I - CONCEITO DE EDUCAÇÃO A educação - do latim, educatione (m), ato de criar (animais, plantas) e, por extensão, formação do espírito, instrução, educação; em si, o vocábulo latino educatio, onis , prende-se ao verbo educare , aparentado com ducere (conduzir) e educere (tirar para fora, criar) - tem sofrido através dos temp tempos os múlt múltip ipla lass conc concei eitu tuaç açõe ões, s, form formul ulad adas as à base de pontos de vista filosóficos e sob a influência das condições socioculturais de cada época.
A educação pode sofrer análise dos pontos de vista sociológico, biológico, psicológico e filosófico. Os dominantes em nossos dias são o sociológico e biopsicológico. Do ponto de vista sociológico, “educação é o processo que visa a preparação das gerações novas para substitu tuíírem as adulta ltas e que, naturalmente, se vão retirando das funções ativas da vida social ”.
A educação realiza a conservação e transmissão da cultura afim da haver continuidade da mesma. O que se procura transmitir é o acervo funcional da cultura, isto é, aqueles valores e aquelas formas de comportamento social de comprovada eficácia na vida de uma sociedade.
Do ponto de vista bio-psicológico, a educação tem por escopo levar o indivíduo a realizar a sua personalidade, tendo em mira as suas possibilidades intrínsecas. Logo, a educação passa a ser o processo que tem por fim atualizar todas as virtualidades do indivíduo, em um trabalho, realmente, de extrair de dentro do próprio indivíduo o que ele traz, hereditariamente, consigo.
O ponto de vista sociológico como o biopsicológico devem integrar as analises dos que conc conceit eitua uam m educ educaç ação ão.. Pode Podemo moss dizer que educar é conduzir "o que é" a uma plenitude de atualização e expansão, orientada em um sentido de aceitação social.
Tornando mais explícito: “educação é o processo que visa a capacitar o indivíduo a agir conscientemente diante de situações novas de vida, com com apro aprove veititam amen ento to da expe experiê riênc ncia ia anterior, tendo em vista a integração, a continuidade e o progresso social, segundo a realidade de cada um, para serem atendidas as necessidades individuais e coletivas. ”
Esta conceituação apresenta aspectos que precisam ser esclarecidos, para melhor compreensão, como: agir conscientemente diante de situações novas de vida; aproveitamento da experiência anterior; integração; continuidade; progresso; realidade de cada um, e necessidades individuais e coletivas.
CATEQUESE Intrinsecamente o significado etimológico da palavra “catequese”, do radical katá + echeo, echeo, fazer ressoar, causar eco, já exige um ensinamento em perguntas e respostas, no qual a palavra do mestre funciona como a ressonância à int interrogação do discípulo, e a resposta do discípulo o eco à pergunta do mestre. Assim, temos a forma principal da catequese nas suas origens: “um colóquio mútuo”.
Foi neste sentido que Lucas usou o verbo “katechein” no seu evangelho para fazer recordar a Teófilo aquilo que eles tinham aprendido do colóquio: “peri hón catechéthes ” (Lucas 1:4); Lucas designa Apolo como “katecheménos ten hodon toû Kyríou” (Atos 18: 25); Paulo também diz que fala na “reunião” (ekklesía) para instruir (hina katekeso, I Coríntios 14:19) e quer que aquele que é instruído (ho katechoúmenos) comunique com aquele que catequiza (tô katechounti, Gálatas 6:6).
Do Novo Testamento passou para os Pais Gregos o uso da palavra katéchesis que foi transliterado em latim catechesis. Com a organização do catecumenato cristão, este termo toma um significado técnico, aplicando-se, sobretudo ao “ensinamento oral que serve de preparação ao batismo”, e por conseguinte, dirigia-se aos não iniciados. A catequese tomava conotação diversa conforme o auditório ao qual se dirigia: judeus ou gentios.
I . Catequese Apostólica
Antes que surgisse a catequese escrita, que são os livros do Novo Testamento, já estava viva e atuante a catequese oral, expressão autentica do magistério da Igreja, fonte primária da catequese escrita, que se iniciou com o primeiro discurso de Pedro no dia do Pentecostes (Atos 2: 14-36) e adquiriu rápido desenvolvimento à medida que o cristianismo progredia em extensão e profundidade.
Neste ministério os Apóstolos eram ajudados por uma classe especial de catequistas chamados no Novo Testamento “evangelistas” ou proclamadores da “ ”, aos quais se ajuntaram os “doutores” ou “mestres”, isto é, pessoas agraciadas pelo Espírito com o “dom” do ensinamento (Atos 21:8; Efésios 4:11; 2 Timóteo 4:5; Romanos 12:7; I Coríntios 12:8).
Nenhum texto ou formulário da catequese apostólica chegou até nós. Mas os discursos relatados nos Atos dos Apóstolos nos permitem de algum modo reconstruir suas grandes linhas ( Atos 2: 14 - 40; 3: 10-26; 5:29-32; 10: 34 - 43; : Atos 13: 16-41; 17: 16-31 Atos 7: 2-53).
Sobretudo nos Evangelhos Sinóticos aparecem o reflexo e a expressão da catequese apostólica. Clemente de Alexandria diz que Marcos consignou por escrito " ” por Pedro. De fato em Atos 10: 37-43 encontramos a estrutura do Evangelho de Marcos.
O Credo Apostólico, na sua forma atual, não remonta aos apóstolos, mas seu conteúdo é apostólico. O mesmo vale para a Didache ou “ ”, precioso documento da antigüidade, que é um vestígio da catequese moral dos apóstolos, especialmente na primeira parte (cf. 1-16), que sob a forma das “ ” (cf. 7:13s) contém as principais normas de vida cristã, com longos catálogos de pecados que encontram paralelo nas cartas apostólicas (Romanos 1:29; Gálatas 5: 19; 1 Timóteo 1:9ss; 2 Tim. 3.2ss).
O devia ser o
apostólica
prática. O argumento genérico era a fé e as “conseguir” . Mas tanto o método como o objeto recebiam matizes diversas conforme os ouvintes. Estes se dividiam em duas grandes categorias, judeus e gentios.
era essencial uma , sobretudo às profecias, para demonstrar sua realização em Cristo (cf. os dois discursos clássicos: de Pedro em Jerusalém, Atos 2: 14-36, e de Paulo em Antioquia, Atos 13: 16-41 porém, importava em primeiro lugar Na
(discurso de Paulo em Atenas, Atos 17: 2231).
Além disso, a catequese podia ser dirigida a um auditório novo de pessoas que se procuravam conquistar para a fé, ou então a pessoas já iniciadas (que podiam ser catecúmenos, neófitos, ou cristãos maduros).
Por isso, deve-se distinguir entre uma primeira catequese rudimentar, como por exemplo, ao eunuco da Etiópia (Atos 8: 27-38) e uma catequese mais ampla e aprofundada (cf. Atos 18:26); Paulo distingue entre o trabalho de “plantar” e o d e “regar”, entre lançar os fundamentos e construir o edifício (1 Coríntios 3:6-10). Entre os “primeiros elementos da palavra de Deus" (Hebreus 5:12) são elencados a penitência e a fé em Deus, o batismo e a confirmação, a ressurreição e o juízo final (Hebreus 6: 1-3). Esta fé em Deus importava também a fé em Jesus Cristo Filho de Deus.
Desde o princípio da catequese anunciava-se a Cristo com a finalidade de propiciar um conhecimento ao menos sumário da sua vida e da sua obra (cf. At. 8:35; 10: 36-43). Em torno destes motivos fundamentais se desenvolviam gradativamente todos os outros elementos: dogmáticos, morais e históricos.
Embora fossem muitos os catequistas (Apóstolos, Evangelistas, Doutores), contudo a catequese primitiva tinha uma identidade fundamental como se pode constatar nos vários discursos dos Atos; podem-se facilmente detectar o tema e os motivos comuns na variedade das formas que a improvisação e as circunstancias sugeriram.
Sob a influência dos Apóstolos, a catequese se desenvolvia numa certa ordem seguindo uma linha comum a um esquema bem definido de doutrina (cf. Atos 2:42 “doutrina dos Apóstolos”; Romanos 6:16 “forma de doutrina”, sobretudo Lucas 1:2, faz remontar às testemunhas oculares, aos apóstolos, o programa da catequese).
Em seguida podiam delinear-se, em razão das diversas exigências do ambiente, formas particulares de catequese (ex. a de Jerusalém, dirigida particularmente a judeus ou convertidos do judaísmo; a de Antioquia, que deveria adaptar-se às exigências de um auditório misto, judeu e gentios; a de Roma, com preponderância do elemento gentio).
Esta catequese não era o produto da coletividade anônima, mas a expressão de um magistério que tinha a garantia das testemunhas mais imediatas e qualificadas (Lucas 1:2; Marcos 10:41).
A catequese dogmática e moral dos apóstolos abraçava as principais verdades dogmáticas em normas morais baseadas no ensinamento de Jesus. Desde a era apostólica já havia uma espécie de formulário, ou “sumários” que exprimiam as verdades mais elementares. Partindo de 1 Coríntios 15: “credo” 3 se pode rastrear este rudimentar que compreendia em substância os seguintes pontos:
“Deus
criador de todas as coisas enviou seu filho, nascido da estirpe de Davi, Jesus Cristo, o qual morreu por nós, foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia segundo as escrituras, está assentado à direita do Pai, e voltará sobre as nuvens do céu com poder e majestade”.
As diversas fórmulas batismais mostram que a esse núcleo pertencia também a confissão de fé trinitária e cristológica (Mateus 28: 19 com especial referência ao Espírito Santo, sem cujo conhecimento não se conferia o batismo, cf. Atos 19:3).
Como vemos a base de verdades dogmáticas na catequese apostólica coincidia substancialmente com o conteúdo do atual Credo Apostólico, que desde o século II se impôs como a expressão genuína do ensinamento dos apóstolos.
A catequese histórica teve ainda maior relevo. Importava sumamente aos apóstolos dar a conhecer, de modo cada vez mais adequado, a pessoa e a obra de Jesus, sua doutrina, seus milagres, os ritos sacramentais por ele instituídos.
Nos quadros desta catequese entravam de preferência, como se revela dos discursos nos Atos, os fatos da vida pública “desde o batismo até a morte e ascensão” (conforme o esquema traçado por Pedro: Atos 1.22), sobretudo os fatos relativos ao ministério na Galiléia, que ofereciam o maior número de milagres e uma forma de doutrina mais fácil e limitada.
