ETEC JOÃO BELARMINO TÉCNICO EM DESIGN DE INTERIORES
Ergonomia
Eliane Gallo Aquino
[email protected]
Eloisa Macedo
[email protected]
Amparo - SP 2014 1
Ementa do componente curricular
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ERGONOMIA
1. A origem do termo Ergonomia O termo ergonomia foi utilizado pela primeira vez, em 1857, pelo polonês W. Jastrzebowski , que publicou um artigo intitulado “Ensaio de ergonomia ou ciência do trabalho baseada nas leis objetivas da ciência da natureza”.
Figura 1. Crianças trabalhando no passado.
Quase cem anos mais tarde, em 1949, um engenheiro inglês chamado Murrel criou na Inglaterra a primeira sociedade nacional de ergonomia, a “Ergonomic Research Society” . O desenvolvimento da Ergonomia está ligado à evolução da tecnologia, principalmente no início da revolução industrial (Fig. 1), no final do século XIX, e início do século XX. O nascimento oficial da Ergonomia se deu logo após a Segunda Guerra, depois de se perceber que inúmeras falhas ocorridas com aviões e dispositivos como radares derivavam da inadequação dos mecanismos e áreas de acionamento às capacidades humanas. A ergonomia é uma ciência que tem como objetivo a melhoria da relação do homem e o meio ambiente com o estudo das características físicas do corpo humano (fisiologia e fatores psicológicos).Portanto, pode ser entendida como uma disciplina que tem como objetivo transformar o trabalho, em suas diferentes dimensões, adaptando-o às caacteríticas e aos limites do ser humano.
ergon + nomos Estes termos gregos denominam a ciência do trabalho
2. Aspectos estudados pela Ergonomia Ser Humano: características físicas, fisiológicas, psicológicas e sociais do trabalho; influência do sexo, idade, treinamento e motivação; 4
Máquina: entende-se por máquina todas as ajudas materiais que o homem utiliza no seu trabalho, englobando os equipamentos, ferramentas, mobiliários e instalações; Ambiente: estuda as características do ambiente físico que envolve o homem durante o trabalho, como temperatura, ruídos, vibrações, luz, cores, gases e outros; Informação: refere-se às comunicações existentes entre os elementos de um sistema, a transmissão de informações, o processamento e a tomada de decisões; Organização: é a conjugação de todos estes elementos no sistema produtivo, estudando aspectos como horários, turnos de trabalho e formação de equipes;
3. As diferentes abordagens em ergonomia Quanto à abrangência:
Ergonomia do posto de trabalho: abordagem microergonômica; Ergonomia de sistemas de produção: abordagem macroergonômica.
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Quanto à contribuição:
Ergonomia de concepção: Normas e especificações de projeto; Ergonomia de correção: Modificações de situações existentes; Ergonomia de arranjo físico: Melhoria de sequencias e fluxos de produção; Ergonomia de conscientização: Capacitação em ergonomia.
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Quanto à interdisciplinaridade:
Engenharia: projeto e produção ergonomicamente seguros; Design: metodologia de projeto e design do produto; Psicologia: treinamento e motivação do pessoal; Medicina e enfermagem: prevenção de acidentes e doenças do trabalho; Administração: projetos organizacionais e gestão de R.H..
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3.1. Os objetivos da ergonomia - Interpretar as abordagens e principais campos da aplicação da ergonomia; - Analisar as variáveis relativas a ergonomia, propondo soluções para melhoria do desempenho humano; - Analisar e identificar as principais diferenças entre as medidas objetivas e subjetivas da ergonomia; - Analisar e identificar condições antropométricas para atendimento às determinações dos padrões mundiais; - Estabelecer relações ergonômicas entre o homem, mobiliário e ambientes; - Estabelecer relações ergonômicas visando atender aos portadores de necessidades especiais para a obtenção de autonomia, segurança e conforto no trabalho e na vida diária.
4. Os domínios da Ergonomia: Física, Cognitiva e Organizacional 4.1 A Ergonomia Física Interessa-se pelas características da anatomia humana, antropometria, fisiologia e biomecânica e sua relação com a atividade física e inclui: Posturas de trabalho; Levantamento manual de carga; Movimentos repetitivos;
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Distúrbios musculoesquelético relacionados ao trabalho; Layout do local de trabalho; Segurança e saúde.
