ECONOMIA VIVA de Rudolf Steiner Primeira conferência (24 de julho de 1922) Do industrialismo à economia mundial....................... mundial....................... 5
O surgim surgimento ento da Ciênci Ciênciaa Econômi Econômica. ca. Os três três períodos períodos da vida vida econômi econômica ca moderna: moderna: economi economiaa instin instintiv tivaa (Inglaterra), economia industrial e economia estatal (Alemanha). Contraste entre Inglaterra e Alemanha no século XIX. Transições instintivas e conscientes para o industrialismo. O solo virgem da Índia e a antiga economia agrária da Europa Central. A emergência do Estado na economia alemã em lugar dos ideais de 1830 e 1840 (liberalismo). A inabilidade para ingressar na economia mundial. A ausência de contrastes entre âmbitos da vida, particularmente entre a vida cultural, a jurídica e a econômica. A ordem social tríplice. Limitações no pensamento econômico. Economia e teoria da luz. Inviabilidade dos conceitos científico-naturais. Invalidade das regiões econômicas isoladas. O mundo como um organismo econômico e social global.
Segunda conferência (25 de julho de 1922) O processo econômico ..................................... ................................................... ................. ... 12
A questão do preço e a impossibilidade de sua definição. Os Os três fatores do processo econômico: natureza, trabalho e capital. O processo econômico em moto perpétuo. A troca como essência da economia. Flutuação de preços. A teoria usual acerca de terra, trabalho e capital. Economia animal. Trabalho aparente. apa rente. Trabalho humano excedente à provisão própria. A insensatez da concepção marxista do trabalho. trabalho. A irrelevância do trabalho em si. Trabalho direcionado pelo espírito: criação de valor econômico. Intercâmbio de valores. Preço e interação de valores. Estática e movimento na economia. A polaridade entre a natureza e o capital.
Terceira conferência (26 de julho de 1922) A Ciência Econômica ........................................................ 19
A forma própria da Ciência Ciência Econômica. Econômica. Ética e Ciência Ciência Natural. Natural. Religião Religião e economia na Antigüidade. Antigüidade. Distinção entre mandamento e lei. A emancipação do direito e do trabalho em relação à vida religiosa. O surgimento do egoísmo e a busca da democracia. Divisão do trabalho e altruísmo. Trabalho individual para a comunidade. Impossibilidade econômica do egoísmo. Divisão do trabalho e altruísmo. alt ruísmo. Contradição entre egoísmo e goísmo e economia mundial. Trabalho e auto-sustento. O preço médio. O comerciante intermediário.
Quarta conferência ( 27 de julho de 1922) A divisão do trabalho e a criação de valores .............. 26
O efeito barateador da divisão do trabalho. Origem do capital pela divisão do trabalho. O capital emancipado da terra pelo espírito. Capitalismo e finanças. Dinheiro: espírito realizado. O espírito valorizando o capital. Investimentos. Empréstimos. A circulação do ccapital. apital. A diversificação de capacidades no trabalho. A relação entre dois pólos de valor, mercadorias e dinheiro. Natureza essencial da mercadoria e do dinheiro. Mobilidade de pensamento. Observação interior do processo econômico.
Quinta conferência (28 de julho de 1922) A produção e o consumo de valores.............................. 34
A polaridade entre produção e consumo. O processo p rocesso econômico como processo orgânico. Valorização Valorização e desvalorização. desvalorização . Valores criados por tensão e movimento. Analogia entre cinética e energia potencial. Crédito pessoal para projetos e taxa de juros. Crédito real. Estancamento do capital em terras e seu desaparecimento no espírito. A inexistência de valor da terra. Valores reais e valores aparentes. Associações . Distribuição da força de trabalho. Realocação de habilidades.
Sexta conferência (29 de julho de 1922) O preço correto ....................... ....................................... ............................ ........................... ............... 41
A fórmula do preço correto. A oposição entre terra capitalizada e produção de bens. Duas taxas de juros. O significado econômico da atividade intelectual. Consumidores puros. Bens e forma de pagamento. Pagar, emprestar, doar. Capital e empréstimo. Vida cultural e doação. Doação: juros sobre a terra. Associações regulando as doações.
Sétima conferência (30 de julho de 1922) Os fatores da formação de preço ................................... 48
Compra, empréstimo e doação, três fatores da formação de preço. Os fatores do repouso. A ficção do preço do trabalho. Determinação recíproca de valores. Produtos do trabalho. O preço correto e a falsificação do preço. Origem do arrendamento. Arrendamento como doação compulsória. Criação de renda inerente ao processo econômico. A agricultura como entidade singular. A desvalorização constante do capital industrial. Auto-sustentação com agricultura. A necessidade de estabelecer o equilíbrio. Meios de produção. Capital industrial. Mercadorias. Bens. A necessidade das associações .
Oitava conferência (31 de julho de 1922) Sobre oferta e demanda ................................. ............................................. .................. ...... 55
Conceitos econômicos vigentes. A idéia de oferta e demanda. Oferta, demanda e preço como fatores primários. O papel do direito. O papel das capacidades capacidades individuais. individuais. Impossibilid Impossibilidades ades econômicas: per muta entre direitos e ‘ o is : c c eco nômico. Ciência Econômica ir t a a a t M v s mercadorias, entre capacidades e d ei ei . li on ei o moral, e não econômico. e Ciência Ciência Natural. Natural. Associações para produção, produção, consumo e distribui distribuição. ção. A economia economia da troca, do dinheiro dinheiro e das capacidades humanas. ‗
Nona conferência (1 de agosto de 1922) As formas de capital..................... capital................................... ............................ ....................... ......... 63 Valores indiretos nas relações econômicas. Conceito
de economias r eg egionais‘. Distância entre despesa e receita. O papel da doação. A associação. Capital mercantil (Inglaterra), de empréstimo (França) e industrial (Alemanha). Capital de empréstimo e autoridade. Capital industrial. Matérias- primas e conceitos de poder. A procura de mercados e a prudência humana. Capital mercantil e competição. O surgimento da concorrência. co ncorrência. O controle financeiro financeir o subtraído ao ser humano. A cir culação monetária sem su jeito‘ e o imper ia lismo sem o b jet o‘. o‘.
‗
‗
‗
Décima conferência (2 de agosto de 1922) Das associações ............................................................. 71
Circula Circulação ção de valores valores.. Lucro. Lucro. O lucro lucro em ambos ambos os lados lados da troca. troca. Criaçã Criaçãoo de valores valores pelo pelo intercâ intercâmbi mbio. o. Transformação de mercadoria em dinheiro. As associações e o senso comum objetivo‘. Vantagem (lucro) como meio o‘. de pressão. Capital de empréstimo (empreendimento) como meio de sucção. Interesse, reciprocidade humana human a e empréstimo. Imaginação e juízo econômico. econômic o. Altruísmo objetivo em lugar de moral subjetiva. Ordem social trimembrada: a vida econômica entre a vida jurídica e a vida cultural-espiritual. ‗
Décima primeira conferência (3 de agosto de 1922) As condições e conseqüências conseqüências de uma economia mundial 79
Evolução da vida econômica. Economias privadas. privada s. Economias nacionais. Economias estatais. O Estado como organismo econômico e cultural. Vantagem mediante a consolidação das economias. David Ricardo e Adam Smith. A Inglaterra como líder do comércio mundial. Origem do padrão-ouro para as moedas. Transição do comércio mundial para a economia mundial. Economia mundial como o fim da consolidação. Economiamundial como uma economia fechada. Relação entre mercadorias e dinheiro. A não-depreciação do dinheiro. Consumo total tota l por toda a humanidade. humanidad e. Inadequação da mentalidade econômico-nacional para a economia mundial. Economias fechadas e doações livres. A não-capitalização da terra. Relação entre produção de alimentos, doações livres e vida cultural.
Décima segunda conferência (4 de agosto de 1922) Dinheiro ......................... ....................................... ........................... .......................... ......................... .............. .. 87
Dinheiro e preço. Fatores subjacentes à formação de preço. A valorização do dinheiro. Dinheiro como meio de troca – concorrente desleal da mercadoria. Dinheiro de compra, dinheiro de empréstimo e dinheiro de doação. A transição do dinheiro de empréstimo para dinheiro de doação. Correção da função do dinheiro. O envelhecimento e a renovação do dinheiro. O dinheiro velho como dinheiro de doação. Administração associativa do empréstimo e da doação. Dinheiro e controle da economia.
