UM SALTO QUÂNTICO no CÉREBRO GLOBAL
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Ervin Laszlo
UM SALTO QUÂNTICO no CÉREBRO GLOBAL Como o Novo Paradigma Científico Pode Mudar a Nós e o Nosso Mundo
Tradução NEWTON ROBERVAL EICHEMBERG
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Título original: Quantum Shift in the Global Brain. Copyright © 2008 Ervin Laszlo. Copyright da edição brasileira © 2012 Editora Pensamento-Cultrix Ltda. Texto de acordo com as novas regras ortográficas da língua portuguesa. 1a edição 2012. Publicado originalmente em inglês por Inner Traditions. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou usada de qualquer forma ou por qualquer meio, eletrônico ou mecânico, inclusive fotocópias, gravações ou sistema de armazenamento em banco de dados, sem permissão por escrito, exceto nos casos de trechos curtos citados em resenhas críticas ou artigos de revistas. A Editora Cultrix não se responsabiliza por eventuais mudanças ocorridas nos endereços convencionais ou eletrônicos citados neste livro. Coordenação editorial: Denise de C. Rocha Delela e Roseli de S. Ferraz Preparação de originais: Marta Almeida de Sá Revisão: Maria Aparecida A. Salmeron Diagramação: Join Bureau Resumo: “As mudanças do materialismo científico para uma visão de mundo multidimensional em harmonia com as grandes tradições espirituais do mundo.” – Fornecido pelo editor.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Laszlo, Ervin Um salto quântico no cérebro global : como o novo paradigma científico pode mudar a nós e o nosso mundo / Ervin Laszlo ; tradução Newton Roberval Eichemberg. – São Paulo: Cultrix, 2012. Título original: Quantum shift in the global brain. Bibliografia. ISBN 978-85-316-1146-9 1. Ciências – Aspectos sociais 2. Ciências e civilização 3. Civilização moderna, 1950 – 4. Clube de Budapeste 5. Consciência – Aspectos sociais 6. Espiritualidade – Aspectos sociais 7. Evolução humana 8. Evolução social 9. Mudança social I. Título.
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CDD-909.825
Índices para catálogo sistemático: 1. Civilização moderna : Século 20
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Direitos de tradução para o Brasil adquiridos com exclusividade pela EDITORA PENSAMENTO-CULTRIX LTDA. Rua Dr. Mário Vicente, 368 — 04270-000 — São Paulo, SP Fone: (11) 2066-9000 — Fax: (11) 2066-9008 E-mail:
[email protected] http://www.editoracultrix.com.br que se reserva a propriedade literária desta tradução. Foi feito o depósito legal.
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dedicado a Jenna, Ishana, Kahlia Paola e a todos os jovens que levarão a mudança quântica a um mundo melhor
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Sumário
Introdução: A Revolução da Realidade ........................................
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PARTE UM
MACROMUDANÇA NA SOCIEDADE
1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8.
Evolução ou Extinção: Eis a Questão .......................................... 19 Macromudança: A Dinâmica ....................................................... 29 As Raízes da Insustentabilidade ................................................... 51 Uma Maneira Melhor de Crescer ................................................. 61 Uma Nova Visão .......................................................................... 65 Uma Ética Planetária ................................................................... 79 A Cultura de Holos ......................................................................... 93 Evolução, e não Extinção! Um Chamado de Fiji......................... 101
PARTE DOIS
MUDANÇA DE PARADIGMA NA CIÊNCIA
9. 10. 11. 12. 13.
O Plenum Cósmico: O Novo Conceito Fundamental de Realidade ............................. Coerência não Local: O Novo Conceito de Realidade Manifesta ................................... O Campo Akáshico: O Recém-Redescoberto Conceito de Realidade ........................... Implicações Metafísicas, Teológicas e Éticas................................ A Próxima Evolução da Consciência Humana ............................
109 117 129 133 143
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PARTE TRÊS
A GLOBALSHIFT EM AÇÃO: O CLUBE DE BUDAPESTE E SUAS INICIATIVAS
14. 15. 16. 17. 18. 19. 20.