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4.2 Dimensões adequadas a movimentos específicos As diferentes atividades do dia a dia exigem um espaço mínimo recomendado para que se possam ser executadas sem maiores problemas. Abaixar, sentar, alcançar um arquivo, ou seja, movimentar-se requer uma distância, um área, um espaço para os movimentos envolvidos na ação específica. Então respeite: Aproximadamente 30 cm entre a altura do assento e a da bancada. Portanto, para mesas de 75 cm de altura, o assento deve ter 45 cm; para bancadas de 90 cm de altura, o banco deve ter 60cm; e para bancadas mais altas, de 100 cm a 110 cm, opte por bancos de 70 cm. Bancadas com pia devem estar aproximadamente com 5 cm abaixo do cotovelo (braço dobrado a 90º.). A altura ideal para bancadas de trabalho e preparação de alimentos com a utilização de utensílios de pequeno e médio porte é de 17 cm a 25 cm abaixo do cotovelo dobrado a 90º.
4.3 Antropometria Antropometria é o ramo das ciências biológicas que tem por finalidade o estudo dos caracteres mensuráveis da morfologia humana. O método antropométrico baseia-se na mensuração sistemática e na análise quantitativa das variações dimensionais do corpo humano. Constituem divisões da antropometria: Somatometria – consiste na avaliação das dimensões corporais; Cefalometria – estudo das medidas da cabeça do indivíduo; Osteometria – estudo dos ossos cranianos; Pelvimetria – ocupa-se das medidas pélvicas; Odontometria – estudo das dimensões dos dentes e áreas dentárias.
4.3.1 Qual a relação que existe entre Ergonomia, Antropometria e Design Ergonômico Na tentativa de estabelecer as adaptações necessárias entre Homem/Envolvimento/Actividade de Trabalho, a Ergonomia socorre-se, por um lado, da Antropometria, que se encarrega de estudar as características antropométricas individuais, por outro lado, do Design Ergonômico, que tenta criar condições materiais para que essa adaptação seja optimizada tanto quanto possível. De um ponto de vista funcional, Design é a organização de um equilíbrio harmonioso de materiais, de procedimentos e de todos os elementos de forma a satisfazer uma dada função do ponto de vista artístico, e evidencia exclusivamente a componente artística sem pensar na sua utilização. Design Ergonômico é a disciplina que disponibiliza metodologias que permitem o desenvolvimento de requisitos funcionais para uma dada proposta de concepção, centrada no utilizador, a partir das informações obtidas na análise ergonómica e da ergonomia do produto, fazendo com que haja uma optimização da relação entre segurança, conforto e eficácia. Por seu lado a Antropometria fornece dados bidimensionais e tridimensionais para a Ergonomia, preocupando-se também com os deslocamentos no espaço dos segmentos. A classificação proposta por Pheasant (1988), coloca a Antropometria como a ciência humana que contribui para a Ergonomia, com todo o seu conhecimento acerca das dimensões do corpo humano. Esta, por sua vez, possui dados, conceitos, princípios e metodologias que são necessários para os processos de design. Existe portanto, uma partilha de informação por parte destas duas ciências e do design, sendo de prever que o fluxo de informação deve ser em ambas as direções, ou seja, de modo a que se verifiquem interações positivas. Esta interação pode ser esquematizada: Antropometria Ergonomia Design Ergonômico 7
4.3.2 A importância da Antropometria na Ergonomia O estudo dos dados antropométricos, constitui uma base de referência para a Ergonomia, que com a ajuda de todo este conhecimento vai tentar resolver os problemas dimensionais no local de trabalho, definir zonas de alcance e acessibilidade, conseguindo deste modo minimizar o desconforto e mal-estar que todo o envolvimento possa provocar. O problema para o projetista, consiste em organizar uma estrutura dimensional que conjugue a adaptação óptima do indivíduo com o trabalho a realizar, nas condições fisiológicas convenientes, por um lado, e na boa execução da tarefa e conforto do operador, por outro. Esta adaptação deve ser feita, tendo sempre em conta as características do trabalhador, as condições de execução do trabalho e as condições do envolvimento em que ele o executa. Assim, examinar o dimensionamento do posto de trabalho, do ponto de vista ergonômico, consiste em estudar a existência e natureza das relações que o trabalho determine. Desta relação resulta uma interação dos diversos segmentos corporais, uma determinada intensidade dos esforços dispendidos e a duração da postura. Aqui, entra então a Antropometria, que com as suas vertentes, vem contribuir para a resolução deste tipo de problemas: Antropometria Estática/ Estrutural Estudam-se as dimensões lineares (alturas, comprimentos, perímetros e diâmetros) e o peso do corpo, que vão permitir melhorar a zona de trabalho do operador, fazendo com que ele não sinta qualquer constrangimento no exercício das suas funções. Ou seja, comporta um conjunto de medidas bidimensionais ou tridimensionais, que definem com a melhor precisão possível os tamanhos e formas humanas.
