Sousândrade
Harpas Selvagens Revisão e atualização ortográfica
Iba Mendes
Publicado originalmente em 1863. Joaquim de Sousa Andrade de Caukazia Perreira (1832 — 1902)
“Projeto Livro Livre” Livro 484
Poeteiro Editor Digital São Paulo - 2014 www.poeteiro.com
Sousândrade
Harpas Selvagens Revisão e atualização ortográfica
Iba Mendes
Publicado originalmente em 1863. Joaquim de Sousa Andrade de Caukazia Perreira (1832 — 1902)
“Projeto Livro Livre” Livro 484
Poeteiro Editor Digital São Paulo - 2014 www.poeteiro.com
Projeto Livro Livre O “Projeto Livro Livre” é uma iniciativa que propõe o compartilhamento, de forma livre e gratuita, de obras literárias já em domnio p!blico ou que tenham a sua divulga"#o devidamente autori$ada, especialmente o livro em seu formato %igital& 'o (rasil, segundo a Lei n) *&+-, no seu artigo ., os direitos patrimoniais do autor perduram por setenta anos contados de / de janeiro do ano subsequente ao de seu falecimento& O mesmo se observa em Portugal& 0egundo o 12digo dos %ireitos de 3utor e dos %ireitos 1one4os, em seu captulo 56 e artigo 7), o direito de autor caduca, na falta de disposi"#o especial, 8- anos ap2s a morte do criador intelectual, mesmo que a obra s2 tenha sido publicada ou divulgada postumamente& O nosso Projeto, que tem por !nico e e4clusivo objetivo colaborar em prol da divulga"#o do bom conhecimento na 5nternet, busca assim n#o violar nenhum direito autoral& 9odavia, caso seja encontrado algum livro que, por alguma ra$#o, esteja ferindo os direitos do autor, pedimos a gentile$a que nos informe, a fim de que seja devidamente suprimido de nosso acervo& :speramos um dia, quem sabe, que as leis que regem os direitos do autor sejam repensadas e reformuladas, tornando a prote"#o da propriedade intelectual uma ferramenta para promover o conhecimento, em ve$ de um temvel inibidor ao livre acesso aos bens culturais& 3ssim esperamos; 3té lá, daremos nossa pequena contribui"#o para o desenvolvimento da educa"#o e da cultura, mediante o compartilhamento livre e gratuito de obras sob domnio p!blico, como esta, do escritor brasileiro 0ous
> isso;
Iba Mendes
[email protected]
BIOGRAFIA Durante a 2ª fase romântica, no Brasil, Joaquim de Sousa Andrade ou Sousândrade, como preferia que fosse chamado, despontou-se como um poeta pouco conhecido entre seus contemporâneos. Segundo Haroldo de ampos, dotado de um estilo irre!erente e ousado, o citado autor acentua tal caracter"stica por meio, dentre outras coisas, da #i$arria de seu pr%prio nome, que consiste na aglutina&'o de seu nome de fam"lia. (studos so#re sua #iografia retratam que Sousândrade nasceu na fa$enda )ossa Senhora da *it%ria, pr%+ima ao rio ericum', munic"pio de uimar'es, no estado do aranh'o, a no!e de /ulho de 012, !indo a falecer em S'o 3ui$, a 20 de a#ril de 0452, le!ando consigo uma !ida repleta de a!enturas e de di!ersas peregrina&6es por todo o mundo. 7ilho de Jos8 Joaquim de Sousa Andrade e de aria B9r#ara ardoso, importantes fa$endeiros pertencentes : elite no#re de Alcântara, muito precocemente, o poeta e sua irm' Ana ficaram %rf'os de pai e m'e, desencadeando a desestrutura familiar e a ru"na da fortuna herdada. )as pala!ras de ampos, tais acontecimentos foram e+plorados anos depois pelo poeta, na o#ra ;< uesa=, em que 8 e!ocada sua infância feli$ e e+posto todo seu inconformismo pro!ocado pela fal>ncia da fa$enda *it%ria. A estes dados a respeito de sua !ida familiar, tais estudos #iogr9ficos re!elam a fase errante que marcou a !ida de Sousândrade. ampos cita !iagens deste poeta pela (uropa, Ama$onas, (stados ?nidos e por !9rios pa"ses da Am8rica 3atina, destacando que,durante sua perman>ncia no pa"s norte-americano, o poeta maranhense tra#alhou incansa!elmente partes do longo poema ;< uesa=, cu/as primeiras data&6es remontam o ano de 01@1. Dado seu contato com as mais di!ersificadas culturas, po!os e realidades sociais, Sousândrade !i!enciou de forma muito pr%+ima as ma$elas humanas e sociais. ampos re!ela que a e+peri>ncia deste autor com os di!ersos estilos de !ida, caracter"sticos de diferentes po!os, contri#uiu para acender seu fer!oroso esp"rito a#olicionista e repu#licano, o que 8 compro!ado pela sua atua&'o como um desprendido cidad'o e patriota de seu tempo. 3utou com muita !eem>ncia pela a#oli&'o da escra!atura, pela proclama&'o da ep#lica, pela reforma de desen!ol!imento da educa&'o, #em como pela morali$a&'o dos costumes. --Referência bibliográfica: Gisele Alves: “Para um glossário neológico da obra “O Guesa”, de Sousândrade: uma proposta”. (Dissertação apresentada como requisito parcial à obtenção do título de mestre em Lingüística. Orientador: Prof. Dr. Evandro Silva Martins). Universidade Federal de Uberlândia, 2006.
ÍNDICE ESTÂNCIAS
I – DESESPERANÇA..................................................................................... II – HINO..................................................................................................... III - AO SOL................................................................................................. IV - TE DEUM LAUDAMUS.......................................................................... V - A LEGENDA........................................................................................... VI - A HÉCTICA............................................................................................ VII - A... ...................................................................................................... VIII - VISÕES............................................................................................... IX - O ROUXINOL........................................................................................ X - CANÇÃO DE CUSSET............................................................................. XI - UM DIA É SEMELHANTE À ETERNIDADE.............................................. XII - MINH’ALMA AQUI! ............................................................................ XIII - A VIRGENZINHA DAS SERRAS............................................................. XIV - HORA COM VIDA................................................................................ XV - VEM NOITE.................................................................................... XVI - "... ..................................................................................................... XVII - SONHOS DA MANHÃ........................................................................ XVIII - M... .................................................................................................. XIX - PO#RE $ILHA DA POL%NIA................................................................. XX - #ERÇOS DO AMOR PRIMEIRO............................................................. XXI - O PR&NCIPE A$RICANO....................................................................... XXII - PRIMEIRAS-"GUAS........................................................................... XXIII - VAMOS 'UNTOS! ............................................................................. XXIV - O INVERNO....................................................................................... XXV - " PARTIDA DE UM VELHO EN$ERMO................................................ XXVI - $RAGMENTOS DO MAR....................................................................
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NOITES
XXVII - O CIPRESTE...................................................................................... XXVIII - A VELHICE....................................................................................... XXIX - A ESCRAVA........................................................................................ XXX - A MALDIÇÃO DO CATIVO................................................................... XXXI - VISÕES.............................................................................................. XXXII............................................................................................................ XXXIII.......................................................................................................... XXXIV - VISÕES........................................................................................... XXXV - VISÕES............................................................................................ XXXVI.......................................................................................................... SOLIDÕES
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XXXVII - V 222........................................................................................... XXXVIII - DIA DE NATAL.............................................................................. XXXIX - A MUSA.......................................................................................... XL - O TRONCO DE PALMEIRA..................................................................... XLI............................................................................................................... XLII - O CASAL PATERNO............................................................................. XLIII - $RONDOSOS CEDROS D’OUTRORA................................................... XLIV - MEUS NOVE ANOS N’ALDEIA........................................................... XLV............................................................................................................. XLVI............................................................................................................
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ESTÂNCIAS I - DESESPERANÇA Ó tarde dos meus dias! Ó noite da minha alma!... A vida era tão calma Aqui na solidão! o rio, que corrias, Tuas águas vão secar... A flor no seu murchar Que importa a viração? Ó sol da minha infncia, Que valemme os teus raios? A lua em seus desmaios "m t#mulo em$ranquece. % tu, que na distncia &e deste a vida e a dor... %u surto ' a esp(rança, o amor &eu peito não aquece. % eu que sonhei tanto! % eu que tanto via )o longe d(algum dia A vida aparecer... )o rio do meu pranto &eus anos vão passando* Assentome, esperando + meu triste morrer. Assim, rápidas flores on-elas da manhã em terdes amanhã )as l/mpidas capelas, 0assais1 vãose os amores % o hino da $ele-a* )em deume a nature-a 1
"m dia! assim como elas. ivago os olhos lentos o plano ao monte, aos c2us* %u lá ve3o um s4 eus, %m eus somente o amor1 Aqui, levamme os ventos %u, nada tenho sorte! )o cume eu ve3o a morte, )os vales morta a flor. A mim pranto e saudade, A mim f#ne$re e5/lio, 6antando um$roso id/lio a morte 7 som$ra fria* %m pálida orfandade As dores me aca$am &is2rias me em$alam )os $erços da agonia. Adeus... palma, que ouvias &inha harpa 7 som$ra tua* Tu 2s a vo- que 2 sua, %u sou tua criação. Ó tarde dos meus dias! +i noite da minha alma! A vida era tão calma %m pa- na solidão! Adeus 7 doce vida, Adeus 7 rosea esp(rança % o c2u! que era $onança 6o$rindo o campo e o lar1 Adeus, terra querida! Adeus, formosa infante! 0or li, no mundo errante, e novo eu corro o mar.
II - HINO 2
8 li$erdade os cantos! A filha destes c2us, A filha do meu eus % minha irmã do peito, &eus sonhos do meu leito, os vales minha flor, a vida o meu amor* Ó doce li$erdade, 9magem da verdade os meus altares santos! )a tua divindade +s astros nos parecem Que pelos montes descem1 + mar so$e o rochedo1 +s ventos o arvoredo iceras transportar1 A fonte a suspirar e perde na soidão* Quem vi$ra o coração Tu 2s, 4 li$erdade! Ainda na saudade a pátria, na distncia :s tu que dás constncia, Que fa-es tanto amar + sol, o campo e o lar! + /ndio prisioneiro )ão teme o cativeiro, )em era por ser vivo + t/mido cativo 6horando a li$erdade... 6oitada filomela eu canto desfigura Tirada da espessura* Qual perde o murm#rio &udado o leito o rio* Tam$2m a cor perderas, %m tiras te fi-eres... % o mar que tens na face, Que em$e$e um sol que nasce, ;oi s4 cadente estrela 3
% o sol que do arvoredo 6rescia docemente
á frma outro hori-onte, % a l/ngua 2 d(outro povo... =irenteáurea $andeira, %u choro assim te olhando )o ar desenrolando* A virgem d(inocente +uviu o homem que mente* %nleiate ao pendão, :s morto coração* A raça está perdida1 )em fora denegrida )ão sendo $rasileira... os lá$ios criadores % a fronte, 4 li$erdade, Tu foste a claridade Que o astro edificou, )ossa alma irradiou1 8 crença tu me elevas )a vo- do vento e as selvas1 &e levam nesta vida, Qual ave ao c2u perdida, +s teus, os teus amores! 4
@ela árvore da gl4ria, Teus frutos 3á penderam, Teus filhos 3á morreram* Apenas 7 tua som$ra, Tão rota, e qu(inda assom$ra, 8 morte se arrastando, Teu nome estre$uchando +s ve3o! indiferentes 8 terra e o eus1 descrentes
Maranhão, 1856
III - AO SOL T/mida e $ela e taciturna virgem 0elos campos, na -ona solitária, o mar no isolamento, lá do a-ul @anhando a terra de uma lua argBntea, 8 matinada so$ressalta e foge* 6hama aos seios o manto, os p2s retira a terra e voa, desco$rindo os $osques Que estremecem, do monte a som$ra arranca, Toma 7 pressa os vestidos que vão soltos % as grinaldas d(estrelas, fugitiva.
>amais cantou de amor* a$riume a $oca %sta sede eternal, que eu mesmo ignoro, e um dese3ar... que secame a e5istBncia, Que minha alma lacera, como ao peso (um africo samoun sem fim rolando! A$re um lado da a$4$ada celeste, Amostra o rosto, s4, cent4clo e $elo,
Que os teus raios secaram* então contigo omente e o mar, meu pensamento errava Ante os meus olhos, mas sem ver a$ertos, )em despertava me roçando a fronte. Amigos mendiguei, meu peito aos homens, &eus $raços, minha fronte, a$ri minha alma1 6omo os homens vi rindome um momento! &e odiavam depois, logo amanhã* +utros $uscava1 mas, as mesmas ondas o mesmo oceano mentiroso e amargo1 6orri terras em fora e passei mares, =i novos climas ' sempre os mesmos homens! )em um s4... nem um s4 achei que o nome anto de amigo merecesse ao menos! Ah! se um ente nascera, que eu amasse este amor todo que meu peito espaça! u$lime erupção, nasceu minha alma! esde então, na descrença ressequido &urchou, caio meu coração, e os homens, Que minh(alma lho rude calcinaram, )unca mais pude amar vou solitário 0elas praias som$rias da e5istBncia. Gs ve-es recostado num penhasco, A minha criação faço ideal* ;ormo um coro de virgens de1 anos d(ontem )uas e puras1 me rodeiam, cantam, %u adormeço... mas, desperto, ru3o! Tu, deus im4vel, su$alterno, seiva, espertador da terra, ergues meus sonhos, &aterial hip2r$ole dos c2us! &entira, ou não sei que ve3o em sua frente Que não entendo, e me repugna eu fu3o As minhas solidEes, não posso amálos* Ah! se eu pudesse, $em feli- que eu fora! ' &esmo de um eus descri... perdão, enhor! % mirrado na dor, pelos desertos @uscava som$ra* ' as árvores murchavam, esfolhavam! da fronte que eu sostinha escansar pelo colo de seus troncos, Tocar meus p2s sua leiva! e5posto ao clima, + sol fendeume o dorso, como açoite 8
a 0rovidBncia, e amei p(ra sempre o sol. Ó tu, dia primeiro, em que no espaço A fogueira de ouro o sopro eterno Acendeu* quando a terra estremecia %m pasmo se revendo, e tudo em vo-es )aturalmente! Ó tu, dia vindouro, %m que a mão, que a ergueu, desça apagála ' Que $ela cena! quanto denso fumo )ão há de se e5alar d(entre os seus dedos, a tocha imensa no morrer! quisera entir ranger meus ossos, pertur$arme )essa emoção de horror! verte apagando, Qual verte ao mundo vindo, eu s4 quisera %sses dois dias vida, entre eles morte. ol esplBndido e $elo! deus vis/vel! Tu, corpo do meu eus, queima o meu corpo1 =á minh(alma 7 tua alma, ao eus somente! ilBncio. 0assa o vento em meus ouvidos, C%mudece!D disseramme* quem foi?...
IV - TE DEUM LAUDAMUS El ego, et terra, mafeque Coelumque, tibi canticum damus! >á longe de mim vai comprida a margem a infncia feli-* navego ao largo, a $arca ao leme1 os gon-os ferrugentos
+ndulaçEes sonoras levantando 9ndolente e penosa a vaga adunca Arruinada em pedras, na fragura, )a costa, no rochedo. Agora eu canto. +s rios que deságuam se entorpecem1 A nuvem desce mais dos c2us de seda, =em suspensa escutarme1 acalma o vento, 6a/da vela1 fora d(água os pei5es + dorso ondeiam1 mudamente alcione o #mido ninho serpenteia o colo1 istante a vo- do mar, distantes praias o$re si mesmas desterrando vãose1 Aceleradas som$ras das palmeiras As seguem para o e5tremo, as cumiadas As som$ras deitam para trás da serra, Que co$riamlhe o rosto* 2 amplo o $erço! 6alada a nature-a espera em torno &inha vo- responder. Agora eu canto* C&eu enhor +nipotente! &inha harpa, as harpas do monte, o rio caudal e a fonte, Fi$rada a nuvem nos ares, 0erante et2reos altares e humilharam. anto! anto! eus imenso! eterno sopro +s lá$ios teus fecundaram* +s c2us de soes s(estrelaram, o$re os soes outros c2us vão* )asce o mundo, a criação )asce, e canta. anto! anto! 6heio o vácuo, o espaço ondula o infinito1 retum$ante eme o caos, e palpitante 6omeça $rilharviver 6ontemplarse, estremecer1
)uma flor, penedo ou serra Teu nome está. anto! anto! %co infindo envolve o mundo 9nfindo se renovando* +ntem vime alevantando, Ho3e me ve3o a cantar1 Amanhã no meu lugar Talve- serei... anto! anto! Ande o mar lam$endo a areia &anso e calmo e deleitoso, +u se estorça proceloso 6ortado da ventania, + mar teu nome di-ia, ilo ainda. anto! anto! =e-es quando o filho ingrato o$re o p4 dorme indolente, % renegado ou descrente )ão te vB na doce esp(rança, =ingativo e sem $onança ei5a os leitos. anto! anto! %rre a lua em $rancas noites, oure o sol ru$ras celagens1 %stas montanhas selvagens, %stas compridas palmeiras 6antando pelas ri$eiras, ão louvores. anto! anto! &eu enhor +nipotente! enhor eus da criação! %scuto o meu coração, =erguemse os cumes do c2u, Queime o raio o a-ul do v2u '
&e o$edeceram* pelos c2us um coro =ai ondulando d(encantados 4rgãos ' A vo- dos animais, dos elementos, as plantas o meu cntico entoando. CTu, que enriqueces A$rahão nos desertos, Que livras da infmia &ois2s e >aco$1 Que fa-es avid onhar o &essias, Que o nome estremece, estr4i reis so$er$os, uas águas que desce ordão, uas altas muralhas esfa- >eric4 Aos olhos im4veis o sol suspendido )as mãos do >osu2 ' Teus filhos encontras )a ingratidão! )o para/so esquecem Teu preceito* as feras ;raternais, tão mansas, 9nimigas são1 =enenoso inseto +s consome1 os prados &urcha como o sol! >á cidades vingam, e corrompem, morrem o dil#vio aos p2s. )o c2u arco de rosas Traçou nova aliança, % novas plantas nascem. @alta-ar so$er$a )o festim ruidoso Fá profana os vasos e >erusal2m* a tua mão de fogo 0elo muro errante 12
aniel amostra As impressEes fatais Ao assom$rado conviva* eslocouse o %ufrates! @a$ilnia pream udá!... ' &eu eus, tão grande que 2s A terra que não sente 9gnorate, e sorri! ' )os seios te compreendo, Tua gl4ria me engrandece, Tu 2s minh(alma, 4 eus! &inh(alma um reino teu.D )o firmamento os ares se em$alaram1
V - A LEGENDA C+nde vais? pertur$ado no sem$lante, a som$ra de ti mesmo perseguido! + que entre os dedos te relu- mal preso )a mão se enegrecendo, 4 desleal? )ão ouves um gemido lá no monte? + 6risto 2 quem suspira... e porque foges?...D 0erguntava o ple$eu d(asco. + disc/pulo Treme, seus olhos se desconcertaram. A e5alação de um $ei3o nos seus lá$ios 9nda fa-ia nuvens* 2 maldisse A$ominosa venda... ouro fatal! ' Fava 0ontius suas mãos nas mãos da esposa, CTu disseste que eu sou Cdi-endo o 3usto* %ntão ringiulhe o coração do crime, % de remorsos afrou5ando os $raços, 13
+ templo ressoou d(argBnteas moles +s p2s rodeando de 6aifás* Csangu/neas, A c4r$ona as não quer, aos peregrinos angu/neos campos d(Haceldama comprem.D ' % no outro dia uma árvore encontrouse %stendida no chão, fogo nem tinha, % em cin-as desfa-iase fumante! emia o )a-areno ao longo açoite o fariseu. 6horava o caro 0edro Quando o galo cantou* negar trBs ve-es + rei de alil2ia! ' em nardos ' triste, As oliveiras do horto entristecendo % as torvas águas que de ouvilo voltam. + sonho confirmouse dos profetas* + que viste morrendo era o &essias! ;alava >eremias inspirado ' á$ias revelaçEes* C6aim primeiro 9nve3ou, foi traidor* dinheiros vis o primeiro assassino a terra os ve3a 6ometa errante despertando longe, Fonge, e fa-Bla estremecer de assom$ra 6ada ve- que gemerem malfadadas %ntroncadas irmãs no cofre impuro1 (/gneo facho perseguido, A$re as mãos o irmão d(A$e9, =endidos serão d(escravos Tristes filhos d(9srael1 =endido verão d(infmia agrado, puro &essias! &uitos soes hão de tur$arse...D 0or2m, calou >eremias. 6omo ao chefe poderoso, ;atal 7 $ela +rleans, 6omo ao rude pegureiro, 6omo 7s rosas cortesãs! % quantas ve-es nas grutas )ão verás teu coração, 14
6omo do demnio opresso, acudirte a vi$ração?... esus! %stas paredes salpicadas, negras, edenta a terra que pisavam monstros %nsanguentou de pranto... e roto o corpo e lançadas cru2is... desfalecia a lagrimosa mãe nos castos $raços, Que a fronte $ei3a que os 3udeus cuspiram! ;ugiram seus disc/pulos1 a preço eus vestidos os cães dilaceravam!... Ali a fenda pavorosa, escura +nde os supl/cios uma ve- descansam ' 6áli5 amargo de a-edado fel, 6(roa tecida d(espinhosa vime... 9nda este vento que na cru- se enleia ' &eu eus! meu eus! porque me a$andonaste? ' 0arece repetir como se o lenho )essa vo- eternal fundida fora* entro ainda de um sol ve3o uma fronte, % dentro dela uns olhos de piedade!... + c2u trBs horas s(envolveu de som$ra1 o dia a nona o v2u do templo rasga, 6omo o raio divide a noite densa, % caio trove3ando em duas partes1 Tremeu a terra e se fenderam as pedras! %rguemse os mortos que dormiam, correm )ovos viventes visitar seus lares! o$re esta rocha deslocada um an3o e sem$lante de lu-, de argBnteas vestias 15
Assentouse, e de um $raço tão nevado + caminho apontou de alil2ia orrindo 7 lamentosa &adalena, Que chora de pra-er compridos dias, %ncarnada visão dourando as nuvens...D 9a falando como o vento grosso )a mata, a filha pela mão, que ouvia &ovida e terna o compassar prof2tico* )a garganta gelou sua vo- dorida, 6horo rouco vertendo* era tão triste, o passo tateando, os olhos cheios, "ma entrada por onde ele sa/sse! +s ecos desca/am das ru/nas, %ntre os p2s delas repousaram lentos. ' antos sepulcros! perenal sossego, &isteriosa pa-, soidão profunda uspensa em som$ras ' qual vapor dei5ando Fevantarse a verdade nua e $ela! Que não em cornos de loquace fama. +nde vais, po$re don-ela? CAh, senhor meu pai morreu!... A todos ela a$raçava, 6orria louca e gritava* C=ede a lu-! a lu- 2 $ela... &as a 4rfã desgraçada Ho3e s4 por essa estrada... Ah! senhor, meu pai morreu...D A rou5idão do ocaso apenas dava 0elas montanhas da cidade santa* % num silBncio pensativo o velho, 6omo o que a noite fa- su$indo os astros, escansou numa lasca da ru/na1 Favada do crep#scu(lo a fronte calva, %rmo rochedo que as escumas cercam, )os om$ros virginais da filha amada "m pouco recostando adormecia... % meiga infante com seus dedos r4seos as faces lhe tirava os regos d(água. ' a noite a $risa se alevanta e verte as suas asas em torno dela o sono* 6oros celestiais cantando ouvia 16
%m seráfica vo- num sonho vago, Quando ao seu grito despertou* d(aurora 9nundada ' e seu pai $uscava em vão! 9nda alguns dias, nessas mesmas horas, + clarão $oreal se apresentava1 ;ormado a pouco e pouco, e se e5tinguindo Tão docemente. )em not/cias houve &ais da po$re filhinha que o guiava.
VI - A HÉCTICA De amor e gozo, ela ai morrer a"enas a laran#eira da ida come$aa abrir%lhe a ig&sima%nona flor' suas folhas crestaram no i$o, a seia não circula mais((( mulher! )ascer ontem, morrer amanhã, "m s4 dia na vida e5istir, Ho3e s4! como a flor da romã, =er sua p2tala ru$ra cair* &ariposa das noites mimosa, =endo a aurora na $ela candeia, o$ressalta ao nascer, e amorosa eu encanto sua morte incendeia* Alvo p4 de suas asas trementes, Todo o corpo em amor desfa-endo1 +lhos grandes de =Bnus umentes 9nda $elos de morte languendo, 9nda amores pedindo famintos )o pesado levar derradeiro +u caindo, qual lmpada e5tintos e envolvendo no crepe agoureiro* &ulher! tu não vieste so$re a terra 0ara a impura e5istBncia* nessa idade (infantes anos, folha tenra e verde Fançada pelo vento so$re o t#mulo, 6ontra/da e mirrada. 9gnorante, Que de ti tu não sa$es*... 0rovidBncia! 17
Que ao menos morres sem sa$Blo ainda. frega, acesa, devorando amores em temperança, num s4 golpe o cáli5, erramando d(e5cesso e de ofegante, Aca$asteo, ca/ste em$riagada, =oluptuosa1 num suspiro longo + veneno tomoute. % tu nem pensas 0orque medrosa e trBmula palpitas1 0orque $atem tuas fontes, fugitiva, 9nconstante te a$raças toda inquieta 62us frios $raços de marfim1 2 as trancas esdo$radas penduramse em teu corpo* Anelante, fren2tica, demente e um go-ar... que não há nem 2 da terra* ;usão terr/vel do inferno e o c2u! ecos lá$ios em fogo e os olhos #midos Fampe3ando fugaces... % eu maldigo e minha ve- o amor! o amor, que 2 vida. &ulher, an3o celeste que minha alma Toda a$ranges n um riso, 4 meus amores! )ão tu, que me ouves* eu te choro, sim, 6om piedade sincera e dor que sangra1 &as so$re os teus meus lá$ios nem meu peito )ão se alimentam, não* mulher sem mancha, @ela e simples, mulher como eu compreendo, An3o, irmã, doce esposa e mãe do homem, eu amor e ideal, com essa eu falo. Ó desespero, 4 fado! e sempre, e sempre )essa queda a$ismosa! lindo fruto a manhã suspendido 7 fl4rea coma Que a $orrasca fatal, que a mente acende, Agita e lança ao p4* co$reo a poeira, 0asto dos $ichos, apodrece e aca$a! % o mundo todo escarnecendo dela, ua v/tima, se o $rilho a cor apaga % as faces murcham. %ntão passa mendiga1 % os homens que de amor ontem nutrira, Que em seus lá$ios arderam, desdenhosos 6ospemlhe a fronte! e na mis2ria some. Amor material d(imundas v/timas, )ada tens de comum com os meus amores! Ó sorte da mulher, destino horrendo e apascentando em casta virgindade, 18
Tigre tão farto! e descansar nem sa$e o cndido re$anho todo avaro &atar ' somente o sangue $e$e e a $oca Ama eterna em cruor $anhada, e dorme! em vida o coração, pisado o corpo, 8rido e vil $agaço agora o dei5a o$re os campos aos corvos, 7 imund/cia. Ó sorte da mulher! An3o coitado, em asas, sem voar... quem fe-te assim? : tua vida somente o despontar, Quando longe do amor o peito dorme (ecos va-io do estrondar das veias, Que vão som$rias, e os sentidos livres 9nocente se e5pandem, como esta árvore! )a face o fresco virginal, e os olhos 6heios de humor de lu-1 2 flor a$rindo Toda perfumes, nitide- e cores, Que os insetos rodeiam ' não na toquem! Toda doçura e mansidão, agora Toda selvagem, d(infantis crue-as, (inconstncia infantil1 ora piedosa, Toda um riso e $rincar, toda esquivança, =ergntea ao vento, singele-a toda ' ;oi sua vida em $otão. % o vento sopra* % mais forte a vergntea 3á resiste, 0ara o $reve estalar... e sopra o vento* % 3á n(alma lhe anseia amor1 seus olhos, eu coração, suas veias, todo o corpo %m$o$orado em amor, o cáli5 pende, A flor a$re ' ai, coitada, o fim Istá pr45imo, As folhas pelo chão vãose perder ' e queres ser feli-, amor não queiras* &as onde há vida quando amor não ha? Antes a morte ' ou ama eternamente, % nem te iludas porque não viveste... A vida toda está no fugir dela. % o homem ruge contra ti d(impura, )o3osa, imunda criação da terra, Tu, fraco, sedutor, monstro fala-, 0orque de 3oelhos lhe $ei3aste os p2s? onde veiote a fala tão sonora, Que em $alido amoroso a ovelha arrasta, 19
@ranca, indecisa da e5istBncia ao t#mulo? onde veiote o pranto, mentiroso?... % a po$re crente, que tu di-es, finges %la o teu deus que teus des/gnios rege, Arrancoute da morte, e triunfante, %m seus del/rios natural perdida, eme em teus $raços... 0álida desperta, olitária se achou! espalha a vista e si em torno, em solidEes va-ias, % rompe fundos ais! ningu2m a entende. @aço medo escorreuselhe no corpo1 =estiuse de mortalha, 7 terra, e s4! Fongos adeuses, por2m tarde, e5pira. % o homem? como ave ensanguentada a rapina noturna alça o seu canto, )em olha para trás fugindo ' a infame. +h! não te rias da po$re-a sua* ;raca e amante, que grande-as d(alma Humana e franca! @ruto, que a calcaste 8s plantas vis, demnio dos infernos! )isboa
VII - A... Tu não 2s como a ára$e infante %ncantada no $ranco corcel )os desertos d(areia $rilhante, 8urea adaga no cinto de anel, +u na doce ca$ilda ' ondulante )os amores de louro don-el1 )os floridos quiosques saltando, +u n(ogiva fumosa a dormir, 6ousas d(8sia amorosa sonhando, Que sonhadas se fa-em sentir* Tu não 2s como a ára$e ' amando Tens no rosto mais santo sorrir! )em semelhate a r#tila estrela, )em as ondas douradas do mar, )em a flor mais esplendida e $ela1 Terra e c2u não te sa$e imitar* @rilha uns olhos de $ron-e a don-ela, ocemente te ve3o a me olhar. 20
*lto Mar
VIII - VISÕES +ui, mademoiselle, adieu( adieis "our tou#ouras( im, don-ela, te amei, v/tima po$re os caprichos do homem vão do mundo* &inha fala escutaste, a vo- sonora os lá$ios teus $randiu lá na minha alma, Tanto dentro a calar e tão suave... &as, um momento* esvaecia aragem 0elos sinos da torre que dormiam, % passou. 9ndeciso inda o silBncio %slava e $elo, quando estala o raio* 6ndidos seios virginais tremeram, ensitiva mimosa se fechava* ;ormosa lu- do sol se esverdeando 0or frescos ramos de frondoso estio, Que a nuvem tolda, que o tufão desloca. ' "ns olhos infernais, $lasfBmia a $oca Fatiu danosa contra ti, 4 deuses! )em tu mesma o sa$ias, d(inocente % descuidada amando, os sentimentos e flores pela morte assim te davam. ;i-eramte sa$er que era de amores Que vermelha te vias, tão vaidosa, + pensamento meu, no fundo espelho A radiar de formosura e encanto 0assando, te enlevando, ora assaltada Quando o sangue alterado reflu/a %nvenenado ao coração* me vendo, Que tu amavas para sempre o creste. %ras como ave-inha que 7s primeiras +ndas do sol sacode e estende as asas. Ah, que o mesmo nascer dessa manhã ;oi pr do sol do amor, am$os morremos! >á foges diante mim, teus olhos $elos o$re os meus, vergonhosos 3á se apagam %m mudo prantear do que passouse. ua ca$eça me encostou no peito )amorado, sua nuvem de ca$elos 21
(am$rosiadas noites na montanha espe3ou nestes om$ros longos crespos! 6heirosa e pura, como os l/rios são )o vaporoso e cndido crep#sculo o luar da lua ' respirei, por nuvens, + corpo seu de vaga suspirando. %u vi fundido um s2culo numa hora! % ho3e as horas seculares sinto e desencadeando dos meus dias... oluçaste, ovelhinha mansa, ouvindo + tronco de que 2s fruto 7 ventania
0or minha imagem não manchar teu peito* Tão puro como o achei respire eterno. Tam$2m não sei... não quero verte, e morro e penso que esse amor desses tre-e anos Que primeiro por mim saiute n(alma 6omo o sol no oriente que esperasse omente por seu dia inda nas trevas, 0ara 7 vo- do enhor apresentarse, Tão de ontem faleça a lu- das alvas! &inha flor que eu plantei! +rvalho dela, J2firo dela fui... quem que arrancoute a terra pr4pria, para transplantada )(outro clima te dar, onde lá cresças, % 3á planta mais fraca e triste e pálida? Ah! com que viço o teu amor vingava! Ah! se somente a mim, don-ela, amasses, 6omo feli- tu foras, ensopando )um s4 amor lua alma!... Tu, sem crença, /mpio, assassino, homem, que eu mordera Teu sangue! mas, respeito* dele corre eiva de flor* a veia torna l/mpida 8lveo puro. 6o$arde eu fui, 4 meiga, 0elo mundo fugir, darte o despre-o! ' + Fuso como 2 $elo ao deus da sorte =ida, amor e5alando! o Tasso amante, =/tima assim, os dias seus prolonga )um t#mulo que os ecos lhe esfriavam os ais doridos, de um ou dois seus passos )a terra entrando* >osafá piedoso, Teu pranto vai morrer no lago impuro, %st2ril 7s cidades, e o orrento &esmo, viste o orrento como as cin-as as prostitutas que cercavam o Asfaltito! % o cantor de &ar/lia, quando os campos uas ervas estremecem de escutálo %m tão saudoso adeus lá se ausentando, @ranco touro amoroso das pastagens &ugindo aos montes, arrastado o levam 0elas torpes correntes da pol/tica emer em negros climas! 9nda amam Todos eles morrendo* eu 3á não te amo ' %u que te amava, e não co(amor de lá$ios* 6om amor d(alma, em que eu amo angustiarme, 23
%m contraçEes de morte me e5aurindo1 %ssa pai5ão de f#ria ardente, horr/vel, Que soe peito de poeta arder sem fim! arte ao mundo, sua filha, por no mundo %smagarte infeli-, -om$ar de ti! )ão sa$es, atro cão, que a $ranca virgem (homem carece para amála, e amante oces harpas lhe afine, onde ela passe =iva e mimosa 7 idade que não morre?... asta o ouro a mão d(homem, o tempo o mármor ;a- cair das cidades, podres frutos, =ãose com o tempo os deuses1 mas a lira, + s2c(lo, as geraçEes passando ouviram 8 eternidade, e o tempo asas nem corta. % ver não temes da inocBncia os dias, Fongo viver, finados tristemente, %scorrendo das mãos de vil mat2ria, Quantas ve-es no v/cio mergulhadas? +h! tu, porque me amaste? e os no$res tantos, Que te incensam de roda, não $asta vão? 0ara que me quiseste, eu longe andando? ;oges deles para mim... )ão* emudece 8 po$re-a, ao candor* tam$2m no $osque ei5a a selva frondosa ingBnua pom$a, =ai no pálido e fraco e humilde ramo
%5pirando em teu peito1 esta saudade Que dei5aste em$alandome nas lágrimas... %u sou ditoso de perderte! adeus... Adeus! perdoa, se inda o podes, virgem!
