F�������A ����� � ��������� VOLUME ÚNICO ENSINO MÉDIO
COMPONENTE CURRICULAR: FILOSOFIA
Vinicius de Figueiredo (Org.) Doutor em Filosofia pela Universidade de São Paulo Professor de Filosofia na Universidade Federal do Paraná
Luiz Repa Doutor em Filosofia pela Universidade de São Paulo Professor de Filosofia na Universidade Federal do Paraná e pesquisador do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento
João Vergílio Cuter Doutor em Filosofia pela Universidade de São Paulo Professor de Filosofia na Universidade de São Paulo
Roberto Rob erto Bolzani Filho Doutor em Filosofia pela Universidade de São Paulo Professor de Filosofia na Universidade de São Paulo
Marco Valentim Doutor em Filosofia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro Professor de Filosofia na Universidade Federal do Paraná
Paulo Vieira Neto Doutor em Filosofia pela Universidade de São Paulo Professor de Filosofia na Universidade Federal do Paraná
Berlendis & Vertecchia Editores 1ª edição, São Paulo: 2013.
Copyright do livro e textos não assinados: © 2013 berlendis editores ltda. Copyright dos textos: © 2013 os Autores. Direitos reservados com exclusividade a Berlendis Editores Ltda. Rua Moacir Piza, 63 - 01421-030 São Paulo, SP Tel: (11) 3085.9583 Fax: (11) 3085.2344
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Coordenação Editorial: Bruno Berlendis de Carvalho
Organização: Vinícius de Figueiredo
Consultoria Pedagógica: Jairo Marçal Jeosafá Gonçalves
Revisão: Caio da Costa Pereira, Letícia França
Projeto gráfico: Claudia Intatilo
Foto da capa: Marco Giannotti, “Bernini” Diagramação: Claudia Intatilo Colaboradoras: Cláudia Carminati, Najla Bunduki
Pesquisa iconográfica: Andrea Bolanho Colaborador: Daniel Andrade
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Filosofia : temas e percursos / Vinicius de Figueiredo organizador. -- 1. ed. -- São Paulo : Berlendis & Vertecchia, 2013. Vários autores. ISBN 978-85-7723-057-0 (aluno) ISBN 978-85-7723-058-7 (professor) 1. Filosofia (Ensino Médio) I. Figueiredo, Vinicius de. II. Título
13-05236
CDD-107.12 Índices para catálogo sistemático: 1. Filosofia : Ensino médio 107-12
São Paulo, 1ª edição 2013
sumário
apresentação ....................................................................................................... 8 Nota ao leitor ........................................................................................................ 9
Filosoa, o pensamento e o livro: quinze perguntas e respostas ................ 10 Modo de usar
...................................................................................................... 14
Sobre os Autores
................................................................................................ 17
unidades ............................................................................................. ................. 18 unidade 1 • natureza e cultura ......................................................................... 20
O limite entre dois universos ........................................................................... 21 O naufrágio de Robinson Crusoé ..................................................................... 24 A diversidade das culturas ................................................................................ 28 A ideia de “natureza humana” ......................................................................... 31 Montaigne e os canibais .................................................................................... 33 “Grandezas naturais” e “grandezas estabelecidas” ....................................... 39 unidade 2 • razão e paixão..........................................................................44
Uma espécie que se diz racional ...................................................................... 45 Virtude e paixão
................................................................................................. 53
A rejeição das paixões .......................................................................................
59
A razão a serviço das paixões ........................................................................... 63 História, razão e paixões ................................................................................... 69 unidade 3 • lógica e argumentação .................................................................. 76
Racionalidade e emoção A arte de persuadir
.................................................................................. 77
............................................................................................ 82
Premissas e conclusões ..................................................................................... 86 Falácia e argumento
.......................................................................................... 97
unidade 4 • dúvida e certeza ........................................................................... 110
Vivemos cercados de dúvidas ........................................................................ 111 A dúvida, base da investigação
..................................................................... 117
Duvidando para atingir a certeza
................................................................. 124
Limites da dúvida ao garantir a certeza ........................................................ 135 unidade 5 • realidade e aparência .................................................................. 144
As aparências enganam? ................................................................................ 145 Ser e parecer justo
........................................................................................... 155
A realidade da aparência ................................................................................ 164 unidade 6 • espírito e letra .............................................................................. 172
Interpretar as regras do jogo ......................................................................... 173 Mudar a “letra” para manter o “espírito” ...................................................... 177 Traduzir e interpretar
...................................................................................... 182
unidade 7 • eu e o outro .................................................................................. 196
O enigma do Eu e do Outro ............................................................................ 197 O “Eu penso”: Descartes O Eu com o Outro
.................................................................................. 204
............................................................................................. 207
Eu contra Outro: luta pelo reconhecimento ................................................. 212 A defesa da tolerância
..................................................................................... 217
unidade 8 • liberdade e necessidade ............................................................. 224
A tragédia de Édipo
.......................................................................................... 225
Estoicismo e a necessidade do universo ....................................................... 227 A origem da ideia de necessidade
................................................................ 235
Necessidade natural e liberdade humana .................................................... 238 unidade 9 • ordem e caos ................................................................................ 252
A bagunça do meu quarto .............................................................................. 253 A origem do mundo A ordem política
......................................................................................... 258
............................................................................................. 261
Da ordem do irracional
................................................................................... 269
unidade 10 • continuidade e ruptura ............................................................. 280
Como e quando algo muda? ........................................................................... 281 O “movimento” segundo Aristóteles ............................................................. 290 “Perfectibilidade” e “desenvolvimento” As revoluções cientícas
....................................................... 295
................................................................................. 304
unidade 11 • princípio e temporalidade .......................................................... 310
A diferença entre fundamento e início ......................................................... 311 Platão e o tempo