Antropometria Dinâmica/ Funcional Inclui medições de alcance, espaço livre, área de trabalho, postura e força, realizados sob condições funcionais, isto é, consideram-se dados relativos à biomecânica humana, incluindo amplitudes dos gestos, velocidade dos movimentos, forças musculares aplicadas, etc. Estes dados, têm a característica comum de definirem o espaço corporal e de uma maneira geral as possibilidades extremas do operador executar movimentos e de exercer a sua força muscular. Permite a concepção de um posto de trabalho e a realização de um projecto, no qual a colocação dos órgãos de protecção dos utensílios e máquinas impossibilitam que qualquer parte do corpo do operador penetre nas zonas de perigo e seja atingido por acidente.
Antropometria Newtoniana Termo utilizado para descrever um conjunto de dados estruturais e funcionais aos quais se aplicam as leis de Newton do movimento.
4.3.3 Diferenças e Variabilidade Humana Por tudo o que foi referido anteriormente, o estudo das posturas, movimentos profissionais, espaços de trabalho, concepção de ferramentas ou de órgãos de comando, necessita de conhecimento prévio de medidas antropométricas. No entanto, estas não são iguais de indivíduo para indivíduo. Existem, no plano geral, vários factores que influenciam de forma marcante as características antropométricas. Eles são, segundo Pheasant (1988): Sexo – as dimensões corporais diferem consideravelmente de homem para mulher. Tanto ao nível da estrutura esquelética, como em níveis de adiposidade (maiores nas mulheres); Idade – o ser humano aumenta a estrutura desde o nascimento até à idade adulta, onde estabiliza. Por volta dos 40 anos começa a notar-se um decréscimo da estatura; Diferenças Étnicas – um grupo étnico constituído por um conjunto de indivíduos que habitam uma mesma zona geográfica e que têm características físicas idênticas, o que os distingue das restantes zonas e grupos de pessoas; Crescimento e Desenvolvimento – cada indivíduo possui informação genética própria que o faz ser diferente e ter um crescimento também diferente. O envolvimento que
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rodeia o Homem desde a nascença, vai condicionar o desenvolvimento corporal de cada indivíduo, fazendo com que essas diferenças se acentuem; Tendência Secular – traduz uma alteração das características mensuráveis da população, ocorridas durante um determinado período de tempo. Tem-se então verificado um aumento proporcional no crescimento das crianças, uma diminuição da idade da puberdade e um aumento da estatura dos adultos; Classe Social e Ocupação – segundo o tipo de ocupação que um indivíduo tem, as suas características corporais moldam-se e definem uma forma característica para cada indivíduo. A Classe Social que determina a ocupação que o indivíduo vai ter, influi com o modo de vida, com a conduta de cada um, com a alimentação e até com a própria cultura.
Por seu lado, Kroemer (1986), atribui esta variabilidade: Variações Inter-individuais – resultado das características do DNA. Este material genético, inerente a cada indivíduo é que determina a composição celular e as características biológicas. Além disso, o tamanho corporal é influenciado pelo envolvimento, ou seja, pela altitude, temperatura, sol e tipo de clima. É lógico que, o modo de nutrição desempenha um papel importante, na medida em que provoca efeitos directos no aumento do tamanho corporal, tornando-o diferente de indivíduo para indivíduo; Variações Intra-individuais – na antropometria os efeitos da idade são bastante evidentes; Variações Seculares – actualmente os indivíduos são maiores que os seus antepassados. O desenvolvimento secular das dimensões corporais é pequeno e lento; Mudanças Populacionais – características como a idade, saúde, força e composição da população em geral, com o evoluir do tempo vão sendo diferentes, quer nas suas
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exigências, quer nas suas origens e fontes. Por outro lado, existem também as migrações. Há portanto dois grandes desafios para aqueles que se preocupam em adequar as situações de trabalho às características dos trabalhadores: “Conhecer a população e saber trabalhar com a diversidade inerente a ela”.
4.3.4 Tipologia Morfológica A Somatotipologia é uma escala de classificação morfológica, introduzida em 1940 por Sheldon, Stevens e Tucker. O seu conceito central é o de Somatótipo, entendido como a quantificação dos três componentes derivados dos três folhetos embrionários que determinam a estrutura morfológica do indivíduo, e designam-se de: - Endomorfismo (folheto endodérmico), exprime o grau de desenvolvimento em adiposidade (711 endomorfo puro); - Mesomorfismo (folheto mesodérmico), traduz o desenvolvimento músculo-esquelético relativo, em relação à altura (171 mesomorfo puro); - Ectomorfismo (folheto ectodérmico), traduz a linearidade ou o grau de desenvolvimento em comprimento (117 ectomorfo puro).
