GEOLOGIA DO MARANHÃO I
Retomamos a publicação dos textos do Atlas do Maranhão como havíamos feito anteriormente. A fonte é a mesma. Boa leitura. GEOLOGIA DO MARANHÃO
A posição intracratônica do Meio-Norte (Maranhão – Piauí) favoreceu a formação de uma estrutura geológica sedimentar, constituindo vasta bacia cuja gênese está ligada as transgressões e regressões marinhas, combinadas com movimentos subsidentes e arqueamentos ocorridos desde o início do Paleozóico ao final do Mesozóico. Durante os movimentos negativos eram depositados sedimentos marinhos, acumulando-se arenitos, folhelhos e calcário, enquanto que durante os movimentos epirogênicos positivos depositaram-se sedimentos basálticos de origem continental. Aguiar (1969) estudando a área concluiu que a Bacia Piauí - Maranhão, teve sua origem a partir da subsidência do “craton” ao longo de três eixos principais: o eixo Marajó de direção SE,
infletindo depois para leste a partir do centro do Estado do Maranhão; outro eixo com direção SE passando próximo a Floriano e Santa Filomena e um terceiro com direção NE. O ciclo de deposição marinha começou no Siluriano, continuando-se pelo Devoniano Inferior, Médio e Superior e terminou no Carbonífero Inferior com a Formação Poti que apresenta ao lado da fácies marinha, sedimentação continental. Essa parte da bacia sedimentar encontra-se em território piauiense, com muito pequena ocorrência da Formação Poti na região de Barão de Grajaú, no médio Parnaíba. A parte maranhense da bacia corresponde ao Carbonífero Superior de fácies mista (marinha, lacustre, fluvial), ao Permiano predominantemente de fácies continental muito variável (Formação Pedra de Fogo) e ao Mesozóico, cujos sedimentos apresentam espessura variável. No período Triássico os depósitos continentais denunciam climas áridos ou semi-áridos. No Juro-Cretáceo houve uma atividade ígnea ascenderam formando diques, derrames, “sills”, e pequenos lacolitos que deformaram localmente as camadas sedimentares. Ocorrem associados aos arenitos Sambaíba (Triássico) e se espalharam na parte central do geossinclinal, estendendo-se desde o oeste de Grajaú – Fortaleza do Nogueiras ao Tocantins. Tais ocorrências, por sua extensão, apresentam um interesse agrícola local devido à maior fertilidade de seus solos, quando comparada a dos demais do território maranhense. Depois do período de atividade ígnea a deposição continental prosseguiu no centro – sul da bacia e a marinha começou nas partes central e noroeste (Formação Grajaú), continuando no Cretáceo Superior em áreas baixas do centro da bacia (Formação Codó). Ainda durante o período Juro – Cretáceo movimentos tectônicos provocaram a formação de um “horst” de direção aproximada leste - oeste, denominado pelos geólogos Arco Ferrer- Urbano Santos, responsável pelos afloramentos de rochas pré-cambrianas, mais importantes na área do Gurupi, e pela fragmentação da grande bacia sedimentar, dando origem às bacias epicontinentais de São Luís e Barreirinhas.
A bacia de barreirinhas limita-se a oeste pelo “horst” de Rosário que a separa da bacia de São Luís; seu limite sul é dado pelo Arco Ferrer-Urbano Santos, estendendo-se em seguida para o oceano> sua espessura máxima é de 7.000 metros e ocupa uma área de 85.000 quilômetros quadrados, dos quais 75.000 são submersos. No território maranhense tem-se do período Cenozóico (Plioceno – Pleisteceno) a extensa deposição de sedimentos continentais (Formação Barreiras) sobretudo, no nordeste do Estado e mantos detríticos areno-argilosos, recobrindo algumas pequenas áreas do centro sul do Estado. O quaternário (Holoceno) é representado pelos depósitos litorâneos marinhos e depósitos eólicos, muito extensos na região de Barreirinhas - Humberto de Campos e por aluviões flúvio marinhos do golfo maranhense e do estuário do rio Turiaçu. As camadas sedimentares, de modo geral, se apresentam quase horizontais, com declives insignificantes para o norte, originado uma topografia tabular ou subtabular. O sistema de falhas afeta, principalmente, a área meridional da Bacia do Maranhão, correspondente às formações permianas e triássicas e obedece às direções NW e NE. É um sistema incipiente quando comparado ao da Bacia do Paraná, pois não sofreu um tectonismo tão intenso. Na área do Gurupi também é constatado um sistema de falhas, onde os esforços epirogênicos, provavelmente, reativaram antigas falhas originadas pelos movimentos responsáveis pela formação do Arco Ferrer – Urbano Santos. As fraturas mais numerosas afetam, de forma indiscriminada, todas as formações geológicas até os terrenos terciários de Barreiras. Seguem direções variadas, influindo localmente na direção dos rios.
