberto com 2n 2+ 2 = 2(n + 1) 2 pontos, como quer´ıamos demonstrar.
≥
× ×
−
−
−
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ˆ [SEC. 5.4: MISCELANEA
A
D
•
•
•C •
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•B •
Figura 5.5::
5.4
Miscelˆ anea
Nesta se¸ca ˜o discutiremos alguns exemplos interessantes de como podemos aplicar o m´ etodo da indu¸c˜ ao aos mais variados tipos de problemas. O primeiro deles ´e uma generaliza¸ca ˜o do problema 1.5: Exemplo 5.12. Um rei muito rico possui 3n moedas de ouro. Por´ em, uma destas moedas ´e falsa e seu peso ´e menor que o peso das demais. Com uma balan¸ ca de 2 pratos e sem nenhum peso, mostre que ´e p oss´ıvel encontrar a moeda falsa com apenas n pesagens. Solu¸cao. ˜ Para resolver este problema, vamos utilizar o m´ etodo da indu¸ c˜ a o. De fato, se n = 1, procederemos da seguinte forma: pegamos duas moedas quaisquer e colocamos na balan¸ ca, deixando uma do lado de fora. Caso a balan¸ ca se equilibre, a moeda que est´ a do lado de fora ´e necessariamente a que tem menor peso. Caso a balan¸ca se desequilibre, a que tem menor peso est´ a na balan¸ca, no prato mais alto. O caso n = 2 foi feito no problema 1.5. Vamos agora assumir como hip´ otese de indu¸ca ˜o que dadas 3 moedas, podemos achar a moeda mais leve com n pesagens. Vamos mostrar que para n +1 moedas, precisamos de n + 1 pesagens. De fato, dividiremos as 3n+1 moedas em 3 grupos, A, B e C com 3n moedas cada. Colocamos na balan¸ ca os grupos A e B. Caso os dois grupos se equilibrem, a moeda mais leve est´a no grupo C . Caso o grupo A esteja mais leve, a moeda mais leve se encontra no grupo A. De qualquer modo, com uma pesagem conseguimos determinar em qual grupo de 3n elementos a moeda mais leve se encontra. Por hip´ otese de indu¸ca ˜o, precisamos de mais n pesagens para encontrar a moeda mais leve, totalizando n + 1 pesagens. Exemplo 5.13. Mostre que utilizando um balde com 5 litros de capacidade e outro com 7 litros, ´e poss´ıvel separar qualquer quantidade superior a 24 litros.
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˜ MATEMATICA ´ [CAP. 5: INDUC ¸ AO
Solu¸cao. ˜ Novamente, faremos a prova utilizando o m´etodo da indu¸ c˜ ao. Neste caso, come¸caremos o processo de indu¸ca ˜o a partir de 24. De fato, podemos separar 24 litros utilizando duas vezes o balde de 7 e duas vezes o balde de 5 litros. Note que o problema acima equivale a mostrar que Todo n´ umero maior ou igual a 24 pode ser escrito da forma 7x + 5y, onde x e y s˜ ao n´ umeros inteiros maiores ou iguais a zero. Neste caso, escrevemos 24 como 24 = 2.7 + 2.5. Por hip´ otese de indu¸ca ˜o, vamos supor que conseguimos escrever um n´ umero n 24 como n = 7x + 5y, com x e y n´ umeros inteiros maiores ou iguais a zero. Devemos mostrar que n + 1 se escreve deste modo tamb´ em. Para isso, vamos dividir a an´ alise em dois casos: Caso 1: y 3 Logo, x 2 pois se isso n˜ ao ocorresse, ter´ıamos 7x + 5y 22 < 24, o que ´e imposs´ıvel. Assim, p odemos escrever:
≥
≥
≤
≤
n + 1 = 7x + 5y + 1 = 7(x
− 2) + 5(y + 3),
pois x 2 0. Caso 2: y 4 Neste caso, y 4 ´e maior que 0. Logo, p odemos escrever:
− ≥
≥
−
n + 1 = 7x + 5y + 1 = 7(x + 3) + 5(y
− 4),
finalizando a nossa prova por indu¸ ca ˜o Finalizamos esta se¸ca ˜o com um exemplo cl´ assico conhecido como Torre de Han´ oi . Exemplo 5.14. A Torre de Han´oi ´e um jogo composto por uma base com 3 hastes e n an´eis colocadas num deles. Os an´eis s˜ ao colocados em ordem crescente de acordo com seu tamanho (ver Figura 5.6). Os an´ eis podem ser deslocados de uma haste para qualquer outra, sendo que nunca pode ser colocado um anel maior em cima de um menor. Prove que: ´ poss´ıvel mover todos os an´eis para uma das hastes que est˜ (a) E ao livres; (b) Isto pode ser realizado usando 2n
− 1 movimentos.
Solu¸cao. ˜ Resolveremos ambas quest˜ oes usando indu¸ca ˜o sobre n. Primeiro verificamos que as afirma¸co ˜es s˜ ao v´ alidas para n = 1, 2. Com efeito, se temos somente um anel basta mover este para qualquer outra haste com um unico ´ movimento (21 1 = 1). Se temos 2 an´ eis ent˜ ao movemos o menor deles para a segunda haste, o maior para a terceira haste e, finalmente, o menor para a terceira haste, realizando um total de 3 movimentos (22 1 = 3).
−
−
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´ ˜ [SEC. 5.5: METODO FORTE DA INDUC¸ AO
Figura 5.6: Torre de Hanoi Uma vez constatada a veracidade das afirma¸ c˜ oes para n = 1, 2, supomos que as mesmas valem para n = k. Agora resta provar que tamb´ em valem para n = k + 1. De fato, se temos k + 1 an´ eis na primeira haste, ent˜ ao pela hip´ otese indutiva podemos mover todos eles, exceto o maior, para a terceira haste usando 2k 1 movimentos. Seguidamente movemos o anel restante para a segundo haste e, finalmente, movemos os k an´ eis da terceira haste para a segunda haste usando k novamente 2 1 movimentos. Para finalizar, notamos que foram feitos (2k 1) + 1 + (2k 1) = 2k+1 1 movimentos.
