Revista da Loja Quetzalcoatl, Ordo Templi Orientis
INICIAÇÃO NA ARTE MARCIAL O CAMINHO INICIÁTICO E AS ARTES MARCIAIS ARCIAIS TÊM TÊM pág. 8 COMO NORTE O AUTOCONHECIMENTO .
ÍNDICE Editorial pág. 3 Notícias pág. 3 Monges sem Piedade pág. 4 Filosofia no Novo Novo Æon pág. 6
Iniciação na Arte Marcial
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Escarlate pág. 12
Estudos A Via dos Chakras pág. 15 Biblioteca Thelêmica O Chamado do 12º Aethyr pág. 17 Hooráculo pág. 20
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EDITORIAL
NOTÍCIAS
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uitas religiões professam o isolamento par alcançar Deus, a ânsia de seus devotos se volta para silentes mosteiros no alto de alguma montanha, lugares austeros onde se come pouco e se reza muito, sexo nem em pensamento! Thelema, porém, professa um outro tipo de isolamento, a do guerreiro em meio à multidão. Se o guerreiro deseja encontrar Deus então ele deve aprender a viver intensamente cada momento de seu dia. E não estamos falando aqui de viver intensamente somente os prazeres, mas qualquer coisa que se nos apresente, pois para o Telemita viver é oportunidade de aprendizado. Este viver intensamente exige algo que se alcança a duras penas enquanto se agüenta a bronca do chefe, o lamento do companheiro, o engarrafamento no fim do expediente, a traição do amigo ou da amante, o sexo gostoso, a libido reprimida, as contas pra pagar,eu me refiro à percepção integral do aqui agora. Esta percepção se alcança ao mergulhar profundamente nossos cinco sentidos no milagre da vida, sem medo do sofrimento ou do prazer, sem tentativas de fuga, sem desviar o olhar, sem elaborar um belo imaginário para não ver e experimentar o nosso próprio destino. Estou falando de encarar todos os fenômenos de nossas vidas de peito aberto, olho-no-olho, compreendendo que cada evento é um desafio em direção ao nosso aprendizado como pessoas, ao nosso entendimento enquanto deuses. Compreendendo que o objetivo da ferida não é provocar dor, mas o entendimento que cura. O Thelemita é um guerreiro silencioso no meio da multidão que povoa o mundo, seu corpo é o mosteiro de seu espírito e se lá fora o barulho ensurdece, ali dentro o silêncio é perene. Um mundo estável em meio à instabilidade, um observatório da alma resguardado do mundo, a alma apreende e aprende até que o paladar esteja saciado, seu ventre pleno, e ela não deseje mais a excitação, mas o silêncio do Amado. Então o mundo esmorece, desvanece, morre, enquanto ela ressuscita para a vida eterna. E então?!...não sei! O que importa? O presente é tudo e o futuro apenas uma memória que fenece infinitamente.
Encerramento das atividades para o ano 2011 e.v. A Loja Quetzalcoatl encerrou suas atividades para o ano de 2011 e.v. nos dias 17 e 18 de dezembro. A festividade também contou com a presença de Irmãos e Irmãs do Acampamento Opus Solis, Corpo Local da Ordem para Belo Horizonte, MG. Entraremos em recesso e retornaremos em fevereiro com o calendário de nossos trabalhos para o ano de 2012 e.v. Contatos conosco poderão ser respondidos apenas nessa altura.
Missa de Babalon “Tão doce é esta canção que ninguém poderia resistir a ela. Pois nela está toda dor apaixonada pela luz da lua, e o grande anseio do mar, e o terror de lugares desolados, – todas as coisas que seduzem os homens ao inalcançável”. (Liber 418, Aethyr ARN). No dia 17 de dezembro e.v., como uma parte do término dos trabalhos da Loja Quetzalcoatl para o ano de 2011, celebramos a Missa de Babalon, escrita por Frater Orpheus. O Ritual foi realizado pela primeira vez no mundo por nós em 2009 e.v. e, agora, o revisitamos com especial carinho e devoção. Embriagados pela Meretriz que estremece a Morte, encerramos nosso ano. Salve, Babalon, cheia de alegria!
Solstício de Verão Estamos comemorando mais um Solstício de Verão, marcando, no Hemisfério Sul, o dia mais longo do ano. A relação entre Sol e Terra atinge seu clímax de Vida: como na fartura de Luz ao meio-dia, Ahathoor, deusa nutridora de Hórus, erguese sobre o trono de Rá. Boas festas! A Loja Quetzalcoatl deseja o mais intenso e refinado regozijo a todos.
Iniciação ao Grau de Minerval “Conceda que cada um persiga a sua Vontade como um homem forte que se regozija em seu caminho, como o curso de uma Estrela que arde para sempre na jubilosa companhia dos Céus.” (Liber XV)
SOROR BABALON
MESTRA DA LOJA QUETZALCOATL - RIO DE JANEIRO REPRESENTANTE DO FRATER SUPERIOR NO BRASIL
No dia 22 de outubro, realizamos a Iniciação dos novos Minervais da Ordo Templi Orientis. Que os Honrados Hóspedes sejam muito bem-vindos e que sua estadia conosco seja a mais proveitosa possível. Sucesso seja vossa prova!
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M GES SEM PIEDADE FRATER YVY MARAEY
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UMA VISÃO DA VIDA E DO CAMINHO INICIÁTICO DE ACORDO COM A LEI DOS FORTES - A LEI DO GUERREIRO, A NOSSA LEI E A ALEGRIA DO MUNDO!
A
s palavras de guerra e vingança de Ra-Hoor-Khuit, no terceiro capítulo do Livro da Lei, costumam assustar os marinheiros de primeira viagem que, tendo se deparado com as promessas de amor de Nuit, de repente se vêem no reino marcial do deus falcão. As palavras enérgicas de Hadit, manifestas no segundo capítulo, também matam a subserviente doçura da piedade cristã para exaltar a lei dos fortes, uma lei nobre, de Reis apaixonados pela Vida e ardendo com o desejo pela Morte – a morte como o êxtase do rompimento de uma fronteira, da vitória sobre um velho limite, a morte como parto de uma nova criatura, um movimento natural do Universo, um ato de am or e “coroa de tudo”. É este espírito febril, guerreiro e ativo que está contido no Livro da Lei e que diferencia o Rei do escravo que suplica, lamentando o seu destino, ou enxergando sua vida como um presente ou castigo de um deus, do “karma” ou do Universo, mas nunca como celebração de sua própria liberdade. Em “A Mensagem do Mestre Ther ion”, Crowley sugere a imagem do thelemita como um monge-cavaleiro da liberdade que entende que “lutar é certamente amor” e que há nisto refinamento e delicadeza, mas é a “delicadeza da força”. Essa luta refinada é a lei dos fortes. Esse é o exercício da realeza do Rei, que segue no comando de exércitos vitoriosos (AL II:24). Nós treinamos para sermos monges sem piedade: mas esse curso de severidade é antes de tudo para com nós mesmos. Se o caminho iniciático, que de fato é trilhado pelos audazes e orgulhosos, for entendido pela pessoa como um mero sonho de grandeza particular, estaria ela nublando a crueza da verdade, sendo condescendente e piedosa com sua própria fantasia, brecha pela qual qualquer um a conquistaria através da lisonja e diante da qual a verdade seria sacrificada.
