Introdução à Apologética
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CURSO DE APOLOGÉTICA Nível 1 Introdução à Apologética
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Centro Apologético Cristão de Pesquisas - Apologética Cristã – São São José do Rio Preto – SP. SP. Curso de Apologética do CACP ON-LINE. 1) – Apologética Apologética 2) – Teologia; Teologia; 3) – Estudo Estudo de Religiões Comparadas I. Título II. Série
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Dedicatória: Dedicamos o Curso de Apologética a todos aqueles que amam a verdade.
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Copyright 2008 – Edições CACP 1º Edição: 2009 Publicado no Brasil com a devida autorização e com todos os direitos reservados pelo Centro Apologético Cristão de Pesquisas. São José do Rio Preto – SP. Site: www.cacp.org.br Telefone: (17) 3014-4875 Proibida a reprodução por quaisquer meios (mecânico, eletrônico, xerográficos, fotográficos, gravação, estocagem em bancos de dados, etc.) sem a autorização do CACP, a não ser em citações breves com indicação da fonte.
SUPERVISÃO EDITORIAL E TEOLÓGICA: Paulo Cristiano da Silva João Flávio Martinez
REVISÃO: Dalton Gerth
CAPA E ARTE Euclides Cunha
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Índice INTRODUÇÃO.........................................................................................11 APOLOGÉTICA.......................................................................................14 - Definição.................................................................................................14 - Objeto......................................................................................................16 - Função ....................................................................................................17 - Fim e importância ..................................................................................18 ABORDAGENS E EMBASAMENTO BÍBLICO....................................21 - Abordagens..............................................................................................21 - Embasamento bíblico .............................................................................22 UM CONTRAPONTO – O TESTEMUNHO DO ESPIRITO SANTO...24 OS MÉTODOS EM APOLOGÉTICA......................................................26 - Definição ................................................................................................26 - Espécie....................................................................................................26 A LÓGICA NA APOLOGÉTICA.............................................................28 - A lógica pertence a Deus.........................................................................32 TIPOS DE APOLOGÉTICA.....................................................................33 - Apologética clássica................................................................................33 - Apologética evidencial............................................................................34 - Apologética histórica...............................................................................34 - Apologética experimental........................................................................34 - Apologética pressuposicional..................................................................35 EVANGELISMO E APOLOGÉTICA......................................................36 - Um estudo de caso...................................................................................38 HISTÓRIA DA APOLOGÉTICA CRISTÃ..............................................40 - Apologética Patrística..............................................................................40 - A divisão..................................................................................................41 *Pais apostólicos........................................................................................41 * Apologistas.............................................................................................41
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*Polemistas...............................................................................................41 - Apologética medieval ............................................................................42 - Apologética moderna........... ..................................................................42 - Apologética Atual...................................................................................42 O EXERCÍCIO DA APOLOGÉTICA......................................................44 OS INIMIGOS DA APOLOGÉTICA.......................................................49 - Os seis inimigos do compromisso apologético.......................................49 * Indiferença..............................................................................................49 *Irracionalismo..........................................................................................50 * Ignorância...............................................................................................51 * Covardia ................................................................................................51 * Arrogância de vaidade intelectual..........................................................53 * Técnicas apologéticas superficiais.........................................................53 OBJEÇÕES À APOLOGÉTICA..............................................................56 - Quando é que NÃO devemos julgar?.....................................................56 *Julgamentos hipócritas ...........................................................................56 * Julgamentos injustos...............................................................................58 * Julgamentos presunçosos........................................................................59 - Quando é certo julgar?.............................................................................59 *Julgando pecadores impenitentes na Igreja ............................................60 * Julgando falsos mestres..........................................................................60 APOLOGÉTICA E CORAÇÕES SINCEROS.........................................62 - A exortação de Pedro...............................................................................62 - O ponto comum de referência.................................................................64 HERESIOLOGIA E APOLOGÉTICA.....................................................65 - Definições e embasamento bíblico..........................................................65 - O conceito moderno de seita dentro do protestantismo...........................65 - Categoria de seitas...................................................................................66 - A importância do estudo da heresiologia................................................68 * por que estudá-las?..................................................................................68 * a importância de estudá-las.....................................................................69 COMO IDENTIFICAR UMA SEITA? ....................................................70 CONCLUSÃO ..........................................................................................75
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BIBLIOGRAFIA.........................................................................................76
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PONTO DE CONTATO
O que é apologética e qual sua importância? Apologética é apenas atacar a fé das demais religiões? Onde, como e porque usá-la? Neste módulo o aluno irá aprender as principais questões envolvendo a apologética. A etimologia, definições, tipos de apologética e sua importância na área teológica. O módulo contemplará ainda assuntos referentes à heresiologia e sua importância. Entretanto, este módulo básico não tem a pretensão de responder todas as questões envolvendo apologética, haja vista que o campo de estudo é muito amplo e, a cada momento, novas perspectivas são apresentadas envolvendo a disciplina. Portanto, o objetivo deste módulo é proporcionar ao aluno noções gerais sobre a apologética e sua importância para o cristão evangélico. Esperamos que após concluir este módulo, você possa adquirir conhecimento suficiente para poder realizar uma leitura compreensível por meio das linhas gerais apresentadas neste módulo quando for estudar os demais módulos específicos.
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OBJETIVOS
Após terminar este módulo o aluno deverá estar apto a:
Conhecer as principais correntes apologéticas existentes. Entender a importância da apologética para o ministério cristão atual. Saber como a heresiologia pode ser usada como um ramo da apologética. Destacar as principais características de uma seita. Embasar biblicamente o ministério apologético, usando para isso as advertências bíblicas sobre o assunto.
Refutar as principais objeções ao ministério apologético.
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Introdução Nos dias atuais há uma necessidade urgente de líderes cristãos que estejam comprometidos com o discernimento da verdade, à defesa da fé e à proteção do rebanho de Deus. Essa obra nem sempre é fácil, nem agradável, mas é sempre necessária. Os cristãos devem identificar e fazer oposição ao erro doutrinário e espiritual por uma razão principal: porque Deus nos comissiona para esta obra. Já no primeiro século, na época do Novo Testamento, o Corpo de Cristo foi atacado por seitas e falsos mestres, e as epístolas nos dão repetidos avisos acerca de impostores espirituais. A epístola de Judas, nos versículos 3 e 4, exorta-nos a batalhar “diligentemente, pela fé que uma vez por todas foi entregue aos santos, pois certos indivíduos se introduziram com dissimulação”. A fé cristã já tinha seus inimigos. O apóstolo Paulo, em Atos 20.28-31, avisou aos bispos de Éfeso que os inimigos do evangelho surgiriam tanto de fora da Igreja - “entre vós penetrarão lobos vorazes, que não pouparão o rebanho” - quanto até mesmo de dentro dela - “dentre vós mesmos, se levantarão homens falando coisas pervertidas para arrastar os discípulos atrás deles”. Na segunda epístola aos Coríntios, Paulo menciona que a Igreja não é invulnerável ao erro (11.3-4; 13-15). Igualmente Pedro, em sua segunda epístola, exorta seus leitores a se acautelarem, pois falsos mestres, introduzindo heresias destruidoras, surgiriam no seu meio (2.1-22; 3.15-17). O campo de batalha, hoje, não está mais restrito às regiões da Judéia e de Samaria, mas se estende a todo canto. Uma grande variedade de seitas nos nossos dias propaga falsos evangelhos e, muitas delas, de origem internacional, mudam suas táticas quando cruzam fronteiras, para dificultar sua identificação e facilitar sua infiltração e competição com a Igreja.
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Os cristãos não podem cometer o grave erro de ignorarem tais enganadores e seus discípulos. As conseqüências são espiritualmente letais. Ao contrário, a Igreja tem de refutar e combater o erro com a verdade, ao mesmo tempo em que em compaixão resgata os cativos das garras do inimigo (II Co. 4.3-4; II Tm. 2.24-26). Para que isso seja feito, os cristãos devem entender que os antídotos contra impostores e suas fraudes são o discernimento e o conhecimento da verdade. Os cristãos precisam conhecer não só a verdade da Palavra de Deus (II Tm 3.16 – 17; Hb. 4.12), mas também a verdade sobre os impostores e seus grupos. Nisso, os apóstolos são nossos modelos. Por exemplo, em Atos 17.16-34 Paulo usa seu conhecimento sobre as filosofias pagãs para evangelizar seus adeptos. Paulo, Pedro e João usam, em várias passagens, seu entendimento dos ensinamentos errôneos e heréticos dos proto gnósticos e legalistas judeus para os exporem e refutarem (Gálatas, Colossenses, I e II Pedro, I João, etc.) Tendo isto em mente, nós humildemente oferecemos este curso de apologética aos internautas. Nosso objetivo não é transformar o estudante um “perito” em seitas, mas fornecer informações suficientes para exortar, instruir e encorajar pessoas à defesa da fé e a estudos mais extensivos e contínuos. O presente Curso contém uma sinopse das seitas mais significativas nos nossos dias. Pretendemos, no nível dois aprofundarmos esse conhecimento e ampliá-lo. Deus tem dado à Igreja líderes diligentes e estudiosos na sua Palavra, que por séculos têm defendido a ortodoxia doutrinária contra todo tipo de heresia, muitas vezes selando suas lutas com suas próprias vidas. O conhecimento do que a Igreja tem crido com relação à Palavra de Deus, e
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com relação às naturezas de Deus, do homem e do Evangelho, é de vital importância para a preservação da sã doutrina. Doutrinas falsas continuam a ressurgir a cada dia, e isso provavelmente não vai mudar até a volta do Senhor Jesus. Por isso, nosso desejo é produzir edições mais aperfeiçoadas e atualizadas desse Curso nos próximos anos. Nossa oração é que esse Curso possa lhe encorajar a proclamar Cristo e a proteger seu rebanho fielmente, e que os frutos sejam para a glória de Deus.
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1. APOLOGÉTICA Embora o termo tenha sido ultimamente popularizado por várias instituições de pesquisas religiosas, ainda assim a conceituação correta permanece restrita apenas aos círculos acadêmicos teológicos. Faz-se necessário resgatar o seu verdadeiro sentido, para uma correta conceituação. O que é apologética? Para que serve? Onde empregá-la? Antes de adentrarmos à definição propriamente dita, precisamos averiguar o que NÃO significa apologética. 1. Apologética não é a crítica pela crítica. 2. Apologética não é intolerância religiosa. 3. Apologia não é ataque puro e simples.
1.1 DEFINIÇÃO a) Etimologia: A palavra apologética vem da palavra grega apologeisthai, que significa "uma defesa verbal." É usada oito vezes no Novo Testamento: At. 22.1; 25.8; 25.16; ICo. 9.3; IICo. 7.11; Fp. 1.7,16; II Tm. 4.16. Por sua vez, o dicionário "Aurélio século XXI", define apologia como: "Discurso para justificar, defender ou louvar." Essa palavra aparece em I Pedro 3.15 com o sentido de dar razão, responder, justificar: "antes santificai em vossos corações a Cristo como Senhor; e estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a todo aquele que vos pedir a razão da esperança que há em vós".
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Apologética é a defesa do Cristianismo em sua inteireza, sua essência, ou, de uma forma ou outra é a defesa de seus elementos de pressuposições contra seus usurpadores, atuais ou possíveis, de forma a se defender de algum ataque em particular Apologia significa resposta ou pergunta ao juiz de um tribunal, da parte do acusado. A apologia de Sócrates, por exemplo, respondia aos que o acusavam. Da mesma maneira, o cristianismo teve que se expressar em forma de respostas a certas acusações particulares. Os apologistas foram os que se entregaram a essa tarefa sistematicamente.