II. A CATEQUESE APOSTÓLICA
PÓS-
Um documento precioso da época imediatamente depois do tempo apostólico é a Didaquê, a qual nos seis primeiros capítulos oferece um modelo de uma catequese endereçada aos catecúmenos antes do batismo.
Indica duas vias, uma que conduz à vida por meio da prática do duplo mandamento evangélico: o amor de Deus e do próximo, com a regra moral: não fazer aos outros aquilo que tu não queres que te seja feito; a outra a via da morte, que se evita com não cometer os pecados que são elencados.
Outro aspecto característico da catequese primitiva chegou até nós no conciso ensinamento doutrinal do símbolo, o qual, composto de frase contidas nos escritos dos apóstolos, teve sua redação primitiva no Credo batismal pelos fins dos século I. A fórmula “ Sancti”. (Mateus 28:19) apresenta o núcleo da parte trinitária a qual logo se acrescentou a parte cristológico (cf. Atos 8:16; 10:48; 19:5)
O Credo, uma vez composto, devia ser explicado para aqueles que se apresentavam como catecúmenos, e por isso o ensinamento desta fórmula de fé e a sua explicação, estão intimamente ligados à iniciação cristã. Com efeito, numa reunião solene o Bispo dava o texto com um comentário seu, em outras reuniões menos solenes se repetia o Símbolo, até que fosse perfeitamente decorado, e defendido contra qualquer alteração ou variantes e contra a atividade das seitas dissidentes.
Por isso o essencial das regras de fé se pode encontrar nos Pais Apostólicos, especialmente em Santo Inácio de Antioquia, e nos apologistas, em São Justino, Aristides, Santo Irineu.
As idéias principais do Símbolo que se deviam expor tanto aos catecúmenos como aos fiéis eram estas: o Messias veio; sua vida terrestre, a crucificação, sepultura, ressurreição e exaltação; ele é um verdadeiro homem terrestre, com uma mãe terrestre e é verdadeiro Deus, Filho de Deus; o milagre do seu nascimento revelado, o mistério da sua pessoa. Período em que o número de seitas se avolumaram, conseqüentemente obrigando a Igreja a formular mecanismos de auto defesa.
As duas vias e o credo representam tudo aquilo que nos resta dos temas catequéticos durante os primeiros dois séculos segundo os documentos. Felizmente, a literatura nos conservou um certo número de escritos que refletem o método e o objeto do ensinamento dado aos gentios para conduzi-los ao conhecimento das verdades fundamentais cristãs,
assim, por exemplo, a Apologia de Justino em Roma e a Exortação dos Gregos de Clemente de Alexandria, os quais insistem também com os gentios na divindade de Jesus, provada pela existência e a realização das profecias. Por outro lado, a obra de Clemente de Alexandria urge que os pagãos abandonem o paganismo e prestem ouvidos ao ensinamento salutar do Verbo encarnado que veio para libertar-nos, e nos enviou o Paracleto que nos exorta a conhecer a verdade.
Os apologistas instruem sobre duas coisas: explicam e defendem a idéia de um Deus espiritual, onipotente, transcendental. O conceito de Logos mediador, dos anjos bons e maus, demonstram as vantagem do cristianismo, apresentam a Bíblia como fonte de toda sabedoria e verdade.
Faltam porém os mistérios estritamente cristãos: a Santíssima Trindade, a Encarnação, o Pecado Original, a Redenção, a Graça, os Sacramentos. Quando, porém, os apologistas se dirigem aos fiéis, penetram profundamente no conteúdo do cristianismo: uma prova disso é a série de escrito que expõe supostas discussões entre cristãos e judeus, porém com o intento mais de confirmar na fé os fiéis do que de converter os judeus.
Embora as “apologias” não fossem uma “catequese” no sentido estrito, não deixaram de contribuir muito para a instrução do povo. Elas nos permitem conhecer os pontos delicados sobre os quais o ensinamento catequético do século II devia insistir, e formam uma espécie de pré-catequese preparatória da doutrina cristã.
Um outro elemento que a seu modo entrava na catequese é a existência dos “penitentes” e dos pecados por eles cometidos. A penitência comportava diversos graus conforme a gravidade dos pecados. As severas normas penitenciais estabelecidas para a remissão dos pecados cometidos depois do batismo nos permitem julgar qual era a instrução moral naquela época.
V.
O ensinamento doutrinal e moral da catequese antigamente não estava reservado a um tempo determinado. Mas, desde o fim do século II, o catecumenato começou a ter diversas categorias de postulantes que não se encontravam no mesmo grau de preparação, uns eram simples postulantes, outros catecúmenos no sentido estrito, outros “competentes” ou ainda neófitos – o catequista estava obrigado a proporcionar seu ensinamento à situação e às necessidades imediatas de seus ouvintes.
Evidentemente um “competente” que já há vários anos era catecúmeno e estava para receber o Batismo, devia receber uma instrução diversa de um postulante (aquele que pede com instância, implora) o qual pela primeira vez pedia para ser admitido ao catecumenato.
Era natural que quando alguém pela instrução.
, pediam-lhe uma primeira renúncia aos vícios pagãos e a promessa de aderir às obrigações da vida cristã; perguntavam-lhe os motivos da conversão, a sua profissão para poder julgar se era compatível com a nova vida que estava para iniciar. Essa primeira catequese se conservou na Traditio Apostolica de Santo Hipólito.
Ambrósio dá uma preciosa indicação sobre essa catequese: “quanto aos pagãos, é mister seguir o exemplo de Paulo no Areópago:
divindade”
Gregório, na sua G r n d C a q u ensina o método de fazer a catequese: “o mestre deve adaptar-se às várias necessidades dos candidato atos, e colocandodo-se de baixo do ponto de vista do adversário, segue-o, passo a passo, naquilo que admite. É preciso indicar os dogmas principais, quais são: a Santíssima Trindade, a Encarnação, a Redenção, depois os Sacramentos do Batismo e da Eucaristia, como também a dupla sanção na vida eterna para os bons e para os maus.” maus.”
“A
finalidade da catequese é conduzir os infiéis à fé, e por isso é preciso agir de modo diverso se tratar de um pagão que nega a unidade de Deus, ou de um judeu que não crê em Jesus Cristo, ou de um herege que erra a respeito da Santíssima Trindade, atacando a divindade de Nosso Senhor”. Senhor”.
Agostinh nho o é aind inda mais ais explic licito ito na dupla redação da sua catequese, uma mais breve, outra mais longa, a ser usada conforme o tempo disponíveis em três níveis. Quando se trata de um iletrado, antes de entrar na matéria é preci eciso pergun unttar os motivo ivos da sua vinda.
Para cada uma das três classes possíveis de ouvintes é preciso dirigir-se com uma ling lingua uage gem m difere ferent nte. e. Aos “rudes”, rudes”, isto é, àqueles que não têm instrução, o catequista falará primeiramente de Deus Criador e o fará de modo a tornar Deus amável insistindo em suaa bond su bondad adee. Dep Depois ois rec record ordará ará as diver iversa sass intervenções de Deus no mundo, em seguida a criaç riação ão até até a en enca carrnaç nação. ão. Por Por fim con onccluir luiráá falando dos fins últimos, do juízo e da ressurreição que fixa os destinos humanos.
Aos
que possuem “alguma formação”, que conhecem já um pouco da Sagrada Escritura, é preciso evitar ensinar o que eles já sabem, importa excitar neles boas disposições, lealdade, simplicidade, humanidade, para os levar a seguir os exemplos de Cristo. O fim da catequese é a imitação de Cristo.
Quanto aos “eruditos” ou instruídos, que evitam a leitura da Sagrada Escritura por causa da sua linguagem simples, é preciso mostrar que a doutrina dos livros Santos não depende da pobreza de seu estilo, que as interpretações espirituais dão grande satisfação àqueles que ficam chocados pelo sentido literal e sobretudo que os homens, por mais sábios que sejam, devem curvar seu orgulho diante da palavra de Deus. Em todo o curso da obra, Agostinho multiplica conselhos motivados por uma psicologia muito alerta para o uso dos catequistas.
Notável neste modelo de catequese é também a habilidade com a qual Agostinho ensina os artigos do Símbolo sem dizer que fazem parte da fórmula de fé, introduzindo aí toda moral cristã e sobretudo, a finalidade bem precisa que a esperança e a caridade inspirem a fé.
Assim não hesita retornar diversas vezes sobre as recompensas prometidas aos fiéis e sobre as penas reservadas aos ímpios e aos maus cristãos; desse modo procura inspirar através de temor um início do amor de Deus. Assim no período patrístico a catequese de Agostinho representa o modelo de uma catequese para principiantes
As catequeses das quais acabamos de falar são feitas para adultos que se preparam para o batismo. Ignoramos completamente como era dada, no decurso dos primeiros séculos, a formação cristã às crianças nascidas em famílias de fiéis cristãos, em certos casos pelo menos a catequese era feita no seio das próprias famílias.
Assim o pai de Orígenes Leônidas, fazia ler as Escrituras ao seu jovem filho e as explicavam. Mais freqüentemente, sem dúvida, as crianças iam à igreja com seus pais e se instruíam ouvindo as homilias. Em qualquer hipótese, não parece que a Igreja se tenha preocupado, durante os primeiros séculos, com a formação catequéticas das crianças.
s. Quando um adulto pedia para tornar-se cristão, era admitido entre os catecúmenos para poder conhecer melhor a doutrina e a prática cristã. A homilia ordinária que explicava o passo da Escritura ocorrente no ofício divino, era insuficiente por causa da reserva e da discrição devida à “disciplina ”; em tal ensinamento público se tratava somente de questões gerais de fé e de moral, ou se faziam simples alusões sumárias que para os não-iniciados permaneciam um enigma.
Impunha-se portanto uma informação suplementar para os catecúmenos. Esse ensino especial era confiado aos didaskaloi, doutores ou catequistas, clérigos ou leigos, sacerdotes ou diáconos, os quais deviam adaptar-se às necessidades atuais dos catecúmenos e ao progresso da sua preparação.