Endomorfo A principal característica dos indivíduos com predomínio das formas arredondadas é a sua capacidade de acumulação de gordura e o elevado volume dos seus órgãos digestivos. Designação endomorfo, prende-se com o facto do sistema digestivo ter a sua origem embriológica no folheto germinativo endodérmico. Os indivíduos com características endomorfas, têm aspecto volumoso e uma grande concentração de massa na zona central devido ao grande volume dos órgãos digestivos e à quantidade elevada de tecido adiposo acumulada nesta região. A flacidez muscular é evidente, a pele é macia e aveludada, e em consequência da sua maturação precoce terminam o processo de crescimento muito cedo. Mesomorfo Os indivíduos com robustez física, apresentam um predomínio dos ossos, músculos, tecido conjuntivo e vasos sanguíneos que se desenvolvem a partir do folheto germinativo mesodérmico. Robustos fisicamente, com ossos largos e pesados e músculos bem desenvolvidos e proeminentes, os relevos musculares e as projecções ósseas são visíveis. Não apresentam concentrações de massa na região central, a sua pele é áspera e encontra-se fortemente ligada aos tecidos subjacentes. A sua maturação é variável, sendo a resposta androgénica no início do salto pubertário muito intensa fundamentalmente nos rapazes.
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Ectomorfo A pele e o sistema nervoso, que têm origem no folheto germinativo ectodérmico, são relativamente predominantes nos indivíduos muito lineares e cujo tipo morfológico dominante é o ectomorfo. Os indivíduos com características ectomorfas apresentam grande linearidade e fragilidade, consequência directa de possuírem uma superfície corporal relativamente grande em comparação com a sua massa total. É mínimo o desenvolvimento muscular e a acumulação de gordura corporal, sendo bem visíveis as saliências ósseas e a hipotonia muscular, a pele é fina e está desligada dos tecidos subjacentes. Tendem a ser atrasados maturacionalmente apresentando algum potencial crescimento em altura após o pico de velocidade em altura. 4.3.5 Composição Corporal A Composição Corporal é o estudo dos diferentes componentes químicos do corpo humano, a sua análise permite a quantificação de grande variedade de componentes corporais, tais como água, proteínas, gordura, hidratos de carbono, minerais, etc., variando as suas quantidades de indivíduo para indivíduo. A quantidade relativa de gordura corporal (percentagem de massa gorda) é a medida de composição corporal que é avaliada com maior frequência. Este facto prende-se com a existência de uma relação inversa entre a quantidade de gordura e a qualidade de vida, e entre a quantidade de gordura e a prestação motora.
Heyward e Stolarczyk (1996), referem que a estimativa da composição corporal é obtida através da quantificação da massa gorda e da massa livre de gordura. A massa gorda inclui todos os lípidos extraíveis do tecido adiposo e dos outros tecidos, a massa magra consiste em todas as restantes substâncias químicas livres de gordura e tecidos orgânicos. Considerando o organismo humano composto por 3 componentes básicos (músculo, gordura e osso) e a existência de diferenças entre sexos na composição corporal, Behnke propôs dois modelos teóricos: o homem de referência e a mulher de referência, que podem servir como base de trabalhos quando desejamos comparar a composição corporal de diferentes indivíduos. De acordo com este modelo proposto, é possível verificarmos que: Altura Peso Massa Muscular Gordura
Homem de Referência 174 Cm 70 Kg 31,3 Kg 10,5 Kg
Mulher de Referência 163,8 Cm 56,7 Kg 20,4 Kg 15,3 Kg 11
Os adultos apresentam alterações na composição corporal, embora estes se processem mais lentamente. Sabe-se que, com o aumento da idade há um aumento da percentagem de massa gorda e do peso corporal e, simultaneamente, a diminuição da massa livre de gordura, do conteúdo mineral ósseo e de água corporal (Van Loan, 1996). 4.3.6 Medidas Antropométricas As medidas convencionais em Antropometria incluem distâncias entre pontos ou linhas (alturas, comprimentos e diâmetros), perímetros, superfícies, volumes e medidas de massa e de gordura subcutânea. 