.............................................................................................. 318
O tempo em Agostinho ................................................................................... 324 Elogio de Kant a Platão ................................................................................... 332 Regularidade da experiência .......................................................................... 335 A noção de progresso cientíco ..................................................................... 338 unidade 12 • finito e infinito ........................................................................... 344
A biblioteca de Borges
..................................................................................... 345
Filosoa grega e innito .................................................................................. 349 O innito divino
................................................................................................ 354
Quem é nito não pode conceber o sem-m ............................................... 359 O innito atual nas matemáticas................................................................... 363
apêndices ..........................................................................................................373 Quadro sinótico: grandes áreas da losoa ................................................. 374 Conteúdos e referências
................................................................................. 375
Índice de boxes bio-losócos ....................................................................... 400
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Apresentação
nota ao leitor A
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s palavras que seguem são importantes. Seu intuito é esclarecer inicialmente alguns aspectos do livro que você tem em mãos. Este texto não é bem um manual de instruções, mas uma espécie de tutorial que irá ajudá-lo a tirar todo proveito do livro. Por isso, é uma boa ideia lê-lo com atenção. Primeiro, uma palavra sobre a estrutura geral do livro. Ao todo, ele possui doze Unidades, que se subdividem em módulos. Cada Unidade está organizada a partir de um par de noções complementares, como: Liberdade e necessidade, Finito e infinito, Dúvida e certeza etc. Essa noções, como ficará claro ao se iniciar a leitura do livro, correspondem a conceitos fundamentais da filosofia. Cada par de noções funciona como uma chave de leitura para a abordagem dos principais problemas filosóficos, questões que ocuparam muitos pensadores ao longo de mais de dois mil anos de reflexão. Mais de dois mil anos? Não se assuste com isso. O teorema de Pitágoras, que você conhece da matemática, também tem essa idade. E permanece tão atual e importante quanto o foi a partir do momento em que Pitágoras o formulou. Arquimedes (287212 a.C.), outro grego genial, enunciou a lei do empuxo e a lei da alavanca, válidas de lá para cá. Hipócrates (460-370 a.C.) foi o pai da medicina grega, e até hoje os médicos que se formam prestam o juramento que leva o seu nome, de zelar pela vida e saúde de seus pacientes. Esses são apenas alguns exemplos de inúmeras contribuições matemáticas, físicas e científicas que remontam
a um passado distante, esperando por nossa curiosidade e vontade de saber. No caso da filosofia, as coisas se passam de maneira semelhante. Seu estudo é inseparável do contato com os autores que fizeram a história do pensamento. Isso não significa que o estudo filosófico seja uma decoreba das opiniões de cada um desses filósofos, muito pelo contrário. Essa via é desinteressante e pouco pedagógica. Afinal, que ganho há em decorar que Platão pensou assim, Descartes, assado e assim por diante? O essencial é despertar a atenção para saber por que e como os filósofos de todos os tempos pensaram o que pensaram. Nosso compromisso é o de apresentar algumas questões de forma que você se interesse pelas respostas que foram suscitadas por elas, como também pela maneira peculiar de formular aquelas perguntas. É preciso despertar sua curiosidade, o que não deixará de trazer recompensas. Ou melhor: trata-se de auxiliar sua curiosidade a vir à superfície. Pois você logo perceberá que questões filosóficas estão por toda parte. Não é um acaso se, da Antiguidade grega até os dias de hoje, grandes pensadores tenham se ocupado da filosofia. A razão é simples: problemas filosóficos brotam espontaneamente em nossa reflexão, desde que o mundo é mundo. A curiosidade é o primeiro passo para se fazer filosofia. Por isso, o que um livro de filosofia deve procurar fazer é acolher nosso espanto e nossa admiração diante dos mistérios e dos problemas trabalhados pelos filósofos, mistérios e problemas
que também são nossos. Isso, pode ter certeza, promete ser uma aventura inesquecível. Não ganhamos muito decorando as opiniões que os filósofos ao longo da história têm a nos transmitir. Bem melhor que isso é buscar compreender o que os levou a pensar o que pensaram, dizer o que disseram. Se isso ocorrer, você já estará filosofando. Nossa escolha por organizar o livro em módulos no interior de Unidades temáticas foi concebida com esse objetivo. Cada uma das Unidades inicia-se com uma introdução ao par de noções que lhe dá o título. Em seguida, explora-as sob vários aspectos diferentes. Cada abordagem do tema equivale a uma etapa da Unidade (um módulo), que vai se aprofundando e assim promovendo a variação de nosso olhar sobre os problemas apresentados de partida. Ao longo de cada Unidade, como você verá, as diferentes maneiras de se aproximar do assunto vão lhe dando maior complexidade. Mas a estrutura também permite que se leiam os módulos separadamente, ou numa ordem diferente daquela aqui sugerida. Você pode, digamos, fazer um estudo sobre diferentes aspectos da teoria do conhecimento. Para tanto, confira dois importantes grupos de tabelas ao final do volume. O primeiro grupo traz as referências abordadas em cada Unidade: autores, temas, interdisciplinaridade etc. Além disso, você encontra um quadro sinóptico (isto é: de “visão geral”) da distribuição, ao longo do livro, das grandes áres da Filosofia: filosofia política, moral, estética etc.
O percurso de uma determinada Unidade não chega a uma resposta definitiva e inquestionável para os problemas discutidos nela. Um dos pioneiros da reflexão filosófica, Platão, escreveu diálogos em que Sócrates, seu mestre, indagava a seus interlocutores: “o que é a beleza?”, “o que é a coragem?”, “o que é o conhecimento?”, “o que é a justiça?”. Muitos desses diálogos investigam tais noções sem chegar a um resultado definitivo. No entanto, ninguém que já teve a chance de travar contato com tais textos negou que houvesse neles muita filosofia. A filosofia está menos nas respostas definitivas que nas questões bem formuladas. Mas não vá pensar que ali onde não há respostas definitivas não possa haver aprendizado. Aprende-se muito quando se verifica que existe mais de uma resposta, especialmente quando estamos falando de interrogações essenciais para nós. Examiná-las será parte importante de um processo ao longo do qual você irá formular seu próprio ponto de vista sobre o mundo que o cerca. Consequentemente, para você se questionar e se posicionar quanto a assuntos os mais diversos: das ciências à ordem política, passando pela sociedade, a finitude humana, a natureza, a arte... tudo isso é matéria de reflexão filosófica. Esse livro foi concebido como uma introdução à grande aventura do pensamento. Nosso desejo é que você aproveite a paisagem que se descortina nas páginas a seguir!
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Filosofia, o pensamento e o livro: quinze perguntas e respostas 1. O que é Filosofia?
A palavra “filosofia” tem origem no termo grego “ philosophía”, que reúne duas palavras: philía (= amor; amizade) e sophía (= sabedoria). Assim, “filosofia”, no seu sentido mais amplo, é o amor à sabedoria. Tudo leva a crer que Pitágoras (570-495 a.C.), um importante sábio da Grécia antiga, tenha sido o primeiro a utilizar o termo com esse sentido. Ele teria chamado sua atividade de reflexão como a prática da filosofia. 2. Qualquer pessoa que levanta perguntas sobre o sentido das coisas e dos seres é filósofo?
No sentido mais amplo de “filosofia”, sim. Por isso a filosofia é uma disciplina fundamental na formação intelectual de todos nós. Esse é o motivo pelo qual a filosofia é uma disciplina escolar. Afinal, ela trata de problemas que interessam a todas as disciplinas e a todos os indivíduos que refletem sobre o mundo que nos cerca. 3. Existe então uma filosofia oriental e outra africana, ao lado da filosofia inventada pelos gregos da Antiguidade?
