ARTIGOS
Hipnose em pacientes oncológicos: um estudo psicossomático em pacientes com câncer de próstata
Hypnosis in oncological patients: a psychossomatic study on prostate cancer patients
Hipnosis en pacientes oncológicos: un estudio psicosomático en pacientes con cáncer de próstata
Licia erreira !aire
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, Brasil Endereço para correspondência
R"S#$O
A presente pesquisa tem como o!etivo interpretar e compreender o impacto das ressi"nificaç#es vivenciais e$perienciadas em estado %ipnótico por pacientes com c&ncer de próstata sore a autopercepção de sa'de, crença no tratamento e capacidade de prospectar o futuro( )oram acompan%ados *+ su!eitos durante sess#es de * %ora de %ipnoterapia escalonadas escalonadas semanalmente( -s instrumentos consistiram em entrevistas individuais, intervenç#es %ipnóticas e re"istros das entrevistas( )oi eleita a ./cnica de An0lise .em0tica .em0tica para a seleção de temas a serem analisados( -s discursos emer"idos nas entrevistas iniciais apresentaram semel%anças no que concerne 1s vivencias coe$istenciais e os tópicos not0veis analisados foram2 Sentimentos e impulsos ao impacto do dia"nóstico, Si"nificado do c&ncer e crença na cura, Autopercepção da mel%ora do c&ncer, 3etomada da capacidade de prospectar o futuro( A conclusão indicou que *445 dos pacientes acompan%ados referiram mel%ora na sa'de, certe6a da cura, retomada do %umor e incremento nas estrat/"ias de enfrentamento 1s situaç#es estressó"enas( %ala&ras'cha&e: Psicossom0tica7 8ipnose7 C&ncer de próstata(
A(STRA!T
.%is researc% aims at interpretin" and understandin" t%e impact of e$periential e$perienced resi"nifications under t%e %9pnotic state 9 eac% prostate cancer patient aout of t%e self:perception of %ealt%, t%rust in treatment and capailit9 of prospectin" t%e future( *+ patients ;ere companied alon" one:%our sessions of %9pnot%erap9 ;eaeanin"s of cancer and t%rust in cure, Self:perception aout cancer improvement and 3esumption of capacit9 of prospectin" t%e future( Conclusion indicated t%at *445 of t%e follo;ed patients mentioned fellin" t%emselves etter aout t%e %ealt%, t%rust in cure, improvement in t%e %umor and increases on t%e strate"ies ;it% stressin" situations( )ey*ords: Ps9c%ossomatic7 89pnosis7 Prostate cancer(
R"S#$"+
?a presente investi"ación tiene como o!etivo interpretar 9 comprender el impacto de las resi"nificaciones vivenciales e$perienciadas en estado %ipnótico por pacientes con c0ncer de próstata sore la autopercepción de salud, creencia en el tratamiento 9 capacidad de prospectar el futuro( )ueron acompa@ados *+ su!etos durante sesiones de * %ora de %ipnoterapia escalonadas semanalmente( ?os instrumentos consistieron en entrevistas individuales, intervenciones %ipnóticas 9 re"istros de las entrevistas( )ue esco"ida la ./cnica de An0lisis .em0tico para la selección de temas a seren anali6ados( ?os discursos emer"idos en las entrevistas iniciales presentaron seme!an6as en lo que respecta a las vivencias coe$istenciales 9 los tópicos notales anali6ados fueron2 Sentimientos e impulsos al impacto del dia"nóstico, Si"nificado del c0ncer 9 creencia en la cura, Autopercepción de la me!ora del c0ncer, 3etomada de la capacidad de prospectar el futuro( ?a conclusión indicó que *445 de los pacientes acompa@ados refirieron me!ora en la salud, certe6a de cura, retomada del %umor e incremento en las estrate"ias de enfrentamiento a las situaciones estresó"enas( %ala,ras'cla&e: Psicosom0tica7 8ipnosis7 C0ncer de próstata(
Uma questão curiosa na %istória da %ipnose / que, mesmo sem atender 1s e$i"ências de cientificidade, ela sempre foi marcada pela eficiência terapêutica de suas aorda"ens, tendo a discussão sore a %ipnose sido inicialmente retomada, em termos clínicos, a partir da ora de >ilton Eric