Uma Breve História do Clube de Budapeste Uma Contribuição de Iván Vitányi e Mária Sági ............................ Manifesto sobre a Consciência Planetária ................................... Principais Atividades do Clube de Budapeste ............................. Objetivos da GlobalShift University ............................................ Objetivos do World Wisdom Council ......................................... Objetivos do International Survey of Emergent Cultures ........... Objetivos dos Eventos Global Peace Meditation/Prayer Days .....
151 157 167 169 173 175 177
Anexo: Comunicação Além do Túmulo – Explorando uma Explicação ........................................................ 179 Bibliografia ................................................................................... 201
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–––––––––––––––––– O que é um salto quântico no cérebro global? O cérebro global é a rede de processamento de energia e informação quase neural criada pelos seis bilhões e meio de seres humanos que habitam o planeta, interagindo de muitas maneiras – privadas e públicas – e em muitos níveis – locais e globais. Um salto quântico no cérebro global é uma transformação súbita e fundamental nas relações dos indivíduos de uma parcela significativa dos seis bilhões e meio de seres humanos, uns com os outros e com a natureza – uma macromudança na sociedade –, e uma transformação igualmente súbita e fundamental nas percepções da frente avançada da humanidade com relação à natureza da realidade – uma mudança de paradigma na ciência. Juntas, as duas mudanças compõem uma verdadeira “revolução da realidade” na sociedade e na ciência.
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Introdução
A Revolução da Realidade
Na primeira década do século XXI, defrontamo-nos com uma nova realidade, individual e também coletivamente. Nossa realidade está mudando porque o mundo humano tornou-se instável e não é mais sustentável. Mas a revolução da realidade abriga uma oportunidade única. Essa década é a primeira da história que nos ofereceu a escolha entre ser a última década de um mundo desvanecente e obsoleto ou a primeira de um mundo novo e viável. A realidade emergente é radicalmente nova. Estamos experimentando choques e surpresas cada vez mais frequentes e cada vez maiores, e eles não se devem simplesmente à cegueira e à ignorância. É a nossa realidade que está mudando. Como observou o economista Kenneth Boulding, a única coisa que não deveria nos surpreender é o fato de estarmos surpresos. A nova realidade é intrinsecamente surpreendente. Nada continua da mesma maneira como era antes; tudo “bifurca”. Essa expressão, que veio originalmente da matemática e da teoria do caos, indica que o caminho de desenvolvimento de um sistema encontra uma mudança rápida e anteriormente imprevista. Vivemos em uma era de bifurcação no meio de uma transformação fundamental do nosso mundo: em uma macromudança. A mudança de realidade que experimentamos se refere à maneira como nos relacionamos uns com os outros, com a natureza e com o cosmos. Previamente, alguns de nós havíamos suspeitado que essa realidade poderia 11
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logo mudar, mas a grande maioria da humanidade continuou supondo que as coisas permaneceriam praticamente como eram: tudo continuaria igual. No entanto, está ficando cada dia mais evidente que tudo, definitivamente, não continua igual. A Terra está literalmente se transformando sob os nossos pés. Na véspera do Ano-Novo, os russos o celebraram na antiga Praça Vermelha sem que houvesse no local um só traço de gelo ou neve; em janeiro, nova-iorquinos caminharam pelo Central Park em mangas de camisa; o centro da Groenlândia foi ocupado por um lago descongelado do tamanho do Lago Michigan, do Lago Superior e do Lago Erie combinados; e praticamente nada restou da lendária neve que cobria o topo do Kilimanjaro. Qualquer um que ainda duvida de que o mundo em que vivemos está mudando deve ser cego, obstinado ou pura e simplesmente estúpido. Naturalmente, o clima é apenas uma das muitas mudanças que estão ocorrendo, embora seja a mais visível. Há uma série de outros fatores associados com a mudança climática nas áreas econômica, social, política e cultural que são tão propensos à mudança quanto a ecologia. A linha de fundo está no fato de que, em mais de um aspecto, se nós