Editorial #1
“Conclamo à juventude que estude” Estas palavras, proferidas por Mário Ferreira dos Santos no ápice do seu periódico discurso em uma de suas aulas nos anos 60, contém em si mesmas um signicado universal. Elas transpõem auela sala de aula, elas atravessam a cidade de S!o "aulo, escapam ao pa#s, dirigem$se ao mundo e atingem outras fronteiras ue nem na ordem geográca se %á de contar. & uma ora'!o simples e imperativa ue vem das mais profundas aspira'ões do seu esp#rito, ao mesmo tempo t!o angustiado pela realidade ue testemun%a e t!o esperan'oso nas possi(ilidades ue talve) só ele entreve*a. Mário estava e+plicando o poru das pessoas do seu tempo levarem t!o a sér ério io lo loso so as ue ue ele ele *ulg *ulga a *á es esttar arem em refut efutad ada as co com m antecedncia de séculos. - ue come'ara como uma (reve resposta a uma uma per pergunt gunta a de um alun aluno o ac aca( a(ou ou se es este tend nden endo do para para uma uma e+or e+orta' ta'!o !o.. "erce( erce(e$s e$se e claram clarament ente e ue a vo) do profe professo ssorr vai se alte alterrando ando,, gan% gan%an ando do diss disson onn nci cia. a. /! /!o o %á nerv nervos osis ismo mo,, n!o %á e+alt +alta' a'!o !o,, n!o %á ódio, dio, n!o %á ranco ancorr, mas uma uma convi onvic' c'!o !o asssust as ustado adora pela ela for orma ma co com m ue ue se co cont ntém ém em sua pró própria pria grandiosidade. á um desparel%amento entre a formalidade da aula e a causa nal ue su(*a) o esp#rito dauele lósofo. 1lgumas palavras saem com certa diculdade, como ue premidas pelo vigor de uem dese*a inundar o mundo inteiro com suas respostas. Mário *á estava a poucos anos de sua morte2 cada novo livro lan'ado, cada aula, cada investida em uma idéia de losoa (rasileira e+alava como um sopro nal. Mas ele opera uma s#ntese ue a(rigará todo o sentido ue dese*a impor3 45e é por isso ue eu conclamo5 7irige$se 8 platéia da aula, mas a sua vo) uer se dirigir ao mundo, empregando o su(stantivo universal das mudan'as culturais, 45conclamo 8 *uventude5, como se a própria for'a da palavra e+igisse uma repercuss!o imediata. Ele fa) uma peuena pausa2 parece tomar f9lego para uma investida ainda mais catacl#smica. Finalmente, despe*a auela ue é sua maior espe es pera ran' n'a3 a3 uma uma 4*uv 4*uven entu tude de ue ue es estu tude de. . - ver( ver(o o retum etum(a (a no estampido da segunda s#la(a, provavelmente o ponto mais alto do volume nauela grava'!o, como um disparo seco da realidade. Mas a sua alma prossegue ina(alável, reta, porue convicta. 45e é por isso ue eu conclamo 8 *uventude ue estude para ue5 e o resto se nos torna inaud#vel, como se nada mais depois dauilo fosse ter importncia. - silncio ent!o nos di)3 pare aui, voc *á
ouviu o suciente, vá estudar e n!o se entregue aos 8s modas e 8s contingncias. Mais do ue tudo, n!o se dei+e levar pela modorra, pela prostra'!o intelectual, pelos comodismos ue o mundo %o*e tanto nos oferece. 