Notas técnicas
Integração do Projeto de Elevadores em Edifícios João Paulo Rocha Eng.o Técnico de Eletrotecnia Técnico Responsável de Projetos de Instalações Especiais
1. INTRODUÇÃO O conceito geral do projeto de elevador em edifício é adequar uma instalação, neste caso um elevador, a um edifício com uma determinada utilização, tendo em conta as necessidades na data da sua conceção e fu turamente, com o objetivo de na data de entrada em exploração este ainda esteja atual e capaz de se adaptar a necessidades futuras. Para além da função do edifício, outra preocupação a levar em consideração, é adequar as instalações à legislação e normalização aplicável, mas também à legislação futura. Assim n a conceção do projeto do elevador este não deve ser dimensionado como um equipamento autónomo, mas como um equipamento a ser incorporado numa construção e, por consequência, devidamente adaptado. Na especialidade dos elevadores há que categorizar os equipamentos na sua função de transporte: › Pessoas; › Mercadorias. Nestas categorias ainda podemos subcategorizar o transporte de pessoas da seguinte forma: › Ascensores; › Monta-camas; › Monta-carros. A categoria de equipamentos de transpor te de mercadorias também se pode subdividir nas seguintes subcategorias: › Plataformas; › Monta-Cargas; › Monta-pratos. Neste artigo, dada a extensão do tema, abordaremos apenas o projeto de ascen12
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sores, uma vez ser o tipo de elevador de uso mais corrente sendo responsável por cerca 92% das instalações em exploração em Portugal.
2. ENQUADRAMENTO É necessário deixar bem claro que não se deve confundir projeto do ascensor em edifícios, com o projeto do ascensor enquanto equipamento. Teoricamente, o segundo seria a consequência do primeiro. Porém na prática o projetista do ascensor em edifícios define as condições que se adequa à utilização e ao edifício. O segun do passo fica reservado aos fabricantes dos elevadores que desenvolverão um projeto de pormenor do equipamento e finalmente o projetista enquanto representante do proprietário deverá validar a solução desenvolvida pelo fabricante. No desenvolvimento do projeto do ascensor o primeiro passo será conhecer a utilização do edifício, efetuar o estudo de tráfego e a qualidade de serviço pretendida. O estudo de tráfego definirá os seguintes aspetos do projeto de ascensores: › Quantidade de ascensores; › Lotação/carga nominal; › Velocidade de transporte. Como resultado do estudo de tráfego deverão ser apresentadas várias soluções que serão aplicadas na fase seguinte. A etapa seguinte será integrar os resultados do estudo de tráfego ao projeto do edifício. Para concluir, o documento técnico do projeto é necessário confirmar a adequação regulamentar da integraç ão do elevador no edifício.
Figura 1. Elevador 1. Elevador do Peneco Albufeira. Arq.o João Castro Ferreira.
2.1. Estudo de Tráfego Para o desenvolvimento do estudo de tráfego é necessário obter as seguintes informações sobre o edifício: › Tipo de Utilização; › Curso do transporte vertical; › População a transportar. Tendo como base as fórmulas de probabilidade de operação do transporte vertical de pessoas, determinamos o ciclo de rotação tendo em conta as caraterísticas principais do ascensor (sistema de tração, capacidade de transporte das cabinas tipo de porta, largura da porta, velocidade da cabina, número de paragens e curso). A partir do ciclo de rotação é possível determinar os parâmetros que avaliam o desempenho dos ascensores, a saber: › Intervalo Máximo do Piso Principal – IMP; › Capacidade de Transporte – T5; › Qual Qualidade idade de Tráfego – QT;
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2.1.1. Intervalo Máximo do Piso Principal – IMP
Intervalo Máximo do Piso Principal (IMP) é o tempo médio entre as partidas sucessivas das cabinas do piso principal. Este parâmetro é determinante para se definir o número de ascensores a ins talar. A avaliação do IMP será efetuada de acordo com estes limites: › 25 segundos no máximo para uma qualidade de serviço excelente; › 32 segundos no máximo para uma qualidade de serviço bom; › 40 segundos no máximo para uma qualidade de serviço satisfatório; › 50 segundos no máximo para uma qualidade de serviço sofrível; 2.1.2. Capacidade de Transporte – T5
A capacidade de transporte é o número de pessoas a transportar pela solução em estudo, em 5 minutos.
