O Processo de Avaliação e Intervenção em Psicopedagogia
Shiderlene Vieira de Almeida Lopes
O Processo de Aval Av alia iaçã ção o e In Inte terve rvenç nção ão em Psicopedagogia
Curitiba, 2008
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Sumário
1 INTRODUÇÃO
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2 FUN FUNDA DAME MENT NTAN ANDO DO A PS PSIC ICOP OPED EDA AGO GOGI GIA A
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3 A AV AVAL ALIA IAÇÃ ÇÃO O PSI PSICO COPE PED DAGÓ GÓGI GICA CA CLÍ CLÍNI NICA CA
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3.1 ENTREVISTA OPERATIVA CENTRADA NA AP APRENDIZAGEM – E. E.O.C.A.
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3.2 3. 2 SESS SESSÃO ÃO LÚ LÚDI DICA CA OU OU OBS OBSER ERV VAÇÃ ÇÃO O LÚD LÚDIC ICA A
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3.3 PR PROVAS OP OPERATÓRIAS
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3.4 3. 4 PR PROV OVAS AS PR PROJ OJET ETIV IVAS AS PS PSIC ICOP OPED EDAG AGÓG ÓGICA ICASS
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3.5 PROVAS PEDAGÓGICA CASS
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3.6 ANAMNESE
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3.7 EN ENTREVISTA CO COM A ESCOLA
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3.8 3. 8 PRO PROV VAS E TES TESTE TESS COM COMPL PLEM EMEN ENT TAR ARES ES
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4 A ANÁLISE DOS RESULTADOS E A CONCLUSÃO DIAGNÓSTICA
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5 A PROPOSTA DE INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA CL CLÍNICA
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5.1 A SITUAÇÃO-PROBLEMA
42
5.2 5. 2 O JO JOG GO COM COMO O ESP ESPAÇ AÇO O PAR PARA A PEN PENSA SAR R
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5.3 5. 3 A TO TOMA MADA DA DE CO CONS NSCI CIÊN ÊNCI CIA A DO ER ERRO RO
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6 CO CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Sumário
1 INTRODUÇÃO
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2 FUN FUNDA DAME MENT NTAN ANDO DO A PS PSIC ICOP OPED EDA AGO GOGI GIA A
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3 A AV AVAL ALIA IAÇÃ ÇÃO O PSI PSICO COPE PED DAGÓ GÓGI GICA CA CLÍ CLÍNI NICA CA
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3.1 ENTREVISTA OPERATIVA CENTRADA NA AP APRENDIZAGEM – E. E.O.C.A.
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3.2 3. 2 SESS SESSÃO ÃO LÚ LÚDI DICA CA OU OU OBS OBSER ERV VAÇÃ ÇÃO O LÚD LÚDIC ICA A
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3.3 PR PROVAS OP OPERATÓRIAS
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3.4 3. 4 PR PROV OVAS AS PR PROJ OJET ETIV IVAS AS PS PSIC ICOP OPED EDAG AGÓG ÓGICA ICASS
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3.5 PROVAS PEDAGÓGICA CASS
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3.6 ANAMNESE
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3.7 EN ENTREVISTA CO COM A ESCOLA
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3.8 3. 8 PRO PROV VAS E TES TESTE TESS COM COMPL PLEM EMEN ENT TAR ARES ES
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4 A ANÁLISE DOS RESULTADOS E A CONCLUSÃO DIAGNÓSTICA
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5 A PROPOSTA DE INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA CL CLÍNICA
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5.1 A SITUAÇÃO-PROBLEMA
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5.2 5. 2 O JO JOG GO COM COMO O ESP ESPAÇ AÇO O PAR PARA A PEN PENSA SAR R
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5.3 5. 3 A TO TOMA MADA DA DE CO CONS NSCI CIÊN ÊNCI CIA A DO ER ERRO RO
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Shiderlene Vieira de Almeida Lopes
Nota sobre a autora Shiderlene Vieira de Almeida Lopes é paranaense de Borrazópolis. Graduada em Pedagogia pela Universidade Estadual de Maringá – UEM, possui Mestrado em Educação na área de Psicologia Educacional pela Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP. Doutorou-se em Educação na área de Desenvolvimento Humano, Psicologia e Educação no ano de 2002, também pela Universidade Estadual de Campinas. Desde então trabalha com ensino superior e pesquisas na área de Psicopedagogia.
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Plano de Curso Especificidade: Psicopedagogi Especificidade: Psicopedagogiaa Módulo: O Processo de Avaliação e Intervenção em Psicopedagogia Autora: Dr.ª Shiderlene Vieira de Almeida Lopes Carga Horária: 60 horas
APRESENTAÇÃO O presente módulo tem como meta contribuir para o delineamento do campo de atuação psicopedagógica no que diz respeito ao processo de avaliação e intervenção clínica. Sabemos que atualmente são constantes as discussões acerca da Psicopedagogia, seu objeto de estudo e suas áreas de confluência. Contudo, há muito para se pesquisar e discutir uma vez que essa área de conhecimento, no contexto brasileiro, encontra-se, ainda, em processo de construção. Dessa forma, nossa finalidade é apresentar os principais instrumentos de avaliação psicopedagógica clínica bem como indicar possíveis caminhos para as medidas de intervenção no âmbito clínico. Esperamos contribuir significativamente com seu processo de formação profissional. Felicidades e bom trabalho!
OBJETIVOS Objetivo Geral • Compre Compreender ender a importância importância da atuação psicopedagó psicopedagógica, gica, sua fundamenfundamentação teórica e suas aplicações práticas no âmbito da avaliação diagnóstica clínica e do processo de intervenção. Objetivos Específicos • Relacion Relacionar ar o campo de atuação atuação da Psicopeda Psicopedagogia gogia com outras outras áreas áreas de conhecimento; • Identif Identificar icar os principais principais instrumentos instrumentos de avaliação avaliação psicopedagógica psicopedagógica clíclínica, aplicando-os de forma coerente em seu campo específico de atuação; • Conhecer as medidas medidas e estratégias estratégias de intervenção intervenção psicopedagógi psicopedagógica ca clínica, fundamentando a construção de procedimentos próprios de mediação; • Estabel Estabelecer ecer relações relações entre o processo processo de avaliação avaliação diagnóstica diagnóstica e as memedidas de intervenção psicopedagógica.
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Shiderlene Vieira de Almeida Lopes
METODOLOGIA E ESTRATÉGIAS DE APRENDIZAGEM Esse módulo terá uma carga horária total de 60 horas e será desenvolvido através de um sistema on-line. Teremos, portanto, encontros virtuais/presenciais e o restante da carga horária deve ser distribuída de acordo com os seguintes critérios: • Leitura e análise do do material material didático didático impresso; impresso; • Pesq Pesquisa uisa dos temas temas complem complementares entares;; • Desenvol Desenvolviment vimentoo e elaboração escrita escrita das atividades atividades propostas. propostas.
CONTEÚDO PROGRAMÁTICO 1 Introdução 2 Fundamentando a Psicopedagogia 3 A avaliação psicopedagógica clínica 3.1 Entrevista Operativa Centrada na Aprendizagem – E.O.C.A. 3.2 Sessão Lúdica ou Observação Lúdica 3.3 Provas Operatórias 3.4 Provas Projetivas Psicopedagógicas 3.5 Provas Pedagógicas 3.6 Anamnese 3.7 Entrevista com a Escola 3.8 Provas e Testes Complementares 4 A análise dos resultados e a conclusão diagnóstica 5 A proposta de intervenção psicopedagógica clínica 5.1 A situação-problema 5.2 O jogo como espaço para pensar 5.3 A tomada de consciência do erro 6 Considerações Finais
AVALIAÇÃO Ao longo de todo o texto elaboramos situações que suscitam momentos de auto-avaliação. Para tanto, faz-se necessária a interação com os colegas bem como a troca de idéias com os professores tutores. Além disso, faremos uma avaliação escrita final, individual e sem consulta.
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BIBLIOGRAFIAS BOSSA, Nadia A. A psicopedagogia no Brasil : contribuições a partir da prática. 2. ed. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000. BRENELLI, Rosely Palermo. O jogo como espaço para pensar. Campinas, SP: Papirus, 1996. FLAVELL, J. A Psicologia de Desenvolvimento de Jean Piaget . 4. ed. São Paulo: Pioneira, 1992. LUQUET, G. H. O desenho infantil . Coleção Ponte, 1969. MACEDO, Lino. Para uma psicopedagogia construtivista. In: ALENCAR, E. M. S. Soriano (Org.). 3. ed. São Paulo: Cortez, 1995. ______. Aprender com jogos e situações problema . Porto Alegre: Artes Médicas, 2002. ______; PETTY, Ana L. S.; PASSOS, Norimar C. Quatro cores, senha e dominó . São Paulo: Casa do Psicólogo, 1997. MONTANGERO, J.; NAVILLE, D. M. Piaget ou a Inteligência em Evolução . Porto Alegre: Artes Médicas, 1998. PIAGET, Jean. A tomada de consciência . São Paulo: Melhoramentos, 1977. ______. Fazer e compreender. São Paulo: Melhoramentos, 1978. RUBINSTEIN, E. A intervenção psicopedagógica clínica. In SCOZ, B. J. L. & col. Psicopedagogia : contextualização formação e atuação profissional. Porto Alegre: Artes médicas, 1991. SOUZA, Maria Thereza C. Intervenção psicopedagógica clínica: como e o que planejar. In: SISTO, F. (Org.) Atuação psicopedagógica e aprendizagem escolar. Rio de Janeiro: Vozes, 1996. VISCA, Jorge. Clínica Psicopedagógica. Epistemologia Convergente. Porto Alegre: Artes Médicas, 1987. ______. Psicopedagogia: Contribuições. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1991. WEISS, Maria L. L. Psicopedagogia Clínica: uma visão diagnóstica dos problemas de aprendizagem. Rio de Janeiro: DP&A Editora, 1997.