l t a o c l a z t e u Q a j o L — s i t n e i r O i l p m e Na parte II do Liber ABA (Book 4), cap. 7, há um trecho interessante T o d r em que Crowley discorre sobre disciplinar as emoções: “Se exis O
te uma emoção que nunca é útil, é o orgulho; por esta razão, de que está inteiramente ligado ao Ego... Não, não existe uso para o orgulho!” O orgulho nesse caso não expressa uma atitude vigorosa diante da vida e, assim como o Ego nesse contexto, expressa somente presunção ou arrogância. E toda arrogância é uma tentativa de autopromoção proporcional à diminuição da substância do outro, com quem necessariamente se compara. Mas como poderia haver escala de valor entre duas naturezas que são simplesmente aquilo que devem ser? A Natureza não conhece “melhor” ou “pior”: julgamento é didática arbitrária. Portanto, toda arrogância é uma medida traiçoeira, uma ilusão e um desperdício de energia. Além disso, diminuir qualquer pessoa ou situação de acordo com nossa própria escala é tacitamente admitir que, em alguma outra situação, iremos aumentar alguém, diante de quem seremos nós os diminuídos. Ambas as coisas são reproduções de um ciclo escravagista mantido por uma mentalidade que, inconscientemente, admite sua inferioridade ao se julgar superior, e que acaba dominada quando deseja dominar. Pensando nesses termos, por que este monge-cavaleiro da liberdade, este Rei, se preocuparia em conceituar sobre sua realeza, ou perderia tempo analisando uma escravidão que não fosse a sua própria? Por que, afinal, se preocuparia com os parâmetros do caminho alheio? Ser a si mesmo integralmente costuma ser trabalhoso o bastante. O escritor Carlos Castañeda credita interessantes palavras a seu suposto instrutor, Don Juan Matus: “A autoconfiança do Guerreiro não é a autoconfiança do homem comum. O homem comum procura certeza aos olhos do observador e chama a isso autoconfiança. O Guerreiro procura impecabilidade aos próprios olhos e chama
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a isso humildade. O homem comum está preso aos seus semelhantes, enquanto o Guerreiro só está preso ao infinito”. Fica evidente que a humildade do Guerreiro nada tem a ver com autocomiseração ou mornidão, mas simplesmente serenidade, honestidade e retidão para consigo mesmo. O Guerreiro voltou toda a sua atenção para a Grande Obra. Ele não busca aceitação ou afirmar-se através de arrogância por não fundamentar sua identidade numa relação de comparação, e tampouco tem algo a provar. Sendo a comparação entre naturezas essencialmente falha, por isso também a compaixão – ao menos no seu sentido trivial – é ilusória: ela se origina da presunção de que a existência é comunal na fraqueza e sofrimento, o que é uma projeção do próprio medo da dor. Já a força é aquilo que perdura sem restrição: é a execução devida da essência íntima de cada coisa, a fartura e manutenção da melhor safra da Natureza, a única garantia da continuidade de vida e, portanto, alegria do mundo. De todo modo, cabe aqui instigar um paradoxo. Sendo a “compaixão o vício dos reis” (AL II:21), mesmo se a entendermos como um excesso específico da condição real, ainda assim ela surge para pontuar um sintoma desta realeza. Cada um pode meditar por si só sobre a dimensão desse significado. Castañeda completa: “Os Guerreiros não se ajudam, não têm compaixão por ninguém. Para eles, ter compaixão significa que você deseja que o outro seja como você, e você o ajuda só para isso. A coisa mais difícil do mundo é um Guerreiro deixar os outros em paz. A impecabilidade do Guerreiro é deixar os outros como são, e apoiá-los no que forem. Isso significa, naturalmente, que você confia que também eles sejam Guerreiros impecáveis”. É preciso abrir aqui um parêntese muito importante. Essa definição quase espartana dos Guerreiros “impecáveis” e que “não se ajudam” parece fazer apologia a uma dureza que é facilmente mal interpretada. Toda apreciação desta força deve ser feita à luz
da sutileza, do contrário, esse sistema ético seria uma rigidez neurótica temperada de opressão contra si mesmo e contra os outros e, portanto, uma fraqueza dissimulada. A “força” não é uma qualidade caricatural, mas, sim, o entendimento e economia da própria energia pessoal e seu uso direcionado para um propósito. Sobre o uso dessa energia, vale lembrar as palavras do Tao Te Ching: “O que é duro e forte declina / o que é suave e flexível prospera”. Entender a força como rigidez bruta é tomá-la como algo estanque e, assim como um cadáver, um emblema de putrefação. Já a flexibilidade é relação e adaptação, que são emblemas da vida. Mais do que se dispor, como a água, à fluidez em diferentes terrenos, a força do Guerreiro é tal que ele sabe que uma hora ele cairá e, aceitando a queda como parte da vida, pode escolher com mais consciência como e quando isso acontecerá, algo que jamais poderia fazer aquele que pensa ser imune. Chegamos numa situação onde impecabilidade é estar caído ou em pé, errar ou acertar com a mesma serenidade. De todo modo, ao invés da prática ética de “deixar os outros em paz” – muitas vezes confundida erroneamente com apatia e negligência –, predomina no imaginário de “bem” da sociedade (mesmo que cinicamente) a ideia de uma compaixão que, logo abaixo de sua superfície de altruísmo, revela-se interferência e prisão. É um exemplo a relação parental ou marital clássica, onde “amor” e “preocupação” tentam justificar cerceamento e desrespeito à liberdade alheia – do filho, da esposa, dos pais etc. –, seja por medo de perder o ente amado, receio dos perigos da vida, possessividade, carência, vaidade ou o que for. E é interessante reparar que nossas piores prisões são as mais confortáveis: o lar, um grupo que nos faz sentir especiais, as grades emocionais que nos mantêm acomodados em nossa inocência, mas nos impedem de descobrir do que somos feitos. Disso, o único resultado possível é restrição de natureza, exatamente o único pecado previsto no Livro da Lei. Até mesmo o postulado cristão é revestido de violência ao sugerir o abandono do
A t conforto e a viagem rumo à verdade, lan- r i g o çando-se ao desconhecido como todo heroi mitológico faz: “Quem não toma a sua cruz e não me segue, não é digno de mim.” É uma exigência de coragem e entrega. É cruel. A Iniciação é um processo cruel. Por outro lado, “não há beleza sem crueldade”, como disse Nietzsche e, antes de ser isto uma apologia ao masoquismo, podemos ver tal Beleza na crueldade de um parto ou no ovo que se racha para dele emergir a coisa nova. O lar, o mundo, o lugar antigo é esta casca de ovo uterina que precisa ser rompida. A pessoa deverá fazer uma escolha drástica, para a qual não há meiotermo: ser um soldado que ousa lutar, ou o covarde que apenas brinca. Deverá escolher se mais vale a aventura da verdade, ou o lânguido conforto da inocência, recheado de desculpas, adiamentos e pequenos prazeres. A exigência dessa definição se torna evidente no trabalho da O.T.O.
Estamos, então, por conta própria e sozinhos neste Universo que, nestas palavras, parece tão inóspito e hostil? Sim e não. Admitir isso seria negar o óbvio de que a natureza é relacional e existem pessoas que fazem e farão diferença em nosso caminho. Mas ninguém pode e jamais poderá caminhar com nossas próprias pernas, e nenhum mestre, senão nós mesmos, vai nos instruir sobre nossa própria natureza. É preciso entender que o reconhecimento do camarada como um Guerreiro e o “deixar em paz” é o único ato de amor ao próximo possível e a realização disso é, acima de tudo, um respeito incondicional à liberdade. E a defesa da liberdade do outro é o único meio de efetivar sua própria liberdade. O direito que conquistamos para o mundo retorna para nós mesmos. Diante desta luta maior, a fraternidade real nunca poderia ser como a amizade supérflua, que se cultiva por recreação e pela leveza do prazer fugaz. A fraternidade pode garantir fortes estruturas para a realização do trabalho, equilibrando a relação visceral da jornada entre irmãos com o zelo pela órbita pessoal de cada um. E nessa jornada o camarada estaria fazendo um desserviço se lhe carregasse nas costas. “Como ir mãos lutai” (AL III, 59). Em prontidão, não esperemos menos que isso.
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ÆON
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FILOSOFIA NO NOVO
FRATER LEON 777
UMA POSSÍVEL IDENTIFICAÇÃO ENTRE A VERDADEIRA VONTADE DE THELEMA E A VONTADE DE POTÊNCIA DE FRIEDRICH NIETZSCHE.
N
ietzsche aparece dentre os santos de Líber XV, o ritual central da O.T.O.
Não é incomum aos que se identificam com o sistema thelêmico a simpatia pelo filósofo alemão que abalou o fim do século XIX e começo do século XX com a famosa concepção de que “deus está morto”. Sua obra mais iconoclasta, “O ANTICRIS TO”, é um libelo contra to da a hegemonia moral e institucional do cristianismo que forjou o Ocidente. A identificação entre THELEMA e Nietzsche é providencial quando se fala em verdadeira vontade e vontade de potência.
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Em THELEMA, a verdadeira vontade é algo nuclear. Todo ser humano enquanto ser divino tem a indeclinável tarefa de encontrar e realizar a sua verdadeira vontade. A realização da verdadeira vontade é, além da entronização do ser humano enquanto Deus, uma máxima ética. Em T HELEMA, cada ser humano enquanto estrela p ossui órbita própria e a realização da verdadeira vontade provoca o equilíbrio entre estre-
las e órbitas, trazendo a harmonia ou a tão sonhada fraternidade universal. Todo pensamento filosófico tem por base o preceito ético. Para Nietzsche, o ser humano deve ser o seu próprio senhor e não ser escravo de sentimentos ou ideologias que negam a natureza humana e a própria natureza como um todo. Assim, todo sentimento humano é digno de ser vivido, seja ele o amor, a compaixão, o ódio ou a vingança. A religião, por sua vez, enquanto uma das mais antigas expressões da alma humana, deve ser o reflexo da natureza humana com todas as suas variáveis, “boas” ou “más”, variáveis estas históricas e mutáveis conforme a cultura da época. O deus de um povo seria complacente e vingativo, doce e cruel, pois nada mais seria do que espelho dos anseios e instintos humanos. Em apertada síntese, o conceito de vontade de potência está ligado ao de eterno retorno. Na “cosmogonia nietzschiana”, no universo não há deus e nem uma inteligência por trás de tudo e nem muito menos um arquiteto. Há apenas uma
energia cíclica sem fim e sem destino que se manifesta no ser humano como vontade de potência. É a vontade de potência que estaria, por exemplo, nas revoluções que fundam e criam Estados, na resistência de populações contra governos opressores ou ainda na mudança e transmutação de valores, exemplo seria a ex tinção do sentimento de rebanho com o afloramento da livre individualidade. É esta vontade de potência que constrói culturas (na Cabala, poderia ser Chesed, a quarta esfera de manifestação do absoluto) e que também destrói as mesmas culturas (Geburah, a quinta esfera de manifestação do absoluto). Portanto, tanto a verdadeira vontade de THELEMA quanto a vontade de potência de Nietzsche são realidades inafastáveis, pois são inatas ao ser humano independentemente de quais códigos morais estejam vigorando. A realização de ambas estaria em estrita harmonia com o universo. O universo enquanto energia cíclica seria o eterno repetir de construir e destruir, expressando-se no humano em verdadeiras vontades de potência.
