FUNDAMENTOS
HISTÓRICO-FILOSÓFICOS DA EDUCAÇÃO
1
SOMESB Fundamentos
Sociedade Mantenedora de Educação Superior da Bahia S/C Ltda.
HistóricoFilosóficos
Presidente ♦ Gervásio Meneses de Oliveira Vice-Presidente ♦ William Oliveira Superintendente Administrativo e Samuel Soares Financeiro ♦ Germano Tabacof Superintendente de Ensino, Pesquisa e Extensão ♦ Pedro Daltro Gusmão da Silva
da Educação
FTC - EaD Faculdade de Tecnologia e Ciências - Ensino a Distância ♦ ♦ ♦ ♦ ♦ ♦ ♦ Coord. de Softwares e Sistemas ♦ Coord. de Telecomunicações e Hardware ♦ Coord. de Produção de Material Didático ♦ Diretor Geral Diretor Acadêmico Diretor de Tecnologia Diretor Administrativo e Financeiro Gerente Acadêmico Gerente de Ensino Gerente de Suporte Tecnológico
Waldeck Ornelas Roberto Frederico Merhy Reinaldo de Oliveira Borba André Portnoi Ronaldo Costa Jane Freire Jean Carlo Nerone Romulo Augusto Merhy Osmane Chaves João Jacomel
EQUIPE DE ELABORAÇÃO/PRODUÇÃO DE MATERIAL DIDÁTICO:
♦ PRODUÇÃO
ACADÊMICA♦
Gerente de Ensino ♦ Jane Freire Autor ♦ Jorge Bispo Supervisão ♦ Ana Paula Amorim ♦PRODUÇÃO
TÉCNICA
♦
Designer ♦ João Jacomel Revisão Final ♦ Idalina Neta Estagiários ♦ Delmara Brito, Francisco França Júnior, Israel Dantas e Lucas do Vale Imagens ♦ Corbis/Image100/Imagemsource copyright
©
FTC EaD
Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610 de 19/02/98. É proibida a reprodução total ou parcial, por quaisquer meios, sem autorização prévia, por escrito, da FTC EaD - Faculdade de Tecnologia e Ciências - Ensino a Distância. www.ftc.br/ead
2
ÍNDICE UMA VISÃO CRÍTICA DA EDUCAÇÃO DA ANTIGÜIDADE A CONTEMPORANEIDADE ○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
A EDUCAÇÃO DA ANTIGÜIDADE E DA IDADE MÉDIA: EM BUSCA DA ESSÊNCIA DO HOMEM ○
○
○
○
○
○
○
A Tradição Grega Ideal Formativo e organização da educação grega Principais Educadores Gregos A Tradição Romana Ideal formativo e organização da educação romana Os Principais Educadores Romanos A Tradição Medieval Queda do Império Romano e as Bases do Cristianismo Ideal formativo e organização da Educação Medieval ○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
07
07
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○ ○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○ ○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○ ○
○
○ ○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
A EDUCAÇÃO DO MUNDO RENASCENTISTA À CONTEMPORANEIDADE: EM BUSCA DO RACIONALISMO ○
○
○
○
○
○
○
○
O Humanismo Cristão no Processo Educativo A Educação Protestante de Martinho Lutero A Educação Jesuítica O Renascimento e A Educação Moderna O Surgimento da Escola Moderna Principais Educadores da Modernidade O Iluminismo e o Processo Educativo A Organização Educacional Principais Educadores do Iluminismo ○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○ ○
○
○ ○
○
○ ○
○
○ ○
○ ○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○ ○
○
○
○
○ ○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
FILOSOFIA E EDUCAÇÃO: EM BUSCA DA CONSCIÊNCIA FILOSOFIA E EDUCAÇÃO
○
○
○
○
○
○
○
○
O que é Filosofia Entendendo A Origem e o Conceito O Papel do Filósofo e o Ato de Filosofar As Formas de Abordar O Mundo O que é Educação Filosofia da Educação ○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○ ○
○
○ ○
○ ○
○
○ ○
○ ○
○
○ ○
○ ○
○
○ ○
○ ○
○
○ ○
○ ○
○
○
○ ○
○
○
○
○ ○ ○
○
○ ○ ○
○
○ ○ ○
○ ○ ○
○
○ ○ ○
○
○ ○ ○
○
○
○
○
○
07 07 09 13 13 15 18 18 18
21 21 21 22 24 24 25 27 27 27
○
31
31
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
31 31 35 36 38 42 3
A FORMAÇÃO CRÍTICA E A NECESSIDADE DE UMA POSTURA ÉTICA DO EDUCADOR ○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
45
Fundamentos
HistóricoFilosóficos
da Educação
Educação e Ideologia: A Luta Pelo Poder O Conhecimento A Necessidade de Uma Nova Ética Na Educação Atividade Orientada Glossário Referências Bibliográficas ○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
4
○
○
○
○
○
○
○
45 47 49 53 55 57
Apresentação da disciplina Caro(a) Aluno(a), Estamos dando início aos nossos estudos de Fundamentos Histórico e Filosóficos da Educação que tem como objetivo geral analisar a Educação enquanto um objeto crítico e reflexivo. Enfocaremos historicamente seus aspectos sociais e políticos, da Antigüidade ocidental até e contemporaneidade em suas relações com o Estado, sociedade e cultura, bem como o estudo do desenvolvimento do processo educacional: práticas educativas, principais teóricos e a organização do ensino no contexto das sociedades. Abordaremos também as principais interfaces da filosofia com a educação e seus principais teóricos, bem como os pressupostos filosóficos para a construção do conhecimento. Essa disciplina possui 72 horas e encontra-se dividida em dois grandes blocos temáticos, sendo que cada bloco será trabalhado em quatro semanas. O primeiro bloco temático intitula-se “uma Visão Crítica da Educação da Antigüidade à Contemporaneidade” e será desenvolvido a partir dos temas “A Educação da Antigüidade e da Idade Média: em Busca da Essência do Homem” e “A Educação do Mundo Renascentista à Contemporaneidade: em Busca do Racionalismo” No segundo Bloco Temático, que recebe o nome de “Filosofia e Educação: Em Busca da Consciência”, estudaremos mais dois temas: “Filosofia e Educação” e “A Formação Crítica e a Necessidade de Uma Postura Ética do Educador”. Todo o material didático dessa disciplina foi estruturado para potencializar sua aprendizagem, por isso leia, atentamente, todos os textos e realize todas as atividades propostas, a fim de tirar um excelente proveito desse módulo disciplinar. A vida sempre nos oferece desafios, e a transposição das barreiras é a única forma de atingirmos o sucesso. Assim, por maior que sejam as dificuldades. Não desistam nunca dos seus objetivos. Desejamos discernimento, iniciativa e realização!!! Prof. Jorge Bispo
5
Fundamentos
HistóricoFilosóficos
da Educação
6
UMA VISÃO CRÍTICA DA EDUCAÇÃO DA ANTIGÜIDADE A CONTEMPORANEIDADE A EDUCAÇÃO DA ANTIGÜIDADE E DA IDADE MÉDIA: EM BUSCA DA ESSÊNCIA DO HOMEM A Tradição Grega Ideal F orma tiv o e or ganização da educação g Forma ormativ tivo org grrega No mundo ocidental, a Grécia é um país que se destaca pela sua importância cultural, pois é da cultura grega que se origina, em grande parte, nossa pedagogia e nossa educação. Resumindo em um esquema geral, essas seriam as principais características da cultura grega: valorização do Homem; exaltação da inteligência crítica; valorização do trabalho intelectual; valorização do ideal de cidadão; defesa de uma educação integral (física, intelectual, ética e estética); valorização da competição na sociedade. Na Grécia existiram diversas formas de educação, abaixo, conversaremos sobre os principais períodos educativos.
EDUCAÇÃO HERÓICA A educação grega heróica tinha como principal meta formar futuros guerreiros e heróis, baseando-se nos conceito de honra, valor, sacrifício e bravura, tudo isso resumia a mentalidade grega, existia o ideal máximo chamado de areté. Além disso, estimulava-se a competição entre os alunos, enfatizando ideais como superioridade. Caracterizavam assim o espírito de emulação (desejo de se sobressair entre os demais, de ser sempre o melhor). As obras literárias fundamentais para compreender a educação desse período são Ilíada e Odisséia, de Homero. Os jovens eram educados com bastante rigor, dedicavam-se aos exercícios com armas e do corpo. (arco e flecha, educação física, jogos cavalheirescos), ao mesmo tempo, estudavam artes musicais (lira e canto), oratória e por fim estudavam boas maneiras.
7
Fundamentos
A educação feminina limitava-se ao aprendizado das artes domésticas. Essa educação não ocorria ainda em escolas ou instituições formais de ensino, o espaço reservado para tais atividades eram as áreas livres dos palacetes pertencentes à elite econômica.
HistóricoFilosóficos
da Educação
Para refletir... Até aqui vimos que o ideal de formação na Grécia era voltado para a virtude, você acha que a educação da atualidade poderia adotar ainda parte desse ideal?
EDUCAÇÃO ESP AR TAN A ESPAR ART ANA Esparta, localizada na península do Peloponeso, foi uma das cidades-estado que mais se destacaram na Grécia Antiga. Caracterizava-se por ser extremamente militarizada. A educação tinha caráter totalitário e não perdia de vista os interesses do Estado, o qual exigia do cidadão sacrifício e obediência acima de tudo, isso se refletia, em termos pedagógicos, na severidade, cultivo ao amor à Pátria e na dureza. A educação espartana também era esportiva e artística (eles praticavam dança e música), sendo que o maior destaque recaía sobre os exercícios militares que não excluía as mulheres. O processo educativo ainda não se dava em escolas formais, mas sim em grandes acampamentos. O Pensador Rodin (1840-1917)
EDUCAÇÃO A TENIENSE ATENIENSE Vimos que Esparta se deteve no governo e na educação autoritária. Atenas, ao contrário, alcançou a vida política democrática (sobretudo no século VII a.C.). Vale lembrar que tal democracia era restrita a uma pequena elite econômica, contemplando apenas os homens. Surge aqui a vida urbana da Pólis. O espírito da educação ateniense pode ser resumido na idéia de kalokaghatia (educação moral e estética reunidas) aliada aos valores cívicos e ao espírito democrático. A educação era mais social (ficava a cargo de particulares) que estatal. O processo educativo externo iniciava-se aos sete anos e compreendia duas etapas: física e musical/poética. As mesmas eram ministradas nos campos (escolas particulares) e nos ginásios (escolas estatais). Aos dezoito anos, os jovens ingressavam numa espécie de serviço militar, onde aprendiam artes bélicas. Depois disso, os homens podiam prosseguir nos estudos mais elevados, nas academias de cultura superior, nas quais estudavam Retórica Filosofia e Ciência.
8
EDUCAÇÃO HELENÍSTICA Imaginem se no mundo atual, o Brasil fosse conquistado por uma grande potência mundial (EUA ou França, por exemplo) com certeza a nossa cultura sofreria mudanças. Isso foi o que aconteceu com a Grécia no período helenístico. Alexandre Magno (Rei da Macedônia), dominou a Grécia no século IV a.C e, a partir daí a cultura grega se universalizou, ampliou-se e tornou-se multicultural. Nessa época a paidéia transformou-se em enciclopédia. A educação passou a valorizar o aspecto intelectual ao invés dos aspectos físicos e estéticos. A leitura, o cálculo e a escrita experimentaram grande desenvolvimento, mas o método era de memorização. Se a memorização ainda era valorizada, a disciplina era bastante rigorosa e os castigos corporais eram considerados como algo natural. A escola dos grammátikos foi a que mais cresceu, nela estudava-se: literatura clássica, poesia e história. No ensino superior (Universidade de Atenas e no Museu de Alexandria), as matérias de ensino dividiam-se em:
humanistas (gramática, retórica e filosofia ou dialética); e realistas (aritmética, música, geometria e astronomia).
O ensino privado ainda existia, mas possuía uma dimensão bastante restrita, os pedagogos passam a ser mais bem remunerados e ganham um certo prestígio social.
Principais Educadores Gregos SÓCRATES (469-399 a.C.) Filósofo nascido em Atenas, considerado o maior representante da pedagogia do Ocidente. Como educador pretendeu despertar e estimular a busca pessoal da verdade, ou seja, despertar o conhecimento de si próprio. Sócrates acreditava que o autoconhecimento era o início do caminho para se atingir o verdadeiro saber, convidava seus discípulos para um mergulho em si mesmo, em suas aulas, os alunos não recebiam os conteúdos prontos de maneira passiva, pelo contrário, buscava que o aluno construísse os mesmos. Esse grande pensador grego foi acusado de desrespeitar os deuses e de corromper a juventude. Foi condenado à morte e, apesar da possibilidade de fugir da prisão, preferiu seguir fiel à sua missão e escolheu morrer. Não deixou nada escrito. O que herdamos foi o testemunho de seus contemporâneos, especialmente do seu mais importante discípulo, Platão.