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Não existem caminhos; Os caminhos se fazem ao andar...
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1 Introdução Escrever sobre o processo de avaliação e intervenção em Psicopedagogia não é uma tarefa fácil uma vez que a discussão estabelecida entre os profissionais da área acerca do referido tema, ainda é uma constante, tratando-se, portanto, de um assunto que não se esgotou em si mesmo. De minha parte, enquanto pesquisadora da área, gosto da idéia de participar de uma discussão que requer novos debates, novos entraves e que, de certa maneira, nos torna atuantes e agentes de um processo de construção coletiva e, porque não dizer, de “aprendizagem participativa”. Neste sentido, o presente trabalho, ou melhor, o atual diálogo, com você/aluno, não tem a pretensão de apresentar tudo sobre o tema, mas sim, de delinear possíveis caminhos de atuação psicopedagógica para um profissional preocupado e consciente de sua prática. Convido você, então, a iniciar uma viagem, partindo da fundamentação da Psicopedagogia, passando pelas pesquisas já realizadas sobre o tema de nossa aula e tendo como ponto de chegada a construção de procedimentos de avaliação e intervenção. Procedimentos, esses, coerentes com a sua ação, com o seu contexto específico de atuação. Ah! Apenas para lembrá-lo de que por se tratar de uma viagem... Coloque em sua bagagem todo seu conhecimento já construído, já elaborado e também toda a sua experiência de professor, de pesquisador, enfim, de cidadão atuante na sociedade. Chamo sua atenção, ainda, para o seu “olhar” durante nosso itinerário. Deve ser um “olhar psicopedagógico”, um “olhar” destituído de preconceitos, imbuído de consistência teórica e repleto de conhecimento vivenciado na prática. Não se esqueça disso durante toda nossa jornada. Vamos lá?
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Fundamentando a Psicopedagogia
Você já parou para pensar no objeto de estudo da Psicopedagogia? Você saberia defini-lo? Pense um pouco e escreva sobre suas idéias. Certamente você já deve ter construído uma idéia inicial acerca do objeto de estudo da Psicopedagogia e, neste momento, cabe relembrá-la. A Psicopedagogia desenvolve-se no contexto brasileiro no final da década de 1970 e traz consigo o objetivo emergente de complementar a formação de profissionais envolvidos com a Educação e preocupados com o fracasso escolar. A grande problemática, então, estaria em entender porque tantos alunos não eram capazes de aprender, recusando, portanto, explicações de caráter puramente organicista. Neste contexto, nosso objeto de estudo se caracteriza, uma vez que estamos nos referindo aqui, às questões relativas à aprendizagem bem como às suas dificuldades. Você deve estar se perguntando se apenas as questões relativas à aprendizagem e suas dificuldades fazem parte do nosso objeto de estudo. Ora, se estamos falando em “aprender”, logo, também precisamos voltar nossa atenção para outros fatores tais como: o desenvolvimento e o ato de ensinar. A Psicopedagogia fundamenta-se, assim, no processo de aprendizagem, nas suas dificuldades, suas relações com o processo de desenvolvimento e nas questões relativas ao ensinar. Para entender todas estas questões, a Psicopedagogia não opera sozinha, de maneira estanque e isolada, mas sim, recorre a outras áreas do conhecimento tais como: Pedagogia, Psicologia, Psicolingüística e também à área médica. Dessa forma, podemos nos referir a um trabalho multidisciplinar, isto é, uma ação conjunta de vários pro-
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fissionais envolvidos com o processo de aprendizagem, respeitando, obviamente, o campo de atuação de cada especificidade. O psicopedagogo é, portanto, um profissional que atua, no campo clínico e institucional, no sentido de investigar as causas relativas ao fato de não aprender, tanto em seu caráter diagnóstico quanto preventivo. Gostaríamos de, nesse momento, chamar sua atenção para alguns aspectos essenciais para a formação do psicopedagogo. Nunca se esqueça de: • Ter claro qual o seu objeto de estudo; • Saber qual o seu campo de atuação, respeitando as especificidades de outros profissionais; • Trabalhar de maneira multidisciplinar; dialogar e trocar idéias com profissionais de áreas afins; • Estudar e investigar – sempre – sobre o processo de aprendizagem bem como suas dificuldades; Manter-se atualizado. Para aprofundar esta questão, você poderia consultar outras fontes. Uma sugestão: BOSSA, Nadia A. A psicopedagogia no Brasil : contribuições a partir da prática. 2. ed. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000.
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Avaliação 3 APsicopedagógica Clínica
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Se nosso trabalho se desenvolve a partir do processo de aprendizagem e todos os seus determinantes, chegamos, enfim, em um ponto importantíssimo para nossa prática psicopedagógica que é a investigação de porque uma criança, um adolescente não está aprendendo dentro dos padrões estabelecidos pela escola, pela família e até mesmo pela sociedade. Você percebeu que a palavra investigação está em negrito? Você imagina por quê? Investigar, no sentido aqui empregado, diz respeito à avaliação que o psicopedagogo deve desenvolver no intuito de penetrar nas razões que impedem um sujeito de aprender. Portanto, avaliação = investigação. E por onde será que devemos iniciar nossa investigação, ou melhor, nossa avaliação? Partiremos da queixa. Mas o que é uma queixa? A queixa constitui-se de uma reclamação, de um sintoma, de algo que não vai bem com o su jeito, neste caso, com seu processo de aprendizagem. Esta queixa deve ser investigada pelo psicopedagogo com o intuito de esclarecer o porque da não-aprendizagem, o motivo da reclamação – seja esta da família, da escola e até mesmo do próprio sujeito. Ressaltamos, então, que o psicopedagogo precisa “ouvir” esta queixa, analisá-la, interpretá-la e, assim, seguir no seu processo de investigação/avaliação. Aposto que você durante seu trabalho no contexto escolar, seja como professor, coordenador etc., já se queixou a respeito de algum aluno, de
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alguma turma, não é mesmo? Que tipo de comentários você teceu? Você se lembra? Anote suas impressões. Nesse sentido, vemos que é comum comentários do tipo: “Não sei o que fazer com este aluno, eu explico, explico e ele não assimila nada.” “Este aluno não presta atenção na aula, só vai bem em Português.” “Este aluno não vai bem na escola e a família também não ajuda em nada.” Acho que conseguiríamos listar, facilmente, uma infinidade de queixas apresentadas pelos professores acerca de seus alunos. E quanto a família? Bem, a família também reclama. É comum encontrar famílias que procuram o psicopedagogo porque acreditam que seu filho precisa da ajuda de um profissional. Portanto, a família também tem um posicionamento, uma visão a respeito da não aprendizagem do filho. Além disso, cabe ao psicopedagogo ouvir o sujeito, ou seja, qual a queixa que o sujeito faz de si mesmo? E neste caso, destacamos que é comum o sujeito argumentar que: “não consigo aprender, acho que não sou capaz”; “não consigo entender o que o professor fala”; “sou relaxado, não presto atenção na aula”. Lembre-se que esta “escuta” é muito importante uma vez que sua investigação tem como ponto de partida a queixa apresentada pela escola, pela família e pelo sujeito. Nessa etapa de nosso estudo, você deve estar se perguntando: após a análise da queixa, qual será o próximo encaminhamento no processo de avaliação psicopedagógica clínica? A nossa próxima etapa consiste em estudar sobre o conceito e a aplicação dos instrumentos de avaliação mais utilizados no contexto psicopedagógico clínico. Vale salientar que não existe um modelo pronto e acabado de avaliação psicopedagógica. Não há como dizer a você que basta aplicar estes ou aqueles instrumentos e pronto – descobriu-se e resolveu-se a dificuldade de apren-