cia (IMP). Em função do tipo de edifício, este curso médio é um valor ponderado do curso total percorrido pelos ascensores. Normalmente os valores considerados para o curso médio são os seguintes: › Habitação: 50% do curso total; › Escritório: 75% do curso total; › Hotel: 55% do curso total; › Hospital: 75% do curso total. As paragens prováveis é um fator determinante para a definição do tempo de espera e na capacidade de transporte (T5). As paragens prováveis são calculadas em funç ão do tipo de utilização do edifício e o número de pisos existentes. Normalmente os valores considerados para o curso médio são os seguintes: › Habitação: 2 x CME (Capacidade média de utilizadores por ascensor); › Escritório: 75% do curso total; › Hotel: 55% do curso total; › Hospital: 100% do curso total;
2.1.3. Qualidade de Trafego – QT
A Qualidade de Trafego – QT é a percentagem de população do edifício acima do piso principal, que pode ser transportada em 5 minutos pela bateria de ascensores. Recomenda-se: › 1 a 15% para um edifício sem tráfego importante; › 15 a 25% para um edifício com tráfego importante. A partir dos parâmetros de IMP, T5 e QT, o cálculo deve ainda levar em conta as seguintes considerações: › Tipo de edifício; › Fator de ocupação da cabina; › Curso médio; › Paragens prováveis. Para o tipo de edifícios há quatro categorias: › Habitação – Utilização mediana; › Serviços (escritórios e comércio) – Utilização Elevada; › Hoteleiro – Utilização acima da média; › Hospital – Utilização muito elevada. O fator de carga é a percentagem da carga nominal que, em média á transportada numa viagem, que para efeito de calculo é considerado 80% da carga nominal. O curso médio é um dado utilizado na definição do tempo de espera no piso de referên-
2.2. Integração do ascensor no edifício O aspeto determinante para a melhor integração do ascensor ao edifício, será em que fase do projeto se efetua esta integração, isto é, quanto mais cedo, mais fácil será e por consequência, melhor será a solução encontrada. Com os resultados do estudo de tráfego, o mais certo é termos mais do que uma solução de possível aplicaç ão. Em conjunto com a restante equipa de projeto, serão avaliadas as várias soluções, ponderadas as vantagens versus as desvantagens. Na maioria das situações os aspetos mandatários serão o espaço disponível, o grau de qualidade de serviço pretendido e o custo. Como resultado da integração, será a definição das caraterísticas do ascensor a instalar nomeadamente as seguintes: › Sistema de tração; › Estrutura; › Caixa; › Cabine. A integração do ascensor leva com que o respetivo projeto interfira com as restantes especialidades, nomeadamente as seguintes: › Arquitetura; › Estruturas; › Eletricidade;
› › › ›
Mecânica; Segurança; Acústica; Gestão Técnica Centralizada.
Destas especialidades, a arquitetura é a de maior exigência no processo de integração, porque é a arte de maior relevância qu e estuda o edifício, de forma a desempenhar a sua função. As restantes especialidades, na sua essência, devem tentar adaptar-se às condicionantes definidas pela arquitetura. Recordo que o objetivo é construir um edifício. 2.2.1. Arquitetura
A integração do ascensor na arquitetura releva-se importante nos seguintes aspetos: › Dimensões; › Acessibilidade; 2.2.1.1. Dimensões
Na conceção do ascensor as dimensões são normalmente o aspeto que origina uma maior preocupação, pois é o que m ais interfere com o próprio programa do edifício. Na maioria das situações, os programas são tão exigentes que uma pequena área poderá obrigar a refazer um projeto por completo. As dimensões são determinadas pela capacidade de transporte, sistema de tração, sistema de abertura das portas (central ou lateral). Neste aspeto, o que suscita sempre discussão é a dimensão da caixa do elevador nos três eixos, incluindo também a dimensão do poço e do extra curso superior. Com o aparecimento dos ascensores sem casa das máquinas a problemática da integração destes espaços têm vindo a desparecer, porém, quando existem devem-se ter em consideração nomeadamente o pédireito e o sentido de abertura da por ta. 2.2.1.2. Acessibilidade
Nos dias de hoje, revela-se de alguma importância a garantia das acessibilidades a pessoas de mobilidade reduzida. Com o aumento da esperança de vida e a queda da natalidade origina o aumento da percentagem de população idosa, com dificuldade de locomoção e sem apoio parental/familiar. Dai a necessidade, na fase de projeto, de precaver estas situações e alertar os promotores para esta realidade. Ressalve-se que, ultimamente, no segmento dos promotores de individuais, moradias unifamiliares, elevare
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tem crescido a procura da instalaç ão de ascensores destinados para esse fim.