IX - O ROUXINOL
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=Bs o sol como refulge epois que a chuva estiou,
X - CANÇÃO DE CUSSET 26
e fosses, moreninha, sempre $ela, Tão $ela como 2s ho3e nesta idade, %u fora e5p(rimentar se amor perdura, Te amando muito. %u sei que amor e5iste %nquanto $rilha A flor da mocidade resplandente1 0or2m, que logo morre, quando os anos A vão murchando. + sonho que de noite nos em$ala %m vagas estranhe-as não sonhadas, Apagase com o sol ' rompendo as nuvens, %le 2 qual 2* )ão sa$es, moreninha, que os amores ão astros deste c2u do nosso tempo? : noite que, passando, al2m d(aurora ei5a a lem$rança? )ão quero pois amar, sentir não quero A dor que sempre d4i, que sempre dura aquilo que passou tão docemente % tão de pressa! %u tenho inda saudades dos $rinquedos os tempos festivais da minha infncia, os $ei3os que $e$i da mãe querida % a $enção de meu pai1 %u tenho inda saudades da don-ela, A quem dei meu amor, o amor primeiro! % ela ao romper d(anos tão queimada )essa pai5ão! +s lares paternais, meu $erço amado, 6om quem no $osque andava os companheiros, Amigos que eu perdi... $asta p(ra a vida Fevarme ao fim. ich-
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XI - UM DIA É SEMELHANTE À ETERNIDADE )asce a menina, e suspensa 6omo um fruto matinal orme nos seios da mãe, @ela serpente do mal. >á desperta no outro dia, @ranca rosa a$rindo amor, e co$re de pe3o e graças, 6omo os mist2rios da flor. % foi virgem s4 num dia, % no outro dia 2 don-ela, %sposa e mãe 3á mais tarde Tam$2m cria a prole $ela. Quando não foi prostituta % n(alva a estrela apagou, )em foi a fria velhice Que so$ os p2s a calcou... Quando no crime e nos v/cios )ão afoga o coração, Quando maldita não some e$ai5o da perdição. % 2 sempre a mesma cena Que repete, ilude o mundo, 6omo a página dos anos, 6omo o sol no c2u profundo.
XII - MINH’ALMA AQUI! %is o c2u todo estrelado. %is as campinas do prado, %is o monte cultivado Que tantos anos não vi! Andei por terras estranhas, %ntre amor, $2licas sanhas, rande-as eu vi tamanhas! 28
% sempre minh(alma aqui! 0ela cndida capela o vale, sonora e $ela, +nde o pastor, a don-ela alvas cantão do enhor1 0ela campestre harmonia, 0or esta vaga poesia, 0ela inata simpatia a nature-a do amor1 0or este $osque de flores %ntrelu-indo em verdores, )o pa/s dos arredores +ndeando o plano e o monte1 0or minha terra palmosa 8 tarde, enferma e saudosa, Quando manada formosa =aria as margens da fonte1 0ela r#stica choupana o lavrador, da silvana, a co$erta americana %rguendo espiral o fumo, Qual no hori-onte do mar @ranca vela a $alançar, A lu- d(aurora a cortar ereno, transverso rumo* %squeço o mármor lavrado )as cidades levantado, 6omo figuras do fado 0or nuvens metendo a coma1 %squeço o c2u so$re a terra1 oirado gelo na serra, As torres que desenterra agrada, ruinosa
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XIII - A VIRGENZINHA DAS SERRAS =Bs, 4 mãe, que vão di-endo, Toda a gente do arra$alde? Que eu amo, por2m de $alde, Que o meu amor vaise em$ora, Que na lira se evapora Tanto amor que ele me tem... %le deume um $ei3o, ardente! Tão doce como a sua fala, Que de sua $oca se e5ala 6omo o perfume da flor1 &as... foi um $ei3o de amor, Que ainda me queima o rosto. &eu coração estremece, &inh(alma foge de mim* %u nunca senti assim + correr da minha vida... A pa- da infncia 2 perdida, &inha mãe, eu vou morrer. %u agora o compreendo* %le chamoume infeli-, )em mais afagarme quis, )o3ento da sorte sua* Ho3e $ela como a lua. 0ara enoitar a manhã. %le chorou uma lágrima )a minha face, coitado! %ra tão triste e mudado... &eu eus! me vendo, di-ia, % eu de ouvilo tremia em sa$er o que ora entendo* Centir amor nessa idade, C)esses tre-e anos de flor, CQual manhã tinta de cor, CQue logo se esvai no dia... C6omo a tua sorte, &aria, 30
C6omeçate ho3e enganar! CTu sa$es? eu vou partir... CQuem dera que eu não partisse! Cempre comigo te visse C%m vida eterna de amar! CAdeus, &aria, chorar Ce3a sempre a nossa vida.D &eu senhor! porque me olhaste? 0orque me ensinaste amar? % tu vais correr o mar %, talve-! queimar por hi Teus olhos que so$re mi e amorosos se e5tinguiam. Que queres do mundo? e sa$es +nde vais? o que procuras )essa sede de loucuras? +h, não vás... fica comigo... 0or estes vales te sigo as minhas serras de 6intra. 9rei de ru$ra saloia 0lantar a terra lavrada, % de$ai5o da ramada )a calma te acolherei* Teus suspiros $e$erei, )a serra gemendo as águas. &e vestirei como as flores... 0ara a lira te enflorar, 4 por mim doce a tocar! Humilde no teu mandado, 0astora de nosso gado, %u serei, oh! tua escrava. % uma escrava te não! $asta % uns amores de tre-e anos? 0elos c2us americanos e 6intra a filha não queres... Tu choras... não tem poderes +s olhos que a pátria choram.
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%u te sigo... Queres livre Ter no mundo o coração. "ma cativa 2 prisão? % s4 maldi-es tua sorte, % s4 me falas de morte* a$erei te consolar. ' :s selvagem dos teus $osques, os teus climas do equador* olta a vida, solto o amor Ao falar da nature-a1 Tu amas pela aspere-a
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XIV - HORA COM VIDA %u contemplava o c2u no pr do sol, +lhando para o sul. Ana comigo, epois de toda a tarde em nossos $rincos, )o cair do crep#sculo assentouse )os meus 3oelhos, pensativa olhando1 % depois nos meus om$ros por dormir ei5ou pender sua fronte sonolenta, 6omo essas flores de alegria, como A rosa $ranca matutina, infante @ela entristece no fechar da noite. orme, flor da manhã, sono sem sonhos )a árvore do amor, pom$a celeste Que adormeceu na terra, sB meu -2firo 6om teu alento virginal* teus seios 6omo nos seios de tua mãe eu sinto. 6omo et2reo rochedo, negra nuvem 6omeçou a crescer1 atrás se a$riam
6omo de um sonho mati-ado d(B5tases. 6orri a minha mão no corpo d(Ana* Qual num raio do sol mimosa pom$a Arrepia o pescoço, estende as asas %m sensaçEes gostosas, se encolhendo, &e apertando com os $raços longos, $rancos, %stremece, e tão plácida ondulava! )o manto meu agasalhada, #mido 0elas ra3adas que de um lado entravam. %is uma hora da vida que me encanta. Ah, que um(hora eu vivi nesta e5istBncia! ' &eus sentidos, minha alma 7 tempestade Horr/vel, $ela1 e so$re o coração "m an3o virginal, uma criança. ' %la depois faloume dos trovEes, Que vendome tão quieto não temia ormindo1 e deume um $ei3o, e pela mão Fevame 3unto de sua mãe re-ando.
XV - VEM NOITE ./ "artem do ocaso as sombras "rimog0nitas da noite' #/ imagens de amor diante mim reoam, nascem meus lado, chamam%me 2 e eu estreme$o! =em, 4 noite esperançosa, o$re a montanha descer, )as asas som$rias, longas, Tantos crimes esconder. Fá fuma a linda ca$ana +nde irei morrer de amores. =em, 4 noite, me arre$ata 0ara a filha dos pastores. 6om teus mádidos alentos, =arrendo a flor e os perfumes, Amorna o fogo em$alado 0elo aquilão dos ci#mes. ;u3o a eus, que me condena, ;oge a filha ao velho par ' 34
0ara amor! oh, vem, 4 noite, Tantos crimes ocultar. *utcuil
XVI - "... 3amb&m "or entre os cardos abre a rosa( Amor! amor! na mangueira >á cantaram os passarinhos* Acorda, 4 linda, no monte =amos ver nascer o alvor* &esmo assim desentrançada =em, não tardes, meu amor! G frescura repousemos o $oninoso pomar, &eigas auras, meiga flor 6ontemplando, 4 doce amor! A $or$oleta respira % deslaca 2$rios revos, 6omo a folha solta ao ar* &as 7s correntes do olor )ão, não anda, 4 virgen-inha, Fouca, louca vai de amor. 0rateado rompe o l/rio )evinitentes casulos, á se douram teus ca$elos, ourouse toda a manhã, Teus olhos dão mais fulgor )ão fu3as... 4 doce amor! 35
;oi o sol como 2 formoso, Feda $arca em mar de a-ul ' ;a-es do mundo um primor! % mais que o mundo o teu rosto r osto (e$#rneor4seo palor* 0or ele que tudo alegra, 0or ele ru3o de amor. o$re n4s verga a ramagem + murmuroso espinheiro im$oli-ando o pudor* Ó virgen-inha os espinhos )ascem mais onde há mais flor* 0udi$unda e rigorosa Tam$2m me foges, amor. Tens medo que o sol te ve3a? este -2firo em tuas trancas? Tens medo que o sai$a a flor Que tens nos olhos amor? 6oitadinha, an3o inocente! As asas de musa temes &anchar da manhã na cor o primeiro sol da vida! % delirante em ru$or Ao seio as fechas, nem sa$es! 0lantando rosais de amor. 4erlcuman, 185
XVII - SONHOS DA MANHÃ *((( ;oge do sol, 4 noite, lenta $arca, =ais no golfo do dia naufragar* Aqui somente os temporãos me agitam*
+h, maior do que um deus, do$rado escravo o$re a terra, meus olhos te adoravam! %stranha de me ver assim, teus olhos 6astos se envergonha vão. %u $ei3ava os teus p2s, que nos meus lá$ios e contra/am fugitivos, frios, Qual trBmula mimosa sensitiva )o calor dos estios. (inocente, ignorante, qual murmuras T/midas negativas amorosas, Que somente se lBem na cor das faces 6omo vermelhas rosas. 6ercada de uma lu- religiosa, Tens dentro das tuas mãos a minha mão* )ão se ouve uma vo-, somente arque3a A $oca e o coração. )ossos olhos formavam longo pranto... +h, quantas ve-es l/mpidas torrentes %ngrossaram de novo adormecidas &ori$undas correntes! 0or so$re o nosso peito ondeante $ai5os e$ruçavam sua lu- morta, em$e$ida )as águas dos seus rios da esperança 6omo d(e5tinta vida* 6omo dois coraçEes que se $uscavam, %rrantes som$ras de soidão, de d4* Que$rados de emoção estremeceram, 4 pranto... e pranto s4. +h, tu nunca me olhaste! e o que mais fala o que essa lágrima espontnea, pura? 6omo o sulco celeste, como as veias
>ulguei a vo- soltasses* ;oi $rando soluçar1 como na areia 6ai suas ondas a-uis quei5oso mar, 6omo a lua, passando as 3ardas nuvens, á sentia no teto as andorinhas, an dorinhas, A calhandra no ramo, o rou5inol %ntrando pelas fendas, e os o$reiros, Tudo di-ia o sol. ' Temeste acaso que de ti sou$essem?... 6a$ia a minha mão* eu despertava a tua adoração* perulea som$ra >á longe se apagava. Qual linfático sol ve3o rodeando &eu corpo como a terra, que fecundas e força e vida1 qual de amor, d(esp(rança Toda minh(alma inundas* epois, desfe-se em raios vaporosos1 &eu peito era s4 lágrimas* eu via, Toda minha e5istBncia desgraçada )o sonho se esva/a. % de hora em hora mais eu tenho amor* %u a$ro diante mim som$ras da morte 0or verte no long/nquo duvidoso, %m$ora, em$ora a sorte! : por ti que estes montes frutificam, Que estes campos do mar são meus amores1 : por ti que nos c2us tenho um s4 eus, )o prado tantas flores! Tu 2s a vo- que e5primo, 2s 2 s o meu eco, :s minh(alma, 2s a minha eternidade! Ó noite, volta a minha vida, apaga o dia a claridade!
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XVIII - M... &aria, porque choravas )a minha triste partida? ou tão longe, escuto ainda A tua quei5a perdida! + nosso amor educado os $erços, na solidão, ;oi como a flor enganada Aos $afos da viração. 6rescemos* e d(inocente &e davas o teu amor. Ameite! porque te amava, ;ui teu sevo ceifador. 0or2m, essa flor colhida A grata som$ra da palma, %ncanto! ideal mimoso! Aroma eterna minh(alma. Ameite! tua vo- d(aragem Ainda ouço, don-ela, )os olhos meus em$e$ida ;oste para sempre $ela. :s comigo em c2us estranhos, Toda formosa aldeã. 9nda 3untos nos deitamos )as ramas do pirinã. +s anos que vão descendo e3am dias d(esperança1 A noite de tempestade ucede o sol da $onança. &aria, dos olhos $elos As veias l/mpidas pára, )ão laves do fogo as faces Que eu amoroso $ei3ara. &aria, constncia e vida, % todo esse amor d(outrora* 39
+s anos a flor não murcham Quando o amor não descora. 4aris
XIX - PO#RE $ILHA DA POL%NIA "ns olhos d(eterno, saudoso cantar Que em ondas van-eam, se arqueam no mar Que em pranto se fa-em Que em lu- se desfa-em e enchendo de amor1 "ns lá$ios tão tintos e vida e pudor )ão vendas, don-ela e fronte d(estrela! %m$ora mendiga, chorando na terra (estranhos, sem pais, )ão manches essa alma no go-o mundano, Que o c2u vale mais! Tiranos oprimem tua po$re fam/lia, Tua pátria infeli-... A ;rança 2 tão $ela! coitada ave-inha, Tu se3as feli-! %ncontres um ramo nas selvas gaulesas. +h, lua mãe te faltou, virgem, $em cedo, ;lor sem rocio, rou5inol sem ninho! % nossa mãe perdida... chora! chora! Qual pára o via3ante, e mudo e triste Ante o a$ismo... não foi da morte a id2ia* % nem pranto e nude- sem dor os homens Te viram, lindo c2u d(alvas estivas. 4aris
XX - #ERÇOS DO AMOR PRIMEIRO KE47D9L Tristes recordaçEes! a mãe chorosa, 6omo quem $usca confirmar um sonho Ante a som$ra que fica do passado %rrante pelos s/tios tão queridos )uma saudade sem poder dei5álos, 6arpe sua filha amada* 3ulgou vBla 40
)aquela flor ao vento s(inclinando1 =aga promessa a nature-a e5prime %m doces gestos de quem vai ser mãe, % ela 3á sente palpitarlhe os seios, %la em$alalhe os $raços d(esperança ' %spera ' assalta ' vai ' por2m sorriuse, ;oi leve sussurrar daquele ramo. + amor materno triunfou, que$rouse &undano orgulho aos p2s da humanidade* Tudo a convida 7s lágrimas, e o mundo : tão mesquinho, que um amor somente + fa- esva-iar! elira e geme, =endo harmonia a$ençoada em tudo, ua filha amando como as aves amam, 9nocente e divina, e ser maldita ;ugitiva do lar* remorso a come ' 6erdosos 3avalis a acometendo, %m gritos, sem lhe a vo- sair dos lá$ios ' % seu vivo sonhar. % contra o filho + homem, que 2 mais $ruto, inda fremia! )os $erços viviam d(argBntea e5istBncia Tenrinha don-ela, 2fe$o gentil* &ais eles cresciam, mais neles vi$ravam Assnias d(amores na crença infantil. Tão linda era a virgem! mais linda que a lua )a
"m sonho de um dia somente sonharam. %m lá$ios ardidos não dormem suspiros, Qual aves de fogo perdidas no espaço 6arpindo seu ninho, seus olhos se fecham, 6oitados amantes, ouvindo o fracasso. % filhos da infncia que amavam seus pais, >á ouvem suas $Bnçãos em mudo terror* Tão doce d(outrora, sua mãe a$orrece ' &ais crua se a leva, mais nutrea de amor. o$re os 3oelhos paternais o moço elirante caiu nas mãos sostida A fronte apai5onada. %la inocente As disc4rdias senis* CenhorD di-ia, C&inha vida não dais, eu sou mendigo C0or serdes pai, e s4... na divindade Ceste amor que 2 do c2u minh(alma apuro* CQue não se3ais maldito nos meus lá$ios C&eneai a ca$eça C6respa de cãs* de$alde não são elas C+ selo da prudBncia...D em$lante de punhal cingiulhe o aspeto, e amarelo clarão $anhado e tinto os olhos dentro de uma som$ra negra, Qual se gBmeos não fossem, transtornados1 =acila o corpo1 os dentes se arrastaram %m seus rancores1 convulsando os $raços, =/scida $oca $iliosa impreca* C=aite!De repete* C=aite! C% o pranto, fraco! desses olhos tira.D olitária estava a virgem )o seu e5/lio de amor, %m torno dela gemia, %nquanto a $risa corria 9ndecisa, $reve flor ' Timidamente e5primindo eu viver encantador. 6om seus p2s sua mãe se a$raça Toda em lágrima $anhada* eus olhos eram piedosos, 42
eus ca$elos envirosos, 6omo a sua alma cortada, olorosa a cru- do 6risto )a mão de cera a3untada. Apresentalhe nos $raços +s lácteos seios que amou e maternais vi$raçEes, +nda n(alva dos verEes Que o mar na praia ondulou* C%la nossa ilha pre-ada C% este sol que eus criou, C0elas flores que plantaste C)as terras do teu 3ardim, C0or este lago dormente C% pela verde corrente CQue cerca os p2s do 3asmim, C%las aves que te amaram, C;ruto que nasceu de mim! C)ão queiras de um pranto f#ne$re CTudo murchar que foi teu* CQue valem do mundo amores, C6omo estação de verdores, C6omo uma aurora do c2u?... Cesgraçado o amor que a filha C%m fera vil converteu! C&eu caminho tu levaste C0ra o encontro do amor* C%u era ovelha inocente, CTu vias essa alma ardente, C% nem vias com terror C"ma pai5ão que crescia C6omo para a morte a dor! C+ amor com os anos muda C%m cada quadra da vida* CHo3e 7 mãe pertence a filha CQue depois o amor humilha. C:s culpada, 4 mãe querida, Cigo as leis da nature-a... C)em sou maldita perdida.D 43
9ra de pais da terra si$ilava 6ontra o casal de eus e de natura. ;lores, a$rivos, perfumai a relva )os $raços da soidão1 som$ra da $alsa, 6ai fresca e trBmula dos -2firos1 =inde do monte, estrelas taciturnas, o monte, 4 sol de raios criadores, Aos cantos matinais da cotovia! % o colono cantava* C)os meus vales da ermnia, C&eu amor 3unto de mim, C)unca o dia foi tão $elo, C)unca a noite amei assim! C&orremos num sol ' do c2u C)osso amor foi tão somente C"m raio puro do %terno, CQue logo a si se recolhe Cestes pedestais do inferno.D ' : vo- et2rea ' os amantes i-em sempre quando a ouviam air do rio ou do campo ' &orreram num sol! tão $reve 0assa na esfera o relampo. ' )uma noite de pra-eres Quando as lu-es se apagaram, % long/nquas desmaiaram onorosas vi$raçEes as copias que eles cantavam )o mui saudoso violão, 6omo opresso coração Almas irmãs e5alando1 Quando pelo ameno rio u$iam longas canoas Fonga palma em curvas proas, =ela de ramos ao vento1
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0elos $ancos de remeiros )oturnas alas cantando, &elodias $alançando )o silBncio dos mangueiros, &elodias encantadas, &elodias que chora vão Que nas correntes $oiavam as mansas águas do Anil ' os regolfos 7 cadBncia o remo na pá tangida, 6omo 7s ve-es comprimida 0arece a nuvem cantar1 Quando num leito de som$ras 0álida lua descia, 6omo que seu rosto erguia Fá de trás dos hori-ontes ' 0or ver os astros ficando, 0or ver a terra 3a-endo, 0or ver 7s auras correndo @rando arfar o palmeira! %sse rumor indeciso a nature-a, a ardentia Que ruga a proa e desfia u$indo na mar2 cheia1 Quando o monte está dormindo o$re os vales de$ruçado, % som$rio e rodeado e vago e $elo pavor ' "m(ave parou no teto, )(asas o sono estendeu* )em mais o vento correu, )em mais ouviuse uma vo-. %ra o tempo em que os campos do outro ano Queimam os pastores ao pascigo novo* "m fogo oculto da 3uncosa terra +s seios lavra e lam$e. o$re o rio. 45
4, pendia a ca$ana graciosa o par amante em páramo espaçoso @ranco ar$usto de flor entre a verdura. =irentes trepadeiras nas paredes + $u5o e a primavera s(estendiam, 0erfumadas de flor* % arde o fogo na flor, arde a pindo$a %m rápido estridor. %ntre o fumo de altar, $atendo as nuvens uave claridade entrou no c2u. >á nada e5iste! 0assando os pescadores na corrente, 0erguntam C=iste?D % o $oato correu. 6onta na hist4ria >unto do fogo de 7 noitinha 7 porta, A calada da r#stica fam/lia, 6ndida e crente o camponBs vi-inho* C)ão descam$avam as estrelas ainda* C=i florir no oriente uma roseira C6omo o dia* so$re ela revoaram Cuas rodas de nuvem tão $onitas, CTão l/mpidas, tão alvas como o pom$o! C% a roseira as levou ' rosas e o dia ' CFá para o fundo do anilado c2u. CTornou anoitecer* e so$re as margens CA ca$ana das vo-es arcang2licas, CQual na entrada do estio os passarinhos C;a-em seu ninho, se aninhando cantam, C)ão viuse mais1 assim desaparecem CFá nos mares do )orte ás luas mortas C0alácios encantados a desoras.D Quanto 2 doce a desgraça dos amores, A lem$rança das lágrimas en5utas ervindo de horas vagas namoradas As camas d(ara$rosia, são prel#dios e um eterno go-ar que os c2us ensaiam! ' &as os dias feli-es são tão poucos... >á nada e5iste! 0assando os pescadores na corrente, 0erguntam C=iste?D 46
XXI - O PR&NCIPE A$RICANO KE47D9L 9 amor do c&u em terra s: 4or um dia, e morre como as flores morrem( C@ela escrava da minha alma, o leu pr/ncipe senhora, Adeus ' a ilha m(espera, >á desponta a ru$ra aurora.D C)ão, 4 pr/ncipe, não fu3as a som$ra da tamareira* 4 contigo, como 2 doce escansar nesta ri$eira! +lha, a praia 2 tão deserta, Tão deserto este areai... =e3o o mar leão sanhudo 6om sua 3u$a de cristal.D C;ilha da noite sem astros Ó filha minha, )Mdah! ;lor do verde sicmoro, ias de sol do aarah, &il homens levam a guerra 8s margens do enegal* %m ferros trarei mil homens )estes caminhos de sal. Quando a lua andar trBs ve-es, =indo depois a nascer, os teus $raços desatado )os meus $raços te hás dever.D C)ão, 4 pr/ncipe, não fu3as! )ão sei o que n(alma eu sinto... &orrerei... se assim te fores* 6rB nos meus olhos, não minto.
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A vo- d(a$estru- n(aurora, %stes soluços do mar, + vento morno, o c2u triste )ão sentes tanto falar?... >á de$ai5o do $ao$a$ =Bem com o sol saudar o dia* agrado o fogo se acende, Templo de folhas lumia* @atendo o p2 das ra/-es, i-em aos teus antepassados Que 3a-em dentro do tronco Há dois mil anos passados' Que venham ver seus dom/nios, Que ainda e5iste a nação ' Todos adoram cantando, Todos 3oelhos no chão. Acordam... vão pelos galhos As som$ras dos velhos reis... + povo e o reino $endi-em =ivendo n(antigas leis... ;i-eram o giro... lá descem )a ordem da sucessão... %m torno o povo 3á dança,
% esse vegetal sarc4fago +nde dormem teus av4s, )au perdida ve3o em mares... ervindo de terra a n4s!...D Amor de gl4ria insensata =ence os amores dá escrava* % o coração que não mente =ingança dele $radava. 6omo ave a fugir do ramo, Que prende o laço, a don-ela ua alma tem pelas asas %m forças nos $raços dela* % mais longe indo a piroga, &ais a luta se animava* % d(asas longas o alado 6onsigo o ramo arrancava. eus gritos aterram os ventos =oltando as vagas no mar, + cavo da vela e$#rnea =eiose oposto formar.
eu choro 7s rochas levando. 9nda os olhos se desfiam 0or negron/tido rosto, 9nda gelava na $oca &udas falas de desgosto, "ns frutos nas mãos guardando, ostoso pasto de amor. Tomoua nos largos om$ros* C&orre o que comigo for!D 6omo o elefante mordido o insondi no palmar, e vBlo as vagas recuam Amedrontadas ao mar. CAs correntes! as correntes! Tempestade e o vento largo! &eu rumo o a$ismo, do nauta =o- de agouro o pranto amargo.D 0assa a ilha de or2a, 0assa as terras de acar, )(outro dia o 6a$o=erde ;icava longe a $oiar. )avegando 7 negra popa, %le a vive, ela o matava* eu pranto era fumo se e5ala o corpo frio que lava* %le a cinge so$re o peito 6omprimindo o coração* A frialdade da morte ;a-lhe querida ilusão. Fi$rase no ar indecisa, audosa e tarda a pairar* +lha aos c2us, olha na terra, )ão pde a terra dei5ar A alma que a terra amou* Ave muda esvoaçando 50
%m volta do $elo pássaro, 0artindo sempre e ficando. &orria contente o amante* 0or nuvens a som$ra vendo, A$raçavase com a morte, &em$ros a ela estendendo. %le 3á vBse em caminho, A vida na morte está1 &as, vBse vivo* m(espera! @rada C4 alma de )Mdah!D )ingu2m sa$e aonde o 3unco Acaso fora encostar ' )aufragado, em terra imiga, 0elas costas de al2m mar* Qual n(areia a caravana =e-es some nos desertos, As ondas nada disseram )estes campos desco$ertos. 9nda ho3e pelos vales, 0elos montes vai gemendo %rrante, som$ria gente, +s nomes deles tra-endo. %, tão lenta, vem com a noite )os cumes da penedia Arrancar ave estrangeira ;undos pios de agonia* epois revoa, chorando o$re a praia e so$re o mar, % se perde no hori-onte 0ara outro dia assomar. i-em ser a alma do pr/ncipe Que futuros vem contar* 0erderam seu rei, sua tri$o Terras altas de acar. 7eneg;mbia
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XXII - PRIMEIRAS-"GUAS Ó tempo onde a poesia tam$2m nasce! 6oroa triunfal das mãos das auras, ãote louvor os animais contentes1 6onversa a nature-a com suas ervas1 6resce a vegetação, cantando o rio1 + c2u de transparente a-ul, e os mares 0ela corrente $alançosa o levam )um leito de liquor* eu tam$2m vivo + c2u, a terra sorri, @rilham astros, nascem flores, 6antam aves na montanha, ;ormosa estação de amores! )as plantas do prado ameno ;avnio passa e volteia, ;alam naiades na fonte, ;ala na vaga a sereia* )ovo o campo, a rBs esmalta, &imosa cria a pular1 Fisa fusca novilhinha Anda a manada inquietar*
%m seus galhos os troncos se encurvaram esdo$rando suas folhas vigorosas, Aos esmaltes do sol pendendo a fruta1 eitouse a onda, por adormentála esce apenas galerno1 em seus clamores =ai quei5oso ri$eiro, qual perdido, As pedras compungindo e o penhasco. o$re a margem do ri$eiro, )o regaço da espessura Terno 7 vo- que$rada d(água %5alta o moço gentio +s encantos da tapuia, a caça quando voltou1 )os seus $raços cor do coco oirado no man-ari, e ramo em ramo o 3api, 6huva de flores por ele, e leito em leito a corrente, +lhando ao c2u descansou* % tão ditoso de amores @rincos engendra cora ela, Tecelhe as trancas corridas % depois uma capela, % depois, de vivas tintas %nchelhe a face de cores. 6omo minha alma s(engrandece ao verte 0rinc/pio da e5istBncia do equador! )em os anos caducos envelhecem )a -ona perenal, formosa, esplendida* )asce o inverno em cndida menina, %ducada e nutrida do alvo leite a camponesa forte, e como a planta =içosa desenvolvese uma virgem ' =e-es nos olhos centelhando o raio, A $ela vo- nas asas do trovão, 0elo corpo ro$usto lhe ondulando %sta vegetação d(:den ' 7s ve-es e uma triste-a pensativa e doce. "ra vago contemplar ' ve-es risonha e difundindo em trinos contendores )a fresquidão dos ramos, so$re a aurora 53
A espalharse de amor ' ou se amostrando )a flor a$erta da geniparana, o maracu3á ro5o, aos afagos a nature-a rindose, a fugirse Aos seus $ei3os na ponta da vergntea. os castelos argBnteos do -od/aco =enha agora o verão, nem desfalece andolhe o reino florescente a irmã, Que seis meses depois torna a ser dela, Quando 7s flechas do sol o campo fuma 6alcinado e fendido e o vento move @ranco areai os astros retratando1 Quando dos montes para a $eira descem Fedas tropas ' eu amo ouvir suas vo-es, ormir na choça, levantarme cedo, A malhada mugindo a alvoroçarse, 6omo o grupo das nuvens no oriente. + $osque molemente se sacode )os vapores da terra em$alsamada1 As palmeiras se a$raçam pela encosta, Amorosas don-elas se esquivando Aos enleios dos -2firos que gemem, eus esgalhos e as pencas arre$entam, Aonde o sa$iá guarda o seu ninho, +s cachos pelo colo suspendidos1 0ericumã que passa $race3ando 0elo longo d(areia ecos repete a vo- dos vegetais, por toda a parte
a ta$oca frondosa* as feras te amam, 9nocente sorrir da nature-a!
