Produção Musical
Pré Produção. O que é? Algumas dicas de como fazer...
Imagine o que era ter uma banda 15 anos atrás. Imagine o que era gravar com essa banda, mesmo que uma simples fita demo. As coisas eram bem mais difíceis e custava uma boa grana. Poucos estúdios, escassez de equipamentos, pouca gente especializada e principalmente pouca informação técnica. Hoje em dia, nem precisamos imaginar nada. Está tudo a disposição, bem na nossa frente. Apenas continuamos precisando da mesma boa grana. Atualmente, se por um lado, as facilidades são maiores, a concorrência também aumentou demais. A quantidade de bandas e estilos é indiretamente proporcional as chances dadas pela mídia e pelas gravadoras. Isso traz a tona um processo que mesmo instintivamente é obrigatório: a pré produção. Muito se fala nisso. Para as bandas e para os músicos não é assim tão novidade. Mas saber fazer produção pode ser decisivo para quem quer chegar lá. O Produtor
Começar a pré produzir na hora de compor é fundamental. Ganha-se tempo e mesmo que no início seja feito apenas pela banda, direciona melhor o trabalho. A auto produção funciona bem quando a banda já tem muita experiência e muita estrada. Ser imparcial com você mesmo não é tarefa fácil. O produtor é figura importante. Não é imprescindível ser músico, mas a grande maioria toca algum instrumento. Como escolher? Geralmente a indicação e o currículo são as melhores referências. Produtores são versáteis, mas cada estilo pede um
especialista. Imagine o Rick Rubin produzindo a Jennifer Lopes, ou Quincy Jones produzindo o Slayer. O que fazer para produzir? Óbvio que muita estrada e muita música. Saber timbre, saber tecnologia, ter psicologia, saber o que não deve fazer... O produtor pode participar da estruturação das músicas. Mas opinar na composição é um território perigoso para o ego dos músicos. Não é fácil mudar um Riff ou dizer que o solo de guitarra está fora do contexto. Mas é importante para ambos: saber dizer e saber ouvir. O produtor deve ter conhecimento de áudio, microfonação, acústica e eletrônica. Quando falamos de conhecimento, não é saber tudo ou dominar o estúdio inteiro. Basta saber o básico e ter iniciativa para estar sempre pesquisando e estudando. Os cursos de áudio são importantes, a experimentação também e os instintos mais ainda. Como é pago um produtor? Por hora, por período, por música ou fechando um pacote. Alguns cobram acrescentando os royalties sobre a vendagem.
O Estúdio
Tanto para gravar o CD demo ou o CD oficial. Há envolvimento de pré produção. No caso de um CD demo, é importante porque será como um cartão de visita, uma apresentação do trabalho. Não importa a quantidade de músicas, é um resumo do que a banda faz e é capaz de fazer. Se essa amostra estiver mal produzida provavelmente não despertará interesse algum. Geralmente o produtor tem um estúdio preferencial. Mas o bom profissional não escolhe muito, ou seja, trabalha em qualquer situação e tem a capacidade de se moldar rapidamente. O mínimo de condição técnica é desejável, mas saber trabalhar em condições adversas estimula a criatividade e o senso de improvisação. O que o estúdio tem que oferecer? Equipamentos, periféricos, microfones, salas, técnicos qualificados e bom ambiente. O cu$to é importante. Fazer um pacote é muito comum, mas nem sempre é legal fechar um preço fixo sem levar o tempo em consideração. Ou fixar um valor por quantidade de músicas. Provavelmente, vai virar correria em detrimento da qualidade sonora. Pagar por hora pode soar dispendioso, mas entrar no estúdio com uma pré produção bem feita, na maioria das vezes é mais ligeiro e sem "stress" para todos. Os Instrumentos
O segredo está na regulagem e no ajuste tonal. No início o produtor deve começar analisando o tipo de instrumento com o estilo musical. Para haver compatibilidade em relação a timbre. Mas por outro lado, fugir do padrão pode ser arrojado, ou não. Comprometendo todo o trabalho. Antes de entrar no estúdio para gravar, cada instrumento deve estar bem ajustado com a "pegada" do músico. Isso significa conforto na execução do instrumento. Nada de cordas velhas, peles de bateria arregaçadas, cabos podres de baixa qualidade e mau contato na parte elétrica do instrumento. Levar o equipamento antes da gravação para um luthier ou técnico é tão importante quanto respirar. A timbragem pode ser feita antes da gravação, aliás é detalhe muito importante. Muitos guitarristas timbram durante a gravação. Mas basta chegar com
um padrão definido. O equipamento deve ser sempre timbrado em volume real. É importante trabalhar as texturas sonoras. Discriminar o que vai ser grave, médio ou agudo. Como serão utilizados os timbres dentro de um estilo e conceito. Ao produtor cabe mapear cada ajuste e questionar timbres e texturas sonoras. Amplificadores O grande lance é levar o que a banda precisa. Nem todo estúdio tem equipamento adequado para cada estilo. Uma banda de heavy metal precisa de cabeçotes e caixas grandes para gravar bases pesadas e encorpadas. Para os solos, amplificadores pequenos são melhores em termos de definição. Mas normalmente a mistura dos dois tipos é mais legal na hora da mixagem. Na impossibilidade de levar vários tipos, nada melhor que levar um simulador de amps. Outro segredo é na hora de microfonar a caixa. Aliás, saber posicionar um microfone é a arte da experimentação. Dicas de pré produção
