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Copidesque: Ana Ana Lucia de Souza Normando Revisão: Adriana Adriana Ferreira e Soeli Araujo Editoração Eletrônica: Estúdio Estúdio Castellani Elsevier Editora Ltda. Conhecimento sem Fronteiras Rua Sete de Setembro, 111 – 16 o andar 20050-006 – Centro – Rio de Janeiro – R J – Brasil Rua Quintana, 753 – 8o andar 04569-011 – Brooklin – São Paulo – SP – Brasil Serviço de Atendimento ao Cliente 0800-0265340
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CIP-Brasil. Catalogação-na-fonte Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ P368m
Paz, Leandro Mercados futuros [recurso eletrônico] : como vencer operando futuros / Leandro Paz e Marcos Bastos ; supervisão Maurício Bastter H issa. – Rio de Janeiro : Elsevier, 2012. recurso digital : 23 cm Formato: PDF Requisitos do sistema: Adobe Acrobat Reader Modo de acesso: World Wide Web ISBN 978-85-352-5211-8 (recurso eletrônico) 1. Mercado futuro. futur o. 2. Livros eletrônicos. eletr ônicos. I. Hissa, Maurício. Mauríc io. II. Título.
12-2397.
CDD: 332.6452 CDU: 336.764.2
Apresentação
ai se abrindo uma nova fronteira do mercado para par a o pequeno investidor: os mercados futuros e o de commodities. Vemos a liquidez desses mercados aumentar progressivamente. Faz-se então necessária a educação dos investidores para que, mais uma vez, vez , não aconteça o que tem sido comum: o fato de a grande maioria operar sem saber o que está fazendo. Leandro e Marcos nos brindam com sua vasta experiência nesses mercados, e tive a honra de ajudar neste projeto, mesmo não sendo uma área que eu domine. A experiência foi mais válida do que a dos outros livros que coordenei, pois aprendi mais com este. Espero que vocês leitores se beneficiem tanto da leitura deste livro como eu me beneficiei. Aqui vocês têm um manual completo para entrar nos mercados futuros e não “saírem machucados”. Leiam tudo com atenção, e, uma vez nos mercados futuros, sigam também o já conhecido mantra do Bastter: opere pequeno! Ao menos no início, mas sempre dentro de suas possibilidades de risco. Leandro e Marcos, obrigado por disseminar conhecimento e por me permitir participar deste projeto!
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Bastter
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Portal Opere Futuros
o Brasil, a literatura sobre mercados futuros é bastante rara e técnica e não há na internet um local único em português onde possamos buscar informações e notícias diárias somente voltadas ao mercado futuro. Assim, tendo em vista nossas próprias dificuldades, também criamos o portal Opere Futuros. Lá, você encontrará explicações para as principais dúvidas, além de relatórios, vídeos, notícias e análises diárias referentes ao mercado futuro. Caso surjam mais dúvidas, não deixe de acessar e entrar em contato para que possamos ajudar a esclarecer. Esperamos conseguir passar um pouco de nossa experiência, auxiliar e contribuir para o desenvolvimento de novos e bons investidores. Acesse: www.operefuturos.com.br
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Sumário
Apresentação Portal Opere Futuros
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CAPÍTULO 1
O que são commodities?
CAPÍTULO 2
Conceitos do mercado futuro
17
CAPÍTULO 3
Conceitos das operações
55
CAPÍTULO 4
O que são opções?
73
CAPÍTULO 5
Análise gráfica
93
CAPÍTULO 6
Análise fundamentalista
143
CAPÍTULO 7
Dia a dia no mercado: guerra de trincheira
173
CAPÍTULO 8
Psicologia de um investidor
199
APÊNDICE
Perfil, comportamento e sucesso do investidor
205
Referências
217
1
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CAPÍTULO 1
O que são commodities?
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e você deseja conhecer sobre mercado futuro e operar nele com sucesso, deve, em primeiro lugar, compreender o que são commodities. A pala vra origina-se do termo em inglês commodity , que significa basicamente mercadoria. São produtos básicos, bens comerciáveis, homogêneos e de grande consumo. Existem categorias diferentes de commodities, como os agropecuários, milho, boi, café, soja, trigo, algodão; os minerais, como petróleo, prata, ouro, platina; os financeiros, ou seja, as moedas mais utilizadas mundialmente, como dólar, euro, iene, e as commodities industriais, como ferro gusa, poliéster, entre outras. As commodities são importantíssimas para a economia global, pois todos os países necessitam delas, pois, apesar de serem produtos primários, possuem negociabilidade global. As principais commodities são negociadas em bolsas pelo mundo, tendo seus preços influenciados e, em muitos casos, balizados pelo mercado futuro. Elas são produzidas em larga escala com baixo valor agregado. Porém, cada vez mais esse conceito está mudando, uma vez que há produção de produtos diferenciados com maior valor agregado. As negociações das commodities passaram por diferentes etapas no decorrer da História e continuam sofrendo processos evolutivos, na busca pela melhoria contínua de negociação e pela proteção dos envolvidos na cadeia produtiva, tendo em vista ser um produto de suma importância para a economia de muitos países.
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4 Mercados futuros
No universo das commodities, existem três formas essenciais de negociação: mercado à vista – em que o comprador paga e recebe o produto –, mercado a termo – quando o comprador e vendedor realizam um “acordo” com preço e quantidade definidas para data futura, modalidade bastante utilizada por quem vende sua safra antecipadamente –, e mercado futuro, que iremos estudar mais a fundo – em que as commodities são negociadas com padrões definidos de qualidade, quantidade e vencimento. Agora, quem diria que você, investidor ou trader, poderia ganhar dinheiro com a negociação de commodities sem ao menos ter um dia encostado nelas ou pisado em alguma fazenda, apenas aproveitando suas oscilações. O que fascina, nesse universo do mercado futuro, é o fato de ser um caminho sem volta, pois, quando se aprende a operá-lo com disciplina e objetividade, não tem retorno, pois o processo é apaixonante, e suas particularidades facilitam muito para quem deseja especular ou se proteger de oscilações de preços. Quem nunca teve contato com esse mercado deve ter muitas dúvidas sobre como ele funciona. Você deu o passo certo iniciando esta leitura, pois o mercado futuro não perdoa os desinformados e exige disciplina e dedicação para o domínio de seu funcionamento. A busca pelo conhecimento é constante; todos os dias, tiramos lições e aprendemos com nossos erros, mas, principalmente, com o erro dos outros. O conhecimento que pretendemos passar neste livro nos custou alguns milhões de dólares, tendo em vista que erros, nesse mercado, custam dinheiro, e a literatura pobre existente no Brasil faz muito do aprendizado acontecer na vi vência do dia a dia. A dificuldade em buscar conteúdo e aprender sobre o tema foi o que nos motivou a tentar disseminar nosso conhecimento de leituras e, principalmente, experiências passadas por nós e por personagens de destaque nos mercados futuros. Para entender bem o funcionamento desse mercado, é importante conhecer sua história, saber como tudo começou no mundo e no Brasil, bem como entender suas principais funcionalidades e produtos.
História do mercado futuro O mercado futuro é uma ferramenta essencial para a economia de um país, porque sua principal função é auxiliar produtores, cooperativas, torrefadoras,
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agropecuárias, indústrias e demais envolvidos do setor em conseguir se proteger das oscilações dos preços das commodities. O mercado futuro atrai os mais variados participantes, e a Bolsa tem por objetivo criar mecanismos que o tornem atraente, pois se faz necessário manter uma liquidez saudável, para que sempre que alguém quiser comprar ou vender, consiga contraparte a preços justos para o momento. O mercado brasileiro está em desenvolvimento, e seu volume ainda é pequeno se comparado à principal Bolsa do mundo, a CBOT (Chicago Board of Trade – Bolsa de Futuros de Chicago). Apesar disso, existem commodities no Brasil que oferecem grandes oportunidades e possuem liquidez para operações tanto de curto prazo quanto de prazo maior. Ao longo dos anos, surgiram vários planos de proteção ao setor agropecuário. À medida que esses instrumentos de sustentação de preços foram ficando insustentáveis, novos instrumentos, com base no conceito de mercado futuro, começaram a progredir. Uma das principais estratégias para reduzir a volatilidade de preços, comumente usada nos Estados Unidos por produtores, cooperativas, processadores e traders , é o hedge com contratos futuros. Por meio dessa estratégia, a fim de se defenderem de eventuais quedas de preços, os produtores e cooperativas vendem contratos futuros, ao passo que os agentes que buscam proteção contra o aumento de preços compram contratos futuros.
Tales de Mileto: o primeiro trader futuro Por incrível que pareça, as primeiras negociações futuras iniciaram-se com o grande filósofo Tales de Mileto – primeiro filósofo ocidental de que se tem notícia. Ele é o marco inicial da filosofia ocidental. De ascendência fenícia, nasceu em Mileto, antiga colônia grega, na Ásia Menor, atual Turquia, por volta de 624 ou 625 a.C., e faleceu aproximadamente em 556 ou 558 a.C. Além de filósofo, era matemático e astrônomo. Certa vez, foi questionando sobre a utilidade de sua profissão, que não lhe gerava renda alguma. Ele, porém, sempre defendeu que, ainda que seu objetivo de vida não fosse ganhar dinheiro, caso quisesse, poderia fazê-lo tranquilamente. Sendo assim, decidiu prová-lo para seus conterrâneos e, como excelente astrônomo que era, pre viu uma ótima safra de azeitonas. Convicto de que sua previsão se realizaria, Tales alugou, muito antes da safra, todas as prensas da região a preço baixo,
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FIGURA 1.1 Thales de Mileto Fonte: portalsaofrancisco.com.br
prevendo que os produtores precisariam delas para esmagar sua produção e fazer azeite. Conforme havia previsto, a colheita foi farta, e, aproveitando-se da circunstância, alugou as prensas a preços altíssimos e comprovou que, com suas previsões futuras, poderia ganhar dinheiro, uma vez que conseguiu obter grande lucro com o aluguel das prensas. A partir do século XII, surgiram os primeiros relatos de negociações de preços futuros, pois já existia a preocupação com a oscilação da cotação das commodities. Naquela época, durante as feiras, já havia pessoas interessadas em arbitrar negociações para uma data futura, surgindo assim os primeiros passos dos mercados futuros que conhecemos hoje.
Primeira crise causada por especulação Hoje em dia, vivenciamos muitas crises nos mais variados setores e seguidamente ouvimos o termo “bolha”. Porém esse termo é antigo, e quem assistiu ao filme Wall Street 2 já conhece a história de como surgiu a primeira “bolha” econômica.
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FIGURA 1.2 A famosa bolha das tulipas Fonte: mundodeflores.com
Ocorreu por volta de 1634-1637, na Holanda, e foi o primeiro relato de euforia causada por especulação em um mercado. A flor tulipa é originária da antiga Pérsia, na região que atualmente pertence à Turquia, e foi levada para a Holanda no século XVI, onde iniciaram as pesquisas para obtenção de novas espécies. A flor era item raro e de grande cobiça, logo considerada símbolo de poder e riqueza. No século XVII, eram comercializados bulbos de tulipa com valor unitário entre US$1 mil e US$3 mil a preços de hoje, quantia que, na época, era suficiente para adquirir pelos menos duas casas completas. Para gerir os fabulosos negócios que incluíam a tulipa, foi criada na Holanda a primeira bolsa de que se tem notícia. Em determinada época, a flor chegou a atingir preços estratosféricos – foi o primeiro boom de que se teve notícia. Muitos holandeses chegaram a vender tudo o que possuíam para comprar os bulbos de tulipa importados da Turquia. Por um único bulbo, eram capazes de dar bens valiosos, como toneladas de trigo e centeio, manadas de bois, ovelhas e pratarias. O caso mais grave conhecido foi de alguém que trocou quase cinco hectares de terras por uma única flor. Até que, certo dia, porém – assim reza a lenda –, um marinheiro embriagado comeu a tulipa do tipo mais caro que existia, e todos ficaram estupefatos de início para depois caírem em si e, por fim, entenderem que o preço estava
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irracionalmente alto, e que, de fato, era um absurdo uma tulipa custar tão caro. Um dos negociantes da época resolveu então vender tudo o que tinha – bulbos e raízes –, no que foi seguido por outro e outro... Ocorreu assim a primeira despencada da história das Bolsas. Os resultados foram cruéis, e a tulipa acabou formando uma torrente de desesperados falidos pelo excesso de oferta. Era o estouro da bolha especulativa. O pânico se instalou, vieram a crise e a depressão econômica. Recentemente, tivemos um exemplo bem claro no mercado de ações da Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo), quando a empresa Mundial, com o código de negociação MNDL4, valorizou-se de forma absurda e caiu de repente. Observe o Gráfico 1.1.
GRÁFICO 1.1 MNDL 4: julho de 2010 a julho de 2011 Fonte: Bloomberg.
Observe a velocidade do movimento de alta, que chegou mais adiante a R$5,20. Porém, assim que a bolha estourou, os preços voltaram a ser negociados a centavos, formando um movimento igual ao Gráfico 1.2 do quadro da bolha das tulipas e mantendo o preço a R$3,10, pois foi exatamente neste valor que enviamos e-mail para alguns amigos, comparando o Gráfico 1.1 com o Gráfico 1.2 das bolhas das tulipas. Quando você acreditar que o mercado esta irracional, simplesmente o evite, pois movimentos bruscos podem acontecer.
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GRÁFICO 1.2 Bolha das tulipas Fonte: amazon.com
Chicago Board of Trade: onde tudo começou A Chicago Board of Trade foi formada em 1848 por um grupo de empresários que queriam trazer mecanismos de proteção para o mercado de grãos do centro-oeste dos Estados Unidos. Os preços agrícolas sofriam ciclos muito fortes de alta e de baixa. No inverno, quando o grão ficava escasso, o preço subia, e, na época da colheita, Chicago ficava inundada com grãos, o que fazia os agricultores terem de aceitar preços extremamente baixos. Como forma de protesto, alguns preferiam queimar sua soja com combustível em vez de entregá-la a preços tão baixos. Alguns produtores, ao descobrirem que não podiam obter preços justos para o milho e o trigo, acabaram por jogá-los no Lago Michigan em vez de pagar pelo transporte e armazenamento. Tendo em vista todos esses protestos, a Câmara de Comércio começou a oferecer aos agricultores uma forma de obter garantia para seus produtos antes do tempo, propondo assim contratos futuros. O produtor, na época do plantio, poderia já negociar o preço que receberia pela colheita, tendo como contraparte grandes compradores de grãos. Nascia então a CBOT, constituída de 25 conselheiros que se reuniam em uma loja de animais. Nem todos os diretores eram ligados ao mercado de grãos;
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FIGURA 1.3 CBOT (Chicago Board of Trade) Fontes: midnightstar.com e bullbear.blogg.se
entre eles existiam donos de mercearias, comerciantes de hardware, banqueiros, livreiros, farmacêuticos, entre outras ocupações. No início dos trabalhos, as negociações não eram muito ativas. Então, o conselho começou a oferecer almoços grátis para atrair as empresas. Chicago estava se tornando o mercado de grãos predominante no centrooeste dos Estados Unidos, e, com a criação da primeira ferrovia, começaram as trocas entre as outras regiões do país. Logo, Chicago passou a ser o centro ferroviário que possuía as 10 maiores ferrovias e também uma centena de trens, que entravam e saíam da cidade todos os dias. Utilizava-se um canal que ligava a cidade ao tráfego fluvial e conduzia ao Mississipi. A grande estrutura logística contribuiu para Chicago se transformar em referência, tornando-se centro nacional e até internacional de commodities agrícolas em 1850. Em 1855, o governo francês, grande comprador de grãos, abandonou sua prática de compra de grãos em Nova York e foi para Chicago, reforçando ainda mais a importância da cidade nesse setor. Em 1856, a CBOT tinha cerca de 150 membros e precisou mudar-se para novo endereço. Em 1859, a legislatura de Illinois concedeu à CBOT a carta que lhe permitiu autoridade de governar a si mesma. A CBOT tornou-se uma instituição muito popular e, no final da década de 1950, estabelecera novo sistema de classificação de grãos, que ajudara o mercado a funcionar melhor. No sistema antigo, diversos agricultores de grãos tinham de ser inspecionados em muitos pontos durante o processo de venda, para se ter certeza de que os grãos eram da qualidade e da limpeza que diziam ser. Se um agricultor de grãos armazenava seus lotes com outros
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agricultores, e se fossem grãos de diferentes qualidades, acabavam por se misturar, o que vinha a afetar o preço mais tarde. A Câmara de Comércio criou novo sistema, em que os grãos eram classificados antes do armazenamento e colocados todos nos respectivos silos. Observe que começava a surgir assim a padronização dos grãos – origem do termo commodity. O agricultor recebia um recibo de X quantidade de grãos, de X qualidade. Assim, ele ficava seguro da qualidade do produto para revenda, além de ter a confiança de que essa qualidade não seria afetada pelo armazenamento promíscuo. A padronização facilitou o comércio de grandes volumes de grãos, em vez da compra e venda de sacos físicos de trigo ou milho, e os corretores poderiam negociar apenas os recibos. Logo começava vigorosamente a negociação de futuros de grãos. Para os agricultores, seria um contrato futuro garantindo determinado preço para vencimento futuro. Os especuladores também poderiam comprar um contrato futuro, apostando que ganhariam dinheiro vendendo, mais tarde, a preço mais elevado. Note que o surgimento do mercado futuro deu-se a partir da necessidade de os produtores enfrentarem os preços. Atualmente, em especial no Brasil, ele é visto por muitos como mercado apenas de especulação, no qual só quem queira obter ganhos financeiros o utiliza. Os produtores no Brasil tendem a expandir muito sua atuação no mercado futuro com o passar do tempo e disseminação da cultura. Cada vez mais, surgem novas gerações que demonstram postura menos conservadora, o que tem trazido evolução aos processos de produção, comercialização, distribuição e, para alguns, garantias de preços. Realmente, a literatura sobre esse assunto é muito escassa no Brasil. Houve até a tentativa dos bancos de difundir a ferramenta, mas a falta de aptidão dos funcionários para atender a esse público fez muitos produtores terem prejuízos que não esperavam e, desse modo, criarem postura defensiva a tais práticas. Produtores geralmente vivem em cidades pequenas, onde a grande maioria das pessoas se conhece e possui bom entrosamento. Assim, quando algo ruim acontece, um bom número de pessoas é logo comunicado. A tentativa frustrada e o despreparo de alguns bancos para inserir essa ferramenta nas atividades dos produtores acabaram criando o mito que os impede de conhecê-la e compreender que, desde sua origem, ela fora criada com o principal intuito de auxiliá-los. A CBOT é a mais antiga e importante bolsa de agrícolas do mundo. O corpo social da Bolsa é composto de mais de 3.600 membros, que negociam
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mais de 50 diferentes contratos de futuros e de opções em pregões viva voz e eletrônico. Em 2006, a Bolsa superou a marca dos 805 milhões de contratos negociados. Inicialmente, a CBOT negociava apenas agrícolas tradicionais, como milho, soja e trigo. Agora, os contratos de derivativos financeiros e índices as superam em volume de negociação. A Bolsa atua como ponto central, mundialmente reconhecido para formação de preços nas commodities do comple xo soja e milho (e também para alguns tipos de trigo). 1972
A CME introduz futuros FX, os primeiros contratos financeiros 1919
É estabelecida a CME Clearinghouse
1974
A COMEX lança contratos de ouro
1933
A New York Metal Exchange, a Rubber Exchange of New York, a National Raw Silk Exchange e a New York Hide Exchange se reúnem para formar a COMEX
1981
A CME introduz futuros de eurodólares
1936
A CBOT lança contratos de soja
1865
A CBOT inicia contratos futuros 1975 1926
É fundada a Board of Trade Clearing Corporation
1848
É fundada a CBOT
1969
A CBOT começa a negociar contratos futuros do Tesouro dos Estados Unidos
A CBOT introduz contratos futuros de prata, o seu primeiro produto além de grãos 1956
1898
A CME é fundada como Chicago Butter and Egg Board
A NYMEX lança contratos de platina
1872
A NYMEX é fundada como Butter & Cheese Exchange
GRÁFICO 1.3 Evolução CBOT hoje CME GROUP Fonte: site CME GROUP.
O que são commodities? 13
A gama de contratos negociados na Bolsa de Chicago impressiona, e as formas de negociação também. A grande maioria de filmes que aborda esse mercado, em geral, cita e mostra imagens das negociações do mercado futuro, tanto no Brasil quanto fora dele. As Bolsas de futuros são o charme do mercado, os famosos pregões viva voz são o diferencial que dá encanto a ele. Como vimos, a CBOT hoje pertence ao CME GROUP (Chicago Mercantile Exchange), que abrange outras Bolsas americanas, ampliando assim a gama de contratos negociados. A seguir, veremos alguns tipos de contratos futuros negociados: •
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Taxa de juros: utilizada para administrar o risco de taxa de juros no curto, médio e longo prazos, com produtos com base em eurodólares, títulos do Tesouro dos Estados Unidos, swaps de taxas de juros, deri vativos de crédito (CDS – Credit Default Swap) e outros instrumentos com base no dólar. Índice de ações: abrange toda a gama de índices de pequena, média e grande capitalizações nos Estados Unidos, Europa e Ásia. São negociados os contratos mais conhecidos de índices, como S&P 500, Dow Jones Industrial Average, NASDAQ – 100, Nikkei 225 STOCK Average, MSCI EAFE, FTSE/XInhua China 25, entre outros. Câmbio: utilizado para quem deseja se proteger das oscilações cambiais. São negociados 41 contratos futuros com base em 19 moedas globais, inclusive as principais moedas de países de mercados emergentes. Commodities: disponibiliza ampla gama de contratos futuros de grãos, gado, sementes oleaginosas, laticínios, madeiras e outros produtos. Estão sujeitos a grandes oscilações de preços, influenciadas por variações climáticas, pragas, decisões políticas, oferta e demanda mundial, ou seja, fatores difíceis de serem controlados. Alguns tipos de commodities negociadas são: soja, óleo de soja, soja América do Sul, farelo de soja, milho, etanol, aveia, trigo, manteiga, bacon, leite, queijo, entre outros.
A CBOT é, sem dúvida, uma das Bolsas mais fascinantes e importantes do mundo, pois o volume de negócios é algo que impressiona, e aqueles que desejam operar com volumes maiores ou com a utilização de call (opção de compra) ou put (opção de venda) – aprenderemos sobre esses termos no decorrer da leitura – deverão operar em CBOT no lugar de operar somente na nossa
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Bolsa BM&F (Bolsa de Mercadorias e Futuros). O operacional é bastante simples e se faz por meio de cadastro em uma corretora que possua operações em CBOT. Se você puder optar por uma corretora que possua funcionários brasileiros, facilitará bastante sua comunicação. O cliente faz o cadastro na corretora, envia o dinheiro por um banco correspondente, recebe o código e a plataforma para operar diretamente lá fora. Nessa operação internacional, se faz necessário ter bom suporte operacional, que auxiliará nas dúvidas que surgirão no decorrer da operação, mas nada muito diferente do que é nosso mercado, pois os conceitos dos mercados futuros são internacionalmente padronizados.
BM&FBovespa: como tudo começou no Brasil Antes de ser BM&FBovespa, a BM&F já era a maior Bolsa brasileira. Ouvimos muito nos noticiários sobre o mercado de ações, sobre a Bovespa, porém o volume de negociações de contratos futuros de commodities, índices e moedas na BM&F supera em mais de 10 vezes o volume de negociação do mercado à vista de ações. Muitos dos grandes investidores do mercado e di versas pessoas fizeram fortunas no mercado de capitais através dos mercados futuros. Nos Estados Unidos, é comum os jornais apresentarem as cotações das commodities, assim como as das ações. A BM&F localiza-se na capital da cidade de São Paulo, onde são negociados contratos futuros de commodities e derivativos financeiros de índices e moedas. Alguns contratos futuros são: café arábica, boi gordo, milho, soja, etanol, ouro, taxa de câmbio e taxa de juros. Possui formação mercantil criada por empresas, corretoras de valores e bancos e não negocia ativos mercantis societários (ações), negociados na Bovespa. A fusão entre a Bolsa de Mercadorias de São Paulo e a Bolsa Mercantil de Futuros deu origem à BM&F. A Bolsa de Mercadoria de São Paulo foi criada por empresários paulistas, que possuíam ligação com exportações, comércio e agricultura, em 26 de outubro de 1917. Foi a primeira Bolsa a realizar operações no Brasil e logo tornou-se conhecida pelas negociações de contratos agropecuários, sobretudo de café, boi gordo e algodão. A Bolsa Mercantil de Futuros, que já utilizava a sigla BM&F, surgiu em julho de 1985, tendo o início dos pregões de negociações no dia 31 de janeiro de 1986.
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Apesar de jovem, teve crescimento exponencial e não demorou a ganhar destaque por disponibilizar a negociação de produtos financeiros nas mais variadas modalidades operacionais. A tradição da Bolsa de Mercadorias de São Paulo e o destaque da Bolsa Mercantil de Futuros fez com que, em 9 de maio de 1991, ambas fechassem um acordo e unissem suas atividades operacionais. Com ambição de se tornar uma das principais Bolsas da América Latina, em 30 de junho de 1997, ocorreu o acordo operacional com a Bolsa Brasileira de Futuros, fundada em 1983 na capital da cidade do Rio de Janeiro, o que fortaleceu ainda mais o mercado nacional de commodities, tornando-se assim o principal centro de negociação de derivativos do Mercosul, sob a sigla BM&F. A última das fusões ocorreu com a Bovespa, focada no mercado à vista de ações, e, em 26 de março de 2008, consolidou-se a união com o novo nome BM&FBovespa – A Nova Bolsa, atualmente a terceira maior do mundo e a segunda maior das Américas em valor de mercado.
NYBOT (New York Board of Trade – Bolsa de Valores de Nova York) Essa é, sem dúvida, a Bolsa que mais utilizamos no nosso operacional, pois possui o contrato futuro de café mais negociado no mundo. Portanto, é importante saber um pouco de sua história. Em setembro de 2007, a NYBOT foi rebatizada de ICE Futures US e tornou-se subsidiária integral da ICE (Intercontinental Exchange). Localiza-se na cidade de Nova York. Nesta bolsa, há negociações de contratos futuros e de contratos físicos. Há alguns anos, está sendo negociada a possibilidade de ser aceito o café arábica oriundo do Brasil na liquidação de contratos futuros em NYBOT, que será finalmente possível a partir de 2014 – uma grande conquista para o mercado produtor brasileiro. A NYBOT, fundada por Tom Gree e Alfredo Willians, era uma empresa privada antes da fusão. Essa Bolsa possui alguns diferenciais interessantes, pois, em seu pregão, há a regulamentação pela Commodity Futures Trading Commission, agência sem vínculo com o governo dos Estados Unidos. As empresas que negociam nela enviam seus próprios corretores independentes. A NYBOT possuía sua sede no prédio World Trade Center, que acabou sendo destruída no atentado terrorista de 11 de setembro de 2011. Porém, em fevereiro de 2003, assinou acordo de locação com a NYMEX (New York Mercantile Exchange) para então se mudar para o World Financial Center.
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CAPÍTULO 2
Conceitos do mercado futuro
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e você deseja operar com sucesso no mercado futuro, é preciso conhecer seus fundamentos básicos e os diferenciais em relação aos demais mercados. O mercado futuro possui algumas particularidades, porém seus mecanismos operacionais são bastante padronizados internacionalmente, o que facilita o entendimento das demais Bolsas de mercado futuro. O primeiro passo para as operações no mercado futuro é a abertura de conta em corretora credenciada pela BM&F. O cadastro para pessoa física costuma ser rápido e exige apenas cópia do documento de identidade, comprovante de residência e algumas informações sobre patrimônio e perfil de investidor (conservador, moderado e agressivo). A abertura da conta costuma levar em média três dias úteis para ficar pronta. Aprovado o cadastro, a corretora irá gerar um código de conta e é por meio dele que serão efetuadas operações no mercado futuro. O investidor pode ter conta em quantas corretoras quiser, sem qualquer tipo de restrição. Agora que já possui código de investidor, vamos aprender os conceitos básicos do mercado futuro, tendo em vista dominar seus principais diferenciais operacionais.
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O que é um contrato futuro? Nas primeiras negociações que deram origem ao mercado futuro, eram realizados contratos de compra e venda entre as partes, que estabeleciam a
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quantidade, qualidade e vencimento do produto em negociação. Com o passar do tempo e desenvolvimento do mercado, foi criado o contrato futuro padronizado, segundo o qual são estabelecidos o vencimento, qualidade e quantidade de acordo com as definições estipuladas pela Bolsa. No mercado à vista, por exemplo, Bovespa, são negociados lotes de ações; no mercado futuro, a nomenclatura utilizada é “contrato”. Cada contrato futuro possui suas particularidades e especificações, que veremos no decorrer da leitura. Obviamente, não é necessário memorizar tudo, mas, quando tiver dúvidas, poderá consultar este livro ou ir direto ao site da BM&F.
Margem de garantia Este é sem dúvida um dos diferenciais mais fascinantes do mercado futuro, pois, através da margem de garantia, é possível alavancar o patrimônio e, assim, buscar obter ganhos expressivos em relação ao capital alocado. Vale ressaltar que a possibilidade de alavancagem também pode fazer os prejuízos serem maiores, por isso comece sempre com grau reduzido de alavancagem. Para compreender melhor, vamos a um exemplo simples do mercado de ações. Se você comprar 100 ações da Petrobras a R$25,00 cada, terá de desembolsar R$2.500,00 pela aquisição das ações. Agora, se você comprar um contrato de boi gordo a R$90,00 por arroba, que dá um volume de R$90,00 × 330 = R$29.700,00, terá de desembolsar todo esse valor, certo? Não mesmo! No mercado futuro, você precisa apenas da margem de garantia, que, no caso do boi gordo, é em torno de R$2.000,00. E não para por aí: esses R$2.000,00 precisam ser em dinheiro? Não, podem-se utilizar como garantia ações, CDB, poupança, ouro credenciado, tesouro direto e carta de fiança. Ou seja, você pode utilizar o capital já aplicado em algum outro investimento e alavancar as operações no mercado futuro. A margem de garantia possibilita a alavancagem do capital, buscando-se assim ganhos maiores. Os hedgers necessitam depositar menos margem de garantia que os especuladores. É uma forma de incentivo para esses participantes, que apenas utilizam o mercado futuro para proteger-se das oscilações de preço. Para compras e vendas no mesmo dia, durante o pregão normal, não há chamada de margem, que somente ocorrerá caso se fique posicionado para o pregão seguinte.
Conceitos do mercado futuro 21
A margem de garantia é chamada tanto para o comprador quanto para o vendedor. Ambos devem alocar recursos para garantir suas posições. A margem de garantia oscila de acordo com a volatilidade (variação de preço) do contrato e a aproximação do vencimento, ou seja, a Bolsa pode intervir e chamar mais garantia a fim de proteger as operações em aberto no mercado. Quando um contrato com entrega física se aproxima do vencimento, há maior chamada de margem, pois somente ficarão posicionados aqueles que receberão ou entregarão o produto físico. Veja, a seguir, uma tabela de garantias na BM&F: TABELA 2.1 Garantias depositadas atualizada em: 02/09/2011
Nome do Ativo
Depositado
%
94.013.108.756,33
91,920
Cartas de Fiança
3.126.695.410,82
3,057
Ações
2.995.831.067,24
2,929
Títulos Privados
1.236.831.997,69
1,209
Dinheiro-Reais
723.875.908,71
0,708
FIC Banco BM&F
118.285.623,37
0,116
59.360.768,52
0,058
3.171.973,37
0,003
0,00
0,000
71.844.049.068,79
70,244
102.277.506,06
100,000
64.291.423.722,71
100,000
Títulos Públicos Federais
Ouro Dinheiro-Dólares CPR Total Requerido em Reais Total Depositado em Reais Total Depositado em Dólares Fonte: BM&FBovespa.
Para consultar as margens aceitas e os valores por contrato atualizados, acesse o link ou tag: http://www2.bmf.com.br/pages/portal/bmfbovespa/boletim1/ MargemTeorica1.asp
Caso deseje utilizar as ações como garantia, saiba que elas possuem um deságio definido pela Bolsa. Consulte no link ou tag:
22 Mercados futuros
http://www.bmfbovespa.com.br/pt-br/mercados/ mercadorias-e-futuros/Derivativos/garantias/Limites-eDesagio-para-aceitacao-de-acoes-em-Garantia. aspx?idioma=pt-br
Ajuste diário Este é outro diferencial que mostra o dinamismo das Bolsas de futuros, que buscam cada vez mais agilidade nas liquidações e segurança de seus mecanismos operacionais. No mercado de ações, você só realiza o lucro ou prejuízo quando encerra a operação; essa é a única forma. Nos mercados futuros, os ajustes são feitos diariamente, ou seja, se você compra, e a cotação sobe no dia, no dia seguinte terá um crédito na conta, e, se o preço cair, terá um débito, diariamente ajustado. Caso opere na venda, o processo é o mesmo; se cair, no dia seguinte, recebe crédito, e, se subir, débito. Por ser um mercado alavancado, o risco de o investidor ter grandes prejuízos é eminente, por isso a Bolsa realiza os ajustes diários, pois, caso o participante não tenha condições de honrar algum eventual débito, será compulsoriamente zerado por sua corretora, garantindo assim que todas as operações em Bolsa sejam devidamente liquidadas. No final do dia, a Bolsa divulga o preço de ajuste de cada contrato. Em geral, esse ajuste é a média dos preços negociados no fechamento do pregão, por isso é normal ver volatilidades maiores próximo aos 30 minutos de fechamento, uma vez que os grandes players (participantes do mercado) buscam defender suas posições para ter ajustes favoráveis. Veja o exemplo mostrado no Quadro 2.1. Aqui são feitos ajustes diários de uma posição vendida em boi gordo BGI. No decorrer da leitura, você entenderá melhor como realizar operações na venda. Observe que, no Quadro 2.1, ocorrem ajustes diários desde a abertura da posição. No dia 15 de maio, o investidor abriu sua posição de compra e, no mesmo dia, recebeu ajuste de R$0,20 na cotação, que gerou crédito financeiro de R$198,00. No mercado futuro, por mais que sua posição esteja indo a favor, poderá haver dias de débito na conta, pois, se você esta comprando e, certo dia, o mercado cair, você terá ajuste negativo, apesar de a posição geral ainda ser vencedora. Observe, ainda, que, no dia 17 de maio, o investidor sofreu ajuste negativo devido à queda no preço da cotação no dia.