Nota importante: Apesar dos termos apologia e apologética serem semanticamente similares são, entretanto, diferentes. Entendemos que o termo apologética reporta a uma ciência da apologia. É a ciência que estabelece a verdade do Cristianismo como uma religião absoluta. Enquanto a apologia trata-se de simplesmente justificar ou defender a fé, a apologética ultrapassa este senso comum e procura por meio de processos racionais e sistemáticos, apoiada em outras ciências, defender cientificamente o Cristianismo. A Apologética perpassa por diversas áreas tais como: teologia, filosofia, biologia, arqueologia, história, antropologia, matemática e linguística. Nestas áreas ela pode estudar lógica, manuscritos, línguas originais da Bíblia, teoria da evolução etc. A apologética é processual e sempre está em via de transformações e aperfeiçoamentos.
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b) Conceito: É a habilidade de responder fundamentado com provas adequadas e sólidas à fé cristã perante os ataques das filosofias seculares e crenças religiosas. O cristianismo é uma religião exclusivista e como tal é inevitável que surja conflitos com as demais crenças, filosofias e ideologias. Neste choque de crenças a apologética se torna indispensável ao cristão. Ela nasce forçosamente como uma resposta ao ataque contra o Cristianismo. William L. Craig afirma que a Apologética cristã pode ser definida como um ramo da teologia Cristã que procura apresentar uma garantia racional das alegações de verdade do Cristianismo
Conforme Sproul, Gerstner, Lindsley (1984:13),"Apologetics is the reasoned defense of the Christian religion" , i.e., “a apologética é a defesa fundamentada da religião Cristã”.
1.2 Objeto O objeto da apologética é a fé cristã. A análise da fé cristã pelo viés apologético possui dois propósitos básicos:
c1) Justificação do Cristianismo como única religião revelada. Em meio há tantas tradições religiosas, o Cristianismo se apresenta como a única religião que arroga para si, o depósito da revelação divina. Sob esta perspectiva há a necessidade de que essa declaração seja seguida por
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demonstrações concretas. O trabalho da apologética é, pois demonstrar esta assertiva.
c2) Defesa da fé Cristã. Após a demonstração do Cristianismo como religião sui generis é necessário dar respostas aos ataques disparados pelos céticos e adversários do Cristianismo contra suas principais doutrinas.
1.3 Função A função da apologética é, pois, investigar, explicar e estabelecer os fundamentos nos quais a teologia, a ciência, ou o conhecimento sistematizado de Deus é possível. O que a apologética toma para se estabelecer é somente o Cristianismo puro, incluindo todos seus “detalhes” e envolvendo toda sua “essência”, em sua inexplicável e incompreensível inteireza, como a religião absoluta. Ela tem como objetivo solidificar as fundações nas quais o “Templo” da teologia é construído e pela qual toda estrutura da teologia é determinada. Ramm (1953:2) identifica na apologética o papel fundamental de mediar e conciliar tensões intelectuais: ...a apologética media tensões intelectuais. [Essa] mediação intelectual alivia as pressões mentais, resolvendo discrepâncias aparentes, harmonizando todos os elementos da vida mental. (...) Com o surgimento da mentalidade moderna e o conhecimento moderno, veio uma ampla gama de tensões para o apologeta Cristão mediar.
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2. FIM E IMPORTÂNCIA 2.1 Fim A apologética enquanto instrumento de validação da fé cristã atinge múltiplas finalidades quanto aos sujeitos que ela pretende alcançar. Os sujeitos se dividem em duas categorias: a) Quanto ao crente. A apologética contribui para o fortalecimento dos crentes de pelo menos dois modos. Em primeiro lugar, lhes dá confiança de que a fé deles é verdadeira e razoável promovendo assim um encorajamento para uma vida de fé sempre em busca da compreensão. Em segundo lugar, a apologética pode atuar até mesmo em algumas estruturas seculares que envolvem nossas próprias vidas, nos auxiliando a enfrentar as diversas indagações a que tais estruturas nos submetem bem como nos libertando para uma cosmovisão compatível com o cristianismo. A apologética procura consolidar a fé do crente fundamentando suas convicções religiosas mediante a explanação lógica e sólida, tranquilizando sua consciência, iluminando seu coração e limpando sua mente. É a dimensão pastoral da apologética. b) Quanto ao não crente. Nesta categoria estão incluídos os vários tipos de sujeitos que rejeitam a fé cristã de uma forma ou de outra: os indiferentes, os incrédulos, os agnósticos, os ateus e os anticristãos. Para esta categoria, a apologética serve como instrumento de convencimento e demonstração. Evidenciando as razões lógicas do sistema doutrinário cristão, tanto sua coesão interna bem como as evidências externas, levando-os à reflexão do Cristianismo como única religião revelada. Tais evidências servem para
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convencê-los da inutilidade de seu raciocínio materialista, da falácia de sua lógica humanista e do logro de sua incredulidade, levando seus pensamentos cativos à obediência de Cristo. A apologética pode ajudar a remover os obstáculos da fé e assim ajudar os incrédulos a abraçar o evangelho. Certamente que nesta atividade o próprio Espírito Santo está envolvido nos ajudando a empregar tais evidências para o convencimento da proclamação do evangelho atraindo assim muitas almas para Cristo.
2.2 Importância A importância da apologética pode ser vista sob as seguintes perspectivas. Como disciplina da teologia. A apologética cristã como disciplina da teologia visa defender os princípios bíblicos por ela (teologia) expressos. Dentro desta perspectiva a apologética visa combater os desvios doutrinários identificados nas diversas disciplinas teológicas, especialmente nas doutrinas essenciais, como a natureza divina (Pai, Filho e Espírito Santo), a encarnação, morte e ressurreição de Cristo, entre outras. Observando esta relação, podemos concluir que a apologética atua em função da teologia. É porque os princípios doutrinários existem e são distorcidos que a apologética é necessária. Logo, todos os elementos da apologética dependem e convergem para a teologia. Com isso em mente, entendemos que a apologética será conduzida de acordo com a teologia que quer defender. Portanto, se alguém apresentar uma fundamentação teológica distorcida, sua apologética seguirá a mesma tendência. Há uma outra razão que serve para justificar a essencial ocupação da verdadeira comunidade cristã com a disciplina “apologética”.
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Como construto sócio-cultural. A apologética pode contribuir imensamente para a construção de uma cultura saudável. Quando promovemos nossa fé, fundamentados na verdade e na razão, contribuímos para uma percepção cultural capaz de reconhecer que nossa atitude moral e religiosa não são meras questões particulares, mas que são apropriadas em outras áreas também. Assim, conseguimos remover do âmbito privado e de opiniões pessoais as questões de dimensões religiosas transportando-as ao âmbito público da discussão racional beneficiando assim a própria sociedade de um modo geral.
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3. ABORDAGENS E EMBASAMENTO BÍBLICO 3.1 Abordagens Pode ser de grande utilidade saber distinguir as vertentes da apologética. O apologista Ron Nash ensaia essa distinção nos seguintes termos: apologética negativa e apologética positiva. Entretanto, não devemos interpretar estes termos como possuidores de significados daquilo que seria aprovável ou reprovável. Os termos negativo e positivo aludem aqui tão somente a duas abordagens distintas da apologética. a) Apologética negativa. Segundo sua concepção do assunto, na apologética negativa, o objetivo principal é produzir respostas aos inúmeros desafios da fé religiosa, ou seja, esta vertente apologética visa remover os obstáculos enfrentados pela convicção de nossa crença. Nesta abordagem estratégica o apologista recebeu argumentos ofensivos à sua convicção religiosa e, por conseguinte, expõe argumentos defensivos. b) Apologética positiva. Na apologética positiva, o apologista tem a iniciativa e apresenta argumentos contundentes que amparam sua convicção religiosa e conseqüentemente (às vezes até involuntariamente) se opõe às demais convicções de fé. Nesta abordagem estratégica o apologista trabalha demonstrando evidências que comprovam a sua crença e, ao contrário, da abordagem negativa, não depende de um ponto doutrinário pré-estabelecido para iniciar sua tarefa. Observamos, portanto, duas atitudes comportamentais distintas, embora convergentes ao mesmo objetivo.
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3.2 Embasamento bíblico Apologética não é uma opção deixada ao crente para que decida, sem qualquer implicação, se quer ou não realizá-la. Igualmente, também não é uma recente característica ou tendência da fé cristã contemporânea. Mais propriamente, a apologética figura como um elemento essencial da Bíblia. Cerca de 90% de todo o Novo Testamento foi escrito com finalidade apologética. Grande parte das epístolas aludem a questões que perpassam à essa temática. Há vários versículos no Novo Testamento que permitem um correto embasamento bíblico para o ministério apologético. São eles: Antes santificai em vossos corações a Cristo como Senhor; e estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a todo aquele que vos pedir a razão da esperança que há em vós; (I Pe. 3.15) estes por amor, sabendo que fui posto para defesa do evangelho; (Fp. 1.16) Amados, enquanto eu empregava toda a diligência para escrevervos acerca da salvação que nos é comum, senti a necessidade de vos escrever, exortando-vos a pelejar pela fé que de uma vez para sempre foi entregue aos santos. (Jd. 1.3) retendo firme a palavra fiel, que é conforme a doutrina, para que seja poderoso, tanto para exortar na sã doutrina como para convencer os contradizentes. (Tt. 1.9)
Perceba que a preparação por meio da apologética é situação sine qua non para oferecermos, mediante evidências bem fundamentadas, respostas Todos os direitos Reservados ao CACP. Proibida a reprodução total ou parcial.
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racionais sobre a fé cristã.
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É tarefa da apologética trazer essa razão
claramente em sua consciência e fazer disso um plano válido. Essa preparação deve ser um processo contínuo. Ocorre que vivemos em um mundo em constantes mudanças. Essa dinâmica de reformulações das idéias também atinge a religião destruindo paradigmas e reconstruindo novas cosmovisões que se apresentam quase sempre divorciadas dos princípios cristãos. À medida que essas mudanças são processadas no seio da sociedade, o cristão deve igualmente buscar constantemente o aperfeiçoamento de sua apologética, oferecendo novos argumentos racionais às presentes demandas e desafios que o mundo pós-moderno apresenta.
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4. UM CONTRAPONTO - O TESTEMUNHO DO ESPÍRITO SANTO Embora seja verdade que a apologética é indispensável a um ministério cristão bem sucedido há, no entanto, de ser esclarecido que a apologética se torna desnecessária para que a fé cristã seja garantida. Quanto a isso o filósofo cristão Willian Craig nos adverte que: Os argumentos e evidências apologéticas não são necessários para que a crença cristã seja garantida para qualquer pessoa. A fé em Cristo pode ser imediatamente fundamentada no testemunho interior do Espírito Santo (Rom. 8.14-16; 1 Jn. 2.27; 5.6-10). Se o testemunho do Espírito Santo na vida de uma pessoa é suficientemente poderoso (como deve ser), então isso irá simplesmente se sobrepor à qualquer objeções dirigidas à crença Cristã, dessa forma removendo a necessidade de apologética defensiva. Um crente não instruído o suficiente para refutar argumentos anti-Cristãos está garantido em sua crença se baseando apenas no testemunho interno do Espírito mesmo quando confrontado com tais objeções não refutadas. Mesmo quando uma pessoa é confrontada com o que é, para ela, objeções irrespondíveis ao teísmo Cristão ela ainda assim, devido à obra do Espírito Santo, está dentro de seus direitos epistêmicos - digo mais, sob obrigação epistêmica - de crer em Deus. Visto que crenças pautadas no testemunho objetivo e verídico do Espírito são parte das invalidáveis considerações da razão, a fé do crente é garantida mesmo se não tiver nenhuma noção de argumentos apologéticos (como é o caso da maioria dos Cristãos hoje e da história da Igreja.
Francis Schaeffer vai mais adiante e argumenta que a apologética não deve ser usada como um conjunto de regras fixas e impessoais, mas que a explanação da fé deve estar sujeita à direção do Espírito Santo e à consciência da individualidade de cada pessoa Mas não se segue daí que a apologética Cristã seja, portanto, inútil ou não tenha nenhum beneficio em garantir a fé Cristã.