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GRIMOIRE OF ALEISTER CROWLEY
Group Rituals in the Age of Thelema by Rodney Orpheus Rituais em grupo têm sido uma pedra fundamental da prática espiritual desde tempos imemoriais, ainda que sua história e importância frequentemente venham sendo negligenciadas pelos ocultistas da era moderna. Este livro é a primeira apresentação abrangente de rituais com orientação para grupos, para magistas modernos inspirados no trabalho de Aleister Crowley. Ele contém rituais escritos por Crowley para seus próprios círculos mágicos, muitos deles não publicados durante sua vida; e ainda antigos tex tos raros que consequentemente foram a própria inspiração de Crowley. Os rituais foram recentemente editados e explicados por Rodney Orpheus, que traz a esse volume décadas de experiência na realização e ensino dos rituais de Aleister Crowley dentro de sua Ordem mágica, Ordo Templi Orientis. Rodney introduz cada ritual com uma visão geral clara, colocando cada um em seu contexto histórico e
explicando seu funcionamento e modo de operação; seguido por notas detalhadas da preparação e performance de cada um. Seja um completo iniciante ou um expert veterano, magistas de todos os caminhos vão descobrir nesse volume um grimório altamente praticável e extremamente pod eroso, que se estende por séculos desde os antigos ritos Mitraicos e Baconianos, Goetia e Gnosticismo, direto para os dias de hoje com as invocações e magia sexual de Crowley.
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L A I C R A M E T R A A
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O CAMINHO INICIÁTICO E A VIA DAS ARTES MARCIAIS TÊM COMO NORTE O AUTOCONHECIMENTO
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a p a um espaço de iluminação é um Templo. C e d a Se nós olharmos para a constituição de um Dojo tradicional, ele i r é t a M é organizado de uma maneira específica. O K amiza tem que estar de uma maneira específica em relação às pessoas que entram
no Dojo, as armas têm que estar de uma maneira em relação ao Kamiza, aos praticantes e as visitas, que quando são permitidas ficam num dos lados do Dojo. Todas essas estruturas são muito bem definidas, tal como num Templo. Nós temos um Leste, um Oeste, um Norte, um Sul. Temos os altares, os banners... e tudo funciona de acordo com uma linguagem... ER : E quanto à relação das pessoas? Apollôn Hekatos : Existe uma grande vantagem no Dojo. No
Dojo é impossível mentir. No momento em que dois homens se enfrentam como irmãos de armas, se houver alguma nuvem no coração, será impossível escondê-la. Em algum momento, no meio de uma técnica, o praticante vai se encontrar no limiar entre o racional e o irracional. As suas frustrações descerão, e seu verdadeiro dragão, o “monstro” que está dentro do indivíduo irá ap arecer. Por “monstro” não digo que seja uma coisa horrível, mas que virá da maneira mais potente possível. Ele virá do conflito entre o racional e o irracional. Abrirá as portas para algo que está lá adormecido. Um verdadeiro Templo deveria ser assim. Mas como ninguém pede prova, ninguém pede nada hoje em dia, fica tudo pela retórica, pela conversa... os Templos acabam por ser meras paródias. Nos dias de hoje, é muito fácil falar das coisas. Ninguém te pede para provar. Vivemos num mundo de hipócritas. Até nas vias iniciáticas. ER : Retórica e conversa, isso acontece muito com Magia. Apollôn Hekatos: Ninguém mais chega e diz: “É mesmo? Inte-
ressante... Então mostra. Faz”. ER : ... Provavelmente achariam essa postura grosseira... Apollôn Hekatos : Hipocrisia. As pessoas se escondem atrás da
conivência social.
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ER : E como você vê tudo isso aplicado no contexto da O.T.O? Apollôn Hekatos : A O.T.O tem uma coisa fantástica: Thelema.
Thelema nos remonta a um conceito de Guerreiro. Eu costumo dizer que a maior parte das ordens são extremamente inteligentes. Elas têm uma abordagem muito profissional, no sentido de que, quando alguém chega, elas são recebidas com um tapinha nas costas, para se sentirem bem. Thelema recebe seus candidatos com um soco no estômago. Essa é a grande diferença. É inegável quando acontece. Quando uma pessoa experimenta uma
vez, ela não vai esquecer. Quando alguém chega à Thelema, a abordagem é do Guerreiro. ER : Então, as máscaras caem em certa altura? Apollôn Hekatos: As máscaras podem até não cair. A pessoa
pode, ao ver que vai cair, sair da Ordem. A O.T.O não é para todos. Cada pe ssoa tem seu lugar no mundo. A O.T.O é para alguns poucos que querem fazer um trabalho iniciático específico. Em nenhum momento, com essas palavras, quero desprezar outros tipos de linhagem. Cada trabalho com o seu operador. Mas a O.T.O tem um t rabalho específico. É uma das poucas ordens que mantêm um trabalho iniciático que de fato é direcionado para proporcionar aos seus soldados a possibilidade de se encontrar. De se destruírem e dei xarem emergir o seu verdadeiro eu. ER : Mas e quanto a esse “soldado” da O.T.O, o que ele tra z de ino-
vação em relação ao Guerreiro antigo? Apollôn Hekatos: Na verdade, esses Guerreiros desapareceram
durante muito tempo. O que fazemos é trazer de volta esse conceito do Guerreiro. Existem dois tipos de soldado: o mercenário e o Guerreiro. O mercenário é alguém que luta pela causa dos outros. Um homem sem causa. Ele não procura nada além de satisfazer o desejo dos outros. O Guerreiro, no sentido antigo da palavra, é o homem que luta por si. Para ganhar alguma coisa? Não. Para destruir algo? Não. Ele luta porque o mundo é feito de luta. É feito de conflito. Nós somos criaturas em conflito. Tudo o que fazemos nasce disso. Nosso cérebro é feito de dois hemisférios. Somos criaturas em conflito até biologicamente. Mas o confronto é imersão. O amor também é imersão. O confronto é o choque, e desse choque nasce alguma coisa. Por exemplo, costuma-se dizer “ame o teu inimigo”... Uma filosofia que parece cristã, caridosa... Em termos de Guerreiro, o que é amor? Imersão. Quem são as pessoas mais fáceis de te ferir? Aqueles que te amam. Agora “amar o seu inimigo” passa a ter outro sentido, não é? O sentido do Guerreiro. A sociedade de hoje é feita de hipócritas. “Ah, o ego é uma coisa má”... “Ah, as pessoas devem ser assim, ou assado”... Elas não percebem que é o ego que as motiva. E o ego é conflito. O ego faz parte de uma etapa. Mesmo em desequilíbrio. É ele que nos faz dar um primeiro passo, seja por raiva, ou para se provar... é ele que nos faz “Ir”. Nós ainda não entendemos muito bem porque vamos. No começo simplesmente “vamos”. O ego é importante nesse sentido. Mas chega um ponto que o ego começa a ser contraproducente. Ele não se contenta em parar e analisar. Ele é um processo mais violento. Chega uma hora que temos que começar a harmonizar o ego. Ele não vai desaparecer, só vamos nos reconciliar com esse
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“ego rebelde”... ER : O processo então não é destrutivo, é inclusivo?
que estamos fazendo é obrigar um a olhar para o outro. Todo esse processo de conflito e de harmoniz ação de duas parcelas essenciais da nossa existência é feito por etapas. As etapas são os Graus.
Apollôn Hekatos: Para que nasceríamos com algo que temos
ER : Então, é um processo de administr ação de conflito?
que destruir? Isso não tem lógica nenhuma. Isso só f az sentido para quem leva uma existência na base da culpa.
Apollôn Hekatos: Pode ser olhado dessa forma. Não vejo por que
ER : E como se dá essa harmonização que você citou? Apollôn Hekatos: Nas artes marciais, a primeira etapa é desenvol-
ver ferramentas, tal como no processo mágicko. Depois de desenvolver as ferramentas é que você de fato começa a aprender. Temos uma alegoria de que o discípulo marcial chega, passa vários anos desenvolvendo o corpo... limpa o Dojo... carrega balde d’água... e depois lhe é permitido entrar no Dojo para aprender as técnicas. Geralmente primeiro começa a só atacar, depois a só defender, depois ele vai conjugando as coisas. Mas chega um dia que ele fica tão cheio de si, porque acha que sabe tanto, tem tanta técnica, é mais jovem e veloz que seu professor...