continuarmos a caminhar como temos feito até agora, isso nos levará a uma bifurcação catastrófica, a um fatídico ponto de mudança irreversível. A mudança não é mais uma mera teoria e não é mais apenas uma opção: é uma realidade, um imperativo para a nossa sobrevivência. Prosseguir com base na suposição de que “tudo continuará o mesmo” (TCM) é uma atitude suicida. Um fato interessante e importante é que o nosso mapa do mundo também está mudando: a própria ciência está no meio de uma mudança de paradigma. O novo paradigma nos proporciona um entendimento mais profundo da essência das mudanças quânticas nos sistemas complexos da natureza e da sociedade. Os sistemas complexos não evoluem uniformemente, passo a passo: eles são acentuadamente não lineares. Eles evoluem passo a passo apenas até certo ponto e então atingem um limiar de estabilidade e em seguida colapsam ou bifurcam. Isso é verdadeiro para a evolução das estrelas (em determinado momento, elas explodem como uma supernova e vomitam a substância que se tornará matéria-prima para a próxima geração de estrelas ou colapsam em um buraco negro); isso também é verdadeiro para as espécies vivas (em sua maioria, mais cedo ou mais tarde, em seus tempos de vida, 12
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as espécies são ameaçadas de extinção – e então elas passam por mutações, que as tornam espécies mais viáveis, ou se extinguem); e também é verdadeiro para civilizações inteiras (elas também evoluem ou afundam, como a experiência do mundo comunista demonstrou no inverno de 1989/1990). Isso significa que a sociedade humana pode estar condenada e que nós podemos nos extinguir até mesmo como espécie? A forma de civilização atualmente dominante parece ter alcançado os seus limites e é compelida a mudar. Porém, a hipótese de nossa morte como espécie, embora não possa ser excluída, não está de modo algum estabelecida. Temos enormes recursos, recursos ainda inexplorados, para responder com sucesso aos desafios com que nos defrontamos. Temos toda uma gama de novas e sofisticadas tecnologias à nossa disposição, e percepções radicalmente novas estão emergindo na linha de frente das ciências. Entretanto, a profunda e aguçada percepção-chave que provém do novo paradigma das ciências não é tecnológica. Ela é a confirmação de alguma coisa que as pessoas sempre sentiram, mas para a qual não puderam dar uma explicação racional: nossa conexão íntima uns com os outros e com o cosmos. As pessoas tradicionais sabiam disso e viviam isso, mas a civilização moderna, em primeiro lugar, negligenciou esse fato e, em seguida, o negou. No entanto, a experiência espiritual genuína oferece evidências diretas de nossas ligações uns com os outros e com toda a criação, e hoje a ciência confirma a validade dessas intuições. Até a última década – ou as duas últimas décadas –, os cientistas e as pessoas inclinadas para a ciência consideravam o sentimento da interconexão humana – ou da interconexão entre ser humano e natureza – como mera ilusão. Mas então as evidências começaram a aparecer. Um olhar revigorado para as nossas conexões no arcabouço das novas ciências – a física quântica acima de tudo – começou a indicar que a “unicidade” – o sentimento de unidade – que as pessoas às vezes experimentam não é ilusória e que a sua explicação não está além da compreensão das ciências. Assim como os quanta, os átomos inteiros e as moléculas podem ser instantaneamente conectados ao longo do espaço e do tempo, da mesma maneira, os organismos vivos, especialmente o cérebro e o sistema nervoso – complexos e supersensíveis – dos organismos evoluídos, podem ser instantaneamente conectados com outros organismos, com a natureza e com o cosmos como um todo. Esse fato 13
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é de importância vital, pois a admissão em nossa consciência cotidiana da intuição de conexões pode inspirar a solidariedade que tão urgentemente necessitamos para viver neste planeta – para viver em harmonia uns com os outros e com a natureza. O oráculo de Delfos recomendava: “Conhece-te a ti mesmo”. Deveríamos completar essa frase dizendo: “Conhece-te a ti mesmo como parte de um mundo interconectado em rápida mudança”. Como você poderá ver neste livro, esse conhecimento e a sabedoria prática que dele se segue tornaram-se a precondição da persistência da civilização humana e até mesmo da sobrevivência da espécie humana.
