Iwé Omó “O Livro da Descendência” Ibejí
Força Primordial, único Orixá permanentemente duplo, cujo nome se traduz por “os gêmeos”, Ibejí é em realidade a denominação dada a duas Divindades distintas que se traduzem esotericamente como apenas uma e que coexistem harmonicamente em sua própria dualidade. Filhos divinos de Xangô e Yansã, são denominados “ Taiwo” ( Aquele Aquele que vê o mundo) e “Kehinde” (o que vem vem depo depois is), poss possui uind ndo o rela relaçõ ções es co com m toda todass as
manifestações existentes na Natureza em sua dupla polaridade. Segundo os mitos mais antigos, sendo o mais velho, Kehinde enviou o irmão na frente para que esse pudesse ver como era o mundo. Tendo Taiwo chorado ao sair de Yansã, o irmão concluiu que o mundo era bom e nasceu logo em seguida. Ibejí participa como Orixá do mesmo sentido místico de “ distanciadores distanciadores da Morte” compar compartilh tilhado ado por outras outras Divind Divindade adess como como Oxóss Oxóssi, i, Oxumar Oxumaré, é, Logune Logunedé, dé, Iroko Iroko e certamente seus genitores divinos, os quais sintetizando os aspectos transformadores e regeneradores do inteiro cosmos, expressam o sentido mais profundo de eternidade. Relacionado Relacionado com a manifestaç manifestação ão da vida em todos os planos, penetra penetra o Orixá em todas as dimensões do Ayé e do Orún. Como Exu, o Orixá se encontra vinculado ao princípio virginal de todas as formas manifestas, participando em efeito, das mais importantes expressões ritualísticas ao interno do culto sagrado. Diversamente de Oxumaré e Yewá, os gêmeos divinos filhos de Nanã, Ibejí se afirma como uma Divindade masculina, não sendo ambos os irmãos considerados andrógenos como no caso de Logunedé e Oxumaré. Algumas tradições mais antigas chegam a classificá-los como masculino e feminino em virtude de sua relação com todas as manifestações de natureza dual, o que não descaracteriza sua essência, uma vez que todas as Divindades são de certa forma consideradas tanto em seu aspecto masculino como naquele feminino. Segundo os mitos arcaicos, os dois Deuses gêmeos nasceram de Yansã, mas foram por ela abandonados nas margens de um rio, sendo salvos por Oxum que desde então os criou e educou, educou, convertendo-se convertendo-se em sua mãe criadeira da mesma forma que Yemanjá adotou Obaluaiê como seu filho. Elemento procriado, Ibejí é exaltado como uma manifestação plena do princípio Dudu, possuidor de natureza essencialmente expansiva, o que o vincula ao próprio 1
sentido de regeneração de todas as Forças em constante processo de recriação, sentido cosmogônico esse que o aproxima de Logunedé, mas também apresenta fortes relações com o princípio Funfun, uma vez que está associado ao estado de manifestação da vida e ao equilíbrio presente em todas as matrizes da criação. Esotericamente simétricos e equilibrados em suas matrizes, Ibejí exalta o sentido cósmico da dualidade presente em todas as coisas e sua interação com o plano da matéria e aquele do espírito, representando o aspecto celeste e telúrico da Criação. Ibejí fala da necessidade de equilibrar toda e qualquer natureza dual, representando cosmicamente a interação harmônica que deve existir entre todos os pares de opostos como o dia e a noite, a luz e a escuridão, o céu e a terra, o espírito e a matéria. Como gêmeos divinos que são, ambos os Deuses se completam sem jamais se oporem um ao outro, expressando a manifestação consciente entre todos os dualismos e o equilíbrio sublime que permite sua manifestação conjunta como se fossem apenas um. Unidade que se manifesta na dualidade, Ibejí expressa o sentido de individualização dos opostos mas não aquele de separação de sua própria natureza e essência, permanecendo como uma realidade da Unidade. Raíz e princípio da mutiplicidade de todas as formas manifestas, uma das razões pela qual se apresenta como duplo, Ibejí contém em si as matrizes da interação entre matéria e espírito ou o domínio da razão espiritual sobre aquela puramente material. No homem Ibejí representa seus próprios conflitos e oposições de natureza dual, os quais devem ser reconhecidos, ultrapassados e trabalhados de modo a proporcionarem o equilíbrio em todas as direções em que se desenrola a existência. Se Oxumaré fala de recompensas