e acordo com Ericacvean, uc%esne, Couper e Nissane +44FD referem que ao se dar o dia"nóstico de c&ncer de próstata e de seus consequentes tipos de tratamentos, estamos colocando 1 disposição do paciente e de seus cLn!u"es quest#es e$istenciais concernentes a possíveis sequelas decorrentes de tais intervenç#es7 o que implica a capacidade de enfrentamento e de adesão do paciente ao tratamento e o desenvolvimento de comoridades de ordem psicoló"ica ou psiqui0trica( essa forma, os autores prop#em que as pesquisas sore o tema atentem para compor estrat/"ias de intervenção cu!o o!etivo se!am as necessidades psicoló"icas( Portanto, podemos oservar que %0 dois focos centrais quanto ao adoecimento nos pacientes que receem o dia"nóstico de c&ncer de próstata2 o iom/dico, inerente ao fato de ter c&ncer, e os decorrentes desse dia"nóstico e das an"'stias e$istenciais que o mesmo defla"ra( Esse todo psicossom0tico demanda uma estrat/"ia de intervenção que implique a psique e o corpo de carne, como oservou Spie"el +44FD ao afirmar %aver a necessidade de se desenvolver uma ferramenta %olística que permita acessar tanto a cone$ão mente:corpo quanto o conte$to clínico( as palavras de >ac ou"all *HOID, o corpo, enquanto invólucro carnal que /, trata:se de um o!eto para a psique, o que implica o fato de que sem corpo não
%averia psique, e vice:versa( esse modo, não %0 como se entender nem mesmo o afeto como um Gacontecimento puramente psíquico ou puramente físico7 a emoção / essencialmente psicossom0ticaG >ac ou"all, +444, p( *4FD, posto que, se"undo a autora, %0 uma relação entre os terrenos do soma e da psique, Gpropiciada pela dor, que sur"indo em um destes terrenos, provoca inevitavelmente sofrimento ao outro7 pelo menos enquanto o psicossoma funcionar como um todo saud0velG *HOI, p( *+:*ID, ou se!a, inte"rado( Ainda, se"undo 3ossi +44ID, Gqualquer intromissão ou mudança feita pelo mundo e$terior pode desencadear uma doença cu!a característica / a de ser um esforço para manter o equilírio %omeost0ticoG p( O+D( - autor e$plica essa din&mica adaptativa considerando que o ser %umano / dotado de um sistema detentor do Gpapel central de mediar a comunicação entre a fenomenolo"ia da mente, tal como memória, aprendi6a"em, emoç#es, comportamento e suas manifestaç#es psicossom0ticas no corpoG p( *JD( ?o"o, adotei uma postura terapêutica na qual considero a Gpsicossom0tica como uma ideolo"ia sore a sa'de, o adoecer e sore as pr0ticas de sa'de( Um campo de pesquisas sore esses fatos e, ao mesmo tempo, uma pr0tica(((G >ello )il%o K cols(, *HH+, p( *HD, sendo Ga psicossom0tica uma nova visão da patolo"ia e da terapêutica, a qual foca a pr0tica assistencial em se tratar doentes e não doençasG, completa o autor p( *HD( >ediante tais concepç#es, neste traal%o ele"i a t/cnica da %ipnose como ferramenta para promover a ressi"nificação das vivências relacionadas 1 concepção de sa'de7 insti"ar a ressi"nificação atriuída ao c&ncer de próstata e ao impacto desta na autopercepção de recuperação da sa'de e da crença na cura7 investi"ar como a %ipnose contriuiu para o incremento da vontade de viver e, consequentemente, de pro!etar o futuro( Pelo car0ter su!etivo dessas vivências e autopercepç#es, utili6ei o m/todo qualitativo e a t/cnica de an0lise tem0tica dos resultados como recursos científicos para a compreensão das propriedades en/ficas da %ipnose ante a dor, ansiedade, em:estar, qualidade de vida, mel%ora do c&ncer, dentre outras( A metodologia qualitativa Em termos "erais, euern +44HD salienta que os procedimentos metodoló"icos estatísticos e e$perimentais distanciam:se do conte$to relacional em que os processos %ipnóticos