H I S T Ó R I A E L I N G Ü Í S T I C A Régine Robin Robin
A leitura leitu ra do doss tex te x tos to s nu nunc ncaa d eixo eix o u de susc su scita itarr p rob ro b lem a s para pa ra os histor his toriad iador ores es o u , o q u e é ainda ain da m ais g rave ra ve,, d e nã nãoo sus su s citados. Num erosos erosos sã são os qu quee se em pen penha ham m nela nela julgand julgando-a o-a uma panacéia universal, capaz de subverter os dados episte m ológicos da Hist H istória. ória. E ste livro livro busca arruinar os en entusia tusiass mos prem aturos e incitar à refle reflexão. xão. Ao escrevê esc revê-lo, -lo, R egine egin e Ro R o b in, in , histor his toriad iador oraa e d o cen ce n te da U n iver iv ersid sid a d e d e Paris (Nanterre), preocupou-se em manter-se equidistante de uma pa p a n -m etod eto d o log lo g ia p ara ar a lisan lisa n te e d e um a u tiliza tiliz a çã çãoo ing in g ê n u a da
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HISTÓRIA E LINGUÍSTICA
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RÉ R É G IN E R O B IN
HISTÓRIA E LINGÜÍSTICA
Título do original: HISTOIRE ET LINGU1STIQUE ©
Librairie Armand Colín, Paris, 1973
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S U M Á R I O
Pr e f á c i o
11
O PROBLEMA DA DAS SRELA RELAÇÕ ÇÕES ES HIS TÓ RIA /LIN GÜ ÍST ICn Ca p í t
ul o
1. O
17
equívoco
1.1 Advertência 1.2 1. 2 Teorias, Teo rias, técnicas técnicas e pressupostos pressupostos 1.3 Língua e discurso Notas do capítu cap ítulo lo 1 Ca p í t
ul o
2. As
a r m a d il h a s da a u s ê n c i a de u m a
15
17 22 24 35 t e o r i a d a a r t ic u l a ç ã o
40
4 .4 Lingüí Lingüísti stica ca co como mo “ reca re ca ta" 105 4 .5 Da l i n gü güís ísti tica ca como receita receita à constituição constituição do objeto obj eto discursivo 106 4 .6 Esboço de alguns alguns conceitos do materialismo histórico 108 4 .7 Prática Práti ca discursiv discursivaa e formação formação ideológic ideológicaa 115 4.8 Discurso e ideologias na formação social francesa do fim do século X V III 119 Notas No tas do capítulo capítu lo 4 130 ALGU ALGUNS NS MÉTODOS DE ABORDAGEM DOS TEXTOS TEX TOS
135
C a p í t u l o 5 . Es b o ç o d o s m é t o d o s e s t a t í s t i c o s : o e x e m p l o d o L a b o r a t ó r i o
E.N.S. 5 .1 O inventário inventário dos textos 5 .2 A frequênci frequênciaa 5 .3 A distribuição distribuição 5 .4 As co-ocorréndas co-ocorréndas Notas Not as d o capítulo 5 de
Le x i c o m e t r ia
da
d e Sa i n t
137 137 139 144 1466 14 151
-Cl o u d
C a p í t u l o 6. A b o r d a g e n s d o s c a m p o s s e m â n t i c o s : a s ic o l o g í a P o l í t i c a d e Sa i n t -Cl o u d C e n t r o d e L e x ic
experiências
do
153
8.2.1 Inimigos 8.2.2 Ricos 8.2.1 Contra-Revolução 8.2.4 Nobres 8 . 2 . 1 Os oponentes oponen tes no sei seio da Convenç Convenção ão
8 .3 Feudo e senhorio no sécu século lo X V III Dicion onár ário io dc Comé Comérc rciio de Savary des BruJons (1723 ) 8 .4 “Negros” “Negros” no Dici Notas No tas do capítu cap ítulo lo 8 Lé x i c o Bibl io g r a f ia
230
236
geral
COMUNICAÇÕES Gé r a r d Ga y o t : Discurso
a m is is t o s o
e
discurso
245 247
p o l ê m ic ic o
Notas No tas do estudo estu do de G . Gayot Gayo t M.
Pê c h e u x
216 217 219 219 221 221 224 226 226 229 229
e J.
W e s s e l iu s :
263 A
r e s pe pe i t o
do m o v i m e n t o
e s t u d a n t il
LUTAS DA CLASSE OPERÁRIA: 3 ORGANIZAÇÕES ESTUDANTIS EM 1968
Notas No tas do estud est udoo de M. Pêcheux e J. Wesselius
e das
265 281
PREFÁCIO
Esta obra pre te nde ser apenas um a iniciação a novos problemas. Dirige-se essencialm ente aos historiadores, um pouco aos lingüistas, ainda menos aos semiólog os. O descompasso conceituai en tre essas duas disciplinas é tal que convém, de inicio, precisar o público para o qual fo i escrita. Que eu se ja bem compreendida: não se trata de urna obra de historia da Lingüistica, ou de iniciação à Lingüistica para historia dores, mas de uma interrogação sobre os pontos de encontro possíveis entre "História " e " Lingüística", sobre as encruzilhadas conceituais que uma e outra implicam . Trata-se de m ostra r aos historiadores qu e a
precisei fa zer escolhas, e contribuições im portante s tais co mo as de G. G. Granger e J. Derrida foram deliberadamente negligenciadas, dado o quadro desta coleção. Tam pou co há aqui nenhu ma exposição sistemá tica sobre Katz e Fodor, W einreich, Bierw ich ou Fillmore. Tu do isso me pareceu não fazer parte diretamente do meu objeto. Tal como se apresenta, esta obra descontentará a uns e corre o risco de desanimar a outros. Ao s linguistas, parecerá insuficiente, face às renovações e às colocações atuais. A os historiadores, e m com pen sação, corre o risco de parecer áspera, cheia de gíria profissional, por vezes longe de suas preocupações. Ta lvez até irrite alguns, eternos defenso res e zeladores do bom senso e da evidência. Aind a um a vez, minha ambição limitou-se a propor problemas, interrogações, métodos e, graças à contribuição de historiadores e de lingüistas, algumas abor dagens concretas e alguns resultados. Ning ué m mais do que eu t em aguda consciência de que este livro é, de alguma maneira, prematuro. No entanto , sob certos aspectos, ele vem a propósito. Com efeito, estan do os fogos do estruturalismo um pouco extintos, a hora é antes de interrogações que de euforias precipitadas, de balanços. N em falsa interdisáplinaridade, nem pressão de uma moda, atualmente em grande parte revolucionada! Alé m do mais, este livro responde a duas preocupações constantes.
céias, as súmulas teóricas, os empréstimos metafóricos, que so poaenum levar a impasses, decepções ou, o que ê pior, a demonstrar qualquer coisa enquanto artefato. As sim se justifica o ponto de equilíbr io em que eu me quis situar: a igual distância de uma metodologia paralisante de toda pesquisa e de uma utilização ingênua e não rigorosa da LinI güística por parte do historiador Duas solicitações de desigual im portância levaram-m e, nos anos I 1960-1965, a me preocupar com a Lingüística. Eram — é preciso re j cordá-lo — os temp os triunfan tes do estruturalismo. Um a espécie de terrorismo intelectua l panlingüistico era de bom-tom. To do s aqueles que, a títulos diversos, preocupavam-se com problemas epistemológicos, viam-se cercados, quisessem ou não, pelos trabalhos de Lévi-Strauss ou de J. Lacan, pela redescoberta de Saussure. Parecia-me forçoso espiar do lado da Lingüistica (se me permitem a expressão), como todo o m und o! De outro lado, eu estava participando de um a pe squisa refe rente a 130 cahiers de doléances * de um bailiado borguinhão (ou seja, um corpus de mais de 60 0 páginas). Era difícil domina r esta doc um en tação com os m étod os tem áticos em uso entre os historiad ores. Foi então que se ofereceram duas possibilidades: a utilização do computador c de estatísticas de um lado, a procura de métodos lingüísticos que me perm itissem ler, ordenar, normalizar, comparar os da dos de m in ha do cumentação. N um prime iro tem po , eu não pedia à Ling üístic a senão
estava onde eu menos o esperava; nos instrumentos conceituais que a Lingüística, ostentando sua cientificidade, colocava à minha dis posição. Pouco a pouco com pre endí que, por fe cundos que fo ssem os resultados que em obtinha, eu evitava o nível do discurso relacionado a suas condições de produção. O s estu do s consagrados à enunciação, ao universo conotativo, aos pressupostos fizeram-me ultrapassar as pri meiras perspectivas nas quais eu m e tinha engajado. U m conju nto d e leituras novas obrigava a colocar o estatuto do tema postulado pela enunciação. Provenientes destas múltiplas abordagens, abriram-se outras perspectivas. 0 problem a da prática discursiva, das relações entre as formações ideológicas e as formações discursivas, do lugar das práticas discursivas ao seio de uma formação social, desembocava em uma constante pergunta sem resposta, a possibilidade de uma teoria ma rxista das práticas discursivas (e m particular das práticas discursivas políticas). Esta teoria não está fe ita. Sua produção só poderá ser uma obra coletiva. Eis uma das futu ra s tarefas essenciais da pesquisa m ar xista. E m vista disso, uma equipe co ntribuiu para a criação de um centro de "analise do discurso " — que podería tomar-se um elo desta necessária reflexão coletiva. Numerosos amigos não poupa ram ne m te m po nem trabalho para que este livro aparecesse, seja através de conversas, ajudando-me com
O PROBLEMA DAS RELAÇÕES HISTORIA / LINGÜISTICA
Ca pí t u l o 1
O EQUÍVOCO
1.1.
Advertência
A relação da Lingüísdca e da Historia corre o risco de ser hoje íon te de equívocos. Gostaríamos de elucidar este equívoco, ou mesmo de dissipá-lo: não é outra a ambição desta obra.
parecia nunca dever pretender a situação de Ciência. De mais a mais, muito freqüentemente, os conceitos da Sociologia, que permitiam fazer a economia do materialismo histórico em matéria de ciências da socie dade, eram mais bem acolhidos e bastavam. As advertências concer nentes à exportação do modelo lingüístico, entretanto, não faltaram. Em 1967, G. Mounin inquietava-se: “Hoje em dia a Lingüística bene ficia-se, por sua vez, deste papel de ciência vedete. Mas é possível que o balanço que se deva fazer assemelhe-se um pouco ao que se fez do uso precipitado dos conceitos biológicos no século XIX, depois do uso não menos precipitado que se fez também pelos fins do século XIX dos conceitos da Psicologia, para resolver problemas lingüísticos. É nisso que eu vejo uma parte de moda, uma pane de voga, que não nos é benéfica, pois prefeririamos que se utilizasse profunda mas solida mente a Linguística e que se reduzissem e se precisassem bem as zonas em que ela se aplica.” 5 Ainda mais recentemente, 8 ele criticava o que se chamava os “ empregos metafóricos” dos conceitos lingüísticos. To mando um exemplo na obra de Roland Banhes, ele se colocava o pro blema da validade dos conceitos lingüísticos a propósito de um espe táculo de luta livre. 7 Trata-se de um sistema de comunicação? O espetáculo é feito de comunicação, e em que sentido? Em caso afir-
Não será o caso de darmos fim a esta disputa ao mesrno tempo terminológica e epistemológica. É possível que, assim formulada, a pergunta esteja mal colocada e seja passível de discussão. O problema para nós, no quadro da pesquisa histórica, apresenta-se de uma maneira totalmente diferente, urna vez que nao se trata da exportação de um modelo, nem de conceitos tomados de empréstimo à ciencia das línguas naturais enquanto sistema de regras. Dele queremos no entanto con servar, além do que é colocado em causa, a lição de prudência, as advertencias contra todo uso metafórico dos conceitos da Lingüística, toda analogia não rigorosa, toda decalcomania terminológica, toda sú mula conceituai. Estes conselhos de prudência são tanto mais urgentes quanto se vê surgir no horizonte uma paixão súbita e ingenua da parte dos historiadores pela Lingüística. Estes últimos acabaram, finalmente, por interiorizar as críticas que a geração estruturalista formulou em sentido contrario ao da Historia. Daí a miragem daquilo que, à pri meira vista, parecia como ¡ncontestavelmente científico, porque fo rm a lizado. O autor das presentes linhas contribuiu, com repugnancia, para a generalização desta paixão súbita e destes novos tipos de preocupação. No en tanto, ele sempre se preocupara em balizar sua pesquisa, ainda embrionária neste domínio, com marcos teóricos, que uma leitura apres sada ou mal informada não reteve. Que lhe seja perm itido retom ar o
reprodução das relações sociais. . . Para encontrar a fnnçãn A» uma ideologia.. é prcd sct- sair -do texto, m u 3 ã rd e te rr c n o e pas¡ü¿ da Erngüística à História. Mudar de terreno: o que q uer dizer que, se a Lin I güística descreve o texto, se diz precisamente o qu e existe no texto, seu arranjo interno, não nos dá. sua chave nem a função. Ela ordena a idèoIogiiT mas o que significa sodalmeme a ideologia está fora de seu campo. O historiador n io solicita mais nnj mtydelo à Lingüistica. Sabe-se que na Antropologia Estr utu raíT Ivi-Stiauss se refere explícitamente ao modelo fonológico. . . Certamente Lévi-Strauss, em toda a sua obra, está longe de aplicar mecanicamente o modelo fonológico; ele tem que mudar a clave, a fim de dar conta da especificidade do sistema de relações de parentesco. No entanto, a Lingüística serve de modelo neste caso. O historiador nio pede nada de semelhante ao lingüista. Suas ambições são mais modestas e ele sabe com qual prudência deve-se exportar tal ou qual conceito de uma ciência para outra. O que ele soli cita ao lingüista é que o ensine a ler o que está no texto, e es fã questão é-tnenor 1 ngêiraa~do--que-parece^a prfifiSH vis'ta. Ele Ihejpede que o ajude a desbastar o texto e a ordená-lo.” 0 Se insistimos.nessas, advertências, é que atualmente uma tendência se desenvolve numa espécie de euforia, ingênua, cujos pressupostos im
tica; que a Lingüística é o único modo de acesso aos comportamentos; que, graças a esta ciencia, o historiador vai poder trocar suas pobres noções por conceitos verdadeiros. Os perigos de tal posição devem ser explicitados com rigor e força, pois pensamos que o empirismo ingenuo e o empirismo formalizado não passam de duas vertentes do positi vismo; que cíes se solidtam mutuamente e se implicam. O que espreita a Lingüística em Historia é a possibilidade de lhe ser atribuido o mesmo papel e a mesma função que a Estatística em Economia. Na aparência, isso significa um aparelho formalizado de cientificidade incon testável, um imenso progresso relativamente aos estudos simplesmente descritivos e monográficos, resultados ao abrigo desta “colocação em perspectiva’’ à qual o historiador não podería escapar, segundo R. Aron. Na realidade, pode-se fazer o aparelho estatístico dizer qualquer coisa, segundo os quadros teóricos nos quais ele entre, segundo o sis tema de hipóteses que a ele subjaz, segundo o efeito procurado. A introdução de estatísticas na Economia teve muitas vezes uma função precisa, embora velada: pregar uma peça aos conceitos do materialismo histórico, opondo-lhe a “ciência” inconteste e incontestável. 11 É tal vez o caso da Lingüística. Ela poderia, se se descuidar, servir para demonstrar “qualquer coisa”, e esta “qualquer coisa" poderá, como
no início. Quanto à^ hipóteses, não valem o que vale a teoria que as informa e autoriza sua formulação! Assim, náo ‘í''po ssíveir'cóntraria mente ao que desejariam alguns, fazer a economia de um corpo de conceitos, mesmo se for para aproximar-se de textos considerados muito tempo como sem opacidade. É necessário resignar-se; é esta a condição do historiador do nível discursivo.
1.2 .
Teorias, técnicas e pressu po stos
As técnicas, os métodos empregados estarão ao abrigo de pres supostos filosóficos ambíguos? Toda técnica implica uma teoria sobre a linguagem, mesmo sobre sua natureza c sua onqcm. e pode, através disso, religar-se a tal ou qual corrente filosófica e epistemológica. Os liftgiíistas sabem disso muito bem; eles que não ouvem sem irritação os eternos elogios relativos à cientificidade sem problemas da Lingüís tica. Quantos problemas surgem! Tomemos por exemplo a análise sêmica. 12 Não negamos absolutam ente sua fecundidade, mas é claro que estão empregados nos processos técnicos, e na teoria que lhes subjaz, certo número de postulados que estão longe de satisfazer inteiramente.
“É preciso considerar os marcadores semânticos como elementos teó ricos introduzidos em teoria semântica para designar os componentes, invariáveis de uma língua a outra, mas estreitamente ligados à língua, de um sistema conceituai que faz parte da estrutura cognitiva do espí rito humano.” 16 A partir do momento em que somos remetidos à estrutura do espírito humano, à natureza humana, pode haver um rá pido deslize para um espaço metafísico dificilmente controlável. Este exemplo mostra a que ponto um método de abordagem, seja qual for, é carregado filosoficamente. A análise de discurso, em que Harris rep re sentou um papel preponderante, também não está isenta de pressu postos. A análise não deve levar em consideração o sentido. 17 “Toda análise que tendesse a descobrir a presença ou a ausência, em um texto, de certas palavras particulares, escolhidas pelo lingüista, seria uma pes quisa sobre o conteúdo do texto, que repousaria finalmente sobre o Se n t i d o das palavras escolhidas. Se nós não nos apoiarmos no sentido em nossa análise, os únicos morfemas — ou as únicas classes — de que poderiamos trata r separadamente são aqueles que apresentam particula ridades de distribuição estabelecidas gramaticalmente.” 18 Por isso, a nosso ver, subsistem os postulados positivistas da escola bloomfieldiana. O extralingüístico não intervém de maneira nenhuma na análise. Eis por que a relação entre o universo lingüístico e o universo cultural
da Lingüística. Rompendo com o que Bach 21 chama uma concepção taxinômica da Qência, ele reintroduz o primado da teoria, do desafio teórico. 52 Entretanto, além da bem sucedida reformulação dos conceitos saussurianos, além do modelo generativo e da criatividade da linguagem, certo número de postulados que estão na base do chomskysmo não deixam de provocar dúvidas. Encontra-se aí, em primeiro lugar, a idéia da universalidade das estruturas profundas, urna visada para a constituição de urna especie de semántica universal, ao menos naquilo que conceme certas das teorias pós-chomskyanas. O coração do pro blema, além do mais, é precisam ente o lugar do homem cartesiano na teoria de Cbomsky. Sua relação constante com a gramática de Port-Royal, sua filosofia da idéia inata podem, por vezes, a contragosto, resultar numa metafísica da natureza humana pouco apta a clarificar os debates. N io que a reação de Chomsky contra a linguagem considerada como condicionamento não tenha sido fecunda e que o acento colocado no aspecto criador da linguagem não tenha tido resultados felizes, mas convém sublinharmos ainda aqui que a tese da idéia inata levanta mais problemas do que resolve, e corre o risco de produzir discípulos pós-chomskyanos que, longe de terem o rigor do mestre, descambarão pura e simplesmente no idealismo das essências.
uma dupla associação, um duplo pa r de noções. D e um lado, língua e fala opõem-se no sentido em que se opõem o sistema de signos, o código c o acidental, o arranjo devido ao acaso; de outro lado, dupli cando esta oposição, língua e fala opõem-se como a instituição social, transindividual, e o individual. Se a Lingüística liga-se essencialmente ao estudo do cótKgõ, do sistema, portanto à língua, o que se passa com a 11fala" > E formsr» r r ^ r a r a r qnp pja por muito tempo só foi levada em conta como corpus. 28 como amostra através do qualatingia-se a língua; quanto ao resto, domínio da “ liberdade” , da "criação . encruzilhada da Lingüística, da Psicologia ou da Antropolpgía, ela foi abandonada era parte dcTcãMpõ da Lingüística como rgserYatQrlQ de cOMplãXldgcfcs difíceis de ordenar e « q qu<- se. p r^ n a f f 1 dgSf>nvo]¿LÍa-suk)cttVKlade do locutor, mas mats ainda. a..do pesquisador. E s ia J ‘liberda de ” atribuída ao domínio da fala inscrevia-se numaJPilosofia do sujeito neutrõTTranspárêhte ã^sT próprio fum a Filosofia de antes da descoberta freudiana), e naquela ac um su)ctto sem determinações socioideológicas Turna Filosofia de antes de Marx V. Não" se "“tratava nem d e um sujeito do "isto fala11, nem de um suieito do "fa lase", mas de um sujeito do "e u laloir~ Concebe-se que, neste caso, uma ciência da "fala” se revelasse difícil ou mesmo impossível. De fato, quando comumente se insiste na positividade, na cientificidade da Lin
Como definir o discurso? Ne ste mom ento de nossa reflexão, levando em conta que não examinamos ainda os conceitos próprios ao historiador e, em particular, o de “formação social" e suas implicações, só se pode tratar de uma definição de ponto de partida, imprecisa no plano terminológico, in satisfa tó ria no plan o teórico; uma ab ordag em que deverá ser refeita posteriormente. L. Guespin escreve a este propósito: “O termn. enunciado ç o discurso tendem a y ? organizar numa opçsiçjrv O enunciado consiste na sequénda de frases emitidas entre dois brancos semánticos, duas suspensões da comunicação; o discurso consiste no enunciado considerácTo do ponto de vista do mecanismo discursivn gtu> n Assim, um olhar lançado a um texto do ponto de vista de sua estru turação em ‘lingua’ faz dele una enunciado:~iim estudo lingüístico das rÁ M ífjjç Á êr A *
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indica que, contrariamente ao enundado, o discurso só é discurso em relação ao que o condidona; que convém encará-lo em termo de pro cesso c não estatisticamente como enunciado; que o discurso só é discurso quando se refere a suas condições d e produção . Aqu i sub siste Um eqiifaoooy-urna ..uex.que 9
É o que M. FoucauJt institui em A A rqu eologia do Saber. Ele não em end e por prática a atividade li^n» A» um sú b ito mas o conjunto de regras que envolvem e submerein o sujeito, desde que ele toma parce no discurso. Por isso, o discurso supõe o conjunto de relações extralingüísticas que o constituem. Nossa insistencia a esse respeito corre o risco de suscitar numerosas interpretações erradas e assim solicita algumas precisões. Fixar-se na ligação do discurso com o conju nto de relações m ateríais jque o estruturam não significa que, a exemplo de ftíarr, na XJ K *57S. dos anos 1950, faça-se da língua uma superestrutura. Fazemos questão de precisar que as formações discursivas, quanto ã elas, fazem p a rt e integ rante d a instancia da ideologia; po rtan to estão fundam entalmente ligadas às superestruturas. Assim também , não se trata para nos de negar nivel.lingüístico (no sentido, que se terá adivinhado, de urna lingüística do discurso), reduzindo, a análise do a nma crvifiLigia._rln rlk nirso De maneira nenhum a. Procura mos constituir no campo da Historia o nivel discursivo como novo objeto de estudo, £ ao .mesmo tempo, contra um certo positivismo lingüístico, postular as impasses e insuficiencias de uma análise interna da qual se quererla deduzir a interpretação do discurso, inclusive sua função, sua eficacia 31 c seus_processos de inserção na formação social. q
tico e ideológico; que condlie ao mesmo tempo o sentido, como a Lin güística estabelece, e a ideologia, como se exigirá de uma teoria que leve em consideração a História ” . 34 A partir de uma dezena de anos elabora-se urna Lingüística do Discurso 35 — alguns elementos da qual estão na dependencia daquilo que se convencionou chamar de enunciação, como atitude do locutor diante de seu próprio enunciado, como inserção do sujeito no interior de sua própria fala, como tomada de posição do sujeito em relação ao conjunto de representações, do quadro ideológico que o governa e de que ele é o suporte, como o ato de produção do discurso. Não foi sem hesitação nem sem reticências que os lingüistas admitiram que estes mecanismos estavam na dependência do seu campo, pois ele arrastava em torno deles como qu e um odor de mentalismo semp re suspeito. T. Todorov, apresentando o estado das questões sobre a enunciação, cons tatava: “Se se aceitar no momento que a enunciação é o ato individual da utilização da língua, enquanto que o enunciado é o resultado deste ato, podemos dizer que o objeto da Linguística atual é o enunciado, e não a enunciação.” *• Compreende-se a pa rtir daí o imenso trabalho que resta realizar na ordem da constituição de uma Lingüística do Discurso e, além dela, da história das formações discursivas. Eis, a
ênfase, o passivo facultativo, as interdependências de níveis; como a utilização dos relatórios de língua familiar, popular, literária; modalizações da atitude do sujeito, como a oposição realizado/não-realizado das formas verbais; modalizações dos tipos de enunciados: enunciados de diversas naturezas, desde o “eu penso que”, até os performativos. 30 O conceito de tensão concerne às relações entre o sujeito talante e o interlocutor. U sistema dos tempos e dos aspectos é o mais próprio a abranger este tipo de marca enunciativa, pois o verbo aparece enquanto verdadeiro operador da frase. Além disso, os artigos, os determinantes representam neste nível um papel essencial; este é também o caso do sistema dos pronomes. Entretanto, segundo L. Irigaray, o domínio de predileção da tensão manifesta-se na oposição ser e haver, de um lado, e dos auxiliares, como querer, poder, fazer, dever, de outro lado. Enquanto que, no primeiro caso, trata-se de um realizado que postula um estado, uma ausência de tensão, no. segundo caso, pelo contrário, manifesta-se um assumir, uma tensão do sujeito em face de seu interlocutor.
O conceito de transparência ou de opacidade aborda a marca de enun ciação do ponto de vista do receptor. A opacidade máxima aparece na poesia lírica. O enunciado é modalizado de maneira específica, original
Os verbos enunciativos, “Eu digo”, “Eu creio”, “Eu quero dizer”, “Eu penso q ue” , etc., acentuam a diferença. São m uito fre qüente s em Blum, introduzindo constantemente o “olhar reflexivo do sujeito falando sobre seu próp rio enunciado” . 42 Inve rsam ente, estes verbos são raros em Thorez. Em Blum, além disso, estes verbos estão associados a sbifters 42 de tempo (agora, boje, na hora atual). O sistema de adverbios t importante de ser abordado pois permite a modalização do discurso. Aqui aind a aparece a oposição entre Blum e Th orez. Os advérbios em mente, muito numerosos no discurso de Blum, estão quase ausentes no de Thorez. O sistema das transformações modaliza igualmente o enunciado. — As negativas implicam um enunciado inverso, implícito ou expresso. Implicam um certo modo de presença do enunciad o adverso. Enquanto Blum utiliza muito freqüentementc a transformação negativa, Thorez a utiliza mais raramente, e suas transformações negativas são essendalmente didáticas. — As passivas suprim em , na m aio r parte do tem po, o agente da ação, sujeito do verbo em forma ativa. E nq ua nto q ue em Blum a metade das passivas não suprimem o agente, em Thorez as passivas elidem o agente e se fazem acompanhar de nominalizações, de subor
Z U J O H T B P O p A l C N U H B
uma Lingüística do Discurso, que interessa em primeiro lugar ao his toriador. .. Esta Lingüística do Discurso, qu e recoloca completamen te em qu estão a distinção operada po r Saussure en tre língua c fala, com a condição de que cía se liberte de um modelo individualista, centrado numa problemática do sujeito, pode, como veremos, engrenar numa teoría das ideologias. O utr os elem entos, que, sem se confundirem to tal mente com a enunciação, sio amplamente postos em funcionamento por estes mecanismos, interessam -nos sobrem aneira. Qutra baliza de urna Lingüística do Discurso, e à qual deveremos voltar: as pesquisas de O. Ducrot concernindo aos pressupostos, as implicações, os subenten didos. "A linguagem natu ral, diz O. D ucrot, não tem por única função a transmissão das inform ações [ . . . ] que rem os dizer que, ind ependentemente de toda informação, o simples jogo da linguagem instaura eritre os individuos certas relações de colaboração, de ¡uta, de dominio, d e d e p e n d e n c i a ** A este resp eito, o pressuposto é fund am ental. Trata-se de uma representação requerida do auditor para que o enun ciado se integre numa comunicação normal, diz em substancia O. Ducro t. Ele implica o co nju nto d e condições que devem ser pre en chidas para que um enunciado seja lingiiisticamente normal e para que a comunicação possa se estabelecer. Apresenta-se como uma evidência.
do que as armas, o equ ilibrio do terro r, e tc.? ” No prim eiro caso, o interlocutor partilha meu pressuposto, meu sistema de evidência; não o coloca absolutamen te em q uestão. Apenas discute meus argum entos. Estamos no quadro da implicação. 47 O u tro interlocutor, po r sua vez, não considerará legítima ou ilegítima minha proposta, mas se aterá a meu pressuposto, a suas evidêndas, ao que eu coloquei fora de causa em meu discurso, a saber, que seria necessário defender o Oddente; portanto , que o Ocid ente estava am eaçado. Se o segundo in te rlocuto r diz “ mas por que defender o O d d e n te ? ” , das duas uma: ou o anta gonismo de nossos dois sistemas ideológicos toma todo diálogo impos sível, e estabelece o que o bom senso chama conmínente “um diálogo de surdos” , ou não tenho ou tra solução a nl o ser replicar-lhe “ mas vejamos, é evidente”, postulando assim a universalidade de meu pro cedimento, de meu pensamento e abrigando-mc, por detrás da filosofia do bom senso para m elhor aprisioná-lo, “ todo o mundo sabe ” , “ todo mundo vê” , etc. “A recusa dos pressupostos constitui uma atitud e muito diferente da crítica do que é colocado. Comporta sem pre notadamente uma forte dose de agressividade, que transforma o diálogo em um afrontame nto pessoal. Rejeitando os pre ssu po stos jie meu inte r locutor, eu desqualifico não so~ò pr ópr io enunciado, mas p- ato de enunciação do qual ele pro ced e.” 48 O estud o do funcionam ento dos
Significante Significante
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Significado
denotação Significado
conotação
Signo mítico
Dois exemplos, um tomado de empréstimo de O. Ducrot, o se gundo de R. Barthes, permitem ilustrar o funcionamento das cono tações. “Se para desaconselhar a alguém de deixar seu carro num lugar proibido e severamente vigiado eu lhe digo que aí o estacionam ento é Verboten, supõe-se que o emprego do alemão exprima, visto uma cena imagem convencional da Alemanha, a vigilância da polícia.’’ 53 Este exemplo fomece-nos uma das marcas de conotações possíveis: o uso de uma língua estrangeira. Hjelmslev indicava outras: o uso de regionalismos, do jargão profissional, ou ainda a imitação do estilo de um indivíduo conhecido, processos todos cujo significado é “desligado” no tocante à simples denotação. O segundo exemplo diz respeito a uma fotografia, uma capa de Paris-Matcb. Representa um jovem negro, vestido com o uniforme francês, fazendo a saudação militar, com os
N otas do capítulo 1
1. 2.
O. D u c to r, "Greim as, sémantique siructurale”, noticia em L'Homme, out.-dez. 1%6, p. 121. C£. CLaude L é v i -S t r a u s s , Anthropologie Sime turóle. Paris, Pión. 1958. "Introdução”, pp. 24-25: "Ê pois às relações entre a História e a Etnologia, no sentido estrito, que se reconduz o debate. Nós nos propomos a mo strar que a diferença fundamental entre os dois não é nem de objeto, nem de finalidade, nem de método: mas que, tendo o mesmo objeto, que é a vida social, a mesma finalidade, que é uma melhor inteligencia do homem, e um método onde varia somente a dosagem dos processos de pesquisa, elas se distinguem sobretudo pela escolha de perspectivas complementares: a História, organizando setis dados em relação às expressões conscientes; a Etnologia em relação às condições inconscientes da vida sodal.”
» 11.
Um bom exemplo d e descontrução das estatísticas oficiais ou quase oficiais pode ser aqui re ti do em L ê n í n . Le DSveioppement du capitaiisme en Russie. Ele critica omitas vezes a maneira pela qual são estabelecidas as estatísticas de que dispõe para estudar a penetração do capitalismo na Rússia: “Basta uma vista d’olhos a este quadro para nos certificarmos a que ponto são ficticios os 'núm eros m édios ’ qu e tan to se gosta de m an ipu lar en tre nós, qu and o se tala da ‘Bu rgu esia’ ” , ou ainda, a propósito d os tip os de compa rações estabelecidas: “Há necessidade de comparar o número das explorações que empregam assalariados com a totalidade das explorações ‘camponesas’, quando estas últimas compreendem as explorações dos próprios assalariados agrícolas. Procedendo assim, poder-se-ia negar também o capitalismo na indústria russa” . .. Outro exemplo interessante, num livro em outros pontos contestáve l: Christian B a u d e l o t et Roger E s t a b l e t , L'Ecole capitalice en France, Paris. Maspero, 1971. Se, a pa rti r dos "q ua dro s da educação nac iona l” , edição de 1968, ás págs. 222-223, lê-se a repartição da população escolar por idade, p or nível, no ano 19 66 -196 7 (a cre sc enta ndo os dad os re la tivos ao en si no p art ic ula r), fica cla ro q ue, se gundo estas es tatísticas, 63 ,796 dos jo vens d e 17 anos estão no segun do ciclo longo . De fato, como o sublinham os autores, falca a essa quadros uma coluna; aquela em que figurariam os jovens de 17 anos que não estã o m ais escolarizados em 1966-1967. Se se reintro du z a t e elemento, vê-se en tão qu e em 1966-1967, três qu artos das crianças d e 17 anos estão fora do ensino longo.