e escolhas, Ibejí fala de decisões e direcionamento no caminho da harmonização, resultando na energia consciente que permite o contemplar das certezas a serem percorridas e alcançadas. É o próprio sentido de equilíbrio duradouro. A necessidade em deixar de lado os aspectos obscurecidos e desnecessários da personalidade e do espírito de modo a instaurar as matrizes e uma nova conscientização cujos resultados projetar-se-ão a partir do instante em que o indivíduo passa a vivenciar o seu mistério dual e a um só tempo unitário. Espiritualmente, Ibejí representa a necessidade do indivíduo, adepto ou Iniciado em se focalizar no aspecto transcendente da Alma, expressando o desejo em equilibrar o aspecto material e espiritual ou as relações externas e aquelas internas. É o ponto onde sentido de espiritualização se manifesta não como uma escolha própria, mas sim como uma necessidade de aprimoramento e harmonização com o Todo. É o
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estado de conscientização da matéria. A necessidade da busca pelos ideias espirituais já semeados e não uma descoberta do espírito. Se Oxumaré representa a manifestação de todos os pares de opostos, Ibejí expressa essa mesma manifestação em sua polaridade equilibrada e desprovida de conflitos que possam interferir em sua estrutura. É a conciliação metafísica dos paradoxos, a integração harmônica entre todas as manifestações. A exaltação do Criador e da criatura, o aspecto diurno e noturno de todas as coisas. A primeira divisão e o equilíbrio por ela afirmado. Ibejí afirma a Lei da Polaridade que em conjunto e sintonia com a Lei da Unidade, a Lei da Vibração, a Lei das Correspondências, a Lei do Ritmo, a Lei da Causalidade e a Lei do Gênero, resulta na essência ou o equilíbrio cósmico de todo o Universo. Como princípio cósmico, o Orixá declara que todas as coisas manifestas possuem seu par, sendo as mesmas consideradas essencialmente duplas. Gêmeo divino, Ibejí exalta os ensinamentos da Sabedoria Universal, os quais afirmam que os pares de opostos são idênticos em sua própria natureza, mas diferentes em graus, o que constitui o seu equilíbrio por itermédio da conciliação entre as forças. Tal reconciliação dos opostos ou a instauração do seu equilíbrio se encontra claramente expressada na união de ambas as Divindades que esotericamente se manifestam como uma só Força. É aqui que o Orixá declara que matéria e espírito constituem em realidade duas polaridades de um mesmo princípio, o que também pode ser compreendido por meio do simbolismo impresso nos mitos em que um dos gêmeos ascende ao plano espiritual ao passo que o outro permanece no plano físico. É também nesse sentido que Xangô e Yansã como expressões conjuntas da Grande Lei, expressam por meio dos Deuses gêmeos que as Leis Universais representam em realidade apenas graus de diferenciação dessa mesma Lei. Ibejí então passa a representar a Matriz e as Matrizes, o Princípio e os Princípios, o Todo e as Totalidades, a Estrutura e as Estruturas, a Dimensão e as Dimensões, o grande Ciclo e os Ciclos, a Presença e as Presenças. Em seu sentido esotérico, Ibejí declara que não existe demarcação ou “ponto absoluto” nem para cima nem para baixo, mas somente diferenciações em graus ascendentes e descendentes. Essa é a mesma Lei que declara serem Luz e Trevas apenas duas polaridades de um mesmo princípio, não podendo o bem e o mal serem absolutos, mas sim, variáveis, existindo diferenciação entre ambos apenas em relação aos seus graus de manifestação ou polarização. Como gêmeos, Taiwo e Kehinde são idênticos em forma mas diferentes em grau, o que os diferencia de Oxumaré e Yewá, que embora também gêmeos, manifestam-se como masculino e feminino. Essa “semelhança” entre os gêmeos Ibejís em realidade declara um outro ensinamento oculto o qual expressa que o princípio da transmutação 3