emer"em, para se centrar apenas nas respostas isoladas dos indivíduos( essa forma, a pesquisa qualitativa estaria a oportuni6ar que as emoç#es quanto ao processo e tudo o que possa contriuir para constituir a su!etivação presente na %ipnose se!a assumido dentro de sua comple$idade, que en"loa a autopercepção quanto ao fenLmeno %ipnótico( .urato +44ID ressalta como característica central da pesquisa qualitativa a atenção voltada para se investi"arcomo os fenLmenos são vivenciados e interpretados pelos su!eitos da pesquisa, sendo al"umas peculiaridades inerentes ao m/todo qualitativo2 G*D a pesquisa / naturalística7 +D tem dados descritivos7 ID a preocupação / com o processo7 JD ela / indutiva e D a questão da si"nificação / essencialG .urato, +44I, p( +JD( Assim sendo, como pondera o próprio autor, tem: se que Gos sentidos e as si"nificaç#es dos fenLmenos são o cerne para os pesquisadores qualitativistas, de modo que devemos procurar captur0:los oservando os su!eitos da pesquisa, em como dar as interpretaç#esG p( +JD(
Assim, a fim de atender 1s premissas científicas qualitativistas e dar suporte ao o!etivo do presente traal%o, a amostra foi composta a partir do crit/rio de saturação de dados, considerando, portanto, que Gos su!eitos são incluídos e reunidos pelo crit/rio da %omo"eneidade ampla7 a amostra / fec%ada quando as respostas de novos informantes tornam:se e$pressamente repetitivas, na avaliação do pesquisadorG .urato, +44I, p( ID( A pesquisa )oram acompan%ados pacientes com c&ncer de próstata que reali6avam tratamento m/dico no Setor de -ncolo"ia do 8ospital de )orça A/rea do Maleão 8)AM( Estes reali6aram tratamento %ipnoter0pico consistindo de cinco sess#es, escalonadas semanalmente, com duração m/dia de uma %ora cada, tendo como crit/rio de inclusão ser paciente do Setor de -ncolo"ia do 8)AM, dia"nosticado com c&ncer de próstata, e não possuir dia"nósticos psiqui0tricos delineados nem fa6er uso de sust&ncia psicoativa( Apresento a se"uir os participantes desta pesquisa .aela *D, com a finalidade de oportuni6ar ao leitor oservar o crit/rio de %etero"eneidade ampla que norteia os dados amostrais( o entanto, oservo que apesar desta característica %etero"ênea dos participantes, os dados otidos e analisados foram %omo"êneos( As entrevistas tiveram como norteadores dois roteiros de entrevista semidiri"ida Quadros *, e +D para a coleta de dados, sem contudo limitar:se a estes7 de modo a permitir que o flu$o fluísse naturalmente e que seu conte'do pudesse ser aran"ido em maior profundidade( .omando por ase os conte'dos dos discursos emer"idos nas entrevistas quanto 1 visuali6ação que cada paciente fa6ia de suas c/lulas oncoló"icas e do si"nificado de ter c&ncer para cada um, e associando essas percepç#es 1s e$pectativas individuais foi conformada cada intervenção %ipnótica( A se"unda entrevista tin%a como função nortear as estrat/"ias de aprofundamento do transe em cada sessão, a fim de facilitar a ressi"nificação das vivências( Instrumento Concisamente pode:se compreender que Go processo da psicoterapia Ericasson *HOD, em condu6ir o paciente a uma concentração descontrativa, sucessivamente, nos m'sculos, sistema vascular, coração, respiração, ór"ãos adominais e caeça( *R >omento2 Preparação=ndução Sente-se e procure uma posição o mais confortável possível... Perceba seu corpo... Relae... Solte os braços! libere as pernas. Relae o pescoço... "nc#a lentamente os pulm$es de ar... e ve%a uma lu& branca passando por suas narinas e entrando em seu corpo... c#egando at' os pulm$es... (e%a seus pulm$es inflarem... Sopre o ar pela boca. )entamente. (e%a uma fumacin#a saindo... )evando embora qualquer tensão! desconforto! preocupação... Sinta o peso do seu corpo sobre a poltrona...