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dizagem do sujeito. Que bom se assim o fosse! Portanto, apresentaremos alguns instrumentos formais que são utilizados em sessões diagnósticas mas, desde já, destacando que estes são apenas referenciais. Lembre-se que cada caso é um caso em particular. O que pode dar certo com um su jeito, pode não surtir o mesmo efeito com outro. O que você não pode perder de vista é que seu su jeito é acima de tudo: • Cognitivo; • Afetivo; • Social; • Pedagógico; • Corporal. O que queremos dizer com isto? Que o sujeito faz parte de um todo e não podemos identificálo por partes. Este é o olhar que você precisa ter ao aplicar um instrumento de avaliação. Faz-se necessário perceber que o sujeito que está a sua frente possui conhecimentos, afetos, se relaciona com os outros, faz parte de um contexto escolar, se organiza de uma determinada maneira. Enfim, este é o sujeito que o psicopedagogo precisa perceber. Para tanto, há instrumentos formais, porém, ouse ser criativo, pesquise e vá além dos que aqui iremos trabalhar. Vamos, então, conhecer alguns instrumentos de avaliação que o psicopedagogo pode utilizar durante as sessões diagnósticas? • Entrevista Operativa Centrada na Aprendizagem – E.O.C.A. • Sessão Lúdica ou Observação Lúdica • Provas Operatórias • Provas Projetivas Psicopedagógicas • Provas Pedagógicas • Anamnese • Entrevista com a Escola • Provas e Testes Complementares
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Você já ouviu falar a respeito desses instrumentos? Quais você conhece? O que sabe sobre eles? Registre suas idéias. Antes de esclarecermos sobre cada um dos instrumentos de avaliação elencados, convém discutirmos um pouco no tocante a postura do psicopedagogo quando da aplicação das provas e desenvolvimento das entrevistas. – Controle sua ansiedade diante do sujeito. Fique calmo e comece a estabelecer um vínculo com ele. Isto é essencial para o desenvolvimento de sua avaliação diagnóstica. – Evite usar expressões como: muito bem, parabéns, você está fazendo direitinho a tarefa. Essas expressões acabam por reforçar atitudes no su jeito. O que o sujeito pensará quando você não utilizar estas palavras? Cuidado até mesmo com sua entonação de voz. – Evite fazer “caras e bocas”. Isto é, expressões faciais que denotam aprovação ou reprovação diante do sujeito. Ao olhar nossa expressão o su jeito perceberá se o que está fazendo está certo ou errado. O importante na avaliação psicopedagógica é o que o sujeito sabe fazer, o que ele pode e consegue executar, não o que queremos que ele faça. Tente, então, ficar com “cara de paisagem”. (Que tal treinar um pouquinho?) – Seja verdadeiro, não invente desculpas e/ou histórias se o sujeito lhe fizer questões quanto ao trabalho que está sendo realizado. “Jogo aberto” nesse momento. – Trabalhe com a ansiedade e angústias dos pais e da escola. Explique acerca do trabalho que vem realizando, mas não deixe que isto atrapalhe o desenvolvimento de suas atividades. – Você pode optar por se sentar de frente ou ao lado do sujeito durante a aplicação das provas. Veja como fica melhor para você. – Estude sobre o instrumento a ser aplicado.
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Treine diante do espelho como se estivesse diante do sujeito. Corrija possíveis falhas. – Atenção quanto ao vocabulário utilizado. Evite usar termos complexos, faça uso dos sinônimos. – Você pode fazer anotações durante a aplicação das provas. Apenas não se desespere diante do sujeito como se quisesse anotar até mesmo sua respiração. Você também pode fazer uso do gravador, porém, desde que haja autorização do sujeito e isto não sirva como um inibidor. – Use termos como: “me explique melhor”, “como assim”. – Escolha um ambiente tranqüilo, calmo, sem interferências de outros. Escolha um local onde fique apenas você e o sujeito. – Preste atenção em tudo. Qualquer comentário, qualquer conduta, qualquer produção do sujeito é importante para o diagnóstico psicopedagógico. – Seja você e perceba que a sua frente existe um “ser humano”. Sugiro, nesse momento, que você faça uma análise do que acabamos de expor. Reflita sobre a atuação do psicopedagogo bem como o seu grau de responsabilidade, consciência e complexidade. Apenas temos a intenção de desencadear um processo de tomada de consciência de sua ação. Pense nisso e anote suas idéias!
3.1 ENTREVISTA OPERATIVA CENTRADA NA APRENDIZAGEM A Entrevista Operativa Centrada na Aprendizagem – E.O.C.A. foi elaborada por Jorge Visca (1987) com o intuito de “permitir ao sujeito construir a entrevista de maneira espontânea, porém dirigida de forma experimental” (p. 72). O autor sugere que a E.O.C.A. seja desenvolvida como uma forma de primeiro contato com o sujeito, uma primeira entrevista. A proposta de atividades e
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também os materiais podem variar de acordo com o sujeito a ser avaliado. Use o bom senso. Em geral, a lista de materiais utilizada durante a entrevista é composta de: folhas brancas, papel pautado, folhas coloridas, lápis preto novo sem ponta, apontador, borracha, régua, tesoura, cola, revistas e livros. O procedimento consiste em apresentar os materiais ao sujeito e solicitar que este mostre o que sabe fazer, o que aprendeu, o que tem vontade de fazer. Para tanto, o psicopedagogo pode fazer uso de inúmeras consignas, tais como: Aberta: Gostaria que você me mostrasse o que sabe fazer. Esse material é para você utilizar como quiser. Fechada: Gostaria que você me mostrasse outra coisa que não seja... Me mostre algo diferente do que você já mostrou. Direta : Gostaria que você me mostrasse algo de matemática, escrita, leitura etc. Múltipla: Você pode ler, escrever, pintar, desenhar, recortar etc. Pesquisa: Para que serve isto, o que você fez, que horas são, que cor você está utilizando etc. Durante a E.O.C.A. preste atenção no que o sujeito diz, no que o sujeito faz e na produção desenvolvida por ele. As atitudes, os conhecimentos que demonstra, enfim, atente-se aos aspectos relevantes e que possam requerer aprofundamento durante as próximas sessões. Ah! Não esqueça de fazer uso de suas anotações durante todo o processo de entrevista. Visca (1987) propõe que a partir desta análise seja possível desenvolver o Primeiro Sistema de Hipóteses e assim dar continuidade ao processo diagnóstico uma vez que este estabelece quais as linhas de investigação que o psicopedagogo deve investir seus esforços. Lembre-se que as hipóteses são levantadas de acordo com as observações e intervenções desenvolvidas durante a E.O.C.A.
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Você quer saber mais a respeito deste instrumento? Pesquise o material do próprio autor: VISCA, Jorge. Clínica Psicopedagógica . Epistemologia Convergente. Porto Alegre: Artes Médicas, 1987 / VISCA, Jorge. Psicopedagogia: Contribuições. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1991.
3.2 SESSÃO LÚDICA OU OBSERVAÇÃO LÚDICA A Sessão Lúdica ou Observação Lúdica, como o próprio nome já sugere, envolve o brincar, o lúdico no diagnóstico psicopedagógico. O brincar consiste em uma forma de expressão e, neste sentido, pode contribuir com o processo de avaliação diagnóstica, uma vez que ao brincar o sujeito revela pensamentos, ações, atitudes, e que talvez não pudessem ser observados em outras entrevistas. Quem já não brincou um dia? Você se recorda de suas brincadeiras? Vamos relembrar? Questões afetivas e sociais podem emergir na medida em que brincamos. Certa vez, em uma Sessão Lúdica, uma criança disse: “ Eu vou brincar de uma coisa. Só que não vou brincar do que eu estou pensando, porque senão você (o psicopedagogo) vai descobrir coisas sobre mim”.
Esse comentário nos mostra o quanto esse instrumento de avaliação pode nos auxiliar no diagnóstico psicopedagógico. A Sessão Lúdica também pode ser utilizada como uma primeira forma de contato com o sujeito. Sua aplicação consiste em selecionar jogos e materiais lúdicos, de acordo com a faixa etária do sujeito, e solicitar que este brinque e faça aquilo que desejar.
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Atenção com os materiais selecionados. Prefira coisas mais simples, mais baratas e menos sofisticadas. Exemplo de materiais: jogos comerciais (dominó, damas, memória etc.), materiais de artes, sucata, fantoches, brinquedos de “casinha”, brinquedos de “escolinha” etc. Não esqueça da faixa etária a que se destinam os materiais. Durante o desenvolvimento da sessão observe o brincar do sujeito, suas atitudes, suas expressões, suas criações, suas fantasias, seus desejos. Se o sujeito solicitar, brinque com ele, participe ativamente do processo. Preste atenção em como o su jeito brinca, que tipo de material escolhe e qual sua relação com você, psicopedagogo. Ao terminar a sessão, anote suas impressões, suas hipóteses. Se julgar necessário, a Sessão Lúdica pode ser realizada em outros momentos, ela pode não se restringir em apenas uma sessão da avaliação diagnóstica. Que tal exercitar um pouco os instrumentos de avaliação expostos até aqui? Se preferir, faça um trabalho em grupo. Discuta sobre o assunto e coloque em prática o que foi visto até agora.
