Com mais de 300 fotografias e mais de 70 mapas e ilustrações
Descobertas dos TEMPOS BÍBLICOS
_______________ Alan Millard _______________
DESCOBERTAS DOSTEMPOS BÍBLICOS Te Te so u ro s ar a rq ueo ue o ló g ic o s irradiam luz sobre a Bíblia
Vi Vicia
Pr azer, azer , emoç emo ção e conheci con heci ment o
_______________ Alan Millard _______________
DESCOBERTAS DOSTEMPOS BÍBLICOS Te Te so u ro s ar a rq ueo ue o ló g ic o s irradiam luz sobre a Bíblia
Vi Vicia
Pr azer, azer , emoç emo ção e conheci con heci ment o
ISBN 85-7367-400-8 Categoria: Categoria: Referência/ Referência/ Arqueolo rqueologia gia Esta obra foi publicada em inglês com o título D isc iscoveries Fro FromBible mBibleTim Times por Lion Publishing Copyright Copyright do texto © 1 198 985, 5, 1990, 90, 1997 1997,, de Alan Mill Millard ard Copyri Co pyright© ght© 1985 1985,, 1990 1990,, 1997 1997,, de Lion Lion Publishi Publishing ng Copyright Copyright desta edição edição © 1999, 1999, de Editora Editora Vida Traduzido por Eduardo Pereira e Ferreira Todos os direitos reservados na língua portuguesa por Editora Vida, rua Júlio de Castilho, 280 03059-000 São São Paulo, SP - Telefax: Telefax: (011) 6096-6833 6096-6833 As cita itações ões bíb bíblic licas for foram extr xtraída ídas da Edi Edição Con Conttemporâ orânea da tradução tradução de João João Ferreira de Almeida, lmeida, publi publicada cada pela Editora Editora Vida, salvo quando quando outra outrass fontes fontes forem forem citadas. Gerência Editorial: Reginaldo de Souza Preparação Preparação de texto texto:: Fabiani S. Medeiros Revisão de provas: Rosa M. Ferreira Capa em em português e edito editoraçã ração o eletrônica: eletrônica: Gra GraphBox phBox
Impresso na Malásia
SUMÁRIO Prefácio 7 As terras da Bíblia (mapa) 8/ 9 A terra de Israel (mapa) 10 PRIMEIRA PARTE: TESOUROS DOS TEMPOS BÍBLICOS 11 Arqueologia bíblica — os primórdios 13 Empreendedores no Egito 16 Curiosidades da Assíria 18 Na terra da Bíblia 23 Decifrando escritos antigos 25 O mistério dos hieróglifos egípcios 26 Os segredos da rocha de Beístum 28 Desenterrando o passado 32 Um dia de escavação 36 “Só pode ser o dilúvio!” 38 A história babilônica do dilúvio 42 Tesouros reais de Ur 44 Manchete: a cidade perdida de Ebla 47 Ur: a cidade do deus da lua 50 O palácio dos reis de Mari 54 Os patriarcas: o argumento do silêncio 58 Um povo redescoberto: Quem eram os heteus? 60 Tratados e alianças 64 Parentes dos hebreus? 65 O tesouro de Tutancâmon 68 Tutancâmon, o tabernáculo e a arca da aliança 73 Nas olarias do Egito 74 A cidade-celeiro do faraó Ramessés II 77 Algum sinal de Moisés? 80 O código do rei Hamurábi e a lei de Moisés 81 Debaixo do arado: a cidade enterrada de Ugarite 84 Lendas e mitos cananeus 88 O alfabeto 90
Cidades conquistadas de Canaã 92 E as muralhas vieram abaixo 96 O problema de Ai 99 Registro da vitória: A “Esteia de Israel” 100 Os filisteus 102 Um templo de ouro 105 As obras de Salomão 107 Uma fortuna em ouro e prata 108 Palácios de marfim 109 O gravador de selos 112 Casas comuns 114 Nos tempos anteriores à cunhagem 116 Nenhum tesouro escondido: a “Pedra Moabita” 117 O preço da proteção: o “Obelisco Negro” 119 “E vieram os assírios...” 121 “Como passarinho na gaiola”: Senaqueribe ataca Jerusalém 124 O túnel do rei Ezequias 126 “Não vemos os sinais” 128 “Nabucodonosor, rei dos judeus” 131 A glória que foi Babilônia 135 A escrita na parede: Belsazar— homem ou mito? 139 Esplendores persas 141 As ordens do rei — em todas as línguas 146 Das malas postais persas 148 O trabalho do escriba 150 A aventura de Alexandre e o ideal grego 152 Moedas judaicas 155 Petra, a cidade oculta 157 Massada — a última fortaleza 161 Entrada proibida — exceto para judeus: a história de uma pedra 165 A Palestina do tempo de Jesus (mapa) 168
SEGUNDA PARTE: DESCOBERTAS DO TEMPO DE JESUS 169 A Casa Queimada 172 As casas dos ricos 174 Um vaso de alabastro para perfume 179 Vida cotidiana 180 Será que a limpeza beira a santidade? 182 Talhas de pedra para água 184 Cafarnaum 185 O “barco de Jesus” 186 Uma cidade que os romanos conquistaram 187 Uma sinagoga dos dias de Jesus 190 A Bíblia do tempo de Jesus 193 As línguas que eles falavam 194 O pequeno é belo 196 Geena— “o fogo que nunca se apaga” 198 Paz, afinal 200 Herodes — rei dos judeus 204 Não há deus ali! 209 César Augusto 210 Herodes — o grande assassino 212 Herodes — o grande construtor de castelos 215 Herodes — o grande construtor de cidades 218 Os filhos de Herodes 221 Os governadores romanos 224 O monumento de Pilatos 226 Certamente nada santo! 228 Indícios do caráter de Pilatos 231 Dinheiro e moedas 232 A imagem de César 234 Exército de ocupação 236 Os turistas do templo 238 O grande templo de Herodes 242 Que pedras! 248 Diante das mesas dos cambistas 251 Por onde trilharam os santos 252 Um túnel secreto 255
Zacarias —sacerdote da ordem de Abias 256 O óbolo da viúva 258 Um tesouro de livros enterrados 259 Um mosteiro no deserto 262 O Regulamento da Comunidade 268 De quem era a voz no deserto? 270 Os manuscritos e os ensinamentos de Jesus 272 Um evangelho em Qumran? 275 Modelos de túmulos 278 Seus nomes sobrevivem 284 Será que podemos ver o túmulo de Jesus? 286 Como ele foi crucificado? 292 Será que seu pai carregou a cruz? 293 Não perturbem os mortos 294 O túmulo que um peregrino viu 295 O mistério do sudário de Turim 296 Filo — filósofo de Alexandria 302 O judeu Josefo — patriota ou traidor? 306 Autores romanos 309 Escritos judaicos 311 As Bíblias mais antigas 314 Uma nova descoberta no monte Sinai 316 Livros dos tempos do Novo Testamento 319 Os livros cristãos mais antigos 322 O mais antigo de todos 325 Antes dos Evangelhos 327 Em busca do texto correto 330 Uma diferença teológica 334 Erros comuns 335 Alterações deliberadas 336 O que cantavam os anjos? 337 Será que eles lavavam as camas? 338 Será que são originais? 339 Novos conhecimentos — novas traduções 342 Leitura recomendada 346 índice 347 Créditos 352
PREFÁCIO
aqui, mas, se todas fossem incluídas, o á mais de cem anos se vêm livro ficaria muito extenso e talvez por escrevendo livros para mostrar o demais entediante. Além disso, as que as descobertas arqueológicas feitas contribuições da arqueologia à no Oriente Próximo podem revelar compreensão da carreira de Paulo e da acerca da Bíblia. Alguns usam a igreja primitiva extrapolam o meu arqueologia para tentar provar que a objetivo. Por razões técnicas, a união Bíblia é verdadeira; alguns a dos dois livros permitiu apenas consideram menos importante do que algumas revisões de menor peso nos outras formas de estudar os registros antigos. Também há mais de cem anos, textos anteriores; mesmo assim, embora algumas interessantes milhares de pessoas têm peregrinado descobertas, feitas recentemente, não até a terra santa para ver os locais possam ser incluídas, não vejo motivo sagrados — para “andar por onde para mudar as opiniões apresentadas Cristo andou”. No lago e nas colinas da Galiléia, é fácil imaginar as histórias antes. Vários amigos e instituições do evangelho; outros lugares estão forneceram fotografias gentilmente, profundamente modificados. Como pelo que lhes sou muito grato. A era viver no antigo Israel ou na experiência de morar em Jerusalém Palestina do século I? Quanto como membro do Instituto de podemos aprender sobre os dias de Estudos Avançados da Universidade Abraão ou de Salomão? Descobertas Hebraica, em 1984, e a bondade dos feitas nos últimos quarenta anos amigos de Jerusalém, especialmente o proporcionaram um panorama muito falecido professor Nahman Avigad, mais vivido, em comparação com estimularam a segunda parte deste aquilo que gerações passadas tiveram, sobretudo em relação aos dias de Jesus. livro. O dr. Walter Cockle, do University College, de Londres, e o dr. Este livro é uma combinação John Kane, da Universidade de de outros dois — Treasuresfrom Bible times [Tesouros dos tempos bíblicos] e Manchester, leram e comentaram vários capítulos; o professor Kenneth Discoveriesfrom the time of Jesus [Descobertas dos tempos de Jesus]— , Kitchen, meu amigo, deu contribuições sobre as questões os quais se ocupam de descobertas egiptológicas. Mas o incentivo e o específicas, examinando a natureza apoio incansáveis da minha mulher é dessas descobertas, o modo por que que me possibilitaram completar esta algumas delas foram interpretadas no obra; acima de tudo, sou grato a ela. passado e a forma em que podem ser compreendidas hoje. Muito mais descobertas poderiam ser apresentadas Alan Millard
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Primeira Parte
TESOUROS DOSTEMPOS BÍBLICOS
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ARQUEOLOGIA BÍBLICA — OS PRIMÓRDIOS
A,
Jguém se esqueceu de fechar a porta descreveram ecoletaram objetos das e acabou mudando a história da Europa. ruínas das cidades gregas e romanas. Os turcos estavam atacando Uns poucos foram mais longe, à Síria Constantinopla em maio de 1453. Suas e à Palestina. Ali encontraram as muralhas eram fortes, e bravos seus espetaculares ruínas de Baalbek, Palmira e defensores. Alguns se esgueiraram lá para Petra, cidades romanas com arquitetura fora por uma portinha, para um ataque tomada de empréstimo aos gregos. rápido e curto, mas deixaram de trancá-la E claro que os peregrinos já vinham na volta. Entrou primeiro um grupo de visitando os locais sagrados havia turcos, depois uma torrente. Destroçaram centenas de anos, mas poucos se os defensores, e logo a cidade era deles. interessaram por eles como locais Muitos cidadãos já haviam fugido, históricos ou chegaram a estudar as ruínas temendo avitória turca. Outros, os que visíveis. conseguiram, fugiram depois. Eram O antigo Egito havia atraído alguns gregos e cristãos. Os únicos lugares em aventureiros, que voltaram com relatos que podiam ter esperança de encontrar dos enormes templos, dos túmulos refúgio eram a Itália ea França. Alguns pintados e das pirâmides. Além dos dos que se estabeleceram nesses países relatos sinceros dos viajantes, essas eram eruditos, que levaram consigo a incursões também colocaram o Egito na herança gregaclássica. Sob a influência da mira dos escritores de ficção fantástica. antiga filosofia grega, aliada a outras Estes pensavam poder prever o futuro ou mudanças, floresceu a Renascença. conhecer outros segredos com base no À medida que foi crescendo o projeto das pirâmides —idéia falsaainda interesse pelos antigos gregos e romanos, hoje em voga. os ricos começaram acolecionar estátuas Mas o que realmente se conhecia e moedas encontradas nas cidades em sobre o antigo Egito era o assunto das ruínas. Estudiosos começaram a estudar e múmias, os corpos de egípcios a escreversobre elas. Em alguns poucos cuidadosamente envoltos em bandagens e casos, era possível fazer ligações com a preservados com substâncias químicas Bíblia, sobretudo com o Novo naturais. Pó de múmia era considerado Testamento. As pessoas começaram a remédio milagroso! perceber que conhecer mais sobre o Logo se escreveram livros para aplicar mundo antigo e o modo em que viviam as novas descobertas à Bíblia. De repente os povos poderia ajudá-las a compreender nomes quase inexpressivos tornaram-se melhor os escritos antigos. reais. Os tiranos assírios realmente Ao longo dos séculos XVII eXVIII, apareceram, entalhados nas paredes dos jovens ricos e aventureiros viajaram à palácios, com seus exércitos e infelizes Itália, à Grécia e àTurquia; exploraram, prisioneiros. Os grandes reis da Pérsia
Nomes bíblicos saltaram à vida quando arqueólogos descobriram emparedes de palácios retratos entalhados dos triunfos dos reis assírios. Essaesteia mostra o rei assírio Tiglate-Pileser III.
O mistério das grandes pirâmides do Egito há muito assombra a imaginação dos viajantes e dos escritoresdeficçãofantástica. Aspesquisas meticulosas desir Flinders Petriepuseram um pontofi nai em muita especulação.