GEOMORFOLOGIA DO MARANHÃO II
Este texto foi publicado no Atlas do Maranhão, editado pelo IBGE em 1984. Esperamos que nosso esforço para digitalização seja uma reparação do desaparecimento dos dois volumes que existiam no "Laboratório" de Geografia do CESC/UEMA. Oportunamente publicaremos outros textos desta preciosa fonte. Boa leitura.
GEOMORFOLOGIA
A ação do fluxo e refluxo das correntes de marés é responsável pela distribuição dos sedimentos que tendem a acentuar os pontões lodosos, que avançam pelo mar, e pela formação de ilhas, as quais sugerem uma origem ligada ao fracionamento daqueles por ocasião das marés equinociais. A sedimentação é favorecida pelo tipo de raízes características da vegetação de mangues, que constituem obstáculos ao deslocamento do fluxo das marés.
Em alguns pontos do litoral, como ao norte de Alcântara, as vagas, solapando as rochas da Formação Itapecuru, originaram escarpas que constituem verdadeiras falésias. Para o interior, a área que antecede o litoral propriamente dito, apresenta diversificações, litológicas, que se traduzem na feição do relevo. Enquanto a leste da baia de Turiaçu predominam rochas cretáceas de Formação Itapecuru, originando formas tabulares, resultantes da dissecação da superfície de aplainamento, para oeste, as rochas précambrianas do núcleo Gurupi originam um relevo colinoso, derivado da compartimentação de uma superfície de uma pré-cretácea que foi parcialmente exumada. As grandes unidades geomorfológicas que podem ser identificadas no espaço maranhense são: ocupando quase toda a porção meridional, corresponde à área dos remanescentes da Superfície Sul-americana, que perde lentamente altitude em direção norte. Chapadões chapadas e “cuestas” –
Superfície maranhense com testemunhos – corresponde a uma área aplainada durante a ciclo Velhas, dominada, em parte, por testemunhos tabulares da superfície de cimeira, principalmente na porção central do Estado, estendendo-se em direção ao litoral. Golfão maranhense – área resultante do intenso trabalho da erosão fluvial do Quaternário antigo, posteriormente colmatada, originando uma paisagem de planícies aluviais, ilhas, lagoas rios divagantes. Constitui o coletor do principal sistema hidrográfico do Maranhão. Lençóis maranhenses – corresponde às faixas litorânea e sublitorânea da porção oriental, constituídas por restingas, campos e deflação e dunas. Litoral em “rias” -
corresponde à porção ocidental, onde “rias” afogadas foram convertidas em planícies aluviais e são emolduradas externamente por pontões lodosos e ilhas que se formaram pela ação das marés. BIBLIOGRAFIA AB’SABER, A. N. – Contribuição
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BRAUN, O.P.G. – Estratigrafia dos sedimentos da parte inferior da Região Nordeste do Brasil (Bacias de Tucano-Jatobá, Mirandiba e Araripe). Divisão de Geologia e Mineralogia, D.N.P.M., Boletim 236,75 p. – Rio de Janeiro, 1966. ____________ . Contribuição à Geomorfologia da Bahia – Revista Brasileira de Geografia. 