4.3.7 Espaço Livre Segundo Pheasant, é o mínimo espaço para dar acesso pessoal a passagens sujeitas a limitações especiais. Espaço disponível em que a dimensão máxima aceitável de um objeto é determinado pela população de percentil 95, ou seja, 95% das pessoas têm uma medida corporal inferior, logo, se o indivíduo com maiores dimensões passa, os restantes 95% também passam, ficando apenas um espaço inadequado para 5% da população. Associados ao espaço livre aparecem dois conceitos, que não podem ser considerados constrições, pois são impossíveis de quantificar, são as chamadas dimensões escondidas. A definição destas dimensões é dada pelo espaço mínimo necessário para o bem-estar físico e mental, e são eles: Territorialidade Espaço de uso exclusivo do indivíduo, com importância na alteração dos postos de trabalho, determinando a adaptação do indivíduo à nova situação. É uma dimensão variável de indivíduo para indivíduo, e consoante o grupo étnico ao qual pertence o indivíduo. É um conceito presente sobretudo nos animais, contudo o Homem também demarca o seu território, principalmente quando é um espaço que é sempre utilizado pela mesma pessoa. Se não for respeitado este conceito na dimensão dos postos de trabalho, podem surgir alterações no trabalho do indivíduo diminuindo a performance e a produtividade. o
Espaço Pessoal Bolha psicológica que rodeia o indivíduo e que influencia a sua relação com os outros, sendo maior atrás e menor à frente. É relativo e psicológico, variando de indivíduo para indivíduo, principalmente entre grupos étnicos e devido à confiança que cada sujeito possui de si mesmo. Este conceito deve ser respeitado pelo facto de ter uma grande influência sobre o bemestar psicológico do trabalhador, bem como sobre a sua relação com os outros. O Espaço Livre impõe assim determinadas consequências no design ergonómico, como sejam a determinação do pé direito adequado, os espaços mínimos para circulação e as aberturas adequadas para os vários segmentos corporais. o
Alcance Resulta do deslocamento dos segmentos corporais no espaço tridimensional de forma a atingir o alvo e cumprir um dado objectivo, ou seja, com vista à execução de uma tarefa. Segundo Pheasant, é um conjunto de coordenadas resultantes do deslocamento de um segmento no espaço, definindo uma área de trabalho. O percentil indicado como referência é o percentil 5, no entanto para a concepção de alcances ideais numa determinada situação de trabalho, deve fazer-se a intersecção dos dois percentis. Importa referir, que a solicitação dos segmentos corporais no alcance não é feita sempre da mesma forma, e normalmente, fazemos primeiro a solicitação dos segmentos mais proximais e depois dos segmentos distais. O Alcance depende de vários factores, tais como: peso do objecto – objectos mais pesados serão mais facilmente transportados se estiverem aproximados do centro de gravidade do corpo; vestuário – se for muito apertado dificulta o alcance; inclinação do solo; limitações da amplitude articular; barreiras; a base de sustentação; etc. Postura o
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É a posição e orientação dos segmentos corporais no espaço durante a realização de uma dada tarefa num dado momento, sendo o percentil negociado para cada situação, pois está dependente do Espaço Livre, do Alcance, da Força e também, do Campo de Visão. Na determinação da postura mais adequada para realizar a actividade, deve-se quando possível, ter em conta a vontade demonstrada pelo trabalhador, ou seja, se este prefere desempenhá-la sentado ou de pé. No entanto, ela é determinada pela relação entre as dimensões do corpo do indivíduo e as dimensões do seu espaço de trabalho, que podem provocar limitações quer físicas, quer visuais. Postura Sentado
Contempla duas atitudes diferentes: - indivíduo sentado, numa posição erecta, fazendo um ângulo de 90º entre pernas e coxas, e coxas e tronco; - indivíduo sentado, numa posição relaxada, em que a pélvis roda para trás e a coluna encontra-se flectida. Esta rotação é aproximadamente de 30º a partir da posição erecta. A postura sentado não deve ser mantida durante grandes intervalos de tempo, devendo ser alternado com a postura de pé, devido ao aporte sanguíneo aos membros inferiores. Outros factores também podem constituir problema para o indivíduo nesta postura e o ergonomista deve tentar sempre optimizá-las tendo como referência os vários percentis: altura do assento (altura poplítea do P5 feminino); profundidade do assento (comprimento poplíteo-nádega do P5 feminino); encosto (P95 masculino); largura do assento (largura entre cotovelos do P95 feminino); ângulo do encosto (inclinação máxima varia entre 100º e 110º); ângulo do assento.
Postura de Pé
Utilização de um apoia nádegas que reduza o peso suportado pelos membros inferiores e permita uma postura mais ou menos estável, podendo ser utilizado em tarefas que requerem um descanso dos membros inferiores, mas que por limitação de espaço, não permitem a colocação de uma cadeira.