Conceitos do mercado futuro 23 QUADRO 2.1 Posição vendida em boi gordo BGI C/V
No Ctrs (A)
Preço de Ajuste (B)
Ajuste Diário (C)
Valor Total (A × C × 330)
Comprou
3
R$94,60
15/mai
3
R$94,80
R$0,20
R$198,00
16/mai
3
R$96,90
R$2,10
R$2.079,00
17/mai
3
R$96,70
–R$0,20
–R$198,00
18/mai
3
R$98,60
R$1,90
R$1.881,00
19/mai
3
R$99,10
R$0,50
R$495,00
3
R$99,60
R$0,50
R$495,00
Data 15/mai
20/mai
Vendeu
R$4.950,00 Fonte: própria.
Para consultar os ajustes diários atualizados, acesse o link ou tag: http://www.bmfbovespa.com.br/shared/iframeBoletim. aspx?altura=3800&idioma=pt-br&url=www2.bmf.com.br/ pages/portal/bmfbovespa/boletim1/Ajustes1.asp
Limite de oscilação Quando operamos em mercados nos quais podemos alavancar nosso patrimônio em mais de 20 vezes, é preciso ter mecanismos de limitação diária que protejam os que estejam tendo prejuízos alavancados. Imagine se você entrar em uma operação alavancando seu patrimônio em cinco vezes, e o contrato que comprou cai 25% no dia, como muitas vezes ocorre no mercado de ações. Seria desastroso, pois zeraria sua conta na corretora e você ainda ficaria devendo. Para evitar esse tipo de transtorno, os mercados futuros possuem limites de oscilação que buscam proteger os participantes do mercado e assim garantir a segurança das operações. Cada ativo possui sua alavancagem e, com base nisso, seu limite de oscilação; quanto maior a alavancagem, menor o limite de oscilação. A alavancagem é calculada pela proporção do tamanho total do contrato em relação à sua margem de garantia requerida, por exemplo, o boi gordo, cujo contrato tem um financeiro em torno de R$34.000,00 e são exigidos apenas R$2.000,00 de margem de garantia, alavancagem de 17 vezes. Ao contrário
24 Mercados futuros
da Bovespa, quando o limite de oscilação é atingido, as negociações seguem normalmente, porém não ultrapassam o preço limite de alta ou de baixa. Por exemplo, se o boi gordo abrir com a cotação de R$100,00 a arroba, terá limite de alta em R$103,50, e limite de baixa em R$96,50. Caso esses valores sejam atingidos, não haverá parada na negociação, somente não poderão ser ultrapassados os limites (R$103,50 e R$96,50). Veja, a seguir, alguns exemplos de limite de oscilação na BM&F: •
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Boi gordo (BGI): +3,5% (alta) e -3,5% (baixa) sobre o preço de ajuste do dia anterior. Soja (SFI): +5,00% (alta) e -5,00% (baixa) sobre o preço de ajuste do dia anterior. Milho (CCM): +5,00 (alta) e -5,00% (baixa) sobre o preço de ajuste do dia anterior. Café arábica (ICF): +9,00% (alta) e -9,00% (baixa) sobre o preço de ajuste do dia anterior. Dólar (DOL) e minidólar (WDO): +6,00% (alta) e -6,00% (baixa) sobre o preço de ajuste do dia anterior. Índice futuro (IND) e mini-índice (WIN): +10,00% (alta) e -10,00% (baixa) sobre o preço de ajuste do dia anterior. Etanol (ETH): +6,50% (alta) e -6,50% (baixa) sobre o preço de ajuste do dia anterior.
Quando ocorre o fechamento do pregão normal e é realizada a abertura do pregão after , que já é contabilizado como se fosse negociação do dia seguinte, têm-se novos limites de baixa e de alta, podendo cair ou subir mais. Por exemplo, no horário normal, o boi gordo fechou com limite de alta de R$103,50 e, às 17 horas, ocorreu a abertura do pregão after , então os novos limites de alta e de baixa serão R$107,12 e R$99,87, respectivamente. Para consultar os limites de oscilação diária, acesse: http://www.bmfbovespa.com.br/pt-br/regulacao/ regulamentos-e-normas/procedimentos-operacionais/ derivativos/oscilacao-maxima-diaria.aspx?idioma=pt-br
Conceitos do mercado futuro 25
Custos operacionais Como o intuito principal da Bolsa é ser uma ferramenta que possibilite aos envolvidos nas cadeias produtivas se protegerem das oscilações de preços, os custos operacionais de corretagem e emolumentos são bastante atrativos. Um mercado em que seja possível se alavancar e que tenha ajustes diários e baixos custos operacionais é tudo o que o investidor de curto prazo precisa, e é exatamente isso o que a Bolsa quer: atrair investidores que movimentem e deem liquidez para os contratos futuros. Diversos contratos futuros não deram certo, pois não se tornaram atrativos para os investidores e, portanto, não adquiriram a liquidez necessária para os hedgers que desejavam entrar no mercado. Cada contrato futuro possui seu custo operacional. Cabe ressaltar o seguinte detalhe: quando você realizar uma operação e zerar no pregão normal do mesmo dia, será cobrado o custo de day trade ; porém, se comprar no pregão normal e zerar no pregão after do mesmo dia, será cobrada a corretagem normal, aumentado consideravelmente o custo. Se realizar compra ou venda no pregão after e zerar no pregão normal do dia seguinte, o custo será de um day trade e, além disso, não chamará margem de garantia. Veja um exemplo de custo operacional para posição e para day trade : Compra de um contrato de boi gordo BGIV11 a R$90,00:
Posição R$90,00 × 330 = R$29.700,00 × 0,30% (corretagem) = R$89,10 de corretagem. Day trade
R$90,00 × 330 = R$29.700,00 × 0,07% (corretagem) = R$20,79 de corretagem. Observe a diferença no custo, o que possibilita que o mínimo ganho já pague o custo operacional.
Custos por contrato futuro: Boi gordo (BGI): 0,30% (normal) e 0,07% ( day trade ). Soja (SFI): 0,30% (normal) e 0,07% ( day trade ). Milho (CCM): 0,30% (normal) e 0,07% ( day trade ). Café arábica (ICF): 0,30% (normal) e 0,07% ( day trade ). Dólar (DOL): 0,20% (normal) e 0,10% ( day trade ). Minidólar (WDO): R$10,00 (normal) e R$5,00 ( day trade ). •
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26 Mercados futuros •
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Índice futuro (IND): 0,25% (normal) e 0,15% ( day trade ). Mini-índice (WIN): R$10,00 (normal) e R$6,00 % ( day trade ). Etanol (ETH): 0,30% (normal) e 0,07% ( day trade ).
Para consultar os custos operacionais, acesse: http://www.bmfbovespa.com.br/pt-br/regulacao/ custos-e-tributos/custos-operacionais/derivativos. aspx?Idioma=pt-br
Horários de negociação Os horários de negociação dos mercados futuros são divididos em duas etapas: pregão normal e pregão after . O pregão normal ocorre durante a maior parte do dia e, após o seu fechamento, acontece a abertura do pregão after , quando as negociações são computadas como se já fossem do dia seguinte, ocorrendo então algumas peculiaridades em relação a custos operacionais, margem de garantia e limites de oscilação. As operações abertas e encerradas no pregão normal do mesmo dia são consideradas day trade , em que não há chamada de margem e o custo operacional fica menor. As operações abertas no pregão normal e encerradas no pregão after do mesmo dia são consideradas posição, e ocorre chamada de margem e custo operacional normal. As operações abertas no pregão after e encerradas no pregão normal do dia seguinte são consideradas day trade , e não há chamada de margem e custo operacional reduzido, ou seja, se você deseja “dormir” posicionado, vale a pena abrir posição no after , pois, caso encerre no dia seguinte (pregão normal), terá custos menores e sem chamada de margem. Os limites de oscilação são reabertos no pregão after , caso o boi caia 3,5% durante o pregão normal. Quando ocorrer abertura do pregão after , poderá cair mais 3,5%, pois terá novos limites de oscilação. 1 Veja os horários dos prinPara nós, é bastante perturbador lembrarmos dos limites de oscilação no boi, pois, em no vembro de 2010, tínhamos uma pequena posição comprada e levamos três limites de baixa na posição. A falta de disciplina em não realizar prejuízo naquele momento serviu de lição, por isso, quando o mercado estiver estranho, pule fora. Havíamos tido bom lucro com as posições compradas no café no mês de outubro de 2010, devolvidas com a persistência em manter a posição comprada no boi. Apesar de a posição ser bem menor que a do café, a queda foi tão forte que levou embora todo o lucro de alguns anos de estudo sobre a possível alta do café. 1
Conceitos do mercado futuro 27
cipais contratos futuros da BM&F. Perceba que sofrem alterações de acordo com o horário de verão, exceto boi gordo e dólar, que sempre mantêm os horários. •
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Boi gordo (BGI): 9h às 16h (normal) e 17h às 18h ( after ). Não possui mudança de horário. Soja (SFI): 9h às 15h (normal) e 15h35 às 18h ( after ), com alteração de acordo com o horário de verão. Milho (CCM): 9h às 15h35 (normal) e 16h20 às 18h ( after ), com alteração de acordo com o horário de verão. Café arábica (ICF): 9h às 14h35 (normal) e 15h15 às 18h ( after ), com alteração de acordo com o horário de verão. Dólar (DOL): 9h às 18h (normal). Não possui after e não tem alteração de horário. Minidólar (WDO): 9h às 18h (normal). Não possui after e não tem alteração de horário. Etanol (ETH): 9h às 15h15 (normal) e 16h05 às 18h ( after ), com alteração de acordo com o horário de verão. Índice futuro (IND): 9h às 17h30 (normal). Não possui after e sofre alteração de acordo com o horário de verão. Mini-índice (WIN): 9h às 17h30 (normal). Não possui after e sofre alteração de acordo com o horário de verão.
Para consultar os horários de negociação atualizados, acesse o link ou tag: http://www.bmfbovespa.com.br/pt-br/intros/ intro-horarios-de-negociacao.aspx?idioma=pt-br
Especificação dos contratos Para facilitar o entendimento e padronização dos contratos futuros, especificaremos os principais e mais negociados na BM&F e, além disso, faremos breves comentários sobre suas negociações:
28 Mercados futuros
GRÁFICO 2.1 BVMF: contratos agronegociados Fonte: BM&FBovespa.
A BM&F está a cada dia investindo mais em contratos apenas com liquidação financeira, sem entrega física, o que, muitas vezes, acaba afastando investidores receosos de receber ou ter de entregar a commodity. Essas medidas passaram a dar muito mais volume de negócios nos mercados de milho, soja e etanol:
GRÁFICO 2.2 Financeirização dos contratos agro Fonte: BM&FBovespa.
Conceitos do mercado futuro 29
Soja
É reconhecida como uma das mais antigas plantas cultivadas no planeta. Na segunda década do século XX, os Estados Unidos iniciaram sua exploração comercial, primeiro como forrageira e, posteriormente, como grão. A soja chegou ao Brasil, via Estados Unidos, em 1882. Gustavo Dutra, então professor da Escola de Agronomia da Bahia, realizou os primeiros estudos de avaliação de cultivos introduzidos daquele país. O primeiro registro de cultivo de soja no Brasil data de 1914, no município de Santa Rosa, RS. A BM&F tem investido cada dia mais no mercado brasileiro para aumentar a atratividade e liquidez dos mercados futuros. Hoje em dia, o contrato de soja futuro possui liquidação financeira. Como o contrato de soja financeira ainda é recente, sua liquidez vem aumentando. Historicamente, todos os contratos com liquidação financeira tiveram aumento significativo no número de negócios. O mercado de soja no Brasil – segundo maior produtor, que exporta aproximadamente 80% da produção – está a cada dia se desenvolvendo mais, pois o potencial é imenso. A principal Bolsa do mundo dessa commodity é a CBOT. O contrato de soja é muito utilizado por produtores e cooperativas, na intenção de se protegerem das oscilações dos preços, e pelos demais participantes do mercado. A liquidez para especulações de curto prazo ainda não é a ideal, por isso devem-se buscar posições de prazo maior. Devido à correlação com o mercado internacional, há operações de arbitragem entre a soja BM&F e a soja CBOT. O contrato futuro de soja foi o mais recente a ser “financeirizado”, ou seja, encerraram-se os contratos com entrega física e tornaram-se apenas financeiros e atrelados ao indicador Esalq: QUADRO 2.2 Especificações do contrato da soja Código:
SIF
Cotação:
Dólares por saca de 60kg.
Unidade de Negociação:
450 unidades de 60kg (27 ton. métricas).
Meses de Vencimento:
Mar., Abr., Mai., Jun., Jul., Ago., Set. e Nov.
Data de Vencimento:
Segundo dia útil anterior ao mês de vencimento.
Corretagem Normal:
0,30%.
Corretagem Day Trade:
0,07%.
Liquidez:
1 em 1 contrato.
Cálculo de Volume:
Cotação × Dólar × 450 × Número de contratos.
Fonte: própria.
30 Mercados futuros
GRÁFICO 2.3 Financeirização da soja Paranaguá Fonte: BM&FBovespa.
Cada US$1,00 na cotação equivale a US$450,00 por contrato. •
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A margem de garantia exigida é em torno de 20% do volume total. O limite de oscilação diária é de 5% para cima ou para baixo. Praça de referência é Paranaguá, PR. Liquidação financeira pela média dos últimos três dias do indicador de preço Esalq/BVMF.
Acompanhe diariamente o Esalq: http://www.cepea.esalq.usp.br/soja
FIGURA 2.1 Significado dos códigos Fonte: própria.
Conceitos do mercado futuro 31
Todas as especificações técnicas: http://www.bmf.com.br/bmfbovespa/pages/contratos1/ Agropecuarios/pdf/Soja_Fut_Liquidacao_Financeira.pdf
Milho
Os primeiros registros do cultivo do milho datam de 7.300 anos e foram encontrados em pequenas ilhas próximas do litoral do México, no Golfo do México. Seu nome, de origem indígena caribenha, significa “sustento da vida”. Alimentação básica de várias civilizações importantes ao longo dos séculos, os Olmecas, Maias, Astecas e Incas reverenciavam o cereal na arte e na religião. O milho era plantado por índios americanos, por meio de um sistema complexo que variava a espécie plantada de acordo com o uso. Esse método foi substituído por plantações de uma única espécie. A iniciativa da BM&F em criar o contrato com liquidação financeira ajudou consideravelmente no aumento da liquidez desse mercado. Hoje em dia, possibilita operações de curto prazo, assim como facilita a entrada de participantes do mercado que desejam proteger-se das oscilações de preço. O Brasil é o terceiro maior produtor de milho do mundo, e mais de 90% são voltados para consumo interno, principalmente na alimentação de animais; apenas 15% são voltados para o consumo humano. Nas operações de spread (esse tipo de operação será detalhado no decorrer da leitura), em que se aproveitam distorções de preços entre os vencimentos dos contratos futuros e se têm oportunidades interessantes, a liquidez é boa e seguidamente surgem algumas distorções, que possibilitam a entrada. QUADRO 2.3 Especificações do contrato do milho Código: Cotação: Unidade de Negociação: Meses de Vencimento: Data de Vencimento: Corretagem Normal: Corretagem Day Trade: Liquidez: Cálculo de Volume: Fonte: própria.
CCM Reais por saca de 60kg. 450 unidades de 60kg (27 ton. métricas). Jan., Mar., Mai., Jul., Set. e Nov. Todo dia 15 do mês de Vencimento. 0,30%. 0,07%. 1 em 1 contrato. Cotação × 450 × Número de contratos.
32 Mercados futuros •
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Cada R$1,00 na cotação equivale a R$450,00 por contrato. A margem de garantia equivale a aproximadamente 15% do volume total. O limite de oscilação é de 5% para cima ou para baixo. Praça de referência no mercado físico é Campinas, SP. Liquidação financeira pela média dos últimos três dias do indicador de preço Esalq/BVMF.
Acompanhe diariamente o Esalq: http://www.cepea.esalq.usp.br/milho
FIGURA 2.2 Significado dos códigos. Fonte: própria.
GRÁFICO 2.4 Negociação do contrato de milho Fonte: BM&FBovespa.
Conceitos do mercado futuro 33
O Gráfico 2.4 deixa bem claro a evolução do contrato na conversão da liquidação física para a liquidação financeira, pois o aumento do volume de negocios é notório. Todas as especificações técnicas: http://www.bmf.com.br/bmfbovespa/pages/Contratos1/ Agropecuarios/pdf/Contrato_Milho_Com_Liquidacao_ Financeira.pdf
Café arábica
O café foi descoberto pelo pastor Kaldi, que viveu na Absínia, hoje Etiópia, há cerca de mil anos. Conta a História que Kaldi, observando suas cabras, notou que elas ficavam alegres e saltitantes, e essa energia extra se evidenciava sempre que mastigavam os frutos de coloração amarelo-avermelhada dos arbustos existentes em alguns campos de pastoreio. Ele começou a utilizar os frutos na forma de infusão, percebendo que a bebida o ajudava a resistir ao sono enquanto orava ou durante as longas horas de leitura. A descoberta se espalhou rapidamente entre os monastérios e criou demanda pela bebida. O Brasil é o maior produtor mundial de café e responsável por 30% do mercado mundial. Sendo assim, nossa Bolsa possui grande correlação com Bolsas internacionais. A principal delas é a NYBOT (ICE), de Nova York. Os Estados Unidos são o maior mercado consumidor do mundo. Cabe ressaltar que o mercado futuro de café é o segundo mais volátil do mundo, perdendo apenas para o petróleo, ou seja, é uma das commodities cujo preço mais oscila. Essa volatilidade faz dela a mais indicada para operações de curto prazo, porque geralmente o café dá oportunidades diárias de compra e venda. As cooperativas de café e seus produtores são, entre todas as comunidades ligadas a commodities, as mais evoluídas em relação ao conhecimento sobre mercado futuro, pois boa parte já participa dele e o utiliza para se proteger das oscilações de preço. Operações de spread não são muito indicadas nessa commodity, pois os contratos possuem entrega física e alguns não oferecem muita liquidez, o que significa ficar sob controle de alguns players
34 Mercados futuros
(investidores, cooperativas, torrefadoras), possivelmente vulnerável à vontade deles, prejudicando assim o resultado da operação. Para quem gosta de operações de curto prazo, o café é uma das melhores alternativas do mercado de capitais brasileiro. Alguns fatores que influenciam nas cotações na BM&F para aqueles que gostam de operar no curto prazo: •
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Cotação do petróleo em NYMEX (CME GROUP) – Bolsa de Nova York: possui boa correlação, pois o petróleo é a principal e mais negociada commodity, e acaba por influenciar as demais, algumas mais outras menos. Existe também correlação com o Índice Dow Jones. Cotação do café em NYBOT (ICE) – Bolsa de valores de Nova York: correlação muito grande, mercado brasileiro praticamente opera semelhante ao nova-iorquino; quem deseja operar no curto prazo deve possuir a cotação de NYBOT (ICE) on-line, pois o mercado que dita é o americano. Como a commodity é cotada em dólar, é importante acompanhá-lo e seu valor em reais.
QUADRO 2.4 Especificações do contrato do café arábica Código:
ICF
Cotação:
Dólares por saca de 60kg (1 saca).
Unidade de Negociação:
100 unidades de 60kg (600kg).
Meses de Vencimento:
Mar., Mai., Jul., Set. e Dez.
Data de Vencimento:
Sexto dia útil anterior ao último dia útil do mês de vencimento.
Corretagem Normal:
0,30%.
Corretagem Day Trade:
0,07%.
Liquidez:
1 em 1 contrato.
Cálculo de Volume:
Cotação × dólar × 100 × Número de contratos.
Fonte: própria.
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•
Cada U$1,00 na cotação equivale a U$100,00 por contrato. A margem de garantia é em torno de 10% do volume total. O limite de oscilação é de 9% para cima ou para baixo. Praça de referência é São Paulo, SP.
Conceitos do mercado futuro 35
FIGURA 2.3 Significado dos códigos Fonte: própria.
GRÁFICO 2.5 Negociação de contratos de café arábica Fonte: BM&FBovespa.
O contrato de café arábica na BM&F possuía grande participação de estrangeiros, que realizavam operações de arbitragem (operação semelhante ao spread , mas realizada entre diferentes bolsas) e hedge. Porém uma medida de aumento na taxa de IOF praticamente os expulsou, conforme podemos ver no Gráfico 2.6 a seguir:
36 Mercados futuros
GRÁFICO 2.6 Participação de não residentes no café Fonte: BM&FBovespa.
Todas as especificações técnicas: http://www.bmf.com.br/bmfbovespa/pages/contratos1/ agropecuarios/pdf/CafeArabicaFuturo-tipo4.pdf
Boi gordo
O mercado de boi gordo é um dos contratos mais sólidos da BM&F, cuja liquidez é boa e possibilita a entrada dos mais diversos participantes. O Brasil tem o maior rebanho comercial e é o maior exportador de carne bovina do mundo. O consumo interno é de 70% de toda a produção nacional. O mercado futuro de boi gordo é bastante utilizado por frigoríficos, que buscam proteger-se das oscilações dos preços, mas alguns utilizam o mercado até mesmo para especulação, fato comprovado pelo balanço de certas empresas que registram lucros oriundos do mercado futuro. Esse contrato futuro é bastante conhecido por ser atrativo para aqueles que desejam especular, ou seja, obter ganhos com as oscilações de preço da
Conceitos do mercado futuro 37
arroba, um dos contratos mais alavancados e com bom volume de negócios na BM&F. O contrato de boi gordo possui vencimentos mensais, quando ocorrem distorções entre os vencimentos, o que dá oportunidades de entrada em operações de spread . Devido à liquidação financeira, esse contrato é bastante seguro para montar posições maiores. Algumas informações importantes: •
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Monitore a posição dos frigoríficos no mercado, eles constam como “pessoa jurídica” não financeira. São os maiores players . Tenha cautela na alavancagem, pois se trata de mercado bastante alavancado. Monitore sempre os vencimentos mais líquidos, buscando oportunidades de spread . Mercado basicamente interno, sem correlação com alguma bolsa internacional.
Acompanhe diariamente o Esalq/BM&F: http://www.cepea.esalq.usp.br/boi QUADRO 2.5 Especificações do contrato do boi gordo Código:
BGI
Cotação:
Reais por saca de 30kg (1 Arroba).
Unidade de Negociação:
300 unidades de 30kg (9.900kg).
Meses de Vencimento:
Todos os meses do ano.
Data de Vencimento:
Último dia útil do mês de vencimento.
Corretagem Normal:
0,30%.
Corretagem Day Trade:
0,07%.
Liquidez:
1 em 1 contrato.
Cálculo de Volume:
Cotação × 300 × Número de contratos.
Horários Pregão:
9h às 16h – After 17h às 18h.
Fonte: própria.
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Cada R$1,00 na cotação equivale a R$330,00 por contrato. A margem de garantia é em torno de 8% do volume total. O limite de oscilação diária é de 3,5% para cima ou para baixo. Praça de referência é Araçatuba, SP.
38 Mercados futuros
FIGURA 2.4 Significado dos códigos Fonte: própria.
GRÁFICO 2.7 Negociação de contratos de boi gordo Fonte: BM&FBovespa.
Todas as especificações técnicas: http://www.bmf.com.br/bmfbovespa/pages/contratos1/ Agropecuarios/PDF/Boi_Gordo_Fut_Liquidacao_Financeira. pdf
Conceitos do mercado futuro 39
Etanol
Contrato lançado há pouco tempo pela BM&F, tem com objetivo auxiliar produtores de etanol e empresas que o utilizem como matéria-prima para se protegerem das oscilações de preço. O etanol vem sofrendo diversas intervenções governamentais, pois, como incentivo, é adicionado à gasolina. Porém, quando o preço do açúcar sobe, os plantadores dão preferência para ele, e produção de etanol acaba ficando escassa. Por isso, em muitos períodos do ano, sua substituição pela gasolina não compensa. A frota no Brasil se ajustou para poder usar ambos os combustíveis com incentivo do governo, que quer aumentar a produção brasileira de um combustível renovável e menos poluente. Os Estados Unidos produzem etanol utilizando como matéria-prima o milho; no Brasil, é a cana-de-açúcar. O contrato de etanol ganhou volume de negócios muito grande logo que foi convertido apenas para contrato financeiro, ou seja, sem entrega física, o que melhorou muito sua liquidez.
GRÁFICO 2.8 Financeirização do etanol hidratado Fonte: BM&FBovespa.
40 Mercados futuros
GRÁFICO 2.9 Desempenho e potencial do novo contrato Fonte: BM&FBovespa.
QUADRO 2.6 Especificações do contrato do etanol Código:
ETH
Cotação:
Reais por metro cúbico (1.000 litros).
Unidade de Negociação:
30 metros cúbicos (30.000 litros).
Meses de Vencimento:
Todos os meses do ano.
Data de Vencimento:
Último dia útil do mês de vencimento.
Corretagem Normal:
0,30%.
Corretagem Day Trade:
0,07%.
Liquidez:
1 em 1 contrato.
Cálculo de Volume:
Cotação × 30.000 × Número de contratos.
Fonte: própria.
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Cada R$1,00 na cotação equivale a R$30,00 por contrato. A margem de garantia é em torno de R$3.000,00 por contrato. O limite de oscilação diária é de 6,5% para cima ou para baixo. Praça de referência é São Paulo, SP.
Conceitos do mercado futuro 41
FIGURA 2.5 Significado dos códigos Fonte: própria.
Dólar
Contrato futuro que deriva da moeda norte-americana e tem como principal função no mercado futuro ajudar aqueles que realizam operações atreladas ao dólar, para poderem proteger-se das oscilações de preço e garantir margens operacionais seguras. Um dos mercados mais líquidos do mundo em volume de negociações diárias, superando em muitas vezes todo o volume do mercado à vista da Bovespa. Quem atua como importador ou exportador deve, com certeza, dedicar-se a entender os mecanismos de proteção desse contrato, criado como ferramenta de auxílio econômico. Para aqueles que gostam de investir na moeda norte-americana, vale a pena fazê-lo via mercado futuro, ressaltando que não há liquidação física, ou seja, você não recebe ou entrega dólares físicos. Existem dois tipos de contratos: o contrato “grande” – cujo volume mínimo é de U$250 mil – e o contrato mini – cujo volume é de U$10 mil, que pode ser utilizado por pessoas físicas que vão viajar ou que fizeram compras no exterior e desejam se proteger das oscilações da moeda. Digamos, por exemplo, que você pretende viajar e deseja garantir que o dólar não irá subir até o momento da viagem. Basta ir ao mercado futuro e comprar um minicontrato, pois, se o dólar subir, você ganhará a diferença no mercado futuro; porém, se cair, você perderá no mercado futuro, mas gastará menos na viagem devido à queda da moeda. Esse ativo possui movimentos de tendência bem definidos, uma utilização de estratégia de média móveis (estratégia mais bem exemplificada no decorrer da leitura), no gráfico diário, sem alavancagem financeira pode dar bons resultados.
42 Mercados futuros QUADRO 2.7 Especificações do contrato do dólar “grande” Código:
DOL
Cotação:
Reais por 1.000, com três casas decimais.
Unidade de Negociação:
US$50.000,00.
Meses de Vencimento:
Todos os meses do ano.
Data de Vencimento:
Primeiro dia útil do mês de vencimento.
Corretagem Normal:
0,20%.
Corretagem Day Trade:
0,10%.
Liquidez:
5 contratos.
Cálculo de Volume:
Cotação × 50.000 × Número de contratos.
Horários Pregão:
9h às 18h.
Fonte: própria.
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Cada R$1,00 na cotação equivale a R$500,00 por contrato. A margem de garantia é em torno de 30% do volume total. O limite de oscilação diária é de 6% para cima ou para baixo. O dólar de referência é o dólar PTAX.
QUADRO 2.8 Especificações do contrato do minidólar Código:
WDO
Cotação:
Reais por 1.000, com três casas decimais.
Unidade de Negociação:
US$10.000,00.
Meses de Vencimento:
Todos os meses do ano.
Data de Vencimento:
Primeiro dia útil do mês de vencimento.
Corretagem Normal:
R$10,00.
Corretagem Day Trade:
R$5,00.
Liquidez:
1 contrato.
Cálculo de Volume:
Cotação × 10.000 × Número de contratos.
Horários Pregão:
9h às 18h.
Fonte: própria.
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Cada R$1,00 na cotação equivale a R$100,00 por contrato. A margem de garantia é em torno de 30% do volume total. O limite de oscilação diária é de 6% para cima ou para baixo. O dólar de referência é o dólar PTAX. Equivale a 20% de um contrato de dólar “grande”.
Conceitos do mercado futuro 43
Todas as especificações técnicas: http://www.bmf.com.br/bmfbovespa/pages/contratos1/ Financeiros/PDF/Cambio_Futuro.pdf http://www.bmf.com.br/bmfbovespa/pages/webtrading1/ pdf/Mini-de-Dolar-Futuro-WDO.pdf
Índice futuro do Ibovespa
Contrato futuro derivativo do índice Bovespa é o índice das ações mais negociadas no mercado à vista. Bastante utilizado por investidores que buscam volatilidade e alavancagem, pois possui boa liquidez e movimentos rápidos, dando oportunidades de day trade . Geralmente, os operadores de índice futuros são os mais desgastados, pois as oscilações são rápidas e notícias internacionais afetam diretamente sua oscilação. É aconselhável operá-lo como ferramenta de proteção, pois, quando você quiser proteger sua carteira de ações, poderá entrar vendido no índice e, caso o mercado caia, estará protegido em parte. 2 A ligação direta com indicadores nacionais e internacionais torna esse ativo vulnerável a qualquer instante, o que, muitas vezes, faz suas oscilações acionarem facilmente stops (prejuízo). (prejuízo). Existem duas modalidades de contrato futuro: o índice “grande” e o míni-índice. A liquidez desse contrato futuro é muito boa, facilitando entradas e saídas com volume grande. O contrato grande e o minicontrato possuem robôs (software que executa ordens automaticamente), que ficam sempre arbitrando e ajustando as distorções entre eles. Vejamos algumas especificações:
Admitimos que não desenvolvemos uma estratégia que realmente dê ganhos nesse ativo em operações de day trade ; já efetuamos estratégias manuais, estratégias com robôs e, até então, nada que compensasse o risco. 2
44 Mercados futuros QUADRO 2.9 Especificações do contrato do índice futuro do Ibovespa Código:
I ND
Cotação:
Pontos de índice, sendo cada ponto equivalente ao valor em reais estabelecido pela BM&F.
Meses de Vencimento:
Meses pares.
Data de Vencimento:
Quarta-feira mais próxima ao dia 15 do mês de vencimento.
Corretagem Normal:
0,25%.
Corretagem Day Trade:
0,15%.
Liquidez:
5 em 5 contratos.
Fonte: própria.
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Cada 100 pontos na cotação equivalem a R$100,00 por contrato. A margem de garantia é em torno de 30% do volume total. O limite de oscilação diária é de 10%. A referência é o IBOVESPA + TX de juros do período.
QUADRO 2.10 Especificações do contrato do mini-índice Código:
WI N
Cotação:
Pontos de índice, sendo cada ponto equivalente ao valor em reais estabelecido pela BM&F.
Meses de Vencimento:
Meses pares.
Data de Vencimento:
Quarta-feira mais próxima ao dia 15 do mês de vencimento.
Corretagem Normal:
R$10,00.
Corretagem Day Trade:
R$6,00.
Liquidez:
1 em 1 contrato.
Fonte: própria.
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Cada 100 pontos na cotação equivalem a R$20,00 por contrato. A margem de garantia é em torno de R$3.000,00. O limite de oscilação diária é de 10%. A referência é o IBOVESPA + TX de juros do período. Equivale a 20% do índice “grande”.
Todas as especificações técnicas no link e tag:
Conceitos do mercado futuro 45
http://www.bmf.com.br/bmfbovespa/pages/contratos1/ Financeiros/IND_futuro.pdf
Principais Bolsas de mercados futuros do mundo Algumas commodities possuem volume maior de negociações em determinada Bolsa internacional, que é o caso do café (NYBOT – ICE), milho (CBOT), soja (CBOT) e outras. Essas Bolsas servem de referência para outras espalhadas pelo mundo, algumas das quais possuem grande correlação na variação de preços e geram oportunidades de uma operação chamada “arbitragem”, que veremos mais adiante. Nossa soja possui correlação com a soja negociada em CBOT, nosso café, com o café negociado em NYBOT (ICE), nosso índice futuro, com Dow Jones e S&P, e assim ocorre em outros contratos. Veja na Tabela 2.1 algumas das principais Bolsas de futuros do mundo. Na Tabela 2.1, fica bem clara a importância de nossa Bolsa no cenário internacional, porém há muito ainda a ser desenvolvido, tendo em vista que poucos têm acesso ao conhecimento e funcionamento dos mercados. Observe o potencial de nosso mercado de commodities no Gráfico 2.10 a seguir:
GRÁFICO 2.10 Mercado de derivativos
46 Mercados futuros
O Gráfico 2.10 mostra quais são os principais contratos futuros negociados no mundo, segundo os quais fica notório o potencial de crescimento do mercado agrícola no Brasil de pelo menos 12 vezes. TABELA 2.1 Principais Bolsas de futuros do mundo
Top Derivatives Exchanges Worldwide Ranked by Number of Futures and Options Traded and/or Cleared in 2010 Rank
Exchange
Jan-Dec 2009
Jan-Dec 2010
% Change
1
Korea Exchange
3,102,891,777
3.748,861,401
20,8%
2
CME Group (includes CBOT and Nymex)
2.589.555,745
3.080.492,118
19,0%
3
Eurex (includes ISE)
2.647.406,849
2.642.092,726
–0,2%
4
NYSE NYSE Euro Euronnext ext (incl includ udes es U.S. and and EU markets)
1.729.965,293
2.154.742,282
24,6%
5
National Stock Exchange of India
918.5307,122
1.615.788,910
75,9%
6
BM&FBovespa
920.375,712
1.422.103,993
54,5%
7
CBOE Group (includes CFE and C2)
1.135.920,178
1.123.506,008
–1,1%
8
Nasd Nasdaq aq OMX (incl includ udes es U.S. .S. and and Nord Nordic ic markets)
815.545,867
1.099.437,223
34,8%
9
Multi ulti Com Commodi modity ty Exch Exchan angge of Indi Indiaa (includes MCX-SX)
385.447,281
1.081.813,643
180,7%
10
Russian Trading Systems Stock Exchange
474.440,043
623.992,363
31,5%
11
Shanghai Futures Exchange
434.864,068
621.898,215
43,0%
12
Zhengzhou Co Commodity Ex Exchange
227.112,521
495.904,984
118,4%
13
Dalian Commodity Exchange
416.782,261
403.167,751
–3,3%
14
Inte Interc rcon onti tine nent ntal al Exch Exchan ange ge (inc (inclu lude dess U.S. and Canadian markets)
263.582,881
328.946,083
24,8%
15
Osaka Securities Exchange
166.085,409
196.350,279
18,2%
16
JSE South Africa
174.505,220
169.898,609
–2,6%
17
Taiwan Futures Exchange
135.125.695
139.792,891
3,5%
18
Tokyo Financial Exchange
83.678,044
121.210,404
44,9%
19
London Metal Exchange
111.930,828
120.258,119
7,4%
20
Hong Kong Exchanges aned Clearing
98.538,258
116.054,377
17,8%
Fonte: http://www.dce.com.cn/portal/cate?ci http://www.dce.com.cn/portal/cate?cid=1114585 d=1114585896100. 896100.