Décima terceira conferência (5 de agosto de 1922) A economia do espírito......................... espírito..................................... ......................... ................ ... 95
O valor econômico das produções intelectuais. A premissa das necessidades culturais. O cultivo do solo como ponto de partida partida para a atividade atividade econômica. econômica. A atividade atividade cultural-espiri cultural-espiritual tual como trabalho trabalho economizado. economizado. A avaliação avaliação da produção intelectual pelo trabalho físico economizado. Relação entre produção agrícola e produção intelectual. Balanços inerentemente compensatórios.
Décima quarta conferência (6 de agosto de 1922) Conceitos vivos para a economia mundial ................. 102
A Ciência Econômica moderna. Conceitos vivos para a economia. Paralelismo entre valores reais e falsos valores. Contabilidade mundial. Meio de troca, a qualidade principal do dinheiro. Valor nominal e valor real do dinheiro. A polaridade entre trabalho despendido e trabalho economizado. A natureza como base de valor. Trabalho acumulado e trabalho poupado. Dinheiro como soma total dos meios de produção. Relação entre população e área de terra. Valores monetários: padrão-ouro e padrão natural. Preços como relação entre número de habitantes e área cultivável. A economia como valor econômico.
1a Palestra - 24 de julho de 1922
Do industrialismo à economia mundial Hoje quero iniciar fazendo uma uma espécie de introdução, para amanhã amanhã passar passar ao que, de certo modo, deverá constituir um tratado global sobre questões sócio-econômicas que o homem moderno é levado a formular para si mesmo. A ‗Ciência Econômica‘* tal como se fala a seu respeito na atualidade é, de fato, uma criação recente. No fundo ela não surgiu senão na época em que a vida econômica dos povos modernos começou a tornar-se muito complexa em comparação com as condições econômicas de tempos anteriores. E como o presente curso se destina, em particular, aos estudantes de Economia, será necessário demorar-nos, à guisa de introdução, na peculiaridade peculiaridade do pensamento econômico moderno. Não será necessário retrocedermos muito muito na História para perceber que já no século XIX a vida econômica se transformou com relação a condições anteriores. Basta os Senhores se lembrarem de que em certo sentido a Inglaterra, por exemplo, estava constituída essencialmente de modo moderno, quanto à sua economia, já na primeira metade do século XIX; de maneira que, no decorrer decorrer daquele século, pouca coisa mudou radicalmente na estrutura econômica inglesa. As grandes questões que nos tempos modernos se relacionam, em sentido social, com os problemas econômicos, já existiam na Inglaterra na primeira metade do século XIX; já naquele tempo, as pessoas que se empenhavam em desenvolver uma mentalidade mentalidade moderna moderna a respeito de assuntos assuntos sócio- econômicos podiam fazer seus estudos na Inglaterra, ao passo que, por exemplo, na Alemanha tais estudos não teriam surtido frutos. Na Inglaterra, foram particularmente as importantes relações comerciais o que se haviam formado até o primeiro terço do século XIX, tendo-se criado, no âmbito da economia inglesa, uma sólida base no capital comercial como correlato da formação da estrutura comercial. Lá não havia necessidade de se recorrer, para a economia moderna, a um ponto de partida partida diverso do que resultara, como capital comercial, das condições comerciais consolidadas que, conforme dissemos, dissemos, já existiam até no primeiro terço do século XIX. A partir dessa época, tudo na Inglaterra transcorreu com uma certa conseqüência lógica. Contudo não devemos esquecer que toda a economia inglesa só foi possível na base construída sobre a relação da Inglaterra com as colônias, em especial com a Índia. Toda a economia nacional inglesa não teria sido possível sem essa relação da Inglaterra com suas colônias; em outras palavras, a economia nacional inglesa, com sua capacidade de desenvolver grandes núcleos de capital, foi construída sobre sobre a possibilidade de poder recorrer a regiões economicamente economicamente virgens. Não devemos devemos es- quecer-nos disso, mormente se agora quisermos passar da economia nacional inglesa para a alemã. Estudando esta última, verificaremos que no primeiro terço do século XIX ela ainda correspondia aos costumes econômicos tradicionais tal qual existiam essencialmente desde a Idade Média. Na Alemanha do primeiro terço do século XIX, os costumes e as relações econômicas ainda eram inteiramente antiquados. Por isso, todo o tempo de vida econômica na Alemanha era diferente do da Inglaterra durante o primeiro terço e ainda na primeira metade do século XIX. Na Inglaterra já se contava com costumes de vida rapidamente mutáveis, por assim dizer. dizer. A tendência geral da vida econômica permanece permanece essencialmente a mesma, porém já é orientada para hábitos rapidamente mutáveis. Na Alemanha estes ainda permanecem conservadores. A vida econômica pode continuar a passos de tartaruga, adaptada à circunstância de as condições técnicas permanecerem mais ou menos inalteradas por muito tempo, e de tampouco as necessidades se alterarem rapi rapida dame ment nte. e. Ora, Ora, no segu segund ndoo terç terçoo do sécu século lo XIX XIX ocor ocorre re uma uma revi revira ravo volt ltaa niss nisso. o. Com Com o desenvolvimento da mentalidade industrial, houve uma rápida assemelhação assemelhação com as condições inglesas. Na primeira metade desse século a Alemanha era essencialmente essencialmente um país agrário, mas rapidamente se transformou em país industrial — muito mais rapidamente do que qualquer região da Terra. Todavia, isso ainda estava relacionado com outra coisa. Poder-se-ia dizer que na Inglaterra se deu instintivamente a transição para uma concepção industrial da economia nacional. No fundo, não se sabia como isso ocorreu; foi tal qual um fenômeno natural. Na Alemanha, é verdade, reinava o elemento medieval no primeiro terço do século XIX, sendo ela um país agrário; porém, paralelamente ao fato de as condições econômicas exteriores serem de tal molde que quase podiam ser chamadas de medievais, o pensar dos homens modificava-se profundamente. Os homens conscientizavam-se da necessidade de sobrevir algo novo, pois o que existia já não era oportuno; assim, assim, a transformação nas condições econômicas na Alemanha Alemanha do segundo segundo terço do século XIX deu-se muito mais consciente conscientement mentee do que na Inglaterra. Na Alemanha as pessoas estavam mais cônscias — na Inglaterra elas nada sabiam — do modo pelo qual haviam entrado no moderno capitalismo. Se os Senhores Senhores lessem hoje o que, naquela época, se discutia sobre a chegada do industrialismo, teriam a impressão de ser muito esquisita a maneira de pensar das pessoas na Alemanha daquele tempo. Elas encaravam francamente como uma perfeita libertação dos