Limitava-se a uma explicação mais completa e determinada daquilo que na primeira catequese tinham ouvido, especialmente na leitura da Sagrada Escritura. Os dogmas da criação, da queda e redenção até a ressurreição e o juízo geral eram apresentados, mas sempre com a preocupação de colocar em relevo a bondade e a encarnação de Deus. Salientavam-se a encarnação do Filho de Deus, a redenção e sobretudo a moral com a explicação dos diversos preceitos do Decálogo e do duplo mandamento do amor a Deus e ao próximo.
A instrução visava sempre provocar uma adesão mais firme ao espírito de fé e de esperança em Deus. Era também terapêutica para curar os maus hábitos e o apego ao pecado. Por isso era essencialmente uma formação moral da vontade, um impulso do coração para a prática do bem, isto é, .A Bíblia e o Evangelho ofereciam um auxilio precioso para a educação.
Quando o catecúmeno passava ao tempo de preparação imediata e próxima do batismo, devia receber o complemento da sua instrução religiosa. A catequese que lhe era destinada tinha uma importância particular e foi circundada de certas solenidades. O objeto era a Criação, a Providência, a Trindade, as leis da Igreja, o Juízo, a Fé e a Ressurreição da Carne.
Conforme Agostinho a Bíblia e sua história, as verdades principais da fé e as prescrições morais continuavam a ser ensinadas. Um lugar particular era reservado ao Símbolo, formula sagrada daquilo que deve crer: cada um dos seus artigos era brevemente explicado; não era dado por escrito, mas exigia que aprendesse de cor.
Antes do batismo era recitado solenemente e depois, como o ele também era explicado e se tornava para o resto da vida a por excelência. Todas as catequeses, que nos foram conservadas, foram pronunciadas por bispos ou sacerdotes por eles delegados para a catequese.
Assim São Cirilo de Jerusalém, João Crisóstomo em Antioquia, Santo Agostinho em Hipona, foram encarregados, antes de ser bispos, da instrução dos competentes e pronunciaram célebres “ ”. Sobre o método, a natureza, o objeto e a importância de tais instruções nada melhor nos informa, que a catequese de em nome do bispo Máximo. Essa coletânea de catequese se compões de um prefácio, de dezoito catequeses endereçadas aos competentes na Quaresma.
O método adotado por Cirilo é o de uma ,
Exige-se arrepender-se dos pecados cometidos, leva-os à penitência e prepara-os, por meio da ascese,
ao batismo, dá-lhes as armas contra os erros do ambiente pagão, judeu ou herético, prepara-os para formular com precisão as verdades dogmáticas apoiando-as com argumentos tirados da razão ou da Sagrada Escritura; por fim expõe o simbolismo comovente das diversas práticas preparatórias para a iniciação.
Muito semelhante e de grande interesse são também as catequeses recentemente descobertas de , que remontam ao fim do século IV. Uma vez iniciado na vida cristã, por meio do batismo, e da Eucaristia, os neófitos ficavam durante oito dias sob a direção de seus mestres antes de serem associados à vida comum dos cristãos, e continuavam a receber algumas instruções particulares: em Jerusalém as cinco catequeses mistagógicas de São Cirilo representam este gênero de instruções.
São Cirilo discorre aí sobre o Batismo, sobre a Eucaristia, sobre a Liturgia Eucarística e a participação no corpo e Sangue de Cristo. Esta catequese mistagógica, mais breve por causa das festas pascais, não contém tudo aquilo que encontramos noutras homilias. (Iniciação ao mistérios de uma religião. Mistagogo: sacerdote que iniciava nos mistérios de uma religião, iniciador, mentor.)
MAGNO.
Na Itália, África do Norte, Espanha, Gália, numa parte da Germânia e nas Ilhas Britânicas a maioria da população tinha abraçado a fé; por isso a antiga organização do catecumenato perde a sua razão de ser, tornando-se regra o batismo das criança.
Porém, para o seu batismo se praticava ainda, durante a Quaresma, as cerimônias especiais da entrega do Símbolo e do Pater Noster , à qual, em alguns países se acrescentava a entrega dos Evangelhos e do Decálogo.
A antiga catequese preparatória ao batismo devia dar o lugar ao ensinamento pós-batismal. A Instrução primária, como obrigação natural e justa da paternidade natural ou espiritual, competia aos pais e aos padrinhos; ela permanecia porém por diversos motivos rudimentar.
Por isso os párocos a completavam; mas eles também como os outros deviam adaptar-se à capacidade das crianças e jovens e por isso reduzir o ensinamento à sua expressão mais simples. Desse modo pouco a pouco a catequese recebia a forma de catecismo moderno.
Na África, na Espanha, nas Gálias os catecúmenos e competentes continuavam a ser tratados como antes. Na Espanha onde os arianos eram numerosos em 572 o segundo Concílio de Braga indica o caminho a seguir, na Quaresma, quanto aos competentes e o ensinamento relativo aos exorcismos e ao Símbolo; os bispos na sua vida pastoral são exortados a compelir os fiéis a abandonarem os erros pagãos e as faltas graves.
Segundo Santo Isidoro o catecúmeno rejeita o culto dos ídolos e aprende que há um só Deus; o competente é instruído sobre aquilo que diz respeito aos sacramentos, aos símbolos e à regra de fé. Recebem instrução sobre o batismo a crisma e a imposição das mãos. Nas Gálias sabemos por meio de Gennadio o que se ensinava aos candidatos do batismo pelos fins do século V. Tornar mestre, perito.
São Cesário, eco fiel de Santo Agostinho, nos faz conhecer as obrigações dos pais relativas aos filhos, dos padrinhos para com seus afilhados, enumera os vícios e as superstições do tempo que devem ser abandonados quando se torna cristãos; explica os deveres dos competentes, detémse nos artigos do Símbolo que constituíam objeto da catequese preparatória ao batismo sobre a fé devida aos Símbolo, sobre a Trindade, a redenção e o último juízo.
A respeito da catequese nos séculos V e VI, nos países germânicos, celtas e anglo-saxões evangelizados por São Bonifácio, São Patrício, Santo Agostinho de Cantuária e outros, nossas informações são muito escassas. Mas a vida de Santo Elígio, escrita no século VI, enumera um grande número de superstições que os convertidos deviam abandonar. Nem sempre a catequese preparatória era suficiente para superar o paganismo com suas superstições, apesar de conter as verdades estritamente necessárias para a fé e os deveres a serem praticados pelos cristãos.
O Concilio de Leptines (743) elenca o conceito das catequeses batismais: a proclamação de um só Deus, Criador do céu e da terra, o qual envia sue Filho ao mundo e da economia da redenção. Apresenta também a questão dos novíssimos, do juízo geral, da sanção das recompensar ou das penas eternas. No seu ul paganiarun o Concilio enumera cerca de 30 superstições, e os erros e defeitos que se devem evitar.
Desse modo, da catequese ao batismo, fiel à tradição dos primeiros séculos, continua a ensinar as mesmas verdades principais e essenciais da religião cristã, embora, pouco a pouco, por causa do batismo das crianças, fossem ensinadas depois do batismo, numa idade conveniente e apta, dando assim origem àquilo que nós chamamos hoje o catecismo.
O MAGISTÉRIO DA IGREJA NA EDUCAÇÃO DOS POVOS BÁRBAROS.
Toda a matéria prima de nossa civilização intelectual nos veio de Roma. É possível prever, portanto, que nossa pedagogia, os princípios fundamentais de nosso ensino vieram até nós da mesma fonte, pois o ensino não é senão o atalho da cultura intelectual do adulto.
Mas, quais a via e a forma dessa transformação? Os povos germânicos, se não todos, pelo menos os que deram seu nome a França, eram bárbaros insensíveis a todos os refinamentos da civilização.
Letras, artes, filosofia eram para eles coisas sem valor; sabemos até que os monumentos da arte romana despertavam neles somente ódio e desprezo. Entre eles e os romanos, pois, havia um verdadeiro vazio moral que devia, ao que parece, impedir qualquer comunicação, qualquer assimilação entre esses dois povos.
Como essas duas civilizações eram tão estranhas uma para com a outra, não podiam, parece, senão rejeitar-se uma a outra. Felizmente, entretanto, houve, não de imediato talvez, porém muito rapidamente, um lado pelo qual essas duas sociedades, que mantinham entre si relações de antagonismo e exclusão mútua, assemelhavam-se, pelo qual elas se pareciam, pelo qual estavam próximas uma da outra e podiam comunicar-se entre si.
Muito cedo, um dos órgãos essenciais do Império Romano prolongou-se na sociedade francesa, estendeu-se e desenvolveu-se nela, sem por isso mudar de natureza; é a IGREJA. E a Igreja é que serviu de mediadora entre os povos heterogêneos, ela foi o canal pelo qual a vida intelectual de Roma conheceu uma progressiva transfusão nas nova sociedades que estavam em via de formação. E é precisamente pelo ENSINO que essa transformação se realizou.
À primeira vista, é verdade que pode parecer surpreendente que a Igreja mesmo continuando identificada consigo mesma, tenha podido arraigar-se e prosperar em meios sociais tão radicalmente diferentes. O que caracterizava essencialmente a Igreja e a moral que trazia para o mundo, era o desprezo pelas alegrias deste mundo, pelo luxo material e moral; propunha substituir a alegria de viver pelas alegrias mais severas da renúncia. Nada mais natural que semelhante doutrina tivesse conseguido agradar ao Império Romano, cansado de longos séculos de hipercivilização.
Só traduzia e consagrava o sentimento de sociedade e desgosto que, havia já muito tempo, trabalhava a sociedade romana e que o epicurismo e o estoicismo já haviam expressado à sua maneira. Tinham-se esgotado todos os prazeres a serem proporcionados pelos refinamentos da cultura; havia, pois, uma grande disposição para acolher, como sendo uma salvação, uma religião que vinha revelar aos homens uma fonte toda diferente de felicidade. Mas como essa mesma religião, nascida em meio a uma sociedade envelhecida e em decomposição, pôde ser aceita com tanta facilidade por povos jovens que, longe de ter abusado das alegrias deste mundo, ainda não as experimentaram, e longe de estar cansados da vida, mal ingressavam nela!