)os olhos a prlhe um $ei3o* C6omo tudo está sorrindo, Jagala, que assim te ve3o!D 0or2m no prado da ri$eira guiam %m $alada amorosa alvo armentio1
XXIII - VAMOS 'UNTOS! 3u ser/s ma bergerette, .e serai ton "astoureau' * nous chante laneiro a sorrir pintando os montes.
=er como $randamente em$ala o vento As folhas meneantes da palmeira, 6omo ao choro lá cantam da ri$eira As aves que com ela vão descendo. u$iremos o cimo da coluna A fresquidão go-ar da tarde amena, as filhas do silvedo a cantilena )as som$ra da espessura realçando1 =er como do salgado 3á rumina )2dia manada 7 som$ra dos mangueiros, 6ontemplando das ondas os cru-eiros Quando passa a canoa a navegar. % depois, o serão gostoso e grato %m prática inocente e deleitosa* 6ontarás em tua fala sonorosa Aquilo que mais sou$e te agradar* % eu te escutarei nessa harmonia Que fa- minh(alma delirar, morrer! A lua tão vaidosa em seu correr )os ares sentirá tanta ventura. ;ormosa Ana dos campos, vamos 3untos 0elos s/tios do nosso alvo re$anho, 0ela relva onde $rinca o teu castanho 6arneirinho gentil, que são teus mimos. 4ericumã, 185
XXIV - O INVERNO ão lágrimas, são lágrimas fecundas A chuva no arvoredo carregado Arrastando no chão sua flor e os ramos* %5ala o campo os mádidos aromas As $or$oletas esmaltadas, $elas, (asas largas e a-uis, aos mil confusos 9nsetos de ouro* lá no $osque longe + lago $errador. ;resca roseira Toda a$erta de rosas encarnadas, 57
omo um an3o da guarda se arrepia, ussurra ao $ei3aflor que ruge as asas, efendendo suas filhas* e amoroso %le pia e fa- c/rculos, defuma uas penas em seus $afos virginais1 0or2m, respeita a vo- materna e maga, &imosas folhas, e os $otEes que inclina + viço esplBndido e o cristal ' humanas on-elas, que verteis na mocidade A r#$ea seiva que de e5cesso monta. alve! felicidade melanc4lica, oce estação da som$ra e dos amores ' %u amo o inverno do equador $rilhante! A terra me parece mais sens/vel. Aqui as virgens não se despem negras 8 vo- do outono desdenhoso e d2spota, Ai delas fossem irmãs, filhas dos homens! Aqui dos montes não nos foge o trono essas aves perdidas, nem do prado esaparece a flor. G co$ra mansa, 6or d(a-ougue, tardia, um$rosa e d#ctil, )o marfim do caminho endurecido erpenteia, como onda de ca$elos a formosura no om$ro. A noite a lua, Qual minha amante d(inocente riso, 64(a face $ranca assentase nas palmas a montanha estendendo os seus candores, &ãe da poesia, solitária, errante* + sol nem queima o c2u como os desertos, impáticas manhãs 2 sempre o dia. eme 7s cançEes d(aldeia apai5onadas &4i saudoso violão* as vo-es cantam 6om náutico e celeste modulado. 6hama 7s tácitas asas o silBncio Ao repouso, aos amores* as torrentes 0rolongam uma saudade que medita* =aga contemplação descora um pouco + adolescente e o velho* doce e triste %u ve3o o meu sentir a nature-a
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+ touro muge1 a ondulação passando eita o 3unco, que torna a levantarse, % de novo se acama e s(em$alança. A filha das soidEes e dos mist2rios o meio dia e da tarde desmaiada, A mãe dos ais, a rola desgraçada eme, geme! ' se cala a nature-a, Tudo se despovoa e se deserta, %ntrando a revocar reminiscBncias, Que a lem$rança perdida ela desperta. =Bse um gBnio a vagar por toda a parte e mãos no rosto, de pendido colo % os 2$anos compridos em desfios ' %u amo o inverno! ' e o gBnio que divaga escera coluna pelo vale 7s praias, % lá perante as águas pára e chora, 9rmãs tão $elas que se simpati-am1 % os seus prantos consomemse nas fendas %negrecidas pela encosta parda. 6ai a tarde dos serros emanando +s vermelhos vapores do ocidente. )ão teve sol o dia, suspendido a chuva por detrás, vento nem houve rosso orvalho se escoa na espessura* + c2u d(um a-ul vasto se evapora. ai da varanda do casal a filha, Tão cheia da amplidão que está na tarde1 0ura e cndida e vaga, tudo amando, 6hega ao p2 de uma flor, afagaa e passa, 6omo quem disse Cnão 2s tuD* se nascem as ervas que a rodeiam com suas flores @or$oletas de prata, se estremecem % vem suas asas lhe encostar nos $raços, 0ousar em seu vestido e seus ca$elos os seios almos umectando a alvura. =irgem das $renhas, eu no teu regaço ormirei plácido? eu nesses teus olhos Fongos esquecerei meu pensamento, + coração de amores s(inflamando?... =ai distra/da pela estrada nova, o ca3u ru$ro e o limoeiro em fruto )o manto florescido se enco$rindo. %u amo o inverno! 4 mata silenciosa, 59
+nde suspira a nam$upreta, e canta salmos o sa$iá d(/ntimas harpas! eu mais um passo a nature-a, e nasce A vi ração mimosa do crep#sculo* Quando a canoa do ana3á se a$rindo a parte do poente a flor mi#da (e$#rnea fenda pelo tronco entorna, 6omo a p2rola corre perfumada os lá$ios de uma esposa1 se desprende "m coco e fa- a vi$ração no solo. A cigarra se esvai penosa, e morre. ' á mais um passo a nature-a, e s(ergue )oturna $risa pelos negros ramos1 % 3á somente senhoreia a noite >uncada de luar. %spasma os gritos + urutau/ na um$au$eira alvar, Tão conchegado a se perder no tronco, 6omo se o tronco que desconcertasse "ma vo- vegetal pelas soidEes. Qual d(estrelas em p4 que os c2us filtrassem, Treme o hori-onte de folhame argBnteo, orme aos piados de desagasalho o ca$or2 friento. Agora estendese "ma nuvem de chum$o* e n(alta noite emia a chuva* a madrugada 2 $ela, Finda menina a amanhecer na fonte. %strala a ave no $osque, aves ignotas
% ela s4 temperasse estridente (/gneos carmes! o cedro range e os montes, % entre os p4los van-eia a tempestade* =ai lançada tinindo pelas nu v2us 6ontra os trovEes que se arre$entam1 guincha eguindo o raio, e, no cru-ar dos ares, as asas solta el2tricas fa/scas! 6omo ela, tam$2m pre-o os $alanços o vendaval furioso e do relmpago, % minha alma agitar na vo- dos c2us. %u amo o inverno! aqui durmo de amores,
XXV - " PARTIDA DE UM VELHO EN$ERMO C% eu dei5ar este c2u... como este clima )a sua eternidade de verdura... Ó maravilha vegetal do :den! Trinta anos passei, como nos $erços (uma hora encantada* ouvia apenas Arrastaremse as águas pelos vales, %m seus saltos partidas so$re a rocha... +h, vi por toda parte a nature-a %loquente, orgulhosa em ma3estade 6omo a lua de Agosto em flor a$erta! ;i- aqui minha pátria... ho3e estrangeiro + filho teu verás, fria ermnia, %rrante e deslocado como a ave Que desconhece ao manhecer seu pouso1 % t/mido o meu passo não se fi5a 0elas margens do
+ tão no$re ancião descendo 7s praias )o seu enfermo andar* em$arca1 e a vista %lástica dei5ava so$re a terra 6omo presa, quando ele 3á navega. As costas para o rumo do navio, %ncostado na popa, em longo pranto eneroso desfa- os c2us e o monte +nde 3a- o gigante, e so$ os mares + aneiro se escondia1 % ele inda nos p2s se suspendendo 0rocura as cumiadas no hori-onte.
XXVI - $RAGMENTOS DO MAR *( )( 4aris Adeus, 4 Fu5em$ourg d(árvores grandes, (estátuas $elas e marm4reo lago, %u não vos verei mais! 6horai comigo, %u s4 não vos amei, tam$2m me amastes, )o estrondo vegetal ouvi meu nome ' Adeus, Fu5em$ourg! Tronco d(outrora, ;rondoso castanheiro, a cu3a som$ra &editava as liçEes d(alta or$ona, &eu velho amigo aonde eu recosteime 6heia a ca$eça dessa vida d(alma Que as sonoras paredes e5alavam, Qual feridas do eco d(eloquBncia o F2vOque e aint&arc, senti meu peito A$raçarvos! da casca onde eu vos $ei3o
+s seios tece virginais e a fronte (aço lu-ido, e a cru- pende do 6risto )o cinto feminino. %ila hero/na! ando pátria 7 sua pátria, ao rei sua c(roa1 A sua vo- de >osu2 treme +rleans %sperançosa1 e despese do manto %nsanguentado que a cercava opressa. %ila atada a coluna, qual detida 0ara aos c2us não voai pelas suas asas Que as chamas crestam e os vales de
6omo a desoras ao luar do ena o$re a ponte das artes de$ruçado 9ndo 7 pátria, indo 7 pátria 7s vo-es d(água. olfo de @iscaia. 6omo fogeme a terra dos p2s, (envolvendo nesse amplo hori-onte! =ãose terras da ;rança, perdidas! Fá sumiuse 0aris trás do monte* 6omo o sol quando no ocaso 0alpitante desfalece. uvida um(hora entre nuvens, 0or nuvens desaparece. Ce3as feli-!D me disseram. e3as feli-... ah, quem dera! )ão mais que um dia! e mais triste )a minha infncia eu morrera. Quantas lágrimas dásme, 4 $ela ;rança! A$rivos, solidEes, quero chorar1 @risas da noite, emudecei1 oceano, A$afai minha vo- nas vossas ondas... %lo vasto de vo-es grasnadoras + hori-onte cingiu, se enrouquecendoD. + vento alevantou1 gritaram aves 0elo em torno da nau1 procura a$rigo A andorinha nas velas1 meio corpo %rguemse os pei5es1 enfurece o mar1 6ru-am raios no c2u em ve- d(estrelas, 0ousam nos montes de suspensas nuvens,
)ão dorme no 4cio de cansada pa-. pa- . ' %ncastelamse as ondas* qual cidade (homens, que no orgulho vão suspendem eus ricos tetos som$reando os vales % a casa humilde do pastor, que os raios Aqueciam do sol su$indo os montes. á sinal de perigo, leva rota @andeira de socorro ao mastar2u* Fi$rados todos vão, ningu2m socorre, )as asas infernais da tempestade. )em olha eus 7 terra, o c2u fechouse. A vo- do oficial apenas se ouve F#gu$re, como o vento que falasse, +u da vela que rasgase e desfralda Antes de ser colhida. Homens tão fracos, + que fa-eis agora murmurando e$ai5o do conv2s, mudado o rosto?... ' % a não que passou desarvorada, Qual ferido tapir salvando a$ismos, Fá que$rouse na ponta do rochedo ' ormindo, mudo! e os mares levantaram ua vo- noturna 7 vo- da ventania, Aves, que no cair da presa morta oltam em desordem triunfante grito. FamentaçEes humanas, tudo a morte
Atrav2s do hori-onte* a lua franca A$re seus seios de don-ela, e despe eus vestidos no mar, como estas ondas Ardentia de prata espane3ando1 6ndidas pom$as vaporosas voam, Tecem com as asas por seu rosto um v2u ' &enina ru$ra pondo a mão nos olhos "m(hora se escondeu, um(hora os astros Amostram seu $rilhar, depois se apagão. A lua feminina, 2 fresca noiva* As $rancas nuvens que a rodeiam manso +s en5ovais de sedas ondulantes1 + c2u cheio d(estrelas o seu templo +nde espera o amante, incensos auras1 % o oceano os 4rgãos levantando %m doces, divinais epitalmios. )a $atida em que vai, fare3a e resna Alado negro cão mordendo as ondas. %u s4 medito, a eus s4 me alevanto1 alev anto1 6onfusa multidão povoa errante + conv2s, e da terra os homens falam* 0ara eles 2 mudo o isolamento o mar, caindo a tarde fria e triste. % o mar som$rio despenteia a grenha, escrente e sem esp(rança, de loucura, e frenesi, que o desespero arrasta* %ngolirnos d(um golpe, os nossos ossos espedaçar o ve3o num momento! % os homens re#nemse, amontoam +uro sanguinho e 3ogam1 se enraivecem "ns contra os outros, sfregos de sangue. )a vo- da nature-a o eus nem ouvem! Amote, 4 mar, em louca tempestade, &ais do que os homens com $onança n(alma1 6om as cousas do mundo eles procuram + %terno esquecer! são condenados errando ouvidos, sacudindo a fronte 8 3ustiça que falalhes da v/tima, Que geme ainda ensanguentada e quente. Traga o dia so$re a fronte Aurora láctea dourada, +u distante precipite 66
%m som$ra negra e pesada anguento ocaso a seus p2s* ' eus quem 2? quem 2 que adoro? ' %stas vagas eloquentes Ao seio desçam das águas, %rgam seu colo, se empinem, e despedacem nas fráguas, 6onvulsas, enfermas, $elas* ' eus quem 2? quem 2 que adoro? ' A onda pergunta ao vento, Quando a levanta a passar1 &as o vento a despertava* 0ara lam$em perguntar* % a mesma vo- se repele, =agando de mar era mar. % somente a mude- destes desertos e responde ao seu eco no infinito. 7erras de Cintra +h, ma3estade do oceano! eu vite Ampla fronte de c2u de eus* so$re ela, 6omo ante o sol nevoeiro transparente, + pensamento em ondas infinitas 0assar... passar! e calmo o rei do s2c(9o )em toscane3a ou estremece a testa. %u sentime nascer, e tu me viste Tur$ado nos teus olhos, era um raio Que mais l#cido raio engole e apaga* 6alor vital correume pelas veias e prisioneiro que por muitos anos ;echado em negros cárceres a vista A$re ao dia, e de 3#$ilo pranteia, elira o coração, de vida e5ulta! 6omparava tua fronte esse universo e sentimento e meditar que e5ala1 %u pesava tua vo- nos meus ouvidos 6onsultando a harmonia1 um ar celeste 0alpitava umas ondas rodeandote. uia na cerração, $ei3ei tua destra, Que se esfria nos anos mergulhada, 67
6o$erta dessas rugas generosas1 %ssa mão su3eitada envelhecida )o doce cativeiro das insnias, %m metro moldurando o pensamento* % de tua ve-, senil, piedoso pranto %m teus olhos que$rouse! 4 sentimento, Que $rande 7 alma do poeta sempre virgem F/mpido choro, que os verEes não seção! 0ensador solitário, 4rfão, proscrito 0oeta! eilo assentado1 estão com ele omente os seus dois cães, 3unto 7 lareira, @rancos como a candura1 mansos, t/midos 6omo a fidelidade. % não encontras )os homens um amigo? e os animais Amamte mudos e naturalmente. A pa- te rodeava, e nas paredes 0endiam quadros dos que amaste, e foram1 % todos no silBncio da saudade A página da vida pareciam esenrolar a li, cora a vista lenta &emorando o passado. Qual se mem$ro essa fam/lia eu fora, há longo tempo 0erdido, ausente, no meu lar chegado, enti minh(alma a$rirse ingBnua e larga A $randa atmosfera que eu respiro* "m dos cães te afagava, como vendo )os teus olhos lu-ir o amor paterno1 + outro vinha a mim lam$erme a face % as mãos, inquieto de alegria e festas ;elicitarme do rever meu pai! %u parti1 tu virás 7 pátria verme. %is, minh(alma se e5pande! 6omo o vento Tão livre e solto, meu irmão me entende, &e esperta e espalha pela fronte ardente 6om pedaços de nuvens meus ca$elos! Qual amigos achados, que se a$raçam + coração no coração vi$rando (entusiasmo, e ofegos derramam a $oca a$erta generosa chama, % os sentimentos 7s feiçEes remontam. 68
Aqui @Mron cantou. &esmo esta pedra, Que ora sente uma gota fria e rápida o meu pranto que apaga a viração, Talve- estremecera de escutálo, Qual do raio ferida. +h! me parece Que aqui te ve3o, 4 @Mron, a meu lado, A rainha esquerda unido me incitando Ao desespero da descrença imiga 6om tua vo- infernal ' verdade horr/vel! ' % 7 minha destra o tenho, an3o da guarda 0reso a meu $raço contra a forca tua, &e arrancando de ti* co(um dedo santo Apontame p(ra o sol que sai das serras 0iedoso Famartine! e o penhasco @randia e geme no pesar da luta* % d(um lado o demnio e o an3o d(outro, % eu no meio, minh(alma despedaçam! ' =oa comigo, 4 an3o, nas tuas asas 6ndidas salvame* o demnio em$ora &e persiga mostrandome os meus dias 6omo são desgraçados... por2m, antes ;ala- esp(rança, que a descrença eterna. Aqui tam$2m virás, sol dos teus dias, ol dos dias depois, de todo o tempo, e tua ve- suspirar* e tu, 4 pedra, Hás de moverte então, e não do medo a tempestade $ela, e nem do pio a andorinha perdida que não so$e, Que nas fendas descai1 por2m de ouvilo Tão sonoro e divino, que no monte %m$atendose os montes e os penedos, % o olmo e o pinheiro, que de antigos 0assa o vento e não do$ramse ' entoaram 6omo o coro do templo 7 vo- solene Que do altar se levanta* o plano e o vale Aos c2us, aos mares levaram seus ecos* % do seio dormente a nature-a 9gnoto o canto universal desperte! +h, minha alma s(e5pande! ampla se e5ala )o c2u! e o corpo que terreno 7 terra Fanguido cai, ainda 2 $elo verse 69
acudido das nuvens que o rodeiam. ' &eus olhos inda a vBm ' lá vai minh(alma 0elas torres de &afra resvalando, 0elo hori-onte, al2m, n4 mar a-ul, )o 2ter puro e sem fim, mais longe, era eus, )a minha pátria, que 2 de eus tão perto! randioso espetác(lo! cena imensa Que o pensamento ávido percorre! %u amo a vida assim... assim eu vivo %u amo a vida assim! lidoso vento +co varrendo sufocado estrondo, 8 desramar o castanheiro anoso, + $asto pinheiro!, a mim se lança 6omo águias et2reas, com suas asas Agitando, espertandoa langue e lassa, 0o$re minh(alma em som no* em ri3os gritos. into me suspenderem, meus ca$elos, &eus $raços arrancando! ' % a nuvem passa 0elo vale com o gado dos pastores1 % o mar escuma al2m, se encru-a e $rama e perdendo no c2u1 levanta o 2ter. 6omo se o 6riador não aca$asse + edif/cio do mundo, e que estas pedras ;ossem materiais e estas montanhas1 "ma coluna, um pano da muralha + 6orcovado americano e os Andes1 %ste mar que ficou 7 tempestade evera fonte ser deliciosa, )ão pa/s de naufrágios1 e estes ventos, % estes vales chorosos, o arvoredo, % a po$re humanidade ensaio fora 0ara um c2u eternal d(harpas et2reas (um s4 cntico e amor* e, distra/do, +u de cansado, ou morto o Autorupremo, Ao acaso ficou tudo sem ordera, Antros feios, montoadas penedias* Tudo pergunta o que 4... que vale ' tudo @al$ucia em sua dor! as aves trinam em sa$er do seu canto1 os homens choram1 @ale a ovelha no campo1 as nuvens tremem, =ão fugindo de horror, nada se entende1 % por falar se esforça a nature-a, Que de imperfeita está desfalecendo. 70
Que $elo templo, se aca$ado o mundo! )atural harmonia a um eus somente, "ma vista, uma vo-1 não este inferno* + $ruto contra o $ruto, o homem do homem %scondese da terra nas entranhas! A fera amara ao cndido cordeiro, )em de morte manchara a lã mimosa1 As aves não perderamse nas nuvens 0erdendo o ninho e o $osque de medrosas1 )em os filhos do 6risto sangrariam )em morreram na lança muçulmana1 )ão viram tantos s2culos idolatras euses de ouro $anhar fumante sangue* + mar sempre $onança, o c2u d(auroras, + raio não voara entre o negrume 0ousar no velho tronco, ave de fogo, % fa-Blo cair, gritando aos homens! Ó grande-a su$lime! oh, eu quisera =er com meus olhos esse dia, quando + eco da palavra era o nascer, ravitar e cair, o amontoar os seres ' confusão negre3a os ares, )(hora tudo surgindo! oh, eu quisera &eus ouvidos nutrir desses terrores o fracasso das águas e dos montes, % ver divino o vulto suspendido 0elo espaço, que rasgase ante dele, Atrás dele ondulando! A$erta e franca )asce a lua sem cPr, cintilam astros, Fampeia o sol... 0or2m, meu eus di-ia Que s4 ho3e eu devera remontarme Ao princ/pio e nascer, e contemplar,
A lua desmaiada está na serra e saudade e luar $anhando o p/ncaro* impatia e candor trou5e no rosto Que move a terra, qu(emudece ao vBla. o$re a grama cheirosa estendo o corpo, )um meio sono amolecidos olhos, TrBmulos raios so$re as minhas pálpe$ras %nvergam seus fulgores, que anteve3o ;rescos, long/nquos, l/mpidos, saudosos, 6omo a lu- virginal d(alvas deleite. ' : tarde pura* muito longe encontro, Tão longe! apenas onde a vista alcança, 6omo elásticas águas se estendendo, 6omo restos de lu-, mimosa relva Amena e verde1 um(árvore a som$reia Que $elo monstro enrola, e frutos pende. "m homem como o dia transparente, á regam de suor, pedindo um fruto... 0erseguidos do inseto o corpo co$rem, antes tão $elo ao sol!... filhos 3á nascem 0ervertidos tam$2m* nascem nas dores a mãe, que hão de amanhã, seios que os criam, 72
0artir de mágoa... de mis2ria os homens >á desfa-emse! ' + c2u cresce d(encantos1 )a porta da choupana há quem m(espere* As vo-es de &acia as serras desço,
Todo encarnado o hori-onte, Fonge, longe a se afastar, 6omeçam auras do Te3o A$erta vela a em$alar. "m chora o adeus da pátria, "ra cai nos $raços do amigo audosos, sem perigo1 Aquele $ei3ou sua mãe. "ma s4, mimosa e virgem, )ão teve quem a$raçar, o pai aos lados pendente 6orria a vista no mar. Tão 4rfã! tão piedosa... eu logo ameia % para sempre! eu creio... e a virgem amoume! Tinha tre-e anos de idade! 9dade da transição, Quando da vida assaltada ente mimosa emoção. ;ormosa e pálida e $ela, Toda e5pansiva de amor, )a graça pudica verte %manaçEes de pudor. Am$os n4s 4rfãos na terra, Achados acaso assim... &eus olhos iam so$re ela, eus olhos vem so$re mim. %is vultos nascem no hori-onte, crescem, Assom$ram c2us e mar* quem sois, fantasmas? esco$ri vosso rosto e os vossos olhos... 6intra! 6intra, que sem mim ficais! Tudo de lá me acena, 4 meus amores, &onte saudoso, 4 0ena! que me ouvias, @race3ando com as nuvens e orgulhoso o c2u, do sol, meu canto qu(ensinavas. Tudo me acena! as fontes mais suspiram, &aria 3ovem lá me $ate o lenço 74
Alvo como ela, e #mido do pranto 6omo o seu peito, que como ele ondula1 Alvoroçada grita... ai! que parece 6(os os $raços arrancar a alma e mandarm(a* i-erme Cnovo amor guardamte os mares* C&e foges* lá nos c2us te encontrarei...D Tão nova, como as $reves primaveras Que tem florido nesse vale ameno. ' Ó $ela 6intra! arrancame, saudade, &eu coração do peito, e que palpite o$re as ondas da serra1 ou v4s, 4 penhas. &ontes, ergueivos, me segui com ela! 6intra! 6intra, que ficais! 4 mares, Que a verde coma desfolhais ao vento, )ão regaceis o vosso colo undoso 0ara enco$rila... 4 nuvens derrocadas, )ão cai diante mim... Ó 6intra! 4 6intra! Qual meus olhos no pranto, vos sepultam )o 2ter espaçoso os hori-ontes... lha de 7( icente 8 palavra de eus caia o mundo* ;oi um gigante o que surgiu no espaço! (homem que era, a$rindo os olhos ávidos % a garganta inflamada, hiante ' rise, >ulgando seu irmão defronte dele ' % so$re o 6riador, 7 imagem humana %nquanto sua o$ra contemplava um pouco, Fançase! ' eus se retirou de um lado* % devorando o viu sua pr4pria som$ra, =eloso coração rangendo, um monte )as cavernas do peito! de cansaço A l/ngua pendurava, imensa serpe, 6omo espada de sangue fumegando Que de dentro dos om$ros arrancasse! Horrendo $erro, como o vendaval. As nuvens separou ' no desengano* % de novo a ca$eça suspendendo, +ndulante muralha se antepunha % o monstro gira por detrás mugindo. ' %ntão, contra esse filho o eus dos astros eu raio d(indignado fulminando, + fe- despedaçar* di- Cdo teu sangue + oceano se forme, e dos teus mem$ros 75
A dura terra, que produ-a vermes 6omo tu 2sD* e novos homens nascera, )asce a serpe o germina a morte deles1 % este mar de verdete 2 sangue humana Acre, e sempre a ferver polutas fe-es1 A mais árida rocha, onde se que$ram =entos, naufrágios co$rem, e nunca treme, =em do seu coração1 e os outros 4rgãos ão essas outras terras, mato, a$rolhos1 % o homem que do c2re$ro lhe sai, 0ior do que ele foi aqui respira, 6omo essBncia volátil delet2ria, &/nimo em corpo, em ser cruel grand/ssimo! 0orque não repousais uma hora, oceano? 6omo o esp/rito do homem, que não dorme At2 morrer! um eco indo passando 0ela esfera* Cquem sou? quem deume o ser? +nde me levam? donde eu vim?...D perdeuse =os espera tam$2m o fim do homem? Quão grande não será, solene e $ela, e vossa morte a hora! num momento ulcando o c2u, qual raio luminoso, o aceno da mão divina a som$ra, 6ontraireis1 d(imenso estremecendo % como a vacilar da vo- que ouvistes, Fevantando um gemido ' e depois... nada! % como o homem, sem sa$er que fostes, =ossas cin-as varrendo o vento leva 0elas soidEes sem fim. Que sois, oceano? %terna agitação, suspiro eterno Tendes no seio* emudecei, dormi... )ão podeis, qual minha alma, e força oculta, Que sempre contra mim se ergue e me que$ra 6omo hástea resistente, vos ameaça* Al2m a tempestade se revolve 0ara açoitarvos. >á, como eu, convulso
6omo depois do estre$uchar de um sonho %m su$lime acordar, terr/vel, forte ' Que n4s somos, porque, eus onde e5iste, + que 2... )a penedia negro sulco e fogo um raio fe-, rio de fumo ussurra e serpenteia1 os c2us tremeram!... ilBncio! A som$ra de meu pai me olhava... ;echou suas nuvens, e se ergueu nos ares. =aise a vida como passa Feve esquife pelas ondas* As águas a$remse adiante, Atrás s(escoam desondas* eu rumo agulha no ocaso1 e lá se levanta a terra1 &ais pr45imo, a praia em$ranca Favando as plantas da serra. Arrasta a quilha n(areia, Toca a proa n um penedo, )oite! e o nauta incauto andando %spanta um grito de medo.