- Afinação Regular os instrumentos para obter boa entonação dos mesmos. Procurar variar as tonalidades das músicas. - Estar presente nos ensaios. Observar acentuação, andamento e interpretação. - Mudar tudo que tenha se tornado um hábito ou vício como: ordem de músicas, sala de ensaio (eventualmente experimentar outras sala ) e timbre dos instrumentos. - Gravar as músicas para analisar o conteúdo global. Pode ser um gravador portátil multi pistas, um computador com software de gravação ou uma mesa digital(workstation). O importante não é a qualidade sonora, mas a dinâmica das músicas. - Fazer a banda tocar o instrumental sem o vocal. - Fazer eventualmente voz e violão ( isso "aumenta" o alcance vocal). - Forçar a banda a tocar com click eletrônico ou metrônomo. - Antes da gravação, nos ensaios derradeiros, limpar o som tirando efeitos como delay e reverb. Fazer a banda tocar com um som mais básico e simples. - Listar todo o equipamento para a gravação e procurar checar tudo com boa antecedência. - Procurar e mostrar trabalhos musicais de outras bandas com sons similares ou baseados no mesmo conceito para analisar seu próprio trabalho. - Promover atividades fora do contexto musical para descontrair os músicos. Hoje em dia, a pré produção é o melhor caminho para chegar seguro no estúdio, principalmente para gravar. Chegando consciente e fazendo o trabalho render bem mais. Imaginar que muita coisa mudou de tempos em tempos, mas que cada vez mais, surgem novos caminhos e novos protagonistas. Produção no Estúdio - Os mistérios da gravação
Já falamos anteriormente em pré-produção. Dando continuidade ao trabalho, vamos falar de produção. A banda já está no estúdio escolhido e pronto para as gravações. O produtor começa definindo a base da música, ou seja, a espinha
dorsal que sustenta a música. Os instrumentos são gravados um a um, separadamente e será necessário adotar conduta e postura diferenciada em relação a aspectos técnicos e musicais. Normalmente, a bateria é o primeiro instrumento a ser gravado. Para tal, é necessário gravar uma guia, ou um playback para que o baterista tenha a referência para tocar, ou acompanhar. A guia pode ser uma guitarra plugada direto na mesa, sem a preocupação com o timbre, apenas para tocar a música. Primeiro tempo Bateria
Iniciamos montando a bateria, e de preferência em sala viva (sala de pedra, sala de madeira). O teto alto e placas refletoras podem ajudar na ambientação e devem ser manipuladas durante a timbragem. Utilizar muito tempo para "arrumar" a bateria é normal, principalmente quando o baterista leva o seu próprio instrumento. Para microfonar é desejável que o produtor utilize microfones específicos para as peças da bateria. É mais desejável ainda usar pratos específicos para gravação. Tem de saber afinar as peles e certificar se não há vazamentos excessivos nos microfones (som de um microfone vazando em outro). Aliás, o produtor deve escutar o timbre de cada peça e o balanço geral da bateria. Efeitos, camadas de timbre e dobras podem ser adicionados depois na mixagem. Depende da forma como vai ser editada a bateria, as possibilidades, por exemplo, com o Pro-Tools são imensas. Bateristas de primeira viagem ( em estúdio) costumam ficar "nervosos" por começarem antes de todos. Geralmente, eles engrenam na segunda ou terceira música. Refazer a primeira, no final, é uma boa dica. Baixo
O próximo na gravação é o contrabaixo, assim definimos a dupla rítmica, a "cozinha" ou o esqueleto da base (acompanhamento). Gravar em linha ( quando o contrabaixo é plugado direto na mesa de gravação) é um expediente corriqueiro mas nada animador. Dependendo do estilo pode até soar correto, mas para som pesado é pouco provável que fique bom. Caso seja gravação em linha, um simulador de amplificadores e um emulador de caixas (falantes) são imprescindíveis. Mas o ideal é microfonar um autêntico amp de contrabaixo que valorize o peso e encorpe o som. Outra boa idéia é gravar com microfones e simultaneamente gravar em linha usando simuladores, boosters ou um simples direct-box. Basta depois juntar as duas vias gravadas na mixagem para obter um timbre híbrido e diferenciado. Fica muito bom trabalhar dessa maneira. O contrabaixo deve estar bem regulado e cuidado com as afinações baixas. O músico pode optar por um instrumento de 5 ou 6 cordas, mas convém transportar a digitação do que abaixar a afinação. Isso para que as cordas não fiquem muito moles, sem tensão, principalmente as mais grossas, devido a afinação baixa. Na gravação, evite efeitos de eco (reverb, chorus, delay), grave seco, no máximo um equalizador ou de leve uma compressão bem sutil. O produtor deve utilizar microfones dinâmicos e cuidar para que as freqüências baixas (graves) não embolem, nem percam definição.