O NASCIMENTO E O CORPO DESTE LIVRO Este livro abrange, pela primeira vez, os dois lados de meus interesses e de minhas pesquisas ao longo de minha vida: o lado prático, focalizado nos problemas, nas oportunidades e nos desafios com que nós agora nos defrontamos individual e coletivamente, e o lado teórico, que procura os contornos da realidade sugerida pelos desenvolvimentos mais recentes nas ciências. Juntos, ambos os lados fornecem orientação essencial para uma época de mudanças quânticas: uma época em que o terreno está mudando sob os nossos pés, bem como o nosso mapa do terreno. O corpo deste livro consiste em três partes. A Parte 1 é a parte prática, que focaliza a mudança do mundo em que vivemos. A realidade que experimentamos é uma realidade substancialmente nova. O desafio que essa “macromudança” nos impõe é o da mudança construtiva, com a qual nos defrontamos em nós e ao nosso redor, nascida da previsão fortalecida pela percepção e pela compreensão. Ou nós mudamos com o nosso mundo em mudança – o que nós poderemos fazer se adquirirmos a compreensão e dominarmos a vontade – ou nos arriscamos a sofrer crises cada vez maiores e, finalmente, o colapso. A Parte 2 é a parte teórica, mas ela focaliza uma preocupação eminentemente prática: como entender o mundo em que vivemos e o universo, seu contexto mais amplo. Não é apenas o nosso mundo que está mudando, mas também a ciência; uma transformação que ocorre na forma de uma mudança de paradigma. O conceito de realidade que emerge nas fronteiras da pesquisa
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científica tem pouca semelhança, se é que tem alguma, com o conceito clássico que nos ensinaram nas escolas. O novo conceito é mais amplo – ele se estende a muitos universos que surgem em um metauniverso possivelmente infinito – e é mais profundo – estende-se para dimensões inferiores ao domínio do quantum. É também mais inclusivo, pois projeta luz em fenômenos que foram ignorados ou que eram considerados “anômalos” e relegados à metafísica, à teologia ou à parapsicologia até poucos anos atrás. Os treze capítulos que, juntos, compõem a Parte 1 (que trata do nosso mundo em mudança) e a Parte 2 (que resume as mudanças ocorridas no mapa do mundo fornecido pela ciência) formam uma totalidade coerente, mas cada capítulo também pode ser lido separadamente, de acordo com as preocupações e os interesses do leitor. Eles se destinam a nos ajudar a entender o nosso mundo em mudança, bem como o nosso mapa do mundo, que também está mudando, e a nos investir de poder e guiar a nossa evolução à medida que nos movemos para a fase crítica da macromudança atual. A Parte 3 passa da teoria para a prática ativa e efetiva. Nela se descrevem as origens, os projetos e os principais objetivos do Clube de Budapeste, uma usina de ideias global fundada pelo autor e dedicada à facilitação das mudanças que precisam ocorrer em nosso mundo graças à aplicação dos profundos discernimentos proporcionados pelo novo mapa da realidade obtido pela ciência para a causa da paz, da sustentabilidade, do bem-estar e da sobrevivência humana. Na seção de encerramento – o anexo – se desbrava uma nova região em nosso mapeamento científico das áreas mais profundas da experiência humana. Reexamina-se uma experiência surpreendente feita pelo autor e se tenta interpretá-la à luz do novo mapa da realidade. A experiência (“transcomunicação” com pessoas que morreram recentemente) é de uma importância tão notável que merece que nos aventuremos além dos limites da ciência estabelecida – os quais, devemos observar, não são em absoluto os limites da acuidade perceptiva e da compreensão humana.
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PARTE 1
MACROMUDANÇA NA SOCIEDADE
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Capítulo
1
Evolução ou Extinção EIS A QUESTÃO
Se tivesse vivido atualmente, Hamlet, príncipe da Dinamarca, afirmaria com uma convicção mais profunda do que nunca: Ser ou não ser é de fato a questão. Porém, não é sobre a caveira de um ser humano individual que Hamlet teria refletido, mas sobre este planeta vivo azul-esverdeado, o lar da humanidade. Até quando ele nos sustentará? Será que nós destruiremos seus equilíbrios delicados, ou será que começaremos a nos empenhar na tarefa de curar os danos que já infligimos a ele? Conseguiremos evoluir como uma espécie social e cultural consciente ou nos extinguiremos como os dinossauros? A questão é: evolução ou extinção?