Se nos ativermos ao sentido amplo de filosofia, segundo o qual a filosofia é a atividade da reflexão em geral, todo indivíduo que refletiu sobre as questões mais essenciais aos seres humanos praticou filosofia. Nesse sentido, ela jamais foi privilégio de uma cultura particular. Entretanto, em seu sentido mais especializado, a filosofia teve origem entre os gregos antigos, e no seu desenvolvimento nunca deixou de remeter a essa origem. Foi a partir dos gregos antigos que a filosofia começou a fixar um conjunto de textos repetidamente lidos e interpretados, e foi assim que, ainda na Antiguidade, essa atividade do pensar se expandiu para fora da Grécia. Você sabia que Alexandre, o Grande (356-323 a.C.) – rei da Macedônia e um dos maiores líderes da História Antiga, tendo conquistado vastas terras no Oriente e chegado até a distante Índia – quando criança teve como professor ninguém menos que o filósofo Aristóteles (384-322 a.C.)? 4. Onde encontrar a filosofia nesse sentido mais específico?
Nos textos que nos deixaram os filósofos, ao longo de um percurso histórico. Essa história é longa e sinuosa. Ampliou-se com o tempo, sofreu influências árabes e orientais, e hoje é estudada em todas as partes do mundo. Mas ela não é nada parecida com um simples acúmulo de opiniões (gregas, romanas, árabes, medievais, modernas...). Cada nova grande formulação filosófica recoloca as questões trabalhadas por filósofos anteriores. Estudar filosofia é familiarizar-se com grandes questões que foram levantadas no âmbito das ciências, da literatura e da arte, da política, da ética etc. 5. Como está organizado o poresente livro?
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Em diversos módulos, dispostos em 12 Unidades. Cada Unidade aborda um par de noções complementares entre si. Essas noções são referências temáticas e representam questões que possuem dois aspectos: são muito familiares a nossa reflexão cotidiana e ao mesmo tempo são essenciais à reflexão filosófica.
6. O que significa a ideia de percurso no interior das Unidades?
Cada Unidade introduz grandes ideias em torno de um par de temas. Em seguida, são apresentados desenvolvimentos que esses temas receberam por mais de um filósofo. À medida que se avança na Unidade, os temas que lhe dão título são aprofundados em um nível de maior de complexidade. Boxes informativos situam o contexto histórico, literário, científico, social e político em que foram enunciadas as teses examinadas no percurso. Eventuais remissões de uma Unidade a outra também são sugeridas ao longo de cada um dos caminhos que você é convidado a percorrer. Por fim, em cada Unidade você encontrará Situações de aprendizagem que incentivam uma reflexão qualificada sobre os temas examinados. Assim, cada Unidade propõe um percurso reflexivo que fornece uma ampla compreensão acerca das variações admitidas pelos temas essenciais da filosofia. Você poderá identificar, desse modo, as alterações que os temas discutidos foram sofrendo ao longo da história, da Antiguidade até os dias de hoje. Esse aspecto é muito importante, pois mostra que os conceitos de que nos servimos para conhecer e agir no mundo têm uma história e nem sempre foram compreendidos como pensamos. Além disso, houve também épocas em que as mesmas questões promoveram desenvolvimentos diversos por parte de grandes pensadores. 7. Existe relação entre as doze Unidades do livro?
Questões filosóficas exibem inúmeras relações entre si. Não por acaso, é muito difícil restringir a contribuição dos grandes autores do pensamento em um único domínio da filosofia. Geralmente, o que foi deixado por eles diz respeito a mais de um âmbito da reflexão, envolvendo consequências semelhantes para a ética, a epistemologia, a estética etc. E isso é mesmo de esperar. Seria estranho se um pensador que se ocupou de vários temas e questões defendesse uma posição diferente, variando conforme o assunto em pauta. É muito mais comum que as elaborações de um determinado filósofo sejam coerentes entre si, mesmo quando dizem respeito a âmbitos diversos. Uma vez que o livro que você tem em mãos não é organizado por apresentações consecutivas das ideias de um filósofo, depois outro e assim por diante, mas segundo os principais temas da filosofia, você irá se deparar mais de uma vez com um mesmo filósofo em diferentes Unidades. Afinal, eles têm muito o que dizer sobre quase todos os temas apresentados nesse livro. Essa é uma primeira forma de interação entre as Unidades. A outra se deve ao fato de que os temas são muito amplos e, por isso, possuem relações entre si. Mas não se preocupe, a apresentação de cada um deles foi pensada de modo a tornar essas relações palpáveis a você. Cuidamos de assinalar pontos de passagem entre as Unidades. Assim, à medida que você for lendo este livro, descobrirá atalhos surpreendentes entre os caminhos da reflexão filosófica. 8. Não há um ponto fixo a partir do qual este livro tem início?
Não. Cada Unidade possui uma ordem interna, pensada como um percurso reflexivo por meio do qual você será apresentado a diversas perspectivas sobre os temas abordados. Mas isso não é tudo, pois os módulos que compõem cada foram concebidos para permitir também uma leitura independente. Entre uma e outra Unidade, como dissemos há pouco, há pontos de passagem de uma problemática para outra, que assinalamos no corpo do texto. Mas não há necessidade de se começar a leitura por uma Unidade determinada. É claro que faz sentido começar pela Unidade que abre o livro e ir seguindo linearmente até a que o fecha. Sendo este um
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livro impresso, era preciso arbitrar uma ordem coerente para a sequência de seus capítulos. Mas essa ordem não é a única possível, muito menos pretende ser “a melhor”. Cabe à orientação pedagógica – ou a você, se o estiver lendo de maneira autônoma – decidir qual sequência de estudo pode ser mais interessante. Este livro é como um carrossel em movimento: você escolhe um ponto de entrada qualquer e, em seguida, já dentro dele, vai se deslocando entre os módulos e as Unidades. 9. Este livro segue uma ordem cronológica, que se inicia pelo estudo dos filósofos da Antiguidade e termina com a abordagem de contribuições contemporâneas sobre os temas discutidos?
Não exatamente. Cada um dos percursos apresentados nas Unidades representa uma aventura através da história do pensamento filosófico, exibindo as principais variações que seus temas sofreram ao longo do tempo. O estudo da filosofia, nessa medida, é o estudo da história da filosofia. Por isso, as Unidades apresentam os temas sob a forma como foram abordados na Antiguidade, na Idade Média, na Idade Moderna, até nossos dias. Mas isso não é a mesma coisa que contar a história das opiniões dos diferentes filósofos, um depois do outro, conforme seu lugar na cronologia do pensamento. Afinal, nenhuma questão filosófica está isolada em um passado remoto, de maneira que só tivesse interesse histórico. A história da filosofia é marcada por retomadas de pontos de vista formulados previamente, o que torna as noções de passado, presente e futuro relativas. Nossa reflexão filosófica se apropria da linha da história a seu modo, ligando pontas, desfazendo nós e criando uma temporalidade própria, para a qual nenhuma contribuição é ultrapassada. 10. Como, exatamente, a filosofia “atualiza” o passado?