Sinta o cansaço do seu corpo... Relae. Sinta-se leve. "nc#a mais uma ve& os pulm$es de ar... (agarosamente... Solte! mais uma ve&! o ar pela boca. Perceba o peso de seu corpo... o cansaço... o peso leve de seu corpo... Sinta seu corpo ficando leve! leve! leve... flutuando... " nesta leve&a voc* s+ ouve a min#a vo&! e o som da m,sica... calma e agradável... Segura. "nc#a mais uma ve& os pulm$es de ar... )ibere o pensamento... Pensamento ' gaivota Passa. (oc* fica. (oc* '. ada pode afetar a sua alegria na vida... porque pensamento ' gaivota... passa... / movimento ' a grande constante... Seu coração bate no perfeito ritmo circadiano. Sua pressão arterial se mant'm na %usta medida a fim de que voc* possa descansar. 0escanse. Sua respiração abdominal está cada ve& mais plena. Sinta o sangue dentro de seu corpo... / calor vital dentro de voc*... A sa,de. / sangue circulando e levando calor! energia! vida! sa,de e #armonia desde a pontin#a de seu dedão at' a ponta do fio de cabelo mais distante... (e%a a un#a de seu dedão corar. (oc* sente-se ainda mais relaado e com uma agradável vontade de adormecer para uma noite de sono aconc#egante e revigorante. 1ma noite na qual voc* poderá son#ar e tornar realidade seus dese%os mais profundos... Permita-se. +R >omento2 Aprofundamento do .ranse (oc* pode dormir... 2 isso o que voc* quer! não '3 0urma pesado... profundamente. 4as a todo o tempo continuará escutando a min#a vo& e o som da m,sica ao fundo... seguro... em #armonia... 0urma... 0urma profundamente... 0escanse... 0urma. Agora voc* se encontra em um belo campo. (e%a Aprecie... Sinta a brisa fresca da man#ã... Sinta o sol morno do aman#ecer...! como que te abraçando... 5ra&endo uma agradável sensação de carin#o! pertencimento! segurança... Pise o orval#o fresco do aman#ecer. / c'u está a&ul... este enorme campo #á muitas árvores... árvores altas! árvores baias! árvores com fol#as muito verdes! árvores com fol#as mais secas... árvores com fol#as amareladas... mas cada uma guarda a sua bele&a. /bserve Perceba... /uça o som dos pássaros... este enorme campo voc* tamb'm pode ver uma clareira... uma clareira rodeada de flores raras e muito belas... Sinta seu perfume. Assim ' feita a vida. 6eita de estaç$es! de momentos... 7á momentos para plantar. 4omentos para col#er... 4omentos de espera. 4as cada um tem a sua bele&a... Sinta a tranquilidade e a #armonia. " voc* dorme cada ve& mais pesado8 mais profundo...8 não '3 Indo cada ve& mais de encontro aos seus dese%os mais íntimos! mais inconscientes... este campo voc* ouve um som de água... camin#e... camin#e em direção ao som de água... Pode ser um rio! um mar! um riac#o! uma fonte... (á em direção ao som agradável e calmante da água. )á voc* encontra uma escada8 uma escada em espiral que desce8 uma escada em espiral com degraus de mármore branco8 ' uma escada curta... em espiral... que desce... São apenas cinco degraus de mármore branco! muito branco... 2 uma escada fácil de descer...em espiral... " a cada degrau que voc* desce! voc* dorme mais profundo! mais pesado... seu estágio de son#o fica cada ve& mais profundo e pleno... 4as voc* sempre continuará ouvindo a min#a vo&! e s+ a min#a vo&. 0esça o primeiro degrau da escada em espiral que desce! e o degrau de mármore branco se acende com a lu& laran%a... Sinta a vitalidade desta cor... de um bril#o %amais visto por voc*... 0emore-se quanto quiser neste degrau... e re%uvenesça. 0esça agora o degrau de n,mero dois da escada em espiral que desce... 2 uma escada curta... Permita-se... Aceite de bom grado o que as sensaç$es e os son#os te tra&em... (oc* pode se assim o dese%ar. São apenas cinco degraus... e quando voc* c#egar ao degrau de n,mero cinco voc* estará son#ando profundamente com a reali&ação de seus dese%os mais profundos e inconscientes de pa&! #armonia! alegria! sa,de! %uventude! tranquilidade... 4as apenas quando eu falar o n,mero cinco. "ste degrau de n,mero dois se acende com a lu& amarela. 2 como se um #olofote te iluminasse... 0esça o terceiro degrau de mármore muito branco...! da escada em espiral que desce... "ste se ilumina com a lu& a&ul... o a&ul da pa&! da confiança! da certe&a da reali&ação... 1m a&ul %amais visto igual... Aprecie... Sinta... 0escanse... 0urma... 0esça agora o degrau