−
−
5.5
−
−
−
M´ etodo Forte da Indu¸ c˜ ao
Muitas vezes, para conseguir mostrar que a hip´otese P (n + 1) ´e verdadeira, precisamos supor que P (k) ´e verdadeira para todo n0 k n. Isto ´e a base do M´ etodo Forte da Indu¸cao ˜ Finita que enunciamos a seguir:
≤ ≤
Teorema 5.15 (M´ etodo Forte da Indu¸ ca ˜o Finita). Considere n0 um inteiro n˜ ao negativo. Suponhamos que, para cada inteiro n n0 seja dada uma proposi¸c˜ ao P (n), a qual chamaremos de “hip´ otese indutiva”. Se podemos provar, simultaneamente, as duas seguintes propriedades:
≥
(a)
a proposi¸cao ˜ P (n0 ) ´e verdadeira;
(b)
para cada inteiro n˜ ao negativo k, com n0 k n, temos que cada uma das proposi¸coes ˜ P (k) s˜ ao verdadeiras, segue-se que P (n + 1) ´ e tamb´em verdadeira,
≤ ≤
ent˜ ao, a proposi¸cao ˜ P (n) ´e verdadeira para qualquer n
≥n . 0
Vejamos agora algumas aplica¸ co ˜es interessantes deste m´ etodo. Utilizando o M´etodo Forte da Indu¸ca ˜o, vamos dar agora a prova alternativa do Teorema Fundamental da Aritm´etica estudado no Cap´ıtulo 2.
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˜ MATEMATICA ´ [CAP. 5: INDUC ¸ AO
Exemplo 5.16 (Teorema Fundamental da Aritm´ etica). Todo n´ umero natural N maior que 1 pode ser escrito como um produto N = p1 p2 p3
· · ··· p , onde m ≥ 1 ´e um n´umero natural e os p , 1 ≤ i ≤ m s˜ ao n´ umeros primos. disso, a fatora¸ca ˜o em (5.3) ´e u ´nica se exigirmos que p ≤ p ≤ ·· · ≤ p . Solu¸cao. ˜ Para cada n ∈ N, n ≥ 2, definamos a proposi¸ca ˜o m
i
1
2
(5.3) Al´em
m
P (n) : n ´e um n´ umero primo ou um produto de n´ umeros primos. Notemos que P (2) ´e verdadeira, pois 2 ´e um n´ umero primo Agora plantemos o passo indutivo:
• •
Hip´ otese: P (k) ´e verdade para cada inteiro k tal que 2
≤ k ≤ n.
Tese: P (n + 1) ´e verdade. Em outras palavras, temos que mostrar que n + 1 ´e um n´ umero primo ou ele ´e um produto de n´ umeros primos.
Faremos a prova dividindo em dois casos: (a) Se n + 1 ´e um numero primo, isto mostra que P (n + 1) ´e verdade, e isto acaba nossa demonstra¸ca ˜o. (b) Se n + 1 n˜ ao ´e um n´ umero primo, ent˜ ao existem α, β N com 2 α n e 2 β n tais que n + 1 = α β . Nossa hip´ otese indutiva ´e v´ alida para P (α) e P (β ). Isto significa que α ´e um n´ umero primo ou um produto de n´ umeros primos e que β ´e um n´ umero primo ou um produto de n´ umeros primos. Portanto, n + 1 = α β ´e um produto de n´ umeros primos.
≤ ≤
∈
·
≤ ≤ ·
Exemplo 5.17. Dada a seguinte rela¸ca ˜o de recorrˆencia a0 = 8; a1 = 10; an = 4an−1
− 3a − , ∀n ≥ 2. n
2
Mostre que sua solu¸ca ˜o ´e dada por an = 7 + 3n ,
+
∀n ∈ Z
.
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´ ˜ [SEC. 5.5: METODO FORTE DA INDUC¸ AO
Solu¸cao. ˜ Definamos a proposi¸ca ˜o P (n) : an = 7 + 3n . P (0) ´e verdadeira, pois 0 P (0) = 7 + 3 = 7 + 1 = 8. Suponhamos que P (k) ´e verdadeiro para cada inteiro k tal que 1 k n. Vamos mostrar que P (k) ´e verdade para k = n + 1. Com efeito,
≤ ≤
an+1 = 4an
− 3a − = 4(7 + 3 ) − 3(7 + 3 − ) =7+4×3 −3×3 − =7+3 − 4×3−3 1
n
n
n
n
1
1
n
n
1
= 7 + 3n−1 9 = 7 + 3n−1 = 7 + 3n+1 .
2
×3
Definimos a seq¨ uˆ encia de Fibonacci como sendo a seq¨ uˆencia F n tal que F 1 = 1; F 2 = 1; F n = F n−1 + F n−2 , se n
≥ 3.
A seq¨ uˆ encia de Fibonacci adquiriu muita fama devido a suas conex˜ oes com ´reas das mais variadas na cultura humana. Ela aparece em problemas de biologia, a arquitetura, engenharia, f´ısica, qu´ımica e muitos outros. Agora vamos utilizar indu¸c˜ ao para mostrar algumas de suas propriedades: Exemplo 5.18. Considere F n a seq¨ uˆencia de Fibonacci. Mostre que F n <
7 4
n
.
n
Solu¸cao. ˜ Definamos a proposi¸c˜ ao P (n) := F n < 74 . Para n = 1 temos que F 1 = 1 < 74 , de modo que P (1) ´e verdadeira. Suponhamos que P (1), P (2), . . . , P ( n), n n+1 2, sejam todas verdadeiras. Mostraremos que F n+1 < 74 . Com efeito, F n+1 = F n + F n−1 < <
7 n 4
7 4
7 4
< 1+
Como 1 + 7 n+1 . 4
7 4
<
7 2 , 4
∀ ≥
−1
n
+ 74 n−1 +
7 4
7 n−1 4 7 n−1 . 4
segue-se que F n+1 <
7 2 4
7 n−1 . 4
Portanto, F n+1 <
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˜ MATEMATICA ´ [CAP. 5: INDUC ¸ AO
Observa¸ c˜ ao 5.19. Quando aplicamos o M´ etodo da Indu¸ ca ˜o devemos tomar certos cuidados. A seguir damos um exemplo de como o m´ etodo pode ser aplicado de forma errada. Vamos mostrar a seguinte afirma¸ ca ˜o: Afirma¸ cao: ˜ Num conjunto qualquer de n bolas , todas as bolas pos
suem a mesma cor. Observe que nossa proposi¸ ca ˜o ´e claramente falsa. Mas, mesmo assim, vamos dar uma prova por indu¸ca ˜o: Para n = 1, nossa proposi¸ca ˜o ´e verdadeira pois em qualquer conjunto com uma bola, todas as bolas tˆem a mesma cor, pois s´ o existe uma bola. Assuma por hip´ otese de indu¸c˜ ao que a proposi¸ca ˜o ´e verdadeira para n e provemos que a proposi¸ca ˜o ´e verdadeira para n + 1. Ora, seja = b1 , . . . , bn , bn+1 o conjunto com n+1 bolas referido. Considere os subconjuntos de e de com n elementos, constru´ıdos como:
A {
B C A
}
B = {b , b , . . . , b } e C = {b , . . . , b } 1
2
n
2
n+1
Observe que ambos os conjuntos tˆem n elementos. Assim, as bolas b1 , b2 , . . . , bn do conjunto tˆ em a mesma cor. Do mesmo modo, as bolas do conjunto tˆem a mesma cor. Em particular, a bola bn tem a mesma cor da bola bn+1 . Assim, todas as bolas tˆ em a mesma cor. Ache o erro no argumento!