homens, como a salvação da humanidade — chamando de liberalismo, de democracia — o desvencilhar-se de ligações antigas, da tradição corporativa, e a transição para a posição perfeitamente livre — como o chamavam — do homem homem na vida econômica. econômica. Por isso, jamais observamos na Inglaterra teoria alguma sobre a economia economia nacional tal como a desenvolveram pessoas que receberam receberam sua formação no auge 1 2 daquela época que acabo acabo de caracterizar. caracterizar. Schmoller , Roscher e outros extraíram suas concepções do apogeu dessa economia nacional liberalista.* O que edificaram, fizeram-no em plena consciência. O inglês teria considerado considerado insípida tal teoria econômica. Teria dito que não é apropriado refletir sobre tais coisas. É interessante, por isso, observar a diferença radical no tratamento de tais questões na Inglaterra — quero mencionar apenas pessoas já bastante teóricas como Beaconsfield 3 — e na Alemanha, onde falava gente como Richter 4, Lasker 5 e até Brentano.6 Portanto, na Alemanha se entrou conscientemente nesse segundo período. Sobreveio então o terceiro período, o período estatal propriamente dito. É que ao se aproximar o último terço do século XIX o Estado alemão se consolidou, no fundo, pelas meras vias do poder. Não se consolidou o que os idealistas de 1848 ou também já dos anos trinta pretendiam; o Estado se consolidou pelas meras vias do poder. Esse Estado também se apoderou gradativamente — em plena consciência — da vida econômica, sendo essa vida totalmente permeada em sua estrutura, no último terço do século XIX, pelo princípio princípio oposto oposto ao anterior anterior.. No segundo segundo terço havia-se havia-se desenvo desenvolvido lvido com base base nas concepçõe concepçõess liberalistas, mas agora desenvolvia-se inteiramente sob as condições do princípio de Estado. Era isso o que conferia a marca global à vida econômica na Alemanha; ocorre que toda essa evolução englobava elementos de consciência. Não obstante, o bstante, tudo isso também se passava inconscientemente. O ponto mais importante nisso tudo é que se criava — não apenas no modo de pensar, mas em toda a maneira de agir economicamente — um contraste radical entre a economia inglesa e a que surgia como economia economia da Europa Europa Central. Central. Ora, era justament justamentee este contraste contraste que indicava indicava a direção direção em que se desenrolavam as relações econômicas. Toda a economia do século XIX, tal qual se projetou pelo século XX adentro, não teria sido imaginável sem o antagonismo entre o oeste e o centro europeus: o modo de vender, de apresentar as mercadorias, de fabricá-las. E assim a economia inglesa se tornou paulatinamente possível com base na propriedade da Índia, e agora agora sua ampliação ampliação é devida ao contraste contraste entre as economias economias do oeste e do centro europeus. Ora, a vida econômica não se baseia no que se percebe na atividade do âmbito reduzido de cada região; ela se baseia nas grandes inter-relações do mundo mundo lá fora. Foi com esse antagonismo que o mundo se abriu à era da economia mundial — mas sem poder entrar nela. É que na realidade a economia mundial baseava-se nos elementos instintivos que se haviam desenvolvido e que acabo de apontar mencionando o antagonismo entre a Inglaterra e a Europa Central. No século XX existia praticamente o fato — sem que o mundo o soubesse ou percebesse — de esse antagonism antagonismoo se tornar tornar cada vez mais presente, presente, mais mais profundo. profundo. Surgiu Surgiu então então a seguinte seguinte questão questão importante: as condições econômicas resultaram desses desses contrastes, projetando-os mais e mais para o futuro; porém, paralelamente à constante recrudescência desses antagonismos, não se conseguia achar um modo de levar adiante uma cooperação econômica. Era essa a grande questão do século XX: o contraste havia criado a economia e a economia economia havia aumentado o contraste; contraste; o contraste carecia de uma solução. E levantou-se o problema: como é que se solucionam os contrastes? Ora, a evolução histórica demonstrou que os homens não foram capazes de solucionar o problema. problema. Tal como eu falei agora dever-se-ia ter falado em 1914, ainda na época da paz. Mas então sobreveio, em lugar de uma solução, o resultado da incapacidade de se achar uma solução no sentido da História Universal. Encarando-se a coisa do lado econômico, foi essa a doença que sobreveio então. Ora, no fundo a possibilidade de qualquer evolução se deve a contrastes. Quero mencionar apenas um desses contrastes: pela razão de a economia inglesa se haver consolidado numa época bem anterior à da Europa Central, Central, os ingleses não não eram capazes de estipular para certas mercadorias preços tão baixos como era o caso na Alemanha, resultando daí a grande oposição da concorrência; concorrência; porque o made in Germany era questão de concorrência. E uma vez terminada a guerra, surgiu a pergunta: pois bem, agora que os homens homens se trucidavam trucidavam em vez de buscar buscar uma solução solução por meio dos antagonism antagonismos, os, como é que pode poderão rão levar evar a cab cabo as coi coisas? Eu sent sentia ia entã ntão qu quee prim primeeiro iro deve deverí ríaamos enc encontra ntrarr as pess pessoa oass capa capazzes de compreender os contrastes que teriam de ser criados numa numa outra esfera; esfera; porque porque a vida é baseada em contrastes, e só pode existir quando há contrastes interagentes. E foi assim que em 1919 ocorria dizer: aponte apo ntemo moss então então para para os con contra traste stess para para os qua quais, is, em verdad verdade, e, tende tende a evo evoluçã luçãoo da Históri Históriaa Universal — os contrastesno âmbito econômico, no juríd jurídic ico-p o-pol olít ític icoo e no espi espiri ritu tual al-c -cul ultu tura ral, l, ou seja seja,, os contrastes da trimembração.7 O que, no fundo, justificou naquela época a idéia de que a trimembração deveria ser introduzida introduzida no maior número número possível possível de cabeças? cabeças? Quero Quero dar uma uma explicação explicação exterior: o mais importante teria sido introd introduzi uzirr a trime trimemb mbraç ração ão no maior maior número número possíve possívell de cabeça cabeçass antes antes de se manif manifest estare arem m as
conseqüências econômicas que sobrevieram desde então. 8 Devemos lembrar-nos de que, na época em que a trimembração seria mencionada pela primeira vez, ainda não nos encontrávamos diante das dificuldades monetárias monetárias existentes hoje; pelo contrário: tivesse sido compreendida a trimembração naquele tempo, as dificuldades jamais poderiam ter ter surgido. Porém deparávamo-nos deparávamo-nos com a impossibilidade impossibilidade de as pessoas demonstrarem um senso realmente prático de tais coisas. Procurávamos explicar a trimembração, e como resultado as pessoas perguntavam: perguntavam: ora, tudo isso é muito belo e nós o compreendemos; compreendemos; mas o importante seria que controlássemos o declínio da moeda. Bem, a única coisa que se podia responder a essa gente era: é isso o que pretende a trimembração. Acostumem-se à trimembração; pois ela constitui o único meio de oposição ao declínio da moeda. Era justamente esse o propósito da trimembração; não obstante, as pessoas continuavam indagando como se faria isso. Ora, elas não compreendiam a trimembração, embora embora não deixassem de afirmar compreendê-la. E hoje a situação nos obriga a dizer o seguinte: — Falando atualmente atualmente para pessoas como os Senhores, já não se pode fazê-lo da mesma forma como antes, pois tornou-se necessária uma outra linguagem. É isto o que pretendo proporcionar-lhes nestas conferências. Pretendo mostrar-lhes como hoje a pessoa pode abordar tais questões, especialmente diante de jovens que ainda têm a possibilidade de colaborar na estruturação do que, de algum modo, deve ser estruturado. É da maneira como acabei de falar-lhes que se pode caracterizar hoje uma época como o século XIX, isto é, apontando para os contrastes em sentido histórico histó rico e econômico. Porém poder-se-ia remontar também a tempos tempos anteriores, anteriores, abrangend abrangendoo a época em que as pessoas começaram começaram a refletir refletir sobre a economia. economia. Contemplando a história desta última, vemos que outrora tudo ocorria de maneira instintiva. A complicação da vida econômica só se deu propriamente na época moderna, quando as pessoas consideraram necessário refletir sobre essas coisas. Minhas palestras destinam-se em primeiro lugar a estudantes, e por isso falo de modo a fazê-los chegar a compreender a Ciência Econômica. Portanto, quero explicar agora o que hoje importa essencialmente. A época em que se deveria refletir sobre Economia era uma em que os pensamentos não mais conseguiam abarcar