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Força Característica individual que é influenciada pelo comprimento dos segmentos corporais de cada indivíduo, assim como pela postura adaptada e por todos os fatores fisiológicos que tenham a ver com a tensão produzida ao nível muscular. É a capacidade que um conjunto de segmentos corporais tem para aplicar uma força sobre um dado objecto e cumprir um objectivo, sendo o percentil 5 o mais adequado. A atividade de trabalho vai impor ao indivíduo a adopção de várias posturas que vão solicitar intensidades diferentes de força, estabelecendo-se uma relação entre estes três conceitos. Este compromisso entre Força/Postura/Atividade de Trabalho, trás consequências práticas ao nível do desempenho do indivíduo no posto de trabalho, como é o caso da manipulação de comandos que devem ser adequados a cada nível de força. Pheasant definiu Força como o estado máximo de tensão que um indivíduo consegue exercer num esforço estático de curta duração. Esta força, é designada de Força Estática, existindo também a Força Dinâmica, que pode ser exercida durante um longo período de tempo. o
Variação de Força com o Sexo e a Idade
Na generalidade, a força das mulheres é cerca de 60% da dos homens. Ambos os sexos atingem o pico de força por volta dos 30 anos, decrescem em 90% aos 45 anos e em 70-80% aos 60 anos.
Duração e Repetição da Força
A força máxima apenas pode ser executada durante breves segundos. A percentagem máxima de força aceitável de um indivíduo quando realiza esforços contínuos é de 15% devendo ser evitada, para esforços frequentes é aceitável os 30%, para esforços ocasionais 60% e acima destes deve ser evitado. Há circunstâncias em que a força que o indivíduo pode exercer depende de outros fatores, é o caso das ações de levantar, puxar e empurrar, em que existe uma determinada 14
fricção dos objectos ao solo, para além do peso inerente a esses objectos. A carga aceitável deve ser estimada para a pessoa mais fraca. 4.3.9 A Ergonomia Cognitiva Relacionam-se com os processos mentais, tais como percepção, memória raciocínio e resposta motora, e seus efeitos nas interações entre seres humanos e outros elementos de um sistema. Estuda também como esses processos afetam as interações entre pessoas e outros elementos do sistema. Entre os tópicos relevantes: Carga de trabalho mental; Tomada de decisão; Performance especializada; Interação humano-computador; Confiabilidade humana; Estresse; Treinamento de trabalho.
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4.3.10 Os Processos Perceptivos e Cognitivos
4.3.11 estudo da Ergonomia das cores Segundo Iida (2005), “a sensação de luz e calor associada com a forma d os objetos é um dos elementos mais importantes na transmissão de informações”. São itens importantes na aplicação das cores: VISIBILIDADE • Quanto mais visível uma cor, mais ela chama a atenção; • A visibilidade depende do contraste e da saturação da cor; • Visibilidade em excesso é fatigante. LEGIBILIDADE • É o contraste entre a figura e o fundo; • Para aumentar, é preciso distanciar as cores principalmente pela luminosidade. MEMÓRIA • Experiências anteriores interferem nas atuais. EMOÇÃO • As cores influenciam nosso estado emocional refletindo sobre: - Produtividade - Qualidade - Erros RECOMENDAÇÕES • O uso adequado das cores facilita a comunicação, reduz erros e aumenta a eficiência no trabalho. COR NO AMBIENTE • Cores claras ajudam na limpeza • A sensação de temperatura pode ser influenciada: - Cores quentes aumentam o calor - Cores frias aumentam o frescor 16
Cuidado com cores fortes - Cores fortes podem tirar a concentração • Evite a monocromia - O ambiente fica confuso e estressante
4.3.12 A Ergonomia Organizacional Relaciona-se com a otimização de sistemas socio-técnicos, incluindo suas estruturas organizacionais, políticas e processos. Tópicos relevantes: Comunicação; Gerenciamento de recursos humanos; Projeto do trabalho; Projeto de turnos de trabalho; Equipe de trabalho; Projeto participativo; Trabalho cooperativo; Novos paradigmas do trabalho; Organizações virtuais; Teletrabalho; Gerência de qualidade; Ergonomia de comunidade.
5. Espaços de moradia Em ergonomia, o espaço de moradia do homem constitui uma dimensão importante de análise pelo número de variáveis envolvidas e a interdependência entre elas. Um espaço de moradia adequado às características dos seus habitantes aumenta a segurança e o bem como favorece o conforto e o bem-estar. Considerar os diversos ambiente que compõem uma residência será importante para a boa aplicação da ergonomia. 17
5.1 A Sala de Estar e Jantar É importante observar as dimnesões mínimas para a circulação e mobiliário nas salas de estar e jantar. São inúmeras as opções de sofás, poltronas e mesas, mas o designer de interiores deverá saber fazer a melhor escolha para o seu cliente. Abaixo seguem algumas indicações das dimensões mínimas recomendadas para o ser humano:
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A distância das mesas de centro aos assentos não deve ser menor do que 50 cm. A distância mínima de 60 cm é mais aconselhável, porém não ultrapasse os 70 cm, evitando que aspessoas tenham de levantar para utilizar a mesa. A altura do assento do sofá irá variar conforme sua finalidade. É mais incômodo levantar de um sofá mais baixo, embora possa parecer mais informal e relaxante. A estrutura dos móveis também deve ser considerada, já que pessoas mais idosas, por exemplo, preferirão braços mais firmes e altos para facilitar o apoio na hora de levantarem-se.