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A necessidade da apologética nos dias atuais é algo crucial e crítico. Os crentes têm de perceber que estamos vivendo em uma era que caminha para o pós-cristianismo, eivada de religiões ecumênicas, seitas e princípios ocultistas que disputam acirradamente a fidelidade espiritual das pessoas. Temos de enfrentar estes desafios face a face. O dr. John Warwick Montgomery, apologeta cristão de grande proeminência, destaca que a apologética não pode substituir a fé e muito menos suplantar a ação do Espírito Santo, entretanto, ela atua como um indispensável instrumento que elucida as verdades bíblicas, ajudando a preservá-las. Ao mesmo tempo em que a Bíblia nos ordena a pregar a palavra a tempo e fora de tempo, também nos ensina a redarguir, repreender e exortar com toda longanimidade e doutrina (IITm 4.2). E por que devemos proceder assim? O versículo seguinte responde: “Porque virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências” (IITm 4.3).
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5. OS MÉTODOS EM APOLOGÉTICA 5.1 Definição Método se define como sendo o modo de proceder uma operação. Em apologética o método é o conjunto de processos pelo qual o apologista emprega para demonstrar a realidade e a veracidade da fé cristã.
5.2 Espécie Os métodos, de acordo com os meios operados, se reduzem fundamentalmente a duas espécies: analíticos (indutivos) e sintéticos (dedutivos). Praticamente ao método dedutivo se pode denominar método filosófico (raciocínio). Ao método indutivo se chama por excelência científico, tal sua dominância no saber experimental. Estas duas espécies correspondem aos dois elementos com os quais o apologeta lida ao proceder em uma pesquisa apologética: racional ou filosófico e histórico/experimental. a) Racional ou filosófico. Corresponde ao método dedutivo. Parte da causa ao efeito, isto é, de Deus à sua criação. Trata-se de provar por meio de argumentos racionais a existência e natureza de Deus, da alma e da imortalidade criando um sistema lógico e coerente para a fé cristã. b) Histórico. Corresponde ao método indutivo. Parte do efeito à causa, isto é, da criação ao criador. Trata-se de provar que a revelação cristã pode ser averiguada com fatos. O cristianismo é uma religião que apela aos fatos da história, apesar de suas causas e consequências serem atemporais.
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O método histórico se vale também de outras áreas da ciência a fim de provar as verdades cristãs. Por exemplo, usa a arqueologia e a história para resgatar dados que comprovam a historicidade do cristianismo.
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6. A LÓGICA NA APOLOGÉTICA A lógica é muito importante na apologética. Para defender a fé, o cristão tem de usar corretamente a verdade, dar seqüência coerente aos fatos e raciocinar com justeza. O cristão precisa ouvir as objeções e fazer comentários convincentes e racionais em resposta às questões levantadas. A lógica é simplesmente uma ferramenta no arsenal da apologética cristã. É um sistema de raciocínio. É o princípio de pensamentos apropriados usado para se chegar às conclusões corretas. É claro que algumas pessoas são melhores em raciocínio lógico do que outras. Não há nenhuma garantia de que ao usarmos o raciocínio lógico, no melhor de nossas habilidades, alguém irá, por isso, se converter. Não é a lógica que salva, mas, sim, Jesus. O uso correto da lógica na apologética visa remover as barreiras intelectuais que impedem alguém de aceitar a Jesus como Salvador. A lógica, no entanto, não deve ser vista como resposta para todos os problemas que se opõem ao cristianismo, ou como resposta para cada objeção que se apresenta. A lógica tem seus limites. Ela não pode garantir sabedoria. Não pode provar e nem reprovar inspiração e amor. Não pode substituir a intuição adquirida através da experiência, nem a direção do Espírito Santo, e muito menos a verdade da Palavra de Deus. Todavia, a lógica é muito valiosa e pode ser poderosamente usada por pessoas de ambos os lados da regeneração (sejam elas, as pessoas, regeneradas ou não). A lógica nas mãos dos oponentes do cristianismo. Às vezes, os oponentes do cristianismo usam os problemas lógicos como um tipo de evidência contra a existência de Deus. Considere esta básica objeção. Proposição: Deus pode fazer todas as coisas. Todos os direitos Reservados ao CACP. Proibida a reprodução total ou parcial.
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Declaração: Pode Deus fazer algo tão grande que não consiga pegar? Por exemplo, uma rocha. Se Deus não pode pegar uma rocha, então Ele não é capaz de fazer todas as coisas, visto não poder fazer uma grande rocha que consiga pegar. Conclusão: Se Deus não pode fazer algo que consiga pegar, como uma grande rocha, por exemplo, então Ele não existe. Em princípio, essa lógica parece difícil de responder. Mas tudo que temos a fazer é pensar um pouco mais, daí veremos que o problema proposto não é lógico. Aqui vai a resposta: Proposição: Deus não pode violar sua própria natureza, ou seja, não pode ir contra o que Ele naturalmente é. Declaração: A natureza de Deus não permite que Ele minta. Conclusão: Logo, a declaração de que Deus pode fazer todas as coisas não é verdade (pois Deus não faz nada contra sua natureza), assim como não é verdade a conclusão levantada contra Deus (nos termos que Ele não existe, pois não pode fazer nada que não exista). A lógica é uma ferramenta valiosa de testemunho, principalmente quando usada com provas da existência de Deus. Considere a seguinte abordagem básica no uso da lógica: O universo existe O universo não pode ser infinitamente velho, porque se o fosse, teria entrado, há muito tempo, num estado de entropia. Entropia é a segunda lei da termodinâmica que define que todas as coisas estão a caminho do caos e da energia não utilizável. Em outras palavras, tudo está se enfraquecendo.
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O universo teve um princípio O universo não poderia ter vindo a existir por si mesmo. Algo maior e anterior ao universo o trouxe à existência. E esse “algo” é Deus. Todas as provas lógicas para Deus têm seus pontos fortes e fracos. Contudo, o cristão não deve ter medo de usar a lógica, a razão e a evidência ao defender a fé. Será que a lógica é um ponto comum entre o crente e o incrédulo? Alguns pensam que não, pois as preposições iniciais dos incrédulos contra o Deus cristão não os permite pensar corretamente sobre Deus, o mundo, a verdade e sobre si mesmos. É por esse motivo que chegam à conclusão de que a lógica não é um ponto comum entre os crentes e os incrédulos, pois as preposições são opostas. Posso entender o raciocínio desse tipo de posição, e certamente há valor nisso. Contudo, creio que a lógica é um ponto comum sim entre os crentes e os incrédulos. Todavia, não acredito no fato de que a lógica possua qualidades inerentes que a colocam acima da capacidade humana ou de suas limitações. Assim como não acredito que ela possua qualidades místicas ou etéreas que, de alguma forma, transcenda a influência cega do pecado. Penso que a lógica, quando usada adequadamente, sempre valida a verdade encontrada na Bíblia e aponta para Deus, reconhecendo um incrédulo isso ou não. A lógica pertence a Deus. Isso porque Deus criou o universo, as leis físicas, matemática e todos os outros fenômenos naturais e verdadeiros. A existência tem uma ordem porque Deus assim o fez. A lógica é verdadeira, não por ser lógica, mas porque é um reflexo da natureza de Deus, que é verdadeira e possui ordem. A lógica, portanto, pertence a Deus, e pode ser usada por Ele, e em questões divinas, pelos cristãos.
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Não queremos dizer que um incrédulo não pode usar a lógica, como, por exemplo, na matemática, e pode fazer isso melhor, muitas vezes, do que um crente. Há áreas de conhecimento comuns a ambos (crentes e incrédulos). Deus tem dado a determinadas pessoas habilidades que não podem ser vistas em outras (independente de serem cristãs ou incrédulas). Contudo, com isto não queremos dizer que os cristãos, ao falarem de Deus, o farão sem falhas. Ninguém pode dizer que dominou a lógica em sua totalidade. Em um mundo perfeito com pessoas caídas, a razão seria uma aventura maravilhosa que levaria os indivíduos a adquirir mais revelação de Deus e da verdade. Todavia, vivemos em um mundo caído. Será que a lógica é suficiente? Não, não é. A lógica possui duas fraquezas. A primeira delas é: a lógica é tão boa quanto a pessoa que a usa (mesmo que isso não seja uma fraqueza da lógica em si mesma). A segunda é que ela não salva. Não temos como levar alguém para o reino de Deus pela razão somente, pois é o Espírito Santo quem convence do pecado, da justiça, e do juízo. É Ele quem abre o coração e o entendimento das pessoas para a verdade (Jo. 16.8). Se o que estamos falando procede, será que deveríamos usar a razão com os incrédulos? Claro que sim, devido a vários motivos: 1. Somos instruídos a responder (no original, apologia) aos incrédulos (I Pe 3.15) e a utilizarmos a razão (Is 1.18). 2. Deus pode, em sua soberania, usar o nosso testemunho e raciocínio para trazer alguém para o seu reino. O Senhor Deus não é limitado pelas nossas fraquezas. 3. As respostas dadas aos incrédulos, baseadas na Palavra de Deus, são verdadeiras em si mesmas, mesmo que sejam rejeitadas por eles (os
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incrédulos), que terão de prestar contas no dia do julgamento por sua atitude negativa para com a Palavra de Deus.
A lógica pertence a Deus A lógica é uma ferramenta para o cristão. Não há por que temê-la. De fato, se aceitarmos a verdade de que a lógica “pertence” a Deus, então, devemos nos sentir encorajados a usá-la. Mas não deixe que a lógica se torne um ídolo para você, caro aluno, pois ela não é a resposta para o problema (ou todos os problemas). Como cristãos, precisamos usar a lógica, assim como a evidência, a oração, a Palavra de Deus, o amor, a gentileza, entre outras coisas, em nosso esforço de ganhar as pessoas para Jesus. A razão tem valor e lugar próprio na apologética. Vale a pena usá-la corretamente, mas devemos fazê-lo em amor, oração e paciência!
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7. TIPOS DE APOLOGÉTICA Há uma variedade de estilos e escolas de apologética Cristã. Os principais tipos de apologética Cristã que abordaremos incluem: apologética evidencialista,
apologética
pressuposicional,
apologética
clássica,
apologética histórica e apologética experimental. Fora estas ainda temos apologética filosófica, apologética profética, apologética doutrinal, apologética bíblica, apologética moral, e apologética científica. Vejamos as principais:
7.1 Apologética clássica Este tipo de abordagem trabalha com o principal pressuposto teológico, isto é, a existência de Deus. É essa linha apologética que vai explorar os argumentos comprobatórios da existência divina. Os principais argumentos são: a.) Cosmológico: uma vez que cada coisa existente no Universo, deve ter uma causa, deve haver um Deus, que é a última causa de tudo. b.) Teleológico: existe um objetivo, um propósito para a criação do Universo e do ser humano. c.) Ontológico: Deus é maior do que todos os seres concebidos porque existe na mente do homem um conhecimento básico da existência de Deus. Os teólogos que se destacaram como apologistas clássicos foram: Agostinho, Anselmo de Cantuária e Tomás de Aquino.
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7.2 Apologética evidencial Como já podemos inferir do próprio nome, esta linha apologética procura defender as doutrinas teológicas ressaltando as evidências que as envolvem, tais como: a infalibilidade da Bíblia, a veracidade da divindade de Cristo e sua ressurreição, entre outras. Um estudioso que representa bem esta classe de apologistas em nossos dias é Josh McDowell, autor do livro (um best seller) Evidências que exigem um veredicto.
7.3 Apologética histórica Esta classe de apologética enfatiza as evidências históricas. Seus representantes acreditam que a existência de Deus pode ser provada com base apenas na evidência histórica, porém, isso não significa que não utilizem outros artifícios. Geralmente, o fundamento deste tipo de abordagem são os documentos do Novo Testamento e a confiabilidade de suas testemunhas. Podemos encontrar teólogos expoentes da apologética histórica nos primórdios da igreja, como Justino Mártir e Tertuliano.