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As ve-es em tempestade, &uitas ve-es em $onança* 0or2m vãose desondando A nossa vida 2 mudança. G tarde, quando o sol da Isfera atirase % no ocidente, qual guerreiro, morre (al2m fun2reas nuvens que suspensas &il $i-arras figuras, mil castelos, elvas, rui nas pelo c2u desenham, 9ludindo de maga fantasia untos naufragam. %ntão amo perderme )a soledade et2rea, e divagando G discrição da minha imagem, eu erro. &as a tarde s(esvai, os c2us s(estrelam, A meditar cansado ora me assento )oturno e triste na sonora proa, olitário co(o mar e a fresca $risa1 + pensamento a$erto, mas torvado a grande-a ideal, pasma somente, Admira e não sente o que compreende, 6omo de amor em$rutecido, cai. %rrante, agora me de$ruço 7 $orda, =endo as ondas passar em$ranquecidas 6omo plumas de cisne, minha fronte A umedecer de p4. e noite eu ve3o 0ovoado de som$ras, de florestas, e fogos de pastor o mar deserto, % rodeado de mude-, acordo. Ana roçoume o $raço* fria, trBmula 0elas som$ras procurame* CQue eu ve3oD Tanta triste-a e solidão na lua alma! %nchea de mim... Tua fronte desdo$rada Ao longo pensamento, o que tens nela Que a fa- tão pálida e piedosa e doce 6omo a lu- do crep#sculo long/nquo? Que frie-a te $anha o coração! &urchando como 7 vo- d(ave agoureira Amanhã inda há sol... não morres ho3e... 78
+h! desperta, $rinquemos nesta idade a risonha manhã, nevada e pura, @or$oletas do campo, a flor colhamos!D % eu sonhava* e eu vime solitário, +lhando o espaço $alançando estrelas. % esses sonhos que eu via, onde 3á foram a apai5onada aurora? e foise o dia* % eu que fui? e amanhã, quando outro sol Fançandose em seu vo arre$atado (água que se a$re para o cume a-ul )ovos sonhos prestarme e nova esp(rança, Que eu serei amanhã, nesse outro dia?... %u não tenho amanhã* minha e5istBncia Toda aca$o sempre ho3e, em$ora triste, &ais triste o meu porvir me aterra sempre. % tu, esperança, e tu, consoladora e todos, que me falas? oh, não queiras &ais perseguirme1 vaite, 4 inimiga, ão mui longas tuas horas, mui comprido Tu me fa-es o tempo... que ele passe 0ara mim, como um ai de mori$undo! %nfadonha, pesada, a$orrecida, Ó vida d(esperança, que 2s penosa Tortura deste inferno do e5istBncia! &anga esvelta das nuvens se despenha ;are3ando o mar, penoso e longe A vo- das vagas se em$ateu no ocaso* "m $raço de gigante monstruoso (et2rea serrania se alongando 0enetra as águas, famintando presa As entranhas revolve1 longas ondas + rodeiam e $rave3am, como feras eus irmãos defendendo* lentamente, e um pulso cheio, convulsivo, igual, 9ndiferente vai colhendo, engoleas, % se recolhe, e so$re o peito encru-a. % o chuveiro passou, desfe-se a trom$a, A onda que a $ei3ava ao mar se aplana e recentes rosais* assim da torre + preso se de$ruça e estende o corpo 79
0or a amante chegar, que se suspende )as pontas do alvo p2, que as mãos se tocam (uma invis/vel atração chegadas. =olta 7s som$ras da torre o prisioneiro1 0elas paredes resvalou saudosa Qual raio fugitivo, e desparece. &eneia a larga cauda e as $ar$atanas Fimoso leviatã cheio de conchas 6om dorso de rochedo que ondas cercam1 6ristalinos pendEes planta nas ventas, e $rilhantes vapores, que em $andeiras /ris enrolam de formosa som$ra. )egra fragata lá circula as asas o$re a nuvem dos pei5es voadores. Agora rompe a não lenç4is infindos Que o mar t2pido choca, e vindo a aurora >á salta a criação d(escamas $elas. =em formosa galera a largos panos Arque3ando ansiosa1 silva o apito, A cortesia náutica respondese. >á ia $em mon4tona a viagem )esta mortificante calmaria* Tristes campinas da água, se não foram %ssas novas surdindovos dos flancos, ;a-endo de alegria estes sem$lantes, +u torva tempestade a desfa-Blos. e novo 3á nos vamos isolando* Apenas desta ilha so$re ess(outra, Que vai ficando atrás do p4 que erguemos, +s olhos inda estão1 e os meus somente 0rocuram naufragar, morrer... quem dera 0orto de salvação onde ancorassem! ' "m mar tempestuoso eu tenho dentro, 6omo este mar desesperado eu ando* %stes raios da noite almofluentes )ão me afagam. A lua cor das alvas Atravessa o ocidente matutino, H4stia cristã nas sacrossantas aras1 %m fogos de ru$i fronteira rosa, Fu-ente cáli5 se suspende no ar 0ela mão invis/vel criadora o sacerdote rei, do eus dos astros. 80
)em as horas do sol são minhas horas, A noite para mim perde o seu sono, )em 2 meu nem sou dele o mundo ' eu amo! Quem foi que t(ensinou tão triste pouso, Ó solitária virgem? onde vagueiam Teus pensamentos? que um suspiro corta )esse mimoso, cndido, tenu/ssimo Arfar ' teus seios l/mpidos se erguendo 9gualmente, e de ti mesma esquecida, Teus olhos onde vão? quanto 2s do c2u 0ousada assim! de claroa-ul vestida, %svelta e simples, singele-a toda, esma-elada e virginal e infante, )o $raço longo reclinada, n(haste @otam pendido ao cristalino peso a aromosa manhã. =e-es s(enrugam Tua fronte e os olhos, so$ o pensamento Que numa ave passou na face d(água. "ra doce encanto, amores espontneos 6orrem como onda do teu rosto, e o corpo Que$rado pelo meio! % tu nem pensas, 0o$re inocente, o ar que tu respiras : minha vida derramada em torno. &eu pensamento delirante, oh, nunca 6o(essas asas não voes! ave atrevida, Arro3ada num c2u delicioso e fantasias magas! tenho -elos o meu louco ideal pensando nela, Jelos dos sonhos meus minh(alma açoito,
A fronte num c2u de anil. ão meus irmãos estes ares Que vem meu rosto afagar, )o meu encontro saudosos 6orrendo por so$re o mar. As aves so$em que eu venho, %scuto seu doce canto )a montanha realçando 0elo c2u longo descanto. os2, Quando d(escravo lhes veio. a cara pátria, 4 musa do crep#sculo, Ao c2u a-ul que está sorrindo, acorda +s pretos olhos, e os ca$elos d(2$ano Aos ventos, solta aos ventos, doce amada! A vo- d(alma desprende 7 vo- do monte as palmeiras sonoras e dos rios Que nos campos se erguendo ao mar se lançam! Ó musa, 4 musa! acorda o sono eterno o leito de al2mmar, da fria %uropa. 8 som$ra do deserto, erguido o vento, o$ tuas mãos tuas harpas se desatem* 82
e tua ve- adormenta a selva antiga Que te sou$e educar feli- d(outrora )a vida maternal d(alva dos anos, %scutarte o vagido acalentado )o canto de seus pássaros $rilhantes. io de .aneiro )em olhes para o chão servil dos homens, ;alcão divino1 das tuas nuvens sente a terra a vida, o inspirado encanto* Qual /ndia virgem das florestas suas, Que seu leito são ramos de folhagem +nde ela dorme 7 nature-a e cresce %n2rgica e selvagem, nua e $ela, Ao eco de Ama-onas e palmeiras Que em toda parte lhe renasce, e em$ala + deserto e os sertEes. %la divaga 0orque a alma tem cheia d(e5istBncia* +ra pende no rio e dálhe ouvidos 0or entenderlhe a ondulação das vo-es, =endo co(s $raços se uma estrela apanha, Fu-entes $4ias nos espelhos d(água1 +ra a$raça uma selva e lhe pergunta Que di- no seu falar ' quando ela acena 6om seus ramos ao c2u ' que di- o vento? ' % a criação seus cnticos esmalta Aos 4rgãos perenais da nature-a, % a /ndia virgem por seus montes erra em medo d(homens, sem temer as feras. Torrentes de poesia, essa poesia Que a muita dor talve-, talve- a idade
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%ste c2u tão a-ul, e o sol num fogo (americana lu-1 este mar verde u$indo pela encosta enegrecida os p/ncaros do sul sempre de galas,
o carmim matinal, do verde lácteo,
=e3o a terra em meus p2s desfalecendo! Agora os temporais são meus encantos, &esmo o naufrágio amara, em noite horrenda @rigar com a morte* compulsar minha alma osto em sonhos de amor, ou nos perigos %ntão eu vivo. +s mares Istão mudados, +h, ela não vem mais... olhai as ondas! 6aio a noite em mim, nem mais seus olhos + dia me alevantam, como d(antes. >ecife alve, 4 $arca formosa! alve, 4 $arca! 0a/s dos meus amores do alto mar* em tBla vossas asas vos erguendo, 6omo as ondas correis? onde a dei5astes? ' A direção do acaso, nos meus olhos &il ve-es eu a vi, que nela eu penso* ;oi somente a ilusão da imagem pura %manandome d(alma 7 diante... 4 som$ra, Que em tua som$ra me cansas fugitiva! 9nda a impressão guardais dos p2s mimosos, Ó $arca, no conv2s ' quando ela andava istraindo, radiando o pensamento 0ela verdura da água? Que respeito! 6omeçavam nos c2us as tempestades, As nuvens desfa-iamse ao vBla! ' e$alde a multidão rompe de noite, %strela su$alterna que perdeuse o seu astro, e, sem lu-, por trás do espaço =ai apagada errante1 oh, foi de$alde Que tudo pareceume a ti! não era. 0orque dei5aste o teu vestido a-ul? Que fa-iame ao longe conhecerte, 6omo pelas suas flores qual a planta, 6omo pelas suas nuvens a manhã. Maranhão e so$ a proa se levanta d(água Tão pura como o c2u, coroada d(ervas @ela ninfa do norte* o 0indo heleno + sol que tessalino alumiava Fem$rar fa-ia1 americana 0alas e enlevando no mar, como vaidosa 6orre os olhos em torno pelos om$ros 86
)os filhos, como selvas que a rodeiam* ' Aquele vB, que as ta$as desenterra epultas na folhagem do carvalho, Ao clima das palmeiras transplantado, %ncheas das festas do guerreiro e os cantos A vo- do maracá ruidoso e $elo1 6aminho de 0ascal, so$e os altares @ei3ar suas mãos, sacrificar a )eton, 6ingida a fronte1 a corrupção moderna Açoita vo- romana. >á mais perto, A minha vista me pertur$a, sinto @anharme o peito um ar... que eu não estranho, &as, que procuro conhecer... %u amo %stas costas, aquele pedregulho, Que a resposta de um /ndio fe- o nome. 9solado e limoso ali suspenso, %strela refletindo ao navegante, Apertado nos $raços das escumas,
Amo os costumes em que fui criado, 6orrer livre no $osque e na ri$eira, &eus amores 7 som$ra da palmeira escantar, e dormir sono enlevado1 Amo a vo- de poesia na floresta, % o -um$ido noturno dos insetos, 9nvernosos concertos incompletos os lagos, invernosa a tarde e nesta1 %u amo o trove3ar, tremer do monte Quando em lascas o tronco atira o raio, =er os astros caindo em seu desmaio, )as torrentes perder seu leito a fonte1 )a mata o sa$iá melodiando Quando, a chuva estiou, e os passarinhos a meia noite1 andar pelos caminhos, Amo ouvir os tropeiros ir cantando1 Amo a vo- da cigarra no hori-onte, A tarde quando pousa ave som$ria Ante a fronte da noite e os p2s do dia, A mãe com os filhos a voltar da fonte* : esta a minha terra, este o meu sol, %stes meus ares que eu respiro n(alma, %sta a rama que a$rigame da calma, %ste o meu c2u da tarde e do arre$ol. uspenso nestes cumes arenosos ou ave do seu ninho em torno olhando, %, vaidosa! suas asas levantando 6anta, e percorre os climas tão saudosos1 Triunfante adormece, ine$riada e B5tase e pra-er ao som das vagas 6aindo no areal, $atendo as fragas, %ncantando os 3ardins d(água salgada1 % longa o eco pelas praias lento1 e sensaçEes as penas arrepia, %stremece de amor, e a onda fria 88
)os desertos lhe leva o pensamento. %ste pa/s 2 meu! tudo me fala* Ando na terra, os areais e a relva %ngolem, rangem nos meus p2s1 a selva eus ramos docemente em mim resvala. A$remse 7 minha vista os c2us, se ampliam1 +s -2firos me afagam, meus ca$elos @anhando de perfume, e os hinos $elos &eus ouvidos harmnicos enleiam. u$i, vagas! su$i ' vinde a$raçarme, )ão receeis de mim, sou vosso irmão* >ulgastes em$alar meu coração. A som$ra do meu corpo a em$alançarme. 6omo 2 $elo o navio que navega, +fegante escaler preso na popa, Fongas velas o nauta ao vento ensopa % pelo mar 7 terra o peito nega! e noite o mar de pescadores coalha ' "m cncavo rumor de tudo ecoa, + remo tom$a surdo na canoa1 esce o gBnio dest(hora, a dor se espalha ' "m náutico estrondar na marge oposta, ' "ns lamentos fatais se alavantando, )o fundo dos desertos ululando, e vo-es a cercar toda esta costa... 6omo descantes do ruidoso dia Que na terra calou, que se evaporam, emidos que mui longe se descoram as harpas que a gemer no sol se ouvia* %ncantado pavor, et2reo e mago, ilBncio ' cheio de uma vo- amada, =o- ' de silBncio m/stico impregnada,
Qual vo- do derradeiro menestrel )o monte quando sua harpa suspendia! 9nda 7 som$ra da lua na choupana @ai5o canta na viola essas cantigas, Que eu amava da infncia, tão antigas, Triste escravo... 2 sua dor que ali dimana. 0elas dunas me estendo, qual de amor A$raçoas mesmo 7 face do luar1 e dia inda me sentem delirar %ntre os raios plangentes do equador. (um c2u de negro a-ul t2pido velo rosso e l/mpido cai, nevando a terra, A mim e os vales e o rochedo e a serra, % eu m envolvo da noite e o c2u tão $elo! ias do meu pa/s! como eu revivo e$ai5o do meu sol de um clima ardente! + vento muge e sopra duramente ;endida encosta do calor estivo. =e3o em torno de mim minhas irmãs, % as minhas virgen-inhas mais crescidas, &ais t/midas, sisudas, mais queridas, &eus amigos, meus velhos d(alvas cãs* %m todos $raços eu me lanço e choro, % todos emudecem me revendo, oce pranto dos olhos escorrendo, oce peito me a$rindo, aonde eu moro* %scutam minha fala, a reconhecem1 &eus ouvidos eu encho d(harmonias* +h, que eu torno encontrar meus outros dias os outros tempos, que nos anos descem! a minha vida recomeço o fio* o dia de ho3e ao dia da partida, eus! apaguemos... 7 estação florida 9nverno sucedeu, renasça o estio! Qual n(um sonho eu vacilo, eu paro, eu olho, 90
=ácuo o peito d(ausBncia quero encher... into necessidade de morrer! )a minh(alma som$ria me recolho. 0or2m de novo o c/rculo me estreitam 6ontemplativos, tocamme, se chegam1 "m momento meus olhos não en5ergam, )os seus om$ros me atiro, em meus se deitam. Aqui a vida corre docemente 6omo a e5istBncia dos primeiros anos, Fhana e despida e l/mpida de enganos, +nda a-ul pelas voltas da corrente. Aqui sinto nascer alegre o dia ' A andorinha no teto, a vo- d(infante 6horando, o rou5inol* marm4rea amante, A lua que comigo adormecia, esmaiou, s(escondeu nos meus lenç4is ;ugindo como adultera1 e, -eloso, @elos dardos despede o $elo esposo uerreiro so$re mim dos arre$4is. % no silBncio a lua vai tão $ela! ei5o minh(alma, dei5o o pensamento 0erderse na amplidão do isolamento, %nquanto eu vou saudar minha don-ela.
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NOITES XXVII - O CIPRESTE C%m horas silenciosas, Quando a lua desmaiada
Facerados sentimentos eus lá$ios vertendo puros, %m$alamme como os ventos. olitário e mudo e grave )o meio do cemit2rio, Terra pálida de mortos %nvolvo em fundo mist2rio* ou som$ra aos ossos da campa, ;aço o passante pensar, o negro $osque do inverno %u presido o desfolhar1 Tra3ado de folhas negras, 0intame o gesto a triste-a... &as, aos t#mulos dou som$ra, % uma vo- 7 nature-a. &edrosa e tão fida aos votos, Amparo a virgem que chora, A minha seiva alimenta A que ela perde e descora1 Fouco amante, qual fechado )a minha vestia fatal, o$re a campa da don-ela ei5a o corpo e um punhal* % do peito qu(inda $ate Arranca a alma! e qual vento 0assando levame, 7s nuvens Fançada num pensamento! % no sossego da noite, Quando as estrelas esvoaçam, At2 que os raios do dia &ui de longe a terra ameaçam, )o frio 3ardim dos mortos %u ve3o espectros nascer* Todos irmãos me rodeiam, Ave noturna a gemer1
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esaparecem n(uma hora, )um duvidoso rumor1
XXVIII - A VELHICE 3alez ainda uma noite((( seus olhos foram no horizonte' um inculo de l/grima assomou' e o elho distraio o "ensamento( ;ria e pálida velhice esce lá no fundo vale ' 94
Tão fundo, que não se en5erga )as som$ras envolto o leito! esce, a pa- leva no peito 6omo quando a palma enverga o 3usto a vida se e5ale )os $erços da meninice. emendo ao peso da idade ;raquea o languido passo1 % desce, e pára, rodeia 0or toda a parte seus olhos* Adiante tecemse a$rolhos! Atrás um monte se arqueia! este lado encontra o espaço! este lado enche a saudade! % depois num mar de pranto )aufraga, $anha o hori-onte1 % depois... sem remo e $arca )ão tem senão mar e c2u! Toda a esperança perdeu, eu pulso a vida não marca, Apagase o sol no monte 0or entre noturno canto. &onte fatal d(anos seus e seus dias tão pesados, %rguidos tão lentamente, Tudo 3a- no pr do sol! )o cum(stá murcha a frol1 á sua fronte empalidece, eus olhos lá se fitaram Fonge, al2m... riso da morte
%m seu sem$lante. Tão forte, 6omo sua alma arrancaram, +lhando o$l/quo estremece! 6oragem! mais um s4 passo, a porta não recueis* A casa de vosso pai, onde partistes, chegastes* )o caminho não cansastes? escansai, entrai, entrai! ' %le passou. 0erce$eis o via3ante o fracasso?... )ada. Tudo emudeceu* A poeira do caminho o$re os seus rastos caio* &orre uma vo- no hori-onte. ecou a veia da fonte Que pela terra sumiu, A ave parte ao seu ninho, "m homem ho3e morreu.
XXIX - A ESCRAVA CTriste sorte me arrasta nesta vida! %scrava eu sou, não tenho li$erdade! Tenho inve3a da $ranca, que tem dela Todas horas do dia! %u sinto me crescer vida nos anos, % mais velo- que a vida amor eu sinto Querer a$rir em mim... eu sou escrava, &inha fronte 2 servil. 0or estes c2us meus olhos amorteço, )estas plagas de anil piedosa os canço1 Ah! neste horror da escravidão perdida... )estes c2us não há eus! Tenho amor, sinto dor, minha alma 2 $ela Aqui na primavera a espane3arse! 96
0or2m nas pr4prias asas me recolho, + cativeiro as cresta. "m s4 raio do sol não me pertence, %u nunca o vi nascer1 quando ele morre Ainda o encarnado do ocidente )ão posso contemplar* &esmo esta hora que furto 7 meia noite Ao meu repouso do alque$rado corpo, A ver as estrelinhas nos meus olhos 6omo no manso rio, %u não tenho segura! o vento leve, A lua como eu sou d(alvas camisas, ;a-emme estremecer1 eu ve3o em tudo &eus so$er$os senhores. %u me escondo, que a terra não me ve3a, )as som$ras da folhosa $ananeira* % os insetos noturnos me parecem enunciar meu crime... +h! não digam que eu venho ao astro pálido &inha sorte chorar... %u tenho inve3a a $ranca, porque tem todas as horas o dia todo inteiro! %u sou $ela tam$2m, minha alma 2pura, &ais do que ela talve-... cansa o meu corpo omente o cru servir, nervosos medos % o del/rio da morte... o mundo o meu amor não se alimenta, Que não há li$erdade* eu sonho os c2us... &as, nos c2us não há eus... na minha vida )ão há nenhuma esp(rança! %m$ora, o sangue do meu peito se3a 0reces ao 6riador, meu coração =irgem deilhe* gemendo ao sacrif/cio, 0or ele inda se e5ale. Tenho inve3a da $ranca, com tal sorte 97
Quanto eu fora feli-! os dias todos! 0assara todo o tempo aos c2us olhando, Quisera ver meu eus! +uvira todo o cntico dos pássaros, os ventos e das selvas e dos mares1 As flores eu amara como adorno o meu templo d(estrelas... %scrava eu sou, em$ora a$rase a vida, %smoreceme tudo e desanima1 Al2m deste hori-onte eu nada espero, Aqui me ve5a a sorte...D 6antava o galo preto* ela esquecida, =eio a aurora encontrála, que at2 ho3e )ão vira, nunca. Fhe pasmava a vista, &as enlevada e doce, prolongando )as faces novas relu-entes fios* % de um encanto rodeada esteve, Quando o açoite vi$rou longe. ' %ra um preso Que gemia ao nascer, ao pr do sol, Harpas memnnias se escorrendo em dores, At2 que desmaiasse, e adormecia 8 cadBncia dos golpes que o rompiam. % o dei5avam 3a-endo* a vida e o sangue @ofa em golfadas d(e5pirante $oca. ' Todo o dia dormiu, talve- sonhasse... 9nda dormindo está, no $raço o corpo %m desmem$ros lanhado se amontoa Transudando uma água* a ver se 2 morto, 6om a ponta do açoite o tocam* im4vel, %rgue os olhos de vidro, e lento os cai a lu- aos passos lh(inundando os ferros e som$ria prisão. =ive* e começa e novo a desfa-er nos ais um nome1 % tornava a dormir, at2 que aca$a* 9nda o sacodem, gritam, e ferem ainda! ' %ra da escrava o irmão* 3ovem como ela, Bmeos do mesmo amor, am$os sonhando este ideal que as almas arre$ata e generoso enlevo. A linda filha e seus senhores, da crioula inve3a, %le amara, coitado! 4 cor, 4 sorte, 98
Que negro e escravo o fe-! entenciado ;oi aos ferros morrer de fome lenta, e sede lenta1 e na manhã, no ocaso, im$oli-ando o sol, ir pouco e pouco A vida mais sens/vel derramando )os laços infernais do viramundo! % do seu peito retalhado nasce 6omo da terra um som su$terrneo, 0uros 4rgãos de amor crescendo aos c2us. T/mida espantase a crioula, e foge* Feva o dia a vagar so-inha errante, 6omo quem da e5istBncia em despedida a#da o sol e os campos. &endigando piedade, chora 7s portas a fa-enda vi-inha* os homens riam, %m troco lhe pediam seus amores, o$re o seu colo uma hora* % ela estremecia, e, d(inocente Qual vagas de pudor vinham so$re ela. % como o sol ca/sse, ela voltava e si mesma ao senhor. eu erro a confessar, os p2s lhe $ei3a, Que a magoam* soluços não lhe valem )em pranto virginal nem eus do c2u, Tudo emudece 7 escrava! %stendida no chão de finas pedras, Que 3á sangramlhe o corpo que se arqueia, 0edia a eus 3ustiça da inocBncia, 6ompai5ão ao tirano. 0eiada em duros n4s, lhe começavam espir o corpo e o seio* ela tran-iu* argalhada infernal o$l/qua ao mundo... %mudeceu. &ist2rio! % seu irmão gemeu no mesmo tempo, %m seu t#mulo o sol tam$2m fechouse, % todos para o eus partiram 3untos ' 6rioula, escravo e sol. 99
XXX - A MALDIÇÃO DO CATIVO ou cativo, na cor trago a noite esta vida d(escravo tão má! &ãos do dia que algemas nos tecem anguinosas, no inferno são lá! )o silBncio d(um$roso passado "m gemido recorda sua dor* % o fracasso dos soes qu(inda vem erão sempre gemidos de horror. 9nda mesmo que mudese a sorte, 9nda mesmo que mude a nação, Terra onde gememos em ferros >unquem flores servis ' maldição! )ão dormido nos $raços da esposa, Que por terras estranhas vendida )unca mais eu verei* eu que a via %ntre os dentes d(uma onça incendida. =i seu colo arque3ante cru-ado, &agoada sua face de amor... &uito em$ora, mas nunca do$rada e mulher que era minha ao senhor! %ntrançada com peias na escada, 6ompassados açoites si$ilam, % $anhados da carne que tra-em =ão n(areia, e de novo cintilam* % a cadBncia do golpe e dos gritos &ais o horr/vel da cena redo$ra*
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&uda e lenta passou, fatigada e um tra$alho d(insano sofrer* % os seus olhos e os meus se encontraram, % entre pranto vi pranto correr. ura vida, que amava, onde foi? % nem mais minha filha e mulher, Que em la$ores d(escravo eram $risas Que em seus seios me vinham colher. A desoras, sopito o tirano, Ao mortiço clarão da candeia &inha filha afagou minha destra Fá no rancho palhoso d(aldeia. &inha filha cresceu, e formosa 6omo a flor lhe nascia a feição ' %ram faces de um preto retinto, %ram olhos de um vivo loução. %, depois da ign4$il vingança, >á vendida na praça, e por hi, em respeitos 7 igre3a ' qual eus, ;a- um(orfã, uma vi#va, ai de mi! %, da magoa infantil esquecido, oce mãe quando a o$riga açoitar... % eu craveilhe as cadeias... n4s am$os 4 por ela esta vida a levar ' A$re os olhos de fera sedenta, Amoroso da po$re filhinha, Amoroso... que fera não ama* i-, fa-Bla, rendida, rainha 0or2m eu que no peito co-ia Ódio ingrato de um vil coração, Aguardava pretido a don-ela a serpeia, fala- sedução. &as a filha d(outrora paterna, @em depressa, qual sempre a mulher elirante do mundo, de amores %m seus $raços se foi recolher* 101
espre-ou minha $enção! perdido, estru/los pensei* desgraçado, Am$os 3untos segui pelas som$ras, 6omo espectro d(infernos armado. )ão que em sangue insensato alme3asse &inha faca tingir* que ante o riso a filhinha a que$rara, coitada, Tam$2m %va pecou no 0ara/so* &as nas ervas da dor, mutilado o tão cru meu senhor vingativo ' 6epa f2rtil, que frutos lhe dava e alimento e de amor... ah! % cativo %u fui cão de fare3os danados Trás da prole infeli- e o senhor* % esta faca como inda se escorre %m dois sangues! mas de uma s4 cor. % eu agora por $renhas erradas, 0or /nvias me fu3o a vagar1 ecas folhas meu leito da noite, )egra coifa por cima a em$alar* % fantasmas me cercam, medrosas =ãose as feras no antro esconder1 Feve aragem, passando por longe, into os gritos que$rar do descrer* Tudo pasma de verme! natura Treme q monstro como ela não gera! )ão, sou homem tam$2m... % eu matara &ais mil ve-es laivada pantera! ;u3o as mádidas horas da tarde, &oles raios da lua me aterram, % esses hinos do sol dessas aves ão si$ilas que dentro me $erram. % no eterno da dor som$ras l#$ricas =emme a fronte d(insnias pisar, e destorce o meu corpo, em minh(alma 102
e desfarpa o remorso a calar! &as de eus não sou r2pro$o, o peito )em malvado nem $rn-eo 2 meu* %nsopado nos 4leos do crime +nde geme a inocBncia, acendeu. % d(impuro que era, inda sinto +s meus ossos tremerem rangendo1 +h! são lavas que as veias me inundam, ;2$reas l/nguas me a pel refrangendo. % eu matar minha filha... e nem pre-o (a$rir sangue tirnico, ignavo. 0or2m, sou renegado, assassino ' % eis a sorte, e eis a vida do escravo. @aldo em corpo, que outro homem domina1 Alma est2ril minando nos v/cios, esgarrada nas trevas da morte, Fongo inferno de longos supl/cios* +h! quem foi que for3ounos os ferros? +h! quem fe- neste mundo o cativo? Açoitado, faminto, sem crença, em amor ' sem um eus! ' vingativo. =4s, 4 $rancos, calcando so$er$os, 9numanos assom$ros sangrentos, )egra relva de humildes ca$eças, 6omo alados de presa sedentos* )ão sentis esfolhada no peito &urcha pa- d(esmaiada virtude, % de grata poesia estalarvos 8ureas cordas de um santo ala#de? )ão sentis sentimentos su$limes, 62us divinos d(enlevo e pai5ão, %strangeiros medrosos fugirvos em asilo no mão coração?... =ossos filhos 3á nascem amando As del/cias do açoite $randido, 103
6omo os cães esfaimados se agarram 0elo flanco ao tapir perseguido* )ascem vendo essa nuve agoureira A formarse de em torno dos olhos, Quando fa-emse em vidros, raivosos espe3ando sangu/neos desolhos. 6astigando sua mãe tão querida &ãos piedosas de trBmula filha ' Quem fi-era! e sorrirase ao choro Que ante os olhos maternos humilha?... +h, no inferno viveis que vivemos, 0ara n4s não, os c2us não se espraiam* =4s a$utres as carnes nos comem1 os cordeiros as pragas vos caiam. % mirrado da vida que sofro, Quero a triste na morte aca$ar* % o a$ismo que a vo- me sepulta, =á meu corpo tam$2m sepultar... (escura grota 7 pedregosa $orda Fançando maldição + escravo sumiu. +co fracasso @ateu na solidão. % as aves em coro levantaram Triste cantar, &on4tono e carpido, eram lamentos e longe mar. % na selva ululada do fugido + silBncio caio. % o vento estendeu compridas asas, % a folhagem Istrugiu. % eu prendo o ouvido contra a terra Que vi$ra os seios* onora ondulação de longe tra-me Fatidos feios* Tra-me por pedras deslocadas lenta 104
6adeia longa (elos de ferro, que arrastada eterna, Fá se prolonga* Tra-me rugir de fera1 7 vo- do açoite emer profundo, Tão doloroso, tão de piedade ' )um vasto mundo! 4aris
XXXI - VISÕES %isme s4! nem os -2firos me cercam, )em ouço a vo- da nature-a B do homem* Que para sempre os meus ouvidos percam %sses horrores que o meu ser consomem! "m momento feli- da solidão ' Quanto tempo não fa- que eu não respiro! 6omo treme de amor meu coração* e estre$uchando esta alma! +h, que eu deliro! %u s4! nem o meu eus! que, desdenhoso, %m troco de um amor do peito ardente, os meus ais e do pranto esperançoso, espede so$re mim sarcasmo algente. )em o meu eus! que enchiame de vida* Ó minha doce esp(rança! 4 minha crença! Ó desespero, 4 alma perseguida, ' em crimes ' quem te deu tão má sentença? )a mis2ria eu nasci, nela crescido 0ara nela morrer, sempre mis2ria! 0or toda a parte, e sempre! um vão gemido ' 6horo e morte a cair da vil mat2ria. Que! tudo 2 miserável neste mundo! 6omo as cousas se dão tanto valor!... Famenteio de o ver o verme imundo e 3ulgando feli-, se dando amor... ecou meu pranto1 e s(inda o vou chorar, 105
%u delire, me espasmo de risada! 6uspo so$re o meu ser* vi o pisar 0rimeiro o eus e o levantou do nada! )ão quero a lu- do sol* se apague o dia 0ara o meu e5istir... que mundo horr/vel! ;ugi de mim, perseguição som$ria, 0ensamento de um eus, e o ser vis/vel. )egra noite, eu vos amo, quando a terra 0assos d(homem não vi$ra, e nem dá estreita "m s4 clarão1 profundo o mocho $erra* Amo essa ave, de horror essa hora 2 $ela! Antro da fera, escondeme como ela e sua pele nas do$ras mosqueadas. ois meu an3o do amor, desgraça $ela1 ois meu :den, cavernas assom$radas. Aqui podem meus olhos apagados e tornar acender, se encandear1 &ordido o corpo em tBne$ros rosnados, ;elicidade Cpde inda encontrar... =ida, que 2s tu? %storcese convulsa &inh(alma, e estala! + rei lá se em$e$eda )a farsa da e5istBncia... A morte impulsa Todos 7 mesma $arca, 7 mesma queda* o$re os olhos aperta estreita fronte1 Acena escarnicando* Ceila, em$arcaiD* % passa a humanidade humilde, insonte1 o alto mar nos escolhos* Cnaufragai!D % o que resta do homem? =entos, vagas, Astros $rilhantes, não emudecei... +h, verdade fatal, que assim me tragas! %m$ora inda ficais e eu aca$ei, Tendes noites tam$2m na vida evada, )ão triunfais de mim, nem vos lamento* Todos! descemos 7s soidEes do nada, )o$res, eu, e o mendigo vil, no3ento.