B
5.6
C
Exerc´ıcios
1. Considere a, b
∈ R de modo que a + b > 0 e a = b. Mostre que 2 − (a + b ) > (a + b) , ∀n ∈ N. Mostre que para qualquer n ∈ N ´e valida a seguinte desigualdade √11 + √12 + √13 + ··· + √1n > √n. n
2.
1
n
n
n
3. Mostre que para qualquer n
∈ N ´e valida a seguinte desigualdade 1 1 1 1 13 + + + ·· · + > . n+1 n+2 n+3 2n 24
4. Mostre a seguinte identidade trigonom´etrica cos x + 2cos 2x +
− n cos(n + 1)x − 1 . ··· + n cos nx = (n + 1)cos nx4sin 2 x 2
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[SEC. 5.6: EXERC´ICIOS
5. Um torneio de xadrez tem n jogadores. Cada jogador joga uma u´nica partida contra todos os outros jogadores. Calcule o n´ umero total de partidas do torneio. 6. Demonstre que para qualquer n
∈ N, ´e valida a igualdade:
13 + 23 + 33 . . . + n3 = 7. Demonstre que para qualquer n
+
10.
2
n(n + 1)(2n + 1)(3n2 + 3n 30
8. Mostre que qualquer n´ umero natural n vis´ıvel por 133.
∈Z Mostre que para todo n ∈ Z
n(n + 1) 2
∈ N, ´e valida a igualdade:
14 + 24 + 34 . . . + n4 =
9. Mostre que para todo n
n+2
− 1)
+ 12 2n+1 ´e sempre di-
≥ 0, 11
temos que 32n+1 + 2n+2 ´e um m´ ultiplo de 7.
+
temos que 32n+2 + 26n+1 ´e um m´ultiplo de
11.
11. Lembrando que a seq¨ uˆencia de Fibonacci define-se recursivamente p or F 1 = 1; F 2 = 1; F n = F n−1 + F n−2 , mostre as seguintes propriedades: n
(a)
n
F i = F n+2
i=1
− 1;
(b)
i=1
n
(c)
F 2i = F 2n+1
i=1
(e) F n F n+1
n
(g)
(d) F n−1 F n+1
2
n
1
= F 2n−1 ;
(f)
2
− F
n
2n−1
− √ √ − √ −√
− F − F −
2n
− 1;
F 2i−1 = F 2n ; = ( 1)n ;
−
F i F i+1 = F 22n ;
i=1 n
F i F i+1 = F 22n+1
i=1
1;
(h)
F i2 = F n F n+1 .
i=1
12. Considere F n a seq¨ uˆ encia de Fibonacci. Mostre que F n =
1 5
1+ 5 2
n
1 5
1
5
2
n
.
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˜ MATEMATICA ´ [CAP. 5: INDUC ¸ AO
13. Calcular o n´ umero de regi˜oes em que o plano ´e dividido por n retas distintas em cada uma das seguintes situa¸co ˜es (a) As n retas s˜ ao concorrentes; (b) N˜ ao existem duas retas paralelas nem trˆes retas concorrentes.
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Cap´ıtulo 6
Problemas de Olimp´ıadas Este cap´ıtulo est´a inteiramente dedicado a` problemas de olimp´ıadas regionais, nacionais e internacionais. Nele vocˆe vai encontrar um amplo material suficiente para algumas horas (ou dias!) de divers˜ ao e treinamento para olimp´ıadas. Para entender as siglas de cada competi¸c˜ ao, veja a tabela no final do cap´ıtulo. Para as solu¸co ˜es, exerc´ıcios adicionais e continua¸ c˜ ao do treinamento, recomendamos a leitura dos livros [11], [12] e [13], al´em da visita aos sites www.obm.org.br e www.obmep.org.br . Agora que vocˆe j´ a estudou bastante, m˜ a o na massa e boa sorte! Problema 6.1 (OIM-1988). Seja ABC um triˆ angulo cujos lados s˜ ao a, b e c. Divide-se cada lado do triˆ angulo em n segmentos iguais. Sejam sA (respectivamente, sB e sC ) a soma dos quadrados das distˆancias do v´ertice A a cada um dos pontos de divis˜ ao do lado oposto a A (respectivamente, B e C ). Se S = sA + sB + S C , demonstre que
a2
S + b2 + c2
´ e um n´ umero racional. Problema 6.2 (IMO-1979). Seja P um ponto dado dentro de uma esfera. Trˆes vetores mutuamente perpendiculares partem de P e intersectam a esfera nos pontos U, V e W . Q denota o v´ ertice diagonalmente oposto a P no paralelep´ıpedo determinado por P U , P V e P W . Encontre o lugar geom´ etrico de Q, para as trinas de raios que partem de P .
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[CAP. 6: PROBLEMAS DE OLIMP´IADAS
Problema 6.3 (OAM-2005). Decida se o seguinte n´ umero ´ e primo, justificando: (2005)4 + 242 . Problema 6.4 (OAM-2005). Ser´ a que existe um m´ ultiplo de 2005 que se escreve utilizando apenas zeros e uns? Problema 6.5 (OBM-2002). Mostre que, entre dezoito inteiros consecutivos de trˆes algarismos, sempre existe algum que ´e divis´ıvel pela soma de seus algarismos. Problema 6.6 (IMO-1983). Diga se ´e poss´ıvel escolher 1983 n´ umeros inteiros positivos e distintos, todos menores ou iguais que 105 , onde nenhum de trˆ es inteiros consecutivos est˜ ao em progress˜ ao aritm´etica? Justifique sua resposta. Problema 6.7 (IMO-1978). Considere a seq¨ uˆ encia de inteiros positivos distin∞ tos ak k=1 . Mostre que
{ }
n
n
≥ ak k2 k=1
1 , k k=1
∀n ∈ N.