7.4 Apologética experimental Este tipo de apologética, geralmente, é apresentada por fiéis que arrogam para si experiências religiosas pessoais e, às vezes, exclusivas. Assim, alguns apologistas rejeitam este tipo de abordagem por seu caráter excessivamente místico e alegam que tais experiências são comprobatórias apenas para os que nelas crêem ou delas compartilham. Em suma, a apologética experimental se apóia na experiência cristã como evidência do
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cristianismo e está relacionada à teologia do leigo; ou seja, à teologia que não é acadêmica, mas popular. Um ponto negativo desta abordagem é que ela se apresenta de forma um tanto quanto subjetiva. Ou seja, é difícil sentenciá-la como verdade ou fraude. O seu ponto positivo, porém, é que a nossa crença precisa, de fato, ser vivida, experimentada, do contrário não passará de teoria.
7.5 Apologética pressuposicional Esta abordagem é chamada assim porque parte de uma pressuposição para construir sua defesa... O “pressuposicionalismo” pode ser assim classificado: a.) Revelacional: todo o entendimento da verdade parte da pressuposição da revelação de Deus e da legitimidade da Bíblia em expor esta revelação. b.) Racional: a pressuposição básica gira em torno da coerência do argumento. Se o cristianismo arroga para si a posição de única verdade, então isso implica em dizer e provar que todos os demais sistemas são falsos. c.) Prático: a pressuposição aqui é a de que somente as verdades cristãs podem ser vividas. Os
teólogos
que
se
destacaram
como
apologistas
“pressuposicionalistas” foram: Cornelius Van Till e John Carnell.
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8. EVANGELISMO E APOLOGÉTICA É indiscutível o fato da apologética se tornar cada vez mais necessária para a proclamação da Palavra de Deus. A apologética possui uma tarefa que vai além de meramente defender a fé cristã, serve também para anunciá-la ou servir como um instrumento indispensável para esta anunciação. A apologética sem o evangelismo é praticamente vã e o evangelismo sem a apologética se torna cada vez mais ineficaz. A simples defesa do cristianismo é inútil quando não temos, posteriormente, a essencial proclamação da Palavra. A defesa é útil para a proclamação e deve estar intimamente relacionada a esta última. É preciso entender o quanto a apologética é útil, mas também o quanto ela pode se tornar inútil quando não utilizada de forma correta. O apologista cristão Francis A. Schaeffer dizia que o homem moderno, quase em sua totalidade, está tomado pelo relativismo. O pensamento moderno mudou drasticamente o homem e para tanto se torna imprescindível que as formas de evangelismo também sofram intensas mutações. Uma destas mutações é aliar-se forçosamente a apologética. O relativismo a que Schaeffer se referia pode ser verificado na prática. Há pessoas que sustentam que todas as coisas etéreas que formam o homem, tais como moral e sentimentos, tem fundamentação orgânica. Este pensamento conduz necessariamente ao relativismo, pois reduz a moral a um mero mecanismo orgânico (como um hormônio, por exemplo), e pensando assim existe uma relativização do certo e do errado. O homem é reduzido a um ser impessoal e suas atitudes não são essencialmente certas ou erradas, mas indicam sua necessidade de sobrevivência. Como na selva os animais lutam pelo seu espaço (e não precisam se culpar se matam um ao
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outro para conquistar seus objetivos), os homens também não precisam se culpar se passam por cima do seu próximo – próximo – isso isso é inclusive necessário para a manutenção da raça humana. A pergunta que se faz é a seguinte: como é possível simplesmente evangelizar uma pessoa assim? O evangelismo puro e simples neste caso não surtirá muito efeito, pois a mente desta pessoa está tomada pelo relativismo. Se ela não diferencia o certo e o errado, simplesmente dizer a ela que Cristo morreu em seu lugar se torna algo incompleto e ineficaz. Aqui nasce a apologética, enquanto uma ferramenta eficaz para o evangelismo. No caso c aso desta de sta pessoa, é necessário provar que somos munidos sim de uma moral, que está longe de ser um mecanismo puramente orgânico, e para tanto necessito da apologética. Preciso defender racionalmente minha fé e mostrá-la como seu pensamento está baseado na irracionalidade. A partir daí será possível evangelizar, sem estar falando ao vento. A
importância
da
apologética
é
indiscutível,
mas
deve
necessariamente ser seguida do evangelismo, ou tudo volta à estaca zero. A apologética deve fazer parte do processo evangelístico, e precisa contar para tanto com o essencial auxílio do Espírito Santo. É imprescindível preparar a nova geração para evangelizar utilizando-se da apologética. A cada evolução da ciência, a cada nova filosofia, o homem se afasta mais da realidade da Palavra de Deus. A ciência vai se multiplicando e a amor se esfriando. Cabe a nós, como cristãos, defender e comunicar o Evangelho transformador nos adaptando as inevitáveis transformações do mundo.
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8.1 Um estudo de de caso O apóstolo Paulo nos brinda com exemplos de como utilizar a apologética em suas mais variadas modalidades na prática do evangelismo.
1º) Com os rabinos. Com os rabinos judeus Paulo utilizou a apologética evidencialista (At. 17.1,3,17 – 17.1,3,17 – 28.23). 28.23). A prova evidencialista de Paulo Paulo se prendia basicamente às Escrituras veterotestamentária e particularmente à evidência profética.
2º) Com os crentes. Apologética experimental (I Co. 15.5-8; Gl. 1.11-23). Paulo apela para a experiência cristã a fim de comprovar tanto a realidade da ressurreição como para atestar a veracidade de seu evangelho perante seus acusadores.
3º) Com os filósofos gregos. É interessante observar que neste episódio Paulo não fez uso da apologética evidencialista do tipo profética, já que seus opositores não acreditavam nas Escrituras hebraicas. Neste caso o tipo mais adequado foi a Apologética clássica c lássica (Atos 17.18-34). Paulo criou uma ponte dialética em sua oratória v. 23,24 (o deus dos filósofos). Usou argumentos: •
•
cosmológico v. 24, teleológico v.28. Paulo estava travando um debate com um tipo particular de filósofos:
os epicureus e os estóicos.
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Epicureus. O epicurismo ensinava que o prazer é o maior bem; a) a) Epicureus. acreditavam na ataraxia (impertubabilidade da alma) e na aponia (ausência da dor). Para eles não havia vida após a morte, eram deístas e acreditavam na abiogênese. Uma frase famosa de Epícuro, o criador desta vertente filosófica, dizia que: Enquanto somos, a morte não existe, e quando ela passa a existir, nós deixamos de ser. (Epícuro)
b) b) Estóicos.
O segredo de uma vida aprazível exigia que os estóicos
eliminassem toda emoção de suas vidas (apatia) e aceitassem todo destino enviado em seus caminhos (fatalismo). Na ética é tica estóica não havia lugar para o amor, para a piedade ou para pa ra o arrependimento cristão. Paulo precisou entrar no próprio campo daqueles filósofos, fazendo uso até de sua própria literatura. Para isso citou trechos dos estóicos Epimênides de Creta e Arato (Atos 17. 28), constante na obra Diosemia (Conf. Tito 1.12).
Modelaram um túmulo para ti, ó santo e elevado, Os Cretenses, sempre mentirosos, bestas ruins, ventre preguiçosos! Porém Tu não estás morto; para sempre te erguestes e vives, pois em Ti vivemos, e nos movemos, e existimos
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9. HISTÓRIA DA APOLOGÉTICA CRISTÃ Bem antes de o Cristianismo surgir no cenário mundial, a filosofia grega antiga, principalmente da escola de Platão já trazia em seu bojo elementos apologéticos. Com o surgimento do Cristianismo e sua expansão pelo mundo Greco-romano e sua conflituosa convivência com as crenças religiosas e filosofias panteístas a teologia enriquece em seu aspecto apologético. Dentro deste contexto de justificação do Cristianismo perante aos ataques dos judeus, dos filósofos e das religiões pagãs, surge dentro da igreja cristã pós-apostólica uma apologética dependente de elementos filosóficos.
9.1 Apologética Patrística Patrística é o corpo doutrinário que se constituiu com a colaboração dos primeiros pais da igreja, veiculado em toda a literatura cristã produzida entre os séculos II e VIII. Entretanto, não devemos confundir a apologética do início da era Cristã com a apologética formal. O conteúdo do Evangelho, no qual se apoiava a fé cristã nos primórdios do cristianismo, era um saber de salvação, revelado, não sustentado por uma filosofia. Na luta contra o paganismo greco-romano e contra as heresias surgidas entre os próprios cristãos, os pais da igreja se viram compelidos a recorrer ao instrumento de seus adversários, ou seja, o pensamento racional, nos moldes da filosofia grega clássica, e por meio dele procuraram dar consistência lógica à doutrina cristã.
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9.1.1 Divisão Podemos dividir os Pais da Igreja em três grandes grupos a saber: Pais apostólicos, Apologistas e Polemistas. Todavia devemos levar em conta que muitos deles podem se enquadrar em mais de um desses grupos devido a vasta literatura que produziram para a edificação e defesa do Cristianismo, e também de acordo com o que as circunstancias exigiam, como é o caso de Tertuliano, considerado o pai da teologia latina. Sendo assim, então temos:
a)Pais apostólicos: Foram aqueles que tiveram relação mais ou menos direta com os apóstolos e escreveram para a edificação da Igreja, geralmente entre o primeiro e segundo século. Os mais importantes destes foram, Clemente de Roma, Inácio de Antioquia, Papias e Policarpo.
b) Apologistas: Foram aqueles que empregaram todas suas habilidades literárias em defesa do Cristianismo perante a perseguição do Estado. Geralmente este grupo se situa no segundo século e os mais proeminentes entre eles foram: Tertuliano, Justino, o mártir, Teófilo, Aristides e outros.
c) Polemistas: Os pais desse grupo não mediram esforços para defender a fé cristã das falsas doutrinas surgidas fora e dentro da Igreja. Geralmente estão situados no terceiro século. Os mais destacados entre eles foram: Irineu, Tertuliano, Cipriano e Origenes.
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9. 2 Apologética Medieval Na Idade Média a Igreja apesar das mazelas morais e teológicas fez surgir notáveis apologistas tais como Agostinho e Jerônimo. O primeiro escreveu vários tratados contra sistemas religiosos pagãos, intelectuais filosóficos e hereges. Com a Escolástica a teologia produz uma apologética construtiva onde se destacam figuras tais como Anselmo, Tomás de Aquino, Abelardo e outros.
9. 3 Apologética Moderna Com o ressurgimento na Renascença do paganismo da cultura clássica Greco-romana, a modernidade faz surgir novos apologistas tais como Savanarola, Marsílio, Ludovico. Filipe de Mornay (1581), Hugo Grocio e Panley.
9. 4 Apologética Atual A era pós-moderna trouxe novas demandas à teologia cristã. O século XX fez surgir novos apologistas que estruturaram a apologética em novas perspectivas. Mas nenhuma época foi marcada na história da apologética, até que, liderados pela tentativa de Schleiermacher de traçar o organismo dos departamentos de teologia, K.H. Sack resumiu para tornar cientificamente organizada “Apologética Cristã” (Hamburgo, 1829). Desde então, uma série de sistemas científicos de apologética tem jorrado das editoras. Como apologistas atuais podemos citar C.S.Lewis, Josh Mcdowell, Norman Geisler, Gleason Archer, Avis Zacharias, Willian Lane
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Craig, Alvin Plantinga, Lee Strobel, Alister E. McGrath, Charles Colson, Gary Habermas, J. P. Moreland, Nancy Pearcey, Os Guinnes, Peter Kreeft, Dinesh D’Souza entre outros.
