A
Lê o texto. Comunhão
5
10
Tal como o camponês, que canta a semear A terra, Ou como tu, pastor, que cantas a bordar A serra De brancura, Assim eu canto, sem me ouvir cantar, Livre e à minha altura. Semear trigo e apascentar ovelhas É oficiar à vida Numa missa campal. Mas como sobra desse ritual Uma leve e gratuita melodia, Junto o meu canto de homem natural Ao grande coro dessa poesia. TORGA, Miguel (2010). Poesia Completa Completa. Lisboa: Dom Quixote, p. 362. Apresenta, de forma bem estruturada, as tuas respostas aos itens seguintes. – “Comunhão”. (20 pontos) 1. Explicita o título do poema – “Comunhão”. 2. Caracteriza o canto do sujeito poético. (10 pontos) 3. Identifica a função da poesia e o sentimento a ela associado. (10 pontos) 4. Comenta o valor expressivo da metáfora nos versos 3 a 5. (20 pontos) Lê o texto. Coimbra, 21 de fevereiro de 1962 – Resposta a um inquérito de Via Latina, jornal académico,
que fez a vários escritores e scritores estas duas perguntas: – Qual Qual o papel da arte na vida do homem? – Qual Qual o papel da juventude no mundo? 5
10
15
20
1.ª O papel da arte na vida do homem depende do homem que se considere e da vida que ele viva. O homem abstrato não existe; e a vida abstrata também não. Na vida dum homem culto, sensível sensível e livre, por exemplo, esse papel é, certamente, considerável; na de um homem inculto, insensível e escravizado, é, evidentemente, nulo. Teremos, pois, de concretizar. Que homem? Que vida? Trata-se dum indivíduo capaz de ler, entender e sentir um poema? E a sua vida permite-lho? Que influência poderá ter a arte no terroso dia a dia dum cavador ignorante? Ou mesmo na de um mineiro analfabeto, sepultado desde a instrução primária na escuridão dum poço? A arte é um direito do espírito, negado sistematicamente, através dos tempos, às maiorias. Por isso, só quando a cultura das massas se fizer, e todos dispuserem da mesma liberdade li berdade de anuência ou recusa às solicitações da beleza, ficaremos a saber de que ação é capaz na existência do comum dos mortais o fulgor dum sol que até agora apenas bateu à porta de alguns. 2.ª Quanto ao papel da juventude no mundo, igualmente teríamos de saber de que juventude se trata e de que mundo. A interrogação refere-se à juventude universitária? À proletária? À rural? E qualquer delas atua em que setor da terra? Aqui? Ali? Acolá? Claramente que um jovem pastor que guarda ovelhas na na serra não pode exercer uma uma ação semelhante à do moço que estuda estuda filosofia e se manifesta no seu jornal académico. académico. […]
25
Mas talvez possamos meter o mar numa concha e dizer, em síntese, que, rica ou pobre, letrada ou analfabeta, pelo simples facto de existir, toda a juventude é como que a consciência alarmada da velhice. E acrescentar mais isto: que o presente apenas se justifica na esperança do futuro. E que a juventude é precisamente o futuro, na medida em que só ela o tem nas mãos. TORGA, Miguel (1999). Diário, Vols. IX a XVI (2.ª edição). Lisboa: Dom Quixote, pp. 997998 [com supressões]. (5 pontos) 1. Nesta página de diário, o autor opta por (A) relatar um episódio pessoal ocorrido recentemente. (B) questionar os conceitos de arte e juventude. (C) apresentar o seu ponto de vista relativamente a questões previamente colocadas. 2. A marca do género diário presente neste texto é (A) o discurso pessoal e retrospetivo. (B) a ligação ao quotidiano. (C) a descrição sucinta de um objeto.
(5 pontos)
3. Ao afirmar que “O homem abstrato não existe” (l. 6), o autor introduz uma reflexão (5 pontos) sobre como o ser humano é condicionado (A) pelo contexto socioeconómico. (B) pelas aptidões profissionais. (C) pelos valores morais e culturais. 4. As interrogações retóricas presentes nas linhas 9-12 e 19-20 têm como função (5 pontos) demonstrar, por parte do autor, (A) a complexidade do tema. (B) a incredulidade face à realidade. (C) o desinteresse pelo tema. 5. A expressão “meter o mar numa concha” (l. 24) significa (A) condensar o essencial. (B) desviar-se da questão. (C) mudar de assunto.
(5 pontos)
6. O enunciado iniciado por “Claramente que um jovem pastor” (l. 21) é marcado por um (5 pontos) valor modal (A) apreciativo. (B) epistémico (certeza). (C) epistémico (probabilidade). 7. Na linha 27, “que” tem um valor (5 pontos) (A) copulativo. (B) consecutivo. (C) completivo. 8. Apresenta um exemplo dos processos de coesão lexical por reiteração e substituição por (5 pontos) antonímia utilizados nas linhas 6 a 9. 9. Identifica o tipo de sequência textual predominante nas linhas 13-17. (5 pontos) 10. Explicita o valor deítico dos advérbios “Aqui? Ali? Acolá?” (l. 20). (5 pontos)