de n,mero quatro8 sabendo que tão logo voc* pisar o degrau de n,mero cinco voc* se encontrará deitado confortável e aconc#egantemente numa praia! ou sobre uma nuvem... macia... 4as apenas quando eu falar o n,mero cinco. / degrau de n,mero quatro se acende e se ilumina com a sua cor preferida! que se espal#a por todo o seu ser... " voc* se sente livre... como se flutuasse sobre uma nuvem... em uma nuvem muito macia... segura! e lá do alto voc* pode apreciar a terra! a sua vida... e voc* dorme ainda mais...descansa... (oc* agora ol#a para baio! para o ,ltimo degrau da escada de mármore branco da escada em espiral que desce... Pise o degrau de n,mero cinco. T importante ressaltar que as estrat/"ias de aprofundamento de transe sofreram variaç#es de acordo com as lemranças e relativas ima"ens relatadas pelos pacientes durante as entrevistas, em como foram confi"uradas respeitando o estado de rela$amento atin"ido a partir da indução, o nível de tensão apresentado em cada sessão e a maior facilidade ou não de se entre"ar ao processo %ipnoterapêutico( As entrevistas foram re"istradas, e as falas transcritas encontram:se fielmente reprodu6idas(
Resultados e análise dos dados -s discursos emer"idos nas entrevistas iniciais apresentaram semel%anças no que concerne 1s vivências coe$istenciais, como se pode oservar nos trec%os se"uintes( Associaç#es do c&ncer com sofrimento, preconceito, covardia, impotência, decreto de morte, aprisionamento, dentre outras emoç#es, estiveram presentes em todos os relatos, assim como a dificuldade em contar o dia"nóstico para seus familiares( As falas a se"uir ilustram essas vivências( G9uando fala de c:ncer s+ lembra sofrimento... 7á pessoas que quando falam de voc* at' sentem no%o; (C(S(D( ;(e%o o c:ncer como algo que limita o indivíduo. Poda; ;Aceitam entre aspas. Porque ningu'm aceita um problemas desses;... A min#a mul#er foi min#a maior preocupação! porque ela ac#ava que eu não tin#a c:ncer; A(S(S(D referindo:se sore como foi difícil lidar com a situação de contar para seus familiares que tin%a receido o dia"nóstico de portador de c&ncer de próstataD( ;"sta doença ' covarde! sinistra; V(A(D( "u não penso no c:ncer. ão gosto nem que comentem. Perguntam sobre outras coisas< coração! edema da perna...; ;a #ora a gente s+ pensa no pior. =:ncer (C(S(D( ;/s m'dicos operam! mas não garantem... / pensamento s+ ' que c#egou ao fim;. ;/ impacto do diagn+stico foi terrível...; A(C(D( ;ingu'm gosta de lembrar... =#orava no metr> igual criança... Para sair so&in#o tin#a dificuldade;. ;9uando o m'dico disse encarei com naturalidade... mas quando c#eguei para a família... Poa 4uito grave a min#a situação. 9uase que eu fi& um testamento. 6oi como uma sentença de morte; =(-(B(D(
;ão me abalei muito porque %á convivo com o ?c:ncer@ da min#a mãe; A(S(B(D( ;9uando fui pegar o resultado do eame pensei< eu posso estar... com c:ncerB. "ntão me preparei para o pior. 4as nunca querendo que acontecesse... 4as se acontecesse eu ia superar... 4as torcendo para que não estivesse;. ;4in#a ,nica preocupação era tirar o tumor de dentro de mim... 6icar livre...; (S(D( As vivências e$istenciais e$perimentadas por esses pacientes implicavam um medo intenso acompan%ado de forte sentimento de desamparo( Um medo muito mais do descon%ecido do que das reais possiilidades de cura, tratamentos e efeitos colaterais e sequelas decorrentes de seu dia"nóstico( -servou:se uma "rande concepção mítica do c&ncer ainda nos dias atuais, pois apesar da cora"em de proferir a palavra c&ncer, todos os pacientes relataram al"um tipo de preconceito seu, de seus familiares ou de seus ami"os no que di6 respeito ao que era na realidade seu est0"io de c&ncer e a respectiva "ravidade de seu quadro( Esses preconceitos foram muito respons0veis