42 (4): 822-861, Rio de Janeiro, 1980. CAMPBELL, D.F. et aliii – Relatório sobre a geologia da Bacia do Maranhão . Boletim número 1 – 150., Conselho Nacional de Petróleo, Rio de Janeiro, 1949. CODEMINAS - Relatório do Projeto de cadastramento e investigação geológica de ocorrência minerais no Estado do Maranhão – Bacias dos rios Itapecuru e Mearim – Convênio SUDENE – CODEMINAS, São Luís, 1976. DOMINGUES, A. J. P. et aliii – Geomorfologia – Projeto Cerrado l – Convênio IBGE – EMBRAPA, Relatório inédito, 1980. FERREIRA, E. O. – Carta Tectônica do Brasil – Nota explicativa – D. N. P. M. – Boletim número 1, Rio de Janeiro, 1972. KING, L. G. – A Geomorfologia do Brasil Oriental – Revista Brasileira de Geografia 18 (2): 3121, IBGE, Rio de Janeiro, 1956. LOCZY, L. de LADEIRA, E. A. – Geologia estrutural e introdução à geotectônica , 528 p., São Paulo, Editora E. Blücher Ltda., Rio de Janeiro, CNPq, 1976. MOREIRA, A. A. N. – Relevo – Região Nordeste. Geografia do Brasil, Vol. 2: 1-45 IBGE, Rio de Janeiro, 1977. REZENDE. W. M. e PAMPLONA. H. R. P. - Estudo do desenvolvimento do Arco Ferrer – Urbano Santos. Boletim Técnico, PETROBRÁS 13 (1/2): 5-14, jan/jun., Rio de janeiro, 1970. SOUSA, S. A. de – Bacia do Mearim l – Características físicas e condições de navegabilidade . Saneamento 52 ( 3 e 4): 102-126, jul-dez., 1978 e 53 (1 e 2): 12-21. Jan-jun., 1979, DNOS, Rio de Janeiro. VAN EYSINGA. F. W. B. – Geological Time Table – Composição, 3 a ed. 1975. Elsevier.Amisterdam, 1976.
GEOLOGIA DO MARANHÃO III II. PRINCIPAIS OCORRÊNCIAS MINERAIS
As ocorrências minerais do Estado do Maranhão são variadas, no entanto apenas as que apresentam potencialidades econômicas serão referidas: calcário, gipsita, bauxita, ouro, cobre, diamante, opala, urânio, e manganês. Calcário – apresenta larga distribuição regional, destacando-se quatro grandes grupos de concentração:
-parte da divisa do Maranhão – Goiás com direção aproximada oeste – leste até a localidade de Presidente Dutra, daí inflete seguindo rumo nordeste, acompanhando aproximadamente o rio Parnaíba, até atingir o Atlântico; -faixa de ocorrência da costa atlântica; -conjunto de ocorrências do sudeste do Estado; -ocorrências do alto rio Balsas e Tocantins. A distribuição no tempo dessas ocorrências e jazimentos é grande, estendendo-se desde o Carbonífero (Formação Piauí) até o Mioceno Inferior (Formação Pirabas). É encontrado também na Formação Pedra de Fogo, aflorando em vários locais (Carolina, Benedito Leite) e posicionando-se estratigraficamente no topo. Os alinhamentos dessas ocorrências calcárias no Estado levam os pesquisadores a supor a existência de uma continuidade lateral desses depósitos. Gipsita – apresenta uma ampla distribuição, semelhante ao calcário. As ocorrências agrupamse desde a divisa de Goiás, a sudeste do Maranhão até a sua porção nordeste, nas proximidades do baixo rio Parnaíba. Apenas algumas ocorrências esparsas são observadas ao norte, próximo ao litoral. É encontrado na Formação Codó, que no Maranhão é considerada como facies de Formação Itapecuru, sendo também constante nos sedimentos de Formação Pedra de Fogo, intercalada aos calcários existentes no topo dessa Formação. Ouro - as ocorrências da região do Gurupi – Maracaçumé são conhecidas desde o século XVIII e constituem uma possível província aurífera com áreas superior a 30.000 km2.destacam-se os vales dos ros Turiaçu, Maracaçumé, Grajaú e Gurupi. Oliveira calcula que a relação da área conhecida para a área mineralizada seja de cerca de 1/ 33. Segundo geólogos que estudaram a área, são três os tipos de jazimento de ouro na região: filonianos ( associados a veios de quartzo, contendo os metassedimentos do Grupo Gurupi), coluviões e placers. A faixa de ocorrência deste metal apresenta uma direção grosseiramente NW – SE, estendendo-se desde Montes Áureos até s serra dos