TESOUROS DOS TEMPOS BlBLICOS Nos séculosXVIIeXVIII, aventureiros descobrirampela primeira vez asfantásticas ruínas de cidades como Palmira, cujos construtores, romanos, seguiram os estilosdaarquiteturagrega.
questões dehistóriaede costumes humanos. falavam por meio dos seus escritos, e os Se aBíblia, ou qualquer outro livro antigo, diz faraós do Egito puderam ser identificados. Tudo isso proporcionou o rico cenário queaspessoasseguiamdeterminados padrões de comportamento em certo período, as da história bíblica e da história do antigo descobertas arqueológicas podem revelarse Israel. isso é ou não verdade. Ao mesmo tempo, ganhavam terreno Mesmo que os resultados das idéias sobre o Antigo Testamento que descobertas arqueológicas concordem com aparentemente negavam o que os próprios os relatos de escritores antigos sobre uma livros dos hebreus diziam. As histórias de prática remota, ainda assim não podem Abraão e de sua família provinham, provar que um exemplo específico argumentava-se, dos tempos dos reis de mencionado num texto de fato aconteceu. Israel, ou de período posterior. Muitas das Isso exigiria provas escritas independentes leis ligadas ao nome de Moisés se a respeito dessa ocasião. Mas o fato de as desenvolveram ao longo de um período bem extenso, sendo algumas delas ideais de afirmações bíblicas freqüentemente concordarem com as práticas antigas é um sacerdotes do tempo do exílio. Essas e bom motivo para uma visão positiva dos outras concepções semelhantes ficaram registros bíblicos (v., p. ex., “Um templo bem populares. E o são ainda hoje. de ouro” e “Das malas postais persas”). Alguns escritores acreditavam que as Situar esses registros no cenário antigo descobertasarqueológicastestemunhavam é um serviço importante da arqueologia. contra essas idéias e começaram a usar a arqueologia para “comprovar” a Bíblia. Mas Possibilita que o leitor de hoje aprecie melhor esses registros nos planos histórico fazer isso, como alguns continuam fazendo, é exigir mais do que a arqueologia pode dar. e cultural. Descobertas mais raras, A arqueologianão pode nem comprovar relacionadas diretamente a passagens do Antigo e do Novo Testamento, podem dar a Bíblia nem refutar as suas principais sustentação ao testemunho dessas asserções, pois elas tratam de Deus. A passagens, acrescentando mais detalhes (v., arqueologia não poderájamais apresentar p. ex., “Nenhum tesouro escondido” e“E provas que mostrem que Deus falou por meio de Moisés, por exemplo, ou que Deus vieram os assírios...”). Assim como essas descobertas mandou Nabucodonosor destruir Jerusalém. aumentam nosso conhecimento sobre o É improvável que qualquer pessoa jamais encontre alguma coisa relacionada aMoisés, mundo em que a Bíblia foi escrita, também permitem que sua singular mensagem ou escrita por ele. religiosa sobressaia de forma mais ousada. A arqueologiapode, sim, ser útil em
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EMPREENDEDORES NO EGITO
apoleão Bonaparte invadiu o Egito em 1798, e a equipe equipe de cientist cientistas as que levou consigo praticamente fundou a moderna egiptolo egiptologia gia (v. “O mistério dos hieróglifos egípcios”). O antigo Egito virou moda. A elite comprava móveis móveis decorados no estilo egípci egípcio, o, e alguns importavam importavam os entalhes entalhes antigos do próprio próprio Egito. Egito. Os Os museus useus também queriam objetos refi refinados. nados. Assim, as pessoas pessoas iam ao Egito para trazer tudo o que conseguissem. Um dos homens mais notáveis ocupados disso disso foi foi um italiano italiano que trabalhara num circo em Londres, exibindo-se como brutamontes, o “gigante
O sol se selevanta sobreo sobreo rio rio Nilo Nilo em NagHa NagHam mmadi, no no Egito ito. 16
italiano italiano”. ”. Esse homem, Belzoni, Belzoni, não tinha tinha somente músculos, músculos, mas cérebro cérebro também, e inventou inventou uma roda-d’água roda-d’água muito melho melhor, r, segundo segundo ele próprio, próprio, do que qualquer outra outra usada usada no Egito. Em 1815 1815 ele aexibiu exibiu no Cairo Cairo, mas ninguém ninguém se se interes interessou. sou. Então Então passou passou a dedicar-se dedicar-se a transportar monumentos de pedra do Egito para a Inglaterra. As ações de Belzoni oni, ab abrindo túmulos e saqueando saqueando templos, templos, foram foram deploráveis deploráveis se se julg julgadas por parâmetros posteriores, mas assim mesmo mesmo ele fez fez muitas descobertas descobertas importantes e ajudou o antigo Egito a conquistar conquistar seu lugar na imaginação das das pessoas, lugar lugar esse que jamais jamais perdeu.
jf il l %l %l1 EMPREENDEDORES NO EGITO
Vár Vários outros coleciona onadore ores e comerciantes comerciantes de antigüid antigüidades ades seguiram seguiram o exemplo exemplo de Belzoni lzoni.. Mas Mas alguns estudioso estudiososs trabalhavam de modo mais mais metódi metódico. co. Uma equipe alemã alemã,, dirigi dirigida da por Richard Richard Lepsius, ficou ficou de 1843 a 1845 1845 investigando investigando túmulos túmulos e monumentos e fazendo registros precisos deles, ao mesmo mesmo tempo em que coletava objetos para para o museu de Berlim. Lepsius compilou doze volumes de desenhos e descrições, DenkmãlerausAgypten, até hoje fonte essencial de conhecimento. Três ingleses ingleses fizera fizeram m um vali valioso oso trabalho de cópia cópia de pinturas e inscrições depois destruídas ou danificadas. nificadas. Alguma Algumas dessas descobertas for forneceram neceram material material para um livro livro fam famoso escrito por um dos três, sirJohn John Wilkinson: Wilkinson: Themanners and [Hábitos e customsoft oftheanc ancientEg Egyptians tians [Hábitos costumes dos antigos egípcio egípcios] s] (publ (publicado icado pela primeira primeira vez em 1837). Mas a tarefa de pôr um po pouco uco de ordem na arqueol arqueologia ogia egípcia egípcia coube a um jov jove em fra francês que estava já havia alguns anos no país. Auguste Mariette fundou o Museu Museu do Cairo em 1858, monto montou u um
instituto local de antigüidades e criou leis para controlar controlar a exportação exportação de antigüidades antigüidades do Egito. Egito. Fez também várias várias escavações cuidadosas e importantes. Posteriormente, Posteriormente, ainda no século século XIX XIX, as escavações escavações no Egito Egito ganharam base científica científica emetódi metódica, ca, obra do ativo arque arqueólogo ólogo britânico sir Flinder Flinderss Petrie. Nascido em 1853, Petrie foi educado pelos pais epela própria própria paixão por colecio colecionar nar e organizar organizar as coisas coisas. Seu pai era engenheiro engenheiro civil e ensinou-lhe ensinou-lhe os fundamentos ntos da pesquisa, que então aplico aplicou u aos antigos monumento monumentoss da da Grã Grã--Bretanha. Em 1880 foi para o Egito com o intuit intuito o de estudar estudar as as pirâmides, tarefa que que lhe tomou tomou boa parte dos dois anos seguint seguintes. es. Reza Reza a tradição que ele trabalhava trabalhava somente com um uma a bengala bengala e um cartão de visitas, ainda ainda assim assim obtendo resultados bastante precisos. Certamente Certamente era espartano, viv vivendo endo apenas com o mínimo necessário. Em 1883, o Fundo E Egípcio gípcio de Exploração, criado no ano anterior, contratou-o para trabalhar no Eg Egito. Lá trabalhou trabalhou a maior parte dos anos seguintes, seguintes, até até 1926, e escavou cerca de trinta sítios diferentes, adotando o hábito de publicar publicar um relato de cada trabalho trabalho depois de um ano da sua conclusão. conclusão. Enquanto os exploradores anteriores buscavamgrandesedifíci difícios oseobjetos objetospara museus, Petrie Petriededicavadedicava-se seàsanotações anotações precisas e àcompara comparação dos pequenos detalhes. Conseg Conseguiuproporcio proporcionar narumcenário histórico histórico adescobertasanteriores, nteriores, resgatar ve vestígios importantes desprezados pelos outros e fazerum estudo ordena ordenado da da incrível va variedadeencontradano antigo Egito. Quando Petrie deixou o Egito em 1926, já já não havia havia espaço paraarqueólogos ólogos que desconsiderava desconsideravam modestos cacos de cerâmica ou descartavam ossos de ani animais. mais. A arqueologia tornara-se -se um estudo preciso, científico.
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Foi sir Will Willia iamFli mFlin nders Petriequ iequem deu uma basecientí basecientífifica ca emetódica às escavações no Eg E gito, nofina fi nall do século XIX.
CURIOSIDADES DA ASSÍRIA
O nome da Babilônia nunca saiu da mente das pessoas, mesmo depois de o local ter sido engolido pelo deserto. A Babilônia representava avida luxuosa e ímpia, pois o Apocalipse da Bíblia usou seu nome como sede da iniqüidade humana. Ninguém sabia ao certo como fora a cidade. Alguns europeus que iam até Bagdá viam as colinas poeirentas de Babil e pegavam tijolos com estranhas inscrições para levar para casa como curiosidades. O primeiro a pesquisar e a descrever as ruínas foi um jovem notável, Claudius James Rich. Aos 20 anos chegou a Bombaim para trabalhar na Companhia Britânica da índia Oriental, já tendo viajado pelaTurquia, pelo Egito e pelo Oriente Próximo. Além de francês e italiano, também falava turco, árabe e persa, além de ler hebraico, siríaco e um pouco de chinês! Um ano depois a companhia nomeou Rich representante em Bagdá, e paralá ele se foi em 1807 com a noiva de 18 anos. Em 1811, os dois fizeram uma excursão até Babilônia. Rich passeou pelos morros, traçando esboços eplanos iniciais, destinando já alguns homens para escavar em busca de tijolos com inscrições, selos e outros objetos. Seu Memoiron theruins ofBabylon [Relatos sobre as ruínas da Babilônia] foi publicado em 1813 em Viena e reeditado em Londres em 1815, 1816 e 1818, tamanho o interesse que despertou. Ele fez outra visita em 1817, para averiguar seus resultados' anteriores, e publicou em Londres o Second memoir on Babylon 18
[Segundo relato sobre a Babilônia], em 1818. Dois anos mais tarde, os Riches fizeram uma longa excursão, incluindo no trajeto Mossul, principal cidade do norte do Iraque. Na margem oriental do Tigre, defronte a Mossul, estavam as ruínas da antiga capital da Assíria, Nínive. Rich explorou-as e pesquisou-as, coletando tijolos e tabuinhas de argila com inscrições. Fez anotações das viagens, mas não viveu o bastante para publicá-las. Em 1821, em Chiraz, a caminho das ruínas de Persépolis, foi vítima de uma epidemia de cólerae morreu, aos 34 anos. Suaviúva, que saíra antes dele para Bombaim, organizou seus diários, publicados em 1836 (. Narrativeofa residencein Koordistan). Em 1825, o Museu Britânico comprou por mil libras os selos, as inscrições e os manuscritos que ele colecionara. Os livros de Rich foram amplamente lidos. Na França, o governo foi convencido a fornecer dinheiro para escavações nas promissoras colinas de Nínive. Paul Emile Botta foi enviado a Mossul e abriu suas primeiras valas nas ruínas de Nínive em dezembro de 1842. Encontrou pouquíssima coisa nas seis semanas de trabalho; portanto, ficou feliz quando o povo do local falou-lhe de um lugar chamado Khorsabad, 22 quilômetros ao norte, onde sepodiam ver pedras entalhadas. Botta começou a cavar ali em 1843, prosseguindo até 1845. Pouco abaixo da superfície do solo encontravam-se as paredes de um grande
CURIOSIDADES DA ASSÍRIA
palácio. Revestindo as paredes de tijolos havia placas de pedra entalhada, com desenhos e inscrições cuneiformes. Diante das portas principais viam-se enormes touros alados, de até 4,8 metros de altura. Botta ficou fascinado. Reuniu mais homens para colocar as peças entalhadas em carroções, levá-las até o rio Tigre e colocá-las em balsas, navegando rio abaixo até o porto de Basra. Antes de embalá-las, Botta contratou um artista para desenhá-las, fazendo assim um registro delas antes que qualquer dano lhes pudesse acontecer. Quando as pedras chegaram a Paris, causaram sensação. O interesse público elevou-se ainda mais quando se provou que o palácio pertencera a Sargom, o rei da Assíria mencionado em Isaías 20.1, cuja existência fora posta em dúvida, pois não havia nenhuma outra referência ao seu nome. Em 1839, um inglês de 22 anos partiu de Londres com um amigo a fim de chegar ao Ceilão (atual Sri Lanka), onde um parente lhes arrumaria
emprego. Em 1840 alcançaram Mossul, depois desceram o Tigre numa balsa até Bagdá. Logo após se separaram. Um deles partiu para concluir a viagem. O outro, Austen Henry Layard, encantou-se com a região e ficou para trás. Passou alguns meses na Pérsia, vivendo com os povos das montanhas, e depois voltou paraBagdá. Dali foi enviado ao embaixador britânico em Istambul, com mensagens políticas. A caminho, encontrou Botta em Mossul. O embaixador na época se interessava por antigüidades e, por isso, depois de contratar Layard para pequenas tarefas diplomáticas, deu-lhe recursos para começar uma escavação na Assíria, com a aprovação do sultão turco. No final de 1845, Layard pôs-se a escarvar a colina chamada Nimrud, que vira ao sul de Nínive. Imediatamente as pás dos operários atingiram placas de pedra que revestiam paredes de salões. Surgiram esculturas em relevo, inscrições cuneiformes, objetos de metal e frágeis peças de marfim entalhado. Layard convenceu-se de que havia encontrado Nínive, e voltou a Londres depois de dezoito meses de trabalho para escrever um grande sucesso editorial: Nineveh andits remains [Nínive e os seus restos] (1849).
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O The Illustrated London News divulgou muitas descobertas importantes dos primeiros arqueólogos, comofoi o casode Austen Henry Layard.
Decorando opalácio do rei Sargom, da Assíria, em Khorsabad, havia um grande touroalado (esquerda). Paul EmileBottafoi oprimeiro a escavar a colina. Quandoas esculturas que encontrou foram levadas a Paris, causaram sensação. A lgumas das maisfamosasesculturas assírias são as queretratam o rei A ssurbanipal e seus cortesãos caçando e matando leões.