12.
Ve r mais «fiante nossas b re v a observações sobre a análise sêmica.
uvas, que permitem ao locutor, pela associação de um cerro som a um cerro
sentido, form ar enunciados — e isto, em principio, ao inf inito. Ê a com petência que dá conta da criatividade da linguagem. Assim, o estudo da com petencia é ob jeto da gramática. Esta deve ser capaz de enu m erar explí citamente, isto é, de engendrar as frases gramaticais da língua, de onde seu nome de gramá tica generativa. Pode-se dizer que, m uito esq uem áticam ente, a gramática compreende a componente sintáxica que engendra seqüéndas de elementos mínimos, o par abstrato, estrutura profunda, estrutura superficial. Ao nivel sintagmático, ela fornece a descrição estrutural da estrutura pro funda, frases-núcleos, das quais são derivadas as estru tura s superficiais. Ao nivel transformacional, ela descreve as transformações pelas quais se passa da estrutu ra pro funda à estrutura superficial. A gramática gen erativa com pre ende, além disso, a componente fonológica, que tr aduz num a cadeia so nora fon ética a seqüéncia de elementos depois da transform ação. A com ponente semân tica, en fim, permite a in terp re tação semán tica da frase. 2 3 . Ver em partic ula r Claudin e N o r m a n d , "Propositions et notes en vue d’une lecture de F. de Saussure”, La Pensée, a.‘ 154, dez. 1970, 24 . 25.
F. de S a u s s u r e , Cours de linguistique genérale, Paris, Payot, 1966, pp. 30-31. Q uan to ao problema do corpus, ver Claudine N o r m a n o , “De quelques notions fondamentales sur un enseignement d’initiation à la linguistique”, a ser publicado em Langue Françatse.
26.
J. D i í b o í s ,
Le Vocabulaire politique et social en France de 1869 à 1872.
Paris, Larousse, 1962, p. 189
>0.
Usamos de prop ósito este ten no vago; veremos em seguida a que corres ponde e n lá m e n te o camp o do ‘‘extralingüfstico*'.
31 .
P ara a explicação destes conceitos, ver mais adian te.
N 32.
D . S l a k t a , “Esqu isse d’un e théorie léxico-sémantique: po ur une analyse d ’un terte potinque (cabiers de doléances)", Langages, n “ 23, p. 110.
33.
A propósito da distância en tre língua e discurso, Ju lia J o y a u x -K z i s t f v a escreve: “A psicanálise toma impossível o hábito comumente admitido pela Lingüística atual de considerar a língua fora de sua realização no discurso, isto é, esquecendo que a linguagem não existe fora do discurso de um sujeito, ou considerando o sujeito oomo implícito, igual a si próprio, uni dade f i n que coincide com seu discurso. Este postula do cartesiano, que subjaz ao procedimento da Lingüística moderna e que Chomsky revela, é abalado pela desco berta freudiana do inconsciente e de sua lógica." J. Jo y a u x , Le Langa ge, cet inconnu, pp. 263-264 (Coleçã o "L e point de la question”). Assim, também, pode-se dizer que o marxismo e, em particular, o conceito da ideología e o estatuto que ele toma ao seio do materialismo histórico, impede da mesma maneira que se postule um sujeito livre, trans pare nte a seu dis curs o, su porte da pró pr ia língua pensa da em sua neutrali dade ideológica.
34 .
J. K j u s t
35.
e v a ,
intervenção por ocasião do colóquio de Cluny II sobre “Lite ratura e ideologia”, publicada em La Novvelle Critique, número especial 39 bis, p. 25. Os precursores são B a i l l y , H j e l m s l e v e os fundadores do círculo de Praga, em particular J a k o b s o n N este domínio com o em muitos outros, é preciso
42. 43. 44. 45.
46. 47 . 48.
institucionais, estatutárias dos dois partidos: partido com tendências, em um caso, partido sem tendências, de orientação coletiva, em outro, o que acar reta uma impossibilidade para M. Thorez de falar em seu nome pessoal (daí o desaparecimento do sujeito da enunciação, o didatismo), e a impos sibilidade para L. Blum de falar em nome de um a direção coletiva. Poder-se-ia enfim perguntar, como faz M. Foucault em L'Ordre du discours, se, além das condições de produção, não existe um discurso de grupo, uma forma enun ciativa de grupo. De fato. o estudo dos mecanismos e das marcas de enunciaç ão é dos m ais complexos. Convencer-nos-emos disso com a leitura de Langages 17 consagrado à enunciação. L. Co u r d e s s e s . artigo citado, p. 25. Ver o léxico. O. D u c r o t , "Le Roi de France est sage: implication logique et présupposition linguistique”, Êtudes de linguisttque appliquée, n.° 4, 1966, p. 41. O. D u c r o t . "Présupposés et sous-entendus”, Langue Française, n.* 4, feve reiro de 1969, p. 36. Ver a dem onstração da diferença entre pressupo sto e implicação em "Le Roi de France est sage...”, artigo citado. N um a prim eira abordagem, as implicações (te rm o de Lógica) são propo sições que devem ser verdadeiras para que este enunciado seja verdadeiro. O . D u c r o t , “La descripdon sémantique des énoncés français et la notion de présupposition",
49.
L'Homme,
1968, p. 52.
Para O . D u c r o t , com efeito, os pressupostos são fatos da língua. Ele insiste neste ponto em numerosos artigos. Em "L a descripdon sém an tiq u e. ..”,
Ca p í t
ul o
2
AS. ARMADILHAS DA AUSÊNCIA DE UMA TEORIA DA ARTICULAÇÃO
2 .1.
A Lexicología reduzida à sociologia
Uma primeira solução consiste em integrar a Lingüística, ou uma região da ling uí sti ca , à Sociologia ou a. H istó ria . N este caso, não
sociológica? Dir-se-á que, no primeiro caso, acentua-se o aspecto sin crónico do problema, que se aplicam métodos sociológicos a um dado período, escolhido a título de corte sincrónico; que, no segundo, acen tua-se o aspecto diacrónico do problema, por que “História’' tomou-se substantivo e “social” ou “sociológico” adjetivo? Na verdade, parece que em numerosos estudos podemos substituir o que G. Matoré chama “Sociologia” por “História” e pensar que, para ele, a Lexicología, quando tem por objeto o vocabulário das sociedades passadas do século X V III ou XIX, confunde-se com o objeto da Historia. Se se trata de dizer, em outros termos, que tudo passa pela linguagem, que um edito, urna lei, um decreto são palavras; que uma declaração de guerra, uma carta de administrador, urna correspondencia, um diário íntimo são também palavras, acabar-se-á por designar urna tautología ( tudo é linguagem) ou um impasse teórico fundamental. Nem a His tória, nem nenhuma “ciencia humana” terão a este preço um objeto próprio, uma vez que estarão nas malhas de um panlingüismo uni versal. Não é a este impasse que nos conduz G. Matoré. Seu pro cedimento é inverso. Consiste em eliminar o próprio objeto da Lexi cología, a fazer dela apenas um “ ponto de vista” . O nivel discursivo (admitindo, por pura hipótese, que a Lexicología dá acesso ao processo discursivo) é apagado, fundido no obieto da história social. Reto memos urna das frases de G. Matoré, a que demos realce: “É partindo
mação social. Em resumo, ao se querer apagar o nível discursivo em sua autonomia relativa, ao se assimilar esse nível ao objeto da história e singularmente da história social, acaba se por se instalar deliberada mente numa problemática ideológica da História e da Sociologia. Esta assimilação constitui um verdadeiro obstáculo epistemológico, ao mes mo tempo para o estudo das formações discursivas e para o objeto da História social.
2 . 2.
A palavra como índice de comportamento político e como quantificação
Muitos historiadores que se interessam pelas possíveis relações da Lingüística (com todas as ambigüidades precedentemente evocadas, uma vez que nunca se explicita se essas relações se depreendem de um estudo do sistema, da língua ou de uma Lingüística do discurso) e da História tomam, para tanto, um caminho teórico e metodológico encur tado, e que corre o risco ora de levar a dissabores, ora de fazè-los de monstrar absolutamente aquilo que eles procuram demonstrar — o que vale dizer que, neste domínio, o risco de artefato é grande. É que os historiadores, desde sempre, mantêm certo tipo de relaciona
O CAMPO NOCIONAL DA ARTE E DO ARTISTA DE 1827 a 1834
semântica, eles dirigem sua atenção para o léxico. Ê através dele que pensam escapar dos postulados da imediatez do sentido e da transparência das palavras. Para tanto, formulam uma nova hipótese; a, de um isomorfismo entre, os grupos sociopolíticos e o léxico! Cada grupo político seria assinalado pelo uso específico que fana de certas palavras. Colocadas e côHEecidas as atitudes políticas, espera-se, desejase que lhes correspondam clivagens lingüísticas — mais exatamente, léxicas — pertinentes. O vocabulário seria assim uma espécie de etiqueta fixada sobre cada grupo político, na qual se desdobraria uma visão do mundo coerente, uma linguagem específica. Aliás, não seria necessário conhecer a posição política deste ou daquele; vocabu lário bastaria para defini-lo, para designar-lhe um lugar específico n o t g b u l c i r o político? £ assim que se jaz da palavra o índice de um com portam ento político. Longe de negar o lugar estratégico do léxico, longe de negar a “magia das palavras”, queríamos mostrar, entretanto, que a consideração dada ao léxico s ó pode s e r feita depois de muitas voltas, através de muitas mediações, tão complexo é o estatuto da pa lavra no discurso. A hipótese acima explicitada implica certo número de conclusões. O isomorfismo postulado entre os grupos sociopolíticos e o léxico redunda, como vimos, em encerrar os grupos num léxico que lhes é s cl l
sejam quais forem os caminhos: o candidato é capaz de manter dife rentes discursos." 0
Acrescentemos que estas considerações não são indiferentes ao historiador. Se o lingüista conclui que, de todas as maneiras, o candidato pode tornar efetivo um outro léxico que não o seu, o historiador nSD poderá deduzir diretamente o comportamento político a partir-das pa lavras utilizadas. As conclusões da análise não serão as mesmas do ponto de vista da posição política do candidato, dependendo de se sua fala se insere num discurso de conteúdo de direita, ou num discurso de conteúdo de esquerda, mesmo que formulado numa forma de direita. As razões destas distorções serão procuradas na conjuntura, na base sociológica da circunscrição, etc. Inversamente, poderá ser o caso de um discurso de conteúdo de direita numa forma de esquerda. Vai-se concluir daí que, porque as palavras deste discurso são etiquetadas de esquerda, que o discurso é de esquerda? O perigo que espreita o pesquisador — contra a sua vontade — é postular um segundo isomorfismo que duplique o primeiro, o da prática política, e o da prática discursiva, isomorfismo pensado em termos de transparência. Com efeito, se o assinalamento de termos de esquerda basta para classificar o discurso como de esquerda, vai-se acabar posrulando que o uso do termo paz implica um comportamento político pacifista, que o uso
ele não pertence a este grupo e, por este motivo, este vocabulário aparece como rejeitado, embora empregado.” 10 Um claro exemplo de mascaramento é fornecido pelo estatuto do termo “propriedade”, em suas distribuições específicas, nos cahiers de doléances da nobreza. Sabe-se que repugna à nobreza, nos cahiers de doléances, o uso do termo “ feudalidade” . Este termo funciona como puro signo de reconhecimento ideológico, como puro significante sem significado, como forma disponível a toda matriz de traços fortemente negativizados. Por este motivo, a nobreza vai utilizar, para falar da feudalidade, dos direitos feudais e senhoriais, um termo não marcado, que não a designa enquanto nobreza, que, pelo contrário, afunda numa aparente unanimidade nacional, o de “propriedade”, termo genérico que se presta a todas as ambigüidades. Somente a distribuição, isto é, o contexto, as ligações lógicas entre proposições virão tirar a ambigüidade da noção de propriedade no discurso nobiliário. Jaurès sentiu perfeitamente este fenômeno de mascaramento: "m as, como afirm ar o direito superior da propriedade, para liberar e consolidar a proprie dade burguesa, sem confirmar ao mesmo tempo a propriedade dos monges e dos nobres, os direitos feudais e os bens da Igreja? Justa mente nos seus ‘cadernos’, a nobreza e o clero, sobretudo a nobreza, afirmavam exatamente o respeito absoluto das propriedades, de todas as propriedades e, em nome do direito de propriedade, pretendiam não
tura política, da análise, que é feita, embora intuitivamente, da relação das forças, do jogo das alianças, dos efeitos procurados e visados, etc. Convém concluir provisoriamente que, no discurso, o locutor se dá tal como quer aparecer, ou tal como se~vê em função de seu sistema de representações, e não diretamente tal como sua prática política e como a significação, a função social de sua prática política o define. Convém, enfim, concluir que o estudo das práticas discursivas engrena num estudo das formações Ideológicas e, por este m otivo, nao dá diretamente acesso à prática política em sua objetividade. Entre o dizer e a relação das forças, intercala-se todo um jogo de opacidade, e o problema essencial podería ser enunciado como se segue: dada uma tal conjuntura, por que acontece que tal grupo possui tal discurso, enquanto que em õutfã çpoluntura ele possuía outro; qual o desnível entre os dois discursos? Mas estamos muito longe, aqui, dcTpõstulado do isomorfismo. Na realidade, a palavra encontra-se implicada nu ma proposição, e é esta proposição qu e importa sobremaneira. São estas proposições que subjazem a um modelo ideológico. Es tuda ndo o vocabulário da guerra da Argélia através dos seguintes jornais: L ’Aurore, Le Fígaro, Le Parisién libéré, L e Populaire, Le Monde e L ’H um anité, D. Mal-
a palavra é. por definição, polissêmica; ela é o que a economia da língua permite que seja. Pode, como se diz com um ente, ter vários sentidos; diremos mais: pode implicar uma estrutura profunda das proposições contraditórias, pode conotar esquemas ideológicos opostos. A cíesamblgüização, a triagem da polissemia se faz pelo contexto, pela pró pria estrutura do discurso; pelo sistema de paráfrases sinonímicas, pelos substitutos escolhidos e os valores positivos, negativos, neutros que os afetam; pelo sistema dos antAnjmos. que elucidam o estatuto da palavra, e o tom am unívoco, onde reinava o equívoco. Tomemos o exemplo mais simples que existe: a palavra democracia, usada por todos os grupos políticos, excetuada a extrema direita (e ainda, em certas conjunturas, ela pró pria é levada a utilizá-la). Tom ada como índice do comportamento político, a palavra não nos levará muito longe. Polissêmica, ela pode designar ideais, programas, valores opostos. O que lhe vai conferir seu estatuto político preciso é a proposição que a implica: salvar a democracia ameaçada pelo comunismo
e salvar a democracia ameaçada pelas torpezas do capitalismo
(tomamos de propósito estruturas sintáticas formalmente semelhantes).
tura superficial, não poderia ficar ao nível da palavra, pois esta tem o esta tuto d e polissêmica. 18 Em pregada po r grupos diferen tes, ela muda de sentido, de valor, conforme seja utilizada por um ou por ou tro. Digam os com M. Pêcheux que “ as palavras muda m de sentido segundo as posições daqueles que as empregam”. 18 Outra dificuldade, quando nos atemos à palavra, provém do fato de que certos d po s de análise são impossíveis. Q ua nd o M.-R. G uya rd começou seu estudo sobre 0 Vocabulário Político de P. Éluard 17 em sua poesia, constituiu um índice de palavras por ordem de fre quências decrescentes. Palavras prop riam ente políticas, identificáveis ime diatam ente como políticas, havia m uito poucas. Em co ntrap artida, podia-se nota r a freqüência de palavras pertencente s ao âm bito de campos semânticos não-políticos, dos elementos naturais (sol, noite), da vegetação (árvore, botão, grão, ramo, espinho, fruto, ramo, co lh eit a) . O vocab ulário dos elementos naturais, da vegetação, coloca sempre em obra , e ntretanto , um sema ( + hu m an o) que interessa ao homem e ao jogo dos predeterminantes, dos caracterizantes, assim como o jogo do Nós.
Somos os frutos semelhantes de uma árvore Estamos num só ramo
codo, o que nao é o caso, como o mostramos, insistindo sobre a poli semia das palavras. Além disso, eliminaram-se as combinações nas quais entram as palavras, suas relações. Mas este é um perigo, sobre o qual J.-TT. Marceflesi insistiu por diversas vezes. O discurso político, en qu anto discurso polêmico, reserva à “ injúria" um lugar especial. Ela aparece como uma reformulação que implica uma negação. Diz-se o que seus adversários são e o que não são: "O processo corresponde à reformulação por negação de negação: ao discurso ‘somos socialistas’, responde a injúria ‘vocês não são socialistas’; vocês são de um lado, ‘blumistas, reformistas, traidores da sociedade, confusionistas'; do outro lado, ‘loucos, criminosos, extrem istas’. Sendo a injúria reas sumida, chega-se ao processo inverso: ‘dizem que nós somos — mais injúria —, mas somos socialistas’. Assiste-se assim, de uma maneira curiosa, a uma verdadeira inversão das freqüên das espera das. . . ” 18 É assim que Robespierre coloca muito freqüentemente em cena seus inimigos e os faz falar. O vocabulário que lhes é atribuído está entretanto no nível estatístico; o problema é distinguir que conjunturas se prestam a este jogo de significantes ou, ao contrário, analisar se no discurso político não se insinuaria algo mais. Assim também se passa com os termos rejeitados por outros processos além das aspas e que
2.3 .
A Sociolingüística
Para quem lê a imensa produção consagrada à Sociolingüística, a impressão de mal-estar é inevitável. A busca do objeto específico passa ao segundo plano, por detrás de considerações metodológicas que retomam, seja para criticá-las, seja para utilizá-las, as “análises de conteúdo", ou reflexões e observações teóricas gerais sobre as relações de conjunto do que se chama, no quadro da escola culturalista, a “cul tura ” e a linguagem. Trata-se da hipótese comum ente chamada Sapir-Whorf, segundo a qual “os mundos nos quais vivem as diferentes sociedades são mundos distintos, e não apenas o mesmo mundo sob etiquetas dife rentes” ? 19 Neste caso, çada língua é uma visão do mun do, “uma cultura ideológica" total ou parcialmente irredutível aos outros. De fato, Sapir (e sua escola), como está mostrado num artigo recente, 20 sempre colocou a_tônica na íntima ligação entre a linguagem e o contexto g u tu ra l e social. Ele insistiu no “ sistema expressivo” da língua: “Toda atividade linguística supõe 3 imbricação surpreenden temente complexa de dois sistemas isoláveis que se designara de ma neira um pouco esquemática como um sistema referendai e um sis tema expressivo.” 21 Se o sistema referendai é~ o dom ínio da Lin güística atual, da linguística da língua, o sistema expressivo compreende
gabinete preocupam-se com a língua enquanto código ou esqueleto. Desprezam os produtos da língua ( textos orais ou escrito s) e os laços entre a língua e os elementos paralingüísticos que muitas vezes são determinantes. O ‘terren o’ pode ser assim tan to o boulevard. Saint-Michel como a Terra do Fogo.” 24 Este tex to merece um exame acurado. A ênface é colocada antes de tudo numa relação.
l.° A Etnolingüística, a Sociolingüística, é o estudo das relações entre: a cultura no sentido mais largo do A língua termo o conjunto das circunstâncias da comunicação os elementos paralingüístícos que A mensagem lingüística são muitas vezes determinantes. Esta relação tem por componente um primeiro conjunto (a língua, a mensagem lingüística) e um segundo, muito mais vago e formulado de diversas maneiras (a cu ltu ra), que nãoué^definido. Corre-se o risco de se instalar na evidência culturalista que cria problema. Não seria a cultura, assim, a totalidade dos modelos de comportamento em ação
Não se trata assim de relacionar dois universos, uma vez que eles estão estreitamente enredados, moldados juntos. As expressões “con juntos de circunstâncias da comunicação1’ e “elementos paralingüísticos” fazem apelo a referentes menos globais que o termo “cultura”, mas são imprecisos. Se é preciso conservar o conjunto das circunstâncias da comunicação, e se estas circunstâncias são múltiplas, não se correrá 6 risco de privilegiar certas circunstancias em detrimento de tal outra em função de seus próprios pressupostos, na ausência de uma teoria estrutura da destas “circunstâncias” ? Limitar-se-á então a uma justa posição de fatores, como nas análises de conteúdo: situação de comu nicação (sondagem, entrevista, discurso, etc.), contexto sociocultural (estado social do emitente, estado social do destinatário), psicologia individual, etc. Estes fatores serão agrupados como importando à compreensão da mensagem linguística, mas teremos dificuldade em depreender (ainda uma vez, na ausência de toda teoria) uma hierarquia de fatores, uma ordem. No total, das asserções de B. Po ttier depreendese um objetivo claro: a EtnoLingüística ou Sociolingüística é um estudo de relações, um relacionamento; e vagas propostas quanto à natureza do conjunto correligado com a mensagem lingüística; extralingüístico certamente, mas ou global demais (a cultura no sentido mais largo do termo) ou disperso demais (todas as circunstâncias de comuni cação ).
de Langue frartçaise que ele dirigiu e que texn por título “lingüística e Sociedade” termina por urna grande lição de prudénda metodológica e por algumas propostas: "Erií todo caso, ao nivel dos elementos lin güísticos controláveis (léxicos, por exemplo), as estruturas sociocuiturais e as estruturas lingüísticas estão longe dé ser isomorfas, de coincidir, e deve-se provar cada vez que as invariantes sociológicas escolhidas são pertinentes, do ponto de vista lingüístico, correndo a cada vez o risco de chegar a um artefa to .’’ 31 J.-B. Marcellesi propõe-se dar ao termo covariação seu pleno valor, só depreender a posieriori as relações entre fenómenos sociolingüísticos e socioculturáis. No inído, precisamos de duas descrições paralelas, de maneira a não pos tular implicitamente a dependência do lingüístico face ao social (pois é justamente isso que se trata de v erific ar).” 39 Marcellesi propõe como campo de pesquisa à Sociolingüística o estabelecimento de modelos de grupo, colocados em evidência no quadro da análise dos enunciados por descrições ordenadas: pesquisa de proposições teóricas, ou pro po sições de base, evidendação de enundados comparáveis em relação parafrástica, medida dos afastamentos e n tre grupos. _£jo total, ao nivel metodológico, ele propõe duas descrições paralelas: a descrição sódo histórica, a descrição lingüística, e em seguida o reladonamento dos dois modelos.
1
da sociología americana, e se reduzem a um empirismo, formalizado ou não, a uma justaposição de fatores sem hierarquia, aliás de desigual im portância, e muitas vezes extremamente díspares. “ Far-se-á interv ir o estado social do emitente, o estado social do destinatário, as condições sociais da situação de comunicação (gênero de discurso), os objetivos do pesquisador (explicações históricas, por exemplo), a diferença entre as maneiras com que se utiliza a língua e o que se pensa do comporta mento verbal, o estudo da variação geográfica, enfim, em Sodolingüística aplicada, os problemas do “planificador lingüístico” (lingüista, edu cador, legislador) que se ocupa de frear ou de controlar as variações da língua.” 3a Além da surpresa de constatar, aqui, que os objetivos do pesquisador são levados em conta (o que corre o risco de confundir a formação social considerada e o pesquisador), não se poderá deixar de pensar que os termos “estado social” , “condições sociais" são vagos, globais, podendo tanto conotar uma problemática marxista subvertida (pois há grande distância entre o conceito de classe e o de "estado social” ), como qualquer outra problemática que dê conta do discurso em termos de “conduta social", isto é, em termos de problemática do primado do sujeito individual. Além do mais, constata-se que os fatores são justapostos e não hierarquizados, uma vez que é nitidamente seni sível a falta de uma teoria capaz de hierarquizar os diversos fatores
permanecem separadas. Cada um a delas utiliza a outra num sentido que não é o s eu . . . Para o lingüista, só pode tratar-se de uma socio logia lingüística, isto é, de uma sociologia dada antes da investigação lingüística (grupos-sistemas). Se a Sociolingüistica tem um sentido, é o de um acesso radicalmente intralingüístico às mediações da vida social." 84 Esta necessidade de dar acesso à vida social, permanecendo
rigorosamente no interior do campo lingüístico, é formulada de novo por J. Sumpf, a propósito dos estudos de P. Bourdieu e Cl. Passeron. O ■que distingue, fundamentalmente, aos seus olhos, a tipologia dos discursos e a tipologia sociológica é que, nesta última, “o implícito não está nos dados, não resulta de uma análise imánente, deles: é um sen tido escondido, só apreensível por uma colocação crítica da questão a pa rtir da noção de classe”. 3S Encontram os o mesmo principio de base em L. Guespin: "Se o que a ideologia significa socialmente estava fora do campo da Lingüística, seria necessário admitir de urna vez por todas que a análise do discurso é impossível." 36 O que implica, urna vez que a análise do discurso é possível, que a análise lingüística pode tirar concluso» sobre a função discursiva e, em última análise, sobre a função da ideologia numa dada formação social. Enfim, encontramos a mesma hipótese em Fontana,37 que procura métodos capazes de
o risco não somente de cortar a análise destes sistemas sig n ifira n t<»<; de sua relação com a historia e com o sujeito, mas também de nunca podêrc lu cidar a produção e a transformaçãointernas ou extern*? rWtw: sist emas. . 42 É mostrar explidtamérite a necessidade de ultrapassar o quadro da análise interna. Não seria necessário concluir, diante de todas essas advertencias, por uma condenação dos múltiplos esforços que se desenvolvem na época atual, era diversas direções. Se é necessário uma teoria da arti culação da prática discursiva com o conjunto da formação social, vamos dizê-lo com franqueza, atualmente tal teoria não existe. E isso bastaria para justificar, embora com todas as suas insuficiencias, todas as te n tativas pioneiras de que falamos.
Notas do capítulo 2 1. 2.
3. 4. 5. 6.
7. 8
París, Didier, 1953. G. M a t o i é , op. á t., pp. 13, 49, 50, 92. Esses quadros estão repro duz idos nesta mesma obra, p. 37. A. J. G e e i m a s , La Mode en 1830: essai de description du vocabulaire d'aprés les journaux de mode de l'époque, 1948. B. Q u e m a d a , Le Commerce amoureux dans les romans mondains (1640-1670), París, 1949. G. P r o v o s t , “Problémes théoriques et méthodologiques en analyse du discours”, Langue française, n* 9, fevereiro de 1971, pp. 8-9. J.-B. Ma i c e l l e s i , "Problémes d e sodo-linguistique: le congrés de Tours”, La Pensée, outubro d e 1970, pp. 68 e s. A. P “Vocabulaire et typologic des familles politiques”, Cahiers de G. M a
t m é
, La Métbode en lexicologie,
13. 14. 15.
16. 17.
D. Ma l d i d i e r , “Discours politique et guerre d’Algérie”, La Pensée, n.® 157, ju nho de 1971, pp. 87-88. Ve r o cap ítulo sob re a análise do discurso em Langages 13. Ê assim que M. La u n a y e J.-N. Go u l e mo t escrevem em “Tenants et aboutissants d ’un e rech erch e sur le vocabu laire de Rousseau et l ’histo ire des idees au XVIIP siécle” in Langages 11, p. 108: “Embora haja, como para todas as coisas, um bom e um mau uso dos índices. As nossas custas, apre ndem os qu e era ilusão acreditar, por exemplo, que, no século X V II I, os usos da palavra “re volu ção” abrangiam exatam ente todas as an álises do conceito de revolução política, e logo nos pareceu que não apenas a idéia de revolução era freqüentemente expressa por meio de outras palavras, mas também que a própria palavra revolução não implicava necessariamente a idéia de revo lução política. N este sentido, os índices podem constituir fon te de erro. E, entretanto, se apresentamos uma primeira discriminação entre os usos políticos e os não-políticos, recorrendo ao contexto da palavra revolução, e se estuda mos as correlações dos primeiros e, procedendo por constelações, as corre lações de seus correlatos essenciais, conseguimos uma análise perfeitamente rigorosa da idéia de revolução nos textos que nos propúnhamos a estudar.” (G rifo nosso .) A pe lar para o contex to, para as correlações e dep ois para as correlações dos correlatos mostra claramente a necessidade de não se limitar às palavras, mesmo e principalmente quando se estabelece como objetivo o estudo de uma “palavra”. G . H a r o c h e , P. H e r n y , M. P í c h e u x , artigo citado. M.-R. G u y a r d , Le Vocabulaire politique de Paul Eluard, tese de 3.® ciclo, Nice, 1971, in édito
30.
G tad o par J.-B. M a i c e l l e s i , “Prósentation", in Langue françatse, n.° 9, fevereiro de 1971, p. 3. 31. J.-B. M a i c e l l e s i , “Linguistique et groupes sociaux”, in Lan gue Française, n* 9, p. 119. 32. J.-B. M a i c e l l e s i , obra citada. 33. J.-B. M a i c e l l e s i , "Présentation”, artigo citado, pp. 3 e 4. 34. J. S u m p f , "Linguistique et soriologie”, in Langages, n* 11, p. 26. 33. J. S u m p f , “Introduction à une recberche linguistique en pédagogie”, in Langue française, n.° 5, p. 22. 36. L. G u e s p i n , “Problèraatique des travaux sur le discours politique", in Lan gages, n* 23, p. 21. F o n t a n a , obra citada, em colaboração com F. F u r e t . 37. 38. V er a respeito as notas de J. K r is t e v a in Cinéthique, 9/10. 39. Ê a parte mais clara da obra de Lé v i -St x a u s s e, particularmente, de sua tese Les Strudures élémentaires de la parenté, Paris, Mouton, 1949. 40. B. B a r t h e s , Le Système de la mode, Paris, Le Seuil, 1967. 41. J. K r is t e va escreve a propó sito: “ A Lingüística, a Antropologia Estrutu ral, a Semiótica construíram sistemas significantes a partir do que denominamos ‘ideologias’. Abrindo a po ssibilidade de uma ciênda das formações signifi cantes, essa tentativa é chda de conseqüêndas que limitam seu alcance cien tífico” ( Cimétbique 9/10, p. 73). 42. J. K r is t e v a , Cinéthique 9/10, p. 73.
Ca p í t u l o 3
OS HISTORIADORES E O CAMPO LINGÜÍSTICO
3.1.
Análises temáticas e análises de conteúdo
Os historiadores, como já observamos, mantiveram sempre certa relação com a língua e a linguagem, que foi por muito tempo a da transparência. Assim também ocorreu, muito frequentem ente, com sociólogos e especialistas da literatura. Daí o método de abordagem dos textos ser essencialmente temático. Dejjne-se domínio explo
ao menos expõe os termos nos quais ele próprio o formula. [ . . . ] “Mounier, refere ele, e os imitadores do governo inglês propunham ‘representantes da maioria da nação’ na ausência da minoria [ . . . ] Mirabeau preferia a fórmula “ representan tes do povo francês” . Esta expressão, dizia, era elástica, podia ao mesmo tempo dizer muito e dizer pouco. É esta precisamente a censura que lhe fizeram dois emi nentes juristas, Target, de Paris, e Th ou ret, de Rouen. Eles lhe perguntaram se povo significava plebs ou pop ulus. O equívoco estava posto a nu. Sob a mesma forma, o equívoco persiste na obra de Michelet. Quando ele cede a seu instinto, consulta sua experiência de menino de rua, revive a atmosfera das jomadas revolucionárias, pensa “ plebe” quando escreve "p ovo” . Mas quando acontece de ele cair em si, seja para respeitar a verdade histórica, seja para não comprometer o futuro da democracia, então traduz mentalmente povo por populu s." 2 É inútil debruçar-se sobre termos que são apresentados como evidências semânticas e que na realidade criam problema: “instinto”, “cair em si” , “ verdade histórica” , “ debate de consciência” . Não é sobre isso que queremos insistir. Para nós, é precisamente o próprio equívoco da noção de povo que coloca o problema e que cumpre explicar sem reco rrer a uma causalidade psicológica. É o funcionamento polissêmico
diversas, a análise de conteúdo, aperfeiçoada por especialistas ameri canos, é muito praticada na França, sobretudo pelos sociólogos e pelos historiadore s da imprensa. Ela põe em ação categorias complexas que, segundo M. G ra w itz ,4 devem ser: exaustivas, a saber: o conjunto deve poder sei^inteñam ente analisado; exclusivas: não deve hayer relações de inclusão ou de intersecção entre as diversas categorias. Os mesmos elementos não devem pertencer a categorias diferentes;
— objetivMuPS diferentes codificadores devem poder classificar os mesmos elementos nas mesmas categorias, ou melhor, a escolha da categoria não deve depender muito estreitamente da personalidade e dá escolha subjetiva do codificador; — pertinentes: isto é, em estreita relação com o conteúdo a ser anali sado, o que exclui os visores preestablecidos, antes de uma feitura instrumentada e meditada do texto a ser analisado.