Conceitos do mercado futuro 47
Principais Bolsas
Cidade de Chicago – Estados Unidos http://www.cmegroup.com/
Cidade de Nova York – Estados Unidos http://www.theice.com
Cidade de Nova York – Estados Unidos http://www.cmegroup.com/
Cidade de Cingapura – Malásia http://www.bursamalaysia.com
Cidade de Rosário – Argentina http://www.bcr.com.ar
Cidade de Tóquio – Japão http://www.tge.or.jp
48 Mercados futuros
Cidade de Mumbai – Índia http://www.mcxindia.com/
Nordeste da China http://www.dce.com.cn
Cidade de Londres – Inglaterra http://www.balticexchange.com/
Cidade de Tóquio – Japão http://www.tocom.or.jp/
São diversas Bolsas pelo mundo, e a nossa ocupa boa posição do ranking, mas, se analisarmos que somos um dos maiores produtores de commodities do mundo, fica claro que ainda temos muito para crescer.
Como operar mercados futuros nos Estados Unidos O procedimento para abertura de conta para operações em CBOT, por exemplo, é muito simples. Primeiro, você deve encontrar uma corretora correspondente para operações em CBOT. O processo é facilitado se você tiver o contato de um brasileiro – algumas corretoras no Brasil possuem
Conceitos do mercado futuro 49
parceiros para operações internacionais e podem auxiliar bastante no processo. Para abertura, há o preenchimento de cadastro com informações básicas de residência, perfil, patrimônio, experiência de mercado. É preciso também preencher um documento para solicitar que a cobrança de impostos, no caso de lucro, seja recolhida no Brasil, além dos clássicos comprovantes de residência e identidade. A remessa de dinheiro é feita via banco correspondente, e o corretor auxilia no processo de envio do capital. Grande parte das corretoras internacionais fornece plataforma para que as operações sejam feitas pelo próprio cliente e não cobram custo adicional por isso. No entanto, é bom realizar treinamento antes de começar a operar para evitar erros que podem custar caro.
Especificações de contratos futuros internacionais Aqueles que investem, do Brasil, em commodities no exterior costumam utilizar principalmente Bolsas de futuros americanos. Quem deseja profissionalizar suas operações e obter ganhos financeiros com boa gestão de risco e retorno precisa principalmente se especializar na arbitragem entre commodities. Essa é uma modalidade muito rentável, que parece complexa, mas não é, e gera oportunidades de day trade e de posições de prazos maiores também. Vejamos como funcionam alguns dos contratos de commodities mais negociados nos Estados Unidos:
Café (Financeiro) – NYBOT (ICE) em Nova York Também com base no café arábica, com padrão de qualidade referenciado no café colombiano – considerado um dos melhores do mundo. Possui correlação de mais de 90% com o café arábica negociado na BM&F, ou seja, a oscilação é bastante semelhante entre o café BM&F e NYBOT (ICE). Há algumas diferenciações no tamanho do contrato: o americano é em libra peso, e 1 libra equivale a 453 gramas; um contrato de café em NYBOT (ICE) equivale a quase três (2,83) contratos de café na BM&F, por isso é sempre realizada a conversão na proporção nas operações de arbitragem.
50 Mercados futuros QUADRO 2.11 Especificações do contrato de café Código:
KT na NYBOT (Varia de acordo com a plataforma)
Cotação:
Dólar por Libra Peso.
Unidade de Negociação:
37.500 Libras Peso (16.988kg).
Meses de Vencimento:
Mar., Mai., Jul., Set. e Dez.
Data de Vencimento:
Sexto dia útil anterior ao último dia útil do mês de vencimento.
Liquidez:
1 em 1 contrato.
Cálculo de Volume:
Cotação U$ × 37.500 × Número de contratos.
Fonte: própria.
FIGURA 2.6 Códigos de vencimento Fonte: própria.
Para consultar as especificações do contrato, acesse o site da CME Group: http://www.cmegroup.com/trading/agricultural/softs/ coffee_contract_specifications.html
Conceitos do mercado futuro 51
Milho – CBOT (CME GROUP) em Chicago
Sem dúvidas, é um dos contratos de commodities mais negociados do mundo. As grandes empresas o utilizam para se protegerem das oscilações de preços. O mercado americano utiliza o milho para fabricação de biocombustível, porém o processo é mais caro que o biocombustível à base de cana-de-açúcar e somente se mantém graças ao incentivo que o governo americano dá aos produtores. Como grande parte da produção de milho no Brasil é utilizada no mercado interno, sobretudo na alimentação de animais, o que faz a correlação com o contrato de CBOT não ser tão grande, obviamente, exerce certa influência devido à globalização das commodities. A medida utilizada para o contrato de milho em CBOT é por meio de Bushel, que equivale a pouco menos da metade de uma saca do contrato brasileiro, de 60kg, e 1 bushel são 25,4kg. Um contrato de milho CBOT equivale a 127 toneladas, ou 4,7 contratos de milho BM&F (27 toneladas). Existe a modalidade de minicontratos, e um miniCBOT é quase um contrato BM&F. Esses comparativos reforçam o potencial do mercado brasileiro, no qual os contratos, além de serem bem menores, também são negociados em menos quantidade, lembrando que somos um dos maiores países produtores de milho do mundo. Tendo em vista que os contratos futuros são ferramentas utilizadas a fim de atender as necessidades dos produtores e indústrias de determinado país, cabe ressaltar que os períodos de safra e entressafra dos Estados Unidos e Brasil são distintos e ocorrem diferenças em certos meses de vencimentos futuros. Há certas diferenças nos vencimentos de contrato em janeiro, novembro e dezembro. QUADRO 2.12 Especificações do contrato de milho Código:
C
Cotação:
Centavos de dólar por Bushel.
Unidade de Negociação:
5.000 Bushel (127 ton. métricas).
Meses de Vencimento:
Mar., Mai., Jul., Set. e Dez.
Data de Vencimento:
Próximo dia 15 do mês de vencimento.
Liquidez:
1 em 1 contrato.
Cálculo de Volume:
Cotação U$ × 5.000 × Número de contratos.
Fonte: própria.
52 Mercados futuros
FIGURA 2.7 Códigos de vencimento Fonte: própria.
Para consultar as especificações do contrato, acesse o site da CME Group ou a tag:
http://www.cmegroup.com/trading/agricultural/grain-andoilseed/corn_contract_specifications.html
Soja – CBOT em Chicago
Contrato futuro de soja tem excelente liquidez e é um dos mais negociados do mundo. As maiores empresas e produtores do setor no mundo negociam em CBOT, pois quando se faz necessário operar volumes maiores, não há escapatória: deve-se recorrer à CBOT, já que o contrato futuro de soja na BM&F ainda está se desenvolvendo e, aos poucos, ganhando mais negócios. A soja na BM&F, agora, não possui mais liquidação física, apenas financeira. Isso geralmente melhora o volume de negócios, e logo teremos um mercado mais forte, apesar de a CBOT ser a principal Bolsa para se negociar soja.
Conceitos do mercado futuro 53 QUADRO 2.13 Especificações do contrato de soja Código:
S
Cotação:
Centavos de dólar por Bushel.
Unidade de Negociação:
5.000 Bushel (136 ton. métricas).
Meses de Vencimento:
Jan., Mar., Mai., Jul., Ago., Set. e Nov.
Data de Vencimento:
Próximo dia 15 do mês de vencimento.
Liquidez:
1 em 1 contrato.
Cálculo de Volume:
Cotação U$ × 5.000 × Número de contratos.
Fonte: própria.
FIGURA 2.8 Códigos de vencimento Fonte: própria.
As especificações do contrato estão disponíveis no site ou pela tag: http://www.cmegroup.com/trading/agricultural/grain-andoilseed/soybean_contract_specifications.html
Petróleo – NYMEX (CME GROUP) Nova York
Produto com entrega física. Trata-se do contrato futuro mais negociado do mundo, com liquidez enorme. Serve como balizador de preços pelo mundo todo, já que tudo que deriva da commodity possui cotação atrelada ao preço no mercado futuro. A entrega física pode ser feita na cidade de Cushing,
54 Mercados futuros
Oklahoma, nos Estados Unidos, onde cada contrato equivale a 1.000 barris de petróleo, e cada barril são aproximadamente 159 litros. É o ativo mais volátil do mundo, ou seja, cujos preços mais oscilam rapidamente. Por isso muitos investidores internacionais gostam de operar esse ativo. Alavancagem, boa liquidez e volatilidade são todos os atrativos de que o investidor precisa para operar. QUADRO 2.14 Especificações do contrato de petróleo Código:
CL
Cotação:
Dólar por Barril.
Unidade de Negociação:
1.000 Barris.
Meses de Vencimento:
Todos os meses do ano.
Data de Vencimento:
Próximo dia 15 do mês de vencimento.
Liquidez:
1 em 1 contrato.
Cálculo de Volume:
Cotação U$ × 5.000 × Número de contratos.
Fonte: própria.
FIGURA 2.9 Códigos de vencimento Fonte: própria.
Para especificações técnicas acesse o link ou a tag: http://www.cmegroup.com/trading/energy/crude-oil/ light-sweet-crude_learn_more.html
CAPÍTULO 3
Conceitos das operações
Página deixada intencionalmente em branco
xistem muitas outras maneiras de se operar no mercado futuro além de apenas comprar e esperar subir. Porém, antes de qualquer coisa, é necessário saber qual seu objetivo no mercado. Se você é produtor, deve buscar conhecimento sobre como se proteger das oscilações de preços e quais ferramentas utilizar para isso. Se você é investidor e quer obter ganhos, deve buscar aprender sobre as melhores ferramentas para auxílio na tomada de decisões de compra, venda, spread etc. O mercado possui os mais variados players , e cada um possui seus objetivos. Você precisa estar consciente de qual é o seu e aperfeiçoar-se.
E
Operar comprado Estar comprado não é apenas ter comprado um ativo; é estar otimista em relação àquele ativo, ao mercado ou até mesmo à economia como um todo. Estar comprado significa acreditar na alta dos preços e, por isso, atuar na ponta compradora. Também é comum utilizar a palavra “altista” quando se acredita na alta dos preços ou o termo em inglês “bullish”. O mercado de capitais possui dois personagens que representam as forças compradoras e vendedoras: a primeira é o touro ( bull ), que faz um movimento com a cabeça para cima, simbolizando a alta dos preços.
58 Mercados futuros
FIGURA 3.1 Touro de Wall Street, em Nova York Fonte: octavioqueiroz.com.br.
O touro de Wall Street, em Nova York, é um dos símbolos mais marcantes. A escultura feita em bronze pesa 3,2 toneladas e foi esculpida e doada pelo talentoso artista italiano naturalizado americano Arturo Di Modica, que bancou com seu próprio dinheiro a construção, na época em torno de US$400 mil. O artista doou a escultura, pois dizia simbolizar a enorme vitalidade econômica de Nova York. Diversos turistas visitam a escultura e passam a mão em suas partes, pois há crença de que dê sorte. Vejamos, a seguir, o exemplo de uma operação de compra: Dias 15/6: comprou 1 BGIV12 (contrato boi gordo) a R$90,00. Dia 17/6: vendeu 1 BGIV12 (contrato boi gordo) a R$91,00. Resultado: R$1,00 × 330 (arrobas) = R$330,00 (sem custos operacionais e impostos)
Operar vendido Para muitos, essa possibilidade é bastante desconhecida, mas no Brasil passou a popularizar-se na crise de 2008, quando muitos investidores buscaram ferramentas para amenizar os prejuízos ocasionados com as quedas bruscas.
Conceitos das operações 59
Como posso vender algo que não possuo? Como posso ganhar dinheiro com isso? É muito simples. Caso sua análise identifique que o mercado tenha potencial de alta dos preços, você compra determinado ativo para vender mais caro no futuro, e assim obter lucro. Agora, se sua análise identifica que possa ocorrer queda nos preços, também é possível obter ganhos dessa forma. Basta vender o ativo tendo como objetivo futuramente recomprá-lo mais barato e lucrar com essa diferença. O processo é o mesmo da compra, apenas a ordem dos fatores é invertida. No mercado de ações, caso você opere vendido, existe o BTC (Banco de Títulos e Custódia), em que os investidores que estão comprados em ativos disponibilizam suas ações para aluguel e, em troca, recebem uma taxa pelo período que foram utilizadas. Se você deseja operar vendido, basta alugar essas ações, vendê-las e, quando for encerrar a operação, recomprá-las e devolvê-las para quem as alugou a você. Mas não se assuste, pois todo esse processo é eletrônico e automatizado. Cabe ressaltar que, se você entrar vendido e zerar a operação no mesmo dia, não é necessário o aluguel da ação, apenas haverá o ajuste financeiro em sua conta. Quando você efetuar a venda, receberá um crédito em conta, que, muitas vezes, ajuda a fazer caixa. Porém, as corretoras, como medida de segurança, deixam retido um percentual como garantia da operação. No mercado futuro, o processo de entrar vendido é bem mais simples, pois não são necessários BTC e aluguel de ações. Basta vender. A diferença é que não entrará crédito na sua conta como nas ações, mas haverá a chamada de margem, assim como ocorre com quem compra no mercado futuro. O símbolo dos vendidos é o urso (bear ), que faz um movimento com a pata para baixo, simbolizando a força vendedora. Seu símbolo localiza-se na Bolsa de Frankfurt, na Alemanha. Veja o exemplo de uma operação na venda no mercado de boi gordo. Seu funcionamento é bastante simples, apenas os fatores são invertidos, ou seja, você vende com o intuito de recomprar mais barato: Operação de compra: Dia 8/8: vendeu 1 BGIV12 (contrato boi gordo) a R$95,00. Dia 11/8: comprou 1 BGIV12 (contrato boi gordo) a R$92,00. Resultado: R$3,00 × 330 (arrobas) = R$990,00 (sem custos operacionais e impostos).
60 Mercados futuros
FIGURA 3.2 Urso na Bolsa de Valores da Alemanha Fonte: mycitymate.com.
Spread Considerada uma das melhores oportunidades do mercado futuro, essa operação busca identificar distorções entre os vencimentos de determinados ativos e assim ganhar com a correção. O boi, no mercado futuro, possui vencimentos mensais, ou seja, boi janeiro, boi fevereiro e assim por diante. Algumas vezes, determinado vencimento sofre brusca oscilação e distorce em relação aos demais vencimentos. Essa é a oportunidade para se entrar na operação. Por exemplo: um grande frigorífico decide encerrar suas posições compradas no vencimento outubro, mas, como o volume é grande, a operação acaba derrubando os preços e assustando os investidores desse vencimento. Enquanto a grande maioria se assusta, você deve vislumbrar a oportunidade, comprando esse e vendendo o vencimento novembro, acreditando que logo o mercado ajustará a diferença normal entre os dois. Mas, para essa tomada de decisão, é importante fazer minuciosa análise antes da operação. Você deve analisar o gráfico da diferença desses dois ativos. Para essa comparação, é interessante utilizar o gráfico de linhas. Nem todos possuem acesso a ele, mas nada impede de conseguirmos as mesmas informações no bom e velho Excel. Observe, no gráfico a seguir, que temos o gráfico de linhas comparando os dois ativos, o gráfico da diferença entre os dois ativos, o resumo do spread (informações importantes) e a curva das ocorrências. O gráfico das ocorrências nos mostra quantas vezes a diferença atual aconteceu, pois, quanto menos vezes tenha ocorrido mais interessante está a operação. A Bolsa
Conceitos das operações 61
GRÁFICO 3.1
também fornece relatórios em Excel, em que são colocados os comparativos entre os vencimentos. Caso você não possua uma plataforma que disponibilize todas as informações prontas, basta seguir os seguintes passos. 1O PASSO: para buscar dados históricos entre os dois ativos, o ideal é pegar a
série desde quando ambos passaram a ter bom volume de negócios. Isso é particular de cada um, pode ser dois meses, cinco meses. Em seguida, organizar as informações em colunas no Excel e criar uma coluna da diferença entre eles. TABELA 3.1 Série histórica BGIX e BGIV DIA
BGIV
BGIX
DIFERENÇA
1
80,00
82,00
2,00
2
80,50
82,50
2,00
3
80,50
83,00
2,50
4
80,50
82,50
2,00
5
79,00
81,00
2,00
6
79,00
80,50
1,50
BGIV seria o contrato futuro de boi gordo vencimento outubro. BGIX seria o contrato futuro de boi gordo vencimento novembro.
62 Mercados futuros
2O PASSO: calcular a média da coluna da diferença. Há um ditado no mercado
que diz que tudo sempre retorna à média. A lógica do spread nada mais é do que isso: aproveitar uma distorção e realizar o lucro quando ela voltar à normalidade, ou seja, à média. Neste exemplo, a média é R$2,00.
FIGURA 3.3 Janela função média Excel
3O PASSO: calcular o desvio padrão. Esse nome assusta alguns, mas se trata
de um dos maiores amigos do investidor e é bastante simples de se calcular no Excel: basta clicar em inserir função DESVPAD. Para calcular, você deve selecionar a coluna da diferença, e será gerado o desvio padrão dessa diferença. No exemplo, o desvio padrão é R$0,32.
Conceitos das operações 63
FIGURA 3.4 Janela desvio padrão Excel
4O PASSO: agora que já se sabe a diferença média e o seu respectivo desvio pa-
drão, deve-se verificar se o mercado desviou mais que o padrão, fazendo um cálculo muito simples: Média + (mais) desvio padrão = oportunidade de venda de spread . Média – (menos) desvio padrão = oportunidade de compra de spread . Vejamos o exemplo: Média (2,00) + desvio padrão (0,32) = 2,32. Quando a diferença entre o vencimento X e V for maior que 2,32, é uma excelente oportunidade de entrada, vendendo BGIX e comprando BGIV, zerando quando voltarem para a média 2,00 e alcançando potencial de lucro na operação de 0,32. Média (2,00) – desvio padrão (0,32) = 1,68. Quando a diferença entre o vencimento X e V for menor que 1,68, é uma excelente oportunidade de entrada, vendendo BGIV e comprando BGIX11, zerando quando voltarem para a média 2,00. Potencial de lucro da operação.
64 Mercados futuros
Considerações importantes
Depois de muitas operações, obtemos alguns ensinamentos. O complicado é que alguns deles custaram dinheiro e, como diz o ditado, “aprender com o erro dos outros é mais barato”. Portanto: •
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Sempre avalie bem a liquidez (negócios) dos vencimentos em que você entrará, principalmente se for com volume alto. Faça uma comparação sobre como esse spread se comportou no mesmo período nos anos anteriores, pois há períodos em que é normal ocorrer distorções. Evite operar vendido em vencimentos de entressafra e comprado em vencimentos de safra. Caso faça isso, opere o mais curto possível. Na safra, ocorre a entrada da mercadoria no mercado, o que tende a aumentar a oferta e derrubar os preços. Porém, na entressafra, ocorre a falta da mercadoria, o que tende a aumentar os preços. Defina seu prejuízo na operação e, caso acione o seu stop (prejuízo) no fechamento do dia, não persista, acione-o, pois um spread quando desanda pode não voltar mais. A disciplina em saber sempre assumir um prejuízo é um dos fatores que aumentam consideravelmente o sucesso de um investidor. Evite manter a operação até muito próximo do vencimento em contratos que possuem entrega física, como é o caso do café, pois geralmente, nesses períodos, o mercado faz movimentos difíceis de prever. Se a operação não andar como você esperava, evite a tentação de zerar uma das pontas e continuar somente comprado ou vendido. Não se alavanque muito. Se você possui ativos de longo prazo em sua carteira, utilize-os como garantia e remunere sua carteira com operações de spread , mas tome cuidado na alavancagem. Evite trabalhar as pontas separadamente. Quando entrar ou sair da operação, execute as duas pontas de forma simultânea. Dê preferência para essa operação para os contratos com liquidação financeira e não física, pois, quando há liquidação física, pode haver algum tipo de manipulação por parte de quem possui a mercadoria.
Conceitos das operações 65
O que é Hedge? São operações com a finalidade de proteção. Hedge vem do inglês e significa “cerca”, ou seja, proteção. É uma posição oposta à do mercado físico, isto é, um produtor de milho precisa se proteger da queda nos preços, portanto assume posição vendida no mercado futuro como se estivesse já vendendo sua safra antecipadamente. Vejamos um exemplo: Em meados de setembro, o produtor verifica que o milho maio (K) está sendo negociado a R$30,00 a saca na BM&F. Sabendo que seu custo de produção é de R$20,00 a saca, o produtor resolve garantir a margem de R$10,00 a saca de lucro antecipadamente, pois, até lá, ele não sabe como o mercado irá se comportar. Vamos imaginar um cenário de alta e um de baixa: CENÁRIO 1 – ALTA: em maio, o milho está R$40,00. O produtor tem débito de
R$10,00 a saca na BM&F, mas ganha R$10,00 no mercado físico. Preço Hedge na BM&F: R$30,00. Preço em maio: R$40,00. Produtor paga ajuste de R$10,00 a saca, porém vende seu milho no mercado físico por R$40,00, ou seja, garantiu os R$30,00 a saca. Resumidamente, o que ele perdeu na BM&F foi compensado no mercado físico devido à valorização da saca, ou seja, operação de proteção em que o produtor consegue prever seu ganho ao montar a operação. CENÁRIO 2 – BAIXA: em maio, o milho está R$20,00. O produtor recebe crédito
de R$10,00 a saca na BM&F, mas perde R$10,00 no mercado físico. Preço Hedge na BM&F: R$30,00. Preço em maio: R$20,00. Produtor recebe ajuste de R$10,00 a saca, porém vende seu milho no mercado físico por R$20,00, ou seja, garantiu os R$30,00 da saca. Resumidamente, o ganho obtido na BM&F compensa a perda com a desvalorização da saca no mercado físico, ou seja, operação de proteção.
66 Mercados futuros
O objetivo do hedge não é obter lucro, mas sim travar o preço. Aquele hedger que deseja garantir um preço mínimo ou máximo e, mesmo assim, ganhar com alta ou queda e não ter ajuste diário e depósito de margem de garantia deve realizar o hedge com call ou put . Essa é a melhor modalidade para se fazer hedge, pois protege os investidores de um cenário adverso, tem prejuízo limitado, que é o custo da opção, e, caso o mercado vá a favor, poderá obter lucros. No próximo capítulo, descreveremos como funciona essa operação com opções. Hedge de compra
Realizado por aqueles que se comprometeram a entregar uma mercadoria em data futura e estão preocupados que o preço no mercado físico possa subir nesse ínterim. Em geral, é utilizado pela parte da cadeia produtiva que usa as commodities como matéria-prima para produção ou até mesmo para consumo. A indústria que fábrica óleo de soja necessita da soja como matériaprima, sendo esse um de seus maiores custos. Por isso, ela precisa ter alguma ferramenta com a qual se proteger da alta no preço da matéria-prima, assim como o frigorífico tem o boi gordo como matéria-prima e também necessita de ferramenta para se proteger contra essa alteração. Essas empresas buscam a ferramenta de hedge no mercado futuro, pois assim conseguem proteger suas margens de lucro. Hedge de venda
Realizado por aqueles que produzem, armazenam, processam ou distribuem uma commodity e seriam profundamente afetados se os preços no mercado físico declinassem. É a parte da cadeia produtiva que possui a produção e, caso o preço caia, poderá ter sua margem de lucro comprometida. O produtor de milho possui custos ao realizar o plantio, porém, até a colheita, demora alguns meses, e as mais diversas variáveis podem resultar na queda do preço do milho, fazendo o preço na colheita comprometer sua margem
Conceitos das operações 67
e ter de vendê-la no prejuízo. Por isso, o mercado futuro é uma alternativa na época do plantio, uma vez que se conseguem estipular o preço de venda e garantir a margem de lucro.
Participantes do mercado futuro: quem eu sou? Cada pessoa que deseja atuar no mercado futuro possui interesse em in vestir, especular, proteger-se e operar no curto prazo, no médio prazo ou no longo prazo. Basicamente, existem dois perfis principais: o hedger e o especulador. O hedger é aquele que faz uma proteção financeira para minimizar um investimento de risco durante determinado período. O “hedge” perfeito é aquele que elimina a possibilidade de ganhos ou perdas futuras, definindo-se a margem de lucro antecipadamente. São participantes envolvidos na cadeia produtiva que necessitam do mercado futuro apenas como ferramenta de proteção. O especulador é aquele que compra ou vende determinado ativo com o único objetivo de obter lucro, aceitando o risco que o hedger evita. Justamente por isso, ele é o agente que dá liquidez aos mercados e os torna mais eficientes devido à sua atuação nos preços. A atuação dos especuladores é essencial para que o mercado tenha liquidez e se torne eficiente para todos os participantes. Acredita-se que os especuladores começaram a atuar mais significativamente na época da Guerra Civil Americana, em 1860. A padronização dos contratos futuros e a criação dos sistemas eletrônicos fizeram o volume aumentar consideravelmente. Existem diferentes tipos de especuladores. Conheça alguns deles: TRADER DE POSIÇÃO: opera com base nos estudos de fundamentos econômicos,
de safras e entressafras, e faz análises de médio ou longo prazos. Geralmente, compra e fica posicionado. DAY TRADER: opera no curto prazo, abrindo e fechando posições no mesmo
dia, ou abrindo posição no after e fechando no dia seguinte, o que diminui o
68 Mercados futuros
custo operacional, e é considerado day trade . Geralmente, suas operações são baseadas em análises gráficas. SCALPER: curtíssimo prazo, fundamentalista e grafista. Possui baixíssimo custo
operacional, pois é membro da Bolsa. Então, a menor variação que seja já lhe rende lucro. Busca ganhar pouco com volumes maiores e efetua grande número de pequenas operações. SPREADER OU ARBITRADOR: opera a relação entre preços, bom conhecedor dos
fundamentos e da estatística do mercado junto com análise técnica. Opera diferenças entre vencimentos do mesmo contrato, entre commodities e entre Bolsas de diferentes países. 1 Observe, a seguir, o Gráfico 3.2 dos participantes em cada commodity:
GRÁFICO 3.2 Contratos em aberto por participante Fonte: BM&FBovespa.
Escova (Marcos Bastos) é essencialmente scalper , opera com objetivos curtos, utilizando análise gráfica e comportamento de book; dificilmente fica posicionado mais de um dia. Leandro Paz, é trader de posição, spreader /arbitrador, busca, por meio de estudos de fundamentos, estatísticas e gráficos, montar posição de médio prazo no mercado futuro. 1
Conceitos das operações 69
Risco de base Todo o contrato futuro agrícola na BM&F possui uma praça de referência de preços, segundo a qual a grande maioria dos contratos no seu vencimento se iguala ao preço do mercado físico da commodity agrícola. Atualmente, o instituto responsável pelo levantamento dos preços das praças de referência da BM&F é a Esalq (Escola Superior de Agricultura Luis de Queiroz). Em geral, no preço dos contratos futuros com liquidação financeira, são utilizadas as médias de preços dos últimos cinco ou três dias do mercado físico, ou seja, físico e futuro se igualam no vencimento. O Brasil possui grande território, logo não se pode concentrar toda a produção em apenas uma praça, e é aí que entra o risco de base, pois a soja, no Mato Grosso, possui preço diferente da soja em Paranaguá, e essa diferença costuma oscilar no decorrer do ano. Em determinadas épocas, pode chegar a US$3,00 ou US$4,00. Assim define-se o risco de base. Essencialmente, é a diferença da praça onde se localiza o produtor para a praça de referência da BM&F. O justo seria essa diferença ser o custo do frete de deslocamento até a praça de referência, mas como o mercado brasileiro ainda tem de se aperfeiçoar muito, essa diferença oscila no decorrer do ano, dando até mesmo a oportunidade de se arbitrar no mercado físico. Como um produtor deve pensar? Deve verificar o preço futuro na BM&F, fazer o levantamento médio da diferença entre sua região e a praça referência e, com base nisso, calcular seu preço de hedge, veja o exemplo a seguir: O produtor verifica que a Soja Maio na BM&F está sendo negociada a US$30,00. Realiza, então, um levantamento da diferença histórica entre sua região e Paranaguá (praça referência BM&F) e verifica que sua praça costuma estar em média US$3,00 abaixo de Paranaguá, ou seja, na verdade, se ele travar no mercado futuro a US$30,00, estará travando sua soja a US$27,00, pois sua praça costuma estar US$3,00 abaixo de Paranaguá. Se, em maio, essa diferença estiver US$5,00 ou US$1,00, essa oscilação é o risco de base, seria o risco do produtor que realiza o hedge. Essas distorções geram oportunidades de negócios também no mercado físico. Outro breve exemplo: se você encontra um comprador em uma região que paga US$33,00 a saca e, em outra região, tem alguém vendendo a US$29,00 a saca, e o custo do frete de uma praça a outra é de US$1,50 a saca, seu custo para entrega será de US$30,50 e terá lucro de US$2,50 a saca.
70 Mercados futuros
A concepção básica por trás do hedge é: hedgear é trocar o risco de mercado (direcional) pelo risco de base (diferença entre os preços no mercado físico e futuro). Explicando melhor, o produtor define sua margem de lucro, porém a diferença do preço da sua praça para a praça de referência passa a ser seu risco no hedge. Praças de referência
Café arábica: São Paulo, SP. Milho: Campinas, SP. Boi gordo: Araçatuba, SP. Soja: Paranaguá, PR. Etanol: São Paulo, SP.
Esalq A Esalq é a instituição credenciada pela BM&F para realizar o levantamento dos preços de negociação no mercado físico em cada praça de referência para a commodity correspondente. Por exemplo, no mercado de boi gordo, são feitas ligações diárias para os frigoríficos da região de Araçatuba, São Paulo, e realizada a média dos preços de negócios e volume das negociações. O Indicador Esalq é utilizado como referência para os contratos futuros que possuem liquidação financeira, pois, no seu vencimento, o preço de ajuste para os compradores e vendedores será a média dos últimos dias do Esalq. Para aqueles que operam, é importante acompanhá-lo, pois ele impacta principalmente nos vencimentos mais curtos e, caso você tenha um volume muito grande de contratos e não deseje zerar no mercado, poderá carregar a posição até o vencimento. É possível realizar o acompanhamento de preços no site http://www. esalq.usp.br, em que é divulgado diariamente o preço nas praças de referências das seguintes commodities: boi gordo, café arábica, arroz, etanol, açúcar, algodão, bezerro, citros, frango, leite, milho, soja, trigo, suíno e outros. Para aqueles que operam no mercado futuro, é importante acompanhar principalmente o Esalq do boi gordo, milho, etanol e soja, pois são os mais influenciados pela oscilação do indicador. Para os estudiosos e os que gostam de realizar estudos sobre a sazonalidade e variação dos preços é possível baixar, no site da instituição, dados históricos desde a criação dos indicadores.
Conceitos das operações 71
Arbitragem Operação bastante utilizada no mercado do café e da soja, que visa arbitrar as diferenças entre os contratos futuros da BM&F com as Bolsas de fora. Para realizar uma operação de arbitragem, primeiro é necessário igualar o tamanho dos contratos, pois os contratos futuros em CBOT e NYBOT são maiores que os da BM&F. Em seguida, deve-se fazer um cálculo bastante semelhante ao do spread , no qual se identifica a diferença média entre os contratos, seu desvio padrão. O cálculo de spread e arbitragem é praticamente o mesmo, é preciso apenas equilibrar o volume. Por exemplo: um contrato de café NY equivale a quase três de café arábica de BM&F. Para essa operação, é necessário ter uma conta na BM&F e uma na Bolsa de fora. Veja o comparativo do Gráfico 3.3 do Café Brasil com o Café de Nova York. A correlação entre ambos é alta, porém ocorrem períodos de distorção que possibilitam as operações de arbitragem. Essa operação gera excelentes oportunidades tanto para posição de curto prazo quanto de médio prazo. No caso do café na BM&F, grande parte de seu volume é feito por corretoras que realizam arbitragem. Observe como a diferença entre os ativos oscila, gerando oportunidades de arbitragem. Em alguns períodos, as duas linhas se igualam e, em outros, se afastam consideravelmente. Esses movimentos dão chance de arbitragens.
GRÁFICO 3.3 Comparativo do Café Brasil com o Café de Nova York Fonte: Bloomberg.
72 Mercados futuros
Para exemplificar, basta acompanhar o livro de ofertas do café arábica na BM&F. Lá, todos os dias, é possível notar robôs (software) que ficam realizando arbitragens, aproveitando pequenas distorções. A menor arbitragem é realizada com três contratos de café na BM&F para um de café na NYBOT.
CAP ÍTU LO 4
O que são opções?