Um provérbio chinês nos adverte: “Se nós não mudarmos de direção, é provável que acabemos chegando exatamente ao mesmo lugar de onde partimos”. Aplicado ao mundo atual, isso seria desastroso: • Há um aprofundamento da insegurança tanto em países ricos como nos pobres e uma propensão maior em muitas partes do mundo a recorrer ao terrorismo, à guerra e a outras formas de violência. • O fundamentalismo islâmico está se espalhando por todo o mundo muçulmano, os neonazistas e outros movimentos extremistas estão 19
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vindo à tona na Europa, e o fanatismo religioso está aparecendo em todo o mundo. Os governos procuram conter a violência por meio de guerras organizadas; os gastos militares em todo o mundo subiram nos últimos oito anos consecutivos e atingiram mais de um trilhão de dólares por ano. Um em cada três moradores urbanos no mundo mora em um cortiço, uma favela ou em um gueto urbano. Mais de 900 milhões de pessoas são classificadas como moradoras de cortiço. Nos países mais pobres, 78% da população urbana subsiste em circunstâncias que ameaçam a vida. Embora mais mulheres e meninas estejam sendo instruídas agora, em relação aos anos anteriores, em muitas partes do mundo, menos mulheres têm empregos e mais mulheres são forçadas a equilibrar seus orçamentos no “setor informal”. A frustração e o descontentamento continuam a crescer à medida que o poder e a riqueza se tornam mais concentrados e aumenta a lacuna entre os detentores da riqueza e do poder e as populações pobres e marginalizadas. Oitenta por cento do Produto Interno Bruto (PIB) do mundo pertence a um bilhão de pessoas, e 20% do que resta é partilhado por cinco bilhões e meio de pessoas. A mudança no clima ameaça tornar grandes áreas do planeta inóspitas para a habitação humana e para um nível adequado de produção de alimentos. Pouquíssimos países ainda são autossuficientes em alimentos – e as reservas de alimentos internacionalmente disponíveis estão diminuindo. A quantidade de água potável disponível está diminuindo rapidamente; mais da metade da população mundial enfrenta carência de água. Em média, 6 mil crianças morrem a cada dia de diarreia causada por água poluída.
Não estamos caminhando na direção correta. Para onde vamos a partir daqui?
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DOIS CENÁRIOS 1. Sem mudança: o Cenário TCM (Tudo Continuará o Mesmo) Prosseguindo nesse caminho, o prelúdio para o colapso inevitável irá se manifestar à medida que condições críticas forem surgindo nas regiões mais diretamente expostas aos efeitos perniciosos das mudanças climáticas. Nessas regiões, lares de centenas de milhões de habitantes: • A mudança dos padrões meteorológicos cria secas, tempestades devastadoras e perdas nas colheitas por toda parte. • Áreas litorâneas são inundadas pela elevação dos níveis do mar. • A fome se espalha em áreas que dependem de quantidades adequadas de chuva para a produção de alimentos e áreas expostas a tornados, furacões e violentas tempestades. • Ondas maciças de migrantes vindos de regiões mais atingidas procuram áreas onde os recursos estão mais garantidos. O colapso das regiões mais pobres e mais diretamente expostas cria uma ameaça à segurança global: • Epidemias de doenças infecciosas se espalham pela África, pela Ásia e pelas Américas por causa de ondas de calor, surtos de pestes agrícolas e água potável contaminada. • As ondas de migração para regiões relativamente mais afortunadas sobrecarregam a base de recursos local e cria conflitos com as populações estabelecidas. • Grupos terroristas, proliferadores nucleares, narcotraficantes e o crime organizado formam alianças com empresários inescrupulosos e expandem a escala e o âmbito das suas atividades. No caminho para o colapso, podemos antecipar mudanças drásticas nos processos econômicos e políticos e na ecologia, acompanhadas por debandada militar.
