FRANÇA _ Vera Vera Veiga, HOHLFELDT, HOHLFELDT, Antonio e MARTINO, Luiz. Teorias da Comunicação: Conceitos, Escolas, Tendências Tendências , Petrópolis, Vozes, 2001 .
RUDIGER, Francisco. A escola de Frankfut. p.131-150
Entre os pesquisadores da Escola de Frankfurt, nenhum pertencia ao campo da comunicação. Os frankfutianos tratavam de temas desde os processos civilizadores modernos até arte e cultura. “Dentro desses temas e de forma original é que vieram a descobrir a crescente importância dos fenômenos de mídia e da cultura de mercado na formação do modo de vida contemporâneo. [...] Segundo seu modo de ver, as comunicações só adquirem sentido em relação ao todo social, do qual são antes de mais nada uma mediação e, por isso, precisam ser estudadas à luz do processo histórico global da sociedade”. (p.132)
1. Dialética do Iluminismo e indústria indústria cultural cultural Ao se exilarem nos EUA, Adorno e Horkheimer perceberam que até em regimes democráticos, como aquele, havia tendências totalitárias. Segundo eles, dentro das sociedades capitalistas a população é mobilizada para realizar as tarefas que concebem a manutenção do sistema. Isso se dá através do consumo dos bens da indústria cultural. “As tendências à crise sistêmica e deserção individual são combatidas, entre outros meios, através da exploração mercantil da cultura e dos processos de formação da consciência. Assim sendo, acontece porém que seu conteúdo libertador se vê freado e, ao invés do conhecimento emancipador em relação às várias formas de dominação, as comunicações se veem acorrentadas à ordem social dominante” (p.133). A dialética do Iluminismo, defenderam, é a crise criada a partir da “modernidade que concebeu um projeto coletivo cujo sentido original era libertar o homem das autoridades míticas e das opressões sociais, ao postular sua capacidade de autodeterminação”(p.13 autodeterminação”(p.133) 3) “ O pressuposto do desenvolvimento de um ser humano esclarecido e autônomo, viram, era uma organização econômica e política cujos interesses sistêmicos acabaram sendo mais fortes e lograram predominar socialmente.
A figura da indústria cultural é, segundo os pensadores, uma prova disso, de como os meios do Iluminismo progressista podem, no limite, se transformar em expressões de barbárie tecnológica”(p.134).
2. A obra de arte na era técnica
Kracauer e Benjamin supuseram que o avanço técnico poderia revolucionar a arte. Analisando as experiências soviéticas, pós revolução, com o cinema, rádio e artes gráficas, os fizeram entender que essas tecnologias transformariam o modo de produção e consumo dos bens culturais. Nesse raciocínio, o capitalismo potencializaria, sem querer, as condições para a democratização da cultura. Apesar da estética pobre, devido à exploração desses meios pelo capital, ambos confiavam que ao fazer revolução, as massas passariam a controlar esses meios de produção de acordo com o projeto social proposto. Benjamin, em sua obra ‘A obra de arte na era de suas técnicas de reprodução’, aponta para a perca da aura a obra de arte. As obras de arte, antes da reprodutividade, possuíam uma dimensão de culto por serem únicas, como o teatro, recital, pintura e escultura. “As tecnologias modernas promovem uma desmistificação dessas noções, que apenas serviam para legitimar as reinvindicações de mando da burguesia”(p.137). Adorno, ao contrário de que muitos pesquisadores pensam, não negou o caráter democrático e progressistas das novas tecnologias, entretanto, sua leitura o levou-o a defender que não era nesse caminho que ela se desenvolvia. (p.137). Assim, a “pretendida democratização da cultura promovida pelos meios de comunicação é motivo de embuste, porque esse processo tende a ser contido pela sua exploração com finalidades capitalísticas. A revolução que constituiria seu controle pelas massas pressupõe que às pessoas sejam dadas condições materiais e espirituais que, todavia, transcendem a capacidade dos meios e que, na situação atual, esses próprios meios obstaculizam, por terem sido colocados a serviço de uma indústria cultural que se converteu em sistema”(p.137).