um campo como esse. Simplesmente não havia mais as idéias necessárias para tal. Quero demonstrar-lhes a justeza disto mediante mediante um exemplo da da Ciência Natural. A coisa é a seguinte: — Como homens, possuímos nosso corpo físico, que tem um peso como outros corpos físicos. Depois de um almoço almoço ele fica mais mais pesado do que antes. antes. Seria até possível conferir na balança. Isso quer dizer que participamos da gravidade — uma qualidade de toda substância ponderável —, mas esta não serviria para muita coisa no corpo humano; quando muito, poderíamos passar pelo mundo quase como autômatos, e não como seres conscientes. Já indiquei em muitas ocasiões o que precisamos para formar conceitos dotados de valor — o que é necessário para o homem poder pensar. O cérebro humano tem um peso de uns 1.400 gramas, se pesado isoladamente. Se deixássemos esses 1.400 gramas exercer pressão sobre os vasos sangüíneos que se encontram na base da abóbada craniana, estes seriam esmagados. Não viveriam por um só instante caso nosso cérebro fosse constituído de forma a fazer, com seus 1.400 gramas, pressão sobre o crânio. A existência existência do princípio de Arquimedes Arquimedes é uma grande grande dádiva para o homem, isto é, o fato de todo corpo perder na água tanto de seu peso quanto pesa o líquido que ele desloca. Portanto, um corpo imerso na água perde uma parte de seu peso correspondente ao peso do corpo d‘água de tamanho igual ao dele. O cérebro f lutua no líquido cerebral, perdendo nisto ebr o humano. 1.380 gramas de seu peso; pois é esse o peso do corpo d‘água do mesmo tamanho do cér eb A pressão que o cérebro exerce sobre a base é de apenas 20 gramas, peso que a base consegue suportar. Se nos perguntarm perguntarmos os agora para que serve isso, isso, dever deveremos emos dizer que não conseguiría conseguiríamos mos raciocinar raciocinar mediante um cérebro que fosse apenas massa ponderável. Não pensamos mediante o que é substância ponderável, e sim mediante a impulsão, o movimento ascensional. Primeiro a substância deve perder seu peso, para podermos pensar. Pensamos mediante aquilo que levita da Terra. Contudo, o estado de consciência estende-se por todo o corpo. O que é que nos torna conscientes em todo o nosso corpo? Nosso corpo contém 25 trilhões de hemácias. Essas 25 trilhões de hemácias são diminutas; mesmo assim possuem peso, por conterem ferro. Cada uma dessas 25 trilhões de hemácias flutua no soro sangüíneo, perdendo tanto de seu peso peso quanto quanto desloca de líquido. Sendo assim, em cada uma dessas hemácias é produzida uma impulsão 25 trilhões de vezes. O que impulsiona para cima, desse modo, nos faz conscientes conscientes em todo o nosso corpo. Podemos Podemos dizer o seguinte: quando engolimos alimentos, primeiro estes têm de ser despojados de seu peso e transformados, para poderem servir- nos. Essa é uma exigência do organismo. Os homens desaprenderam de pensar dessa maneira e de considerar isso como algo abalizado, na época em que se tornou tornou preciso preciso pensar pensar em termos econômicos. econômicos. Desde então contaram exclusivame exclusivamente nte com substâncias ponderáveis, não se preocupando com a transformação sofrida, por exemplo, por uma substância
no organismo, com respeito a seu peso, pelo fato de estar sujeita à impulsão. Mas há ainda o seguinte: — Recordando-se de seus estudos de Física, os Senhores não ignorarão ignorarão que na Física se fala de espectro. Através do prisma se produz uma gama de cores: vermelho, cor-de-laranja, amarelo, amarelo, verde, azul, índigo, índigo, violeta. violeta. Na extensão extensão do vermelho vermelho ao violeta, violeta, o espectro espectro parece parece luminoso. luminoso. Também sabemos que para além da área luminosa se supõem os raios assim chamados infravermelhos, e para além do violeta os raios ultravioletas. Falando-se apenas de luz não se abrange, portanto, todo esse fenômeno; deve-se dizer que a luz é polarmente transformada para os dois lados. Deve-se mencionar que para além do vermelho a luz submerge no calor, e para além do violeta nas reações químicas; e que nesse processo, por assim dizer, desaparece como luz. Portanto, se alguém proferisse uma teoria exclusiva da luz, proferiria apenas um aspecto — e, com isso, uma falsa teoria da luz. Na mesma época em que se deveria ter começado a refletir sobre Economia, o modo de pensar da Física encontrava-se num estágio que produzia uma falsa teoria da luz.9 Mencionei estes fatos pelo motivo de existir aqui uma analogia válida. Observem essa... agora não economia humana, mas sim economia de pardais ou economia de andorinhas! Trata-se também de uma espécie de economia; porém essa economia do reino animal não tem muito valor para o reino humano. No caso do hamster , podemos podemos até falar de um capitalismo animal. O elemento essencial da economia animal consiste em que a natureza oferece os produtos e o animal, como ser isolado, se apodera deles. De certo modo o homem participa dessa economia animal, porém tem de superá-la. A economia economia que que pode começar começar por ser denominada denominada economi economiaa humana é comparáve comparávell ao que, no espectro, é visível como luz, enquanto devemos comparar com a parte do infravermelho aquilo que ainda se estende para a natureza. Trata-se aí, por exemplo, do campo da agricultura, do campo da geografia econômica, etc. Não é possível delinearmos o estudo da economia rigorosamente nessa direção. Ele se estende a um campo que deve ser apreendido de modo totalmente diferente. É isso o que se dá, por um lado. Por outro lado, porém, ocorreu que sob nossas condições econômicas muito complexas, de certo modo, os homens paulatinamente perderam o raciocínio econômico. Tal como ao aproximar-se do ultravioleta a luz cessa de aparecer como tal, na economia a atuação humana cessa de ser puramente econômica. Freqüentemente expliquei de que maneira aconteceu isso. Vemos tal fenômeno surgir realmente apenas no século XIX. Até então, a vida econômica é relativamente dependente da habilidade de cada indivíduo. Um banco prosperava se houvesse um indivíduo capaz nesse banco. Cada pessoa por si ainda tinha valor. Gosto de contar aquele bonito exemplo de quando uma vez o Barão de Rothschild recebeu a visita de um emissário do rei da França. Este queria pedir um empréstimo. Rothschild estava ocupado, tratando com um negociante de couros, e solicitou que se pedisse ao emissário do rei para esperar um pouco. Então o homem ficou muito indignado ao saber que devia esperar enquanto um comerciante de couro estava na sala. Quando o cr iado veio veio e lhe ped pediu iu que aguardasse um pouco pouco,, ele não acreditou. ―D iga ao senhor Rothschild que eu venho como emissário do rei da França!‖ Quando o criado trouxe novamente a resposta dizendo que ele esperasse, o homem correu para dentro da sala exclamando: ―Sou ―S ou o emissário do rei da Fr ança!‖ Rothschild disse: ―P or favor, sente -se, pegue uma cadeira!‖ O homem repetiu: ―Sou ―Sou o emissário do rei da França!‖ E R oths othschild: ―P or favor, or favor, pegue duas cadeir as!‖ O que, naquela época, ocorria na vida econômica estava ligado conscientemente à personalidade humana. humana. Mas as coisas coisas mudaram. mudaram. Hoje em dia bem pouca coisa, na totalidade totalidade da vida econômica econômica,, depende da personalidade isolada. A atuação humana na economia economia já entrou fortemente fortemente naquilo naquilo que eu eu gostaria de equiparar ao ultravioleta. Trata- se daquilo d aquilo que trabalha no capital como tal. As massas de capital trabalham por si sós. Uma vida supra-econômica sobrepõe-se à vida econômica, o que essencialmente é devido à força força própria das massas de capital. Por isso podemos pod emos dizer o seguinte: se hoje quisermos realmente compreender a vida econômica, deveremos encará-la como colocada entre dois campos, dos quais um leva para baixo, à natureza, e o outro para cima, ao capital. Entre estes encontra-se encontra-se o que temos de apreender como a verdadeira vida econômica. Disso, porém, resulta que as pessoas nem sequer tinham a noção necessária para delimitar, para situar corretamente a teoria econômica como tal no âmbito de todos os conhecimentos. Pois veremos que, por curioso que pareça, somente aquela esfera que ainda não cabe na atuação econômica propriamente dita, e que podemos equiparar ao infravermelho, é que pode ser captada pela razão humana. Pode-se ponderar, quanto a ela, da mesma forma como se ponderam outros processos: como se cultivaria a aveia, a cevada, etc.; qual seria, na mineração, mineração, o melhor melhor método para extrair as matérias-primas. matérias-primas. No fundo, é somente sobre isso que podemos refletir r efletir corretamente com a razão que costumamos empregar na ciência dos tempos modernos. Isso tem um imenso significado. Lembrem-se do que eu dei como sendo o conceito de que se necessita na ciência. Nós ingerimos substâncias pesadas como alimento. O fato de elas nos serem úteis é devido à