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10. O EXERCÍCIO DA APOLOGÉTICA Apologética como já definido é a defesa racional do Cristianismo Bíblico. O Cristianismo é uma fé embasada sobre as razões dessa fé. A fé não é a razão e a razão não é fé. Mas a fé não pode ser dissociada da razão para que não deixe de existir. É a compreensão da mente e o assentimento a essa compreensão que estabelecem o capo de ação, a fim de que o Espírito de Deus regenere a alma e implante a fé. Como Deus é racional em seu trato com os homens, Ele fez os homens com uma mente racional. Isso não significa que os cristãos devam ser racionalistas, mas sim, racionais. Apologética é a defesa Bíblica Racional de Jesus Cristo e de Sua Palavra contra as filosofias humanistas, as seitas: as quais pululam neste mundo, contestando a veracidade, bem como a vontade de Deus revelada na Bíblia. Não é de admirar que os Puritanos tenham sido excelentes na defesa racional da Bíblia, entrincheirando-se na lógica rameana [ou racionalização de Pierre Ramee ou Petrus Ramus - 1515-1572]. Esse tipo de lógica provê ao escritor a habilidade de escrever cada ponto considerado de grande importância, com exímia precisão. Quando ele o faz, não somente a fé entregue aos santos, para a edificação dos mesmos, como as objeções à fé são respondidas, para a credibilidade da Bíblia. Essas respostas não devem consistir apenas de citações textuais, mas de exposições do texto exegético, a fim de deixar o ouvinte atingido por um sentimento agradável, como se cada dúvida tivesse sido coberta, ou até mesmo exaurida. Isso é ter (se pudesse haver de fato) um domínio do texto bíblico à disposição. Mas, além do domínio do texto bíblico, o exegeta habilidoso deve lançar mão da Apologética - que é a filosofia racional. A filosofia equivale a Agar para Sara. Enquanto Agar não começa a se exaltar sobre sua Todos os direitos Reservados ao CACP. Proibida a reprodução total ou parcial.
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senhora (Sara), ela é uma útil auxiliar da mesma. A Apologética Bíblica Racional vai casar a verdade da Palavra de Deus com a verdade das leis naturais da filosofia racional, a fim de poder refutar, atestar e convencer o oponente do seu erro. A vã filosofia do mundo há de conter sempre cinco elementos:
1. - Dizer que a Bíblia, é um livro útil, mas não a Palavra de Deus inspirada. (O Catolicismo Romano atesta que a Bíblia é divina, mas coloca a sua Tradição em pé de igualdade - e até de superioridade - com a mesma, decidindo interpretá-la a seu modo).
2. - Negação da mensagem de Cristo no Evangelho Bíblico sobre o Seu completo sacrifício vicário em favor dos eleitos, limitado em escopo, porém não em seu poder.
3. - Negação de que o pecador é moralmente corrupto, morto em pecados, sem a mínima capacidade de aspirar ao bem espiritual ou se voltar para Cristo, a fim de arrepender-se.
4. - Negação da soberania absoluta de Deus em todas as áreas da ordem criada.
5. - Uma desorganizada e distorcida visão (ou visão nenhuma) a respeito de Deus, em geral. Todo cristão tem o dever de ser um apologista. Alguns cristãos logo fogem dessa obrigação, antes mesmo de conhecer o significado do termo. Um apologista não é simplesmente alguém que se desculpa pela sua fé, mas
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alguém que é exortado “a batalhar pela fé que uma vez foi dada aos santos” (Judas
3). É uma ordem de Deus que o cristão obedeça à 1 Pedro
3:15, que diz: “Antes, santificai ao SENHOR Deus em vossos corações; e
estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós”.
Portanto,
uma pronta defesa da fé é exigida do cristão. Isto não significa que ele deva ser um ”teólogo profissional”, a fim de ter uma resposta engatilhada para o oponente. Contudo o cristão, pelo menos, deveria estar preparado ou pronto para fazer uma defesa de sua fé. A predisposição de cair em uma teologia pós-gnóstica tem sido a tendência de todo evangelicalista da atualidade. Oscilar sobre uma espécie de fé embasada em sensações e experiências é bem mais fácil para o cristão contemporâneo do que estar preparado para uma defesa racional da fé que ele diz possuir. Para ele é bem mais fácil dizer o mesmo que disse o cego de nascença (João 9.25): “uma coisa sei, é que, havendo eu sido cego, agora vejo”,
confiando mais na experiência do que na explicação racional de sua
fé. Mesmo assim, ele ainda pode apelar ao absurdo de um questionamento à sua experiência com a frase típica dos incapazes: “Quem é você para questionar a minha experiência?”, embora isso aconteça simplesmente por
causa da sua desinformação, ou até por ter ele entrado num evangelho gnóstico. Cristo convoca os verdadeiros cristãos a muito mais do que isso. Ele nos convoca a preparar uma defesa da fé que Ele nos confiou. Isso quer dizer que não somente devemos ter uma defesa preparada, como precisamos saber exata e amplamente o que estamos defendendo. “E, entrando na sinagoga,
falou ousadamente por espaço de três meses, disputando e persuadindoos acerca do reino de Deus. Mas, como alguns deles se endurecessem e
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não obedecessem, falando mal do Caminho perante a multidão, retirouse deles, e separou os discípulos, disputando todos os dias na escola de um certo Tirano. E durou isto por espaço de dois anos; de tal maneira que todos os que habitavam na Ásia ouviram a palavra do Senhor Jesus, assim judeus como gregos” (Atos 19.8-10).
Como vemos, Paulo arrazoava diariamente (com os judeus) na escola de Tirano. Ele não fazia um simples apelo para que o pecador entregasse a sua vida a Cristo. Ele apelava ao seu intelecto racional, cada vez mais freqüentemente. (Leiam o Sermão do Monte e os debates de Paulo, em Atos 14, e no Areópago, conforme Atos 17). Paulo conhecia muito bem o Velho Testamento, mas também convocava os seus ouvintes à consideração da teologia natural. Ele teria sido facilmente descartado pelos incrédulos nos debates em que se engajou com eles, caso não fosse um profundo conhecedor da Bíblia e fosse incapaz de apelar ao intelecto deles. Existem dois elementos necessários para que o cristão fique pronto a fazer a defesa de sua fé.
O primeiro é o completo conhecimento da fé que ele professa. Infelizmente, muitos cristãos, que têm professado ser crentes há muito tempo (há anos e anos), não saberiam encontrar em sua Bíblia a narrativa da aparição de Deus, com os anjos cantando: “santo, santo, santo”. E as profecias sobre a morte de Cristo, contidas nos salmos, quais são? E a passagem que trata da fé no Novo Testamento? E a parábola do filho pródigo? Os textos supra citados são importantes, porém sempre negligenciados.
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O Segundo é que o apologista preparado deveria ter alguma idéia sobre as filosofias e ideologias mundanas, as quais sempre querem se exaltar sobre as Escrituras. Isto não é exatamente indispensável, mas ajudaria muito. E por que não é necessariamente indispensável? Hipoteticamente, é possível que, quando surgir um erro diante de um cristão, sendo ele bem versado na verdade, possa refutá-lo inteiramente pela Palavra de Deus. Porém esta é uma exceção e não uma regra. Dentro do contexto atual da aversão ao que é racional, torna-se cada vez mais necessário que os cristãos tenham uma defesa organizada e bem preparada de sua fé, para a glória do Nome de Jesus Cristo, nosso Deus e grande Salvador.
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11. OS INIMIGOS DA APOLOGÉTICA O mundo evangélico sofre hoje daquilo que poderíamos denominar de “anemia apologética”. Apesar do fato de as Sagradas Escrituras nos convocar para darmos uma razão da esperança que possuímos em Cristo (I Pe. 3.15; Jd. 3), os evangélicos não possuem uma presença intelectual forte na cultura popular e/ou acadêmica, observando as raríssimas exceções que ocorrem em algumas áreas, como é o caso da filosofia. As razões para esta “anemia apologética” é multidimensional e complexa. Este pequeno artigo tem seu conteúdo inspirado num recente debate que envolve as raízes históricas do antiintelectualismo evangélico e aponta diretrizes e argumentos úteis para conduzir a igreja intelectualmente. Nosso propósito aqui é demonstrar brevemente os seis fatores que ilegitimamente inibem o compromisso apologético em nossos dias. Se estas barreiras forem afastadas, nosso testemunho apologético poderá crescer, resultando no reconhecimento do verdadeiro evangelho.
11.1 Os seis inimigos do compromisso apologético: a) Indiferença Muitos cristãos não parecem preocupar-se com o fato de o cristianismo ser ridicularizado, taxado como antiquado, irracional e tacanho, em nossa cultura. São pessoas que até se indignam com algumas destas ofensas, mas faz pouco ou nada fazem para contrariar tais argumentos, não se importam em oferecer uma defesa da cosmovisão cristã. A indiferença vem corroendo a defesa do evangelho. E o que é pior, esta apatia é contagiosa. Nossa atitude deve ser como a do apóstolo Paulo. Ao constatar o Todos os direitos Reservados ao CACP. Proibida a reprodução total ou parcial.
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emaranhado ambiente idólatra de Atenas, a Bíblia relata que “o seu espírito se comovia em si mesmo” pela pobreza espiritual daquelas pessoas (At. 17.16). Este zelo pela verdade de Deus o conduziu a um encontro apologético muito frutífero com os filósofos gregos no Areópago ateniense (Cf. At. 17). Da mesma maneira que Deus “amou o mundo” a ponto de entregar seu Filho unigênito para conceder salvação a todos quantos o receberem (Jo. 3.16), os fiéis discípulos de Jesus devem demonstrar o fruto deste amor, apregoando ao mundo o genuíno evangelho e respondendo às objeções à fé cristã (Jo. 17.18).
b) Irracionalismo Para alguns cristãos, fé significa crer na ausência das evidências e dos argumentos. Pior ainda. Para outros, fé significa é crer naquilo que é totalmente contrariado por todas as evidências. O mais curioso de tudo isto é que, geralmente, quanto mais essas pessoas demonstram esta capacidade de crer tanto mais elas são elevadas espiritualmente. Temos de ponderar que, embora Paulo realmente ensine que Deus fez tola “a sabedoria deste mundo” (ICo 1.20), a revelação divina não é irracional; nem deve ser assegurada na irracionalidade. Deus não nos exige que aniquilemos nossas faculdades críticas para acreditar em suas obras. Pelo profeta Isaías, Deus declaradamente convida a Israel: “Vinde então, e argüi-me, diz o SENHOR”, ou, em outras palavras, “venham e argumentemos juntos” (Is. 1.18). Jesus nos ordenou a amar a Deus com toda a nossa mente, pensamento (Mt. 22.37). Quando os cristãos optam pelo irracionalismo acabam abrindo margem para muitas acusações que, de outra forma, seriam infundadas, mas
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que, infelizmente, acabam encontrando guarida no comportamento prejudicial de alguns.
c) Ignorância Muitos cristãos não estão atentos aos diversos recursos intelectuais disponíveis para serem empregados na defesa da sã doutrina. Isto ocorre, em grande parte, porque algumas igrejas e organizações evangélicas ignoram potencialmente a apologética. Alguns denominados cursos de teologia não se preocupam em
inserir em sua grade curricular matérias que ofereçam
conteúdos para ajudar os estudantes a lidar com a incredulidade que emana em todas as áreas da sociedade. Em algumas igrejas da América do Norte, por exemplo, pouco se ouve falar de sermões e estudos endereçados a evidenciar a existência de Deus, a ressurreição de Jesus, a justiça do inferno, a supremacia de Cristo e outros problemas lógicos que envolvem cosmovisões não-cristãs, e esta nostalgia caminha a passos largos para os púlpitos latino-americanos. Best sellers cristãos, com raras exceções, estão desvirtuados por especulações apocalípticas infundadas, exaltação de celebridades cristãs de forma excessiva e os crentes simplesmente são incapazes de identificar os malefícios desta tendência.
d) Covardia Em nossa cultura pluralista, a indiferença pelas verdades eternas se reveste de norma social e a pressão da sociedade assombra os evangélicos, minimizando a força de suas convicções. Muitos evangélicos se preocupam mais em ser “agradáveis” e “tolerantes” do que em ser bíblicos e fiéis ao evangelho contido em suas Bíblias. São pouquíssimos os cristãos dispostos e capazes de defender sua fé em situações desafiadoras, seja na escola, no Todos os direitos Reservados ao CACP. Proibida a reprodução total ou parcial.