9
Para refletir... Fundamentos
HistóricoFilosóficos
O que você acha do ideal socrático de estimular o aluno a produzir o seu próprio conhecimento?
da Educação PLATÃO (427-347 a.C.) Principal discípulo de Sócrates foi um Importante filósofo de Atenas, nascido em uma família rica, esteve em contato com as personalidades mais importantes de sua época. Entre as várias obras que deixou, destacam-se: República, Alegoria da caverna, Sofista e Leis. Através delas, estudou a tarefa central de toda educação; “elevar o espírito” e fazer com que as pessoas saiam do mundo “aparente”, fazendo elas olharem para a luz do “verdadeiro ser”. Segundo Platão, somente com o cumprimento desta tarefa existiria educação, única coisa que o homem pode levar para a eternidade. Para se alcançar este objetivo ele dizia ser necessário “converter” a alma. Assim a educação seria a “arte da conversão”.
Para refletir... Atualmente, você consideraria um “mundo de ilusões” aquilo que a televisão divulga, através de alguns comerciais, novelas e outros programas?
ARISTÓTELES (384-322 a.C) Um dos maiores filósofos da história de toda a Antigüidade. Nascido na Macedônia, estudou na Academia de Atenas, onde permaneceu estudando e ensinando por mais de vinte anos. Aristóteles, ao contrário do seu mestre (Platão), não era idealista, pregava de maneira mais racional e dizia que as idéias estão nas coisas, como sua própria essência. Era também realista em sua concepção educacional, afirmando que três fatores principais determinariam o desenvolvimento espiritual do homem: disposição inata, hábito e ensino. Com isso, mostrava-se favorável à medidas educacionais “condicionantes.” Acreditava que o homem podia tornar-se a criatura mais nobre, assim como podia tornar-se também o pior de todos os seres. Outra tese sua é de que aprendemos fazendo e de que nos tornamos mais justos agindo justamente.
10
Abaixo acompanhe um quadro resumo sobre os principais educadores gregos
EDUCADOR
PRESSUPOSTO
MÉTODO
Autoconhecimento do educando.
Diálogo crítico, dividido em duas etapas: ironia e maiêutica.
PLATÃO
Elevação do “espírito” do educando.
Dialético a partir de etapas precisas para o processo educacional.
ARISTÓTELES
Hábitos virtuosos e orientação racional para os alunos.
Lógico, partindo da percepção do objeto, memorização do percebido e inter-relação entre os mesmos.
SÓCRATES
#
[ ] Agora é hora de
TRABALHAR
1.
Faça um comentário sobre o lema socrático conhece-te a ti mesmo, procurando relacioná-lo com a educação atual:
2.
Descreva em linhas gerais o método de ensino de Sócrates. Você acha que nos dias atuais ele ainda seria válido? Justifique a sua resposta.
11
3. Fundamentos
HistóricoFilosóficos
da Educação
A Alegoria da Caverna traz representações importantes para um educador. Pensando como tal, responda as proposições que se encontram logo após o texto.
MIT O D A CA VERN A MITO DA CAVERN VERNA
Imagine um grupo de pessoas que habitam o interior de uma caverna subterrânea. Elas estão de costas para a entrada da caverna e acorrentadas no pescoço e nos pés, de sorte que tudo o que vêem é a parede da caverna. Atrás delas ergue-se um muro alto e por trás desse muro passam figuras de formas humanas sustentando outras figuras que se elevam para além da borda do muro. Como há uma fogueira queimando atrás dessas figuras, elas projetam sombras bruxuleantes na parede da caverna. Assim, a única coisa que as pessoas da caverna podem ver é este “teatro de sombras”. E como essas pessoas estão ali desde que nasceram, elas acham que as sombras que vêem são a única coisa que existe. Imagine agora que um desses habitantes da caverna consiga se libertar daquela prisão. Primeiramente ele se pergunta de onde vêm aquelas sombras projetadas na parede da caverna. Depois consegue se libertar dos grilhões que o prendem. O que você acha que acontece quando ele se vira para as figuras que se elevam para além da borda do muro? Primeiro, a luz é tão intensa que ele não consegue enxergar nada. Depois, a precisão dos contornos das figuras, de que ele até então só vira as sombras, ofusca sua visão. Se ele conseguir escalar o muro e passar pelo fogo para poder sai da caverna, terá mais dificuldade ainda para enxergar devido a abundância de luz. Mas depois de esfregar os olhos, ele verá como tudo é bonito. Pela primeira vez verá cores e contornos precisos: verá animais e flores de verdade, de que as figuras na parede da caverna não passavam de imitações baratas. Suponhamos, então, que ele comece a se perguntar de onde vêm os animais e as flores. Ele vê o Sol brilhando no céu e entende que o Sol dá vida às flores e aos animais da natureza, assim como também era graças ao fogo da caverna que ele podia ver as sombras refletidas na parede. Agora, o feliz habitante das cavernas pode andar livremente pela natureza, desfrutando da liberdade que acabara de conquistar. Mas as outras pessoas que ainda continuam lá dentro da caverna não lhe saem da cabeça. E por isso ele decide voltar. Assim que chega lá, ele tenta explicar aos outros que as sombras na parede não passam de tremulas imitações da realidade. Mas ninguém acredita nele. As pessoas apontam para a parede da caverna e dizem que aquilo que vêem é tudo o que existe. Por fim, acabam matando-o. Extraído do livro Mundo de Sofia de Jostein Gaarder. Cia da Letras, 2000, p.104/105.
a. De acordo com Platão, qual seria tarefa central da educação?
12
b. O que seria a luz exterior do sol?
c. Explique o que Platão pensava sobre a democracia.
A Tradição Romana Nasce uma nova forma de educar: a educação prática dos romanos
Ideal fforma orma tiv o e or ganização da educação rromana omana ormativ tivo org Você já ouviu falar da Itália? Pois é, Roma ocupava a área que atualmente é conhecida como Itália e muitas outras regiões da Europa. A Civilização Romana tem início em dois mil a.C, quando a porção central da península itálica foi povoada por diversos povos: entre eles destacamos italiotas, gregos, latinos e etruscos. E os romanos faziam o que para se sustentar? Diversas coisas, falaremos aqui sobre as principais. Na economia destacava-se o pastoreio e as atividades comerciais. A principal fonte de riqueza eram os impostos cobrados das colônias (países dominados pelos romanos). E como as pessoas viviam em Roma? A sociedade era patriarcal (os pais tinham poderes absolutos) e, era dividida em classes: de um lado a nobreza por nascimento, chamados de patrícios que eram geralmente proprietários das terras e do outro, os plebeus, maioria absoluta da população, estes se subdividiam em dois grandes seguimentos: os homens livres (camponeses, artesãos e comerciantes) e os escravos. Sendo que dentre os plebeus sobressaía-se um grupo específico, os clientes, protegidos das famílias patrícias que prestavam serviços às mesmas. Agora que a gente já conhece a economia e a sociedade romanas, vamos ver, em linhas gerais, as principais características culturais desta civilização: valorização da vontade e da ação humanas; cultivo dos ideais de domínio e de espírito prático; afirmação da importância da família; defesa de uma educação realista e estatal, amor pelas normas jurídicas. 13
EDUCAÇÃO HERÓICO-P ATRÍCIA HERÓICO-PA A educação heróico-patrícia ocorreu nos primeiros anos da República e era voltada para as pessoas mais ricas, ou seja, aos Fundamentos Histórico- patrícios. Este tipo de educação almejava divulgar os valores da Filosóficos nobreza de sangue. A família era a instituição mais respeitada e da Educação dava plenos poderes ao pai. Depois dos sete anos as meninas continuavam no lar aprendendo serviços domésticos e os meninos passam a ser educados pelo pai que enfatizam a consciência histórica e o patriotismo. Os meninos acompanhavam os pais às sessões dos tribunais, do senado e às festas. Além disso, eles aprendiam a cuidar da terra, fortalecendo os músculos ao trabalharem com a pá e o arado. Essa educação estava mais preocupada com a formação jurídicomoral e física. Era uma pedagogia da ação, para a vida cotidiana, tomando como base o amor a pátria e a conscientização histórica.
EDUCAÇÃO DE INFL UÊNCIA GREG A INFLUÊNCIA GREGA A República iniciou-se no século VI a.C., representando os interesses dos patrícios (únicos a terem acesso aos cargos políticos). Mais ou menos no século V a.C. uma parcela dos plebeus enriqueceu e passou a lutar por direitos políticos através da criação do Tribunato da Plebe e da Lei das Doze Tábuas. Foi no período republicano que Roma experimentou sua política expansionista, ocupando diversas regiões, esse fato ocasionou grande desenvolvimento do comércio romano. Em meados do século III a.C. a educação romana experimentou profundas mudanças. A educação ficou mais complexa, as escolas cresceram em número e em qualidade. O ensino tanto podia ser ministrado tanto em grego como em latim e dividia-se em três graus de ensino: elementar, médio e superior. A escola elementar ou ludi magister, recebia alunos de 7 anos, seu programa de estudos era: leitura, escrita, cálculo e o estudo de algumas canções. A disciplina era muito rigorosa e os castigos físicos uma constante. Já a escola secundária ou grammaticus começava aos 12 e prosseguia até os 16 anos. Aí estudava-se gramática latina, literatura, geografia, aritmética, geometria e astronomia. O ensino superior desenvolveu-se no decorrer do século I a.C, os estudantes dessas escolas eram da elite econômica e estudavam política, direito e filosofia. A educação física era muito valorizada, sendo que a ênfase recaía nas artes marciais, com o intuito de preparar os soldados. Vejamos na tabela abaixo uma síntese da educação desse período: GRAU DE ENSINO
14
CARACTERÍSTICAS
DISCIPLINAS
Elementar ou ludi magister
recebia alunos a partir dos 7 anos; disciplina muito rigorosa, castigos físicos constantes.
leitura, escrita, cálculo, canções.
Médio ou grammaticus
começava aos 12 anos, disciplina um pouco menos rígida.
gramática latina, literatura, geográfia, aritmética, geometria e astronomia.
Superior
estudantes membros da elite econômica, ensino voltado para a erudição.
política, direito e filosofia.
EDUCAÇÃO NO IMPÉRIO Em 27 a.C. Otávio (Imperador Romano entre os anos 27 a.C. e 14 d.C.) recebe o título de Augusto (título honorífico) e implanta o Império, nessa época ocorreram várias melhorias (construção de templos, aquedutos, termas, estradas, edifícios públicos, portos e estradas). As artes são incentivadas e a literatura sofre clara influência dos gregos. O processo educativo desta época se distinguiu do anterior apenas pela maior organização e converteu-se numa educação pública, com a criação das escolas municipais no século I a.C. Vespasiano (Imperador Romano entre 69-74) libera os professores do ensino médio e superior do pagamento de impostos.
Para refletir...
Nesse tópico vimos que os romanos valorizavam muito à família, você acha que na educação atual, uma valorização semelhante traria alguma melhoria para o processo educacional?
Principais Educadores Romanos Boa erudição para falar bem em público: o espírito dos educadores romanos. CÍCERO (106- 46 a.C.) Marco Túlio Cícero, Orador e político romano, nascido numa região próxima a Roma. Estudou literatura grega, literatura latina e retórica com os melhores mestres da época, aprofundou-se no estudo das leis e nas doutrinas filosóficas. Valorizava a fundamentação teórica e filosófica do discurso, apaixonado defensor da educação integral, afirmava que o orador deveria ter erudição, conhecer a cultura geral, aprofundar-se na formação jurídica, na argumentação filosófica e, conhecer e desenvolver habilidades literárias e teatrais Seus textos não se ocupam apenas da filosofia, mas também de temas sociais. Não só pela extensão, mas pela originalidade e variedade de sua obra, Cícero é considerado o maior dos escritores romanos e o que mais influenciou os oradores modernos. Além de ser o maior orador do seu tempo, foi também, o mestre das letras mais completo de toda a Antigüidade ocidental.
15
QUINTILIANO (35-96) Marco Fábio Quintiliano nasceu na Espanha. Fundamentos Estudou retórica com os maiores mestres de seu Histórico- tempo e lecionou em Roma durante vinte anos. É Filosóficos considerado um dos pedagogos mais brilhantes do da Educação mundo antigo. Sua mais significativa obra foi De institutione oratória (escrita no ano de 95), publicada em 12 volumes, nessa obra, o autor apresentou diretrizes para a formação cultural dos romanos, desde a infância até a maturidade. Defendia muito a necessidade de dominar os aspectos técnicos da educação, sobretudo a formação do orador. Dizia que o ideal educacional da eloqüência (falar com o público de maneira convincente) associada à sabedoria, seria a fórmula perfeita para educar uma pessoa. Valorizava também a psicologia como instrumento para se conhecer a individualidade do aluno. Pelo que pudemos ver até então, Quintiliano, não se prendia apenas às discussões teóricas, pelo contrário, defendia o uso de técnicas de diversas ciências para a melhoria da educação. Por falar em melhoria educacional, um aspecto que não se pode esquecer é que ele também defendia o lúdico no processo ensino-aprendizagem, dizendo que intercalando recreação com as atividades didáticas, o ensino seria mais prazeroso. Achava o estudo em grupo fundamental para o favorecimento da emulação (busca pelos melhores postos na escola e na sociedade) e no estímulo intelectual dos alunos. Incluiu na sua pedagogia exercícios físicos moderados. Por outro lado não esqueceu da formação intelectual vigorosa, pois para ele, o estudo da gramática devia estimular nos alunos uma escrita clara e elegante. O trabalho de Quintiliano atravessou as barreiras do tempo e das fronteiras, fazendo com que sua obra retornasse com vigor na época do Renascimento em diversos países de língua latina.