Tomadas estas precauções, a análise de conteúdo pode assumir diversas formas. Ela se propõe principalmente o estudo quantificado dos temas de uma obra, de um diário ou de um periódico, a fira de trazer à luz os centros de interesse do jornal e a evolução desses centros de interesse: ela pode preocupar-se com imagens, metáforas e metoni mias que balizam o texto. Muitos estudos se interessam pelos valores
Os meios da educação moral: — — — — — — — — —
lealdade com relação à universidade nacional e leiga, lealdade com relação à instituição. exílio do mundo como condição e vantagem da educação, valor educativo da disciplina, ação dos companheiros na formação do caráter, consideração das diferenças individuais entre os alunos, utilização das tendências lúdicas, exemplo moral dos professores, ascendência voluntária dos professores.
A definição institucional: — é bom que a definição central do ensino secundário mude para adaptar-se às mudanças sociais, — a escolaridade de nível secundário deve ser longa, — o ensino secundário deve bastar aos alunos, não há necessidade de continuação, — as escolas não devem preparar o futuro profissional, — o público visado é a elite social.
.
6
.
absoluta 9b
ponderada (O/00)
Médias
2.84
263
6,69
11.91
2,89
8J03 4.01 3.7
56 1.4 24.8
43 03 9.1
33 — 03 413.6 4-
2.64 — 0.34 + 5.03 -
54 4-
3.6
48.7
173
13 +
035 +
3
3,6 33 33 3.2
53 63 03 15
193 2.1 0.1 43
83 443 + 03 + 133 -
3,08 1.70 0.1 4.32
15 +
3,08
223
7
183 -
5,60 —
79 —
3,02
22.4
6.7
113 +
3,47 +
51 4-
26 26
53.9
10
2.60 —
18 — 78
7. 8, 9. 10. 11. 12
ORIENTAÇÃO
UNIDADES DE INFORMAÇÃO
1. 2. 3. 4. 5
POLITIZAÇÀO
FREQÜÊNQA 96
Programa Cenário K., o homem Acolhida no interior Acolhida parisiense K. feliz Gastronomia Nina O* comuniataa franceses O desarmamento e a paz Os partidos e os sindicatos franceses i
14
abioiuta 9b
4
—
ponderada (O/00)
ENGAJA MENTO 9b
55
4
4+ + 4-
+
90 4-
parisienses (L ’Humanité, Le Monde, L ’Aurore, Le Fígaro, Le Parisién tíbéré, Paris-jour, Franee-soir) e em nove semanários (Carrefour, L ’Express, France-Observateur, París-Match 7 France-Dimanche, Point de vue, ]ours de France, Noir et Blanc, Elle). Ela recorta a informação recolhida em “unidade de informação” : “ Quando a multidão é ‘densa e agita bandeiras’ diante de K em um jornal, e ‘dispersa e silenciosa’ em outro, na mesma hora, no mesmo lugar, as duas informações, por distintas que sejam em seus predicados, subordinam-se a um mesmo tema que podemos designar pelo termo ‘acolhida parisiense’. ” * Assim, segundo seus próprios termos, “a unidade de informação é pois extraída da escrita para designar os elementos persistentes de uma informação a outra e objetivar a enumeração daquilo que se repete através daquilo que muda". B Assim isoladas, as unidades de informação são confrontáveis, quantificáveis. Elas são determinadas pelo índice de freqüência, pelo índice de politização absoluta, pelo índice de politização ponde rada, pelo índice de orientação absoluta, pelo índice de orientação pon derada, pelo índice de engajamento. Estes seis índices constituem o dia grama inidal de cada unidade. As 8 532 unidade de informação obtidas foram, após descodificaçãò, reagrupadas em 69 cátegorias, das quais as 26 primeiras são essenciais. As categorias foram posteriormente reagrupadas para constituir
2* tema: Unidades
Krutcbev-De
Diarios
Semanarios
258 252 187 175 164 85 83 78
45 70 46 41 39
68
23 26
Gaulle
K. feliz K., o homem K. comunista K. chefe de govemo K. De Gaulle K. liberal K. dirige-se a De Gaulle K, sério K. camponês e astucioso De Gaulle dirige-se a K. K. descontente De Gaulle TOTAL índice de freqüénda
11 16 22
60 35 33 1 478 dos qua is 167 + e 117 —
18 363 dos quais 53 + e 53 —
20%
28%
241
17
6
3* tema: Problemas políticos Unidades 0 desarmamento e a paz Os partidos e os sindicatos fran-
Diários
Semanários
206 170 161 156 84 38 36 35 32 20 13 10 961 dos quais 120 + e 21 —
68 12 29 23 13 23 1 14 3 43 0 1 230 dos quais 40 + e 4 -
13%
18 %
4 ' tema: 0 meio Unidades N in a Os jornalistas Políticos e economistas Kir Os filhos de K. K. e Nina Os policiais A família K. N in a e a Sra. De G aulle Os artistas Os sábios Os intérpretes TOTAL índice de freqõênda
5.* tema:
Afinidades “naturais'’ dos dois poises
Unidades
Diários
Semanários
257 191 40 37 37 30 29 22 20 13 13
18 5 2 26 0 0 6 4 2 2 2
7 696 dos quais 5 4- e 2 — 9%
0 67 dos quais 5 -f- c 1 — 596
7 256 dos quais 992 4- e 672 —
1 276 dos quais 223 + e 178 —
6 ° tema: Os relés
Unidades A gastronomia Os presentes Os castelos A costura As escolas A Ópera As Galerias Lafayette 0 milho Os museus As catedrais O carneiro Os hospitais TOTA L Índice de freqüência TOTAL
científica permanece constante ao longo do século X V III. A análise de conteúdo permite, assim, confirmar ou infirmar os dados da intuição,
e institucional. Os mestres do positivismo histórico distinguiram-se ftíssõ õúfrora. É o que refere Marc Bloch em sua Apologie po ur l'histoire, que protesta contra os historiadores que ignoram “as aqui sições fundamentais da Lingüística” . Seu estudo sobre a “ sociedade feudal” abre-se a uma verdadeira investigação lexicográfica e lexico lógica relativa a “feudo” e a “feudalidade” . De Richelet que, em 1630, conferia à noção de feudo apenas um sentido exclusivamente jurídico, “termo de palácio”, até ao Dictionnaire de 1'Académie, Marc Bloch mostra que espessura de tempo foi necessário atravessar para que o termo genérico feudalidade se tomasse ambíguo, poiissêmico; primeiro com Boulainvilliers, em seguida com a Revolução, Marc Bloch percebe o funcionamento significante do termo, uma vez que, escreve, “feuda lidade” acaba por recobrir “um conjunto criticado de imagens, em que o feudo propriamente dito cessou de figurar em primeiro plano” . 10 Tendo partido do estudo de uma noção antes de tudo jurídica e insti tucional, ele chega a circunscrever uma noção complexa, mais ideoló gica do que jurídica, que acaba por se identificar a um sistema de valores e de representações. O mesmo esforço, ao mesmo tempo lexicográfico e lexicológico, pode ser encontrado em Ch. Petit-D utaillis. Num primeiro capítulo, “ como definir a comuna” 11 ele evoca a possibilidade de reunir todos
lógica: segundo as expressões de L. Febvre, ele apresentará César ou Luís XIV em Dupont Durand, de 1938, com as preocupações dos pequenos burgueses de 1938; mostrar-se-á incapaz de. assinalar um lugar e urna historia próprias às estruturas, mutações e transformações ideo lógicas. Tal abordagem implica uma filosofia, uma problemática da natureza humana idêntica a si própria através dos séculos, e da perma nência das sensibilidades. Po r isto, ela permanece prisioneira de uma problemática do primado do sujeito individual, soberano e transparente a si. Leitura a-histórica da História, que se desenvolve na boa .cons ciência, como se Marx e Freud não tivessem existido, e estabelecido, em seus campos, rupturas fundamentais. Outro perigo se segue: o da reduplicação da evidência ideológica. Se as noções são dadas na trans parência de seu ; sentidos, não será possível explicá-las, levá-las em consideracão. Só i jstará nos enrolarmos no interior do sistema ideológico que se deve supostamente explicar, e reduplica-lo no plano da pará frase — este silêncio tagarela — aceitando sem questionamento nem Interrogação o jogo de suas evidências e de suas representações.
3.3.
De Lucien Febvre a Alphonse Dupront L. Febvre fez muito para que no campo histórico entrassem as
tados pelos historiadores das sociedades rurais, nos revelam tantas infor mações preciosas, que só eles podem revelar. Não por menos, é neces sária a colaboração destes “semantistas” que, restituindo-nos a his tória de palavras particularmente carregadas de sentido, escrevem ao mesmo tempo capítulos precisos de história das idéias. É necessária a colaboração destes historiadores de línguas, como Meillet, que escre veu a história da língua grega, como Ferdinand Brunot, que seguiu passo a passo os destinos da língua francesa, historiadores que assi nalam o aparecimento, em certas datas, de todo um contingente de termos novos ou de novos sentidos dados a velhas palavras.” 13 No conjunto dos artigos reunidos para form ar em 1953 os Com báis pour l'histoire, a Lingüística figura, com a Psicologia, na rubrica das “ Alianças e apoios” da His tó ria.13 Estes artigos têm todos um traço comum: é que a Lingüística, à qual fazem alusão ou referência, de Meillet a Brunot, passando pelos dialetólogos, é uma lingüistica pré-cstrutural, uma lingüística histórica. Nada de surpreendente que L. Febvre não tenha conhecido os trabalhos de Saussure. Sabe-se que estes foram introduzidos bem tardíamente no meio dos lingüistas, com maior razão entre o público não linguista. Q ue ele não tenha ouvido falar, ele que estava incansavelmente à espreita de renovações não factícias, da escola de Praga, de Copenhague, de Jakobson e de Ben-
fica isso, senão que a noção de civilização sd aparece quando suas con dições de possibilidade se fixaram e quando ela exprime como que a síntese de uma sincronia sociocultural precisa; que ela se articula numa estrutura mental e social precisa ou, em outros termos, que ela pertence a uma “epistèmê” e não a uma outra. Assim também ocorre com a noção de “aparelhagem mental” e com o problema do ateísmo no tempo de Rabelais. É em termos de sincronia e de estrutura que L. Febvre pensa; tanto é assim que nos encontramos em pleno paradoxo. L. Febvre não se inspira, de modo nenhum, na Lingüística estrutural deri vada do modelo fonológico, menos ainda na sua exportação enquanto modelo epistemológico no campo das outras ciências humanas. Só mantém contacto com a Lingüística Histórica e pré-estrutural. Em com pensação, em História, nos novos domínios que traça, sensibilidade cole tiva, estruturas mentais, psicologias coletivas ou individuais, sensibili dades biopsicológicas — introduz uma espécie de estudo estrutural nãoformalizado, sincrónico, das intcr-relações entre os diversos elementos do todo social: o estudo das rupturas ao lado do das continuidades e permanências. Ninguém era mais bem qualificado que ele para deparar uma nova Lingüística, o que não fez, mas nada perdemos com isso, uma vez que, quase sozinho, sem grandes apoios, ele permitiu uma verdadeira renovação do campo histórico.
chegará, talvez, a determinar cenas mudanças que se operam no com ponamento dos homens frente ao social e à vida real.” 16 Estas repre sentações revestem-se de uma materialidade que lhes ê p r ó p r ia : a de suas~práticas e dos aparelhos ideológicos oue os impliram Daí, um novo dominio de estudos em História Medieval e, mais particular mente, no que concerne às sociedades feudais, o das relações de paren tesco, familiares no sentido largo do termo, as formas da sexualidade, os quadros mentais dos “ jovens”,- celibatários da classe aristocrática, por oposição aos “ senhores” casados e providos de bens imóveis; a pesquisa da evolução da idéia de nobreza, do nascimento à solidificação, através de suas múltiplas desagregações ou transformações, e dos novos rituais que se forjam numa classe dominante ameaçada; finalmente, a pesquisa da transmissão dos modelos culturais, _cfos^processos de educaçaq^qüe transmitem complexos ^3e noções, de imagens, de mitos; a atenção dada, enfim, à linguagem, à Cüntribüição possível da Lingüís tica. “ Entre estes ‘instrumentos’, cujo estudo se impõe efetivamente, vem em primeiro lugar a linguagem — entendida como os diversos meios de expressão que o indivíduo recebe do grupo social em qüe vive, e que servem de quadro a toda a sua vida mental. Como penetrar na consciência dos homens de tal meio, como explicar sua conduta, as relações que des mantêm, tentar ver o mundo e o outro por seus
" comportamento”, em seguida; “toda.-psicologia coletiva é também uma psicologia do comportamento. .. os atos... na falta de palavras, fornecem-nos uma parte válida destas representações mentais estru turais qué queremos delimitar”. 19 Visão do mundo e comportamentos ou, mais exatamente, visões do mundo materializadas nos compor tamentos constituem a trama tanto dos F u g g e r s ^ como de Magistrais et sorciers en France au X V I I siècle. 21 Les Fuggers propriétaires fonciers en Souabe é um estudo de comportamento. Numa outra lin guagem e numa outra conceitualização diríamos que é um estudo da ideologia na prática econômica: “Assim se pode definir o objetivo deste trabalho: tentar apreender, com a ajuda das relações feitas pelos Fuggers de seus bens imóveis na Suábia, a realidade de seus comportamentos neste domínio." 21 A especulação imobiliária não deve ser considerada como um ornamento, um simples jogo de prestígio social. É muito rendosa e permite a essa dinastia de grandes comerciantes e banqueiros enraizar-se profundamente no sistema senhorial. Magistrais et sorciers inscreve-se no mesmo campo de pesquisas que L'H isto ire de la folie, de M. Foucault. Trata-se de estudar como se dissolve uma estrutura mental coletiva, tenaz, vinda aparentemente do fundo das idades, per manente e estável; como nasce uma nova estrutura mental, com seu sistema próprio de relações intemodonais, sua própria coerência, e como
coletivo, é uma das matérias mais oferecidas e, assim, a presa natural e necessária do historiador." 24 No entanto, a linguagem, esta via real "do sentido", pouco tem preocupado os historiadores. Por várias vezes, A. Dupront constata esta lacuna incalculável, esta fenda no flanco da História. “No plano coletivo, a evidência das escolhas é uma das mais seguras manifestações do gênio comum. Ainda muito mal com preendida, uma vez que os historiadores de todas as ordens deram até aqui pouca atenção à linguagem . . . ” 23 Ou ainda, de modo muito mais crítico: “Em todos os casos, até aqui, a Historiografia tratou a linguagem quase como todos os outros signos, da maneira mais bruta e mais exterior, visando apenas o que ela dizia (interpretado do modo mais cursivo e mais superficial), e não o que ela queria dizer.” 28 É que, para A. Dupront, a semântica histórica tem necessidade, para se constituir e se definir, de proceder a uma crítica radical e sem compla cência da Historiografia, desde a mais tradicional, a dos acontecimentos, até a mais modernista, estrutural, econômico-sodal, quantitativa, mesmo a total. A História é essencialmente conrinufsta, história do pleno, do sonoro, sem ausência, sem silêncio. "Como a Natureza, o historiador tinha horror dò vazio; suprimia-o com presteza. . . deste descontínuo orgânico, dado primitivo e fundante da matéria, fazíamos, tranquila
A resposta a esta Historia ideológica, continuísta, História das supe r f i ^ H8^ * virá da lingüística. H á e m A. Dupront uma euforia pdmingüística, que não deixa de apresentar perigo sob alguns aspectos. A Linguística impõe-se como verdadeiro modelo no sentido fone do termo ( a Lingüística da língua em seu quadro fonológico, numa palavra, a^Tdngüística estrutural). Desta Linguística veio “o choque libera dor” S1 com Saussure, quando, definindo o objeto desta ciênda, ele postula com força a autonomia da língua: “ A Lingüística tem como único e verdadeiro objeto a língua, encarada nda mesma e por si mes ma.” 32 Esta autonomia da língua será vigorosamente postulada pelo ^ historiador da semântica histórica. É um primeiro elemento que impõe o modelo resolutamente estruturalista, como não deixa de fazer crer a coerência das referências: Saussure, Troubetzkoy, sem esquecer LéviStrauss. Outro elemento decisivo derivado do modelo, a liberaçãc “das cenezas do original”, 33 a relação e o sistema das inter-relaçõeí substituídas pela problemática da origem, de um lado, e pela causali dade, de outro lado. É ainda para A. Dupront o lugar e a ocasião de criticar a Historiografia por suas leituras causais da História, por seus esquemas demasiado simples e lineares, inicuamente inscritos na trilogia causas/acontecimemos/conseqüências. É_ necessário substituir , resolutamente a procura da causalidade pela dinâmica própria das re
e da pluralidade dos sentidos. A língua é enfim pensada em sua neu tralidade ideológica, o que autoriza a se refugiar por detrás do rigor, da objetividade da Lingüística; “ criar ara material” objetivo. A caução da Lingüística é aqui todo-poderosa e pioneira para obrigar a um apro fundamento da H is to ria .. . “ Esta referência fundamental à Lingüística inaugura o campo novo da semántica histórica como busca do sentido através da linguagem” ; a linguagem e, na linguagem, a. vocabulário , são vías ¿o sentido. 39 Todo docum ento, todo texto, é portado r de uma ordem do mundo que lhe é específica, de uma ordem a ser deci frada. Daí um tratam ento particular da linguagem que perm ite ficar à espreita do sentido. Não se trata mais, à imagem da Historiog rafia tradicional, de considerar a língua simplesmente como um meio, mas de tratá-la "em sua organicidade próp ria” . 40 Três operações indispen sáveis desenham o lugar da semântica histórica. Em prim eiro lugar, a extração ou abstração. Nela se funda a necessidade de desestru tu ra r o texto, de romper a ordem e a arquitetura do discurso, para extrair palayras c_noções. Tomados fora da cadeia falada, estas palavras e noções devem ser mantidas “ em situação” . Com efeito, todo corpus consti tuído por noções extraídas da cadeia falada em que funcionam está no entanto situado no tempo, emana de autores engajados em meios sociais is Além diss dada lí
permitia revelar, ou apenas por impressão mais ou menos fundada” . 41 A semântica histórica constitui-se assim como disciplina-encruzilhada, dependente de numerosas outras disciplinas, da pesquisa lingüística, da Antropologia, da Filologia Histórica e da Dialetologia. Sua definição mais imediata — provisória, mas quanto evocadora pelo caráter vago, global, hermenêutico de sua declaração, — poderia resumir-se como se segue: uma “ investigação do comércio do sentido no passado’’. 42 Além destes dados iniciais, a semântica histórica encontra-se no momento centrada na palavra e na quantificação. Centrada na palavra, e'A.^Dupront tem consciência de que aí se situa uma “limitação evi dente e provisória” , 4S que falta à investigação todo um conjunto de estruturas não menos significativas, a gramática, a estilística, as formas retóricas, estruturas e disposições lógicas, as ligações de todas as espécies, os ritmos, os cortes e os silêncios. Todos elementos revela dores de escolha e, portanto, de implícito. “Uma primeira pesquisa do sentido se acrisolou na palavra. Pode ser seguro começar imediata mente por ela.” 44 A semântica histórica, nos seus primeiros passos, é pois uma história do signo em sua vida linear. Perscruta o nascimento da palavra, seu desaparecimento, as etapas de seu percurso, a continui dade de seu.uso. Assim, “ civilização”, nascida por volta de 1756 e que levou ao menos três decênios para se propagar num meio cultural ainda
organizam-se ao mesmo tempo os esquemas recorrendais, "as palavrasobsessão” tais como abuso ou reformas, e as espedíiddades; os diversos níveis de cultura e sua interpenetração, desde a queixa falada, transcri ção escrita direta do oral, desde o "oral resmungado”, até o estilo dos ofidais de província, caso que constitui a maioria, relativamente afas tado das grandes noções das luzes. "N o visor de nossa prospecção , palavras-noções, tais como felicidade, civilização, educação, in strução, moral, progresso, revolução, sensibilidade, sociabilidade, permanecem, ao nível dos "cahiers” de paróquia, perfeitamente es po rád ica s.. . Ab un dariam exemplos para atestar que, madçamente, o vocabulário das luzes, em plena fermentação desde uma trintena de anos, em nada atingiu o mundo dos pequenos of i da i s. . 49 C entrada na palavra, a semântica histórica, aqui mais exatamente a lexicología histórica, constrói-se um vasto programa de investigação: espedíiddade do vocabu lário de um autor, relações deste vocabulário com o meio sodal con temporâneo e, além disso, o lugar deste vocabulário no corpus verbal da língua vernácula, 50 recepção de vocabulários técnicos, etc. Já em 1964, A. Dupront traçava um vasto projeto de constituição de índice: "a fim de dar, ao considerável trabalho representado pelo exame metó dico da ‘forma’ dos cahiers o máximo de eficáda para os estudos his tóricos posteriores, convém p rever ao menos três índices. 0 _ p jim ei ro
mental e subjacente une, além de seus combates ideológicos, os voca bularios da escrita mística da primeira metade do século X V III e a dos “mais ferventes escritos, os mais dispensadores de luzes, da se gunda metade do século XVIII”. 53 Proxim idade devida não ao con teúdo, mas às imagens. "Se m falar de influência, se tivesse havido transferência? ou prova preliminar, rara, antes que uma outra igreja, leiga, dela se tivesse apoderado.” 54 Magistral dem onstraç ão. Con teúdos contraditórios, opostos, notadamente contrastados, podem, na realidade, ao nível “ das profundezas" — para retom ar um term o que A. D upro nt e stima especialmente — an nível do que não é exatamente um inconsciente coletivo, mas onde se forjara esquemas de muita força que escapam ao vivido consciente dos homens, neste nível, em que trabalha a semândca histórica, estes conteúdos podem revelar uma ordem do discurso comum, urna mesma problemática que se atrib ui, atravesTae imagens comuns, “cachos associativos” que têm a aparência disso. O qu e pode have r de mais heurístico que eviden ciar, além das oposições lógicas da superfície discursiva, estas redes secretas e mis teriosas, à primeira vista, em que age e se agita o que A. Dupront chama “o sentido"! Há enfim, em A. Dupront, senão uma "euforia quamitativista", menos um hino bem fundado do m étodo estatístico. Ne nhum
à codificação das inter-relações. En tão aniraa-se, encontra-se em ato “ um misterioso e real anônimo coletivo” . 57 A quantificação ensina, por sua massa, pelo evidenriam ento das escolhas que produz. “ Disse mos mais adma que esta ponderação por grandes massas era uma das vias mais seguras para uma análise bruta das escolhas da alma coletiva. Quem podería assim pensar que tratar do livro com métodos quanti tativos é degradar grosseiramente sua virtude? ” 58 A quantificação, além disso, permite atingir três estratos fundamentais da linguagem: o maciço, o comum, o único. O maciço, que circunscreve as zonas de intensidade, do confonnismo social, do clichê e do estereótipo: o comum, base média sobre a qual se estabelece, para um dado grupo social, a comunicação e o universo mental que ela. implica; enfim , o único, “o mais carregado de informações, de esperas, de desven turas” . 59 Não há ciência senão do comensurável, pegamos o hábito de afirmar. Desde há muito este adágio encontra-se no horizonte das pesquisas de história econômica e de história social. Os fatos de men talidade e principalmente os de linguagem, por sua vez, entram no do mínio que já tem suas cartas de nobreza, da história quan titativa. “ Todo fato da língua pode definir-se por sua fre qü ên da no discurso.” Esta frase de P. Guiraud, citada pertinentemente por A. Dupront, justifica no plano epistemológico a preeminência atribuída à quantificação, por
isto é, as raízes do sentid o. . . ” 80 — e aí está o ponto estratégico de sua relaçIcTcom Freud e com a psicanálise, no estatuto ambíguo, opaco no limite mistificador da palavra “sentido” que A. Dupront coloca no coração da semântica histórica. Este sentido é construído o u é a mani festação de um sentido? A psicanálise de A. Dupront toma todas as aparências de uma hermenêutica. Sua referência a P. Ricoeur fomece-lhe a chave. “Contestando à análise estrutural o poder de esgotar o sentido destes símbolos, ela (a reflexão de P. Ricoeur) introduz a noção de 'mais valia inicial de sentido’, esta mais valia 'que motiva tradição e interpretação’. Não uma vólta ao original, mas consciência de uma força criadora inicial que, na diacronia, distribui-se e explicita-se [ . . . ] Desde então, a História seria descrição, a partir de seu material sem pre fragmentário, desta explicitação e, por conseguinte, remontada para o original, ao mesmo tempo que atestação da força da criação humana, virtualm ente inesgotável. Duplo mo vim ento que é o único verdadeiro ‘sentido da história ’. . . ” 8L Não podería aproximar-se melhor deste
sentido criado, dado, original, a ser revelado pela linguagem na História. Mas, é preciso dizê-lo claramente, Freud, com» Niefs:gçb f e Marxr nns diversos d o m í n i o s , f o r a m ps destruidores deste sentido c s u b s t it u í r a m no por um sentido construído e construindo-se — por uma produção. Tanto que nos parece que a psicanálise sai daí subvertida, mistificada e mística ao mesmo tempo, ao contrário da obra de FrêuüT81 H á em
urna certeza: o paniingüistismo pode constituir para ela apenas um obs táculo epistemológico. Ad otar o modelo fonológico, transpô-lo, abrigar se atrás ou sob a bandeira da Lingüística Estrutural, numa época em que a Lingüística, não só recolocou em questão alguns postulados fun damentais do saussurismo, como a dicotomía língua-palavra, mas se pro põe a ultrapassar o chomskysmo e seus pressupostos, num momento de profunda renovação e de questionamento, não deixa de representar um perigo. Com direção ainda pouco segura, titubeante, tropeçante, mas fecunda, não é ela visível num certo número de pesquisas, ainda pouco balizadas mas em via de constituição, so bre as relações entre marxismo e psicanálise,88 entre funcionamento significante da lingua gem e ideologia, 84 entre lingüística do discurso, formações discursivas e formações sociais?
Notas do capítulo 3
1. 2. 3. 4. 5. 6.
7.
P. V ia l l a n e ix , La voie royale, essai sur l'idée de peuple dans Voeuvre de Michelet, Paris, 1959. P. V i a l l a n e ix , obra citada, p. 251. A. J. G r e im a s , “Histoire et linguistique”, in Armales E. S. C., janeiro-março de 1958, pp. 110-114. M. G r a w i t z , Méthodes des sáertces sociales, Paris, P.U.F., 1961. V. I s a m b e k t -J a m a t i , Crises de la sociéti, crise de l’enseignemcnt, Paris, P.U.F., 1970, (Bibliothèquc de sodologie contemporaine). Violette Mo h í n , L'Écrtture de presse, Paris, Mouton, 1969, citações das pp. 26-27, 31, 61. J. E h r a r d e J. R o g e e , Dois periódicos franceses no século XVIII, Le Journal des savants e Les Mémoires de Trévoux, tentativa de estudo quan titativo in Livre et sociéti dans la France du XV111“ siècle, t. 1, Paris,
B. B e r e l s o n , G. Bó l l e m e , P. Bo u r d i e u e M. de Sa i n t -Ma r t i n , M. D u v e r g e », R. Es t i v a l s , J. E h r a x d e J . R o g e r , A. G u e d j e J. G i r a u l t , J. G r i t i t , H. D. L a s s w e l l , P. H e n r y e S. Moscovia, V. I s a m b e r t -J a m a t i , A. K i e n t z , S. M o l l o , V. M o r i n , J. O z o u f , R. P i n t o e M. G r a v o t z , S. P r u n i è r e s , L. Q u e s n e l . 9.
Analyse automatique du discours, Paris, Dunod, 1969, La Sociéti féodale, Paris, A. Michel, 1939, reed. em
M. P ê c h e u x ,
p. 4.
10.
M. B l o c h , p. 13 da última edição.
1968,
11.
Ch. P e t i t -D u t a i l reed. em 1970.
l is ,
Les Communes f rançasses,
11.
Ch. P e t
l i s ,
obra citada, p. 21 da nova edição.
12.
L. F e b v r e , “Histoire et psychologie” in Combáis Colin, 1953, p. 219 da nova edição de 1965.
13.
L. F e b v r e ,
it
-D u t a i l
Combáis pour 1’Histoire, “Aliances et Civilisation, le mot et 1’idée, Centre
Paris, A. Michel, 1947,
pour l'histoire,
Paris, A.
appuis”, pp. 147-244.
14.
L. F e b v r e , intemational de Synthèse, Paris, La Renaissance du livre, 1930. Sobre L. F e b v r e , ver Hans-Dierer M a n n , Luden Febvre, la pensée vivante d’un historien, Paris, A. Colin, 1971 (co nté m uma importante bibliografia), (Cahiers des Annales),
15.
G. D u b y , “Histoire sociale et histoire des mentalités", in n.* 34, maio de 1970, p. 13.
16.
G. D u b y , artigo citado, p. 16.
17.
G . D u b y , “Histoire des m entalités” in dopédie de la Pléiade, p. 953.
Nouvelle Critique,
L'Histoire et ses méthodes,
Ency-
32 . 33 . 34 . 35 .
36. 37. 38 . 39 . 40 . 41 . 42 . 43 . 44 . 45. 46 . 47 . 48 .
49 .
F. dc Sa u s s u r e , citado por-A. D u p r o n t , p. 21 de “Langage et histoire”. A. D u p r o n t , "Langage et histoire”, p. 20. A. D u p r o n t , idem, p. 25. A. D u p r o n t , idem, p. 26. A. D u p r o n t , idem, p. 27. A. D u p r o n t , idem, p. 27. Gtado por A. D u p r o n t , idem, p. 27.
idem, p. 48. A. D u p r o n t , idem, p. 49. A . D u p r o n t , idem, pp. 51-52. A. D u p r o n t , idem, p. 52. A. D u p r o n t , idem, p. 55. A. D u p r o n t , idem, p. 56, sobre a palavra, ver nossa análise acima. B. Q u e m a d a , Les Dictionnaires du français moderne 15)9-186). Êtude sur leur histoire, leurs types et leurs méthodes, Paris, 1967, p. 684. A. D u p r o n t ,
A. A. A. au de
D u p r o n t , "Langage et histoire”, p. 61.
idem,
pp. 63-64. D u p r o n t , “Formes de la culture des masses: de la doléance politique pélerinage panique (XVIII*-XX* siècle)”, coloquio na E . N . S . da rua Ulm, sessão de 8 de maio de 1966, publicado in Niveaux de culture et groupes sociaux, Paris, Mouton, 1967, p. 156. A. D u p r o n t , idem, p. 158. Du p r o n t ,
C a pí pí t u l o 4
FORMAÇÃO SOCIAL, PRÁTICA DISCURSIVA E IDEOLOGIA
4 .1 .