Isso ocorre essencialmente porque, em filosofia, o clássico é atual. Retomar e estudar autores e textos da Grécia antiga, do pensamento medieval ou do Renascimento tem muito a nos ensinar, a começar porque somos herdeiros, do ponto de vista de nossos valores e concepções de mundo, da tradição cultural do Ocidente, que é sedimentada na filosofia. Além disso, nada do que consideramos atual consiste em uma atualidade pura, mas sempre traz consigo uma memória, uma sedimentação de significados – e é muito útil escavar a profundidade dos conceitos e ideias de que nos servimos no dia a dia para fazer ver seu brilho. 11. Diante de duas visões filosóficas diferentes sobre uma mesma questão, onde encontrar a verdade?
A filosofia é mais a reflexão qualificada sobre as questões do que as respostas individuais que damos a elas. A reflexão sobre valores, princípios e condutas, sejam eles ligados à ciência, à moral, à política ou à arte, é condição prévia para tomarmos posições a respeito do mundo em que nos inserimos. A reflexão filosófica é indispensável a duas etapas da abordagem a qualquer questão. Em primeiro lugar, porque ela nos ajuda muito a compreender e avaliar os aspectos envolvidos no assunto em discussão. Em segundo lugar, porque ela é auxílio indispensável para elaborarmos as razões que sustentam nossos pontos de vista sobre ele. 12. Existe uma técnica para entender as diferentes formas do “filosofar”?
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Sim, e ela consiste, basicamente, na leitura e na interpretação de textos. Esse é um excelente meio para compreender as maneiras sob as quais uma questão admite ser problematizada. Isso nada tem que ver com decorar o que escreveu esse ou aquele filósofo. O importante, ao lermos um trecho de determinado texto
filosófico, é observar o pensamento em ação, não para aderir a ele cegamente, mas para flagrar a razão em sua atividade discursiva, argumentativa, retórica. E, tendo em vista os problemas e soluções apresentados pelos filósofos, enriquecermos nossos próprios pontos de vista sobre as matérias discutidas. 13. Qual a utilidade prática disso?
Você já viu alguém que sabe argumentar bem discutindo com alguém que vacila nas respostas, que é muito teimoso, que não tem clareza no raciocínio, que desenvolve mal suas ideias? Pensar de forma qualificada é sempre útil. Mesmo que seja para não fazer nada de imediato. Pelo menos relativizamos nossas certezas, qualificamos nossas crenças, passamos a conceber o mundo de forma diferente da maneira usual. Além disso, a Filosofia investiga as escolhas metodológicas, as alternativas éticas, os aspectos políticos, psicológicos e estéticos presentes nos outros saberes, tais como a Matemática, a Física, a Química, a Literatura, a Biologia, as Artes, a História, a Geografia e a Sociologia. E essa investigação é muito útil para a compreensão das premissas e pressupostos que estão na base dessas disciplinas. Logo, o estudo da filosofia possui grande utilidade para a formação pedagógica, humanística e científica de modo geral. 14. Quer dizer que há uma relação entre a reflexão filosófica e as outras disciplinas do saber?
Sem dúvida! Para início de conversa, muitos autores da história da filosofia se consideravam não simplesmente filósofos, mas também (às vezes, em primeiro lugar) cientistas, estetas, pensadores políticos, teólogos ou psicólogos. Os temas que dão título às Unidades do livro comprovam essa afirmação. Reflita um pouco sobre eles. A noção de infinito, por exemplo, possui implicações teológicas, científicas e matemáticas. A noção de cultura tem um alcance ético, estético e científico. Já a noção de certeza exige nossa abertura para as condições do conhecimento da natureza, assim como para a psicologia e a ética. Todos os temas escolhidos para encabeçar as doze Unidades dão ocasião para desenvolvimentos interdisciplinares, que são explorados ao longo dos caminhos apresentados no livro que você tem em mãos. 15. Qual a contribuição ética e política da filosofia nos dias de hoje?
Com a proliferação das mídias, com a velocidade da informação – e sua volatilidade –, hoje somos expostos a uma massa de opiniões, preconceitos, dogmas e discursos sobre os quais muitas vezes nem temos oportunidade de refletir. A ampla circulação de informações e ideias resulta em benefícios importantes, que são inegáveis. Por outro lado, isso requer nossa atenção, porque todo esse acúmulo pode tanto nos ajudar quanto nos desorientar. Além disso, há no mundo contemporâneo uma tendência de as práticas e as formas de pensar tornarem-se parecidas ou até mesmo uniformes: é o que se convencionou chamar de “pensamento único”. Daí a importância de uma formação que incorpore, como um de seus princípios, a capacidade individual de pensar de modo diverso do costumeiro, pensar com base em sua própria razão e a partir de sua experiência particular. O estudo da filosofia contribui para isso, a começar porque nos põe em contato com grandes pensadores que conceberam o mundo de modo original. Pensar com eles nos ajuda a refletir melhor sobre aquilo em que acreditamos e, consequentemente, modificar nosso modo de pensar, ampliá-lo, torná-lo mais refinado e mais rico.
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modo de usar
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As partes que constituem o livro
Este é um livro escrito a muitas mãos. Embora os diferentes módulos tenham sido confiados a especialistas em suas respectivas áreas (Filosofia Antiga, Lógica etc.), a discussão entre todos os autores foi um passo importante para chegarmos ao resultado que você tem em mãos. Não fazia tanto sentido indicar que autores escreveram essa ou aquela parte, uma vez que todas foram profundamente redimensionadas a partir desse diálogo interno. Cada Unidade é composta de diferentes módulos; cada módulo pode ser dividido em tópicos menores, às vezes contendo ainda subdivisões segundo ítens específicos. De forma que o conteúdo está sempre disposto dentro de uma hierarquia, o que facilita seja o controle do tempo dedicado a cada assunto, seja as possíveis leituras ortogonais, isto é, que não seguem o livro linearmente. Eis um exemplo dessa estrutura: Unidade: Lógica e argumentação; módulo: Falácia e argumento; tópico: Falácia formal.
unidade 3 Racionalidade eemoção .................. 30 Aartede persuadir................... 30 Premissas e conclusões................ 30 Faláciae argumento ................ 30
Quando fazemos pesquisas na internet ou em outros bancos de dados, muitas vezes usamos expressões lógicas. Digamos que você queira lembrar o nome de uma canção de Luiz Melodia cuja letra inclui a palavra “pandeiro”, ou conhecer grava-
Avançandomaisum passo,digamosque nessemomentovocê nãoestá mesmointeressadonogrande artistaparaibanoJackson doPandeir o(nomeartísticodeJoséGomes Silva,1919-1982),e portantogostariaderestringiraindamaisosresultadosdesua busca,por meiodaexpressão: pandeiroAND(melodia) NOT(Jackson) ou
ções dela. Se,num site debuscasou bancodedados,vocêdigita r pandeiroOR(melodia) encontrarámilhares deresultados que nãolheinteressam.Issoporqueomotor
pandeiro+melodia -Jackson • No exemplo acima, que operadores lógicosforam utilizados?Tente “traduzi-lo” paraa linguagemlógic aformal,utilizando os operadorese símbolosexplicadosno box sobre conectivos lógic os.(Um aviso:
debusca utilizou a disjunção,o operador “ou”(⋁),e traráresulta dosquetenham qualquerdos dois, ou pandeiro ou melodia. Vocêpode direcionar melhor suapesquisa,porexemplodigita ndonocampode busca: pandeiroAND(melodia) ou pandeiro+melodia O que signi ca essaexpressão?Que estamos interessados em todosresultad o s q u e t r ag a m, j u nt o s, o s d o i s t e r m o s pesquisados.Não queremosregistros que t r ag a m a p e n as u m d e l e s, s ó “ p a n d ei r o” sem“melodia”, nemapenas “melodia”sem “pandeiro”.