A Sala de Estar (Living)
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O revestimento do sofá também deve ser analisado com cuidado, pois um sofá de couro para algumas pessoas é ideal pela facilidade de manutenção; para outras, é desconfortável, pois se escorrega facilmente sobre ele. O tamanho das mesas de jantar irá variar segundo o modelo e, principalmente, o tamanho das cadeiras e vice-versa. Aparadores devem ter no mínimo 50 cm de profundidade, para que travessas e outros utensílios possam ser dispostos sem problemas num jantar americano, por exemplo. Buffets para louças e objetos relacionados com almoço ou jantar podem ter até 60 cm de profundidade. Mais do que essa medida, tornam-se demasiadamente fundos e de difícil acesso. Lembre-se de manter uma distância de, no mínimo, 120/130 cm entre o buffet e a mesa, caso tenha de ter acesso a ele durante o jantar, evitando incomodar as pessoas durante a refeição. Cadeiras de jantar medem, no mínimo, aproximadamente 45 cm x 45 cm, com a mesma medida para a altura do assento. As cadeiras com braço serão razoavelmente mais largas. Mesas circulares (diâmetros mínimos) e altura entre 70 cm e 75 cm: • 2 pessoas - 60 cm; • 4 pessoas - 90 cm; • 5 pessoas - 110 cm; • 6 pessoas - 120 cm; • 8 pessoas - 140 cm. Para as mesas quadradas ou retangulares, a altura também varia de 70 cm a 75 cm, dependendo da cadeira e do modelo. Podemos considerar 60 cm como espaço para cada pessoa e área mínima de 60 cm x 45 cm. Para cada cabeceira de mesa, adote o mínimo de 20 cm a mais no comprimento da mesa. O ideal, entretanto, seria 45 cm.
5.2 Banheiros e Lavabos Banheiros e lavabos também merecem muita atenção quanto às dimensões mínimas recomendadas. Os boxes podem ter portas de abrir (para fora é o mais indicado por motivo de segurança), correr ou sanfonadas. Medidas e dimensões especiais para pessoas com necessidades especiais constam na NBR 9050/2004.
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5.3 Cozinhas As cozinhas devem ser confortáveis e adaptadas a cada família. As alturas podem variar conforme a utilização das bancadas de apoio. Bancadas: pia - 83 cm a 90 cm ou 5 cm abaixo do cotovelo dobrado a 90 graus; preparação de alimentos - 83 cm a 90 cm ou 5 cm a 10 cm abaixo do cotovelo dobrado a 90 graus; utilização de eletrodomésticos de pequeno e médio porte - 70 cm a 75 cm ou 17 cm a 25 cm do cotovelo dobrado a 90 graus. Bancada para refeição (diferença de aproximadamente 30 cm entre a bancada e o assento) com cadeira ou banco baixo - 75 cm; com banco médio - 90 cm; com banco alto - 100 cm/110 cm.
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5.4 Dormitórios Nos dormitórios, as principais considerações quanto à ergonomia estão ligadas ao espaço de circulação ao redor das camas e às áreas destinadas ao armazenamento de roupas e objetos. O espaçamento entre as camas ou entre cama e a parede nunca deve ser menor do que 50 cm, mínimo ideal de 60 cm, e melhor distância 70/80 cm. O tamanho das camas é variável. Seguimos no Brasil as medidas americanas. Basicamente podemos considerar num estudo preliminar as seguintes medidas: solteiro - de 70 cm a 90 cm x 190 cm; viúva - 120 cm X 190 cm; casal - 140 cm X 190 cm; queen - 150 cm x 2 m. king - 160 cm x 2 m; cama tipo box americana (tipo hotel) - pode medir de 180 cm x 2m a 2 m x 2,10 m.
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Camas com estrado geralmente têm altura de 45 cm; as do tipo hotel/box podem ser mais altas. As mesas de cabeceira devem estar de acordo com a altura das camas. A melhor opção seria a mesa ter uma altura um pouco maior do que a da cama, evitando que a pessoa bata a cabeça a noite. As dimensões das mesas ou criados mudos são variad as. ESTUDO DE CASO 1: Executar um layout para um casal de terceira idade adotando o projeto da Casa da Sogra. Adotar a NBR 9050/2004.