Guitarras
Com a cozinha definida, iniciamos a guitarra base. Preferencialmente, no plural, ou melhor: guitarras rítmicas. É necessário: guitarras bem ajustadas, cordas novas, variedade de amplificadores, efeitos e cabos de boa qualidade de comprimento curto. A sala viva é a ideal, além de boa quantidade de microfones específicos para a gravação das guitarras, tanto microfones condensadores como os dinâmicos. Escolhemos os timbres, descriminamos o que é grave, médio e agudo no amplificador. Verificamos a relação de sinal/ruído e pode ser necessário o uso de um redutor de ruídos, devidamente ajustado. Posicione a caixa do amplificador na sala. Lembre que para sonzeira pesada para bases, o aconselhável é usar amps do tipo stack ( trambolho mesmo..., aqueles com cabeçote e caixas separados) . As caixas com 4 falantes são as mais legais por produzir timbres encorpados e extra-pesados. Para microfonar, o produtor tem muitos desenhos e combinações: Na tela ou na grade : O microfone dinâmico com padrão cardióide (que capta o som pela frente e um pouco pelo lado) é colocado próximo ao falante da caixa e direcionado para o cone, e não ao eixo central do falante. Perto e longe: Outro microfone do tipo condensado e cardióide pode ser posicionado a distância para captar a ambientação produzida pelo fluxo de som na sala de gravação. Na mixagem, o técnico mistura os dois timbres, em quantidades não necessariamente iguais. Depende do timbre desejado. Um na frente e outro atrás: Muitos utilizam um microfone dinâmico e cardióide na traseira do amp, combinado com o microfone posicionado na frente. Neste caso, o produtor deve prestar atenção para que não haja cancelamento de fase dos microfones, consequentemente um deles soa agudo, magro com som de varal. Basta pedir ao técnico de som que faça a conversão correta da fase. Dobras e camadas sonoras: Para que se tenha muita massa sonora, é importante fazer dobras de guitarra. Ou seja , dobrar a gravação das bases em várias pistas para que depois na mixagem obtenhamos um som "grande" de guitarra. Tocar a mesma base várias vezes já não é necessário, plugue a guitarra no seletor de vias ou seletor de linha, toque uma vez, e grave com 3 amplificadores em salas diferentes. Use 2 microfones em cada sala. Some 3 com 2 e obtenha 5 camadas com a mesma acentuação, mas com timbres diferentes. Edite ou escolha na mixagem os sons mais legais. Se aumentar a quantidade de tomadas de gravação ( músico tocando), ou aumentar na edição, o som da guitarra ficará grande e pesado. A gravação da guitarra base deve ser bem seca, sem efeitos de modulação ou delay, apenas saturação ou distorção. Os efeitos devem ser adicionados na mixagem. Os simuladores de amplificadores são bem vindos na gravação das bases de guitarra. Segundo tempo
Nesta etapa, não há necessidade de seguir uma ordem ou seqüência específica. Cabe ao produtor ir definindo cada instrumento seguindo um critério técnico ou pessoal. Alguns produtores eventualmente separam a gravação da base com essa segunda etapa, com um bom intervalo de tempo. Assim, trabalham e definem a base primeiro, para
depois começar a gravar os solos, vocais e outros... Solos de guitarra
Para os guitarristas, o solo na música pode ser supremo, corriqueiro, indiferente ou até ausente. Depende de cada músico, de estilo e "vibe". Aliás, para muitos produtores, os guitarristas são seres extremamente difíceis de trabalhar. Já os guitarristas, "fáceis de lidar", estão cada vez mais em extinção. Sobram poucos...muito poucos.... Muitos músicos já trazem o solo pronto e definido, bastando algumas tomadas e emendas para finalizar. Outros gostam de improvisar no estúdio, em clima de espontaneidade e inspiração. Deixando para escolher os "melhores momentos" no final. O produtor vai montando o solo a partir de vários fraseados gravados até conseguir o resultado esperado. Importante, o solo de guitarra deve