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trabalho ou em outros ambientes públicos. O impulso tem sido individualizar a fé, separar e isolar completamente nossas crenças da vida social, da vida pública. Sim, nós somos cristãos (em nossos corações), mas temos dificuldade em compartilhar com os demais aquilo que acreditamos, e a situação se agrava quando se trata de explicar o motivo de nossa crença. Embora seja uma mensagem dura, temos de ser sinceros e admitir que isto nada mais é do que o reflexo da nossa covardia e uma traição à nossa fé. Considere o pedido e a advertência de Paulo em sua oração dirigida a nosso favor: “Perseverai em oração, velando nela com ação de graças; orando também juntamente por nós, para que Deus nos abra a porta da palavra, a fim de falarmos do mistério de Cristo, pelo qual estou também preso; para que o manifeste, como me convém falar. Andai com sabedoria para com os que estão de fora, remindo o tempo. A vossa palavra seja sempre agradável, temperada com sal, para que saibais como vos convém responder a cada um” (Cl. 4.2-6). Ao agir assim, podemos, de fato, experimentar a rejeição; afinal, Jesus chamou os que são perseguidos por causa do seu nome de “bemaventurados”. “Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa. Exultai e alegrai-vos, porque é grande o vosso galardão nos céus; porque assim perseguiram os profetas que foram antes de vós” (Mt. 5.11,12). O apóstolo Pedro também ecoa as palavras do Mestre, dizendo: “Se pelo nome de Cristo sois vituperados, bem-aventurados sois, porque sobre vós repousa o Espírito da glória e de Deus” (I Pe 4.14). Por outro lado, quando o Espírito Santo abençoar nossos esforços, as pessoas responderão com interesse, aceitando a nossa fé (Rm. 1.16). Jamais podemos esquecer que Jesus possui toda a autoridade no céu e na
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terra, e que ele nos comissionou para declararmos e defendermos seu santo evangelho (Mt. 28.18-20).
e) Arrogância e vaidade intelectual Ainda existem os fantasmas dos erros, das mentiras e da arrogância do apologista “sabe-tudo” que está mais interessado em exibir o seu arsenal de argumentos do que defender a verdade de uma forma sincera e com fins espirituais. O pecado que mais tem atacado os apologistas é o orgulho intelectual, e deve ser evitado a todo custo. A verdade que defendemos é um galardão da graça divina e não deve ser instrumento da nossa realização intelectual. Desenvolvemos nossas habilidades apologéticas para nos santificarmos na verdade, ganharmos almas para Cristo e glorificarmos a Deus. Temos de falar a verdade em amor (Ef. 4.15). Verdade sem amor é arrogância; amor sem verdade é sentimentalismo. A arrogância intelectual também é manifestada quando alguns apologistas acusam outros cristãos de heresias sem evidências suficientes. Paulo disse para os líderes da igreja se precaverem contras as heresias no seio da igreja (At. 20.28-31), porém, devemos ser vigilantes para não caluniarmos os cristãos da mesma fé, assumindo assim um comportamento pior do que os sectários. Não devemos desperdiçar nossas energias apologéticas atacando outros crentes enquanto os reais hereges e incrédulos arquitetam outros desvios doutrinários.
f) Técnicas apologéticas superficiais Aqueles que são entusiasmados por apologética podem ficar satisfeitos com respostas superficiais para perguntas intelectualmente difíceis. Nossa cultura se contenta com respostas rápidas e vazias e a técnica
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para o desenvolvimento destas respostas impera. Alguns cristãos memorizam respostas apologéticas para responder às controvérsias filosóficas, como, por exemplo, “a origem do mal”, “o evolucionismo” e outros tantos temas, dispensando o compromisso profundo com o assunto e sem a preocupação de satisfazer a alma que gerou a pergunta. Muitos assuntos não são tão simplistas quanto seus títulos expressos nos livros fazem soar. Na realidade, uma abordagem superficial para uma questão profundamente filosófica pode pôr a perder uma grande oportunidade de ganhar uma alma. A apologética deve ser norteada pela integridade intelectual. O lema apologético do teólogo Francis Schaeffer era que os cristãos têm a responsabilidade de oferecer “respostas honestas a perguntas honestas”. Primeiro, nós realmente temos de saber ouvir as pessoas que nos questionam. Temos de “entrar na mente” (em cer to sentido) daqueles que julgam possuir “razões” para não seguirem a Cristo. Cada pessoa é diferente, e por isso não devemos reduzi-las ou confiná-las aos nossos “clichês teológicos”. Segundo, procure responder o que lhe foi inquirido e não se atenha a responder perguntas que não foram feitas. Uma aproximação superficial não impressionará o pensador incrédulo. Se você não puder oferecer na ocasião uma resposta sã para a objeção, não tente esconder sua ignorância ou inabilidade. É melhor admitir suas limitações honestamente do que dar uma resposta inferior, ineficaz. Fale para o inquiridor que o tema que você não está apto a defender é um ponto saliente e você precisa pensar mais sobre o assunto. Cristianismo é absolutamente verdade, mas isto não insinua que qualquer cristão possa controlar qualquer objeção elevada contra sua fé. Devemos selecionar nossas técnicas apologéticas e desenvolver recursos
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espirituais e intelectuais cultivando um diálogo real e sincero com os incrédulos. A igreja evangélica é como um gigante dormente, conclusão depreendida do grande potencial que a igreja possui, mas que precisa ser despertado na defesa contra o ceticismo e demais objeções à fé cristã. Com este legado em mente podemos reacender esta visão, despertar este gigante e encontrar a paixão e a sabedoria para levar nossa tarefa a efeito pelo poder do Espírito Santo (At. 1.8).
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12. OBJEÇÕES À APOLOGÉTICA Muitos têm argumentado sobre o que lhes parece ser a inutilidade da apologética. Geralmente tais ataques partem de cristãos cuja defesa se baseiam no fideísmo, experimentalismo, misticismo ou relativismo. Alegam que uma defesa racional da religião Cristã, bem como da existência de Deus fora do campo da fé ou da experiência é só não desnecessário como até mesmo impossível. Uma das objeções clássicas parte justamente da Bíblia. Há alguns textos bíblicos que se tirados fora do contexto inibe o exercício da apologética pelos cristãos. Talvez o principal argumento usado se pauta principalmente na seguinte pergunta: Podemos julgar os outros? A resposta a essa pergunta não é tão óbvia quanto possa parecer. Em alguns determinados sentidos, não temos o direito de julgar outros; em outros sentidos, temos de exercer discernimento com relação a outros. Saber como distinguir entre esses sentidos é extremamente importante para o discernimento espiritual. Então a questão não é se devemos ou não julgar, mas quando é que não devemos julgar? Vejamos alguns casos em que o julgamento deve ser suspenso.
12.1 Quando é que Não devemos julgar a) Julgamentos Hipócritas Ninguém gosta quando pessoas criticam duramente ou condenam outras, quando elas mesmas são culpadas dos mesmos atos. O que faz esse tipo de julgamento inaceitável não é simplesmente o fato de que a pessoa fazendo a acusação também é culpada. O que é ofensivo é o fato de que a pessoa fazendo a acusação se diz (ou finge ser) inocente. O hipócrita finge
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ser justo quando na verdade não o é. Por outro lado, quando uma pessoa diz: “Você e eu somos culpados disto e temos de mudar ”, isto não é hipocrisia. Não é por serem falsos que julgamentos hipócritas são inaceitáveis – eles podem até serem verdadeiros. Eles são inaceitáveis justamente porque são hipócritas. Os hipócritas que julgam outros serão eles mesmos julgados, e, portanto têm de lidar com seus próprios pecados primeiro (Mt. 7.1-5). O fato de serem hipócritas, entretanto, não prova por si só que tais acusações sejam falsas. Jesus até disse que os fariseus hipócritas normalmente estavam certos no que diziam; o problema é que eles não seguiam seus próprios conselhos (Mt. 23.1-3). Há nisso uma importante lição para nós. Se formos alvos de críticas vindas de pessoas que consideramos hipócritas, não devemos, por causa de sua hipocrisia, simplesmente desconsiderar tais críticas. Ao contrário, devemos examinar se a crítica tem fundamento. Deus às vezes usa pessoas com más intenções para comunicar algo verdadeiro a outros (Fp 1.15-18). Muitas vezes as pessoas não dão ouvidos a nenhuma crítica, com base na idéia de que ninguém é perfeito. De fato ninguém o é, mas isso não nos impede de às vezes estarmos corretos naquilo que afirmamos. As advertências bíblicas contra a hipocrisia não têm por objetivo nos paralisar no que diz respeito a expressar discordância com outros, mas sim nos alertar para a importância de lidarmos com nossos próprios pecados. O curioso é que aqueles que rejeitam todo e qualquer julgamento por parte de outros estão, eles mesmos, julgando as outras pessoas. Isto é, se eu digo a uma pessoa: “você está errado em julgar outros”, eu estou julgando essa pessoa! Para evitar esse tipo de dilema, eu poderia abrandar meu argumento para algo como: “ Eu pessoalmente não julgaria outros”. Nesse caso, porém, eu não teria uma base sólida para opor-me a outros que
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estão julgando. A verdade é que, de uma maneira ou de outra, todos nós consideramos erradas algumas coisas que outros fazem ou acreditam, e freqüentemente expressamos tais críticas verbalmente.
b) Julgamentos Injustos Jesus disse: “ Não julgueis pela aparência, e, sim, pela reta justiça” (Jo. 7.24). É evidente que Jesus não proibiu todo tipo de julgamento. O problema não é se julgamos ou não, mas como julgamos. Que tipo de julgamento, então, Jesus proibiu? Ele proibiu o julgamento “ pela aparência”. Ele não quis dizer que devemos ignorar evidências externas e julgar de acordo com alguma intuição mística. Nem tampouco quis dizer que devemos julgar buscando discernir o que realmente há no coração dos outros. O contraste não é entre fatos externos e intuições internas, mas entre aparência e realidade. Em resumo, Jesus nos proíbe julgamentos superficiais, que não penetram além da aparência quando buscam discernir a realidade. Tais julgamentos, obviamente, tendem a ser injustos. Enquanto os julgamentos hipócritas podem ser ou não verdadeiros, os julgamentos injustos são necessariamente falsos. Eles são baseados numa má interpretação das aparências, e não podem julgar os fatos como eles realmente o são. Como podemos evitar a má interpretação das aparências? É comum que haja situações nas quais somos mal-interpretados, e muitas vezes podemos corrigir tal julgamento. Isso acontece frequentemente e demonstra que é possível que se façam julgamentos justos.
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c) Julgamentos Presunçosos Há assuntos que nós, seres humanos, simplesmente não somos competentes para julgar. Não podemos, por exemplo, julgar se um determinado indivíduo vai ou não ser salvo. Esse tipo de julgamento é de competência exclusiva de Jesus Cristo, o Filho de Deus (Jo. 5.22-23; At. 17.31). Querer julgar nessa área é pura presunção. O poder da salvação e da destruição não é nosso; portanto, não temos o direito de nos fazer juízes do destino eterno dos outros (Tg. 4.11-12; 5.9). Outro tipo de julgamento presunçoso é fazer de assuntos não essenciais o critério pelo qual decidimos com quem mantemos comunhão. Paulo especificamente nos adverte quanto a isso em referência a observâncias religiosas e restrições dietéticas (Rm. 14.1-23). Seria presunçoso da minha parte achar que todos os cristãos têm de concordar comigo em tudo. Por outro lado, é claro que nem todo julgamento é presunçoso. O reconhecimento de que sempre há uma possibilidade real de que haja presunção não deve se tornar desculpa para que rejeitemos todo julgamento.