6. Espaços de trabalho Em ergonomia, o espaço de trabalho constitui uma dimensão importante de análise pelo número de variáveis envolvidas e a interdependência entre elas. Um espaço de trabalho adequado às características dos trabalhadores aumenta a segurança dos homens/mulheres e equipamentos, a probabilidade de melhoria da produção, bem como favorece o conforto e o bem-estar. Considerar o espaço de trabalho, ou melhor, os locais onde os trabalhadores desenvolvem as suas atividades é importante para compreender diferentes aspectos do trabalho como: 23
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As posturas possíveis; As dificuldades em obter certas informações; As necessidades de deslocamento; Certas estratégias operacionais, entre outras variáveis.
A compreensão da relação dos trabalhadores com o espaço é fundamental para a (re)concepção dos postos, dos locais e do ambiente. Como já vimos nos capítulos precedentes, a questão do espaço de trabalho sempre esteve presente nas demandas e nas abordagens da ergonomia. Conceitos relativos a essa questão foram, e são, tratados isoladamente ou integrados com outras variáveis do trabalho. A necessidade de integrar organização do espaço com as dimensões humanas, com os ritmos biológicos, com a fadiga pode ajudar a explicar o desconforto, as doenças e os insucessos. Utilizaremos um estudo de caso como fio condutor na apresentação dos conceitos, mostrando como eles podem ser aplicados. Discutiremos, também, os espaços de trabalho, ora retomando os conceitos já apresentados, ora sugerindo novos elementos determinantes para a sua compreensão e análise. Inicialmente, apresentaremos uma situação de trabalho com uso de computadores e a partir dela discutiremos as relações do espaço com a antropometria, e a relação entre alguns elementos ambientais importantes como a iluminação, o ruído e a temperatura com a fisiologia e os processos perceptivos humanos. ESTUDO DE CASO 2: Um hipermercado geralmente é associado ao seu primeiro objetivo: vender produtos de diferentes naturezas, desde gêneros alimentícios até eletrodomésticos. É comum, ao pensar no trabalho de uma organização como essa, que as pessoas geralmente se lembrem do caixa, dos organizadores de prateleiras, dos promotores, do pessoal da limpeza, ou seja, de todos os que lidam diretamente com o cliente/consumidor. No entanto, para que essa organização obtenha sucesso, um conjunto de funcionários executa tarefas de suporte direto e indireto ao atendimento aos clientes, como contabilistas, programadores/analistas de sistemas, administradores, psicólogos organizacionais, dentre outros. Abaixo segue o layout do espaço de trabalho:
Espaço de trabalho 24
Maria é uma dessas funcionárias e trabalha como analista de sistemas. Seu papel e criar e aprimorar novos aplicativos para controlar o estoque, identificar relações è padrões de consumo, desencadear processos de compras. Ela criou um programa que permitiu mapear hábitos de consumo como, por exemplo: pessoas de uma determinada faixa etária costumam, ao comprar fraldas descartáveis, levar também cervejas, principalmente nos finais de semana. Seu trabalho tem contribuído para que, ao planejarem promoções, os gerentes possam defmir a organização das seções e prateleiras de maneira a induzir a compra I desses produtos conjuntamente. Apesar de não ser visível para o público, seu trabalho é muito importante na relação direta consumidor-hipermercado. Maria e suas colegas chegam ao trabalho às 8h e saem às 18h. Há um plantão das 18h até às 24h, para garantir que caso o sistema informatizado apresente algum problema tenha alguém para assegurar a manutenção. Quem está escalado para o plantão, folga no dia seguinte. O ambiente de trabalho de Maria assemelha-se a um escritório comum. Nele existem postos de trabalho onde estão colocados computadores, impressoras, mesas para reunião da equipe (veja croqui do espaço de trabalho). Apesar dos acessórios para ajudar a reduzir o desconforto, como teclados de boa qualidade, apoio para pés, mouse e cadeiras ajustáveis, nesse setor, há várias queixas.
7. Sugestões de livros e Normas, etc. ABRAHÃO, J. Introdução à ergonomia: da prática à teoria. São Paulo: Blucher, 2009. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 9050: Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos, 2004. BOUERI FILHO, José Jorge. Projetos e Dimensionamento dos Espaços da Habitação Espaços de Atividades. São Paulo: Estação da Letras e Cores, 2008. GURGEL, Mirian. Projetando Espaços: guia de arquitetura de interiores para áreas residenciais. São Paulo: Ed. SENAC, 2005. _______, Mirim. Projetando Espaços: guia de arquitetura de interiores para áreas comerciais. São Paulo: Ed. SENAC, 2005.
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