somente pode ser aplicado aos pares de iguais e não às estruturas diferentes, ou seja, as polaridades somente poder ser modificadas em relação a sua própria essência. Idêntico a Taiwo, Kehinde dele somente se diferencia em relação aos níveis de polarização ou intensificação de suas matrizes energéticas. Assim é que as Trevas podem se converter em Luz, uma vez que pertencem ao mesmo princípio, da mesma forma que o ódio pode ser transformado em Amor, o frio no quente, o medo em coragem, a Noite em Dia e assim sucessivamente. É aqui que Ibejí se afirma como o “Senhor de toda Transmutação” ou “ Oludandé”, “Aquele que resgata”, participando com efeito das manifestações referentes aos processos de Iniciação, uma vez que sua ação energética é aquela de modificar as estruturas harmônicas elevando os princípios até então procurados e cultivados pelo Iniciado. Assim é que o Orixá fala de “decisões” em sua Casa e não de escolhas, afirmando ao Iniciado que suas relações com o plano do espírito serão equilibradas em maior ou menor grau, sempre em relação a tudo o que até então ele próprio procurou encontrar, alcançar ou conciliar em sua jornada iniciática, representando essa Casa a “escada da ascensão” espiritual do Iniciado em direção aos graus superiores. Misticamente, valendo-se de seu sentido Iniciático, Ibejí também afirma a necessidade do Iniciado em reconhecer seus estados inferiores de maneira que possa permitir a exaltação da essência espiritual e o abandono de todas as outras características desnecessárias ao seu próprio aprimoramento. É em Ibejí que o Iniciado aprende que todas as coisas precisam ser conciliadas e equilibradas em suas diferenças. Como gêmeos que são, os dois Deuses expressam a energia criativa primordial e aquela receptiva, o que os relacionam com Ogun, considerado seu pai em alguns mitos antigos, bem como com Oxóssi, o aspecto fecundador e direcionador da consciência e do espírito,o que corrobora com o sentido expressado em outros mitos, os quais afirmam que os gêmeos foram criados por Oxum e Oxóssi ao interno das matas, passando então a dominarem todos os aspectos da Criação. Tal relação mística, associa os chifres do carneiro e do touro aos dois gêmeos, expressando claramente o aspecto solar e criacionista associado a Ogun em pleno equilíbrio com aquele lunar receptivo e expansivo vinculado à Oxóssi, por sua vez representado pelo touro. Mas também Xangô, o princípio de manifestação da vida, o “Fecundador Cósmico” encontra-se associado ao touro sobretudo como símbolo espermático de força e virilidade, exaltando o poder criador, destruidor e regenerador da Natureza. O fogo vivificador, a essência ou força de resistência que não se deixa abater diante da morte. 4
Yansã por sua vez, denominada “ Oborin Edé”, a “ Mulher Búfalo”, expressão do aspecto feminino gerador e fecundador da Natureza, representa a exaltação do poder receptivo da criação. A força infinita de geração e de manifestação da vida em todos os planos, vincula-se também aos chifres, considerados um de seus maiores atributos, mantendo dessa forma profundas relações com os gêmeos sagrados, aspectos expansivos por sua vez tanto dos poderes fecundadores sintetizados pelo pai como daqueles geradores pertencentes a sua mãe. Encarnando todos os atributos cósmicos como “Mãe Divina”, Yansã passa a representar a “Força ou Princípio Vital do Universo”, ou o sentido de Espiritualização em sua polaridade feminina. Como mãe de Ibejí, Yansã simboliza a própria “consciência da manifestação”, o veículo pelo qual se manifesta a Lei da Polaridade ou o princípio dual de todas as coisas. É a personificação da própria energia ou essência Criadora em seu aspecto feminino. Nesse sentido representa a Totalidade das Leis Universais
que
possuem
níveis
ou
graus
de
manifestação
reconhecidos
simbolicamente em seus filhos Deuses, os quais se encontram vinculados ao inteiro conjunto de Leis que equilibram o Todo. Ao serem entregues a Oxum, a matriz Germinal das Águas, o Princípio da manifestação das formas, os dois gêmeos divinos passam a integrar o plano das manifestações ou potencialidades exaltadas pela forma, ou seja, associam-se esotericamente à exaltação ou presença do princípio da Polaridade em todas as formas criadas na Natureza. Sendo abandonados por Yansã (o aspecto cósmico da Criação) passam as duas crianças a serem educadas por Oxum (a representação dos estados manifestos da matéria), exaltando dessa forma a presença ou permeabilidade do princípio dual em todas as coisas. Assumindo para si o aspecto essencial da Criação do qual participam as Divindades Celestes, Xangô e Yansã constituem convertem-se no “Par da Criação” por excelência. Sua interação harmônica