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pção é um instrumento derivativo. 1 Uma opção de contrato futuro de dólar está ligada diretamente ao ativo de referência dólar futuro. Opção nada mais é que o direito que se adquire ou se vende pagando ou recebendo determinado valor para isso. Esse é um dos mercados mais matemáticos que existe e de possibilidades infinitas, pois, quanto mais se aprofunda no mercado de opções, mais se descobrem novidades. Na BM&F, esse mercado é ainda bastante limitado, pois muitos ativos ainda não possuem boa liquidez nas opções, o que faz com que muitas vezes se tenha de recorrer a market makers .2 Existem dois tipos principais de opções, as de compra ( calls ) e as de venda ( puts ), como já vimos no Capítulo 1. Pode-se operar comprado ou vendido em ambas. É possível comprar ou vender opções de compra e comprar ou vender opções de venda. A compra de opções é muito interessante para operações de hedge, uma vez que seu prejuízo é limitado, gera proteção e, caso o mercado vá a favor, o ganho pode ser grande. Se formos nos aprofundar nesse universo, dá para fazer facilmente um livro de 500 páginas; porém iremos focar aqui os conceitos básicos, pois tendo noção do funcionamento primordial, vai de cada um
O
Nos instrumentos derivativos, as características de negociação estão ligadas a um ativo subjacente de referência, e por isso é denominada derivativo, pois é oriunda dele. 2 Formadores de mercados: Agentes que trabalham para a Bolsa, instituição ou empresa fornecendo liquidez a um ativo. 1
76 Mercados futuros
fazer suas combinações com possibilidades infinitas. A opção representa um pequeno percentual do ativo de referência, que dá o direito ou obrigação de compra ou de venda de um ativo. Existem dois tipos de opção, a americana e a europeia. As diferenças são muito simples, pois a americana pode ser exercida (executar o direito de compra ou venda) a qualquer momento pelo seu comprador, e a europeia, somente no vencimento. 3 No Brasil, utilizamos com mais frequência as opções americanas, que podem ser exercidas a qualquer momento pelo seu comprador. Veja o volume de negócios com opções no mercado de commodities na BM&F no Gráfico 4.1 a seguir, no qual é possível observar notória evolução:
GRÁFICO 4.1 Contratos de agronegociados Fonte: BM&FBovespa.
Observe, no Gráfico 4.2, a seguir, que, como as opções são utilizadas para as operações de hedge, o volume de contratos futuros em aberto e de opções são bastante aproximados:
Exercer uma opção nada mais é que o comprador (também chamado titular) fazer valer seu direito de comprar (nas opções de compra) ou vender (nas opções de venda) o ativo subjacente ao preço estabelecido no contrato (preço de exercício). Isso faz o vendedor (ou lançador) ter de cumprir sua obrigação. 3
O que são opções? 77
GRÁFICO 4.2 Contratos agropecuários em aberto Fonte: BM&FBovespa.
Valor intrínseco e extrínseco O preço de opção é composto de dois fatores principais, através dos quais se mensura o que a opção realmente vale, tendo em vista o ativo de referência e o quanto a incerteza das variáveis do mercado agrega de valor a ela. Valor intrínseco nada mais é que a diferença entre o preço do ativo principal e o da opção. Vejamos um exemplo: considerando o mercado de boi gordo a R$92,00, a opção de compra strike R$90,00 tem R$2,00 de valor real, pois, caso você a exerça a R$90,00, vende imediatamente a R$92,00, recebendo R$2,00 de diferença, sendo, portanto, esse seu valor intrínseco ou verdadeiro. Sabemos que, no mercado, existem as mais variadas incertezas sobre o futuro dos preços, o que faz as opções terem o chamado valor extrínseco, que nada mais é que o valor pago pelo tempo para o vencimento da opção, acrescido das variáveis, como volatilidade, taxa de juros, inflação do período, entre outros. Para exemplificar, imaginemos que o mercado de boi gordo esteja em R$92,00, e a opção de compra strike R$90,00 esteja valendo R$2,80, ou seja, R$2,00 de valor intrínseco e R$0,80 de valor extrínseco, no qual fica embutida a taxa cobrada pelo mercado, tendo em vista o cenário e suas incertezas.
78 Mercados futuros
Opção de compra – call Dá o direito a seu comprador de adquirir determinado ativo ao preço estipulado na abertura da posição (também chamado preço de exercício ou strike ) até determinada data, independentemente do preço que estiver o ati vo. Paga-se um pequeno percentual do ativo para se ter o direito de compra a qualquer momento a um preço estipulado, porém com data de vencimento. Vejamos exemplo de como o hedger e o investidor podem utilizar uma opção de compra. Direito
Obrigação
Comprador
Vendedor
HEDGER: Para o frigorífico que deseja se proteger da alta dos preços do boi,
pode ser interessante realizar a operação de compra de call , pois assim garantirá um preço máximo para a compra dos insumos para a data em que precisará realizar compra de animais. O frigorífico possui como matéria-prima o boi gordo, e a alta desta pode comprometer suas margens, por isso é necessário utilizar mecanismos de proteção para eventual alta.
FIGURA 4.1 Fonte: portalrondonia.com.br.
O que são opções? 79
INVESTIDOR: Para aquele que acredita na alta dos preços e deseja limitar seu ris-
co, a compra da opção pode ser uma alternativa bastante interessante. Prejuízo limitado e ganho ilimitado.
FIGURA 4.2 Fonte: BM&F Bovespa.
EXEMPLO:
Um investidor comprou uma call de boi, garantindo o direito de compra a R$80,00 até outubro, porém, para aquisição desse direito, pagou R$2,00 por opção, e cada contrato de boi gordo são 330 opções, o que dá um custo final de R$660,00. CENÁRIO 1 – ALTA: final de outubro, o boi está R$90,00, o investidor ganhou
em cada contrato R$10,00 menos R$2,00 de custo. R$10,00 – R$ 2,00 = R$8,00 a arroba × 330 (1 contrato) = R$ 2.640,00 (ganho financeiro) CENÁRIO 2 – BAIXA: final de outubro, o boi está R$70,00, e o prejuízo da ope-
ração será de R$2,00 por contrato apenas, ou seja, só o custo da opção call (R$2,00 × 330 = R$660,00). O investidor não exercerá seu direito de compra a R$80,00, pois o mercado está R$70,00.
80 Mercados futuros •
•
•
•
O comprador da call pode exercer seu direito a qualquer momento, mas normalmente não é interessante exercê-lo enquanto a opção tem valor extrínseco, pois ele é perdido quando a opção é exercida. Cabe ressaltar que todas as operações são garantidas pela Bolsa, ou seja, o vendedor sempre arcará com sua obrigação. Para quem vende a call , mesmo que possua ativo, há chamada de margem adicional pela Bolsa de mercadorias e futuros. Caso a call não se valorize, ela “vira pó”, que é o termo utilizado no mercado para a perda de valor da opção.
Opção de venda – put Dá o direito a seu comprador de vender determinado ativo ao preço estipulado até certa data, independentemente do preço que estiver o ativo. Esse tipo de opção é bastante utilizada por aqueles que visualizam uma possível queda de determinado ativo ou pelos que precisam se proteger de uma possível queda. Os produtores e pecuarista utilizam essa modalidade com essa finalidade, além de garantir preços de venda, para que, no caso de o preço da commodity cair, a margem de lucro não seja afetada e eles não fiquem no prejuízo.
Direito
Obrigação
Comprador
Vendedor
HEDGER: Para o produtor que deseja proteger-se da queda dos preços do milho,
por exemplo, pode ser interessante realizar a operação de compra de put , pois assim garantirá um preço mínimo para vender sua produção no período de colheita, que é o preço de exercício da put , que consiste no direito de vender o ativo subjacente a preço determinado. Claro que, para ter essa segurança, ele teve o custo da compra da put .
O que são opções? 81
FIGURA 4.3 Fonte: metropolionline.com.br.
INVESTIDOR: Para aquele que acredita em uma supersafra e na queda dos preços
e deseja limitar seu risco, a compra da put pode ser uma alternativa bastante interessante, pois ele ganha na queda de preços, mas com risco limitado ao custo da compra da put .
FIGURA 4.4 Fonte: Bovespa.
EXEMPLO:
Um produtor comprou uma put de milho, garantindo o direito de venda a R$30,00 até maio. Para aquisição desse direito, pagou R$1,10 a saca. CENÁRIO 1 – ALTA: em maio, o milho está R$35,00, o produtor ganha no físi-
co com a alta e não exerce seu direito de venda a R$30,00. Perde o valor de R$1,10 a saca paga pela opção, porém tem ganho maior com a alta do preço.
82 Mercados futuros
CENÁRIO 2 – BAIXA: em maio, o milho está R$25,00, o produtor exerce seu di-
reito de venda a R$30,00 e lucra R$5,00 a saca menos o custo de R$1,10. •
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•
O comprador da put pode exercer o direito a qualquer momento, mas normalmente não é interessante exercê-lo enquanto a opção tem valor extrínseco,4 pois ele é perdido quando a opção é exercida. O produtor garante um preço mínimo e aproveita a alta dos preços caso ela ocorra. O produtor negocia sua safra no mercado físico e utiliza a Bolsa apenas para proteção financeira. Cabe ressaltar que todas as operações são garantidas pela Bolsa, ou seja, o vendedor sempre arcará com sua obrigação.
Black & Scholes Modelo matemático de precificação das opções criado por Fischer Black e Myron Scholes, autores de The Pricing of Options and Corporate Liabilities , publicado em 1973 e que fala sobre o assunto. Os autores descrevem os fatores e modelo matemático que desenvolveram para a precificação justa de uma opção, tendo em vista a dificuldade que era mensurar o valor justo de um ativo que deriva de outro. Com o passar do tempo, novos modelos de precificação surgiram. Porém, esse é um dos mais aceitos e utilizados por aqueles que atuam ativamente no mercado de opções. Um dos criadores desse modelo matemático foi protagonista de um dos maiores desastres financeiros já vistos, que rendeu até mesmo um livro a respeito da história. Myron Scholes e Robert Merton fundaram o fundo de investimentos LTCM (Long Term Capital Management), aplicando com sua equipe todo o conhecimento matemático, o que lhes rendeu um Prêmio Nobel em 1997. O fundo logo ganhou notoriedade ao gerar rentabilidades em torno de 40% ao ano, sendo considerado um dos melhores do mercado na época. A metodologia operacional era utilizar distorções entre as taxas de juros de diversos países e arbitrar essas variações, acreditando que, com o decorrer do tempo, elas se ajustariam e voltariam à Valor além do valor real da opção, ou seja, a diferença entre o preço do ativo subjacente e o preço de exercício da opção. 4
O que são opções? 83
normalidade estatística. Segundo Scholes, sua ideia era ganhar pequenos spreads em milhares de operações, e assim ir ganhando distorções que ninguém percebia. O Fundo LTCM possuía bilhões de dólares sob sua gestão. Porém, no ano de 1998, a Rússia deu um calote nos seus títulos, o que gerou uma crise de desconfiança nos mercados e forte migração para os títulos do tesouro americano, considerados os mais seguros do mundo. Essa migração em massa distorceu bruscamente as taxas de juros de vários países, o que pegou de surpresa o LTCM, obrigado a liquidar suas posições, gerando, então, uma avalanche no mercado de crédito. O Federal Reserve teve de intervir e cortar a taxa de juros americana para tentar amenizar a situação. Alguns bancos que haviam aplicado no fundo tiveram de realizar resgates de bilhões, dificultando mais ainda a situação. Os gestores do LTCM alegaram que o ocorrido na Rússia não havia tido precedentes na história dos mercados emergentes, pois o calote aconteceu antes de o país não honrar suas obrigações em moeda estrangeira, o que não era previsto, tendo em vista que a Rússia poderia emitir moeda local para amenizar sua dívida. Esse caso é uma grande lição para todos, pois deixa claro que, por mais ajustada que seja nossa estratégia, o mercado possui fatores externos que podem mudar repentinamente o curso das operações, e é preciso estar atento e stopar (realizar prejuízo) no primeiro momento, já que, muitas vezes, as distorções podem liquidar a conta daqueles que insistem em acreditar que estão corretos. A disciplina de saber realizar o prejuízo em uma operação e o conhecimento para dimensionar o tamanho de sua posição em relação ao que o mercado pode comportar são essenciais, pois sair de uma posição grande não é simples, ainda mais quando se está no prejuízo, tendo em vista que o mercado logo nota e acaba atrapalhando ainda mais. Existe uma frase de John Maynard Keynes, renomado economista britânico, que diz: “O mercado pode ficar irracional por mais tempo do que você pode ficar solvente.” 5 Sempre que as economias globais estão na eminência de crise, diversas distorções ocorrem em ativos, taxas de juros, moedas, commodities, pois existem também os sentimentos de pânico e medo. Logo, deve-se tomar cuidado nas operações de long short (basicamente spread com ações), spread e arbitragens. Escova e eu cansamos de stopar operações que tínhamos certeza de que estavam corretas, porém o mercado, naquele momento, estava incerto e inseguro, e preferimos sair e voltar outra hora. 5
84 Mercados futuros
Precificação das opções Black&Scholes A precificação de opções por meio do Black&Scholes é um dos modelos mais aceitos até hoje; utiliza algumas variáveis do mercado e tem como objeti vo encontrar um preço teórico para a opção, o que possibilita saber se ela está sobreavaliada ou subavaliada no mercado. Para calcular o preço teórico de uma opção, é preciso saber algumas variáveis do mercado, tais como: •
O PREÇO DE EXERCÍCIO DA OPÇÃO ( STRIKE ): no caso da opção de compra,
quanto maior o preço de exercício, menor o preço da opção, pois está mais longe do preço do ativo de que deriva. No caso da opção de venda, quanto maior o preço de exercício, maior o preço da opção. •
O TEMPO QUE FALTA PARA O EXERCÍCIO: quanto mais tempo, maior o preço,
pois o ativo pode oscilar durante grande período, o que gera incerteza. •
O PREÇO DO ATIVO DE QUE A OPÇÃO DERIVA: quanto maior o preço do ativo,
maior o preço da opção de compra. Na opção de venda, quanto maior o preço do ativo de que deriva, menor o preço da opção. •
AS TAXAS DE JUROS E INFLAÇÃO: esse cenário tem oscilado bastante no
Brasil, e quanto maiores as taxas de juros e inflação, maiores serão os preços das opções. •
A VOLATILIDADE DO ATIVO SUBJACENTE: volatilidade é a oscilação de pre-
ços de um ativo; quanto mais os preços oscilam, maiores serão os preços das opções. Esse é um dos fatores mais importantes. Mercado utiliza a volatilidade histórica de determinado período para precificar as opções. Lembre-se sempre de que, se você compra uma opção, alguém a vende para você. Por isso essa pessoa levará em consideração todos os fatores mencionados, pois quanto mais incerto o cenário, mais ele cobrará pelo risco que está assumindo. Também é importante aprender as chamadas gregas, que auxiliam a identificar se o preço de negociação de uma opção está interessante ou não, ou seja, barato ou caro em relação ao preço teórico (preço justo). O monitoramento
O que são opções? 85
constante e uma oscilação brusca no mercado podem criar boa oportunidade de entrada. As gregas são: •
DELTA: o delta mostra para cada real que o ativo subjacente oscila quan-
tos centavos a opção irá oscilar. Quanto mais abaixo o strike da call (preço de exercício da opção) estiver do preço do ativo, maior a correlação. Quando se entra em uma operação, é importante saber o delta, pois mostrará o potencial de ganho caso o ativo subjacente chegue ao preço que você imagina. •
GAMA: é a taxa de variação do delta, que mostra quanto o delta irá variar
para cada R$1 de variação do ativo subjacente. •
THETA: mostra a taxa que o valor da opção decai a cada dia. Quanto mais
se aproxima da data de exercício, mais valor de tempo a opção perde. •
VEGA: mostra quanto a mudança na volatilidade do ativo subjacente im-
pacta no preço da opção. •
RHO: mostra quanto a variação da taxa de juros impacta no preço da
opção.
Opção: margem de garantia e ajuste diário As opções sobre contratos futuros possuem algumas diferenças em relação aos mecanismos de liquidação e algumas boas vantagens. As opções call e put de contratos futuros não possuem chamada de margem para aqueles que compram tanto uma quanto a outra, e também não há ajuste diário de posição, pois a lógica é bastante simples: quem compra a opção tanto de compra como de venda possui seu risco máximo limitado ao custo da opção, por isso não se faz necessário chamada de margem nem ajuste de posição. Aqueles que operam vendidos nas opções, geralmente investidores e não hedgers, são chamados em margem, pois recebem um valor pela venda, com risco alto. Porém, são poucos os que se arriscam a vender opções de contratos futuros sem hedge ou proteção, pois o risco é alto e as margens de garantia
86 Mercados futuros
exigidas também. Opções só devem ser vendidas em operações estruturadas, em que se faz uma combinação com a compra de outras, conforme veremos nos exemplos a seguir.
Operações estruturadas As possibilidades de utilização das opções são infinitas; porém, aqueles que desejam se aprofundar devem buscar literatura referente ao assunto. Na BM&F, o mercado de opções ainda é muito recente e está se desenvolvendo. No entanto, cabe ressaltar que para aqueles que desejam efetuar hedge para se proteger da queda dos preços deve-se efetuar a compra de uma opção de venda put , e para os que desejam se proteger da alta deve-se efetuar a compra de uma opção de compra call . Os anos de experiência no mercado nos mostraram que para quem precisa se proteger das oscilações de preços de determinada commodity ou ativo, não existe nada melhor que a utilização das opções, pois garante preços, sem ajuste diário nem margem de garantia. Por isso, se você é hedger, não invente moda, apenas compre uma call ou put , assim como se faz seguro de carro, garantindo o patrimônio e limitando o prejuízo ao prêmio (custo) da opção. Quando utilizamos combinações de opções, chamamos de operações estruturadas. Já, no caso das opções, existem muitos nomes, como trava de alta, trava de baixa, borboleta invertida, borboleta, put spread e assim por diante. Contudo, para passar uma noção da combinação de opção vendida e opção comprada na mesma operação, exemplificaremos o funcionamento de uma trava de alta e uma trava de baixa.
Trava de alta Operação direcionada àquele que deseja obter ganho financeiro com possí vel alta com baixo custo financeiro. O funcionamento é bem simples e ocorre da combinação da compra de uma opção call e venda de uma opção call com strike acima da que foi comprada, pois assim paga um custo pela compra da opção, mas também recebe um valor menor pela venda, diminuindo seu custo, bem como limitando o ganho com a alta. Caso o mercado caia, o prejuízo será o custo da operação, conforme o exemplo a seguir:
O que são opções? 87
Suponhamos que o mercado futuro de boi gordo esteja R$92,00 no contrato BGIV11, e as opções call com os seguintes custos: Strike R$100,00 – R$1,20 Strike R$101,00 – R$1,00 Strike R$102,00 – R$0,75
Observe que todas elas possuem apenas valor extrínseco, ou seja, valor tempo, pois são strikes acima do preço atual do mercado. Nesse caso, o investidor acredita que o mercado ficará acima de R$102,00, porém ele quer ter custo baixo na operação e limitar o prejuízo. Na operação trava de alta, ele efetuará a compra da call strike R$100,00 ao custo de R$1,20 e venderá a call strike R$102,00 ao custo de R$0,75, tendo custo total na operação de R$1,20 – R$0,75 = R$ 0,45. O custo da operação será de R$0,45, o potencial de ganho é de R$2,00 e o prejuízo máximo é de R$0,45. Vejamos o cenário a seguir: Cenário de alta
No vencimento do contrato BGIV11, o preço está R$105,00. O investidor exercerá o direito de compra a R$100,00 e ganhará R$5,00 nessa opção, porém será exercido na call que vendeu a R$102,00 e pagará R$3,00. Resumo: R$5,00 – R$3,00 = R$2,00, e, no caso do boi gordo, para se fazer o cálculo financeiro, deve-se multiplicar por 330, que é o tamanho do contrato: Custo R$0,45 × 330,00 = R$148,50 Ganho R$2,00 × 330 = R$660,00 Não consideramos os custos de corretagem e emolumentos.
88 Mercados futuros
Cenário de baixa
No vencimento do contrato BGIV11, o preço está R$80,00. Nenhuma opção será exercida “virando pó”, e o prejuízo da operação será o custo R$0,45 × 330 = R$148,50. Na operação de trava de alta, não há chamada de margem de garantia, pois o prejuízo da operação é limitado ao seu custo, não havendo assim motivo para a bolsa exigir garantias. Veja o funcionamento da trava de alta no Gráfico 4.3:
GRÁFICO 4.3 Trava de alta Fonte: ADVFN.com.
Trava de baixa Operação direcionada àquele que acredita em queda do preço e deseja obter ganhos financeiros com isso. O interessante desta operação é que se recebe dinheiro ao invés de pagar, porém o prejuízo é limitado. Dependendo da relação em que se monta a operação, o prejuízo poderá ser maior que o ganho. Vamos utilizar o mesmo exemplo da trava de alta, em que o mercado futuro está R$92,00 no contrato BGIV11, e temos os seguintes custos das opções. Strike R$100,00 – R$1,20 Strike R$101,00 – R$1,00 Strike R$102,00 – R$0,75
O que são opções? 89
Nesse caso, o investidor irá comprar a call com strike mais alto e vender a call com strike mais baixo, tendo assim recebimento imediato de dinheiro na operação, mas, caso o mercado suba, poderá ter prejuízo. Realiza-se a compra da call strike R$102,00 ao custo de R$0,75 e vende-se a call strike R$100,00 ao custo de R$1,20, ou seja, receberá na operação R$0,45 a arroba. Vejamos seu funcionamento no cenário de alta e de baixa: Cenário de baixa
No vencimento, o contrato BGIV11 se mantém em R$92,00, ambas as opções “viram pó” e o investidor mantém seu ganho: R$0,45 × 330 = R$148,50 por contrato. Não consideramos os custos de corretagem e emolumentos. Cenário de alta
No vencimento, o contrato BGIV11 está R$105,00. O investidor será exercido na opção R$100,00 e pagará R$5,00, porém exercerá a opção R$102,00 e receberá R$3,00, tendo assim prejuízo de R$5,00 – R$3,00 = R$2,00 – R$0,45, que foi recebido na operação. Total: R$1,55. Ganho da operação: R$0,45 × 330 = R$148,50 Prejuízo na operação: R$2,00 × 330 = R$660,00 Total do prejuízo = R$511,50 Não consideramos os custos de corretagem e emolumentos. Na trava de baixa, caso o mercado suba, a Bolsa poderá chamar margem para garantir o cumprimento da operação por parte do investidor. Veja o Gráfico 4.4 do funcionamento da trava de baixa conforme o exemplo:
90 Mercados futuros
GRÁFICO 4.4 Trava de baixa Fonte: ADVFN.com.br
Markets makers e custos operacionais Com o mercado futuro em evolução, no que tange o cenário de opções, os market makers são os personagens que viabilizam as operações no mercado brasileiro. Em CBOT, as opções são negociadas assim como ocorre com as ações, tendo negócios no book de ofertas, pois a liquidez é bastante grande. No Brasil, se você deseja realizar operações com opções em mercado futuro, deve procurar seu operador da corretora, que irá contatar os market makers que estão dando preços no dia para determinado ativo. Afinal, quem são esses market makers ? Geralmente, são tesourarias de grandes bancos, tanto do Brasil quanto de fora. Porém, as medidas que a Bolsa tomou para segurar a queda do dólar, que aumentou o custo de IOF e outras taxas para estrangeiros, acabaram tirando os market makers estrangeiros da Bolsa, pois seu operacional ficou muito elevado, inviabilizando as operações. Se você deseja comprar uma call de soja ou café, precisa que alguém a venda para você, e assim entra a importância desses personagens, que, em geral, permitem que o próprio interessado monte suas operações. Mas ele cobra pequenos diferenciais de preço, quando obtém ganhos financeiros. Aprendemos que o Black&Scholes calcula o preço teórico de uma opção e o market maker faz isso, porém ele possui dois preços, um de venda e um de compra, e essa diferença é seu ganho. Veja o exemplo:
O que são opções? 91
Preço teórico: R$2,00. Se você quiser vender, o market maker compra por R$1,90. Se você quiser comprar, o market maker vende por R$2,10. É nessa diferença ou spread que ele obtém ganho, porém é um ganho justo, tendo em vista o risco que assume e pela disponibilidade que dá, pois faz a operação que você quiser. O market maker fecha negócio e busca formas de se hedgear utilizando contratos futuros ou até mesmo opções em outras Bolsas internacionais. Ser market maker é um dos trabalhos mais respeitados do mercado, pois envolve muitos cálculos matemáticos e gestão extrema de risco. 6 É importante sempre, antes de uma operação, saber qual o preço teórico, para se poder negociar da melhor forma possível. Quem realiza operações de hedge deve fazer várias cotações para buscar o melhor custo da opção e assim diminuir o custo do hedge. As opções, como os contratos futuros, possuem custo de corretagem. Porém esse custo é geralmente metade do custo do contrato futuro a que a opção se refere. No caso do contrato de boi gordo, a corretagem para posição é de 0,30%, e a da opção é de 0,15%. Um detalhe importante da corretagem nas opções de futuros é que elas são sobre o financeiro do volume do contrato, não apenas da opção. Veja o exemplo: Contrato futuro de boi gordo a R$90,00 × 330 × (0,15%) = R$44,55, e não apenas sobre o custo da opção caso ela custe R$2,00, por exemplo. Quando você montar uma operação estruturada, sempre exija descontos acima de 80%, caso contrário, fica inviável de operar.
Muitos participantes nos procuram, pois conhecemos praticamente todos os market makers que estão atuando no mercado e dando liquidez; assim conseguimos cotar com vários e buscar o melhor custo para o cliente. De certa forma, nessas situações, estamos atuando como market makers . 6
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CAPÍTULO 5
Análise gráfica
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análise gráfica teve origem em Osaka, no Japão, com estudo de candlesticks (velas). Hoje é bastante difundida no mercado financeiro, sendo muito utilizada para tomada de decisões de compra e venda. Munehisa Homma (1724-1803) operava mercado futuro de arroz na Bolsa de Arroz Dojima, fundada em 1654. Reza a lenda que, por meio de seus estudos, realizou mais de 100 operações vitoriosas consecutivas. Em 1750, escreveu alguns livros que traziam, além de suas experiências de mercado, a técnica de velas, ou castiçais, conhecida atualmente como candlesticks . Os estudos de Munehisa foram utilizados apenas no Japão por mais de 200 anos, quando Steve Nilson, então vice-presidente da Merril Lynch – atualmente umas das maiores corretoras de investimento do mundo –, na década de 1990, ajudou a difundir no Ocidente os estudos dos candlesticks e a análise técnica ocidental. A análise técnica parte de três premissas:
A
1. Os preços descontam tudo. 2. Os preços se movem em tendência. 3. A história se repete. A análise gráfica consiste na tomada de decisão apenas com base no comportamento dos preços, pois para os grafistas todas as variáveis do mercado estão nele embutidas. O estudo das oscilações dos preços e seu comportamento
96 Mercados futuros
passado podem ajudar na previsão de seu comportamento futuro. Existem dois tipos de análise, a gráfica e a técnica. A gráfica é também conhecida como “chartismo”, termo que deriva da expressão inglesa chart e baseia-se no estudo de figuras e comportamento gráficos. A análise técnica consiste em estudos matemáticos, com a criação de indicadores que buscam medir a força do mercado, se ele está sobrecomprado ou sobrevendido, entre outros indicadores:
Tipos de gráficos Os gráficos são utilizados para acompanhar a evolução dos preços. Existem alguns tipos, mas os mais utilizados são: Gráfico de linha
Bastante conhecido pela maioria das pessoas, geralmente utilizado em demonstrações financeiras, índices de preços e Bolsas. O gráfico de linha apenas marca o preço de fechamento, sem a possibilidade de visualizar preços de abertura, fechamento e oscilações. Podemos observar no Gráfico 5.1, um gráfico de linha em que conseguimos analisar o comportamento dos preços de fechamento de determinado ativo.
GRÁFICO 5.1 Contrato futuro café ICFZ11 – agosto a novembro de 2011 Fonte: Bloomberg.
Análise gráfica 97
Gráfico de barra
Os gráficos de barra são bastante utilizados por grafistas dos Estados Unidos e pelo famoso Alexander Elder,1 nos quais é possível visualizar o comportamento de preços no período examinado. Cada barra representa determinado período, 1 minuto, 1 hora ou 1 dia, e, através dele, consegue-se visualizar o preço de abertura (A), fechamento (F), oscilação máxima (máx) e oscilação mínima (mín).
GRÁFICO 5.2 Contrato futuro café ICFZ11 – agosto a novembro de 2011 Fonte: Bloomberg.
Observe o exemplo do mesmo ativo, mas com oscilações mais abrangentes por se tratar de um gráfico de barras (Gráfico 5.2) em que se contêm mais informações (abertura, máxima, mínima e fechamento) que o Gráfico 5.1, de linha. Máx F
Máx A
A
Mín
F
Mín
FIGURA 5.1 Barra de preços Fontes: Agência Estado e própria.
Nascido em Leningrado e criado na Estônia, onde cursou Medicina. Trabalhou como psiquiatra em Nova York. Sua experiência como psiquiatra resultou em uma teoria única sobre a psicologia da negociação. Autor de várias obras ligadas à psicologia do mercado e disciplina operacional. 1
98 Mercados futuros
Nota-se que, em cada barra, temos quatro importantes e fundamentais informações: abertura, máxima, mínima e fechamento, quando conseguimos analisar com mais detalhes o comportamento do mercado naquela barra plotada e, dali, tirar maior proveito da análise que estamos fazendo. Gráfico de candlesticks
É o mais utilizado atualmente para análise de preços. Criado pelo japonês Munehisa, que operava no mercado futuro de arroz. Cada candle representa determinado período, 1 minuto, 1 hora ou 1 dia, e, através dele, conseguem-se visualizar os preços de abertura (A), fechamento (F), oscilação máxima (máx) e oscilação mínima (mín). Candle significa vela em inglês, daí o nome do gráfico, pois se assemelha a uma vela. Geralmente, quando é de alta, a cor é verde, e quando é de baixa, vermelha: Porém, neste livro, a cor será cinza na alta e preta na baixa.
GRÁFICO 5.3 Contrato futuro café ICFZ11 – agosto a novembro de 2011 Fonte: Bloomberg. Máx
F
Máx
A
F A Mín
FIGURA 5.2 Candlestick Fontes: Agência Estado e própria.
Mín
Análise gráfica 99
Semelhante ao Gráfico 5.2 de barras quanto às informações contidas, mas com formas diferentes de serem representadas (velas), este gráfico nos permite estudá-lo de maneira bem mais completa, no sentido de termos formações de “figuras” que representam vários possíveis movimentos de acordo com sua estrutura. A diferença fundamental em relação ao Gráfico 5.2 de barras é que toda ênfase é dada aos preços de abertura e fechamento, comparando com o formato da barra tradicional. A vela apresenta as seguintes diferenças: •
•
A área entre a abertura e o fechamento de cada barra é interligada, criando um corpo. Se, no final de um dia de pregão, o fechamento for maior que a abertura, o corpo será cinza ou vazado (sem preenchimento). Se o fechamento ficar abaixo da abertura, o corpo será preto (ou preenchido). Assim, uma vela sem preenchimento mostra ação de mercado positiva e é altista. Uma vela preta mostra sessão de mercado negativa e é baixista. Gráfico de Barras
Gráfico de Velas
35
35
30
30
25
25
20
20
15
15
10
10
05
05 1
2
3
4
5
8
9
1
2
3
4
5
8
9
GRÁFICO 5.4 Gráfico de barras e candlestick Fonte: Marcio Noronha. Análise técnica, teorias, ferramentas e estratégias. São Paulo: BM&F, 1987.
Periodicidade gráfica Cada candlestick ou barra representa um período. Os de intraday (gráficos com períodos menores que um dia) podem ser:
100 Mercados futuros
1 minuto; 5 minutos; 15 minutos; 30 minutos; 60 minutos; 120 minutos. Os períodos maiores podem ser diários, semanais, mensais e anuais. O tempo gráfico em geral é determinado pelo tipo de operação a ser realizada, ou seja, operação de curto prazo ( day trade ). Compra e venda no mesmo dia pro vavelmente utilizará gráficos intraday de períodos curtos. Operação fundamentalista, em que se deseja colocar um ativo em carteira por período maior, provavelmente utilizará o gráfico diário. Triple screen
Alexander Elder, famoso trader , costuma, antes de qualquer operação, analisar três tempos gráficos para assim definir seu viés e buscar pontos de compra ou venda. Ele analisa o gráfico semanal e verifica se a tendência é de alta ou de baixa. Feito isso, analisa o gráfico diário para confirmar essa tendência e, por último, analisa o gráfico intraday , em que busca o ajuste fino para encontrar o melhor ponto de entrada durante o dia. Diário
GRÁFICO 5.5 Contrato futuro de dólar DOLZ11 – agosto a novembro de 2011 Fonte: Bloomberg.
Análise gráfica 101
No gráfico diário, cada candle indica seu comportamento durante aquele dia específico; destina-se a análises mais macros de um ativo. Semanal
GRÁFICO 5.6 Contrato Futuro de Dólar DOLZ11 – agosto a novembro de 2011 Fonte: Bloomberg.
No gráfico semanal, cada candle indica o comportamento do mercado durante aquela semana, ou seja, cada candle indicará a abertura do mercado no primeiro dia daquela semana, sua máxima e mínima que acontecerá dentro daquela semana e seu fechamento no último dia da semana analisada. Intraday 60 minutos
GRÁFICO 5.7 Contrato Futuro de Dólar DOLZ11 – outubro a novembro de 2011 Fonte: Bloomberg.
102 Mercados futuros
No gráfico intraday de 60 minutos, verificamos que candle corresponde ao que refletiu o mercado no período de 60 minutos, em que a cada tempo determinado (nesse caso 60 minutos) se plotará novo candle . Por isso esse tipo de gráfico se destina a tomadas de decisões mais rápidas que os anteriores, ou seja, quanto menor seu período, maior o número de candles plotados e consequentemente maior a velocidade da tomada de decisão de entrada e saída da sua posição.
Conceitos básicos de análise gráfica Suporte
Determinado nível de preço que o mercado considera interessante, e há a entrada de força compradora, dando sustentação aos preços, podendo ser oportunidade de compra. Veja o exemplo.
GRÁFICO 5.8 Contrato futuro de boi gordo BGIV11 – maio a outubro de 2011 Fontes: própria e Bloomberg.
Resistência
Determinado nível de preço que o mercado considera caro e começa a entrar força vendedora, podendo ser uma oportunidade de venda.
Análise gráfica 103
GRÁFICO 5.9 Embraer – EMBR3 – janeiro a abril de 2011 Fontes: própria e Bloomberg.