Problema 6.8 (IMO-1979). Sejam p e q n´ umeros naturais tais que p =1 q
1 1 − 12 + 13 − 14 + · · · − 1318 + . 1319
Mostre que p ´e divis´ıvel por 1979. Problema 6.9 (IMO-1979). Considere π como sendo um plano e tome P π e QP + P R Q / π. Encontre todos os pontos R π tal que a raz˜ ao seja m´ axima. QR
∈
∈
∈
Problema 6.10 (IMO-1978). Sejam m e n n´ umeros naturais tais que 1 m m < n. Se na representa¸cao ˜ decimal de 1978 temos que seus trˆes ´ ultimos d´ıgitos coincidem com os trˆes ´ ultimos d´ıgitos da representa¸c˜ ao decimal de 1978n , encontre m e n de modo que m + n seja o menor valor poss´ıvel.
≤
Problema 6.11 (IMO-1979). Encontre todos os n´ umeros reais a para os quais existem n´ umeros reais n˜ ao negativos x1 , x2 , x3 , x4 , x5 satisfazendo as rela¸coes ˜ 5
k=1
5
kxk = a,
5
3
2
k xk = a ,
k=1
k5 xk = a3 .
k=1
Problema 6.12 (IMO-1981). Determine o valor m´ aximo de m2 + n2 , onde m e n s˜ ao inteiros satisfazendo m, n 1, 2, . . . , 1981 e (n2 mn m2 )2 = 1.
∈{
}
−
−
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133 Problema 6.13 (IMO-1981). Resonda as seguintes quest˜ oes: (a)
(b)
Para quais valores de n > 2 existe um conjunto de n inteiros positivos consecutivos de modo que o maior elemento neste conjunto seja um divisor do m´ınimo m´ ultiplo comum dos restantes n 1 n´ umeros?
−
Para quais valores de n > 2 existe exatamente um conjunto com a propriedade enunciada em (a)?
Problema 6.14 (IMO-1981). A fun¸c˜ ao f (x, y) satisfaz f (0, y) =y + 1, f (x + 1, 0) =f (x, 1), f (x + 1, y + 1) =f (x, f (x + 1, y)), para todos os inteiros n˜ ao negativos x, y. Determine f (4, 1981). Problema 6.15 (IMO-1982). A fun¸cao ˜ f (n) esta definida para todos os inteiros positivos n e toma seus valores nos inteiros n˜ ao negativos. Tamb´ em para quaisquer m e n temos que f (m + n) f (m) f (n) = 0 ou 1 f (2) = 0,
−
f (3) > 0,
−
e
f (9999) = 3333.
Ache f (1982). Problema 6.16 (IMO-1982). Prove que se n ´ e um inteiro positivo tal que a equa¸c˜ ao x3 3xy2 + y3 = n
−
tem uma solu¸cao ˜ inteira (x, y), ent˜ ao existem pelo menos outras trˆ es solu¸coes ˜ inteiras. Demonstre que a equa¸cao ˜ n˜ ao tem solu¸c˜ ao inteira quando n = 2891. Problema 6.17 (IMO-1982). Seja ABCDEF um hex´ agono regular. Sejam M um ponto sobre a diagonal AC e N um ponto sobre a diagonal CE , de modo que AM CN = = r. AC CE Determine r no caso em que B, M e N sejam colineares. Problema 6.18 (IMO-1985). Dado um conjunto M de 1985 inteiros positivos distintos onde nenhum deles tem um divisor primo maior que 26, prove que M cont´ em pelo menos um subconjunto de quatro elementos distintos cujo produto ´e a quarta potˆ encia de um inteiro. Problema 6.19 (IMO-1977). Seja f (n) uma fun¸cao ˜ definida no conjunto dos inteiros positivos e tomando valores no mesmo conjunto. Prove que se f (n + 1) > f (f (n)), para cada inteiro positivo n, ent˜ ao f (n) = n , n.
∀
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[CAP. 6: PROBLEMAS DE OLIMP´IADAS
Problema 6.20 (IMO-1975). Quando 44444444 ´e escrito em nota¸cao ˜ decimal, temos que a soma de seus d´ıgitos ´ e A. Agora, denote por B a soma dos d´ıgitos de A. Encontre a soma dos d´ıgitos de B. ( A e B foram escritos em nota¸c˜ ao decimal) Problema 6.21 (IMO-1963). Encontre todas as ra´ızes da equa¸cao ˜
− − x2
p + 2
x2
1 = x,
onde p ´e um parˆ ametro real.
Problema 6.22 (OCM-2003). Um homem acha-se no centro de um c´ırculo. A periferia desse c´ırculo ´e delimitada por uma cerca, que separa um homem de um cachorro. Admitindo que o cachorro s´ o pode correr ao longo da cerca, prove que o homem pode escapar pulando a cerca sem ser mordido pelo c˜ ao se as velocidades m´ aximas poss´ıveis de serem desenvolvidas pelo cachorro e pelo homem estiverem entre si na raz˜ ao 4:1. Determine as rela¸coes ˜ entre as velocidades m´ aximas do cachorro e do homem para os quais o homem pode escapar. Problema 6.23 (IMO-1997). Sejam x1 , x2 ,...,xn n´ umeros reais que verificam as condi¸coes: ˜
|x
1
| | ≤ n +2 1 ,
+ x2 + ... + xn = 1 e xi
|
para i = 1, 2, . . . , n .
Demonstrar que existe uma reordena¸c˜ ao (ou permuta¸cao) ˜ y1 , y2 ,...,yn de x1 , x2 ,...,xn tal que n+1 y1 + 2y2 + + nyn . 2
|
···
|≤
Problema 6.24 (IMO-1997). Determinar todos os pares (a, b) de inteiros a 1, b 1 que satisfazem a equa¸cao ˜
≥
≥
2
ab = ba . Problema 6.25 (IMO-2002). Seja n um inteiro positivo e T o conjunto de pontos (x, y) no plano onde x e y s˜ ao inteiros n˜ ao negativos com x + y < n. Cada ponto de T ´e pintado de vermelho ou azul. Se um ponto (x, y) ´e vermelho, ent˜ ao todos os pontos (x′ , y′ ) com x′ x e y′ y tamb´em s˜ ao. Um conjunto X ´e um conjunto de n pontos azuis com abscissas distintas, e um conjunto Y ´ e um conjunto de n pontos azuis com ordenadas distintas. Prove que o n´ umero de conjuntos X ´e igual ao n´ umero de conjuntos Y.