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Os Processos Econômicos e Políticos • O terrorismo se espalha, juntamente com ataques declarados e não declarados contra países suspeitos de abrigar terroristas. • A Aliança do Atlântico Norte, que liga a Europa, os Estados Unidos e a Rússia, entra em colapso. • A França, a Alemanha, a Rússia e a China formam uma coalizão para equilibrar aquilo que eles percebem como uma crescente hegemonia militar-econômica dos Estados Unidos, à qual se juntam o Brasil, a Índia, a Coreia do Sul e outros países em desenvolvimento. • Os gastos militares globais experimentam um aumento acentuado à medida que os Estados Unidos e seus aliados e os países do bloco oponente entram na espiral de uma corrida armamentista. • A estagnação econômica global, combinada com o unilateralismo norte-americano, enfraquece o Fundo Monetário Internacional e a Organização Mundial do Comércio. À medida que os acordos econômicos regionais tornam-se mais atraentes do que os programas de ação comerciais multilaterais e o comércio bilateral com os Estados Unidos, guerras comerciais tornam-se frequentes e desestabilizadoras. • Acordos comerciais norte-sul são cancelados e fluxos comerciais são interrompidos; o sistema econômico-financeiro internacional está desordenado. • Pessoas forçadas a viver na pobreza juntam-se a rebeliões contra proprietários de terra locais e autoridades do governo.
As Dimensões Ecológicas • Escassez de água e de alimentos na África Subsaariana, na China, no sul da Ásia e na Mesoamérica gera guerras pela água e por alimentos. • A exploração excessiva dos solos e a pesca desmedida em mares e rios reduzem a produção nos países industrializados e produzem crescente dependência com relação a reservas internacionais de alimentos cada vez mais escassas. • Condições de inanição e de insalubridade aceleram a difusão do HIV/AIDS, da SARS e de outras epidemias em todos os países pobres. • A Corrente do Golfo oscila, produzindo temperaturas geladas na primavera e no verão na Europa ocidental e setentrional. 22
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As Consequências Militares • Os conflitos políticos e econômicos entre os Estados Unidos e seus aliados e o bloco militar/político de oposição atinge um ponto crítico; os que defendem o uso do poder militar e os lobbies armamentistas pressionam para que sejam usadas armas de destruição em massa. • Regimes que defendem o uso da força sobem ao poder no Hemisfério Sul, determinados a usar as forças armadas para corrigir erros detectados. • Guerras regionais irrompem nas tradicionais áreas perigosas e se espalham para países vizinhos. • Os principais blocos das potências militares, políticas e econômicas decidem fazer uso de seus arsenais de armas de alta tecnologia para atingir seus objetivos econômicos e políticos. • Alguns entre os novos regimes que enfatizam o uso da força empregam armas nucleares, químicas ou biológicas para resolver conflitos regionais. • A guerra travada com armas convencionais e não convencionais ingressa em uma escalada para o âmbito global. Nenhuma mudança leva à ruptura. Mas há outro caminho que poderíamos seguir. 2. O Cenário da Transformação Oportuna
Os Primeiros Passos • A experiência do terrorismo e da guerra – juntamente com o aumento da pobreza e das ameaças impostas por um clima em mudança – desencadeia mudanças positivas na maneira como as pessoas pensam. A ideia segundo a qual indivíduos e pequenos grupos podem ser agentes efetivos de transformação rumo a um mundo mais pacífico e sustentável capta a imaginação de um número cada vez maior de pessoas. Pessoas em diferentes culturas e de diferentes posições sociais e ocupações profissionais juntam forças para enfrentar as ameaças com que se deparam em comum. 23
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• A ascensão mundial de movimentos populares pela paz e pela cooperação internacional leva à eleição de figuras políticas animadas de motivações semelhantes, emprestando ímpeto revigorado a projetos de cooperação econômica e de solidariedade intercultural. • Líderes políticos e de opinião despertam para a necessidade urgente de oferecer ajuda para as populações mais imediatamente ameaçadas e de criar uma organização em nível mundial para monitorar as ameaças, fornecer advertências e levantar fundos para realizar operações de resgate. • Líderes empresariais locais, nacionais e globais decidem adotar uma estratégia onde a procura do lucro e do crescimento é informada pela busca de responsabilidade social e ecológica corporativa. • Um E-Parlamento eletrônico entra on-line, ligando os parlamentares em todo o mundo e proporcionando um fórum para debates sobre as melhores maneiras de servir a um bem comum. • Organizações não governamentais se ligam por meio da Internet e desenvolvem estratégias compartilhadas para restaurar a paz, revitalizar regiões e áreas ambientais dilaceradas pela guerra e assegurar um suprimento adequado de alimento e de água. Elas promovem planos de ação política social e ecologicamente responsáveis em governos locais e nacionais, e também nos negócios.