16
1.
Leia a citação abaixo e em seguida responda ao que se pede:
“
Há, pois em Roma, uma ciência do direito, seu conhecimento é um precioso bem, ao qual aspiram muitos jovens romanos: abre uma promissora carreira; mas ainda que a eloqüência, o direito aparece como uma panacéia, o meio de distiguir-se e ascender. Surgem naturalmente, para atender a esse desejo, o mestre de direito (magister iuris) e o ensino do direito.
”
(J. Marrou apud ARANHA, 2002, p. 69)
a. Levando-se em conta que a citação é da época Imperial romana, por que podemos afirmar que o direito era uma carreira promissora?
b. Explique a originalidade do ensino do direito para a cultura romana.
2.
Compare a pedagogia de Quintiliano com a de Cícero, em seguida escreva sobre o tipo de homem que cada um desses educadores tinham em mente.
17
A Tradição Medieval Fundamentos
HistóricoFilosóficos
da Educação
O poder cultural da Igreja Católica se estabelece no mundo ocidental e vai marcar profundamente a vida das pessoas.
Queda do Império Romano e as Bases do Cristianismo
No século V, o Império Romano do Ocidente caiu diante dos povos bárbaros. Estava fundada assim uma “nova ordem” na vida social européia: a Idade Média. Esse fato vai modificar completamente a base educacional até então existente. Em meio à destruição do Império Romano, a Igreja Católica conseguiu manter-se como instituição social. Solidificou sua organização e espalhou o cristianismo, preservando ainda, muitos elementos da cultura greco-romana. Foi dessa maneira que a Igreja passou a desempenhar um papel muito importante. Os únicos letrados da época eram os monges. Vale ressaltar que nem os nobres nem os servos sabiam ler. E o que é que isso tem a ver com a educação? É justamente disso que falaremos abaixo. Ora, se a Igreja ficou sendo a única instituição organizada depois da queda do Império Romano, ela passou a dar as cartas no jogo do Poder e , acreditando que Saber é Poder, a mesma controlou a Educação, os princípios morais e jurídicos da sociedade medieval. O conhecimento passou a ser extremamente valorizado, assim nas bibliotecas dos mosteiros era executado um trabalho cauteloso e paciente dos monges copistas. Quem eram esses monges copistas? Tradutores experientes que passavam para o latim (idioma dos romanos, adotado pela Igreja) textos selecionados da literatura e da filosofia grega. Você deve estar a se perguntar: que mal há nisso? Em se traduzir textos a partir de um trabalho meticuloso? Ora o que acontecia era que esses conhecimentos não eram partilhados com o grande público. Deste modo, havia um controle rigoroso, com relação às leituras permitidas ou proibidas, com a finalidade de preservar o poderio da Igreja.
Ideal fforma orma tiv o e or ganização ormativ tivo org da Educação Medie val Mediev A partir do século VIII, os Feudos se espalharam pela Europa, houve um enfraquecimento acentuado do comércio, provocando atraso econômico. Esse cenário dificultou o aprendizado das pessoas, e mesmo na Igreja muitos padres se descuidaram da formação intelectual. Por outro lado, o Estado (enfraquecido) ainda iria precisar do Clero culto para a execução e organização dos trabalhos administrativos. As escolas medievais não possuíam o formato das escolas que conhecemos hoje, as aulas podiam ser ministradas ao ar livre e a maioria esmagadora delas era ligada á Igreja Católica (escolas monacais e catedralícias). E o que se ensinava nessas escolas? O conteúdo do ensino era o estudo clássico, isto é, as “artes do homem livre”, bem diferente das “artes mecânicas do homem servil”. Essas artes eram baseadas em algumas
18
disciplinas, que vinham desde os tempos dos sofistas gregos. Na Idade Média elas constituíram o trivium e o quadrivium. O trivium (gramática, retórica e dialética), corresponderia atualmente ao ensino médio era mais comum e de caráter mais popular, encontrava-se abaixo do quadrivium (geometria, aritmética, astronomia e música) que seria uma categoria superior de ensino. Assim o conteúdo de ensino passou a ser chamado de “as sete arte liberais e dividiamse em o trivium e o quadrivium, que estão brevemente resumidos na tabela abaixo:
TRIVIUM Estudo de gramática, retórica e dialética corresponderia atualmente ao ensino médio era mais comum e de caráter mais popular, menos complexo que o quadrivium.
QUADRIVIUM Estudo de geometria, aritmética, astronomia e música, era considerada como uma categoria superior de ensino. Geralmente só a elite econômica tinha acesso ao mesmo.
Apesar de fortemente ligadas ao catolicismo, as escolas monacais e catedralícias, de início, educavam os burgueses, mas em seguida estes procuraram uma educação que atendesse aos objetivos da vida prática. Alterações importantes no sistema educacional só vão ocorrer por volta do século XI, com o fortalecimento do comércio, isso resulta em algumas coisas importantes para a educação. Uma delas foi o surgimento das escolas seculares. Com efeito, o desenvolvimento do comércio faz brotar novamente a necessidade de se aprender a ler, escrever e calcular. Nessas escolas burguesas, acontece uma forte contestação à Igreja, pois as mesmas se opunham ao ensino puramente religioso. Na verdade essas escolas queriam uma proposta ativa, que atendesse aos interesses da classe burguesa. A educação medieval vai sofrer mudança novamente por volta do século XII, pois a sociedade vai ficando cada vez mais complexa. Assim houve ampliação dos estudos (filosofia, teologia, leis e medicina); surgimento de mestres especializados; exigência de provas para a aquisição dos títulos de bacharel, licenciado e doutor e por fim o surgimento das universidades. Por outro lado, na época medieval a maior parte das mulheres não tinham acesso à educação formal. Apesar de trabalharem arduamente ao lado do marido, continuariam analfabetas. As meninas nobres aprendiam alguma coisa em seu próprio castelo, ocasião em que recebiam aulas de artes domésticas. Quando surgiram as escolas seculares, as meninas burguesas, começaram a ter acesso à educação. Porém nos mosteiros (alunas internas) e nos educandários (alunas externas) as meninas aprendem a ler, escrever, fazer artes da miniatura executar cópia de manuscritos (raramente). Já que somos educadores ou futuros educadores, é bom nos perguntar quem eram esses mestres medievais? Os pedagogos – no sentido exato da palavra – não aparecem na época medieval. As questões pedagógicas eram objeto de reflexão de qualquer pessoa que se dedicasse à interpretação dos textos sagrados, na preservação dos princípios
19
Fundamentos
HistóricoFilosóficos
religiosos, no combate à heresia e na conversão dos infiéis. A principal função da educação era a salvação da alma e a vida eterna. Por conseguinte, no final do período medieval, com a ampliação do comércio e por influência da burguesia, começam a haver transformações que irá determinar os novos rumos da ciência, da literatura, da educação.
#
da Educação
[ ] Agora é hora de
TRABALHAR
1.
Faça um comentário sobre os valores educacionais cultivados durante a Idade Média e sua validade ou não para o mundo atual:
2.
Qual era a importância do conhecimento e como se deu a gestão do mesmo por parte da Igreja Católica no período Medieval?
MAIS ALGUMAS QUESTÕES PARA VOCÊ PENSAR: Questão I: Leia a citação abaixo e em seguida responda ao que se pede: A educação do homem medieval ocorreu de acordo com os grandes acontecimentos da época, entre eles a pregação apostólica do século I depois de Cristo [...] surge um novo tipo histórico de educação, uma nova visão de mundo e de vida. As culturas precedentes , fundadas no heroísmo, no aristocratismo e na existência terrena foram substituídas pelo poder de Cristo, critério de vida e verdade [...] GADOTTI, 2002, pp. 51-52
“
”
20
1.
Proposições sobre a citação :
Você saberia citar mais alguns dos grandes acontecimentos que o autor se refere na linha dois do texto?
2.
A partir das informações do texto e nos estudos desenvolvidos no tema 1 deste primeiro bloco temático, faça uma comparação entre a educação greco-romana e a medieval assinalando suas mudanças e permanências:
A EDUCAÇÃO DO MUNDO RENASCENTISTA À CONTEMPORANEIDADE: EM BUSCA DO RACIONALISMO O Humanismo Cristão No Processo Educativo A retomada dos valores greco-romanos acontece no período entre os séculos XV e XVI e é denominado de Renascimento, que provoca um movimento conhecido como humanismo. Por conseguinte, nas primeiras décadas do século XVI, o movimento de Reforma Religiosa, detona com toda a sua força, dando lugar a profundas mudanças político-religiosas. O Nascimento de Vênus BOTTICELLI, Têmpera sobre tela (1485)
A EDUCAÇÃO PROTESTANTE DE MARTINHO LUTERO (1483-1546) Alemão da região da Saxônia se tornou mestre em Filosofia, Mais tarde, ingressou no convento dos agostinianos, onde em 1507 ordenouse sacerdote e posteriormente doutorou-se em teologia. O movimento de Reforma Religiosa, inicia-se na Alemanha durante o século XVI e foi liderado por Martinho Lutero. Esse movimento se estendeu não só pelo território alemão, mas por boa parte da Europa central e do norte. 21
A educação encontrou local privilegiado na Reforma por ser utilizada como um importante mecanismo para a divulgação da nova religião protestante. Tanto é que um dos primeiros pressupostos da Reforma é oferecer iguais condições para todos os homens lerem e Fundamentos Histórico- interpretarem a Bíblia. No entanto, a primeira conseqüência desse Filosóficos da Educação movimento na área educacional, foi a fundação da educação pública moderna, medida que visava reagir contra o poderio da educação católica, já que esta última se dedicava às escolas confessionais pagas. Vejamos a seguir as principais propostas da Reforma Protestante para o campo educacional: aspirava a implantação da escola primária para todos, para camponeses e artesãos; defendia a educação pública e universal, sugerindo ainda que as autoridades de cada cidade assumissem tal tarefa; condenava a aplicação de castigos físicos e crítica a erudição e a ênfase na retórica da Escolástica; propunha uma educação mais moderna e pragmática, incluindo no currículo: exercícios físicos, jogos e canto. A reação dos católicos foi imediata que propuseram a criação de ordens religiosas. Assim a Ordem dos jesuítas viria a exercer grande influência não só na concepção da escola tradicional européia como também na constituição do homem brasileiro.
A EDUCAÇÃO JESUÍTICA A Companhia de Jesus foi fundada por Inácio de Loyola (1491-1556) em 1534. Foi a mais poderosa organização da Igreja católica durante muitos séculos e ainda na atualidade ocupa posição de destaque no Vaticano. As principais mudanças propostas durante a Contra-Reforma estão listadas abaixo: Concilio de Trento (1545-1564); Fundação da Companhia de Jesus (1534); Restabelecimento do Tribunal da Inquisição (1538). Na educação, exerceu grande influência, pois substituiu a ação de outras instituições católicas que entraram em decadência por conta da Reforma Protestante, a exemplo das escolas monásticas e catedralícias. De certa forma foram os colégios e as universidades dos jesuítas que, nesta época, vão ser os mecanismos mais importantes para conter a saída de fiéis do catolicismo. A educação dos jesuítas é regida pelo Ratio Studiorum. Como era a organização dos jesuítas no campo educacional? Para começar existia uma forte hierarquia nos
22
colégios: cada estabelecimento era um dirigido por um Reitor, auxiliado por um Prefeito de estudos, que era quem de dirigia a instituição e fiscalizava os professores. Geralmente, os colégios dividiam-se em duas alas: 1 2
estudos inferiores; estudos superiores (de caráter teológico e diplomava em nível universitário).
E o que os alunos estudavam? A base estava nos clássicos. Os Estudos assim estavam divididos: Inferiores: latim e grego, gramática e matemática; Superiores: teologia, filosofia e retórica. Essa pedagogia vai reinar no Brasil Colônia por mais de 300 anos. O método de ensino consistia no seguimento de alguns passos: preleção, explicação, repetição e composição. A escola jesuítica enfatizava a, memorização e dava especial importância à retórica e à redação, assim como à leitura dos clássicos e às artes cênicas. Entre os alunos a emulação e os castigos físicos eram constantes, castigava-se ou premiava-se de acordo com a disciplina e o rendimento escolar, o professor era considerado o detentor de todo o saber e o transmissor absoluto dos conteúdos, cabendo aos alunos obedecêlo em todas as circunstâncias.