TESOUROS DOS TEMPOS BÍBLICOS
Retornou a Mossul em 1849 e começou a escavar com empenho as colinas de Nínive, onde suspeitava poder encontrar mais esculturas, apesar do fracasso de Botta. E estava certo. De 1849 a 1851, ele e seu ajudante local, Hormuzd Rassam, desencavaram salões revestidos com quase 3 quilômetros de entalhes em pedra. As esculturas pertenciam ao palácio de Senaqueribe (rei daAssíria, 705-681 a.C.) e entre elas estavam as famosas imagens do rei no cerco de Laquis (v. “E vieram os assírios...”). Num dos salões havia milhares de pequenas tabuinhas de argila cobertas de inscrições cuneiformes, parte da biblioteca
Ribeirinhos árabes com uma carga dejuncoremam atravessando o rio Eufrates. Seu modo de viela na parte meridional do grande reino da Babilônia mudou pouco ao longo dos milênios. 20
palaciana. Tão importantes e empolgantes quanto as esculturas, esses documentos apresentam as informações realmente vitais sobre ahistória, a religião e a sociedade assíria. Todos esses tesouros foram embarcados rumo à Inglaterra, para o Museu Britânico. Layard terminou as escavações em 1851, tornando-se político, diplomata e colecionador de objetos de arte. A Assíria e aBabilônia então se transformaram em campo de caça de objetos raros para alimentar os museus. No sul, só se encontraram tabuinhas de argila, trabalhos em metal e outros pequenos objetos, para desencanto dos exploradores. A Assíria
CURIOSIDADES DA ASSÍRIA
continuou a revelar frisos entalhados às pás dos escavadores franceses emKhorsabad e, especialmente, a Rassam em Nínive. Ali ele encontrou o palácio de Assurbanipal, o último grande rei daAssíria (669-627 a.C.). Outra grande coleção de tabuinhas de argila veio delá, além das magníficas cenas do rei caçando leões eoutros animais selvagens, hoje tão famosas. O ritmo das descobertas diminuiu com a Guerrada Criméia (1853-56) e outros problemas. Os estudiosos trabalharam para interpretar e divulgar as descobertas. Em 1872, GeorgeSmith, assistente do Museu Britânico que estudava as tabuinhas de argila, identificou
numa delas a narrativa de um grande dilúvio, bemsemelhante àhistória do dilúvio de Noé em Gênesis (v. “A história babilônica do dilúvio”). Isso gerou nova onda de interesse popular, e um importante jornal, TheDaily Telegraph, financiou novas escavações em Nínive. Agora mais estudiosos franceses trabalhavam na Babilônia, descobrindo ruínas da cultura suméria anteriores a 2000 a.C. Em Tello encontraram belas estátuas de um soberano chamado Gudea, que reinou por volta de 2100 a.C. Uma equipe da Universidadeda Pensilvânia, a partir de 1887, fez escavações no centro religioso sumério de Nipur, recuperando milhares de tabuinhas cobertas de inscrições cuneiformes, até mesmo muitas com mitos e hinos sobre os deuses e deusas ali cultuados. Bemno final do século, uma expedição alemãabriu escavações na Babilônia. Lideradapor um arquiteto, Robert Koldewey, ela estabeleceu novos parâmetros de precisão para as escavações e para a documentação. A arqueologianaAssíria e na Babilônia transformara-se decaça ao tesouro em exploração científica do passado.
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EmNimrud, perto deNínive, Layarddescobriu salões revestidos complacas depedra eportas guardadas por touros depedra. Os árabesficarampasmados,quando o primeiro delesfoi desenterrado.
NA TERRA DA BÍBLIA
u
m americano, Edward Robinson, figura nos primórdios da arqueologia na Palestina, embora jamais tenha escavado um sítio antigo sequer e pensasse até que os cômoros de terra (tells) que as encobriam eram montes naturais. Em duas viagens à Palestina, em 1848 e em 1852, Robinson eseu amigo Eli Smith exploraram o país e, com estudo cuidadoso da paisagem, identificaram uma centena delocalidades citadas na Bíblia que ainda não haviam sido corretamente situadas. Essetrabalho fundamental, ao lado da descrição da região, foi publicado como Biblical researchesinPalestine [Pesquisas bíblicas na Palestina] (1841) e Later biblical researches [Novas pesquisas bíblicas] (1856). Mapear aterra com precisão foi tarefa importante. Outro americano, W. E Lynch, deu uma contribuição essencial quando ele eseus homens embarcaram no mar da Galiléia edesceram o rio Jordão em dois barcos metálicos préfabricados. A jornada demorou uma semana, de 10 a 18 de abril de 1848. Ele fez o primeiro mapa detalhado do curso sinuoso do rio e descobriu que a superfície do mar Morto fica 396 metros abaixo do nível do mar. O trabalho principal, o levantamento geográfico da Palestina ocidental, foi realizado pelo Fundo de Exploração da Palestina, fundado em Londres em 1865. O Fundo enviou oficiais do exército britânico paramapear Jerusalém e o interior. Entre 1872 e 1878, C. R. Conder e H. H. Kitchener (mais tarde lorde
Kitchener de Cartum) esquadrinharam mais de 15 540 quilômetros quadrados da região, assinalando mais de dez mil sítios. Seus mapas, embora substituídos em anos recentes, embasam todos os posteriores. O Fundo de Exploração da Palestina também fez algumas escavações, especialmente no contorno do templo de Herodes emJerusalém (v. “O grande templo de Herodes”). Mas não se fizeram muitas escavações produtivas senão em 1890, quando Flinders Petrie, vindo do Egito, fez uma breve visita à região. Durante seis semanas ele trabalhou na colina chamadaTell el-Hesy. Ali percebeu a importância de relacionar a cerâmica, comumente encontrada em sítios antigos, aos diferentes níveis do subsolo em que foi achada. Com basenas posições relativas das peças, ele foi capaz de descobrir quais tipos eram os mais antigos, classificando assim os objetos de cerâmica por idade. Assim, ele fixou o parâmetro para todo o trabalho posterior na Palestina. Onde não existem inscrições ou moedas, a cerâmica fornece algumas pistas a respeito da data dos edifícios em que é encontrada. Na Palestina não há os enormes templos de pedra nem os imensos palácios de tijolo do Egito e da Assíria. As colinas palestinas exigem muito mais atenção do arqueólogo, retribuindo com menos recompensas espetaculares. Observação e documentação são vitais. Depois do novo método de Petrie, outros passaram gradualmente a perceber isso. 23
A região montanhosa daJudéia e suas cidadezmhas compõem o cenário de boa parte do registro bíblico.
TESOUROS DOS TEMPOS BÍBLICOS
Kenyon (1906-1978). Ao participar de uma Uma expedição americana começou a expedição aSamaria, em 1931, introduziu explorar o sítio de Samaria em 1909 e 1910. uma técnica de escavação que aprendera Os empreiteiros do rei Herodes destruíram trabalhando na Grã-Bretanhaao lado de sir boa parte do palácio israelita quando Mortimer Wheeler. Nas suas explorações em ergueram o novo templo (v. “Herodes—o A arqueóloga Kathleen Kenyonfoi uma das especialistas mais influentes grande construtor...”), e por isso foi muito Jericó (1952-1958), ela aplicou o método que trabalharam na Palestina. Ela é estratigráfico de escavação e de famosa sobretudopor suas escavações difícil identificar aplanta do palácio e sua documentação com resultados brilhantes, história. Felizmente, G. A. Reisner, o diretor, emJericó. ainda que se tenham revelado era um escavador meticuloso e perspicaz, Petriemandou queaspeçasde decepcionantes para os estudos bíblicos (v. com experiência no Egito. Ele observou as cerâmica encontradas nas suas “E as muralhas vieram abaixo”). camadas de solo com cuidado, para que escavaçõesemTell el-Hesyfossem desenhadas no local antes de As escavações de Kenyon em Jericó e pudessedesvendara história. Reisner não recolhidas à segurança de um museu. suas explorações posteriores em Jerusalém voltou aescavar na Palestina, eseus métodos (1961-1967) treinaram ou influenciaram foram desprezados por outros arqueólogos. A vista aérea (acima, à direita) muitos dos arqueólogos que desde então W. F. Albright, o grande arqueólogo mostra ogrande “tell”, ou colinaamericano, começou a explorar aregião em trabalharam na Palestina, embora alguns cidade, de Laquis. A Bíblia relata especialistas israelenses-sigam 1922 e aperfeiçoou a datação da cerâmica como a cidadefoi tomada pelos invasoresassírios. procedimentos ligeiramente diferentes. comparando peças de um sítio com as de Todos se preocupam em aprender o mais todos os outros sítios, já que tinha possível numa escavação, visando primeiro imbatível conhecimento deles todos. Um dos arqueólogos mais influentes que a conhecer mais sobre toda a história do lugar e depois a analisar seu valor para a trabalhou na Palestina nos últimos interpretação da Bíblia. cinqüenta anos foi uma mulher: Kathleen
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DECIFRANDO ESCRITOS ANTIGOS
As línguas da Bíblia — hebraico, aramaico e grego— sempre foram compreendidas por algumas pessoas, mas boa parte das outras línguas de povos que viveram nos tempos bíblicos acabou esquecida. E, claro, estão perdidas para sempre se os povos que as falavam não as escreveram em pedra ou outros materiais que sobrevivem por longo tempo. Esses dois fatores significam que são pequenas as possibilidades de recuperação de escritos antigos, embora estes subsistam em grande número em determinados lugares. De alguns locais e povos não temos absolutamente nenhum documento escrito. É o caso dos filisteus, por exemplo. Seu idioma é desconhecido, exceto uma ou duas palavras e nomes preservados em textos de outros povos (como o nome filisteu “Golias”, registrado na Bíblia). Os antigos documentos escritos que lemos hoje sobreviveram por acaso. Com muita freqüência não são aqueles que os estudiosos de hoje escolheriam se o pudessem. Os relatos de Samaria trazem informações sobre a administração e os impostos no antigo Israel. Não há textos sobre o dia-adia da corte do rei ou o modo de lidar com o crime, nem hinos a Baal ou cartas de reis estrangeiros. Mesmo quando uma
grande variedade de documentos se acha disponível, como no Egito ou na Babilônia, são assim mesmo uma seleção e fornecem panoramas incompletos e parciais. Muitas vezes se encontram cartas enviadas a certo homem, mas suas respostas estão perdidas, e, portanto, seu conteúdo é conjectural. É bom lembrar que os textos recuperados em coleções ou arquivos geralmente pertencem a uma ou duas das últimas gerações de pessoas que habitaram ou usaram o edifício. As pessoas jogavam fora documentos antigos, a menos que tivessem valor especial —como, por exemplo, documentos legais e outros registros familiares, Ler escritos antigos é muitas vezes difícil porque estão danificados ou quebrados. Pode haver mais de uma maneira de preencher a lacuna, cada qual resultando num sentido bem diferente. Se falta parte do registro, seu propósito ou data pode ser desconhecido, ou —quem sabe?— o final de uma história esteja perdido. Ler as línguas esquecidas do mundo bíblico demanda tempo e muito estudo, mas todas as principais são compreendidas hoje. Há menos de 200 anos, eram ainda um mistério. Decifrar os hieróglifos egípcios e os
cuneiformes babilônicos foi um grande feito dos estudiosos do século XIX, e as histórias merecem ser contadas. Não há dúvida sobre a interpretação da maioria dos textos antigos. Novas descobertas servem para verificar as concepções antigas, nas línguas assim como na arqueologia.
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O autor segura na mão uma tabuinha de argila deNuzi, datada de cerca de 1400 a. C. e escrita em texto cuneiforme babilonico.
O MISTÉRIO DOS HIERÓGLIFOS EGÍPCIOS
U,
A téa descoberta da Pedra de Rosetta, ninguémfora capaz de ler a antiga escrita hieroglífica que revestia as paredes dos túmulos etemplos do antigo Egito.
m navio de guerra afastava-se da costa mapear e descrever a terra. E a executaram integralmente, voltando a Paris com do Egito. A bordo estava Napoleão anotações e desenhos que acabaram Bonaparte, com uma pequena comitiva de publicados em 24 volumes, sob o título oficiais. Era agosto de 1799. Déscription deVEgypte(1809-1828). Essa Pouco mais de um ano antes, Napoleão invadira o Egito com esquadra e obra serviu de alicerce da moderna egiptologia. grande exército. Agora abandonava seu Em meio à grande coleção de antigas exército, e o almirante britânico Nelson já esculturas egípcias que os homens de destruíra sua esquadra. Napoleão Napoleão recolheram estava uma placa de alimentara esperanças de fazer do Egito pedra encontrada perto de Rosetta, às propriedade francesa, para que de lá margens do rio Nilo. A pedra, com o pudesse atacar os britânicos na índia. Sua restante da coleção, foi levada para Londres aventura foi um fracasso em todos os como troféu de guerra quando o exército aspectos, menos num deles. que Napoleão deixara para trás se rendeu Com o exército napoleônico seguiram aos britânicos. Desenhos e moldes de 175 cientistas franceses. Sua tarefa era estuque já haviam chegado a Paris. Lá a Pedra de Rosetta gerou muita empolgação, pois parecia ser a chave dos mistérios da antiga escrita egípcia, os hieróglifos. No alto da pedra encontram-se catorze linhas de hieróglifos, depois 32 linhas de uma espécie de texto manuscrito egípcio, a escrita demótica, e finalmente 54 linhas de greg°Ler o grego não foi difícil. Era parte de um decreto baixado pelo rei PtolomeuV, em 196 a.C. Mas, por mais que se tentasse, ninguém conseguia ler a escrita egípcia além de dois ou três nomes. Napoleão não conseguiu conquistar o Egito, mas foi um francês quem saiu vitorioso na luta para decifrar a escrita do antigo Egito. Essehomem foi Jean-François Champollion. Nascido em 1790, revelou-se uma criança superdotada, estudando latim, grego e hebraico já aos 11 anos. Pouco depois, Champollion viu as 26
O MISTÉRIO DOS HIERÓGLIFOS EGÍPCIOS
inscrições egípcias pela primeira vez. Quando lhe disseram que ninguém conseguia lê-las, anunciou que um dia ele o faria. Isso setornou sua paixão. Ele dedicou toda asua energia a aprender línguas antigas eobscuras ea reunir tudo o que conseguia obter sobre a história egípcia. Aos 17anos foi a Paris dar seqüênciaaos estudos, suportando a pobreza eos problemaspolíticos da turbulenta França. Quando tinha 23 anos, publicou uma históriacompleta do Egito (LEgyptesousles Pharaons, 1814). Embora tenhatido seu cargo universitário cassado, jamais interrompeu os estudos, e tornou-se mestre em copta, a língua daigreja no Egito. De repente, no outono de 1822, Champollion percebeu averdadeira explicação da escrita. Até então pensava que os hieróglifos tinham algum tipo de significado simbólico e eram usados como letras só para escrever nomes estrangeiros. Agora, examinando textos copiados em data mais recente, reconheceu que os sinais eram usados também para sons, não só para palavras. Poucos dias depois já havia conseguido decifrar os nomes de muitos reis e anunciou sua descoberta em Paris, no dia 17de setembro de 1822. Cópias de inscrições recémencontradas lhe chegaram daí a poucas semanas, e ele conseguiu aplicar a elas seu sistema, com sucesso. Em 1824 apresentou um relato completo da descoberta num livro que deu origem ao conhecimento moderno do egípcio antigo ( Précisdu systemehiéroglyphiquedes anciens égyptiens). Ficou bem claro que ele decifrara corretamente os hieróglifos. Champollionfoi nomeado curadordo novoMuseuEgípciodo reiemParis,em 1826, eliderouumaexpediçãoaoEgitoem 18281829.Fezmuitasdescobertasetrouxemais objetos navoltaàFrança.Alcançouenorme respeitodosseuscompatriotas,masmorreude esgotamentoem 1832,aos41anos.
A Pedra deRosettafoi a chaveque desvendou os mistérios da antiga escrita egípcia. Registra um decreto do rei Ptolomeu V em três línguas: grego (embaixo), escrita demótica egípcia (no centro) e hieróglifos (no alto).