ser como uma história de começo, meio e fim. O produtor pode sugerir um caminho bem legal, que seria justamente mesclar alguns padrões de melodia previamente definidos, com a espontaneidade de uma improvisação no momento da gravação. Os solos de guitarra podem ser gravados a partir de amplificadores combo (que têm o tamanho menor, quando o cabeçote e caixa estão no mesmo gabinete ) que possuam melhor definição de agudos, presença, com menos graves. Efeitos sutis de ambientação podem ser adicionados antes da gravação, mas devem ser bem econômicos. As guitarras devem estar bem reguladas, principalmente a entonação nas casas mais agudas do instrumento (ajuste de oitavas). Teclas
Já os teclados em geral, devem ser previamente programados e timbrados. Os pianos acústicos e órgãos eletrônicos devem ser microfonados. Já os teclados e sintetizadores digitais são gravados em linha. (plugados direto na mesa). Alguns timbres específicos de teclado já têm muita ambientação e não necessitam passar por efeitos como reverb ou delay. Hoje em dia, os teclados fazem muita diferença em termos de versatilidade. Muitas bandas de metal, que querem texturas de som próximas a orquestrações grandiosas e sinfônicas, apelam para teclados inteligentes com timbres absolutamente reais. Pra quê então, levar uma orquestra inteira para o estúdio? Se a tecladeira digital resolve a contento, é tudo muito conveniente, prático e barato. Vocais
Tanto o vocal principal como os vocais de fundo devem ser gravados em cabines forradas ou em ambiente morto ( que é uma sala morta, ou sala com elemento de absorção do som, revestidas de material como espuma, forração ou tecido especial ). A voz não pode reverberar e deve soar limpa. A gravação é seca e os efeitos ( do tipo para criar ambientação, como reverb ou delay) devem apenas ser adicionados na mixagem. Os microfones são importantes para captação correta da voz. Assim como os periféricos específicos para vocalizações (compressores e pré-amplificadores) , de uso tanto prévio ou posterior a gravação. Quanto aos microfones, a variedade de tipos e modelos é desejável. A maioria dos utilizados para vocais em estúdio tem muita sensibilidade técnica e custo alto. Condensados são mais
caros e manipuláveis de forma mais extrema. Os dinâmicos tem um custo mais baixo, porém de uso mais restrito em situações não tão corriqueiras. O aquecimento das cordas vocais é primordial para o cantor e também muito cuidado com ar condicionado no estúdio e a fumaça de cigarro na sala de espera. Intercalar as gravações dos vocais com a de outros instrumentos, é uma boa dica para o vocalista manter a voz estável, sem estafa. Mas isso depende de pessoa a pessoa, não chega a ser uma regra. Uma sessão muito longa de gravação de vocal pode não ser boa para alguns e pode nem afetar a outros. O produtor deve observar sempre na gravação a dicção, interpretação, afinação, respiração e a "vibe" da vocalização. Ser Produtor é...
Saber escolher o estúdio é algo vital para quem quer ser um bom produtor. Não tanto pela qualidade ou a quantidade dos equipamentos. Por que isso não significa necessariamente que o estúdio seja bom ou adequado . O que importa é a capacidade profissional de quem está lá dentro, tirando o melhor rendimento. Um estúdio high tech com tudo do bom e do melhor, pode não render nada nas mãos de quem está de mal humor ou não tem o domínio técnico. Já um estúdio com equipamento simples, mesmo sendo limitado e com uma parafernália antiga, pode surpreender quando pilotado por gente que sabe o que faz. O produtor não é apenas um profissional que trabalha com a noção exata do objetivo a ser cumprido. Deve também estar preparado para o fator surpresa, para as adversidades técnicas, saber reverter o demérito em mérito. O produtor deve saber lidar com temperamentos, personalidades e egos. O produtor é o quarto, quinto, sexto, sétimo...integrante da banda.