Canal de alta
Oscilação em que os preços se movimentam, porém, mesmo caindo, seguem em movimento macro de alta, com topos e fundos (oportunidade de compra) ascendentes.
GRÁFICO 5.10 Contrato futuro de café ICFZ10 – junho a dezembro de 2010 Fontes: própria e Bloomberg.
Canal de baixa
Oscilação em que os preços se movimentam, porém mesmo subindo seguem em movimento macro de baixa, com topos (oportunidade de venda) e fundos descendentes.
104 Mercados futuros
GRÁFICO 5.11 Contrato futuro de dólar DOL – setembro de 2007 a agosto de 2008 Fontes: própria e Bloomberg.
Linha de tendência de alta
Preços oscilam em movimento com fundos ascendentes, em que, mesmo com quedas, o movimento macro é de alta. Oportunidade de compra próxima à linha de tendência de alta.
GRÁFICO 5.12 Contrato futuro de boi gordo BGIV11 – junho a julho de 2011 Fontes: própria e Bloomberg.
Linha de tendência de baixa
Preços oscilam em movimento com topos descendentes, em que, mesmo com altas, o movimento macro é de baixa. Oportunidade de venda é próxima à linha de tendência de baixa.
Análise gráfica 105
GRÁFICO 5.13 Contrato futuro de dólar DOL – setembro de 2009 a agosto de 2008 Fontes: própria e Bloomberg.
Suporte e resistência
Identificar suportes e resistências facilita na localização de pontos de compra e de venda. Porém, para realizar a operação, é preciso definir dois pontos: o de ganho (stop gain) e o de prejuízo (stop loss ). Veja, na Figura 5.3, como identificá-los. Nesse tipo de operação, assim como em todas, é importante ter disciplina, pois, assim que o suporte ou resistência for rompido, deve-se acionar o stop . stop loss
ponto de venda
stop gain
ponto de compra
stop loss
FIGURA 5.3 Suporte e Resistência Fonte: própria.
106 Mercados futuros
GRÁFICO 5.14 Contrato futuro de café ICFZ11 – junho a agosto de 2011 Fonte: Bloomberg.
Na Figura 5.3, após termos determinado o suporte e a resistência (linhas retas contínuas), observa-se que o mercado testa seu suporte, e, logo em seguida, temos um ponto de compra (seta cinza) com seu objetivo próximo à linha de resistência (seta preta), em que se zeraria a posição e a proteção do lucro dessa operação, determinado pelo stop gain, caso não saia da operação no ponto de venda. Suporte que vira resistência
Quando a força vendedora é maior que a compradora na linha de suporte, ocorre o chamado rompimento, e essa linha, que antes era de suporte, torna-se linha de resistência. Geralmente, a perda de um suporte aciona stops de comprados e acentua a queda. Quando isso acontece, vale observar que tal suporte se torna uma resistência que, se não for rompida, se transformará em ótima oportunidade de venda.
Análise gráfica 107
GRÁFICO 5.15 Contrato futuro de dólar DOLX11 – setembro/outubro de 2011 Fontes: própria e Bloomberg.
Resistência que vira suporte
Quando a força compradora é maior que a vendedora na linha de resistência, ocorre o chamado rompimento, e essa linha, que antes era de resistência, torna-se linha de suporte. Geralmente, o rompimento de uma resistência aciona stops de vendidos e acentua a alta, quando também se verifica ótima oportunidade de compra se esse novo nível de suporte não for rompido novamente.
GRÁFICO 5.16 Contrato futuro ICFZ11 – julho a setembro de 2011 Fontes: própria e Bloomberg.
108 Mercados futuros
Pivot
O investidor do mercado deve buscar sempre operar em mercados de alta ou de baixa, ou seja, que possuam uma tendência definida, que possa facilmente ser identificada por meio da visualização de canais de alta ou de baixa. A confirmação de um pivot é dos melhores indicativos para a definição de tendência; ele costuma aparecer no início de uma nova tendência e se configura em um pivot de alta ou de baixa. Pivot de alta
O funcionamento é bastante simples; quando o mercado forma um topo, em geral encontra bastante força vendedora, formando assim uma resistência. Um pivot seria a segunda tentativa de o mercado vencer determinada zona de resistência. Porém, dessa vez, a força compradora vence, e os vendidos acabam tendo de realizar o prejuízo e auxiliando para a alta. Na Figura 5.4, apresentamos a ilustração da formação de um pivot de alta.
Confirmação de Pivot de alta quando o topo é superado
Fundo mais alto que o anterior
FIGURA 5.4 Pivot de alta Fontes: própria.
Análise gráfica 109
GRÁFICO 5.17 Contrato futuro de soja SOJ – fevereiro a maio de 2011 Formação de um pivot de alta no mercado de soja em 27 de abril de 2011. Fonte: Bloomberg.
Pivot de baixa
Seu funcionamento é bastante semelhante ao pivot de alta, porém ao contrário, pois, quando o mercado forma um fundo, em geral encontra bastante força compradora, formando assim um suporte. Um pivot seria a segunda tentativa de os vendedores vencerem esse suporte, porém, com êxito. O que pode acelerar o pivot de baixa é a realização do prejuízo dos compradores, que acabam vendendo suas posições, dando mais força aos vendedores. Topo mais baixo que o anterior
Confirmação de Pivot de baixa quando o fundo for rompido
FIGURA 5.5 Pivot de baixa Fonte: própria.
110 Mercados futuros
GRÁFICO 5.18 Contrato futuro de soja SOJ – março a maio de 2011 Formação de um pivot de baixa no mercado de soja em 4 de maio de 2011. Fonte: Bloomberg.
Figuras gráficas A oscilação de preços pode formar as chamadas figuras gráficas, que têm a capacidade de auxiliar na previsão dos preços, podendo ser de reversão ou de continuidade de uma tendência. Figuras de reversão OCO (Ombro Cabeça Ombro)
Formação bastante conhecida, em geral ocorre após uma tendência de alta, quando o mercado tentou fazer novas máximas, mas não teve força suficiente para vencer os vendidos, formando assim uma espécie de topo triplo, em que o topo central é mais alto que os outros, o que caracteriza a “cabeça”. O “ombro cabeça ombro” consiste em tentativas de pivot de alta sem sucesso. A confirmação de um OCO, ou seja, movimento de queda, ocorre com pivot de baixa, quando há o rompimento do suporte. Veja a figura que caracteriza um OCO. Cabe ressaltar que, após a confirmação de um OCO, a projeção da queda será a altura da linha dos ombros até a cabeça. Se a linha do pescoço for perdida com volume de negociação acima da média, é indício de reversão de tendência mais forte.
Análise gráfica 111 Cabeça
Ombro
Ombro
Linha Pescoço
Projeção Queda
FIGURA 5.6 OCO – ombro, cabeça e ombro Fonte: própria.
GRÁFICO 5.19 Sansuy SNSY5 – outubro de 2010 a maio de 2011 Fonte: Bloomberg.
O pivot de baixa confirma a perda da linha do pescoço e pode desencadear movimento de queda; nessa perda, na área da linha do pescoço, dá-se ótima oportunidade de venda.
112 Mercados futuros Topo mais baixo que o anterior
Confirmação de Pivot de baixa quando o fundo for rompido
FIGURA 5.7 Pivot de baixa Fonte: própria.
OCOI (Ombro Cabeça Ombro Invertido)
Embora bastante semelhante ao OCO, esta formação pode indicar o fim de uma tendência de queda, ou seja, o mercado tentou fazer novos fundos, mas há entrada de força compradora impedindo um movimento mais forte de queda. Também se constitui de três fundos, sendo o central, a “cabeça”, o maior. Projeção Queda
Linha Pescoço
Ombro
Ombro
Cabeça
FIGURA 5.8 OCOI – ombro, cabeça e ombro invertido Fonte: própria.
Análise gráfica 113
A reversão da tendência de baixa pode ocorrer com o rompimento da linha do pescoço e, se for com volume de negociações acima da média, o indício de nova tendência é maior ainda. A confirmação do OCOI acontece com pivot de alta no rompimento da linha do pescoço. O pivot de alta confirma a perda da linha do pescoço e pode desencadear movimento de alta, dando consequentemente oportunidade de compra em seu rompimento. Confirmação de Pivot de alta quando o topo é superado
Fundo mais alto que o anterior
FIGURA 5.9 Pivot de alta Fonte: própria.
GRÁFICO 5.20 Contrato futuro de petróleo – abril a julho de 2009 Aqui fica claro o rompimento da linha do pescoço configurando assim o OCOI. Fonte: Bloomberg.
114 Mercados futuros
Fundo duplo
Formação parecida com o OCOI, porém mais comumente vista e mais fácil de identificar. O mercado tenta romper o fundo duas vezes, porém encontra força compradora e não consegue vencer. Criam-se assim uma linha de suporte e outra de resistência. Caso a linha de resistência seja rompida, poderá vir um movimento de alta com a projeção da altura do fundo. O rompimento da resistência com volume se confirma e ganha força com o stop dos vendidos, possibilitando entrar comprando quando isso ocorrer. Projeção Alta Resistência
Fundo
Fundo
FIGURA 5.10 Fundo duplo Fonte: própria.
GRÁFICO 5.21 Petrobras PETR4 – setembro de 2008 a fevereiro de 2009 Observa-se aqui um fundo duplo em petr4 com seu rompimento em 9 de dezembro de 2008. Fonte: Bloomberg.
Análise gráfica 115
Topo duplo
Formação semelhante ao OCO, mas é facilmente identificada no mercado e bastante utilizada na tomada de decisões de venda, em especial. O mercado tenta por duas vezes seguidas fazer um novo topo, porém encontra força vendedora que forma resistência e logo um suporte, que, se perdido com volume de negociações acima da média, pode resultar em movimento de queda com projeção da altura dos topos, nos possibilitando entrar vendendo nesses níveis de rompimento.
Topo
Topo
Suporte
Projeção Queda
FIGURA 5.11 Topo duplo Fonte: própria.
GRÁFICO 5.22 Petróleo – fevereiro a maio de 2011 Verifica-se um topo duplo no mercado de petróleo com seu rompimento em 5 de junho de 2011 e observa-se uma oportunidade de venda no momento em que a linha horizontal é perdida. Fonte: Bloomberg.
116 Mercados futuros
Figuras de continuidade Retângulo
Ocorre quando o mercado está trabalhando lateralmente, ou seja, sem tendência definida. Os preços se deslocam com movimentos entre suporte e resistência bem definidos e está acumulando forças para o rompimento, que, quando ocorrer, poderá ser de baixa, caso rompa o suporte, ou de alta, caso rompa a resistência. Nesses casos, teremos pontos de venda e de compra, respectivamente. Projeção
FIGURA 5.12 Retângulo Fonte: própria.
GRÁFICO 5.23 Contrato futuro de soja Chicago – novembro de 2010 a agosto de 2011 É possível notar os preços trabalhando em um movimento lateral, possibilitando operações de compra no suporte e venda na resistência. Fonte: Bloomberg.
Análise gráfica 117
Retângulo de alta
Quando o retângulo ou período de lateralidade é rompido para cima, quebrando a resistência, configura-se um retângulo de alta. A força acumulada durante o período de lateralidade dá impulsão no rompimento, projetando a altura do canal para cima, quando se verifica a oportunidade de compra. Veja na Figura 5.13.
FIGURA 5.13 Retângulo de alta Fonte: própria.
GRÁFICO 5.24 Contrato futuro de petróleo – fevereiro de 2008 a junho de 2009 Observe a oportunidade gerada no rompimento da resistência após o período de preços com oscilações laterais. Fonte: Bloomberg.
118 Mercados futuros
Retângulo de baixa
Praticamente igual ao retângulo de alta, porém o rompimento ocorre para baixo, rompendo o suporte. A força acumulada durante o período de lateralidade projeta a altura do canal para baixo, gerando um ponto de venda em seu rompimento. Observe a Figura 5.14.
Projeção
FIGURA 5.14 Retângulo de baixa Fonte: própria.
GRÁFICO 5.25 Petróleo – fevereiro a maio de 2011 Observe a oportunidade de venda na perda do suporte e como logo foi atingida a projeção da queda. Fonte: Bloomberg.
Análise gráfica 119
Triângulos
Os triângulos são figuras de continuidade de um movimento, seja ele de alta ou de baixa. É caracterizado por convergência de linhas de tendência e suportes ou resistências. Bastante utilizadas na análise gráfica, ajudam a definir pontos de entrada na tendência já em andamento. Triângulos de alta
Figura bastante comum e com boa “acertabilidade”. Formada por uma linha de tendência de alta e uma resistência. O mercado trabalha com os preços testando resistência com fundos mais altos. O rompimento da resistência gera projeção de alta, conforme Figura 5.15, nos dando sinal de compra em seu rompimento. Projeção
FIGURA 5.15 Triângulo de alta Fonte: própria.
GRÁFICO 5.26 Café NY – agosto de 2011 Triângulo de alta verificado no café NY. Oportunidade de compra no rompimento da resistência. Fonte: Bloomberg.
120 Mercados futuros
Triângulos de baixa
É um grande indicativo para entrada de posição vendida, pois se trata de figura formada por uma linha de tendência de baixa e um suporte. A perda do suporte pode desencadear um movimento de queda, cuja projeção será a altura do triângulo, permitindo vender no rompimento.
Projeção
FIGURA 5.16 Triângulo de baixa Fonte: própria.
GRÁFICO 5.27 Contrato futuro café NY – julho/agosto de 2011 Formação de um triângulo de baixa verificado no mercado de café NY, gerando oportunidade de venda no rompimento da linha de suporte. Fonte: Bloomberg.
Análise gráfica 121
Triângulo simétrico
É uma indefinição entre as forças do mercado, quando há equilíbrio que gera certa lateralização dos preços, porém com linha de tendência de alta e linha de tendência de baixa. O triângulo simétrico pode ser tanto de alta quanto de baixa, pois o equilíbrio das forças faz com que o mercado possa ir para qualquer um dos lados. Caso rompa a linha de tendência de baixa, poderá desencadear um movimento de alta, com a projeção do triângulo. Caso a linha de tendência de alta seja rompida, poderá desencadear um movimento de queda, com projeção da altura do triângulo. Projeção
FIGURA 5.17 Triângulo simétrico de alta Fonte: própria.
GRÁFICO 5.28 Contrato futuro café NY – setembro a outubro de 2011 Rompimento de um triângulo simétrico de alta no mercado de café NY, dando possibilidade de compra nos níveis de seu rompimento da LTB (linha de tendência de baixa). Fonte: Bloomberg.
122 Mercados futuros
Triângulo simétrico de baixa
Projeção
FIGURA 5.18 Triângulo simétrico de baixa Fonte: própria.
GRÁFICO 5.29 Contrato futuro café NY – maio a junho de 2011 Rompimento de um triângulo simétrico de baixa no mercado de café NY, dando possibilidade de venda nos níveis de seu rompimento da LTA (linha de tendência de alta). Fonte: Bloomberg.
Análise gráfica 123
Análise de candlesticks O comportamento de preços durante o período de um candlestick ou mais candles , segundo os grafistas, pode mostrar a psicologia do mercado e dar indicativos do comportamento futuro. Existem alguns padrões gráficos de candlesticks bastante observados pelo mercado e utilizados para a tomada de decisão de compra e venda. Martelo de alta (hammer) e de baixa (hanging-man)
Uma das formações mais observadas pelo mercado, em geral aparece no final de uma tendência, seja de baixa ( hammer ) ou de alta (hanging-man), e mostra que o mercado pode ter chegado ao fim de um ciclo. No movimento de queda, ela representa a perda da força dos vendedores e a entrada de uma nova força compradora, o que indica uma possível reversão de tendência. Além disso, sua formação mostra que ele abre em queda e tem oscilação de máxima ou mínima. Porém, antes de seu fechamento, o mercado entra com grande força oposta, e fecha acima de sua máxima ou mínima.
Hammer
Hanging-man
Hammer
Hanging-man
FIGURA 5.19 Hammer/hanging-man Fonte: Marcio Noronha. Análise técnica, teorias, ferramentas e estratégias. São Paulo: BM&F, 1987.
Estrela cadente (shooting star) e martelo invertido (inverted hammer)
Estrela cadente é um padrão que envia uma advertência de um topo iminente. Ela é formada por um pequeno corpo na parte inferior da faixa de oscilação e por um longo pavio na parte superior. Podemos dizer que o mercado abriu próximo à mínima, subiu fortemente e depois voltou a cair.
124 Mercados futuros
FIGURA 5.20 Estrela cadente ( shooting star ) Fonte: própria.
GRÁFICO 5.30 Contrato futuro de soja Chicago – outubro de 2009 a janeiro de 2010 Estrela cadente formada no mercado de soja de Chicago. Fonte: Bloomberg.
O martelo invertido tem grande semelhança com a estrela cadente, por seu corpo na parte inferior da faixa de oscilação e o longo pavio na parte superior. Mas, se por um lado, a estrela cadente é um símbolo de reversão de topo, por outro, o martelo invertido é um símbolo de reversão de fundo. O martelo in vertido é um padrão altista depois de uma tendência de baixa, como podemos verificar a seguir.
Análise gráfica 125
FIGURA 5.21 Reversão de baixa Fonte: própria.
GRÁFICO 5.31 Contrato futuro de soja Chicago – fevereiro a março de 2010 Martelo invertido formado no mercado de soja. Fonte: Bloomberg.
Doji
Isoladamente, é o padrão de reversão mais importante e, combinado com outras velas, também vai compor poderosos padrões de reversão. O doji surge quando o preço de abertura é igual ao do fechamento. Em geral, o aparecimento de um doji sinaliza uma clara mudança de tendência, principalmente se os candles posteriores confirmarem seu potencial de reversão.
126 Mercados futuros
Estrela da manhã
Chamada de doji estrela da manhã, pois aparece após uma tendência de baixa e respeita todas as condições necessárias para que seja considerada uma estrela. A análise de dois candles indica que os preços, até então em movimento de queda, sofreram uma impulsão extra de queda. No candle seguinte, a movimentação do mercado entra com força compradora, gerando uma possível reversão de tendência. Esse movimento exige análise de três candles : o primeiro, movimento de queda, o segundo, o mercado oscila, mas abre e fecha com pouca alteração, e o terceiro, mo vimento de força oposta, mostrando possível reversão de tendência. É importante analisar esse movimento em fundos, quando fica mais clara a possível reversão.
FIGURA 5.22 Estrela da manhã Fonte: própria.
GRÁFICO 5.32 Contrato futuro petróleo – junho a julho de 2010 No gráfico fica bem clara a reversão de tendência, tendo em vista a combinação dos três candles. Fonte: Bloomberg.
Análise gráfica 127
Estrela da tarde
É chamada de doji estrela da tarde, pois aparece após uma tendência de alta e respeita todas as condições necessárias para que seja considerada uma estrela. A análise de dois candles indica que os preços, até então em movimento de alta, sofreram impulsão extra de alta. No candle seguinte, a movimentação do mercado entra com força vendedora, gerando uma possível reversão de tendência. Esse mo vimento exige análise de três candles : o primeiro, movimento de alta, o segundo, o mercado oscila, mas abre e fecha com pouca alteração, e o terceiro, movimento de
FIGURA 5.23 Estrela da tarde Fonte: própria.
GRÁFICO 5.33 Contrato futuro café NY – março a junho de 2011 É possível ver uma estrela da tarde formada no mercado diário de café NY. Vale observar que sua confirmação segue no dia posterior com um candle de baixa. Fonte: Bloomberg.
128 Mercados futuros
força oposta, mostrando uma possível reversão de tendência. É importante analisar esse movimento em topos, quando fica mais clara a possível reversão. Bebê abandonado
Existem dois tipos de bebê abandonado, o de topo e o de fundo. Nessa análise, também é importante verificar a sequência de três candles para se confirmar uma possível reversão de tendência. Bebê abandonado de topo
Possui o movimento bastante semelhante ao do doji estrela da tarde, em que o mercado está em tendência de alta (primeiro candle ) e sofre uma impulsão extra de força compradora na abertura do segundo candle . Forma-se um gap (lacuna) em relação ao anterior; porém esse segundo candle oscila, mas abre e fecha muito próximo do mesmo preço, mostrando um equilíbrio das forças. Já no terceiro candle , novamente forma-se um gap, e a força vendedora entra e confirma a formação de um topo.
FIGURA 5.24 Bebê abandonado de topo Fonte: própria.
Análise gráfica 129
Bebê abandonado de fundo
Possui o movimento bastante semelhante ao do doji estrela da manhã, quando o mercado está em tendência de baixa (primeiro candle ) e sofre uma impulsão extra de força vendedora, formando um gap em relação ao candle anterior. Porém, seu segundo candle oscila, mas abre e fecha muito próximo do mesmo preço, mostrando um equilíbrio das forças. Já no terceiro candle , novamente forma-se um gap em relação ao anterior, e a força compradora entra e confirma a formação de um fundo.
FIGURA 5.25 Bebê abandonado de fundo Fonte: própria.
gap
gap
gap
gap
Topo do Bebê abandonado
Fundo do Bebê abandonado
FIGURA 5.26 Bebê abandonado de fundo e topo Fonte: Marcio Noronha. Análise técnica, teorias, ferramentas e estratégias. São Paulo: BM&F, 1987.
130 Mercados futuros
Padrão de engolfamento (engulfing pattern)
O martelo e o martelo invertido são candles individuais que podem enviar importantes mensagens sobre a saúde do mercado. Porém, a maioria dos sinais está baseada em combinações dos candles individuais. O de engolfamento é um dos mais importantes padrões de combinações de candles . Como padrão de reversão, é um dos mais confiáveis. É comumente visto em topos e fundos principais, e sua formação se dá com dois candles de corpos de tamanhos e cores diferentes. Três critérios devem ser observados para caracterizar bem o padrão: 1. Sua tendência tem de estar bem definida, seja ela de alta ou de baixa. 2. Dois candles compõem o padrão, em que o corpo do segundo deve en volver totalmente o do primeiro (não precisando envolver o pavio). 3. O corpo do segundo deve ter cor diferente do primeiro.
GRÁFICO 5.34 Café arábica NY – outubro a novembro de 2011 É possível observar os dois padrões no mercado de café NY, em que, no caso do engolfamento de baixa, o candle preto “envolve” por completo o corpo do candle anterior cinza, e, no engolfamento de alta, o candle cinza “envolve” por completo o corpo do anterior preto, confirmando, assim, tal padrão. Fonte: Broadcast.
Análise gráfica 131
Harami
“Harami” é uma antiga palavra japonesa que significa gravidez. O padrão é formado por dois candles : o primeiro de corpo longo, e o segundo, um pequeno corpo envolto pelo primeiro, em que o candle longo é a mãe, e o pequeno, o feto. Isto é, a barra de hoje (última barra) está envolvi da na de ontem (penúltima barra). É o inverso do engolfamento, em que o último candle envolve o penúltimo e não há a necessidade de os candles serem de cores diferentes.
GRÁFICO 5.35 Café arábica NY – novembro de 2009 Harami formado no mercado de café arábica NY. Fonte: Broadcast.
Marobozu
O padrão é constituído de um único candle , seja ele de alta ou de bai xa, em que, quando altista, vê-se um longo candle de corpo cinza-chumbo (alta), formado por uma abertura na mínima ou próximo do dia, seguido por
132 Mercados futuros
movimento ascendente pelo resto do dia. Quando baixista, vê-se uma longa vela preta (baixa), que abriu na máxima ou próximo a ela, para depois cair até o final do pregão. Tratando-se desse exemplo, o gráfico de período diário é um padrão muito poderoso.
GRÁFICO 5.36 Café arábica NY – fevereiro a maio de 2011 Aqui, no gráfico diário, vemos um marobuzo de baixa no mercado de café arábica de NY. Fonte: Broadcast.
Análise técnica Bastante utilizada atualmente e cada vez mais aprimorada, consiste na análise do comportamento dos preços com base em cálculos matemáticos, quando se busca, por meio de uma série histórica e de uma análise de padrões que se repetem ao longo desse período, condições para que possamos projetar o possível futuro do caminho dos preços e avaliar dentro de um estudo de lógicas matemáticas e probabilidades. Assim, é possível identificar
Análise gráfica 133
se o mercado está sobrecomprado, sobrevendido, se está lateralizado, em tendência de alta ou de baixa, entre outras informações. A análise técnica não leva em consideração fatores externos (notícias, projeções de safras etc.). Afirma-se que todas as informações necessárias para análise técnica já se encontram embutidas nas cotações e tendências transmitidas pelo próprio mercado. Enfatizo, como analista técnico, que os mais importantes instrumentos de toda essa gama de informações são o respeito e o cumprimento da prática sistemática de stop operacional . Mesmo que você nunca tenha ouvido falar a respeito, com certeza entenderá, ao final da leitura deste livro, que a mensagem passada aqui sobre isso é comprovada e deve ser adotada por todos que queiram ingressar nesse mundo fascinante de análise técnica dos mercados. Índice de força relativa (IFR)
É um dos indicadores mais utilizados na análise técnica. Criado em 1978 por Welles Wilder, trata-se de um oscilador que busca mensurar a força compradora e vendedora no intervalo de 14 períodos ( candles ) definidos pelo investidor, podendo ser de 15, 30, 60 ou 120 minutos, diário etc. O IFR varia de 0 a 100; quanto mais próximo de 100, mais sobrecomprado está o mercado, e a qualquer momento poderá entrar uma força vendedora ocasionando possível período de queda. Quanto mais próximo de 0, mais sobrevendido está o mercado, e a qualquer momento poderá entrar uma força compradora ocasionando movimento de alta. Os níveis de 20 e 80 servem de referência para o mercado. Quando o IFR está acima de 80, está ficando bem sobrecomprado e, quando abaixo de 20, está ficando bem sobrevendido. Alguns levam em consideração 30 e 70 como referência. É interessante, no IFR, utilizar uma média móvel de 21 períodos exponenciais. Essa média ajudará a identificar os momentos em que o mercado estiver revertendo as forças compradora e vendedora. O mercado não cai ou sobe em linha reta, mas sofre correções, mesmo em tendência de alta ou de baixa, e o IFR serve justamente para auxiliar e chamar a atenção para os momentos em que essas correções podem ocorrer.
134 Mercados futuros Mercado Sobrecomprado – Caro 100
0
Mercado Sobrevendido – Barato
Mercado Sobrecomprado – Caro 100
0
Mercado Sobrevendido – Barato
FIGURA 5.27 Índice de força relativa Fonte: própria
GRÁFICO 5.37 Contrato futuro café NY – junho de 2010 a junho de 2011 É possível observar o IFR oscilando dentro das bandas de 20 e 80. Nos momentos em que se testou a zona do 80, houve pequenas quedas na sequência. Fonte: Bloomberg.
Análise gráfica 135
Média móvel
É um dos melhores indicadores para se determinar uma tendência de alta ou de baixa. Médias são utilizadas para suavizar o movimento dos preços, buscando rastrear tendências. Como o nome já diz, ela mostra o valor médio de uma amostra de determinado dado. MMA (média móvel aritmética) é uma extensão desse conceito e representa o valor médio, normalmente dos preços de fechamento, em dado período. É interessante utilizar duas médias, de período mais curto e de período mais longo. Quando a média curta (período menor) cruza a longa (período maior) de baixo para cima, indica oportunidade de compra; já quando a média curta cruza a longa de cima para baixo, indica oportunidade de venda. Cada ativo possui um comportamento de preços, e existem softwares no mercado que realizam testes com médias móveis sobre os ativos, buscando identificar aquelas que obtêm melhores resultados. As commodities apresentam um comportamento de preços que costuma favorecer a utilização de médias móveis, pois os fundamentos costumam ser sólidos durante determinado período. Por exemplo, se a safra tende a ser farta, possivelmente o mercado irá precificar uma queda nos preços e vice-versa. O grande obstáculo para utilização de médias móveis são mercados sem tendência, ou seja, oscilações laterais de preços que criam diversos falsos cruzamentos, causando prejuízos e, muitas vezes, a desistência do investidor, que pode acabar perdendo uma
GRÁFICO 5.38 Contrato de café NY – abril a novembro de 2011 Podemos aqui observar os pontos de venda e de compra, muito importantes quando se cruzam as médias. Fonte: Bloomberg.
136 Mercados futuros
chance quando o mercado voltar a ter tendência. A utilização de médias exige muita disciplina, porque existem períodos em que ocorre uma grande sequência de stops (prejuízos). É preciso estar firme, pois a tendência pode recuperar todo o prejuízo, desde que não se tenha alavancado muito o capital, pois, nesse caso, uma sequência de stops poderá liquidar o saldo em conta. Médias também são interessantes quando utilizadas para se definir a tendência de mercado e buscar operações a seu favor. Por exemplo, se as médias móveis estiverem na compra, buscam-se pontos de compra por meio da análise gráfica. O cruzamento de médias próximo ao suporte pode ser uma ótima oportunidade de compra. Estocástico
Criado por George Lane, é um indicador técnico classificado como oscilador, geralmente utilizado para operar em mercados sem tendência, ou seja, lateralizados. Ele mede a capacidade de a força compradora fechar próxima ao valor máximo dentro de determinado período, assim como a capacidade de a força vendedora fechar próxima das mínimas em determinado período. Ele trabalha dentro da escala de 0 a 100 e deve ser utilizado
GRÁFICO 5.39 Contrato futuro café NY – junho de 2010 a junho de 2011 Podemos verificar que, imediatamente após o cruzamento das linhas do estocástico, seja para cima ou para baixo, o mercado tende a mudar de direção, possibilitando montar uma posição ou na compra ou na venda. Fonte: Bloomberg.
Análise gráfica 137 Mercado sobrecomprado – caro 100
0
Mercado sobrevendido – barato
FIGURA 5.28 Estocástico Fonte: própria.
em mercados lateralizados. Possui duas linhas bastante semelhantes às médias móveis. O funcionamento é simples: quando o ativo está trabalhando próximo a uma resistência de preços, o estocástico está acima de 80 e suas linhas estão cruzadas para baixo, pode ser uma oportunidade de venda. Quando o ativo está trabalhando próximo a um suporte de preços e o estocástico está abaixo de 20, com suas linhas cruzando para cima, pode ser uma oportunidade de compra. É um indicador muito interessante para oportunidades de day trade em mercados sem tendência, auxiliando operações baseadas em suporte e resistência. Trix
Trix é um indicador calculado a partir de uma média móvel tripla que busca diminuir os movimentos insignificantes do ativo e tem como prioridade antecipar os movimentos mais significativos. O sinal de compra do trix é dado quando ele muda de tendência e cruza o eixo zero de baixo para cima. Nesse caso, o mercado pode estar se ajustando para entrar em tendência de alta. O sinal de venda do trix é dado quando ele cruza o eixo zero de cima para baixo. Nesse caso, o ativo pode estar entrando em tendência de baixa. Vale ressaltar que quanto mais fechado for o ângulo de cruzamento, mais forte deverá ser o movimento, e sua interpretação se dará pela particularidade de ser o “testa de ferro”, isto é, quando entra em tendência, podemos esperar por uma grande probabilidade de vir a acontecer.
138 Mercados futuros
GRÁFICO 5.40 Contrato futuro café NY – junho de 2010 a junho de 2011 Aqui observamos o comportamento do trix no mercado de café NY, em que ele permanece seguindo sua tendência, suavizando as pequenas oscilações. Deixa notório que, nos movimentos de tendência mais fortes, ele se mantém acima ou abaixo do eixo zero. Fonte: Bloomberg.
Volume
É de extrema importância na direção a ser dada no movimento. Por exemplo, se, em dado momento, o volume negociado começa a aumentar em direção à tendência principal, efetivamente esse volume terá força suficiente para fazer os preços seguirem pelo caminho a ser mostrado pela tendência identificada, tanto nos movimentos de alta como nos de baixa. Vale lembrar que, em todas as análises, quanto maior o volume, mais confiante será o movimento. Costumamos dizer que o volume seria uma espécie de raio X do mercado, que mostra em quais níveis de preços as commodities são mais negociadas naquele período. É interessante utilizar média móvel de 21 períodos exponenciais no volume, a fim de identificar quando o mercado está trabalhando acima ou abaixo da média.
Análise gráfica 139
GRÁFICO 5.41 Contrato futuro de milho CCMU11 – junho de 2010 a junho de 2011 Podemos observar que onde há maior volume negociado, há consequentemente maior oscilação de preços e tendência mais definida. Fonte: Bloomberg.
MACD
Criado em 1979 por Gerald Appel, analista e administrador de recursos em Nova York, o Moving Average Convergence-Divergence (convergência-divergência da média móvel), tem como principal característica identificar os sinais de mudança no equilíbrio das forças entre compradores e vendedores. Consiste no cruzamento de três médias móveis exponenciais, mas que aparecem nos gráficos com duas linhas apenas, cujos cruzamentos geram sinais de compra e venda. A linha do MACD original é formada por uma linha sólida denominada MACD, que corresponde às mudanças mais rápidas de preços do movimento, e uma linha pontilhada, denominada linha do sinal, formada pela própria linha do MACD, suavizada por outra média móvel exponencial. Ela corresponde às mudanças mais lentas do movimento. Nos movimentos mais curtos, esse sinal se reflete no consenso entre os participantes naquele curto período (linha do MACD), e a linha do sinal reflete o mesmo consenso dos participantes, só que em período maior. Quando a linha do MACD cruza para cima a linha do sinal, significa que temos maior concentração dos comprados, situação na qual é recomendável operar na compra, e quando cruza para baixo, teremos maior influência dos vendidos, o que recomenda que operemos na venda. O MACD pode ser visualizado por linhas ou histograma, como no Gráfico 5.42, em que ambos estão plotados.
140 Mercados futuros
GRÁFICO 5.42 Contrato futuro café NY – junho de 2010 a junho de 2011 Aqui podemos visualizar o momento em que a linha MACD (mais clara) cruza a linha de sinal para baixo, temos incremento no volume e consequentemente uma venda e, na situação oposta, uma compra. Fonte: Bloomberg.