Deacordocom a noçãomais geral de “argumento”, toda pessoa que argumenta está sempre tentando persuadir um determinado “auditório”. Esse auditóriopodeter dimensõesmuitodiferentese ser compostopor pessoasdosmais variados perfis. Podeser compostopor
cionou tomar como
384a.C.,emorre uemAtenasem322a.C.Foi,du-
ree f r ên c ia a e d iç ã o
rantealgumtempo,responsávelpelaeducaçãodo
d e A u g u st Immanuel
jovemAlexandre,lho dorei Filipeda Macedônia,
escolafundadaporPlatão(428-348a.C.).Nela per-
Bekkerdas obras do lósofo. O motivoé s i mp l es : o l ól o go alemãoBekker(17851871) foi o primeir o arealizaruma edição crítica dessas obras,
maneceuporvinte anos,deixando-aapenasapós
aqual serviu debase
amortedo mestre.Depoisde retirar-sede Atenas
paraas posteriores.
poralgunsanos,retornaefundasuaprópriaescola,
O q ue s ig ni c a “ediç ão crítica”? Basi-
Antesdisso,comcerca dedezoitoanos, AristótelesviajouaAtenaselogo entrouparaaAcademia,
oLiceu,noqualensinaatéomdesuavida. A losoade Aristótelesconsistenuma tenta tivade pensarquestões e problemaslosócos herdadosdoplatonismo,masporviase pormeio
documenta isde quedispomosde determinado texto .Comovocêpode imaginar, podeserbas-
tantetrabalhosoo processode confrontaressas
tre,Aristótelesfoiumautênticofundadordetemas
fonte s, paralocalizar difere nçasde um docu-
losócos,não somenteem áreasque aindahoje consideramoscomo tipicamentelosócas,como Metafísica, Lógica , Ética, comotambémem assuntosque posteriormenteganharam autonomia cientíca ,comoa Física oua Biolo gia.Algunsde seuprincipaisescritos:Metafísica, Éticaa Nicômaco, Primeirosanalíticos, Segundosanalíticos, Partesdos animais, Física. Ainuênciaexercidapor AristótelesnaAntigui dadetardia,naIdadeMédia(especialmenteapartir darecuperaçãodeimportanteslivrosseus,àépoca desco nhecidos no Ocidente, conservados por
mento a outro (chamadas variantes: acréscimos,
metafísica e seu pensamentomoral forneceram elementosanalíticose conceituaisparaa teologia
cristãduranteaIdadeMédia,e osprincipaispensa doresdaModernidadeneletiveramseugrandeadversário,nointuitodeproporumanova concepção
deciência. Suaéticaaindaé vivamentedebatida porpensadorescontemporâneos.
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tadase anotadastodas(ouas principais)fontes
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foiextraordinária,provavelmenteinigualada. Sua
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graae gramáticaetc.) .Feitoisso,oeditorcrític o terádedecidir ,combaseemumapesquisamais abrangente,quaisdessasvariantes otexto principaldeveseguir nocorpodapágina;asoutrasva-
riantessãoanotadasem péde página. Voltandoà ediçãode Bekkerparaas obras deAristóte les:a numeraçãoaliutilizada,e que depois virou padrãonasreferência sàsobrasdo
lósofo,compõe-sede trêselementos:o número dapágina,acoluna(a ou b) e alinha.Assim,para oseguintetrecho(citadonocorpodestaUnida de):“[...]éproibidofalar decoisasque nãosejam essenciaisàdiscussãodocasoempauta.Esseé um costume muitosadio. Nãoé corretoatrapalhar o discern imentodequemjulga provocandoraiva,inveja oupiedade”,areferênciaé 1354a14-18. “1354”:essapáginapertenceaolivrodaRetórica (aliá s,éa primeira,umavez que,naediçãode Bekker,olivro vaidessapáginaà página1419);
o ã ç a t n e
m u g r a e a c i g ó l
“a”indicaqueotextoreferid oestánaprimeiObrasde Aristótelese suaediçãocrítica
racolunadapágina.
Paraa localiz açãoprecis ade textosde Aris-
“14-18”indicaas linhasdacolunaemque se encontrao trechocitado.
tóteles,a comunidadede pesquisadoresconven-
��
Mas o que vem a ser um argumento? Falando de maneira geral, poderíamos dizer que um argumento é um tipo de discurso cuja finalidade é dar razões capazes de convencer alguém a respeito de algo. No entanto, apesar de ser uma boa aproximação, essa definição talvez seja excessivamente ampla. Ela coloca num mesmo grupo coisas que talvez devêssemos distinguir.
segundapremissa(o quenãoé demodo algumnecessário).