ou sua “fusão cósmica”, permite a manifestação da chuva, por sua vez associada ao simbolismo de fecundação e recriação de todas as formas vivas, permitindo a continuidade e a sustentação da existência. Em determinado sentido esotérico, Ibejí passa a representar a chuva como o resultado ou interação das forças fecundadoras e geradoras da Natureza ou o “elemento gerado”, a força expansiva plenamente carregada com atributos duais de criação e destruição, devendo essa última ser compreendida em seu aspecto recriador ou restaurador. Associando-se ao simbolismo celeste de que se revestem as antigas Divindades do Céu relacionadas diretamente com os poderes da atmosfera, Xangô e Yansã se revestem de características oniscientes, passando portanto a se relacionarem com o
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sentido de manifestação da Justiça divina, estabelecendo os princípios da Ordem e da Harmonia que deve existir entre todas as coisas. É então que Ibejí como um aspecto ou poder manifestado diretamente da “Matriz legisladora divina”, passa a representar o aspecto dual presente e todas as possibilidades bem como o sentido de escolha e direcionamento em que se decida caminhar, expressando o sentido reacionário da Grande Lei ou o resultado obtido pelo seguir das próprias convicções, podendo esse se apresentar tanto positivo quanto negativo a depender da decisão tomada. Em virtude de estar associado ao princípio de manifestação de todas as coisas dotadas de vida, representando o estado de “pureza original” como também os processos de regeneração da Natureza, reconhecida por sua vez como um “reflexo manifesto do macrocosmo”, é que Ibejí assume corporificação infantil, não sendo os dois Deuses no entanto, considerados como crianças, mas sim como o sentido recémmanifesto da Criação. O princípio contínuo e cíclico ao retorno inicial. A restauração do equilíbrio rompido e a continuidade dos ciclos evolutivos. Ambos os gêmeos representam em seu sentido mais profundo o conhecimento das Leis Universais, sua observância e seu cumprimento equilibrado, de modo que o superior possa sempre servir como eixo ou ponto de transmutação do inferior. Ainda que duplos, não existe entre os dois irmãos qualquer espécie de conflito ou atrito cósmico a alimentar o princípio da desarmonia. De fato, tão intensas e superiores são as relações harmônicas expressadas por Ibeji que ambos passam a ser representados como uma só Divindade, chegando mesmo a existir um terceiro elemento divino que corresponderia a esse arquétipo individualizado. Narra um mito que os dois irmãos eram muito unidos, não se separando em ocasião alguma. Um dia, enquanto nadavam no rio um deles se afogou vindo a falecer, o que deixou o outro irmão inconsolável. Yansã vendo seu filho desistir pouco a pouco da vida foi implorar a Orumilá que por Ela intercedesse junto à Olodumaré, o qual não permitiu que a criança retornasse a vida, mas ordenou a Orumilá de fazer um boneco de madeira ricamente trabalhado e em tudo símile ao irmão que havia desencarnado, entregando-o em seguida a Deusa que então o deu com grande alegria ao irmão que recuperou o sentido de sua existência. O mito expressa em realidade não somente as relações de Ibejí com os dois planos de manifestação, o material e o espiritual, como também afirma o que há de mais profundo no axioma esotérico “O que está em cima é como o que está embaixo ”, resultando perfeitamente os irmãos nos “reflexos” harmônicos do macro e do microcosmo respectivamente. Mas o mito também oculta em sua narrativa o ensinamento esotérico que afirma que “Todo o Universo é mental encontrando-se o mesmo encerrado na Mente do seu 6
Criador”. Ibeji ao receber a imagem de madeira representando seu irmão doa-lhe vida