#
[ ] Agora é hora de
TRABALHAR
1.
Compare a proposta educacional de Lutero com a da Companhia de Jesus, destacando as semelhanças e as diferenças entre as mesmas.
2.
Explique porque durante os séculos XVI e XVII a religião influenciou de maneira efetiva os rumos da educação, inclusive o Brasil.
23
O Renascimento e a Educação Moderna
Fundamentos
HistóricoFilosóficos
Uma nova visão de mundo se estabelece: a educação do sujeito racional.
O Surgimento da escola moderna
A partir do Renascimento, o espírito religioso medieval começou a cair, seu prestígio diminuiu, a Igreja perdeu o sua função de explicar o mundo dos homens. Assim o próprio homem procurava explicar a realidade que o cercava. Imagine que você durante muitos anos vivesse preso em uma sala fechada, e agora tivesse a oportunidade de viver em um campo aberto; provavelmente a sensação seria muito boa e as possibilidades de experimentar coisas emocionantes também. Essa analogia serve para explicar como o homem renascentista se sentia na área conhecimento; agora eles tinham um campo aberto para correr, investigar e chegar as suas conclusões, sem o medo imposto pelos dogmas religiosos. Essa nova maneira de encarar a doutrina religiosa auxiliou a evolução das ciências humanas. O homem, desenvolvendo o pensar crítico, substitui uma visão direcionada pela possibilidade da indagação. Esse procedimento representa a tendência ao antropocentrismo isto é, o resgate da dimensão humana sob todos os aspectos. Um deles é entender o sujeito do conhecimento, questão predominante na Idade Moderna. René Descartes, Francis Bacon, John Locke, David Hume, dentre outros, são filósofos que discutem a teoria do conhecimento e ocupam-se com o problema do método, isto é, com os procedimentos da razão na investigação de uma determinada realidade. Através da ciência moderna, foram se constituindo, então, uma nova teoria da mente, uma nova visão do saber e uma nova imagem do mundo que imprimiriam no mundo uma mudança radical no âmbito da educação. Hoje em dia é bastante comum nos perguntarmos qual o método utilizado por tal professor? Sua didática é boa? Isso começou a se construir na idade moderna, ou seja a ação científica e pedagógica passou a contar com opções diferenciadas do modelo tradicional. Passaram então, os pedagogos a se interessarem, cada vez mais, pelo método e realismo em educação. Apesar disso, maioria das instituições educativas ainda permaneciam tradicionais,embora assumissem uma nova feição. Vejamos algumas de suas principais características:
da Educação
ênfase na formação moral; renovação do pensamento educativo; novos métodos de teorização; uso de línguas modernas; revalorização da educação física. Essa pedagogia moderna contrariava a educação Antiga/Medieval, excessivamente formal, retórica e conteudista. Ela Preferia usar o rigor das ciências naturais (física, biologia, etc.) a permanecer na tendência literária e estética própria do humanismo renascentista. A pedagogia moderna começa a exigir uma didática, que possa partir da compreensão das coisas. Os educadores leigos e religiosos se empenham na organização da escola. A escola moderna propunha o seguinte: descobrir uma forma de ensinar mais acelerada e mais segura.
24
Principais Educador es da Modernidade Educadores João Amós Comênio (1592-1670) Nascido na Moravia, vai propor um sistema articulado de ensino, reconhecendo o igual direito de todos os homens ao saber. O maior educador e pedagogo do século XVII produz uma obra fecunda e sistemática, cujo principal livro é Didática magna. Principais propostas de Comênio:
** ** *
educação realista e permanente; método pedagógico rápido, econômico e sem fadiga; ensinamento a partir de experiências cotidianas; conhecimento de todas as ciências e de todas as artes; ensino unificado.
Segundo ele, seriam assim distribuídas. Para ele o processo educativo teria as seguintes fases: Escola Materna cultivaria os sentidos e ensinaria a criança a falar; a Escola Elementar desenvolveria a língua materna, a leitura e a escrita, incentivando a imaginação e memória, além do canto, das ciências sociais e da aritmética. A Escola latina se destinaria, sobretudo ao estudo das ciências. Para os Estudos Universitários recomendava trabalhos práticos e viagens. Aí se formariam os guias espirituais e os funcionários. À Academia só deveriam ter acesso os mais capazes. Assim, Comênio deseja ensinar “tudo a todos”. Atingir o ideal de uma educação ideal. John Locke (1632-1704) Inglês que criticava em sua teoria pedagógica o racionalismo de Descartes, desenvolve uma concepção da mente infantil e da educação. Locke valorizava: a educação física; o estudo da contabilidade e escrituração comercial; as línguas modernas e o cálculo.
* * *
Para ele a finalidade da educação se concentrava no caráter, muito mais importante que a formação intelectual. Enfim, propõe o tríplice desenvolvimento físico, moral e intelectual. Segundo Locke, devia-se evitar a escola, onde a criança pudesse ser bem acompanhada ou vigiada. Ao contrário de Comênio, Locke não defendia a universalização da educação, sua pedagogia era elitista, pois a formação dos que irão governar e daqueles que serão governados devia ser distinta. Com efeito, no século XVII, o empenho é imenso na tentativa de institucionalizar a escola. Efetivamente, o direito do ensino ainda pertence à Companhia de Jesus, que adentra o século XVIII com mais de 600 colégios distribuídos pelo mundo. Mesmo sendo organizados e competentes, os jesuítas representam o ensino tradicional mais conservador.
25
Entretanto surgem outras congregações religiosas, desenvolvendo um trabalho mais apropriado ao espírito moderno. Podemos citar os oratorianos, e os jansenistas, que se opõem aos jesuítas. Por conseguinte as academias do século XVI, não são escolas Fundamentos Histórico- institucionalizadas, mas se propõe a atender aos interesses da nobreza na Filosóficos formação cavalheiresca de seus filhos. Há uma intensificação dessas da Educação academias, no século XVII, pois elas representam a mudança dos padrões conservadores no ensino, para uma concepção mais realista.
#
[ ] Agora é hora de
TRABALHAR
1.
“Ensinar tudo a todos”, esse era um dos lemas de Comênio, explique em que medida a proposta dele se mostrava inovadora para a época.
2.
”Um professor deve amar seu aluno” LOCKE, J. O autocontrole é um elemento vital na educação. In: GADOTTI, 2002, p. 86.
a. Faça um comentário sobre a afirmação de Locke.
b. Na sua opinião este pensamento é ainda válido?
26
O Iluminismo e o processo educativo E surgem as luzes do conhecimento ocidental, será que realmente iluminava-se a vida das pessoas de maneira igual?
A Organização Educacional Apesar dos progressos evidentes que discutimos no conteúdo anterior com relação ao processo educativo, é bom salientar que os mesmos ainda são limitados, pois não existia ainda um plano global ou mesmo uma teoria educacional que realmente merecesse ser chamada de avançada. Os movimentos de reforma educacional eram isolados e dependiam de grupos de voluntários ou mesmo de pessoas que aspiravam objetivos bem limitados e sem perspectivas mais abrangentes. Por conseguinte, na segunda metade do século XVIII, muitos desses esforços não oficiais (que não erma do Governo) entraram em decadência. E quem eram as pessoas que tinham acesso a esse sistema de ensino? Infelizmente “as luzes” não conseguiam mudar ainda a realidade dos mais pobres, assim o sistema educacional estava fundamentado numa estrutura rígida de classes sociais, ou seja os mais ricos é que estudavam mais, tanto em qualidade como em quantidade. Mas as rápidas transformações intelectuais, econômicas, sociais e políticas no Ocidente solicitavam novas perspectivas no processo educativo e o movimento Iluminista nesse sentido ajudou na reação da sociedade contra o autoritarismo religioso e político e, em menor escala, contra as diferenças sociais. No núcleo desse movimento encontra-se uma fé inabalável na ciência, na razão humana e no próprio homem. Assim sendo, no final do século XVIII, a educação começa a dar sinais de um direcionamento para a cidadania, mas era bastante evidente ainda as diferenças de classe nessa educação: a classe dirigente receberia instrução para governar e a classe trabalhadora seria educada o bastante para trabalhar, em outras palavras o sistema educacional ainda não era democrático. Essa escola em nível de infra-estrutura já começava a se parecer com as escolas que conhecemos na atualidade: vão estar divididas em classes de pessoas mais ou menos da mesma faixa etária, vai dispor as carteiras dos alunos em filas, vai contar com prédios próprios para a prática pedagógica, as aulas vão ser ministradas por profissional qualificado e vai estar submetida a um sistema nacional de ensino público.
Para refletir... Na sua opinião por que o movimento conhecido como Iluminismo foi importante para a educação?
Principais educadores do Iluminismo A Pedagogia de Rousseau (1712-1778) O filósofo francês Jean-Jacques Rousseau, nasceu em Genebra, na Suíça. Suas principais obras são: Discurso sobre a origem da desigualdade entre os homens, Do contrato social, e Emílio ou Da educação (1762).
27
“O homem nasce bom, mas a sociedade o corrompe”. Comumente se costuma dizer que Rousseau foi um revolucionário na pedagogia, já que delineou um método liberal de educação com a finalidade de desenvolver a criança sem destruir seu estado “natural”. O núcleo central dos interesses pedagógicos passa Fundamentos Histórico- a ser a criança e não mais o professor. Também, ressalta a especificidade da criança, que não deve ser Filosóficos da Educação encarada como um adulto em miniatura. Principais propostas da pedagogia de Rousseau: homem ser educado para si mesmo e não mais para Deus ou para a vida social; educação afastada do artificialismo das convenções sociais, espontânea original; recusa o intelectualismo; valoriza os sentidos, as emoções, os instintos e os sentimentos; valoriza a experiência, o ensino ativo voltado para a vida, para a ação; teme a educação que põe a criança em contato com os vícios e a hipocrisia.
A pedagogia de Rousseau, incentiva o controle no mundo físico e nas relações com as pessoas. Alguns teóricos acham que a educação de Rousseau é elitista, pois ele defende que a criança seja acompanhada por um preceptor, procedimento próprio dos ricos. Outros o acusam de estar defendendo uma educação individualista ao separar o aluno da sociedade: estaria. A Pedagogia de Kant Immanuel Kant (1724-1804), maior representante do Iluminismo alemão, realizou em suas obras a análise das possibilidades do conhecimento da razão humana situando os limites e as condições nas quais a razão pode conhecer o mundo. Kant dá à educação grande importância podemos verificar isso nas obras mais clássicas, a Crítica da razão pura, na qual desenvolve a crítica do conhecimento, e a Crítica da razão prática, que faz o exame da moralidade. O problema do conhecimento humano é uma das mais importantes questões levantadas por Kant. Ele retoma o debate entre os racionalistas e os empiristas. Condena os empiristas, segundo os quais tudo o que conhecemos vem dos sentidos, e discorda dos racionalistas, para os quais tudo o que pensamos vem de nós. Segundo ele, o conhecimento é uma súmula dos conteúdos particulares dados pela experiência e da estrutura da razão. O conhecimento acontece na relação sujeito e objeto. Em suas investigações defende: a não probabilidade de conhecermos realidades que não passam pelo conhecimento sensível; não ser possível dizer nada sobre a alma humana e sobre Deus, pois eles superam a nossa capacidade de entendimento; ser impossível provar a existência de Deus.
28
Kant fundamentou a moral na autonomia da razão humana, isto é, na idéia de que as normas morais devem brotar da razão humana. Portanto, cabe a educação, ao desenvolver a faculdade da razão, constituir o caráter moral. O principal problema do processo educativo consiste em conciliar a submissão ao livre-arbítrio da criança. Para ele é nos primeiros anos da infância que a criança encontrase na fase pré-moral. Assim sendo, não há necessidade de inculcar-lhe a moral. Contudo, na medida em que a criança começa a crescer, o processo de formação deve tornar-se mais formal e incluir: a paciência, a disciplina e o cultivo das dimensões cognitivas e morais. É o progresso sistemático desse desenvolvimento controlado da criança em processo de maturação que Kant procura se dedicar. A disciplina deve inculcar-se a partir dos cinco ou seis anos de idade. O impacto de Kant sobre o processo educativo foi profundo, tanto que no século XX serão reexaminados por vários autores na área da moral e da educação, entre eles estão Piaget e Habermas.
#
[ ] Agora é hora de
TRABALHAR
1.
Identifique as principais propostas de Kant para a educação.
2.
Faça um comentário sobre as seguintes afirmações:
a. “Não se deve fornecer conhecimentos prontos ao aluno, mas ensiná-lo como adquiri-lo, quando necessário.” ROSSEAU
29
b. “O professor deve acrescentar gentileza em as suas aulas e, por meio de uma certa ternura em sua atitude, deixar perceber à criança que ela é amada”. Fundamentos
JONH LOCKE apud GADOTTI, 2002, p. 86
HistóricoFilosóficos
da Educação
3.