M a t é r i a d e C a p a
não. As pessoas tendem a mistificar as coisas. O segredo não está em mistérios absurdos, sobre-humanos. O segredo está na capacidade de correlacionar as coisas. O objetivo é conseguirmos entender o “todo” não mais como partes separadas. Nada é separado. As coisas se correlacionam muito facilmente. Assim viramos um Adão Kadmon das ideias. Não precisamos mais buscar os símbolos, ou ir até eles, porque nos tornamos eles. A mistificação e a ideia de eliti zação do conhecimento não existem. Se olharmos compêndios como o Liber 777, o grande segredo é ligar tudo. É criar um mapa que ligue tudo. ER : Então, essa aptidão para entender e correlacionar tudo seria o
caminho da via iniciática? O que acontece? O mestre da escola nota que ele está no pico do ego. É o dia derradeiro, em que o aluno desafia o mestre. É natural que assim seja. É natural em todos nós. Nós fazemos isso todos os dias, com várias coisas. Isso faz parte do aprendizado: testar, provar que aprendeu. É aí que acontece a coisa interessante, e é onde se dá o primeiro “click” para o aprendizado da arte marcial: o aluno vem cheio de técnicas, tenta derrubar o professor, e o velho mestre, quase sem se mexer, atira-o ao chão. Nesse momento é que se diz que o aluno tinha a taça cheia e a esvaziou. Aí ele começa a aprender.
Apollôn Hekatos: Essa é uma das ferramentas. Por exemplo, o
que é a Árvore da Vida? Nada mais é do que um mapa para a me nte humana. Ela é usada por várias tradições: judeus ortodoxos, não ortodoxos... é uma ferramenta que pode ser utiliz ada por doutrinas, mas não é uma doutrina. Ela é mágicka exatamente por isso. Ela pode ser usada além do aparente entendimento que nós colocamos sobre ela. Ela não é escrava da nossa falta de entendimento do todo. ER : Tanto na arte marcial quanto no sistema iniciático, é a partir do
ER : Não é uma imagem atraente.
momento que o indivíduo supera a técnica que ele entende o que está fazendo?
Apollôn Hekatos: O mago, o monge também não tem nada de
atraente. Se nós olharmos, geralmente se costuma dizer que o homem que chega à completa iluminação está num vale, numa montanha, a varrer um chão.... O mundo a desabar à sua volta, e ele nad a faz. Ele poderia ser um “salvador”. Mas ele vive sozinho.
Apollôn Hekatos: É a partir do momento que ele entende e assi-
cer?
mila a técnica. Nós assimilamos as coisas para depois nos libertarmos dela. Com música acontece algo semelhante. O pianista do conservatório aprende escalas matemáticas, padrões de posição das mãos... no final, o professor lhe diz: esqueça tudo. Não podia ser de outra maneira. Nós precisamos do Bastão mágicko, da Espada mágicka, da Adaga, para assimilarmos o conceito, a ponto de o conceito ser parte de nós. O Tarô é outra ferramenta. Ele interage com nosso cérebro de modo que nos leva a partes que potencializam divinação, a meditação, o que for. Chega um ponto tal que não precisamos mais do Tarô. Fazemos tudo naturalmente. É como respirar ou andar.
Apollôn Hekatos: No início, as pessoas começam pela simples
ER : Então, assim como na Arte Marcial as técnicas são assimiladas,
curiosidade, ou consideram que sabem alguma coisa e isso faz com que se movam. Durante o processo iniciático, elas revisitam certos níveis de sua existência. Para mencionar os mais simples, seriam o nascimento, vida e morte. É o que nos permite começar a criar condições para que o ego e o “Self” possam se conciliar. Na verdade, o
chega uma hora que a Magia se torna parte do Mago?
ER : Mas isso faz diferença? Apollôn Hekatos: É claro que não. Só um idiota pensa que está
sozinho nesse mundo. ER : E em termos das etapas iniciáticas? Como costumam aconte-
Apollôn Hekatos: Não. Exatamente o oposto. A Magia sempre foi
parte do Mago, só que ele não tinha consciência. A questão é conscientizar aquilo que sempre fomos capazes de fazer.
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a p a C e d a i r é t a M
ESCARLATE SOROR BABALON
UMA MULHER EM CONSTRUÇÃO. l t a o c l a z t e u Q a j o L — s i t n e i r O i l p m e T o d r O
A
consciência humana evolui em ciclos e a sua evolução tem particularidades que dizem respeito aos gêneros sexuais da raça. A consciência feminina e masculina, embora compartilhem muitos aspectos, seguem parâmetros únicos impostos pela constituição física e psíquica exclusivas de cada gênero, bem como, condições sociais e morais que lhe propiciam uma manifestação e propósitos exclusivos. Surge então a consciência feminina e masculina coletivas, universos diferenciados onde se movimentam milhares de pontos brilhantes conhecidos em Thelema como estrelas.
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Falar da consciência tanto feminina quanto masculina é expressar os conteúdos dessas consciências, um conjunto de crenças, conceitos, idéias, valores, experiências e vários outros aspectos que envolvem a existência e suas relações tanto subjetivas quanto objetivas. Neste artigo f alaremos especificamente da consciência feminina, constituída por crenças e valores do universo feminino que determinam uma consciência coletiva que tanto influencia as mulheres quanto é influenciada por elas na medida em que as crenças e valores individuais da mulher se modificam conforme a diversidade daquilo que experimenta. Conforme já citamos, a consciência evolui em ciclos e esses ciclos são conhecidos em Thelema como aeons, períodos de aproximadamente 2000 anos que ocorrem sob a regência de princípios filosóficos específicos que impregnando o inconsciente coletivo transbordam a luz de nossa consciência como divindades que influenciam o comportamento humano e os rumos da sociedade. O primeiro Aeon foi o de Isis, Deus é mulher. A deusa Isis é o arquétipo impregnado no inconsciente coletivo, e as suas características servem como modelo ou ícone representativo da manifestação e comportamento da mulher. Isis era cultuada como modelo da mãe e da esposa ideais, considerada como a grande par teira auxiliava as mulheres em seus partos, também protetora da natureza e da magia. Neste primeiro Aeon seus aspectos mais ressaltados eram a maternidade e a fertilidade e a mulher obtinha seu poder pela capacidade de parir filhos, pois acreditava-se que ela os gerava sozinha sem a colaboração do homem. A geração era o foco da consciência feminina e as mulheres parideiras eram as que exerciam o poder moral, político e religioso. O modelo feminino é aquele da mulher mãe-terra que gosta de estar grávida, de amamentar e cuidar das crianças, ligada aos ciclos e colheitas, envolvida com aspectos do nascimento e com seus próprios ciclos reprodutivos. O Aeon de Isis é o aeon da Mãe. O segundo Aeon foi o de Osiris, Deus é homem. Este Aeon é dominado pelo aspecto masculino e a fórmula do Deus-Sacrificado, a submissão ao Deus-Pai e o auto-sacrifício alteram profundamente a consciência feminina repercutindo-se em todos os aspectos de sua manifestação social. Se o primeiro Aeon foi carac terizado por uma certa complacência e permissividade social com valorização da vida, intuição e criatividade, aspectos femininos, este segundo Aeon se caracteriza por uma submissão dos aspectos individuais às regras e moralidade do coletivo, estabelecidos a partir do medo da morte, e da necessidade do auto-sacrifício e punição para o alcance
da salvação e obtenção da vida eterna. O mundo não mais se voltava para a natureza e o presente que ela oferecia, mas para um futuro idealizado na forma de um paraíso a ser alcançado pelo sofrimento.
M a t é r i a d e C a p a
Para que o aspecto masculino com sua necessidade de controle se estabelecesse era necessário que a face feminina de Deus fosse mergulhada na escuridão e sua liberalidade relegada ao esquecimento. Isis ainda existe, mas desta feita não como mãe poderosa e independente, dona de seus próprios ciclos sexuais, auto-geradora, mas sim como a esposa fiel e devotada ao marido que no seu aspecto imaculado procria sem o ato sexual. O aspecto feminino se submete ao papel de coadjuvante da criação, passando a ser a companheira que dá suporte ao macho poderoso e preenche todas as suas necessidades sem pensar em si mesma ou nas suas próprias necessidades. O modelo arquetipal impregnado no inconsciente coletivo é, portanto, o da mulher submissa ao seu marido e que desprovida de independência se torna psiquicamente frágil, acreditando não poder sobreviver sem ele. A união matrimonial segundo os moldes morais e religiosos passa a ser a única possibilidade de ascensão social da mulher que através dele foge do jugo paterno para se submeter ao jugo do marido. Isis é então valorizada como a protetora do casamento e seu marido, Osiris, personifica um ser bondoso que sofre uma mor te cruel e que através dessa morte assegura a vida e a felicidade eterna a todos os seus protegidos. O terceiro e atual Aeon é o de Horus, Deus é Andrógino. A sucessão de aeons corresponde à evolução da consciência e esta evolução da consciência tende à sua consecução e aprimoramento plenos de forma a que o ser humano atinja a sua plenitude na superação das restrições que o aprisionam. Se no primeiro aeon o passo dessa consciência foi o desenvolvimento de suas características femininas e no segundo aeon o desenvolvimento das características masculinas, nada mais natural que no terceiro aeon a união dessas características-base dê lugar a uma nova experiência na evolução humana, a androginia. E, por favor, que a tolice e o preconceito não leve o leitor a pensar que o terceiro aeon é algum tipo de aeon homossexual. Embora o ser humano vivencie os aeons de forma acentuada através de suas características sexuais, devemos manter em nossas mentes que os aeons utilizam a força sexual como fonte geradora e transformadora, o que vai muito além da nossa sexualidade obsessivamente concentrada no pênis e na vagina. Assim, quando me refiro a características femininas não estou falando necessariamente de uma figura f rágil, sedutora e doce, e quando me refiro ao masculino não estou falando de um cara coçando o saco e cuspindo na rua ou botando o pinto pra fora
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a p a C e d a i r é t a M
para regar o muro, do mesmo modo, quando me refiro ao andrógino não estou apontando alguém que necessariamente irá apresentar ambiguidade sexual, não que isso não seja uma boa ideia, mas realmente não é o caso!