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% tu ouves, acaso, eus, tu ouves %m contorçEes me arre$entarem as veias )egras d(agro cruor? )ão, não me louves, áme pálido rir1 por2m, me creias! 7erras de Cintra XXXII os ru$ros flancos do redondo oceano 6om suas asas de lu- prendendo a terra + sol eu vi nascer, 3ovem formoso esordenando pelos om$ros de ouro A perfumada luminosa coma, )as faces de um calor que amor acende orriso de coral dei5ava errante. %m torno de mim não tragas os teus raios, uspende, sol de fogo! tu, que outrora %m cndidas cançEes eu te saudava )esta hora d(esperança, erguete e passa em ouvir minha lira. Quando infante )os p2s do laran3al adormecido, +rvalhado das flores que choviam 6heirosas dentre o ramo e a $ela fruta, )a terra de meus pais eu despertava, &inhas irmãs sorrindo, e o canto e aromas, % o sussurrar da r#$ida mangueira %ram teus raios que primeiro vinham
u$indo o monte, 3á na terra inclina. %u vi caindo o sol* como relevos os et2reos salEes, nuvens $ordaram As cintas do hori-onte, e nas paredes %státuas negras para mim voltadas, Tristes som$ras daqueles que morreram1 Fogo depois de funerais co$riuse Toda amplidão do c2u, que recolheume. As flores da trindade se fecharam, % 3á a$rem no c2u t/midos astros1 Apenas se amostrou marm4rea deusa. Que sossego! me deito nesta la3em, &eus ouvidos eu curvo, o pensamento 0enetra a sepultura* o caminhante Assim vai pernoitar em fora d(horas, % $ate ao pouso, e descansando espera. @elos t#mulos, verde ciparisso, aime um $erço e uma som$ra. 6omo inve3o %sta vegetação dos mortos! rosas &eu corpo tam$2m pde alimentar. Al2m passa o sussurro da cidade, % nem quero dormir neste retiro 0elo amor d(4cio* mais feli- o 3ulgo Quem fa- este mist2rio que me enleva, eus somente alumia este caminho. )asce de mim, prolongase qual som$ra, )egra serpe crescendose anelando, 6adeia horr/vel* sonoroso e lento "ra elo cada dia vem com a noite á estou traçando com dormentes olhos Fá diante o meu lugar ' oh, dores tristes! Todos então ao nada cairemos! % o ru/do do crime esses an2is )ão, não hão de fa-er* num s4 gemido, ;undo, emudeceram sono da pa-. 108
+h, este choro natural dos t#mulos +nde dormem os pais, indica, amigos, 0erda... nem as asas ao futuro )ão sei voar* a dor 2 do passado Que se esquece na vista enfraquecida, 6omo fica o deserto muito longe. enão a morte me tra-endo a noite, )ada mais se apro5ima* solitário As $ordas me de$ruço do hori-onte, )utro o a$ismo de mágoas, de mis2rias! 0orto de salvação não há na vida, esmaia o c2u d(estreitos arenoso... %u fui amado... e ho3e me a$andonam... &eiEes do nada, desapareceime!
XXXIII Quando nessas horas vagas ocemente me encantavas + pensamento de amor, 0or essas del/cias magas )ovo sol me alumiavas 6ampos formados de flor* % eram minhas horas vagas + feli- passar contigo... o$ a vo- de murm#rio 6omo da fonte nas fragas, 6omo de mar sem perigo, 6omo das folhas d(estio. eguimos sol da vida at2 o ocaso, % o passado e os anos e a idade eguindo os nossos passos nos despertam %m repetidos gritos* morre o eco )o late3ante a$ismo, as flores murcham... )as florestas do horror a alma se enoita, =ai gemendo a rasgarse pelos troncos. A vida está minada de desgostos* o pão da vil mis2ria se alimenta )a mesa da desgraça, a sede amansa )as águas da amargura1 vem a morte 109
0iedosa em$alar seu leito e estende A mão que alve3a d(ossos amarelos, %ntoa uma vo- pálida, qual choro Que em mori$undos lá$ios adormece* C9nda tens de ver a aurora, C=er o ocidente a cair, C9nda do mundo ao sorrir CTens de sofrer, de gemer1 CAinda verão teus olhos CÓdio e sangue os c2us de eus! C&entira nos lá$ios seus C)os teus ouvidos de horror! Corme, filho da desgraça, Cono da po$re inocBncia, Corme, dorme ' na e5istBncia C9nda terás de acordar.D @em cedo eu despertei1 antes quisera ormir eternamente. Achei verdade 4 na morte* o porvir estremecendo, Apagando o que passa, e o dia d(ho3e 0or trás das costas sacudindo ao nada, %, por despre-o, ao sol somente ossadas. ei um passo, escutei, voltando os olhos %ra um festim* as lu-es se apagaram u$itamente 7 e5alação da tur$a* 6onfusão infernal! na escuridade +s dentes $atera, se mordiam os homens. )ova lu- aparece, o sangue lava, % para envergonharse um s4 não vive. )em olho ao mundo sem me rir de vBlo* altadores delfins ledos de vida, e a$raçando com a morte, dançam. ente* Teu passo mais risonho 7 morte chega1 0ela senda mais doce e mais florida 0elas mãos ao destino ela te leva1 As lu-es do pra-er mentem que há c2u, Atrás dos prismas da ilusão 3ogando* +lha so$re li mesmo ' homem, que horror! esde ti a perderse pude tu penses 110
Tudo 2 mis2ria, e tudo 2 s4 desgraça.
XXXIV - VISÕES =arre aquilão* frondoso et2reo $osque espe as folhas do dia1 sa-onado 6ai atrav2s da tarde o fruto de ouro, %ntre nuvens de aroma o sol vermelho1 )oturno prado de mati-es cheio
Quero ver inda o sol! +h! malfadada orte do homem* quanto mais fadigas, Quanto mais e5istBncia ' mais um dia, 0ara ainda sofrer na mesma terra +nde em vão desesperas, tu mendigas! "m s4 dia 2 tua vida, o mesmo sol T(o repete continuo, o mesmo sempre 6o(a mesma noite e aurora, e os sonhos mesmos 4 promete a esperança1 ela s4 mente. &eu destino fatal! de meu não tenho )em uma hora sequer* esta em que eu falo, >ulgueia minha, quis d(ego/smo tBla, 0ara dála ao meu t#mulo... passou, % perdeuse. &eu eus, como eu te ve3o 0residindo o teu or$e, e a mira no leito o sofrimento que me dás, e a terra %m mil frmas ' de frutos, d(homens, d(aves Ho3e a fa-erse, por comerse inda ho3e, e tão má, tão faminta que a fi-este! % ris deste espetáculo, impassivo Fá no teu c2u dormindo ao nosso pranto! % ris mofando ao mori$undo em vascas, Quando em $erros estorce o corpo e os $raços, e$ai5o do carrasco em negra luta, %m sinistro $randear ringindo o leito! <2ptil criador comendo os filhos, Quis compararme a ti! fui assassino, 0or ver a dor, que tu amas, no meu peito. Amei a formosura* mansa e t/mida 8 minha vo- seguiume... como inda amo, Que estremeço de ouvirme a negra hist4ria! Amando por amar, toda ela amores, "m desma-elo virginal, infante1 &eu amor, minha escrava, minha filha, 6ndida mai, senhora, que adorava1 ua vida minha s4, vida que eu deilhe1 Que ela sou$e me dar, sua minha alma* 6riação de n4s am$os n4s somente. epois que dentro dos desertos vime, 4 com ela e contigo, eus, ferindo %ssa corda afinada ao som mais alto1 112
Quando a vi delirante a desalmarse e envergando em meus $raços, d(inocente e um choro natural, sentime fera, %nfe-ada e com sede, aos teus escárnios! % um deus me vendo Kcomo tu, crieia, Rnica esfera sua, em mim te via1 Quis matála lam$em, nem criminoso %u sou, qual tu não 2s, tu, enlevado )os dolorosos gritos de teus filhosL, Ave $ranca, rompilhe o liso colo )as minhas mãos de ferro! %la e5pirava... 9nda o meu nome doce em seus suspiros ;ormava, e desfa-iase1 inda uns olhos F/quidos, lentos, trBmulos voltavam )os meus olhos d(inferno! Tão piedosa, uvidar, parecia do meu peito ;erino e monstro! como em sonhos, $usca ;eli- realidade, ouvirme ainda A vo- do caro amante* repudiada... )uma comprida esp(rança esvaecendo %m lágrimas em ondas, desfalece 0endente aos $raços pálidos da morte, Que o homem $ruto lhe estender não sou$e, 6ndido l/rio vivo. %ram meus olhos Fançando um fogo... e o que lança vão era alma! Ave $ranca! ondulou morrendo, e a terra +nde fria caio foi no meu peito. Quero a morte deter tomoa nos $raços, acudoa, grito ' que me digam antes o alento final esse mist2rio Que fa- desesperar... omente um nome Achei, meu nome lhe passou nos lá$ios* )egra morte nos meus, quando eu di-ia, 0redispondo os sentidos miseráveis, C%spera ' espera ' agora ' morre ' morre!D +s teus fi2is a ti no passamento @radam tam$2m, tam$2m mandas que morram. Ali tudo ficou, gelou no sangue + ar que 2 nossa vida %nquanto ondula Quente e agita o coração e as veias, ;a- o peito sonoro e as faces tintas. +nde a alma?... %u vi! seu corpo 7 terra 113
Tudo arrastou, se consumiu com ela. 6omo eu era, enhor, te encontro sempre em ter descanso, pelos teus dom/nios. "ma v/tima s4 dor deume eterna1 &il em cada momento apenas podem e suspiros formar o ar que respiras! "ma s4 vo- e5tinta a mim gritava, "ns olhos s4 me olharam* eus somente e uma s4 criatura, uma s4 vida &inha foi, aca$eia, e5austo eu morro. 0or2m tu viverás* quando este mundo >á não derte alimento, crias mundos. o teu re$anho os #ltimos $alidos i-em teu nome, como t(e5pro$rando1 %spasmase nos teus o derradeiro @ranquear dos seus olhos, tão mendigos % tão fi2is 7 prometida esp(rança... Tal nas mãos do pastor agno mimoso, Que deu tantos carinhos, que dormia %ntre os seus p4s, nos rastos seus andava ' + sangue derramando, espera ainda K&aterial esperança!L e crB na vida. 0or2m, 3urote, eus ' farto para sempre, into minha alma de remorsos cheia! % tu?... 6om a vista me rodeio* as aves, Que no entrar da espessura nos saudaram, Tinham fugido1 pelos ramos inda eus desplumes seu medo me disseram1 % os meus ca$elos eriçados, grossos, e alisavam c(oa fronte1 o rio, os ventos, + tronco vegetal tinham parado &e vendo! %u despertava em meu del/rio Ante a realidade! a virgem morta, 0álida e fria a reconheço, eu ru3o! % de homem verme, comecei chorar. ' Quis seu corpo aquecer so$re o meu corpo1 "ni sua $oca 7 minha, a vo- lhe dando, Que o t#mulo não guarda. %m verdes folhas )ua deiteia, as mãos postas, e as trancas %scorreramlhe em torno. ias, dias 0reso a seus p2s levei a contemplála! randes e a$ertos so$re mim ficarão eus olhos fi5os e vidrados, longos 114
6omo a meditação de uma sentença! % a terra animada desfigurase* rão de poeira que o vento ergueu numa hora, 0asseou so$re a massa de que 2 parte, % so$re si caio, se envolve e perde. %u vi! ' seu corpo transparente inchando1 0erderemse os seus olhos nas suas faces1 Humor f2tido escoase da carne, Tão pura e fresca, tão cheirosa inda ontem, Que ela amou apertar em mira, d(insonte ;ren2tica de amor, nervosa e trBmula! ;ormosa ondulação das castas ancas, os seios virginais, da alva cintura @ela voluptuosa... disformouse %m repugnante, Kquem que a vira e amara!L %m no3enta, esverdeada, monstruosa +nda de podridão! Jum$iam moscas, ;amintos corvos so$re mim se atiram,
iante mim! por2m, tudo era imund/cia. +h! quantas ve-es me lancei so$re ela, >ulgando tudo amores, tudo encantos ela emanando em l/mpidos arroios! ;u3o de no3o... de piedade eu volto... epois, como as enchentes pluviais %scoando, que os troncos 3á se amostram, eus ossos vão ficando desco$ertos. +h! mirrado eu fiquei do sofrimento, e tanta dor curtir! % tu, 4 eus, Que tudo aca$as, sofrerás tam$2m? 0orque tão miseráveis nos fi-este, eus d(escárnio? teus filhos n4s não somos... Que sorte de alimento ou de deleite %ncontras na desgraça desumana? @elo horror da e5istBncia ' formosura. ;ilha da nature-a engrandecida )o seu pecado e morte, meteoro %nganoso da noite, flor vermelha %m veneno $anhada, mulher $ela! ' Tudo ali Istá! ' 4 mundo! mundo... mundo... 9nda 2 meu amor esse esqueleto, =ive comigo* doulhe cor 7s faces1 &uito sorriso 7 $oca descarnada1 8s 4r$itas som$rias moles olhos, 6omo de nuvens rodeado o sol1 &el/fluas tranças 7 caveira $ranca, %rrando os crespos na aride- do peito Que encho de frutos, de suspiros, vo-es. e um terno coração vi$rando amante! &as... essBncia imortal não saiu dela* %m$alde interroguei mudo cadáver, % os ossos amarelos nem respondem! &as, aqui a mulher não 2 per3ura* 4 lem$rança de amor santo evapora ' A $ele-a se frma ao pensamento, A saudade suas vestias se derramam. )o cimo da montanha solitária =ou levantarme* grito, eus, teu nome, eito os ouvidos... surdo o eco apenas
)o tronco das palmeiras, olho ao longe* Ara o campo o colono, o sulco e5ala 6heirosa emanação l2pida, umente1 + carro cantador passa no vale %ntre as r#sticas vo-es sonolento1 6o$rem a selva os areais de prata, 6o$rem o dorso dos $ois1 verte lamentos &ori$undo acauã no fundo $osque, &esta espessura de soluço enchendo. &as, inda o que eu sou não m(o disseste, )ingu2m m(o respondeu* me fale em$ora Que tu se3as, a mata, este penhasco, + sopro deste vento assim mugindo, 6omo as almas dos mortos te $uscando ' )elas não posso crer, não posso crerte, Que em mim não creio! eus, dáme outra essBncia. &uda o meu ser, su$stitui minh(alma 0ara poder te amar, crente e feli-, ;eli-! : meu sofrer o desespero, %ste dese3o e carecer... que aspiro... &inha morte eternal! muda o meu ser. % 2s tu mesmo que dás minha descrença! 0assava a vida a procurarte ' %scuta* e dia ao desespero me levaste1 Tiram meu sono 7 noite os teus sarcasmos. )um deserto, mui s4, de terras vastas, em um vento e nem vo-, o sol somente o$re a minha ca$eça achei $atendo1 )ão havia mais ar, $aldava as forças 0or soltarme, e mil $raços me enleavam1 % eu apenas pensava na e5istBncia, Alma e corpo, e um eus. + sol se apaga* %m cima dele um monte alcantilouser % u(a face de ferro se $runia o$ ele, como liso era o meu plano* Asas nasceram.1 e uma mão, que o tinha, + larga so$re mim ' foi um momento* &ais negra se fa-ia a escuridade %le mais perto 3á1 lá vem! lá vem! ;a- um vento, que a som$ra espessa, acalca1 0enetra a atmosfera, que se estala1 >á range e arre$entase nos ares, ;uracão na floresta 7 meia noite, 117
Aos ecos infernais dei5ando lascas, 6entelhas vivas. %smagoume em átomos. "ma dor me passou, qual uma nuvem Que se inunda de lu-, vaise escoando* Feve fumaça alevantou, perdeuse. Assustado acordei ' lá ia o sol. ' +utras ve-es sonhei prisEes d(inferno, 0or onde eu era horror, e horror vi tudo. +utras ve-es sonhei na concha de ouro. 4, no ar em$alado. +utras sonhava. %ntão cora asas de mimoso fogo Sgneos p2s a$raçar da %ternidade, % de lá ver o tempo so$re o mundo =oando, de que eu mais não carecia. +utras ve-es sonhei, morrer meu corpo 0orque morria a alma dentro dele. +utras, que não há morte* o corpo e a alma %ra sua luta final que se separam, 6omo a que a sorte das naçEes decide* %la por ir viver por hi ' no c2u ' %m descanso talve-, ou livre ao menos, +u nova terra, e amar novos amores1 %le por desfa-erse em outros seres, Que se desfa-em n(outros, a perderse e vida era vida. % eu inda acordava )as torturas do adeus, nesses estorços, 0ara trás a ca$eça, em vasca os olhos, A mastigada l/ngua despe3ando. +h! dáme ao menos que de ti me esqueça* )a pa- dos coraçEes talve- tu desças %stes est2reis, desgraçados campos ;lorir verdes ' de li, do amor, da crença. )asce a manhã no c2u, alvas formosas ão tur$antes do sol* hino encantado
6omo folhas do mato o vento leva? Que m#sicas divinas oprimiram &eus ouvidos de afagos de harmonias! Que 2 isto que me enleia, que me prende, Que me atira p(ra as nuvens que me em$alam )o ocidente de fogo, e a vo- me a$afa? enhor! enhor! perdoa, eus, perdoa! +uvi tuas harpas, na sua vo- esta vão =o-es celestiais ' l/quidas veias Teciamse na relva do teu solo, 0elos teus p2s divinos se humilha vão. 0ara o verme vaidoso em t2rreo lodo esdenhaste falar1 por2m eu te ouço )as vi$raçEes sonoras do instrumento Que em suspiros degela o peito meu. o$ um montão de ru/nas, um tug#rio, e palácio que foi, ora ocultava o sol do mundo uma fam/lia* outrora o$er$a e radiosa, de mil homens +u de amigos Kno3entos mascarados, Homens e amigos, raça desgraçadaL
Ali 3orrou clarão de amor, que e5cita... Fu-ente o chão ' lá está, fendido e su3o, Que não pde fender ruidosa dança... + tempo, a sorte como tudo estraga! "m escravo que apenas da rasoura %scapou, lento passa, mal co$erto1 + vento o leva, os olhos fundos, tristes, antes tão ledos nos serEes cantados1 &agro, s4 geme, que sua mãe vendida, =endidos seus irmãos, vai aca$ando %m mudo tra$alhar penosos dias... ias da escravidão v4s sois $em longos! Tempo, correi, passai, sumi sua vida. ' "m eco doloroso prolongavase 0or esses desolados aposentos om$rios ' d(outrora... % tu fi-este mais... + mar van-eia preguiçosas ondas )o oleoso deserto, e muge e $erra o$re a praia arenosa, longe* 4 mar Ó meu irmão do isolamento e lágrimas, Ó mar, como eu te amo! + que tu di-es )esse choro profundo? acaso triste Famentas meu del/rio? acaso sa$es Quem deute a vo- a ti, dor 7 minha alma?
XXXV - VISÕES Aonde eu vou, enhor, onde me levas? 120
% isto que me arrasta, e que eu não ve3o, : tua mão? +h, então levame, levame! Tenho fome* mas, sangue não me nutre,
A manhã minha virgem nova e $ela 0or quem morro de amores1 amo a tarde, Que minha mãe semelha1 o vento, os montes ão meus amigos1 minha musa a noite1 )oite minha alma, os sonhos as estreitos Que me adormecem na piedosa lu-1 + rio, o mar, o lago melanc4lico, &eu ser d(ho3e e o passado1 e o meu futuro... +h, meu futuro! a tempestade e o raio onoras velas do navio rasgam Tão quase a naufragar cortando o golfo. Quando cair meu corpo so$re a terra, e uma alma eu tiver que eus não queira, 9rei então morar so$re um rochedo 6omo ave do mar, que dB s4 pouso A mim, o mais, cercado de oceano 0or toda a parte e c2u que perca a vista1 +ceano remoto, onde não passe "ma vela, que qual fanal me ve3a uspenso no hori-onte. % se minh(alma eus a quiser, 4 v4s que mais me amastes, )essa pedra isolada como eu sonho, Fançai meus tristes ossos espalhados o$re essa pedra de soidão* 7 noite @ranca aurora virá tra-endo orvalhos 6air fagueira. % se alma n4s não temos... ei5aios inda lá dormir tranquilos, Tão cansados da vida! com suas ondas omente e o sol e a tempestade $ela, 6(os irmãos que eu amava os rodeando. Tu, essBncia imortal do nosso corpo, )asces com ele? 2s filha dele? o crias?... =ive sem alma o $ruto, o homem morrera! % porque? e organi-ados todos somos, A alma, que do corpo não carece, %la que vive s4 mais venturosa, 0orque o não dei5a como o $ruto, quando 9ndigno dela? 6on3unção su$limei u$lime aniquilar! A eternidade omente a eus* a n4s, homens d(argila, + gBnio para olhálo, o amor, o canto, % este vago anelar... alma, e5istBncia 122
o pensamento, que mais so$e e lu-e, A ele todo! )utrese em desgostos rosseira esp(rança, e nada a satisfa-* Triste e cansada a $emaventurança esse dia sem noite, que descansa, )ão valera depois* Ce eus que importa, eparamos aqui...D tam$2m o avaro )unca se farta de ouro, a águia mais alta &ais quer su$ir as solitárias nuvens1 Ao mármore da estátua que talhaste eras vida, tam$2m morrera humana1 ;i-erate imortal, mil outros deuses Quiseram derri$ar seu pai, mais go-o onhariam al2m. A eternidade )o homem!... eus, perdoa1 deste o sonho, Tão fresco em$alançar, suave engano a vaidosa loucura. Quanta vida, Quanta felicidade neste mundo! Amor desde o nascer, e sempre amor At2 nas tristes lágrimas da morte! K
Que 3á vimos vivendo neste tempo. igam em$ora os profetas, não sa$emos Qual foi seu nascimento* ve3o tudo empre na mesma idade1 houveram sempre á$ios e hão de e5istir1 o dia 2 mudo esde a aurora ao sol pr. iro dos ventos! 6/rculo eterno que descreve o sol! a/mos de uma noite, entramos n(outra, )4s somos um s4 dia, e n4s contamos )ossos minutos pelas nossas dores. Alma do homem, se imortal tu 2s, 6omo cresces com os anos da criança? 6omo desmaias quando o corpo enferma? 0endurados nos seios maternais + da r2cia, o de
&edem teus altos vos1 mais vais, mais vives, Que a eus somente a a$soluta vida! )ossa vida este sangue, a seiva d(árvore, esta árvore pensante e divinal1 ão perfumes nossa alma, diferentes, empre anelante a se perder nos c2us1 + pensamento, o resplendor que a cinge, A atmosfera vegetal am$iente1 : seu tronco o amor, a gl4ria1 os ramos, +s frutos e o som$rio gasalhoso % as flores ' a virtude, o crime. : $elo Amar um eus, oh! sim, que um pai n4s temos Amor, que fa-es dor, que a dor esqueces! % para amar nem peço alma infinita ' &aterial condição do mundo aos c2us. Amemos de amor santo, amor sem esp(rança, &ãe enganosa da am$ição, dos v/cios* %sse amor natural 2 mais divino, o que quando nos di-em duramente* CAdora o que a vingança aguarda, o raio &anda e a peste, o eus de sangue e morte!D % curvamse os co$ardes, mas não amam, o medo infame e do terror1 escravos Amantes!... como o pai vi$rando o açoite 0ede a $enção do filho. Amor mais puro emos ao eus dos homens, por n4s mesmos, 6omo os pássaros cantam na espessura. %m$ora o sol se apague, os rios sequem, )ão vamos d(interesse ante os altares Fágrimas d(olhos espalhar, vilmente &is2rias confessar aos impostores, &ais miseráveis inda, que se enovam )a esperança de que eles purificam. 6omercio d(alma nos marm4reos c2us %ntre o povo e o ministro, o rei sopito 0ela alta nuvem* e, quando despertado Aos latidos do crime, iremos, no3o! 6horar, pedir... 6horemos todo o dia, 0or2m, movidos de um amor ' da crença! Triunfo 7 consciBncia, e sufocado %stale dentro o coração perverso! eus deunos para n4s o mundo todo, 125
+ sol, os astros e este mar2 a selva1 eunos vida e sa$er. % o homem pede, 0or pedir, por sonhar pede somente, + salário do go-o em recompensa e uma e5istBncia d(asas soltas, pura, Que ele pr4prio s4 mancha! então gemendo ente do v/cio as farpas. + inocente @em ve-es sofre* mas, o sangue dele @anha a sociedade que o condena* + homem cria o mal ' por consumilo ' 6ontra o seu deus, oh, prole generosa! A eternidade em recompensa ainda 0ela sua morte e as horas que passasse )a adoração divina! e eus nem fBlo 0ara id2ia tão vil* negando $ruto A 3ustiça infinita, ele não sendo Tam$2m por esses c2us infindo n(alma. ' : c2u em si a caridade, o amor* 6ndidas palmas seu caminho 3unção, Fágrimas vB correr sua morte, e rindo %m piedosa alegria e5tingue os olhos. (alma eterna a virtude não carece1 )em por não ser eterna o crime, os v/cios a nature-a pendem. %m letras /gneas o$re o rosto da lua aparecesse A verdade imortal, e as leis da terra )ão fossem mais ' 4 mundo desgraçado, %u quisera te ver... a lua fora &entirosa* ' a verdade fa- escravos* ' uvidar 2 viver* o homem 2 livre! ' e eu lenho eternidade, não m(o digam Homens como eu* no espelho do universo =e3o uma s4 imagem refletida* 0ura religião da consciBncia, o sentimento da moral divina &e levaram naturalmente e cego. =e3o s4 pedras o falar dos homens* A fera de ra-ão $erre aos cordeiros. ' )em quero recompensa 7 minha vida, 8s minhas dores, meu amor de um eus ' Amando tenho o c2u, tenho o meu 0ai! %u sou da terra* a terra, o vento, 7s águas ão por preço seus cantos? não são eles 0reço de amor 7 criação somente?... 126
er feli- 2 amar, feli- eu era Amando a doce mãe na doce infncia. ' + navegante sol passa na esfera, &iramse estreitos nele, e dános dia Aos nossos olhos e o calor ao sangue* =oa ao sol deste sol, muito al2m dele, A alma do meu corpo na e5istBncia, Ao clima et2reo de sua vida e flores. )ão 2 amor divino o amor da terra, +nde 2 fanal da longitude o lucro. Ó santo, 4 generoso amor da pátria! Ai dele o que disser* Cos sacrif/cios Ao nosso corpo, que o enhor amansam, A n4s as portas das del/cias a$re1 A pátria dávos ouro, augustas gl4rias, 6om$atei peto pátria, salvo a morte!D Hão de cair teus dentes, e os teus lá$ios @a$a infecta derramem do teu peito! ' 6aiam os templos aos p2s da nature-a, : mais $elo este sol de lu- de dia* 6omo do mori$undo 7 ca$eceira 0arece a vela insinuar piedosa + caminho a passar, mudoeloquente %le nos di- Cal2m!D mais do que os ecos eslavados, que estão se desmaiando Ante a paternidade desses homens, Que se di-em do 6risto a imagem pura, 0or di-erem* C$atei! feri os peitos! 6horai agora!De as lágrimas s(entornam, ela o terror a vista pela terra* 9nteresse servi!!D $randi o remo o $ai5ei da esperança, al2m dos mares a vida ' o porto d(inefável go-o!D )ão me ensinem os cnticos sagrados. %nquanto lava de harmonia a a$4$ada As imagens que impuras mãos talharam, %ntre as paredes tão mesquinhas postas1 %nquanto verte lu- de terra o c/rio o$re a tur$a sonora, gemem 4rgãos % o sino ' que o dinheiro vil comprou =ou na campina me deitar cheirosa e$ai5o deste c2u 7 vo- do vento, 127
as águas e do $osque, e a nature-a 6heia d(um solitário sol! como ela, entir meu coração valente e novo (inspiraçEes formosas1 que não dessas ;rases diárias que aprendi, mon4tonas, 9nsens/veis na máquina dos lá$ios. : tão feli-, em$ora o mundo e a sorte, em ser por gratidão do leite e a cama, )aturalmente amar o filho os seios +nde nascera, a mãe seu filho amando! % essa mãe que adoramos nos promete +utro sonoro $erço al2m da morte? )ão 2 na morte que ela 2 mais querida? 0orque a perdemos que a amamos tanto?... + puro amor não tem, não tem esp(rança. Amai a eus na pa-, na ru$ra guerra, )as ondas do pra-er amai a eus, )a a$undncia ou no fundo da mis2ria, )a morte, desgraçada amaio ainda. Tirese o filho, a mãe seu leite perde* eus morrera, seu mundo aniquilando* 0erdida a vo- da nature-a e os astros, + mar e os homens, quem seu nome ouvira? Quem dissera que ele 2?... 6edro infinito, eus frutos somos n4s aos c2us olhando. %le o quis. e consuma a alma do ingrato! %rgase a crença que natura ensina, 6omo a corrente perenal descendo! ' %sperança do go-o o amor dos homens, % sempre esp(rança e go-o! Amor da terra Querem darte, enhor* não alimenta elicado man3ar corruptos seios. A unidade os cegou* multiplicaram euses aqui nascidos filhos deles1 % pelos mil altares que divagam ão migalhas de amor. %u não conheço )em mais que um eus, nem deuses su$alternos* Ao primeiro me elevo, amo o primeiro. ' 9dolatria eterna! as $entas águas @rutal gentilidade não lavaram* A fam/lia cristã se degenera esde a morte de um pai. %lege o povo 128
"m para santo, e dá poder divino e suas mãos 7s dele... Homens da terra, Tão n2scios, que $uscais? como os insetos )oturnos, ante o dia deslum$rados, A ca/rem se agarram pelas folhas. ' Fá se em$ala na praça o enforcado* + carrasco em seus p2s se dependura, =ai nos om$ros saltarlhe... esperta o peito Ao t/mido mance$o ' a tur$a aplaude! As carpideiras torres não choraram* )em se alegrão passando o inocentinho Que viu antes a morte que o $atismo* >á leva deste mundo o 3ulgamento* %ra fogo lento vai gemer, nem pde %m coros celestiais ser queru$im... An3os te negam, enhor eus, não sendo %ducados e feitos por mãos deles! Hip4critas, eu vi monstros do incesto, Que ungidos foram, qu(inda o são no ocaso! ' 6urvaram os animais antigamente As ru$ras aras d(ouro a fronte do homem* e mil homens os p2s ho3e $ei3amos. Todos um coração sangrando mordem, Todos vivem da vida que era d(outrem, Que para si aos seus irmãos arrancam. Humanas feras, muito mais que os homens, ;erinos homens, muito mais que as feras, A nature-a verte* indiferente "m e outro adorara, se não fosse &eu amor todo s4 de um eus ' um eus! % s4 de um sentimento pio e irmão =e3o o mundo ' do monte ao $ruto ao homem. Fia a @/$lia por noite indo os gemidos o 6risto neste dia d(endoenças1 Fogo o enfado da vida adormeceume. C=oa, terra do sol que vem nascendo, C
&e sussurrava. Agora tudo pára. + c/rculo em que eu ia, se escoando, esencantoume em terra. eus! a som$ra (Ana fronteira a mim! Quantos amores e um sentir tão m/stico se li$ram )este espaço, infinito! encadeado, (entre os meus olhos e os seus olhos!... e ela, % eu, mão grado nosso, nos fugindo, Bnio invis/vel nos sustinha* encanto, ;lecha atrativa se irradia dela, %u era o astro do meu centro em torno. %u senti uma vo- #mida e vaga 6omo $risas de seda me enleando e asas vaporosas, e um perfume e $oca virginal1 rumor depois, 6omo do estremecer das folhas verdes, % as rolas quando voam. Que me arrasta?... 6omo d(aurora afugentado sonho, &inha alma foi de mim.