circunstância de constantemente perderem seu peso dentro de nós, ou seja, de se transformarem comple completam tament ente. e. A transf transform ormaçã açãoo ocorre ocorre de de modo modo difere diferente nte em cada cada órgão órgão.. No fígado fígado oco ocorre rre diferentemente do que no cérebro ou nos pulmões. O organismo é diferenciado, e as condições variam para cada órgão. Presenciamos uma constante alteração da qualidade correspondente aos vários órgãos. Temos uma situação mais ou menos análoga ao falar, no âmbito de uma economia nacional, do valor de uma mercadoria, por exemplo. É um absurdo definirmos uma substância como o carbono e depois perguntarmos: como se comporta essa substância dentro do corpo humano? Até em sua ponderabilidade o carbono se torna algo completamente diferente do que é lá fora; tampouco tem sentido indagarmos o valor de uma mercadoria: este varia dependendo dependendo de ela estar exposta numa loja ou estar sendo transportada de um lugar a outro. As idéias da Ciência Econômica devem ser bem móveis. Devemos perder o costume de construir conceitos que possam ser definidos. Devemos conscientizar-nos de estarmos lidando com um processo vivo, e de que dentro de um processo vivo os conceitos devem ser maleáveis. Ocorreu, porém, que as pessoas procuravam apreender os conceitos ‗valor ‘,‘, ‗pr eç eço‘, ‗pr od odução‘, ‗c onsumo‘, etc. pelas idéias existentes. Porém estas de nada valiam; por isso não foi possível estabelecer uma teoria econômica. Não podemos responder mediante os conceitos costumeiros, por exemplo, à pergunta: o que é valor, o que é um preço? Devemos observar observar algo, relativamente relativamente ao valor e ao preço que lhe correspondem, sempre na circulação em que se encontra. Se indagarmos, por exemplo, pela simples qualidade física do carbono, não chegaremos a saber coisa alguma do que acontece, por exemplo, no pulmão, embora o carbono se encontre também no pulmão; é que toda a configuração é diferente no pulmão. Assim, o ferro encontrado na mina é algo bem diferente do que no processo econômico. A economia se interessa por qualidades do ferro bem diferentes de sua simples ―existênci tência‖. Temos de contar com fatores instáveis como estes . Há 45 anos conheci uma família em cuja casa vi um quadro que, penso eu, havia estado no sótão por uns 30 anos. Enquanto se encontrava no sótão e não havia ninguém que soubesse algo desse quadro além de sua simples si mples existência num canto, ele não tinha valor algum no n o processo econômico; mas no momento em que os donos reconheceram ser valioso, o quadro adquiriu um valor de trinta mil florins — uma soma apreciável naquele tempo. De que dependia o valor? Exclusivamente da opinião que as pessoas formavam do quadro. Este não havia sido removido de seu lugar — só que as idéias formadas pelas pessoas a seu respeito mudaram. mudaram. Assim, Assim, de objeto algum importa o qu quee ele ele ‗é‘ por si só. E particularmente os conceitos conceitos da Ciência Ciência Econômica não podem podem ser desenvolvidos com base base na realidade exterior; exterior; eles têm sempre sempre de ser desenvolvid desenvolvidos os com base base no processo processo econômico. econômico. E dentro desse processo a coisa se transforma constantemente. Devemos, portanto, ter em conta a circulação no processo econômico econômico antes antes de falarmos falarmos de coisas coisas como valor, valor, preço, preço, etc. Não obstante, obstante, observam observamos os nas atuais atuais teorias econômicas que estas principiam com definições definições de valor e preço. O primeiro, primeiro, porém, de que precisamos é a descrição do processo processo econômico; só daí resultarão resultarão as coisas que contam hoje em dia. No ano de 1919 era lícito, pelo motivo de tudo ter sido destruído, pensar que as pessoas se tivessem convencido da necessidade de começar com algo novo. Ora, não foi assim assim que ocorreu. O reduzido número de ppessoas essoas que, naquele tempo, acreditavam ser preciso começar de novo tampouco tardaram em recair no comodismo: nada se pode fazer. fazer. Nesse meio-tempo meio-tempo sobreveio a calamidade, a desvaloriza desvalorização ção da moeda moeda nas regiões regiões do leste e do centro, centro, e com isso uma completa completa revolução revolução nas camadas sociais; porque cada desvalorização tem de acarretar acarretar uma depauperação das pessoas pessoas que vivem daquilo que equiparamos ao ultravioleta. Isso ocorre, em realidade, talvez com maior freqüência do que já se percebe hoje; mas é inexorável. Com isso somos remetidos, antes de mais nada, ao conceito do organismo social, social, pela pela razão razão de ficar ficar patent patentee que que a desval desvaloriza orização ção da da moeda moeda é uma conseqüênc conseqüência ia da antiga delimitação delimitação em Estados, Estados, a qual intervém intervém no processo processo econômico. econômico. É preciso preciso compreen compreendermo dermoss esse processo, mas primeiro devemos compreender o organismo social. Ocorre que o conceito de organismo social, em todas as teorias 10 econômicas, de Adam Smith até às mais modernas, em realidade se restringe a pequenas regiões. Elas nem sequer se preocupam com a necessidade de uma analogia adotada, por mais simples que seja, ter de ser concludente concludente.. Os Senhore Senhoress já viram viram um organismo organismo bem bem desenvolvid desenvolvidoo apresenta apresentando-se ndo-se da seguinte seguinte maneira: — Aqui está, por exemplo, uma pessoa, aqui uma uma segunda segunda pessoa, pessoa, aqui aqui uma terceira, e assim por diante (ver figura 1). Seriam bonitos organismos humanos, humanos, colados dessa forma uns aos outros; mas isso não existe em organismos desenvolvidos. Não obstante, é o caso com relação aos Estados. Organismos precisam de um espaço vazio entre si. Quando muito, os diferentes Estados podem ser comparados às células de um organismo, e somente toda a Terra, como corpo econômico, econômico, pode ser comparada a um organismo. Devemos ter isso em conta. Uma coisa palpável desde que temos temos a economia mundial é
que os diferentes Estados não não podem podem ser ser comparados senão a células. A Terra toda, tomada como um organismo econômico, é o organismo social. Tal fato não é levado em conta em lugar algum. É que toda a teoria teo ria da Ciência Econômica encalhou numa posição que não corresponde à realidade, pois desejava-se estabelecer princípios princípios válidos para uma célula isolada. Por isso é que ao estudarmos a teoria econômica francesa encontramos uma constituição diferente da que encontramos nas teorias inglesa, alemã ou outra. Porém, como economistas, não podemos prescindir da compreensão do organismo social como um todo. tod o. Era isso o que eu queria expor-lhes hoje, à guisa de introdução.