Leia atentamente o texto abaixo e em seguida responda ao que se pede: A ESCOLA E A DIVISÃO CAPITALISTA DO TRABALHO
Tudo o que acontece dentro da escola - incluindo a escola primária – só pode ser explicado através do que ocorre fora dos muros escolares, isto é, pela divisão social do trabalho. A divisão capitalista do trabalho caracteriza-se hoje por uma crescente dissociação o trabalho manual e o trabalho intelectual. De um lado, há uma massa de trabalhadores manuais e empregados subalternos (operários, funcionários do comércio de escritórios, pessoal de serviços), condenados a realizar tarefas fragmentadas e rotineiras. De outro, uma minoria de quadros intelectuais, encarregados das tarefas de criação e planejamento. A escola capitalista contribui, por sua vez, para reproduzir e aprofundar essa polarização das qualificações. De fato, a escola alimenta os dois pólos do mercado de trabalho, através de dois fluxos bem distintos. Em uma extremidade, ela forma um pequeno número de quadros intelectuais nas melhores escolas secundárias, desembocando nas universidades. Na outra ponta, a escola orienta a formação de massas trabalhadoras mais ou menos qualificadas e condenadas a vender-se por um salário irrisório aos donos das grandes corporações industriais, das cadeias de lojas ou dos escritórios. Eis por que a escola não é única, mas dividida em duas redes de ensino: a rede primária/ profissionalizante e a secundária/superior. Essas redes são estanques, heterogêneas, devido a seu programa de ensino diferenciado, assim como o estrato social de seus alunos. Visíveis com clareza a partir da escola secundária com sua preparação de fato, essas duas redes existem, no entanto, desde a escola primária. É justamente ali, em meio à obscuridade de uma escola aparentemente única e igual para todos, que a diferenciação se forma e deita raízes. De fato, é a escola primária que assegura, sob o manto da unidade e da democracia, o essencial da polarização social de uma geração escolar. Ora, tudo ocorre como se fosse absolutamente natural... Afinal, sabe-se que há enormes diferenças entre uma e outra escola; sabe-se ainda que os filhos de operários terão mais dificuldades que os outros alunos. Mas daí a admitir de forma exata e positiva que a escola primária é local onde se processa a polarização de classes e compreender as relações entre a escola e a exploração capitalista é dar um salto grande demais. Entre o curso preparatório e a linha de montagem, o caminho é longo... ( ... ) A divisão capitalista do trabalho; a exploração dos trabalhadores; a extração da mais-valia; a desqualificação do trabalho; o vai-e-vem do desemprego; o exército industrial de reserva; a crescente dissociação entre o trabalho manual e o trabalho intelectual: eis as verdadeiras causas que possibilitam explicar a estrutura e o funcionamento da escola capitalista. E é preciso procurar na organização capitalista, isto é fora da escola, as razões de sua divisão em duas redes de ensino, com a conseqüente polarização operada entre as crianças.
30
No entanto, é esta a realidade e devemos encará-la de frente. A função real da escola não é em absoluto fazer desabrochar harmonicamente o indivíduo ou desenvolver aptidões pessoais; este é um sonho abstrato dos psicólogos. Ao contrário, o papel escola é produzir contingentes de mão-de-obra mais ou menos qualificada para o mercado de trabalho. É a estrutura do mercado de trabalho que pressiona a escola com toda a sua força, a ponto de imprimir sobre ela sua marca. BAUDELOT, Christian e ESTABLET, Roger. L’ecole primaire…un dossier. Apud
4.
GADOTTI, Moacir. História das idéias pedagógicas. S. Paulo: Ática, 2002. p.197-198.
Proposição acerca do texto
a. Segundo Baudelot e Establet, qual seria o verdadeiro papel da escola numa sociedade?
b. No texto existe uma posição clara do autor em relação ao papel que a escola vem desempenhando na nossa sociedade. Você concorda com a posição do autor? Argumente e justifique a sua resposta:
FILOSOFIA E EDUCAÇÃO: EM BUSCA DA CONSCIÊNCIA FILOSOFIA E EDUCAÇÃO O que é Filosofia Entendendo a origem e o conceito Com certeza alguma vez em sua vida você já ouviu falar de um dos ramos do saber chamado Filosofia, não raramente, as pessoas têm uma péssima impressão sobre esta ciência, mas por que? No nosso entender existem basicamente dois fatores que explicam isso. No primeiro caso, os próprios especialistas da área, ou seja, os filósofos profissionais são os responsáveis por esta imagem negativa. Em primeiro lugar, porque muitos deles complicam as suas teorias a tal ponto que nós seres humanos “comuns”, não os entendemos ou não conseguimos ver sentido algum no que eles estão transmitindo com seus estudos. Isso ocorre por causa do emaranhado de conceitos e teorias complexas formuladas pelos mesmos, que exigem um alto grau de abstração para um entendimento satisfatório.
31
Um outro fator que pode nos afastar da filosofia é a falsa idéia que outras pessoas (dessa vez os filósofos amadores) criaram em relação a este Fundamentos Histórico- ramo do saber: Trata-se de uma imagem muito simplista acerca da filosofia, Filosóficos veiculada amplamente por pessoas interessadas em fazer com que a da Educação sociedade não desenvolva o espírito reflexivo. Daí algumas considerações pejorativas aparecem com freqüência, tais como: “filosofia é qualquer tipo de teoria vazia que não presta para nada, apenas para complicar o que já era complicado”. Estas e outras questões pretendem ser respondidas ao longo do nosso curso. A seguir, tentaremos explicar e discutir os objetivos e a importância da Filosofia e você é nosso convidado. A Filosofia na verdade traduz o pensar, o sentir e o agir da vida humana na sua mais alta expressão (LUCKESI, 2000), ela não é de maneira nenhuma algo morto e, que não serve para nada e nem pura abstração vazia de sentido. A Filosofia surgiu na Grécia por volta do século VI a.C., a partir do trabalho dos filósofos que antecederam Sócrates. Isso assinalou a passagem da consciência mítica/religiosa para a consciência racional/ filosófica. Esse processo não ocorreu mecanicamente, nem de imediato o que exigiu dos seres A filosofia clássica Antiga pode ser humanos um amadurecimento dividida em três grandes etapas: intelectual. Esses dois tipos de consciência coexistiram na 1 Período pré-socrático (sécs. VII e VI a.C.): Grécia, assim como, os filósofos pré-socráticos discutem de forma guardadas as devidas racional sobre a natureza, distanciando-se das proporções, coexistem na explicações míticas do período anterior. Dentre os nossa sociedade. pré-socráticos, podemos destacar dois: Heráclito Quando lemos um texto e Parmênides. de filosofia, na verdade, estamos nos aproximando de 2 Período socrático ou clássico (sécs. V e um entendimento que o autor IV a.C.): o núcleo cultural passa a ser Atenas; nesse construiu a partir da sua visão período, destacam-se Sócrates, Platão, e de mundo, esse trabalho foi Aristóteles; também, fazem parte os sofistas. construído a partir dos valores e aspirações que dão sentido 3 Período pós-socrático (sécs. III e II a.C.): ao mundo. esse período é caracterizado pela expansão dos Nesse sentido pode-se macedônios sobre os territórios gregos e formação afirmar que os filósofos, do império de Alexandre Magno; após a morte do refletem também sobre o mesmo, começa a época helenista, marcada pela cotidiano dos seres humanos influência oriental. e podem organizar um quadro coerente e organizado para o entendimento da realidade que nos cerca. Na Idade Média (476 a 1453), as diversas abordagens da Filosofia continuaram metafísicas, ou seja entendia a educação como um processo de do aperfeiçoamento humano, no qual o indivíduo é estimulado a despertar as suas potencialidades. Assim acreditava-se em um “modelo” de Homem que a criança deveria alcançar, atualizando a essência que já existia em si, transformando-a em potência. Alguns filosófos se destacaram nesta época, destacaremos dois deles: São Tomás de Aquino e Santo Agostinho.
32
*
Patrística A Patrística teve como principal figura Santo Agostinho (354-430), seu pensamento, reativa no cristianismo os princípios da clássica filosofia platônica mas salvaguardando as características originais da teologia e da moral cristã. A finalidade do processo educativo é constituída de conhecimento e fé. Ele aborda o processo educativo em três obras: Sobre o Educador (389), Sobre Aqueles que Ensinam ao Povo Simples (399) e Sobre a Doutrina Cristã. (397-426). A questão principal do processo educativo é o fato de o verdadeiro conhecimento ser inato, depositado na alma por Deus. Assim, é papel do mestre auxiliar o aluno, tornar revelada a verdade preexistente, latente, elevando-se acima do mundo material, que é simples aparência. O processo educativo implica em auxílio mútuo entre o mestre terrestre e o Deus.
*
Escolástica A Escolástica, estudo obrigatório dos teólogos. Nela a razão encontra-se a serviço da fé. Seu principal representante é Santo Tomás de Aquino (1225-1274), doutor da Escolástica que fez da filosofia de Aristóteles um instrumento a serviço da fé cristã. Ela era lecionada nas escolas medievais. Os teólogos da Escolástica procuram amparar a fé na razão, com o fim de melhor justificar as crenças, converter a população que não era católica e ainda combater muçulmanos e judeus. Em sua vida Santo Tomás escreve uma obra importante para a educação: De Magistro, na qual ele afirma que a educação é vista como uma atividade potencializadora daquilo que já existe de maneira adormecida no aluno, esse processo se daria com o auxílio do mestre. Sem dúvida a filosofia medieval é fascinante, mas não podemos nos estender no assunto.
33
Acompanhe abaixo um quadro comparativo entre a Escolástica e a Patrística: Fundamentos
Patrística
Escolástica
Defesa dos dogmas católicos, luta no combate às heresias e na conversão dos considerados povos pagãos, filosofia dos padres.
Adaptação do pensamento aristotélico aos interesses da religião, tinha Jesus como o modelo de mestre e educador, o objetivo mais importante seria formar o homem na Fé, essa filosofia era usada nos colégios e universidades católicas (modelo tomista/aristotélico)
HistóricoFilosóficos
da Educação
#
[ ] Agora é hora de
TRABALHAR
1.
Explique as principais semelhanças e diferenças que existem entre as abordagens do real:
2.
Porque podemos afirmar que a filosofia é importante para a humanidade? Argumente e justifique a sua resposta:
3.
Descreva as principais diferenças entre a Patrística e a Escolástica:
34
O P apel do F ilósof o e a to de F ilosof ar Pa Filósof ilósofo ato Filosof ilosofar A principal tarefa do filósofo é refletir sobre a realidade, qualquer que seja ela, descortinando seus significados mais profundos, ou seja descobrindo o que está por trás das aparências. Para o filósofo, refletir significa pensar de maneira organizada, sistemática e a partir de uma metodologia, o que já foi pensado. Nesse sentido, refletir, seria fazer o próprio pensamento retornar, para assim termos uma melhor compreensão, um maior entendimento de determinado assunto que se apresenta. A reflexão só é considerada uma atitude própria da Filosofia, quando é feita de forma radical, rigorosa e em conjunto. Assim, a filosofia é considerada radical porque investiga um problema até as suas raízes, ou seja quando investiga um problema não se preocupa apenas em entender somente o efeito, mas sim as causas, isto é as origens, a raiz que originaram aquele efeito. Daí conclui-se que a filosofia é radical enquanto explicita os fundamentos do pensar e do agir. Tendo em vista que a filosofia é um modo de pensar, um posicionamento frente as questões que o mundo nos apresenta, ela não pode ser considerada como um conjunto de saberes pronto e acabado, muito menos fechado em si mesmo. Desta forma o ato de filosofar começa por inventário dos valores (éticos, estéticos e morais) que dão rumo à nossa vida. Depois dessa primeira etapa é preciso criticar tais valores sob todos os ângulos, ou seja a sua base de sustentação, descobrir a sua essência. Na terceira etapa é necessário reconstruir os valores ou seja, construí-los criticamente para a orientação de nossas vidas em sociedade.
Leia atentamente o texto abaixo e em seguida responda ao que se pede:
#
[ ] Agora é hora de
1.
TRABALHAR
O filósofo
Uma vez aceito o princípio de que todos os homens são “filósofos”, isto é, que entre os filósofos profissionais ou técnicos e os outros homens não há diferença qualitativa, mas apenas quantitativa (e neste caso quantidade tem um significado particular que não pode ser confundido com soma aritmética, já que indica maior ou menor homogeneidade. Coerência e logicidade, etc. [...] O filósofo profissional ou técnico não só pensa com maior rigor lógico, com maior coerência, com maior espírito de sistema do que os outros homens, mas conhece toda a história do pensamento, sabe explicar o desenvolvimento que o pensamento teve até ele e é capaz de retomar os problemas a partir do ponto em que se encontram, depois de terem sofrido as mais variadas tentativas de solução, etc. Tem, no campo do pensamento a mesma função que os especilistas nos diversos campos científicos. GRAMSCI Apud ARANHA 2002, p. 109
35
a. De acordo com o texto qual é a diferença básica entre o filósofo profissional e o não profissional? Fundamentos
HistóricoFilosóficos
da Educação
b. Descreva como pensa o filósofo profissional?