Como puderam sociedades tão robustas, tão vigorosas, tão transbordantes de vitalidade, submeter-se com tanta espontaneidade a uma disciplina rígida que os mandava, antes de tudo, conter-se, privar-se, renunciar? Como puderam esses apetites fogosos, impacientes com qualquer moderação e qualquer freio, acomodar-se com uma doutrina que lhes recomendava, acima de tudo, comedir-se e limitar-se? A oposição é tão marcante que autores não temem em admitir que toda a civilização da Idade Média continha, no princípio, uma contradição interna e constituía uma antinomia viva.
Diante disto, o CONTEÚDO e o INVÓLUCRO, a forma e a matéria dessa civilização contradiziam-se e negavamse mutuamente. O conteúdo era a vida real dos povos germânicos, com suas paixões violentas, indomáveis, sua necessidade de viver e gozar, e o invólucro era a moral cristã com sua concepção de sacrifício e de renúncia, seu gosto tão marcado pela vida restrita e regimentada. Mas, se a civilização medieval tivesse mesmo abrigado em seu seio uma contradição tão flagrante, uma autonomia tão insolúvel, ela não teria durado. A matéria teria quebrado essa forma, que lhe era tão pouco adequada; o conteúdo teria acabado com o invólucro; as necessidades experimentadas pelos homens teriam provocado a explosão da rígida moral que os comprimia.
Na verdade, porém, havia um lado pelo qual a doutrina cristã encontrava-se em perfeita harmonia com as aspirações e a mente das sociedades germânicas. Era, por excelência, a religião dos pequenos, dos modestos, dos pobres, material e espiritualmente pobres. Exaltava as virtudes da humildade, da simplicidade, tanto intelectual como material. Apregoava a simplicidade dos corações e das inteligências. Ora, por serem povos crianças, os germanos também eram simples e humildes. Seria um erro imaginar que eles levavam uma vida de desregramentos passional. Antes, sua existência era feita de jejuns involuntários, de privações forçadas, de duras tarefas interrompidas, mas, apresentando-se qualquer oportunidade, por orgias violentas, porém intermitentes.
Povos nômades, ainda ontem, não podiam ser senão povos pobres, miseráveis, de costumes simples e que haviam, naturalmente, de acolher com alegria uma doutrina que glorifica a pobreza, que louva a simplicidade dos costumes. Essa civilização pagã, que a Igreja combatia, não lhes era menos odiosa do que o era para a própria Igreja; cristãos e germanos eram igualmente inimigos dela, e esse sentimento comum de hostilidade, aversão, aproximava-os estreitamente, porque uns e outros tinham ante de si o mesmo adversário. Assim a Igreja não temia colocar os bárbaros acima dos gentios, manifestando uma verdadeira preferência pelos primeiros: “Os bárbaros, diz Salvien aos romanos, são melhores dos que vocês”.
Havia portanto uma potente afinidade, uma secreta simpatia entre a Igreja e os bárbaros; e isso é que explica como a Igreja havia podido fundar-se e implantarse com tanta força entre eles. É que ela respondia a suas necessidades, suas aspirações; que lhes trazia um reconforto moral que não encontravam em outra parte. Mas, por outro lado, era de origem greco-latina e não podia senão manter-se fiel a suas origens.
Formara-se e organizara-se no mundo romano; a língua latina era sua língua; era toda civilização romana. impregnada de Conseqüentemente, ao introduzir-se nos meios bárbaros, introduzia, ao mesmo tempo essa mesma civilização da qual não podia desfazerse, por mais que quisesse, e tornou-se assim a professora natural dos povos convertidos. Esses só pediam à nova religião uma fé, um suporte moral; mas, em compensação, encontraram uma cultura como corolário dessa fé.
Se a Igreja realmente exerceu esse papel, o preço foi, no entanto, uma contradição contra a qual lutou durante séculos sem nunca sair dela. Com efeito, nesses monumentos, literários e artísticos da Antiguidade, vivia-se e respirava-se esse espírito pagão que a Igreja se dera a tarefa de destruir, sem contar que, de maneira geral, a arte, a literatura e a ciência só podiam inspirar idéias profanas e desviá-los do único pensamento ao qual deviam dar-se por inteiro, o pensamento de sua salvação. A Igreja, pois, não podia abrir sem escrúpulo e preocupação um espaço às letras antigas.
Assim, posteriormente, os religiosos, entre eles Agostinho de Hipona, enfatizavam os perigos aos quais se expunha o cristão que se entregava sem medida aos estudos profanos. Multiplicavam as recomendações para que fossem reduzidos ao mínimo, mas, por outro lado, ele não poderia dispensá-los.
Contra sua vontade, tinham a obrigação de não os proibir. Com efeito, em primeiro lugar, o LATIM era, pela força das coisas, a língua da Igreja, a língua sacra, na qual eram redigidos os cânones da fé. Ora, onde aprender o latim senão nos monumentos da literatura latina? Podiam ser escolhidos com discernimento, em pequeno número, mas, de uma maneira ou outra, eram necessários.
Por outro lado, enquanto o paganismo era sobretudo um sistema de práticas rituais, apoiado, talvez, numa mitologia, porém vaga, inconsistente e sem força expressamente obrigatória, o cristianismo, ao contrário, era uma religião idealista, um sistema de idéias, um corpo de doutrinas. Ser cristão não era praticar de acordo com as prescrições tradicionais tal ou tal manobra material, mas sim aderir a certos artigos de fé, partilhar certas crenças, admitir certas idéias.
Ora, para inculcar práticas, um simples adestramento basta ou até é o único eficiente, mas idéias e sentimentos não podem comunicar-se senão através do ensino, quer esse ensino seja dirigido ao coração ou à razão, ou a ambos ao mesmo tempo.
Por isso é que, logo que foi fundado o cristianismo, a PRÉDICA, desconhecida na Antiguidade, assumiu um lugar importante; pois predicar, é ensinar. Ora, o ensino supõe cultura, e não havia então outra cultura senão a pagã. A Igreja tinha, pois, a obrigação de apropriar-se a ela. O ensino, a prédica supõem, em quem ensina ou prega, uma certa prática de língua, uma certa dialética, um certo conhecimento, senão nas obras dos antigos!
O simples fato de que a doutrina cristã fosse complexa nesses livros, que ela se expressasse diariamente em orações ditas por cada fiel e das quais devesse conhecer não só a letra como também o espírito, obrigava não só o padre, mas também o leigo, a adquirir uma certa cultura.
Isso é o que Santo Agostinho demonstrava em seu De Doctrina Christiana . Mostra ele que, para se ente entend nder er bem bem as Sagra Sagrada dass Escr Escritu itura ras, s, é preciso possuir o conhecimento aprofundado da língua e das próprias coisas que entram nessas figuras ou nesses símbolos! A história é indispensável para a cronologia. A própria retórica é uma arma que o defensor da fé não pode dispensar: pois, por que ficaria fraco e desarmado frente ao erro que deve combater?
Essas eram as necessidades superiores que obrigavam a Igreja a abrir escolas, bem como a abrir nelas um lugar para a cultu ltura pagã. As primeiras escolas desse gênero foram as que se abriram junto às catedrais. Os alunos eram sobretudo jovens que se preparavam ao sacerdócio; mas também eram recebidos simples leigos que não tinham decidido ainda abraçar o santo ofício. Os alunos viviam juntos em CONVICTS , formas muito novas e muito particulares de estabelecimentos estabelecimentos escolares.
Sabe Sabemo moss espe especi cial alme ment ntee que que Sant Santoo Agos Agostitinh nhoo fundou em Hipona um Convict desse gênero, do qual saíram, conforme relata ata um biógrafo do santo, Possidius, dez bispos famosos pelos seus conhecimentos e que, por sua vez, fundaram em seus bispados estabelecimento iguais. Naturalmente, e pela força das coisas, a instituição propagou-se no Ocidente. Mas o clero secular não foi o único a suscitar escolas. Logo que apareceu, o clero regular cumpriu o mesmo papel. A influência monacal não foi inferior à do episcopado.
Sabe-s be-see, como como desde sde os prim primeeiro iros sécu éculos los do cris cristtian ianismo ismo a doutrina da renuncia deu lugar à instituição monástica. A melhor maneira de escapar à corrupção do século não era a saída total desse último? Assim, desde o século III e IV vê-se multiplicarem as comunidades de homens e mulheres desde o Oriente até a Gália.
As conseqüentes invasões e mudanças de todo o tipo aceleraram o movimento. O mundo parecia estar a ponto de acabar: orbis ruit, o mundo desaba por todos os lados, e multidões escapavam para locais desertos. Desde o início, porém, o cristão monacal distinguiu-se do hindu monacal, por exemplo, na medida em que jamais foi contemplativo.
É que o cristão é obrigado a cuidar não só de sua salvação pessoal como também a da humanidade. Seu papel é o de preparar o reino da Verdade, o reino de Cristo; não só em sua consciência, mas também no mundo. A verdade que possui não pode ser piedosa ou zelosamente conservada só para ele, mas deve ser difundida ativamente ao seu redor.
Deve abrir à luz os olhos que não vêem, deve levar a palavra de vida aos que a desconhecem ou não a ouviram, deve recrutar novos soldados para Cristo. Para isso, é indispensável que não se encerre num isolamento egoísta; é preciso que, ao mesmo tempo em que foge do mundo, mantenha relações com ele. Assim é que os monges não foram simples solitários meditativos, mas sim ativos propagadores da fé, pregadores, conversores, missionários.
Assim é também que ao , na qual não só os candidatos à vida monacal como também as crianças de todas as condições e de todas as vocações vinham receber uma instrução ao mesmo tempo religiosa e profana. za
E porque nossa organização escolar, em toda sua complexidade, derivou mesmo dessa célula primitiva, é que ela também nos explica, e somente ela pode, alguns dos caracteres essenciais que têm apresentado ao longo de sua história ou manteve até os dias de hoje.
Em primeiro lugar, podemos entender agora por que o ensino permaneceu sendo por tanto tempo na França, em todos os povos da Europa, aliás, uma coisa de Igreja e como um anexo da religião; por que, mesmo após o momento em que os professores deixaram de ser padres, eles conservaram entretanto, e isso por muito tempo, deveres sacerdotais (em particular o dever do celibato).
Observando-se, numa época um pouco mais avançada, essa absorção do ensino pela igreja, poderíamos ter a tentação de ver nela o resultado de uma engenhosa política; poderíamos acreditar que a Igreja apropriou-se das escolas para pôr um obstáculo a qualquer cultura que fosse de natureza a prejudicar a fé.