≤
≤
Problema 6.26 (IMO-2000). No in´ıcio existem n ( n 2) pulgas numa reta horizontal, nem todas no mesmo ponto. Para um n´ umero real positivo λ define-se um salto da seguinte maneira: Escolhem-se duas pulgas quaisquer nos pontos A e
≥
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135 B com o ponto A ` a esquerda do ponto B; A pulga que est´ a em A salta at´e o ponto C da reta, ` a direita de B, tal que BC = λ. AB Determine todos os valores de λ para os quais qualquer ponto M na reta e quaisquer que sejam as posi¸coes ˜ iniciais das n pulgas, existe uma sucess˜ ao finita de saltos que levam todas as pulgas para pontos `a direita de M . Problema 6.27 (IMO-2000). Um m´ agico tem cem cart˜ oes numerados de 1 a 100. Coloca-os em trˆ es caixas, uma vermelha, uma branca e uma azul, de modo que cada caixa cont´ em pelo menos um cart˜ ao. Uma pessoa da plat´ eia escolhe duas das trˆ es caixas, seleciona um cart˜ ao de cada caixa e anuncia a soma dos n´ umeros dos dois cart˜ oes que escolheu. Ao saber esta soma, o m´ agico identifica a caixa da qual n˜ ao se retirou nenhum cart˜ ao. De quantas maneiras podem ser colocados todos os cart˜ oes nas caixas de modo de que este truque sempre funcione? (Duas maneiras consideram-se diferentes se pelo menos um cart˜ ao ´e colocado numa caixa diferente). Problema 6.28 (IMO-2001). Sejam a,b,c,d inteiros com a > b > c > d > 0. Considere que ac + bd = (b + d + a c)(b + d a + c).
−
Prove que ab + cd n˜ ao ´e um n´ umero primo.
−
Problema 6.29 (OCS-1997). Seja n um n´ umero natural, n > 3. Demonstre que entre os m´ ultiplos de 9 menores que 10n h´ a mais n´ umeros com a soma de seus d´ıgitos igual a 9(n 2) que n´ umeros com a soma de seus d´ıgitos igual a 9(n 1).
−
−
Problema 6.30 (OCS-1997). Considere um triˆangulo acutˆ angulo ABC, e seja X um ponto do plano do triˆangulo. Sejam M, N e P as proje¸ c˜ oes ortogonais de X sobre as retas que cont´em as alturas do triˆ angulo ABC. Determinar para que posi¸coes ˜ de X o triˆ angulo MNP ´ e congruente a ABC. Nota: a proje¸cao ˜ ortogonal de um ponto X sobre uma reta l ´e a intersec¸cao ˜ de l com a perpendicular a ela que passa por X. Problema 6.31 (OPM-2001). Um pacote com 100 bombons deve ser dividido entre 15 garotos. (a)
Prove que existem dois garotos que receberam a mesma quantia de bombons.
(b)
Qual o n´ umero m´ınimo de bombons no pacote, de modo que, depois de divididos entre os 15 garotos, ´e poss´ıvel que n˜ ao existam dois garotos que receberam a mesma quantia de bombons.
Obs: Considere que algum garoto pode receber zero bombons.
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[CAP. 6: PROBLEMAS DE OLIMP´IADAS
Problema 6.32 (OEMRJ-1998). Encontre todas as solu¸coes ˜ inteiras e positivas de 1 1 1 + = , x y p onde p ´ e um n´ umero primo (cada solu¸cao ˜ ´e um par ordenado (x, y)). Encontre pelo menos 5 solu¸coes ˜ inteiras e positivas de 1 1 1 + = , x y 1998 ´ poss´ıvel colocar os inteiros 1, 2, 3, 4, ..., Problema 6.33 (OMRN-2000). E 239, 240 numa tabela com 15 linhas e 16 colunas, de modo que a soma dos n´ umeros em cada uma das colunas seja a mesma? Problema 6.34 (ORMRS-1998). Mostrar que para cada n inteiro positivo:
1+
1 n
n
< 3.
Problema 6.35 (OSM-1999). Os segmentos de reta AO, OB e OC s˜ ao mutuamente perpendiculares. Expresse a ´ area do triˆ angulo ABC em termos das ´ areas dos triˆ angulos OBC, OCA e OAB. Problema 6.36 (OCS-2004). Dada uma circunferˆ encia C e um ponto P exterior a ela, tra¸cam-se por P as duas tangentes `a circunferˆ encia, sendo A e B os pontos de tangˆ encia. Toma-se um ponto Q sobre o menor arco AB de C. Sejam M a intersec¸cao ˜ da reta AQ com a perpendicular a AQ tra¸cada por P e N a intersec¸cao ˜ da reta BQ com a perpendicular a BQ tra¸cada por P. Demonstre que, ao variar Q no arco AB, todas as retas MN passam por um mesmo ponto. Problema 6.37 (OM-2004). Ache todos os n´ umeros naturais x, y, z que veri ficam simultaneamente: xyz = 4104 e x + y + z = 77. Problema 6.38 (OMEG-1999). Quantos retˆangulos diferentes constitu´ıdos de um n´ umero inteiro de quadrados podem ser desenhados: (a)
Em um tabuleiro (xadrez) 8
(b)
Em um tabuleiro n
× n?
× 8?
Observa¸cao: ˜ consideramos dois retˆ angulos diferentes se eles possu´ırem dimens˜ oes diferentes ou se ocuparem posi¸c˜ oes diferentes no tabuleiro. Problema 6.39 (ORMSC-1999). Mostre que um n´ umero natural diferente de 1 formado somente por algarismos 1, n˜ ao pode ser um quadrado perfeito.
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137 Problema 6.40. Uma codorna ´ e uma pe¸ca que pode se mover num quadriculado infinito no seguinte sentido: em qualquer quadrado seu primeiro movimento ´e para um quadrado vizinho (horizontal ou vertical) e depois se move n quadrados em dire¸cao ˜ perpendicular ao primeiro movimento. Por exemplo, se n = 2, a codorna ´e um cavalo do xadrez. Encontre todos os n tais que a codorna consegue alcan¸car qualquer quadrado a partir de um quadrado qualquer. Problema 6.41 (OBM-1982). Dˆe as solu¸c˜ oes inteiras da equa¸cao ˜ x2 +15a = 2b . Problema 6.42 (OBM-1981). Encontre o n´ umero de solu¸coes ˜ inteiras, n˜ ao negativas, da equa¸cao ˜ x + y + z = n, onde n ´e um inteiro positivo. Problema 6.43 (OBM-1982). Sejam x,y,z n´ umeros inteiros tais que x3 +y 3 3 z ´e m´ ultiplo de 7. Mostre que um desses n´ umeros ´e m´ ultiplo de 7.