Umdosgrupos de hieróglifos que deu a Champollion a chavepara decifrar o egípcio antigofoi o nome de Ramessés. O terceiro sinal é estritamentedesnecessário, ajudando simplesmentea “soletrar”o valor do segundo. 27
OS SEGREDOS DA ROCHA DE BEÍSTUM
Viajou pelaArábiaechegou atéa índia, iajantes que percorrem a estrada que Bombaim, com um médico, o outro único liga Teerãe Kermanshah, na Pérsia, ao sobreviventedo grupo. Desanimado, partiu Iraque, a oeste, passam por um grande para a Pérsia, onde passou três semanas penhasco conhecido como rocha de copiando as inscrições nas ruínas da antiga Beístum (ou Bisitun). capital, Persépolis (v. “Esplendores persas”). A cercade 90 metros do chão, podem-se Depois deestudaro quevira, publicou um enxergar homens talhados napedra. Uma relato das suasviagens e das inscrições em figuraimponente erguea mão em direção a dez homens depé, e dois outros estão também 1774-1778 (fieisebeschreibungvonArabienund anderen umliegendenLãnderri). de péatrásdessafigura. Ninguém sabia quem Niebuhr acrescentou às suas cópias erameles. As conjecturas variavam bastante: de uma tentativa de traduzir a escrita. Viu que Cristo e seus doze apóstolos a um professor e havia três tipos diferentes, sendo o mais suaturma! simples um alfabeto. Das 42 letras que ele Ao lado da cena esculpida, a rocha era reconheceu, 32 revelaram-se corretas bem polida elisa. Aqueles que haviam quando as inscrições foram finalmente subido até lá contavam que ela estava compreendidas. coberta de marcas talhadas na pedra, em O trabalho de Niebuhr estimulou forma de ponta de flecha. vários homens a tentar melhorar a As mesmas marcas haviam atraído a atenção de estrangeiros que visitaram certas compreensão desse alfabeto cuneiforme. Um deles afirmou corretamente que os regiões da Pérsia a partir do século XVII. escritos eram dos reis do Império Persa: Os poucos europeus que as viram fizeram Ciro, Dario e seus sucessores —mas desenhos delas, intrigando e deixando ninguém conseguia lê-los. perplexos os leitores. Durante o século Quem conseguiu foi Georg Grotefend, XVIII, mais homens foram vê-las, e alguns um professor de Gõttingen, naAlemanha. começaram a decifrá-las. Seu passatempo era resolver enigmas, Uma opinião era unânime: as marcas especialmente enigmas com palavras. Certo eram uma forma de escrita, e não mera decoração, como queriam algumas pessoas. dia, por volta de 1800, um amigo com quem Grotefend estava bebendo fez-lhe um No francês e no inglês cunhou-se para elas desafio: ele não conseguiria decifrar aescrita o nome “cuneiforme” (em forma de persa. Em 1802, Grotefend anunciou que cunha), palavra derivada do latim (em havia decifrado a escrita eidentificado os alemão, o nome c Keilschrifi). nomes de Dario eXerxes com palavras com O primeiro a fazer progressos foi o ousado explorador Carsten Niebuhr, que se o significado de “filho” e “rei”. Infelizmente, a Universidade de empolgara ao ler livros sobre a Pérsia. Gõttingen não se interessou pelo trabalho Aprendeu árabe e chefiou uma expedição de Grotefend, e, portanto, a publicação da Dinamarca em 1761. 28
OS SEGREDOS DA ROCHA DE BEÍSTUM
integral só pôde ser feita em 1805. Ele não levou sua obra muito adiante; a tarefa ficou para outros estudiosos. Beístum esuas inscrições eram o meio de completar a decifração daquilo a que hoje chamamos “persaantigo” cuneiforme. Ao mesmo tempo, abriram caminho para que sedecifrassem os cuneiformes babilônicos, muito mais complicados. Coube a um inglês “tirar água da rocha”, decifrando os segredos de
Beístum. Elenry Rawlinson, homem extremamente ativo, foi trabalhar na Companhia da índia Oriental em 1827, aos 17 anos. Aprendeu persa elínguas indianas, serviu o exército no I Regimento de Granadeiros de Bombaim, e foi para aPérsia em 1835 como conselheiro militar do irmão do xá, governador de Kermanshah. Perto da cidade havia duas inscrições em rochas. Ao examiná-las, Rawlinson
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Gigantescasfiguras esculpidas na rocha de Beístum aparecem acima da inscrição cuneiformetalhada no paredão. Henry Rawlinson, ao copiar a inscrição noseu caderno, correu um risco considerável. Mas veio a compensação:foi oprimeiro a decifrar ossinais cuneiformes.
TESOUROS DOS TEMPOS BÍBLICOS
O general-de-divisão sir Henry Rawlinson (1810-1895)foi um dos grandes pioneiros na decifração dos cuneiformes babilônicos.
Cadernos de Rawlinson, preservados no Museu Britânico, mostram como ele trabalhava em busca da decifração. Esseé o detalhede umapágina.
descobriu os nomes de Dario e Xerxes, aparentemente desconhecendo aquilo que Grotefend eoutros haviam feito. Depois dirigiu-se à rocha de Beístum. Em 1835, começou acopiar. Ao final do ano estava doente e passou algum tempo em Bagdá, onde evidentemente debateu as inscrições antigas com o representante do governo britânico. Depois deexercícios militares, voltou a Kermanshah para buscar documentos enviados pelo representante que explicavam a obra de Grotefend. Depois, em 1836 e 1837 e, novamente, em 1844 e 1847, Rawlinson copiou os textos em Beístum. Não foi fácil alcançar alguns trechos deles. Assim se referiu ao trabalho no paredão do penhasco: “... escadas demão são indispensáveis [...] e mesmo com asescadas o risco é considerável, pois a saliência de apoio é tão estreita —de cercade 45 centímetros a no máximo 61 centímetros de largura— que com uma escada comprida o bastante para alcançar as esculturas não há inclinação suficiente que permita àpessoa subir; e, se aescadaé encurtada para aumentar a inclinação, as inscrições superiores só podem ser copiadas se apessoa ficar de pé no último degrau da escada, sem nenhum outro apoio além defirmar o corpo contra a rocha com o braço esquerdo, enquanto a mão esquerda segura o caderno e amão direita maneja o lápis. Nessa
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posição copiei todas as inscrições superiores, e o interesse pelo trabalho eliminou totalmente qualquer sensação de perigo”. Noutra passagem ele conta que uma escadaque estava usando como ponte sobre uma fenda acabou quebrando, deixando-o pendurado sobre um precipício, de onde foi resgatado pelos amigos. Foi esse o preço da decifração! Em 1837 Rawlinson enviou um primeiro ensaio a Londres, traduzindo e comentando 200 linhas da inscrição. Seu principal estudo, Memoir on thePersian versionoftheBehistuninscriptions [Relato da versão persa das inscrições de Beístum], surgiu em 1846 e foi concluído em 1849. Com isso, o estudo do persa antigo foi firmemente fundado. Rawlinson supôs que os dois outros tipos de escrita cuneiforme do paredão eram traduções das inscrições persas. Numa das inscrições, havia mais de cem sinais, número grande demais para compor um alfabeto. Grotefend identificou alguns sinais, e um especialista dinamarquês, Niels Westergaard, identificou vários outros, usando exemplos da mesma escrita encontrada em outros locais da Pérsia. Foi Rawlinson, novamente, quem deu a maior contribuição. Enviou sua cópia do texto a Londres, com tradução e notas, onde foi impressa em 1855 depois de cuidadoso trabalho de edição e correção realizado por Edwin Norris, da Real Sociedade Asiática. A língua desse segundo tipo de cuneiformes foi chamada susiana ou elamita, porque foi encontrada principalmente em Susã, capital do antigo Elão (v. “Esplendores persas”). Com duas das três escritas já decifradas, Rawlinson voltou-se à terceira. Essa é a mais complicada das inscrições de Beístum, e foi a mais difícil de alcançar. Em 1847, Rawlinson pagou um menino curdo da região para escalar o paredão suspenso por uma corda e enfiar calços de madeira nas fendas da rocha, que funcionariam como apoio para os pés.
OS SEGREDOS DA ROCHA DE BEÍSTUM
O menino alcançou a parte certa da rocha, onde, sentado num estrado suspenso por cordas, gravou os sinais esculpidos em grandes folhas de papel úmido. Pouco mais de um ano depois, Rawlinson achou que já compreendia o sentido da inscrição. Falou sobre o seu trabalho em Londres, em janeiro de 1850. Outras descobertas de inscrições cuneiformes já haviam sido feitas, e outros homens tentavam decifrá-las. Numa tranqüila paróquia irlandesa, um religioso anglicano, Edward Hincks, dedicava-se ao mistério. Já em 1847 publicara listas de sinais com seus valores e ossignificados de algumas palavras. Hincks merece grande reconhecimento, ao lado de Rawlinson, como pioneiro na decifração dos cuneiformes babilônicos. Foi ele quem revelou a Layard o significado das inscrições queestedesenterrou na Assíria (v. “O preço da proteção”). Os trabalhos de Hincks e de Rawlinson foramenviados a outros estudiosos que tambémseinteressavampeloscuneiformes, paraque todos pudessem participar do trabalho. Houve muitas tentativas malfadadas antesdetodosaceitaremqueHincksestava certoaoafirmarqueossinais representam sílabas {ba, ad, gu, imetc.), emboraalguns delespudessemtambémserpalavras {ané também “deus”, ilu). Hincks também observou que os sinais foram inventados primeiro para escrever um idioma diferente do assírio e do babilônico, ambos semíticos. Mais tarde, soube-se que
Uma das primeiras inscrições assírias a ser decifradasfoi a do Obelisco Negro, que traz ilustrações deum tributo enviado por um rei identificado como “Jeú, filho de Onri”, um dos reis de Israel (v. “Opreço da proteção”).
tal idioma erao bem distante sumério. Será que Rawlinson, Hincks e outros estavam certos, ou decifraram erradamente os sinais? Em 1857, Henry FoxTalbot, homem interessado no assunto e um dos pioneiros da fotografia, propôs um teste: que um texto fosse enviado aos decifradores para que cada um o traduzisse independentemente, sendo os resultados submetidos a uma análise independente. Rawlinson, Hincks, Talbot e um estudioso francês, Jules Oppert, participaram do teste. As traduções ficaram próximas o bastante para garantir que a escrita fora decifrada. Agora a publicação e a tradução das inscrições podiam seguir adiante. Os documentos da Assíria e da Babilônia poderiam falar novamente, depois de 2500 anos de silêncio.
DESENTERRANDO O PASSADO
H
A ldeães escavaram o morro sobreo qualsua vilafoi construída, descobrindo camadas de terra e uma antiga parede de tijolos.
istórias de tesouros enterrados são comuns em todo o mundo. Desde que as pessoas começaram a construir casas e a morar em cidades e vilas, passaram também a encontrar coisas que seus antepassados perderam ou enterraram. Geralmente essas coisas eram encontradas por acaso, e a maioria delas despertava tão pouco interesse que simplesmente era jogada fora. As únicas coisas que as pessoas guardavam eram
objetos de ouro e prata ou coisas que podiam admirar. Isso ainda acontece hoje. Preparando os campos, os lavradores às vezes encontram coisas que o arado desenterra, guardando aquelas que julgam valiosas e jogando fora o resto. Pessoas que rastreiampraias ou campos com detectores de metal querem encontrar dinheiro ou coisas devalor. Deixam de lado os pregos e outros objetos que suas máquinas localizam.
DESENTERRANDO O PASSADO
Os arqueólogos são dublês de cientistas ecaçadores de tesouros. Alegram-se quando encontram ouro e prata ou belas obras de arte. Mas tudo o que as pessoas usavam é valioso para eles. Em determinadas circunstâncias, um único caco de cerâmica pode dizer ao arqueólogo mais que um anel de ouro. Se, por exemplo, a cerâmica estiver marcada como produto importado de um país distante, pode ser sinal de relações estrangeiras por meio de comércio ou guerra. Igualmente importantes são ruínas de edifícios, casas, templos, palácios e fortalezas que os povos ergueram no passado e os túmulos que cavaram para os mortos. Desenterrar antigas ruínas pode ser empolgante e gratificante. Mas simplesmente tirar um jarro ou uma jóia da terra ou tirar os detritos para chegar ao
chão de um edifício são atos que destroem vestígios valiosos. Observarexatamenteondeessascoisasse encontram, asdiferentes cores etexturas do solo ecomo os objetos estão dispostos no chão é algo que pode revelar muitas informações. A vasilha estavaenterradano chão, sobreo chão, ou misturada aos detritos que cobrem o chão? No primeiro caso, é mais antigaque o chão. No segundo ou no terceiro, é provável que pertencesse às pessoas que usavam o edifício. Seestava em cima dos escombros que tomavam a casa, pode ser de uma data bem tardia. Mesmo que estivessesob o nível do chão, uma inspeção cuidadosa pode revelar que ela jazia num buraco cavado apartir de um nível superior, bem depois de aconstrução ter caído no esquecimento. Do mesmo modo, a observação das camadas ou estratos de terra pode revelar
Lâmpada do tempo de Herodes (37-34 a.C.) e panela vermelha mostram q uando o soalho superior e s t e ve e m u s o
B u r a c o c o n t e n d o lâ m p a d a d o s é c u l o V d . C . , ú lt i m o v e s t íg i o d e o c u p a ç ã o n a c o l in a
'^o Parte de outra estrutura, aJém de ob jetos típicos, : : n o p e q u e n o ja r r o d e ssperficie negra, lâmp ada c o t b o r d a l a r g a e s i n e t e h e b r e u ,
: : - í T 2v e l h o e g í p c i o d e c e r c a d e ' W a . C. , a l é m d a s f o r m a s d e s t e a f i s í t e i d a c e r â m i c a ( d if e r e n t e s 5 í a e m p l a r e s a n t e r i o r e s ) , i n d i ca m z data desse s níveis de solo
Sepultura coberta de pedras: tipo de alfinete de cobre e cerâmica, além da ausência de paredes, apontam como data o inicio da Idade do B r o n z e I n t e r m e d i á ri a , c e r c a d e 1 9 0 0 a .C .
Fosso cavado no início da Idade do Bronze Recente (cerca de I SOO a.C.), talvez p a r a r e c u p e r a r t i jo l o s d e u m a p a r e d e m a i s a n t ig a ; p e q u e n o cântaro de Ch ipre revela sua idade
A escavação de uma colina-cidade (“tell”) mostra as camadas de terra e as ruínas de construções anteriores, com objetos enterrados quepodem fornecer pistas das datas.
TESOUROS DOS TEMPOS BÍBLICOS
Pedras entalhadas deconstruções anteriores, como o touro (abaixo, à direita), eram muitas vezes reutilizadas no mesmosítio ou em locaispróximospor construtores posteriores. EmNimrud, no Iraque, trabalhadores escavam e meninos carregam a terra inútil.