Então eu a elevarei aos pináculos do poder: então eu gerarei nela uma criança mais poderosa que todos os reis da terra. Eu a preencherei com júbilo: com minha força ela verá & golpeará na adoração de Nu: ela alcançará Hadit.
Androginia se refere ao reconhecimento e utilização consciente de nosso potencial feminino e masculino que se expressa por características até agora antagônicas, a saber, intuição/razão, subjetivo/objetivo, inconsciente/consciente, passivo/ativo. A união dos opostos e o retorno à unidade primordial é a androginia proposta pelo Novo Aeon, por esta razão a simbologia é a de uma criança, o Deus-Menino que simboliza o nascimento do novo.
Eu sou o guerreiro Senhor dos Quarenta: os Oitenta encolhem–se perante mim, & são humilhados. Eu vos trarei a vitória e o júbil o: eu estarei em vossos braços na batalha & vos deliciareis em matar. O sucesso é a vossa prova; a coragem é a vossa armadura; avante, avante em minha força; & vós não retrocedereis por nada! Al, III, v. 43-46.
Mas e a consciência feminina? Como se manifesta o modelo de mulher neste novo aeon? Talvez isto ainda seja uma incógnita, mas mais do que uma incógnita seria temeroso falar de um modelo que possa vir ser seguido, comprometendo a manifestação individual. Sem dúvida nenhuma, a Mulher Escarlate, filha do Novo Aeon, é uma fêmea, felina guerreira que busca a auto-realização, a qual, sabe poder conseguir apenas através do equilíbrio entre todas as partes de sua constituição. Conhecer o todo e aplicar cada porção desse todo em proporção correta na direção daquilo que objetiva. Não mais uma romântica incurável, nem sequer uma guerreira fria e cruel, mas uma deusa que dança graciosamente em torno de seu próprio eixo, um giro e lá está a virgem, um outro giro e a puta nos beija, mais um rodopio e eis que a espada nos corta e na próxima curva o aconchego da mãe, o tapa do general, a obediência do soldado. Quem é a mulher do Novo Aeon? Um poder que reúne em si todos os poderes? Todos os arquétipos em um? Talvez somente o próprio Horus possa profetizar sobre a nova mulher que ele nos faz nascer: Que a Mulher Escarlate se acautele! Se a piedade e a compaixão e a ternura visitarem seu coração; se ela deixar meu trabalho para brincar com velhas do çuras; então minha vingança será conhecida. Eu sacrificarei sua criança para mim: eu alienarei seu coração: eu a l t a arremessarei para fora dos homens: como uma meretriz e ncolhida e o c l a desprezada, ela rastejará através das ruas escuras e úmidas, e mor z t e u rerá gelada e faminta. Q a j o L — s i t n e i r O i l p m e T o d r O
Mas que ela se erga em orgulho! Que ela me siga em meu caminho! Que ela trabalhe a obra da perversidade! Que ela mate seu coração! Que ela seja escandalosa e adúltera! Que ela seja coberta de jóias, e ricos trajes, e que ela seja desave rgonhada perante todos os homens!
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A V IA DOS CHAKRAS
E s t u d o s
UM ESTUDO DA VIAGEM E CONDIÇÕES DO DESPERTAR DOS CHAKRAS.
E
ntender o sistema hindu dos Chakras – cuja etimologia remonta a “Chakravartin”, a roda dos carros árias de guerra e por isso, eventualmente, resumidos como “rodas” – é essencial para entender o método de Magick e, especificamente, o processo iniciático na O.T.O. Os libri thelêmicos estão recheados de alusões aos Chakras e aos estados de consciência relacionados ao seu circuito psicoespiritual. Um exemplo emblemático é a Missa Gnóstica, onde saudações como o sinal do Magista e o Asana da Chama se referem à aplicação das qualidades específicas dos Chakras Anahata (cardíaco) e Sahashara (coroa). A compreensão dos atributos de todos os Chakras – e consequentemente de nosso próprio corpo – é também essencial para um melhor entendimento de alfabetos como o Tarô e da prática geral de Magia Ritualística. Não é arbitrário que o Mago do Atu I apareça com a Serpente (Kundalini) a coroá-lo, ou com as Asas do Ajna (“Terceiro Olho”) como talares sob seus pés. Além disso, Babalon, representada no Atu XI, monta a Besta de Sete Cabeças (número dos Chakras principais), e desse coito entre ela e o Caos nasce o poder de criar o Universo. Também não é à toa que nossos sinais ritualísticos (que são Mudras), como os sinais de N.O.X., indiquem que a atitude de certos deuses se relaciona com o despertar de determinados Chakras. Entender o seu sistema é, assim, tornar-se capaz de correlacionar diversos sistemas que pretendem mapear a viagem da Iniciação.
Corpo e Espiritualidade Remontando até o Rig Veda (o mais antigo dos textos védicos), o Yoga de Patāñjali já definia com claridade que as práticas de consecução espiritual perpassavam métodos e etapas mentais e corporais. Os Chakras, ao serem entendidos como um circuito entre o mundo material (Muladhara, Chakra raiz) e o mundo divino (Sahashara, Chakra coroa) no corpo humano, não podem ser tidos como intangíveis, vagos ou abstrações, mas sim contextualizados com o corpo físico e vivenciados através de fenômenos observáveis e reprodutíveis. A Iniciação se trata de trabalho prático e sistemático, e a transmutação espiritual do Iniciado é também mudança hormonal e química. Isso é importante: retirar a espiritualidade do campo vago da fé e entendê-la como trabalho. Deste modo, estudar o sistema endócrino do corpo humano é essencial para entender os Chakras. Eles podem ser relacionados da seguinte maneira: Muladhara (raiz) com as gônadas sexuais; Swadhistana (baixo abdômen) com as suprarrenais; Manipura (plexo solar) com o Pâncreas; Anahata (cardíaco) com o Timo; Vishuddha (laríngeo) com a Tireóide; Ajna (frontal) com a Hipófise e Sahashara (coroa) com a Pineal. Os dois últimos Chakras às vezes têm suas correspondências glandulares inver-
tidas, mas a importância de ambas é derradeira para a manutenção do sistema nervoso e hormonal de todo o corpo. Outra esquematização sobre os Chakras foi feita pelo teosofista Leadbeater, que menciona um Chakra “esplênico” (na região do baço) e omite o Swadhistana, por considerar que o despertar do centro sexual atrairia “desgraças” para o homem. Essa versão pode ser útil para comparação, mas em termos práticos tamanho moralismo não nos interessa. Atrelados ao Chakra Sahashara, também se atribuem os Chakra Soma e Kameshvara, onde a Kundalini está finalmente pacificada. Ao Soma atribui-se a produção do “Amrita”, o néctar destilado do infinito que escorre e dá bênçãos àquele que sabe produzi-lo e conservá-lo. Pondo em termos fisiológicos, na vida do adulto comum, a glândula Pineal involui e se torna incapaz de produzir certa secreção (ou “orvalho”), mas pode ser estimulada para tanto através de práticas como o Yoga. A Pineal, assim estimulada, alimenta e rejuvenesce as outras glândulas do corpo, como o Timo (plexo cardíaco), outra glândula que involui e costuma ser substituída por tecido adiposo. O estímulo do Timo faz com que linfócitos sejam produzidos e haja uma revitalização geral do sistema imunológico. Essa imunidade rejuvenescida afina-se mesmo com o nome do Chakra cardíaco, Anahata, que significa “aquele que não pode ser ferido”. Outro dado interessante é que o Amrita produzido pelo Soma é distribuído para o corpo através do Vishuddha (garganta), cujo trabalho é de purificação. Uma lenda hindu depõe sobre essa dinâmica: deuses e demônios, em busca da imortalidade, uniram forças para investigar como extrair o Amrita do Oceano (em outras versões, do Rio Ganges, sagrado na Índia), ao que se seguiu o episódio do “Batimento do Oceano” (Samudrā Mantham). Desse revolver das águas, no entanto, acabou emergindo um Veneno (Kalakata) que poderia destruir todo o mundo. Os deuses rogaram pela intervenção de Shiva, que então sorve o veneno, mas, por ter atingido a maestria de seu corpo, não morre: ele o
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retém em sua garganta, que por isso torna-se azulada. A partir dessa ocasião ele é conhecido também como Nīkalantha, o da Garganta Azul. A ideia do “azulado” de Nīkalantha é que ele doma em si a putrefação da Morte, e o Veneno produzido pelo Oceano é capaz de ser dominado. A estória sinaliza que um organismo incapaz de destilar devidamente o Amrita pode acabar distribuindo-o como veneno, ao invés de néctar. Em termos médicos, pode chegar a acontecer de glândulas – como o já citado Timo – crescerem de forma cancerígena. Práticas como Khechari Mudra (o colocar da língua em áreas específicas do palato e garganta) são, portanto, designadas para reter ou segregar corretamente esse néctar. Contudo, se a ação purificadora do Vishuddha não estiver ativada, o veneno escorrerá vagorosamente para o corpo, enfraquecendo-o e eventualmente matando-o.