imprimindo nela todas as realidades e virtudes em concordância com as imagens criadas em sua mente, estando o irmão de madeira realmente iminente no universo criado pela mente do outro gêmeo. O sentido mitológico afirma a realidade esotérica, uma vez que os ensinamentos sagrados declaram que todas as coisas no Universo existem em virtude de terem sido criadas e sustentadas pela Mente do Absoluto, derivando portanto de sua essência, o que permite a afirmação de que o Todo está em tudo. Ibejí revela que todas as coisas existentes no Universo somente possuem ou conhecem a realidade de si próprios em virtude de representarem as potencialidades ou a Criatividade divina de seu Criador. Afirmando a Lei da Conciliação dos Paradoxos ou do “Equilíbrio Universal”, os Gêmeos Taiwo e Kehinde como expressões de todos os pares de opostos, são considerados iguais em sua própria essência e embora Taiwo possa ser considerado Kehinde, ambos não são idênticos em sua manifestação exatamente como o dia e a noite, o branco e o negro, o positivo e o negativo. Essa mesma sequência de ensinamentos se encontra expressada pelo mito em que morrendo Taiwo, Kehinde desesperado o desenterra e amarra o seu corpo ao seu próprio passando a levá-lo sempre consigo sem permitir que Oxum os separe. Desesperada, Oxum procura Yansã que intercedendo junto de Olodumaré, permite que o espírito de Taiwo passe a viver em Kehinde. O mito afirma o ensinamento que embora o espírito de seu irmão gêmeo habite o seu próprio corpo, ainda assim ele não será ele, mas um reflexo de sua própria natureza. Transferindo para o sentido espiritual, ainda que a centelha ou espírito do Criador esteja inerente em cada forma viva, essa não pode ser considerada Ele mesmo, diferenciando-se em graus, mas equilibrando-se contudo, em virtude do Todo estar em tudo. Profundamente associado aos aspectos de transmutação, verticalização e união do espírito com sua matriz divina reconhecida em seu Eledá ou seu “Ego Superior”, Ibejí vincula-se aos processos de Iniciação, representando o estado de “retorno” ao estado de purificação inicial, sendo tal estado manifestado pela corporificação da criança interior ou “Erê”, que atua como o elemento ou Força que interliga o espírito à sua essência divina, não devendo o Erê ser confundido com os Ibejès, os espíritos de Mestres espirituais que assumem a roupagem astral das Crianças, utilizando-se para tanto, das imagens encerradas no subconsciente ou mesmo no inconsciente de seus aparelhos, não se tratando em realidade de espíritos infantis em nenhum dos dois casos, mas somente de reflexos e expressões contidas na própria mente do mediador ou Iniciado. 7
Esotericamente, as Forças que se manifestam como Crianças são aquelas que mais se aproximam do estado de “pureza” e iluminação do espírito. Contudo, é necessário compreender que essa mesma Força ou estado manifesta-se em polaridade positiva, quando então a verdadeira “essência” espiritual do indivíduo que a manifesta no decurso dos processos de incorporação fora devidamente trabalhada e desprovida de seus aspectos psicológicos inferiores se converte em instrumento de ação dos Guias espirituais. De igual modo, tal Força também pode se manifestar como negativa, o que ocorre quando existem fortes fatores psicológicos de inibição que podem ou não terem sido geados durante a infância, em fases sucessivas ou mesmo durante o processo de gestação. Sob esse estado de polarização, as reações incorporativas deixam entrever claramente se tais fatores se apresentam ou não, passando então o processo incorporativo a funcionar como um canal de exteriorização e equilíbrio desses fatores negativos. Em ambos os processos existe a presença de um Guia espiritual que “acompanha” e direciona de maneira equilibrada o próprio mediador, de modo que esse não rompa bruscamente ou mesmo se identifique desastrosamente com as matrizes negativas. Fato é que como Crianças tais Forças Espirituais não existem, embora possam por meio dos processos de ideoplastia astral assumirem roupagem infantil, assim manifestando-se perante aqueles que estão familiarizados com os processos de clarividência. De igual modo, todos os excessos verificados quando da manifestação dessas Entidades, resultam em exaltações ou exagerações provocadas unicamente pelos próprios mediadores, muitos dos quais tentam justificar sua conduta, delegando tal comportamento aos Guias, o que em nenhum momento deve ser considerado como provido de veracidade. Todo o processo de corporificação e manifestação dos Ibejès ou Crianças da Umbanda é gerado e moldado exclusivamente no subconsciente do mediador, sempre de acordo com as imagens e reflexos positivos ou negativos encerrados em sua mente. Capturando tais imagens, os Guias espirituais lhes determinam o direcionamento e aproveitamento, influenciando e participando do processo, sem corresponderem contudo a essas personalidades. Aliás, na maioria das ocasiões em que tais Entidades se manifestam, é o próprio Caboclo ou o Preto-Velho do mediador quem de fato corporifica a Criança, participando com efeito símile os Exus, quando dessas mesmas exteriorizações carregadas por fatores psicológicos negativos. Já o Erê por sua vez é considerado como pura energia mental não corporificada, resultando no aspecto de iluminação da consciência, estabelecendo-se no ponto 8