Aa insuficiencias insuficiencias d a Lingüistica Lingüistica do discurso
Vimos que, ultrapassando. a_dicotomia^.rradinonal,..desde Saussure í língua/'fa la), la ), estava em processo de elaboração uma Lingüíst Lingüística ica do discurs discurso. o. Vimo Vimoss q ue os .lingüistas estabele estabeleciam ciam u ra a d if crença entre en tre um
língua/fala. Não é o caso de deixar de sublinhar a aquisição, o caráter posit po sitivo ivo que essas noçõ noções es repr re pres esen enta tam m . Escapa Esc apando ndo ao po posit sitiv ivism ismo, o, elas constituem um esforço sem precedentes para estabelecer uma relação com o contexto extralingüístico, para reintroduzir a relação entre o locutor è õ"dèstinatário, e õ~quadro institucional no qual se produz o discurso. discurso. É assim assim qu quee um enunciado como “c “ c u lpa lp a d o ’ nã nãoo terá o mes mo valor ilocucionário se pronunciado por um júri nos tribunais cri minais, ou numa conversação mundana, ou ainda se figurar num edi torial de jornal. Essas noções noções con constituem stituem o signo signo de que a_dicotomia a_dicotom ia língua/fala parece insuficiente, que deve ser ultrapassada, e tentam lançar uma ponte entre estes dois universos, para preencher a falha constatada. con statada. No entanto enta nto,, as as dificuldades dificuldades não deixam deixam de surgir. A enunq ação é pensada como emergência de marcas, marcas, referênc referências ias da maneira pela qual o suje su jeito ito tala ta lant ntee inter in tervé vém m no discurso discu rso ('eng ('e ngre rena nado dores: res: pa pa lavras indiciais, pronomes pessoais, advérbios, tempo ou modalização, adjetivos av avaiiat aiiativo ivos) s) no qua quadro dro da Linguística Linguística estrutu estr utural. ral. A Lingüís tica transformacional tenta pensá-la como processo, consignando certas transfor transformações mações ditas faculta facultativas tivas.. 1 Há sempre uma flut flutuaç uação ão qu quee con siste em colocar o problema da enunciação ora em termos de processo, ora em termos de marcas numa enunciação já enunciada, segundo a for
de “sistema de representações” ligada à noção de ideologia, no quadro do materialismo histórico. histó rico. Com efeito, efe ito, se se a enunciação é a intervençã interve nçãoo do sujeito falante no seu texto, se fazem parte dele, ao nivel das marcas, pro p rono nom m es pessoais, pess oais, ad adjet jetiv ivos os av avali aliati ativo vos, s, tem te m p os e modos mo dos,, se d ele el e fazem faze m pa p a rte rt e as seleções léxicas léxic as efet ef etua uada das, s, o todo to do de deve ve ser se r colocado colo cado em relaçã rel açãoo pré-asserido , q u e . se impõe ao sujeito e vai com um pré-asserido, vai perm per m itir o pro cesso de produção do discurso. É o qu quee sugere jML Pêcheux Pêc heux,, parece-nos, qu quan ando do escreve: “ É neces sário enfim precisar que a relação de articulação dos processos sobre base ba se lingü lin güísti ística ca torn to rnoo u-se u- se po possí ssível vel pe pela la ex exist istên ênci cia, a, no inte in teri rioo r d esta es ta ba base se,, de mecani mecanismos smos resumidos pelo termo “ enu nd ndaçã açãõ” õ” , pelo pelo qual se efetua a tomada de posição do 'sujeito falante', em relação às representações de que é o suporte.” * M. Pêcheux utiliza precisamente precisamente a palavra palavra su po p o r te, te , term te rmoo q ue M arx ar x empr em preg egaa c o n stan st ante tem m e n te — “ T r ã g e r ” — , o que indica indica uma mudança de problemática. Com efeito, os lingüistas lingüistas falam falam de “ sujeito sujeito falante” ; mas mas quem é este sujeito sujeito falante? falante? Parece remeter desde o princípio a um sujeito individual, livre de suas escolhas enunciativas. enunciativas. A enunciaç enunciação, ão, como a palavra palavra ou, num ou outro tro nível, a rfo seria assim o último refúgio do acaso, da espontaneidade,
vemam vem am este ou aquele tipo de retórica. A questão questão pode po de ser circuns crita esquemáticamente da seguinte maneira: uma análise do discurso pode po derá rá pe perm rman anec ecer er intr in tral alin ingü güís ístic tica? a? Num N umer eros osos os estu es tudo doss lingüís ling üístic ticos os q ue temam tem am esca es capa par, r, como com o vimos, vim os, à análise interna buscam um tipo específico de articulação com o extralingü extra lingüístico ístico no quadro qua dro da Sociolingüística Sociolingüística do discurso. discur so. 8 É neces sário sublinhar o caráter positivo destas novas pesquisas, em particular como o faz J. Kristeva a propósito de um objeto totalmente diferente, porq po rque ue elas susci su scitam tam nov novas as probl pro blem emát átic icas as,, da dand ndoo ên ênfa fase se às suas insu in sufi fi ciências: “O recurso a teorias paralingüísticas ou às fundações de campos especializados da Lingüística (Sociolingüística, Psicolingüística, etc.), cuja destinação é tomar compactos os vazios da (das) teoria(s), po dem, no entanto, não levar senão a sublinhar os vazios, se se cultivarem esses campos unicamente como subconjuntos da (das) teoria(s) e com o único objetivo de confirmá-la. No entan e ntanto, to, é em tais tais campos que a descompactificação da teoria se mostra e que aparece a necessidade de novos conceitos e encadeam enca deamento entoss .” 7 Ambivale Am bivalente, nte, a Sociolingüística faz avançar as pesquisas de articulações entre “língua” e “estruturas sociais” e, no mesmo momento, parece-nos insuficiente, movendo-se no quadro da homologia ou da não-homologia, nos universos paralelos
Sem subestimar rudo o que os pesquisadores estão no direito de esperar das confrontações interdisciplinares, convém dizer que elas não poderíam esgotar o problema, pois passar do nível da descrição lingüística ao nível da análise sociológica e debcar um vazio episte mológico que não pode ser preenchido senão pela construção de um objeto descritfvel par processos lingüísticos, mas que se integre a uma tèõria geral das sociedades, com conceitos científicos, e não simples mente recebidos como tais pelo consenso gerai das disciplinas, tais como elas elas são são atualmente “ recortad reco rtadas” as” . É colocar de novo o problema da ocultação geral dos conceitos do materialismo histórico na maior pa p a rte rt e das d ê n d a s hu hum m an anas as,, ocu ocultaç ltação ão cuja teoria teo ria de deve verá rá s er feita fe ita um dia.
4. 2.
Michel Fouc uccc ccuult e a con constituição stituição do objeto discu rsivo
condiçõ es de possib po ssibilid ilidad adee do discurso disc urso 4 . 2 . 1 . A s condições
Pode parecer estranho relacionar a obra de M. Foucault à cons tituição de um objeto discursivo, pois, como tentaremos mostrar, não
as escansões de um campo semântico: não se interroga o sentido atri buíd bu ído o em cert ce rtaa époc ép ocaa às palavra pala vrass ‘m elanc ela ncoli olia’ a’ ou ‘loucu lou cura ra sem d elír el írio io’’, nem a oposição de conteúdo conteú do entre e ntre 'psico se' e ‘neuro se’.” se’.” 10 E mais mais adiante: “Vê-se em particular que a análise dos enunciados não pre tende ser uma descrição descrição total, exaustiva, da ‘linguage ‘linguagem’ m’ . . . não toma o lugar de uma análise lógica de proposições, de uma análise grama tical tical das frases.” 11 Também Tam bém não é da banda band a da estru es tru tura tu ra form al que urge procurar a constituição constituição deste deste objeto. O tipo de unidade discur siva procurada não é nem formal nem retórico; não residindo nem nas coisas, nem nas palavras, nem na forma e na retórica; esse tipo também não reside no recorte do universo científico ou pseudocientífico em disciplinas, tampouco na figura do tema ou na do autor. Este objeto não é constituído pelo discurso, mas pelas condições de possibilidade Hos discursos, o campo problemático que lhes assi nala um certo modo de existência e que faz com que, em determinada época, em determinado lugar, não se diga, não se diga absolutamente qu alque alq uerr coisa. coisa. Basta Basta abril UHistoirc de la folie para percebermos que, quando o autor sustenta um metadiscurso sobre seu objeto, fala de — e s tru tr u tu ras ra s que qu e dão dã o cont co ntaa do discur dis curso, so,
quisas sobre os sistemas de emergencia dos objetos, sobre as formas de aparecimento e de distribuição dos modos enunciativos, sobre as for mas de colocação e de dispersão dos conceitos, sobre as que regulam o desdobramento das escolhas estratégicas, ter-se-á então construído uma unidade abstrata, a formação discursiva. Na realidade, se em L'H isto ire de la folie, em La Naissance de la clinique, em Les M ots et les choses urgia, como escreve M. Foucault, descrever uma formação discursiva em toda sua dimensão, isto é, definir para cada empreen dimento “as regras de formação dos objetos, das modalidades enun ciativas, dos conceitos e das escõlhas teóricas’’, 18 de fato, as análises precedentes seriam antes centradas em tal ou qual aspecto, neste ou na quele modo de emergência. “ Em L ’Histoire de la folie, eu me ocupava com uma formação discursiva, cujos pontos de escolha teóricos eram muito fáceis de serem assinalados, cujos sistemas conceituais eram rela tivamente pouco numerosos e sem complexidade, cujo regime enuncia tivo, enfim, era bastante homogêneo e monótono; em contrapartida, o que criava problema era a emergência de todo um conjunto de objetos extrem amente imbricados e complexos. Tratava-se de descrever, antes de tudo , a formação destes ob jetos.” 14 Com efeito, quando se opera no curso do século X V II I, o que
tituíam (crítica das fundações de hospício, novo quadro institucional, papel da ideologia política, da tecnologia médica, reorganização do campo hospitalar, nova definição do estatuto do doente na sociedade, abertura da linguagem a todo um campo novo, etc,). Esta reorgani zação do espaço perceptivo dá conta da passagem da linguagem de Pomme que, em seu Traité des affections vaporeuses des deuxs sexes, veicula ainda os velhos mitos da patologia nervosa, à de A. L. J. Bavle que, em sua Nouve lle Doctrine des maladies men tales, cem anos mais tarde, expressa-se de uma maneira totalmente diferente, num novo espaço perceptivo. Assim, a busca de M. Foucault é o oue tom a este ou aquele discurso possível, e o discurso sera o conjunto dos enunciados enquanto no âmbito da mesma formação discursiva. Uma tal abor dagem obriga M. Foucault a se colocar o problema da emergência das práticas não-discursivas no próprio discurso, sendo este concebido como uma práoca. Quais são pois as práticas não-discursivas que dão conta da prática discursiva? Duas citações nos permitirão ao mesmo tempo admitir a dívida incomensurável que todo historiador do campo dis cursivo tem com M. Foucault e, numa complexa ambivalência, os li mites próprios de sua análise. “O que a tornou possível (a disciplina psiq uiá tric a) na época em que apareceu, o que determ inou esta grande mudança na economia dos conceitos, das análises e das demonstrações,
lógica (condições e processos de exclusão social, sistemas de normas, formas de com portam ento s), etc. Como se hierarqu izam estes diversos nívéis para funcionarem na prática discursiva? O problema é esquivado. Em conjunto, através de L ’Histoire de la folie, La Naissance de la Clinique, Les Mots et les Choses, L'Archéologie du savoir, é menos o discurso em si que constitui o objeto de M. Foucault do que as con dições de possibilidade deste discurso e da prática discursiva, como lugar de relações entre estas práticas e as práticas não-discursivas, sendo essas relações ideadas em termos de justaposição e não de hierarquia e de determinação. 4.2.2.
O objeto discursivo em "L’Ordre du discours"
O discurso enquanto tal aparece entretanto reintroduzido na aula inaugural do Collége de Frunce do dia 2 de dezembro de 1970. A Arqueologia ai cede lugar a uma genealogia. A prop ósito do discurso sobre a sexualidade, M. Foucault se propõe a analisar os conjuntos de discursos literários, religiosos, éticos, biológicos, médicos, jurídicos, evo cando o problema da sexualidade, para neles investigar como as inter dições não funcionam da mesma maneira no discurso médico, no dis
a fogueira). Apareceu assim uma importante escansão, ao nível da série discursiva judiciária, à qual corresponde uma escansão do discurso moral. Confundiram-se duas experiências que estavam separadas: as sagradas proibições da sodomia e os equívocos amorosos do homossexualismo. Uma nova forma de condenação envolve a ambos, e traça uma linha divisória inteiramente nova no domínio do sentimento. Forma-se assim uma unidade moral liberada dos antigos castigos, nivelada na internação, e já próxima das formas modernas de culpabilidade.” 20 Assim, o relacionamento das séries religiosas (sacrilégios da sodomia), das séries judiciárias e morais, suas relações, suas respectivas escansões, desenham um campo novo, no qual se podem apreender ao mesmo tempo a prática discursiva, suas transformações e, talvez, o porquê destes deslocamentos de dominancia discursiva. Por que as séries reli giosas, no fim do século XVIII, deixam lugar a uma dominante ética? Por que, quando se trata de blasfêmia, esta mesma série religiosa deixa lugar a uma dominante ético-econômica? Não seria necessário procurar, em primeira análise, a razão destes deslocamentos de tônica, no lugar que ocupa ou não mais ocupa a Igreja enquanto aparelho ideológico de Estado, 21 na formação social francesa do século X V III? Volta remos a isso.
B P Em suma, destas múltiplas pesquisas, da abundância das abor dagens foucauldanas, o que reter em primeira análise para nosso.objeto? Reter-se-á, em primeiro lugar, o discurso considerado como prá tica. Em segundo lugar, a necessidade de pensar as relações entre prá ticas discursivas e práticas não-discursivas. Em terceiro lugar, as pro posições metodológicas do fim de L ’ó r dre du discours. Reter-se-á, além disso, os anatemas de M. Fouçault contra certo número de prin cípios c de problemáticas, É o caso de tún “sentido oculto*r que seria necessário encontrar na espessura do discurso: nNão resolver o discurso num jogo de significações prévias; não imaginar que o mundo volta para nós uma face legível que teríamos apenas que decifrar; ele não é cúmplice do nosso conhecimento; não há providência pré-discursiva . . . ” 14 M. Fouçault não cessa de lutar contra os demônios da hermenêutica. Como também na história das idéias. Em todos os seus livros, e principalmente em VArchéologie du savoir, M. Fouçault não cessou de atacar as categorias de gênese, de filiação, de parentesco, de influência, de espírito de época, de sujeito fundador, de experiência ordinária, etc. “A história das idéias é então a disciplina dos começos e dos fins, a descrição das continuidades obscuras e das voltas, a recons tituição dos desenvolvimentos na forma linear da história.” 25 Eis o
quis m ostr ar. . . De fato, semelhante análise suporia a persistência imutável de uma loucura armada já com seu eterno equipamento psi cológico, mas cuja verdade tardaria muito a ser demonstrada. Ignorada desde séculos, ou pelo menos mal conhecida, a idade clássica teria começado a apreender obscuramente como desorganização da família, desordem social, perigo para o Estado. E, pouco a pouco, esta primeira percepção se teria organizado e aperfeiçoado, finalmente, numa cons ciência médica, que teria formulado como doença natural o que ainda não passava de doença da sociedade.” 27 Reter-se-á, enfim, sua tomada de posição face a toda antropologia do sujeito: ‘‘O que se deplora tanto não é o desaparecimento da His tória: é a diluição desta forma de História que estava, em segredo, mas inteiramente referida à atividade sintética do sujeito . . .; o que se deplora é o uso ideológico da História, pelo qual se tenta restituir ao homem tudo o que desde há mais de um século não cessou de lhe escapar. -8 Numa palavra, M. Fouçault, no que diz respeito ao horizonte epis temológico da constituição no campo da História do objeto discursivo, nos traz uma grande contribuição quando declara guerra à Antropologia do sujeito, ao continuismo em História, à História das idéias, à her
4.3.1.
A pobreza e a morte
Grande número destes trabalhos abrangem longos períodos. Assim, J.-P. Gutton estuda a pobreza e a visão da pobreza de 1534 a 1789; 30 F. Lebrun, a morte e as atitudes diante da morte em Anjou, nos séculos XVII e XVIII; 31 M. Vovelle, as atitudes diante da morte na Provence do íim do século X V II ao fim do século X V I I I .32 Os métodos de abordagem são no entan to diversos. As duas primeiras obras inscrevem-se nas séries temáticas. Recorrem a uma multiplici dade de fontes que gravitam em torno do mesmo tema (pobreza, m orte ). Para circunscrever o vivido dos angevinos fren te à morte, F. Lebrun foi levado a estudar ao mesmo tempo os sermões, os manda mentos do bispo, os sínodos, as conferências eclesiásticas da diocese d ’Angers, os catecismos, os “ livros de Razão” , * os testamentos, os rituais, os estatutos das confrarias dos moribundos, as coleções de orações, a literatura culta, a literatura dos vendedores ambulantes, os manuais de ensino elementar, etc. J.-P. Gutto n, por sua vez, utiliza séries temáticas sobre a pobreza: compilação de leis, regras de polícia, estatutos de hospitais, de instituições de assistência, testamentos, arquivos de confrarias, almanaques, tratados teológicos, memorias, “ livros de Razão” fontes romanescas, literárias, etc. F. Lebrun m
mas unicamente por motivos de salubridade e de higiene pública, como se se visse nos mortos apenas cadáveres embaraçosos e perigosos, que convinha pôr o mais longe possível dos vivos.” 33 F. Lebrun cita o exemplo de múltiplos processos que colocam em contenda as comuni dades de habitantes e os parlamentos, a propósito da transferência dos cemitérios para fora da cidade. Os únicos argumentos trocados de parte a parte concernem à salubridade ou à insalubridade do cemitério intramuros: “Assim acaba provisoriamente esta áspera batalha, em que os únicos argumentos trocados foram exatamente os mesmos, como se se tratasse da transferência de “matadouros” ou de comunes, peri gosos à saúde da população.” 34 Sem que F. Lebrun tenha feito desta constatação seu objeto de pesquisa, ele indica que no fim do século XVIII desenvolve-se uma estrutura mental, cuja atitude diante da morte é um revelador. Enquanto a morte real não se modifica ( nada de novo regime demográfico em Anjou), as atitudes diante da morte se modi ficam. F. Lebrun assinala assim uma ruptura maior das mentalidades coletivas. De maneira muito complexa, J.-P. Gutton mostra, por sua vez, como idéias tradicionais e novas visões sobre os pobres coexistem no fim da Idade Média e no século XVI; como a segunda metade do século XVIII, se é hostil aos mendigos e aos vagabundos, não o faz
diante da pobreza: sentimentos, atitudes, doutrinas”, no que concerne a J.-P. Gutton, e “os homens diante da morte”, na obra de F. Lebrun. Com efeito, se se trata de diferençar explicitamente a morte ou a pobreza como fenómeno social objetivo, e as ideologías que as pensam e as vivem, este procedimento é da melhor conveniência e rompe com uma tradição que tende a misturar a face das relações sociais com a imagem que os homens fazem delas. Este método, no entanto , não nos satisfaz. Usar tal expressão não implica de modo nenhum (con trariamente à aparência que uma leitura cursiva deste capítulo daria) uma crítica explícita ou implícita frente a estes dois grandes livros. Não se trata de criticá-los por não terem constituído um objeto que não era o seu. É o caso, a propósito destes livros, de colocarmos o problema da prática discursiva. Eles não nos satisfazem por duas razões essenciais. Quando analisam certas fontes (sermões, “livros de razão” , literatura de mendigos ou tratados teóricos), as categorias temáticas * colocada em jogo não nos parecem esgotar a riqueza de tais fontes. É que o método, temático, como já dissemos, atravessa a e strutura lin güística do texto, sua materialidade própria, que é feita de palavras ^ escolhidas e combinadas. Sendo assim, são negligenciadas a estrutura sintática do texto, o léxico específico, a rede semântica que se tece
explica estas mutações. Constata ndo que a morte real nao muda em Anjou no fim do século XVIII, F. Lebrun mostra que, ao contrário, a atitud e diante da morte se dessacraiiza, se transform a. A não-coincidéncia entre esses dois fenômenos é flagrante e, arrisquemos a expres são, salutar. Ela nos conforta em nosso discurso sobre o conceito de descontinuidade em H istó ria .. Torna caducas todas as interpretações simplistas, mecanicistas, de causa e efeito: Impede qu e se acredite que uma modificação demográfica induziría a uma modificação ideológica. Fixado este ponto, deve haver mecanismos complexos que expliquem estas rupturas consideráveis de mentalidade . Elas não são frutos do acaso, de algum capricho da História. São provavelmente determ inadas de maneira complexa, asseguram uma função na formação social consi derada e até talvez constituam um índice de mudanças infra-estruturais que postulam novas formas de combinações superestruturais para que a formação social, em sua totalidade orgânica, se reproduza. Conve nhamos que tudo isto é muito obscuro, e não é o caso, repitamos ainda uma vez, de censurar a estes dois belos livros o fato de não terem enfrentado aquilo que, tal como é constituído o campo historiográfico, não existe. Estabeleçamos som ente neste nível de nossa análise que tal pesquisa de causalidade complexa não pode ser feita senão num quadro conceituai preciso e através da colocação e aprofundamento dos con
ruição em favor de um ou de vários, em caso de morte do Herdeiro designado. É à evolução desta série que se atém o pesquisador. Assim, ele analisa de maneira m uito fina e minuciosa. Em terceiro lugar, enfim, mesmo não assumindo um caráter sistemático, técnico e completo, a estrutura lingüística do tex to é levada em consideração. Ela aparece A- até como fundamental, uma vez que é pela mudança do tipo de dis< curso constituído pelo testam ento que o autor vai poder inferir as grandes rupturas da sensibilidade religiosa. O ponto de referência, no início, é constituído pelo testamento “barroco" da região de Nice, com um formulário muito rico, que implica na profusão do religioso em todos os atos da vida, e principalmente à soleira da morte, no ato de fazer o testamento. Este começa pela constatação da necessidade da morte e da “incer teza da sua hora". Dito isto, com o “cristão e católico, apostólico e romano", “preferindo a alma ao corpo”, ele se mune do sinal da cruz. Em seguida, vêm as invocações pelas quais o suplicante se dirige a Deus, à Trindade, “pelos méritos da morte e da paixão de N. S. Jesus Cristo”. Os intercessores são, em primeiro lugar, a Virgem “glorisissima", "beata”, “immaccolata”, “a sempre vergine”, ou “muito glo riosa”, “ santíssima” . Seguem-se os santos patronos, o patrono p atro nímico, os diversos patronos de devoções privadas (S. Miguel, S.
barrocas, a escolha da sepultura nada mais é que uma preocupação exterior, os pedidos de missa entram em declínio. Em toda parte a individualização e a laicização das atitudes são assinaladas no discurso. “Produziu-se uma mudança mais ampla, da qual a descristianização é apenas um dos aspectos. Para os provençais do século XVIII, a imagem da morte mudou. A rede de gestos, de ritos pelos quais esta passagem encontrava-se asse gurada, como visões às quais respondiam, modificou-se profundamente. Não se sabe se o homem parte mais sozinho, menos seguro do além em 1870 do que em 1710, mas ele decidiu não mais fazer confidência disto. Esta modificação essencial de um gesto vital constitui talvez a mais importante contribuição desta investigação.” 38 Estas análises introduzem-nos nas possibilidades de utilização dos métodos lingüísticos pelo historiador. 1/
4.4. A Lingüística com ''receita" N um prim eiro estágio, que já mencionamos em nosso prólogo, o
historiador não traz à baila o problema do discurso, nem o da relação das práticas discursivas com as práticas não discursivas. O que ele
r leitura paciente e informada nos teria rev elado? " — ouve-se re petir incansavelmente. E é necessário confessar que, à prim eira vista, a per gunta é bem fundada. Como! pôr em movimento todo um complexo aparelho lingüístico para chegar a este resultado, que as representações parlam entares manifestam, na sua maior pureza, a ideologia nobiliaria no fim do século X V II I, na França, e que os fisiócratas, como Tur go t, exprimem de maneira ambígua a ideologia burguesa! O problema é mais simples do que parece, uma vez que no momento atual toda uma escola toma a pôr em questão a idéia da luta de classes do fim do século XVIII, do combate das ideologias de classe, para substituí-las por uma problemática da “ elite” . Em outras palavras: um a vez que aquilo que podia aparecer como uma aquisição da Historiografia, como uma demonstração transformada em evidência, é totalmente reposto em questão, é o caso, deste ponto de vista, de redemonstrar “evi dências”; e, em vista desta demonstração, os métodos lingüísticos, em particular os métodos de análise dos enunciados, são compensadores. Acrescentemos a economia de tempo e de meios, desde que o corpus se torne considerável. Como, com efeito, com métodos fundados uni camente na intuição, com métodos temáticos, dar conta de um corpus de 600 páginas? Como compara r entre si, desse modo, diversas noções, até mesmo diversos temas? Po r mais complexos que se mostrem para
encontrava-se limitada por certo número de obstáculos (o do estatuto do sujeito da enunciação, o do formalismo,39 o da covariância, da interdisciplinaridade, etc.); vimos, igualmente, que em suas últimas obras M. Foucault colocava explícitamente o problema da articulação das práticas discursivas com as práticas não-discursivas. É que, efeti vamente, colocar o problema do discurso como prática numa formação social é ultrapassar a problemática da Lingüística como <
Procurar o lugar das práticas discursivas numa formação social é te n ta r teorizar estas práticas no campo geral das sociedades. Daí, a nossos olhos, a necessidade de recorrer aos conceitos do materialismo histórico, sem os quais não nos parece possível, não só resolver, como colocar de urna forma precisa este problema.
4.6.
Esboço de alguns conceitos do materialismo histórico
Uma formação social, ou formação económica e social concreta (a França do século XVII, a Inglaterra do século XVI, a Rússia de 1917, a França de 1972, etc.), é constituida pela imbricação de diversos modos de produção, ou da coexistência de formas, provenientes de diversos modos de produção e reestruturadas em função da dominancia de um dos modos de produção. É o que Marx exprim e pelas seguintes asserções: “Em todas as formas de sociedade, é urna determinada produção e as relações por ela engendradas que assinalam, a todas as outras produções e às relações que elas engendram, sua preferência e importância. É como uma iluminação geral, em que estão mergulhadas todas as cores e que modifica suas tonalidades particulares. É como um éter particular que determina o peso específico de todas as formas
sagem coloca o princípio da determinação em última instancia peía economia e mostra que esta determinação, em última instância, não funciona diretamente no quadro de uma causalidade mecânica, uma vez que, segundo a dominancia deste ou daquele modo de produção no seio de uma formação social, aqui a dominação (o papel principal) é religiosa, ali, política, lá, econômica. Digamos de maneira mais clara que, para que a determinação econômica em última instância possa representar seu papel, é preciso que, segundo o modo de produção dominante de que se esteja tratando, aqui o religioso, ali o político, lá o econômico assuma o papel principal. Quando em O Capital, Marx evoca as formações sociais dominadas por modos de produção pré-capitalistas, ele diz, em substância, que onde o trabalhador continua como possuidor dos meios de produção e dos meios de trabalho (o que é o contrário do modo de produção capitalista, em que o traba lhador é desprovido de todo meio de produção e obrigado, por isso, a vender sua força de trabalho), é preciso, diz, razões extra-econômicas que obriguem o trabalhador a efetuar o trabalho por conta do proprie tário. São necessárias relações pessoais de dependência. Neste último caso, a determinação em última instância pela economia operará por intermédio do domínio combinado do jurídico e do religioso que regu lamenta as relações pessoais de dependência, e as articula sobre a ordem divina.
entretanto analisado igualmente de maneira complexa pelos clássicos do marxismo, com toda a especie de defasagens e de desligamentos em relação ao domínio de classe e ao dominio de um modo de produção. 46 Assim, em O Capital, Marx mostra que “a burguesia nascente não po dería dispensar a intervenção constante do Estado: ela se serve dele para "regulam entar” o salário, isto é, para deprimi-lo ao nível conve niente; para prolongar o dia de trabalho e manter o próprio trabalhador no grau de dependência desejado. Aqui está um mom ento essencial da acumulação prim itiva” . 47 Este Esta do que acelera o processo da acumulação primitiva, tanto na França, como na Inglaterra, como no Santo Império Romano-Germânico, não é, no entanto, o Estado da burguesia, mas um Estado aristocrático. Eis um a prim eira distorção que Marx nos oferece para teorizarmos. Engels indica outras: “A re percussão do poder do Estado sobre o desenv olvimento econômico pode ser de três espécies: pode agir no mesmo rumo, e então tudo caminha mais rápido; pode agir em sentido inverso ao do desenvolvimento eco nômico, e prescrever-lhe o u tr o s .. . ” 48. Se estivesse em ação a cau salidade transitiva, mecânica, não seria pensável nenhuma distorção. Isso é mostrar suficientemente que os clássicos do marxismo quiseram de um golpe teorizar fora do mecanismo. Fora do mecanismo não signi
I
as formas políticas da luta de classes e seus resultados — as consti tuições estabelecidas, uma vez ganha a batalha pela classe vitoriosa, etc., as formas jurídicas, e mesmo os reflexos de todas essas lutas reais no cérebro dos participantes, teorías políticas, jurídicas, filosó ficas, concepções religiosas, e seu ulterior desenvolvimento em sistemas dogmáticos, exercem igualmente sua ação no curso das lutas históricas e, em muitos casos, determinam de maneira preponderante sua fo rm a.” so Passagem fundamental que mostra não só o contrachoque sobre a economia da superestrutura e seus complexos mecanismos, mas ainda que as ideologias têm urna determinação mais complexa em sua forma que em sua runção. ^ Em outro s termos, urna vez que nosso objeto é a pratica discursiva, dizemos que os discursos a nrna complexa determinação, socioideológica, na qua! seria necessário colocar à parte a determinação textual, que deve ser pensada em campo cul tural, retórico, procedimentos de forma de escritura, que são da alçada dã manipulação consciente, 4ç..utp lftdo; e .çm conjunto de discursos já articulados, cristalizados, cujas condições de produção foram elididas, e que constituem os representantes textuais de fatos ideológicos, efeitos “involuntários”, no sentido em que Marx utiliza o termo no prefácio à Contribuição à Economia Política, de outro lado. Estas relações de classe, as lutas de classe, exprimera-se através
República Romana os ideais e as formas de arte, as ilusões de que necessitavam para se dissimularem a si próprios o conteúdo estreita mente burguês de suas lutas e para manter seu entusiasmo no nível da grande tragédia histórica. Foi assim que, numa outra etapa de desen volvimento, um século mais cedo, Cromwell e o povo inglês tinham tomado de empréstimo ao Antigo Testamento a linguagem, as paixões e as ilusões necessárias à sua revolução burguesa.” 52 Este texto merece que nos detenhamos nele. Sobressai claramente a função dos discursos, das práticas, das formações ideológicas — a revolução burguesa, a instauração da socie dade burguesa moderna — a função das formações ideológicas não é senão ura aspecto disso, pois esta ideologia funciona; é mesmo através dela, diz Marx, que os homens tomam consciência de seus problemas, de suas lutas e as levam a termo. Ela funciona em discursos, em prá ticas, numa materialidade que lhe é própria, a linguagem articulada, gestual, os rituais etc., e cuja disposição interna constitui a signifi cação. No exemplo escolhido, “ a máscara” , “ a vestimenta” são como a matriz material deste funcionamento; as ilusões, os ideais, as formas de arte, as formas deste funcionamento. Quanto à razão da pregnânda da fraseologia romana, a importânda dos Gracos, de Brutus, no dis curso robespierrista, no discurso de Saint-Just, quanto à arte davidiana,
ralidades fundamentais, sem analisar, em cada caso, o funcionamento preciso, concreto, empírico, condenar-se-ia a um perigoso esquematismo, a ver apenas na História (uma História desencarnada) “os antagonismos polares, metafísicos” , para retomarmos a expressão de Engels. Uma ideologia não é, portanto, uma pura consciência falsa, mas, segundo Ahhusser, a maneira pela qual os homens vivem suas relações com suas condições de existência. Isto implica que, assim como os homens, numa formação social, tèm um lugar que lhes marca o papel que desempenham no processo produtivo, assim como participam de práticas políticas, participam igualmente de práticas religiosas, filo sóficas, numa palavra: ideológicas. L. Ahhusser propôs uma definição provisória das ideologias práticas: “formações complexas de montagens, de noções, de representações, de imagens, de um lado, e de montagens de comportamentos, atitudes-gestos, de outro lado, funcionando o con junto como normas práticas que governam a arinide « remaria df consciência concreta dos homens face a objetos reais de sua existência social e individual e de sua História” . Há. no entanto, uma ambigüidade, dependendo de que se aborde a sistematização d a s ideologias aõ nível de seu conteúdo ou ao nível de suas (sistemas de referências, sistemas~ctàs perguntas que dirigem as respostas e, em *
Estas duas formas dc ideologia remetem a duas funções distintas. A função semântico-metafórica, dominante na forma empírica^ consiste em desIocaPaüagruHcãções ao nível da base econômica. A posição dos agentes no processo produtivo é “ recalcada”, “disfarçada.. . em outras cadeias significantes, que têm n efeito de, ao mesmo tempo, significar essa posição. . . e dissimular essa posição que lhe é assinalada” . 55/ À ideologia especulativa corresponde a função sintática ou metonímica, origem de uma “racionalização” que permite que o sujeito se identi fique com as estruturas políticas e ideológicas e, sobretudo, que lhe dê a ilusão de que ele é a origem de suas idéias, de sua subjetividade. Assim, os mecanismos de sujeição ideológica respondem a uma dupla garantia: uma empírica, ligada à “realidade”, e uma especulativa, que nse reflete pelo suporte da outra, enquanto discurso refletido, teste munha, prova, mito, que identifica as subjetividades com os discursos que elas pronunciam, isto é, que se pronunciam nelas” . 55 Para T. Herbert, a dominancia.metafórica empírica pode ser descrita como um sistema de marcas. Trata-se do conjunto de sinais que balizam os com portamentos, os gestos, as palavras. Em contrapartida, a dominancia sintático-metonímica determina o nível dos discursos e das racionali zações. Enfim7 T. Herbert insiste no fato de que “nunca encontramos o ideológico como tal, mas formações ideológicas específicas que di
— Enfim, a ideologia tem uma existência material. Sistemas e sub sistemas informam práticas e instituições, o que Althusser, seguindo Gramsci, sugeriu que se chamasse de aparelho ideológico de Estado. 58 É sobre a base destes conceitos fundamentais, muito sumariamente apresentados, que se poderá apoiar uma reflexão sobre a prática dis cursiva no seio de uma formação social.
4.7.