A Cristalização dos Contornos de um Mundo Cooperativo • Dinheiro é transferido de orçamentos militares e destinado à defesa para financiar tentativas práticas de resolução de conflitos e implementação de projetos de sustentabilidade social e ecológica, internacionalmente pactuados e globalmente coordenados. • É criado um programa de âmbito mundial de energia renovável, preparando o caminho para uma terceira revolução industrial, que faz uso de fontes de energia solar e de outras fontes de energia renovável para transformar a economia global, fornecer água limpa e retirar populações marginalizadas do círculo vicioso da pobreza. • A agricultura é restituída a um lugar de importância básica na economia mundial, tanto para a produção de alimentos de primeira necessidade como para a produção de culturas energéticas e de matérias-primas para as comunidades e para a indústria. 24
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• Líderes empresariais de todo o mundo juntam forças para criar uma economia de mercado socioecológica voluntariamente autorreguladora que assegure acesso justo a recursos naturais e a produtos industriais e à atividade econômica para todos os países e todas as populações.
A Ascensão de uma Civilização Sustentável • Estruturas de governo nacionais, continentais e globais são reformadas ou recém-criadas, levando os Estados para a democracia participativa e liberando uma irrupção de energia criativa entre populações capacitadas e progressivamente mais ativas. • O sistema de mercado socioecológico consensualmente criado e globalmente coordenado começa a funcionar; como resultado, os recursos naturais requeridos para a saúde e o bem-estar tornam-se disponíveis em toda a comunidade mundial. • A desconfiança internacional e intercultural, o conflito étnico, a opressão racial, a injustiça econômica e a desigualdade sexual dão lugar a um nível superior de confiança e à vontade compartilhada para se obter relações pacíficas entre os Estados e sustentabilidade na economia e no meio ambiente. Poderíamos mudar de direção; com uma transformação oportuna, poderíamos criar um mundo pacífico e sustentável. Será que o criaremos? Einstein nos disse que não podemos resolver um problema com o mesmo tipo de pensamento que o produziu. No entanto, atualmente, estamos tentando fazer exatamente isso. Estamos combatendo o terrorismo, a pobreza, a criminalidade, o conflito cultural, a mudança climática, a degradação ambiental, a má saúde e até mesmo a obesidade e outras “doenças da civilização” com os mesmos meios e métodos que produziram os problemas – estamos recorrendo a exércitos e forças policiais, a remendos tecnológicos e a medidas paliativas, temporárias. Não estamos juntando a vontade e a visão necessárias para produzir uma transformação oportuna.