Shiva e Shakti
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Toda a realidade pode ser concebida como fruto da relação entre o Grande Casal do Universo, Shiva e Shakti. Ele, que é o Destruidor da Forma, é energia pura, espiritual e relaciona-se com o Sahashara. Ela, que é a Mãe da Forma, é aquela que dá vida e movimento a essa energia, projetando-a e manifestando-a. Shakti também é um nome de Kundalini, a serpente que jaz enrolada em três curvas e meia na base da espinha, isto é, no Muladhara do homem e mulher comuns. Kundalini tem algumas etimologias possíveis, todas do sânscrito, que auxiliam no entendimento de sua natureza: “Kund” significa queimar, “Kunda” sugere orifício, cavidade ou mesmo útero, e “Kundala” sugere “enrolado” ou “espiral”. Este fogo enrodilhado que, ao subir, realiza o casamento do mais alto com o mais baixo, é a força-motriz da vitalidade que se lança a caminho do Infinito. Da mesma maneira, o Livro da Lei nos apresenta Hadit como uma Serpente de Luz que se projeta, dirigindo-se à sua amada Nuit, o Infinito, realizando este Grande Casal. É interessante meditar no fato de que a Kundalini, tradicionalmente, é descrita com características femininas. No entanto, para nós, thelemitas, suas atribuições são masculinas por serem as de Hadit: ainda assim, preserva-se o mesmo sentido da força que “vai”, que se dirige ao Infinito.
O caminho desta Serpente – que muito se assemelha ao caminho serpentino da subida nas Sephiroth da Árvore da Vida – é motivado pela polaridade das energias dos Nadis Reais Ida (feminino) e Pingala (masculino), e se dá através do Sushumna (o pilar central), que se estende desde o plexo pélvico até o terceiro ventrículo, um espaço entre os dois hemisférios do cérebro. Esse espaço é conhecido também como Brahma Randhra, ou “Cova de Brahma”. O que sucede daí é uma completa excitação do sistema nervoso, que resulta, simplesmente, em Consciência. Por isso graus cada vez mais refinados de êxtase nos são tão importantes. Em termos fisiológicos, são estimuladas cada vez mais sinapses entre os neurônios. Curiosamente, a liberação de eletricidade dessa condição é tal que se costuma representá-la como um cérebro “aceso”, extremamente parecido com uma noite estrelada. Entender essa condição fisiológica e estado de consciência como a consecução de Nuit parece bastante apropriado.
Os Granthis Os Granthis são descritos como nós, ou barreiras na viagem de ativação dos Chakras. Representam condições que precisam ser superadas para a obtenção da consecução que, uma vez obtida, torna-se um “marco” no caminho, e não se perde. Os Granthis costumam ser atribuídos aos Chakras Muladhara, Anahata e Ajna. Brahma Granthi: Está situado no Muladhara. Brahma é o Senhor da Criação das formas e, por isso, esse Granthi é também conhecido como o “Nó do Samsara”, aqui indicando um apego às formas e aos fenômenos. O Muladhara rege questões da vida material como alimentação, autopreservação, saúde e disciplina. O resultado de seu desequilíbrio é o medo, e o apego resultado da insegurança. Esse Granthi deve ser superado através do Hatha Yoga, que é a conquista através da Coragem, e do Karma Yoga, que é conquista através do Trabalho e envolve o desapego aos frutos deste. Ganesha, sendo o deus que abre caminhos, indica uma fórmula de superação deste Granthi. A importância do Muladhara é fundamen-
tal para o caminho iniciático. Sobre a base material todo o trabalho é edificado. O Muladhara representa a propulsão inicial e a força-motriz para a realização da Obra. Sem a solidez do Muladhara, nada pode ser efetivado. Baphomet, símbolo do Adepto realizado, está sentado sobre um cubo, que representa a base material de sua Obra: o quadrado, ou o cubo, é também um símbolo clássico do Muladhara. Vishnu Granthi: Está situado no Anahata. Este nó representa a necessidade de transformar o amor pessoal em amor universal. O Anahata realiza a união dos opostos e, portanto, a verdadeira capacidade de amor e compaixão. Seu vício reside na seleção dos objetos a serem amados, o que, mais uma vez, resulta em apego. Um indício deste nó é o fanatismo religioso, genuinamente apaixonado, mas incapaz de ver além do seu ob jeto de adoração. Um método de superação deste Granthi é que não se reprima nenhuma emoção vivenciada, mas que se a perceba e deixe que passe. Bhakti Yoga (o Yoga da devoção) é o processo mais indicado para trabalhar este Granthi, e Prema (o amor universal) é sua coroação. Shiva Granthi (ou Rudhra Granthi): Está situado no Ajna. Este nó representa a intelectualidade vazia, que não foi instrumentalizada em prol da autorrealização. Representa também o deslumbramento com os siddhis, isto é, os poderes que o Iniciado conquistou até aqui. A vontade contínua pela libertação é o que conduz o homem através deste Granthi, e sua superação marca a Visão da Realidade Absoluta. Jñana Yoga, que é União através do Conhecimento, e Raja Yoga, que é União através da Vontade (e também descrito como Yoga da renúncia), são os métodos indicados para este Granthi. A O.T.O trabalha de acordo com o sistema dos Chakras e, assim sendo, essas etapas estão abarcadas ao longo de nosso caminho iniciático. Nosso rito central, a Missa Gnóstica, tem como objetivo o êxtase do despertar da Kundalini: assim, Nuit, além do véu do Abismo, invoca, com o seu amor, Hadit no Sacerdote. A eucaristia do Homem-Deus está inteiramente ligada com esse processo do corpo humano.
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UTY O CHAMADO
DO 25º ÆTHYR O QUAL É DENOMINADO VTI
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Não há nada na pedra, além do ouro pálido da Rosa Cruz. Agora lá vem um anjo com asas brilhantes, que é o Anjo do 25° Ar. E todo o Ar é uma oliveira negra ao redor dele, como uma pedra alexandrita2. Ele carrega um cântaro3 ou uma ânfora 4. E agora lá vem um outro Anjo sobre um cavalo branco 5, e ainda novamente um outro Anjo sobre um touro negro 6. E agora lá vem um leão7 e engole os dois últimos anjos. O primeiro anjo vai ao leão e fecha a sua boca 8. E atrás deles está perfilada uma grande companhia de Anjos com lanças prateadas, como uma floresta . E o Anjo diz: Soem todas as trombetas, pois eu afrouxarei minhas mãos da boca do leão, e seu rugido irá incendiar os mundos 9. Então as trombetas soaram, e o vento se ergueu e uivou terrivelmente. É um vento azul com partículas prateadas; e ele sopra por todo o Aethyr. Mas através dele se percebe o leão, que se tornou como uma chama furiosa 10. E ele ruge num idioma desconhecido. Mas esta é a sua interpretação: Que as estrelas sejam consumidas no fogo de minhas narinas 11 ! Que todos os deuses, e os arcanjos e os anjos e os espíritos que estão sobre a terra, e acima da terra, e abaixo da terra, que estão em todos os céus e em todos os infernos, que eles sejam como ciscos dançando no feixe de meus olhos 12! Eu sou aquele que engoliu a morte 13 e a vitória14. Eu dilacerei o bode15 coroado e bebi o grande mar16. Como a cinza de folhas secas, os mundos são soprados diante de mim. Vós passastes por mim, e v ós não me conhecestes. Ai de ti, que eu não devorei completamente! Em minha cabeça está a coroa, 419 raios17 se lançando. E meu corpo é o corpo da Serpente18 , e minha alma é a alma da Criança Coroada19 . Não obstante, um Anjo em robes brancos me conduziu 20: - quem deverá cavalgar sobre mim, além da Mulher das Abominações21? Quem é a Besta22? Não sou eu alguém mais que ele 23? Em sua mão está uma espada que é um livro 24. Em sua mão está uma lança que é uma taça de fornicação25 . Sobre sua boca está disposto um grande e terrível selo26. E ele tem o segredo de V 27. Seus dez chifres nascem de cinco pontos 28, e suas oito cabeças 29 são como o auriga do Oeste30. Assim o fogo do sol equilibra a lança de Marte 31,
e assim ele deve ser adorado, como o guerreiro senhor do sol. Ainda que nele esteja a mulher que devorou com sua água todo o fogo de Deus 33. Ah!, meu senhor, tu te juntaste àquele que não conhece estas coisas34 . Quando virá o dia em que os homens se agruparão neste meu portal, e cairão dentro da minha garganta furiosa, um redemoinho de fogo? Este é o inferno inextinguível, e todos eles deverão ser absolutamente consumidos ali. Por essa razão aquele amianto inconsumível é tornado puro35. Cada um dos meus dentes36 é uma letra do nome reverberante. Minha língua é um pilar de fogo37, e das glândulas da minha boca crescem quatro pilares de água38. TAOTZEM39 é o nome pelo qual eu sou blasfemado. Meu nome tu não conhecerás, para que não o pronuncies e passe adiante.