3.3 PROVAS OPERATÓRIAS As provas operatórias são essenciais no processo de avaliação psicopedagógica clínica na medida em que elas possibilitam investigar o nível de desenvolvimento cognitivo já construído pelo sujeito. Ao nos referirmos às provas operatórias, não podemos deixar de falar nos extensos trabalhos desenvolvidos por Piaget e seus colaboradores em Genebra, Suíça. A preocupação essencial de Jean Piaget, biólogo por formação, era a de investigar acerca da construção do conhecimento, isto é, em como um sujeito passava de um estado menor de conhecimento para um estado de conhecimento cada vez
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mais rico, mais elaborado e mais complexo. Segundo a teoria piagetiana o conhecimento é construído a partir da interação do sujeito com seu meio físico e social. Portanto, trata-se de uma construção gradual e contínua do conhecimento, a qual conduz o sujeito a patamares de desenvolvimento cada vez melhores. Essa construção gradual do conhecimento é explicada por Piaget por meio de estágios de desenvolvimento. Você se lembra quais os estágios de desenvolvimento descritos por Piaget? Você deve ter visto alguma coisa no curso de graduação na disciplina de Psicologia Educacional e no módulo que você já cursou em sua especialização: Teorias Cognitivas da Aprendizagem. Seria interessante que você retomasse esse assunto antes de prosseguirmos. Ao discutir acerca dos estágios de desenvolvimento Piaget, apud Montangero e Naville (1998) estabelece que no terreno da inteligência, falaremos (...) de estágios quando as condições seguintes são preenchidas: 1. que a sucessão das condutas seja constante, independentemente das acelerações ou dos retardos que possam modificar as idades cronológicas médias em função da experiência adquirida pelo meio social (como as aptidões individuais); 2. que cada estágio seja definido não por uma propriedade simplesmente dominante, mas por uma estrutura de conjunto que caracteriza todas as condutas novas, próprias a esse estágio; 3. que essas estruturas apresentem um processo de integração tal que cada uma seja preparada pela precedente e se integre na seguinte (p. 173).
Nesse sentido, ao fazermos uma avaliação clínica do nível de desenvolvimento cognitivo construído pelo sujeito não podemos nos basear apenas pela sua idade cronológica uma vez que, segundo Piaget, podem ocorrer avanços e atrasos no que diz respeito ao desenvolvimento de determinadas noções. Portanto, falaremos em termos de idades médias, aproximadas.
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Vamos relembrar? • Estágio Sensório-Motor – 0 – 18/24 meses – Inteligência Prática • Estágio Pré-Operatório – 2 – 7/8 anos – Início da Representação • Estágio Operatório Concreto – 7/8 anos – 11/ 12 anos – Início das Operações • Estágio Operatório Formal – 11/12 anos – Pensamento Hipotético Dedutivo Quer saber mais sobre o assunto? Consulte: FLAVELL, J. A Psicologia de Desenvolvimento de Jean Piaget . 4. ed. São Paulo: Pioneira, 1992. Você, nesse momento, deve estar tomando consciência da importância de conhecer bem esse assunto para que um bom diagnóstico seja realizado. Sendo assim, daremos continuidade ao estudo das Provas Operatórias discutindo um pouco acerca do método a ser empregado pelo psicopedagogo no momento da avaliação. Jean Piaget (1926), quando dos estudos sobre a construção das crenças infantis, preocupou-se em empregar um método de pesquisa “especial”. Segundo o autor, os testes de inteligência são insuficientes uma vez que estes apresentam sempre as mesmas condições e as mesmas perguntas para todos os sujeitos. Ou como o próprio Piaget (1926) justifica “operando sempre em condições idênticas, se obtém resultados brutos, interessantes para a prática, mas, com freqüência, inúteis para teorizar, por insuficiência de contexto” (p. 13). Sendo assim, Piaget propõe um novo método o qual viria a reunir os recursos dos testes e os recursos da observação direta descartando obviamente, seus inconvenientes. Esta opção seria o “método clínico”.
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No método clínico piagetiano não são apresentadas aos sujeitos questões com vocabulário fixo. O experimentador é quem ajusta o seu vocabulário ao do sujeito. Neste contexto, parte-se de idéias e diretrizes que são adaptadas às necessidades do indivíduo. O experimentador desta forma, deve atentar-se para o fato de saber controlar suas hipóteses no contato com as reações provocadas pela conversa. Cabe, portanto, ao psicopedagogo ir adaptando suas questões em função das respostas e atitudes do sujeito que está sendo avaliado. Então, faz-se necessário estudar cada prova operatória, cada noção que estará sendo avaliada. E você deve estar se perguntando: quais as provas operatórias que eu devo utilizar em uma avaliação psicopedagógica? De início ressaltamos que o psicopedagogo deve fazer uso de pelo menos três provas operatórias durante uma avaliação diagnóstica. Se após a aplicação você estiver indeciso quanto ao diagnóstico... Sugestão – aplique novas provas ou repita aquelas que você já utilizou. Isto é possível! A seguir apresentaremos as provas mais comuns ao diagnóstico operatório. • Conservação de pequenos conjuntos discretos de elementos; • Conservação de líquido; • Conservação de quantidade de matéria; • Conservação de comprimento; • Conservação de peso; • Conservação de volume; • Seriação; • Inclusão de classes; • Dicotomia; Salientamos que não há uma receita pronta e acabada para aplicação das provas. Estude cada uma delas, faça uma escolha criteriosa daquelas que você considera importante para o caso que está sendo avaliado. Pense na queixa que você tem, reúna os dados coletados durante as provas com os outros instrumentos de avaliação.
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Você obterá mais informações sobre as provas operatórias consultando os livros de Jean Piaget e seus colaboradores. Outro material recomendado é o livro: Psicopedagogia Clínica: uma visão diagnóstica dos problemas de aprendizagem, Maria Lúcia Weiss, DP&A Editora, 1997. Outra dica é o material escrito que será enviado para as telessalas, o qual refere-se a uma coletânea de instrumentos de avaliação. Nele você encontrará os materiais necessários, roteiros de aplicação das provas e como encaminhar o diagnóstico. Vamos dar uma boa estudada nesses materiais?
3.4 PROVAS PROJETIVAS PSICOPEDAGÓGICAS O desenho é uma forma de expressão e por isso corrobora significativamente com o psicopedagogo ao longo do processo de avaliação. Por meio do desenho, o sujeito exprime sentimentos e revela atitudes concernentes ao seu desenvolvimento cognitivo. Quantos e quantos desenhos já nos foram solicitados ao longo de nossa vida escolar? Você não se lembra de suas produções artísticas? Até hoje essa atividade continua em evidência, principalmente na educação infantil. Porém, ressaltamos que nesse momento nosso intuito é ter um olhar psicopedagógico, ou seja, nossa avaliação deverá considerar cada indivíduo como sendo único e particular, com todas as suas explicações e revelações. Atenção para análises precipitadas. Analise o contexto geral do ser humano que está com você. Isto nos reporta a um caso específico que nos deparamos ao longo de nossa prática docente: uma criança por volta de 7 anos efetuou um desenho de um quadrado bem ao centro da folha de sulfite. Este quadrado foi colorido com o lápis amarelo, bem forte. A pintura extrapolava os limites do qua-
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drado e a força com que a criança havia colocado no lápis amarelo chamava a atenção. Ao finalizar o desenho começamos a dialogar sobre o que tinha sido feito. Devemos confessar que a princípio achamos que o desenho não era compatível para o desenvolvimento da criança, isto é, deixava a desejar. Contudo, a criança nos explicou: “Olha, veja bem, aqui eu fiz uma caixa transparente. Você não sabe o que tem dentro dela?” – a criança interpelou com uma certa indignação, e continuou: “É uma caixa transparente com um monte de ouro dentro e esse ouro brilha muito, muito. É uma luz muito forte do ouro que sai da caixa transparente”. Você consegue perceber o cuidado que precisamos ter ao aplicar uma técnica que envolve o desenho como foco principal de avaliação? Use, portanto, seus conhecimentos e o bom senso. Nesse sentido, as provas projetivas psicopedagógicas, também formuladas por Jorge Visca, vêm contribuir com nosso trabalho na medida em que objetiva verificar a rede de vínculos que o sujeito possui diante de três domínios distintos: familiar, escolar e consigo mesmo. O material utilizado consiste em folhas de papel sulfite, lápis preto e borracha. Cabe ao psicopedagogo solicitar do sujeito que efetue o desenho a partir das seguintes técnicas projetivas específicas:
Domínio familiar • Planta da casa: solicita-se o desenho do campo geográfico do lugar onde mora e que ainda nomeie cada ambiente e quem faz parte dele. • Quatro momentos do dia: o psicopedagogo dobra a folha em quatro partes iguais e solicita que o sujeito faça a mesma coisa com uma outra folha. Só então se pede para que desenhe quatro momentos do seu dia – desde a
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hora que acorda até a hora que vai dormir. • Família educativa: solicita-se o desenho da família enfatizando o que cada integrante dela sabe fazer.