2a Palestra - 25 de julho de 1922
O processo econômico Os primeiros conceitos e pontos de vista que q ue teremos de desenvolver justamente no campo da economia não não poderão deixar deixar de ser um tanto complicados, complicados, e isto por por uma razão inteiramente objetiva. Os Senhores Senhores devem devem imaginar imaginar que a economia, economia, mesmo mesmo quand quandoo considerad consideradaa como economia economia mundial, mundial, encontra-se num constante movimento; tal como o sangue corre através do corpo humano, os bens fluem como mercadorias, por todas as vias possíveis, pelo corpo econômico inteiro. Nesse processo econômico, temos de considerar como como sendo o elemento mais importante importante aquilo que se desenrola entre compra e venda. Ao menos é isso o que vale para a economia atual. No decorrer destas palestras teremos de abordar os mais diversos impulsos atuantes no corpo econômico; contudo, a economia se apresenta como tal ao homem no momento em que ele deve comprar ou vender alguma coisa. Todo pensar instintivo de cada pessoa, por ingênuo que seja, culmina naquilo que se passa entre comprador e vendedor, sendo disso que, no fundo, tudo depende. Verifiquemos o que se dá quando, na circulação econômica, efetuam-se compra e venda. O que importa ao homem é o preço de uma mercadoria, de um bem qualquer. A questão do preço é, contudo, aquela em que terão de desembocar as mais importantes discussões econômicas; pois é no preço que culmina tudo o que atua como impulsos e forças na economia. Por isso, primeiro teremos de dirigir nossa atenção ao problema problema do do preço, o que, todavia, absolutamente não é simples. Basta imaginarmos o caso mais trivial: trivial: no lugar A existe existe uma mercadoria mercadoria qualquer qualquer que tem seu preço nesse lugar; ela não é comprada aí, mas transportada para mais adiante. É necessário acrescentar ao preço o que foi pago pelo transporte para o lugar B. O preço muda no curso da circulação. É o caso mais simples, mais banal, diria eu. Não há dúvida de que haja casos c asos muito mais complexos. Suponhamos que uma casa numa cidade maior tenha um certo preço em dado momento. Depois de quinze anos, a mesma casa custa, talvez, seis ou oito vezes mais. Ao falar desse aumento de preço, nem precisam precisamos os levar levar em conta que, porventura porventura,, o aumento aumento possa possa ser causado causado pela desvalorizaç desvalorização ão da moeda. Nem queremos levar isso em consideração. O aumento do preço pode simplesmente ter sido causado pelo fato de, nesse ínterim, haverem sido construídas muitas outras casas na redondeza, outros edifícios edifícios que contribuam contribuam para increment incrementar ar o valor da casa. casa. Pode haver haver dez ou quinze quinze outras outras circunstân circunstâncias cias para o aumento aumento do preço da casa. No fundo, jamais jamais estaremos estaremos realmente realmente em condições condições de oferecer uma explicação generalizada para cada caso, no sentido de d e determinarmos inequivocamente, para certo lugar, as condições que fixam o preço de um bem, bem, digamos, de casas, ferragens, cereais ou qualquer outro. Por enquanto, não podemos dizer muito mais do que o seguinte: devemos observar como o preço oscila conforme o lugar e o tempo. E talvez possamos acompanhar uma ou outra das condições pelas quais, num certo lugar, o preço veio a ser o que é. Mas não pode haver uma definição generalizada de como o preço se compõe; isso é realmente impossível. Por isso, assombra-nos sempre de novo ver como, em livros usuais sobre economia, fala-se como se fosse possível definir o preço. Não é possível defini-lo; pois o preço é concreto em cada lugar, e toda definição em termos termos de economia economia nem sequer sequer se aproxima aproxima do assunto. Por exemplo, uma vez me aconteceu o seguinte caso: — Em determinada região, os terrenos eram bem baratos. Havia uma sociedade que tinha como membro um homem bastante famoso. A sociedade comprou todos os terrenos baratos e em seguida fez com que o homem famoso construísse para si uma casa nessa região. Depois os lotes foram colocados à venda, e por preços bem mais elevados do que fora pago na compra, pelo único motivo de o homem famoso ter construído sua casa nas proximidades. proximidades. Essas coisas demonstram demonstram quão indeterminadas indeterminadas são as circunstâncias de que depende o preço de algo no processo econômico. Os Senhores podem naturalmente dizer que tais coisas deveriam ser controladas. São os adeptos da reforma reforma agrária agrária e outras pessoas pessoas afins que se opõem a elas, querendo de certa forma estabelecer, estabelecer, por meio das mais diversas medidas, medidas, uma espécie espécie de preço justo para os os bens. Isso é inteiramente possível; contudo, no sentido da economia o preço não se altera com isso. Quando ocorrem coisas como as do nosso exemplo, em que os lotes foram vendidos a um preço mais elevado, seria possível ti- rar novamente o dinheiro dessa gente impondo-lhes impondo-lhes um alto imposto territorial. Neste Neste caso caso é o Estado que embolsa o dinheiro; mas nem assim se apreendeu a realidade, pois de qualquer modo modo o preço aumentou. aumentou. Podemos adotar contramedidas, contramedidas, que no entanto apenas disfarçam a questão. O preço é sempre aquele que haveria resultado sem tais medidas. Apenas se desloca o problema, e não se segue um raciocínio econômico dizendo, após ter disfarçado a situação pelas medidas adotadas, que os lotes não aumentaram de preço depois de dez anos. Trata-se do seguinte: a economia deve colocar-se com as duas pernas na realidade, e na economia só se pode falar das condições prevalecentes naquela época e naquele lugar em questão. A quem
vise ao progresso da humanidade deverá ficar claro que as coisas podem ser diferentes; mas por ora elas devem ser consideradas em sua realidade momentânea. De tudo isso os Senhores podem perceber quão impossível é abordarmos algo como esse conceito importantíssimo da economia — o preço — querendo apreendê-lo por meio de uma definição de contornos nítidos. níti dos. Desse modo não chegaremos a resultado algum na teoria econômica. Devemos enveredar por caminhos inteiramente diferentes; temos de estudar o processo econômico em si. Nem por isso o problema do preço deixa de ser o mais importante; devemos dirigir-nos a ele enfocando o processo econômico econômico e procurando captar, por assim dizer, o ponto em que, em qualquer lugar e tempo, o preço de uma coisa qualquer resulte das circunstâncias econômicas subjacentes. Verificando as teorias econômicas mais em uso, os Senhores geralmente encontrarão encontrarão enumerados três fatores mediante cuja interação se desenrolaria todo o processo da economia. São eles: a natureza, o trabalho trabalho humano humano e o capital. capital. Certam Certamente ente se se poderá poderá dizer, dizer, por ora, que ao se acompanh acompanhar ar o processo processo econômico como um todo constata-se em seu âmbito algo que se origina da natureza, algo que é o resultado do trabalho humano humano e também algo que é empreendido ou ordenado pelo capital. Porém não se conseguirá apreender de maneira viva o processo processo econômico simplesmente simplesmente colocando lado a lado a 11 natureza , o trabalho tr abalho humano e o capital. Tal Tal enfoque levará, particularmente, às mais diversas unilateralidades — é isso o que mostra a história das teorias econômicas. Enquanto alguns pensam que todo valor repousa na natureza, e que o trabalho humano não acrescenta qualquer valor especial à substância dos objetos naturais, outros opinam que todo valor economicamente significativo é agregado a um bem 12, a uma mercadoria qualquer pelo fator que chamam chamam de trabalho trabalho cristalizado dentro destes. Em 3 contrapartida, se os Senhores colocarem lado a lado o capital e o trabalho 1 , encontrarão pessoas dizendo ser o capital o único que possibilita o trabalho, sendo o salário extraído do capital acumulado; já outros dizem: não, o trabalho é o que produz valores, sendo o que o capital ganha apenas a mais-valia subtraída do resultado do trabalho. O fato é o seguinte: encarando as coisas de um ponto de vista, dá-se razão a uma pessoa; encarando-as de outro ponto, quem tem razão é a outra pessoa. Tal tipo de abordagem da realidade nos parece quase como certos tipos de contabilidade: colocando um item num lugar, obtém-se um resultado; colocando-o em outro lugar, obtém-se resultado diverso. Pode-se falar, com base em razões aparentemente bem fortes, numa mais-valia que é descontada do salário de trabalho e da qual se apropria o capitalista. Com base em razões igualmente boas, pode-se dizer que no contexto da economia total é ao capitalista que se deve tudo, podendo ele pagar seus operários apenas com o que lhe sobra para os salários. Para as duas opiniões existem existem razões razões muito boas e muito más. más. É que todas essas reflexões nem sequer conseguem aproximar-se da realidade econômica; são são úteis como base para agitadores, mas de modo algum constituem algo que interesse numa teoria econômica séria. Deveremos encontrar outras bases se quisermos falar com certa razão de um progresso do organismo econômico. Ora, até certo ponto todas essas posições têm sua justificativa; e se Adam Smith, por exemplo, vê no trabalho empregado nos bens o fator primordial para a formação de