1 conclama'!o de Mário 8 época, :0 anos atrás, *á era mais do ue pertinente, ue dirá %o*e em dia. /!o se trata de uma ordem asso(er(ada, mas de uma imposi'!o ue vem desde a própria verdade. Se algo da verdade n!o se dei+ou falar pelas palavras de Mário Ferreira dos Santos, resta$nos mesmo o agnosticismo. E n!o penso ue a e+orta'!o de Mário se dirigisse somente aos *ovens das escolas, das faculdades, dos com#cios, mas aos *ovens de intelecto, aos %omens entregues a uma compreens!o euivocada do mundo, aos %omens cu*as inteligncias ainda n!o atingiram uma maturidade suciente para de fato formar *u#)os ue fundamentem o seu agir. ;omo podem estes *ovens do mundo moderno (radarem aos uatro ventos a sua independncia se n!o possuem nem mesmo uma independncia intelectual< Entenda$se independncia intelectual n!o em seu sentido grosseiro, de alguém dedicado a construir toda uma cosmovis!o a partir do próprio um(igo, mas de alguém cu*a mente pense por si mesma, (uscando a verdade nos seus mais distintos rec9nditos, estudando com %onestidade os pro(lemas do pensamento %umano sem *amais se desvincular daueles %omens ue dei+aram as grandes respostas. E Mário Ferreira dos Santos, meus amigos, foi um destes %omens. A luta toda se resume em impor uma escala de valores. Por exemplo, a juventude brasileira por qual escala de valores vai lutar? Ela precisa saber. Vai pela utilitária? Pela nobre? Ou pela sagrada? Ela tem que saber, ela tem que escolher uma escala de valores pela qual vai lutar, já que tem no rasil um papel importante, porque o rasil ! um pa"s sem elite e a juventude universitária ! a elite. #$% O rasil n&o deve se preocupar com os pseudos valores, quer di'er com aqueles valores que n&o s&o genuinamente nossos, e este ! um tema que merece ser estudado.
=rec%os de palestra no ;entro ;onvivium, em >?6@ 1 m#nima maturidade ue o *ovem precisa possuir é auela ue o conven'a a estudar. 1 essncia %umana n!o se constrói sem uma camin%ada losóca, sem uma dedica'!o ao mel%or entendimento da verdade. 1 Anica vantagem da 4*uventude de esp#rito é o seu vigor, e
só neste sentido é ue o %omem deveria permanecer *ovem por toda sua vida. Foi este vigor ue nos impeliu a ideali)ar a revista eletr9nica Filosoa ;oncreta. Foi esta nossa *uventude de esp#rito ue nos fe) entender ue algo deve ser feito para resgatar o pensamento desse grande lósofo, ue nos a*udará tam(ém a resgatar o respeito pela verdade e pelo estudo. - a(andono a ue Mário foi relegado nos Altimos B0, :0 anos a nós parece um fen9meno aterrador da nature)a, como um milagre virado do avesso. "or ue sumir com um %omem de taman%a erudi'!o e temperan'a, dedicado a aproveitar os fac%os de verdade e+istentes em cada losoa estudada, sem *amais romper com toda a potencialidade do pensamento %umano< "or ue esuecer um lósofo t!o sá(io em seu ecletismo, capa) de unir satisfatoriamente "itágoras a egel, 1uino a /iet)sc%e, Suáre) a "roud%on< "or ue negligenciar uma o(ra ue conta com mais de 60 t#tulos, a(arcando temas como -ntologia, Cnoseologia, Dógica, =eologia, Sim(ólica, "sicologia, Sociologia, Economia e até -ratória< ;omo se redu) a uase nada a importncia de um empreendimento como a Filosoa ;oncreta< =alve) estas perguntas se*am só mais umas entre as tantas cu*as respostas só o estudo dedicado nos forne'a. 1tendendo 8 conclama'!o de Mário, apresentaremos aui alguns dos frutos de nossos estudos. - espa'o é dedicado 8 e+posi'!o e investiga'!o dos temas ue o pensador (rasileiro prop9s, mas o nosso grande o(*etivo é mesmo alimentar o pra)er pela investiga'!o losóca em si, esta ue é a mais no(re atividade do intelecto %umano, e sem a ual n!o pode %aver resgate de coisa alguma. ;onvidamos a todos para participarem de tal empreitada. (enan )antos, *+ de novembro de --