apenasuma pessoa –tomecomoexemplo um vendedor quetenta convencer vocêa comprarum determinadoproduto numa loja. O auditó rio de quem argumenta pode também ser compostopor um pequenogrupode pessoas– éo queacontecequandoo professorde matemátic a
nãoforam à estreia. A opiniãode alguns críticos, portanto, nãoestá bem funda o mentada.” ã Repareque a única diferença ç a t em relaçãoaoargumento anterior éo uso n e da palavra “somente” aoinvésda palavra m u “todos”. Adiferença podeparecer peque g r a na, mas, nestecaso, édecisiva. e Suponha a que a primeira premissa c i seja verdadeira: g queapenas (apenas, veja ó l bem!)as pessoasque foram àestreia estavam��em condiçõesdeformar uma opiniãofundamentada sobreo desempenho dosatores. Ora, se issofor verdade, e se também for verdade que algunscríticos nãoforam à estreia, a conclusãoinevitável é queessescríticosnão estavam em condiç õesde dar opiniõesfundamentadasa respeitododesempenho dosatores. Aqui, nãohá escapatória. Oargumento é bom. Sesuaspremissas forem verdadeiras, a conclusãotambém será verdadeira. Existe,portanto,umacertarelação entre aspremis saseaconclusão,no casodoprimeiro argumento,quenãoexistenocaso dosegundo.Nosegundocaso,aspremissas dãoapoio à conclusão,podemser citadas como evidências emfavordela,como razões paraaceitá -la. Noprimeiro caso, não.As premissas nãofornecemapoiopara acei-
tarmosa conclusão.Sea aceitamos,é por outra s razões,que nãoaquelas apresentadasnas premissas. Comovocê reparou, porém,os doisargumentossão muitoparecidos.Elessó diferemnodetalhe– neste caso,pela substituiçãoda palavra“todos” pelapalavra“somente”.Issofaz comqueo primeiroargumentonosengane.Ele pareceserbom,emboranaverdadenãooseja. Argumentosassim,queparecemser bons, masnãosão, nóschamaremosde falácias . Éfundamentalquevocêaprendaa reconhecerumafalácia. Éatravésdasfaláciasquesomosenganados– àsvezesaté pornós mesmos.Em todososcontexto s emque sãoutilizadosargumentos, quem argumentapode muit o bemlançarmão de falácias,fazendo-nos tirar conclusões equiv ocadas que poderíamos perfeitamenteevitar.Épor issoqueoestudodas faláciasétão importante.Conhecendo-as, seremoscapazesde identificar ummau argumentoe contestá-lo(se elenos for apresentado por outra pessoa),ou simplesmentenãousá-lo(caso nósmesmoso estejamosquerendoapresentar). Faláciaformal
Afaláciaencontradano argumentoque apresentamos acima envolveuma forma argumentativa queé fala ciosa. Issoquer dizerqueela pertenceaum grupodeargumentoscaracterizadopor umadeterminada estrutura. Essaestruturapode sermelhorobservada seempregarmosvariáveis. Considereo seguinteesquema: Todo(a) A é B. o ã ç a t n e m u g r a e a c i g ó l
Algum(a ) Cnão é A. Portanto,algum(a)Cnãoé B.
Nesteesquema,a letra“A”estáno lugar daexpressão“pessoaque foià estre iada companhia deteatro”;a letraB, nolugar de“pessoaquepodiaformarumaopiniã o bemfundamentadaa respeito dodesempenho dosatores”;e aletra“C”,no lugar de“crítico”.Nenhumargumentoquetenha
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Boxes sobre os autores
Aristóteles
lhoiriaexpandir,obtendoo maisvasto império atéentãoconhecido,quealcançoua Índia.
A
Mesmo assim ,um críticoque nãotimotores debusca dainternetnão costu mamreconheceresses símbolos;oobjetivo vesseido àestreiapoderiater idoao ené somente compreender quais sãoesses saiogeraldapeça,ou entãoa umaoutra conectivosecomo podemser utilizadosem apresentaçãoqualquer,no segundoouno terceirodia.Poderiatambémterformaumasituaçãoprática.) •Emseguida,construaoutrasexpressões dosua opiniãoconversandocomcolegas de busca, maiscomplexas.Por exemplo: seus,nosquaisconfia,queforamà peçae vocêestá interessadoem resultados que estavamemcondiçõesdelhe darumadestenhama vercom“mangueira”,quepodem criçãodetalhadado desempenhode cada serounãoreferentesàescoladesambaca- umdos atores. Para quevocê perceba melhor a situarioca,masque nãotenhama verdiretamentecomaárvorefrutífe radogêneroMangife- çãoenvolvida, compareo argumentoque ra.Como deveríamosformulara expressão acabamos de analis ar com esteoutro: debusca?Hámaisdeummodode fazê-lo? “Somente osque foram à estreia dacomExperimenteformular,por escrito,duasou - panhia deteatro puderam formar uma traspesquisas,utilizando,cadauma,de 3a 5 opiniãobem fundamentada a respeitodo desempenhodos atores. Alguns críticos elementoscomdiferentesoperadores.
Falácia e argumento
queinicio uumdomínio sobreosGregosqueseu
rgumentosestãopor toda aparte. Quando queremosconvenceralguémdealgumacoisa, quasesemprelançamosmão deum argumento. Acontecenos negócios,nas relaçõesfamiliares, no trabalho,na política, nos trib unais, nos livros, nos cultos religiosos – onde houver seres humanos reunidos, certamente haverá discordância,debate,argumentação.
Expressões lógicas no nosso cotidiano
Pesquisaembancode dadose desenvolvimentoindividual porescrito
NasceunacidadedeEstágira,naMacedônia,em
lógica e argumentação
��
Esses boxes trazem informações sobre a vida e a obra dos autores discutidos nas Unidades. Auxiliam a compreensão do contexto cultural, social e político no qual eles se inscrevem. Os boxes sobre autores também assinalam influências e afinidades de determinado filósofo e eventuais repercussões de sua filosofia nas obras de outros pensadores. Há também a preocupação de informar as principais obras traduzidas para a lingua portuguesa em edições de qualidade e, sempre que possível, recentes. Note que, como alguns autores são examinados em mais de uma Unidade, você deve localizar em qual delas se encontra o boxe sobre o autor em pauta. Digamos que você esteja lendo a Unidade Razão e paixão, que remete a Aristóteles[+]. O sinal ao lado do nome indica que existe, no nosso livro, um boxe sobre esse autor: basta então buscá-lo na lista de boxes biográficos, ao final do volume, para localizá-lo.
Situações de aprendizagem
Expressões lógicas no nosso cotidiano
Quando fazemos pesquisas na internet ou em outros bancos de dados, muitas vezes usamos expressões lógicas. Digamos que você queira lembrar o nome de uma
Avançandomaisum passo,digamosque nessemomentovocê nãoestá mesmointeressadonograndeartista paraibanoJackson doPandeir o(nomeartísticodeJoséGomes Silva,1919-1982),e portantogostariaderestringiraindamais osresultadosdesua busca,por meiodaexpressão:
canção de Luiz Melodia cuja letra inclui a palavra “pandeiro”, ou conhecer grava-
ou
ções dela. Se,num site debuscasou bancodedados,vocêdigitar pandeiroOR(melodia) encontr arámilharesderesultadosque nãolheinteressam.Issoporqueomotor debusca utilizou a disjunção,o operador “ou”( ⋁),e traráresulta dosquetenham qualquerdos dois, ou pandeiro ou melodia. Vocêpodedirecionar melhor suapesquisa,por exemplodigitandonocampode busca: pandeiroAND(melodia) ou pandeiro+melodia O que signicaessa expressão?Que estamos interessados em todosresultad o s q u e t r ag a m, j u nt o s, o s d o i s t e r m o s pesquisados.Não queremosregistros que t r a ga m a p e n a s u m d e le s , s ó “ p an d ei r o”
pandeiro+melodia -Jackson • No exemplo acima, que operadores lógicosforam utilizados?Tente “traduzi-lo” paraa linguagemlógica formal,utilizando os operadorese símbolosexplicados no box sobreconectiv oslógicos.(Um aviso: motoresde busca da internetnão costu mamreconheceressessímbolos;o objetivo é somente compreender quais sãoesses conectivosecomo podemserutilizados em umasituaçãoprática.) •Emseguida,construaoutras expressões de busca, maiscomplexas.Por exemplo: vocêestá interessado em result ados que tenhama vercom“mangueira”,quepodem serounãoreferentesàescoladesambacarioca,masque nãotenhama verdiretamentecomaárvorefrutífe radogêneroMangifera.Como deveríamosformulara expressão debusca?Hámaisdeummodode fazê-lo? Experimenteformular,por escrito,duasou -
sem“melodia”,nemapenas“melo dia”sem “pandeiro”.
traspesquisas,utilizando,cadauma,de 3a 5 elementoscomdiferentesoperadores.