estruturais, como por exemplo lintéis. Nas situações em que há utiliz ação dos espaços abaixo do último piso de paragem do ascensor, é necessário que a estrutura do poço seja sobredimensionada para suportar os esforços em queda do contra peso. 2.2.3. Eletricidade
No entanto, temos verificado algumas falhas ao nível do projeto, mais uma vez na restrição ao mínimo das dimensões da cabine, levando que não permitam ser utilizados por aqueles que mais necessitam. O exemplo da falha mais frequente é a cabine não ter as dimensões que permitam o transporte de uma pessoa em cadeira de rodas. Recentemente, deparei-me com um projeto de remodelação de uma moradia, em que uma das preocupações do promotor era a instalação de um ascensor. Quando foi apresentado o projeto arquitetura, a conceção do elevador foi dado como facto consumado e estava de acordo com a legislaç ão. Dado que era uma remodelação, a cabine possuía portas a 90° e com as dimensões mínimas regulamentares de 1,1 x 1,4 m (Figura 2). Porém, continha uma falha grave, que iria comprometer a utilização do elevador por pessoas em cadeira de rodas: numa situação de portas a 90°, a dimensão de 1,1 metros de largura n ão permite a rotação da cadeira de rodas no seu interior. Ao nível de acessibilidades deve-se considerar: › Botões que tenham indicação luminosa e inscrições de alto-relevo em braille ; › Registo do piso de destino; › Indicação numérica luminosa e sonora do piso de paragem; › Saídas desobstruídas. 2.2.2. Estruturas
Nas estruturas, a preocupação que teremos de ter serão basicamente o seu dimensionamento para suportar os esforços que os ascensores irão transmitir ao edifício e que o poço não coincida com elementos 14 elevare
Sendo o ascensor uma máquina eletromecânica teremos de garantir a disponibilidade de energia elétrica suficiente para alimentar estes equipamentos. No passado recente, era habitual existir na data de arranque da instalação problemas com disponibilidade de potência elétrica para alimentar o ascensor, por um lado motivado por falta de coordenação e por outro pelas potências elevadas dos motores. Nos dias de hoje, já são pouco frequentes estes problemas, porque há uma maior coordenação na fase de projeto e pelo desenvolvimento tecnológico as potências destes equipamentos têm diminuindo. Também é necessário garantir níveis mínimos de iluminação para os acessos aos elevadores, à casa de máquinas e à caixa do elevador. Nas situações onde seja necessário prever um ascensor de uso de bombeiros, deve-se ainda prever a alimentação de emergência e as respetivas canalizações resistentes ao fogo.
ção da cabine e em alguns casos a casa das máquinas. 2.2.6. Segurança Contra incêndios
A integração da segurança contra incêndio incide essencialmente dos seguintes aspetos: › Isolamento ao fogo; › Sinalética; › Equipamento de uso dos bombeiros. O isolamento ao fogo aplica-se na casa das máquinas e na caixa do elevador. À luz da legislação de segurança contra incêndio, as casas das máquinas devem ser isoladas ao fogo com uma classe resistência ao fogo de 60 minutos e portas pára-chamas 30 minutos com sistema de fecho automático. A caixa do elevador deverá ser isolada ao fogo com classe de resistência ao fogo 30 minutos e portas pára-chamas 15 minutos, nos casos dos edifícios de altura até 28 minutos. Para os restantes casos, o isolamento ao fogo deverá ser 60 minutos e as portas pára-chamas 30 minutos. As portas devem ser sempre dotadas de sistema de fecho automático. O isolamento ao fogo, pode ser dispensado sempre que os elevadores apenas sirvam o mesmo compartimento corta-fogo. Junto ao acesso dos elevadores, deve ser afixado uma sinalética com a indicação de não utilização em caso de incêndio.