pela dificuldade de aceitação, por parte dos entes queridos, do dia"nóstico de c&ncer( Consequentemente, dificultaram ao paciente que este pudesse compartil%ar seus temores e an"'stias( )ato que contriuiu si"nificativamente para o sentimento de solidão e desamparo e$perimentado pelos portadores de c&ncer( -utro aspecto importante foram as diversas comoridades apresentadas por todos os pacientes( Essas funcionaram como v0lvula de escape para o medo, a ansiedade, a preocupação e a tensão com o c&ncer na medida em que serviram como doenças encoridoras ao dia"nóstico principal de c&ncer de próstata, levando os pacientes a diversas clínicas, que não a oncoló"ica, e a variados profissionais, que não o oncolo"ista( As vari0veis estado civil e reli"ião mostraram:se relevantes na medida em que, a princípio, amas poderiam ser in"enuamente compreendidas como elementos facilitadores para lidar com o dia"nóstico, com o tratamento, suas implicaç#es e possíveis reaç#es adversas( Entretanto, aspectos relacionados ao estado civil revelaram não serem indicadores de menor sentimento de desamparo( =sso porque, emora todos os pacientes entrevistados fossem casados, pode:se oservar que o cLn!u"e não foi al"u/m com quem pudessem compartil%ar as an"'stias diante do dia"nóstico e implicaç#es ante o tratamento( Esse estado civil foi, soretudo, al"o que dei$ou os pacientes mais an"ustiados e preocupados, pois temiam que seus cLn!u"es não conse"uissem lidar com aspectos urocr0ticos da vida, tais como ens, contas a pa"ar etc( Ainda, o fato de serem casados os forçou a analisar a possiilidade de morte iminente a fim de que pudessem tomar as atitudes caíveis de forma a não dei$ar seus cLn!u"es desamparados( Preocupaç#es semel%antes foram associadas aos fil%os( Por seu turno, a reli"ião tam/m não apresentou car0ter confortador( - medo, a an"'stia e o desamparo suplantaram todos os níveis de f/, inclusive a de um pastor protestante( Este, após o dia"nóstico optou por se afastar da função( Em v0rios casos, os pacientes referiram que em outras circunst&ncias não teriam pensado na %ipnose( Este levantamento propiciou, com ase na ./cnica de An0lise de Conte'do Bardin, *HFHD, a emersão de tópicos not0veis, cu!a presença ou frequência de aparição na comunicação podiam si"nificar al"o sore o o!etivo escol%ido para esta pesquisa, e que detin%am propriedades suficientes para se tornarem Gcate"oriasG ou GtemasG e, por essa ra6ão, foram eleitos para aprofundamento(
As cate"orias que mereceram destaque de an0lise de conte'do em virtude da "rande recorrência e an"'stia que despertavam nos pacientes foram as se"uintes2 *D Sentimentos e impulsos ao impacto do dia"nóstico7 +D Si"nificado do c&ncer e crença na cura7 ID A auto:percepção da mel%ora do c&ncer7 JD 3etomada da capacidade de prospectar o futuro( Sentimentos e impulsos ao impacto do diagn+stico Bloc% e cols( +44FD pontuam que a adaptação psicoló"ica ao dia"nóstico de c&ncer de próstata trata:se de al"o comple$o, pela tra!etória em potencial defla"rada desde o momento do dia"nóstico, considerando desde o seu impacto imediato at/ a fase de cuidados paliativos, a qual / acompan%ada por v0rias quest#es e$istenciais, conforme indicam as falas a se"uir2 ;6oi um susto muito grande. A primeira coisa que eu fi& foi parar! sentar e ficar pensando...; (S(D ;a #ora a gente s+ pensa no pior< c:ncer / pensamento s+ ' que c#egou ao fim... 5en#o con#ecidos que venderam tudo quando souberam do diagn+stico; (C(S(D ;Pensei logo em deiar tudo... Passei carro! casa! telefone... tudo para min#a esposa! porque não ten#o seguro de vida... ão quero dar trabal#o para min#a esposa.; ? ?