preciso entre a consciência do Iniciado e a inconsciência do Orixá. É energia de purificação e regeneração. O estado recém-criado em que se converte o Iniciado após sua passagem pelos ritos sagrados, podendo ser considerado em sentido esotérico como a própria energia do Orixá manifestado como recém-nascido por sobre o Orí, o que evoca o estado de pureza e ordenação original, vinculando-se ao princípio da regeneração ou ressurreição da Alma. Se Oxumaré em seu aspecto duplo associa-se ao Ritmo que dirige e regula todas as coisas, Ibejí exalta a harmonia e as relações de correspondência existente entre todas as formas manifestas. Duplo e unitário que é, Ibejí afirma que todas as emanações do Universo derivam do mesmo ponto ou princípio, alcançando a totalidade das Leis Universais todos os planos e reinos segundo suas combinações ou correspondências em maior ou menor grau. Os dois gêmeos simbolizam em sentido cosmogônico a totalidade das manifestações do plano material e daquele espiritual, participando também com efeito daquelas relacionadas com o plano mental, sendo que, segundo os ensinamentos esotéricos esses planos se interpenetram uns nos outros, cada qual exaltando seus próprios princípios de manifestação em concordância com suas matrizes. Tal como Exu Orixá representa o “impulso primordial” do Universo, o princípio da Vibração essencial ou da polarização que permite a diferenciação, Ibeji também se manifesta como Divindade Essencial, caracterizando-se então como Funfun e associando-se aos dois pólos da realidade universal, aquele Absoluto e aquele Relativo. Se Exu Orixá exprime o sentido de realidade manifesta, de Força impulsionadora, geradora e construtora, afirmando-se como “princípio Essencial” presente em todos os seres dotados ou não de consciência, Ibejí também se caracteriza como uma manifestação presente e ocultada ao interno de toda forma viva, uma vez que expressa a “realidade espiritual” representada pelo inconsciente, atuando como o elo que interliga o espírito à matéria por meio da consciência superior ou a “Ponte” de comunicação entre o espírito e a Alma Divina reconhecida no Orixá Eledá. A aproximação de Ibejí com o sentido de iluminação da consciência e regeneração do espírito, aspecto esse representado pela Iniciação, acosta-o ao simbolismo infantil onde associa-se ao sentido de recém manifestação ou restauração do equilíbrio e dos ciclos de existência. Idênticos um ao outro, os Deuses gêmeos representam então o equilíbrio de todas as dualidades ou a conciliação de todos os paradoxos, projetando-se como unidade manifesta. Expressão da dualidade, Ibejí transmuta todas as coisas permitindo a
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regeneração das formas desgastadas e imperfeitas, frutos do desequilíbrio causado pela não compreensão do princípio da polaridade. Dessa forma, tal como Exu atua como o “Libertador”, aquele que permite o despertar da consciência por intermédio do conhecimento aplicado simultaneamente ao material e ao espiritual, Ibejí simboliza aquele que desprende a consciência de suas amarras dualizadas e que guia o espírito do homem em direção ao equilíbrio de si mesmo. Como Exu Orixá, Ibejí também é considerado um princípio ou Força Dinâmica do Universo que participa obrigatoriamente de todas as coisas, sendo axé expansivo por excelência. A matriz do equilíbrio. A presença da polaridade em meio a todo o Criado, razão pela qual se diz que todo ser possui um “Erê”, não sendo esse reconhecido como um “espírito de criança”, mas sim como uma Força equilibradora, virginal e exaltadora, da mesma forma que todos possuem um Bará. Como Exu, Ibejí também se encontra associado ao princípio da diferenciação, atuando como Força transformadora e