2.2.4. Hidráulica
Na hidráulica, os aspetos a considerar na integração estão relacionados com as redes de água, nas seguintes situações: › Drenagem de água no poço do ascensor, quando os níveis freáticos estão muito próximos; › Drenagem das águas pluviais nos patamares, quando no exterior; › Garantir que não há passagem de condutas ao atravessar no interior da casa das máquinas; 2.2.5. Mecânica
Nas instalações mecânicas, as interferências são inexistentes, exceto na necessidade de ventilação da casa das máquinas e caixa do elevador. Em casos mais particulares, como por exemplo ascensores panorâmicos com exposição ao exterior, será necessário verificar a necessidade de climatiza-
Os edifícios com altura superior a 28 metros ou com mais de dois pisos abaixo do plano de referência, devem ser dotados de um ascensor para uso dos bombeiros. Nestas situações, à que ter a preocupação para as seguintes condições: › sistema de chamada para uso exclusivo dos bombeiros em caso de incêndio; › capacidade e dimensão adequada quando utilizado para apoio da evacuação de acamados; › resgate dos ocupantes; › velocidade de transporte; › sistema de intercomunicação com o posto de segurança; › caixa do elevador independente; › índice de proteção à penetração de líquidos do equipamento elétrico; › sistema de drenagem de água no poço do elevador.
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2.2.7. Acústica
Na integração do ascensor é necessário conhecer o nível de ruído produzido pelo ascensor de forma que o estudo do comportamento acústico esteja considerado. Normalmente, esta preocupação é relevante nos casos em que a casa das máquinas está próxima de quartos. Nas situações dos edifícios de habitação esta problemática é reduzida quando a casa das máquinas está ins talada no piso inferior. 2.2.8. Gestão Técnica Centralizada
Atualmente, é comum os edifícios serem dotados de sistemas de Gestão Técnica Centralizada - GTC. Neste caso faz todo o sentido que os ascensores comuniquem com a GTC, transmitindo várias informações como: › Posição; › Carga; › Consumo de energia; › Estado; › Alarmes. Para que esta interlig ação seja possível é necessário que o ascensor esteja concebido com um protocolo de comunicação, configurado para transmitir a informação respetiva. Mesmo num ascensor sem sistema de comunicação por protocolo é sempre possível transmitir alguma informação através de replicação de contactos dos vár ios estados do ascensor.
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Os objetivos da interligação dos ascensores à GTC passa por melhorar a eficiência energética e aumentar a disponibilidade de exploração, reduzindo as intervenções de manutenç ão.
3. CONCLUSÃO O projeto do ascensor, como qualquer outro, deve ser uma antevisão das necessidades pelo que se deve estar preocupado por utilizar mais tecnologias, mas sempre devidamente fundamentadas. O documento técnico que compõe o projeto deve ser incorporado com uma maior informação e detalhe de forma a carateriz ar devidamente o ascensor. De maneira geral o projeto é um elemento chave para sucesso da construção de um edifício e o do ascensor não foge a esta regra, porém requer qu e sejam tomadas medidas na elaboração do projeto na fase em que se faz a integraç ão com as restantes especialidades. Esta integração deverá ser iniciada o mais cedo possível. É importante o acompanhamento da obra pelo autor do projeto e mesmo após o edifício entrar em exploração. Este será um processo de onde se podem retirar muitos ensinamentos. Os cuidados com a segurança são os mais importantes, mas atualmente, cada vez mais faz sentido ter em consideração outros aspetos como a eficiência energética e as intervenções para manutenção, pois são pilares para se obterem edifícios mais sustentáveis e assim contribuir para um desenvolvimento sustentável.
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