Adiante dele1 $alançouse o vento1 %stremeceu a selva, como as virgens )o fim do sono sem sonhar suspiram1 : pelo em torno se afinaram r#sticos alt2rios de alegria. =iste, 4 Ana, Ó som$ra da mulher que não e5iste, (uma e5istBncia d#$ia a nature-a A$rirse como a flor? assim minha alma. 0or2m, eu sonho que de mim te arrancam* &eus gritos, meu chorar de nada valem... &esmo som$ra de amor, que eu ame, eu perco! Tudo 2 mentira em miserável mundo! Tu, que eu 3ulgueite dom celeste e santo, A maldição a ti, que me enganaste, ;alsa ami-ade... não 2s mais que do homem Hipocrisia e erpe. % eu pensava o amor na eternidade... maldição A toda esta e5istBncia! )uvem $ela 6o$ria uma hora a flor que o vale cresce. Apareceu o sol ' negra verdade! % tudo não foi mais do que uma som$ra, "ma estação da momentnea infncia. Ho3e, 4 irmã, eu rece$i tua carta, )a flor do amanhecer me alevantando, 6omo essas aves que n(aurora cantam )o teto da choupana e estão di-endo Que o sol 3á nasce* e eu que no meu leito Arque3ava do$rado dos mãos sonhos, ;oste lágrimas d(alva, o dia d(ho3e... %nchesteme de amor todo este dia! e nossa mãe, tão doce, me falavas* Ceus lem$rese de sua alma... eu sou tua mãe... C)ão me fales assim... morrer tão longe, Ce dor e de saudade, onde não sai$am Ce ti homens e o mundo... 4 meu amigo, CQuantos punhais no coração me em$e$es!... Ceus quer nos consolar... do esposo ao lado, C"m $em perto do outro n4s vivamos Cempre, sempre, meu eus!... serei tua mãe, CTeu consolo, depois desse gran 0ai Co$erano, a quem sempre eu rogarei CTão triste pressentir, e os sonhos mude, 131
CTire do solitário pensamento... C)ão desanimes ' tão esmorecido!... C>á estás cansado de viver? 2 cedo ' C+h! 2 tão cedo ' vive mais um dia!...D Que palavras do c2u! ainda a terra á flores que nos dBem tão grato aroma?... +h, fala sempre dela, nossa mãe! Há tanto tempo morta... oh, fala sempre! + que derrama no meu peito a lágrima, or, orfandade, dáme tam$2m vida* % minha alma viver, 2 na triste-a olitária e5ilarse1 o d4 dos t#mulos, a saudade co$rila. &e rodeiam Tristes som$ras da noite, frias, mudas, ão mist2rios do morto* e tu disseras &eu limite amanhã, ho3e chorando1 0or2m não, 2 minh(alma que 2 tão triste, )em tenho tanto amor, que a vida chore. ão teus melhores dons o pranto e as dores, enhor, porque mais perto a ti nos levam* 0or isso eu amo a noite, amo o deserto ' Fá se desatam as prisEes magoadas, % s4 contigo estou, e não nos ouvem. )os perigos do mar, so$re o naufrágio, Quem teu nome ensinou, que o nauta ignora? Ao mori$undo que se estorce e do$ra, Que sua vida passou salteando os montes, escrente as veias qu(inda rompem sangue 6om suas unhas cortou ' seus ais da morte Quem do teu nome encheu, ferindo os troncos % as penedias que seu leito o ouviram?... Ó 0ai, 4 eus dos homens, eus dos astros, Que nessa hora tua mão piedosa estendes % uma esmola de graças nela $rilha! Horas feli-es do perigo e dores, olenes, $elas, do enhor tão perto! ' ão teus filhos eleitos esses $ardos emendo pela terra sem ter pátria,
Que as colunas $randeiam, o mar se arqueia, Humildemente geme, e o mar indmito! &ais puro do que a noite, eu mal o en5ergo, 6omo o sol... não, não 2, que o sol num disco %ncerra as frmas de ouro* não tem frma, 0arece a eternidade e o infinito! isseras qual uma ave transparente Que com as asas envolve a imensidade! "ma lu-, que concentrase a e5tinguirse, ando mais claridade ao pensamento, Quanto a tire aos sentidos1 que tão pura %stendese d(ali por toda a parte, A terra, os astros e os celestes ares em refração seus raios trespassando, %m$e$endo de vida e de piedade1 Que tudo anima e fa- amor tão santo, Que de um s4 pulso inteiro este universo "ma respiração palpita eterna A ela s4! )ela s4 tudo desperta* As aves vivem mais a ela cantando1 As plantas quando o -2firo as agita1 + mar quando mugindo $al$ucia, 9nfante o nome de seu pai, mais vive1 + $osque amigos não teria e os ventos e fossem mudos, não dissessem ' eus! %u tam$2m vivo mais, morrendo nele1 +h, tudo vive mais nele vivendo! ai minha alma de mim, ante os altares )ão su$iu* filho ingrato, arrependido, Que apro5ima seu pai timidamente1 6ão que mordera seu senhor, que humilde e arrasta e escondese em lugar so-inho, A vista lenta, e doce como a crença, %spiandoo por ver se ele o perdoa ' Assim piedosa por detrás das ondas 0ede som$ra 7s colunas... &as, quem tudo Afugentou, co$riu de horror do mundo?... eme a festa nos flancos do castelo, 9mpura ondulação d(infrenes vo-es Tolda o espaço* minha alma recolheuse TrBmula e fria a emudecer de susto1 % da poeira sonora que ergue a terra %u não ve3o mais nada, os olhos turvos. 133
% depois outras vo-es me perguntam* Ce fosses um caminho, onde encontrasses alteadores mil e um homem preso, % te dissessem* este homem vai morrer* e queres passar livre, matao1 ou morres* :s simples instrumento. + que farias?D
&as, inda viverá se eus o manda. )em para os c2us nem para a terra, esp(rança, )ão careço de ti, mulher perdida! 0elos vales do espaço a vista eu solto 0or detrás do hori-onte, quando as nuvens Ao c2u limpo não traçam seus limites1 Tão amplo e tão va-io o Armamento 4 adormece e eleva* então me sinto T#mido o c2re$ro, esquecer meu peito &eu coração, d(uma alma entorpecida, % de um pesado pensamento assom$ras A$atemme* enhor, dá vida e força Que eu possa compreenderte para amarte, i-emm(o os homens1 mas a voa dos homens %st2ril para mim, ouvir nem posso* ou como eles1 me fala tu somente! ' Tu vens no galopar da tempestade? =ens no pavor da noite e so$re o sol? )o tempo derri$ando nos seus passos Tão largas geraçEes e geraçEes? 6om p2s de fogo a terra verde3ante ;a-er passando adusta, esses imp2rios, 6idades em pedaços palpitantes? ' &as os meus olhos materiais não $astam! =em tu mesmo, a verdade e o infinito,
issimulando a id2ia, e detençosa ;e- dois passos no a-ul, tremeu de mim. % este vento, que há pouco nos meus om$ros As elásticas asas meneava, %scapouse tam$2m, me ouvindo ' eu s4!... &as, o rio que passa a-ul, vermelho, 6onforme a cor do c2u, quem foi que o fe-? Quem 2 que do despenho alcantilado Fevao saudar os campos e esses vales? % este vento que me açoita as faces e condenado e arrancame os ca$elos? % este coro florestal da terra, olene e cheio, como dos altares, =o-es, 4rgãos, incensos todo o templo? %ste meu pensamento pressuroso
o$ os p2s de sua mãe, que ama e não sa$e* A nature-a ao 6riador se humilhe. )ão tenho alma infinita, porque 2 cega A verdade imortal* visse ela o eterno ' Quanto eu amara! quanto! %u sou $astardo, )ão sei quem são meus pais... se amar não posso, A e5istBncia me enfada* en3eitoa, e morro! %u estava num mar de calmaria Amplo e cheio de sol, meu peito o esquife &udo arque3ava1 as velas da minha alma )ão arredonda nem um vento ' descem, 0elo coração se escorrem1 durmo )o meio das soidEes de minhas mágoas. enti na minha face um doce alento Tra-er os meus ca$elos* fria e t/mida &ão seráfica a testa levantoume 6om li$erdade fraternal1 meus olhos e pranto escuros não puderam vBla. uvidava uma vo- de sensitiva, e fle5/vel luar, long/nquo incerto, 0orque era virgem e amante1 mas, coragem eulhe a piedade, o amor* eu tenho ouro, C&uito ouro p(ra darte1 ergue a tua vista Ca terra, qual meditas que ela guarda CTantas rique-as, te denega escassa C+ teu pão de amanhã... sB meu esposo... C&eu esposo feli-! ' al2m desta alma, C"ns anos alvorais e os meus amores C6astos, muito ouro para darte eu tenho.D +s meus olhos na terra pelo ouro!... )ão, pesados de morte descaiam* "m s4 meu pensamento ao ser mundano, Ao sangu/neo motor nunca eu dei, %u andava $em longe! e eriçava A longas do$ras de um espanto $elo % de nervosas comoçEes minha alma o$re as $ordas do nada* lá nascia + mundo, os campos se estendiam, os montes o$repunhamse, e logo o $osque, as ervas 6oroam e co$rem de folhagem e som$ra1 %u sentia esmagaremse na esfera +s astros seu caminho procurando,
epois se acomodavam1 o sol despede eus raios primogBnitos1 mais fracas %streitos 7s mais fortes se rodeiam, 6omo o rei do +riente está no meio e mulheres tão $rancas, tão mimosas. 0or2m sem lu-, que o seu amor reflete %m distncia. %u choro, virgem moça, + amor, por2m não o amor da carne1 %u choro a dor que o corpo não conhece )em teu ouro não cura. ' e repente + mar tremeu1 as ondas sepultavam*se Assim, perto de n4s, como s4 a terra e$ai5o as devorasse, nos ouvindo1 urdo estrondo $anhou todo o hori-onte, Terremoto passou su$marino. As mãos prende nos seios assustados,
+ que desesperou deste mist2rio! este silBncio est#pido nos c2us! + pavoroso assom$ro de natura %m vago e n2scio sussurrar! Ai dele... espre-o ao mundo, e maldição a esta alma, Que os olhos a$re para ser mais cega! "ma onda no mar levando o eco, &eu coração 2 campa solitária %rrante petos naves ruinosas e t#mulos desfeitos, rotas som$ras o peito meu1 2 como ave ferida, Que somente estre$ucha, entesa as asas 0ara os gemidos no estertor da morte* )em F/$ano sagrado eu sou, e a gle$a a eternidade os cedros meus não plantão1 )em olho para o longe, envolta a fronte %m negros $raços de ata#de, eu durmo. 6ansado via3or, descanso 7 $ase o monte que desci ' frondosos campos! +nde as imagens duvidosas, $elas, =erdes folhas arrancamme passando +s ventos a perder* eu estremeço Que nos v2us d(ilusão que al2m s(estendem )ão durma o raio da desgraça, e as flores e p2talos rosados não me arro3em 6om seu peso de ferro. +h! doce aurora! ' %ra fantasma1 a vo- de escuridão )a carreira dos ventos misturouse* CQue faço, qu(inda e5isto? a morte! a morte! % os te4logos di-em ' nossa vida 0ertence a eus, que a dá ' &is2ria ao homem =il e5istBncia mendigando, fraco! 9nda aos dias mais fundos de desgraça! % eu in#til no mundo, e lasso dele, &inha vida nas mãos, não quero os dias... %spinhados ca$elos se amoleçam, A fronte alisese aos que me ouvem mudos 6om fi5o terror passar nas som$ras 0ela esfera infernal das minhas noites 'D onho, sonho de amor, que me adormeceD 140
Tumultuosa, amotinada esta alma! "ma inefável am$ição me segue* &ulher, uma somente, como os an3os, %m cu3as mãos eu desfolhasse todo %ste amor que me anseia, vaga viva A querer se perder. ;eli- da virgem Que nasceu para mim! que eu acordála Ao meio dia do amor! como essas flores Que a$rem 7 força do calor do sol1 0or isso ainda mortas vertem cheiro % o vivo do escarlate não descoram, 6omo as d(aurora que favnio anima 4 %nquanto do orvalho umedecidas, e fresca mocidade as faces tintas. %ssa que so$re mim primeiro os olhos Acender de pai5ão, que ainda estavam %ntre as capelas virginais fechados1 %ssa, onde o candor de um riso infante %nvergonhou primeiro o gesto ameno, % o coração repreenda O de mimosa @usque, po$re! tirar de si minh(alma1 %ssa, dormindo da e5istBncia o sono esde os seios da mãe It2 ao meu peito, Alto o sol, viuse nua diante dele ' )ão era vol#pias sensuais enferma escamisandose, espasmando o corpo ' )um assalto de amor vago, encantado, 0udica rosa em flor, se esconde, crente Que no seu rosto o coração lhe salta* Ó virgem, onde estás? 4 rainha noiva!... ' Fá das partes do c2u a ve3o... vem... =4s podeis começar os nossos dias, Fácteas manhãs e as $risas da montanha! 6asal ditoso, n4s não pecaremos, Aqui não há serpente. A minha fronte omente por dormir o teu regaço, Teus p2s hão de em$alar, nos meus ca$elos entindo o afago da tua mão cheirosa. )osso universo s4 de n4s composto, Amores respirando no ar, amores + coração $anhando, iremos longe... +nde s4 testemunhe a nature-a, A terra, o vento e as estreitos altas + nosso corpo nu... an3os selvagens! 141
+s $erços de roseiras e a ramada )ão murcharão neste :den* novo sol Há de ver se murchando o velho monte, )ovas flores nascer, nova esmeralda ourando nova relva, se estendendo os p2s aos 3oelhos, como 7 lu- aspira, 0or o cinto lam$er, $raços d(esposo )o enlear de enlevos ' oh, triunfo! )estes 3ardins há eus, so$re este clima +ndula o Armamento dos amores. A tempestade, o mar, a vo- d(ameaças )os provocara o riso* o sol somente )ossos quentes vestidos, muda lua )os seus serEes de luar tão s4 nos vira ' Fonge d4s vivos, evocando os c2us! %terna vida! amor eterno! esta alma, Ave perdida, errante, ho3e somente Ao ninho conhecido, ao ninho amado Fevantará seus vos, e do passado em ler nem crença não terá saudades. ' =Bla saudosoolhar mui longamente + caminho que eu fui, quando lhe ouvia* CAdeus, vem cedoD* e vBla inda so-inha, Qual presa 7 minha imagem que a circunda, 0ensativa e $em triste* e quando, $ela 6omo c2u, num relmpago assaltada =oando me encontrar, darme tão linda "ma face de amor ao $ei3o amante, % de alegre de mim desapareça... % sempre, sempre no primeiro dia, % di-erme lá da alma* C6omo podes %ssas horas passar sem mim tamanhas?...D %m$ora o sonho se rompesse, eu vite! 6hameite an3o dos mares* oh! me salva, Terra onde eu tenho de aportar, ou morro )os escolhos da sorte, a não perdida! 6hameite estrela do pastor1 chameite A flor dos c2us, que eu ve3o solitária &inha irmã, como eu sou, no mundo d(homens A mim teus olhos s4 te amostrem, como Ao sol nos c2us do dia os astros morrem. ' &as, nada foi* em$alde nos meus olhos, 142
6omo a lu-, eu 3ulguei tudo ela ser1 As árvores em flor eu sacudia, As que eu achava mais como ela1 em$alde %u vi $rancas imagens se gerando )a rainha vo- ' perdiamse qual nuvens, Qual pom$as vaporosas no hori-onte (alvas da esp(rança e da felicidade* "m eco prolongavase, e somente, %m rápidos, sens/veis ondulados, 6anto d(ave da tarde ap4s a chuva. ' An3o mimoso, de nevadas roupas, % os ca$elos de sol, os p2s argBnteos!... Amo esta som$ra ' tu, mulher não 2s. 0or2m tu me di-ias no descermos aquele morro 7 tarde* Cnestas virgens Amor não ha, poeta, ouro somente +s pais lhes mostram1 teu cantar desdenham, :s po$re, nada vales* e que importa Alma capa- de suspender os c2us A$ai5ados aqui na vida /ntima, Que 7 nature-a o coração desdo$ra % o corpo despe desta impura terra?... Que importa ' 2s po$re, nada vales. +lha, + homem que lá vBs delas cercada : vil traficador, nasceu tão $ai5o* % ho3e um potentado numeroso, =ai 7s salas do rei, $rilhante o peito! A velha po$re mãe Istá pelas ruas A mendigar o pão, ele a desmente Quando a $enção lhe dá! Órfãos, vi#vas + nome seu maldi-em1 mas tem ouro Tanto, 7 vista pertur$ar! uas filhas &ais l/mpidas e tenras são presentes Que os pais ricos lhe levam1 e esses olhos Tintos em menospre-o, resvalados 0elas costas a amor, que ouro s4 que$ra, Arrasta nos seus p2s, deita era seu chão &arm4rea cortesã de frios risos, e fáceis prantos que seu peito ignora. )ão há felicidade, isto que 2 d(alma )as metálicas frmas se mareia1 Amor do corpo s4 ' n um dia, cansa, %nfastia a e5istBncia, a alma se fecha.D 143
' &as, eu te respondia* e que me imporia + ouro e os amores das mulheres? %u, descrente do mundo, adeus eterno isse 7s suas virgens. ;ale a nature-a, 6ala a fortuna* a timide- dos campos, +u a filha do pr/ncipe so$er$o Há de ser minha, morrerei por ela, &ão grado o meu destino* indiferença, %u despre-o o que possa a terra darmo. Amava uma criança outrora, quando Aos seus $rinquedos inocentes via =oltar minha e5istBncia1 e tanto amoume, Aos carinhos dei5ar da mãe querida 0elo vir suspendesse em meu pescoço @ei3andome, apertandome* parece Que nela estava a aurora dos meus dias %m cada amanhecer se enru$escendo1 % 3á corriam negros de triste-a % de orfandade. +h! tudo era alegria iante dela, nascer* lu- matutina Que um -2firo alevanta afugentando +s primeiros negrumes da minha alma. @or$oleta do prado ao sol voando As asas $rilha e esmalta, a mim se lança )os raios de um amor do coração* =e3oa l/mpido l/rio rodeado o candor virginal, despenteada, 6o a camisa infantil nevada e pura, +s $raços nus e o colo, os p2s de rosas, Fevantarse do leito e vir correndo, &imosa e $arulheira como a cria Que salta na campina ao vir do dia, eus $ei3os matinais prme na fronte, As mão-inhas correr nas minhas faces, Que no seio lhe encosto perfumado +ndeando de ang2lica inocBncia, e vapores de amor, que e5alam an3os. =e3oa no sol pender, cantando os pássaros 6om saudade, e nos hinos vegetais 0elos desterros da montanha e o vale1 )as palmeiras cadentes no hori-onte Qual lmpadas et2reas, ou de noite Alve3andose os campos estrelosos 144
6omo frota no mar1 e sempre e5ata &inha som$ra, meu raio me seguindo )(um cativeiro que o amor prendia, Finda a$elha que em mim seu mel formava. 6aminhando o c2u d(astros, nos co$rimos os seus moles e trBmulos clarEes, 6omo das $arras da manhã vermelha o formoso equador1 e eu lhe mostrava A nature-a esplendida nas flores. C=em comigo* desponta alvo açucena!D %u lhe disse, e por vBla acompanhoume "m meu contemporneo, meu amigo (infncia, $elo, namorado e ledo, Quanto eu era som$rio e mudo e triste* 6adeias trança deslum$rantes, grossas1 %ra a flor dos salEes e da $ele-a % na lira cantava os seus amores. ' +lhounos a menina friamente, % d(entre os meus 3oelhos desdenhosa ;oge ao gentil, ao festival mance$o1 % os an2is afagando que pendiam, ;e- um ar de mulher e a$andonoume! %u senti meus ca$elos se entesarem! &ofou da minha vo- desconcertada, % que o luto e a po$re-a me co$riam, % nunca mais amoume. Ó nature-a, Ó eus, que fa-es a mulher tão $ela esde o $erço, e tão fraca! inocentinha, Que má sorte 2 a tua, que o teu peito angue tão mão $anhou! e eu te amava, 6om que amor eu não sei, mas 2 verdade. Ho3e mais fortes te coroam os anos, % a minha vo- escutaras piedosa. ' %spera a nature-a aos teus amores* A terra 2 falsa, não te iluda a terra. % eu de minha ve- 3urei que o ouro )unca $rilhara so$re mim* não quero Que por ele me adorem. Quando a virgem, Quando eu nos encontrarmos, que a corrente o amor nos 3unga e comunique, entre am$os &ais nada al2m de n4s ' triunfe o amor!
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XXXVI Ó noites infernais da minha vida! esespero e descrença os c2us e a terra* Fá não tem uma vo- que diga ' esp(rança! Aqui não há sorrir que diga ' amor! "ma lua cansada e sempre morta, ormindo pelos cumes das montanhas1 "ma hip2r$ole $ruta1 uns pirilampos )uma a$4$ada f2rrea pendurados ' 8ridos campos onde moram pedras! )ão ve3o a aurora mais do que um sem$lante (escárnio 7 humanidade1 o feio ocaso +s olhos a fechar s4 lem$ra a morte. A terra por si mesma fa-se em homens* Jum$e espectro inconstante de urnas horas, )em mata a fome, e vaise desfa-endo ' 9nda a sonhar, que não viveu, sonhava. &eu sonho dos feli-es, que passouse, 0orque me despertaste? %ntrei num c2u. +uvindo ' eu te amo! ' foi mentira. + inferno Ho3e me envolve, me envolvendo o amor! (esperança em esperança corre a vida ' %5istir 2 esperar* porque eu morri esde que a vela suspendendo 4 acaso + meu canto entoei desta desgraçai &ar sem praias! ' seus ventos me di-iam1 )ão vBs lá no hori-onte os verdes cumes >untos ao c2u? ' Andei! fagueiro e ledo. % tão cansado, e sem chegar mata nunca, =i caindo a verdade! %is porque eu morro* =ive quem dorme e sonha. A dor me uivando, %u quis aniquilar minha e5istBncia, Que era fantasma o ser, mentira a vida. &eus ecos delirantes retum$aram )a minha alma em suas chamas consumida, 146
%m vão!... Quero viver ' vem, c2u da noite, @anharme do teu sono* eu durmo, eu vivo. emnio d(alma, ceticismo horrendo, ;ilosofia cega, oh, vaite! vaite! as opressoras escarnadas garras oltame ' aos vales da o$scura crença. %squecete de mim, fechame as asas inistras de som$rio noiti$4* %u quero amar a eus, homem e os an3os* =aite! dei5ame em pa- ' feli- eu sou! 6onsumiste minha alma enegrecida. Tu disseste, que um eus não me acompanha1 =ã fumaça minha alma, que meu corpo %m cin-as perderá passando o vento. &e negas um repouso, um doce amigo1 &(incitas duvidar no amor da virgem* % murcho e frio me recolho 7s som$ras a minha vida a me a$raçar co(a morte. +lhei... &eus dias vi do sol caindo. %scutei... ;oi meus lá$ios estalando %m maldiçEes ao ser desta e5istBncia, Ao er que so$re o sol conta os meus dias! % eu que me assentava ao p2 da serra, =endo as estreitos como ninfas de ouro u$indo lá do fundo da corrente, 6omeçandose a noite a encher de som$ras1 %sperando que a lua atravessasse )o vale, por saudála destes nomes ' CAna e minha mãeD ' achei s4 t#mulos* 0álido o amor, pálida ami-ade! Achei a minha vida ser tão longa! 6omo o passar da eternidade* em$alde ormia as horas, e nas dores de ho3e &eus dias de depois eu descontei.
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SOLIDÕES XXXVII - V ((( K M?* >M M*>*%.97F L ?ão mais o amor fatal, o amor do inferno' Encanto o amor da natureza 2 7ale! Quando fores mais crescida, Quando sou$eres falar Quando mu dares os dentes, ei5aremos o palmar* % este p2 de mangueiro Que som$reia este lugar Há de cair de saudade o$re estas águas do mar. )a leiva de terra estranha 6ai do $ico d(ave errante + grão que preso levava %ra seu voar inconstante1 % dali nasce uma planta* Quem foi que a plantou? Avante, 0or entre as moitas da ur-e esmaia en3eitada infante* )em da quadra cultivada 0elas mãos do lavrador, )em da semente aquecida %m seios fortes de amor, %la não foi... desfalece, 6omo os mist2rios da flor, +lhando a sorte de eus %m muda, inocente dor. )os seus $anquetes o mundo %spera a filha sem pai1 +s homens lançamlhe o preço1 %m vil mis2ria descai*
0or2m, eu digo* esperai! Triunfo! triunfo, 4 eus! )ão morres, filha, sou eu1 :s aos lados de teu pai, %rgue a fronte, o sol 2 teu. ' )ão mintas... como eu te amara! &eu pranto nunca escorreu 0or uma felicidade... %stou nas portas do c2u! ' Órfã da mãe perdida, )em 2s a filha do amor, Que o fogo d(alva dos anos 4 queima, não ama a flor* )esse qual vago saudoso, )esse qual perder da cor @em di-es que 2s d2$il fruto e adolescente candor* esanimado crep#sculo %m teu sem$lante esmorece, :s $otão misterioso Que de manhã desfalece* )em a $rancura da rosa + corpo teu não aquece1 + pardo destas campinas o$re o teu colo adormece* :s a irmã da parda rola olitária e s4 don-ela, Quando co(a vo- despovoa A tarde assom$rada e $ela* 6omo o gBnio da triste-a, Tudo cala em torno dela1 e ela passa, tudo e5ila, 6oitada flor amarela! 6orça morena dos montes, @astarda cor do ana3á, Todo o mundo te despre-a, 6omo a tua sorte 2 tão má! )ão!... do mundo eu nada quero* ;ilha amor, tudo aqui Istá! 149
=ivamos como as correntes o tortuoso &apa. ' >ibeiro da it:ria %scondido na espessura Fá da =it4ria deserta* Que eu se3a tudo o que tenhas. Teu astro da vida incerta1 % s4 tu minha e5istBncia Que eu sinto que em ti desperta, &eu canto da nam$upreta, ;lor nos meus 3ardins a$erta. Ó filha da escrava negra! %u encontro em ti poesia. &esmo no teu nascimento o crep#sculo do dia, % no a$andono dos $rancos, Que te fa- tão triste e fria* Tudo passa, a fira vive, Tu não tens noite som$ria. 6ativa no ocaso d(ontem, %is o sol da li$erdade!... %u choro, que tenho o peito* Tão cheio desta ami-ade 9... Ao leito impuro desceras, esceras antes da idade ' Horror! as asas de um an3o 4 voem 7 %ternidade. Quando fores mais crescida % 3á sou$eres faltar, Quando mudarei os denteD ei5aremos o palmar* ;a-enda de meus paia. 9remos ver o =es#vio uas lavas aos c2us lançar, A $ela ;rança há de verte, % as louras filhas do mar. Tu, perfume dos meus dias, Que dar somente quis eus* %le o sou$e... 2 que na terra 150
%u nada tenho dos c2us, Al2m dos vago del/rios Que ve3o nos sonhos meus1 +s meus amores são sonhos, 9nda um sonho eu 3ulgo os teus. Tu serás a companheira a minha triste e5istencial Te mostrarei dos estreitos A harmoniosa cadBncia1 as harpas misteriosas A virginal confidBncia, +uvirás meus sons noturnos a noite n(alta dormBncia. % estas aves da tarde, % estas terras do lar 6horando te acompanharão )o dei5armos o palmar1 % este p2 de mangueiro Que som$reia este lugar Há de cair de saudade o$re estas águas do mar.