−
Problema 6.44 (OBM-1984). Quantos quadrados perfeitos existem entre 40.000 e 640.000 que s˜ ao m´ ultiplos simultaneamente de 3, 4 e 5? Problema 6.45 (OBM-1986). Dado um n´ umero natural n, determine de quantas maneiras esse n´ umero pode ser representado como soma de naturais consecutivos. Problema 6.46 (OBM-1984). Seja n um n´ umero inteiro maior que 1. Mostre que 4n + n4 n˜ ao ´e primo. Problema 6.47 (OBM-1983). Mostre que, para todo n´ umero natural n 1+
1 1 + + 2 3
≥ 2,
· · · + n1
n˜ ao ´e inteiro. Problema 6.48 (OBM-1981). Dado um n´ umero inteiro n, mostre que existe um m´ ultiplo de n que se escreve apenas com os algarismos 0 e 1. (Por exemplo, se n = 3, temos 111 ou 1011, etc). Problema 6.49 (IMO-1985). Seja D um inteiro diferente de 2, 5, 13. Mostre que podemos escolher A e B pertencentes a 2, 5, 13, D tal que AB 1 n˜ ao seja quadrado perfeito.
{
}
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[CAP. 6: PROBLEMAS DE OLIMP´IADAS
Problema 6.50 (OBM-1982). Um retˆ angulo de lados inteiros m e n ´e dividido em quadrados de lado 1. Um raio de luz entra no retˆ angulo por um dos v´ ertices, na dire¸cao ˜ da bissetriz do ˆangulo reto, e ´e refletido sucessivamente nos lados do retˆangulo. Quantos quadrados s˜ ao atravessados pelo raio de luz? Problema 6.51 (OBM-1981). Um clube de Matem´ atica cont´em 100 membros. Suponha que em qualquer grupo de 4 membros, existe um membro que conhe¸ca os outros 3. Prove que existe um membro do clube que conhece todos os outros 99 membros. Qual ´e o n´ umero m´ınimo de tais membros? (Obs.: se o membro A conhece o membro B, ent˜ ao o membro B tamb´em conhece o membro A). Problema 6.52 (OBM-1985). Apenas 5 casais participam de uma reuni˜ ao. Ap´ os os cumprimentos, Jo˜ ao pergunta a cada um dos outros 9 participantes: “Quantos apertos de m˜ ao vocˆ e deu?”e obt´em todas as nove respostas poss´ıveis: 0, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8. Qual foi a resposta da esposa do Jo˜ ao? (Obs.: obviamente ningu´ em apertou a m˜ ao do pr´ oprio conjugue.) Problema 6.53 (OBM-1983). Quantos n´ umeros, de 1 a 1983, podem ser escritos como soma de duas ou mais potˆencias distintas de 3? Problema 6.54 (OBM-1983). Os n´ umeros a, b e c s˜ ao reais n˜ ao-negativos e p e q s˜ ao inteiros positivos distintos. Prove que: ap + bp = cp Se , ent˜ ao a = 0 ou b = 0. aq + bq = cq
Problema 6.55 (OBM-1985). Prove que se a, b e c s˜ ao n´ umeros reais tais que a,b,c s˜ ao positivos e a + b + c = 1, ent˜ ao a2 + b2 + c2 1/3.
≥
Problema 6.56. O ponto A ´e chamado “pseudocentro de simetria”de um con junto M (que cont´em mais de um ponto do plano) se ´e poss´ıvel remover um ponto de M de modo que A seja o centro de simetria do conjunto resultante. Quantos pseudocentros de simetria um conjunto finito pode ter? Problema 6.57 (OBM-1983). Mostre que ´e poss´ıvel, usando apenas duas cores, pintar os pontos de uma circunferˆ encia de tal forma que n˜ ao exista triˆangulo retˆangulo inscrito na circunferˆ encia com v´ertices em pontos da mesma cor. Problema 6.58 (OBM-1984). Colam-se 27 cubos de madeira, todos iguais, para montar um cubo maior. Um cupim parte do centro de um cubo pequeno,
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139 colocado no centro de uma das faces do cubo grande. O cupim liga, sempre por linhas retas, o centro de um dos cubos pequenos ao centro de outro cubo pequeno com face adjacente ao primeiro. Desta forma, existe um caminho que passe exatamente uma vez por cada um dos pequenos cubos e termine no centro do cubo grande? Problema 6.59 (OBM-1985). Dois triˆ angulos semelhantes tˆ em dois pares de lados ordenadamente iguais. Qual a condi¸cao ˜ para que os dois triˆangulos n˜ ao se jam congruentes? Problema 6.60 (OBM-1979). Sejam ABCD um quadrado, M o ponto m´edio de AB, N o ponto m´ edio de BC e I a intersec¸cao ˜ de DN e CM . Calcule a area ´ do triˆ angulo NIC, tomando AB = 1. Problema 6.61 (OAM-2004). Um n´ umero n ´ e dito dobrado se ao escrevermos seus d´ıgitos na ordem inversa, obtemos exatamente o dobro de n. Por exemplo, 2004 n˜ ao ´e dobrado, pois 4002 = 2 2004. Mostre que n˜ ao existem n´ umeros dobrados menores que 1000.
×
Problema 6.62. Trˆes amigos, Kleber, Ferdinando e Ad˜ ao, que nunca mentem, se reuniram e travou-se a seguinte conversa: - Kleber fala: estou escolhendo dois n´ umeros inteiros positivos maiores que um, cujos valores n˜ ao revelo e vou dar, em segredo, a soma deles para Ferdinando e o produto deles para o Ad˜ ao. - Ferdinando fala: o valor que me foi dado n˜ ao excede 16. Ad˜ ao fala: eu n˜ ao consigo achar os valores dos dois n´ umeros escolhidos pelo Kleber. - Ferdinando fala: eu j´ a sabia que vocˆ e n˜ ao encontraria os valores dos dois n´ umeros. - Ad˜ ao fala: ah, ent˜ ao eu sei quais s˜ ao os dois n´ umeros. Responda: Qual o valor que foi dado a Ferdinando ? Baseado em que Ad˜ ao fez a ultima ´ afirmativa ? Problema 6.63 (OBM-2001). Mostre que n˜ ao existem dois n´ umeros inteiros a e b tais que (a + b)(a2 + b2 ) = 2001. Problema 6.64. Considere um quadrado de lado x. Com centro em cada v´ertice tra¸cam-se quatro circunferˆ encias de raio x. Determinar a ´ area do quadril´ atero curvil´ıneo interior ao quadrado dado.