Pesquis aem bancode dadose desenvolvimentoindividual porescrito
pandeiroAND(melodia) NOT(Jackson)
o ã ç a t n e m u g r a e a c i g ó l
Falácia e argumento Deacordocom a noçãomaisgeral de “argumento”, toda pessoa que argumenta está sempre tentando persuadir um determinado “auditório”. Esse auditóriopodeter dimensõesmuitodiferentese ser compostopor pessoasdos mais variados perfis. Podeser compostopor
apenasuma pessoa –tomecomoexemplo um vendedor quetenta convencer vocêa comprar um determinadoproduto numa loja. O auditó rio de quem argumenta pode também ser compostopor um pequenogrupode pessoas– éo queacontecequandoo professorde matemática
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As situações de aprendizagem possuem duas funções. Elas são o momento para elaboração de uma reflexão mais detida de sua parte sobre os conteúdos abordados nas Unidades e também constituem a ocasião para um processo avaliativo. A especificiade da Filosofia admite e possibilita formas de avaliação diferentes do esquema tradicional de perguntas/respostas. Por isso, as Situações de aprendizagem propõem atividades tais como: debate dirigido sobre os temas apresentados, seminários e, especialmente, desenvolvimentos dissertativos individuais, nos quais você é convidado a formular, em breves redações, os pontos do debate e o seu posicionamento diante deles.
Citações e traduções
Parte essencial dos percursos reflexivos propostos nas Unidades consiste na análise e discussão de trechos de textos filosóficos que têm o que dizer sobre os temas abordados. É útil você desde já familiarizar-se com algumas convenções. Ei-las abaixo: “A razão disto era acabar de cismar, e escolher uma resolução que fosse adequada ao momento. O carro andaria mais depressa que as pernas; estas iriam pausadas ou não, podiam afrouxar o passo, parar, arrepiar caminho, e deixar que a cabeça cismasse à vontade. Fui andando e cismando... Cuidei de recompor-lhe os olhos, a posição em que a vi, o ajuntamento de pessoas que devia naturalmente impor-lhe a dissimulação, se houvesse algo que dissimular. O que vai por ordem lógica e dedutiva, tinha sido antes uma barafunda de ideias e sensações, graças aos solavancos do carro e às interrupções de José Dias. Concluí de mim para mim que era a antiga paixão que me ofuscava ainda e me fazia desvairar como sempre.” M. de Assis, Obra completa, org. A. Coutinho, vol. 1. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994, Cap. CXXVI, pp. 928-929.
Há um elemento suplementar nas indicações de um trecho citado. Trata-se do nome do tradutor da obra. No caso acima, não há tradutor algum, já que Machado de Assis escreveu em nossa lingua. Mas na maior parte das citações a obra citada é uma tradução. E, embora nem sempre isso ocorra, é muito importante indicar ao leitor o nome do tradutor ou tradutora. Afinal, trata-se de um trabalho importantíssimo que tem de ser reconhecido. Veja um exemplo, tirado da Unidade Natureza e cultura, de um trecho de obra traduzida:
“Tivecomigodurantelongotempo um homemque permaneceradez ou dozeanosnesseoutromundo quefoi descoberto emnosso século ,no lugar ondeVillegagnondesembarcou,e aque deuo nomedeFrançaAntártida.” (Montaigne, Ensaios.Traduçãode RosemaryC. Abílio.SãoPaulo:Martins Fontes,p.303)
A principal conclusão que Montaigneextraido rela todoviajante acercados costumese hábitosdosnativosbrasileiros podeserconsideradacomoumacríticaseveraà atit ude quehojechamaríamosde “etnocêntrica”, istoé, aafirmaçãode uma cult ura como superioràs demais(o termo“etnocentrismo”não foiutilizadopor Montaigne, mas antropólogos do século XX).Vejasó: “Mas, pararetomar meuassunto, achoquenãohá nessanaçãonadade
bárb aro e de se lv agem,peloqueme contaram,a nãoserporquecadaqual chamade barbárieaquil oquenãoé de seu costume; como verdadeira mente pareceque não temosoutro ponto de vistasobrea verdadee arazãoa não seroexemploeo modelodasopiniõese usosdopaísemqueestamos.Nele sem preestá areligião perfeita,a formade governoperfeita,o usoperfeito ecabal detodasas coisas.Elessão selvagens, assimcomo chamamosdeselvagens os frutosque anatureza,porsi mesmae porsuamarchahabitual,produziu;sendoque,em verdade,antesdeveríamos chamarde selvagensaqueles [frutos] quecom nossaartealteramose desviamosda ordemcomum.Naquelesoutros estãovivas evigorosasas verdadeirase maisúteise naturaisvirtudesepropriedades,as quaisabastardamosnestes,e simplesmenteas adaptamosao prazer
o r i e n a J e d o i R , s e t r A s a l e B e d l a n o i c a N u e s u M
a r u t l u c e a z e r u t a n
texto lefegendacom 250 caracteres Giaecum et haris eos qui sincturias doles sim harit ��
“Tive comigo durante longo tempo um homem que permanecera dez ou doze anos nesse outro mundo que foi descoberto em nosso século, no lugar onde Villegagnon desembarcou, e a que deu o nome de França Antártida.” (Montaigne, Os ensaios. Tradução de Rosemary C. Abílio. São Paulo: Martins Fontes, 2000, p. 303)
pratisti quam ilignam,nonsequi int laborem porendi ciliant as endellatem nist qui verat et untur,is aut eligendunt,magnisquas nimporia quatust iandaero est
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Esforçamo-nos para trazer sempre traduções de qualidade reconhecida. Em alguns casos, nós mesmos (os autores, o organizador e o editor) traduzimos os textos. Na quase totalidade dos casos, essa tradução foi feita a partir da lingua em que os textos foram originalmente escritos (grego, latim, alemão, francês etc.). Isso não significa que, toda vez que você encontrar trechos com a indicação: “Tradução nossa”, não haja uma outra boa tradução publicada em nosso idioma. Quando não se tratava de obras inéditas em português, motivos diferentes levaram a essa decisão. Em primeiro lugar, porque tivemos o privilégio de contar, em nossa equipe, com professores que são também reconhecidos tradutores profissionais. Em segundo lugar, porque diversas boas traduções foram editadas há muito tempo, e assim o leitor seria remetido a publicações que hoje, na prática, são bem difíceis de encontrar. Por fim, em alguns casos, a nossa tradução possibilitou aproximar o texto filosófico de leitores não especializados, tornando-o, na medida do possível, mais compreensível – mas sempre com o cuidado de não distanciar a tradução do texto original. É o que poderíamos chamar de tradução dirigida (neste caso, dirigida ao público não especializado, em particular no contexto do Ensino Médio). Assim, se optamos por deixar o texto mais fluido e acessível, isto não envolveu perda de fidelidade da tradução com relação ao original. Imagine agora que você está redigindo um trabalho dissertativo e deve citar duas vezes a mesma obra – por exemplo, essa aí de cima, os Ensaios de Michel de Montaigne. A primeira citação de um determinado módulo é tal e qual a do exemplo acima. Mas a segunda faz referencia a um trecho, digamos, da página 305, por exemplo. Nesse caso, para não ter de repetir todas as informações (autor, nome da obra, parte da obra, capítulo, tradução, cidade da editora, nome da editora, ano de publicação e paginação), basta você escrever: ��
Montaigne, Os ensaios, op. cit., p. 305. Por vezes, nos trechos citados, você irá deparar-se com colchetes. Veja esse caso: “ [...] posso agora dar um grande número de provas, cada uma das quais é uma prova perfeitamente rigorosa [...] Posso provar agora, por exemplo, que existem duas mãos humanas. Como? Levantando minhas duas mãos e dizendo, enquanto faço determinado gesto com a mão direita, ‘Aqui está uma mão’, e acrescentando, enquanto faço determinado gesto com a esquerda, ‘e aqui está outra’. E se, ao fazê-lo, eu provei ipso
facto [i.e., pela própria evidência do fato] a existência de coisas exteriores, vocês verão que posso fazê-lo, então, de muitas outras maneiras: não há necessidade de multiplicar os exemplos.” (G. E. Moore, “Prova de um mundo exterior”. Tradução nossa. Edição de referência: “Proof of an external world”, in: Philosophical papers. Allen & Unwin, 1963, 2ª ed., p. 146)
Os colchetes ou parênteses possuem duas funções. A primeira é a de indicar que o trecho não é uma citação integral da passagem da obra citada. Logo, eles assinalam um intervalo que não existe na obra original. Essas omissões justificam-se na medida em que pode ocorrer que, para os propósitos da nossa argumentação, não seja necessário citar integralmente o trecho original. Trata-se de um princípio de economia, legítimo e muito utilizado mundo afora – basta que cuidemos de indicá-lo, toda vez que fizermos recurso a ele. A segunda função dos colchetes ou parênteses é a de explicar algo que possa soar estranho ou difícil ao leitor que não está com a obra citada em mãos. Por vezes, o autor citado já introduziu, numa passagem antecedente ao trecho citado, uma ideia ou explicação do que aparece no trecho citado. Os colchetes explicativos servem para auxiliar a compreensão adequada dos conteúdos do trecho citado.
os autores João Vergílio Gallerani Cuter formou-se em filoso-
fia pela Universidade de São Paulo (USP). Defendeu uma tese de doutoramento (1993) a respeito das relações entre a teoria dos tipos de Russell e a teoria da figuração do Tractatus Logico-Philosophicus de Wittgenstein. Desde 1995, é professor do Departamento de Filosofia da USP. Publicou diversos artigos em revistas nacionais e internacionais e é autor do livro Misticismo e lógica (São Paulo: Annablume, 2013). Atualmente, desenvolve pesquisa a respeito dos manuscritos produzidos por Wittgenstein no período que vai de 1929 até 1933 – o assim chamado “período intermediário” de sua filosofia.
Luiz Repa é professor de ética e filosofia po-
lítica e teoria das ciências humanas na Universidade Federal do Paraná (UFPR) e pesquisador do Núcleo Direito e Democracia do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (NDD/CEBRAP). Possui graduação (1995), mestrado (2000) e doutorado (2004) em filosofia pela Universidade de São Paulo (USP). Fez estudo complementar na Goethe-Universität de Frankfurt am Main (2001). Publicou o livro A transformação da filoso-
Paulo Vieira Neto formou-se em fi-
losofia pela Universidade de São Paulo (USP), onde defendeu seu mestrado sobre Kant (1994) e doutorado sobre Espinosa (2003). Leciona no Departamento de Filosofia da Universidade Federal do Paraná (UFPR) desde 1994.
Roberto Bolzani Filho é bacharel e licen-
ciado em Filosofia pela Universidade de São Paulo (USP), onde defendeu mestrado sobre o ceticismo pirrônico grego (1992) e doutorado a respeito da filosofia cética na Academia platônica (2003). Desde 1988, leciona História da Filosofia Antiga na mesma instituição, desenvolvendo pesquisas nessa área. É autor de Acadêmicos versus pirrônicos (São Paulo: Alameda, 2013) e de artigos publicados em revistas especializadas.
fia em Jürgen Habermas: os papéis de reconstrução, interpretação e crítica (São Paulo: Esfera Pública, 2008), e coorganizou ao livro Tensões e passagens: filosofia crítica e modernidade (São Paulo: Esfera Pública, 2008), e Habermas e a reconstrução: sobre a categoria central da teoria crítica habermasiana
(Campinas: Papirus, 2012).
Marco Antonio Valentim formou-se em filoso-
fia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), em 2000. Cursou mestrado em filosofia, com dissertação sobre Platão (2002), e doutorado em filosofia, com tese sobre Heidegger e Descartes (2007), ambos na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Desde 2006, leciona no Departamento de Filosofia da UFPR. É autor de diversos artigos de história da filosofia publicados em livros e revistas acadêmicas.
Vinicius de Figueiredo formou-se em
filosofia pela Universidade de São Paulo (USP), onde defendeu seu mestrado (1993) e doutorado (1999) sobre Kant. Foi bolsista do programa de formação de quadros e assistente de pesquisa do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (CEBRAP) entre 1990 e 1993. Leciona no Departamento de Filosofia da Universidade Federal do Paraná (UFPR) desde 1993. Foi presidente da Associação Nacional de Pós-Graduação em Filosofia (ANPOF) entre 2011 e 2012. É autor de Quatro figuras da aparência (Londrina: Lido, 1995) e Kant & Crítica da razão pura (Rio de Janeiro: Zahar, 2005) e organizador da coleção Filósofos na sala de aula (São Paulo: Berlendis & Vertecchia, 2006-2009, 3 vols.).
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