Prática discursiva e formação ideológica
Uma longa citação nos introduzirá nestes problemas complexos que apenas podemos evocar, de tal maneira faltam-nos hoje não só uma teoria das ideologias como uma teoria do discurso. Em seu artigo coletivo, Ch. Haroche, P. Henry e M. Pécheux escrevem: Não é pois inútil rememorar de forma muito breve que, dada uma formação
social num determinado momento de sua história, ela se caracteriza, através do modo de produção que a domina, por um determinado estado da relação entre as classes que a compõem; essas relações exprimem-se através da hie rarquia das práticas que este modo de produção necessita, levando em conta os 3parelhos através dos quais se realizam estas práticas; a essas relações correspondem posições políticas e ideológicas, que não são obra de indi víduos, mas que se organizam em formações que mantém entre si relações
)ue as ideologias não constituem elementos “ neutros’*, mas forças sociais das ideologias de classe. — Que os discursos não são redutíveis às ideologias, tanto quanto as ideologias não são passíveis de serem superpostas_aos discursos. Indi ca-se que as formações discursivas constituem uma çompunente das formações ideológicas, ou melhor, que as formações ideológicas go\j vernam as formações discursivas. — Q ue as formações discursivas não podem ser ap r^-ndirlnç senão em funçãõ~ das condições de produção, das instituiç ões qu e as im plicam, e das regras co n sti tu tivas do discurso: como o su blinhav a M. Fõucault, não se diz uma coisa qualquer, num momento qualquer, em qualquer lugar. — Q ue as formações discursivas devem ser. relacionadas com as posições dos agentes no campo das lutas sociais e ideológicas. mJ — Q ue as palavras só são analisáveis em funçã o d as combinações, v das construções nas quais sao empregadas. A partir destas observações fundam entais, abrem-s e para n ós um caminho: o confronto entre as situações reais dos agentes t%yrihnfdo
sujeito como suporte, ponto de vista situado, àquilo que se encontra colocado num sistema de gestos e de paia vias, a algo que funciona na su5)etmdãdé7~Neste nível, não há nunca supressão do-lugar do sujeito da enunciação e daT contficões de produção, gp r ou tra -k d o . e é sem dúvida o mais importante, é necessário considerar ns discursos, as formações disCürsívas~è5quanto componentes de formações ideológicas, como um certo traço de sistemas de represen tações. À este respeito, noções muito pouco conhecidas. tais como “inasserido”. “pré-construído” , parecem-nos particularmente fecundas. É assim que, linfiCãndcr às relações comumente admitidas entre semântica e sintaxe, A. Cuüoli propõe uma nova teoria que, sob certos aspectos, pode resultar numa teoria da produção do sentido por uma série de operações, cujo suporte é o sujeito. Tãltã-nõs espaço aqui para expormos este problema de maneira satisfatória. 111 Digamos apenas que, classicamente, a lexts, segundo Lalande, é um “enunciado suscetível de ser considerado ver dadeiro ou falso, mas que é apenas considerado em seu conteúdo e sem afirmação nem negação atual”; que, no uso que dele faz A. Culioli, este termo designa os resultados de operações ditas de “instanciação”. Parte-se de um objeto primitivo, chamado esquema da lexts: forma vazia < j O , | 1, it > composta de três lugares, sendo que ir é o lugar de uma relação en tre f 0. termo de partid a, e J 1, termo de chegada.
O que nos interessa aqui é o fato de a lexis ser pjjLa&sezida+ de comandar a asserção, e de implicar, ao nível do sistema de representações, que óiñassendo governa sempreo asserido. O pré-construído remete ao que todos sabem, aos conteúdos do pensamento do “ su jeito universa]” , ao que cada um, numa dada situa ção, pode. ver e ouvir, aos conteúdos do “ contexto situ acionai” pressupos to pela comunicação. O pré-construído rem ete às representações e je m parucuTar] à imagem da “realidade” , à evidência empírica. _E_ assim que uma mesma frase será constituída por dois elementos hete rogêneos um ao outro: o discurso pré-construído ej encaixando-o, um outro discurso, sçndo a ligação realizada pela imagem da realidade. Na proposição, o homem racional é livre o homem é livre é uma asserção submetida à discussão, enquanto que o homem racional é um pré-construído, considerado uma evidência que implica um discurso prévio, sedimentado sob a forma de uma repre sentação que corresponde ao referente cie que se trata e do qual se elidiram as condições de produção, para poder colocar no lugar o sujeito universal.
o que funciona como pré-construído “passe” sem discussão como uma Base sobre a qual repousa o consenso. / Na frase “ os números densos são inteiros” , densos funciona como um pré-construído, e inteiros como um construído. Em algumas re lações de lugar (cf. a instituição escolar), posso, através dessa frase, levar um sujeito a acreditar que o conceito de número denso é cons truido no discurso científico. Os elementos lingüísticos portadores do pré-construído e anaiisáveis são, principalmente, a epicetização, a relativização, em particular a relativa determ inativa, e o com plem ento nominal. Este dominio do pré -c onstm ído deve ser relacionado com o que T. H erbert, numa hipó.N fis e q ue aínda deve ser verificada, cham ava a r l n m i n â n r í a Sintático. > metonímlca que implica um esquecimento do “ luga r” do locutor, das condições de produção^ de um discurso a nte rio r sedimentado. Deve ser elaborado todo üm trabalho sobre os traços lingüísticas no discurso, os sistemas de representações, e só a esse preço poderá surgir uma teoria materialista do discurso.64
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no quadro da causalidade mecânica. Todas as espécies de descon tinuidades, de desligamentos podem existir (e neste caso têm neces sidade de ser teorizados) entre o nível da base econômica e o poder do Estado, os aparelhos ideológicos do Estado ( A . I . E . ) e a base econômica, na medida em que, tendo os A . I . E . uma temporalidade própria, A . I . E . herdados parcial ou quase totalm ente podem ser re in vestidos por outras práticas e outros discursos. Pode haver descontinuidade, igualmente, entre o nível dos A . I . E . e o lugar do sujeito-suporte na formação social. É porque nos pareceu mais claro mostrar, a partir de um esquema ainda muito grosseiro e provisório, como se poderia colocar o problema do lugar das formações discursivas numa formação social, e isto no caso mais simples, isto é, sem estabelecer, logo de início, desligamentos e descontinuidades a serem em seguida reintroduzidos, quando as formações sociais concretas forem levadas em consideração. A base econômica do modo de produção dominante ( forças produtivas e relações sociais) situa os sujeitos-suportes no processo produtivo e, portanto , as classes sociais fundamentais da for mação social. Através disso, a real divisão do processo produtivo en tre detentores dos meios de produção e não-detentores reproduz-se de modo ampliado. As contradições de classes necessitam um poder de Estado que represente os interesses fundamentais da classe dominante
infernal. Tal acepção, que não é, de nossa parte, uma invenção devida a algum delírio da imaginação, muitas vezes contaminou o conceito de A.I.E. e pôde tomá-lo suspeito de mecanismo e de esquema tismo. Tal acepção ainda faz economia das múltiplas contradições de uma formação social, da luta de classes nas A . I . E . que vêm travar, extraviar, desviar, transformar a função dos A . I . E . ; da temporalidade que lhes é própria (particularmente tradições herdadas) que fazem com que, em nenhuma formação social, o poder do Estado faça exatamente “o que quer". Não nos parece inútil relembrar que os antagonismos polares só excepcíõnãlmeme se encontram em estado puro na realidade. É que os A . I . E . , que convocam e interpelam o sujeito, assinalam-lhe um lugar numa dupLa modalidade. De um lado, asseguram a colocação do sujeito em relação a outros sujeitos, o que constitui, sob certos aspectos, uma “lembrança” das reais relações de classe; de outro lado, tendem à eliminação da colocação do sujeito-suporte nas relações sociais, eliminação dè natureza ideológica que se faz na linguagem do universal. É assim que as formações discursivas veiculadas pelos sujeitos-suportes, em função de representações ideológicas sobre uma base lingüistica precisa, manifestam a intervenção das representações
seu lugar de A . I . E . dom inante ( típica das formações sodais em que o modo de produção feudal é dominante), lugar que a Reforma tinha ameaçado por algum tempo na Europa e na França, que a Contra-Reforma e a política galicana da Monarquia lhe tinha permi tido reconquistar no século X V II? Se um A . I . E . dom inante oscilar, o historiador confronta-se com serios problemas de interpretação que, no atual estado da pesquisa, não podem ser unívocos. Prim eiro tipo de interpretação: por ausência de defasagem entre o nivel do poder de Estado e o A . I . E . dominante, a passagem de um A . I . E . a outro deve reladonar-se com um poder de Estado, tendo ele próprio mudado de natureza. Segundo tipo de interpretação que nos parece mais dialético: o nível do A . I . E . encontra-se desligado em relação ao pod er estatal em crise que não mudou de natureza, que procura rea justam entos para elidir este de sligam ento; Estado tomado pelas múl tiplas contradições que aceleram ou bloqueiam os mecanismos de rea justamen to de que esta reviravolta do A .I.E . dominante necessita. Esta crise, aliás, pode ser assinalada ao nivel das relações sociais em função da evolução ou do bloqueio das forças produtivas. Ora, precisamente o Estado da segunda metade e do último terço do século XVIII é um Estado em crise, um Estado que, para sair do
solução. Paralelam ente, generalizam-se e multiplicam-se, em ligação com a crise da antiga sociabilidade, lugares, instituições portadoras de uma nova sociabilidade: as lojas maçônicas, as academias, entre outros, nos quais seríamos tentados a ver um A . I . E . cultural de transição (votado, aliás, ao fracasso), na medida em que, no seio destas instituições (em regra geral, malgrado notáveis exceções) de senvolvem-se práticas e discursos que tendem, de maneira confusa, inconsciente e por vezes contraditória, a uma identificação de situação entre burguesia e nobreza: estatutos de academias que aceitam que as sessões sejam presididas por esta ou aquela pessoa, seja qual for sua posição e sua condição: discurso maçônico sobre a igualdade na loja e sobre a equivalência entre nascimento e talento; discursos aca dêmicos, a propósito dos quais um trabalho que trata das ocorrências, do uso e selcções-combinações (em condições de produção definidas e precisadas) dos termos “Talento” e “Nascimento” permitiría con firmar ou infirmar nossa hipótese de uma tendência à identificação das situações entre nobreza e burguesia. 70 Entend amos bem. Não se trata, de nossa parte, de maneira nenhuma, de afirmar que se desen volvería uma ideologia do liberalismo econômico e da igualdade jurí
culdade em mostrar que se trata precisamente dos lugares em que se eliminam as contradições reais que, ao nível da realidade, não se de cidem entre burguesia e nobreza. Enquanto que, na realidade, a “ igual dade” tropeça no privilégio, na essência da sociedade do Antigo Re gime, na imaginação, nestes lugares fechados e protegidos: as lojas, os salões, as academias, a igualdade pode constituir-se Indicamente. Estas práticas e estes discursos têm assim uma função de ocultação e uma eficácia que consiste em servir de laboratório para a burguesia que aí pode exercer sem pressão seus “ talentos” , identificando-os com o “ nas cimento". Na realidade, os subsistemas ideológicos, pseudo-igualitários não impedem o desenvolvimento de ideologias nobiliárias e de sub sistemas ideológicos burgueses sem compromisso possível; pelo con trário, contribuem para isso. A ideologia nobiliária está perfeitamente desenvolvida no discurso parlamentar do fim do século X V II I. Com efeito, convém não cair na armadilha da quantificação e do léxico. Os parlamentares, finos
FORMAÇÕES DISCURSIVAS NUMA FORMAÇÃO SOCIAL
letrados, utilizam freqüentemente o vocabulario das luzes ( “Razão”, “Natureza” , “Liberdade” ), mas o conjunto de seus discursos, as com binações, nas quais entram estas unidades léxicas, são unívocas. Tratase sempre da reafirmação da validade da sociedade ameaçada pelos enciclopedistas, pelos filósofos em geral, ou pelos partidários da liber dade econômica. A sociedade tradicional é pensada em termos organicistas, com a metáfora da cadeia, em que todos os anéis se sustentam, e que conota a harmonia do sistema social. A sociedade do Antigo Regime, com seus direitos senhoriais, suas preeminencias, suas dis tinções, é vigilantemente defendida. Um estudo lingüístico das repre sentações feitas no parlamento de Paris ( 1776) 7-4 mostra que o con junto do discurso parlamentar funciona em duas grandes classes opostas, uma positiva, a segunda inteiramente depreciada. A primeira classe de equivalência reagrupa tudo o que diz respeito à estrutura fundamental do Antigo Regime. Regulamentos Uma liberdade mais bem entendida Administração Polícia Leis Jurados
- -
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nefastas e perigosas é situar-se no coração da ideologia nobiliaria em sua mais pura expressão, na medida em que ela se opõe ao que cons titui o coração da ideologia burguesa: a igualdade jurídica e o libera lismo econômico. Certamente, os próprios indivíduos que, no seio dos parlamentos, se reconhecem no discurso da representação, podem muito bem sustentar outras posições discursivas no seio das lojas, dos salões, das academias. É aí que convém fazer intervir a confrontação das po sições discursivas de que falava M. Pêcheux, procurar os critérios de compatibilidade e de incompatibilidade entre as diversas posições e estabelecer uma hierarquia dessas posições discursivas. É evidente que o fato de dissertar num lugar fechado, em boa companhia, sem perigo para a sociedade, sobre a igualdade dos homens, e o fato de ocupar uma posição no aparelho judiciário e político, de vigiar para que nada de vital seja tocado quanto à estrutura fundamental do privilégio, são duas posições discursivas, das quais a segunda é infinitamente mais importante que a primeira e mostra que não se deve deixar cair na armadilha do discurso, mesmo na do discurso sobre a liberdade, sem confrontá-lo, em função de suas condições de produção, com todos os outros discursos de um grupo social, e sem hierarquizar o lugar desta ou daquela prática discursiva no campo das relações de força, e sem
encontram-se assim combinados com outros conjuntos, mais ou menos coerentes e mais ou menos contraditórios, mas cuja unidade não é pen sada precisamente como confusa e contraditória. Assim, a “elite” que comunga no léxico das luzes deve ser apreendida, confrontando as múl tiplas posições discursivas que sustenta, hierarquizando-as, dando a co nhecer os diferentes subsistemas ideológicos que atualiza, por vezes de maneira contraditória. Ver-se-á então que ideologia nobiliaria e ideo logia burguesa não são fenômenos inventados pelos marxistas, mas rea lidades atualizadas em práticas discursivas que ocupam um lugar estra tégico na formação social do século X V III . Se as ideologias pseudo-igualitárias das academias, lojas e salões estão votadas ao fracasso, se o Estado não pode constituir esta classe dominante única, de hegemonia nobiliária, e não pode, assim, sair de uma grave crise, é que precisa mente o verdadeiro compromisso é impossível; são fortes demais as incompatibilidades entre a ideologia nobiliária dos parlamentos e os subsistemas burgueses, sendo que a nobreza liberal constitui apenas uma pequena minoria. Afastamo-nos só em aparência de nosso objeto. Da Linguística como “ receita” à análise do lugar das práticas discursivas numa for mação social, o caminho, por complexo que seja, pareceu-nos funda mental, embora ainda tenhamos apenas rudimentos, apenas as duas
Notas do capítulo 4 1. 2.
3. 4.
5.
Notc-sc que essa noção de "transform ações facu ltativas " refere-se a um estágio já ultrapassado da Lingüística. O. D u c r o t , “Les indéfinis et lenonciation” in "L’Énonciation", Langage 17.
Ver J.-L. A u s t x i n , Quand dire c’est ¡aire, trad. francesa de G. Le Seuil, 1970.
La n e , Paris,
“Langue", “Langages”, "Discours”, página “Idees” de L'Humamté de 15 de outubro de 1971. Essa noção de sujeito é das mais complexas e ain da está para ser estabe lecida. Parece-nos que, numa primeira abordagem, M. Tort coloca alguns po ntos iniciáis, quando em “ La psychanalyse dans le m atérialism e his to rique". Nouvclle Revue de psychanalyse, Primavera de 1970, distingue, na p. 154: “a) Pelo termo ( su jeito )-suporte, designaremos a individualidad e biológica dos indivíduos (individualidade que é um conceito biológico), na medida em M.
Pé
cheux
,
6. 7
Ver acima, capítulo 2.
.
g.
J. KRtSTEVA, “Les épistémologies de la linguistique”, Langages 24, p. 9.
M.
artigo citado, p. 146. 9 . M. Fo u c a u l t , L’Archéologie du savoir, Paris, N . R . F . , 1969, p. 64. 10. M . F o u c a u l t , 'ídem, p. 65. M . Fo u c a u l t , ídem, p. 142. 11. M. F o u c a u l t , ídem, p. 65. 12. M . Fo u c a u l t , ídem, p. 8 6 . 13. M. Fo u c a u l t , ídem, p. 8 6 . 14. M. Fo u c a u l t , ídem, p. 8 6 . 15. 16. M . F o u c a u l t , Naissance de la clinique, Paris, P.U.F., 1963, p. VII. M . F o u c a u l t , Archéologie du savoir, p. 233. 17. 18. M . F o u c a u l t , Archéologie du savoir, p. 61. To
rt
.
L’Ordre du discours. Paris, Gailimard, 1971, p. 71. , L'Histoire de la folie, Paris, Pión, 1961, p. 109.
19.
M. Fo u c a u l
20.
M. Fo
21.
N oçã o complexa introduzida numa nota de pesquisa por L. A l t h u s s e r “Idéologie et appareils idéologiques d’État”, La Pensée, junho de 1970. Noção que deve ser usada com prudência e que ainda precisa ser teorizada para não ser utilizada num sentid o mecanicista e reducionista. Voltaremos a este ponto. M. Fo u c a u l t , L’Histoire de la folie, p. 493. M. F o u c a u l t , L'Histoire de la folie, p. 499.
22. 2 3.
t
u c a ul t
,
M. V o v e l l e , op. cit., conclusão do tomo II. Sobre esse problema, ver: D. M a l d i d i e r , d N o r m a n d , R. R o b í n , “Discours et Idéologics: quelques bases pour une recherche” a ser publicado cm Langue Française. N ós nos basearemos, em parte, nesse artigo coletivo em todo o final deste capítulo. 40. R. B a r t h e s , “Structuralisme et sémiologie: entrenen avec P. Daix", Les Lettres ¡rançasses, 31 de julho de 1968, p. 13. 41. J. K r i s t e v a , resposta a Cinéthique no quadro de: “Cinema: pratique analytique révolutionnaire, question à Julia Kristeva”, Cinéthique , n.“ 9-10. 42. J. K r i s t e v a , idem, p. 72. 43. K. M a r x , Contribution à la critique de 1'économie politique, Paris, Êditions sociales, p. 170. Quer o modo de produção seja considerado com o termo abstrato real, de tipo geral, ou coroo termo de combinação específica de fatores (ver os elementos dessa discussão em La Pensée, out. de 1971, sobre a categoria de “formação econômica e social", e nos trabalhos do C . E . R . M . "Lénine et la pratique sde m ifique” a ser publicado), o que importa é entender que um modo de produção, ao nível da base econômica, não pode absolutamente ser compreendido em termos puramente quantita tivos, em termos de puro tecnicismo, sem que intervenham relações sociais. Donde a inadequação, para um marxista, de todas as problemáticas exclusivas e principalmente baseadas no crescimento e na quantificação pura. 44 . K. M a r x , nota 32 do capítulo I do livro I do Capital, p. 590, da edição Gamier-Flammarion. 45. K. M a r x , Le 18 Brumaire de L. N. Bonaparte, Êditions sociales, p. 258;
38. 39 .
Paris, Maspero, 1965. Não enfocamos, aqui. o conceito de ideologia desde sua criação, devida à escola dos "ideólogos” do fim do século XVIII e início do XIX, e às suas metamorfoses fora do marxismo, de K. M a n n h e i m a K. J a s pe r s . Sobre uma história do conceito, há algumas indicações in D. V i d a l , Essai sur iidéologic. Paris, £d. Anthropos, 1971.
55.
56. 57.
Th. H e r b e r t , "Remarques pour une théorie genérale des idéologies”, Cahiers pous 1'analyse, verão de 1968, n.* 9.
A. G r a m s c i , Oeuvres choisies, Paris, Éd. sociales, p. 74. N. Po u l a n t z a s , Pouvoir politique et classes sociales, Paris. Maspero, 1969, p. 224. 58. Os clássicos do marxismo sempre distinguiram o Estado, o poder do Estado, o aparelho do Estado e o que L. Al t h u s s e r convenciona chamar os apa relhos ideológicos do Estado. O poder do Estado compreende organismos e instâncias diversas: o poder central, o aparelho administrativo, militar, polí tico, os tribunais, as prisões, instituições distintas, especializadas (a Igreja, a escola, a informação, etc.) que não atuam através da violência física, mas da ideologia. Desde que foi proposta, essa observação de pesquisas fez correr muita tinta. Rápida, às vezes ambígua cm certos pontos, ela permitiu sérios usos inadequados, como os de C. Ba u d e l o t e R. Es t a b l e t . A noção parece-nos válida, contanto que explicite claramente que os A . I . E . não constituem uma instituição onde se difundiría sem problemas e "fatalmente” a ideologia dominante, mas uma instituição de luta de classes, pois a ideo logia dominante defronta-se com outras ideologias (e não apenas com o belo antagonismo polar fundamental classe dominante/classe antagonista), contanto que pense que eles podem ser "desligados” em relação ao poder
r
Obviamente, trata-se de uma primeira abordagem, na qual só consideramos o discurso político e não o discurso literário, poético ou qualquer outro, para os quais as outras determinações (particularmente a determinação ana lítica) são mais difíceis de compreender e teorizar. 66. O conceito de A .I . E ., repetimos, precisa ser reformulado. É provável que não seja possível conservá-lo sem modificações e sem levantar certas ambigüidades que ele ainda possa conter. Entretanto, parece-nos importante, para a conceituação marxista, na medida em que permite sair da proble mática fundonaüsta da insdtuição e dos papéis. Mesmo se somos levados a dizer que um A .I .E . abrange instituições, a conceituação não é a mesma. O conceito relaciona o poder de Estado enquanto instância política com a instância ideológica e com o lugar do sujeito-suporte numa formação social. Permite evitar que se pense nas relações sociais superestruturais como um éter, um elemento natural, no qual se desenvolveríam modos de produção econômica; permite, finalmente, evitar as armadilhas das ideologias que, a títulos diversos, “desmarxizam" as superestruturas apelando para as “socie dades industriais”, ou, numa outra direção, para o “arbítrio cultural”. 67. A respeito das noções de “colocação” dos sujeitos-suportes numa formação social e do “esquecimento da colocação”, ver os trabalhos de M. P l o n , espe 65.
cialmente:
67.
“Quelques aspects des processus d’identification dans une situation expérimentale”, Bulletin du C . E . K . P . , 1969 e “Psychoiogie sociale et théorie des jeux”, La Pensée, fevereiro de 1972. M. A g u l h o n La Sociabilité méridionale; (confréries et associations dans
ALGUNS MÉTODOS DE ABORDAGEM DOS TEXTOS
i
Ca p í t u l o 5
ESBOÇO DOS MÉTODOS ESTATÍSTICOS: O EXEMPLO DO LABORATÓRIO LEXICOMÉTRICO DA E.N.S. DE SAINT-CLOUD 1
Quando P. Guiraud escreveu que “a palavra criada por um indi viduo só tem valor na medida em que é aceita, retomada, repetida, sendo então finalmente definida pela soma de seus empregos”, 2 erigia um objeto novo, “os caracteres estatísticos do vocabulário” . 3 Tal abor
indicação de suas referências: programa prim ário .” 0 Será preciso lembrar o tempo em que, magnânimos, os pesquisadores faziam manual mente o índice de seu corpu s? Assim ocorreu com os índices dos dis cursos de Robespierre e de Saint-Just, feitos pela equipe “Revolução Francesa” do centro de lexicología de Saint-Cloud. Esse tipo de levan tamento, que permitiu chegar a trabalhos precisos, revelou-se, contudo, muito insuficiente. Recorreu-se, então, ao computador e abandonou-se a indexação manual. Po r que abandonar o trabalho manu al? “C he gamos a esse ponto, após a experimentação de dois métodos comple mentares: os índices das palavras completas (Rousseau, Montesquieu, Voltaire, Saint-Just e Robespierre) foram em parte feitos assim, reveIando-se úteis como tábua de referência e como desconto das aparições. Mas eles também são pobres em informação. A difusão de cartões p er furados para levantamentos de contextos, que era o nosso segundo objetivo, foi um sucesso; a tentativa de transformá-la num fichário de citações políticas é que fr a c a s s o u ... A partir de certa amp litude, a consulta aos índices e principalmente a triagem das fichas só podem ser manipuladas lentam ente. O computador surgiu, pois, como o único meio eficaz para sistem atizar e objetivar o inventá rio.” lu Além do mais o inventário manual não permite determinar os caracteres estatísticos complexos do texto em questão. Tal experiência levou o c entro lexi-
I
5. 2.
A freqüência
P . Guiraud, após estabelecer a. lista de freqü ên da Has “ palavras de significação ou palavras fortep” de um corpus. d jeringue trfi* zonas “ arntjaífcscfflân ticas” . 1) As palavras-tema: cerca de cinqüenta palavras ( pode-se, se se quiser, tomar as primeiras lOO palavras, em^êTciSS einqüenta primeiras; a determinação das 100 é relativamente arbitrária). Asjpalavras-tÊma representam 9% do discurso. Geralmente são encontradas em todas As P a l a v r a s -Te m a d e Je a n -Ja c q u e s Ro u s s e a u : As P r i m e i r a s 50 P a l a v r a s d o Contrato Social (1 .* versão) SUBSTANT I VOS
lei homem
FREQOENCIA
168 132
ADJEnvos
FREQÜÊNCIA
VERBOS ter poder fazer dever ci
As
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povo
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116 77
cidadão assembléia homem Paris lei direito causa príncip e nação revolução república inimigo Luís crime
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209 181 131
Pa l a v r a s -Te ma
VERBOS
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poder público
fazer dizer querer
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mais
As Pa l a v r a s -Te ma
SUBSTAN TIVOS povo liberdade lei república governo homem inimigo Estado cidadão crime rei príncip e justiça pátria revolução direitos comércio vontade bem
QÜÊNCIA 243 138 125 105 104 % 85 70 56 56 55 53 51 47 47 46 45 38 37
de
Sa i n t -Ju s t
FRE VERBOS QÜÊNCIA
ADJE TIVOS
público
66
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fazer
136
poder dever
70 66
querer precisar te r
65
devolver julgar
39 38
51
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Fr e q u ê n c i a Se g u n d o a s Ca t e g o r i a s G r a m a t i c a i s ( Hé b e r t )
SUBSTANTIVOS desgraçado
sans-culottes república homens Paris sujeito povo mão dia inimigos traidores liberdade
Père Dúcheme Convenção constituição exército cidadãos amigos Custinc
ADJETIVOS
VERBOS
fazer 243 ve r 107 querer 100 ir 92 dizer 82 precisa r 73 72 i pod er 57 pôr dar 56 55 54 52 52 52 51 51 vir 48 46 saber 46
298 133 123 120 104 100 83 71 64
51 46
bom
grande
100
96
VERBOS
SUBSTANTIVOS cachorro doís olhos alegria Dumoiriez mal patife soldados revolução subsistência lei
25 25 25 24 23 23 22 22 21 21 21
expulsar cessar provar existir
ADJETIVOS
24 23 23 22 público
ficar
22
21
3) Finalmente. 20 0 00 palavras de baixa frequência, de grande^ res trição de sentid? <* ¡ vwtgntn muito precisas. Sao denominadas *‘palaV rarar5iácterizago ^ 18
Assim, é possível, a partir de utn índice hierárquico das formas lexicais, agrupar todas as formas que pertencem a nm mesmo lexema. Tal operação denomina-se lemaíitação. Àgrupa-se num mesmo conjunto sahs-cuíotte, sans-culottes, sans-culotterie. A partir daí, o pesquisador poderá de in palavras-tema de âs palavras lemati-
sozinho, o estudo da freqüênda encontrou a sua necessária complementariedade sem o estudo da distribuição.
5.3.
A distribuição
Pesquisando a distribuição das palavras num determinado corpus, G. Gougenheim estabelece o que ele chama de índice de distribuição. Seja um corpus com posto de x subconjun tos. “Uma dada palavra tem como índice de distribuição o número x de subconjuntos nos quais ela se atualiza. Interessante , por poder ser feita manualm ente, essa ope ração, contudo, cria problemas. Qual o valo r desse índice com relação à freqüên da absoluta? A propósito, é particularm ente precioso o aperfeiçoamento de um instrumento estatístico que penmtc hierarquizar as formas de um corpus da Pfaís particular à mais geral, e que foi feito pelos pesquisadores do laboratório de lexicometria de Saint-Cloud com o auxílio do com putador. O ponto de p ar tid a desse trabalho é a neces sária crítica da freqüênda considerada isoladamente. “Há vários anos, os lingüistas concordam em dizer que é impos sível tirar condusões lingüísticas da freqüênda considerada isolada
s o p u r
G s o d s a c i f í c e p s
E E H
índice de distribuição “as duas classes (altas freqüências e frequências mín imas) não se m isturam . . . A freqüência absoluta desempenha, por tanto, ura grande papel” . 18 Orienta ndo-se em direção a outros hori zontes estatísticos, esses pesquisadores recorrem ao qui 2, ou ao teste de Pearson, o instrumento estatístico aparentemente mais apto para esta belecer uma lista do particular ao geral, eliminando ao máximo o peso da freqüência. Não nos é possível e ntra r nos detalhes técnicos dessas op eraç õe s.19 Coloquemos simplesm ente, como escrevem os a utores, que, “nesses estudos, o método consiste em aplicar a cada forma um coeficiente estatístico, o qui 2. Ele nos perm ite distinguir as formas menos regularmente distribuídas, denominadas específicas, das formas mais bem distribuídas, que constituem o vocabulário geral” . 20 Assim, o grupo de lexicometria estudou um corpus constituído por uma amostra de panfletos de 9 grupos e partidos políticos, panfletos distribuídos em Paris e periferia, de l.° de maio a 16 de junho de 1968. 21 O « tu d o é complexo, pois tem o objetivo de “ mostrar traços específicos dos diferentes locutores e da evolução de seu vocabulário de acordo com as variáveis tempo e grupo”, 22 assim como determinar o vocabulário geral do período. Q ua nto ao conjunto do estudo , indi camos “Quelques groupes politiques en mai 1968: Recherches lexico-
ou precedido ou enq uadrado por outro s” . 25 A pesquisa das co-ocorrênciai de~uma forma quaiiiicada de ”palavra-pólo” consiste numa lei tura mecânica — de acordo com um coeficiente denominado coeficiente de co-ocorrência — de todos os circundantes, das ocorrências dessa forma. As relações que a forma considerada mantém com as que a precedem ou seguem são de três tipos: “ 1) Freqüência de aparecimento de um termo nas proximidades de outro (que denominaremos índice de co-freqüência). 2 ) Distância dessa proxim idade que pode ser, ou contigüidade ime diata, õu~ãfastamento maior ou menor para além de outros termos_jtnter-, mediários (que denominaremos índice de proximidade). 3) Diferença (fa tor essencial) entre a ocorrência esperada do termo que corresponde à sua esperança matemática no enunciado., e sua ocorreñaa observada (que denominaremos índice de afastamen t o ).” 28 O computador fornece as listas hierárquicas das co-ocorrentes à direita e à esquerda da palavra-pólo. p a la v ra - p ó lo
Este gráfico permite a compreensão ¡mediata dos estereotipos, das Iexias fixas: “grande povo”, “direitos, soberania, representantes do povo” , “povo francés". O gráfico das co-ocorréndas deve, sem dú vida, ser interpretado com infin itas precauções. Ele nada mais é que o ponto de partida da pesquisa. Isto p osto, esse gráfico esboça um “espectro estatístico das frases que contêm a forma “povo", sendo este interna mente abstrato e unicamente p o líti co " .27 O termo “ povo” é em inente mente polissémico no períod o da Revolução. Pode significar os pobres ou os cidadãos. Neste discurso é privilegiada a dimensão política, e não a sodal. Nesse texto , o povo é o “ grande povo francés, encamado em seus “representantes" na “convenção nacional”, definido por seus
Quando consideramos a palavra sans
pretações de que já falamos. Cpntudo, nãu podemos concluir por uma ausência de validade dos métodos estatísticos, na medida em que, ultrapassando o simples critério da freqüênda, eles se afirmam a cada dia que passa, e tentam, através das co-ocorrências, estabelecer uma estatística no contexto. O historiad or, numa primeira abordagem, deve utilizar os instrumentos que podem permitir que ele construa suas primeiras hipóteses de trabalho, determ ine as palavras-tema e as pa lavras-chave do corpus, para as quais atentará mais particularmente e que tratará por outros métodos. Estatísticas lexicais e métodos de aná lise do discurso são, freqüentemente, complementares e, muitas vezes, um — que mais não fosse píelas insuficiências e questões suscitadas — abre caminho para o outro . É o que sugere G. Provost quando, a partir 3ã tese de M. Launay, escreve: “No quadro do Centro de Pesquisa de Lexicología Política de Saint-Cloud, os estudos de M. Launay sobre o Vocabulário político nas obras de /.-/. Rousseau refletem muito bem a evolução, por afinações sucessivas, do método de análise e a novidade de certas direções. Pas sando do levantamento da unidade lexical ao estudo das co-ocorrências, M. Launay aborda definitivamente questões relativas à análise dos enun ciados.” 32
Notas do capítulo 5
1.
Este cap ítul o não poderia ter sid o Centro de Lexicometria da E . N . S . a contribuição de J. G u i l h a u m o u teriais necessários para este estudo, estas poucas notas. Somos gratos a
2.