Uma construção simples de tijolo de que uma parede foi construída antes de barro, portanto, pode durar somente cerca outra, sea camada de solo que vai até a de trinta anos antes de as paredes primeira parede aparecer cortada pelas começarem aruir. Nos locais em que era fundações da segunda. Para o arqueólogo é tão vital observar e esse o material de construção normal, reformas e reconstruções totais eram registrar todos esses detalhes em anotações, freqüentes. fotografias e desenhos quanto descrever os Foi esse processo que ergueu os grandes objetos e a construção que ele encontra. morros de cidades e de vilas em ruínas Toda escavação é destrutiva, pois revolve o solo, sendo impossível reconstituí-lo como vistas por todo o Oriente Próximo, uma casa erguendo-se sobre os restos da era antes. Tudo o que passa despercebido anterior. (O mesmo processo verifica-se em ao arqueólogo se perde. muitas outras regiões; nas cidades da Esses fatos essenciais gradualmente Europa, por exemplo, as ruas do período foram ficando evidentes ao longo dos romano ficam de 3 a7 metros abaixo das últimos 150 anos. Em anos recentes, vias modernas. Os restos de paredes e os desenvolveu-se todo tipo de aperfeiçoamento, e uma ampla variedade de escombros dos tempos medievais e posteriores explicam a diferença de nível.) técnicas foram introduzidas na arqueologia, A necessidade de contínua observação oriundas da física eda química, todas visando a extrair o maiorvolume possível de durante o processo escavatório e a necessidade de registrar tudo o que se informações do que é encontrado. No final encontra fazem da escavação tarefa lenta e das contas, o olho atento do arqueólogo é difícil. Conseqüentemente, a escavação de ainda o instrumento mais vital. toda uma cidade é bem rara. As expedições Nas terras do Oriente Próximo, onde se podem concentrar-se nas construções de escreveu a maior parte da Bíblia, as pessoas um período, ou, mais comumente, vêm construindo suas casas de pedra e de trabalhar em áreas selecionadas. tijolo há mais de setemil anos. As pedras às O arqueólogo pode decidir escavar o vezes se encontram deslocadas, mas local onde um lavrador desenterrou uma geralmente sobrevivem. Os tijolos, porém, pedra esculpida ou onde exploradores eram feitos de barro secado ao sol, não queimados num forno, portanto geralmente observaram contornos de paredes ou sedesintegram bem rapidamente, a menos grandes quantidades de cerâmica. Ele pode decidir-se por uma área que sempre foi que estejam enterrados no chão.
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DESENTERRANDO O PASSADO
Escavação em curso numa sepultura suméria no norte do Iraque.
importante, talvez como quadrante mais elevado da cidade, ou por uma que esteja bem situada em relação ao sol e ao vento. Por outro lado, pode deixar de lado os edifícios principais, aprendendo muito sobre as casas das pessoas mais pobres. Assim, em face das áreas limitadas para exploração e da destruição que sofreram as ruínas ao longo dos séculos por obra da humanidade e dos elementos, a história integral de um sítio não pode ser recuperada. O que seencontra nunca pode ser mais que uma parte, uma amostra do que um dia existiu. E importante ter isso em mente na hora de ler qualquer estudo baseado em descobertas arqueológicas. A menos que as provas estejam bem solidamente firmadas e sejam avaliadas à luz de outras informações da época e da região, podem ser fator de engano. E o que vale para as descobertas arqueológicas vale também para os documentos escritos. Esses também são somente amostras de tudo o que seescreveu nos tempos antigos. Embora milhares deles estejam nos museus da atualidade, muitos outros milhares se perderam.
Poucas construções, poucos textos e poucos objetos foram feitos para atravessar os tempos e permitir que gerações distantes os examinassem. A maioria sobrevive por acaso, sendo encontrada também por acaso. Na verdade, algumas coisas encontradas podem nem ser típicas do seu gênero. Isso significa que uma nova descoberta pode forçar os estudiosos a modificar completamente suas opiniões aceitas ou a revisá-las. Tomando um único exemplo, o recente achado de um palácio em Ebla, no norte da Síria, com milhares de tabuinhas de argila escritas por volta de 2300 a.C., está abrindo novas áreas de estudo na história e na filologia (v. “Manchete: a cidade perdida de Ebla”). À medida que lavouras e cidades forem-se estendendo a regiões do Oriente Próximo onde ninguém viveu durante séculos, sítios antigos correrão risco de destruição. Escavar esses locais é prioridade, mas outros podem ser estudados com calma. Ainda há muito trabalho a fazer, e muito mais descobertas a revelar.
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UM DIA DE ESCAVAÇÃO
Ainda está escuro quando levantamos da cama. Depois de um banho rápido numa bacia de água fria, atravessamos o pátio da casa de tijolos de barro e entramos numa sala comprida. O recinto funciona como local de reunião e sala de refeições do pessoal da expedição. Na mesa há xícaras de chá, fatias de pão e uma lata de geléia de damasco: uma refeição antes de começar as escavações do dia. O som de vozes e os ruídos metálicos no pátio informam que os operários chegaram para pegar suas pás, picaretas e cestos para carregar terra. Sonolentos, pegamos os cadernos, lápis, trenas, etiquetas, sacos de papel e caixas e saímos atrás deles, atravessando a colina até as escavações. O sol está prestes a nascer. Sobre o morro a leste vê-se um brilho róseo; logo depois o disco solar já derrama luz sobre toda a região. Depois que os operários foram embora ontem, avaliamos o progresso e decidimos onde escavar mais fundo e onde parar. Agora mostramos aos dois escavadores a área de trabalho do dia. Ali vê-se parte de uma parede de tijolos, e queremos acompanhá-la até o chão, depois fazer seu contorno pela área da nossa escavação. No início o trabalho é uma escavação pesada, dura, para tirar os tijolos de barro que caíram da parede, degenerando numa massa de barro duro sem nada dentro. As picaretas vão e vêm, os tijolos de barro cedem e logo vê-se um monte de terra solta.
para detectar qualquer dureza ou objeto no chão pelo tato e pelo som da ponta de metal ao tocar a terra. Muitas vezes a terra se desgruda de uma pedra ou vasilha assim que o objeto é solto. O saco de papel começa a se encher de cacos de cerâmica retirados do chão. Agora remove-se menos terra, e os meninos não precisam correr tão rápido! Enquanto examinamos as peças de cerâmica, um dos escavadores chama. Ele encontrou um quadrado preto de algumas polegadas de comprimento; é um pedaço de madeira, queimado num incêndio. Será apenas um pedaço de madeira? Não é modelado ou entalhado? É delicado demais para ser pego. Com espátula e faca, retiramos a peça do lugar num bloco de barro, pousando-o numa caixa de papelão com fundo coberto de algodão para ser levado ao nosso laboratório improvisado. O tratamento técnico pode enrijecê-lo antes de ser estudado. Ainda que seja simplesmente uma massa informe de madeira, os botânicos podem identificar a árvore e os especialistas em física atômica podem medir sua idade pelo teste do
Os dois homens param, afastando-se para descansar. No seu lugar vêm os quatro operários que, com as pás, vão encher de terra os cestos que os meninos depois carregarão. Eles enchem um balde com duas ou três pás de terra. Os meninos erguem os cestos aos ombros e se arrastam lentamente para descarregar a terra no limite do morro. (As escavações são muitas vezes realizadas depois da colheita, quando os homens têm pouco trabalho nos campos e os meninos estão de férias escolares.) Observamos atentos, verificando se a terra não passa mesmo de tijolo esfarelado, até que as picaretas atingem um solo de cor diferente. Sob os tijolos caídos encontra-se uma camada de entulhos. Talvez estejamos perto do assoalho. Os cavadores aguardam enquanto analisamos o chão com espátulas. O solo escuro, cinzento, tem várias polegadas de espessura e se estende por alguma distância. Todos os tijolos caídos têm de ser retirados antes de uma escavação mais profunda. À medida que as picaretas talham o solo, anotamos a mudança no caderno, damos um número à nova camada e preparamos um saco, assinalado com o número da escavação, a camada e a data, prontos para quaisquer achados. Enfim a estéril massa de tijolos é removida. A parede aparece livre num dos lados, com trechos de fina argamassa de barro ainda grudada. Agora os escavadores trabalham com cuidado no solo cinzento. São treinados 36
carbono 14. (Todos os organismos vivos contêm um isótopo de carbono radioativo, C14, em proporção regular. Depois da morte, essa substância começa a se desintegrar num ritmo conhecido, de modo que metade dela terá desaparecido depois de 5 730 anos. Medir a proporção de carbono 14 do material permite o cálculo da sua idade.) Há grande quantidade de cacos de cerâmica —os povos antigos eram muito negligentes e bem desleixados. Enchemos dois sacos e ainda precisamos requisitar um cesto para recolher todos os cacos. Desenterramos muito mais madeira, pedaços maiores das vigas de um telhado ou de um assoalho, e portanto precisamos retirar mais amostras e medir a posição de cada uma, anotando tudo no esboço de uma planta. Deixando as picaretas de lado, os operários raspam
Umestudante de arqueologia dinamarquêspeneira terra em busca de moedas no sítio de uma aldeia judia do século V d. C., nas colinas de Golã.
UM DIA DE ESCAVAÇÃO
delicadamente com espátulas e facas. Além de cerâmica e madeira, vemos em certo ponto manchas verdes no solo. A terra é recortada bem devagar. Encontramos um anel de cobre completo, embora bastante corroído, com um escaravelho egípcio como gema. Antes de o retirarmos, sua posição é anotada, pois isso pode ajudar a informar por que estava justamente no local em que foi encontrado. Todos se alegram. Desenterramos um belo “achado”. Mal acabamos de colocar o anel numa caixa com etiqueta bem visível, quando um dos meninos volta correndo. Ao descarregar a terra, seu olhar atento viu o faiscar de uma cor brilhante. Na palma da mão ele segura uma minúscula conta de pedra vermelha polida. A conta é posta num envelope, devidamente etiquetado, e faz-se uma anotação no livro. O nome do menino é também escrito no envelope —boa nota pa ra ele! Três horas já se passaram, e estivemos bem ocupados. Hora do café da manhã. De volta à sede da escavação, co memos ovos, cozidos ou fritos, pão e mais geléia de damasco, com chá ou café para beber. Temos meia hora para descansar, debater as descobertas e progressos, avisar o registrador de que talvez venham mais achados. Seu trabalho é desenhá-los e descrevê-los para os registros da expedição e do Departamento Nacional de Antigüidades. Na segunda metade da manhã o ritmo de trabalho diminui, com a aproximação do meio-dia. Logo será hora
de terminar a escavação do dia. Mas as coisas são mesmo imprevisíveis: poucos minutos antes do final do trabalho, um dos escavadores se levanta, segurando com cuidado alguma coisa nas mãos, e caminha até nós. Achou algo que jamais vira antes. Todos se reúnem em volta para observar uma pequena massa de barro marrom. Um lado plano está coberto de pequenas marcas gravadas. É uma tabuinha de cuneiformes babilônicos, uma descoberta notável, um documento escrito que talvez dê nomes e personalidades às mudas paredes e cacos de cerâmica. Mas, quando avidamente pegamos a peça. vemos que duas bordas foram recentemente quebradas. Será que as outras partes ainda estão no chão, ou será que nenhum de nós as notou? O homem mostra desapontamento e volta para procurar; os meninos e os homens das pás peneiram a terra solta. Logo todos estão radiantes. Um pedaço estava num dos cestos, pronto para ser levado lá para baixo; dois outros ainda estavam no chão. As posições das peças são registradas, e depois todas são solenemente levadas à sede, onde a notícia se espalha sem tardança. Correndo do outro lado da colina vem o epigrafista, o especialista em inscrições e línguas, que passou três tristes semanas sem uma única inscrição para estudar. Com pincel e alfinete ele limpa a sujeira que cobre as duas primeiras linhas, um grão dê poeira por vez. Todos aguardam. O que está escrito? É uma carta endereçada a um rei, o rei da
cidade que todos acreditavam ter existido no local. Agora já não há mais dúvidas. A refeição está pronta: uma interrupção, mas muito bem-vinda. O debate continua à mesa. Registros de outras cidades falam desse rei e de seus coevos, portanto podemos atribuir-lhe data aproximada. Quanto tempo depois disso será que a tabuina ficou numa estante dentro da construção? Será que estamos escavando o interior do palácio? Será que encontraremos mais tabuinhas, mais anéis? Depois de comer, a maior parte dos componentes da expedição faz uma sesta de uma ou duas horas; tomam banho, fazem a barba, escrevem cartas. Revigorados, continuamos a limpar e a desenhar os achados, selecionando e reparando as peças de cerâmica, traçando plantas, tirando fotografias e estudando a tabuinha. O sol se põe, acendem-se as lâmpadas de parafina. O cozinheiro prepara um jantar especial —pernas de rã de um rio vizinho— , uma
Artista, nopróprio sitio, faz cópia cuidadosa de um retrato emrelevo dofaraó Tutancâmon.
mudança em relação à comida enlatada comprada na cidade a 32 quilômetros dali. Contentes, vamos dormir, tropeçan do pelo pátio irregular sob a luz da lua; sonhamos com mais tabuinhas, mais vasos, palácios, anéis e arquivos. A colina tem muito mais tesouros a revelar! O “dia de escavação'1 descreve a forma tradicional de exploração arqueológica no Oriente Próximo. O diretor de uma pequena equipe de especialistas da Europa ou dos Estados Unidós, ou do próprio país oriental vizinho, trabalha com mão-de-obra local. Nos últimos anos, alguns diretores têm recebido estudantes e outros voluntários para trabalhar nos sítios, dispensando quase completamente os operários locais.
“SÓ PODE SER O DILÚVIO!”