regeneradora, uma vez que se relaciona essencialmente com os estados de natureza superior como alegria, contentamento, bem-estar, compensação e disposição, resultando no próprio “estímulo da vida”, a vontade de estar vivo, de aprender, de crescer, de gerar algo, de ser algo, de unir-se ao todo e compartilhar de todos os princípios e energias benéficas presentes na Natureza. Os ensinamentos sagrados afirmam que assim como cada Orixá possui um Exu Cósmico, ou uma Força que em concordância com sua própria essência perfaz sua unidade, também possuem um Erê ou “Criança”, em realidade personificações virginais de sua energia original em seu estado mais puro. Esotericamente, esse Erê resultaria na própria manifestação da energia do Orixá em seu aspecto infantil, ou seja, relacionado com o estado inicial ou recém-manifesto de todas as coisas ou Forças. Seguindo os ensinamentos, o Orixá ao ser assentado por sobre o Orí, exalta seu estado de recém-nascido, podendo sim ser comparado a um recém-nascido cujo crescimento e desenvolvimento de sua força estará sempre em concordância com o direcionamento que lhe determine o Iniciado. O pilão de madeira presente nos Assentamentos resulta no símbolo de relação com essa personificação, constituíndo o símbolo do trabalho contínuo e da constate observância de si mesmo em direção ao desenvolvimento e ao equilíbrio que deve ser alcançado entre espírito e matéria. Pertencente a Xangô, o pilão evoca a matéria original, estando o mesmo identificado com o sentido de “recriação e transformação”, afirmando veladamente a regeneração de todas as formas presentes na Natureza incluindo o homem.
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Além dos chifres como atributos associados aos seus genitores divinos, Ibejí é simbolizado por duas estátuas ou bonecos de madeira, os quais simbolizam o equilíbrio existente entre o macrocosmo e o microcosmo, mas também a afirmação da dualidade encerrada e refletida em todos os planos. Esse mesmo boneco de madeira relaciona-se com a “Árvore do Conhecimento” ou da “Ciência”, o princípio de compreensão das verdades associadas ao plano do espírito, mas também reflete a polarização do conhecimento e sua utilização equilibrada em função do todo coletivo. Uma imagem esculpida em madeira simboliza esotericamente a “morada oculta” de uma Divindade, representando o ponto central de onde emana a vida ou toda a série de potencialidades criadoras, mas também era considerada o reflexo ou “espelho” das Ideações encerradas na Mente Macrocósmica. Divindade filho, Ibejí não se projeta em nenhum momento como potencialidade fecundadora ou geradora, atributos esses associados aos seus genitores divinos, encarnando misticamente o princípio da descendência e da continuidade por excelência, constituíndo o “resultado” da Criação e o princípio da transformação e do equilíbrio em virtude de expressar o aspecto dual do inteiro cosmos. Se Exu Orixá representa a primeira forma dotada de vida individual, Ibejí associase como filho divino a manifestação do primeiro par de opostos, permanecendo sempre como filho, seja de Yansã, seja de Oxum, associando-se plenamente seja como Divindade criança ou mesmo adulta, a todos os estados temporais reconhecidos no passado, no presente e no futuro, rsultando no princípio que permite o retorno mas tmbém a regeneração e a transmutação de todas as coisas pela exaltação de seu equilíbrio. Adotado por Oxum, matriz aquática que simboliza o aspecto maternal por excelência, Ibejí se converte na criança ou no estado inicial de todos os ciclos e manifestações,
representando
o
próprio
desenrolar
da
existência
e
seu
desenvolvimento evolucional. Tal como Exu, Ibejí representa ao mesmo tempo, o recém-nascido, a criança, o jovem, o adulto e o ancião que por sua vez, segundo os ensinamentos místicos “retorna ao seu estado inicial como criança”. Elemento procriado, agrega em si mesmo a essência e o sentido de desenvolvimento da vida que deve ser percorrido por todos os seres vivos, representando os ciclos naturais de existência aos quais estão sujeitos todas as criaturas, associando-se portanto ao sentido de ancestralidade seja representando os Ancestrais masculinos, seja aqueles femininos, o que então os acosta ao simbolismo dos pássaros, cujas penas expressam o mais profundo sentido de descendência. Filho de Yansã, a “Senhora dos planos intermediários”, o princípio de permeação da vida em todas as dimensões, o sentido de permanência e desenvolvimento da vida 11