P.
3 4. 5.
6. 7
escrito sem a ajuda e a solicitud e do de Saint-Qo ud e, particularmente, sem que teve a gentileza de reunir os ma reler e melhorar, com seus conselhos, ele.
G u i r a u d , Problèmes et méthodes de la statistique linguislique, Larousse, 1960, p. 19.
Paris.
Título de sua primeira obra de estatística lingüística, publicada em 1954. P. G u i r a u d , op. cit., capítulo V. Ch. M u l l e r , lmtiation à la statistique Itngutstique. Paris, 1968, cf. também seus estudos sobre o vocabulário das peças de P. Co r n e i l l e . A. G e f f r o y , M. T o u r n i e r . P. L a f o n , Analyse lexicométrique des co-occur rences et formalisation, policopia da E .N .S . de Saint-Qoud . p. 2. Ê evidente que no âm bito deste artigo, baseamo-nos unicam ente no tra
12.
Trata-se de uma lista de formas funcionaüzadas que pode ser encontrada no manual de perfuração, publicado em março de 1970, na E .N .S. de Saint-Cloud. Abarca um compromisso entre diversas exigências. P. La FON, no artigo acima citado, precisa: "Ela contém as formas dos verbos ser c ter, mas não as de fazer e poder, que são, contudo, freqüentes; caso con trário, a lista seria muito grande; exceto e muita, pouco empregados por serem formas muito freqüentes de mesma natureza gramatical, fazem parte da lista. Tal como está, apesar das criticas que podem ser feitas, ela não só é preciosa para adiantar a execução dos programas, como constitui um instrumento de medida, uma norma que permite o cálculo de um coefi ciente de fnncionalidade que, se não tem grande valor em si, permite, con tudo, a comparação do instrumental gramatical de dois textos.” P. L a f o n , artigo citado, p. 38. Ver definição desses termos no léxico gerai, pp. 000 a 000. P. G u i r a u d , Les Caractères statisques du vocabulaire, Paris, 1954, p. 62. P. GutlÀU», obra citada, p. 64.
13-. 14. 15. 16. 17. A la reeberebe du particulier au général dons le vocabulaire des tracts de mai 1968, publicação do Laboratório de Lexicología Política da E.N .S. de Saint-Goud, policopia p. 2. 18. Idem, p. 6. 19. Ver mais detalhes na brochura completa acima mencionada. 2 0 . A. G e f f x o t , P. L a f o n , G . M u c , M. T o u r n i e r , “Quelques groupes politiques en mai 1968: recherches lexicométriques”, in Jean C h a r l o t , Les partis
Ca p í t u l o
6
ABORDAGENS DOS CAMPOS SEMÂNTICOS: AS EXPERIÊNCIAS DO CENTRO DE LEXICOLOGIA POLÍTICA DE SAINT-CLOUD
6.1.
Generalidades
Ele demonstra que esse campo lexical se estrutura segundo redes de relações.
Primeiro tipo de relações As oposições: de naturezas diversas:
— oposições formais, marcadas pelos prefixos anti nao — pares antonímicos Revolução/Reação Lib erda de/ Reação J. Dubois lembra a observação de HenVi Wallon, que precisa a importância da antonímia: “É preciso supor que, mesmo quando realizado auditivamente e individualizada, uma palavra, como qualquer ter mo, não pode ficar isolada, mas tem sempre tendência a se especificar
1
Segundo tipo de relações A s associações
As associações são r^ç õe s_ jáiita gia iiica s, contextuáis. N o campo lexical considerado, “ trabalh ado r” associa-se a “ pob res” , a “ traba lho” . “ Revolução” é associada a “ progresso” , a “ socialismo” .
Terceiro tipo de relações A s identidades
Identidades, que devem ser diferenciadas dos sinónimos dos dicio nários, são “ substitu tos, semânticos” . São palavras ou sintagmas que podem, em co ntexto s precisos, ser intercam biáveis.
Assim os sintagmas
advento das massas advento dos proletários advento dos trabalhadores
são equivalentes, nesse campo lexical. O mesmo se dá com os sintagmas
— Duas palavras que tem as mesmas ligações nocionais ou temáticas (assóciações e oposições) constituem ^equivalentes aproximados", subs tituíveis en tre si tio texto ou no corpus considerado. Essa noção de 1'equivalência aproxima 3a” foi formulada por J. Belin-Milleron.10 Depois de estudar a rede nocional de "pátria” e de "lei” nos vo cabulários das petições revolucionárias, ele conclui: “É interessante con frontarmos as duas séries: "p átria ” e “ lei” . Com efeito, encontramos na série "lei” quase todas as determinações que figuravam na série "pátria ”. Assim, na classe das principais idéias gerais, vemos que fi guram, nos dois quadros, as idéias de Bem geral, Unidade ou União, Assembléia Nacional, Povo, Constituição, Liberdade, Igualdade, Nação, Soberania ou Vontade geral, Felicidade, Virtude, Sacrifício, Interpre tação através do sagrado, quando são consideradas ligações complemen tares relativas a “ pátria em perigo” ( . . . ) . Ç)_ rciétQjdQ concreto-com plexo mostrou, portanto, como o pensamento coletivo consegue alcançar, dê ligação em ligação aTdentin caç ão de duas noções principais^_ou especiais, entre as quais a lógica tradicional não pode estabelecer qual quer ligação. A pátria não implica, a priori, a noção técnica de lei; e a noção técnica de lei não implica, a priori, a idéia geral de pátria. Por conseguinte, para que os dois termos fossem emparelhados, como aca
6.2.
"O Rei" em Saint-Iust
Étude quantitative et sémantique de quelques aspects du vocabulaire de Saint-Just. 22 octobre 1792-27 juillet 1794, E . N . S . L.
K o
h l e r ,
Fontenay, D . E . S ., 1969, inédito. — A rede mais explícita é, de imediato, a das oposições. Pode dividirl e em animados e inanimados.
Os animados são
Os cidadãos As bocas que o acusam Os membros da cidade Um povo generoso e republicano Brutus Vós Eu Todos os cidadãos O comitê O povo Vossos defensores
Todos esses animados constituem, a títulos diversos, forças adjuvantes da Revolução, forças positivas. Encontram os:
e d a d i c s a o d ã d s a o r d i b c
T S Ü J T N 1 A S M E ” I E R
— Um conjunto ético-institucional fortemente valorizado A República A pátria A vontade geral Os princípios das instituições sociais Os princípios da soberania O soberano Portanto, o rei se opõe
ao conjunto dos franceses ao conjunto da Assembléia aos grandes princípios de justiça e de natureza a um conjunto ético-institudonal cujo centro é a “Vontade Geral”
A rede das oposições situa nitidamente o rei como o centro de uma ampla constelação negativa, que se opõe à Revolução, como a sombra à luz. — A rede das qualificações é de interpreraçãn majs delicada. Eqconrramns~~ñe]a qualificações contrastantes. Assim, “ simples cidadão” , “cidadão” entram em contradição com “esse estrangeiro”, “esse ini migo”. Estas unidade lexicais são conformes à homogeneidade da
O mesmo procedimento vale para “ádadão” e “simples ddadão”. A exploração do qu adro não é im ediata. Alguns termos que, pela rigi dez do método, se encontram nessa coluna devem, na realidade, ser colocados em outra . Daí a extrem a prudê ncia com a qual convém operar. — A rede das associações apresenta-se como um vasto conjunto do qual po dem ser levantadas as seguintes categorias semânticas: • As noções de “ M estre” , “ César” e a de “A tributos da pessoa real” que, no plano do passado, engloba “inviolabilidade” e “impuni dade”. A essas categorias, que têm conotação de passado acabado, opõem-se o presente ou o passado próximo que ainda atua:
a categoria traição
crimes tentativas perniciosos desígnios conjuração abuso guerra crimes de sua administração usurpação
R e d e d a s A s s o c i a ç õ e s d e “ O R e í ” e m S a i n t -J u s t
o
«• u ABSOLUTISMO O T3
ASSOCIAÇOES
-a
M
ATRIBUTOS DO
o -a
o -a
5 INIMIGO “• DA REVOLUÇÃO E TRAIÇÃO
O ACUSADO DA REVOLUÇÃO
Povo oposto a
Tirano Rei(s) Inimigos do povo francês Estrangeiro Bárbaros Conspiradores Aristocracia Partidários dos realistas Partidários da tirania
Os inimigos do povo são animados, tendo como função essencial a Contra-Revolução interna e externa. Neste caso, “ Povo" tem um sentido político preciso. Trata-se de um conjunto dê cidadãos que não traíram a República. Desnecessário dizer que, inversamente, o rei, os nobres, os realistas, os inimigos da Revolução não fazem mais parte do povo. O povo é uma noção positiva que está ligada ao conjunto dos cidadãos conscientes e revolucionários. — Outra série de usos é mais complexa. O povo não se opõe mais a estrangeiro, a Contra-Revolução, mas a poder. Magistrados Administração pública
ciações que tendem à identificação. Trata-se da identificação d a Con venção com o povo, do povo com o próprio governo e do povo com a pátria. Porta nto, existe ambigüidade na noção de povo. Ela pode designar: A nação francesa A nação em sua fração republicana A nação em seus elementos virtuosos Os inimigos conforme os empregos, encontram-se ao nível do estran geiro, da Contra-Revolução interna e externa, e até no interior da Convenção e do poder. — Outra série de usos dá a “Povo” um sentido diferente.
Equivalencias
os infelizes
Qualificações
indigente dependente que trabalha
Oposições
homens opulentos os que tinham capital opulência os inimigos do máximo
-afetivo. Em seguida, uma função de mobilização so dal, quando se trata de reunir em tomo do governo revolucionário os sans-culottes, os pobres, essa parte da nação em lu ta que impõe o máximo, os im postos e a requisição. Essa polissemia revela, além do mais, um vocabulário social mal estabelecido, mas o disfarce assim veiculado permite que Saint-Just faça uso dessas duas funções conforme a conjuntura e man tenha ao nível da língua, pela passagem do sentido de povo ( na ção) a povo (pobres), a união das massas populares com o governo revolu cionário. Assim, vemos que, se a polissemia é para os lingüistas um dado f u n d a m e n t a l da linguagem, para os historiadores certas poliss e m i a s têm u m a função ideológica precisa que o método lexicológico perm ite atualizar.
6.4.
A polissemia de "sans-culottes" em "Le Père Duchesne" de Hebert
Jacques Gu il h a m o u , L ’Idéologie du “Père Duchesne”: 14 juillet 1793-6 septembre 1793, tese de mestrado, Nanterre, 1971.
sentido político que não possuía antes — . A rede de oposições pode ser sintetizada pela noção de “inimigos”, tão fundamental no vocabu lário de Héb ert. Trata-se tanto dos inimigos externos (prussianos, austríacos) quanto dos inimigos internos e com funções diversas: o rei (o infame, Capeto, déspota), os nobres e realistas (expulsos da Vendéia, refugiados de Coblentz, nobres disfarçados), o clero e seus émulos (beatos). O termo “sans-culottes” pode, portanto, servir para designar um grupo social como exigia Pétion: “E preciso usar um termo que seja inteligível; pois, quando se fala em sans-culottes, não se entende todos os cidadãos, exceto os nobres e os aristocratas, mas entende-se os homens que não têm, para distingui-los dos que têm” 18, ou, enquanto noção mais fluida, mais ambígua, um grupo político de contornos im precisos. Na verdade, a polissemia do termo não é casual, mas tem uma função ideológica fundamental, que é a de transmitir a ideologia jacobina através de um léxico, formas de linguagem, processos retó ricos populares e sans-culottes. A rede verbal de “sans-culottes” destaca as funções específicas dos sans-culottes. A rede “ação do s sans-culottes” mostra que o ato dos sans-culottes
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A referencia correspond e ao núm ero do jornal, à página e à linha da palavra considerada RET. un
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amigos do P ir* Dú cheme ter lanças e sabres
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i fina flor da sons-culotleríe Jacobinos
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Pire Dúcheme guarda-comida operários homens úteis
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Imbecil república no
espJAo nòi
no 1-38
p o b re »
inimigos manobras
EQUIVALENTE
dar bons conselhos b o n s c ld a d á o a vós
nada poder fazer s e m . .. ser servil face aos lans-cutottf*
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i-»
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AÇAO DE
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sofrer m ostrar a língua fazer a RcvoluçSo querer ser mala feliz do
Am igo
refugiados de Coblenw faces de p apler machi alegría
p a tr i o t a s
nio cobiçar
Prussianos Austríacos
p a r is ie n s e s
dever afiar lanças e sabres o Infama Capelo déspota Antigo Regime dever apossar-se da chave do guarda-comlda
dar bons conselhos
falar de certo modo ifuturo) nio ver um palmo adiante do na riz
o p e r é r io
nós
um princípio, e que, mesmo podendo parecer ultrapassados e ingênuos face às recentes pesquisas de análise do discurso, permitem, pelo menos, uma primeira abordagem de um corpus, e autorizam a construção do dicionário específico de tal ou qual orador revolucionário, ou de tal ou qu al grupo só do -po lítico .18
6.5.
Os limites desses métodos
Método ligeiramente distributivo, a lexicología opera essencial mente ao nível do vocabulário e não do discurso. Por isso, quando se considera abordagem de uma formação ideológica, fantasia um pouco o seu objeto. Certo número de mecanismos escapam à sua análise, mecanismos que constituem vestígios da ideologia, efeitos da ideologia sobre o discurso. Primeiramente, o aparelho retórico: estratégia de argumentação, referendas^ en un dã do s relatados, citações históricas, empréstimos da mitologia greco-latina; o jogo complexo do aparelho enundativo: pronomes pessoais (freqüentes passagens do “vós” ao “nós”, etc.), sistema dos tempos, formas interrogativas, interrogativonegativas, que implicam em dúvida, ênfase; formas passivas que per
Notas do capítulo 6
1.
Ver a esse respeito o cap ítulo ante rior.
2.
E. Be n v e n i s t e , "Les problémes séman tiques de la recon strution” in P ro
5.
blimcs de linguisltque générale, N . R . F . , 1966. J. D u b o i s , Le Vocabulaire politique et social en France, de 1869 a 1872 , Paria, 1962, p. 188. Todo o problema es ti em escolher as palavras importantes em função das questões que se fazem ao texto, e não em encontrar no fim da pesquisa exata mente o que se colocou no inicio. O problema da escolha das unidades a serem tratadas é dos mais complexos. J. D u b o i s , op. át.
6.
J. D u b o i s ,
7.
Encontraremos uma análise dessas relações em J. P e y t a u e E. G e n u v r ie e . Linguistique et enságnement du français, Paris, Larousse, 1970, p. 213, in
3.
4.
op. á t .
Aliás, o subtítulo da obra é Texte, étude thématique et sémantique. A pes quisa é certamente a das múltiplas associações de um termo, mas sem que o método esteja explícito: “ O gênero literário da obra exigía por certo uma análise de conteúdo cen trada so bre ce rto núm ero de temas do utrinários que englobam o conjunto do m istério cristão. Mas da perspectiva de urna das mentalidades e da psicologia coletiva, essa metodologia experimentada é inadequada. Assim, atribu ím os um a posição privilegiada à leitura semân tica, cujo visor foi estab eied do praticam ente a partir dela própria. Po r uma espécie de calma reflexão, análoga ao exercício monástico da lectto divina e mesmo à "atenção instável” do analista, tratava-se de fazer surgir, e depois exaustivamente localizar, palavras, a tal ponto arraigadas na alma do pre gador que reaparecessem regularmente, isoladas ou em cachos, mas sempre ricas em coerência. Esses qu ar en ta vocábu los “ significantes” servem para explorar a paisagem mental de um cenáculo místico, impregnado de evangelismo humanista e de profetism o esp iritual” . O autor estuda ce rto nú mero de campos semânticos: “ O enraizam ento cósmico” , centrado em torno dos vocábulos polissêmicos "terra e mundo”, “ar e céu”, “água”, “fogo c luz”, o sentido do corpo e da alma em tomo das palavras que indicam o olfato-o tato-a audição-a visão-o coração do homem, em tomo da palavra coração que aparece um a ce nte na d e vezes no m anuscrito. Esses métodos, ao mesmo tempo qua ntitativos (basea dos no núm ero de ocorrências) e se mânticos, constituem fund am en talm ente um a espécie de temática valorizada, na medida em que as redes semânticas constatadas não são elaboradas, na medida em qu e a me todologia perm anece secreta. Con tudo, este trabalho pareceu-nos apatr onante à le it u ra e d e c e n o m odo se m elh ante às ab ord agens lexicológicas. Por isso lhe de dica m os esta nota.
Ca p í t u l o 7
O MÉTODO DE ANÁLISE DOS ENUNCIADOS
O método de análise dos enunciados permite ultrapassar as incer tezas, as ambigüidades dos métodos lexicológicos, em particular da queles que se fundamentam num isomorfismo simples entre comporta mento político e com portam ento lingüístico. Certamente, com preender ao mesmo tempo seu alcance e seus limites necessitaria antes de tudo que se recolocasse Harris na historia da lingüística, precisamente na
todas as possibilidades c om binatorias dos elementos, no inte rior dos en un oad os. Po steriorm ente , este método fñi pstwiffírin a nm nfvr l superior da fiase, ao discurso seguido. Este último encontra-se, de ste modo, recortado em elementos agrupados em classes de equivalência. Trata-se, repetimos, de classificar os elementos de modo a revelar os esquemas recorrentes de morfemas que representem uma mesma estru tura sintática. Dois elementos são considerados equivalentes se se encontram em contextos idênticos ou equivalentes. Tomemos o seguinte exemplo, proveniente de um discurso se guido: — — — —
o o a o
vento sopra, e faz as folhas caírem vento sopra, é o fim do outo no chuva oblíqua e fria faz as folhas caírem céu está cinza e baixo, é o fim do outono.
As seqüffnrias “e faz as folhas caírem” e “é o fim do outono” encon tram-se num contexto idêntico a “o vento sopra ” . São equivalen tes, isto é, pertencem à mesma classe de equivalência. As outras se qü ên da s, “a chuva oblíqua e fria” e “o céu está cinza e baixo” não se encontram num contexto idêntico, mas num contexto equivalente, uma vez que
I
ík
Ura ponto essencial que deve ser observado é que os elementos constitutivos de uma classe de equivalência não constituem a priori conjuntos semânticos. Não existe a priori identidade de significado no Interior das classes de eaíuvãlência; só o esquema de frase e, neste esquema, o con texto é determ inante. O problema será justam ente de terminar num texto a relação das correlações sintáticas e semânticas ou as possíveis distorções. As classes de equivalência são, pois, paradigmas dos elementos que aparecem num mesmo contexto no interior de uma mesma estru tura de frase. A estru tura de um texto, no en tanto, raram ente é recorrente, ao ponto de permitir classificar, de início, as unidades em classes de equivalência. Daí uma noção central em H arris , a de tran s formação, simples processo operacional, complementar, da análise distribucional. Para m ostrar que a transformação é uma reg ra de equ i valência entre duas frases, tomemos de empréstimo a N. Ru wet 1 o seguinte exemplo. Nas frases: 1) a direção dispensou duzentos mineiros 2 ) os sindicatos protestam contra a dispensa dos operários, não posso afirmar de imediato que dispensou 200 mineiros e a dispensa dos operários pertencem a uma mesma classe de equivalência. É neces
1) a direção dispensa os operarios 2) os operarios foram dispensados pela direção há as mesmas co-ocorrências individuais, enquanto que em 1) os operários foram dispensados pela direção 2) a flor foi colhida pela criança há co-ocorrênda de ciasse (estrutura passiva), mas não co-ocorrência individual; não há transform ação. Num a transformação, as relações entre e l e m e n t o s sãn idênticos, só muda a forma pramaticaTT Daí, re sulta que, para Harris, as transformações são relações simétricas, rever síveis, o que autoriza o pesquisador a operar esta “manipulação transformacional’' cm qu alqu er sentido . O corolário de tais definições é que a transformação não poderia modificar o significado. Pelo menos t o que afirmava Harris em seu artigo fundamental, “Discourse Analysis” . 2 Num artigo mais recente, “ Co-occurrence and T ransform ado n” , 3 ele insisda nas diferenças estilísticas acarretadas pelas tran s formações. Indicava, além disso, que havia modificação do sentido pefo acrésdmo de morfemas de negação, de interrogação. Em Structures Mathémaiiques, * Harris distingue dois dpos de transformações: as que modificam o significado, as transformações não-parafrásticas e
course analysis reprints” e “Structures mathématiques du langage”. Distinguiremos com H arris as transformações, das quase-transformações. A transformação passiva SNl 4- V +
SN2 —► SN2 + ser + V + PP +
por + SN l.
Exemplo: a direção dispensa duzentos mineiros —>
SNl
V
SN2
duzentos mineiros são dispensados pela direção
SN2
ser V
PP por SN l
Harris leva em conta a transformação enfática, as transformações negativa, interrogativa, imperativa, as transformações de modalização, agrupando-as com a transformação passiva, como relação entre uma forma de frase e uma outra forma de frase, em proposições indepen dentes não-encaixadas. A transformação relativa
os senhores são ávidos
SN1
ser
adj.
os senhores oprimem seus camponeses
SN1
V
Transformação de coordenação Se Co, como símbolo, remete ao conector de coordenação (e, mas, ou, etc.), o princípio da transformação é o seguinte: X Co Y —► X. Y. com uma equivalência entre X e Y Os Brissotins e a Corte desejavam a guerra
SN1
Co
SN ’l
os Brissotins desejavam a guerra
SN1
V
a Corte desejava a guerra
SN’l
V
Exemplo: O r principais constitu in te s queriam o voto censitário e
Exemplo: Ele veio porque a chuva havia cessado —> Ele veio (porque) a chuva havia cessado.
Seria necessário acrescentar, além disso, as transformações de pro posições comparativas, em que o conector toma a forma de mais que, tanto quanto, tal como, etc. Harris, em seus últimos artigos, distingue as transformações adma (relativa, coordenação, subordinação, compa rativas) das precedentes, na medida em que as transformações do tipo da relativa referem-se, não a frases independentes, mas a seqüências entre as quais os conectores intervém.
As transformações de nominalixação São transformações pelas quais uma frase inteira pode ser trans formada em sintagma nominal, em seguida encaixada numa outra frase, chamada frase matriz. A frase transformada em sintagma nominal pode tomar o lugar do sintagma nominal sujeito ou do sintagma nominal objeto. Esta transformação reveste várias formas. Tomemos um exem plo simples:
A frase Penso que virás origina-se do mesmo processo. Decompõese em duas frases Penso isto tu virás Virás
está encaixado pelo que na frase matriz penso.
A transformação infinitiva entra igualmente neste tipo de trans formação. Fara um estudo completo e detalhado das transformações nomi nais, consultar os trabalhos de J. Dubois. 8
As quase-transformações São transformações que criam problema, cujo manejo é delicado e precisa de certas precauções. Seja a transformação do tipo SN l é SN2 —* SN l equivalente a SN 2 Esta equivalência deve logicamente implicar a reversibilidade absoluta
A transformação adjetiva
do tipo: SN l Prep SN3
SNl Adj. 3
Exemplo: A ação do proletariado
SN l prep.
SN3
—* a ação proletaria SN l Adj. 3
A transformação age sobre o SN3 transformado em adjetivo, com elisão da preposição. É preciso no en tanto notar que não existe relação unívoca entre o adjetivo e o torneio preposicional. Isto pode acarretar diversas formas de ambiguidade, pois um mesmo adjetivo pode cor responder a duas estruturas preposicionais diferentes, de e para, por exemplo. J. B. Marcellesi, estudando o adjetivo cegetista, 7 mostra que ele pode ser colocado em relação com de ou com para. A este propósito, escreve: “As relações entre o nome e o adjetivo, sobretudo o adjetivo político por excelência, o adjetivo em "ista", são ambíguas, já o obser vamos por várias vezes. Mas o próprio sentido do adjetivo deve ser colocado em relação com a polivalencia de “ de” Assim, cegetista —
É o caso de verbos chamados inversos lexicais comprar — vender ganhar — perder dar — receber 7.3 .
Exemplo de redução de frases com plexas
Para ilustrar de maneira concreta a utilização das principais trans formações enunciadas no sumário acima, retomaremos o anexo de nosso artigo “Feudo e senhorio no direito e na ideologia jurídica do fim do século XVIII”, 8 a propósito de algumas frases do discurso de Merlin de Douai, de 8 de fevereiro de 1790. A este respeito, impõe-se uma observação. A manipulação transformadonal foi elaborada pela língua contemporânea. Não se podería aplicá-la sem precauções a textos que provêm de outras sincronías. Ela não podería, por exemplo, ser meca nicamente aplicada à língua do século XVII. Quanto ao que concerne ao fim do século XVIII, dá resultados apreciáveis, com a condição de se levar em conta certos torneios sintáticos, certos latinismos, etc.
As leis particulares nas sucessões dos antigos bens feudais to m am -s e sem objeto. As leis particulares nas sucessões dos antigos bens feudais to m am -s e sem aplicação. 5)
Aparecimento do sintagma não há e transformação de coordenação
não há mais direito de morgadio para os feudos não há mais direito de masculinidade para os feudos.
O conjunto de proposições originárias da 1.* frase realizada é o seguinte não leis leis sem leis sem não não
há mais feudo particulares nas sucessões regiam os antigos bens feudais particulares nas sucessões dos antigos bens feudais tornam-se objeto particulares nas sucessões de antigos bens feudais tornam-se aplicação há mais direito de morgadio para os feudos há mais direito de masculinidade para os feudos
2.a frase de Merlin de Douad •
o direito censual não passava de um atributo da superioridade censual o direito de reivindicação feudal não pode mais existir o direito de reivindicação censual não pode mais existir. 7) Não passava de eliminado e substituído por um advérbio de res trição somente: o direito feudal era somente um atributo da superioridade feudal o direito censual era somente um atributo da superioridade censual
O conjunto das proposições originárias da frase realizada n.° 2 é o seguinte: não há mais feudo não há mais rendas do feudo a superioridade feudal desapareceu a superioridade censual desapareceu o direito de reivindicação feudal era somente um atributo da supe rioridade feudal o direito de reivindicação censual era somente um atributo da supe rioridade censual o direito feudal não pode mais existir
1) 0 direito de reivindicação feudal não pode mais existir 2 ) o direito de reivindicação censual não pode mais existir 3) a lei e a vassalagem não podem mais existir Obtemos uma frase de base que comanda as duas classes de equi valencia obtidas: X Y Z
é abolido
1, 2, 3 sao equivalentes, urna vez que se encontram em contextos idénticos. 1) os cargos honoríficos .. . devem ser encarados como abolidos 2) a formalidade de reconhecimento do novo vassalo da proprie dade do senhor feudal e de recenseamento. . . deve ser enca rada como abolida
3) a formalidade censual. . . deve ser encarada com o abolida 1, 2, 3 são equivalentes. A redução da frase deixa igualmente surgir um outro esquema de frase do tipo X, Y, Z definição
o direito de reivindicação censual a fidelidade e a vassalagem os cargos honoríficos Os elementos da classe SN2 prep. SN3, que se encontram em contextos não mais idênticos, mas equivalentes, são equivalentes. Esta análise faz aparecer a importancia do núcleo verbal, urna vez que tudo gira em tomo de três esquemas de frase: X era... X é abolido X nao deve ser abolido O conjunto do discurso de Merlin. de Douai pode resumir-se nos se guintes esquemas: 1) 2) 3) 4) 5) 6) 7)
X é originário de um contrato X é um direito feudal X deve ser mantido Y não é originário de um contrato Y era... Y não é um direito feudal Y não deve ser mantido
que se d i como invarian te um dos termos das prop osiçõ es” , escreve J. Dubois.
Todos os exemplos que se seguem apelam para esses mesmos pro cessos, a saber, que o corpus foi constituido a partir de urna invariante. 7.4.1.
Análise lingüistica do vocabulário da guerra da Argélia 3
A tese de III ciclo de D. Maldidier inscreve-se ñas pesquisas de sociolingüística. Sua finalidade é encontrar as complexas relações que colocam em conexão os comportamentos lingüísticos e os comportamemos extralingüísticos. O material de base é um conjunto fornecido por seis diarios franceses, L'A uro re, Le Fígaro, Le Parisién liberé, Le Mon de, Le Populaire, L'H um anité. Trata-se de colocar em relação, num quadro sincrónico preciso, os enunciados que, nos seis jornais, dão conta de um discurso aco ntecimento, oficial, e que o comentam . A inva riante de situação é assim o discurso oficial, as variáveis, os comen tários des te discurso oficial pelos seis jom áis. Par a d ete rm ina r as frases de base que subjazem ao discurso político da guerra da Argélia, reter-se-ão as frases construidas em torno de palavras-pivó, tais como "Arg élia” , "F ran ça ”, “ argelino", “ francês” . O o bjetivo consiste, de um lado, em isolar um modelo de competencia comum a todos os lo
1.a sincronia
A Argelia é a França e sua variante: A Argélia é parte (integrante) da França.
Se se reduzir a ênfase, obtém-se como esquema de frase essencial A Argélia é a França.
Nos cinco jornais citados, salvo L ’H um anité, este esquema de base está reproduzido, seja diretamente, seja sob várias formas, sendo a mais corrente a do tipo SN1 é SN2 de SN2 Adj. A Argélia é um a província da França um território francês os três departamentos franceses da Argélia.
Obtém-se este último sintagma nominal pela transformação de nominalização, a partir de A Argélia te m três departam ento s Este s departamento s são da França
Há, primeiramente: relativização. a Argélia tem três departamentos que são da França
2.a sincronia: fevereiro de 1956
As duas fórmulas recorrentes do discurso oficial são os laços entre a Argélia e a França e a personalidade argelina. Elas estão em estreito relacionamento com as frases básicas do discurso. D. Maldidier escreve a este respeito: “ As duas proposições de base, A é F e A dep en de de F dão conta, ao mesmo tempo, das fórmulas do discurso oficial que representa suas transformações ambíguas, e da maior parte dos desem penhos dos diários. Pode-se, então, considerar estas duas proposições como um modelo de competência que permanece invariável e, na pas sagem de uma sincronia a outra, encarar a variação ao nível dos desem penhos realizados no discurso.” 9 A seqüência os laços entre a Argélia e a França liga-se a muitas variantes, tais como a união indissolúvel entre a Argélia e a França. Tal seqüência remete às duas frases de base fundamentais. Pode-se efetivamente obter A é ( parte d e ) F —> A e F são uma uma unidas ligadas A depende de F
A é ligada a F
de maneira a eliminar o fato de que ela provém de uma transformação negativa de A é F. Le Mon de, pelo contrário, dá conta da ambigüidade. Quando L ’Hum anité produz o sintagma, é sempre tomando certa dis tancia em relação a ele, e opondo a ambigüidade de “personalidade arge lina” à univoddade de "fato nacional argelino”. L ’Hum anité opõe, portanto , “ personalidade argelina” ao mesmo tem po a “ A é F ” e ao “fato nacional argelino”.
3.a sincronia: maio-iunho de 1358 Os discursos de De Gaulle são marcados pela recorrência de um enunciado da seguinte forma: Não há mais na Argélia senão franceses integrais — ou, o que é uma variante: os dez milhões de franceses da Argélia. Pode-se pensa r que estes enunciad os são o equivalente de: Todos os N da Argélia serão N que são franceses integrais. Assim, o enunciado de De Gaulle representa um tipo de transformação da pro posição de base A é F, caracterizada pelo fu tu ro. O que cria a ambi güidade da transformação é que este enunciado solicita duas leituras possíveis. De um lado, pode-se ler: os N da Argélia são franceses e os N da Argélia não são (ainda) franceses. E ste enunciado postula a realização concreta da igualdade entre europeus e muçulmanos, todos
4.a sincronia: setexnbro-outubro de 1959
É a fórmula “a autodeterminação’’ que vai suscitar numerosos comentários nos seis jomáis analisados. O sintagma admite um complemento “da Argélia” ou “dos argelinos” que foi afastado segundo o processo da abreviação sintagmática. Corresponde a uma transformação da frase de base: “A Argelia depende da França”, bastante complexa. O ponto de partida é pois esta frase de base “A depende de F” . É preciso fazer com que intervenham aqui as transformações textuais de Harris, os inversos lexicais, inversos distribucionais e semánticos do tipo comprar/vender, ganhar/perder, etc. A Argélia dep en de da França será assim o equivalente semántico da distribuição inversa A França determin a a Argélia. Uma transformação de nominalização produz posteriormente: a determinação da Argélia pela França.
Entretanto, a utilização por De Gaulle do prefixo auto implica previamente na transformação nominal, uma transformação reflexiva. Esta só é possível se houver uma identidade entre SNl e SN2. X determina X A Argélia determ ina a Argélia
A primeira conclusão coloca em relevo as clivagens sócio-políticas dos jornais em relação à frase de base A é F: 1954
1956
1958
1959
4-
4-
+
4-
4-
4-
4-
"f-
4-
444-
4-
4-
±
±
AU FIG PL LM POP
4-
H
—
4-
-4—
-+
—
significa a adequação a “A é F” — sua recusa. 4-
Segunda conclusão Trata-se do papel da ambigüidade no discurso político e principal mente no discurso da guerra da Argélia. D. Maldidier dá conta disso da seguinte maneira: “A ambigüidade de certos desempenhos do dis
Vê-se aí todo o proveito que o historiador pode tirar da utilização do método de análise dos enunciados que em nenhum momento faz a economia da estrutura lingüística dos textos. 7.4.2.