Domínio escolar • Par educativo: solicita-se o desenho de “um que aprende e um que ensina”. • Eu e meus companheiros: solicita-se o desenho do sujeito com seus companheiros de classe. • Planta da sala de aula: solicita-se o desenho do campo geográfico da sala de aula pedindo, ainda, que o sujeito faça um “X” no local em que senta. Consigo mesmo • Desenho em episódios: o psicopedagogo deve dobrar a folha em seis partes e solicitar para que o sujeito desenhe o dia de descanso de uma criança. • O dia do meu aniversário: solicita-se o desenho do dia do seu aniversário. • Minhas férias: solicita-se o desenho do que fez durante as férias escolares. • Fazendo o que mais gosto: Solicita-se o desenho do sujeito fazendo o que ele mais gosta. Dicas importantes: • Peça explicações para a criança; • Solicite o relato dos desenhos; • Quem faz parte do desenho, qual a idade, qual o nome; • Que atividade está desenvolvendo; • Faça perguntas complementares quando julgar necessário. Durante a avaliação escolha as provas projetivas que melhor atendam seus objetivos. Não é necessário aplicar todas elas. Pense na queixa
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levantada pela escola, pela família e nas hipóteses de trabalho que você já conseguiu formular até este momento da avaliação clínica. Lembre-se que a análise das Provas Projetivas Psicopedagógicas depende também dos resultados obtidos em outros instrumentos de avaliação, isto é, não se trata de uma análise pura e isolada. Analise com cuidado os dados coletados e se for preciso discuta com outros profissionais, trocar idéias, nesse caso, é essencial. Quer saber mais sobre o desenho infantil? Leitura Complementar: DI LEO, J. A interpretação do desenho infantil. Porto Alegre: Artes Médicas, 1985. LUQUET, G. H. O desenho infantil. Coleção Ponte, 1969.
3.5 PROVAS PEDAGÓGICAS As provas pedagógicas no contexto da avaliação diagnóstica têm como foco principal de investigação a análise do avaliando no tocante ao seu desempenho nos conteúdos escolares. Obviamente que não se trata de uma análise isolada, ao contrário, ela sempre deverá estar fundamentada e integrada aos outros instrumentos de avaliação já aplicados pelo psicopedagogo. Ou como afirma Weiss (1997): é necessário que se pesquise o que o paciente já aprendeu, como articula os diferentes conteúdos entre si, como faz uso desses conhecimentos nas diferentes situações escolares e sociais, como os usa no processo de assimilação de novos conhecimentos (p. 93).
O fato de investigar esses aspectos não significa que o psicopedagogo deva fazer uso de atividades puramente didáticas, aquelas repassadas
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rotineiramente no contexto escolar. O que queremos enfatizar é que essa etapa não tem como ob jetivo reproduzir os conteúdos escolares mas entender como esses são elaborados e sistematizados pelo sujeito. Dessa forma, se estamos falando a respeito do nível pedagógico do sujeito, devemos considerar que a avaliação diagnóstica deverá versar nos seguintes aspectos: • Nível de leitura – observar: leitura incorreta das palavras e frases; leitura correta; nível de compreensão da leitura realizada; interpretação de leitura; ritmo de leitura; respeito ou não pela pontuação; acréscimo de palavras durante a leitura; invenção de palavras; tom de voz etc. • Nível de escrita – observar: nível de aquisição – pré-silábico, silábico, silábico alfabético, alfabético; estruturação de texto – coerência, coesão, temática, criatividade; estruturação gramatical; ortografia; pontuação etc. • Conhecimento matemático – observar: compreensão das operações aritméticas elementares; procedimentos de resolução de problemas; formulação de problemas escritos; resolução de cálculos mentais; resolução de cálculos escritos etc. O fato de citarmos esses aspectos como sendo essenciais durante o processo de avaliação não exclui a possibilidade do psicopedagogo investigar outras áreas de conhecimento do avaliando – História, Geografia, Biologia etc. O mais importante nesse contexto é o como essas situações devem ser apresentadas aos sujeitos. Para tanto, sugerimos o uso de jogos e atividades lúdicas os quais contemplem as situações que objetivamos investigar. Vejamos alguns exemplos:
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Leitura e Escrita • Estruturação de histórias por meio de seqüências de gravuras, aproveitando o contexto social do avaliando; • Leitura de livros e textos solicitados pelo su jeito e, portanto, de seu interesse; • Dramatizações seguidas de estruturação de textos e leitura dos mesmos; • Caça-palavras, palavras cruzadas; • Histórias em quadrinhos; • Estruturação escrita de regras de jogos; • Elaboração de enunciados de problemas do dia-a-dia – compra, venda, troca. Conhecimento Matemático • Explicações de procedimentos elaborados pelo sujeito quando da utilização de jogos de regras: boliche, dominó, damas, xadrez etc; • Resolução de problemas a partir de situações do cotidiano do sujeito; • Elaboração de enunciados de problemas do dia-a-dia – compra, venda, troca. • Elaboração e resolução de cálculos mentais e escritos a partir de procedimentos desenvolvidos pelo sujeito quando da utilização de jogos de regras. Salientamos que as atividades citadas devem servir como um referencial, cabendo ao psicopedagogo adaptar e criar novas situações quando necessário. Não se esqueça de formular as atividades de acordo com a faixa etária do avaliando, a série que está cursando e a queixa apresentada inicialmente pela família e pela escola.
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Que tal mais sugestões de atividades para avaliar o nível pedagógico? Consulte: MACEDO, Lino. Aprender com jogos e situações problema. Porto Alegre: Artes Médicas, 2002. BRENELLI, Rosely Palermo. O jogo como espaço para pensar. Campinas: Papirus, 1996. E por que não elaborar suas próprias atividades? Vamos tentar?
3.6 ANAMNESE Você já ouviu falar em anamnese? Este nome lhe é familiar? Provavelmente você deve ter ouvido esta expressão quando da visita a um médico ou a um dentista. Embora seja desconhecida para alguns, anamnese nada mais é do que uma palavra que evoca recordação, lembrança. No contexto médico, anamnese abrange as informações concernentes ao aparecimento e à evolução de uma determinada doença. No âmbito da Psicopedagogia, a anamnese refere-se a uma entrevista realizada com os pais com o intuito de investigar e reunir dados que dizem respeito à história de vida do sujeito que está sendo avaliado. História de vida que engloba desde o momento da concepção até os dias atuais. Tratase, portanto, de uma recordação, de uma lembrança de dados importantes acerca do sujeito de nossa ação. Existem inúmeros “modelos” de roteiros de anamnese, porém, salientamos que se tratam de referenciais. As perguntas são apenas norteadoras, podendo, o psicopedagogo acrescentar questões e discussões que achar conveniente para sua investigação.
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A anamnese aborda os seguintes pontos de investigação: • Dados de identificação; • Antecedentes Natais – gestação, nascimento; • Doenças e atendimentos médicos; • Desenvolvimento – social, afetivo, cognitivo, corporal; • Atividades da vida diária; • Histórico escolar. Durante a realização da anamnese é importante atentar para a dinâmica dos pais, ou seja, como se expressam, como interagem no momento da entrevista. Além disso, tente resgatar todos os dados que puder, tudo é relevante para uma boa avaliação psicopedagógica clínica e lembre-se que, nesse momento, você está em busca da história de vida de um sujeito que ora apresenta uma queixa de que não está aprendendo. Quer saber mais sobre a anamnese? Pesquise: WEISS, Maria L. L. A Psicopedagogia Clínica : uma visão diagnóstica dos problemas de aprendizagem. Rio de Janeiro: DP&A Editora, 1997. Vamos praticar um pouco? Por que você não desenvolve um roteiro de Anamnese juntamente com seus colegas de sala? Sugerimos que você elabore o roteiro de questões e que em seguida desenvolva a entrevista de Anamnese com alguém. É um ótimo exercício! Vamos tentar?
3.7 ENTREVISTA COM A ESCOLA A avaliação psicopedagógica clínica não pressupõe um trabalho isolado e solitário do psicopedagogo com o sujeito. Ao contrário, durante todo esse processo de avaliação é mister que o psicopedagogo mantenha contato com a escola no
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intuito de reunir informações acerca do desempenho escolar do avaliando. Para tanto, você pode agendar entrevistas com a coordenação pedagógica da escola e com o(s) professor(es). Essas entrevistas não se resumem em simples conversas informais mas em diálogos que objetivam investigar aspectos específicos do avaliando. E quais seriam esses aspectos? Desempenho do avaliando em sala de aula: Organização; responsabilidade; atenção; motivação; ritmo de trabalho; disciplinas em que apresenta dificuldades e como e quando essas se manifestam; interação com os colegas; relacionamento com o(s) professor(es). Também se constitui importante analisar a participação da família, o relacionamento dessa com a escola e com o(s) professor(es). As entrevistas com a escola podem ser gravadas em áudio, mas lembre-se que nesse caso fazse necessária a permissão por parte dos profissionais entrevistados. Se o psicopedagogo, por algum motivo, não puder comparecer na escola, esse pode enviar suas solicitações por meio de um questionário. Ressaltamos que as perguntas contidas no mesmo devem ser claras, objetivas e com um vocabulário acessível. A entrevista com a equipe da escola durante o processo de avaliação psicopedagógica clínica pode contribuir significativamente no sentido de obter informações que o psicopedagogo não teria acesso nas sessões realizadas com o avaliando. Você poderia, nesse momento, investigar qual a visão da escola acerca das dificuldades de aprendizagem apresentadas pelos alunos. Como é feito o diagnóstico e se há algum tipo de encaminhamento. Você pode levantar esses dados na sua própria instituição ou, se não tiver contato com o contexto escolar, que tal visitar a escola de um colega de curso? Com isso você estará reunindo informações essenciais para a elaboração de seu questionário ou desenvolvimento de sua entrevista.