Bandas de Bollinger
Desenvolvidas por um grande estudioso chamado John Bollinger, membro da Los Angeles Society of Financial Analyst, consistem em duas linhas, uma na parte superior e outra na inferior do gráfico, traçadas a partir de determinada distância de uma média móvel. Podemos compará-las a uma estrada, cujas linhas laterais (acostamento) formam as bandas, e a linha central forma a média. Sabemos que, assim como os carros tendem a se manter dentro da estrada, os preços tendem a se manter dentro das bandas. Costumam-se usar as bandas para mostrar a hora certa de entrar, sair ou não fazer qualquer posição no mercado. Vamos simplesmente observá-las no momento em que as bandas se abrem como se fossem as “bocas” de um jacaré. Essa é uma boa hora para entrar no mercado (exatamente no momento da abertura das bandas). Quando temos o primeiro sinal de fechamento da “boca”, devemos ficar atentos, pois está chegando a hora de sairmos da operação. Por fim, quando o jacaré dorme com a “boca fechada”, ou seja, lateral, é indicação de que não devemos tomar
Análise gráfica 141
GRÁFICO 5.43 Contrato futuro café NY – novembro de 2010 a novembro de 2011 Aqui temos o gráfico do café NY, em que seus candles respeitam, na maioria das vezes, as bandas de bollinger, gerando compras quando a “boca” se abre – quando temos a tendência de alta –, e venda, quando a tendência é de baixa. Fonte: Bloomberg.
qualquer posição no mercado, e sim esperar a “boca” abrir de novo. Quanto maior sua abertura, mais forte tenderá a ser o movimento; quanto menor, mo vimentos tendem a ser mais fracos. Muitos gostam de efetuar operações de venda quando os preços ultrapassam a banda superior e retornam para dentro, mostrando perda de força, e efetuar operações de compra quando os preços ficam abaixo das bandas e retornam para dentro, mostrando entrada de força compradora e possível retorno à média.
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CAPÍTULO 6
Análise fundamentalista
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uando tratamos de análise fundamentalista, podemos pensar de início que haja muitos e variados motivos para mudança no comportamento dos preços de uma commodity. Entre tantas variáveis, não podemos esquecer que o fator principal para oscilações maiores de preço é um princípio básico da economia: oferta e demanda. Essencialmente, os principais fatores que afetam o preço de uma commodity são oferta e demanda. A despeito disso, se faz necessário avaliar outros fatores importantes, para só então chegar a conclusões. Fatores considerados importantes são: consumo, políticas econômicas, clima, logística, câmbio, taxa de juros, entre outros.
Q
Defina a direção e a siga Por mais que um movimento seja de alta, existirão diversos dias de baixa, que podem confundir a interpretação do movimento. Tendo em vista as oscilações diárias, temos de estar sempre atentos ao fundamento macro, pois, se você acredita que os fundamentos sejam de alta, verá os dias de queda como oportunidades de compra. Porém, chegar a essa conclusão requer estudo e análise. Em 2010 e 2011, estávamos muito convictos da alta dos preços do café arábica, pois estudamos as previsões e acompanhamos a evolução de plantio e
146 Mercados futuros
safra. Sendo assim, carregávamos uma posição grande comprada e comprávamos nos dias de queda e vendíamos nos dias de alta, pois, de acordo com nossa visão e estudo, os dias de queda eram grandes oportunidades de compra. Caso você goste de realizar operações de curto prazo, procure sempre utilizar os fundamentos a seu favor, ou seja, se o fundamento for de alta, busque pontos de compra; se for de baixa, busque pontos de venda. Isso é um reforço, pois o mercado é imprevisível, e devemos tentar ter o máximo de fatores a favor de nossas posições. As commodities costumam fazer movimentos muito amplos de alta ou de baixa e, se você estiver no lado errado, poderá lhe custar muito caro e não vai haver chance de sair sequer no zero a zero. Vamos descrever neste capítulo como podemos avaliar se o fundamento tende a ser de alta ou de baixa, ressaltando que as pessoas que ganharam muito dinheiro no mercado futuro foram as que aproveitaram movimentos amplos de alta ou de baixa, o que requer estudo, estratégia e paciência.
Safras e entressafras É importante saber os períodos de safra e entressafra das commodities, pois assim os preços do mercado são entendidos como um todo. Os contratos que representam essas fases geralmente são os mais líquidos, e o mercado costuma precificar com mais atenção esses vencimentos. Uma prática interessante é buscar operações na compra nos períodos de entressafra e na venda em períodos de safra. Boi
O Brasil possui o maior rebanho comercial de boi, tendo Araçatuba, São Paulo, como praça de referência para preços. O mês de maio é considerado o mês de safra de bois, porque, nessa época do ano, há oferta maior de animais terminados (animais prontos para o abate). O contrato de safra é o BGIK. O período de entressafra é o mês de outubro, BGIV, pois, nessa época, há oferta menor de animais terminados. Com a evolução nas técnicas de confinamento e pasto, cada vez mais a produção está sendo distribuída no decorrer do ano, o que torna cada vez menos marcante os meses de safra e entressafra.
Análise fundamentalista 147
Café
O Brasil é o maior exportador de café do mundo, responsável por mais de 30% do mercado mundial. O período de entressafra do café é em meados de março, e seu contrato é ICFH. A safra de café vai de junho a setembro e é representada principalmente pelo contrato ICFU (setembro). Milho
O Brasil é o terceiro maior produtor de milho do mundo, e mais de 90% são voltados para o consumo interno, principalmente para a alimentação de animais. Apenas 15% são para o consumo humano. O período de safra vai de fevereiro a maio e é representado nos contratos de CCMH (março) e CCMK (maio). O período de entressafra é de setembro a dezembro e é representado principalmente pelo contrato CCMU (setembro). Soja
O Brasil é o segundo maior produtor do mundo e exporta aproximadamente 80% da produção. O período de safra vai de fevereiro a maio e é representado nos contratos de SFIH (março) e SFIK (maio). O período de entressafra é de setembro a dezembro e é representado principalmente pelo contrato SFIU (setembro). Etanol
O Brasil é o maior produtor de etanol, derivado da cana-de-açúcar, do mundo, com produção no Nordeste e Centro-Oeste brasileiros. A safra se dá no mês de maio e é negociada nos contratos ETHK (maio) e ETHX (novembro). A entressafra se dá no período que antecede a safra nos contratos ETHH (março) e ETHJ (abril).
148 Mercados futuros
Oferta e demanda no Brasil e no mundo O Brasil é uma grande potência mundial do agronegócio, sendo mais de 30% do PIB (Produto Interno Bruto) oriundo da atividade agrícola. As exportações agrícolas representam grande diferencial na balança comercial, pois, em muitos anos, temos superávit graças à exportação de commodities. Apesar de sermos essenciais para o mundo na produção, ainda há muito que melhorar, como estradas, portos, desmatamentos, crédito e previsões climáticas, entre outros fatores. O Brasil se tornou referência em otimização de área plantada, pois, nas duas últimas décadas, praticamente dobrou a produção de grãos e oleaginosas com a mesma área de plantio, já que, a cada dia, técnicas e materiais estão evoluindo. É muito comum ver expedições de estrangeiros vindos ao Brasil para visitar fazendas e aprimorar técnicas de produção em seus países. Observe no Gráfico 6.1 do ano de 2007 como, apesar de todo o desmatamento desnecessário que vemos, ainda há muito local onde se pode plantar. Vejamos um pouco sobre a produção brasileira, em que algumas commodities são voltadas ao mercado interno e outras, ao externo. 450.000 400.000 350.000 300.000 250.000 200.000 150.000 100.000 50.000 0
l i s a r B
A U E
a i s s ú R
a i d n Í
a n i h C
Área utilizada
. E . U
o g n o C
a i l á r t s u A
á d a n a C
a n i t n e g r A
o ã d u S
a l o g n A
a i s é n o d n I
Terra potencialmente arável não utilizada
Nota: o dado sobre a área disponível no Brasil exclui a Amazônia Legal. Fonte: FAO.
GRÁFICO 6.1 Aproveitamento de área arável
a i r é g i N
Análise fundamentalista 149
Fundamentos milho
No mercado de milho, são produzidas em torno de 45 a 60 milhões de toneladas por ano, pois varia de acordo com o clima e outras variáveis. O Brasil é o terceiro maior produtor mundial, atrás apenas de China e Estados Unidos, que unidos são os maiores produtores do mundo, com mais de 300 milhões de toneladas por ano, e utilizam o milho como matéria-prima para a produção de combustível. Todos os anos, os produtores decidem quanto irão plantar de milho e soja, pois a área é a mesma, levando em consideração o preço e principalmente o clima, por isso ocorre oscilação na área de plantio anual. Como nos Estados Unidos, o milho é uma alternativa para combustíveis e o preço está relacionado com o do petróleo. A grande autoridade mundial na geração de dados sobre estoques, plantações, demanda e safras é o USDA (United States Department of Agriculture – Departamento de Agricultura dos Estados Unidos). No Brasil, a autoridade sobre os fundamentos do milho é a CONAB (Companhia Nacional de Abastecimento), porém seus relatórios não são tão relevantes quantos os do USDA.
38 37 36 35 34 33 32 31 30 29 28 27 26 25 24
2 9 3 9 4 9 5 9 6 9 7 9 8 9 9 0 0 0 1 0 2 0 3 0 4 0 5 0 6 0 7 0 8 0 9 1 0 9 1 9 9 9 9 9 9 9 9 9 9 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 1 1 1 1 1 1 1 1 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2
GRÁFICO 6.2 Área de cultivo em milhões de hectares de milho nos Estados Unidos Fonte: USDA.
150 Mercados futuros 60 58 56 54 52 50 48 46 44 42 40 38 36 34 32 30 28 26 24 22 20 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
GRÁFICO 6.3 Produção brasileira de milho em milhões de toneladas, segundo o USDA Nota-se a sazonalidade ocasionada pela disputa de território com o plantio da soja. Fonte: USDA.
800 780 760 740 720 700 680 660 640 620 600 580 560 540 520 500 480 460 440
0 9 1 9 2 9 3 9 4 9 5 9 6 9 7 9 8 9 9 0 0 0 1 0 2 0 3 0 4 0 5 0 6 0 7 0 8 0 9 1 0 9 9 9 9 9 9 9 9 9 9 9 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2
GRÁFICO 6.4 Relação entre a produção e demanda mundial de milho
em milhões de toneladas
Observa-se que estão bem ajustadas: em cinza a produção e, em preto, a demanda. Fonte: USDA.
Análise fundamentalista 151
Um indicador bastante importante são os estoques de passagens ou as reservas que cada país possui, essenciais para o equilíbrio econômico e para serem utilizados em casos de emergência. No Gráfico 6.5, segundo a USDA, apresentamos os estoques de passagem de milho do Brasil em milhões de toneladas: 12 11 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 0 1 8 8 9 9 1 1
2 3 8 8 9 9 1 1
4 5 6 8 8 8 9 9 9 1 1 1
7 8 9 8 8 8 9 9 9 1 1 1
0 1 9 9 9 9 1 1
2 3 9 9 9 9 1 1
4 5 6 9 9 9 9 9 9 1 1 1
7 8 9 0 1 9 9 9 0 0 9 9 9 0 0 1 1 1 2 2
2 3 0 0 0 0 2 2
4 5 6 0 0 0 0 0 0 2 2 2
7 8 9 0 0 0 0 0 0 2 2 2
GRÁFICO 6.5 Estques de passagem do Brasil Fonte: USDA. 200 190 180 170 160 150 140 130 120 110 100 90
0 9 1 9 2 9 3 9 4 9 5 9 6 9 7 9 8 9 9 0 0 0 1 0 2 0 3 0 4 0 5 0 6 0 7 0 8 0 9 1 0 9 9 9 1 9 1 9 1 9 1 9 1 9 1 9 1 9 1 9 2 0 2 0 2 0 2 0 2 0 2 0 2 0 2 0 2 0 2 0 2 0 1 1
GRÁFICO 6.6 Estoque de passagem mundial de milho em milhões de toneladas Fonte: USDA.
152 Mercados futuros
Resumidamente, para que se possa definir um viés fundamentalista sobre determinada commodity, é importante saber qual a participação do Brasil no mundo, quais os principais produtores e acompanhar as estimativas de oferta e demanda nacional e mundial. Com esses dados, já se consegue definir um panorama para o futuro e pautar suas decisões com base nessas informações. A seguir, apresentamos no Gráfico 6.7 os maiores produtores mundiais. Deve-se sempre estar atento às produções e demandas desses países, pois, atualmente, os fatores climáticos têm prejudicado muito as plantações, e, quando isso atinge grandes produtores, os preços podem sofrer alterações.
350
300
250
200
150
100
50
0 EUA
CHINA
EUROPA
BRASIL
ARGENTINA
GRÁFICO 6.7 Maiores produtores mundiais de milho em milhões de toneladas Fonte: USDA.
Observe o Gráfico 8 comparativo de dois anos entre o milho CBOT (linha preta) e o milho na BM&F (cinza). Existe certa correlação, porém não é tão expressiva, pois o milho produzido no Brasil é destinado em sua maior parte ao mercado interno.
Análise fundamentalista 153
GRÁFICO 6.8 Gráfico comparativo milho CBOT x BM&F Fonte: Broadcast.
Fundamentos soja
No mercado de soja, o Brasil é o segundo maior produtor mundial, e boa parte da produção é exportada principalmente para a Ásia, onde se encontram os maiores consumidores do mundo. A soja é utilizada no Brasil como ração 34 33 32 31 30 29 28 27 26 25 24 23 22 21
2 9 3 9 4 9 5 9 6 9 7 9 8 9 9 0 0 0 1 0 2 0 3 0 4 0 5 0 6 0 7 0 8 0 9 1 0 9 1 9 9 9 9 9 9 9 9 9 9 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 1 1 1 1 1 1 1 1 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2
GRÁFICO 6.9 Área de cultivo de soja em milhões de hectares nos Estados Unidos Fonte USDA.
154 Mercados futuros
para aves, suínos e para alimentação humana por meio de seus derivados. A produção brasileira gira em torno de 60 milhões de toneladas e, por possuir grande fluxo de exportação, os preços são correlacionados com a soja negociada na Bolsa de Chicago, devido à internacionalização da commodity. Os Estados Unidos são os maiores produtores mundiais de soja, também utilizada como matriz energética alternativa ao petróleo. 90 85 80 75 70 65 60 55 50 45 40 2 3 8 8 9 9 1 1
4 8 9 1
5 8 9 1
6 7 8 8 9 9 1 1
8 8 9 1
9 8 9 1
0 9 9 1
1 2 9 9 9 9 1 1
3 9 9 1
4 5 6 9 9 9 9 9 9 1 1 1
7 9 9 1
8 9 9 1
9 9 9 1
0 0 0 2
1 2 0 0 0 0 2 2
3 0 0 2
4 5 0 0 0 0 2 2
6 7 0 0 0 0 2 2
8 0 0 2
9 0 0 1 0 0 2 2
GRÁFICO 6.10 Evolução da produção de soja nos Estados Unidos
em milhões de toneladas Fonte: USDA.
Vejamos, no Brasil, a produção de soja em milhões de toneladas, em que há oscilações anuais devido à competição de área com o milho. Geralmente, quando os preços da soja estão bons num ano, no ano seguinte, seu plantio é maior e vice-versa (Gráfico 6.11). Oferta e demanda mundial de soja em milhões de toneladas, que, como no caso do milho, também estão bastante justas, sem muitos excedentes, em cinza a produção e, em preto, a demanda (Gráfico 6.12).
Análise fundamentalista 155 65 60 55 50 45 40 35 30 25 20 15 10
0 9 1 9 2 9 3 9 4 9 5 9 6 9 7 9 8 9 9 0 0 0 1 0 2 0 3 0 4 0 5 0 6 0 7 0 8 0 9 1 0 9 9 9 9 9 9 9 9 9 9 9 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2
GRÁFICO 6.11 Produção brasileira de soja Fonte: USDA.
240 230 220 210 200 190 180 170 160 150 140 130 120 110 100 90
0 1 2 3 4 0 5 6 0 7 0 8 0 9 0 9 1 9 2 9 3 9 4 9 5 6 9 7 9 8 9 9 0 9 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 9 9 9 0 0 9 9 9 9 9 9 9 0 9 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2
GRÁFICO 6.12 Produção de demanda mundial de soja Fonte: USDA.
156 Mercados futuros 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 EUA
BRASIL
ARGENTINA
CHINA
GRÁFICO 6.13 Maiores produtores mundiais em milhões de toneladas Fonte: USDA.
Por ser uma commodity internacionalizada, é essencial saber quem são os maiores importadores e exportadores em milhões de toneladas de soja no mundo, bem como acompanhar como andam suas compras e vendas através dos relatórios do USDA.
Principais Importadores Mundiais de Soja (mi/tons) 40 35
33.500
30 25 20
15.761
15 10 4.150
5
3.950
2.475
0 China
EUA
Japão
México
GRÁFICO 6.14 Principais importadores mundiais de soja Fonte: USDA, com dados de 2008.
Taiwan
Análise fundamentalista 157 Principais Exportadores Mundiais de Soja (mi/tons) 35 30.688 30
26.535
25 20 15 10.200 10 4.900 5 0 China
EUA
Argentina
Paraguai
GRÁFICO 6.15 Principais exportadores mundiais de soja Fonte: USDA, dados de 2008.
GRÁFICO 6.16 Comparativo de cinco anos entre a soja CBOT (linha preta)
e a soja na BM&F (cinza)
É notória a grande correlação entre ambas. Fonte: Broadcast.
158 Mercados futuros
Fundamentos boi gordo
No mercado de boi gordo, o Brasil é o maior exportador mundial, e o curioso é que exporta apenas cerca de 30% de toda a produção, sendo que o restante é absorvido pelo mercado interno. Como a maior parte da produção é voltada ao mercado interno, os preços são balizados sobretudo pela oferta e demanda internas e pelo volume de vendas para alguns países-chave que importam nossa carne. O Brasil possui o maior rebanho comercial do mundo, que chega próximo ao número de habitantes do Brasil, aproximadamente 200 milhões de cabeças. O maior rebanho existente é o da Índia. Porém, lá são animais considerados sagrados e não são utilizados para fins de consumo. A carne brasileira sofre muito preconceito por parte dos europeus, que vivem criando empecilhos e barreiras sanitárias a fim de prejudicar a entrada de nossa carne na Europa. A Rússia, um dos maiores compradores do Brasil, também seguidamente cria obstáculos, usando as mais diversas alegações, e, muitas vezes, essas barreiras atingem diretamente os preços na BM&F. Nossos maiores
Norte 20%
Nordeste 13,5%
Centro-Oeste 34,3%
Sudeste 19% Sul 13,2%
FIGURA 6.1 Distribuição do rebanho pelas regiões do Brasil Fonte: própria.
Análise fundamentalista 159 Outros países União Europeia Uruguai Canadá Nova Zelândia Argentina EUA Índia
6,10%
1,80% 5,10% 6,00% 6,50% 7,00% 8,50% 9,70% 18,40%
Austrália Brasil
30,90%
GRÁFICO 6.17 Maiores exportadores mundiais de boi gordo e suas
participações em percentuais Fonte: simcorte.com.
concorrentes nas exportações são Austrália, Argentina e Uruguai, e os maiores compradores, Chile, Rússia, Europa e Líbano. O Líbano possui regras muito curiosas para os frigoríficos poderem vender para eles. Os bois devem ser sacrificados de frente para a foto de uma figura importante no país, e o abate deve seguir uma metodologia específica, com procedimentos diferentes dos utilizados convencionalmente. Fato bastante conhecido no mercado de boi gordo, demonstrado no gráfico a seguir, foi a alta ocorrida nos anos de 2007 a 2009. Muitos fundos e pessoas ganharam muito dinheiro com a alta, além do fato de que o contrato futuro de boi gordo é um dos mais alavancados, portanto os ganhos podem ser bem expressivos (Gráfico 6.18). Para estudos fundamentalistas, é muito importante acompanhar os preços da arroba no site http://cepea.esalq.usp.br/boi diariamente, pois lá existem históricos que possibilitam análises e servem como referência para o dia a dia do mercado de boi gordo na BM&F.
160 Mercados futuros
GRÁFICO 6.18 Contrato futuro boi gordo – julho de 2007 a julho de 2008 Fonte: Broadcast.
Fundamentos café arábica
Além de ser o maior produtor mundial de café arábica, o Brasil é fundamental para a produção mundial, pois os concorrentes produzem volumes menos expressivos que nós. Porém, alguns países como a Colômbia são destacados internacionalmente pela qualidade de sua safra. O Brasil evoluiu muito na produção de café, e hoje possui condições de disputar com as melhores safras do mundo, mas ainda está atrás no marketing, o que faz o nosso café ter menor aceitação internacional, sendo vendido abaixo do preço do colombiano, por exemplo. Nosso café arábica possui grande correlação com o negociado na Bolsa de Nova York, pois é uma commodity internacionalizada e tem seus contratos futuros muito utilizados por fundos e hedgers. O maior consumidor mundial de café é a Europa, onde o consumo é bastante alto no inverno e menor no verão. A safra brasileira sofre de sazonalidade conhecida como bienalidade, pois, por ser produzida em árvores, temos um ano de safra maior e um ano de safra menor, o que impacta na produção nacional e internacional. Seguidamente, analisamos relatórios equivocados sobre a produção brasileira e, por isso, muitas vezes tivemos bem claros os fundamentos de alta, pois a CONAB gera relatórios de safra que muitas
Análise fundamentalista 161
vezes erram percentuais grandes. A OIC (Organização Internacional do Café) faz relatórios mais confiáveis, mas que também apresentam alguns erros. A geada no Brasil é um dos maiores inimigos de quem planta café, por isso a suspeita ou previsão de geada já agita o mercado futuro. Por isso, é importante estar sempre de olho neste fator. Observe a grande correlação do café na BM&F (linha branca) com o café em NYBOT (linha cinza) nos últimos dois anos:
GRÁFICO 6.19 Comparativo contrato futuro café arábica BM&F com NYBOT –
maio de 2010 a novembro de 2011 Fonte: Bloomberg.
Um das correlações interessantes do café (linha branca) é com o petróleo (linha cinza). Veja no Gráfico 6.19, que retrata um período de cinco anos, que o petróleo em 2008 teve alta muito acentuada, que distorceu a relação. Essa correlação deve-se ao fato de o petróleo ser a commodity com maior participação no CRB (índice das commodities), o que acaba influenciando as demais, principalmente o café, cuja correlação pode chegar a 95%, ou seja, se um subir, o outro também sobe. Atualmente, a correlação diminuiu e está em torno de 12%.
162 Mercados futuros
GRÁFICO 6.20 Comparativo entre contrato futuro café arábica e petróleo
– maio de 2010 a novembro de 2011 Fonte: Bloomberg.
Como as sacas do café (linha branca) são cotadas em dólar (linha cinza), ele possui correlação inversa com a moeda, ou seja, altas muito fortes no dólar podem derrubar o preço do café, assim como quedas no dólar podem impactar no aumento de preço desta commodity. No Gráfico 6.21, fica claro que a queda da cotação do dólar ajuda o preço da saca de café a subir e vice-versa.
GRÁFICO 6.21 Comparativo contrato futuro café arábica com dólar
– junho de 2010 a novembro de 2011 Fonte: Bloomberg.
Análise fundamentalista 163
Também é interessante acompanhar o Gráfico 6.22 do café em reais, pois dessa forma sempre se tem informação do impacto do dólar sobre o preço em reais.
GRÁFICO 6.22 Contrato futuro café arábica BM&F
– novembro de 2010 a novembro de 2011 Fonte: Bloomberg.
Fundamentos etanol
O Brasil é o maior produtor mundial de etanol a partir da cana-de-açúcar. Desde 1930, nosso país já mistura o etanol à gasolina, porém, somente em 1975, com o Programa Nacional do Álcool, é que o Brasil começou a criar condições para o surgimento dos bicombustíveis. Na época, o país sofria com a alta do petróleo e possuía uma produção muito grande de açúcar, com as usinas de álcool bastante ociosas, o que viabilizou a implementação do programa. A partir de então, montadoras começaram a produzir carros a álcool, e refinarias começaram a produzir o álcool que utilizamos até hoje. Nos últimos 30 anos, com a utilização de álcool no Brasil, foram economizados mais de um bilhão de barris de petróleo, que equivalem a 19 meses da produção atual, e, nos últimos oito anos, foram economizados US$61 bilhões em importações de petróleo. Para nos auxiliar nos fundamentos do etanol, é importante acompanhar a produção de cana-de-açúcar no Brasil, assim como os preços internacionais do açúcar, pois o produtor pode optar produzir açúcar e não etanol. Além disso, os preços do petróleo impactam diretamente no interesse
164 Mercados futuros
e procura pelo etanol. O consumidor final sempre coloca na balança o custo/ benefício em relação à gasolina, obtendo um parâmetro sobre a vantagem da utilização ou não do etanol. No Gráfico 6.23, comparativo entre Etanol BM&F e Petróleo NY, fica evidente a correlação inversa entre os preços, que pode chegar a 83% em alguns períodos, ou seja, um sobe e o outro desce quase na mesma proporção.
GRÁFICO 6.23 Comparativo de um ano entre o etanol (linha branca)
e o petróleo (linha cinza)
Em alguns períodos, é bastante evidente a relação inversa dos ativos. Fonte: Bloomberg.
O etanol (linha branca) e o açúcar (linha cinza), cotação internacional, possuem correlação direta, que algumas vezes pode chegar a 85% e, atualmente, encontra-se em torno de 40%, pois, quando o preço do açúcar sobe, os produtores destinam a produção de cana-de-açúcar para o açúcar, o que faz a oferta de etanol diminuir e os preços subirem também.
Análise fundamentalista 165
GRÁFICO 6.24 Comparativo entre os preços do etanol e do açúcar. Comparação
feita entre preços na parte superior e diferença de preço na parte inferior Fonte: Bloomberg.
Índice CRB (Commodity Research Bureau) Esse índice é o balizador no mercado internacional sobre a evolução dos preços das commodities no mundo, pois é composto de 19 commodities cotadas nas bolsas de CBOT, LME, CME e COMEX, em que cada commodity possui um percentual de participação sobre o índice. Criado em 1957, é um dos maiores indicadores econômicos em se tratando de commodities, e o maior peso em sua constituição é o petróleo, com 23% de participação. O Gráfico 6.25 ajuda a visualizar as commodities que compõem o índice e suas respectivas participações. O índice CRB é utilizado mundialmente para se obter o contexto geral sobre o comportamento dos preços das commodities, que são “a matéria-prima do mundo”.
166 Mercados futuros Os 19 componentes da Thomson Reuters/Jefferies CRB têm o seguinte percentual: Gasolina Trigo 5% 1% Alumínio Açúcar 5% 6% Cacau 5% Prata Soja Café 1% 6% 5% Suco de Cobre laranja 6% 1% Níquel 1% Gás natural Milho 6% 6% Gado Algodão 6% 5% Porco 1% Ouro Petróleo bruto Gasóleo 6% 23% 5%
GRÁFICO 6.25 Distribuição dos ativos no índice CRB Fonte: Reuters.
Como interpretar os fundamentos Embora haja distintos tipos de análise fundamentalista, que enfatizam diferentes fundamentos, não poderemos nunca deixar de analisar e questionar se tais indicadores podem afetar diretamente a oferta e procura de determinada commodity. Podemos, através de estudos e observações cuidadosas, aprender a reconhecer e identificar quais fatores podem causar maior impacto sobre os preços. Nesta seção, daremos uma visão geral dos fundamentos por meio de dados e previsões confiáveis, os quais, temos certeza, serão de suma importância na análise fundamentalista dos mercados futuros. A maneira mais fácil de obter uma avaliação fundamentalista sobre os preços de uma commodity é, primeiramente, verificar quais fatores podem afetar sua oferta. Para os mercados agrícolas, uma mudança nos níveis de oferta resultantes de alteração na perspectiva de produção de safra, por exemplo, terá maior impacto que a perspectiva de procura, o que faz prestarmos mais atenção a tal mudança na oferta. Obtidas essas estimativas, um dos procedimentos básicos será compará-los com as estimativas dos anos anteriores e avaliar sua importância dentro da atual conjuntura em termos de modificação dos níveis
Análise fundamentalista 167
de preço. Nosso objetivo, é claro, será identificar e avaliar quais fatores, pro vavelmente, exercem maior influência sobre determinada commodity. Devemos, portanto, fazer uma breve análise macro da economia como um todo, identificar onde poderá “interferir” em sua commodity e, aí sim, partir para a visão mais micro dos fatos, para a tomada de decisão. Veja, a seguir, alguns exemplos de fatores que podem influenciar os preços. MACRO
MICRO
Balança comercial
Mudança no poder de mercado dos produtores
Taxa cambial
Mudança nos gostos
Política fiscal
Custo de insumos
Condição da economia
Ameaças à produção
Taxas de juros
Mudanças climáticas
A oferta total compreende o estoque ( carryover ), no início do ano, de comercialização, a produção da safra e a importação estimada. Os estoques governamentais costumam não estar prontamente disponíveis para satisfazer às necessidades esperadas de consumo interno e de exportação. Os relatórios sobre plantio do USDA, emitidos na primavera, e sobre estimativas de safra, emitidos de agosto a novembro, são amplamente utilizados e ansiosamente aguardados por representarem fontes de informação sobre oferta. Além disso, essas informações são comumente tratadas em relatórios privados. Em muitos países, não existem relatórios completos e oportunos sobre oferta e procura de uma safra. Para o cacau, por exemplo, o comércio aceita estimativas da produção e consumo mundiais elaboradas pela Gill & Dufus – organização britânica líder nas áreas de comércio e serviços estatísticos. Com relação ao açúcar produzido no mundo, as estimativas produzidas pela F.O. Licht, com sede na Alemanha, possuem grande aceitação. Para o café, temos a OIC, além das já citadas, e assim sucessivamente para todas as commodities. Analisemos, agora, o lado da procura por uma commodity, situação na qual levaremos em consideração dois componentes principais: consumo interno e exportações. Estas, por serem menos previsíveis, recebem mais atenção como fator de preço que a demanda interna. Como na oferta, em que os relatórios do USDA representam importante fonte de informação sobre
168 Mercados futuros
fatores que afetam diretamente a demanda. Os Estados Unidos são um dos poucos países que divulgam relatórios e projeções periódicos e confiáveis sobre oferta e procura de determinada commodity, assim como projeções de demanda para a próxima temporada. Os boletins trimestrais de grãos do USDA (stocks in all positions ) comparam os estoques na última data de registro com os disponíveis no final do trimestre anterior e nos anos anteriores, mostrando “desaparecimento” da commodity durante esse período. Grandes variações entre as projeções de demanda do USDA e o desaparecimento ou utilização real chamam a atenção dos analistas de exportação. Os detalhes das transações particulares de exportações raramente são divulgados ao público, somente computados após a divulgação do USDA. Atualmente, o monitoramento do USDA exige a divulgação de exportações de 100 mil toneladas ou mais por exportador, a qualquer tempo e a qualquer destino. Por exemplo, mais de 70% da exportação de trigo dos Estados Unidos é feita por meio de programas governamentais. Os principais programas são os de incentivo, de garantia de créditos comerciais e o de vendas concessionais e de doações, em que os países compradores se beneficiam por prazos longos de pagamento e taxas baixas de juros (Public Law 480). Os boletins do USDA, bem como suas estimativas de oferta e procura, mais frequentes, contêm projeções mensais da demanda total de exportação para a temporada, ajustadas pelos relatórios oficiais de exportação conforme seu prosseguimento. Esses dados são amplamente utilizados como ponto de referência, por meio dos quais é possível avaliar o desenvolvimento das exportações e seu impacto sobre o equilíbrio entre oferta e procura. A análise e avaliação da perspectiva de exportação de determinada commodity exigem maior atenção em dois pontos cruciais: em relação à competição, qual será a provável oferta exportável da maioria dos países exportadores? Em relação a clientes potenciais, qual é a situação da oferta de países importadores que também produzem uma parcela para consumo próprio? Nesses casos, os relatórios especiais de serviços de agricultura exterior do USDA proporcionam uma perspectiva de níveis de produção e oferta dos países importadores e exportadores. Em suma, munidos das informações essenciais sobre oferta e procura de determinada commodity, o próximo passo do analista será avaliá-las. É preciso ter em mente que projeções, previsões e relatórios sobre commodities agrícolas
Análise fundamentalista 169
não passam de estimativas. Elas não representam os preços ao pé da letra e, portanto, devem ser tratadas como aproximação e ferramenta de trabalho. Se a oferta parecer pequena, os preços subirão, mas toda a demanda por esse preço será sempre atendida e, no caminho de volta, se a oferta parecer grande, os preços cairão. O analista deve monitorar as notícias internacionais para localizar os acontecimentos que poderão ter impacto substancial sobre as commodities num mercado cada vez mais globalizado. Não basta simplesmente monitorar o mercado local para acompanhá-lo; impactos podem ser causados por mudanças em qualquer parte do mundo.
Indicadores importantes Grãos externos
FAPRI (Food and Agricultural Policy Research Institute). Produz relatórios sobre os vetores de oferta e demanda nos Estados Unidos. Não tem periodicidade. •
Consultorias •
•
Informa e FC Stone, ambas nos Estados Unidos. Farm Futures, nos Estados Unidos, e Oil World, na Alemanha.
Grãos internos •
•
•
CONAB e IBGE/MAPA. Consultorias e Safras e Mercado. AG Rural e Agroconsult.
Café externo •
•
•
•
ICO ou OIC (International Coffee Organization). USDA. Departamento de agricultura de países produtores. Corretoras americanas.
170 Mercados futuros
Café interno •
•
•
•
CONAB. IBGE. Corretoras brasileiras. Tradings que operam café.
Boi gordo •
•
•
Assocon (Associação Nacional dos Confinadores). CNA (Fórum Nacional Permanente de Pecuária de Corte). Agra FNP (consultoria brasileira).
