UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina CFH - Centro de Filosofia e Ciências Humanas - Dept. de Antropologia ANT7202: Introdução à Etnografia Semestre: 2011/1 Créditos: 4 Professor: Vânia Z. Cardoso -
[email protected] 22 de junho, 2011 Acadêmico: Jefferson Virgílio -
[email protected] Resenha: Tristes trópicos Claude Lévi-Strauss
Tristes trópicos é uma obra produzida por Lévi-Strauss onde descreve seu retorno ao Brasil. Apresenta características predominantemente de relatos de viagem e características que poderiam ser consideradas como de literatura clássica. Possui conteúdo autobiográfico e etnográfico, sendo os relatos apresentados no contexto onde o autor figura como personagem principal (característica tecnicamente indesejada e inesperada em material etnográfico). A obra não pode ser “encaixada” apenas a um gênero literário pois apresenta pontuações que permutam sua classificação constantemente, atento que tal característica não merece maior destaque ou atenção que o comportamento realizado pelo autor na escolha do “personagem principal”. Em seu conteúdo propriamente dito aborda desde as tentativas de embarque até a descrição de encontros com os nativos. Apresenta ilusões e esclarecimentos destas, memórias, desmitificações e reconhecimentos de considerações prévias. Reflexões sobre o propósito desta obra (e de outros relatos de viagem) são presentes logo no ínicio do texto e substituem de maneira bastante proveitosa e singular a inexistência de um prefácio, outras reflexões do autor são presentes constantemente em todo o restante da obra, sendo uma característica singular. O autor inicia a abordagem descrevendo a possível insignificância e pobreza que pode ser enxergada na produção de tal obra (e de obras similares). Suas palavras remetem a idéia (com determinada irônia e sarcasmo) de como relatos comuns, diários e rotineiros não deveriam ser investidos de pesquisa acadêmica, pois estes supostamente estariam sendo direcionados e consumidos por uma classe incapaz de absorver em sua magnitude plena a obra apresentada e também incapaz por fim de “despertar seu espírito crítico” (Lévi-Strauss, 1957: p. 10). As obras estariam sendo “aproveitadas” por pessoas erradas e não-produzindo aquilo a que se destinariam. O descontetamento de Lévi-Strauss é uma crítica direta aos escritores de outros “relatos de viagem”, que segundo o próprio não estão sendo corretamente aproveitados, e pior, estão
satisfeitos com tal situação. Em diversos momentos de sua obra é identificável o diálogo do autor com outros pseudo-etnólogos e suas obras que são categorizadas como “relatos de viagem”. Lévi-Strauss revela que o trabalho realizado nesta viagem de retorno ao Brasil é fruto de 20 anos de aguardo, se considera um fracassado por isso e não um verdadeiro etnólogo por sua incapacidade de realizar tal experimento em sua primeira visita à América. O resgate à memória é um recurso razoavelmente aplicado pelo autor nesta obra, fazendo inúmeras referências e citações a eventos ocorridos em outras viagens e locais, tanto no Brasil como fora dele. O tratamento ofertado por Lévi-Strauss ao etnógrafo no capítulo VI é digno de nota, assim como o impacto provocado pela etnografia mal-praticada: “Basta pensar somente no privilégio de aceder a populações virgens de qualquer investigação séria e suficientemente bern preservadas, graças ao pequeno lapso de tempo decorrido desde que foi empreendido o seu extermínio.” (LéviStrauss, 1955: p. 58). A crítica é direcionada à prática de etnografia para finalidades difusas da “etnologia acadêmica”, tal prática é realizada por europeus à América, Ásia e África desde o século XV, inicialmente de forma ignorante, e entre o século XIX e XX de forma proposital. No livro é possível constatar a tentativa de realizar um nova etnografia, que apresenta um “pseudo-foco” no autor, se aproximando de uma autobiografia, porém descrevendo o outro. Novamente é um diálogo com outras etnografias, que tratam o outro como “objeto de estudo”, no sentido literal da sentença. REFERÊNCIAS FRANÇA, Melissa de Matos. Dialogismo e literatura em tristes trópicos. Disponível em:
. Acesso em 22 de junho de 2011. ______ . Tristes trópicos, de Claude Lévi-Strauss: entre a etnografia e a literatura. Disponível em: . Acesso em 22 de junho de 2011. LÉVI-STRAUSS, Claude. Tristes trópicos. [1955] Trad. Wilson Martins, revista pelo autor. São Paulo: Editora Anhembi LTDA, 1957. LUZ, Eduardo. Tristes trópicos, 50 anos. Disponível em: . Acesso em 22 de junho de 2011. MAGNANI, José Guilherme Cantor. As cidades de tristes trópicos. Disponível em: . Acesso em 22 de junho de 2011.