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3.8 PROVAS E TESTES COMPLEMENTARES O objetivo das provas e dos testes complementares é o de responder questões concernentes ao diagnóstico clínico que o psicopedagogo ainda está em dúvida e por isso julga ser essencial um aprofundamento para conclusão do seu trabalho. Nesse sentido, não há um roteiro pronto acerca de quais seriam os testes e provas complementares indispensáveis à conclusão do diagnóstico. Salientamos que esse trabalho dependerá da queixa inicialmente levantada pela escola e pela família, além dos dados já reunidos pelo psicopedagogo a partir de todo o processo de avaliação realizado até o momento. Assim, dependendo do resultado dos instrumentos aplicados anteriormente, o psicopedagogo ainda pode pesquisar mais dados referentes a: • Provas de leitura, escrita, matemática e de outras áreas de conhecimento; • Exames clínicos: neurológico, oftalmológico, fonoaudiológico etc; • Análise dos materiais escolares do avaliando; • Exame motor; • Teste de audibilização; • Entrevistas complementares com a família e a equipe da escola; • Testes Psicológicos (uso exclusivo do psicólogo). Portanto, o psicopedagogo, nesse momento, precisa fazer uso de seu bom senso e ética no sentido de não ultrapassar os limites de sua prática, ou seja, se existirem casos nos quais o diagnóstico necessite da ajuda de outros profissionais, o psicopedagogo deverá fazê-lo. Isso significa trabalhar de maneira multidisciplinar: discutindo, pesquisando e interagindo com as diversas áreas de conhecimento que envolvem o trabalho psicopedagógico.
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análise dos resultados e a 4 Aconclusão diagnóstica Ao final do processo de avaliação psicopedagógica clínica, o psicopedagogo, certamente, deverá já ter constituído uma visão geral acerca do su jeito de sua ação. Dito de outra forma, o psicopedagogo terá que ter claro o que vem acontecendo com o avaliando do ponto de vista de sua aprendizagem e seus intervenientes. Para tanto, faz-se necessário que, nesse momento, o psicopedagogo reúna os dados coletados, analise-os e elabore sua conclusão diagnóstica. A conclusão diagnóstica refere-se a uma descrição a qual deve englobar aspectos como: • Análise do nível pedagógico; • Análise do nível cognitivo; • Análise das questões relativas ao desenvolvimento social; • Análise das questões relativas ao desenvolvimento afetivo. Você pode estar se perguntando: é o momento de sintetizar tudo que aconteceu durante o processo de avaliação? A resposta a essa pergunta é afirmativa. Sendo assim, elabore sua síntese, seu texto descritivo, relatando todos os aspectos que julgar necessário para esclarecer as dificuldades de aprendizagem apresentadas pelo avaliando. Vale ressaltar também que é a hora de dar sua devolutiva para a família e para a escola, afinal, eles estão ansiosos por esse momento. Marque uma entrevista com os pais, explique acerca do trabalho realizado e delineie sua conclusão diagnóstica. Faça o mesmo com a equipe da escola. Não se esqueça que nessa etapa você já deve ter em mente quais deveriam ser as medidas de intervenção que você adotaria para o caso, portanto,
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sugerimos que continue a leitura desse material pois a seguir abordaremos a proposta de intervenção psicopedagógica clínica. Vamos lá?
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proposta de intervenção 5 Apsicopedagógica clínica Antes de explicitarmos em que consiste a intervenção psicopedagógica clínica devemos esclarecer a respeito das relações intrínsecas entre diagnóstico e intervenção. Objetivamos, portanto, explicar que um bom diagnóstico conduz a medidas de intervenção eficazes. Nesse sentido, a relação mútua existente entre o processo de investigação e intervenção nos faz compreender o quanto é importante a análise de todos os dados coletados durante a avaliação psicopedagógica na medida em que será por meio dessa que o psicopedagogo obterá subsídios para fundamentar sua prática no momento específico de intervenção. No contexto da Psicopedagogia, o tema – intervenção psicopedagógica clínica – ainda conduz a indagações e debates que nos remete, sobremaneira, à idéia de que precisamos estudar e pesquisar cada vez mais. Você já parou para pensar em que consiste a intervenção psicopedagógica? Reflita um pouco e anote suas idéias. Segundo o dicionário Aurélio, intervenção significa: “ato de intervir; interferência”. Para a Psicopedagogia intervir é o mesmo que mediar, de outro modo, intervenção = mediação. Mas mediação de quê? Mediação entre o sujeito e seu processo de aprendizagem e desenvolvimento. O psicopedagogo, nesse caso, assume o papel de mediador, ou seja, aquele que servirá de ponte entre o sujeito e sua aprendizagem. Rubinstein (1991) afirma que “a intervenção psicopedagógica tem como principal meta contribuir para que o aprendiz consiga ser um protago-
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nista não só no espaço educacional, mas na vida em geral” (p. 104). Portanto, ao ser o mediador, o psicopedagogo precisa ter claro que ele deverá auxiliar seu sujeito a refletir sobre sua ação, seus pensamentos bem como ir em busca de caminhos possíveis para modificação dos mesmos. Mas quais diretrizes seguir? Quais as possibilidades de mediação entre o sujeito e seu processo de aprendizagem? São inúmeros os pesquisadores que com seus trabalhos colaboram para a prática do psicopedagogo no tocante às estratégias utilizadas no processo de intervenção psicopedagógica clínica. A seguir, apresentaremos três propostas que, ao nosso ver, são essenciais para as atividades do psicopedagogo.
5.1 A SITUAÇÃO-PROBLEMA Lino de Macedo (1995, 1997, 2002) sugere que a intervenção psicopedagógica pode se dar por meio de situações-problema as quais aparecem freqüentemente nos jogos de regras. Mas o que seria a situação-problema? Para entendermos o que o autor tem a nos dizer a respeito, precisamos, acima de tudo, resgatar o referencial teórico por ele utilizado. Macedo fundamenta-se em uma visão construtivista da Psicopedagogia e portanto, estabelece que o conhecimento é construído gradativamente na medida em que o sujeito interage com seu meio. E é exatamente a partir dessa interação contínua que o sujeito irá se deparar com situações-problema que irão requerer do mesmo o desenvolvimento de procedimentos e estratégias com o objetivo de resolvê-las e ultrapassá-las. Nessa perspectiva, a situação-problema suscita um desequilíbrio, uma perturbação, que “obriga” o sujeito a buscar meios, respostas, estratégias
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de ação, sempre com a intenção de solucionar o problema proposto. Para Macedo, o jogo de regras são ótimos recursos para a intervenção psicopedagógica uma vez que estão repletos de situações-problema. Isto é, a cada jogada o sujeito é convidado a pensar, a refletir sobre o que está fazendo e a buscar meios possíveis de cumprir seu objetivo final que é vencer o jogo, superar o desafio.
Um exemplo de situação-problema 1 Vamos ver se você consegue ordenar as linhas embaralhadas desse texto. Numere-as de 1 a 12, aproveitando as dicas 2: ( ) O arco-íris (ou na linguagem ( ) tem origem na mitologia ( ) deusa Hera e também de Zeus, ( ) na literatura, no cinema, na pintura ( ) grega: Íris, a mensageira da ( ) pelo arco das cores. Ela ligava ( ) popular, “arco-da-velha”, “arco-celeste”, ( ) e no folclore de todos os povos ( ) descia do céu caminhando ( ) através dos tempos. Seu nome ( ) “arco-da-aliança”) é presença constante ( ) o mundo das divindades ao dos mortais. E então, o que achou do desafio? Gostou? Este é apenas um exemplo de como o desafio, a situação-problema nos convida a pensar, a refletir sobre a atividade proposta. Vale ressaltar que durante a intervenção psicopedagógica, não basta somente passar a atividade, mas faz-se necessário questionar o sujeito, argumentar com ele, impor possíveis contradições,
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ou seja, fazer com que o sujeito aja e compreenda as conseqüências e os limites de suas ações. Macedo assinala ainda que qualquer resposta é importante uma vez que as situações-problema permitem a análise dos erros e das estratégias utilizadas pelo sujeito. Vamos praticar mais um pouco? Aqui está outro exemplo, ou melhor, outra situação-problema 3 para você resolver. Quatro amigas, Bia, Raquel, Gabriela e Juliana, moram num mesmo prédio de quatro andares. Cada uma delas mora num andar diferente. Bia mora abaixo de Raquel. Gabriela mora acima de Juliana. Raquel mora abaixo de Juliana. Será que você consegue descobrir em que andar cada uma das meninas mora? Que tal, nesse momento, elaborar suas próprias situações-problema? Exercite um pouco e anote tudo o que desenvolver. Quer saber a respeito da situação-problema? Consulte: MACEDO, Lino; PETTY, Ana L. S.; PASSOS, Norimar C. Quatro cores, senha e dominó. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1997. MACEDO, Lino. Aprender com jogos e situações-problema . Porto Alegre: Artes Médicas, 2002.