As formas de abordar o mundo São várias as formas pelas quais o homem entra em relação com o mundo que o rodeia, a depender das circunstâncias e necessidades, bem como do tipo de cultura em que ele está inserido. O homem, ao longo de sua existência na Terra, tem procurado conhecer o mundo através de várias formas: a mais antiga é a que ficou conhecida como consciência mítica, predominantemente religiosa e ligada a rituais mágicos, buscando soluções para os problemas concretos da humanidade geralmente a partir de apelos à divindades. Com o rompimento das organizações tribais e a crescimento das formas de organização humana, surge uma outra abordagem conhecida como do senso comum, nela as pessoas passam a reelaborar a herança cultural recebida da comunidade. Mais ou menos a partir do século XVII a parece a abordagem científica que através de toda uma metodologia vai estabelecer leis e teorias científicas afim de delimitar os seus objetos de estudo. Existe também uma outra abordagem do real que é a concepção filosófica, na qual se busca compreender o mundo criticamente parti do pensamento lógico e racional.
36
Vejamos a seguir um quadro resumo com estas abordagens do real :
AS FORMAS DE ABORDAR O MUNDO REAL MÍTICA
Saber baseado na magia, busca de Segurança via forças ocultas; Presença de rituais mágicos no cotidiano.
Saber fragmentado, espontâneo; não crítico, impreciso, incoerente; SENSO COMUM
De início procura compreender o mundo com base na tradição dos costumes, na experiência social; Posteriormente pode se articular com interesses políticos, econômicos e religiosos.
CIENTÍFICA
Saber bem elaborado, objetivo, usa a experimentação, investigação de causa e efeito; coerente e intencional; Baseia-se na lógica; busca a utilização de métodos racionais e o desenvolvimento de teorias;
Compreensão crítica do mundo; FILOSÓFICA
Busca esclarecimentos coerentes, racionais e lógicos; Reflete sobre as questões buscando superar as aparências.
As abordagens descritas anteriormente foram o resultado da experiência cultural da Humanidade e que foi construída ao longo de muitos anos. Cabe ressaltar que uma forma de abordar o real não invalida a outra. Por exemplo, aquilo que pensamos e desejamos primeiro se formata na esfera da imaginação, ou seja, nos pressupostos míticos, dessa forma, o mito serve de alicerce para o trabalho posterior da esfera da razão Não se trata de aceitar o mito de forma mecânica, afinal podemos, aceita-los ou recusa-los. Quando entramos em contato com os mitos, podemos usar a reflexão para entendermos os valores, a “moral da história” que existe em cada um deles e que fundamenta o mesmo, para a partir daí construirmos um determinado juízo de valor.
37
O que é Educação O homem é um ser histórico-social, ou seja que efetiva suas relações Fundamentos mediante práticas culturais complexas ocorridas em determinado tempoHistórico- espaço. Sendo assim, nenhuma pessoa consegue se esquivar do processo Filosóficos educativo. Em casa, na rua, na igreja ou na escola, de uma maneira ou de outra, da Educação todos nós envolvemos partes da vida com ela. O ser humano constrói o seu lastro cultural a partir do trabalho (através do qual transforma a natureza e a si mesmo) e dos aspectos culturais (danças,jogos, relações familiares, etc). O aperfeiçoamento de suas atividades só é possível através da educação. Assim sendo a mesma é um fator importantíssimo para a socialização e humanização dos Homens. A educação pode ser formal ou informal. Aquela que acontece no cotidiano, que é realizada através do aprendizado empírico das tarefas ou seja construída no dia-a-dia é considerada a educação informal. Essa categoria é construída, sobretudo, pela observação e convivência entre os membros de uma sociedade, sem um planejamento prévio, sem local ou mesma hora determinada. Já a educação formal acontece através de pessoas especializada, procura selecionar os elementos essenciais para a sua transmissão, geralmente acontece com planejamento prévio e em local e hora definidos. Assim, a educação dentro de uma sociedade se revela como um instrumento de manutenção ou transformação social e não como um fim em si mesma. Deste modo, ela precisa de pressupostos, de conceitos que possam fundamentar e orientar os seus caminhos. A sociedade da qual ela está inserida precisa possuir alguns valores que possam nortear a sua prática. Portanto, entende-se que a educação é o processo de desenvolvimento integral do homem, isto é, de sua capacidade física, intelectual e moral, que tem como fim não só a formação de habilidades, mas também do caráter e da personalidade social. No processo educativo formal, a transmissão de valores e conhecimentos se materializa através da pedagogia (diversos processos sistematizados de métodos e diretrizes educacionais). Existiram diversas pedagogias ao longo da História da Educação. As que mais se destacaram no Brasil foram três: a Tradicional: nascida no século XVI; a Renovada: implantada no início do século XX a Tecnicista: iniciada na década de 1960.
38
Segue abaixo um quadro comparativo resumido dessas pedagogias.
CARACTERÍSTICAS
TRADICIONAL
CONCEITO DE EDUCAÇÃO
Assimilação de conhecimentos.
RELAÇÃO EDUCADOR / EDUCANDO
O professor Vertical, o professor Professor facilitador racionaliza o saber é o transmissor do do conhecimento, o científico e o aluno conhecimento. aluno é o centro do recebe, aprende e fixa processo. as informações.
RENOVADA
TECNICISTA
Construção conjunta Direcionamento dos dos conhecimentos. conhecimentos para a área industrial.
FINALIDADE O aluno aprender o Desenvolvimento Apropriação do saber PRIMORDIAL DA que foi transmitido. das potencialidades científico, exigido pela EDUCAÇÃO dos alunos. sociedade moderna. Aula expositiva centrada no professor, leitura repetida, exercícios de fixação e cópias.
Pesquisa, uso de vídeo, atividades lúdicas, aulas expositivas participadas.
FORMAS DE AVALIAÇÃO MAIS UTILIZADAS
Exames escritos e arguições com caráter punitivo.
Seminários, estudo dirigido,avaliação Provas objetivas, miniescrita, testes. autoavaliação.
CARACTERES GERAIS DA ESCOLA
Disciplinadora, autoritária, rígida, desprazerosa.
Democrática, responsável, interativa e prazerosa.
MÉTODOS DE ENSINO
Aula expositiva, exercícios práticos, uso de vídeos, slides, ensino à distância.
Disciplinadora, racionalista e ordenada.
É bom que se diga que não queremos que você veja com preconceito nenhuma das três pedagogias aqui resumidas, criticar as pedagogias, requer um alto nível de ponderação, pois se a pedagogia Tradicional não estimula o senso crítico e a criatividade dos alunos, a Renovada estimula o individualismo no educando, já a Tecnicista propicia a alienação do Ser Humano, cabe-nos a reflexão para encontrar uma forma de atuar na prática.
39
E qual seria a finalidade básica da educação? Fundamentos
Esta é uma pergunta complexa, pois a finalidade HistóricoFilosóficos pode variar bastante ao longo do tempo e a depender da
da Educação cultura e da sociedade na qual se dá o processo
educativo. Isso é o que tem mostrado a História da Educação: por exemplo, na Grécia dos tempos heróicos, a finalidade era formar guerreiros, na Grécia da época das cidades-estado, almejavase formar cidadãos. Em Roma, os esforços se concentravam na formação de cidadãos com espírito prático e assim sucessivamente.
E na a tualidade atualidade tualidade,, qual seria a finalidade básica da educação? Bom, responder a esta pergunta é um exercício bastante interessante. Num mundo globalizado é extremante difícil ponderarmos a finalidade exata da educação, pois as realidades de cada sociedade são distintas. Assim os objetivos educacionais em um país desenvolvido pode ter pontos em comum com os de um país em desenvolvimento, mas certamente não serão iguais e daí por diante. Portanto os fins da educação baseiam-se em valores permanentes (ética, estética, moral, conhecimento, etc) e em valores provisórios (necessidades humanas concretas). Estes valores provisórios se alteram conforme vamos alcançando os objetivos imediatos, ou seja enquanto nossa realidade concreta vai se modificando e as etapas vão avançando. A educação é um processo que dura a vida toda, não tendo idade para se iniciar e nem terminar, ela não pode se limitar à mera continuidade da tradição, pois ela supõe a possibilidade de rupturas, pelas quais a cultura se renova e o homem se aperfeiçoa, construindo assim a sua história. Tornar a Educação verdadeiramente integral e portanto realmente formativa do Ser Humano é, antes de mais nada, oferecer a todos instrumentos de crítica e reflexão acerca da sociedade em que vivemos, afim de que possamos superar as contradições e assim tornar a mesma mais justa, menos excludente e portanto menos violenta. Não é a prática educacional quem estabelece os seus fins. Quem o faz é a reflexão filosófica que permeia a educação, dentro de uma dada sociedade. As relações entre educação e filosofia parecem ser quase “naturais”. Enquanto a primeira trabalha com o desenvolvimento do Ser Humano e sobretudo das novas gerações, a segunda é a reflexão sobre o que e como devem ser estes Seres Humanos e a própria sociedade.
40
#
[ ] Agora é hora de
TRABALHAR
1.
Redija um pequeno texto acerca da importância da educação na vida do Ser Humano:
2.
Faça um comentário comparando as pedagogias renovada e tradicional:
3.
É papel da Filosofia da Educação investir no esclarecimento das relações entre a produção do conhecimento e o processo da educação. Você acha que a educação na atualidade tem cumprido essa missão?
41
Filosofia da educação Imaginem a análise vigorosa e radical da filosofia Fundamentos Histórico- aliada ao processo educacional, Filosóficos sem dúvida é melhoria na da Educação qualidade da educação, vejamos então como tentar fazer isso. Enquanto reflexão filosófica, a Filosofia da Educação tem como tarefa básica buscar o sentido mais profundo do próprio sujeito no processo educacional, ou seja de construir a imagem do Homem em seu papel de sujeito/educando, nesse sentido deve ser uma disciplina que busque integrar as várias contribuições das ciências humanas. A relação entre Educação e Filosofia é bastante espontânea. Enquanto a educação trabalha com o desenvolvimento dos homens de uma sociedade, a filosofia faz uma reflexão sobre o que e como devem ser ou desenvolver estes homens e esta sociedade, isto é, uma reflexão sobre os problemas que a realidade educacional apresenta. A função maior da filosofia da educação é contribuir para que o Ser Humano adote uma postura reflexiva no que tange à problemática educacional. É assim que a Filosofia da Educação passa a desenvolver uma tríplice tarefa: Antropológica- se preocupa com a idéia de Homem que se pretende forjar a partir das contribuições das ciências humanas; Epistemológica- discutir sobre o processo de produção, sistematização e transmissão do conhecimento); Axiológica- estuda as questões relacionadas ao valor que os homens atribuem às coisas, a sua valoração. Vejamos abaixo um quadro resumo elucidativo dessas três tarefas da Filosofia: ÁREAS DA FILOSOFIA QUE TRATAM DA BUSCA DO SENTIDO DA EXISTÊNCIA HUMANA Epistemologia
Axiologia
Antropologia
Estuda as questões relacionadas ao conhecimento do ponto de vista crítico Trata das questões relacionadas ao agir humano calcado em valores Trata das questões relacionadas à condição da existência humana
É também papel fundamental da Filosofia da Educação procurar construir uma imagem do Homem que se pode educar. Essa imagem que a Filosofia deve construir do homem só será consistente se for baseada nas condições reais de existência, isto é em suas mediações históricas e sociais concretas.
42
Na história da humanidade existiram três grandes Concepções de Homem que a orientação pedagógica pretendeu formar ao longo da história:
AS CONCEPÇÕES DE HOMEM Essencialista Homem compreendido a partir de uma natureza imutável;
A perfeição de cada ser dependeria da realização plena das potencialidades internas.
Naturalista
Histórico-social
Homem entendido enquanto organismo vivo, regido pelas leis da natureza;
Homem enquanto uma entidade natural e histórica;
Homem compreendido a partir do dualismo mente e corpo;
A natureza humana determinada pelas condições objetivas de sua existência;
A supremacia seria do corpo, organismo vivo regido por leis da natureza.
O ser humano seria resultado de um processo de vir-a-ser.