9a tão triste o meu choro, Que o rio, o vento chorava1 &esmo a som$ra do mangueiro 6omo a triste-a esfolhava* A minha po$re filhinha 9gnorante e terna olhava, % de t/mida e medrosa )o meu corpo se apertava. o$re os p2s do velho mangue A minha fronte pendia, % minha filha $rincando 0arece mimosa cria )a relva do praturá1 Fonge a tarde se esva/a* As noites do &ariano 0elos meus olhos eu via... Margens do 4ericumã
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XXXVIII - DIA DE NATAL K *97 MEG7 C9?3EM49>H?E97 D9 4E>CGML >aia o sol, brilha no talo Morre o sol, fenece a flor( Tudo passa e vai com o tempo, )ossa vida e nosso amor1 oce quadra em que go-amos Fogo muda em dissa$or. ;a-em anos que n(aldeia, 0átria nossa onde nascemos, Feda gente concorria, Fedas festas desfrutemos* )ossas virgens mati-avam )osso prado como a flor1 6orria o vento nas folhas, &eigas palavras de amor* %stendiase o hori-onte e fumarentas choupanas, )os pa/ses d(arredores 6antavam $rando as silvanas*
%m torno dela a$ai5arão. % nessa pura inocBncia Tanto amor me arre$atava, Que minh(alma no meu peite @elos sonhes delirava* CAn3o do c2u, flor do campo, CQue me diceste que eu sou! C;ui como a noite o$scura CQue n(alva o sol despertou1 CFevantaste a minha fronte, C&eus olhos d(4rfão ca$idos* C&inha vida, amor, esp(rança C%u ve3o em ti renascidos! C+h! 3uro pela minh(alma, C0or ti, que di-es que eu sou, C0or este amor que me deste, C% 7 vida que me em$alou* C+u morrer, ou suspenderte C)os louros da eternidade, C6om$ater pelo teu nome CA sorte, a adversidade! CArrancarte deste inferno C0ara o meu clima dos c2us, CArrancarte 7 morte, ao nada, Ce poss/vel fosse, a eus!... C)o romper desses nove anos, C%5pande as asas de amor, C0ura e cndida, remonta C)as harpas do teu cantor.D 0or2m ho3e no desterro este long/nquo saudoso &inh(alma perdese, esvaise +nda do eco vaporoso1 &inhas horas vão pesadas o$re a corrente da vida* 153
&e desanima a e5istBncia e uma tarde esmorecida. % eu a choro, que a amava! A ela meu doce amor* ;eli-! que os homens ignoram Quem dáme tão pura dor* A ela que apareceume e formosura radiante, % deume o dia 7 minh(alma 0ela noite escura errante* A ela som$ra encantada Que d(inocente me amou1 A ela que despertoume % que me disse, que eu sou. Dezembro de 185I( >io de .aneiro
XXXIX - A MUSA *( J( D( 9 "rimeiro me falaste ao cora$ão doce da inf;ncia( Minha musa des"ertou' e ao "Kr%do%sol da ida ef0mera, ainda se e@ala ao seu astro da aurora( : noite e solidão! noite e silBncio! )oite e minh(alma! noite e meus amores! F/mpidas alvas não respira a lua, )em ondas d(harpa e4lia nem de vo-es )ão vagam* desce a som$ra e co$re os vales a penedia, na verdura um$rosa.
a mágoa e do sofrer pisados, mortos* i-me C6oragem!De me consola e anima. ' Qual será meu destino? porque eu choro, 6omo quem vai morrer n(alva do dia, ei5ando a pátria e toda esta e5istBncia Que eu tinha no meu gBnio, e toda esta alma Que me em$ala num c2u que tanto eu sonho? Tu, que 2s do c2u, 4 minha musa, fala... Ah! estremeces... 2 que eu vou morrer. olitário nas plagas do deserto, %rrante como o vento, ou pelos mares, )a sepultura de meus pais chorando, e som$ra em som$ra procurando a$rigo )os ramos do cipreste, eu s4 contigo Tenho me achado, minha filha e amores, Tu, mãe que minha mãe deume em morrendo, @afe3ando o meu corpo nos teus $raços 6omo um $erço d(infante, como um pássaro &ovendome em seu ramo 7 viração1 Tu, fiel 3unto a mim sempre te encontro, empre tu, sempre tu ' numa alegria, +lhando para trás desse passado e lágrima e saudade, olhando adiante + astro d(amanhã long/nquo e frio )a sua lu- duvidoso. +h! quanta vida, Quanta poesia, quanto amor eu tinha, Qual n(um glo$o de ferro um sol fechado omente 7 espera de uma vo- divina, a inspiração de eus para nascer, entro desta alma d(ontem! vacilante, Que há de se apagar voltando a aurora, Fogo no amanhecer! 0erdido 6Mgnus, )ão mais, não te ouviram... Quantas mil flores Hei plantado! e um sol somente ao tempo, eus, pedia por dartas perfumadas )os 3ardins do ideal, puras e a$ertas. &elanc4lica noite, minha musa, 6omo eu te amo assim! som$ra nos campos, om$ra nos montes, nem a lua e estreitos1 omente o vento no deserto, longe + mar na costa, um l2pido sussurro %5alando a folhagem. Horas tristes! 155
&eu corpo de cansado se desmem$ra, + dia nem passei rasgando a terra. &eus ca$elos som$rearam minha fronte Que pende no meu peito, que a levanta )o pesado $ater, vi$ramme as fontes. %ntão rios de mágoa e de triste-a )as suas ondas me levam. Tremo a morte Que sinto vir andando1 eu a$ro os olhos Ao tacto de sua mão* ve3o um sepulcro Aonde eu vou cair! 3á está tão cheio... As cin-as de meu pai, de minha mãe, Tantos amigos, muito amor perdido 0ela foice do tempo, na minh(alma 6oros, incensos, lu-es do meu templo, Que al2m do meu peito se e5tinguiram!... Hiante para mira, não vos fecheis, epulcro de meus pais ' eu venho 3á, Quero ver minha mãe... por2m, me aterra, Tenho medo da morte, nesta idade, )em sei porque... os tempos não me esperam, l4ria não vinga po$re flor dos vales, 6oroas do carvalho da montanha. 0or2m 7 minha pátria, 7s minhas virgens =indo a$rindo tão puras, encantadas, 0or2m 7 minha mãe dei5ar quisera 0endurada ao seu t#mulo uma lmpada e lu-, d(4leos eternos1 ao cipreste Que dálhe som$ra uma harpa que gemesse 0assando o vento, ao homem que so-inho
Te pede um filho ' dá! na eternidade "m dia o que 2? enhor! adiante! Adiante! vai morrer* em negra torre o destino a tua hora está soando* 6hegaste ao porto de manhã1 Ó musa, ;ilha da noite, a$raçame e morramos! Adeus, $elo universo de poesia, Que de em torno o meu corpo, nos meus olhos % na mente ralavame* um chãos vivo, Que, como tu fa-ias num aceno As estreitos e o sol, na harpa que inspiras, Que sa$es dar, enhor, puros arroios (harmonia tu viras, teus incensos1 a casa do pastor humilde fumo umido aos tur$ilhEes que os c2us escurão os castelos dos reis1 mas, rece$eras A po$re criação, tam$2m divina... + homem, o inseto são teus filhos, te amam* =ale tanto p(ra ti -um$ido incerto 6omo um hino, que o mesmo amor os move. Tão tristes minhas cndidas irmãs, Amigos que tenho ho3e, e mesmo os outros Que d(outrora eu amei ' ah, não me amavam! % esse l/mpido coro d(inocentes Qu(inda não sa$em amar, que inda não sentem ;eridas que homens fa-em 7 morte eterna1 0or isso rindo e amando, rindo ignaras, Que o outro amor s4 chora1 as minhas rosas, &eus an3os do meu c2u do pensamento ' =e3oas errantes, pálidas vestidas, @radando por meu nome1 eu não respondo* esentrançamse e choram pelas margens o rio onde eu vaguei por esta vida1 0erguntamlhe por mim, pegam suas águas 0or uma onda deter nas mãos tão frias, Que lhes diga onde estou1 escutam, esperam... % nas águas suas vo-es vão perdidas Tão $elas que a ave emudeceu no ramo! +s louros da =it4ria qu(inda esperam %stremecer 7 minha vo- so$ eles, uas folhas me chovendo e a grata som$ra, +nde espiamme os pássaros calados
emendo murcharam de mil saudades, e desesp(rança mugiram na ru/na. ' %is porque eu choro de morrer tão cedo* 0or2m, dos an3os rodeado, eu morro* Qual palmeira de argBnteas $or$oletas e co$re esvoando na manhã d(estio, Que fogem, quando ao golpe do colono 6aio1 coitadas, cintilando as asas =em de novo pousar, erram nos ares +nde a rama ondeava, e se retiram1 A metade inda volta, uma s4, duas, Que mais o orvalho e o som $e$erlhe amaram, 6hegam perto, por2m desaparecem, e acostumadas1 por si mesma, triste, 9nda o dia seguinte aquela vinha Que ainda o amor engana1 então sumiram 0or uma ve-, e a palma a terra envolve. Assim quero morrer1 inda descendo G noite quero ouvilas suspirando, %m trepida candura as asas d(ave Tremendo desdo$radas na corrente1 +uvilas medrontadas do cadáver Que amaram apertar1 mesmo fugindo 0erdendome, esquecendo, amara vBlas )o hori-onte do t#mulo espalhadas. ;ora $elo voltar depois da morte % muda vista percorrer ao mundo1 %, antes de tornar ao pouso eterno, 6antar saudoso adeus, nessa triste-a esse solene soluçar dos montes* % traçar so$re as páginas da la3em eus mist2rios, mist2rios desta vida Que eu não posso entender, e o eus que adoro
XL - O TRONCO DE PALMEIRA +h! eu sou como a palma sem folhas olitária nas praias do mar* &inha fronte seus ventos romperam 9nda $ranca da infncia doirar. +s passantes aqui nesta fonte, 158
Quando outrora, tão doce, corria, =inham todos $e$er* ho3e seca, i-em tristes olhando Cum s4 dia!D A verdura perdeuse co(as aves este monte co$erto de relva, )em as som$ras por ele se estendem 6omo vagas dos ramos da selva1 6omo em fendas que o raio fi-era, Ho3e o vento s4 vem si$ilar, Fisas pedras da encosta rolando, 04 fumante no cume a soprar. e$ruçadas no roto penhasco. Fongas águas seu canto entristecem 0elas som$ras da tarde, e com ela o hori-onte selváticos descem Fentos ecos pousar, lentas rolas, Tristes filhas, do isolamento, A$stratas no tronco sem folhas, em ter vo-es, sem ter pensamento. esco$ertas ra/-es lhe secam, %nvergarse disseras de dor* o$re as ondas seus arcos descreve Ante os raios do sol do equador. em a veia que cerquelhe os p2s, uspendida na pedra cortada, Qual da foice do /ncola negro %squecida na terra queimada, 9nda 2 $ela a gemer aos tufEes,
Tão solitária me lançaram* triste, 9ndiferente, mudo, nada encontra &inha vista por longe ' murchas ervas % o tronco desfolhado me rodeiam. )ão sai deste rochedo veia d(água 0ara o vale sem flor1 e a onda amarga "m choro est2ril nos meus p2s derrama. + cipreste espiral dáme somente ua mão de t#mulo! t#mulo piedoso % a som$ra frou5a, mori$unda 7 fronte 0endida minha, $ranca e sem esp(rança* % no deserto dela eu sinto errante A nuvem da alma... 4 musa desgraçada! Apagamse os meus olhos friamente, em uma onda de lu-, sem raio e5tremo, %m fundo ocaso pálido* minha alma )em mais corre de amor, de amor os gritos )em mais a chama do meu peito espertam. &inhas asas ca/ram, como outono =era despindo o meu corpo1 folhas mortas A crepitar se escoam... tudo era torno )ada lenho de mim! dorme o silBncio )o caminho deserto, e s4 palpitam &eus rastos apagados pelo vento* % mugi$undo ao longe o mar contando +s meus desgostos 7s sonoras plagas, Ao peito meu sonoro d(oco tronco, Que o vapor fraco do meu pranto e5ala, ;endido ao coração que se convulsa em verter uma seiva! %u sou cadáver G mão divina estremecendo ' chora! ' % minha alma começa nos meus olhos esfa-erse e cair, se esvaecendo. ilenciosa noite! um c2u apenas Adiante eu vi raiar* mostroume a terra os meus pedaços espalhada, e eu s4, A dor me contraiu* oh! como 2 longo + caminho que eu vou! ' por este monte %u tenho de passar* cada uma pedra Que eu ergo, e sinto atrás de mira cair, "m passo eu dou ' de menos este sol &e dei5a respirar. 6ansado e morto )a minha tum$a eu 3á me deito* noite, 160
+cultame em tua som$ra!... >á $ranqueia A$ertas margens do hori-onte a aurora* Ave de >uno desplumando estreitos )as saias ondulantes, tu mentiste! + perfumado mel que dás 7 a$elha, 6om a mão d(ouro espremendo dos ca$elos1 Tão mimoso sorrir com que te inundas % fa- poesia aos pássaros e ao vento. e que valem p(ra mim? )a terra onde )ão há vegetação, tua lu- de lua Que vem fa-er? nasci perto da morte, + meu nascente escureceu no ocaso. ' >ulguei a noite eterna! e desdenhoso + c2u mostrame ainda o dia d(ontem Que matame de novo em cada dia... A noite do infeli- não tem manhã. Feito da vida, morte, leito da alma, eca a fonte de mim, que inda esperais? Aca$ei de viver ' nem sou$e o mundo. &eu inc4gnito adeus somente 7 noite, 6ora quem lenho vivido, ao monte, 7s praias! )(aurora ' eu penso no descer da tarde1 &al fecha a noite ' 3á procuro o dia* Quem me dera esquecer dormindo as horas, 6onsumilas!... desperto, e ve3o o tempo %m seu lento cair! pouco avancei )o querer apressar minha e5istBncia* + tempo d(asas para mim não voa, ;alta muito p(ra noite, oh! muito! muito! 6hega trBmulo velho suspirando A $eira do seu t#mulo, com a vista + fundo mede, e foge horrori-ado* =olta ainda, e vacila* 4 tempo ' olha istante o mundo com saudade e pranto. %spanta, se uma $risa fria e leve "m pedaço da neve ergueulhe 7 fronte Que as idades som$reiam, quando um eco =ago perto passou, atrás sentindo
C6omo tudo era morte, nature-a, Ce$ai5o dessas frmas $em fagueiras C6om que tu me iludias, te escondendo C)(uns vestidos de amor, ledice e vida! CHo3e, porque rompeste as fantasias CQue em outro tempo eu vi te em$ele-avam? C+cultavas na flor tantos fantasmas? C%sta a verdade, dura, horrenda, feia, CQue com tanto sorrir preludiaste?... CA $ondade de eus não está nas dores CQue o fim da vida magoado pisam...D % voltase1 e de novo arrepiado %stremece, correr tenta, de$alde* 0ara aonde? ' chegaste em toda a parte! )ão há partida ao porto do infinito! + mundo todo 2 sepultura a$erta, Fousa silenciosa o c2u1 da esp(rança )ão reverdecem os ramos que murcharam. + pensamento t/mido afrou5ado a vista, pelos raios, se irradia. ' Que tens, velho? inda queres vida? ainda?... 6omo 2s feli-, que tanto vives! e eu, Tão cansado dos meus primeiros dias, =a-ia a terra achei, sem ter esperança. 6erro os olhos, e atirome contente )a eternidade sossegar ' ao )ada! ;ica no meu lugar, dáme a tua noite, esta manhã teus anos recomeça. ' : tempo! sente no cair das horas Que$rarse o coração, como hei sentido 0assando a vida. Aqui dei5arás a alma )a saudade do mundo e dos amores, e primeiro não visses descarnada erpe co(as faces da mulher sorrindo, ;eiçEes e5teriores de natura* @ár$ara a doce morte antes das dores, )a alegria não salva, ela assassina. ' )em mais o amor, o amigo! horror ao mundo* )em olhes para trás saindo dele. &anhã por entre as noites da e5istBncia A esperança lá está nas mãos de eus... % eus está na dor ' nossa alma inteira A ele, no sofrer divini-ada.
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Amor, felicidade 2 toda a terra, + infeli- sou eu* em c/rc(lo estreito
XLII - O CASAL PATERNO K3>*L Eu era o =en#amin querido destes lugares((( Tetos! que o vagido ouviram Quando despertoume o mundo1 &ontes! que a$ai5ei su$indo1 =ales! que descendo ergui1 Troncos! meus contemporneos, >ulguei que estiv2sseis mortos. Fua! que correndo eu via Ama a segurar meus passos1 ol! que meu pai mostroume, =enho viver convosco. /tios da minha infncia! então qual concha 0elas auras tangida ao mar d(aurora, 6ndidos anos foramme, 4 infncia! Ó árvores, que vistesme em seus om$ros Aos em$alos da vo- adormecido, Qual vosso fruto $alançais ao vento1 eguindome a crescer, depois ao lado 0ela mão de meu pai de um passo lento A correr e saltar, e me ensinando + nome deles e do c2u, 4 árvores, %u vos sa#do! não desconheçais, 6o$rime deste ramo ' a calma 2 forte... Hei medo de estar s4 com estas som$ras Ó meu casal, 4 meu casal amigo! 6omo está repetindo a nature-a Tudo o que 3á passou!... fala! que e5istes. 6omo as flores se erguem diante dela! 6omo crescem suas folhas!... %nganosas 163
9magens atrav2s 7s minhas lágrimas* epois que o pranto cai, tudo 2 triste-a. Acorda, minha mãe, que tanto dormes Fá na pálida campa! vem ouvirme ilacerado o canto das ru/nas, este assom$rado solitário o canto. ' Tudo 2 silBncio, solidEes 2 tudo* Apenas o eco magoado e lento a minha vo- e5pira no fracasso a folhagem cadente, nos rumores e amortecido vento pelas fendas &usgosas, e os destroços espalhados a fa-enda, que foi, que assola o tempo. ;oi um go-o e $rincar a infncia minha, ;oi del/cias de amor* &eus dias matinais! dias que eu tinha, Finfas no p2 da flor. 0or2m, tão poucos! despontando a vida 6errouse o meu nascente1 A noite se despenha denegrida 6aindo tristemente. % esses lindos verdores esse $elo solnascer, 0enhores por entre o riso, 0or entre a vo- a correr, Tudo passou tão de pressa, ;oi tão de pressa morrer! oce nome de mãe, que eu amei tanto entro do coração! oce nome de mãe que era o meu canto o anoitecer na $enção. % perdeuse para sempre )o meu peito a minha vida, 6omo nos c2us enu$lados A minha estrela querida* Assim de tarde aparece
6ercado d(aves cantando* 0assa o )atal, e não dura. % como o ledo paud(arco 4 numa tarde sorri, &imosas tão $reves flores &urchas nos meus p2s as vi. eus olhos por seu rosto se estendendo, %rrava a claridade que espalhavam. Tão $oa minha mãe! tão maternal!... Tão má! tão homicida esta saudade! ' As árvores vi#vas se despiram o verdemar esplBndido e frondoso, 0elo silBncio m/stico e som$rio* entimentos fi2is que estão guardando +s t#mulos sagrados de seus reis, Qual dom2sticos =elhos mudos vagam 0elos salEes va-ios dos senhores. Acompanharvos venho1 neste p4rtico Tomo o meu posto, aqui fico encostado* 6horemos 3untos, companheiras minhas1 6horai, amigas, soluçai comigo. Tinha sua fronte o repouso a piedade e do amor1 @onança divina, eterna ;ormava seu resplandor* %ssas coroas se romperam, o$re um cadáver penderam. @ei3ei seus lá$ios tão frios, @ei3ei seus olhos fechados* 9nda amor seus lá$ios tinham, 9nda em pranto desfiados eus olhos eu vi chorando, 0elos seus 4rfãos clamando. A escravidão toda errante, Que sonho inquieto inspirava, 0or meio da noite andando, )oturnamente ululava? &esmo os cedros pareciam Que soluçando se erguiam. 165
As laran3eiras do s/tio "mas morreram, murcharam1 A criação fugitiva, +s pom$ais se a$andonaram1 Tudo mudava n(um dia, + vale fundo gemia. + olho d(água secou, 0erderam o trilho os caminhos, ei5aram as folhas os troncos, ei5aram as aves os ninhos* Tudo num dia mudava, + monte longe chorava. Todas as aves e o gado, Tudo o que a viu nestes s/tios Tudo morreu de saudades, Tudo com ela aca$ou* &urcharam flores no prado, )o monte o cedro murchou. Aonte da it:ria % eu penetro os anos que passaram, o minha mãe ao lado aqui me assento1 +uço tocar a campa avemaria, o pai religioso o grave acento. 6omo 2 triste o espetác(lo da tapera! )o fundo do deserto ondeia o vento. ' + eco de uma pedra... desmoronam Antigos torreEes onde eu nasci! "m gemido... suspira mori$undo + confidente velho, esse africano ;ilho da li$erdade, escravo aqui. %squecera o velho d(8frica + pa/s onde há poesia, A longa margem que o Jaire 0or mBs d(inverno floria1 %squecera a lua argBntea, As lu-es do sol do dia, 0elo nome dos finados Que revive n(agonia.
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)esta orfandade des$otada eu vivo... &eu eus! quero fugir aos vossos reinos. )esse tempo eu não sonhava* )ão viume o sol delirar, )ão viume o cume dos astros )os fundos vales do mar. 0or2m, desço dessas nuvens % sou na terra a chorar, )o meio da soledade os desertos do palmar1 ou de$ai5o das fruteiras
XLIII - $RONDOSOS CEDROS D’OUTRORA ;rondosos cedros d(outrora, Que destes som$ra ao meu gado, Quando na calma do estio Andava errante no prado1 0equi-eiro envelhecido, Que lh(estendeste a ramada 6heia de trBmula som$ra, o tosco fruto envergada1 &eus campos d(antigamente, Que longas olas cercavam1 @ela colina, o penhasco Que no ocidente enrou5avam* 167
alve! ' c2us da nature-a 4 viva para chorar ' ;oste agigantada virgem, :s murcho outono a esfolhar. Ó dias dos outros tempos! Ó dias da minha aurora! 6omo encantado me vistes, ;rondosos cedros d(outrora! @rada a noite, e despovoa +s negros cumes do c2u1 +s vossos vestidos novos Tam$2m a noite os rompeu. %ra o sol da minha idade, :ramos gBmeos da selva, 6om ele $rincava 3unto )estas campinas de relva* 8s mesmas horas dormimos, As mesmas nos despertaram, A mesma fonte $anhounos, % as mesmas aves cantaram. %u era gBmeo co(as palmas, A crescer nos comparando ' "ra dia acheias mais altas, =iramme n(outro as passando. @elo pássaro que amava @ateu as asas, voou* Aqui ' nos p2s destes troncos &inha e5istBncia findou... it:ria XLIV - MEUS NOVE ANOS N’ALDEIA +uemL numa "edra do caminho descansando uma hora #/ "elas sombras da ida, não oler/ em religioso sil0ncio uns olhos agarosos aos ales 168
da inf;nciaL #/ ão tão longe na e@tensão "rofunda e obscura, e a"enas a lembran$a os amolece ainda de fresquidão e de rela, caindo o "ranto saud/el e tão terno como esses mesmos noe anos d
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Qual sa$ido de um sonho me olhava, Que sentia me o ar comprimir1 % medroso fugindo das trevas Gs irmãs que lá $rincam me "nir ' &eu sem$lante inda pálido viam1 0or2m nunca ningu2m revelou* Tinha medo di-er meu pensar, 6onhecBlo inda mais me aterrou! ' @em amava do velho africano rave o aspeto, nevada sua fronte1 Fonga hist4ria lhe ouvi, tão saudosa, 6omo a chuva descendo do monte. 0rocuravao 7 tarde* assentado )o $atente, rugia na mão Foura palma, vedando 7 palhoça 0o$re e limpa gentil criação. =er o /ndio, suas penas, sua flecha1 os ciganos o $ando esmaltado, ;ui confuso que eus outras gentes &ais que a n4s tanto houvesse criado! % eu di-ia* por tua grande-a )ão $astaram teus filhos, meu eus, % estes montes e o vale florido % as estreitas que pisas nos c2us? 0or2m, tudo me enova, me alegra* )2dia rBs condu-indo o vaqueiro, 0ascentar o re$anho, a chegada Quase 7 noite de um cavaleiro. ' alvas santas amei de &aria, ;oime noite de festas o sá$ado, Fento o sino do$rando sonoro, untas ledo passavam o serão* %5ultounos a infncia de vida, &esmo infncia e5ultou no ancião. 170
Altas alvas tocavam matinas, Quando $rilha o domingo no c2u1 @ela, acesa, fumosa a capela %ra harpe3os de um cntico he$reu. erramavamse so$re a montanha Fongas ondas de um sol tão formoso, 6omo vestias, como harpas et2reas esdo$radas pelo ar vaporoso. 6almo o tempo, o descanso de eus Amplas horas fa-iam lem$rar, &uito ao longe uma pom$a arrulhando, Fonge harmnico o galo a cantar* Tinha o dia mais eco, nas árvores @alançavase o vento mais $rando, oce e mesta canção das sen-alas &inha mãe no seu fuso levando* Toda a casa mais clara, mais nova1 %ram os trilhos mais longos, nitentes, Que o da lua nascendo ang#stia, &urcha as flores do sol inocentes. %u corria nos ralos do ocaso &e vestir todo de ouro no campo, 9nda as filhas da noite me achavam %sperando acender pirilampo. ' + inverno pasmávamos 3untos
)as vermelhas manhãs do equador. e amoroso estendime na relva a campina co$erta d(enfeite, +u na tosca fumante ramada os pastores das vacas de leite1 e amoroso nos p2s me deitava a laran3a cheirosa e florida, 6omo a cria que a som$ra procura, Que so-inha encontrouse perdida* %sperando cantar filomela Que suspira na moita do mato, % as palmeiras sonoras erguerem @elos 4rgãos co(a vo- do regato. 0erto o vento passava long/nquo % o pomar de sens/vel tremia, 6omo a fonte que vai modulada, Que entre as huraidas ervas corria. Tinha areia de prata o o9hod(água, Tinha conchas e encantos sem fim,
0ara dar 7s irmãs a criar eus filhinhos do ninho eu pedia. 6omo pousa na rBs, tão coitado 0erguntoume gentil $emtevi* C+nde a vida me levas nos filhos?D "m açor eu não sou* respondi. CTu quiseras que 7 mãe te arrancassem? C=er seu pranto que os olhos vertessem?... C4 as vo-es de mãe adormentam1 C+utras asas, que a mãe não aquecem. CTu me queres tirar do tra$alho? C6omo 2 doce o tra$alho dos filhos! C%u não ve3o tua mãe doces frutas CApanhando por darte nos trilhos? CTerei sempre o que darlhes nos ares1 CQuando a mim me faltar, oh, com $ei3os C&inha fome eu irei enganando, C&inha sede e os meus outros dese3os* C&olhes vBs a garganta $atendo CQuando os tocas, a$rindo o $iquinho? C6omo quando eu chegava no ramo Cão suas vo-es, oh, dáme o meu ninho! C%les choram tremendo de frio, C>á tem fome* não queiras trocar C%ssa cama que eu fi-lhes das penas CQue eu podia do corpo arrancar, C% estas asas que os co$re da noite, C"m calor natural neles dando, C% a comida 3á meia digesta Co meu seio em seus seios passando, C%los panos que aquentas no fogo, C%la dura e tão fria comida... C6omo 2 grato o viver com sua mãe! C6omo 4 triste o perderse essa vida!...D Apertouseme o meu coração, 173
)unca mais nem um ninho eu tirei* Qual da minha estar 3unto eu amava, =Blos 3untos sua mãe eu amei. % ficoume um pesar no meu peito... 6omo quando ave triste cantou, 6omo quando suspira a ri$eira Que a torrente passando dei5ou. Toda a parte por onde eu andasse
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Ó descanso no colo materno! Ó desertos do 0eriçumã!... % meu pai ensinavame a @/$lia % os preceitos da igre3a cristã. *uteuil
XLV Dorme cm leito de bonan$a G feliz, na "az da cren$a' 7em sonhos no sono "l/cido 7onhando, s: sonha amor( Eu sonho quando não durmo, 4or ier nesse "assado' Dormindo, maus "esadelos Me sobressaltam de horror( Ó tu! que nos relmpagos dos olhos %m$alaste minh(alma, vaga incerta 6a/da nos tens p2s, n um c2u d(amores Fevada por encanto ' e convulsosa, % ávida de ti, ampla qual nuvens, &e enlouqueceste de uma vida eterna! Aonde foste? onde estás? porque morreste, =irgem co(as formas da nevada nuvem )(alvacenta manhã co(a graça ang2lica?... Tu, que $ei3aste minha face e amante esli-avas por mim, me estremecendo, &imosa e mansa, linda rosa d(ontem, %ra suspirar s4 teu, a$rindo ao -2firo1 Tu, que era teus seios, tão feli-, sentias + late3ar da minha fronte cálida, &eus lá$ios quentes ofegando amores1 Que aos meus del/rios piedosa andavas Teus olhos so$re mim, de apai5onados )uma lu- pranteada se que$rando1 %nleando os teus $raços indolentes 0elos meus om$ros... onde foste? ' 9nda amo! Amote, eu sinto, de tuas som$ras fu3o, a vida eu fu3o que contigo amei. A m#sica celeste, essa poesia Que foi minha de harmnicos enlevos, 175
Quando em teu peito tres$ordava esta alma %m ondas de um pensar tão melanc4lico e tantos ignorados sentimentos, )ão quero ouvira m#sica, essas harpas Que no meu coração notas coavam1 )ão quero o canto nem tremor dos $osques )em vo- da fonte nem clarão da lua! onhos tão $elos, que no amor se geram, )o meu passado, como horror tra-eis Tão de som$ria morte a rodearme, &e roçando a passar! eu estremeço* 0or2m não sei correr da minha sorte1 % porque? como a ovelha ignorante Que pasma ao c2u, que relampeia e estala 6omo o pestane3ar do deus das som$ras, % sacode a ca$eça e nada entende, +u que aos olhos da fera os seus aperta % $alido inocente apenas solta )a morte penetrante* eu sou como ela. ' Ó vida desgraçada, 4 minha vida, Quem que te fe- assim? quem te vivera e eu não fora? faminta, miserável, ;ugindo aos homens, s4, assim na terra A rugir do meu ser 7 vo- que eu sinto Fá dentro d(alma remorderme! os vivos Aterrando de mim1 persigo os mortos. %u careço de amar, viver careço )os montes do @rasil, no &aranhão, ormir aos $erros da arenosa praia a ruinosa Alcntara, evocando Amor...0ericumã!... morrer... meu eus! Quero fugir d(%uropa, nem meus ossos escansar em 0aris, não quero, não! +h! porque a vida despre-ei dos lares, +nde minh(alma sempre forças tinha 0ara elevarse 7 nature-a e os astros? Aqui tenho somente uma 3anela % uma geira de c2u, que uma s4 nuvem A seu grado me tira1 e o sol me passa Ave rápida, ou como o cavaleiro* % lá! a terra toda, este sol todo ' % num c2u anilado eu m(envolvia, 176
6omo a águia se perde dentro dele. 9ngrato o filho que não ama os $erços o seu primeiro sol. %u se algum dia Tiver de descansar a vida errante, 6aminhos de 0aris não me verão* A trav2s os meus vales solitários %u irei me assentar, e as $risas t2pidas Que os meus ca$elos pretos perfumavam, os meus ca$elos velhos a asa trBmula %m$ranqueceram* quando eu nascia &eu primeiro suspiro elas me deram1 &eu #ltimo suspiro eu lhes darei. Quando eu for navegando 7 minha terra, A viração mareira no meu rosto, %spane3ando esta alma no oceano, 6omeçarei amar! e o sol co(os raios, 6omo $raços de amante, as mariposas, As inconstantes ondas afagando, Amansandoas de amor em re$eldia1 % a lua formosa, como a rosa Quando as p2talas todas desdo$rando =ai, qual virgem de amor descamisada )evado seio a arregaçar dormindo %m seus leitos de a-ul resvala, ondula1 % as long/nquas montanhas fumarentas A $alançarem na água1 e o nevoeiro esrolando dos c2us, difuso ao longa )o hori-onte1 e quando so$re as margens %nlevado da pátria o meu $ai5ei, inete inquieto aos conhecidos s/tios, %u vir1 so$ os meus olhos, que uma lágrima 0artem, partem de alegres as palmeiras, %sses rios e serras, esses campos, 9rmãs, amigos, tudo... então morrer! 0renhes de raios, de trovEes as nuvens Arrastam pelos c2us pesados elos e cadeia inegual, por despertarme. + c2u estremeceu* de a-ul, prescito As faces retraiu1 negrento fumo 6orreu1 a terra densa vestia cai. % eu dormia o meu sono de acordado 177