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eonard Woolley, o arqueólogo encarregado de Ur, instruiu seu operário a cavar um pequeno buraco para encontrar a superfície em que os primeiros colonos haviam construído suas cabanas dejunco. Isso assinalaria o marco zero da grande Ur dos caldeus. O operário cavou até um leito limpo de argila, sem fragmentos de cerâmica. “É o fundo, senhor”, gritou o homem. Mas Woolley não se convenceu. O operário ainda estava amais de dois metrosacimado nível do mar, eWoolleysupôs que esseeratambém o nível original. Contrariado, o homem concordou emcavar mais fundo. Cavou, cavou, retirando 2,5 metros de solo limpo, edepois mais peças de cerâmica começaramaaparecer.Afinalalcançouo verdadeiro solo virgem, um metro abaixo do atual nível do mar, e cercade 19 metros abaixo da superfície do monte de ruínas. O que significava aquela espessa camada de solo estéril? Woolley achou que sabia e, quando viu que dois ajudantes seus não conseguiam achar resposta, voltou-se para suamulher, que comentou: “Ora, só pode ser o dilúvio”. Quando o solo foi analisado, provou-se ser lodo depositado pela água. Com basenessae em outrasdescobertasrelacionadas, Leonard Woolleyafirmouquehaviaencontrado provas materiais do grande dilúvio narrado pelos relatos sumério, babilônico e hebreu. Foramvários os autores que se interessaram pela descoberta deWoolley. Alguns a encararam como prova do relato bíblico de Noé. Outros a viram simplesmente como vestígios de uma das muitas enchentes 38
que submergiram as cidades daBabilônia. As notícias do nível do dilúvio em Ur mal se haviam espalhado quando outro escavador afirmou que também encontrara uma camada de lodo deixado pelo dilúvio. Ele trabalhava em Quis, 220 quilômetros ao norte de Ur. Começava então o debate. A camada de Ur, depositada porvolta de 4000 a.C., eramuito mais antiga do
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o. s
que a de Quis. Será que uma delas Como arqueologicamente estão datadas por representava o dilúvio? volta de 2600 a.C., podemos situar as enchentes um ou dois séculos antes. Escavações em outros locais da Babilônia revelaram camadas limpas como Não há dúvida deque o dilúvio foi um acontecimento catastrófico que a deQuis, pertencentes mais ou menos à permaneceu na lembrança humana mesmaépoca, cercade 2800 a.C. enquanto durou a civilização babilônica. Nenhum dos níveis de outros sítios Vários escritos referem-se a ele como pertencia à mesma época do de Ur. marco no tempo. Foi evidentemente mais Muitos estudiosos afirmam hoje que que umapequena enchente local, o tipo de alguns desses depósitos posteriores coisaque a maioria das cidades ribeirinhas assinalam o período do dilúvio. de Babilônia podia esperar. No entanto, E o afirmamporque a data é coerente ainda não estamos seguros de que esses com as informações preservadas nas tradições babilônicas. Algumas das listas dos depósitos de lodo e deargila sejam vestígios do dilúvio. primeiros reis começamcom os deuses Em Ur, admitiu Woolley, o lodo não fundadores da dinastia real. Depois de alguns reinados, a seqüência éinterrompida cobria todo o sítio. A grande profundidade —“Então veio o dilúvio”— e se segue novo de solo limpo que ele cavou parecia início. Outras listas começam com o resultado de água correndo contra parte do monte de ruínas, talvez ao longo de um primeiro rei depois do dilúvio, e na sua linha sucessóriaencontramos um soberano período bem extenso. Alguns dos outros depósitos também não parecem ter cujas próprias inscrições sobreviveram.
O cume nevado do monteArarate, na Turquia oriental, ergue-secontra o céu. A Bíblia diz quefoi nos montesdeA raratequea “arca” de Noéveio a encalhar depois do dilúvio.
TESOUROS DOS TEMPOS BÍBLICOS
Entreos documentos das escavações de Ur, publicados em 1956, está essa ilustração vista por dentro do poço queatravessava uma espessa camada de lodo. Leonard Woolley afirmou ser ela umaprova do dilúvio.
destruído nem submergido as construções em que foramencontrados. Talvez a senhora Woolley estivesse errada, afinal, e fosse somente uma enchente, e não o dilúvio. Outra descoberta empolgante sobre o dilúvio foi feita bem antes dasescavações em Ur. Na décadade 1850, sir Henry Layard desenterrou nas ruínas deNínive milhares de pedaços de tabuinhas de argila, que formaram a biblioteca do rei assírio Assurbanipal eforam quebrados e esquecidos por ocasião da destruição do palácio, em 612 a.C. Layard levou as tabuinhas parao Museu Britânico, em Londres. Ao longo dos anos os estudiosos catalogaram eidentificaramas peças, divulgando seutrabalho em livros e em periódicos científicos. Em 1872, GeorgeSmith estavaabsorto na sua tarefa quando percebeu que os fragmentos espalhados sobre amesa pertenciam auma história do dilúvio. Não se tratava de uma enchente comum, nem era somente ahistória deum dilúvio qualquer. Tinha incríveis semelhanças com a história de Noé, registradano livro bíblico de Gênesis. Smith divulgou sua descoberta numa reunião da Sociedade deArqueologia Bíblica, provocando sensação. Os relatos babilônico e bíblico claramente tinham tanto em comum que não podia haver dúvida de que havia entre eles um forte vínculo. Mas que vínculo era esse? Seráque a narrativa hebréia era
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baseada na babilônica, a babilônica na hebréia, ou ambas tinham fonte comum? Desde o anúncio da descoberta, a primeira possibilidade ganhou maior apoio. A segunda é tida como improvável, pois o relato babilônico data pelo menos de 1600 a.C., bem anterior à composição do texto hebreu. A terceira opção —de que as histórias têm uma origem comum— é sempre defendida por um número pequeno de especialistas. A migração de Abraão de Ur até Canaã poderia ter levado o relato para o oeste; muitos estudiosos acham que os israelitas o devem aos cananeus. Mas qual é a história do dilúvio babilônico? Os capítulos de 6 a 9 de Gênesis narram o dilúvio como parte da contínua história das relações de Deus com a humanidade. O relato que George Smith encontrou também faz parte de uma narrativa maior. Está na décima primeira e na última tábua da Epopéia de Gilgamés. A. epopéiaconta como o antigo rei Gilgamés tentou conquistar a imortalidade. Depois de muitas aventuras, alcançou uma terra remota, onde vivia o único homem que se tornara imortal, um homem chamado Um-napishtim, o Noé babilônico. Ele contou a Gilgamés sobre o dilúvio para explicar por que os deuses lhe haviam dado a vida eterna. Depois de contar ahistória, mostrou a Gilgamés que não podia alimentar esperanças de tornarse imortal e mandou-o de volta para casa. Vários detalhes e peculiaridades fazem supor que a História do dilúvio babilônico a princípio não fazia parte daEpopéia de Gilgamés. Graças à descoberta de outro poema, conhecido como Epopéia de Atrakhasis, a história pode hoje ser vista dentro do cenário correto. Como Gênesis, a Epopéia deAtrakhasis narra acriação do homem esua história até o tempo do dilúvio e a nova sociedade que seestabeleceu depois dele. Aqui a razão do dilúvio é clara, ao contrário do que acontece na Epopéia de Gilgamés. A humanidade faziatanto barulho que o deus-chefe na terra
“SÓ PODE SER O DILÚVIO!”
Construções dejunco, às margens do Eufrates, lembram queessa é uma região ribeirinha baixa, propensa a enchentes.
não conseguia dormir. Os deuses, sem poder resolver o problema de outro modo, enviaram então o dilúvio para destruir esses perturbadores seres humanos, silenciando-os para sempre. Assemelhanças entre as histórias babilônica ehebréia são fáceis de ver. Mas há diferenças notáveis que não devem ser desprezadas. A diferença básica é o monoteísmo do relato hebreu, em contraste com os muitos deuses que atuam na narrativa babilônica. Igualmente diferente é a atitude moral. Os detalhes também diferem quanto à formae o tamanho da arca (a babilônica, um cubo, dificilmente
poderia flutuar), a duração do dilúvio eo envio das aves. As semelhanças dos relatos e o reconhecível cenário mesopotâmico levam a crerquetiveramorigem comum. Os indícios arqueológicos de enchentes na Babilônia, além da forte tradição que mostra a possibilidadede um dilúvio grandee desastroso, somados aos relatos sobre este, apontam para um acontecimento catastrófico no início da história. Quanto se trata de interpretar essefato, o relato bíblico claramente se diferencia dos outros, sustentandonão sersomenteumanarrativa humana, mas arevelação divina.
A HISTÓRIA BABILÔNICA DO DILÚVIO
A história babilônica do dilúvio, como é narrada na Epopéia de Gilgamés, ocupa quase 200 versos de poesia. Os seguintes excertos revelam a linha principal da história e mostram o seu tom. Os deuses em conselho decidiram mandar o dilúvio, e Ea, o deus responsável pela criação do homem, jurou perante o conselho que nada diria à humanidade sobre a decisão. Porém, Ea quis avisar seu adorador, Ut-napishtim, e assim falou à casa dele:
os entrar [...] Chegou o tempo determinado [...] Olhei o céu, o tempo, O tempo era terrível de ver. Entrei no barco e fechei a porta [...]
Toda a prata que tinha pus a bordo, Todo o ouro que tinha pus a bordo, Todas as criaturas vivas que tinha pus a bordo. Fiz entrar no barco toda a minha família e os meus parentes. Os animais domesticados e selvagens, Todos os artesãos, mandei-
Com o primeiro clarão da alvorada. Uma nuvem negra se ergueu no horizonte. Dentro dela, troveja o deus
“Cabana de juncos, cabana de juncos, parede, parede! Ouve, cabana de junco; presta atenção, parede!” Ele na verdade se dirigia a Ut-napishtim: “Derruba a casa, constrói um barco! Abandona as riquezas, busca a vida! Despreza as posses para salvar a vida! Leva a bordo a semente de todas as criaturas. O barco que construirás, Suas medidas devem ser todas iguais, A largura e o comprimento devem ser os mesmos.” Segue-se um diálogo sobre como Ut-napishtim deve explicar o trabalho aos seus conterrâneos e como reconhecerá o tempo do dilúvio. A solução era ocultar deles o fato e levá-los a pensar que os deuses os abençoariam. Depois descreve-se a construção do barco. Terminada a obra, Utnapishtim falou: ‘Tudo o que eu tinha pus a bordo, 42
Datada do século VIIa. C., esta tabuinha de argila coberta de inscrições, a décimaprimeira da versão assíria da Epopéia de Gilgamés, contém o relato babilônico do dilúvio.
A HISTÓ RIA BABILÔNICA DO DILÚVIO
das tempestades [...] O deus do mundo subterrâneo rompe os esteios da barragem, O deus guerreiro lidera a enchente das águas. Os deuses erguem as tochas, Ateando fogo à terra com suas labaredas. O terrível silêncio do deus das tempestades alcançou os céus, E transformou toda a claridade em trevas. [...] da terra esmigalhada como um vaso. Durante um dia a tempestade [rugiu] Soprou forte [...] Como uma batalha, o poder divino desabou sobre o povo. Ninguém conseguia ver seu vizinho. As pessoas não podiam ser reconhecidas do céu. Os deuses ficaram assustados diante do dilúvio. Subiram ao céu do deuschefe, Os deuses escondiam-se como cães, agachando-se diante da porta. A deusa Istar berrou como mulher em trabalho de parto
[...]
Os deuses choraram com ela [...] Durante seis dias e sete noites O vento, o dilúvio, a tormenta castigaram a terra. Quando chegou o sétimo dia, a tempestade e o dilúvio cessaram a guerra Na qual haviam lutado qual mulher em trabalho de parto. Olhei o tempo: estava calmo, E toda a humanidade virara lama. A terra era plana como um telhado plano. Abri a janela, luz brilhou no meu rosto. Agachando-me, sentei e chorei [...] No monte Nisir o barco
sobre a terra. Então disse Deus a Noé: O fim de todos seres humanos é chegado perante mim, pois a terra está cheia da violência dos homens. Destruí-los-ei juntamente com a terra. Faze para ti uma arca de madeira de cipreste: farás compartimentos na arca, e a revestirás de betume por dentro e por fora. Desta maneira a farás: o comprimento da arca será de trezentos côvados, a sua largura de cinqüenta e a sua altura de trinta. Farás na arca uma janela e lhe darás um côvado de altura. A porta da arca porás no seu lado; farás um primeiro, um segundo e um terceiro andares. Eu trago o dilúvio sobre a terra, para destruir tudo o que tem vida debaixo dos céus; tudo o que há na terra expirará. Mas contigo estabelecerei a minha aliança, e entrarás na arca tu e contigo os teus filhos, a tua mulher e as mulheres de teus filhos. De tudo o que vive, de tudo o que é carne, dois de cada espécie, farás entrar na arca, para os conservares vivos contigo; macho e fêmea serão. Das aves conforme a sua espécie, de todos os animais conforme a sua espécie, de todo réptil da terra conforme as suas espécies, dois de cada espécie virão a ti, para os conservares em vida. Leva contigo de tudo o que se come, e ajunta-o para ti; e te será para mantimento, a ti e a eles. Assim fez Noé, conforme a tudo o que Deus lhe mandou [...] Assim foram exterminados todos os seres que havia sobre a face da terra, o homem e o animal, os répteis, e as aves dos céus, foram extintos da terra; ficou somente Noé, e os que com ele estavam na arca. E prevaleceram as águas sobre a terra cento e cinqüenta dias.
encalhou [...] Quando veio o sétimo dia, Enviei uma pomba, soltando-a. A pomba foi, depois voltou, Pois não tinha onde pousar, e por isso retornou. Depois enviei uma andorinha, soltando-a. A andorinha foi, depois voltou, Pois não tinha onde pousar, e por isso retornou. Então enviei um corvo, soltando-o. O corvo foi e viu as águas baixando; Comeu, sobrevoou a região e não retornou. Levei para fora as oferendas e com elas fiz um sacrifício aos quatro ventos, Ofereci uma libação no cume da montanha, Os deuses sentiram o aroma, Sentiram o odor agradável, Reuniram-se como moscas em torno do sacrificador. Quando afinal a grande deusa (Istar) chegou, Ergueu o grande colar de contas em forma de moscas que o deus-chefe fizera para deleitá-la. ‘Ouçam todos os deuses aqui: assim como jamais me esquecerei do meu colar de lápis-lazúli, também sempre me lembrarei desses dias, e jamais me esquecerei deles...’” Depois da disputa acerca dos sobreviventes e da recomendação de punir as pessoas pelos seus pecados, os deuses determinaram a imortalidade de Ut-napishtim e de sua mulher. O relato bíblico começa em Gênesis 6. O tom e o colorido são bem diferentes dos da narrativa babilônica. “Viu Deus a terra, e que estava corrompida, pois todas as pessoas haviam corrompido o seu caminho 43
Lembrou-se Deus de Noé, e de todos os animais selvagens e de todos os animais domésticos que com ele estavam na arca; e Deus fez passar um vento sobre a terra, e as águas abaixaram. Cerraram-se as fontes do abismo e as janelas dos céus, e a chuva dos céus se deteve. As águas se foram retirando de sobre a terra. No fim de cento e cinqüenta dias as águas haviam abaixado, e a arca repousou, no sétimo mês, no dia dezessete do mês, sobre os montes de Ararate. E as águas foram minguando até o décimo mês, e no décimo mês, no primeiro dia do mês, apareceram os cumes dos montes.”