12.2 Quando é certo Julgar? O que foi dito até agora nos dá uma idéia sobre que tipos de julgamentos são apropriados. Julgamentos que evitam hipocrisia, superficialidade e presunção são julgamentos válidos.
a) Julgando entre a verdade e o erro, o bem e o mal O Novo Testamento coloca clara ênfase no julgamento entre a verdade e o erro, e entre o bem e o mal. Isso deve ser feito, não somente ao nível individual, mas também pela igreja (Rm. 12.2, 9; I Co. 12.10; 14.29; I
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Ts. 5.19-22). Essas passagens enfatizam a necessidade de se discernir as revelações verdadeiras das falsas. Aqueles que se dizem profetas, que alegam falar sob a inspiração do Espírito Santo, devem ter seus ensinamentos testados pelos apóstolos e profetas das Escrituras, ou seja, pela Bíblia (At. 17.11; II Pe. 2.1; 3.2; I Jo. 4.1-2; I Tm. 1.7).
b) Julgando Pecadores Impenitentes na Igreja Tanto Jesus como Paulo ensinaram que aqueles que cometem pecados sérios, que violam a integridade da igreja, e que se recusam a se arrepender, devem ser excluídos da comunhão cristã (Mt. 18.15-18; I Co. 5.9-13). A excomunhão não diz respeito ao julgamento de seu destino eterno. É uma ação disciplinar para com os impenitentes, e de manutenção da integridade da igreja. Em outras palavras, é saudável tanto para o pecador quanto para a igreja. Note bem que isso é responsabilidade da igreja como um todo, e não de indivíduos isolados. Note também que Jesus ensina que tal julgamento deve ser feito através de um processo apropriado, e não de maneira arbitrária. Tal processo previne contra julgamentos superficiais.
c) Julgando os Falsos Mestres Temos a obrigação não só de rejeitar revelações proféticas falsas e doutrinas falsas, mas também de rejeitar aqueles que as proclamam. A Bíblia é explícita nesse ponto (Rm. 16.17; Gl. 1.6-9; II Tm. 3.16; 4.4; Tt. 3.10-11). Falsos mestres têm de ser identificados, por nome se necessário (II Tm. 2.7), e a igreja alertada para que não apóie seus ensinamentos. Nossa falibilidade em tais julgamentos deve ser admitida, mas não nos escusa de nossa responsabilidade. Se eu tivesse, por exemplo, a errônea
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impressão de que uma pessoa estava a ponto de beber veneno, eu a alertaria. Eu não permitiria que a possibilidade de eu estar enganado me impedisse de avisá-la. Se a pessoa questionasse meu aviso, eu não desistiria; ao contrário, insistiria que ela examinasse o líquido para certificar-se. Tampouco o fato de eu não ser um químico me impediria de avisá-la. Até mesmo pessoas comuns podem entender a diferença entre água e veneno, se aprenderem os fatos básicos sobre cada um. De maneira semelhante, é apropriado que alertemos a outros se a religião que estão “consumindo” é nociva à sua saúde espiritual. Antes que possamos fazer isso, é claro, temos que aprender a diferença entre o verdadeiro cristianismo e versões falsas da fé cristã. Assim sendo, é mais do que necessário que alguns cristãos se concentrem no ministério de discernimento, fazendo esse tipo de julgamento e repassando suas conclusões à igreja. Do mesmo modo como precisamos de serviços de defesa do consumidor que nos alertem sobre produtos defeituosos no mercado, precisamos também de pessoas que possam nos alertar sobre as afirmações falsas feitas por várias doutrinas em circulação. Se esses especialistas cumprirem bem o seu papel, eles nos ensinarão a rejeitar o que é nocivo e aproveitar ao máximo o que é saudável. No que diz respeito à doutrina, ainda que alguns de nós possamos ter dons mais aguçados do que outros, somos todos responsáveis pelo exercício do discernimento.
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13. APOLOGÉTICA E CORAÇÕES SINCEROS “Antes, santificai a Cristo, como Senhor, em vossos corações, estando sempre preparados (...) com mansidão e temor” (I Pedro 3.15-16)
Quando ministramos na área de apologética, nós o fazemos como discípulos de Jesus, e, portanto, da maneira como Ele o faria. Isso significa, primeiramente, que nós o fazemos para ajudar pessoas, especialmente àqueles que querem ser ajudados. Apologética é um ministério de ajuda. No contexto de I Pedro 3.8-17 os discípulos estavam sendo perseguidos por sua dedicação em promover a bondade. De acordo com o que Jesus os tinha ensinado, tal perseguição deveria ser fonte de regozijo. Essa atitude fazia com que os observavam a questionassem como os discípulos podiam estar esperançosos e alegres em tais circunstâncias. Num mundo irado, desesperançado e triste, essa questão era inevitável. A exortação de Pedro
Por isso, Pedro exortou os discípulos a estarem “sempre preparados para responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós, fazendo-o, todavia, com mansidão e temor, com boa consciência” (vv. 15-16), ou seja, consciência que se tem por se ter feito o que é correto. Nossa apologética, assim, é feita como um ato de amor fraternal, sendo “ prudentes como as serpentes e símplices como as pombas” (Mt. 10.16). A sabedoria da serpente está em ser oportuna, baseada em observação vigilante. A pomba, por sua vez, é incapaz de falsidade ou de enganar alguém. Assim devemos ser. Amor àqueles com os quais lidamos será necessário para que os compreendamos corretamente e para que evitemos manipulá-los, ao mesmo
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tempo em que desejamos e oramos intensamente para que reconheçam que Jesus Cristo é o Senhor do cosmos. O amor também nos purificará de todo mero desejo de vitória, como também de toda presunção intelectual ou desdém para com as opiniões e habilidades dos outros. O evangelista para Cristo é caracterizado pela humildade (Colossenses 3.12; Atos 20.19; I Pedro 5.5), principalmente intelectual – um conceito vital do Novo Testamento que a palavra humildade por si só não expressa totalmente. Deste modo, a chamada ao ministério de apologética não é para forçar pessoas relutantes à submissão intelectual, mas uma chamada na qual servimos aos necessitados, e, freqüentemente, àqueles que são escravos de seu próprio orgulho e presunção intelectual, muitas vezes reforçada pelo ambiente social. Em segundo lugar, nós fazemos o trabalho de apologética como servos incansáveis da verdade. Jesus disse que Ele veio “ao mundo a fim de dar testemunho da verdade” (João 18.37), e Ele é chamado “a testemunha fiel e verdadeira” (Apocalipse 3.14). É por isso que temos “temor” quando ministramos. A verdade revela a realidade, e a realidade pode ser descrita como aquilo com o qual nós humanos nos deparamos quando estamos errados. Quando ocorre tal colisão, sempre perdemos. Enganos com relação à vida, às coisas de Deus e à alma humana são assunto seriíssimos, mortais. É por isso que o trabalho de apologética é tão importante. Falamos “a verdade em amor” (Efésios 4.15). Falamos com toda a clareza e racionalidade que podemos demonstrar, ao mesmo tempo contando com o Espírito da verdade (João 16.13) para realizar aquilo que está muito além de nossas habilidades limitadas.
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O ponto comum de referência
A verdade é o ponto de referência que compartilhamos com todos os seres humanos. Ninguém pode viver sem a verdade. Ainda que possamos discordar em pontos específicos, a fidelidade à verdade – seja ela qual for – permite que nós nos relacionemos com qualquer pessoa como honestos companheiros de investigação. Nossa atitude, portanto, não é de divisão, mas de agregação. Estamos aqui para aprender, e não somente ensinar. Assim, sempre que for possível – ainda que por vezes, devido aos outros, não seja – nós “respondemos” numa atmosfera de investigação mútua, motivada pelo amor generoso. Ainda que possamos ser firmes em nossas convicções, não nos tornamos arrogantes, desdenhosos, hostis ou defensivos. Por sabermos que o próprio Jesus não agiria assim, temos que reconhecer que não podemos ajudar pessoas de uma maneira arrogante. Ele não tinha necessidade disso, e nós também não. Em apologética, como em tudo, ele é nosso modelo e Mestre. Nossa confiança reside totalmente nele. Esse é o lugar especial que damos a Ele em nossos corações – a maneira com a qual “santificamos a Cristo como Senhor em nossos corações” – no ministério crucial de apologética.
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14. HERESIOLOGIA E APOLOGÉTICA 14. 1. Definições e embasamento bíblico Etimologia: Heresia vem do termo grego háiresis, de onde traduzimos nosso vocábulo português, heresias. O termo no original grego do Novo Testamento possui basicamente dois significados: a ) secta, de seccionar, cortar que denota separação; b) sequi, de seguir, com o sentido de ser um sectator (seguidor) de uma ideologia, pessoa ou grupo.
Conceito: Heresiologia é o ramo da apologética que estuda as heresias. Embasamento bíblico: O termo háiresis aparece no original em At. 5:17; 15:5; 24:5; 24.14; 26:5; 28:22, I Co. 11:19; Gl. 5:20; II Pe. 2:1.
Termos relacionados: corrente de pensamento, separação, facção, dissidência, partido, heterodoxia.
14.2. O conceito moderno de seita dentro do protestantismo Um grupo de indivíduos reunidos em torno de uma interpretação errônea da Bíblia, feita por uma ou mais pessoas – Dr. Walter Martin.
É uma perversão, uma distorção do Cristianismo bíblico e/ou a rejeição dos ensinos históricos da Igreja cristã – Josh McDoweell e Don Stewart.
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Qualquer religião tida por heterodoxa ou mesmo espúria – J.K. Van Baalen.
Uma seita é alguma perversão religiosa. É a crença e a prática, dentro do mundo religioso, que requer a devoção das pessoas a algum ponto de vista religioso ou para algum líder, estribados em alguma doutrina falsa. Uma seita é uma heresia organizada. – Dave Breese.
14.3. Categorias de seitas Embora não exista um padrão específico universalmente aceito para esta categorização, entretanto, podemos trabalhar com algumas categorias flexíveis de modo que possamos apreender estes grupos de uma maneira ampla que possibilite contemplar sua diversidade, procurando, entretanto, respeitar suas singularidades que identificam o grupo com sua ideologia religiosa principal. Sempre é bom lembrar que um ou mais destes grupos podem perfeitamente se enquadrar simultaneamente em mais de uma categoria. Assim elaboramos as categorias abaixo:
a) Secretas: Grupos religiosos criados a partir de um saber místico secreto de auto-conhecimento. Nesta categoria temos os seguintes grupos: Maçonaria, Teosofia, Rosa-crucianismo, Esoterismo, Gnose etc...
b) Pseudocristãs: Grupos religiosos que se identificam como cristãos, mas que repousam sua base doutrinária em teologias construídas a partir da experiência pessoal de seu líder ou líderes ou da distorção da teologia bíblica. Nesta categoria podemos enquadrar os seguintes grupos:
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Mormonismo, Testemunhas de Jeová, Adventismo do Sétimo Dia, Ciência Cristã, A Família (Meninos de Deus), Catolicismo Romano, Catolicismo Ortodoxo etc...
c) E spíritas: Grupos religiosos que se identificam como cristãos ou não, cujo eixo doutrinário principal é a comunicação com os mortos e a reencarnação. Nesta categoria podemos enquadrar os seguintes grupos: Kardecismo, Legião da Boa Vontade, Racionalismo Cristão, Cultura Racional etc...
d) Afro-brasileiro: Grupos religiosos que se identificam com a cultura afro cujo eixo principal gira em torno da comunicação com os deuses míticos africanos ou de antepassados falecidos. Nesta categoria podemos enquadrar os seguintes grupos: Umbanda, Quimbanda, Candomblé, etc...
e) Orientais: Grupos religiosos que se identificam com a cultura japonesa e possuem como característica principal doutrinária o culto aos antepassados, líderes que se apresentam como salvadores da humanidade, milagres e o processo de auto-salvação. Nesta categoria podemos enquadrar os seguintes grupos: Seicho-No-Iê, Messiânica Mundial, Arte Mahikari, Meditação Transcendental, Unificação (Moonismo), Perfeita Liberdade etc...
f) Judaizantes: Grupos religiosos que se identificam com a cultura judaica e suas doutrinas. Nesta categoria podemos enquadrar os seguintes grupos: Testemunhas de Yeshua e suas variantes, alguns Judeus Messiânicos, Congregação Israelita da Nova Aliança, Congregação Beit Teshuvá etc...