Quando a dor amortece* olhos desvairos, eslavados das lágrimas, não olham. &inha alma errante, de voar nas trevas ;echa as cansadas escorridas asas1 &eu pensar afadigame* do mundo ;ugitivo eu serei... oh, minha sorte! &inha mãe pelos c2us a$andonoume 9nda infante, meu pai tam$2m morreu1 Amei doces irmãs, eu não sei delas1 6ompanheiros gentis da meninice, a carreira nos prados, se perderam1 &eigas adolescBntulas celestes, Que descer dos mais anos me fa-iam )o 3ardinoso al$or andar com elas, ;echadas flores, tão cheirosas, foram! 0erdi tudo o que amei! tudo me foge, % nem a morte eu sou ' tudo o que eu toco esfa-se, horror! % o meu c2u, meu $erço, % os an3os do meu sonho, e o meu sol d(ouro, isudo ancião cora fronte de meu pai, % os meus amores... )ão! quando sonhando Auguramme a$andono, e solitário 6omo o >4 piedoso, ainda a ve3o Bmea do meu amor, em n4s nascido, 0or n4s criado, que ela amou primeiro, Que primeiro eu amei, que amemos tanto! =e3oa correndo não sei donde, e doida, eus vestidos no vento desdo$rados % os #midos ca$elos1 $raços longos espedaçando o ar, que diante ondeia, 0or mais solta chegar1 incertos gestos )a face, nos seus lá$ios, nos seus olhos e choro, de alegria ou de piedade, Tremente por ditosa e de triste-a =endome como o >4* dos c2us, do mundo %5ulado e faminto, e sem a$rigo A ventania, aos vermes! po$re filha, 0o$re escrava de amor, porque inda o amas? =erte consolaçEes, tra- salvamento, oces afagos tão de mãe saudosa, oce fresco da tarde me alentando1 6om seus ca$elos a nude- me co$re, &oles ondas no mar se desfa-endo, e desdo$rando, rodeando a praia1 178
0alma ao sol, so$re mim seu corpo inclina, %u sinto a som$ra me passar na fronte 6aindo co(o murm#rio da sua fala, Quando eu acordo!... % que me importa o mundo, % que me importa o c2u que me a$andona! "nidade o poeta a$soluta em depender dos astros nem da terra, 6anta por nature-a como o pássaro. 0or nature-a as lágrimas espalha, =endo os homens mis2ria, ele mis2ria1 A escorregar co(os mais so$re a desgraça, 6urte saudades do que vai passando Arrastado do tempo, e que ele amara* Amor, de que se nutre, e nunca farto, eu alimento devorando, morre! ' ofre o homem vivente, ao menos o homem a$e di-er sua dor, que eus afaga, )ão sare em$ora1 mas o po$re $ardo, Ai dele ' de gemer suas veias rompe, 6omo ignoto do er, vai delirante, =ai sem sa$er de si, do que sentira, Que foi tão fundo1 que ningu2m lhe entende! "m fantasma sumiuse espavorido, @elo voando 7 noitidão do a$ismo, onde aparece* Cpassa, eleva o eco a tua vo-, 4 som$ra misteriosa, Que n4s da crençaD di-em Cnão sa$emos Teus latidos ouvir, del/rios torvos %m candentes marasmos reve-ados.D ' ecava, se ergue e se $alança a onda %m seus trBmulos p2s so$re o oceano* ;ilho dos mares, filho das estreitos, %rrante como a onda ao p4lo eu sigo. A som$ra da palhoça americana %ila assentada ao lado de sua mãe Aprendendo a tecer n(alva almofada, 0o$re inocente! %isme a$andonado )o meio da =it4ria, entre as ru/nas, 0or entre os laran3ais sem flor nem folhas, em ra/-es nem fruto, semeados 0or mãos do furacão por so$re a terra! 6orro a$raçar os seios tão fecundos, @ei3ar tão ampla, tão piedosa fronte, 179
ifusos meus afagos derramarlhe )o pensamento, que se lança, ondeia %5pansivo e materno, aos p2s de eus )os olhos de seu filho... os lá$ios firo )a dura casca do longevo tronco o $acuri-eiro e a pedra1 em ve- da $oca 0erfumada da vo- celeste e t2pida, %m ve- do colo amorenado e fresco e minha mãe de vi$raçEes pac/ficas! ' &e de$ruçava lá na infncia longe, Tão f2rtil, matinal e tão amada... 6omo 2 árido o pranto que eu espalho! A erva, o musgo não estavam nela, %u ve3o a sala em chão enegrecido % liso pelo tempo, alegre e limpa, 6om seus r#sticos moveis d(angelim1 Atada a $ranca rede neste canto, á loureia o milho, =erde3a o arro-al na $ai5a, e so$e )a ladeira viçosa o algodoeiro, Que vermelha maniva a cima entouça* epois, rica a colheita ' oh, tão feli-es! % eus tudo nos dava, largas eiras, Amplos terreiros a$undante enchia. )a lavra a padroeira se feste3a 6om festas, com selváticos cntaros, 180
Que dera inverno copioso 7s plantas, 0ara o rio que sai do fundo leito1 =erão formoso na colheita, aos campos, 8s pingues pescas e u$ertosos $osques. %m fresca madrugada n4s partimos ratos dias passar na doce quinta 6ora sua vida de um ano ou dois1 a lua )os raios da manhã sua lu- perdia. )o seio do caminho se enco$rindo, ritando por seus pais, que cedo a$raçam, =ão saltando os crioulos1 vão nos mansos, )os es$eltos corc2is $rancomimosos &eu pai, minhas irmãs1 atrás os servos, % os cães ladrando 7 fugitiva corsa Que na volta da lua sai na estrada1 )o meio minha mãe, eu no seu colo, )o carro cantador, sonoro e lento, 0or formosa parelha igual tirado, ;umante o dorso, sacudindo a fronte e ramos enfeitada, um lácteo $afo %5alando saudável1 pelos ares 0oenta nuvem de marfim desonda o caminho de fita. A vo- confusa a leda caravana matinava Harmonia selvagem, mas tão $ela! Que risonho pa/s, que novidade o$ressaltou minha alma! alto hori-onte + tu3upar domina, se amontoa 8urea colheita pelo em torno1 as aves 6antam no meio do arro-al que ondeia Ao vento estivo1 serpenteia o rio Turvo e plácido, al2m perdido, al2m 0assando 7 som$ra do algodão plumoso Que das margens se a$raça, entrança os ramos1 6ortado, al2m, da estiva que de$ruço ;ormou naturalmente o pequi-eiro1 % pela ri$a as verdes ca$aceiras %ra floridos cordEes se dependuram* )uvem co$re o terreiro, vagam nuvens &ati-adas no ar, como folhagem
Tristes, pálidas torres que não do$ram, 9nconstante despindo o m4$il manto 0ara outra enramar, co$rir de flores 6om a $reve estação desta que esfolha. =oltávamos, passada uma semana, &ui saudosos, da lavra. )os tra-iam )ossa mãe preta e todos os escravos &il presentes d(infncia* a cuia nova Tingida e resinosa1 o cará ro5o1 ois ovos de perdi-, da glauca tona1 A leda, $erradeira seriquara e p2s e olhos vermelhos, verdoengos Fongo $ico e a plumagem1 uns filhinhos o como viridante em quentes plumas. G tarde, quando a lua no hori-onte esco$ria de prata o rosto umente Agitado no mar de um c2u d(a-ul, +s cumes do ocidente se e5tinguindo, 6omo o casal do :den se assentavam &eus pais 7 fresca porta no $atente =endo o nosso folgar* interrompido Quando o sino vi$rava na capela Angelusave1 renascendo logo. Fá chegava o feitor, depunha a foice, % a meu pai relatava o dia findo1 o$re a queima lhe fala, as chuvas teme* C6orre mais a$undante no caminho CTortuoso &apa, $anhou das margens CA lustrosa cantã, que se ergue olente1 C>á taiocas se alastram doidamente C+u vão su$terrneas1 n(alta mata C+ acauã cantou, ecos de longe CFevaram por mais longe os outros ecos1 CAcimamse nos c2us os seteestrelos, CAcentrada num forno a lua pende ' C+utros sinais eu vi ' todos os astros Cão maiores mais lu-em1 são mais fundos C+s campos, perto os matos d(outra $anda, C% mais amplo o hori-onte1 7 madrugada Critavam gansos para o sul passando1 C6omprido $ando eu vi passar 7 tarde Ca colhereira r4sea1 o sol no poente 182
C=ermelho* tudo as chuvas anuncia.D )os $raços maternais que me em$alavam, %m ondas de alegria derramando + cansaço infantil, eu me atirei "m dia e, de pra-er, preso em soluços. >á mudo e descansado olhando os outros )o tecume em que andavam, despedirme, 0or entre eles perderme, ia pensando* )o lançarme, senti na minha fronte 6air gotas de pranto, eu estremeço... &inha mãe me apertava, e como alegre ;oi di-endo* CHo3e $rincas, no meu colo, CQual na pátria, depois da vida errante, CHo3e vens descansar... oculta sorte CQuantas ve-es não muda os seios almos, Cel/cias da mãe terna e o doce filho, C0or um leito de pedra! estes rosais, CTanto c2u, tanto amor, por tantas dores, CFongo penar, morrer! oh, eus te salve Cos frios dentes d(assassina sorte...D )ada pude entender1 mas, comoveume A vo- dorida lhe escutar, tão triste! % assim como a progne implume ainda e encolhendo tremente so$ as asas %stendidas da mãe, quando na torre Que$rou a tempestade, eu a seu lado 9gnaro emudeci tam$2m chorando. ' 9ndu-iume a voltar aos meus $rinquedos, %nquanto era feli-, %nquanto infante. )unca mais ser contente eu não sa$ia* &inha mãe nunca mais contente olhoume 6om sua vista de esp(rança* um que piedoso % de triste-a estava em seu sem$lante +lhando para mim, tão carinhosa! 6omecei a passar todos meus dias >unto dela, onde quer que ela estivesse, +u na rede da sala, ou passeando 0or entre a laran3eira, ou nos pom$ais1 ormia no seu leito, a vo- lhe ouvindo ' Tremendo adormecer! ' e quando n(alva 6antava o galo, eu despertava, a via, % como triunfante e pra-enteiro essa noite salvar, $ei3eilhe a fronte! 183
)ão podia perdBla um s4 momento, Temia não sei que, porque nem sei... % morreu minha mãe, perdi meu pai, A =it4ria, os escravos aca$aram!... ou 4rfã, sou perdida andorinha Arrancada do ninho pelo vento, )ão sei por onde eu vou... murchando a vida )esta minha invernosa primavera. Assim, meu eus, no mundo os 3ustos passam, em ru/do ' vai som$ra solitária Que refletiste uma hora. Ah! se eu pudesse =oltaram meu pa/s ah, se eu pudesse! 0assando, resgatar 7 li$erdade %sses vendidos, miserandos velhos a =it4ria feli-es! po$res crias e minha mãe, por hi morrendo, c2us! arlhes a respirar no fim da vida +s ares do palmar onde nasceram* % pasmados d(encanto ao ninho amado. Qual aves da saudade erguendo o coto 0ara o colo esconder fechando os olhos. %ntão morrerem... mas, ouvindo ainda + som dos $osques, o gemer da rola, % o lago $errador por muda noite Harmoniosa, e as aves da alvorada, % o suspiro e5alarem no seu canto! Ainda a solidão nos conhecera, + deserto ecoara, e so$ os p2s ent/ramos a terra estremecer! A campa quando mãos de amor a tocam, %scorrendo uma vo- que$rada, um pranto. )ossa casa erguer/amos da noite essas mesmas ru/nas do casal, %ntre elas1 serviria a mesma porta, +s esteios os mesmos, o $atente, %sses mesmos terrEes desmoronados )ovas paredes levantarão1 tudo )os falara o passado... tudo lágrimas! : fagueiro chorar por muitos olhos, 0or muitos coraçEes, por muitos lá$ios + mesmo choro, o sentimento e amores 184
os tempos que 3á foram! ' e eu pudesse &eus amigos vendidos li$ertar! Ainda ver passando a colhereira, + ganso 7 madrugada, os meus palmares % a rola da =it4ria e as aves todas!... % mudo a minha dor come a minha alma )os anos verdes, como verde fruto &astigado com força nos vora-es, )os ri3os dentes a estralar que$rando a homicida, fatal, da minha sorte* 0or2m, não perca o fio da e5istBncia, eus no meu peito, amor nos olhos am$os, Fonge do mundo, o r#stico ala#de )a destra sonorosa ' hei de vencBla! ou como a cria desmamada e triste, Que uma gota de leite mendigando @ale em torno de todas as ovelhas* A$anamlhe a ca$eça* eu não sou filho. Andorinha dos mares, so$re as ondas 0erdida, as asas de cansada arrasta1 0assa a frota alve3ando qual cidade, =oa aos mastros de um, d(outro navio, +s marinheiros gritam, e ela volta e t/mida outro $ordo, e deste aquele* Ai de ti coitadinha, fecha as asas, olta um gemido e lançate da vida, =ai na morte pousar1 cai desse cume os teus dias $em l#gu$res n(aurora! Ah, se eu tivesse mãe! então... ah! sim, )em como ave do mar, nem como a ovelha* A seus lados feli-, $em 3unto dela, &eus $raços enlaçandolhe o pescoço, @e$endo os olhos seus, seus doces lá$ios, ua respiração $randa, amorosa, Que alentou minha infncia e fora eterna1 =ivendo nela s4, toda minha alma erramando so$re ela, ao mundo, ao tempo &ostrara o meu amor! ' Ó v4s, que a tendes, Amai a vossa mãe, amaia sempre, Amai ainda ' quanto amei, quanto amo &inha mãe... minha mãe!... tu, divindade, &eu sol da infncia que me davas tudo enti meu pranto como triste corre1 185
=ede meus dias solitários, áridos, ;ruto que não vingou* tão cedo, a selva &orreu, caio* 7 calma e5posto, o sueco e perdeu, e mirrou não tenho mãe. 6om o são lentos, longos, e pesados +s dias deste mundo! como custa Arrastar este arado da e5istBncia,
XLVI 3ua oz na inf;ncia adormeceu no ber$o Meu dormir de flor E de saudade e amor, mãe, & sobre um tmulo que eu canto( om$ria morte me acompanha, eu sinto eu faminto alentar* cada um meu passo A$re um sepulcro, e me desaparece. A lu- me aterra, desconheço o dia, )oite que treme apresentarse ao sol Antes da vida eu morro. +lhava apenas %ssa terra de vastos hori-ontes... &eus olhos cam$aleiam pelas faces, 6omo o ocaso despedese dos p/ncaros. )ascem ecos distante... um s4 minuto, Ó ecos, esperaime ' eu vou cair! )ão me vBs, minha mãe, neste deserto? em pátria, como a nuvem desgarrada
o pá ramo por virgens do meu peito, % por meu teto o c2u1 cndida lua )o meio da cer#lea ca$eleira %5alando o seu rosto de don-ela, 6laro manto de sedas perfumadas 6o$rindome da noite, árida esta alma &(em$evecendo d(orvalhoso efl#vio1 ormindo o sono plácido da crença, Afagarte em meus sonhos de ventura, =erme infante em teus $raços, em tua fronte >uncar, 3uncar meus $ei3os... minha mãe! )ão me vBs, doce mãe, neste deserto? % o 3ardineiro sol da madrugada @anhando as flores de perfume e tintas, +u quando da palmeira aos p2s arro3a A meneante imagem, no ocidente 6armini-ando o mar, e a nature-a %ntre as m/sticas som$ras de uma tarde, Quanto eu amara! que esta vida enchera e todo este universo, minha mãe! )ão tenho um s4 amigo, sou tão po$re... Que eu ve3o um mundo... ningu2m sa$e ao menos* %5tintos olhos e uma t2rrea fronte )ão vão c(o ledo romanesco em galas. +h, quem pudesse penetrarlhe o e5/lio, ondar seus mares d(ilusEes e a$ismo, % os mist2rios erguer n alma do $ardo ' om$ria diante o sol, por entre as lu-es, 0ara os dias da noite solitária! em gemer uma dor, choraas consigo, Ao mundo que sorri, sorriso empresta1 )a pa- da solidão rasga sua alma1 Fucu$raçEes 7 hora evosa e tácita, % umas gotas de lágrima espontnea o$re essas flores de triste-a e insnia. &eu corpo 7 terra a$andonei mis2rrimo* e saudades, de amor, sonhos, esp(ranças, e ti, de um eus alimentei meu peito ' % para o mundo, minha mãe, tão po$re!... %rrante pelas ondas do oceano, + som das vagas temperoume a lira, 187
%cos delas seus ecos repetiram. olitário dos homens, forasteiro, )a soledade do ideal ouvias impáticas, soluços me ensinando Arrancar ao coração1 com elas %rrei a mente n(amplidão calada1 emi com elas na canção do nauta,
&eu pai tam$2m morreu, erguilhe as cordas a lira que me deste, em noite escura Ao mundo esquivo 7s som$ras do sepulcro. %m pálida orfandade eu fui qual folha )as asas dos tufEes ludi$riada* a selva me arrancaram tenra e murcha, Quando o sol rodeavame num $erço e flores e favnios, quando as aves )o trino virginal d(argBntea infncia... Que amanhecer, 4 mãe, quanto era horror! 6olocado me achei num hori-onte +nde o fogo queimara a terra, as flores, Tanto sorriso pradinal no monte, )o vale a pragana aureando ao sol! A terra estava negra, re$uçada %m camadas de cin-a1 al2m, al2m 6repe alvacento levantando apenas ' % o c2u nem sou$e darme um fresco orvalho! 6horei! perdidas lágrimas de 4rfão. 0edi consolaçEes! por2m, 7 terra. % os meus gemidos as soidEes comeram1 &eu pranto aquece resfriada cin-a1 % ningu2m me entendeu. ivago ignoto. Feviano $ai5ei das águas todas, =ergntea e5ile do frescor movida, Amei, oh, quanto amei! an3os da infncia, Que os meus anos d(aurora mati-aram! %ram ondas saltando, s(infiltravam, 6omo em praia, em meu peito sonoroso1 % como ondas de vida os meus suspiros 0iedosos caindo, me escutaram* oces cantos teci de amor travessos, esalentada mansidão da serpe. "m rápido sorriso 7 flor dos lá$ios )asceu, tingiu de amor, passou, morreu. uav/ssima aragem desprendendo Amena rosa de recentes cores, ;agueira linfa vinculando a concha, % nem mais divaguei... morreste?... virgem! An3o coitado, que tremeu de amarme, Arder as asas na silvestre chama o meu amor1 almpada sagrada, 189
Fu- delirante me sentir nos seios (4leos divinos suspirar, morrer. Fongos, pranteados em$alava os olhos, Que a face afrescam de uma lu- infante, Ao c2u de a-ul asserenado, manso, 9deal d(harmonias respirando, 6omo a rosa em seus $afos se difunde1 % nos fracassos desse peito alheio An3os, nuvens divinas se e5alavam* C=irgem de vaporosas criaçEes, Cáme um $ei3o por asas, dá com elas CQue eu su$a 7 salvação, 4 casta! 4 noiva! CTu, que alvoreces entre o coro e as harpas Ca nature-a, que as montanhas vi$ram C0or estes vales onde o vento dorme1 CTu, que te inclinas 7 espaçosa som$ra Ca tarde, como a t2pida lem$rança, C% o saudoso passado, dáme um $ei3o! C%nche meu coração dos teus mist2rios!D ' % ela não falou* confusa e $ela, ei5ou nos olhos melindroso assomo. ' % ela não falou* meus olhos $ai5os Fampe3aramlhe aos p2s, doce mendigo o$rado ante os altares da esperança. uaves l/nguas de mimosa flama entiase a sair no puro alento a aromosa $oca* ar$ena alpina Que na calma foi do ávido assaltada, %m cansaço e medrosa um ar faminta. =aguei por so$re as pálidas ru/nas, 8 rota som$ra do espinheiro agreste* )em mais ouvi a rola solitária, Famentoso acauã deume o seu canto )as horas do silBncio taciturno, % outras aves do sol desconcertadas oleni-aram o amanhecer e a tarde. 0ercorri as campinas lá da infncia, )ão encontreias, de mudadas que eram1
+ casal da =it4ria interdi-erme? >á vacila o esteio, alta parede %ra seus p2s se amontoa, a$ate o teclo1 %m sentido asso$io lá se envolta Amarela 3i$4ia, ao lado geme A coru3a d(agouro, das ru/nas 0residindo o cair, noturno esvoaça + morcego e pende, rumoreia o vento. % o teu casal me foi negado um dia 0ela terra tão má! pecoreando Ao relento passei noite sem fim, )o meio das soidEes do meu passado, %m pedras estendido. Quantas dores A$afavamme as som$ras! meus gemidos Apenas iam se perder no vale. e lassidão sonhava, adormecia* %u era o teu sepulcro misterioso, )a minh(alma encerrei teu pensamento, &eu peito a lousa do epitáfio* em mim =isEes senti que os t#mulos rodeiam
Keca e perdida em carrascais sem florL, Te dando água na mão, que tanto amavas )a folha da cantã, e 7 tua vista orrindo as linfas gárrulas passaram1 A tarde, vagarosa, em doce prática, )o teu passeio a respirar no monte o $osque perfumado $rasileiro Ar t2pido e saudável* so$re a pedra a ladeira, encostadaa mim, por longe =agando os olhos d(afrou5ada vista 6omo esses cantos vesperais desmaiam, )uma hist4ria sem fim, mas agradável, @randa fita de mel, por entre as frases. + nome do teu filho acentuando1 % depois, quando a som$ra 3á ca/sse os laran3ais perante os astros todos, 0elos trivios 7 morta claridade =irmos tra-idos para o teto amado, +nde 3á passam as primeiras lu-es1 escansando no toro de paud(arco, Tu falarás então, por2m sem lágrimas* CAqui tuas irmãs contigo 3untas CHá vinte anos $rincavam1 lá, teu pai C%sse p2 de loureiro que inda cresce C0lantou quando nasceste, esperançoso C)o teu futuro ' a idade dele 2 a tua.D % no terreiro se a3untando os pretos, 6omeçamse acender os fogos r#sticos. )em mais o canto das sen-alas ouço... +h, quantas cousas tem mudado o tempo! Ó eus, porque mataste rainha mãe? 6urveime 7 rama do palmar atlante, )o esto de uma quadra da e5istBncia, 0erto 7 sorte minguada ouvindo a morte... &as, foi sonho. Açoitado do destino 0erdi as margens que eu amava, ingratas! &inha dor comprimi, pranto de sangue 0or dormila chorei! chorei saudades, o peito a fronte a levantar gravosa =ergada ao pensamento, fundos olhos Tremulando no vulto do gigante
ilencioso nevoeiro a grenha1 ;alecendo no a-ul das serranias os Órgãos endentados ' qual n(areia o l/$ico deserto, o sol aceso, (em$alançam palmeiras no espelhoso, %ncantadas cidades, ilha ou selva, +nde elevase muda a caravana ' )o remanso das águas desenhadas &el/fluas do >aneiro. +h, meus encantos! &ãe despiedada que seu filho en3eita, A pátria me negaram... 0osto 7s chuvas, enti murchar meus anos inda a$rindo1 &inha vida pendeu e5tenuada e suspiros e dores1 esta seiva a minha alma s(evapora, esvaise1 0ela a2rea rai- repousa o outono, % os tur$ilhEes ardentes a laceram. %u vou su$indo o rio da e5istBncia 6ontra as correntes em penosa $alsa* %stendo a vista pelo esteiro, $usco eter co(as mãos as ondas, que me fogem! rito, que se não perca o meu passado ' % perdese com o eco... e pelas margens Apenas uma lu- se e5tingue, um monte %mpalidece e seca, as minhas torres esfa-emse em ru/nas, um cipreste Fá no fim do hori-onte o corpo estende!... % voltome ao caminho para adiante* + tempo se apro5ima, e passa* e digo, + futuro lá 3a- atrás da nuvem ' 0or2m $ranqueia a nuvem... peço ainda G noite, que me espere %nquanto há dia ' + sol desaparece, e tudo 2 noite! ' %stá minh(alma se escorrendo em chagas Tão vivas, de sangu/neos meteoros )ela cheia de noite, ou como os raios )a sua tempestade serpenteiam! %u via o tempo segundarme 7s pressas* C6orre! corre! que eu passo.D %u corri tanto, Que a vida toda numa aurora andei At2 aos pedestais desta muralha! Ainda as verdes p#rpuras me cercam, 193
% esta desgraça que eu radeio as cresta. )ão posso mais seguir* num desalento, %u caio, e de fadiga mal me arrasto G $eira de uma som$ra, so$re o marco A fronte delei5ar em desca$elos 9ndiferente pela terra o corpo* &eus olhos apagados, pelo vale %m$alde se demoram nos meus rastos, Que palpitam, que somemse e os aturvam. + sol vacila a contemplarme, e pára! =oltolhe as costas, meu despre-o ao sol, Que não 2 mais a mim como da noiva + $anho perfumado do noivado1 0or2m onda que o l/vido cadáver "medece insens/vel. + a$andono : meu leito da morte* e5piro, aca$o, em terno pranto, sem amigos $raços* =e3o um inverno a desfolharme apenas, % p#rpuras crestadas1 vo-es mortas into apenas vi$radas na montanha. Que leito $elo, e preguiçoso, e morno! )este en3o da vida ao menos diga* %ternidade de dor $e$eu minha alma, 0or ela fui nutrido, e me sepulta1 4 aqui não achei mentira o mundo. ' : rochedo meu peito 7 flor estranho* % do pra-er nas g2lidas cavernas omente encova horror, linfas amargas! 6riação desgraçada ' nasce o $ardo 0ara sofrer, e maldi-er os c2us. %nsopada nos $álsamos do go-o, os amores, da vida a infncia minha ;oi uma hora, e passou, tão leda e $ela! &eu corpo da doença corrompido &isturase co(a terra1 anoitecido, A noite emprestame as som$rias frmas* % nem espero amanhecer mais nunca... &orrer! tão cedo, no quartel primeiro, + sol no monte a palpitar d(esp(ranças )um vidroso fulgor... +h, enhor eus! +s dias eu não choro para o mundo, )ão carecem de mim go-os, pra-eres* 194
on-ela vacilante minha pátria, )ova e rica d(encantos, e tão po$re, Tão 4rfã como eu sou de pais e amores, e todo o peito meu quisera amála, A$rir com ela no su$ir dos anos Que não sa$em murchar celestes flores ' &is2rrimo sonhar! vãose os meus dias )a corrente indomável tropelados os pendores da sorte ao fundo a$ismo. 0orque, eus, me criaste? em minha aurora ou v/tima ' o que fi-? ' 6orre, homem louco! Ave magra e sem ninho vai cantando, e morta a descansar de vo em vo, 6onforme a terra ataviada, mia, (um c2u alpestre, ou desatando encantos. oloroso cipresteda minha alma +ndeia no meu rosto a som$ra errante os ramos denegridos, anuncia 6omo os em$alos de noturno sino + enterro que passa, a minha morte ' &inha morte amanhã... talve- inda ho3e. 6horam verme e5alar a vida d(ontem )o $erço adolescente1 eu sinto o pranto o fundo peito, que s4 meu 3ulgava, )(olhos estranhos, a doer na fronte os que me cercam, repetindo mudos* C&orrer tão cedo!D 6omo 2 $elo, vede, A morte do poeta nesta idade! &imoso cisne pelo c2u de um lago esplumando suas alvas sem ter mancha 6omo as virgens gemeu, gemeu l gemeu! )em sa$e s(inda 7 terra um corpo fica, e fica a terra, as flores e as campinas1 em para cima os olhos d(esperança, &udo e candidamente está sorrindo ' %5pirando e sorrindo. ' &as, a pátria? (enlevando ine5perta pousalousa )o sorriso fala-, da humana serpe, +ra, com sede, sedu-indo a cega1 Fogo depois, escarnecendo a n2scia esflorada* Cs4 farta os vis dese3os, Tão va-ia de amor divino!DÓ pátria! enhor, salvaa! enhor! %u morra, em$ora. 195
' o desco$rimento não morreram os d2spotas, )ão, que o cndido povo, o povo infante )ão cessou de gemer. ' Ah! contra o d2$il + forte não triunfa* ele envilece. Tem a alma no peito espaço igual o mesquinho senhor, do escravo fraco. 6o$ardia 2 pisar o choro humilde, 6o$ardia 2 chorar nos p2s tiranos* A sorte comutada, eles semelham. )ão tem sorte o magnnimo, tão alto %stá no trono ou no servil gra$ato. '
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' %rguete! movete! sB senhora, impera, %stende as asas, voa ao sol candente, 6ampeia so$ranceira pelas nuvens, 9magem do condor das serranias! Arma a 3ustiça no ama-nio $raço, %rgue os teus filhos que te erguer sonharam1 6urva os teus filhos quando ingratos foram1 Fava tua fronte que os estranhos cospem, aliva /nvida, mas despre-o há nela! ' A onde 2 viva a rique-a o homem corre, Todos amam viver, a pátria encontram* %m seu 3a-er dormente, não amigos, %5aurila s4 vem, como $andidos Qu(im$ele v/tima inda insultam quando %m seus congressos da montanha $ailam. ' +h, desperta! dormindo em pleno dia... + $ruto pesadelo da pol/tica )ão dá sonhos ' afoga e cansa e mata ' 0isando nos seus p2s a Fi$erdade... % a Fi$erdade nos teus seios geme! 0or amor de si mesma. A nuvem presa esespera e se arro3a na tormenta* Ap4s os seus destroços miserandos A $onança virá, por2m, tão tarde!... e $riosa, prepara 7 nature-a Templos 7 eterna lu-* ' na superf/cie =em rolando do glo$o* eila $em perto, a#da nossas plagas os primeiros 6larEes e o crepitar! =e3o o +riente 6in-a vasta, por onde ela passara, e um fumo $ranco se perdendo e leve. A$ar$arando vãose os que ela dei5a, + tempo em$ora lhe não lave os traços, % o $ár$aro +cidente ora resplende. As ondas transporá* que 3á se espelha )as 6olm$ias dos Andes e dos mares1 % a som$ra então, que nos envolve ainda, 9rá longe de n4s, e a cauda fria %stenderá no c2u que nos eclipsa ' + dia aqui(stará ' ;oi lei do ol.
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)LTIMA P"GINA e eu escrevesse um pr4logo, seria tão somente pedindo ao p#$lico me desculpasse de lhe haver oferecido os meus concertos ' frios, tão mal entoados e r#sticos. A dor, os sofrimentos, a saudade foram o an3o desgraçado dessas inspiraçEes como o grito fatal das aves da noite. %u nunca os pretendi pu$licar ' os restos disputados aos vermes e ao tempo seriam roto cipreste ao meu t#mulo ' que, se um dia o pensasse, certamente não os teria escrito, nunca eu seria poeta, ainda s4 pelos escrever. %u os cantava descuidado, sem darlhes nome os perdia ' quando o peito mais leve como que adormeceu. 0or2m, a sorte falou mais perto... e ho3e os procuro para dálos. %stremeço 7s fráguas por onde eles tem de rolar, e tenho remorsos de haver dado cousa tão má. %u nunca os pretendi pu$licar* foi a sorte que falou de mais perto* perdoai. afara e inculta, aos ausp/cios da 9nfortuna pálida, a terra s4 produ-iu flores venenosas* não as respireis1 passai longe do vale ' eis o caminho. Toda via, eu amo naturalmente esta vida errante, sem lei nem futuro* inseto em arri$ação cont/nua, tuas asas cortaram, cairás em teus primeiros -um$idos. 8 som$ra do teu nome, doce irmã, $ela e feli- &aria>os2, eu teria a$rigado os meus primeiros ensaios1 por2m, não encontrei neles um refle5o divino da poesia de que s4 mereces de ser rodeada, e encolhi o meu dese3o. : a sorte que me anda iludindo, eu não morrerei ainda. %u ve3o um firmamento de vasto a-ul, um astro se levanta no meio. Tudo desmaia em torno de mim* 2 que nada era estável1 e tu, #nica realidade que eu ve3o, eu vivo, tu e5istirás! A$stenhome de a3untar a este volume, por 3á tão longo e de certo fatigante, notas so$re lugares, costumes e nomes naturais, que por falta de indagaçEes cient/ficas possam ainda ser desconhecidos. >io de .aneiro, 185N .9*+GM DE 79GO*%*?D>*DE
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