3. A cultura como mercadoria
Horkheimer, Adoro, Marcuse e outros, referem-se ao termo indústria cultural, como sendo o processo de conversão da cultura em mercadoria, na qual a produção desses bens passa a ser orientado pelo seu potencial de consumo entre à massa. No princípio, o fenômeno consiste em adaptar obras de arte seguindo um modelo bem sucedido, dessa forma, “a produção estética integra-se à produção mercantil em geral, permitindo o surgimento da ideia de que o que somos depende dos bens que podemos comprar e dos modelos de conduta veiculados pelos meios de comunicação”(p.138) “A cultura de massa recebe o seu duvidoso nome exatamente por conformar se às necessidades de distração e diversã0 relativamente baixo, ao invés de, inversamente, formar o público mais amplo numa cultura intacta em sua substância” (apud HABERMAS, 1962, p.195) Os frankfurtianos foram os primeiros a ver que os meios de comunicação estavam ganhando espaço como Instituição Ideológica para a família, escola e religião. O capitalismo penetrou, assim, no campo da formação cognitiva, ao mercantilizar a cultura.
4. A colonização da esfera pública Habermas apontou que embora pretenda ser apolítica, a cultura de mercado, representa uma forma de controle social. Para ele, o atual diagnóstico explica a crise política. “a crescente apatia ou desinteresse da população para com a ação política, senão pela própria vida democrática, é correlata à destruição da cultura como processo de formação libertador e de liberação de potenciais cognitivos que tem lugar na era de sua convenção em mercadoria”(p.140) Parcela das conquistas sociais se deveu à formação da esfera pública, na qual os sujeitos são livres para discutir os interesses em comum. A circulação da mídia imprensa criou, em seus primórdios, um espaço público que permitiu que a burguesia desenvolve-se uma criticidade em relação ao Estado e Igreja. Mas as últimas expansões do capitalismo no último século, rompeu esse equilíbrio. “Em comparação com a imprensa da era liberal, os meios de comunicação de massas
alcançaram,
por
um
lado,
uma
extensão
e
uma
eficácia
incomparavelmente superiores e, com isso, a própria esfera pública se
expandiu. Por outro lado, assim, eles também foram cada vez mais desalojados dessa esfera e reinseridos na esfera, outrora privada, do intercâmbio de mercadorias; quanto maior se tornou sua eficácia jornalísticopublicitária, tanto mais vulneráveis eles se tornaram à pressão de determinados interesses privados, sejam individuais, sejam coletivos “ (HABERMAS, 1962, p.221, apud p.141) O consumismo passou a habitar a esfera pública, que age de acordo com interesses de mercado e político. “O conteúdo crítico que essa esfera em princípio possuía viu-se pois forçado a ceder terreno e a assistir o surgimento de novas realidades. A figura do cidadão foi eclipsada pelas do consumidor e do contribuinte. A procura do consenso político pelo livre usa da razão individual teve de retroceder perante o emprego da mídia a serviço da razão de
estado
e
a
conversão
da
atividade
política
em
objeto
de
espetáculo”(p.141)
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Comunicação e sociedade
O poder da comunicação não está em veicular ideologias, mas sim por fornecerem informações para o esclarecimento e de proporcionarem entretenimento, no qual “o principal não está ligado no conteúdo dos meios mas no fato de as pessoas estarem a eles ligados como bens de consumo”(p.142). “A prática da indústria cultural segue a linha da menos resistência, não deseja mudar as pessoas: desenvolve-se com base nos mecanismos de oferta e procura, explorando necessidades e predisposições individuais que não são criadas por ela, mas sim, pelo processo histórico global da sociedade capitalista” (p.143)
6
Observações Finais
A indústria cultual explora a cultura com objetivos econômicos e assim confere-lhe uma legitimação social e estética. “Os progressos técnicos com os quais a conversão da indústria cultural em sistema se tornou possível e a liberação de energias estéticas que essa última provoca contêm um potencial transformador que jamais pretenderam negar e que, apesar de tudo, irrompe
até mesmo nas suas expressões mais primárias. Por isso tudo, a crítica à indústria cultural é uma prática que, para eles, visava levar-nos a pensar sobre seu caráter predominantemente regressivo na sociedade atual, tendo em mente o potencial criativo e inovador que os mais de que ela se utiliza podem vir a ter em uma forma mais avançada de sociedade”(p.145)