5.2 O JOGO COMO ESPAÇO PARA PENSAR Brenelli (1996) destaca os jogos como uma estratégia de intervenção tanto no contexto escolar quanto na Psicopedagogia. A autora estabelece que a idéia da utilização dos jogos como forma de promover a aprendizagem é bem antiga, porém, ao mesmo tempo, chama a atenção dos profissionais quanto ao uso de jogos apenas como forma de divertimento.
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Do ponto de vista da autora, o jogo, no contexto pedagógico e psicopedagógico, deveria ser utilizado no sentido de resgatar nos sujeitos que apresentam dificuldades de aprendizagem, sua motivação, sua auto-estima, seu interesse e, por outro lado, proporcionar o aprimoramento e a construção do conhecimento. Ao propor as atividades de intervenção por meio de jogos de regras Brenelli (1996), quando de suas pesquisas, elaborou o seguinte roteiro: • Aprendizagem do jogo: engloba a explicação das regras do jogo e a observação, por parte do psicopedagogo, de como o sujeito efetua suas jogadas, sem, contudo, intervir nesse processo. • Conhecimento das peças: nesse momento é solicitado ao sujeito que explique o material que compõe o jogo, que compare as peças do jogo e que as classifique. O importante nessa fase é a exploração do material, bem como as diferentes formas de organizá-lo. • O “jogar”: essa etapa abrange o jogar propriamente dito; há intervenção por parte do psicopedagogo uma vez que esse solicita ao sujeito a construção de diferentes estratégias e procedimentos durante as jogadas efetuadas. • Invenção de novos jogos: nesse momento é solicitado ao sujeito que invente novas regras e assim, formas diferentes de jogar. O sujeito estabelece e constrói suas próprias regras. • Representações gráficas: nessa etapa é pedido ao sujeito o registro escrito das jogadas efetuadas e a representação gráfica dos jogos inventados. Portanto, esse procedimento permeia todo o processo de intervenção por meio de jogos na medida em que solicita o registro e a representação daquilo que foi desenvolvido pelo sujeito no plano da ação.
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Após a realização de inúmeras pesquisas, tendo o jogo como estratégia de intervenção, Brenelli (1996) conclui que: “as situações-problema engendradas pelo jogo durante a intervenção (...) constituíram um ‘espaço para pensar’, no qual o pensamento da criança foi desafiado e sua atividade espontânea, responsável pelo desenvolvimento da inteligência, foi desencadeada da maneira a construir novos esquemas que ampliaram as suas possibilidades adaptativas. (...) a criança foi solicitada a agir, e suas ações desencadearam os mecanismos responsáveis pela construção do conhecimento” (p. 172). Nesse sentido, o jogo de regras corrobora com o trabalho do psicopedagogo, em seu processo de mediação, na medida em que promove aprendizagem e desenvolvimento. Sem contar os aspectos afetivos que também estão envolvidos uma vez que o sujeito precisa lidar com a frustração da perda, do fracasso e a empolgação e o sucesso do ganhar. Vamos exercitar um pouco? Que tal escolher um jogo e elaborar todas essas atividades de intervenção propostas por Brenelli (1996)? Você pode fazer esse trabalho juntamente com seus colegas de sala, em pequenos grupos. Quer saber mais sobre o trabalho realizado pela autora? Consulte: BRENELLI, Rosely Palermo. O jogo como espaço para pensar . Campinas, SP: Papirus, 1996.
5.3 A TOMADA DE CONSCIÊNCIA DO ERRO Vinh-Bang (1990) ao propor a intervenção psicopedagógica baseia-se no método clínico piagetiano.
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Lembra-se do método clínico proposto por Piaget? Esse assunto foi exposto quando dialogamos acerca do diagnóstico operatório. Sugerimos retomar a leitura daquele item antes de prosseguirmos. Tendo em vista o aporte teórico adotado, Vinh-Bang (1990) destaca que um dos aspectos mais importantes durante a intervenção psicopedagógica consiste na análise dos erros nas produções elaboradas pelos sujeitos. Segundo o autor, os erros apresentados pelos sujeitos indicam quais procedimentos devem ser alterados, corrigidos, e, nesse sentido, assinala que: • Toda resposta é significativa; • Toda resposta é válida. A intervenção psicopedagógica, diante desse ponto de vista, deveria, portanto, privilegiar a reconstituição do procedimento que deu origem à resposta, o que levaria o sujeito a constatação do seu erro, bem como sua correção. Nesse contexto, não há um roteiro fechado de questões para delinear o trabalho durante o processo de intervenção, apenas faz-se necessário articular e elaborar situações que provoquem a aparição dos erros e que solicitem do sujeito um procedimento corretor. Cabe ao psicopedagogo mediar o processo de tomada de consciência do sujeito. Mas em que consiste essa tomada de consciência? Para Piaget (1977), não se trata de uma simples incorporação ou iluminação, mas que engloba uma construção gradual. A tomada de consciência, assim, se caracteriza “(...) pela conceituação de uma ação, ou de outra maneira, refere-se à passagem de uma forma prática de conhecimento, de um ‘saber fazer’, em direção ao compreender. A ação constituindo um conhecimento autônomo, um ‘saber-fazer’, que a princípio não depende do compreender. A conceituação engendrando o ‘compreender’, ou seja, constituindo uma compreensão das
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razões que levam o sujeito ao êxito ou ao fracasso” (LOPES, 2002, p. 12). É nesse sentido que a tomada de consciência torna-se essencial quando nos referimos ao processo de intervenção psicopedagógica clínica. Porém, ressaltamos que cabe ao psicopedagogo reunir atividades que solicitem do sujeito a reconstituição de seus procedimentos bem como a compreensão dos mesmos. Deseja saber mais sobre os temas discutidos nesse item? Consulte: SOUZA, Maria Thereza C. Intervenção psicopedagógica clínica: como e o que plane jar. In: SISTO, F. (org.) Atuação psicopedagógica e aprendizagem escolar. Rio de Janeiro: Vozes, 1996. PIAGET, Jean. A tomada de consciência. São Paulo: Melhoramentos, 1977. PIAGET, Jean. Fazer e compreender. São Paulo: Melhoramentos, 1978.
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6 Considerações finais Como dissemos no início desse trabalho, não era nossa intenção esgotar a discussão acerca do tema proposto – O Processo de Avaliação e Intervenção em Psicopedagogia. Ao contrário, nosso objetivo consistiu, durante todo o desenvolvimento desse diálogo, em suscitar sua curiosidade e motivá-lo para o estudo e a pesquisa acerca do assunto em questão. Esperamos ter cumprido nosso objetivo! De nossa parte, ainda temos a acrescentar: “Por quantas estradas, entre as estrelas, precisa o homem mover-se em busca do segredo final? A jornada é difícil, infinita, às vezes impossível, no entanto, isto não impede que alguns de nós a tentemos... Poder-se-ia dizer que nos reunimos à caravana em um certo ponto: viajaremos até onde for possível; mas não podemos, durante uma vida, ver tudo que gostaríamos de observar ou aprender tudo que desejaríamos saber”. (Loren Eisely, The imense journey)
REFERÊNCIAS BOSSA, Nadia A. A psicopedagogia no Brasil : contribuições a partir da prática. 2. ed. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000. BRENELLI, Rosely Palermo. O jogo como espaço para pensar. Campinas, SP: Papirus, 1996. DI LEO, J. A interpretação do desenho infantil . Porto Alegre: Artes Médicas, 1985. FLAVELL, J. A Psicologia de Desenvolvimento de Jean Piaget . 4. ed. São Paulo: Pioneira, 1992. LOPES, Shiderlene V. de A. A construção dialética da adição e subtração e a resolução de problemas aditivos . Tese (Doutorado). Universidade Estadual de Campinas. Faculdade de Educação, 2002. LUQUET, G. H. O desenho infantil . Coleção Ponte, 1969. MACEDO, Lino. Para uma psicopedagogia construtivista. In: ALENCAR, E. M. S. Soriano (Org.) 3. ed. São Paulo: Cortez, 1995. ______. Aprender com jogos e situações problema . Porto Alegre: Artes Médicas, 2002. ______. PETTY, Ana L. S.; PASSOS, Norimar C. Quatro cores, senha e dominó . São Paulo: Casa do Psicólogo, 1997. MONTANGERO, J.; NAVILLE, D. M. Piaget ou a Inteligência em Evolução . Porto Alegre: Artes Médicas, 1998. PIAGET, Jean. A representação do mundo na criança. São Paulo: Melhoramentos, 1977. ______. A tomada de consciência. São Paulo: Melhoramentos, 1977. ______. Fazer e compreender. São Paulo: Melhoramentos, 1978. RUBINSTEIN, E. A intervenção psicopedagógica clínica. In: SCOZ, B. J. L. et al. Psicopedagogia: contextualização formação e atuação profissional. Porto Alegre: Artes médicas, 1991. SOUZA, Maria Thereza C. Intervenção psicopedagógica clínica: como e o que planejar. In: Sisto, F. (Org.). Atuação psicopedagógica e aprendizagem escolar . Rio de Janeiro: Vozes, 1996.