TESOUROS REAIS DE UR
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0 arranjo deflores efolhas de ouro para oscabelospertenceu a uma rainha de Ur.
ir Leonard Woolley estava escavando em mortos. Mas esses grandes fossos eram planejados para conter mais de um corpo. Ur havia poucos dias, em 1923, quando um Paraespanto do arqueólogo, dezenas de dos seus operários desenterrou um tesouro de contas de ouro e pedra. Os homens eram corpos jaziam no chão de cada fosso. Perto novos no trabalho, ainda sem treinamento, e do pé da rampa havia esqueletos de bois, outrora arreados a uma carroça. Os arreios Woolley temia que o surgimento do ouro já se haviam decomposto, mas alguns pudesse levar a escavações secretas e ao tinham contas costuradas que ainda contrabando. Ele sabia que havia mais a estavam nas linhas onde os arreios corriam. encontrar, mas interrompeu aescavação no Woolley identificou os esqueletos sítio por quatro anos, até 1926. humanos ao lado dos bois como condutores Woolley também estava inseguro quanto dos animais. Outros corpos pertenciam a àquilo que o homem encontrara. Ninguém virajóias como aquelas antes. Um arqueólogo guardas com lanças e capacetes, estacionados ao pé da rampa. Mais numerosos ainda eram experiente supôs que proviessem da Idade os servos da corte. Os músicos estavam com Média, tendo entre 500 e600 anos de idade. suas harpas eliras, as damas ostentavam nos Woolley, porém, pensava queo tesouro pudesseserdois mil anos mais antigo, datando do período persaou de pouco antes. Quando Woolley colocou novamente homens trabalhando no local, o resultado foi impressionante. Encontraram um cemitério com centenas de sepulturas cavadas ao longo de um período de vários séculos num depósito de detritos mais antigo. A maioria dos sepulcros era bem simples. Cada sepultura continha um esqueleto e alguns vasos, às vezes algumas jóias, além de ferramentas ou armas. Dezesseis sepulcros eram bem grandiosos. Grandes poços foram cavados até cerca de nove metros abaixo da superfície, para abrir um espaço de até 11 x 5 metros no fundo. Paraalcançar o fundo, os construtores dos túmulos escavaram um fosso inclinado que descia até embaixo. No chão construíram uma pequena câmara abobadadade pedra ou tijolo para os 44
TESOUROS REAIS DE UR
Os processos de decomposição haviam cabelos belos arranjos de flores efolhas destruído as roupas, a cestaria, o couro e os moldadas em lâminas de ouro e prata. objetos de madeira; porém, com brilhantes Todos os corpos estavam tão técnicas improvisadas, Woolley muitas ordenadamente dispostos, que Woolley concluiu que as pessoas haviam descido vezes conseguiu preservar vestígios de andando a rampa até suas posições, onde madeira apodrecida, ou pelo menos registrá-los. Se os operários encontravam se deitaram e tomaram veneno num um buraco no chão, ele derramava ali pequeno copo. (Alguns dos copos gesso de Paris. Quando o gesso se estavam ao lado dos corpos.) Depois solidificava, eles cortavamo solo emvolta vieram outras pessoas e arrumaram a paraver o que houve um dia ali. Dessa cena, matando os bois (alguns dos quais jaziam por sobre seus condutores humanos) e saindo a seguir. Com grandes cerimônias e oferendas, o fosso foi fechado com terra. Ladrões antigos haviam aberto um túnel até os túmulos e mexido nos sepulcros centrais. Levaram tudo o que puderam, e ainda deixaram muita coisa para os homens de Woolley. Pelo que restou, deduz-se claramente que eram túmulos de reis. A realeza tinha de descer à sepultura com toda a pompa de estado que havia desfrutado em vida. Seus servos tinham de ir também com eles, e provavelmente era uma honra ser escolhido.
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A música, assimcomo a arte, fazia parte da vida cultural de Ur. Sóa cabeça de touro, de ouro, e a decoração em mosaicodessa lira (abaixo, à esquerda) puderam ser recuperadas, mas os registros cuidadosos de Woolley acerca dos objetos de madeira decompostos tornaram possível sua reconstrução. Umdos tesouros maispreciosos de Ur é afigura de um bode(abaixo), decorada com ouro, prata, lápislazúli e conchas.
TESOUROS DOS TEMPOS BÍBLICOS
A maisfamosa daspeças dos túmulos reais de Ur é um mosaicode conchas, calcário vermelho elápis-lazúli. Umlado mostra cenas deguerra, o outro (acima) exibeo banqueteda vitória e o desfile da pilhagem. Váriosséculos antes de Abraão, os artesãos de Urjá eram capazes deproduzir obras de técnica perfeita.
forma recuperaram-se os formatos de harpas e liras, hastes de lanças e muitos outros objetos de madeira. Pela técnica e pela perspicácia de Woolley, soube-se mais sobre a cultura de Ur por volta de 2500 a.C. do que sobre qualquer outra cidade babilônica da época. Os túmulos reais de Ur refletem a riqueza da cidade. Reis e rainhas bebiam em grandes copos de ouro e prata. Como ostentação, os reis usavam adagas com lâminas de ouro, e as rainhas, belíssimas jóias de ouro e pedras coloridas. Durante os banquetes, ouviam cantores acompanhados de cordas eflautas. Pedra emetais não são encontrados na Babilônia. Esses materiais chegavam ali via comércio ou conquista de terras
Asferramentasdeouro também são dostúmulos reais de Ur.
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estrangeiras: o lápis-lazúli, do distante Afeganistão. Em alguns dos túmulos encontraram-se selos de pedra dos donos, com os nomes e títulos gravados. Isso possibilitou que os mortos fossem dispostos no cenário histórico. Os tesouros de Ur não têm vínculo direto com a Bíblia. Como muitas descobertas menos espetaculares, revelam a técnica perfeita dos artesãos e dão indícios das crenças da época —nessecaso, uma espécie de auto-sacrifício detestável tanto ao judaísmo quanto ao cristianismo. Datam devários séculos antes do tempo deAbraão, lembrando-nos que o início da história de Israel está inserido não numa era de povos primitivos, mas num mundo de homens já altamente civilizados.
MANCHETE: A Cidade Perdida de Ebla
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emana apos semana os operários Mardikh. E claro que um rei poderia labutavam sob o escaldante sol sírio. viajar bastante para erigir uma estátua em Arqueólogos italianos os contratavam por outra cidade, mas essaúnica pedra não dois meses todo ano, e esses homens provava queTell Mardikh eraEbla. escavavam as colinas que eles e seus pais Em 1975, veio a confirmação. Numa chamavam deTell Mardikh. A primeira construção sob o grande templo, temporada foi em 1964; outras vieram desenterraram-se milhares e milhares de tabuinhas de cuneiformes, que em 1965,1966 e 1967. Obviamente uma cidade importante identificavam muito claramente o local. jazia oculta ali. Uma alta barreira em torno Ebla fora encontrada! do sítio assinalavao muro da cidade, e um As tabuinhas jaziam numa pilha no portão robustamente construído dava chão de um pequeno recinto, num dos acesso a ela pela face sudoeste. Um homem lados de um pátio. Eram osarquivos deum da região desenterrou uma pedra esculpida palácio que florescerapor algumas gerações, ao lado de uma elevação no centro da área sendo depois incendiado. A alvenaria de murada, e os arqueólogos encontraram tijolos foi queimada no calor das chamas, mais bacias grandes de pedra decorando assim como as tabuinhas, que portanto um grande templo. ganharam resistência para suportar o Todas essas construções datavam do desgaste do tempo. período intermediário da Idade do Bronze, Soldados inimigos não deixam cartões entre2000 e 1600a.C. No entanto, de visita, mas, como não temos motivo ninguém sabia o nome da cidade. A para duvidar das bazófias de conquistas respostaveio em 1968. Construtores do de Sargom e de Naram-Sin, podemos período persa, cercade 500 a400 a.C., supor que o exército de um deles saqueou encontraram parte de uma antiga estátua e o palácio de Ebla. Eles o pilharam a tomaramcomo pedra útil. Inscrito nela apressadamente, deixando para trás estava o nome do rei que a mandara muitas coisas preciosas para o arqueólogo. esculpir, mais de mil anos antes. Ele Pedaços de estátuas de pedra talhadas em dedicou a estátua aIstar, deusado amor e estilos babilônicos, restos de revestimento da guerra, aVênus babilônica. Ao lado do de ouro e objetos de madeira nome do rei estava seu título: “Rei de Ebla”. sofisticadamente entalhados, todos Ebla era o nome de uma cidade que chasmuscados pelo fogo, acabaram caindo ao chão e foram cobertos pelos os poderosos reis babilônicos Sargom e Naram-Sin afirmaram ter conquistado escombros do edifício. por volta de 2300 e 2250 a.C. Os Ebla chegou às manchetes quando um estudiosos a procuravam havia anos. importante especialista italiano começou Geralmente abuscavam perto do rio a estudar as tabuinhas. Tão valiosas Eufrates, a 160 quilômetros de Tell quanto as outras descobertas, as palavras 47
TESOUROS DOS TEMPOS BÍBLICOS
escritas dão vida ao cenário. Datas, nomes e personalidades acrescentam vivacidade a objetos poeirentos e paredes desabadas. Logo de início as primeiras informações das tabuinhas foram intrigantes. Nos documentos escritos mais antigos já encontrados no noroeste da Síria, a linguagem era mais próxima do hebraico que do babilônico. Então anunciaram-se os nomes de alguns eblaítas. Entre os muitos desconhecidos estavam alguns que tinham um som mais familiar: Ismael, Adão, Daud (Davi). Alguns nomes terminavam em eí, palavra que significa “deus”, e outros em ya. Seria isso um padrão, como os nomes bíblicos “Miguel”, quesignifica “Quem é como Deus?”, e Micaías, “Quem écomo o Senhor?” (Jeová, ou Yahweh, abreviado em Yah)? Seria esse.ya realmente o nome do Deus de Israel (v. “O gravador de selos”)? O especialista afirmou que era isso mesmo, e alguns estudiosos concordaram com ele. E foi além: Ebla governava, ou influenciava, uma região muito extensa, chegando mesmo a Hazor, Megido e Laquis, em Canaã, e às cidades da planície
C. Cataldi Tassonifez o desenho original daspartes escavadas do palácio real deEbla. Osarquivos ficavam nopequeno recintoà direita dos cincopilares.
do mar Morto, como Sodoma e Gomorra. Um dos reis de Ebla chamava-se Ebrium. Será que esse nome era o mesmo do antepassado de Abraão, Éber, mencionado em Gênesis 10.21, ou guardava semelhança com a palavra “hebreu”? Os jornalistas interessaram-se pela notícia. Ebla estampou revistas de todos os tipos e foi saudada como “prova” da Bíblia. As tabuinhas ainda não haviam sido apresentadas a outros estudiosos. Só circulavam os relatos do especialista encarregado delas. Autores irresponsáveis então imaginaram que os modernos preconceitos políticos contra o Oriente Próximo estavam impedindo o fluxo de informações, uma acusação inverídica. As tabuinhas de Ebla são uma das notáveis descobertas arqueológicas dos anos 70. Lamentavelmente, a dimensão e a novidade do achado levou o especialista italiano a seprecipitar, negligenciando precauções normais no trabalho com uma língua desconhecida. Agora, uma equipe internacional de especialistas, principalmente italianos, com
MANCHETE: A CIDADE PERDIDA DE EBLA
representantes da Bélgica, Reino Unido, França, Alemanha, Iraque, Síria e EUA, tem a responsabilidade de editar toda a coleção. Já descartaram a maioria das revelações sensacionalistas. Localidades cananéias não aparecem nas tabuinhas. Ebla não tinha contatos tão ao sul, muito menos com as cidades da planície do mar Morto. Os nomes terminados em ya podem ser formas abreviadas, como Jimmy e Tommy, ou talvez os nomes possam ser lidos de outra forma. Não havia um deus chamado Ya em Ebla e nenhuma ligação com o Deus de Israel. Ebrium eraum alto funcionário, não um rei. Seu nome pode ser o mesmo que Eber, mas não há motivo paravincular os dois homens. A associação com o termo hebreu é improvável. Mesmo a língua das tabuinhas pode revelar-se mais próximade um dialeto babilônico do que do hebraico, embora alguns cidadãos de Ebla defato falassem uma língua pertencente ao mesmo grupo semítico ocidental a que o hebraico pertencia. Dez mil documentos escritos num local de que nada se conhecia previamente podem muito bem revelar-se repletos de dificuldades. Longos anos de pesquisa serão necessários para resolvê-las. Enquanto isso, as tabuinhas são valorizadas por provar quea escrita babilônica se propagou ao norte da Síria antes de 2300 a.C., por provar aprontidão em anotar todo tipo de atividade administrativa e legal, em escrever cartas e obras literárias e até em fazer dicionários de línguas diferentes, e ainda por testemunhar na região a presença dos povos semíticos ocidentais em data precoce. As ruínas posteriores de Ebla ilustram os textos bíblicos mais diretamente. O grande templo prefigura, na sua planta, o templo de Salomão, com pórtico, salão interno e recinto sagrado. As proporções, porém, são diferentes. A realeza local era enterrada em
túmulos escavados sob o palácio do mesmo período, 1800-1650 a.C. Ladrões pilharam os sepulcros, mas alguns tesouros lhes escaparam. Contas de ouro finamente trabalhadas eram enfiadas formando colares. Havia braceletes de ouro e um cetro com o nome de um faraó grafado em hieróglifos de ouro. Um belo anel de ouro, coberto com minúsculas bolinhas douradas, pendera do nariz de uma dama. Pode-se imaginar que o anel que Eliezer deu a Rebeca em Harã fosse parecido. Ebla era uma cidade próspera nos dias dos patriarcas. Grandes descobertas muitas vezes geram rumores que atiçam falsas esperanças e desorientam as pessoas. No momento devido é possível fazer uma avaliação abalizada ever o que é realmente importante. Esse é o caso de Ebla. Quando a poeira levantada pelos primeiros relatos já estiver assentada, Ebla será vista como um sítio-chave para a história primitiva da Síria, proporcionando brilhantes revelações acerca do nível de cultura da região antes dos tempos dos patriarcas e durante seu período. As tabuinhas darão a conhecer mais claramente as primitivas línguas semíticas, ampliando assim nossa compreensão dos hebreus. 49
Foi a descoberta de milhares de tabuinhas deargila, osarquivosdo palácio, quepermitiu identificar com certeza a "cidadeperdida” de Ebla.