valores, não há dúvida de que também para tal posição se possa encontrar excelentes razões. Um homem como Adam Smith certamente não racio- cinava sem fundamento: mas também ali a base é que se pensa poder poder captar algo que que está parado, podendo-se extrair disso uma definição, esquecendo que no processo econômico tudo está está em movimento contínuo. É relativamente fácil fácil estabelecer conceitos a respeito de fenômenos da natureza, mesmo os mais complexos, em vista das concepções de que se necessita para uma teoria econômica. Na economia os fenômenos são infinitamente mais complexos, mais instáveis, mais variáveis do que na natureza; são muito mais flutuantes e mais difíceis de apreender por conceitos fixos. A verdade é que se deve empregar um método totalmente diferente. Tal método lhes parecerá difícil nas primeiras aulas; porém os Senhores verificarão que dele resultará algo possível de servir de base para uma verdadeira verdadeira teoria teoria econômica. econômica. Pode-se Pode-se dizer dizer o seguinte: seguinte: para o processo processo econômico econômico que estamos estamos enfocando, confluem a natureza, o trabalho humano e — enquanto se focalize o aspecto puramente exterior da economia — o capital. Isto em primeira instância! Para Para pross prossegu eguir ir,, dirija dirijamos mos logo logo nossa nossa atençã atençãoo ao eleme elemento nto do meio, meio, o traba trabalho lho humano humano,, procurando formar uma concepção a seu respeito descendo ao reino animal — ontem já fiz tais alusões — e observando, em vez de a economia humana, a economia dos pardais ou das andorinhas. Aí vemos que a natureza forma o fundamento para a economia. O pardal também tem de executar uma espécie de trabalho. No mínimo ele tem de pular de um lugar a outro a fim de encontrar os grãozinhos, precisando às vezes pular muito num mesmo dia até encontrar seus grãos. A andorinha, ao construir seu ninho, também tem de efetuar uma espécie de trabalho; ela tem muito o que fazer. Não obstante, não podemos chamar isso de trabalho no sentido econômico. Se o fizermos, isso de nada nos adiantará em nossas concepções econômicas; pois observando a coisa mais de perto, teremos de dizer que o pardal ou a andorinha são, na realidade, organizados de tal modo que forçosamente executam aqueles movimentos para encontrar sua alimentação. Eles não
poderiam conservar-se sadios caso não pudessem movimentar-se dessa maneira. Trata-se de uma extensão de seu organismo, pertencendo-lhes assim como suas pernas e asas. Portanto, ao querermos estabelecer conceitos econômicos, poderemos desconsiderar aquilo que aqui se pode chamar de trabalho fictício. Em tais situações onde se usufrui da natureza diretamente, e onde onde o ser isolado executa executa o trabalho fictício exclusivamente para sua satisfação satisfação e de seus próximos, devemos desconsiderar esse trabalho fictício caso queiramos determinar o que é valor — valor no sentido da economia. Eis o que nos preocupa em primeiro lugar: aproximar-nos de uma concepção do valor na economia. Se observarmos, portanto, a economia animal, poderemos dizer que o que q ue nela forma valor é exclusivamente a natureza. Ora, quando passamos passamos ao homem, ou seja, seja, à economia humana, sem dúvida temos também, do lado da natureza, o ponto de partida no valor natural; porém no momento em que as pessoas não trabalham trabalham apenas apenas para si próprias ou para seus próximos, mas começam a cuidar-se mutuamente, logo vem ao caso o aspecto referente no trabalho humano. No momento em que a pessoa não apenas usa para si os produtos da natureza, mas entra em alguma relação com outras pessoas e permuta bens com elas, elas, também sua ação ação relativa à natureza natureza torna-se torna-se trabalho. trabalho. Temos Temos nisso um lado do valor na economia. Este resulta resulta da aplicação do trabalho trabalho humano aos produtos da natureza, natureza, ou seja, do fato de termos na circulação econômica produtos da natureza modificados pelo trabalho humano. É aí que realmente começa a nascer um valor na economia. Enquanto intocado no lugar original, o produto natural não possui outro valor senão senão aquele que também também teria para o animal. animal. O valor para a economia economia humana humana começa começa no momento em que fazemos fazemos o primeiro passo para inserir o produto natural transformado no processo de circulação econômica. Nesse caso podemos caracterizar esse valor econômico pela seguinte frase: o valor econômico econômico,, visto por este lado, é o produto produto da natureza natureza transform transformado ado pelo traba trabalho lho humano. humano. Não importa se o trabalho trabalho humano consistir em cavarmos, racharmos lenha ou transportarmos o produto de um lugar para outro. Tratand Tratando-se o-se por por ora da determ determinaçã inaçãoo do valor valor em em geral, geral, podem podemos os dizer dizer o seguinte: o que forma o valor é o trabalho humano, transformando um produto da natureza de modo que este possa ingressar no processo de circulação econômica. Levando isso em conta, os Senhores logo apreenderão a qualidade totalmente flutuante do valor de um bem que circula na economia economia — pois o trabalho trabalho é algo algo que existe existe permanentement permanentemente, e, aplicado ao bem econômico. Sendo assim, não podemos realmente definir o que seja o valor; podemos apenas dizer que o valor aparece num certo tempo e num certo lugar pelo fato de o trabalho humano transformar o produto natural. É então que aparece o valor. Para começar, não podemos nem queremos definir o valor, mas apenas apontar o ponto em que ele aparece. aparece. Quero mostrar-lhes isso num esquema esquema que evidencie evidencie o seguinte: como pano de fundo, por assim dizer, temos a natureza (fig. 2 à esquerda); e temos o trabalho humano aplicado à natureza; natureza; e o que se evidencia evidencia em decorrência da in- teração entre natureza e trabalho humano é um lado do valor. valor. Não seria seria uma uma imagem imagem errônea se, por exemplo, disséssemos: olhando um plano negro, qualquer coisa negra através através de algo claro, vemo-lo em azul; porém o azul se modifica de acordo acordo com a maior ou menor espessura da parte clara. À medida que o deslocamos, a intensidade do azul varia, é flutuante. Tal é o caráter do valor na economia, pois este nada é senão o transparecer da natureza através do trabalho humano ambulante por toda parte. Tais elementos não nos fornecem, por enquanto, mais do que algumas indicações abstratas; contudo estas nos servirão servirão de guia nos próximos dias, dias, a fim de encontrarmos encontrarmos os fatos concretos. Como é costume em todas as ciências, começamos com o mais mais simples. Vemos, pois, que o trabalho não tem, por si só, qualquer determinação no contexto econômico. Não faz diferença alguma se uma pessoa racha lenha ou se, por ser gorda, g orda, coloca-se sobre uma roda* — há gente que faz isso — e, pulando sempre de degrau em degrau, fica mais magra; é possível que ela realize a mesma quantidade de trabalho que aquela pessoa que racha lenha. É um perfeito absurdo a maneira como, por exemplo, Marx encara o trabalho, buscando sua equivalência no que é gasto no organismo humano pelo trabalho — pois se gasta o mesmo tanto, não importando se a pessoa racha lenha ou dança sobre a roda. No sentido econômico, não importa o que ocorre com o homem. Já vimos que a economia faz divisa com elementos não-econômicos. Visto no sentido puramente econômico, de modo algum é legítimo reiterar que o trabalho desgasta a pessoa — pelo menos para estabelecermos o conceito de trabalho no contexto econômico. Este desgaste, contudo, tem um significado no sentido indireto, por fazer com que se tenha de cuidar das necessidades da pessoa. Quanto às considerações de Marx a esse respeito, trata-se de um colossal contra-senso. Ora, o que será necessário para acompanharmos o trabalho no sentido do processo econômico? Para isso é necessário, por enquanto, abstrairmos completamente do homem e observarmos a forma como o trabalho se insere no processo econômico. O trabalho numa roda, como o descrevemos, não se insere de forma alguma, pois fica totalmente preso à pessoa; pessoa; rachar lenha, isso sim, sim, já se insere no processo econômico. econômico. E podemos perceber que em todos esses casos se trata do fato de a natureza ser modificada pelo trabalho humano. Só enquanto a natureza é transformada pelo trabalho humano é que produzimos valores econômicos, pelo lado que estamos contemplando. Se, por exemplo, consideramos útil à saúde física trabalhar na