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TORRES, Marcia Zampieri. Processos de desenvolvimento e aprendizagem de adolescentes em oficina de jogos . Tese de Doutorado. Universidade Estadual de São Paulo, Instituto de Psicologia, 2001. VINH-BANG. L’intervention psychopédagogique. Archives de Psychologie, n.58, p. 123-135. 1990. VISCA, Jorge. Clínica Psicopedagógica. Epistemologia Convergente. Porto Alegre: Artes Médicas, 1987. ______. Psicopedagogia: contribuições. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1991. WEISS, Maria L. L. Psicopedagogia Clínica: uma visão diagnóstica dos problemas de aprendizagem. Rio de Janeiro: DP&A Editora, 1997.
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Manual de Estágio Supervisionado em Psicopedagogia Clínica* INTRODUÇÃO Há algumas décadas que profissionais de diferentes áreas se preocupam com a questão do fracasso escolar e as dificuldades de aprendizagem apresentadas pelos alunos; e é este contexto que nos impulsiona a buscar alternativas para combater essa situação que não é só escolar, familiar, mas também social. Na tentativa de uma compreensão integradora do processo de aprendizagem é que se desenvolve a Psicopedagogia, área de conhecimento específica que recorre a outros campos de atuação e pesquisa – psicologia, pedagogia, sociologia, antropologia, lingüística, neurologia – não desviando, porém, de seu objeto de estudo que diz respeito à aprendizagem e suas dificuldades. De acordo com Scoz (1994), a Psicopedagogia vem ganhando espaço no contexto educacional brasileiro e despertando cada vez mais, o interesse de inúmeros profissionais. Embora a Psicopedagogia tenha nascido com o objetivo de promover uma reeducação das crianças com problemas de aprendizagem, atualmente ela se preocupa também com a prevenção do fracasso escolar. A formação do Psicopedagogo se estabelece a partir da integração entre teoria e prática, por meio de um processo dialético, possibilitando a aquisição de um perfil de atuação que relacione os conhecimentos teóricos a uma postura profissional consciente, não esquecendo do caráter multidisciplinar que envolve este trabalho.
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Convém ressaltar, nesse momento, as palavras de Visca (1991): “(...) eu comecei com a Psicopedagogia Clínica, clínica num sentido mal utilizado da palavra, querendo dizer que é trabalhado, no consultório; porque clínica não significa isto de forma nenhuma. Na escola se faz clínica, na comunidade se faz clínica, no sentido de perceber o sujeito como ele é” (p. 14-15). Nesse sentido, podemos observar que a Psicopedagogia é a integração de diferentes ciências, que aponta como centro de sua ação e reflexão, a área pedagógica, sublinhando fatores psicológicos, propondo-se a compreender o indivíduo enquanto aprendiz – suas potencialidades, dificuldades e modalidades de aprendizagem – tendo em vista os padrões evolutivos normais e patológicos. Portanto, a proposta de Estágio Supervisionado Clínico tem como objetivo aliar a teoria ao exercício da prática psicopedagógica possibilitando ao estagiário um aquecimento para o desenvolvimento do papel profissional de “psicopedagogo”.
OBJETIVOS DO ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA Possibilitar ao estagiário: • a articulação entre teoria e prática; • a vivência da avaliação diagnóstica em psicopedagogia clínica.
O ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA Onde realizar o estágio? Em escolas ou em clínicas psicopedagógicas. Com quem realizar o estágio? Com uma criança ou adolescente – faixa etária entre 7 e 14 anos – que esteja apresentando uma dificuldade de aprendizagem. Vale ressaltar que o aluno deverá se abster de realizar a avaliação
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diagnóstica com crianças/adolescentes que este jam fazendo parte de seu quadro de alunos nas instituições em que trabalhem ou que lhes sejam parentes próximos ou pessoas de sua intimidade.
O estágio é individual? Ele pode ser realizado individualmente ou em duplas. O estágio é opcional? Sim, o aluno pode optar não fazê-lo. Qual é a carga horária? O estágio compreende uma carga horária total de 160h. A carga horária total do estágio corresponde a quais atividades? As 160h do estágio supervisionado clínico deverão ser distribuídas entre as seguintes atividades: • Leituras, pesquisa e estudo sobre o tema. • Elaboração e confecção de materiais de avaliação. • Sessões realizadas com o sujeito, com a família e a escola. • Elaboração e redação do relatório de estágio. Deve-se considerar aqui qualquer outra atividade que o aluno tenha desenvolvido e que, de alguma maneira, contribua para a execução do seu estágio. O aluno deverá fazer o registro destas observações para que possam ser consideradas. Quantas sessões o estagiário deve realizar com o sujeito que está sendo avaliado? Sugere-se um mínimo de 8 sessões e um máximo de 15 sessões. Quanto tempo dura cada sessão? Em média, uma sessão de avaliação requer em torno de 50 minutos a uma hora.
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Quantas sessões devem-se fazer durante a semana? Sugere-se de 2 (duas) a 3 (três) sessões semanais. Como se dá a aprovação do aluno-estagiário? Cabe ao aluno desenvolver todas as atividades propostas e redigir seu relatório de estágio, o qual será avaliado e deverá obter nota mínima de 7.0 (sete) ou conceito C. Ao aluno que não alcançar o conceito mencionado, a Supervisão de estágio concederá menção de Insuficiente na referida disciplina. Desta forma, o aluno poderá realizar novo Estágio Supervisionado em uma nova turma. Quais são os critérios de avaliação? Serão analisados os seguintes aspectos: • Desempenho nas atividades teórico-práticas promovidas durante a realização do estágio. • Apresentação do relatório dentro das normas técnico-científicas previamente estabelecidas. • Capacidade de aplicação teórico-prática dos conteúdos formativos na área da Psicopedagogia pertinentes ao estudo de caso clínico. • Capacidade analítica, crítica e contextualizada na abordagem textual do relatório. Quais os documentos que o estagiário precisa? • O estagiário de Psicopedagogia Clínica apresentará na instituição a Carta de Apresentação, devidamente assinada pelo tutor da telessala, para que possa realizar o estágio. • O responsável pela instituição deverá assinar a ficha de Declaração, autorizando o estagiário a realizar seu trabalho. Esta ficha deverá ser devolvida pelo estagiário juntamente com o relatório final. • O estagiário deverá preencher a Ficha de Identificação do Estagiário, devidamente assinada pelo tutor da telessala e esta ficha será anexada ao relatório final. • Preencher a Ficha de Acompanhamento de Estágio, assinada pelo responsável da instituição
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em que o trabalho se realizou, e esta ficha será anexada ao relatório final.
Qual o roteiro para elaboração e redação do relatório de estágio? 1) Capa (conforme Anexo I) 2) Folha de rosto (conforme Anexo II) 3) Termo de Aprovação (conforme Anexo III) 4) Sumário 5) Introdução 6) Dados da Instituição (onde se realizou o estágio) 7) Dados do Avaliando 8) Registro da Queixa (escolar e familiar) 9) Registro descritivo dos encontros realizados para aplicação dos testes e provas (com as análises e hipóteses levantadas), seguindo a ordem estabelecida para a avaliação diagnóstica 10) Parecer Diagnóstico 11) Proposta de Intervenção (com detalhamento das atividades) 12) Considerações Finais (relatar a experiência pessoal vivenciada pelo estagiário) 13) Referências 14) Anexos Como deve ser a apresentação do relatório de estágio? Cabe ao aluno redigir seu relatório a partir dos seguintes critérios: • Texto normalizado segundo as normas da ABNT. • O texto deve ser redigido com um mínimo de 30 e um máximo de 50 páginas, não incluídas as demais páginas que compõem o relatório (capa, folha de rosto, sumário, referências, anexos). • O relatório deverá ser encaminhado aos tutores das telessalas para que estes sejam enviados para a CEAD – Coordenadoria de Educação a Distância/Facinter.
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ANEXO I
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ANEXO II
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