Na verdade, essa dependência vem simplesmente do fato de que as escolas começaram sendo obra da Igreja; a Igreja é que lhes deu vida, e assim viram-se, desde seu nascimento, desde sua concepção por assim dizer, marcadas por um caráter eclesiástico, do qual cumpriu esse papel, é porque só ela podia exercê-lo.
Somente ela pôde servir de professora aos novos bárbaros e iniciá-los na única cultura então existente, a cultura clássica. Pois, como estava ligada ao mesmo tempo à sociedade romana e às sociedades germânicas, como, de alguma maneira, ela tinha duas faces e dois aspectos, como, mesmo conservando pontos de ligação com o passado, ela se orientava para o futuro, ela podia, somente ela, servir de ligação entre esses dois mundos tão díspares.
Vimos, ao mesmo tempo, porém, que esse embrião de ensino continha em si uma espécie de contradição. Formavam-no dois elementos que num certo sentido chamavam-se e completavam-se um ao outro, mas que, ao mesmo tempo, excluíam-se mutuamente. Havia, por um lado, o elemento religioso, a doutrina cristã; por outro, a civilização antiga e todos os empréstimos que a Igreja viu-se forçada a fazer, isto é, o elemento profano.
Para defender-se e estender-se, vimos que a Igreja era obrigada a apoiar-se numa cultura, e essa cultura não podia ser senão pagã, pois não existia outra. É evidente, porém, que as idéias extraídas dela contrastavam com as que estavam na base do cristianismo. Entre umas e outras, havia todo o abismo que separa o sagrado do profano, o leigo do religioso.
Assim, explica-se um fato que domina todo nosso desenvolvimento escolar e pedagógico; embora a escola houvesse começado sendo essencialmente religiosa, por outro lado, logo após sua constituição, viu-se nela sua própria tendência a assumir um caráter cada vez mais leigo. É que, ao aparecer na história, ela já levava consigo um princípio de laicidade. Princípio esse que ela não recebe de fora, de uma maneira desconhecida, ao longo de sua evolução; era-lhe congênito.
Fraca e rudimentar em seu início, cresceu e desenvolveu-se; passou, pouco a pouco, do segundo plano ao primeiro, embora existisse desde a origem. Desde a origem, a escola levava consigo o germe dessa grande luta entre o sagrado e o profano, o leigo e o religioso. A organização exterior desse ensino nascente já apresenta, porém, uma particularidade essencial que caracteriza todo o sistema que se seguiu.
Na Antiguidade, o aluno recebia sua instrução de professores diferentes uns dos outros e sem nenhuma ligação entre eles. O aluno ia aprender a gramática na casa do gramatista ou do literato, a música na casa do citarista , a retórica na casa do reto r, etc. Todos esses diversos ensinamentos juntavam-se nele, mas ignoravam-se mutuamente.
Era um mosaico de ensinamentos diferentes cuja ligação era meramente externa. Vimos que a situação era totalmente oposta nas primeiras escolas cristãs. Todos os ensinamentos reunidos eram dados num mesmo local e, portanto, submetidos a uma mesma influência, a uma mesma direção moral.
Era a que emanava da doutrina cristã; era a que fazia as almas. À dispersão de outrora sucedia-se, portanto, uma unidade de ensinamentos. O contato entre os alunos e os professores dava-se, entretanto, a todos os instantes; essa constância de relações, com efeito, é o que caracteriza o CONVICT , uma primeira forma do internato. Ora, essa concentração do ensinamento constitui uma inovação fundamental, que testemunha a profunda mudança ocorrida na concepção que se tinha da natureza e do papel da cultura intelectual.
O cristianismo teve muito rapidamente a sensação de que, sob esse estado particular da inteligência e sensibilidade, existe em cada um de nós um estado profundo donde derivam os primeiros e onde eles encontram sua unidade; e esse estado profundo é que deve ser alcançado, caso se queira realmente agir como educador, exercer uma ação durável.
Teve ele o sentimento de que formar um homem não é adornar sua mente com certas idéias, nem fazê-lo contrair hábitos particulares, mas sim criar nele uma disposição geral da mente e da vontade que lhe faça ver as coisas em geral sob uma nova luz dada. É fácil entender, pois, como o cristianismo teve essa intuição. É que, conforme mostramos, para ser cristão, não basta ter aprendido isso ou aquilo, saber discernir certos ritos ou enunciar certas fórmulas, conhecer certas crenças tradicionais.
O cristianismo consiste essencialmente numa certa atitude da alma, num certo habitus de nosso ser moral. Suscitar essa atitude na criança será a meta fundamental da educação. Isso é que explica o aparecimento de uma idéia totalmente ignorada pela antiguidade e que, ao contrário, exerceu no cristianismo um papel considerável: é a idéia de conversão.
Com efeito, uma conversão tal como o cristianismo a entende, não é a adesão a certas concepções particulares, a certos artigos de fé dados. A verdadeira conversão é um profundo movimento com o qual a alma inteira, ao virar para uma direção totalmente nova, muda de posição, de base, e, conseqüentemente, modifica seu ponto de vista sobre o mundo.
Trata-se tão pouco de adquirir um certo número de verdade que esse movimento pode realizar-se de maneira instantânea. Pode ocorrer que, abalada até em sua base por um golpe repentino e forte, a alma efetue esse movimento de conversão, ou seja, que ela mude brusca e repentinamente sua orientação.
É o que ocorre quando, para usarmos a terminologia consagrada, ela é repentinamente tocada pela graça. Então, numa espécie de reviravolta, num piscar de olho, verse-á perspectivas totalmente novas; revelam-se a ela realidades não suspeitadas, mundos ignorados; ela vê, sabe coisas que ignorava totalmente, momentos antes.
Mas esse mesmo deslocamento pode dar-se lentamente, sob uma pressão gradual e insensível; e isso é o que ocorre pelo efeito da educação. Só que, para poder agir com tanta força sobre as profundezas da alma, é necessário, naturalmente, que as diversas influencias às quais o homem é submetida, não se dispersem em direções divergentes, mas sim que sejam, ao contrário, energicamente concentradas para uma mesma meta.
Chega-se a esse resultado somente fazendo as pessoas viverem num mesmo meio moral, que lhes esteja sempre presente, que as envolva por todas as partes, para a ação do qual elas não possam, por assim dizer, escapar. Assim, explica-se a concentração de todos os ensinamentos, até de toda a vida, desde os primeiros dias na escola, tal como a Igreja a organizou. (Durkheim, 2002)
MISSIONÁRIOS CRISTÃOS E A EVANGELIZAÇÃO DOS GERMÂNICOS E FRANCOS
ULFILAS (Lobinho) foi o nome dado a um rapaz de sangue nobre, nascido de pais cristãos, em a. D. 311 da Capadócia, Ásia Menor. Numa incursão dos Godos vindos do Rio Danúbio, em meados do século IV, Ulfilas foi feito prisioneiro e levado para a terra deles, como escravo. O rei dos Godos, Alarico, gostou de Ulfilas e mandou-o para Constantinopla como adjunto à embaixada real, onde ficou durante dez anos.
Foi naquela grande cidade que decidiu voltar à terra de sua escravidão, não como escravo, mas como missionário. Os pais na Capadócia tentaram desviá-lo do seu propósito e conservar o filho ao pé deles, mas Ulfilas não foi desobediente à visão celestial, e em 341 a. D. estava outra vez entre os Godos, ao norte do Danúbio. Pelo favor de Deus não era mais escravo corporal, mas sim escravo espiritual pronto a servir o seu Senhor, Jesus Cristo.
O que torna especialmente interessante o trabalho de Ulfilas é o fato de um escravo ter se tornado o salvador dos seus captores e que, além de lhes pregar o Evangelho, ainda deu à Nação inteira, um alfabeto e literatura. Até à sua chegada, os Godos não sabiam o que era a língua escrita. Ulfilas inventou para o povo Godo um alfabeto, modificando os caracteres gregos e juntando-lhes algumas letras, para representar sons da língua gótica que não existiam no grego.
Nisto Ulfilas foi contra todos os cânones do ensino corrente daquela época, que generalizaram a idéia de que só às línguas gregas e latinas eram idôneas para a tradução das Santas Escrituras. Traduziu na língua Gótica toda a Bíblia, exceto os livros dos Reis porque temeu que a história das guerras sanguinárias dos reis dos israelitas despertasse as paixões bélicas dos Godos, já de si afamados guerreiros.
Só a tradução do Novo Testamento chegou aos nossos dias, existindo ainda um exemplar na Universidade de Upsala na Suécia. Este exemplar é conhecido pelo nome de “A Bíblia de Prata ” porque as letras foram escritas com tinta de prata sobre púrpura. O manuscrito é preciosismo sendo o mais antigo manuscrito teutônico na língua daquela remota época. A língua gótica, tal qual se encontra nas traduções de Ulfilas, constituiu a língua mãe de todas as línguas do Norte da Europa: alemã, escandinava e a moderna anglo-saxônica. Ulfilas era de crença ariana.
Um dos missionários de grande destaque entre os gauleses - hoje chamados franceses foi Martinho, Bispo de Tours (316- 400 a. D.). Não foi ele que introduziu o Cristianismo no país, porque no século II já existiam igrejas, possivelmente fundadas por intermédio de negociantes vindos da Palestina, Ásia Menor e especialmente de Éfeso e também por soldados romanos oriundos de diversas partes do Império.
Irineu, amigo do mártir Policarpo, pregou o Evangelho em diversas partes da Gália. Policarpo era discípulo de João Evangelista e assim a Igreja na França teve ligações com a Igreja mãe de Éfeso onde João findou os seus dias. Foi, porém, Martinho com o seu grande zelo, que propagou, até então, era desconhecida a Palavra de Deus.
Antes de se converter, Martinho de Tours era soldado nos exércitos do Imperador Constantino, o que explica a sua maneira singular de convencer e converter os pagãos. Organizou os seus monges numa espécie de exército, não para matar homens, mas para destruir com ferramentas e instrumentos adequados, os ídolos, as árvores sacras e os templos dos pagãos. Desta maneira procurou acabar de vez com os vestígios do paganismo nas comunidades onde o Cristianismo tinha entrado.
Martinho de Tours é o padroeiro da França e o seu dia é de festa eclesiástica. É também venerado na Escócia e na Alemanha. Durante muitos anos o jazigo onde se guardavam os seus restos mortais, era tido como lugar sagrado onde se produziam milagres. A sua divisa: “Non recuso laborem”, serviu de lema aos missionários em toda a parte da Europa Ocidental.