(A(S(D Sendo assim, atentei para o estado de an"'stia e de desesperança verali6ado ou não pelo paciente no momento inicial ao tratamento %ipnoter0pico( Esse cuidado se !ustificou porque quanto mais intensa a car"a afetiva que uma situação desperta, mais conflitos, d'vidas e inse"uranças o indivíduo tende a apresentar, em como maior ser0 a sua descrença na possiilidade de ser a!udado e, portanto, retomar a cura e a sa'de( os relatos col%idos e analisados, a palavra c&ncer possuía si"nificado de morte iminente( Compreender o c&ncer como sentença de morte apresentou repercuss#es nocivas aos pacientes, dificultando, num primeiro momento, a elaoração do dia"nóstico e a verali6ação clara de suas an"'stias quanto ao dia"nóstico e 1s limitaç#es e efeitos colaterais dos tratamentos( -s pacientes precisavam manter um controle rí"ido de seus e"os, a fim de evitar uma psicossomati6ação que repercutisse em sua capacidade de racionali6ar a situação, e então tivessem forças para superar o trauma( essa forma, uma intervenção psicoló"ica com roupa"em %ipnótica foi al"o muito em receido por todos, uma ve6 que não os dei$ava em descoerto com eles mesmos num momento de intenso conflito e"oico( Ao mesmo tempo, oferecia:l%es a oportunidade de dividir suas an"'stias e posteriormente escut0:las de si próprios e permitir que as mesmas pudessem ser vivenciadas e resi"nificadas( ;9uando o m'dico falou do n+dulo! eu pensei< eu posso estar... então eu me preparei para o pior... ;2 uma sentença. "u não entendi por que eu estava o tempo todo tão tranquilo.; A(S(B(D ;... Impot*ncia em todos os sentidos. " agora3 =omo ' que vai ser3 "u me senti acuado. =omecei a pensar em morte... ão pensei em vida.; =(-(B(D
;0r.< Perdi! n'3; (S(D As quei$as relativas a alteraç#es de %umor, aparecimento de dores diversas, edemas e outras, após o dia"nóstico, tam/m foram recorrentes( .odas desempen%avam função de sintoma encoridor de uma an"'stia ou conflito inomin0vel inerente 1quela con!untura eou atuavam como v0lvula de descar"a psíquica para as inquietaç#es e$istenciais que o dia"nóstico de c&ncer defla"rou, as quais representaram estrat/"ia inconsciente crucial no restaelecimento da sa'de, provavelmente por duas ra6#es2 seus sintomas despertaram a a!uda familiar e a usca pelo au$ílio m/dico, ao mesmo tempo em que espiaram uma parte da car"a aflitiva não:elaor0vel naquele momento de vivência de sentença de morte( Ainda, a an0lise qualitativa dos conte'dos das falas dos pacientes indicou e$atamente o que >ac ou"all +444D afirma2 que aqueles pacientes que Gforam capa6es de somati6ar suas dores mentais nos momentos em que suas defesas %aituais fal%aram diante do sofrimento psíquicoG p( D foram aqueles cu!os mel%ores resultados de cura se sucederam( Enquanto psicoterapeuta, Gtudo o que se teve de fa6er foi recon%ecer as dei$as e a variedade da conduta %umana, das respostas corporais, das respostas neuroló"icas e depois se dar conta de que para todas estas respostas som0ticas e$iste um componente psicoló"ico de al"um tipoG Eric
si"nificado do c&ncer e, consequentemente, o do que / ter c&ncer, foi se modificando( E o dia"nóstico, o "rande vilão, passou a produ6ir uma din&mica psíquica com ase em conte'dos traum0ticos verali60veis, portanto, elaor0veis( Assim sendo, coue:me oportuni6ar um estado de transe o qual sinteti6asse visualmente, em forma de vivências reor"ani6adoras, a re"ulação dos estados físicos neuroendócrinos, a transdução de informaç#es celulares e, consequentemente, uma mel%ora no %umor "eral( Ao mesmo tempo, era de suma import&ncia que lo"o num primeiro momento as e$periências sensoriais a serem reaprendidas, em forma de sentimentos, fossem vivenciadas so %ipnose de forma a"rad0vel emocionalmente e, consequentemente, inte"radas ao todo psicossom0tico( Essas vivências repercutiriam nas aprendi&agens dependentes de estado 3ossi, +44ID, ou se!a, nos estados psicoendocrinoneuroimunoló"icos, os quais refletem na sa'de psique:soma( o que concerne ao %umor, a primeira mudança constatada foi a do car0ter pessimista do pensamento quanto 1 mali"nidade e autonomia das c/lulas oncoló"icas, refletindo num %umor mais autoconfiante e oportuni6ando a elaoração de novos conceitos e compreens#es sore as mesmas( ;"la a c'lula oncol+gicaB ' igual Cs outras do organismo! mas mais fraquin#a... 4ais debilitada.; (C(S(D ;2 como se eu não tivesse nada. "u t> engordando de