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[CAP. 6: PROBLEMAS DE OLIMP´IADAS
Problema 6.65 (OBM-1981). Dados n pontos no plano, prove que existem 3 deles que determinam um ˆangulo menor ou igual a πn . Problema 6.66 (OBM-1985). Qual o algarismo das unidades do n´ umero N = 1 3 5 7 1993?
· · · ····
Problema 6.67. Seja p o maior fator primo do n´ umero 314 + 313 valor de p?
− 12. Qual o
Problema 6.68. Prove que entre 13 n´ umeros reais quaisquer y1 , . . . , y13 h´ a dois deles tais que: 0
≤
yi yj 1 + yi yj
−
≤
− √ 2 2+
√33 .
Problema 6.69 (OIM-1991). Encontre um n´ umero m de cinco algarismos distintos e n˜ ao nulos que seja igual ` a soma de todos os n´ umeros de trˆ es algarismos distintos que se pode formar a partir dos algarismos de m. Problema 6.70. Dado um conjunto M de 555 inteiros positivos, nenhum dos quais tem divisor primo maior que 26, prove que M cont´em um subconjunto de dois elementos distintos cujo produto ´ e um quadrado perfeito. Problema 6.71 (L.Putnan-1956). Demonstrar que todo inteiro tem um m´ ultiplo cuja representa¸cao ˜ decimal cont´em os 10 d´ıgitos 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9 e 0. Problema 6.72 (OBM-2001). Dizemos que um n´ umero natural ´e legal quando for soma de dois naturais consecutivos e tamb´ em for soma de trˆ es naturais consecutivos. (a)
Mostre que 2001 ´ e legal, mas 1999 e 2002 n˜ ao s˜ ao legais.
(b)
Mostre que 20012001 ´e legal.
Problema 6.73 (IMO-1983). Diga se ´e poss´ıvel escolher 1983 n´ umeros inteiros 5 positivos e distintos, todos menores ou iguais que 10 , onde nenhum de trˆ es inteiros consecutivos est˜ ao em progress˜ ao aritm´etica. Problema 6.74. Considere a, b e c os comprimentos dos lados de um triˆangulo. Mostre que a2 b(a b) + b2 c(b c) + c2 a(c a) 0.
−
Diga quando a igualdade ocorre.
−
− ≥
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141 Problema 6.75 (IMO-1984). Sejam a,b,c e d n´ umeros inteiros ´ımpares tais que 0 < a < b < c < d e ad = bc. Suponha que existam inteiros k e m tais que a + d = 2k e b + c = 2m . Mostre que a = 1. Problema 6.76 (IMO-1984). Sejam x, y e z n´ umeros reais n˜ ao negativos tais que x + y + z = 1. Mostre que
≤ yz + zx + xy − 2xyz ≤ 277 . √x + √x − 16 = √x − 8. Problema 6.77. Resolva a equa¸cao ˜ 0
3
3
3
Problema 6.78. Resolva o sistema de equa¸ c˜ oes
x y
+
√xy = √
80 xy
,
x + y = 20.
Problema 6.79. Encontre todos os polinˆomios P (x) de modo que P (x2
2
− 2x) = (P (x − 2)) . Problema 6.80. Determine os valores de p ∈ R tal que − 2 < 2. −2 < xx +−2 px 2x + 2 2
2
Problema 6.81. Mostre que para cada a > 0 temos: a4 + 9 4 > . 10a 5 Problema 6.82 (OCOM-2004). Numa lista de 10 n´ umeros inteiros positivos ´e ´ dada. E permitido escolher trˆes termos consecutivos da lista e somar uma unidade a cada um deles. Determine se sempre poss´ıvel, ap´ os uma quantidade finita de opera¸c˜ oes deste tipo, que todos os termos da lista sejam m´ ultiplos de quatro. Problema 6.83 (IMO-1964). Prove que n˜ ao existe n tal que 2n + 1 ´e divis´ıvel por 7 e ache todos os inteiros positivos n tais que 2n 1 ´ e divis´ıvel por 7.
−
Problema 6.84 (OIM-1987). Encontre os f (x) tais que [f (x)]2 .f (1 x/1+x) = 64x para todo x distinto de 0, 1 e 1.
−
−
Problema 6.85. Prove que se m, n e r s˜ ao inteiros positivos, n˜ ao nulos, e 1 + 2r−1 m + n 3 = (2 + 3) ent˜ ao ´ e um quadrado perfeito.
√
√
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[CAP. 6: PROBLEMAS DE OLIMP´IADAS
Problema 6.86 (OIM-1987). Se define a sucess˜ ao pn da seguinte maneira: p1 = 2 e para todo maior ou igual a 2, pn e o maior divisor primo da express˜ ao p1 p2 ...pn + 1. Prove que pn ´ e diferente de 5. Problema 6.87 (OIM-1988). Considere os conjuntos de n n´ umeros naturais diferentes de zero nos quais n˜ ao h´ a trˆ es elementos em progress˜ ao aritm´etica. Demonstre que em um desses conjuntos a soma dos inversos desses elementos ´ e m´ axima. Problema 6.88 (OIM-1990). Seja f (x) = (x + b)2 c n´ umeros inteiros.
−c
um polinˆ omio com b e
(a)
Se p ´e um n´ umero primo tal que p divide a c e p2 n˜ ao divide a c, demonstrar que qualquer que seja o n´ umero inteiro n, p2 n˜ ao divide a f (n).
(b)
Seja um n´ umero primo, distinto de 2 que n˜ ao divide a c.Se q divide a f (n) para algum n´ umero inteiro n, demonstrar que para cada inteiro positivo r, existe um n´ umero inteiro n′ tal que q divide a f (n′ ).