nos planos espirituais e de Xangô, a essência primaz da existência, o sentido da continuidade plenamente associado ao plano da matéria e suas manifestações, Ibejí como o resultado das Forças que controlam a manifestação da vida em ambos os planos, passa a representá-los, possuíndo fortes relações com o nascimento, a continuidade e o desenvolvimento de todas as manifestações pertencentes aos dois planos. Sendo o resultado entre o Branco e o Vermelho, como Negro Dudu, Ibejí afirma-se como o elemento de interação entre todas as combinações de axés possíveis, permanecendo sua essência a permear todas as coisas, expressando claramente o sentido de descendência. De Yansã Ibejí herda o Branco essencial, o sentido de existência espiritual anterior àquela na matéria, que por sua vez remete ao simbolismo de individualização, mas também o Vermelho original, o axé da sustentação e da manifestação que condivide em essência com Xangô. Xangô e Yansã se encontram estreitamente unidos como Divindades, condividindo com efeito quase que a totalidade dos princípios a que estão relacionados, sendo ambos de fato considerados matrizes de equilíbrio universais relacionadas com a manifestação e desenvolvimento da existência em todos os planos. Representando o aspecto masculino e feminino do elemento Pupá, a exaltação do Vermelho original fecundador e gerador por excelência, Yansã mesmo estando associada ao vento, em virtude de suas relações com o princípio gerador, associa-se a Terra como elemento de procriação, o que a acosta ao simbolismo do útero original, representado pela Cabaça-símbolo, a qual por sua vez, figura como Instrumentosímbolo de Ibejí, representando a união dos princípios masculino e feminino e a individualização da existência que se manifesta como descendência no Ayé e no Orún. A união divina de Xangô e Yansã atesta o sentido místico de “dinastia” e descendência contínua, o que acosta Ibejí a sentido de ancestralidade, expressado em sua relações com as árvores, a matéria individualizada, o sentido de continuidade e renovação, aspecto esse também associado aos Deuses gêmeos em virtude de ambos serem representados por pequenas imagens de madeira, símbolo do elemento procriado, a porção descendente que afirma o sentido de continuidade ininterrupta da existência, transferindo-se a vida apenas de um plano para outro. Segundo os mitos, um dos gêmeos permanece no Ayé e o outro no Orún, possuíndo, assim como seu pai divino, a função de assegurar o equilíbrio e a continuidade da existência, possibilitando o retorno do espírito ao plano espiritual e o seu reenvio ao plano da matéria, em um suceder contínuo de reencarnações que almejam em toda a sua plenitude o desenrolar da cadeia de evolução.
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Expressando a totalidade das manifestações pertencentes ao plano cósmico ou do espírito, ao entregar os gêmeos para Oxum nas águas, Yansã evoca o sentido esotérico de manifestação e permeação do princípio da polaridade sobre todas as formas criadas, exaltando a diferenciação da criação e a absorção pelo criado do inteiro conjunto de Leis Universais. Fonte de toda manifestação, Oxum representa o sentido de origem, desenvolvimento e regeneração da vida, seja ela material ou espiritual. Divindade carregada por um profundo misticismo, Ibejí associa-se ao macaco Colobo, denominado “Edun Orookun”, os quais possuem coloração preta e branca, simbolizando o equilíbrio das polaridades, sendo os mesmos considerados “mensageiros” de Ibejí em virtude de permanecerem pela manhã no mais profundo silêncio sobre as árvores como que a escutarem os Deuses. Os macacos estão associados ao simbolismo da necessidade de transformação da matéria grosseira em espiritual, uma vez que sua semelhança ancestral com o homem faz dele um forte símbolo do ser que necessita buscar o equilíbrio entre o espírito e a matéria, da mesma forma que seu comportamento por vezes considerado infantil, evoca o sentido de responsabilidade e necessidade de transmutação.
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