Sites importantes Órgãos governamentais •
•
•
•
•
•
Companhia Nacional de Abastecimento – www.conab.gov.br Instituto de Economia Agrícola – www.iea.sp.gov.br IBGE – www.ibge.gov.br Departamento de Agricultura dos Estados Unidos – www.usda.gov Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada – www.cepea. esalq.usp.br Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – www.embrapa.br
Consultorias •
•
•
Safras e Mercado – www.safras.com.br Agência Rural – www.agrural.com.br Celeres – www.celeres.com.br
Associações •
•
•
Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais – www.abiove. com.br Associação Brasileira dos Exportadores de Cereais – www.anec.com.br Aprosoja – www.aprosoja.org.br
Análise fundamentalista 171
Bolsas e notícias •
•
•
•
•
•
•
http://www.cbot.com/ http://www.agriculture.com/ag/ http://www.bloomberg.com/news/markets/commodities.html http://www.ino.com/ http://dtnag.com/dtnag/ http://www.usda.gov/wps/portal/usdahome http://www.noticiasagricolas.com.br
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CAPÍTULO 7
Dia a dia no mercado: guerra de trincheira
Página deixada intencionalmente em branco
uando iniciamos nos mercados futuros, a grande parte de nosso aprendizado veio da experiência daqueles que já atuavam nele, tendo em vista que a literatura no Brasil é restrita, os cursos são poucos e, muitas vezes, apenas técnicos. Entrar despreparado num mercado em que se opera alavancado pode custar caro, pois a falta de conhecimento não é perdoada e, infelizmente, logo surgem os aprendizados da prática, que, muitas vezes, custam caro sob os aspectos financeiro e psicológico. No universo dos mercados futuros, existem participantes que atuam há anos e sabem quem é quem, como operam, quais seus interesses, e assim por diante. Quando algum movimento atípico começa a ocorrer na BM&F, logo todos ficam curiosos querendo descobrir quem está por trás, qual a forma de operar, qual o nome etc. Claro que isso só acontece quando são volumes maiores, pois, se não for esta a sua situação, passará despercebido, mas sempre deve ter consciência de que, principalmente no mercado de commodities do Brasil, a grande maioria sabe quem é quem. Para se ter ideia, nas poucas vezes em que cometemos erros de digitação e enviamos ordens erradas, verificamos no histórico a corretora que serviu de contraparte e chamamos a pessoa pelo MSN, para solicitar o cancelamento de ordem por erro. Caso ela autorize, o cancelamento é feito por uma ligação para a Bolsa. Quando as negociações nos mercados futuros iniciaram, havia poucas corretoras e possuíam todo o fluxo operacional centralizado em suas mesas de operações, principalmente
Q
176 Mercados futuros
em São Paulo. Então, se você visse a atuação de determinada corretora e quisesse falar com o responsável, bastava ligar para a mesa principal e negociar diretamente com a pessoa. Atualmente, com a forte evolução da tecnologia, as pessoas já podem operar de casa e não precisam mais ligar para a mesa de operações para dar ordens, o que é muito bom, pois o mercado está ficando cada dia maior, e é cada vez mais difícil saber quem é quem e qual sua intenção. O aprendizado na prática nos custou alguns milhões, muitas queimações no estômago e horas de reflexão. Nosso maior intuito é que tudo isso não tenha sido em vão e que possamos passar um pouco de nossa experiência, erros e acertos e também como pensam algumas pessoas importantes que atuam nesse mercado há anos. Sempre devemos respeitar quem atua há muito tempo no mercado futuro, pois ele não perdoa os despreparados que, sucumbidos pela ganância dos ganhos alavancados, acabam quebrando. Queremos ajudá-lo a ser um investidor que usufrua das excelentes ferramentas do mercado futuro durante muitos e muitos anos.
Regras de ouro Sempre devemos ter um norte, uma referência que nos ajude na tomada de decisão nos momentos cruciais. Reunimos algumas frases que devem ser lidas seguidamente, devem estar no nosso inconsciente, pois quanto mais as lermos, mais farão parte de nossas decisões. Um trader disciplinado é aquele que, mesmo com o viés errado, consegue ganhar dinheiro, pois a disciplina o faz identificar o erro rapidamente e “virar a mão” para seguir o fluxo do mercado. Deixe sempre seu ego de lado. Quando conversar com alguém de mercado com ego muito elevado, pode ter certeza de que se trata de um novato. O ego é um dos maiores inimigos de um trader , pois ele o faz aguentar posições perdedoras por mais tempo do que deveria. Lembre-se sempre de que você não está no mercado para acertar se ele vai subir ou cair, mas sim para ganhar dinheiro, e, para onde ele for, você deve estar dentro. Primeiro, gostaríamos de enfatizar que não somos os criadores dessas frases, mas as temos em um painel estampado na parede. Se você ler uma delas por dia, respeitá-la e refletir sobre ela, poderá se tornar um grande investidor. Sempre que precisar, releia as frases, pois ajudam muito a ter disciplina:
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A tendência (alta ou baixa) é sua amiga. Compre no suporte/venda na resistência. Realize seu lucro “sempre” cedo demais. Leve o dinheiro deles, antes que eles levem o seu. Pior que ganhar pouco, ou não ganhar nada, é perder. Lucro, mesmo que pequeno, não quebra ninguém. Em especulação financeira, uma autópsia gera aprendizado, não lucros. Compre ao som dos canhões e venda ao som dos violinos. Não se aborreça por perder uma alta, e sim por perder dinheiro. Não lamente perdas virtuais. Não comemore lucros virtuais. Sucesso é hábito, fracasso também. Habitue-se a ganhar sempre. Disciplina: seja fiel à sua estratégia. Ousadia: arrisque-se dentro de sua estratégia. Humildade: liquide imediatamente uma posição perdedora. Stop fere a vaidade e preserva o bolso. Use stop de entrada e de proteção de lucros. O melhor stop é o que não precisa ser acionado. Olhe para o gráfico com olhos de criança. Mantenha as coisas simples. Feeling só deu dinheiro ao Morris Albert (autor da música “Feelings” ). Seu uso no mercado é desastroso. Descubra à noite no noticiário o que o gráfico lhe mostrou durante o dia. Lugar de torcedor é na arquibancada; seja um especulador. No mercado, o mais importante não é participar, é ganhar. Se você operar só opções, vai “quebrar” independentemente do tamanho do seu caixa. Aprenda a operar em mercados de alta (compra) e baixa (venda). Não jogue, especule. Viciados em mercado morrem rapidamente de overdose. Após uma sequência de erros, pare e ajuste o foco. O mercado jamais estará contra você, mas você poderá estar contra si mesmo. Sorte é o encontro mágico entre a competência e a oportunidade. Encare a perda com serenidade. Administre os lucros com discrição. O que está ruim pode ficar ainda pior.
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Acertar o “fiofó” da mosca é uma lenda, ele não existe. Ao liquidar uma posição, jamais fique imaginando quanto ela ainda poderia lhe render. Mais importante que ter muito ou pouco dinheiro é ter uma estratégia que funcione. Não queira se tornar milionário da noite para o dia, mas dia após dia. Ao liquidar uma posição, compre do vendedor e/ou venda ao comprador. Não fique deixando de executar a ordem para tentar sair com alguns centavos a mais. Uma tendência não retorna para mendigar centavos. Por um tostão, você pode perder um milhão. Se o mercado lhe envia sinais confusos, fique fora dele. Se em determinado momento você achar que o mercado está errado, volte à realidade, o errado é você! O mercado será cruel ou generoso com você tanto quanto sua própria disciplina permitir. O medo de perder fará com que você perca ainda mais. Se o barco começar a afundar, não reze, abandone-o! A esperança de ganhar mais fará com que você ganhe menos. Jamais especule usando um “achômetro” ou o “Teorema de Chutágoras”. O mercado se movimenta em três direções: para cima, para baixo ou de lado. Somente as duas primeiras interessam. Somente entre no mercado tendo uma porta e uma janela para sair. Em especulação, o lucro é como um picolé ao sol; você chupa ou ele derrete em sua mão. No mercado, o otimista perde muito e o pessimista ganha pouco. Seja realista. Especular é simples, mas não é fácil. Às vezes as coisas são tão simples que você as negligencia. Ao especular, é preciso agir rápido ou ficar de fora. Entre no mercado somente quando tiver certeza de que as condições são favoráveis à sua operação. Ficar furioso com o mercado é pura tolice. No mercado, o importante não é ser altista (touro) ou baixista (urso). O im portante é estar do lado certo, ou seja, “estar” altista ou “estar” baixista. Você precisa confiar em si mesmo e em suas análises se quiser ser um especulador de sucesso.
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Dê ouvidos aos “especialistas” e você estará falido. Especulação é um negócio árduo, que exige persistência. Só existe uma maneira de uma pessoa se convencer definitivamente de que está errada: deixe-a perder dinheiro. Quando você descobre o que não deve ser feito com o objetivo de não perder dinheiro, começa a aprender o que fazer a fim de ganhar dinheiro. Uma das coisas mais úteis que alguém pode aprender é desistir de agarrar o último ou o primeiro centavo. Enxergue não só as árvores, mas toda a floresta. Um cliente que ganha dinheiro é um ativo para qualquer corretora. Para ser um vencedor no mercado, você não pode ser meramente um estudioso, tem de ser estudioso e especulador. Mais importante que os preços é o timing (tempo da entrada e saída). Todo erro no mercado atinge dois pontos delicados: seu bolso e sua autoestima. Quando você está na ponta certa no mercado, duas forças trabalharão a seu favor: o noticiário e todos os que estão posicionados na ponta errada. Os principais inimigos de um especulador estão em sua própria mente: medo e esperança, pânico e euforia. Um grande número de desastres de especuladores brilhantes pode ser atribuído diretamente à presunção. Esteja convencido de que, se alguma coisa está errada, é com você, não com o mercado. A manipulação é a principal desculpa usada para justificar as perdas de especuladores despreparados. Aqueles que vivem à procura de palpites na realidade não estão buscando bons palpites, mas qualquer palpite. Você pode transmitir conhecimento, isto é, sua própria coleção de fatos arquivados na memória, mas não sua experiência. Você pode saber o que fazer e mesmo assim perder dinheiro se não fizer rápido o suficiente. O mercado tem razões que a própria razão desconhece. Se você acredita que pode ou que não pode, de qualquer maneira você tem razão. Tenha sempre em mente que seu objetivo é ganhar dinheiro.
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Palavras sábias de Jesse Livermore
Muito poucos traders fizeram (e perderam) fortunas no mercado financeiro, como Jesse Livermore. Cerca de um século atrás, ele se tornou um dos mais celebrados especuladores de todos os tempos. Memórias de um operador da Bolsa , de Edwin Lefèvre (Rio de Janeiro: Campus/Elsevier, 2008), é um livro que conta a trajetória de Livermore no mercado financeiro. Valendo-se de um texto fácil, o autor oferece uma rápida visita à mente de um dos grandes traders de todos os tempos. É possível aprender com Livermore, enquanto ele ganhava e perdia milhões no mercado de ações americano. A seguir, apresentamos algumas citações de Jesse Livermore, retiradas desse livro. Esses conselhos representam a experiência de um trader que enfrentou diversas situações, inclusive o famoso crash de 1929: •
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Nunca opere com base em dicas. Use um sistema e não saia dele. Nunca compre um ativo porque ele teve uma grande queda. Não culpe o mercado pelas suas perdas. Nunca aumente uma posição perdedora. Uma posição perdedora significa que você está errado. Sempre venda o que mostra um prejuízo e mantenha o que está dando lucro. Não discuta com o mercado. Não procure recuperar o prejuízo. Saia enquanto a saída é boa – e barata. Existe somente um lado no mercado financeiro. E não é o lado do touro (alta) nem o urso (baixa), mas o lado certo. O maior inimigo de um especulador é sempre o tédio. Um homem deve sempre confiar em si mesmo e no seu julgamento se espera ganhar a vida com essa profissão. Sempre use gerenciamento de capital. Estabeleça o seu plano de trade antes que o mercado abra. Detalhe o seu plano para cada operação. Estabeleça pontos de entrada e saída e entenda a relação entre risco e retorno. Aceite pequenas perdas como parte do jogo se quiser vencer. Não se concentre no valor em que você empata quando estiver perdendo.
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Não liquide uma posição vencedora para manter uma perdedora. Desenvolva e mantenha um plano de saída. Siga esse plano com rígida disciplina. Tenha paciência. Grandes movimentos demoram a se desenrolar. Não fique curioso demais sobre a lógica por trás de um movimento. A chave para a fortuna no mercado é a simplicidade.
A trajetória e o conhecimento dos grandes traders são ótima fonte de aprendizado. Podemos entender melhor o mercado através da sabedoria que eles adquiriram durante crises assustadoras e altas espetaculares.
Aprenda com o erro dos outros Aprender com o erro dos outros é muito mais barato, por isso busque sempre tirar as lições dos erros que você assiste ao seu redor. Seja humilde e não perca tempo discutindo se o mercado é de alta ou de baixa. Busque apenas trocar informações que auxiliem a construir seu viés de mercado. Sempre que observar alguém que esteja com a autoestima muito elevada, fique atento, pois essa pessoa pode estar à beira da falência. Cansamos de assistir pessoas ganharem muito dinheiro e se acharem mais inteligentes e melhores que a maioria, colocando a vaidade acima de tudo e não realizando prejuízos rapidamente, pois, em sua concepção, não estavam errados. Há pouco tempo, um conhecido estava trabalhando em um ativo havia aproximadamente um ano, era uma pessoa normal, conhecido de tempos, com quem tínhamos boa relação profissional. O ativo começou a subir, e ele começou a ganhar muito dinheiro. Chegou a ter milhões e era uma pessoa que havia começado de baixo. A partir daí, a vaidade e o ego começaram a crescer, e mesmo sendo um conhecido de anos, a convivência se tornou impossível, pois a arrogância e a vaidade tomaram conta dele, que passou a cultivar sentimentos ruins daqueles que os cercavam e até mesmo dos amigos. A pessoa acabou se afastando, para melhor convívio de todos, e o ativo que havia subido muito acabou voltando todo, e, com a alavancagem que ele fez no meio do caminho, acabou perdendo todo o capital, chegando próximo da insolvência. Um dos maiores traders que temos a honra de conhecer é nosso amigo, e o fator que mais chama a atenção é sua discrição, pois você nunca sabe se ele
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está ganhando ou perdendo dinheiro. Ele vive de mercado há mais de 20 anos e, durante uma conversa com seu contador, deixou escapar que, mesmo em meses ruins, ganhava em torno de R$50 mil. Garanto que qualquer pessoa que o conheça jamais dirá que ele ganha tanto dinheiro, pois a humildade e respeito são extremamente admiráveis. O mundo e o mercado são redondos e dão voltas, por isso devemos sempre ser humildes e discretos, pois o mercado pode nos proporcionar muitas coisas boas, mas não pode nunca levar embora nossos princípios e respeito. Quem entra no mercado está vulnerável e, caso não mantenha a humildade de reconhecer erros e respeitar o mercado, poderá perder o dinheiro de uma vida por vaidade. Sempre tenha sua estratégia e a siga com muita disciplina, pois, quando você ganha dinheiro no mercado, não foi por sorte, mas pela sua análise. Afinal, você estudou, gastou tempo e dedicação para isso, destinou horas ao acompanhamento, abrindo mão de algumas coisas. O dinheiro ganho não deve ser gasto com supérfluos. Nunca esqueça que você é um investidor, e seus ganhos devem ser preservados e considerados seu patrimônio de vida.
Operadores especiais Esses são investidores que adquiriram títulos de Bolsa e, portanto, não necessitam de corretora para operar nos mercados futuros, pois operam, como eles mesmos dizem, “no crachá”. Existem dois tipos de operadores especiais: os operadores de agrícolas – seus títulos valem apenas para mercados futuros agrícolas – e os títulos full – podem operar todas as modalidades de mercado futuro. Para se ter ideia, um título full vale mais de 1 milhão de ações de BVMF3, ou seja, na época do IPO, valeram mais de R$20 milhões. O título agrícola vale aproximadamente 10% do full . Os operadores especiais são um dos personagens mais importantes para os mercados futuros, pois a BM&F desenvolveu com eles certo projeto em que ela bancava a estrutura física e de tecnologia, e eles operavam mercados futuros agrícolas dando liquidez para o mercado. O volume operado é impressionante e, com certeza, sem a atuação desses operadores alguns contratos teriam tido sérios problemas de liquidez. Para mim, Leandro Paz, conhecer a história dos operadores especiais foi algo que realmente mudou minha cabeça sobre o mundo da especulação. São
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investidores que vivem somente de mercado há anos, pessoas muito bem-sucedidas e com muitas experiências para agregar. A primeira vez que fui visitálos, já tinha muita admiração, pois sempre acompanhei sua movimentação e observava que, todos os dias, os 997 (código que aparece no book de negócios) sempre saíam com saldo positivo. Quando finalmente os conheci, fiquei impressionado com a humildade e simplicidade deles. No mercado financeiro, muitos que não chegam nem perto do nível dos 997 são a arrogância em pessoa. Nunca me esqueço do meu primeiro trabalho no mercado financeiro. Naquela época, alguns colegas levaram mais de seis meses para me cumprimentar no corredor; a arrogância era impressionante, ainda mais em anos de alta do mercado. Logo estava assistindo muitos passarem situações bem complicadas quando o mercado mudou. A humildade e a simplicidade parecem ser quesitos fundamentais dos especuladores duradouros no mercado, pois ele é soberano, e você jamais será maior que ele. Não é porque ganhou o salário de muitos brasileiros em apenas algumas horas operando que você é melhor que os outros. Se a arrogância tomar conta de você, o mercado pode vir, um dia, a levar tudo o que você possui, ferindo o bolso, a vaidade, o ego e a autoconfiança. Uma lição que aprendi com os operadores especiais é ter humildade, tranquilidade e autoconfiança. Pela história que acompanhei de alguns, é notório que vieram de famílias simples e fizeram todo o seu patrimônio com suas operações no mercado, incluindo o custo da aquisição do título de operadores especiais. Grande parte iniciou sendo operador no pregão viva voz de alguma corretora, e, com o tempo, foram ganhando experiência e passaram a operar para si mesmos. Alguns contaram que foram descobertos por donos de corretoras que davam um limite de prejuízo no mês, e o ganho era dividido: 50% para eles, 50% para a corretora. Nessas visitas, tive a honra de conhecer Marcos Bastos, o Escova. Na época, o que mais me chamou a atenção foi sua disciplina, além da organização do escritório, pois ele é todo supersticioso e trabalha muito a parte espiritual. Os operadores especiais são um grupo bastante fechado, e sempre foi uma honra poder frequentar seu ambiente, pois, para mim, que sou de mercado, seria mais ou menos como alguém nas categorias de base de futebol conhecer seus ídolos profissionais. A convivência com eles agregou muito ao meu operacional, muita coisa mudou. Essa categoria de investidores fez e faz o mercado futuro do Brasil – um dos que mais crescem e têm potencial de crescer mais ainda.
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Gírias e jargões de mercado Uma característica que marca a história do mercado futuro no Brasil são os charmosos pregões viva voz, quando as negociações eram feitas pelos operadores de cada corretora, que negociavam uns com os outros por gritos e gestos com as mãos e os braços. Quem opera no mercado futuro costuma utilizar muitas gírias, mas elas podem ser uma arma contra você, pois a má utilização na hora de passar uma ordem pode gerar erros, por isso seja simples no começo, até aprender bem a linguagem. Isso, claro, se você não opera através de sistemas e passa ordens por intermédio de seu operador, por telefone, e-mail ou MSN. Vejamos algumas gírias: BATE = por favor, efetue a venda. ENFIA = por favor, efetue a venda. TOMA = por favor, efetue a compra. PAGÃO = preço do melhor comprador. APREGOA = colocar ordem de compra ou de venda no book de ofertas. BOLA = quando um número é redondo, utiliza-se a linguagem bola; por
exemplo, R$1,00 seria um bola. GALO = referente a 50 unidades; toma galo = compre 50 contratos. DUQUE = referente a 200 unidades. TERNO = referente a 300 unidades. QUADRA = referente a 400 unidades. QUINA = referente a 500 unidades. EXPLODIU = mercado ou ativo subiu o preço repentinamente. DERRETEU = mercado ou ativo caiu repentinamente. CANDLE DA MORTE = movimentação de queda muito forte em determinado
período. CANDLE DA RESSURREIÇÃO = movimentação de alta muito forte em determi-
nado período.
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Existem derivações desses termos como: bateram, enfiaram, toma galo a bola , entre outras; porém, essas são as mais comuns. Apesar de o pregão viva voz não existir mais, desde 30 de junho de 2009 na BM&F, entenda, a seguir, seu funcionamento nas figuras e o significado de alguns gestos nas negociações. Obs.: Pit de negociação, local onde determinado ativo é negociado.
FIGURA 7.1A PIT de negociações BM&F Fonte: BM&FBovespa.
FIGURA 7.1B PIT de negociações BM&F Fonte: Portal G1.
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FIGURA 7.2 Fluxo operacional no viva voz Fonte: própria.
FIGURA 7.3 Gestos pregão viva voz Movimento de compra é com braço trazendo em direção à cabeça, e o de venda, afastando do corpo. Veja como eram descritas as quantidades. Fonte: BM&FBovespa.
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Respeite o grande do momento É bastante comum, nos mercados futuros agrícolas, haver determinada corretora que possui um cliente operando com volume bastante significativo. Esses personagens sempre existirão, porém nem sempre são duradouros. Eles podem causar algumas distorções no mercado que você possa achar estranhas, porém evite enfrentá-los, pois o mercado pode se manter irracional por mais tempo que você consiga se manter solvente. A insistência em determinada operação no mercado futuro, por achar que ele está se comportando de maneira errada, pode custar caro. Por isso, por mais que você não concorde, respeite seu ponto de saída e execute sem hesitar, o que o manterá por muitos anos operando. A coisa mais comum no mercado são histórias de fundos e investidores que entraram com grandes volumes e distorceram o mercado, porém acabaram quebrando. Em 2011, certo fundo de investimento fez uma posição grande na ação do frigorífico Marfrig, entrando com volume de 180 milhões, e o ativo caiu mais de 50%, levando o patrimônio do fundo para – 21 milhões. Isso mesmo, negativo. Já operamos com volumes muito grandes no café e compramos briga com investidores grandes, portanto, podemos garantir que o estresse e risco não compensam. Não faça queda de braço no mercado, busque sempre seguir o fluxo e obter ganhos de forma mais tranquila. No mercado de boi gordo, são famosos os fundos que ganharam muito dinheiro com a alta recente que o mercado sofreu e também os que perderam bastante dinheiro. Em 2010, sofremos comprados em um dia de limite de baixa e pensamos que não estava certo, isso não tinha sentido; no outro dia, outro limite de baixa e mantivemos a posição; no outro dia, mais um limite de baixa, até que não deu mais para segurar. Você é um investidor, não um torcedor. Se o mercado estiver indo contra, simplesmente realize o prejuízo conforme a estratégia e não fique rezando para que vá a seu favor.
Defina sua estratégia Operar no mercado parece simples, não? Existem apenas duas possibilidades: alta e baixa. Então, sua probabilidade de acerto é de 50%. Parece simples, não? Dale Carnegie, figura conhecidíssima, autor do livro Como fazer amigos e
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influenciar pessoas (São Paulo: Editora Nacional, 2003), diz que, se você tiver razão em 60% das vezes, pode ficar rico em poucos dias em Wall Street. Ter uma estratégia é exatamente isso. Ter controle rigoroso de risco e administrálo de forma inteligente, organizada e eficaz. Atue no mercado com o propósito de rentabilizar seu capital, tenha sempre objetivos definidos e aja de forma a alcançá-los. Nós gostamos de trabalhar sempre com risco e retorno de 1 para 3, ou seja, arrisca 1 para ganhar 3, pois assim, se você errar duas operações e acertar uma, estará no lucro, pois perdeu 2 (em duas operações erradas) e, com apenas uma operação certa, ganhou 3. Lembre-se sempre de que os traders mais vitoriosos erram mais que acertam, porém seu saldo é positivo devido aos ganhos maiores nas operações certas. Defina sua estratégia sempre com o gerenciamento de risco e siga rigorosamente até que o mercado lhe prove o contrário. Existem aqueles que gostam de operar médias móveis e sofrem em períodos nos quais o mercado está lateralizado, pois é prejuízo atrás de prejuízo. Porém, essa estratégia é assim mesmo e compensa quando vem movimento de alta ou de queda forte. Muitos acabam desistindo no período de lado e, quando vem a tendência, estão de fora e perdem o lado bom das médias móveis. Por isso, antes de entrar em uma estratégia, estude seus prós e contras. Nossa estratégia para operações de day trade é baseada em rompimentos de resistências e suportes, em que nosso principal aliado é o tempo certo de entrada, pois tentamos acertar o momento exato do movimento e pegar, no caso de alta, o stop dos vendidos e, no caso de baixa, o stop dos comprados, que deixam o movimento mais rápido e brusco. Operamos muito café, e trades de rompimento, às vezes, duram menos de um minuto nessa commodity. Mas para cada rompimento que acertamos, saímos no zero a zero umas duas ou três vezes, em algumas até mesmo no prejuízo, pois, dizem alguns estudiosos: “Compre no suporte e venda na resistência”. Contudo, essa teoria no café não dá bons resultados devido à intensidade dos rompimentos. Montamos muitas operações de spread , pois gostamos de estudos fundamentalistas e estatísticos, em que acreditamos que conseguimos diminuir a possibilidade de incerteza. Estudamos algumas ações com bons fundamentos e que estejam desvalorizadas no mercado, pois podemos colocá-las em carteira e utilizá-las como margem de garantia para operar mercados futuros, principalmente para os spreads . Detalhe importante: esteja sempre atento às rentabilidades da renda fixa e à possibilidade de poder utilizá-las como margem de
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garantia, mesmo não estando na corretora que você opera. Não se contente com a rentabilidade da poupança, pois existem muitos investimentos que pagam taxas bem melhor e com risco similar. Estude tesouro direto, letras de crédito, fundos de diversas instituições, CDBs, pois a mínima variância na taxa de rentabilidade no longo prazo faz grande diferença. Não se esqueça de analisar também se é cobrado imposto de renda ou não. Gerencie sempre todo o seu capital, alocando uma parte para cada cenário e risco. Não seja jogador e arrisque tudo. Quando um amigo nos diz que quer girar seu dinheiro, já sabemos que as chances de ele perder são grandes, pois ele quer jogar, não rentabilizar o capital. Se você tem um dinheiro de que diz não precisar e quer girar para ter adrenalina diária, doe-o para uma instituição de caridade, pois é praticamente certo que doará para o mercado. Nós ainda não temos filhos, e praticamente toda nossa renda vem das operações de mercado, por isso colocamos boa parte do capital para risco alto, e vamos aplicando os ganhos em ações, renda fixa, terrenos, cursos, empresas, sistemas e materiais de trabalho, como computadores e monitores. Como no mercado futuro os ajustes são diários, deixamos, por exemplo, R$5 mil na conta líquida e vamos resgatando todo ganho para viver e investir em outras aplicações. Porque, se um dia não estivermos inspirados e fizermos muita besteira, limitaremos os prejuízos em R$5 mil e não jogaremos o trabalho de anos fora. Já passamos por apertos, com certeza, de ficar sem dinheiro para pagar ajuste, de ter de depositar na corretora, ter de pedir dinheiro emprestado, mas disso sempre se tira lição para não cometer nunca mais esses erros. Erros abalam a confiança, mas sempre acredite no seu potencial e capacidade de aprender com os erros e ficar mais forte. Conforme o tempo passa, você vai vendo pessoas cometerem erros ao redor, mas você já viu esse filme e não cai mais na armadilha. Tenta alertar, mas, nesse mercado, os ouvidos são surdos, e o prejuízo é o maior dos professores.
Monte sua estação de trabalho Se você deseja ser um investidor que possui uma pessoa responsável por suas aplicações, não há necessidade de investimentos em estrutura, pois você terá sua profissão e, paralelamente, acompanhará os investimentos. Agora, se você deseja viver de mercado, deve investir em ferramentas e ambiente de
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trabalho. Temos duas estações, uma em casa e outra no escritório, pois é comum operarmos de casa de vez em quando, mas sempre seguindo a disciplina de acordar cedo, tomar café da manhã, nos vestir e acompanhar a abertura do mercado às 9 horas. Não seja desleixado em casa; não trabalhe de pijama nem acorde atrasado, pois são seus investimentos, você é o patrão, e o mercado demite rapidamente os indisciplinados. Vamos comentar um pouco sobre nossas estações de trabalho tanto em casa quanto no escritório. Nas duas telas de baixo, utilizo a plataforma onde realizo operações em mercados futuros e que custa em torno de R$350,00 por mês. Na plataforma, acompanho os books dos ativos e os times and tradings , que informa quem comprou e quem vendeu; assim consigo ver a movimentação de negociação e acompanho o saldo das corretoras para saber quem está fazendo o quê. A tela superior, deixo para e-mails, skype, MSN, planilhas com links DDE, em que posso acompanhar os spreads on-line e também a uso para outro software de análise gráfica. Na tela de cima, também deixo a plataforma da corretora que utilizo para operações em Chicago e Nova York, onde faço negociações e acompanho as cotações. A tela de cima da direita, deixo no canal Bloomberg para acompanhar as notícias internacionais e macroeconômicas. Uma dúvida
FIGURA 7.4 Estação de casa de Leandro Paz
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que sempre surge é como utilizar mais de dois monitores no mesmo computador. Comprei, no site chinês www.dealextreme.com, um adaptador o qual você conecta na USB e pode usar um monitor para cada USB. Custa em torno de U$40 e leva cerca de 30 dias para chegar. Esse custo é sem impostos, pois, caso caia na alfândega, ocorre tarifação em torno de 100%. Utilizo sempre mouse e teclado sem fio para não ter problemas com fios e enroscar tudo; além disso, coloco adesivos dos atalhos no F5 (compra), F7 (altera), F8 (cancela) e F9 (venda), para não me confundir e ganhar tempo na correria. Utilizo sempre som para falar com o Escova no viva voz e para alerta quando executa minhas ordens, pois era comum esquecer ordens e depois ter surpresas na nota de corretagem. Abaixo, uma loja no Brasil que vende o adaptador de vídeo USB. https://www.digimer.com.br/handler.php?module=site&action=view#pro duto:705 Ressalto que, na estação do escritório, tenho alguns patrocínios e, por isso, o custo é mais elevado. Seguidamente participo do desenvolvimento e testes de plataformas e robôs, e com isso ganho algumas regalias.
FIGURA 7.5 Estação do escritório de Leandro Paz
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Nas telas de baixo, mantenho o mesmo sistema CMA Series 4; as duas de cima, utilizo para MSN, skype, e-mail e Bloomberg, que é a melhor plataforma de análise financeira do mundo, porém o custo é muito alto, em torno de US$2.000,00 por mês – confesso que não sei utilizar nem 10% dos recursos, pois, no seu sistema, existem muitas e muitas funcionalidades. Tenho a Bloomberg devido a alguns patrocínios. Ao lado, utilizo um notebook onde deixo rodando o dia inteiro o robô de spreads (software que realiza operações de compra e venda automaticamente, de acordo com os parâmetros configurados), que fica executando de acordo com meus parâmetros, mas é comum passar alguns dias sem executar nada. O robô, que será mais bem explicado adiante, consome muito processamento, por isso coloco-o em um computador separado, para não travar o Windows. Também utilizo teclado sem fio, calculadora HP 12C sempre à mão para cálculos rápidos. No escritório, também utilizo os adaptadores que compro no site chinês dealextreme.com. Gosto muito de utilizar telas na resolução full HD, pois cabem mais itens, mas as letras ficam pequenas e forçam mais a visão; essa resolução é de 1920 × 1080.
FIGURA 7.6 Estação do escritório de Marcos Bastos
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Na estação de trabalho do escritório, na tela da direita, fica a plataforma operacional onde visualizo todos os dados do ativo em que estiver operando, como a quantidade de ofertas na compra/venda, quantidade de negócios realizados, volume, todo o fluxo, o meu operacional executado, posições, financeiros entre outras informações. À minha frente e ao lado esquerdo, tenho meus gráficos de candlestick com bandas de bollinger plotadas, IFR, estocástico, ADX e Didi index – todas as cotações internacionais e nacionais, notícias e estudos para me estruturar e conseguir obter um bom local de trabalho. Nessa parte, vale ressaltar que, eu Marcos, tenho o escritório todo organizado através do feng shui, com fonte de água, cristais, alguns instrumentos australianos para tirar más vibrações e incensos. Estudos comprovam que o sucesso de um especulador está principalmente na sua psicologia, por isso trabalhar a parte espiritual é importante para se manter sempre em equilíbrio e ser frio nas tomadas de decisão. Se você não estiver em equilíbrio ou por alguma questão financeira ou por algum desentendimento, evite operar. Operar requer concentração apenas no que se está fazendo. A Figura 7.7, a seguir, ilustra como deve ser organizado o ambiente de acordo com o feng shui na disposição do layout. Trabalho
norte
E E d s p i u c a r i ç t u o n o a l ã e i m r d o n d a t a e s d e
aquário, poço o s g s preto, azul i t e l i c o r o m s u á A o e m e t a o , r b e n t t o s a Água r g e h a e o n e t p p e T l b j c o, e a o q u r r a t e Kan n e d a r M r a n e n K b e n e n a i g h s o r v C o u e
s o e h d l c i a i l o f , á d a e t t i s t e v o s a r i t d e m s p , a o o e o i t r t c e j C r o b n a r o b S
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C g r a h a d e n e n d i r
o l n i a t e u e u T q M e p
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K
u p e T e r n q u r a e n g l b e a o b g e , a o s , m R e C a s u d m o n a r e l o a c a m e s t a n l t i e e h o n a n a t m o e e n t o s
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Fogo vermelho luzes sul
r d l e á r e , v m o s r t a e e r s r o m
a i l í m a F
n a u S d e i r n a u e M a e q p e r d t a s e v a n t e e l e s p a d d d i s u e r p o s r P
Sucesso
FIGURA 7.7 Organização de estação de trabalho segundo os princípios do feng shui Fonte: Wikipédia.
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O mercado é minimalista Com certeza, acertar para que lado os preços vão se mover é uma das tarefas mais difíceis na face da Terra, pois os motivos que os fazem se mover são os mais variados. Já realizamos testes com as mais avançadas técnicas estatísticas de previsão e nenhuma delas gerou resultado satisfatório e rentável. Utilizar a estatística para reforçar a posição é sempre interessante, mas previsões estatísticas não são garantias de sucesso nas operações. Já realizamos e temos grupos de estudos que pesquisam as mais diversas estratégias operacionais, e esse é um aprendizado constante, o que faz o mercado algo fascinante, pois o aprendizado e renovação são intermináveis. Às vezes, nos pegamos estudando o mercado em profundidade extrema, principalmente nas commodities. Certa vez, estávamos estudando o tipo de pasto que o boi comia, para descobrir se era resistente à seca ou não. É interessante sempre se ter em mente o seguinte: o mercado é minimalista, ou seja, são alguns fatores específicos que de fato interferem na tomada de decisões dos participantes e fazem a oscilação de preços acontecer. Por isso, não perca tempo estudando milhares de fatores, estude sempre os principais. No caso das commodities, é bom sempre ter em mente a produção do Brasil, a participação do Brasil no mundo, as previsões climáticas, estoques, oferta e demanda nacional e internacional. O bom de operar commodities é que os fatores são fáceis de serem estudados, mas acertar para que lado o dólar irá, por exemplo, é muito difícil. Note o que há de erro nas previsões tanto de dólar quanto para o Ibovespa por muitos especialistas. Quem gosta de operar índice futuro de Ibovespa tem de ter muito cuidado em dias que saem muitos indicadores de mercado, pois a oscilação de preços é muito grande e pode prejudicar bastante o operacional. Confessamos que não temos uma estratégia vitoriosa para operar índice futuro, por isso o evitamos, pois é difícil prever suas oscilações para day trade ; apenas o utilizamos para operações estruturadas.