B i b l i o t e c a T e l ê m i c a
E agora o Anjo mais uma vez toma frente e fecha sua boca. Todo esse tempo, pesados sopros choveram sobre mim vindos de anjos invisíveis, de modo que eu me curvo, como com um fardo maior que o mundo40. Eu estou totalmente esmagado. Grandes cargas são lançadas do paraíso sobre mim41 . Eu estou tentando rastejar até o leão42 , e o chão está coberto de facas afiadas. Eu corto a mim mesmo a cada centímetro43. E a voz vem: Por que és tu lá quem és aqui 44? Não tens tu o sinal do número45, e o selo do nome46 , e o anel do olho 47? Tu não queres48. E eu respondi e disse: eu sou uma criatura da terra, e você me faria nadar. E a voz disse: Teu medo é conhecido; tua ignorância é conhecida; tua fraqueza é conhecida; mas elas não são nada para esse assunto. Deve o grão que é lançado sobre a terra pela mão do semeador se debater dentro de si mesmo, dizendo, sou aveia ou cevada? Escravo da maldição, nós não damos nada, nós tomamos tudo. Fiques tu satisfeito. O que tu és, tu és. Fiques tu satisfeito 49 . E agora o leão atravessa o Aethyr com a besta coroada sobre suas costas, e a cauda do leão segue adiante ao invés de parar, e em cada pelo da cauda está uma coisa ou outra – às vezes uma pequena casa, às vezes um planeta, outras veze s uma cidade. Então há uma grande planície com soldados lutando sobre ela, e uma enormemente alta montanha entalhada dentro de mil templos, e mais casas e campos e árvores, e grandes cid ades com edifícios maravilhosos nela, estátuas e colunas e construções públicas em geral. Isso segue e segue e segue e segue e segue e segue e segue em todos os pelos da cauda do leão 50 . E então há o tufo de sua cauda, que é como um cometa, mas a cabeça é um novo universo, e cada pelo fluindo para longe dela é uma Via Láctea. E então há uma pálida figura severa, enorme, enorme, maior que
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a c i m ê l e T a c e t o i l b i B
tudo o que o universo é, em armadura prateada, com uma espada e um par de balanças51. Isso é apenas vago. Tudo se foi na pedra cinza, apagado.
20 O Avatar de Binah, na abertura deste Aethyr. 21 BABALON. Ver Atu XI. 22 419-418=1.
Não há nada. Aïn - El - Hajel. 25 de novembro, 1909. 8:40-9:40 p.m. (Havia duas vozes em todo esse Chamado, uma atrás da outra – ou uma era a fala, a outra o significado. E a voz que era a fala era simplesmente um rugido, um barulho tremendo, como uma mistura de trovão e cachoeiras e bestas selvagens e bandas e artilharias. E ainda assim ela era articulada, embora eu não pudesse dizer para você o que era uma única palavra. Mas o sentido da voz – a segunda voz – era bastante silenciosa, e colocava as ideias diretamente no cérebro do Vidente, como que por toque. Não é certo se as cargas pesadas e as pancadas de espada que choveram sobre ele não eram exatamente esses sons e ideias).
1 VTI = ♑♌♐= Caput Draconis, a cabeça do Leão-Serpente, a Besta 666.
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19 Horus, o Senhor de 666.
Seu pai é ♑ Set ou Pan; sua mãe, a mulher vestida com o Sol como no Atu XIV. Ver o 27° Aethyr. Ele é o fardo da Lua, santificado por 418. Atu XI (uma forma parcial) com Atu XX (XI + XX = XXXI) dá a Chave do Novo Aeon. 2 A pedra de Gemini, os dois gêmeos, compondo Heru-Ra-Há, seu Senhor. Também a casa de ☿ ; isto é, sua forma é Oracular. 3 O anjo é um avatar de BABALON. 4 αμφορη = 719. Esse anjo é um véu de 156, a Mulher que fecha a boca do leão no antigo Atu XI, e é a Mulher Escarlate que cavalga sobre ele na nova forma. 5 O sofrimento da Morte. 6 Isso representa Jehovah e Jesus. A dor da Labuta. (Pecado é Restrição). 7 Símbolo da Besta, 666. 8 Ver Atu XI. Babalon e a Besta unidos. 9 Babalon preparou 666 (de uma maneira muito secreta) para proferir a palavra Θελημα. (Isso pode ter certa referência à primeira esposa de Crowley, Rose, que foi o espírito que o moveu para prepará-lo para a invocação de Thoth e Horus na Primavera de 1904, e então para a escrita do Livro da Lei). 10 666 está agora inspirado. 11 Narinas = ♂ e ♀. Energia e paixão, também o Alento da Palavra.. 12 Olho = Luz Criativa, i.e da Palavra. 13 Scorpio. 14 Netzach. 15 Capricórnio. 16 Hod (a água mercurial): em todas as Sephiroth abaixo de Tiphereth, desbalanceadas, e os caminhos conduzidos a partir dele. 17 Leo = ♌ = = = 419. t = ♌. = serpente pelo significado. ♌ = Horus. 18 A imagem mágica do 1° Decanato de Leo, crescente ao nascimento de 666, é um leão com cabeça de serpente.
Ou 667-666=1. 667 = ηκ ο κ κιση γη a Mulher Escarlate. (WEH nota: Esse é a correta entrada Grega 667 do Liber MCCLXIV). 23 419-418=1. Ou 667-666=1. 667 = ηκ ο κ κιση γη a Mulher Escarlate. (WEH nota: Esse é a correta entrada Grega 667 do Liber MCCLXIV). 24 Liber AL, sua arma. 25 Essa alusão precisa permanecer secreta. 26 Este selo é aquele de Babalon. É o selo da A∴ A∴ Ver o Livro das Mentiras, εφ. Μθ (Cap. 49). 27 Seu motto como um Mestre do Templo é V.V.V.V.V. (Vi Veri Vniversum Vivus Vici 28 V.V.V.V.V. tem 10 chifres que brotam de 5 pontos. 29 Ver o Livro das Mentiras, Cap. Μθ, 49. Mas há Uma Oitava Cabeça muito Santamente terrível para mencionar. 30 Refere-se ao Atu VII. = A Carruagem = 8. O Portador do Sangraal. 31 O Mistério 5○ = 6□ e 6○ = 5□ , Heru-Ra-Ha é o aspecto marcial do Sol. 32 Ver AL, Cap. III, v. 74. 33 Novamente uma alusão secreta. (WEH nota: Junte-se à O.T.O. e aprenda o mistério). 34 O Vidente não era ainda um iniciado completo, e foi obstruído por A.C. 35 Esse parágrafo profetiza o purgamento do Fogo mundano no Aeon de Horus. “Inferno” é o Ser mais impuro do Homem, que sofre não extinção, mas consome todas as experiências da vida, vindo por sua vez a conhecer sua própria Perfeição. 36 32 dente; sendo que o Nome é 32 = . Macroprosophus fundido com o Microprosophus. 37 A língua é o instrument do Logos e portanto é um órgão Fálico ou criativo. Chockmah, o Logos, é a Raiz do Fogo, e a Energia Masculina. 38 Estes são os “Quatro Rios do Eden”. É o entendimento quádruplo do Logos. Eles O refletem tão perfeitamente que reproduzem Sua forma. 39 600 =. Um “grande número” do Sol, normalmente 6. 600 = Cosmos. A blasfêmia está em tomar o material para o Sol Espiritual. 40 “O Pecado de todo o mundo”. Ver o Manifesto do Mediterrâneo. 41 Profecia das dores, a iniciação a 9 ○ = 2□ , passada por 666 a fim de ele se tornar ele mesmo. 42 Profecia das dores, a iniciação a 9 ○ = 2□ , passada por 666 a fim de ele se tornar ele mesmo. 43 Profecia das dores, a iniciação a 9 ○ = 2□ , passada por 666 a fim de ele se tornar ele mesmo. 44 i.e. “Por que Tu não és conscientemente idêntico a 666”? 45 As Provas Cabalísticas (da verdade de Aiwass) dadas pelas virtudes de 93. 46 666. 47 O anel de V.V.V.V.V., mencionado em LXV, v. 16. 48 Minha resistência à Grande Obra. 49 O Anjo promete para o Vidente que ele será 666 totalmente, e o aconselha a aguardar Sua Hora com perfeita confiança. 50 Profecia dos resultados da Grande Obra encaminhada por 666. 51 Isso se refere ao Aeon que vai seguir o de Horus. Ver Liber AL, Cap. III, v. 34. Seu Senhor é “aquele da dubla-baqueta”. “Thmaist – Justiça”.