A s palavras “socialism o” e “socialista" em Jaurès
G. Provost estuda os termos “socialismo”, “socialista”, no dis
curso de Jaurès. 13 Segundo os métodos de Harris, G. Provost primei ramente reagrupa os enunciados de maneira a estabelecer classes de equivalência dadas pelo texto, isto é, a partir de frases de estruturas muito simples. Operado este ponto de partida, a manipulação transformacional permite-lhe reduzir os enunciados e reduzi-los às estruturas simples assinaladas precedentemente. As transformações e a redução dos enunciados daí resultantes colocam em evidência esquemas de frase e suas variantes. Observam-se nitidam ente duas direções. Quand o o sintagma verbal não admite senão um sintagma nominal sujeito nome animado/abstrato, “socialismo”, “socialista” vão entrar em enunciados de grande valor de generalidade, ou enunciados definidores. Neste caso, trata-se de ura enunciado didático, cujo operador verbal é “ser” e os verbos que com ele são permutáveis.
As duas dasses de equivalência N e X podem ser representadas como se segue:
X
N
(a)
doutrina sistema tendência concepção ideal pensamento filosofia obra forma
o socialista é
a
N
liberadora esperançosa humanitaria moral religiosa materialista solidaria sublime verdadeira apaixonada espontânea revolucionária universal profunda alta íntegra justa nobre
O socialismo quer fazer existir a reunião de todos os Estados da Europa. O socialismo ( modalidade. Fazer existir) X Exemplo:
O socialismo esforça-se por abolir todas as fronteiras, por estabe lecer uma certa maneira de viver "internacional”. O socialismo esforça-se para que sejam abolidas todas as fronteiras, para que seja estabelecida uma certa maneira de viver "internacional”. O socialismo quer fazer existir a abolição de todas as fronteiras. O socialismo quer fazer existir o estabelecimento de urna certa. .. O socialismo (Mod. fazer existir) Exemplo:
É preciso que o socialismo empreenda. . . a educação das massas. os socialistas devem empreender os socialistas devem fazer existir a educação das massas. os socialistas (Mod. fazer existir) X G. Provost conclui que “o estudo do discurso de Jaurés no campo
A primeira frase básica apresenta-se como se segue: P1
0 agregado 0 bom candidato profes sor 0 professor 0 pedagogo
ê o homem que
se comove p or uma obra é sensível a um texto ama
um autor
A segunda frase básica é a seguinte: P2 (Q u e )
o professor o b om candidato j u lg a os doutos
ser d e v e r s er
todos hom ens sensíveis a crianças
po p o d e r ser alguém
Seja, pois (escrevem J. Sumpf e J. Dubois, de quem copiamos aqui textualmente a formulação): 1 ) O bom candidato ê aquele que saboreia este texto NI N I N2 VI N2 2) O bom candidato é aquele que julga que todos amam este texto NI N I NI V2 NI VI N C ( N 1 é Ni qu que VI N2) 4- (N i é N i que que V2 qu quee N i VI N 2)
tico, tico, humanista, hum anista, no sentido tradiciona tradicionall do termo, retórico. Tudo Tu do passa passa por po r uma espécie esp écie de comu co munh nhão ão entr en tree o locu lo cuto torr e a obra ob ra que qu e comand com anda, a, prim pr imeir eiro, o, a instân ins tância cia do gosto go sto,, depois, dep ois, a-do a- do julga ju lgame mento nto.. As frases de base definem defi nem um q uadr ua dro o de pressup press upost ostos os que qu e devem dev em ser comun com unss aos candidatos e ao ao júri, o que se se pode definir por po r urna urna cultura cu ltura (gosto (go sto + julgam jul gament ento o + retó re tóri rica ca)) comum com um que qu e se revela no discur dis curso so do sujei su jeito to universal. 7.4.4.
" Feudal, feudalismo e direitos feudais"
nos ’cahiers de doléances' de 1789 da burguesia e nos da nobreza 16 A análise dos enunciados pretende ser resolutamente comparativa. Procurar as frases básicas da burguesia e da nobreza sobre o feudalismo significa verificar se os dois grupos sociais operam com um modelo ideológico comum ou se, além do léxico, que pode ser em parte comum, encontram-se em ação dois modelos antitéticos. fe udal alid idad ade, e, raramente direitos A nobreza não utiliza o termo feud feud fe udai ais. s. Seus desem des empen penho hoss fazemfazem-se se ao nível das especificações dos direitos feudais, ou de uma fórmula de inclusão, os direitos da nobreza. O discurso da nobreza sobre a feudalidade passa pela unidade léxica
.. terceira frase, enfim, obedece à seguinte forma: os X da nobreza de vem ser conserva conservados dos
É possível chegar ao terceiro esquema de frase fundamental através de outra relação lógica. 1) a propriedade deve ser sagrada 2 ) a nobrez nobreza a consen con sente te na igualdade fiscal fiscal mas em compensação
3)
os X da nobreza de ve m ser conservados conservados
pr opried iedade ade é a seguinte A classe dos X incluída na propr Os Os Os Os Os
direitos ligados às terras direitos ligados aos feudos direitos ligados às altas magistraturas direitos ligados às médias magistraturas direitos ligados às baixas magistraturas A r ordens A s justiças patri pa trim m onia on iais is A s honrar honrarias ias d e d irei ir eito to
C
Propriedade
— os dire itos feudais feu dais Y são são uma propriedade resgat atado ados. s. — os dire itos feudais Y devem ser resg A primeira frase de base faz aparecer a classe de equivalência Os direitos feudais X são
ridículos insólitos indecentes usurpados,
etc.
ou, conforme a estrutura:
X SN1 + ser ser + Adj Adj. + SP .
os direitos feudais são
contrários contrários contrários contrários
à liberdade geral dos cidadãos à liberdade natural à liberdade ao direito natural, etc.
A classe de equivalência X reúne os elementos de um domínio semântico homogêneo, o dos traços negativizados, animados ou não animados, dos direitos feudais.
— O limite lim ite fun fu n da dam m en enta tal,l, en enfim fim,, foi m uito ui to clar cl aram amen ente te ex expp ress re ssoo p o r J. Dubois, quando escreve: “mesmo aperfeiçoada pela contribuição da Lingüística transformacional, afinada pelas precauções metodológicas para par a c o n sum su m ir inva in varia riant ntes es de situa sit uaçã ção, o, a an análi álise se d e disc di scur urso so fica fic a na persp pe rspect ectiva iva be beha havi vior oris ista ta e sua e ficá fi cáda da nã nãoo de deve ve fazerfaz er-nos nos esqu es quec ecer er que que,, sendo o texto ao mesmo tempo seu objeto e seu fim, ela deixa escapar o essendal; as estruturas subjacentes da enunciação podem ser identifi cadas cadas com as estru e stru turas tur as manifestas do enunc enu nciad iado? o?”” iT Encontra-se Encon tra-se assim levantado o problema de enriquecer a análise do discurso por uma análi análise se dos fenômenos enundativ enun dativos. os. Com efeito, todo to do texto é mo dulado de maneira muito variável. variável. Esta modulação é expressa por p or certas indicações, o sistema de pronomes, advérbios, verbos de opinião, os tipos de modali modalizaç zação, ão, “ sem sem dú dúvida vida”” , “felizmente” “felizm ente” , “ creio” creio ” , etc. etc. Qualquer texto perde assim sua transparênda e torna-se ambíguo; apressemo-nos em abandonar o postulado da transparência do sentido.
7.6.
O trat tratam am ento ent o automáti automático co A .A .D . O método de tratamento automático A.A.D. baseia-se em parte
salaires, on est tenté de trouver dans le fait que la météorologie natio nale est en gr'eve et que les employés se plaignent dans la météorologie nationale de la modicité des salaires, Vexplication des insuffisances clima tiques ( tou t le monde a souffert au cours cours des derniers derniers mois des insuffisances climatiques en questions ). * 2.° A frase é decomposta conforme os processos tradicionais de análise lógica, a fim de conservar intacta a ordem hierárquica do encadeamento das orações. A) Oração principal
Sernos tentados a ver. .. a expli cação das insuficiências climáticas de que a meteorologia no fato
B) Oração subordinada subjetiva completiva nominal e
está em greve
C) Oração subordinada subjetiva completiva nominal
de que os empregados se queixam na meteorologia nacional da modicidade dos salários
D) Oração subordinada adjetiva
Todos sofreram no decorrer dos últimos meses com insuficiências
Quanto às orações acima, temos: A
1 2 3 4 5
— — — — —
B
6 — a meteorologia está em greve 7 — a meteorologia ê nacional
somos tentados vemos a explicação vemos em X a explicação das insuficiências a insuficiência é climática
os empregados se queixam os salários são módicos os empregados estão na meteorologia a meteorologia é nacional
C
8 — 9 — 10 — 11 —
D
12 — todos sofreram com insuficiências 13 — todos sofreram nestes meses 14 — estes meses são os últimos E = F =
B C
Esses enunciados mínimos são apresentados assim:
1) 1000 significa estado passivo, afirmação, indicativo presente 0000 significa ativo, afirmação, indicativo presente 0003 significa ativo, afirmação, indicativo pretérito 2) R na coluna D i significa que um substantivo munido do mesmo determinante já foi encontrado. 3) + significa ausente, conjunto vazio. 4) E uso da cópula no caso de adjetivação e de complemento nominal. SER/ESTAR, quando o verbo ser/estar ocorre nas orações antes de redução em enunciados mínimos. 5) * asterisco, marca a ausencia de preposição. 6) S sinal da oração objetiva que se vai encaixar na frase matriz, também dita proforma. 4.° Constrói-se o grafo das orações. Os centros serão constituídos pelos enunciados e os arcos repre sentarão as relações entre os enunciados.
Os sinais das relações utilizadas são:
51
dados dois enunciados E l e E2 tais que E2 determina E l, utiliza-se 51 quando o termo na posição N I no enunciado E l é determinado por E2. Assim, entre a meteorologia está em greve e a meteorología é nacional, o NI de El a meteorologia é determinado por E2
é nacional. 62
quando o termo na posição N2 no enunciado E l é determinado por E2. Exemplo: entre vemos a explicação e a explicação é das insu ficiencias, é o termo explicação que se encontra em N2 e que é determinado por E2 insuficiências.
QUE, QUANDO, E P R G l:
modalidade pragmática. É usada quando o sujeito do enun ciado implica nele próprio, como é o caso entre “nos somos tentados” e “nos vemos a explicação”
SPE
conector especial para ligar os enunciados incompletos que resulta da decomposição das orações.
:
O grafo pode ser completado pelo acrésdmo de certas conexões que Iigam varios enunciados. Assim, que e quando referem-se ao mesmo tempo a B e C, e portanto a 6 e 8. Decorre, então, o seguinte grafo, após a operação de saturação:
62
14
1 2 2 3 4 4 12 13 6 6 6 8 1 1 8 10
06 02 08 11 02 02 09 02 01 20 40 11 22 22 01 02
2 4 3 6 5 12 13 14 7 8 8 9 6 8 10 11
06 02 08 11
= = = =
PRG1 82 SPE QUE
09 = CIRC 01 = 81 20 = E 40 = E 22 = quando
Esse: quadro prepara o tratamento automático dos dados 5.° Tratamento automático O conjunto dos enunciados elementares e o conjunto das relações biná rias são postos em cartões perfurados.
sideremos o valor 28. Retomemos o exemplo escolhido por G. Gayot e M. Pêeheux num recente artigo: 19 <088 0000
R
HOMM
SO L I,
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3289 0000
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-------------------------------------V
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A 0320 0000 #
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51
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MAIN
51
0321
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0 D E U X
■v D
Os dois enunciados foram reunidos pelo programa porque têm o mesmo conector (51). O subprograma compara o conteúdo de A e de C, e depois de B e de D, em função de coeficientes, conforme sejam encon trados ou não os mesmos elementos nas mesmas categorias. Quanto a F, vemos que os 2 enunciados à esquerda são idênticos (0000), atribuiremos 5. Na coluna D l atribuiremos 0 (R ^
), 0 para os N l (H OM M ^ N ous), 0 para os verbos, 5 para a coluna Prep ( * = = * . 0 para D2 e 0 para o N2. Os enunciados à esquerda, quanto à sua relação de proximidade, têm um total de , 5 + 5 = 10
D e s t a v e 2 , o p a r d e r e la ç õ e s b i n á r i a s é m a n t i d o .
O programa principal reúne, terminada a operação de comparação das relações binárias, todos os pares assim mantidos e os transforma em domínios semánticõY7~
“Duas relações binárias RI e R2 pertencem a um mesmo domínio, se a proximidade entre RI e R2 satisfaz à condição imposta (valor igual ou superior ao valor fixado previamente), ou se existe uma relação R3 tal que as proximidades entre RI e R3, por um lado, e R2 e R3, por outro, sadsfazem essa condição.” 2 A respeito do exemplo apresentado em seu artigo, G. Gayot e M. Pêcheux apresentam o seguinte domínio: or homens solíatam os empregos públicos ^
todos os hom ens têm um fund o secreto nós temos duas mãos todos os seres têm um fundo secreto
Em outro artigo, M. Pêcheux, Cl. Haroche e P. Henry consideram o seguinte domínio: a luta pela defesa das liberdades
nós temos duas mãos os homens solicitam os empregos públicos homens todos os seres têm um fundo secreto
Falta apenas interpretar esses domínios semânticos e suas substi tuições de equivalências (simétricas) ou de implicações (nao-simétricas) para caracterizar a configuração semântica de um discurso. No total, o método ainda tem que ser aperfeiçoado em dois planos principais. Por um lado, precisa desenvolver uma teoria dos substi tutos dos conectores e, por outro, precisa encontrar um meio de deter minar quase automaticamente as substituições simétricas e as substi tuições não-simétricas. Contudo, do modo que está, parece-nos ir muito mais longe que as pesquisas de co-ocorrências na abordagem dos meca nismos discursivos. “Para concluir, levantaremos rapidamente duas questões que, ao nosso ver, comandam diretamente o desenvolvimento dessa orientação de pesquisa. O primeiro ponto diz respeito à urgente necessidade de definir que semântica o lingüista pode legitimamente empregar em sua prática lingüística (de análise fonológica, morfológica e sintática); a questão da identidade de sentido, particularmente em sua relação com
Notas do capítulo 7
1.
N. R i a t e t , Introduction à la grammaire générative, Paris, Pión, 1967, pp. 233-240.
2.
Z. S. H a r r is , “Discourse analysis”, trad. de F. D u b o i s -Ch a r gages n.® 13, m arço d e 1969.
3.
Z. S. H a r r is , "Co-occurence and Transformation in linguistic structure", Langage n.° 33, 1957.
4.
Z. S. H a r r is , Structures mathémanques áu langage, trad. de C. F u c h s , Paris, Dunod, 1971.
5.
O. D u c r o t e T. T o d o r o v , Dictionnaire encyclopédique des Sciences du lan gage, Paris, Le Seuil, 1972, p. 309.
6.
J. D u b o i s , Grammaire structurale du français: la pbrase et ses transforma tions, Paris, Larousse, 1969.
7.
J.-B. M a
rcellesi
l i e r ,
in Lan-
" Fiem en ts po ur une analyse co ntra stive du discours poli-
19.
G. G a y o t e M. P ê c h e u x , “Rccherchcs sur le discours illuministe au XVIII* siècle: Gaude de Saint-Martin et les circonstances”, Annales E. S. C. , maio -agosto de 1971.
19.
Idem, p. 692.
2 0.
Q . H a r o c h e , P . H e n r y , M. P ê c h e u x , “La semantique et la coupure saussurrienne, langue, langage, discours”, Langages n.° 24, dez. de 1971.
21.
Idem, pp. 105-106.
Ca p í t u l o
8
NOTA SOBRE A ANÁLISE SÊMICA
8.1. Generalidades A noção de análise sêmica ou componencial é ambígua, na medida em que pode remeter à língua, ao sistema de regras e ao léxico em sua virtualidade, ou a um corpus preciso, à análise de textos determinados, ao vocabulario. Trata-se de urna tentativa para analisar o conteúdo das unidades léxicas em traços distintivos, segundo o modelo fonológico.
deira se levantou sozinha” , ou “ a cadeira tem feb re” , ou ainda “ a cadeira tem 49 de pressão"; ou ao menos para se chocar, como tinha sido o objetivo de B. Vían quando ele as escrevia.” 2 — A análise sêmica’ esbarra no problem a da metalinguagem . Com efeito, se digo que um dos semas de poltrona é “com braços", é neces sário encontrar um sistema que distinga “com braços”, enquanto sema, de “com braços" enquanto unidade lexical constituída, ela própria, de semas formulados por unidades léxicas, e isto até o in finito. Na ausência de uma linguagem formalizada distinta das línguas naturais, o problema da metalinguagem da análise sêmica permanece. — A análise sêmica choca-se ainda com o problema das fron teiras, dos limiares entre os “ semas genéricos” e os “ semas específicos” . Distinguem-se, com efeito, semas com valor de generalidade, ex.: animado/ /não animado, animal/humano, etc., e semas específicos, mais direta mente em ligação com o conteúdo da unidade léxica considerada. Entre tanto, as distinções nem sempre são muito claras. Se se tom ar a uni dade léxica “camelo” , dir-se-á qu e “ animado, anim al” são seus semas genéricos, mas onde colocar o sema “de quatro patas”, se por outro lado se afirma que o sema específico de camelo é o número de bossas — aqui, “duas bossas” ? Certos semas parecem, pois, poder classificar-se indiferentemente ao nível dos semas genéricos e ao nível dos semas
O problema se coloca de uma maneira totalmente diferente quan do a análise sêmica se aplica a textos realizados. Não lhe atribuímos ainda um lugar primordial, pois não parece que ela possa ser utilizada como ponto de partida. Em compensação, associada a outros m étodos, ao estudo da enunciação, à análise dos enunciados, em complemento de métodos lexicológicos e estatísticos, seus resultados estão longe de ser negligenciáveis. Alguns exemplos permitirão definir melhor seus contornos.
8 .2 .
As forças oponentes em "Le Père D uchesne" 6
O estudo das forças oponentes foi conduzido em função de um modelo actancial muito próximo, sob certos aspectos, da análise sêmica, “surgindo a análise actanrial como um dos princípios possíveis de orga nização do universo sem ân tico.. . ” 7 — O actante designa uma entidade semântica, unidade de narrativa, uma classe de atores. — O ator é uma unidade léxica do discurso. Seu con teúdo semântico mínimo é definido pela presença dos semas:
forças opon entes) e seus papéis (qualificações e funç õe s). Ver-se-á que qualificações e funções não passam de traços semânticos ou semas.11
8.2.1.
Inimigos
qualificações e funções
Inimigos de fora — estrangeiros austríacos prussianos ingleses — escravos
— fracasso ( no fu tur o) fugir diante de nós estar cercado por todos os lados
Inimigos de dentro — inimigo principal
uma nova cambada de patifes e de intrigantes nobres, juizes do tribunal revolucionário Custine, Dumouriez, Estado-Maior, soldados dados a excessos fazer cachorradas preparar armadilhas ligar-se aos inimigos do povo trair-nos, entregar-nos a nossos inimigos entregar a França aos nossos inimigosentregar o Norte aos nossos inimigos acabar de entregar nossas mais fortes cidadelas a nossos inimigos entender-se com os inimigos do povo querer recorrer à traição querer perder o povo querer entregar a França a nossos inimigos querer negociar a rendição de Mogúncia a nossos inimigos querer entregar Condé e Valenciennes a nossos inimigos — açambarcamento açambarcadores querer açambarcar todas as subsistencias, todos os gêneros
só pensar em seu interesse ter propriedades, uma fortuna, milhões a seu serviço prezar suas propriedades amontoar soldo sobre soldo construir palácios ser de uma avareza sórdida ter um primeiro talento: corromper — exploração enriquecer-se com a Corte e os nobres (no passado) construir sua fortuna sobre a ruína pública comedores de carne humana — autoridade ter autoridade, autoridade homens poderosos querer fazer a lei — inimigo dominante os maiores inimigos da República, nossos mais cruéis inimigos — pequeno número
8.2.3.
Contra-Revolução
um punhado de contra-revolurionários — açambarcamento
agiotas açambarcar o trigo e os víveres, todos os víveres enterrar seu numerário em suas adegas ter em suas mãos todos os meios de subsistência impedir a circulação dos meios de subsistência ceder o trigo apodrecido de seus celeiros e a preço de ouro querer deixar o povo com fome insultar a miséria pública — federalismo
rebeldes revoltados zombar da República detestar a República zombar dos decretos da Convenção fornecer provisões aos bandidos da Vendéia querer lançar abaixo o templo da liberdade volta à realeza
não poder amar de boa-fé a liberdade e a igualdade — peq uen o número um contra mil — fraqueza não serem os mais fortes — concentração em Paris ser vinte mil em Paris esconder-se em Paris — exploração cevar-se com o sangue dos sans-culottes
Contra-Revolução fazer, querer fazer a Contra-Revolução dividir os papéis • no exterior — Coblentz Patife de Coblentz perco rrer toda a Europa para re cru ta r inimigos
covarde do Antigo Regime querer reestabelecer a realeza e a nobreza querer proclamar o pequen o Capeto rei 8.2.5.
Os oponentes no seio da Convenção
qualificações e funções
No paBsado brissotinos * homens de Estado patifes da Gironda répteis, víboras do pântano Brissot, Vergniaud
No presente — membros da Montanha pate ta s da M ontanha
pregadores de moral a perder de vista aqueles que pretendem ter mais espírito, talento de político advogados, jornalistas ser ouvido pela convenção ser o senhor de tudo na convenção conduzir os “montanheses” pelo cabresto Contra-Revolução estar-se preparando para a Contra-Revolução — traição pérfidos acobertados com a máscara do patriotism o falsos patriotas serpentes insinuadas na “Montanha” “montanheses” de dupla cara traidores da “Montanha” amigos de Custine protetores de Custine o dia 31 de maio: os mais covardes, os mais desprezíveis dos intrigantes trair, adular os sans-culottes querer entregar a França a nossos inimigos
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8. 3.
Feudo
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séc ulo
XVIII
Estudando, nos manuais dos práticos do direito feudal, as defi nições e os comentários dados a propósito de “feudo” e de “senhorio” no século XVIII, tentamos reduzir a informação recebida em unidades semânticas mínimas. Para tanto, distinguimos o núcleo sêmico da defi nição, corrspondendo, ao emprego suposto essencial, fundamental, ne cessário ao entendimento da definição, e os semas contextuáis que correspondem à redução dos exemplos, ilustrações, complementos for necidos pelos manuais de direito, ao nível da definição dos termos. Ex.:
o feudo é um a terra obrigada à fidelidade e à vassalagem o vassalo tem o domínio útil do feudo, o senhor, o domínio eminente os feu dos estão subordinado s a leis particulares: recenseamento, comisso, resgate, laudêmio, direito de reivindicação, etc. vassalo e sen hor são pessoas de dignidade. A s pessoas vis que possuem um fe udo devem ao rei o franco-feudo . “Terra obrigada à fidelidad e e à vassalagem” corresponde ao co
Fe u d o
e
Se n h o r i o
no
Sé c u l
S.C.3 Scmcna de feudo N . S .: Núcleo sêmico S .C . l : Sema contextual n.“ 1 S .C .2 : Sema contextual n.° 2 S .C .3 : Sema contextual n.° 3
o
XVIII 12
renda anual dos dos atores, um enquanto que o fraudulenta, ser
feudos, aos direitos do senhor sobre a plebe, à situação dos quais fica na categoria dominante da sociedade, outro (o foreiro) nao pode mais, salvo por assimilação considerado vassalo.
A comparação dos sentemos ( conjunto de-s em as)- de “ feud o” e de “senhorio” permite concluir que, no pensamento um pouco petrificado dos juristas, feudo e senhorio não se confundem, enquanto que, ao mesmo tempo, o pensamento político e polêmico introduz os dois ter mos na “feudalidade”. Dir-se-á que nossos semas não correspondem a unidades mínimas de significação, que são complexos e ainda suscetíveis de redução. Não discordamos. O his to riador trab alha essencialmente com relações, até mesmo com relações de relações. Daí, a complexidade das noções e das realidades que manipula. Deste modo, o oue procu ramos fazer é decompor as definições em unidades reduzidas- que carregam, num mínimo de unidades léxicas, o máximo de informação. Es tas.um dad es reduzidas são chamadas semas ou traços semânticos, tendo^viva cons ciência de que não podemos atingir o nível da unidade mínima de signi ficação. Tais como se apresentam , estas unidades reduzidas parecem-nos dever esclarecer os problemas, autorizam a comparação das defi
A definição por povos /geografia/ não tem nenhuma posteridade no verbete; só escravo é desenvolvido ao mesmo tempo como objeto de comércio e produto do comércio. A estrutura do artigo não é polissémica, o que implicaria frases do tipo: “ Há povos. povos. Os europeus arrebatam arrebatam homens do seio seio de certos certos povo po voss e os tran tr an sfor sf orm m am em escr es crav avos os.” .” O tex te x to é sinonímico (os negros são povos povo s e escravos. Aqui, Aqu i, negros, escravos, povos, são simples simpl es substi su bsti tutivos , o que é claramente indi indicado cado pelas pelas retomadas retomadas po r “ este s” . Esta ocultação do problema da escravatura pela sinonimia situa-se no início e no fim do texto (/mercadoria/, /produto do comércio/). Ela é completada por uma outra polissemia sintagmática que mas cara a transformação de povo a escravo: sistema de oposição invertida A) Negro/mercadoria/vs povo/mercador/. B ) N e g r o / vendedores/vs v endedores/vs escravos/vendidos/. Esta segunda oposição se reforça pela divisão em dois do con ju n to escrav esc ravos os (pa (p a ssiv ss ivo, o, r e fl e ti d o ): “ U ns são v e ndid nd idos os,, o u tro tr o s vendem ven dem--se”, a divisão de um subconjunto de negros que se vendem entre si. Assim, os negros-escravos estão sozinhos em cena. Os compradores ste arti polissemia polissemia sintagm ática e sino
) 3 2 7 1 ( s n o l u r
B s e d y r
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LÉXICO
A maior pane dos termos utilizados foram explicitados no texto. Entre tanto, para facilitar a leitura, apresentamos um léxico sucinto, que se baseia em numerosas obras, particularmente em O. Du c r o t e T . To d o r o v , Dic D icti tion onn n aire ai re en cy cycl clop opéd édiq ique ue d e s Sciences Scien ces d u langage (Paris, il b e r t , Le Seuil, 1972), no léxico que figura no fim do artigo de L. Gu il “A form formaç ação ão do nom nome e ‘a ‘a comuna comuna de Pa Paris’ is ’ no discurso de Marx” Marx”,, La número ero esp espec ecial, ial, 1 9 7 1 , e em J . Pe y t a r d e E . No N o u v e lle ll e C riti ri tiq q u e, núm G e n o u v r ie r , Lin L ing g u isti is tiq q u e et e n se ig n e m e n t d u frança fra nçais is (Paris, Larousse, rousse, 19 19 7 0 ) . Este Est e léxico, é necessário necessário assinalar, assinalar, não tem tem nenhum nenhumaa preten pretensão são científ científica ica.. Vi Visa sa som somente ente a facil facilit itar ar a leitura leitura da obra. obra.
Coeficiente de lexicalidade Se N I T = N I F = N I L =
o número de irens irens do total do texto texto o núm nú m ero er o de iten it enss func fu ncio iona nais is do tex te x to o n ú m ero er o d e ite it e n s léxico léx icoss do tex te x to
N I T
---------- esta relação é tanto maior quanto N I F é menor e, por N I F tanto, N I L
é
grande, urna vez que N I T
=
N IF
+ N IL
Esta relação é chamada coeficiente de lexicalidade. Te nd e para para I quando a proporção de itens funcionais aumenta, e para o infinito quando a dos termos léxicos é a mais importante. Coeficiente de redundancia funcional N I F N F F
considerada, segundo os termos de D. Slakta, como uma reformulação po p o r lín lí n g u a /fa /f a ia de Saus Sa ussu sure re,, urna ur na ve vezz q u e a co com m pe pete tenc ncia ia dá c o m a da “ criatividade criatividade da linguagem” linguagem” , qu quee Saussure remetia à fala fala.. É preciso sublinhar a novidade do método chomskyano, que consiste em partir da frase, enquanto que, com Saussure, estava essencialmente no âmbito das realizações individuais, portanto da palavra. Corpus Conjunto de textos sobre os quais se aplicou um método definido. Distribuição. Distribucioaaliamo Chamam-se distribucionalistas os lingüistas que praticam o método distribucional — que consiste em definir com rigor um método formal de segmentação da cadeia falada em unidades distintivas, definidas unica mente pelas relações que mantêm nesta cadeia, isto é, por seu contexto. Ele se aplica em níveis diversos (fonológico, morfemático) e define as possibilidades de combinações das unidades. Ex.:
inencontrivel é
constituído pela combinação de
in
Enunciado.
Enunciação
O enunciado designa urna seqüéncia de frases entre dois blocos semán ticos O enunciado pode ser apre end ido em sua oposição com a enun ciação. Remete então ao funcionam ento da língua, isto é, a uma com bin ato ria de elementos linguísticos. A enunciação apreen de os traços do ato de produção do enunciado em condições de produção definidas e específicas (ver modalidades, performativo).
Língua Na perspectiva suassu riana, é a parte social da linguagem, um sistema de signos que corresponde a idéias distintas, “existindo o sistema gra matical virtualmen te no cér ebr o” . Po r oposição, a fala será a realização individual da língua e não constituirá, contrariamente à língua, objeto da Linguística.
Lexenta Segundo Ch. Muller, “destinar-se-á o termo lexema às unidades que compõem o léxico; quando estas unidades virtuais são atualizadas no
Perfonn ativo
) N um sentido rigoroso: o riginário do filósofo inglês A ustin , o performativo designa verbos de fala, na primeira pessoa do singular do presente, cuja enunciação constitui um a ação e modifica uma situação. 1
Ex.: Declaro aberta a sessão, por oposição ao en unciado constadvo: o presidente declara aberta a sessão. 2) Num sentido mais amplo, encontrar-se-á o termo perfo rm ativo para designar os verbos que tendem a provocar no destinatário certa ação ou certa atitude. Ex .: o imp erativo, o fu tur o, o subjuntivo, assim como os modais: dever, poder, ser preciso, querer.
Fonema Unidade mínima distintiv a, não provida de sentido. Os fonemas con tribuem somente para a significação. Ex.: no contexto ampe a presença do fonema /L / ou do fonema / R / acarreta uma diferença de significação, em francês: Lampe (lâmpada) Rampe (rampa)
Diz-se ainda que é uma unidade de discurso que se isola no eixo sintagmático, ao longo da cadeia falada.
Transformação (sentido harrissian Relação de equivalência gramatical entre 2 frases ou 2 estruturas lin guísticas que comportam os mesmos morfemas. Ex.: o gato comeu o rato o rato foi comido pelo gato Ex.: o ar é doce a doçura do ar Ex.: o avião aterrissou a aterrissagem do avião
Estas transformações implicam que não haja, fundamentalmente, modi ficação do significado. E necessário não confundir o sentido harrissiano da palavra transformação com aquele que se encontra em Chomsky, onde designa operações abstratas que permitem passar de uma estru tura profunda, ela própria abstrata, à estrutura de superfície.
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COMUNICAÇÕES
N um erosas co m un icaçõe s não pud eram
aparecer no q u ad ro lim it ad o d esta
o b ra .