Romano 13.13-14 “Andemos dignamente, como em pleno dia, não em orgias e bebedices, não em impudicícias e dissoluções, não em contendas e ciúmes; mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo, e nada disponhais para carne, no tocante às suas concupiscências.”
Em Hipona, à entrada da África cristã, brilhou Agostinho cujo pensamento e obras pertencem ao patrimônio universal. O agostianismo é uma das formas originais da filosofia cristã. Convertido do prazer e do neoplatonismo, durante seus trinta e quatro anos de episcopado, desenvolveu uma atividade que ultrapassará em muito os limites de sua pequena diocese. Seus sermões tinham por objetivo instruir seu povo.
A vida de Agostinho está intimamente ligada à história do cristianismo. Este cristianismo debatia-se interna e externamente dentro de um Império que esforçava-se para restabelecer uma situação política ameaçada. Agostinho conheceu em Cartago, em Roma, e em Milão, o sobressalto do Império. Os bárbaros estavam às portas. Agostinho em 24 de agosto de 410 viu a queda de Roma, sob os golpes dos visigodos de Alarico.
A formação acadêmica de Agostinho. Podemos classificá-lo como romano da África, cujos ancestrais teriam se naturalizados em massa. Agostinho nasceu no dia 13 de novembro de 354 em Tagaste, atual Souk-Ahras, na Argélia. Seu pai era um patrício pagão, ao que parece, um modesto vereador da pequena burguesia.
A sua mãe, Mônica, cristã praticante, era uma mulher da elite. Deste casal, bastante modesto, nasceram três filhos: dois rapazes, Agostinho e Navigius, e uma moça. Os pais sacrificam-se para lhes dar uma vida melhor providenciando educação para todos. Neste “Cursos Studiorum”, Agostinho completou o ciclo primário em Hipona e foi para Madaura freqüentar o secundário, depois para Cartago, para terminar sua formação intelectual.
Agostinho ainda inexperiente quanto à vida, porém, pensador profícuo era excelente nas letras latinas, no entanto, sem dominar completamente o grego. Conhecia autores latinos de cor e citava-os livremente e com gosto; Virgílio e Terêncio, poetas por excelência; Salústio, mestre-historiador, cujas inflexões arcaica e estilo expressivo admirava; o grande Marcos Tullius Cícero, advogado, homem político e orador.
Tendo a base de uma sólida vocação pedagógica, ele ultrapassará o nível do (mestre-escola). Sucessivamente seria: Gramaticus (iniciador lingüístico e comentador dos clássicos); depois Rhetor (professor de eloqüência). Neste último estágio, Agostinho detestava a idéia de ser conhecido por “ palavras” à maneira dos sofistas, mas pretendia com grande entusiasmo formar discípulos.
Estabelecendo-se em Tagaste, o grammaticus superava o seu projeto, tornando-se defensor do maniqueismo. Ligado aos “maníqueus” (seguidor do persa Manes 277 d. C.), o jovem mestre adota a “gnose” (conhecimento) que serve de base a uma metafísica dualista. Dois princípios estão em luta perpétua: o bem, sintetizado pela luz; o mal, figurado pelas trevas; juntos teriam gerado o universo. O homem, necessariamente escravo deste antagonismo, não seria mais do que um brinquedo entre eles.
De longe, sua mãe, viúva, lamenta-se deste filho pródigo, assíduo aos jogos do circo, chefe de fila da juventude dourada. Foi para Roma (383), depois para Milão (384), orador consagrado, onde pôde visar os postos elevados: presidente do supremo Tribunal; ou até governador de província, nada menos! A ambição dominará seus projetos? Não, porque os acontecimentos, sinais de Deus, vão transformar tudo. Agostinho descobre o neoplatonismo das Enêidas de Plotino e dos tratados de Porfírio, passa, em seguida, as cartas Paulinas.
Em Milão, o orador oficial, Agostinho (agora com trinta e dois anos), encontra o bispo do lugar, Ambrósio. Sob os auspícios deste grande homem, antigo legado consular e agora bispo, tudo ocorrerá muito depressa. E o bispo confiou a Mônica a sua premonição espiritual: “ ” Aquele que andou por tantos e desconhecidos caminhos finalmente irá encontrar o verdadeiro, porém, apertado caminho que o levará aos ternos braços do seu Senhor. Como o apóstolo Paulo, um lutador, derrubado pelo céu.
Imediatamente após as leituras das cartas paulinas aconteceu a famosa cena do jardim, evocada nas confissões 8.28-30. Uma voz misteriosa ordena: “ ol e, Lege” (toma e lê!) O interpelador abre as cartas e toma para si a passagem em que os seus olhos caem: “vivamos honestamente como em pleno dia: não em orgias e bebedeiras, prostituições e libertinagem, brigas e ciúmes. Mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo e não sigais os desejos dos instintos egoístas.” (Romanos 13.13-14) É o suficiente para começar uma nova vida. No final de agosto, depois das férias, já cristão, Agostinho parte para o Cassiciacum com um grupo de familiares, depois de ter assinado a sua demissão de professor.
Agostinho foi batizado por Ambrósio, em Milão, na noite de 24 ou 25 de abril de 387, agora estará pronto para regressar à África. No final do outono de 388, órfão aos trinta e quatro anos, partiu para África. Durante três anos, instalou-se em Tagaste, levando aí uma existência monacal de estudo e oração. É no inicio deste período, em 389, que morreu Adeodato, ainda muito jovem, seu filho.
Quanto à sua ordenação sacerdotal foi improvisada, em 391, por ocasião de uma viagem à Hipona. O bispo do lugar, Valério, impõe as mãos ao eleito do povo que será seu coadjutor, antes de lhe suceder. Um episcopado de trinta e quatro anos permite ao pastor, entre outras coisas, uma luta constante contra as heresias, apoiada por uma obra que fez de Agostinho o pai latino mais fecundo. Deste modo, o homem, o teólogo e o escritor vão poder desenvolver-se e brilhar. (Jean Huscenot, p.98)
Todos conhecem as devastações causadas, desde o século IV, especialmente nos meios africanos, por Donato, bispo Númidia, revoltado contra o patriarcado de Cartago. Segundo este dissidente, os cristãos confessos que se envolviam com pecados, deveriam ser excluídos da igreja para sempre. Nesse campo Agostinho lutou bravamente. E, em junho de 411 ocorreu a condenação de Donato no concílio de Cartago.
Entre muitas lutas travadas por Agostinho uma das mais difíceis foi contra Pelágio. Trata-se do monge britânico que no debate sobre a graça, priorizava a liberdade humana, já que o pecado de Adão argumentava ele, “se reduz a um simples mau exemplo, a liberdade continua salva, assim como também as possibilidades da natureza humana.” Os erros sistematizados por Juliano de Eclane, provocou duas réplicas agostinianas, especialmente no seu tratado clássico datado de 412. “ ”
O império romano encontrava-se ameaçado por todos os lados, pois contra ele, avançavam os impetuosos bárbaros. Depois que Roma foi saqueada, as tropas do visigodo penetraram na Gália e os Burgúndios instalaram-se ao longo do Reno. Em 425, os vândalos tomaram Segóvia e Cartago. Hipona certamente seria a próxima. Em 430, o conde Bonifácio, acossado por todos os lados, refugiou-se lá e não resistindo foi derrotado.
No terceiro mês desse assédio severo, Agostinho, com setenta e dois anos, adoeceu. Assistido por alguns fiéis, no dia 28 de agosto de 430 morreu na sua cidade Episcopal tão amada, atacada pelos inimigos de Roma. Antes de falecer, ele repete o seu comentário do salmo 136: “ aproxima.” Assim morreu o grande Agostinho, no meio de uma ordem social destruída, mas na invencível esperança do reino celeste, e resplandecente “ Deus”.
TEXTO Do Comentário sobre a Carta aos Gálatas. Disse o Apóstolo: Sede como eu. Embora judeu por nascimento, desprezo em meu espírito as prescrições segundo a carne. Porque também eu, como vós, sou homem. Em seguida, com delicadeza, ele os faz reconsiderar sua caridade, para que não o tratem como inimigo. Assim fala: irmãos, suplico-vos, não me ofendestes em nada. Como se dissesse: “não julgueis que desejo ofender-vos”.
Por isto diz ainda: filhinhos, para que o imitem como pai. A quem, continua, dou de novo à luz até que Cristo se forme em vós. Fala principalmente na pessoa da Igreja, pois declara em outro lugar: Tornei-me pequenino entre vós, como mãe que acalenta seus filhos. No crente, Cristo se forma, pela fé, no homem interior, chamado à liberdade da graça, manso e humilde de coração, que não se envaidece pelos méritos de suas obras, que são nulas. Se ele começa a ter algum mérito, deve-o à própria graça. A este pode chamar seu mínimo e identificá-lo consigo aquele que disse: O que fizestes a um dos mínimos meus, a mim o fizestes. Cristo é formado naquele que recebe a forma de Cristo. Recebe a forma de Cristo quem adere a Cristo com espiritual amor. Disto decorre que, imitando-o, se torne o que ele é, na medida que lhe é possível. Quem diz estar em Cristo, fala João, deve caminhar como também ele caminhou.
Visto como os homens são concebidos pelas mães para se formar e, uma vez formados, são dados à luz do nascimento, surpreendem-nos as palavras: de novo dou à luz até que Cristo se forme em vós. Temos de entender este novo parto como a aflição dos cuidados que ele suporta por aqueles pelos quais sofre até que Cristo nasça. De novo sofre as dores do parto por causa da sedução perigosa que os perturba. Semelhante solicitude a respeito deles, que o faz dizer estar em dores do parto, pode continuar até que cheguem à medida da idade perfeita de Cristo, de maneira que já não se deixem levar por todo vento de doutrina.
Não está solícito, portanto, em relação à fé inicial deles, pois já haviam nascido, mas quanto a seu fortalecimento e perfeição. Assim é que ele diz: A quem de novo dou à luz, até que Cristo se forme em vós. Com outras palavras refere-se ao mesmo sofrimento: Os meus cuidados de todos os dias, a solicitude por todas as Igrejas. Quem se enfraquece sem que eu também me torne fraco? quem tropeça, que eu não me ponha a arder? (Liturgia das horas, Vol. III, p. 162-163.)