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B i b l i o t e c a T e l ê m i c a
E s t r e l a R u b i
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a c i m ê l e T a c e t o i l b i B
HOOR HOORÁCULO
Existem manifestações religiosas consistentes que permanecem únicas sem um grupo específico, pois não preenchem os parâmetros básicos para uma classificação sistemática e objetiva. Thelema é um desses fenômenos religiosos que se desvia do Cristianismo, mas que também não pode ser classificado como Pagão ou NeoPagão.
Thelema pode ser considerada uma religião pagã ou neopagã? Julgo que para um melhor entendimento do assunto em questão faz-se necessário uma visita, mesmo que superficial, aos conceitos inseridos nos fenômenos religiosos reconhecidos como Paganismo e Neo-Paganismo. Estes dois movimentos religiosos tem como tema central a Natureza, compreendida como um conjunto de forças ou aspectos que são divinizados e antropomorfizados. Neste tipo de movimento religioso o homem é visto como parte da natureza e a relação do devoto com a divindade é pessoal e direta, ou seja, uma relação que segue parâmetros humanos em termos afetivos e sociais. A diferença entre Paganismo e Neo-Paganismo se fundamenta na história. O paganismo se origina nos povos agrícolas e nos ritos familiares ou domésticos e o Neo- Paganismo tem a sua origem no Romantismo do século XIX onde se tenta religar o homem à natureza, reativando os cultos pré-cristãos, acrescentando-lhes conhecimentos esotéricos. Ambos os movimentos são de raríssima beleza, com um primor estético e riqueza sensorial que chega a ser deveras inebriante. E é preciso ressaltar que embora seu método não seja o da busca ativa da maturidade espiritual, esta maturidade chega a ocorrer em muitos praticantes devido ao intenso e variado e stímulo sensorial a que l t a se submetem. Do sensório provém o fogo que alimenta o cadinho o c l a da transmutação alquímica pela qual percorremos o caminho que z t e u nos leva do humano ao divino. Q a j o L — s i t n e i r O i l p m e T o d r O
riamente pagão. Os cristãos associaram o termo “Paganismo” a todas as religiões que não fossem monoteístas e isto gerou confusão.
Mas e Thelema? Como contextuar o fenômeno religioso de Thelema no âmbito das religiões não Cristãs? Em primeiro lugar, é necessário esclarecer que nem todo movimento religioso que se desvia do dogma monoteísta cristão é necessa-
A primeira diferença crucial é que Thelema é uma religião antropocêntrica, ou seja, o homem é a manifestação que dá significado à existência. Diferente do Paganismo a Natureza não assume uma importância crucial em nosso culto, compreendemos que o homem está inserido na natureza, mas não em termos de igualdade e sim como apto a utilizar a natureza para manifestar a sua Vontade. Uma outra questão importante é que não revivemos cultos de adoração a deuses do passado, mas sim, utilizamos esses deuses como símbolos ou aspectos do único deus em que acreditamos, o homem. Sob nosso ponto de vista Deus é um fator interno e não externo. A nossa busca espiritual não é passiva, mas conscientemente ativa onde o conflito interior é não só buscado, mas esperado e bemvindo. O caminho espiritual Telêmico também não é exclusivamente sensorial e subjetivo, a racionalidade e objetividade são ferramentas importantes do auto-conhecimento para nós. Thelema não quer reviver ou ressuscitar o passado, a intenção de Thelema é resignificá-lo a partir da ampliação de consciência alcançada pelo homem contemporâneo. Respeitamos o passado e reconhecemos o seu valor, mas a nossa experiência dele é modifi cada e ampliada a partir dos novos recursos adquiridos pela humanidade ao longo do tempo. Existiriam ainda muitos outros diferenciais a serem abordados, mas julgo que o que foi escrito até aqui já é suficiente para a compreensão da impossibilidade de inclusão de Thelema tanto no Paganismo quanto no Neo-Paganismo.
O Hooráculo é a resposta a uma pergunta. A cada edição, a pergunta de um leitor da Estrela Rubi será selecionada e a resposta a ela será dada por um ou mais membros da Loja Quetzalcoatl. Caso queira submeter sua pergunta de cunho mágicko ou thelêmico ao Hooráculo, a envie para
[email protected]. Nossa equipe editorial vai avaliar a pergunta mais inteligente e instigante e, se selecionada, vamos estudá-la, respondê-la e publicá-la na próxima edição. O Hooráculo só terá olhos – ou melhor, Olho – às perguntas mais desafiadoras e que possam ser de interesse geral.
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S AIBA M AIS SOBRE... A ORDO TEMPLI ORIENTIS
A L OJA Q UETZALCOATL
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Ordo Templi Orientis foi fundada em 1904, na Alemanha, por Karl Kellner e Theodore Reuss — seu primeiro líder —, que buscavam estabelecer um Academia para maçons de altos Graus onde estes pudessem ter contato com as revelações iniciáticas descobertas por Kellner em suas viagens ao Oriente. A entrada de Aleister Crowley, em 1912, veio a alterar profundamente a Ordem, até que, naquele mesmo ano, a O.T.O. rompe seus laços com a Maçonaria e assume–se como uma organização independente e soberana.
A principal mudança trazida por Crowley para a ordem foi a implantação da Lei de Thelema, conforme definida no Livro da Lei – Liber AL vel Legis, e o alinhamento da O.T.O. com as energias no Novo Eon, tornando esta Ordem a primeira nascida no Velho Eon a migrar para o novo. Em 1922 Crowley, com a morte de Reuss, assumiu a liderança da O.T.O.. Seu sucessor indicado foi o alemão Karl Germer, que governou a Ordem de 1947 a 1962. Como Germer não indicou um sucessor, após sua morte vários membros e não membros da Ordem tentaram assumir o controle da O.T.O. o que colocou a Ordem em sério risco de extinção. Assim, Grady McMurtry lançou mão de um documento expedido por Crowley que o autorizava a tomar o po der da O.T.O. caso esta se visse ameaçada. Assim, McMurtry tornou-se líder da Ordem em 1969, posição onde permaneceu até sua morte, em 1985. Após isso, por meio de um processo eleitoral levado a cabo pelos altos Graus da Ordem, foi empossado o atual Frater Superior, Hymenaeus Beta. Atualmente a O.T.O. está presente em mais de 70 países. No Brasil, a O.T.O. encontra–se desde 1995, com o antigo Acampamento Sol no Sul, substituído em 2000 pelo Oásis Quetzalcoatl, atual Loja Quetzalcoatl. Dando continuidade ao trabalho, em fevereiso de 2010 ev foi aberto em Minas Gerais o Acampamento Opus Solis.
Loja Quetzalcoatl é um corpo oficial da Ordo Templi Orientis Internacional, fundado em 23 de maio
de 2000 e.v. na cidade do Rio de Janeiro. Somos uma comunidade de homens e mulheres livres que se dedicam ao processo do auto-conhecimento e sua consequente expansão de consciência através dos princípios de Vida, Luz, Amor e Liberdade, pilares essenciais da Lei de Thelema. Temos como um de nossos principais ob jetivos auxiliar no desenvolvimento de uma sociedade verdadeiramente livre da superstição, tirania e opressão onde o ser humano possa expressar a sua Verdadeira Vontade em plena harmonia com a essência divina que nele habita. Acreditamos que cada ser humano é uma estrela individual e eterna que possui sua própria órbita e que o objetivo primordial de sua encarnação não é outro senão descobrir as coordenadas dessa órbita e cumprir a sua Verdadeira Vontade, realizando a Grande Obra e alcançando a Felicidade Perfeita. Nossos objetivos são alcançados através de um conjunto de Ritos Iniciáticos que visam despertar e ativar os chakras, propiciando a ascenção da kundalini e o acesso a estados mais elevados de consciência. Realizamos também o estudo teórico e prático da Filosofia de Thelema, Magia, Alquimia, Cabala, Tarot, Tantra, e demais ciências herméticas que possam colaborar com o caminho de auto-iluminação dos nossos iniciados. Caso deseje informações sobre nossas atividades ou sobre a afiliação à O.T.O., consulte nosso site no endereço www.quetzalcoatloto.org ou entre em contato conosco.
E s t r e l a R u b i