Macacos ( proximidades da BR – 316), daí seguindo os aluviões dos rios que compõem as bacias Gurupi – Maracaçumé, até as proximidades da costa atlântica. Não foram realizados estudos visando o conhecimento da potencialidade econômica dessa província aurífera, mas acredita-se que seja uma das maiores do país, por referências históricas e pelo grande número de garimpos outrora existentes. Bauxita Fosforosa – as reservas estão distribuídas na serra de Pirocaua (município de Godofredo Viana), e Ilha Trauíria (município de Cândido Mendes). Na serra de Pirocaua o minério aflora em blocos de dimensões consideráveis, estendendo-se como um jazimento uniforme, delimitado na periferia por taludes cobertos de densa vegetação. As reservas medidas em 1977 eram de 9. 855.825 toneladas, com espessura de 25 a 30 metros, recoberta por um manto de chapéu de ferro com dois metros de espessura, sendo o teor médio de 11,82% de P2O5. As reservas da Ilha Trauíra atingem 8,5 milhões de toneladas, com um teor médio de 16% de P2O5. Devido ao grande teor de fósforo existem projetos de aproveitamento industrial dessa bauxita em fertilizantes e suplementos minerais. Cobre – são poucas as ocorrências registradas e estas estão relacionadas ao magmatismo básico, ocorrendo ao longo da bacia do Parnaíba. Diamante - são encontrados nos conglomerados básicos cretáceos nos depósitos aluvionares terciários, em palio e em neo – aluviões. Opala – é encontrado nos estratos arenosos, constituindo um exemplo de mineralização epigenética, relacionada aos diques e soleiras de diabásio e fraturas de arenito. Urânio – poucas ocorrências disseminadas em arenitos grosseiros, concentrados em falhas onde as águas subterrâneas percolantes trouxeram sais solúveis de urânio, os quais se precipitaram em associação com limonita.
Manganês e Ferro – as ocorrências de manganês e ferro estão relacionadas a diabásios inclusos nos diversos estratos sedimentares paleozóicos e não apresentam, em razão da sua tipologia, possibilidades de aproveitamento comercial.
BIBLIOGRAFIA 1.AGUIAR, G. de – Bacia do Maranhão, geologia e possibilidades de petróleo, Belém, PETROBRÁS – RENOR, 1969 (Relatório técnico interno, 371). 2.Companhia Maranhense de pesquisa Mineral (CODEMINAS). Relatório do projeto Cadastramento e investigação Geológica de Ocorrências Minerais do Estado do Maranhão. São Luís, 1978, vol. 3. 3.Companhia de Pesquisas de Recursos Minerais (CPRM). – Estudo Global dos Recursos Minerais da Bacia Sedimentar do Parnaíba (inédito). Integração Geológica Metalogenética Relatório Final da Etapa III, volumes I e II (inédito). 4.Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPN). – Projeto RADAM, Folha AS-24 Fortaleza, AS-23 São Luís: Geologia, Geomorfologia, Solos, Vegetação e Uso Potencial da Terra, Rio de Janeiro, 1973 (Levantamento de Recursos Naturais, 4). 5.Projeto RADAM, Folha SB-22 Araguaia e parte da folha SC-22, Tocantins: Geologia, Geomorfologia, Solos, Vegetação e Uso Potencial da Terra, Rio de Janeiros, 1974 (Levantamento de Recursos Naturais, 4). 6.Maranhão, Avaliação Regional do Setor Mineral, Boletim nº 44, 1977. 7.Mapa Tectônico do Brasil, Escala1:500.000, Ministério das Minas e Energia, 1971. 8.Mapa Metalogenético do Brasil, Escala 1:000.000, Ministério das Minas e Energia, 1973. 9.PLUMMER, F. B. et alii. – Estado do Maranhão e Piauí. Relatório do Conselho Nacional do Petróleo, Rio de Janeiro, 1946. 87 – 134. 1948.