Otimize seu fluxo operacional Se você deseja investir dinheiro e dedicação no mercado futuro, precisa sobretudo saber o que deve acompanhar on-line, para poder tomar as decisões da melhor maneira. É importante ter sua estação de trabalho e, por exemplo,
Dia a dia no mercado: guerra de trincheira
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saber que, se você operar o café, precisa ter o sinal do café NY, onde as coisas realmente acontecem e o qual baliza o nosso café. Para operar soja, é bom ter a cotação de soja em Chicago. Já o milho e boi gordo, como o forte são os mercados internos, não é tão necessário, mas, no caso do milho, é importante dar uma olhada em CBOT. Já com dólar e índice futuro, é bom acompanhar o Índice Dow Jones. Para se ter cotação on-line, é necessário entrar em contato com uma empresa de software gráfico e solicitar um, que custa em média US$100 por Bolsa. Existem diversos sites que dão cotações on-line com atraso de 15 minutos e são gratuitos. Se possível, é interessante sempre ter um backup de internet para não ter problemas caso a rede caia, pois, às vezes, ela pode cair no meio de uma operação e gerar prejuízos. Por isso, é bom ter um modem 3G, ou algum plano no celular que possa compartilhar com o computador. No caso de queda de energia, ter um gerador é complicado, porém você pode ter um notebook que consiga zerar sua operação e acompanhar o mercado através dele. Tenha sempre disciplina de horários, pois muitas oportunidades ocorrem na abertura e no fechamento do mercado, e o mercado pode não querer esperá-lo acordar. Toda corretora possui uma área de risco, que monitora os clientes alavancados e os zera compulsoriamente caso corram o risco de ficar negativos na corretora. Por isso, é comum, nas aberturas de mercado, saírem negócios fora do preço normal, pois estando no risco, a corretora vende e compra a mercado, sem se importar com o preço. Essas zeragens de risco podem ser chances de montar spreads e zerar no decorrer do dia, assim que o mercado se ajustar.
A história das 20 Santanas Quantum Essa história é um capítulo na vida de um operador especial que chamaremos de José, para não citar nomes. José era de origem humilde e, com seu talento operacional, foi ganhando dinheiro até que adquiriu seu título de operador especial e foi acumulando capital, de onde retirava seu sustento. Certo dia, José errou as operações no mercado e persistiu no erro, o que acabou gerando prejuízo enorme, que, na época, equivalia a 20 Santanas Quantum – considerado carro de luxo. Seus colegas, ao saberem, ficaram assustados com o ocorrido, pois conheciam a origem simples de José. Então, ele foi para casa e assistiu desenho com os filhos, chamou a esposa e a levou para jantar fora.
196 Mercados futuros
Durante o jantar, convidou-a para ir a uma festa, a qual ambos aproveitaram e dançaram muito. O casal chegou no meio da madrugada em casa e foi dormir. Mas José acordou cedo, vestiu-se e logo estava no escritório operando, onde continua até hoje. Com confiança na própria capacidade, absorveu o erro e tirou as lições sem achar culpados nem descontar em ninguém que fazia parte de sua vida. Essa história é fenomenal. No primeiro momento, parece simples e assusta, mas, se você refletir com calma, poderá tirar muitas lições dela tanto para a vida de investidor como para a vida pessoal e na relação com as pessoas que o cercam no dia a dia.
Cotações internacionais gratuitas Acompanhe, nos links e tag, a seguir, as cotações internacionais dos respectivos ativos. Cotação soja CBOT
http://www.futurespros.com/grains/us-soybeans
Cotação milho CBOT
http://www.futurespros.com/grains/us-corn
Cotação café NYBOT
http://www.futurespros.com/softs/us-coffee-c-advanced-chart
Dia a dia no mercado: guerra de trincheira
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Cotação petróleo NYMEX
http://www.futurespros.com/energies/crude-oil
Cotação Dow Jones
http://www.forexpros.com/indices/us-30-futures
Ouro
http://www.forexpros.com/commodities/gold
Operações com robô (software) Como o mercado brasileiro está alguns anos atrás do dos Estados Unidos, essa modalidade operacional, com certeza, será a que mais crescerá nos próximos anos. Operações com robô são utilizadas para operações de spread e para arbitrar distorções de mercado, como índice futuro com mini-índice, dólar futuro com minidólar. Esses robôs passam o dia inteiro ligados, pegando pequenas distorções e ajustando o mercado. Nos Estados Unidos, mais de 70% das operações são realizadas por robôs; no Brasil, não chega nem a 10%. Os robôs são softwares nos quais cadastramos nossos parâmetros e eles executam, caso o mercado dê oportunidade. Já realizei milhares de testes com robôs, nos quais não se deve confiar cegamente, pois também erram, mas são grandes aliados. O custo de um software é um pouco alto, então sempre verifique se sua corretora não o coloca à disposição para os clientes gratuitamente. Digamos que você queira montar um spread no milho entre dois vencimentos com a diferença de R$1,00 entre eles, basta cadastrar o parâmetro no
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software para ele executar automaticamente caso o mercado dê oportunidade. Logo que executar sua ordem, você já cadastra para realizar o lucro em R$1,50, e ele trabalhará para você, pois, se o mercado fizer um movimento rápido, ele poderá perceber e sua operação será zerada com sucesso. Essa é mais ou menos a funcionalidade dos robôs, que estão cada dia mais entrando no mercado brasileiro e sendo desenvolvidos para operações de arbitragens entre a nossa BM&F e as Bolsas internacionais. Veja um exemplo de tela de configuração de operação via robô, na qual você adiciona os ativos que quer negociar, coloca os parâmetros que quiser – um menos o outro ou um dividido pelo outro –, adiciona algumas regras ao robô de como ele deve se posicionar no book de ofertas e pronto.
FIGURA 7.8 Software para operações automatizadas Fonte: XPROBO.
CAPÍTULO 8
Psicologia de um investidor
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ara realmente entender o que se passa na cabeça de um investidor do ponto de vista psicológico, buscamos o auxílio de nossa amiga e cliente Sabrina Ferraz, que cursa mestrado em psicologia na UFRGS (Uni versidade Federal do Rio Grande do Sul). Sabrina é casada com Diego, engenheiro que dedica boa parte de seu tempo às operações de mercado, o que despertou nela o interesse sobre o tema da psicologia no mercado de renda variável, tendo em vista que há pouca literatura no Brasil sobre o assunto. Muitos investidores dedicam seu tempo em estudos, análises e estratégias, mas não desenvolvem nem trabalham a parte psicológica para lidar com os sentimentos de perda, frustração, ganhos, euforia, entre outros. Existem dois tipos de investidores: os que possuem uma atividade profissional, para a qual dedicam seu tempo e deixam seus investimentos sob os cuidados de outra pessoa, e os que se dedicam única e exclusivamente a cuidar de seus investimentos em busca de resultados mais expressivos. A alternativa de viver somente de operações é uma decisão bastante difícil, pois você abre mão de uma série de coisas, como carreira profissional, estabilidade, tranquilidade emocional, certezas em relação ao futuro... Por isso, são poucos os que realmente decidem seguir este caminho. Aquele que vive somente de operações depara-se diariamente com um turbilhão de sentimentos, pois cada dia é seu dia de caçar e cuidar para não ser a caça.
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202 Mercados futuros
A evolução econômica do Brasil nos últimos anos levou milhares de in vestidores ao mercado de renda variável: pessoas com pequenos capitais começaram a se dedicar ao aprendizado do mercado futuro e de ações. Assim, está surgindo uma leva de jovens e pessoas que buscam depender apenas de si mesmos, ou seja, apenas de seus resultados, e enxergam nesses mercados essa possibilidade. As corretoras fazem sua parte e, por sua vez, saem vendendo sonho de altas rentabilidades, simplesmente jogando a expectativa das pessoas nas nuvens. Porém, quando elas realmente se deparam com dificuldades, se dão conta de que de fato não estavam preparadas e retiram o capital, abandonando o mercado. Para lidar com isso, é preciso saber que se deve investir primeiramente no aprendizado valendo-se de livros, fóruns, sites, vídeos e outras ferramentas. Quando o investidor inicia no mercado, existe o conceito da autoeficácia, que nada mais é que a crença na sua capacidade de organizar e tomar decisões que o levarão a um resultado, ou seja, a pessoa acredita na sua capacidade de alcançar um objetivo. Porém, saber lidar com as frustrações de não alcançar os objetivos como o esperado e tirar lições e aprendizado, esses sim são os maiores desafios. Como tudo, há sempre a seleção natural, e vão ficando somente os mais preparados. Os mercados de capitais são cíclicos, em que, em ciclos de baixas e crises, obter resultados positivos se torna difícil, pois há grande saída de dinheiro dos mercados de renda variável para investimentos mais seguros, o que dificulta os ganhos. Nos ciclos de alta, há entrada muito grande de capital nesses mercados, pois só se falam notícias boas, e as pessoas querem investir dinheiro aumentando suas rentabilidades. A matemática é bastante simples: é mais fácil ganhar dinheiro com saída ou com a entrada em massa de capital do mercado? Em ciclos de baixa, todos enfrentam dificuldades, como corretoras, Bolsas, operadores de mercados, investidores experientes etc., mas esses ciclos são normais, e devemos estar preparados para enfrentá-los, pois são nas crises que grandes investidores fazem fortunas ao comprarem bons ativos com preços baixos e mantê-los até vender em momentos de bonança e euforia. Nesses ciclos de baixa, muitos investidores são questionados por amigos, família e até por si mesmos por, de repente, estar dedicando tempo e esforço sem bons retornos no curto prazo, ainda mais pelo fato de que esse período pode durar mais de um ano. O mercado futuro, entretanto, facilita a vida dos investidores, pois, independentemente dos fatores macroeconômicos, seus fundamentos
Psicologia de um investidor 203
seguem iguais e, por meio de suas ferramentas, pode-se obter ganho tanto em movimentos de alta quanto de queda. Escolher ser investidor como profissão requer disciplina e muito profissionalismo, pois você é o chefe e traça seus objetivos e rotina diária. Nós, como profissionais, buscamos ter disciplina em relação aos horários, metas e objeti vos. Dividimos nosso operacional em duas partes, operações de day trade , as que pagam as contas e boletos, e operações de médio e longo prazos, em que aumentamos nosso patrimônio. Temos objetivos de ganho diário e limites de perda e, quando atingimos os objetivos, paramos imediatamente de operar, não importa o horário. A psicologia utiliza cinco grandes fatores para definir a personalidade de um indivíduo. Conforme pesquisa realizada por Sabrina Ferraz, alguns fatores de personalidade contribuem para o perfil do investidor de sucesso. São eles: extroversão, socialização, neuroceticismo, realização e abertura para a experiência. O perfil psicológico perfeito para o excelente investidor é ser extrovertido, uma pessoa social, com facilidade de fazer amizades e trocar experiências, baixo neuroceticismo para ser calmo, descontraído, forte, seguro e controlado emocionalmente. Também deve ter alto nível de realização, que caracteriza pessoas com alto grau de organização, persistência, cautela, responsabilidade, honestidade, controle e motivação. Ser uma pessoa com boa abertura para a experiência, cujas características são a curiosidade, imaginação criatividade e abertura para o aprendizado. O perfil perfeito está traçado. Obviamente que não se faz necessário reunir todas essas características, mas é interessante saber os fatores que contribuem para estabilidade e fortalecimento psicológico do investidor de sucesso. O mercado de renda variável deixa bem claro que devemos estar sempre em constante desenvolvimento e evolução, tanto operacional quanto pessoal e espiritual. Um fator que não podemos deixar de mencionar é como enfrentar as perdas, como lidar com esse sentimento tão ruim, mas seguidamente vivenciado por aqueles que atuam de forma contínua nesses mercados. Devemos enfrentar as perdas com naturalidade e como parte do processo de investir, pois obviamente não se acertará todas. Porém, a forma como lidamos com essas perdas é que fará com que nos mantenhamos ou não no mercado, tendo em vista que o ser humano quando está perdendo aumenta sua agressividade, perde o senso de risco e pode acabar fazendo loucuras que consumam todo o seu capital.
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Se você não estiver em um dia bom e já tiver atingido seu limite de perda, tenha paciência e pare de operar, fique apenas acompanhando o mercado ou vá tomar um ar e dar uma caminhada. Isso ajuda a esfriar a cabeça e absorver a perda, sabendo que amanhã será um novo dia e novas possibilidades surgirão. A dor da perda é muito maior que a felicidade do ganho. Por isso, muitos encontram dificuldade para absorvê-la de forma natural e enxergar como aprendizado, buscando sempre analisar onde errou a fim de não cometer o mesmo erro novamente. Já as operações vitoriosas nos trazem o sentimento de satisfação, felicidade e autoconfiança. Realmente é uma sensação maravilhosa, pois você se sente leve e, muitas vezes, fica se achando o “cara”. Essa sensação é resultado de estudos, análises e dedicação, mas traz consigo o sentimento de confiança, que pode nos fazer errar, mas não o admitimos pela arrogância de não aceitarmos tal erro, o que pode trazer grandes prejuízos. Portanto, se você estiver ganhando, administre esse sentimento e não deixe que ele mexa com seu ego e personalidade, pois você conquistou as vitórias com estratégia e disciplina. Então, siga-a e não permita que seu ego assuma as operações. Se você deseja aprender mais sobre a psicologia de um investidor, não deixe de ler o estudo realizado por Sabrina Ferraz, no apêndice neste livro, e que foi utilizado como base para este capítulo. Desejamos a todos os investidores sucesso em suas operações e que o sentimento de vitória seja constante e possa trazer muitas realizações profissionais e pessoais.
APÊNDICE
Perfil, comportamento e sucesso do investidor
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om a crescente representatividade econômica do país no cenário mundial e o aumento do poder aquisitivo, muitas pessoas começam a buscar novas formas de ampliar seu patrimônio. O mercado de capitais vem se tornando opção viável para uma parcela maior da sociedade, já que está cada vez mais disseminado e acessível. O que antigamente era considerado artigo de luxo e possível somente para pessoas de grandes recursos financeiros, hoje é fonte de incremento da renda de muitos não dotados dessas quantias. Então, com a possibilidade de conseguir rentabilidade bem maior que as rendas fixas, o mercado de capitais atrai diversos trabalhadores. A escolha por essa atividade profissional envolve uma gama de fatores, que vão desde os estímulos do ambiente, como a oferta tentadora de ganhar uma renda mensal excelente, até aspectos pessoais, como reflexo da personalidade. Além dessas influências, outras questões contribuem para a escolha profissional, e dela fazem parte os interesses. Eles são definidos como padrões de preferências, aversões e indiferenças relacionadas com as atividades ativi dades de um cargo (NUNES & NORONHA, 2009). Há também os mecanismos sociocognitivos que induzem o processo de escolha da profissão. Dentro desse contexto, a autoeficácia e as expectativas de resultados têm papel de extrema importância. im portância. A autoeficácia é a crença do indivíduo em sua capacidade de organizar e executar uma sequência de ações que o levará a um propósito específico, ou seja, a pessoa acredita em sua capacidade de alcançar um objetivo ( BANDURA, 1997). Já
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208 Mercados futuros
as expectativas de resultado envolvem as crenças em relação às consequências das ações executadas ( LENT, BROWN & HACKETT, 1994; NUNES & NORO� in teresses NHA, 2009). Portanto, as pessoas têm mais tendência a demonstrar interesses em atividades nas quais prevalece a convicção conv icção pela autoeficácia, como também naquelas em que conseguem antecipar resultados positivos. Contudo, essas crenças são passíveis de alteração, pois os resultados dos desempenhos, experienciados de forma significativa – tanto os de sucesso quanto os de fracasso –, conduzem à reflexão e revisão das crenças ( NUNES et al., 2008). Tomemos como exemplo um indivíduo que acredita ser capaz de operar no mercado de capitais (crença de autoeficácia) e espera ter êxito (expectativa de resultado). Essa pessoa poderá seguir a profissão de operador. No entanto, caso ela tenha péssimo desempenho na maioria de suas operações, suas crenças podem ser refletidas e alteradas a ponto de acreditar não ser mais capaz de atuar na função. Outro ponto relevante na escolha da profissão é o papel social, pois a aceitação ou rejeição gera preferência ou aversão a certas atividades profissionais (NUNES & NORONHA, 2009). A escolha profissional depende de um conjunto de fatores, e somente a manifestação de interesse por determinada área não garante a escolha certa. São vários os elementos que contribuem para que os indivíduos inclinem em direções contrárias aos seus planos: família, cultura, educação, condições financeiras, acessibilidade a certa profissão, valorização da sociedade, crenças de autoeficácia e expectativas de resultados. Assim, fica clara a participação do ambiente na formação de interesses profissionais ( NUNES et al., 2008). Caso a família ou mesmo a sociedade desaprove a profissão, é possí vel que o indivíduo venha a desistir dela. Esses fatores devem estar direcionados para um único ponto; porém, se isso não ocorrer, embora o indivíduo apresente habilidade para atividade específica, a tendência será a de não realizar a escolha profissional referente a essa área ( NUNES & NORONHA, 2009). O mercado de capitais traz a possibilidade de o operador alcançar um “salário” que dependa basicamente de seus esforços, sem grande interferência da organização, ou seja, as pessoas conseguem traçar suas metas, planejar ações e obter resultados que podem ir além dos ganhos obtidos das empresas con vencionais. Com base nessa perspectiva, as pessoas visualizam oportunidades de excelentes ganhos, o que, muitas vezes, não é propiciado pelos ambientes tradicionais de trabalho. Não basta apenas almejar grandes ganhos financeiros; é preciso apresentar uma estrutura psicológica que as auxilie a enfrentar a
Perfil, comportamento e sucesso do investidor
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dinâmica dessa atividade. Muitas pessoas, em razão disso, optam por investir por meio de outras, ou seja, escolhem um operador para trabalhar em prol do seu capital. Pessoas com uma estrutura mais adequada às demandas desse ambiente tornam-se operadores e enfrentam a realidade de desafios diários, complexos, que oferecem oportunidades não só de aumentar seu patrimônio, mas também de impulsioná-lo para a riqueza. O interesse por determinada profissão é considerado por alguns pesquisadores da área ( HOLLAND, 1997) a expressão da personalidade. Portanto, as influências da interação entre os aspectos genéticos e o ambiente proporcionariam ao indivíduo a escolha de contextos e ocupações correspondentes à sua personalidade. A personalidade é definida, de modo geral, como as características externas perceptíveis aos olhos das pessoas. Ao conviver com outros indivíduos, causamos impressões, e, com base nelas, é possível formar ideias a nosso respeito. Fazemos uso de diversos adjetivos, como calmo, agitado, comunicati vo, persistente, paciente, impulsivo, entre outros, para classificar as pessoas. No entanto, não somente o que as pessoas podem perceber compõe nossa personalidade, mas também elementos internos, como emoções e habilidades (SCHULTZ & SCHULTZ, 2004). O modelo mais atual da personalidade é o do CGF (Cinco Grandes Fatores). Nessa perspectiva, ela é estruturada e avaliada através de cinco dimensões: Extroversão, Socialização, Neuroticismo, Realização e Abertura para a Experiência. O fator Extroversão envolve características relacionadas à quantidade e intensidade das interações interpessoais. Indica o quanto os sujeitos são comunicativos, entusiasmados, falantes, ativos, sociáveis e responsivos (HUTZ et al., 1998). Em contrapartida, as pessoas tímidas são inibidas, sérias e buscam a solidão. Mas os introvertidos não são necessariamente tímidos; na verdade, em certos momentos, evitam a companhia das pessoas ( ANDRADE, 2008). A Socialização refere-se aos tipos de interações que um indivíduo apresenta. Pessoas sociáveis tornam aparentes a generosidade, o cuidado, a afeti vidade, a cooperação, o apoio emocional. Por outro lado, as pouco sociáveis demonstram cinismo, frieza, hostilidade, indelicadeza, vingança, egoísmo e inveja (HUTZ et al., 1998). O fator Neuroticismo agrupa características de ajustamento e instabilidade emocional. Alguns aspectos do neuroticismo são: elevados níveis de ansiedade, depressão, hostilidade, nervosismo, preocupação, vulnerabilidade, autocrítica
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e impulsividade (HUTZ et al., 1998). Os indivíduos que apresentam elevados níveis de neuroticismo estão propensos a vivenciar sofrimentos emocionais com mais intensidade. Pessoas com baixo neuroticismo revelam-se calmas, descontraídas, fortes, seguras, controladas emocionalmente. A Realização representa o grau de organização, persistência, cautela, responsabilidade, honestidade, controle e motivação. Os indivíduos que pontuam alto nessa dimensão tendem a ser confiáveis, trabalhadores, decididos, pontuais, ambiciosos e perseverantes ( NUNES & NUNES, 2008). Esse fator foi o mais associado ao desempenho escolar e ao trabalho, ratificando o porquê de pessoas com baixa realização serem preguiçosas, sem objetivos, fracas, negligentes, relaxadas e descuidadas. A Abertura à Experiência refere-se aos comportamentos exploratórios e ao reconhecimento da importância de ter novas experiências. Indivíduos com índices elevados nessa dimensão caracterizam-se pela curiosidade, imaginação, criatividade, abertura para novas experiências, franqueza, originalidade e interesses culturais ( HUTZ et al., 1998). Em contrapartida, estão as pessoas com baixa abertura, sensatas, convencionais, não artísticas e não analíticas, possuindo interesses mais limitados. Uma vez que o indivíduo decida inserir-se no mercado financeiro, ele deve estar ciente de quão influenciado será por suas emoções e personalidade, a despeito de sua racionalidade. A literatura aponta que indivíduos cujas reações emocionais sejam intensas, tanto para o ganho quanto para a perda, têm desempenhos piores no mercado financeiro que aqueles que melhor controlam suas emoções (LO, REPIN, STEENBARGER, 2005). Assim, é fundamental que o investidor se autoconheça, saiba seus pontos fortes e suas limitações, para poder gerenciar melhor suas emoções e estratégias frente aos estímulos variados de perdas e ganhos que o mercado de capitais oferece. Na mesma linha de raciocínio, Kahneman & Tversky desenvolveram a Teoria da Perspectiva, que define duas deficiências humanas que causam padrões de erro na previsão do futuro e na tomada de decisão. A primeira deficiência consiste no fato de que a emoção pode impactar e até mesmo eliminar o autocontrole – peça-chave na tomada racional de decisões –; a segunda consiste no fato de as pessoas criarem molduras cognitivas, ou seja, formas de pensar dentro da mente. Essa nova perspectiva de Kahnemann & Tversky, chamada de Finanças Comportamentais, considera a irracionalidade humana nos processos decisórios. Um dos principais conceitos é a “aversão às perdas”, no
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qual as pessoas não repugnam o risco propriamente, mas a perda. As pessoas sentem mais o impacto da dor da perda que o do prazer do ganho, pois a carga de sofrimento é maior no momento da perda, se comparada à sensação de felicidade que demonstram com o ganho. Além disso, são mais propensas a arriscarem mais seu dinheiro quando estão perdendo do que quando estão ganhando (ARAÚJO & SILVA, 2007). O sentimento de perda é um dos elementos que acompanham os operadores. Cada operação realizada apresenta sua margem de erro e, em função disso, a possibilidade de perda está sempre presente. Perder significa fracasso para muitas pessoas não somente no trabalho e nas instituições de ensino, mas também na vida pessoal. Assim, pode-se afirmar que a perda gera ansiedade e dor (ZAVASCHI et al., 2002). Quando alguém menciona que perdeu algo ou alguém, logo sabemos que essa pessoa não obteve sucesso e, por consequência, não está feliz. No mercado de capitais, isso não é diferente. O sentimento de perda em geral vem acompanhado da sensação de fracasso, frustração e tristeza. Para lidar com esse tipo de situação, é preciso que o indivíduo se autoconheça, saiba identificá-la e lance mão de estratégias para contê-la. Cientificamente, as estratégias de enfrentamento são identificadas com o termo coping – entendido como esforços para diminuir ou impedir ameaças e situações que causam danos; além disso, é um conjunto de estratégias que se referem à adaptação a circunstâncias adversas (CARVER & CONNOR�SMITH, 2010; ANTONIAZZI, DELL’AGLIO & BANDEIRA, 1998). O coping também foi caracterizado por comportamentos mais flexíveis, propositais, conscientes e direcionados ao futuro que visam lidar com os problemas que surgem ao longo da vida ( FOLKMAN & LAZARUS, 1980, 1988). Independentemente da estratégia de coping empregada, é importante ter uma ou mais delas, com o objetivo de que seja fonte de alívio e representem uma solução. Para que o indivíduo consiga elaborar as estratégias de enfrentamento, ele precisa primeiro perceber a situação de estresse, depois avaliar suas opções de estratégias e, por fim, lançar mão da mais apropriada para o momento ( DI� NIZ & ZANINI, 2010). Assim, é importante que o operador identifique, avalie e encontre recursos para elaborar estratégias que facilitem lidar com situações adversas encontradas no mercado de capitais. Caso ele se veja sem condições de enfrentar os problemas, a tendência é que ele tenha mais prejuízos e desista de continuar nesta atividade. Outro ponto relevante é o fato de que uma estratégia de coping adequada a certa situação pode não ser a outra. Portanto,
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ao avaliar se uma estratégia é realmente eficaz, deve-se considerar o tipo de estressor que se apresenta, a disponibilidade de recursos de enfrentamento e o resultado do esforço (ANTONIAZZI, DELL’AGLIO & BANDEIRA, 1998). As estratégias diferenciam-se de indivíduo para indivíduo, em função do perfil de cada um. A literatura expoente na área aponta para algumas diferenças nas estratégias, como as com foco no problema, dirigidas para o problema em si, que buscam removê-lo ou diminuir seu impacto se não puder ser eliminado, e as com foco na emoção, que visam minimizar a angústia causada pelo estressor. Alguns comportamentos podem servir tanto para o coping focado na emoção quanto para o focado no problema, dependendo do objetivo subjacente ao seu uso. Por exemplo, um operador que busca apoio por ter perdido grande quantia financeira em uma operação irá se valer da estratégia focada na emoção se seu objetivo for apoio emocional; porém, se o intuito for obter conselhos ou ajuda técnica para resolver esse problema, empregará uma estratégia focada nessa questão. As duas estratégias podem se complementar, pois, ao utilizar o coping focado no problema, o indivíduo não só minimiza a ameaça como também diminui a angústia gerada por ela. Ao mesmo tempo, se ele faz uso do coping focado na emoção, reduzindo assim a angústia, apresenta-se aí a oportunidade de perceber o problema com calma e talvez conseguir resolvê-lo melhor (CARVER & CONNOR�SMITH, 2010). Nos últimos anos, uma terceira estratégia de coping foi identificada, e seu foco foi direcionado para as relações interpessoais, caracterizando-se pela busca de apoio nas pessoas do seu círculo social com o objetivo de resolver o problema (ANTONIAZZI, DELL’AGLIO & BANDEIRA, 1998). O ambiente de trabalho é o local em que os indivíduos lidam com diversos eventos estressores e, ao mesmo tempo, têm a possibilidade de recorrer aos colegas, que se configuram como sua rede de apoio social. Para resolver problemas de trabalho, as pessoas têm utilizado mais estratégias focadas no problema, o que indica que estão mais atentas para solucionar que propriamente identificar e amenizar o impacto desse problema em suas emoções ( PINHEIRO, TRÓCCOLI & TA� MAYO, 2003). O sentimento de ganho é o oposto do de perda. Quando ganhamos algo, logo nos sentimos satisfeitos e felizes. Essa sensação tende a predominar de tal forma que o sentimento de confiança aumenta. No modelo conceitual, a autoconfiança pode ser entendida como a crença geral e constante do indi víduo em sua capacidade de realizar uma atividade de forma bem-sucedida
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(MACHADO, 2006; FELTZ & CHASE, 1998). Outros fatores que também impactam as crenças de autoconfiança são as situações ou clima motivacional (MAGYAR & FELTZ, 2003). Desse modo, as pessoas que decidem operar no mercado de capitais são influenciadas tanto por situações de ganho e de perda, enfrentadas no dia a dia desse contexto, como pela motivação para realizarem operações. Portanto, quando o operador tem um ganho financeiro, ele precisa estar atento aos seus sentimentos, pois pode se sentir tão confiante e eficaz que é capaz de “perder” a racionalidade e embarcar em operações não alinhadas com sua estratégia, podendo também começar a ter prejuízos. Para lidar melhor com o sentimento de ganho, é preciso ainda que o operador tenha consciência de que seu sucesso é fruto de uma estratégia bem delineada, grande esforço, motivação e dedicação. O ganho não aconteceu ao acaso, destino ou sorte; mas é resultado de um planejamento que inclui técnica e disciplina. Alguns indi víduos apresentam menos ajuste emocional e acabam por exacerbar e superdimensionar o ganho podendo colocar em risco este mesmo ganho na próxima operação. Mais uma vez, o controle das emoções e o autoconhecimento vão interferir e fazer a diferença nos resultados bem-sucedidos. O medo é outro sentimento constante na vida dos operadores. Em função de a bolsa de valores oscilar bastante e de as técnicas existentes não garantirem o ganho em 100%, muitas pessoas vivem com medo. Assim, o medo é uma reação emocional frente a uma ameaça real ou imaginária ( TEIXEIRA & POR� TO, 1998; ROAZZI, FEDERICCI & CARVALHO, 2002), influencia o pensamento e impacta as ações na medida em que determina o que podemos e não podemos fazer. Ele também difere de acordo com a idade, classe socioeconômica, cognição, gênero e características de personalidade. Com relação a esta última, alguns indivíduos podem sentir o medo mais fortemente e expressá-lo mais que outros. Como exemplo, podemos citar operadores que ficam agitados, ansiosos e apavorados com a queda da Bolsa, enquanto outros conseguem permanecer frios e racionais. Contudo, o medo não é totalmente negativo e, na dose certa, é até necessário, pois funciona como um alerta para nos proteger de certos riscos, além de liberar energia para ser utilizada em qualquer ação que o indivíduo precise (ROAZZI, FEDERICCI & CARVALHO, 2002). Como ocorre no sentimento de perda, é preciso que os indivíduos se conheçam e lancem mão de estratégias de coping para lidar com o medo. Alguns podem “desligar-se” por um tempo da situação para raciocinar melhor; outros
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podem direcionar seus pensamentos para o método empregado na operação que estão realizando; outros, ainda, podem pedir auxílio a uma pessoa também atuante na área. Independentemente da estratégia empregada, mais uma vez, é preciso ter uma ou algumas estratégias que proporcionem alívio e representem uma solução. Alguns indivíduos, mesmo tecnicamente preparados, podem paralisar ao sentirem medo em função das características de personalidade. Pessoas com grande aversão à perda, que apresentam forte neuroticismo, podem sofrer mais o impacto do medo, pois são mais nervosas, preocupadas e depressivas. Em contrapartida, pessoas com ajuste emocional sofrem menos impacto e conseguem lidar melhor com essas situações, até mesmo aquelas que possuem menos conhecimento técnico, pois sabem que, ao buscarem mais informações, conseguirão resultados melhores. Desse modo, é indispensável que se tenha o conhecimento técnico, mas, para além dele, é necessário que se tenha autoconhecimento, controle das emoções e características de personalidade que facilitem o desempenho no mercado de capitais. Se for perceptível o alto nível de neuroticismo, talvez a melhor estratégia para a pessoa seja escolher um operador que fique totalmente responsável pelo dinheiro ou auxilie somente nas operações de maior risco. Por fim, outro sentimento muito presente e perigoso no cenário do mercado de capitais é a ganância. Ao planejar o aumento do capital, é preciso haver uma meta de ganho e um limite de perda. O planejamento deve ser reavaliado a cada meta alcançada, para que o operador tenha novos desafios. A ganância surge quando a pessoa não consegue avaliar suas metas, querendo cada vez mais. Ela se caracteriza pela vontade de possuir algo somente para si, em detrimento de alguém, além de não haver limites para o querer e o possuir (GOMES, 2011). Trata-se de um sentimento com fins exclusivamente econômicos (ROSSI & TIERNO, 2009). No mercado financeiro, isso acontece quando a pessoa consegue bons rendimentos financeiros, fica deslumbrada e acaba não fazendo um bom planejamento de ganho. Prevalece o sentimento de arriscar mais, impulsivo e, muitas vezes, destrutivo, que acaba colocado em risco o dinheiro investido, pois a pessoa perde o controle sobre seu comportamento e acaba sendo guiada pela ganância, que vai além da melhora da qualidade de vida. O dinheiro vira o único fator pelo qual o indivíduo se move, tornando-se o fim, em vez de representar um meio para viver melhor e mais feliz. É comum as pessoas começarem a investir com promessas de ganhos exorbitantes, principalmente entre os novatos e inexperientes. A possibilidade de
Perfil, comportamento e sucesso do investidor
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grandes rendimentos e de uma vida mais confortável e luxuosa mexe com o imaginário, como também faz com que as pessoas comecem a investir sem o mínimo de condições técnicas e emocionais. A falta de preparo, em particular o emocional, pode levar os indivíduos ao fracasso, pois os resultados de pesquisas na área apontam para uma relação negativa entre sucesso nas negociações e reatividade emocional ( LO, REPIN & STEENBARGER , 2005). Quando resolver se inserir no mercado financeiro, o operador deve ter em mente que conhecimentos técnicos não são suficientes para essa empreitada; é necessário que desenvolva o autoconhecimento para realizar operações financeiras de forma mais correta e segura.
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Referências
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