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g) Seculares: Movimentos não-religiosos que se identificam com a cultura ocidental e pós-moderna. Embora não distorçam nenhuma doutrina bíblica diretamente, a ideologia apregoada por eles vai de encontro às verdades cristãs quanto à filosofia, à moral e à ética cristã. Suas idéias principais se concentram em negar o sobrenatural, o absoluto, criando uma sociedade cuja cosmovisão se concentra nos princípios hedonista, relativista e pragmatista. Nesta categoria nós não temos grupos e sim movimentos tais como: Humanismo, Cientificismo, Darwinismo, Culto à personalidades, etc...
h) Movimentos evangélicos controversos: Estes grupos e movimentos são exceções. Embora não possuam todas as características de uma seita, também é verdade que não apresentam uma teologia sadia e ortodoxa. Nesta categoria se encontram dois tipos: movimentos e grupos. Como grupo podese enquadrar a CCB, IURD, Igreja da Graça, Renascer em Cristo, Deus é Amor entre outras. Os movimentos apresentam-se em forma de teologias e práticas tais como Teologia da Prosperidade, Batalha Espiritual, G12, Confissão Positiva, Novas unções, etc...
14.4. A importância do estudo da heresiologia Como já foi dito acima, a heresiologia é um ramo da apologética que grosso modo envolve o estudo dos desvios doutrinários da Igreja. Portanto, é uma área da apologética que visa capacitar o cristão a defender a sã doutrina que “uma vez por todas foi entregue aos santos” (Jd. 3).
14.4.1 Por que estudá-las? a) Por que é um cumprimento profético – Mt. 24. 11, 24 Todos os direitos Reservados ao CACP. Proibida a reprodução total ou parcial.
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b) Porque é o primeiro sinal da volta de Cristo – Mt. 24.4, 5 c) Porque Jesus advertiu sobre o perigo das mesmas – Mt. 7.15 d) Porque os apóstolos alertaram sobre a infiltração dos falsos mestres e de suas heresias dentro das igrejas - I Tm. 4.1; II Pd. 2.1; I Jo. 4.1; Jd. 1.4.
14.4.2 A importância de estudá-las a) Nos capacita a combatê-las – o apologista cristão precisa não somente conhecer o que realmente crê, mas também o que é ensinado pelos diversos grupos religiosos heterodoxos com os quais se relaciona. A falta de conhecimento específico das crenças destes grupos pode causar falta de credibilidade na hora da exposição dos seus erros. b) Nos auxilia na evangelização – No evangelismo o crente irá se deparar com todos os tipos de pessoas religiosas que procurarão defender sua fé em detrimento da doutrina bíblica. É nesta hora que precisamos ter habilidade não só para expor a razão da nossa fé como também para santificar a Cristo em nossos corações a fim de saber responder com mansidão a cada um. c) Aumenta nosso conhecimento teológico – Ao avançarmos no estudo das seitas e suas heresias, precisaremos também avançar no estudo das doutrinas bíblicas. É um processo dialético que agregará mais conhecimento das doutrinas bíblicas.
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14.5 COMO IDENTIFICAR UMA SEITA. Para construir uma tipologia que apresente teoricamente um quadro próximo da realidade objetiva do fenômeno recorreremos à metodologia weberiana do “tipo ideal”. Um conceito típico-ideal é um modelo simplificado do real, elaborado com base em traços considerados essenciais para a determinação da causalidade, segundo os critérios de quem pretende explicar o fenômeno. O fenômeno das seitas se revela como tal por apresentar certas características em relação às verdades bíblicas. Fora a questão teológica há aspectos sociais e psicológicos que podem denunciar a anomalia comportamental destes grupos. Vejamos algumas destas características:
a) Autoridade extrabíblica. Geralmente as seitas apresentam uma nova autoridade doutrinária igual ou superior à Bíblia Sagrada para sua fé e prática. Esta autoridade pode apresentar-se em forma de livros ou revelações ou até mesmo na pessoa do líder da seita. Alguns poucos exemplos temos nos grupos: Testemunhas de Jeová, Mórmons, Adventistas do Sétimo Dia, Igreja da Unificação, Igreja Católica Romana entre outros.
b) Verdades que vão além da Palavra de Deus. Há necessidade entre esses grupos de irem além do que está escrito nas Sagradas Escrituras, buscando novas revelações. Essas "novas verdades", no entanto, acaba-se por se chocar frontalmente com a Palavra escrita de Deus e às vezes com suas próprias revelações. Casos típicos são os do profeta do mormonismo Joseph Smith, Sun Myung Moon da igreja da
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Unificação, Charles T. Russel das Testemunhas de Jeová e outros. Para eles o evangelho precisa ser completado com suas revelações místicas ou estudos particulares.
c) Interpretações Particulares da Bíblia. Há muitos grupos que não reivindicam novas verdades, mas interpretam as verdades bíblicas ao seu bel prazer. Para esses, a Bíblia lhes pertencem e ninguém pode entendê-la fora do padrão estabelecido pelo grupo seitário. Muitos dessa categoria apóiam-se em algumas passagens da Bíblia, distorcendo sua real interpretação. Tais grupos geralmente violam todas as regras de hermenêutica, quando não apenas as usam de maneira bem conveniente e selecionada. Uma das regras mais transgredidas pelas seitas é a análise contextual do texto. É o caso do Espiritismo, igreja Católica Romana, Testemunhas Yehoshua, Eubiose. R ejeição ao cristianismo ortodoxo
Alguns destes grupos nutrem verdadeira ojeriza contra as igrejas estabelecidas que pregam o conceito histórico-ortodoxo de crença. O argumento quase unânime entre elas é que as igrejas se afastaram das verdades essenciais e se enveredaram para práticas pagãs. Essas seitas atacam como ensinamento pagão às doutrinas da Trindade, a imortalidade da alma e o inferno. Nestes grupos estão o Espiritismo, Testemunha de Jeová, Adventistas do Sétimo Dia, Mórmons, Islamismo etc. Pregam outro Jesus.
O Jesus das seitas não é o mesmo Jesus da Bíblia. Para as seitas Jesus assume diversos papéis, mas nunca é o Deus encarnado que veio
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redimir o homem. Assim para as Testemunhas de Jeová Jesus é apenas uma criatura, um deus menor, para os mórmons Jesus é apenas um dos trilhões de deuses, foi casado e polígamo, já para os espíritas Jesus foi apenas o maior espírito de luz que já baixou nessa terra, para os unicistas Jesus é o próprio Pai. Lavagem Cerebral.
Muitas seitas retiram o censo crítico de seus adeptos não permitindo que eles pensem por si mesmos deixando que o líder ou o grupo pensem por eles. As técnicas são variadas, mas sempre persuasivas indo das cessões de isolamento da família até jejuns forçados sem tempo de descanso, sendo que neste ínterim o membro do grupo é bombardeado com literaturas da seita, estudos e mais estudos até a exaustão psicológica. É o caso do reverendo Moon, Hare Khrisna, Testemunhas de Jeová e outros. Salvação pelas Obras
O estado legalista das seitas impede-as de aceitarem a livre graça de Deus. Como o âmago da seita é a heresia e toda heresia é obra da carne, sendo produto do homem sem o verdadeiro Deus, as seitas desenvolveram sua própria maneira de salvação. Oferecem uma falsa esperança aos seus adeptos que nunca sabem o quanto fizeram para merecerem a benevolência de um deus, cujo conceito forjado pela seita, foge radicalmente do apresentado na Bíblia. Para o adepto só existem leis a serem cumpridas seja elas de procedência bíblica ou mesmo criadas pela organização da qual pertencem. Podemos enquadrar aqui os Adventistas, os Mórmons, as Testemunhas de Jeová, os espíritas, os católicos etc.
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E xclusivismo.
Apesar de a Bíblia ensinar que a salvação e a verdade só se encontram em Jesus, as seitas invertem essa verdade e apregoam que somente sua organização é a única correta. As demais igrejas, na ótica das seitas, apostataram da fé, portanto, Deus tem levantado o seu grupo como único caminho de salvação. É o monopólio da fé e da verdade. Para a pessoa ser salvo é preciso pertencer ao grupo. Semântica E nganosa.
As seitas usam uma terminologia cristã, mas que na prática se revela totalmente falsa. Dizem acreditar nos mesmos pontos de fé dos cristãos ortodoxos apenas para uma aproximação pacífica visando sempre o proselitismo desleal. No entanto um exame mais atento, porém, revela que esta igualdade é apenas aparente e nominal. As Testemunhas de Jeová dizem acreditar no Espírito Santo, mas para elas esse Espírito não é o mesmo do credo cristão, sendo apenas (na concepção delas) uma mera força ativa. Os mórmons dizem crer na Trindade, mas a Trindade apregoada por eles são três deuses, sendo que dois deles (Pai e Filho) possuem um corpo de carne e ossos. F alsas Profecias.
Esta é uma característica encontrada principalmente em seitas de cunho milenarista – seitas que tiveram sua base estabelecida nas teorias de Willian Miller. Para conseguirem impressionar seus membros, os líderes de seitas dizem receber supostas revelações de Deus sobre certos acontecimentos históricos - mundiais, escatológicos ou envolvendo o próprio grupo, que com o passar dos anos, se revelam fraudulentos provando ser o
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Introdução à Apologética
tal profeta um falso profeta. É o caso de grupos como os Adventistas do Sétimo Dia, Testemunhas de Jeová, Mórmons e outros. Mudanças de Crenças.
As seitas possuem uma teologia volúvel. O que era verdade ontem já não o é hoje. Com o passar dos anos as inconsistências das aberrações doutrinarias apregoadas por elas se tornam obsoletas entrando muitas vezes em contradição com os ensinamentos atuais de seus líderes, ai então, faz-se necessário reajustes doutrinários. Algumas até admitem que é normal e aceitável que sua teologia esteja em constante mutação, como é o caso dos mórmons e das Testemunhas de Jeová. Os jargões geralmente empregados para justificarem isto são: "lampejos de luz" (TJ), "verdade presente" (ASD), "nova luz" (SUD). As características principais de uma seita foram expostas e resumidas acima, mas há ainda a questão financeira, o carisma do líder e outras que poderiam ser enquadradas aqui. Relembrando que este perfil típico-ideal não precisa aparecer no estado puro, isto é, não aparecerá em todas as seitas da mesma maneira. Haverá às vezes características que serão mais fortes em um grupo e fracas em outras. Mas todas terão em um grau maior ou menor a maioria destas características.
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COLCLUSÃO Neste módulo introdutório aprendemos sobre a importância da apologética para o ministério cristão. Sem dúvida a apologética é indispensável para uma eficaz defesa do evangelho, na verdade se torna um ministério cristão, haja a vista, a Bíblia nos delegar a missão de estarmos sempre preparados para respondermos àqueles que pedirem razão da nossa fé. Também foi apresentado o ramo da apologética que lida com as seitas, a heresiologia, que é o foco principal de nosso CURSO DE APOLOGÉTICA Nível 1. Esperamos que o caro leitor tenha compreendido que a defesa do evangelho é uma necessidade nos dias atuais e, que para tanto, é necessário adquirirmos os conhecimentos básicos para fazermos uma defesa eficaz. Neste sentido, oferecemos nos próximos módulos, conhecimentos que poderá lhes capacitar para defender o evangelho de forma eficiente.
[...] e estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a todo aquele que vos pedir a razão da esperança que há em vós (I Pe. 3.15b).
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