natureza e, nos intervalos, dançar um pouco ou fazer eurritmia*, isso deve ser julgado a partir de outro ponto de vista; contudo, o que fazemos nos intervalos não pode ser denominado trabalho em sentido econômico, nem ser considerado considerado como formativo de valores econômicos. Poderá ter um valor sob outro aspecto; é preciso começarmos começarmos por formar conceitos nítidos dos valores econômicos econômicos como tais. Existe uma outra possibilidade, bem diversa, de surgir o valor econômico. Para tal devemos ter em mente o trabalho trabalho em si, tomando-o tomando-o como como um fato dado. dado. Como Como acabamos acabamos de ver, esse trabalho em si é algo totalmente neutro, irrelevante em sentido econômico. Todavia torna-se criador de valor econômico quando dirigido pelo espírito14, pela inteligência humana humana — e, neste caso, devo variar variar um pouco meu modo de expor as coisas. Mesmo nos casos mais extremos, os Senhores poderiam pensar que o que em si não é trabalho trabalho estivesse estivesse sendo transforma transformado do em trabalho trabalho pelo espírito espírito humano. humano. Se alguém alguém resolve resolve colocar em seu quarto uma roda para emagrecer, não existe nisso qualquer valor econômico. Se, porém, ele colocar uma corda em torno da roda e fizer tal corda acionar uma máquina, teremos tornado produtivo, pelo espírito, algo que nem sequer é trabalho. O efeito secundário consiste no emagrecimento da pessoa; mas o que realmente conta aqui é o fato de o trabalho ser conduzido em determinada direção pelo espírito, pela inteligência, pelo raciocínio, ou talvez pela especulação, e de os trabalhos serem colocados em certas interrelações, etc. Assim sendo, podemos dizer o seguinte: temos aí o segundo lado daquilo que forma valores na economia. Estando o trabalho ao fundo e em primeiro plano o espírito que dirige o trabalho, aí transparece o trabalho através do espírito , produzindo novamente valor econômico. Veremos que esses dois lados existem em todo lugar. No esquema (fig. 2, à esquerda) desenhei o valor econômico, através através do qual aparece aparece a natureza; natureza; agora devo desenhar o que acabo de expor, de modo que temos lá atrás o trabalho e na frente o que é espiritual e confere ao trabalho uma certa alteração (fig. 2, à direita). São estes, essencialmente, os dois pólos do processo econômico. Os Senhores não encontrarão outras maneiras de se produzirem valores econômicos: ou a natureza é modificada pelo trabalho trabalho ou o trabalho é modificado pelo espírito, sendo que amiúde o espírito se manifesta exteriormente na formação de capital; é por isso que no contexto da economia o espírito deve ser procurado na configuração dos capitais, ou pelo menos tem aí a sua expressão exterior. Contudo chegaremos a apreender isso ao contemplarmos o capital como tal e, depois, o capital como meio monetário. Assim os Senhores podem perceber que não é possível falarmos de uma definição do valor econômico — pois precisamos ter em conta de quantos fatores isto depende, de quantas pessoas tolas e inteligentes depende o fato de, em algum lugar, o trabalho ser mo- dificado pelo espírito. Isso depende de uma porção de condições flutuantes. Todavia podemos ter certeza de que que sempre vale o que é evidente, ou ou seja, que nesses dois opostos polares devem ser procurados os fatores que formam valor no processo econômico. Ora, Ora, se for esse esse o caso, caso, terem teremos os a seguin seguinte te situaçã situação: o: ao nos encont encontrar rarmo moss num proces processo so econômico relacionado com compra-e-venda em algum lugar, presenciamos essencialmente uma troca de valores. Seria efetivamente errôneo falar de troca de bens, ben s, pois não encontramos outra troca senão senão a de valores. No processo econômico o bem é um valor, seja ele produto da natureza modificado ou trabalho modificado. O que se permuta são valores, e isto é o que importa. Sendo assim, os Senhores terão de compreender o seguinte: quando em algum lugar lug ar ocorre compra-e-venda, dá-se uma troca de valores. O que resulta, então, no processo econômico quando valor e valor, por assim dizer, se confrontam a fim de permutar-se, é o preço. Os Senhores não encontrarão um preço em lugar algum senão onde valor e valor se confrontam no processo processo econômico. Por isso não é possível refletirmos sobre o preço pensando apenas na troca de bens. Se os Senhores comprassem uma maçã por, digamos, cinco centavos, poderiam dizer que trocam um bem pelo outro bem — a maçã contra os centavos. Desta maneira, porém, jamais chegarão a uma visão econômica. A maçã foi colhida em algum lugar, foi transportada, e talvez haja acontecido muita outra coisa à sua volta. Foi o trabalho que a modificou. Os Senhores não estão lidando com a maçã, e sim com o produto natural modificado pelo trabalho humano que representa um valor. Na economia sempre se deve partir do valor. Da mesma forma, os cinco centavos representam um valor, e não um bem — pois esses cinco centavos não são outra coisa senão o sinal de que junto à pessoa que quer comprar a maçã existe um outro valor que ela permuta pela maçã. O que eu quis frisar frisar é o fato de hoje havermos havermos chegado a compreender que é errôneo falar de bens na economia, devendo-se falar de valores como o fator elementar; e que também é errôneo querer apreender o preço de outra maneira que não o jogo de valores. Valor contra valor resulta no preço . Uma vez que o valor é algo flutuante, não podendo ser definido, o que resulta como preço na permuta de valor contra valor é algo flutuante ao quadrado. De tudo isso podemos deduzir que é totalmente inútil querermos apreender de alguma maneira o valor e o preço para termos uma base firme na economia, e até mesmo para querermos intervir num processo econômico. O que deve ser considerado nesse caso é algo completamente diverso, que deve estar por
detrás, e de fato está. Isso nos é demonstrado por uma observação muito simples. Imaginem o seguinte: a natureza nos transparece através do trabalho humano. Se, por exemplo, extrairmos ferro ferro em determinado determinado lugar sob condições extraordinariamente extraordinariamente severas, o que resulta como valor é um objeto da natureza modificado pelo trabalho humano. Se, em outro lugar, o ferro for extraído sob condições c ondições mais leves, provavelmente resultará um valor bem diferente. Vemos, Vemos, portanto, que não é possível abordar a coisa pelo valor — temos de olhar por detrás deste. Devemos remontar àquilo que forma o valor, chegando talvez às circunstâncias mais constantes sobre as quais se poderá exercer uma influência direta — pois no momento em que introduzirem o valor na circulação econômica, os Senhores deverão deixá-lo flutuar conforme o organismo econômico. Ao observarmos a composição sutil do glóbulo sangüíneo — que é diferente d iferente na cabeça, no coração ou no fígado —, não nos adiantará dizer que queremos encontrar uma definição para o sangue — pois não é isso o que queremos; o que queremos é unicamente saber quais os alimentos mais favoráveis para cada caso. caso. Do mesmo modo, não adianta discutir sobre o valor e o preço, tratando-se, isso sim, de buscar os fatores primários — que, formados corretamente, resultarão no preço correspondente, correspondente, que assim assim surgirá por por si. Em nosso estudo de Economia, é impossível determo-nos na esfera das definições de valor e preço; porém devemos sempre remontar ao ponto de de partida, partida, ou seja, seja, àquilo de que, por um lado, o processo econômico extrai sua nutrição e que, por outro, o regula: a natureza, por um lado, e o espírito, por outro. A dificuldade de todas as teorias econômicas dos últimos tempos foi o fato de elas sempre terem começado por querer apreender o flutuante. Para quem consegue discernir as as coisas, dessa forma não resultam definições erradas, erradas, e sim, no fundo, muitas corretas. Quem diz que o trabalho corresponde ao que tem de ser reposto no corpo humano, não passando de substância consumida, engana-se redondamente, pois não enxerga enxerga as coisas mais banais. Mas acontece que até pessoas bastante instruídas tropeçaram ao elaborar suas teorias de Economia, por quererem observar em condições estáticas as coisas que se encontram em fluxo. Pode-se fazer isso em relação às coisas da natureza — até se deve fazê-lo, muitas vezes; neste caso, basta observar de uma maneira bem diferente o que é estático. Quando, na observação da natureza, falamos de movimento, consideramo-lo como que composto de pequenas situações subseqüentes de repouso. Pelo fato de procederm procedermos os à integração integração,, também também consideram consideramos os o movimento movimento como como algo composto composto de situações de repouso. Não é possível apreender o processo da economia com base neste tipo de conhecimento. Por isso devemos dizer o seguinte: o que importa é começarmos por apreender a teoria econômica pela maneira como, de um lado, aparece o valor ao ser a natureza modificada pelo trabalho, ou seja, ao transparecer a natureza através do trabalho; e, do outro lado, pelo modo modo como aparece aparece o valor ao ser visto o trabalho através do espírito. Esses dois modos de surgimento do valor são polarmente distintos, tal qual no espectro um pólo, o pólo luminoso, o amarelo, é distinto do pólo azul ou violeta. Podemos, Podemos, portanto, reter a seguinte imagem: tal qual de um lado aparecem no espectro as cores quentes, também de um lado se evidencia o valor natural, que se manifestará mais na formação de renda 15 da terra ao percebermos a natureza modificada pelo trabalho, e de outro aparece mais o valor que se manifesta no capital ao enxergarmos o trabalho modificado pelo espírito. Aí pode surgir, pois, o preço, quando valores de um pólo se confrontam com valores do outro, ou até quando valores dentro de um pólo entram em interação. Cada vez que se tratar de formação de preço, verificaremos que os valores entram em interação. Isto significa que devemos desconsiderar totalmente tudo o que existe além disto — até mesmo a matéria —, e ater-nos primeiramente à maneira como se formam f ormam valores de um lado e de outro. Só então poderemos adentrar o problema do preço.