Problema 6.89 (OIM-1991). Encontrar um n´ umero inteiro N de cinco d´ıgitos diferentes e n˜ ao nulas, que seja igual a soma de todos os n´ umeros de trˆes d´ıgitos distintos que se podem formar com os cinco d´ıgitos de N . Problema 6.90 (OIM-1992). Para cada inteiro positivo n, seja an o ultimo ´ d´ıgito do n´ umero1 + 2 + 3 + ... + n. Calcular a1 + a2 + ... + a1992 . Problema 6.91 (OIM-1993). um n´ umero natural ´e capicua se ao escrevˆe-lo em nota¸c˜ ao decimal, podemos lˆ e-lo da mesma forma da esquerda para a direita como de direita para a esquerda, por exemplo 8, 23432, 6446. Sejam x1 < x2 < ... < xi < x i+1 < ... todos os n´ umeros capicuas. Para cada i seja yi = xi+1 xi . Quantos n´ umeros primos distintos tˆ em o conjunto y1 , y2 ,... ?
{
}
−
Problema 6.92 (OIM-1995). Determine os poss´ıveis valores das somas dos d´ıgitos de todos os quadrados perfeitos. Problema 6.93 (OBMEP-2005). Capit´ u cortou uma folha de papel retangular em 9 peda¸cos quadrados de lados 1, 4, 7, 8, 9, 10, 14, 15 e 18 cent´ımetros cada um. (a)
Qual ´e a area ´ da folha antes de ser cortada?
(b)
Quais eram as dimens˜ oes da folha antes de ser cortada?
(c)
Capit´ u precisa montar a folha de novo. Ajude-a, mostrando com um desenho, como fazer esta montagem.
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143 Problema 6.94. Fatore o n´ umero 51985 100 um dos quais ´e maior que 5 .
− 1 como o produto de trˆes inteiros, cada
Problema 6.95. m caixas s˜ ao dadas, cada uma contendo um certo n´ umero de bolas. Se n < m uma opera¸c˜ ao permitida ´e escolher n caixas e acrescentar uma bola em cada uma delas. Prove que (a)
Se m e n s˜ ao primos entre si, ent˜ ao ´e poss´ıvel ap´ os um n´ umero finito de opera¸coes ˜ deste tipo chegar a situa¸cao ˜ onde cada caixa cont´em a mesma quantidade de bolas;
(b)
Se m e n n˜ ao s˜ ao primos entre si, existem configura¸coes ˜ iniciais das bolas de modo que n˜ ao ´e poss´ıvel chegar a situa¸c˜ ao onde todas as caixas cont´ em a mesma quantidade de bolas.
Problema 6.96 (IMO-1981). Determine o valor m´ aximo de m2 + n2 , onde m onde n s˜ ao inteiros satisfazendo n, m 1, 2, . . . , 1981 e (n2 mn m2 )2 = 1.
∈{
}
−
−
´ poss´ıvel escolher 1983 inteiros positivos distinProblema 6.97 (IMO-1983). E tos, todos menores ou iguais a 105 , sem quaisquer trˆes deles n˜ ao sejam termos consecutivos de uma progress˜ ao aritm´etica? Justifique sua resposta. Problema 6.98 (IMO-1984). Ache um par de inteiros a, b tais que: (a)
ab(a + b) ´e divis´ıvel por 7;
(b)
(a + b)7
7
7
−a −b
´e divis´ıvel por 77 .
Justifique sua resposta.
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[CAP. 6: PROBLEMAS DE OLIMP´IADAS
Siglas Competi¸ca ˜o Olimp´ıada Internacional de Matem´ atica Olimp´ıada Ibero-Americana de Matem´ atica Olimp´ıada do Cone Sul Olimp´ıada de Maio Olimp´ıada Brasileira de Matem´ atica Olimp´ıada Brasileira de Matem´atica das Escolas P´ u blicas Olimp´ıada Colombiana de Matem´ atica Olimp´ıada Alagoana de Matem´ atica Olimp´ıada Cearense de Matem´atica Olimp´ıada de Matem´ atica do Estado de Goi´as Olimp´ıada de Matem´a tica do Estado do Rio de Janeiro Olimp´ıada Paraense de Matem´ atica Olimp´ıada de Matem´ a tica do Rio Grande do Norte Olimp´ıada Regional de Matem´ atica do Rio Grande do Sul Olimp´ıada Regional de Matem´ a tica de Santa Catarina Olimp´ıadas Sergipanas de Matem´ atica
Sigla IMO OIM OCS OM OBM OBMEP OCOM OAM OCM OMEG OMERJ OPM OCM ORMRS ORMSC OSM
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Referˆ encias Bibliogr´ aficas [1] FOMIN, Dimitri & GENKIN, Sergei & ITENBERG, Ilia. Mathematical Circles(Russian Experience). American Mathematical Society. Mathematical World, Volume 7, 1996. 272 p. [2] LIMA, Elon L. & PINTO, Paulo C. & WAGNER, Eduardo & MORGADO, Augusto C. Temas e Problemas. Sociedade Brasileira de Matem´ atica. Cole¸ca ˜o do Professor de Matem´atica, 2001. 193 p. [3] RIBENBOIM, Paulo. N´ umeros Primos: Mist´ erios e Recordes. Cole¸c˜ ao Matem´atica Universit´ aria, IMPA, 2001. 280 p. [4] OLIVEIRA SANTOS, Jos´e Pl´ınio de. Introdu¸ c˜ ao ` a Teoria dos N´ umeros. Cole¸ca ˜o Matem´ atica Universit´ aria, IMPA, 1993. 199 p. [5] VINOGRADOV, I. Fundamentos de la Teoria de los N´ umeros. Editorial MIR, Moscu, 1987. 207 p. [6] OBM: Olimp´ ıada Brasileira de Matem´ atica. www.obm.org.br [7] OBMEP: Olimp´ ıada Brasileira de Matem´ atica das Escolas P´ ublicas. www.obmep.org.br [8] NIVEN, I., ZUCKERMAN, S., MONTGOMERY, L. An Introduction To The Theory Of Numbers. John Wiley & Sons, Unided States of America, 1991, 529 p. [9] ANDREWS, G. Number Theory. Dover Publications, Estados Unidos da Am´erica, 1994, 259 p. [10] MORGADO, A., CARVALHO, J., CARVALHO, P., FERNANDEZ, P. An´ alise Combinat´ oria e Probabilidade. SBM, Brasil, 1991, 343 p. [11] WAGNER, E., MOREIRA, C. 10 Olimp´ıadas Iberoamericanas de Matem´ atica. OEI, Espanha, 1996, 277 p. [12] MEGA, E., WATANABE, R. Olimp´ıadas Brasileiras de Matem´ atica, 1 a 8 . Editora N´ ucleo, Brasil, 1988, 403 p. a
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