PALAVRA. Grande é a preocupação do bispo de Hipona no que se refere ao texto bíblico e seu sentido, não menor é seu desejo de ser compreendido pelo povo simples que o escuta. Diante da Palavra, ele focaliza três aspectos determinantes: o pressuposto pela Palavra, seus riscos e a situação ou lugar onde a Palavra é proclamada.
A pregação da Palavra supõe um prévio. Ela não é apreendida no improviso, mas exige uma cultura. Isto o leva a interrogar-se se há uma cultura necessária a quem quer pregar a Palavra de Deus. A resposta afirmativa se encontra em seu pequeno livro De Doctrina Christiana, que teve uma grande influência na Idade Média e foi considerado como sendo um complemento à obra de São Jerônimo. De fato, Santo Agostinho explica longamente com quais princípios deve-se ler a Bíblia, embora não seja este o tema principal deste seu trabalho.
O problema se torna agudo quando, ao falar da cultura, se quer designar a cultura clássica. Neste sentido, Agostinho julga-a dispensável, pois no interior da Bíblia e dos escritos dos Santos Pais há toda uma Paidéia. Sua obra constitui assim um convite aos cristãos e, particularmente, aos sacerdotes, para compreenderem a Bíblia que lhes fornece também a cultura necessária para a pregação. A verdadeira eloqüência cristã se adquire no contato com a Bíblia e com os mestres cristãos.
Acrescenta, todavia que a retórica é útil, pois concede uma técnica para utilização da palavra. Para pregar é necessário ter uma cultura cristã, encontrada na Bíblia e nos autores cristãos. Mas a técnica, fruto da retórica, se haure junto aos autores pagãos. E esta pode ser útil ao pregador. Como exemplo Agostinho relata ter feito cessar um costume bárbaro, graças à arte da retórica.
Em Cesaréia da Mauritânia, com efeito, cada ano, numa época determinada, a cidade inteira se dividia em dois campos que lutavam até à morte com golpes de pedras. Este tipo de combate já se tornara um costume, chamava-se caterva, e se realizava todo ano com um grande número de vítimas. Solicitado a pregar a respeito deste evento, Agostinho obteve sucesso graças à força de sua retórica, o que o leva a se preocupar com o poder que ele exerce sobre as multidões, temendo que elas se liguem mais à sua palavra do que a Deus.
Movido por tal preocupação, Agostinho distingue a potestas, que provém de Deus, e o ministerium, que é próprio do homem: “A condição humana seria aviltada se Deus parecesse se recusar a dirigir sua Palavra aos homens pelo ministério dos homens”.
Daí a necessidade que se tem de aprender a falar aos homens. Há uma dignidade no ministério da Palavra, erigido como lugar onde se exerce a caridade, ou seja, o serviço do Evangelho aos homens. Portanto, para pregar é indispensável a cultura cristã e uma técnica da qual se pode, a rigor, passar sem, mas que muito colabora para a difusão da Palavra.
Agostinho viu os riscos ou limitações da Palavra, enquanto anunciada e proclamada por alguém. Em suas homilias e em algumas cartas os explica, permitindo que se detecte ao menos quatro principais riscos do pregador no anúncio da Palavra:
1) A decepção de Agostinho em relação à pregação, uma vez que toda palavra, mesmo a sua, toda linguagem do homem é deficiente face ao Verbo interior que a suscita. Há uma palavra interior que é perfeita, mas que não pode ser expressada como tal exteriormente. Acolhe-se este fato na fé, situando-o no quadro da Encarnação do Verbo que assumiu a fragilidade humana e a decepção da carne.
O que, no entanto, leva o bispo africano a continuar a pregar, aceitando tal decepção, é a lei do amor, que o obriga a estar no Evangelho a serviço dos irmãos. Ele bem que gostaria de ser o homem do silêncio, mas sente-se na necessidade de falar, mesmo correndo o risco de ser mal compreendido: “A mim também, meu discurso desagrada quase sempre...Eu me aflijo ao constatar que minha língua não corresponde ao meu coração...Meu discurso é lento, longo...Nosso ouvinte não apreende sempre o nosso pensamento”.
verdade é uma das preocupações constantes de Agostinho e que aparece numa fórmula que retorna muitas vezes, de um modo ou de outro, ao longo de seus sermões. “ ”. Em outra ocasião, ele exclama: “ ”.
. Ele tem consciência de ser um grande orador e sabe que muitos vão à Igreja para escutá-lo, tão somente, e não movidos pela Palavra. É o que o contraria no desejo de orientar todos os fiéis para Deus. Por isso ele alerta que quem fala pode atrair para si colocando-se à mercê da vanglória. O risco é, justamente, de, tendo Deus como motivo, atrair os fiéis para si mesmo, o que o deixa desconcertado quando o aplaudem: “Eu estou em perigo se presto atenção a vossos louvores...Eu tenho medo de ser atraído mais pelo vazio do que estar em terra firme...”
Santo Agostinho tem por objetivo, em sua pregação, interiorizar e espiritualizar os fiéis. No entanto, alguns foram levados a não mais ver nele o homem de Deus, consagrado aos irmãos. Ele estaria se desmitizando para viver com eles, o que os conduz, porém, a se esquecerem da função que ele ocupa na comunidade. Enquanto bispo, Agostinho é sinal de uma realidade que ele não quer ofuscar e da qual jamais deseja se afastar. Ele comenta em sua carta a Alípio:
“É fora de dúvida que nossa vida mortal deve adaptar-se de certo modo à vida imortal. É preciso curar o olho do coração para prepará-lo à visão de Deus. Mas toda a questão angustiante para mim é saber como viver entre os que não aprenderam ainda a viver na renúncia aos prazeres sensuais; pois nós cremos que nada faremos muitas vezes de útil pela salvação deles se não nos inclinarmos um pouco para as coisas das quais desejamos tirá-los...”
Santo Agostinho se sente obrigado a aceitar os mal entendidos em vista do que se deseja e sobretudo fundado no princípio eclesiológico do Cristo Humilde. A Igreja toda é convocada a refletir a própria encarnação de Cristo no seu assumir o homem para elevá-lo a Deus. Sem nunca admitir o pecado, ela se achega ao pecador para tirá-lo do pecado.
COSME. Era negociante e missionário muito viajado, que sempre combinou a difusão da Fé Cristã com os seus assuntos mercantis. A sua influência estendeu-se desde o Mar Vermelho até ao Arquipélago da Malásia, no Extremo Oriente. Depois de ter viajado por todas as partes do mundo então conhecidas, retirouse para um mosteiro no ano de 535 a. D., onde escreveu um livro que se intitulou “Topografia Cristã ” em que quis demonstrar que a Terra é plana e não redonda.
O livro tem, porém, um grande interesse para nós, pela descrição que faz das suas viagens e dos centros da penetração cristã. Estes centros de Fé, no Extremo Oriente, foram originários da Pérsia e Antioquia na Síria, e a maior parte deles seguiram a doutrina de Nestório. O livro descreve grande número de centros de culto, espalhados por todo o mundo e mormente na Europa, Ásia e Oriente. Fala da Ilha da Taprobana (Ceilão) e do interior da Índia e do Mala (Malaca) onde, disse ele, se produz a pimenta.
Infelizmente, estas Igrejas foram destruídas, quase na sua totalidade, pelo movimento islâmico do século VII em diante; triste é dizê-lo, mas tais são os fatos! Somente as igrejas protegidas pelos reis não cristãos da Índia, foram poupadas e não desapareceram. A Igreja havia perdido o zelo e a pureza primitiva. É sempre assim: igreja sem zelo para conversões cede terreno perante os seus inimigos e logo cessa de existir.
(DOUTRINA DE NESTÓRIO: Nestório era Bispo de Constantinopla, 428-431 a. D. Ensinou que a pessoa de Cristo era dividida em duas partes: uma parte Deus e a outra Homem e não negou a verdadeira encarnação do Verbo. Foi condenado como herege).
PATRÍCIO. Santo padroeiro da Irlanda (395- 493 a. D.) era escocês de nascimento, filho de um diácono cristão e neto de um sacerdote da Igreja. (Na igreja até o ano de 1024 os clérigos podiam casar-se. O celibato sacerdotal só foi imposto pelo Papa Gregório VII em 1074, mas as igrejas orientais, gregas, armênias e copta, assim como a igreja anglicana, permitem o casamento dos clérigos. Até se pode afirmar que as igrejas do oriente o exigem).
Aos dezesseis anos, o rapaz escocês, Patrício ou Succat como era o seu nome de nascimento foi levado para a Irlanda por piratas seus conterrâneos. Durante seis anos serviu como pastor de gado de um régulo pagão irlandês, que o tratava cruelmente. Conseguiu fugir e voltar à sua terra, mas foi novamente apanhado e serviu outro período de escravidão na Irlanda. Escapou, por fim, e chegou à Escócia onde ouviu a voz de Deus chamando-o para voltar à Irlanda como missionário. Numa estranha visão viu um carteiro que, entre muitas outras cartas, tinha uma para ele dirigida com os dizeres: “Palavras do Povo Irlandês”.
Assustado, Patrício leu a carta inteira com grande emoção e parecia-lhe que ouvia vozes vindas das costas da Irlanda, dizendo-lhe: “Nós, ó filho de Deus, imploramos-te que voltes a nossa terra e fiques conosco”. A família queria impedi-lo de partir, mas Patrício ouviu outra vez uma voz que lhe dizia: “Jesus que deu a vida por ti, é Ele que fala ao teu coração”. Patrício gastou a terça parte de um século a evangelizar a Irlanda. Abriu escolas por toda a parte; lutou contra o Druidismo, culto dos habitantes, com tanto poder que venceu os seus inimigos e ganhou para Cristo a alma de uma nação. Usou sempre o vernáculo irlandês.
Os historiadores assinalam o fato de que os métodos seguidos por Patrício são, na sua generalidade, os mesmos usados pelos modernos missionários evangélicos. Não exaltou os sacramentos como coisa mágica, mas pregou as Escrituras Sagradas, dirigindo o povo para Cristo, único Salvador. Assim, Patrício ganhou a nação inteira, grandes e pequenos, ricos e pobres.