Além das análises antropológica (concepções de homem), epistemológica (conhecimento) e axiológica (valores) no processo educativo; a filosofia da educação tem a função de mediar a questão da interdisciplinaridade, através da qual se estabelece um elo de ligação entre as diversas disciplinas, o que auxilia e muito o trabalho desenvolvido pela pedagogia. Assim espera-se que com o auxílio da filosofia, por exemplo, evite-se a supremacia dos “ismos” (capitalismo, psicologismo, etc.) ou seja de a educação ficar alienada e só enfocar determinada ciência na análise dos fenômenos pedagógicos. Por que isso é importante? Na nossa concepção todos os “ismos” se não forem devidamente analisados e ponderados, acabam por escravizar o pensamento humano, tornando o educador apenas um defensor ou um crítico feroz de determinada ciência, não fornecendo ao educando uma visão mais ampla da vida. O conhecimento, os valores e as relações humanas permeiam toda a existência humana, assim sendo a filosofia da educação ocupa lugar central para a prática pedagógica, pois é somente a partir do pensamento crítico-reflexivo que a educação se tornará mais eficaz, clara e coerente. A educação, quando imbuída dos ideais filosóficos não se ocupa em “formatar” os seres humanos de maneira homogênea, mais sim oferecer condições ideais para que o educando caminhe com as suas próprias pernas e encontre assim o seu próprio caminho que certamente não serão iguais, pois cada aluno tem o seu tempo, aspirações, valores e inteligências múltiplas. É justamente nesse ponto que reside a beleza da educação.
43
Assim a filosofia da educação auxilia muito a pedagogia, mas não se deve confundir uma com a outra. Enquanto a pedagogia pode ser compreendida como Fundamentos Histórico- uma teoria geral da educação que se preocupa com Filosóficos a eficácia e a intencionalidade da práxis pedagógica; da Educação a filosofia acompanha reflexivamente os problemas ligados á educação, mediando a contribuição que as outras ciências podem fornecer para que o processo de ensino/ aprendizagem se torne mais reflexivo e ao mesmo tempo mais objetivo. Em resumo a filosofia da educação busca a compreensão profunda de determinada realidade educacional de maneira vigorosa e integral. A reflexão sobre os problemas referentes à transmissão e construção do conhecimento é uma tarefa fundamental para a filosofia da educação.
#
[ ] Agora é hora de
TRABALHAR
1.
Leia atentamente o texto abaixo e em seguida responda ao que se pede: Desafio aos educadores
Um famoso filósofo alemão do século passado Frederico Nietzsch, tece uma crítica radical à civilização ocidental, dizendo que ela educa os homens para desenvolverem apenas o instinto da tartaruga. O que quer dizer isso? A tartaruga é o animal que, diante do perigo, da surpresa, recollhe a cabeça para dentro da sua casca. Anula, assim, todos os seus sentidos e esconde, também na casca, os membros, tentando protegerse contra o desconhecido [...] Formar boas tartarugas parece ter sido o objetivo dos processos educacionais e políticos da educação desenvolvidos no mundo ocidental nos últimos anos. Temos educado os homens para aprenderem a se defender contra todas as ameaças externas, sendo apenas reativos [...] Precisamos assumir o desafio de educar o homem para desenvolver o instinto da águia. A águia é o animal que voa acima das montanhas, que desenvolve os seus sentidos e habilidades, que aguça ouvidos, os olhos e competência para ultrapassar os perigos, alçando vôo acima deles. É capaz, também, de afiar as suas garras para atacar o inimigo no momento em que julgar mais oportuno [...] RODRIGUES apud SEVERINO, 1994 p. 24
a. Com base no texto faça um comentário sobre que tipo de educação (métodos, pedagogia, objetivos, etc.) deve ser desenvolvida para formar “águias”:
44
A FORMAÇÃO CRÍTICA E A NECESSIDADE DE UMA POSTURA ÉTICA DO EDUCADOR Educação e Ideologia: A Luta pelo Poder O mundo, entre outras coisas é constituído por valores materiais (bens de consumo, dinheiro, propriedades recursos naturais, etc.) e por valores imateriais ou simbólicos (conhecimento, educação, sentimentos, postura, etc.) A educação é constituída não só de prática técnica e política, mas também de prática simbolizadora, suas ferramentas são essencialmente símbolos, que desenvolve sua ação. Em função da subjetividade, o homem começa a produzir os bens culturais e a desfrutar deles. A atividade subjetiva acontece em função da capacidade que temos de representar simbolicamente os objetos de nossa experiência. A cultura, é o resultado do trabalho humano nas diversas esferas da nossa vida. A educação é uma prática cujos utensílios técnicos são especificamente simbólicos. Ela atua sobre o conjunto das demais mediações da existência, a partir dessa sua especificidade. Com efeito, a cultura é uma criação humana. Portanto, a educação é fundamental para a socialização do homem e sua humanização, é também um meio de distribuição de bens culturais, ou seja, ela torna possível a apropriação dos bens culturais já produzidos. Enquanto prática que lida com instrumentos simbólicos, a educação ainda atua nas dimensões individual e coletiva, correndo um duplo risco de se envolver nesse processo ideologizador. Assim, é pela educação, mesmo quando informal, que o indivíduo se apropria dos conteúdos culturais de seu grupo. Ela amplia seu trabalho empregando essencialmente esses conceitos e valores presentes na cultura em que se processa. Por outro lado, para manter sua ideologia, uma sociedade necessita reproduzi-la, e a educação é comumente considerada como uma das mais adequadas mediações para garantir essa reprodução. Ao lado da Religião, dos Partidos Políticos e das Forças Armadas, a Escola é um dos mais poderosos Aparelhos Ideológicos que se conhece, pois trabalha de maneira eficaz com a inculcação de valores e interesses de classe. Assim, fica evidente que as instituições educacionais constituem perfeitos aparelhos ideológicos para agirem em função do Estado.
ELEMENTOS QUE CONSTITUEM O ESTADO ESSENCIAIS
ACESSÓRIOS
País- território fixo determinado
Pátria
População- povo
Nação
Governo- poder- soberania
Autoridade- legitimidade- eleições
Ordem- mínima essencial
Reconhecimento – Constituição Fonte: LAGO, B. Curso de sociologia política. S. Paulo: Vozes, 1996
45
A política, queiramos ou não, permeia a maior parte das atividades humanas, o Fundamentos tempo todo o homem mal Histórico- informado, que se diz Filosóficos da Educação apolítico é facilmente manipulado e influenciado pelos donos do poder. Assim é hora de repensarmos a importância da mesma em nossas vidas. Desde que as sociedades humanas se tornaram mais complexas, o principal instrumento de disputa pelo poder deixou de ser a violência física e passou a ser a palavra, o discurso, a persuasão. A função principal da ideologia é camuflar, mascarar as contradições existentes nas sociedades, tais como as diferenças de classe, de raça e de gênero, apresentando a sociedade como algo harmônico e igualitário, pois a mesma é um conjunto de idéias, representações e de normas de conduta que induzem o homem a pensar de determinada maneira. Essa maneira de pensar geralmente é articulada pelas classes dominantes, ou seja, por quem está no poder. A ideologia facilita a coesão entre os homens e a aceitação apolítica de determinadas situações vantajosas para uns e de exploração para outros, estabelecendo a noção de que as coisas são como deveriam ser. A própria classe dominante sofre também a influência de sua própria ideologia na medida em que ele (o dominador) considera o seu papel de explorador como algo natural. O processo de alienação da consciência em relação à realidade objetiva, dá-se quando o Ser Humano elabora conteúdos explicativos e valorativos que julga válidos e verdadeiros com os quais pretende explicar e legitimar vários aspectos da vida cotidiana. Assim a própria consciência humana sai lesada e não se dá conta de que tais valores, idéais e conceitos tem um sentido que naquela situação está na contramão da objetividade real. Na escola, a ideologia desempenha um papel de destaque, para alguns cientistas sociais da corrente Crítico-reprodutivista, ela reproduz as desigualdades presentes na sociedade. Assim sendo a escola não é encarada como uma instituição realmente democrática, pois existiria uma escola para formar as elites econômicas (de qualidade, com estrutura pedagógica, profissionais bem pagos etc) e outra para formar as classes menos favorecidas (geralmente em condições inferiores). Na primeira a ideologia difundida seria a de como se tornar um membro da classe dominante e alcançar os mais altos postos na vida econômica e social. Mesmo sendo esta uma posição um tanto quanto extremada, há de se convir que existe muitos acertos nesta teoria.
46
#
[ ] Agora é hora de
1.
TRABALHAR
“A função da ideologia é camuflar a divisão social entre as classes.” Você concorda com tal afirmação? Justifique a sua resposta:
O conhecimento O que é conhecimento? Como podemos conhecer as coisas? Essas perguntas vêm perseguindo o homem há muitos anos, aliás há séculos. Dependendo da cultura, do momento histórico, do próprio saber acumulado, da estrutura socioeconômica, política e social, ou até mesmo em decorrência da evolução tecnológica, teremos as mais diversas respostas. Ao falarmos em conhecimento, estamos designando o ato de conhecer como uma relação que se estabelece entre a consciência que conhece e o objeto conhecido. Portanto há dois elementos no ato de conhecer: o sujeito que quer conhecer e o objeto a ser conhecido. Assim sendo o conhecimento pode ser considerado como a compreensão inteligível da realidade que o sujeito humano adquire através de sua confrontação com a realidade. Ele pode ser adquirido e construído em conversas, nos livros em jogos, etc. A raiz de todo conhecimento está na sua meta maior que é atingir o entendimento da verdade e não a simples e pura retenção de informações. Para sermos intelectualmente ativos, é necessário utilizarmos as informações adquiridas de maneira ativa para que assim entendamos o mundo exterior e o nosso interior (autoconhecimento). Vejamos a seguir as principais teorias do conhecimento constituídas no mundo moderno: A primeira dessas teorias foi o inatismo que teve como principal ícone teórico René Descartes (1596- 1650), que é considerado o pai da Filosofia Moderna, começou uma forma de reflexão que se opõe à tradição escolástica. Ao analisar o processo pelo qual a razão chega a verdade, Descartes utiliza o recurso da dúvida metódica. Para conhecermos a verdade, é necessário, em princípio, colocarmos todos os nossos conhecimentos em dúvida, questionando tudo para criteriosamente analisarmos se existe algo na realidade de que possamos total certeza. Descartes insere uma ampla mudança no pensamento moderno, segundo a qual o sujeito tem a função “Penso, logo existo” ordenadora do conhecimento: O pensamento, (Cogito, ergo sum)
47
sistematicamente dirigido, encontra inicialmente em si os critérios que permitirão estabelecer algo como verdadeiro. Por conseguinte, a ciência na era moderna, deixa de ser um saber Fundamentos contemplativo e passa a se afirmar como sinônimo de verdade e progresso. HistóricoSegundo o mesmo as idéias superiores derivam não do geral, mas do Filosóficos particular, ou seja as elas já se encontram no espírito e são comuns a uma da Educação natureza humana. O critério proposto para saber se tais idéias eram verdadeiras ou não seria um critério seguro do nosso espírito. Enquanto o inatismo de Descartes prioriza a razão, como ponto de partida de todo conhecimento, Locke se opõe a esse pensamento. O empirismo de John Locke, afirma que nada está no espírito que não tenha passado primeiro pelos sentidos. O empirismo, apesar de influenciado pelo inatismo, vai propor que o conhecimento só se efetiva a partir da experiência sensível, ou seja só depois de algum experimento poderia se elaborar o conhecimento. As duas fontes do conhecimento seria a sensação e a reflexão Locke foi o mais importante teórico dessa corrente do pensamento. A corrente interacionista é fruto das teorias progressistas de influência marxista e do construtivismo soviético que se utiliza da dialética, entendida como a lógica da contradição. Sujeito e objeto situam-se, por assim dizer, numa nova relação entre si, na qual nenhum dos dois prevalece, um dependendo do outro, só existindo enquanto pólo da relação. O sujeito se dá conta de que, embora condicionante da posição do objeto não pode integrá-lo; o objeto, por sua vez, por Jean Piaget mais autônomo que seja, não mais se impõe dogmaticamente ao sujeito como pura positividade.
Temos abaixo um quadro resumo dessas teorias que marcaram a história do pensamento humano: AS FORMAS DO CONHECIMENTO Inatista
Supremacia do sujeito; Sujeito: idéias inatas é a condição do conhecimento.
48
Empirista Supremacia do objeto (do meio); Sujeito: tábula rasa (passivo); Conhecimento transmitido e recebido.
Interacionista
Não há contradição sujeito/objeto; homem/ mundo. O conhecimento renova-se sempre.
#
[ ] Agora é hora de
TRABALHAR
1.
Na atualidade, a prática escolar que você tem tomado contato estimula a construção do conhecimento:
2.