novo... não tá me atrapal#ando em nada. "u sei que o problema eiste nos eames! mas fisicamente ' como se eu não tivesse.; =(-(B(D( Autopercepção da mel#ora do c:ncer 3oles +44D pondera que, para que um tratamento %ipnoter0pico atin!a seu o!etivo, / necess0rio que este possua uma meta7 apenas dessa maneira saeremos para onde devemos levar a psicoterapia( Portanto, fa6:se necess0ria a investi"ação dos si"nificados, das an"'stias e das e$pectativas de cada paciente quanto a sua doença e sua vida, durante todo o processo do tratamento %ipnoter0pico( Uma ve6 que Ga %ipnose fa6 com que o paciente ten%a 1 sua disposição os seus próprios potenciais para a auto:a!udaG Wei", +44I, p( ID, pude constatar que, conforme se revive %ipnoticamente o episódio traum0tico do dia"nóstico e dos possíveis pro"nósticos que o mesmo pode representar, oportuni6a:se que o paciente ressi"nifique essa vivência de uma maneira mais aceit0vel para si próprio, com uma roupa"em mais amena, a qual permita a elaoração do trauma( )oi, de fato, o que ocorreu, como indicam as se"uintes percepç#es2 ;A min#a epectativa ' que eu ven#a a recuperar toda a min#a sa,de! que está abalada.; A(S(S(D ;"ssa c'lula do c:ncerB ' de acordo com aquilo que a gente sente! com o estado de #umor;. =(-(B(D ;=omo eu Dt>D criando alguma coisa! eu ten#o que a%udar tamb'm.; A(S(B(D ;A min#a tranquilidade aumentou... A gente fica mais seguro.; (C(S(D
Ao permitir a elaoração do trauma, automaticamente o indivíduo pode prescindir do recurso de "erar atos:sintoma, sintomas encoridores, somati6aç#es, transtornos de %umor e de ansiedade7 o que por outro lado possiilita que o indivíduo encare com maior serenidade e destituído de pr/:conceitos socialmente compartil%0veis 1s e$pectativas diante das oportunidades e possiilidades do futuro, apesar de ter o dia"nóstico de c&ncer( Retomada da capacidade de prospectar o futuro Cada nova autopercepção funcionou para mim, enquanto psicoterapeuta, como uma dica de que passei a ter a meu dispor mais uma ferramenta terapêutica, posto que Gqualquer comportamento, qualquer manifestação((( podem ser utili6ados como ferramenta terapêuticaG Wei", +44I, p( OD( =sso porque, se relemrarmos que os prolemas psicossom0ticos Gsão disfunç#es da comunicação mente:corpo num &mito virtualG 3ossi, +44I, p( H*D, uma ve6 %avendo a sincronia mente:corpo, os pacientes readquiririam a capacidade de "erenciar e plane!ar novamente suas vidas( Assim, ressi"nificando a autopercepção da doença, do adoecimento e da sa'de fe6:se possível a aquisição de um estado psicossom0tico apto a elaorar as implicaç#es decorrentes do dia"nóstico e dos tratamentos, assim como uma diminuição da dor inconsciente ante essas quest#es( Estando esta sincronia estaelecida, as prospecç#es sore o aman%ã retornaram e os pacientes começaram a apresentar pro!etos de retornar ao traal%o, de via!ar, de comprar a tão esperada casa de praia da aposentadoria, ou um carro novo((( A vida após o c&ncer passou a e$istir, ou se!a, a crença de que o c&ncer era passa"eiro, cami0vel e destrutível(
!onsidera-.es /inais - tratamento %ipnoter0pico desencadeou, com o transcorrer das sess#es, uma reapro$imação de cada indivíduo consi"o mesmo, e uma decorrente compreensão de que seu estado atual de sa'de era passa"eiro e cami0vel( Estes, "radativamente se apropriaram do lu"ar de Gser uma personalidade total recuperando:seG Ericediante essa constatação, foi possível oservar que a noção eminentemente %umana de qualidade de vida que, se"undo >ina9o, 8art6 e Buss +444D, tem sido apro$imada ao "rau de satisfação encontrado na vida familiar, amorosa, social e amiental e 1 própria est/tica da e$istência, tomou conta desses pacientes, e se encontrava refletida de uma maneira muito intensa em seus comportamentos e discursos( e modo que estes voltaram a acreditar na vida, na recuperação da sa'de, no relacionamento con!u"al e em si próprios enquanto seus maiores e mel%ores aliados(
A %ipnoterapia so medida Eric
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