Patrício deu às mulheres crentes um lugar digno na evangelização. Por meio das suas escolas instruiu a mocidade, usando o alfabeto que ele tinha inventado. A organização da igreja não foi feita por freguesias ou paróquias, mas segundo o sistema tribal. Os casais constituíram uma irmandade sob a direção de um moderador. As mulheres solteiras que dedicaram as suas vidas à meditação e à enfermagem, tiveram salutar influências em todo o país. Curiosa é a lenda de que a Irlanda estava infestada de serpentes que afligiam terrivelmente os habitantes da Ilha e que Patrício lhes ordenou que deixassem o país. Desde então não houve mais serpentes em toda a ilha!…
AGOSTINH de CANTUÁRIA. Introduziu na Grã-Bretanha a forma romana do Cristianismo. Foi nomeado pelo Papa, primeiro Arcebispo da Cantuária (596- 607). A história do envio de Agostinho, de Roma à Grã- Bretanha, para evangelizar os Saxões não deixa de ser curiosa: Gregório, o Grande, monge Beneditino, quando passava do seu mosteiro de Santo André, pelo Fórum de Roma, um dia viu três rapazinhos expostos para venda. Atraído pelos seus cabelos louros e tez branca, perguntou ao vendedor de escravos de onde tinham eles vindo: “São angli” (ingleses) foi a resposta. Mais por uma súbita inspiração do que por talento de erudito, Gregório acrescentou: “Non Angli, sed Angeli forent si essent Christiani” e foi imediatamente pedir licença para devotar a sua vida como missionário em Inglaterra. Foi-lhe recusada, porque o Papa considerou que um homem tal não podia ser dispensado por Roma, tão crítica era então a época.
Agostinho foi um missionário do tipo de Jonas. Não estava disposto a partir quando o Papa o nomeou para o trabalho e só depois de muitas demoras pelo caminho a Inglaterra. Agostinho encontrou o rei dos Saxões bem disposto para receber a mensagem, devido à influência de Berta, a sua esposa crente.Agostinho foi bem sucedido em todas as terras do sul de Humber. Infelizmente Agostinho iniciou uma campanha contra a antiga Igreja britânica, fazendo questão de pequenas coisas como a observância da Páscoa (os Ingleses guardavam a data Joanina) e a tonsura. Por fim o emissário romano ganhou a causa, mas não sem que primeiro tivesse semeado a amargura.
Conta-se que um antigo rei britânico que hesitava em aceitar o Cristianismo como religião do seu povo, foi interpelado por um dos seus vassalos, nobre e pagão, nos seguintes termos: “A presente vida do homem, ó Rei, pode ser comparada ao que muitas vezes acontece quando, no inverno, tu te sentas para cear com os teus anciãos e nobres, quando o lume crepita na lareira e aquece a sala e lá fora ruge uma tempestade de vento e neve; então um pardalito entra, voando, por uma porta do teu vestíbulo e sai pela outra.
Por um momento, enquanto está lá dentro, a rajada não o molesta, mas passando este breve período de felicidade, ele volta à intempérie e desaparece da tua vista. Tal é a vida breve do homem; nós nada sabemos do que existiu antes e somos absolutamente ignorantes do que se vai seguir. Se, ao menos, esta nova doutrina contém alguma coisa de mais certo, merece ser seguida”.
BONIFÁCIO. De entre todos os missionários anglo-saxões que procuraram evangelizar o continente europeu, destaca-se “Winfred” ou Bonifácio, nome pelo qual veio a ser conhecido. Nasceu em Devonshire (Inglaterra) em 680 e trabalhou como missionário entre os germanos, de 715 a 755. Não foi ele um pioneiro; outros o tinham precedido já. Primeiramente pensou em trabalhar em Frísia, mas, estando esse país em guerra contra Carlos Martel que tinha vencido os maometanos em Tours em 732, Bonifácio desistiu. Armou-se, então, com uma abundante provisão de relíquias que o Papa Gregório II lhe tinha fornecido tendo-o também autorizado a trabalhar na Alemanha.
O seu zelo pela Santa Sé foi notável. Em Roma ainda, jurou sobre o suposto túmulo de Pedro que uniria a Alemanha à Santa Sé, com laços indissolúveis. Foi também um zeloso pregador do Evangelho, sendo, no entanto, forçoso lamentar que não tivesse reconhecido devidamente o trabalho daqueles que, pertencendo à Igreja Britânica, o haviam precedido. Afirma-se que em vinte anos batizou 100.000 germanos pagãos (hessos, bárbaros saxões e francos) todos de várias tribos teutônicas. Mais uma vez houve conversões e batismos em massa e conseqüentemente, as inevitáveis reincidências.
O antigo culto germano, do deus Thor, exercia uma influência profunda sobre o povo e Bonifácio decidiu destruí-lo de uma vez para sempre. No regresso de Roma ao seu campo de trabalho, na presença de pagãos enraivecidos e de cristãos ainda muito fracos na sua fé, abateu o carvalho sagrado de Giesmar, em Hesse. Quando a árvores sagrada e enorme caiu, o povo gritou: “O Senhor é Deus! O Senhor é Deus!”, e, no mesmo lugar, foi construída a igreja cristã, aproveitando a madeira do carvalho.
Um tal ato embora valoroso, não era, no entanto, o suficiente para ocasionar conversões sinceras e nem estava isento de perigos. Assim, Bonifácio tratou de preparar obreiros bem treinados para o seu vasto campo de trabalho. Como beneditino era zeloso no estudo das Escrituras e a sua escola preparatória foi notável pelos estudos bíblicos.
Foi nomeado legado papal e caiu no pecado da perseguição; todo aquele que se recusasse a reconhecer a supremacia do Papa, era severamente castigado. Um homem como Clemente, o Escocês, que propagou um Evangelho mais puro que Bonifácio e que era mais dedicado à Palavra de Deus, foi condenado. Clemente mantinha a fé na pureza dos tempos apostólicos, pugnava pela liberdade da Igreja e pela autoridade única das Escrituras, defendendo o direito do clero casar. Também discordava de certos pontos de ensino escatológico e, por isso, Bonifácio excomungou-o.
Bonifácio na velhice, ao atingir a idade de setenta e cinco anos, ansiava por visitar a Frísia que tinha sido o seu primeiro campo escolhido para a sua ação missionária. Durante algum tempo, ele e os seus colegas, conseguiram levar por diante o trabalho de evangelização, mas os selvagens frísios decidiram libertar-se daqueles intrusos, e, nas praias do Zuider Zee, com um volume dos Evangelhos por almofada, aguardou calmamente o golpe da espada que havia de lhe dar a coroa de mártir. Os povos teutônicos têm Bonifácio justamente como um dos seus maiores benfeitores. Apontoulhes o caminho do progresso e fez o corte definitivo com os velhos tempos da adoração de paus e pedras.
EDUCAÇÃO CRISTÃ E REFORMA PROTESTANTE
O modelo medieval de educação (treinamento no lar, no culto, ensino e direção pastoral) continuaram mesmo após a divisão da Igreja. O treinamento dentro do lar fazia uso de diversos catecismos – uma inovação educativa -, escritos para crianças como também para adultos. Os pais eram responsabilizados pelo treinamento religioso de seus filhos. O culto incluía a liturgia, mas o sermão passou a ter maior importância como principal veículo de ensino
A autoridade da Bíblia foi enfatizada com um retorno às fontes da fé cristã. A exegese histórico-gramatical dos textos em suas línguas originais resultou em nova apreciação das verdades bíblicas. Sola Scriptura afirmava a autoridade única e final das Escrituras acima da autoridade da Igreja.
A salvação era vista em termos de fé pessoal, um compromisso pessoal de confiar em Jesus Cristo como Senhor e Salvador. A salvação era centrada numa resposta pessoal além da participação na vida da Igreja. Outro princípio em operação era o do sacerdócio de todos os crentes. Cada pessoa tinha acesso a Deus mediante Jesus Cristo e tinha significado dentro do corpo de Cristo, a Igreja.
Estes princípios produziram nova visão para a educação cristã apresentada em termos da educação universal. O alvo da educação cristã era treinar todos os crentes a serem sacerdotes do Deus Vivo. Isso se faria em parte mediante a tradução da Bíblia para o vernáculo. Pode-se conhecer Deus diretamente pela leitura da Escritura com os olhos da fé. Para a Educação, isso tornava implícita a importância de cada indivíduo, e a leitura leitura era uma habilidade essencial para todas as pessoas.
A pregação também foi revitalizada e vista como o ensino de pessoas, para que assumam suas responsabilidade pessoais diante de Deus. A pregação não era de cunho principalmente evangelístico, mas uma exposição da tradição bíblica de modo didático para produzir sua reapropriação pessoal por todo o povo de Deus. O lar era uma extensão da Igreja, para a instrução de todos os seus membros.
Lutero enfatizou a centralidade da instrução no lar, escrevendo catecismos para as crianças e regularmente encorajando os pais para a assumir suas responsabilidade como mestres.
A educação sustentada pelo Estado geralmente desenvolvia em dois níveis. No nível inferior, as escolas elementares ensinavam as crianças a ler e a escrever. No nível superior, escolas elementares e de gramática latina, bem como as universidades, buscavam ensinar aqueles que mais prometiam a tornarem-se líderes da sociedade e da Igreja. Apesar desses esforços, a realização de uma educação universal compulsória só viria em desenvolvimentos históricos posteriores.
Nos esforços dos reformadores é notável a inclusão de meninas juntos com os meninos nas escolas estabelecidas por João Calvino em Genebra e João Knox na Escócia.
Dado o impacto em potencial da renovação na educação cristã, o professor tinha papel essencial que exigia dedicação e treinamento. Por exemplo, Calvino enfatizou a necessidade de treinar pastores como mestres devido à sua posição na comunidade. Como a pessoa mais culta de uma comunidade, o pastor tornou-se professor-chefe ou supervisor da escola, e a importância da doutrina certa requeria que o ensino fosse altamente prioritário no ministério pastoral.
Durante a Reforma, a educação em prol da comunidade de fé – para sua proteção, seu aperfeiçoamento ou sua extensão, começou a partilhar a primazia com a educação para o desenvolvimento individual. A educação cristã tinha como primeiro objetivo a resposta pessoal a Deus, mas cada vez mais para o cumprimento de todo potencial do individuo como criatura especial de Deus tendo uma contribuição a fazer para a comunidade mais ampla.
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