G é r a r d Ga y o t
DISCURSO AMISTOSO E DISCURSO POLÊMICO
Os írcmco-mações do interior e o Grande Oriente da França no século XVm Os historiadores, há cerca de um século, apresentaram balanços da franco-maçonaria no século XVIII, onde o estudo dos “empregos” foi privilegiado em relação ao dos “recursos". E ainda mais: parece que, na maioria dos trabalhos publicados, os diferentes cargos do “ ativo ” maçônico — beneficência, temas de reflexão, pre paraç ão da
origem no “vocabulário das Luzes"; compartilharam das mesmas ati tudes — porte de espada, por exemplo— ; participaram das mesmas práticas de iniciação. Essa participação no mesmo grupo de referência estaria no mesmo nível de identidade da cultura livresca ou escolar, índice de participação de certos burgueses e de certos nobres nas “elites" das Luzes. 2
Não vamos aqui iniciar um debate sobre a problemática das elites, embora esta seja enfocada cada vez mais freqüentemente nas pesquisas históricas empreendidas, há alguns anos, sobre o Antigo R eg im e.3 Convém, contudo, fazer algumas observações a respeito de sua apli cação à franco-maçonaria. De acordo com o esquema inspirado na teoria das elites, a comunidade cultural das Luzes — donde se originam as atividades maçônicas — agruparia a nobreza e a fração superior do Terceiro-Estado, num amplo movimento unificador, controlado pelos detentores do privilégio, e estendido “à riqueza, à propriedade e ao talento". 4 Evidentemente, essa tese implica a assimilação das Luzes a uma ideologia, isto é, a um conjunto coerente de representações e de comportamentos que regem as atitudes e as tomadas de posição dos homens com relação aos objetos e problemas reais de sua existência no final do século X V I I I . Essa conseqüência, voluntariamente assumida pelos partidários desse modelo de interpretação, merece atenção; com
à expre ssão “ ter fiscal” ! Po r ou tro lado, as Luzes não perm item a pro dução de um discu rso ideologicamente homogêneo, porque os ele mentos do comportamento léxico comum são incorporados em discursos em que as “ palavras m udam de sentido conforme as posições estabele cidas pelos que as empregam”, 7 isto é, conforme seus interesses diver gentes. Mal a concordância sobre o léxico se faz e já as elites se de frontam no discurso. Se retomamos a distinção entre comportamento e discurso a pro pósito da maçonaria, parece, também nesse caso, que o his to riador não pode se ater à simples freqüência às lojas por diferentes categorias sociais, nem ao uso por todos os irmãos de termos como progresso, fraternidade ou liberdade, comunidade de vocabulário que, neste caso, é acom panhad a pela comu nhão de práticas gestuais. Essas palavras-sinais, essas atitudes corporais são integradas num discurso de tipo variável: estatutos ou regulamentos das reuniões, ata de sessão, dis curso de inaugu ração ou de iniciação, cartas, etc. O intere sse da análise é menos o de verificar a presença ou a ausência de tal termo do que o de mostrar os mecanismos de seleção e de combinação desencadeados pelo apare cim ento desse term o; em resumo, dem onstr ar o fu nc iona m ento do discurso maçônico. Pois várias questões ficam sem resposta satisfa tória: de qu e se fala nas reuniões? Como se fala? Q ue função
discretos enviam sua primeira carta de solicitação de reconstituição ao Centro comum (termo que designa o Grande Oriente), a 24 de julho de 1 7 7 4 .11 Analisaremos em ou tro trabalho as causas desse atraso; provisoriamente, o que im porta é insistir na presença perm anente, den tro da loja, a partir dessa data, de uma equipe diretora, responsável pelas relações epistolares, co nstituída pelo venerável Dauzas, major da cidade e cidadela de Mézières, e pelo secretário De Chappes, submajor no regimento provinciano de Lille; do primeiro depende a orientação espiritual da oficina e dos trabalhos, e o segundo é encarregado da re dação das atas e das cartas enviadas pela oficina ao Centro Comum . 12 O destino de De Chappes é ter prestígio, do ponto de vista maçônico: será um dos deputados franceses no congresso internacional da franco-maçonaria templária, reunido em Wilhelmsbad em 1782.13 Assim, os emissores do discurso dirigido ao Grande Oriente da França são os mesmos du rante cerca de três anos. Além do mais, a compo sição social da oficina onde é feito esse discurso permanece estável durante esse período, com amplo predomínio dos representantes do exército, dos membros da nobreza e do aparelho de Estado. Segunda pergunta: quem é esse Grande Oriente de França para que a sede dos irmãos discretos lhe fale desse modo? Essa interrogação refere-se evidentemente à imagem que os franco-mações ardenenses
hipótese de que o aparecimento dessa expressão desencadeia um pro cesso particular de seleção e de combinação de outros termos, “Grande Oriente da França” desempenhando o papel de invariante com relação a um sistema de variações específico do discurso maçônico.
Apresentação dos resultados Os resultados obtidos pela análise automática estão reunidos na forma de domínios (Dl, D2, etc.) que apresentam entre si relações de dependência que não constituem ligações de sentido mas relações estabelecidas pela comparação dos enunciados-origem de cada um dos domínios. Remetemos, neste aspecto, à explanação do método. 1R Para facilitar a leitura dos quadros que vão ser comentados, lem bramos que as barras colocadas entre dois termos ou duas partes de enunciados (Exemplo: D2 ou D19) indicam uma comutação com rela ção ao contexto, isto é, uma relação de equivalência semântica, um fenômeno de substituição. Por outro lado, as flechas, ao unir duas subseqüências, designam uma relação de implicação, caracterizando um efeito de sentido, em tal domínio (Exemplo: D12, onde se observam
AGRUPAMENTO
AGRUPAMENTO I
I
OIS □ 13 os Irmãos deputado
discretos
solicitam
ao
que se acelere o
i
trabalho
*
os ir m ios discretos solicitam
tam
b ãm
0
ao deputado do
D14
0 GOF
os Irmãos desejam
discretos
.
ardentemente
tomar conhecim ento da cir- ,
1 CUiÍr responder w
nos enfoques
Ido GO F ♦
a resposta de
D» os
irmãos discretos soltóla m U m b ém
ao
deputado
que
acelere o trabalho dé a circular aos irmãos dis cretos
0
TM o desejo o zelo a 11gsc io
dos irmãos dis creto# peio
GO F templo do Grão-Mestre
DU submeter*** responder
aos
re tuta men tos enfoques
deputado dos irmãos discretos no GOF sentir concorrer para o alivio resolução do GOF dever
do GOF
AGRUPAMENTO II a
Dis
Comentário dos resultados O processo de seleção e de combinação das palavras, desencadeado pelo surgimento do termo “ Grande Oriente da França” , não aparece necessariamente numa primeira observação. O quadro das relações entre os domínios, se não permite ordenar o comentário, pelo menos permite orientá-lo. É impossível considerar casual a constituição de domínios nodais (D 2 , D 1 2 , D 6 ), dos quais depende praticamente o conjunto dos outros: os primeiros contêm, na verdade, parte ou a totalidade dos enunciados-origem dos últimos. Os núcleos de redes de dependência levantados, o exame dos mecanismos seletivos, próprios de cada domínio, levou-nos a fazer dois agrupamentos, o primeiro em tomo de D2 e de D12 (Agrupamento I), o segundo centrado em D6 (Agrupamento II). O agrupamento I trabalha com o discurso amistoso. Esse conjunto permite-nos observar melhor o mecanismo do discurso maçônico este reotipado, desmontá-lo em larga medida e, assim, circunscrever sua função. A esse respeito, o “estilo” maçônico pode ter valor de exemplo, pois os estereótipos não são semánticamente neutros: atenuam certa ousadia, insistem, por seu caráter iterativo, em tal reclamação e, ainda mais, convocam, com uma freqüência variável, substituições de termos
entre os franco-mações de Charleville e a autoridade parisiense baseada na simples leitura dos textos administrativos. O ato de alijamento dos irmãos discretos ao Grande Oriente parece comportar decididamente poucas restrições. A substituição regulam en to s/enfoques revela, pois, um discurso ordenado em torno de um estrito conformismo que não é nomeado, visto que é amistosamente referido em apoio ao Grande Oriente da França (D14). Esse processo de disfarce do discurso impaciente pelo discurso amistoso manifesta-se claramente no último domínio desse agrupa mento (D 2 ). Po r certo, a relação que une o zelo dos irmãos discretos — comutável com seu desejo — à obrigação futura do Centro comum poderia ser interpretada como o lem brete de um acordo contratual entre os dois interlocutores. O comentário de um domínio ( D 1 2 ) leva à renúncia dessa análise: o discurso estudado, permeado, de ponta a ponta, pela fraternidade maçônica, não deixa lugar para um discurso do contrato. A ligação dos irmãos discretos é tal que, sentida e fiel mente expressa pelo deputado junto ao Grande Oriente, este só poderá responder à solicitação da oficina do interior. A combinação particular dos termos, provocada nesse agrupamento pelo uso da expressão “Grande Oriente da França”, comporta, portanto, como ponto de par tida, o consenso fraterno dos franco-mações do interior sobre sua auto
mico. Encontramos apare ntem ente os três atores que estavam em cena antes: os irmãos discretos, o G rand e O rien te e o deputado . Toda via, sob a forma de substituições ou de relações entre enunciados, os irmãos discretos se acham assodados a Iojas/franco-mações/templo, o que amplia singularmente o número de interlocutores do Centro comum. Acrescente-se que a deposição do deputado, que havíamos deduzido anteriorm ente, é quase realizada nesse agru pam ento : um lugarzinho lhe é atribuído, com o inevitável ornamento do discurso amistoso (D 6 ). As três seqüèncias no conjunto central (D 6 ) permitem organizar nosso comentário graças às precisões fornecidas pelos outros domínios. Um primeiro processo tende, na verdade, a equilibrar a balança entre o Grande Oriente e as lojas do interior, sem que seja formulado um julgam ento desfavorável; em outras palavras, a expressão “ G ra nde Oriente” convoca um amontoado de constatações equivalentes sobre a reforma da ordem maçônica e as despesas que ela acarreta (D4 e D 6 ), uma sucessão de enunciados sobre as tentativas empreendidas pelos irmãos do interior, a fim de serem reconhecidos pelo Centro comum (D 18 , D 7) . Esse equilíbrio no discurso é ilustrad o pela comutação entre o passado declínio da ordem (certamente compensado pela re forma inscrita em D 6 e pela retomada dos trabalhos dos irmãos dis cretos D l 5).
interesse de todas as lojas liga-se ao procedimento dos franco-mações ardenenses com relação à loja de Reims), os irmãos discretos não hesitam em associar a contribuição financeira das lojas do interior aos enfoques do Grande Oriente (D 4 ). A fraternidade dá lugar à fisca lização. O último argum ento nessa polêmica entre Paris e o interio r é a identidade estabelecida pelos irmãos discretos entre sua loja e “uma loja”, a propósito da observação do número de oficinas e de franco-mações. No limite, tal equivalência questiona a autoridade do Gran de Oriente, pois cada loja considera-se capaz de apreciar a situação do con junto da franco-maçonaria. Assim, a referência ao interior e à resposta do deputado faz funcionar um mecanismo que anula o equilíbrio entre as duas forças em proveito das lojas provinciais. Mas, exercendo-se em favor da ordem dos franco-mações, podemos nos perguntar se afinal a pesagem não restabelece a fraternidade ma çônica. Aparentemente sim ( D l 7 ). mas convém notar que a irrupção triunfante dos franco-mações ( D l 1, D6 ) foi possível, no discurso, pela “abertura” criada pelos irmãos discretos, preocupados em afirmar suas necessidades particulares (D 6 ). Além disso, as ligações entre os enun ciados mostram que, doravante, a vantagem e a propagação da franco-
da gestão dos templos é reivindicada pelos irmãos do interior, em nome de suas aptidões e do sucesso da ordem maçônica. 3) O discurso maçônico parece-nos típico do discurso administrativo com finalidade polêmica, no qual interlocutores de transição, sub-reptidamente, são convocados para mascarar provisoriamente o antagonismo entre Paris e o interior, entre o local e o central. Nossa análise pode ser resumida num quadro, onde colocamos entre parênteses esses terceiros locali zados no discurso. PRINCÍPIOS DE SELEÇÃO E DE COMBINAÇÃO ESTABELECIDOS
NOÇÕES EM AÇAO
AGRUPAMENTO
O qu e a loja diz ao Grande Oriente
fraternidade/ /autoridade do GOF
(GOF-deputado) irmãos discretos
I
O que a loja diz a si própria
poder constituído do GOF autonomia/poder da loja
GO F-( irmãos discretos-franco-mações)
II
incorporando um interlocutor intermediário que permite fazer certas observações que tendem a manter essa fraternidade. O processo prin cipal, que assimila o primeiro, funciona na "autonomia”, e introduz um terceiro — os franco-mações — duplicando o efeito reivindica torio. De um ponto de vista geral, como interpretar essa resistencia das lojas com relação ao Grande Oriente de França? Em outros termos, qual é a função desse discurso polêmico que domina as relações epis tolares entre as duas organizações? Impõe-se uma primeira observação: o discurso feito pelos franco-mações do interior manifesta uma oposição irredutível no interior da fraternidade dos franco-mações franceses no século XVIII. Os irmãos falam da autoridade central em termos radi
calmente diferentes, conforme seu local de residência. Assim, a fre quência às lojas por “ tudo o que importa socialmente” 17 pode acarretar a comunhão de um mesmo léxico — o que exigirá numerosas verifi cações — mas não é necessariamente acompanhada por uma identidade do discurso. A “comunidade de linguagem” instaurada pela partici pação maçônica não deve ser buscada no terreno das relações entre os orientes do interior e o Grande Oriente da França. O bem que os irmãos querem preservar deve ser muito precioso
templarías no Leste da França, chegar aos graus ingleses no Oeste e penetrar nos mistérios do rito de Heredão em Charleville. Cada loja estava, pois, em condições de adquirir seu privilégio de iniciação e de se proclamar centro de obediência. Essa liberdade, adquirida sem muita dificuldade pelas oficinas do interior, podia ser comprometida pela ação do Grande Oriente; por certo, este apresentava seu empreendimento como uma tentativa de uniformização administrativa que contava levar a cabo, liberando constituições às lojas. Nossa análise mostrou que os irmãos discretos pretendiam limitar o poder do Centro comum pelo simples poder constituinte. Mas, na verdade, o receio do exercício abu sivo da autoridade, que as sedes do interior reconheceram no Grande Oriente, domina suas relações. Resumindo, digamos que elas rejeitam o Grande Oriente da França, porque se trata de uma potencial tentativ a de lesa-privilégio. O liberalismo dos franco-mações baseia-se na liber dade de conservar os privilégios de iniciação, que são sinais maçônicos de poder e de preeminência. Com palavras novas, os irmãos do interior defendiam uma sociedade maçônica tradicional. Salvaguarda de um tipo de privilégio. noção de privilégio? Embora prematura, colocada e, conseqüentemente, a da função maçônica na sociedade do Antigo Regime.
. . Salvaguarda da própria esta questão tem que ser estabilizadora da ideologia Tentamos atualmente res
Notas do estudo de G. Gayot Pénitents et francs-maçons de l'ancienne Provence, París, Fayard, 1968, 452 pp. 2. F. F u r e t , "Le catéchisme révolutionnaire”, Annales E. S . C. , março-abril de 1971, pp. 255-289. 3. D. R i c h e t , “Autour des origines idéologiques lointaines de la Révolution française; élites et despotisme”, Annales E. C. S. , janeiro-fevereiro de 1969, pp. 1-23. Quanto a urna crítica da problemática das elites: N. P o u l a n t z a s , Pouvoir politique et classes sociales. Pa ris, Maspero, 1968, pp. 104-128 e 353-358. M. Vo v e l l e , La Chute de la monarchie 1787 1792, Paris, Le Seuil, 1972. 1.
M. A g u l h o n ,
14.
H.-F. M a u c y , op. cit., p. 204.
15.
C h a i l e v i l l e , A rch iv es de la loge, registro de correspondência f. 2-42.
16 .
Esse método, estabelecido por Michel Pêcheux, está resumido num artigo dos Atuudes E. S . C. , maio-agosto de 1971, pp. 668-694. Pode-se consultar também M. P ê c h e u x , Analyse automatique du discours, Paris, Dunod, 1969, 141 p., C. H a r o c h e e M. P ê c h e u x , Manuel pour 1'utilisation de la methode d'analyse automatique du discours, Paris, Laboratório de psicologia social
da Sorbonne, 1971, 52 p. datilografadas. 17 .
D. L i g o u , "La franc-maçonnerie française au XVIII* siède {position des pr oblèm es et éta t des q u esti o n s)’*, In fo rm ation his to ri que, maio-junho de 1964, p. 108.
M . PÊCHEUX E J. W e SSELIUS
A
RESPEITO DO MOVIMENTO ESTUDANTIL E DAS LUTAS DA CLASSE OPERÁRIA: 3 ORGANIZAÇÕES ESTUDANTIS EM 1968
(Federação dos Estudantes Revolucionários) (Movimento de 22 de Março) (União dos Estudantes Comunistas)
Introdução
Pressupomos que o contexto dos termos luta e lutar permitiría mostrar um aspecto das perspectivas políticas e da estrategia das orga nizações estudadas, pelo menos tal como são expressas verbaimente. Quais são os protagonistas, quais os objetivos que essas organizações consideram importantes? Em outras palavras: quem luta, com quem, contra quem ou contra o qué? Como? Por que ou por quem? Escolhemos os panfletos como material de análise porque estes constituíam, em maio e junho de 1968, um dos modelos de comunicação privilegiados, como os cartazes ou as inscrições nos muros. Pontuavam os acontecimentos; respondiam uns aos outros. O aspecto temporal é muito importante: muitas vezes os panfletos são escritos em função de acontecimentos determinados; referem-se a uma situação limitada no tempo e, às vezes, no espaço. É isso o que diferencia os panfletos dos manifestos, programas, etc., que também constituem tomadas de po sição coletivas. Distinguem-se também dos jornais, por um lado, pela sua não-periodiddade e, por ou tro, por serem gratuitos. E mais: a informação e as análises políticas contidas num panfleto têm sempre um caráter bastante esquemático. Um panfleto tem que ser lido rapidamente, daí o seu estilo geralmente resumido. Da ideologia dos autores ele só
A razão da nossa escolha reside no fato de que essas organizações implantadas no meio estudantil apresentam origens históricas desco nexas. Não estiveram ligadas antes e não provêm de cisões diretas a partir de um movim ento político comum. As cisões en co ntradas na origem das divergências entre a U .E .C . e a F .E .R . são anteriores à própria existência dessas organizações. A U . E .C . foi criada em 1956, du ran te o X IV Congresso do Pa rtido C omunista Francês. Sem ser propriamente a ala estudantil d o P .C .F ., a U .E .C . baseia-se, con tudo, na linha elaborada por este (pelo menos era o que ocorria em 1968). Das três organizações consideradas, esta é a única a ter na retaguarda um grande partido ligado à classe operária. A F . E . R . nasceu em abril de 1968. Reúne os estudantes dos Comitês de União de Estudantes Revolucionários ( C . L . E . R . ) e do grupo Revolução. Os C .L .E .R . foram criados em 1961 p or militantes da Organização Comunista Intemacionalista para a reconstrução da IV Internac ion al ( O . C . I . ) . Quanto ao terceiro grupo, o Movimento de 2 2 de Março, surgiu, como o nome indica, a 22 de março de 1968, em Nanterre, por ocasião da ocupação do edifício da administração após a prisão de alguns mili tantes do C omitê Vietnã Nacional. O 22M difere das duas outras organizações na medida em que não proclama o marxismo-leninismo e,
lavras dc ordem e uma linha específica. Tom ando por base os resul tados obtidos pelo método acima descrito, vamos tentar precisar, em cada um dos três exem plos escolhidos,, a natureza dessa especificidade, articulando em tomo desse problema a apresentação e o comentário desses resultados. ImpÕe-se uma primeira constatação de ordem bem geral, ou seja, que o movimento estudantil não é um fenômeno político autônomo (unicamente ligado aos intelectuais em formação nas universidades), mas que sua existência concreta (as formas que assumiu na França) depende de um elemento que de certa maneira lhe é exterior, embora produza nele uma série de efeitos. 8 Esse elem ento é a luta antago nista que o proletariado e a burguesia capitalista travam na formação sodal francesa: a referência à luta de classe travada pela classe operária ( na forma explícita do apoio às suas lutas e à defesa de seus interesses) acha-se efetivamente presente nos 3 corpus estudados. HD, 22 M Viva a luta HD, U.E.C. Viva a luta
dos estudantes dos trabalhadores dos sindicatos
Nessas condições, o primeiro ponto a ser exam inado refere-se à maneira pela qual a luta do movimento operário (seu adversário, seu objetivo, seus meios de ação) é evocada nos discursos das três orga nizações consideradas.
1.
A referência à luta do movimento operário
No caso da U .E .C ., onde a ligação com o Partido Comunista Francês é determinante e evidente face ao conjunto das outras organi zações estudantis, os objetivos do movimento operário, a natureza do adversário e os meios de ação são definidos nos mesmos termos for mulados pelos P . C . F . , isto é, nos termos de tomada do poder político ao nível do poder de Estado. O obje tivo político é explícitamente colocado. D: HD,
D,j
regime de verdadeira democracia poder governo popular (com participação...) para o socialismo por um I luta X comitê ^ governo popular
que abre caminho
HD3 Os estudantes união comunistas lutam pela -I instauração de um governo 1
popular de união com partic ipaçã o... capaz d e. . .
É como se a U .E .C . tivesse a função de representar o P .C .F . junto aos estudantes, dentre os quais o proletariado enquanto tal se acha praticamente ausente. A questão sobre os títulos que a U .E .C . reivindica para falar em nome do P .C .F . se soma a uma outra ques tão, que não parece colocar-se nos mesmos termos para o proletariado, tendo em vista a presença do P .C .F . no meio de massas operárias, assim como a influência que este exerce. Trata-se da questão dos títulos que o próprio P .C .F . pode reivindicar para falar na qualidade de representante político consciente e organizado do proletariado. Ve remos a seguir as formas que essa questão assume na F . E . R ., por um lado, e no 2 2 M, por outro, e suas conseqücncias. Contudo, antes de tocar nesse ponto, convém expor de que modo os objetivos da luta do movimento operário são colocados nos pan fletos da F .E .R ., e nos do 22M.
dos resultados) é o próprio objetivo do movimento operario, em toda a sua generalidade: a especificidade do 22M, neste ponto, está em ligar a realização desse objetivo ( construir outra sociedade) às formas concretas e imediatas da luta (as barricadas), como confirmam os re sultados abaixo: D i8
o sentido I da luta -i das barricadas 4,
D i3
o sentido I profundo das barricadas i verdadeiro das palavras ¡ nos queremos I transformar radicalmente a Universidade construir uma soc iedad e... (que)
D 21
1
Para comentar rapidamente este primeiro conjunto de resultados, poderiamos dizer que os objetivos estabelecidos pela F . E . R ., em termos de conteúdo, estão politicamente em retração com relação aos que a U .E .C . propõe, ao passo que o 22 M visa diretamente ao obje tivo do movimento operario, sem colocar a questão da tomada do poder político, porque ele se situa além ou jora dessa questão. Veremos adiante as conseqüências antileninistas dessa posição do
Começaremos pelo caso em que essa questão de exterioridade pa rece não se colocar, ou seja, o do 2 2 M. Os resultados do Corpus 2 2 M, na verdade, dão a entender que os estudantes (do mesmo modo que os secundaristas, professores, etc.) são colocados numa classe de equi valência que também compreende os trabalhadores. 3 Assim, por exemplo: D7
os
estudantes secundaristas lutaram durante várias horas professores trabalhadores
É como se os grupos assim qualificados tivessem, em termos mar xistas, uma posição de classe comum, o que subentende ao mesmo tempo sua homogeneidade interna e a similaridade de suas tomadas de posição na prática, ligadas às suas formas de consciência. Em outras palavras, da mesma forma que um a solidariedade de classe reúne os trabalhadores, uma solidariedade (de uma natureza a ser precisada) 10 uniría os estudantes secundaristas e professores entre si, unindo-os, pelo mesmo movimento, aos trabalhadores e à classe operária. As determinações ligadas ao que o marxismo-leninismo denomina
Assim, vemos que certos agentes históricos, colocados na conjun tura de maio de 68 , são identificados, não por sua situação de classe (com o “os trabalhadores” ou a “ burguesia” ) mas, também neste caso, por suas tomadas de posição na prática. Todavia, essa tomad a de po sição acarreta uma solidariedade na luta pelo poder político (“os que” = os aliados) e não uma solidaried ade que unifica a natureza de classe dos agentes históricos considerados, unindo-os à classe operária. Quanto aos panfletos da F . E . R . , manifestam, nesse ponto, uma ambigüidade característica que aparece nos seguintes resultados: HD2
D6
A luta dos estu dan tes
15 anos da essa luta faz parte da terreno da arma movimento de
1
deve fazer faz
parte i nte grante da luta
luta de classes
I
lutas dos estudantes
das massas de classe do prole tariado
3. Análise do elemento determinante capaz de reduzir ou anular a exterioridade relativa do movimento estudantil com relação ao movimento operário na luta de classes Retomemos o resultado já citado, concernente à posição da U .E .C .: 0
HD6
os que os aliados
lutam
ao lado das organizações do partido n rsem ser revolucionários
da ciasse operária 4-
Esse resultado levanta duas constatações que formularemos assim: — entre os estudantes, alguns entram na categoria política dos aliados da classe operária, na medida em que, sem se colocarem como revolu cionários, lutam ao lado da classe operária; — a classe operária é politicam ente representad a por suas organizações e por seu partido: lutar ao lado destes é a condição necessária e sufi ciente, o elemento determinante que decide a ligação com a classe operária.
estudado, diremos que se trata (através e além dos estudantes) de camadas, categorias ou frações de classe da pequena burguesia que, embora apresentando contradições políticas e ideológicas, acham-se atualmente submetidas a um processo de desestruturação-reestruturação que as aproxima da classe operária (citamos, a título de exemplo típico, o caso dos descendentes de pequenos comerciantes que fizeram estudos científicos para se tornarem engenheiros e que procuram trabalho, mas não encontram). O segundo ponto refere-se à forma política da aliança, caracteri zada pela necessidade da ligação com as organizações e o partido da classe operária, como condição de ligação com a própria classe operária. Em relação a este segundo pomo, as posições da F .E .R . e do 22M vão se precisar e se diferenciar, e aparecerá o que constitui para cada uma dessas organizações o que denominamos “elemento determinante”: essas duas organizações estudantis contestam, na verdade, o que se poderia chamar de papel m eto ním ic o do P .C .F . em relação à classe operária, e o seu direito de falar em nome da classe operária. Daí decorre uma crítica que não visa estritamente aos comunistas enquanto tais (por oposição às organizações reacionárias ou fascistas, que lutam contra “os comunistas” ou “ os marxistas” ), mas os que têm responsabilidades de direção e de organização no P C F acusa
sério” para ser deixado para o partido que, se é que existe , pode rei vindicar o nome de “ partido da classe operária” . A diferença essencial, como veremos, está no fato de que, para a F .E .R ., um “ partido da classe operária” é necessário para as lutas desta e é preciso criá-lo, visto que, segundo ela, ele nao existe, ao passo que, para o 22M, as lutas da classe operária não têm absolutamente necessidade da existência de tal partido, qualquer que seja a sua direção. Isso nos permite explicitar na análise dos resultados o que desem penha o papel determinante no caso da F .E .R . e no do 2 2 M. O discurso da F .E .R . destaca que o termo decisivo “organização” fica sempre muito próximo da nominalização do verbo “organizar”: quando funciona como substantivo, é precedido de uma nominalização equivalente, derivada do verbo “criar” . Assim, por exemplo: HD1
D ll
criação I de uma organização revolucionária I de um partido I necessidade da de juventude J | criação de o r n a i °tgtt™raçao| luta
I
ão|
da luta contra o Estado problema organização
D5 esMdamcs constituem] um faIor de ordem influência sobre o movimento estudantil luta do é preciso t* organizar a luta I reforçar a U . N . E . F . •!
los
D13 D14
D3
luta pela defesa
das liberdades da U.N.E.F. 4, do marxismo
Mais uma vez, vemos que os estudantes são os representantes, dentro da Universidade, de uma categoria mais ampla da qual fazem parte; mas, diferentemente das posições tomadas pela U .E .C ., trata-se menos de uma categoria econômica e política que de um “bloco histó rico’*constituído pela “juventude”; por conseguinte, essa categoria de sempenha menos o papel de aliado político que o de ponto de apoio para a ( re-)construção do movimento operário: para a F .E .R . (na condição de parte da O .C .I . ) representa o meio de se assumir final mente, politicamente falando, isto é, de tomar lugar na luta pela dire ção da luta.
HD4
não-esquedmento das lutas I I operárias 4, de Caen I de Redon, etc. 1 generalização I I da semana I desenvolvimento | ° as utas ¡ dos trabalhadores ’' I método i amostra sentido V unificação forma disposição
1 1
de luta
da
direta ativa efetiva
vossa luta nossa luta yr
Assim, vemos nitidamente destacar-se a característica das lutas como o 22M as enfoca: a organização (e as organizações) desapare ceram, ao mesmo tempo no sentido que a U . E . C . emprega esses ter mos e na significação dada pela F .E .R . {organização-construção); a luta define-se pelo seu sentido e pelas formas locais, conjunturais, sin gulares em cada momento, formas que assume a relação entre os pro tagonistas vocês e nós, cujos papéis são complementares, e mesmo
HD3
HD5
a polícia a repressão uta é
exploração polícia contra o Estado 1p a repressão 1 b faz a luta contra o Estado é a luta contra o Estado policial a repressão a exploração da
Assim, a luta por objetivos remotos e pouco definidos ( trans formar radicalmente a Universidade, construir uma sociedade. . . ) pode ser feita através de ações imediatas, na medida em que estas “concre tizam” aqueles. Notamos, assim, a circularidade repressão-luta contra a repressão. A característica determinante do novo método que o 22M opõe aos “tipos tradicionais de luta”: D15
método I . , tipo | de luIa
novo tradicional
é, pois, fazer surgir o sentido profundo da luta (do movimento ope rário) nas form as im ed iatamen te concretas da confrontação, o que apa rece como a mola da solidariedade das lutas, onde quer que se desen rolem, opostamente ao que, para o 22M, leva à sua fragmentação e
panfletos considerados, e também pelo fato de que esse termo, em sua forma nominal ou verbal, era provavelmente capaz de reunir con textos relativamente específicos; podemos agora dizer que essa especi ficidade dos contextos é tal que estamos diante de três termos homó nimos, diferenciados ao mesrao tempo pelos objetivos, pelos agentes e pela orientação temporal. Poderiamos dizer, a título de resumo, que: — a F .E .R . luta no presente para organizar a união estudantes-tra balhadores, com o auxílio do "bloco da juventude", a fim de realizar o que faltou no passado; — a U .E .C . luta no presente com as organizações da classe operária para realizar uma aliança (união) que abra caminho para um outro regime no futuro; — o 2 2 M luta simultaneamente no presente e no futuro, tendo a luta anti-repressão o valor exemplar de um símbolo desse futuro.
Notas do estudo de M. Pêcheux e I. W es se liu s
1.
Consideramos essa palavra, em suas duas form as, como verbo e como subs tantivo.
2.
A. G e f f e o y , P. L a f o n , M. To u r n i e k , A la re ch erc b e d u p a rticu lie r e t d u gén éral da n s le vocabulairc d a
tr o c ís d e m ai
1968, 1971, Écoie nórmale
supérieur de Saint-CIoud, 29 p. 3.
Poderiamos, na verdad e, disting uir pelo menos qu atr o fases: 1) de 3 a 12 de maio (fechamento da Sorbonne e combates de rúa); 2) da mani festação de 13 de maio ao segundo discurso do general de Gaulle, em 30 de maio; 3) de 31 de maio até a dissolução dos grupos “esquerdistas", em 12 de junho; 4) de 13 de junho ao segundo momento das eleições legis lativas, em 30 de junho.
11.
Para a F .E .R ., a crise do capitalismo leva a burgu esia a criar o desem preg o, a fim de se m an te r e de sa lv ag uard ar sua d it ad u ra : esse plano Ja burg uesia visa, em p ri m eir o lu gar , aos jo ven s, que ou ai nda não têm em prego ou têm pouco tempo de serviço e são, portanto, mais facilmente dispensáveis.
12.
Uma análise da significação do nós e do vocês mostra que esses termos não são, muitas vezes, nem definidos nem definíveis; contudo, se o vocês, quando é possível atribuir-lhe um conteúdo, aplica-se essencialmente aos operários, o nós, em função das circunstâncias, pode designar tanto os estu dantes como o conjunto dos operários e estudantes.
Ma u r i c e
To u r n i e r
O VOCABULÁRIO DAS PETIÇÕES OPERÁRIAS DE 1848: ESTUDO DOS PARENTESCOS ESTATÍSTICOS
Os historiadores que analisassem as petições de 1848, quer tenham sido escritas para o Luxemburgo ou enviadas diretamente à Assembléia N io l, d ia dên ia fati J Belin-M ille
Para um lingüista, o problema pode ser colocado em termos esta tísticos de urna forma simples: quanto do seu vocabulario os peticio narios de 48 tirara m de seus modelos revolucionarios? Es tud o inte ressante, mas muito parcial, e que supõe a resolução de outro pro blema. A Revolução foi re alm ente a única fo nte de linguagem ? O utras hipóteses também são plausíveis. Uma aproximação das petições pro priam en te operárias ( re strin girem os nosso estudo a e sta s ) e das lexias socialistas logo vem à mente, mesmo na época , 13 também não parece anormal imaginar uma afinidade entre os seus enunciados reformadores e as palavras-tema do cristianismo social; poderiamos também ver nelas uma penetração dos hábitos expressivos das sociedades republicanas e dos clubes “vermelhos”. En fim , um mimetismo de sua fraseologia sobre a retórica romântica não poderia, a priori, ser excluído. Em vez de um modelo, temos cinco! Q ues tão: de quais delas as petições ope rárias de 48 estão esta tisticam en te mais próximas? E m termo s mais amplos: existem “famílias” de vocabulário político, como foi possível confirmar, pela estatística, que existem famílias de dialetos bantus ou de línguas indo-européias?