SERÁ QUE É TARDE DEMAIS? Na primavera de 2006, o biólogo britânico James Lovelock, que há trinta anos descobriu que a Terra possui um sistema de controle planetário que a 25
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mantém ajustada para a vida (a “hipótese de Gaia”), proclamou que esse sistema de controle foi destruído e que rapidamente produzirá condições que poderão se comprovar fatais para a humanidade. O aquecimento da atmosfera pela atividade humana criará, nas palavras de Lovelock, “um clima infernal”. A temperatura média aumentará aproximadamente 9,8o C em regiões temperadas e 12,8o C nos trópicos. “É preciso considerar que a Terra, em sua condição física, está seriamente doente e logo entrará em um período de febre mórbida que poderá durar 100 mil anos.” “Creio que temos poucas opções”, concluiu Lovelock em The Revenge of Gaia, “a não ser nos prepararmos para o pior e admitirmos que já ultrapassamos o limiar.” O limiar a que ele se refere é o ponto em que a dinâmica de automanutenção do sistema colapsa e leva irreversivelmente à catástrofe. Será que já alcançamos esse ponto catastrófico? Não sabemos com certeza, mas as notícias não são nada animadoras. O clima global está se despedaçando, repleto de pontos de mudança irreversível e de laços de realimentação além dos quais o lento rastejar da decadência ambiental dará lugar a um súbito colapso que se autoperpetuará. Os equilíbrios vitais estão se degradando na atmosfera, nos oceanos e nos sistemas de água doce, e também nos solos produtivos. As consequências incluem o efeito estufa e a redução da produtividade dos mares, lagos, rios e das terras agricultáveis. Vários processos críticos se alimentam de si mesmos e estão fora de controle. À medida que o gelo ártico derrete, o mar absorve mais calor, que aumenta a taxa de derretimento; à medida que o permafrost siberiano desaparece, o metano liberado da turfeira sob ele exacerba o efeito estufa, o que aumenta a fusão de gelo e, portanto, a liberação de mais metano. Mas os argumentos que apontam para o dia do juízo final não levam em consideração um ponto básico: eles deixam de reconhecer não apenas que a natureza é um sistema dinâmico capaz de rápidas transformações, mas também que a humanidade é igualmente um sistema assim. Quando um determinado sistema se aproxima do ponto em que as estruturas e realimentações existentes não conseguem mais manter sua integridade, ele se torna ultrassensível e responde até mesmo ao menor estímulo para a mudança. Nesse estado, é possível que ocorram “efeitos borboleta”. (Esses efeitos são assim chamados por causa do “atrator caótico” em forma de borboleta descoberto pelo meteorologista Edward Lorenz quando ele tentava mapear mudanças 26
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progressivas no sistema meteorológico global. Eles são popularmente identificados com a ideia de que as minúsculas correntes de ar criadas pelo bater das asas de uma borboleta podem ser amplificadas muitas e muitas vezes e acabar criando uma tempestade do outro lado do planeta.) No mundo atual, quase caótico, instável e, portanto, ultrassensível, “borboletas” tais como o pensamento, os valores, a ética e a consciência de uma massa crítica da sociedade podem desencadear transformações fundamentais.
A PERSPECTIVA POSITIVA Estamos nos aproximando de um ponto de mudança irreversível, mas a situação está longe de nos deixar sem esperança: perto do limiar do colapso dos sistemas, as previsões do dia do juízo final têm um efeito paradoxal. Elas elevam o nível de percepção das pessoas, motivam uma difundida mudança de consciência e podem acabar se tornando profecias autofalsificadoras. A situação política pode se tornar contraditória. Planos de ação política bem-intencionados criam a impressão de que a situação está controlada e de que a crise está sendo administrada, e assim eles não catalisam a vontade nem a direcionam para a transformação fundamental. Uma estratégia retrógrada é mais útil a esse respeito. Ela, de forma inadvertida, mas efetivamente, motiva as pessoas a insistir na mudança radical; ela projeta na ação um número cada vez maior de pessoas. Atualmente, políticas retrógradas ainda são dominantes. Em última análise, isso não é ruim. Nos segmentos mais avançados da população, essas políticas aumentam o nível de urgência de reformas econômicas, sociais e políticas. A mortandade que o tsunami asiático provocou entre inocentes aldeões e turistas que desfrutavam suas férias no Sul e no Sudeste da Ásia motivou atos de solidariedade e de generosidade em todo o mundo. O cataclismo produzido pelo Furacão Katrina fez as pessoas “encontrarem seus pés” e marcharem rumo a Washington a fim de protestar contra a política administrativa que consistia em se concentrar na guerra do petróleo no Iraque e negligenciar a necessidade de o país estar preparado para desastres naturais e a má situação em que se encontram as pessoas pobres que nele vivem. Será que a humanidade irá esperar a ocorrência de uma catástrofe natural ou ocasionada pelo homem, uma catástrofe que ceifará as vidas de centenas de 27
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milhares ou de milhões de pessoas, para se sentir realmente motivada a mudar? Mas então poderá ser tarde demais. Nós precisamos, e ainda podemos, nos encaminhar para uma mudança oportuna nos valores, na visão e nos comportamentos. Evolução para uma civilização sustentável, ou queda na crise, no caos e, possivelmente, na extinção. Como Hamlet diria hoje: eis a questão.
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