Faça um comentário destacando as semelhanças e diferenças entre inatismo, empirismo e interacionismo:
A necessidade de uma nova ética na educação Na nossa vida cotidiana, encontramos freqüentemente situações nas quais a nossa decisão depende daquilo que consideramos justo, bom ou moralmente correto. Assim, toda vez que isso ocorre, estamos diante de uma decisão que envolve um julgamento moral da realidade, a partir do qual vamos nos guiar. Portanto, a ação humana é uma ação carregada de valores, pois para homem, as coisas do mundo e as ações sobre o mundo não são indiferentes. O homem analisa a validade e legitimidade das suas ações. Com efeito, certas ações tornam-se objeto de valoração. Assim essa sensibilidade aos valores é denominada de consciência moral. Como vimos anteriormente o ramo da filosofia que estuda os valores é a axiologia. Dentre eles destaca-se a Ética (um dos temas transversais dos PCN’s). Se os valores são o alicerce de todas as nossas ações, é imprescindível reconhecer sua importância para a práxis educativa. Entretanto, os valores transmitidos pela sociedade nem sempre são claramente tematizados, e até mesmo muitos educadores não fundamentam sua prática em uma reflexão mais cuidadosa a respeito ética. Na atualidade existe uma crise sem precedentes quanto aos valores que orientam a vida em sociedade e nesse sentido alguns conceitos têm sido esvaziados do seu real valor. 49
Qualquer vocábulo quando exageradamente utilizado faz com que seu sentido original perca a força. Assim tem acontecido com alguns conceitos importantes, tais como Justiça, Liberdade, Fraternidade e a Ética, que Fundamentos atualmente têm sido confundidos quanto aos seus verdadeiros significados. Histórico- Por que isso tem ocorrido? Ora de tanto se ouvir falar de tais conceitos, as Filosóficos pessoas passam a ter uma falsa impressão de já tê-los compreendido em da Educação sua verdadeira essência. Para o homem atual, os valores não estão pré-definidos e não são descobertos pelo acaso, mas vão sendo construídos ao longo de suas vidas tanto de forma coletiva como de forma individual, ou seja, o Homem educa-se pelo exemplo dos outros e pela suas próprias inclinações. Assim, como exigir de uma criança que ela não minta se alguém (que eu não quero falar naquele momento) ligar para a minha residência e aí eu orientar a criança a dizer que eu não estou em casa, quando na verdade estou? Como exigir de uma criança que ela não ache a corrupção algo comum se no meu relacionamento cotidiano com ela, repito uma frase mágica do tipo: se você passar de ano vai ganhar uma bicicleta.? Não seria mais correto orientá-la a passar de ano porque é o certo e não para que ela se acostume a cumprir o seu dever esperando sempre receber algo em troca? Mais uma vez cabe-nos a reflexão. No processo educacional, o resgate da ética é de fundamental importância uma vez que antes de tudo a verdadeira educação é um compromisso ético, ou seja é preciso que a relação professor-aluno seja calcada em valores positivos e verdadeiros, estes que constróem a dignidade humana. A escola é uma das instituições mais complexas de nossa sociedade, tendo em vista que as forças de dominação, degradação, alienação estão se consolidando em nossa sociedade de maneira alarmante e somente a partir de uma (re) educação da humanidade podemos aspirar a dias melhores. As condições de trabalho, ainda são muito degradantes, as relações de poder estão desvirtuadas e a distribuição dos bens materiais e simbólicos extremamente desiguais, nesse sentido se torna necessário um verdadeiro pacto social entre os educadores para o resgate da verdadeira cidadania, inclusive a partir de uma postura crítica em relação a sua própria atuação, a atuação da direção da instituição de ensino na qual trabalha e da postura de seus alunos em sala de aula. Muitos podem se perguntar o que a educação tema a ver com a ética? A resposta mais razoável é tudo, uma vez que a penas um ser humano educado pode educar outro e para se educar uma sociedade inteira é necessário termos a moralidade positiva denunciada em nosso agir cotidiano em quaisquer que sejam as condições materiais e imateriais que constituam a nossa realidade social. Os sistemas e códigos morais podem até variar, mas não a moralidade em si e nem a sensibilidade humana. A educação se tornará mais coerente e eficaz a partir do momento que estivermos capacitados para explicitar esses valores, ou seja, se desenvolvermos um trabalho reflexivo que esclareça as bases axiologia educacional. Analise o trecho abaixo e em seguida responda ao que se pede: 50
#
[ ] Agora é hora de
TRABALHAR
1.
[...] Dificuldades constantes põem em risco a conduta ética do professor. A primeira e mais fundamental destas dificuldades é a perda do espaço ético, a perda do juízo prudencial [...] o dito sistema que não é ninguém concreto e, sim, pura abstração, ou algo impessoal, usurpou a possibilidade de o professor decidir sobre a conduta do aluno. Cabe ao professor cumprir normas e regulamentos [...] deste modo a burocracia transforma o professor num mero instrumento de aparente ordenamento neutro.” PAVIANI, J. Problemas de filosofia da educação. Petrópolis: Vozes, 1988, p.116)
a. De acordo com o texto acima, qual a principal dificuldade ética enfrentada pelo professor na atualidade?
b. Por que a burocracia do sistema pode levar o professor a se afastar de uma postura ética?
2.
Leia atentamente o texto abaixo e em seguida responda ao que se pede: O problema moral
O problema moral não é um problema simples, nem como cega aceitação de regras de conduta que não são fornecidas já prontas do exterior, nem como a afirmação de uma liberdade radical para estabelecermos nós mesmos, sozinhos, os nossos valores e os nossos fins. O problema moral na vida de um homem, é feito de contradições vividas, sempre renovadas, entre as exigências da disciplina necessária à eficácia da nossa luta e o sentido de responsabilidade pessoal de cada um de nós tanto na elaboração quanto na aplicação das próprias leis da nossa combatividade. 51
Fundamentos
HistóricoFilosóficos
da Educação
52
Atividade
Orientada Caro (a) Aluno (a), Esta atividade deverá ser desenvolvida, por você, ao longo do desenvolvimento da disciplina, progressivamente, sob a assistência e orientação do tutor no ambiente de tutoria. Trata-se de uma atividade obrigatória que tem como objetivo auxiliar você a consolidar os conhecimentos acerca dos nossos conteúdos estudados, além se ser um dos nossos instrumentos de avaliação da aprendizagem. Como tal atividade consta de 04 etapas, leia atentamente o que se segue, a fim de compreender como você deverá proceder na realização da mesma.
Etapa
1
Elabore um TEXTO DISSERTATIVO (mínimo de 15 linhas) sobre como podemos atuar, enquanto educadores, na construção de um mundo melhor, justificando o seu pensamento com argumentos pautados nos estudos que foram realizados na nossa disciplina e nos referenciais teóricos indicados.
Etapa
2
Como você já teve uma noção básica em torno da história e da filosofia da educação do mundo ocidental, desde a Antigüidade até a era Moderna, por favor, elabore um TEXTO DISSERTATIVO (mínimo de 15 linhas) sobre o que vem a ser a História e a Filosofia da Educação, utilizando-se de argumentos baseados no que foi discutido em nossa disciplina e nos referenciais teóricos indicados.
Etapa
3
Em papel metro ou cartolina e utilizando gravuras e/ou fotografias de revistas velhas, construa um CARTAZ que trate da importância e finalidade do estudo dos fundamentos histórico-filosóficos da educação, levando-se em conta as suas dimensões axiológica (valores), antropológica (humanidade) e epistemológica (conhecimento). Vale esclarecer que serão critérios avaliativos do cartaz: clareza, estética e capacidade de relação das gravuras com o conteúdo estudado. Agora em dupla, você deverá elaborar um trabalho escrito (mínimo de 10 linhas),
53
Fundamentos
HistóricoFilosóficos
seguindo as normas da ABNT, que se constitua numa “Linha do Tempo” com os principais representantes do pensamento pedagógico ocidental, ou da Antigüidade até a Idade Média, ou da Idade Moderna até o Iluminismo, destacando suas principais contribuições na área da educação, seu método pedagógico e suas principais obras.
da Educação Vale salientar que, para realização do trabalho como um todo, esperamos que você cumpra cada etapa de forma progressiva, pois o mesmo trata-se de uma atividade de avaliação que almeja, não só atribuir-lhe uma “nota” ao final da disciplina mas, principalmente, contribuir com a consolidação de conhecimentos fundamentais à sua formação e atuação profissional. Desejamos discernimento, iniciativa e realizações.
54
Glossário ALIENAÇÃO: Fragmentação da consciência, perda da individualidade, da consciência crítica,diluição da própria identidade. ARETÉ: Perfeição ou virtude de uma pessoa. BÁRBARO: Palavra usada para identificar todos os povos não romanos. Aqueles que usam barbas longas. CLERO: Classe social formada por aqueles que receberam ordens sacras, religiosos. CONHECIMENTO: É a relação que se estabelece entre um sujeito que conhece ou deseja conhecer algo e o objeto a ser conhecido ou que se dá a conhecer. CRÍTICO-REPRODUTIVISTA: Teoria pedagógica difundida nos anos 70 que critica a ilusão liberal da Escola como instância de democratização, concluindo que ela reproduz as diferenças sociais. ARANHA, 2002, p. 236 CULTURA: Um amplo e variado conjunto de conhecimentos e realizações que o homem desenvolve em sociedade, que é acessível a determinado grupamento humano. Associa-se às representações simbólicas, de produtos e de procedimentos apresentados pelo homem ao longo de sua história. EDUCAÇÃO: Prática social cujo fim é o desenvolvimento humano[..] de acordo com as necessidades e exigências de determinada sociedade em determinado tempo/espaço. CAVALCANTI, 2004, p.93 EMPIRISMO: Doutrina filosófica moderna (séc XVII) segundo a qual conhecimento procede principalmente da experiência, principais representantes: Hume, Locke e Hume. ARANHA, 2002, p. 238 ESCOLAS SECULARES: Escolas do século, do mundo, abertas a qualquer atividade não religiosa. ÉTICA: Qualidade da ação fundada em valores morais; pode também significar a área da Filosofia que trata da moralidade da ação humana e ainda pode ser considerada como a ciência do comportamento moral dos homens em sociedade. SEVERINO. 1999, p.138 e NALINI, 1999, p. 34 FEUDO: Unidade produtiva da época Medieval, grande extensão de terra que pertencia a um senhor feudal.
FILOSOFIA: Estudo que surgiu procurando desenvolver o logos (saber racional) em contraste com o mito (saber alegórico). Ela é um corpo de conhecimento, constituído a partir do esforço do ser humano para compreender o mundo e dar-lhe um significado compreensivo [...] é um instrumento de ação. LUCKESI, 2000, p.22. HERESIA: toda doutrina que fosse contrária aos dogmas da Igreja católica. HUMANISMO: Procura de uma imagem do homem e da cultura, em contraposição às concepções predominantemente teológicas da Idade Média e ao espírito autoritário delas decorrentes. ARANHA, 2002. IDEOLOGIA: conceitos e valores particulares de um grupo social passados a todos como se fossem universais. SEVERINO, 1996.
55
Fundamentos
HistóricoFilosóficos
da Educação
INATISMO: Concepção segundo a qual as idéias ou os princípios já existem na mente dos indivíduos e portanto não surgem de fora para dentro. ARANHA, 2002, p. 238. LEI DAS DOZE TÁBUAS: Código Jurídico baseado em velhos costumes e em novas leis plebéias. LEIGO: Quem não é eclesiástico que não segue a carreira religiosa.
NOBRE: Classe social que possuía privilégios de nascimento, geralmente eram proprietários de terras. RATIO STUDIORUM: Plano de estudos da Companhia de Jesus, aprovado em 1599, que ainda hoje é o método ministrado nos colégios jesuítas. LUZURIAGA, 2001, p. 118. SERVOS: Classe social que prestava serviços à nobreza e ao clero, não eram proprietários. SÍMBOLO: Um elemento adotado de forma convencional como representação de um outro elemento, ou seja, são mediações de que nos servimos para lidar com os objetos, com as circunstâncias e até mesmo com outros símbolos. TOTALITÁRIO: É a ação que centraliza todas as decisões e poderes em uma pessoa ou grupo de pessoas. Na educação isso se refletia na autoridade total e incontestável do mestre. TRIBUNATO DA PLEBE: Grupo de dez pessoas que representavam os plebeus na política romana.
56
Referências
Bibliográficas ARANHA, M. L. Arruda. Filosofia da Educação. São Paulo: Moderna, 1997. ___________________. História da Educação. São Paulo: Moderna, 2002. GADOTTI, Moacir. História das Idéias Pedagógicas. São Paulo: Ática, 2002. GILES, Tomas R. História da Educação. São Paulo: EPU. 1987. LUCKESI, Cipriano. Filosofia da Educação. SP, Cortez, 1993. LUZURIAGA, Lorenzo. História da Educação e da Pedagogia. São Paulo: Cia Editora Nacional, 2002. SAVIANI, Demerval. Educação:do senso comum à consciência filosófica. 13ª ed. (rev.). São Paulo: Autores associados, 2000. SEVERINO, Antônio Joaquim. Filosofia da Educação. Construindo a Cidadania.São Paulo: FTD, 1994.
57
Anotações Fundamentos
HistóricoFilosóficos
da Educação
58
Anotações
59
Fundamentos
HistóricoFilosóficos
da Educação
FTC - EaD Faculdade de Tecnologia e Ciências - Educação a Distância Democratizando a Educação.
www.ftc.br/ead
60