UR: A CIDADE DO DEUS DA LUA
O trem avançava ruidosamente noite adentro, alguns privilegiados passageiros adormeceram nos beliches, outros cochilavam em assentos duros. Com um solavanco, o trem parou; olhos sonolentos espiavam pelas janelas. O nome da estação, “Entroncamento de Ur”, tinha um ar irreal. Descemos e passamos o resto da noite numa pousada próxima. Na manhã seguinte, atravessando cerca de dois quilômetros da lisa planície, alcançamos as ruínas da cidade —a Ur dos caldeus. O local é marcado por um bloco maciço de alvenaria de tijolos, que pode ser visto a quilômetros de distância. Era o templo de Sin, deus da lua, o deus
O templo do deus lunar domina as ruínas de Ur. Temmais de quatro mil anos efoi construído numa sériedeplataformas em degraus, com a casa do deus no topo. A “torrede Babel” bíblica era provavelmente uma torretemplo dessetipo. 50
principal adorado pelo povo de Ur. Embora o templo seja ainda mais antigo, a parte principal do edifício hoje de pé foi erguida por um rei de Ur há mais de quatro mil anos. Ele a construiu numa série de plataformas, uma sobre aoutra, cada qual menor que aimediatamente inferior. Na terceira plataforma ficava o santuário onde as pessoas acreditavam viver o deus. Os babilônios chamavam a torre “zigurate”, que significa o cume de uma montanha. Essetipo de templo era uma característica típica das cidades babilônicas (v. “A glória que foi Babilônia”), erguendose bem acima da paisagem plana, um marco para honrar os deuses e mostrar a
UR: A CIDADE DO DEUS DA LUA
riqueza do rei. Na cidade em tomo do templo encontram-se ruínas de outros templos, palácios e túmulos, além das casas de famílias ricas. Quando sir Leonard Woolley, o arqueólogo encarregado da escavação de Ur, retirou os detritos e tijolos caídos das casas, encontrou duas áreas muito bem preservadas. Um rei da Babilônia havia destruído Ur por volta de 1740 a.C., ateando fogo a algumas das construções. Os habitantes fugiram, e só alguns voltaram a viver novamente nas casas. Woolley foi capaz de traçar as plantas de muitas ruas, casas, lojas e pequenos santuários esparsos. A partir dessas descobertas, conseguiu reconstruir seu aspecto e imaginar como era a vida na cidade. Numa casatípica da cidade, a porta da rua ficava num pequeno vestíbulo, talvez dotado de uma jarra de água para os que chegassem lavar os pés. Uma porta num dos lados dava para o pátio. Havia
outros cômodos em torno do pátio, entre eles despensas, um banheiro e uma cozinha. Na cozinha, às vezes havia um poço, uma mesa de tijolos, um forno e mós para fazer farinha, além de vasos e panelas que os últimos donos deixaram para trás. Um recinto comprido no centro de um dos lados pode ter sido uma sala de recepção. As casas árabes construídas em tempos recentes nas cidades do Iraque seguem quase amesma planta. Todos os cômodos podem ser no piso térreo. As casas da Babilônia mil anos antes dessas de Ur eram também habitações térreas. Nas casas de Ur geralmente há uma escadaria bem construída num dos lados do pátio. Nenhuma das paredes é alta o bastante para provar que existisse um andar superior, mas parece bem provável que houvesse cômodos no piso de cima. A mobílianão subsistiu. Esculturas, gravuras em selos de pedra e modelos feitos em argila, provavelmente
Notempo deAbraão, alguns cidadãos abastadosde Ur talvez tenham morado emsobrados construídos nesseestilo. Nocentro havia umpátio calçado, com banheiro, cozinha, capela e outros cômodos em torno dele.
TESOUROS DOS TEMPOS BÍBLICOS
brinquedos, mosrram as mesas e cadeiras dobráveis, os objetos de vime ea cestaria, além das camas e tapetes que tornavam as casas confortáveis. Em casas maiores, um dos cômodos às vezes era transformado em santuário. Num dos cantos ficava um altar de tijolos de barro, cuidadosamente argamassado. Ao lado, uma instalação semelhante a uma lareira tinha uma chaminé que alcançava o teto, possivelmente para aqueima de incenso, e um banco de tijolos de barro servia de mesa para copos de bebida e pratos de comida. Nada revela o tipo de culto executado nas casas. Mas provavelmente os donos faziam oferendas, orando aos deuses familiares ecelebrando a memória dos antepassados. O sentimento familiar é demonstrado em vinte das 69 casas desenterradas. Compartimentos abobadados no subsolo eram câmaras mortuárias. Podiam acomodar os restos
Umbelo prato de ouro estava entre aspreciosidadesdescobertas nos túmulos reais de Ur.
Umgrande lancede degraus levava aoprimeiro patamar do templo. 52
mortais de dez ou até doze pessoas, sendo os sepulcros antigos afastados para o lado a fim de abrir espaço para os mais recentes. Um sepultamento correto, criam os babilônios, evitava que os mortos assombrassem os vivos. Tabuinhas de argila encontradas nas casas, algumas em pequenas salas de arquivo, revelam o que faziam os ocupantes dessas habitações. Entre eles havia mercadores que faziam negócios com parceiros ao sul (da região do golfo Pérsico), a leste (Pérsia) e anoroeste, até o rio Eufrates (Síria). Havia empresários locais, sacerdotes e outras pessoas que trabalhavam nos templos. Os registros tratam da compra e da venda de casas e terras, escravos e bens, de adoção, casamento e herança, e de todos os negócios de uma cidade agitada. Em algumas casas havia quantidades de tabuinhas de um gênero diferente. Em
UR: A CIDAD E DO DEUS DA LUA
Gradualmente, os novos habitantes bolas arredondadas de argila, achatadas adaptaram-se à vida urbana e passaram em forma de bolo, alunos haviam a morar em locais como Ur, lado a lado copiado a escrita cursiva do professor em exercícios para aprender a formar os sinais com os habitantes naturais da cidade. Esses amorreus falavam uma língua cuneiformes. O estágio seguinte era mais próxima do hebraico que do copiar as inscrições de reis anteriores, ou babilônico, mas os escribas ainda hinos e orações adeuses e deusas, ou escreviam babilônico, pois era uma mitos e lendas de tempos distantes. língua mais respeitada. Hamurábi, o Devemos nosso conhecimento da literatura suméria e babilônica à atividade famoso rei da Babilônia (v. “O código do rei Hamurábi...”), pertencia a uma desses professores eseus alunos. Para família de amorreus. facilitar o aprendizado da antiga língua Os nomes de Abraão e sua família suméria tinham tabelas de verbos e, para a aritmética, tabelas de raízes quadradas e eram muito semelhantes ao nomes amorreus. Os relatos bíblicos fazem cúbicas, além de números inversos. supor que Abraão viveu numa data por Tabuinhas de outras cidades babilônicas volta de 2000 a.C., talvez um pouco do século XVIII a.C. exibem uma antes ou depois. O livro de Gênesis, no compreensão correta do “Teorema de capítulo 11, conta que a Ur dos caldeus Pitágoras” — 1200 anos antes de era sua terra natal. Assim, é nesse Pitágoras o haver formulado! cenário que devemos situar a primeira Os cidadãos de Ur entre cerca de fase da sua vida. 2100 e 1740 a.C. desfrutavam de um Que acentuado contraste com a vida padrão de vida bem elevado na próspera que ele adotou depois! Diante do cidade. Portanto, não é de admirar que chamado de Deus, Abraão deixou uma se achassem superiores ao nômades que cidade sofisticada, com toda a sua viviam na região semidesértica além das segurança e conforto, para tornar-se um terras banhadas pelo rio Eufrates. Pessoas que não tinham “habitação fixa”, daqueles desprezados nômades! No Novo Testamento, a Epístola aos que comiam carne crua e não davam aos hebreus (cap. 11) toca no cerne dessa mortos uma sepultura decente mal notável resposta: podiam ser chamados seres humanos! “Pela fé Abraão, sendo chamado para Os povos nômades eram chamados um lugar que havia de receber por amorreus e parecem ter vindo da Síria. herança, obedeceu e saiu, sem saber para \ ieram em números tão grandes, que os onde ia. Pela fé peregrinou na terra da reis de Ur ergueram uma muralha por promessa, como em terra alheia, toda Babilônia para tentar mantê-los habitando em tendas com Isaque eJacó, afastados. herdeiros com ele da mesmapromessa. Mais e mais amorreus vieram, Pois esperava a cidade que tem i;abando por superar a muralha e pôr um ponto-final à soberania de Ur sobre fundamentos, da qual Deus é o arquiteto e construtor.” i Babilônia, por volta de 2000 a.C.
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O PALÁCIO DOS REIS DE MARI
O s nes deixam muito poucos vestígios da sua existência para os arqueólogos. Depois de retirar asestacas das tendas e caminhar para longe, quiçá deixem somente algumas pedras num círculo enegrecido pelo fogo. Portanto, é somentepelos contatos com agricultores e cidadãos urbanos que se consegue saber algo sobre os nômades, e as opiniões podem ser um tanto parciais. Uma descoberta, porém, vem revelando informações diretas sobre os nômades da Mesopotâmia por volta de 1800 a.C. Em 1933, um grupo de árabes abriu uma cova num monte às margens do rio Eufrates para fazer uma sepultura. Desenterraram uma estátua de pedra. Relataram o achado e antes do final do ano uma equipe de arqueólogos franceses começou a trabalhar. Logo desenterraram mais estátuas, e leram o nome da cidade de Mari inscrita em babilônico numa delas. Outros registros mostravam que Mari era um lugar importante, mas a cidade não havia sido encontrada até então. As escavações têm continuado nas ruínas, com algumas interrupções, até o presente. Templos, um palácio, estátuas, inscrições e um vaso de tesouro enterrado, todos datados de cerca de 2500 a.C., são sinais da importância de Mari na época em que os reis de Ur eram sepultados com tamanha pompa. Bem depois desse florescimento, Mari teve outro curto período de poder. Por volta de 1850 a.C. o chefe de um clã tomou a cidade e a transformou no centro de um reino que controlava o comércio ao longo do rio Eufrates, entre a Babilônia e a Síria. Com 54
os impostos advindos desse comércio, além de outros negócios e da agropecuária, os reis de Mari foram capazes de erguer para si um enorme palácio, que figura como uma das maiores descobertas do Oriente Próximo. O palácio de Mari ocupava mais de 2,5 hectares de área e tinha mais de 260 cômodos, pátios e corredores. Inimigos haviam saqueado o local e incendiado o palácio. Depois as areias do deserto encheram os cômodos até ficarem totalmente cobertos. Assim as paredes ainda tinham cinco metros ou mais de altura quando os arqueólogos escavaram o local, e hoje há um telhado sobre algumas partes do palácio, para proteger as paredes; assim, os visitantes podem caminhar dentro desse edifício antigo e impressionante. Depois de retirar toneladas de areia de cada cômodo, os escavadores esperavam grandes recompensas. Alguns cômodos estavam vazios, outros funcionavam como despensas: fileiras de grandes vasos estavam a postos para receber azeite, vinho ou cereais. Havia quartos —espaçosos para o rei, suas esposas esua família, mais acanhados para os funcionários e servos. Podemos imaginar os artesãos ativos nas suas oficinas, os secretários nos seus gabinetes, pasteleiros nas cozinhas. Havia até jovens cantoras praticando para entreter os convidados estrangeiros do rei. Como sempre, as descobertas mais informativas são os documentos escritos. Havia tabuinhas de argila espalhadas pelo chão de vários cômodos. Um deles era a
O PALÁCIO DOS REIS DE MARI
sala de arquivo, onde ficavam guardados esses documentos. No total, mais de vinte mil textos cuneiformes aguardavam os arqueólogos no palácio de Mari. Os escribas anotavam cada detalhe da vida do palácio. As tabuinhas registram a quantidade de víveres que entrava no palácio —cereais, legumes everduras de todos os tipos— , e várias centenas relacionam os alimentos que iam à mesa do rei diariamente.
Centenas de cartas levam ao rei notícias de todo o seu reino. Um funcionário relata progressos na fabricação dos instrumentos musicais encomendados pelo rei, outro que não há ouro suficiente para decorar o templo como o rei gostaria. Um pequeno grupo de cartas dá relatos de mensagens enviadas pelos deuses aos profetas ou a pessoascomuns. Alguns aconselham o rei a agir de determinado modo, outros lhe asseguram proteção divina. A estátua deum homem barbado encontrada em Mari e datada do século XVIII a. C. traz inscrito o nomeIshtupilum, rei deMari.
TESOUROS DOS TEMPOS BÍBLICOS
O grande palácio de Mari foi reconstruído e ampliado pelo rei Zimrilim no séculoXVIII a. C. O conjunto compreendesalões de recepções, apartamentosdafamília real, salas dos escribas e um santuário interno.
As tribos nômades e suas migrações eram um grave problema para os oficiais militares. Eles constantemente emitiam relatórios ao rei sobre a situação. Nômades avançando às centenas eram uma ameaça a pequenas cidades agropastoris e mesmo à própria Mari. Interrompiam o tráfego das rotas comerciais e combatiam as forças do rei. Na tentativa de manter a paz, firmavam-se tréguas com alguns grupos,
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que recebiam permissão para se estabelecer em partes do território de Mari. Esseé o retrato de uma situação que se repetiu ao longo de toda a história da Mesopotâmia. As cartas mencionamváriasdas tribos. Todasseenquadramdentrodo termogeral “amorreus”. Quando os estudiosos começaram a estudar esses textos, ficaramempolgados ao interpretarum dos nomes como “benjaminitas”. Seriaessaatribo israelita, ou
O PALÁCIO DOS REIS DE MARI
antepassados dela? Mais tarde os pesquisadores concordaramque o nomeerade fato “iaminitas”, que significa “sulistas” (como o Iêmen, no sul daArábia). Outro nome significa“nortistas”,eambosparecemestar relacionados com as origens dastribos. Não há razãoparaenxergaraqui umaligaçãobíblica. Damesmaforma, o entusiasmo inicial da descoberta levou à afirmação de que o nome Davi era corrente em Mari como título de “chefetribal”. Com basenisso, elaboraram-se teorias quediziam que o nome de Davi eraoutro a princípio, sendo “Davi” adotado somente quando ele setornou rei. Um problema de longa data poderia ser resolvido por esseraciocínio. Segundo 1Samuel 17, Davi matou Golias, mas 2Samuel 21.19 diz que Elanãfoi quem matou o gigante. Se “Davi” era umtítulo, Davi e Elanã poderiam ser a mesma pessoa. Hoje sabe-se com certeza que apalavra não era um título em Mari, e não está ligada a Davi (é umapalavra quesignifica “derrota”); portanto, elimina-se essasolução. (Embora existam dificuldades, a resposta mais simples talvez seja supor que os filisteus tinham mais de umherói chamado Golias.) Alémde Davi, centenas de nomes amorreusaparecemnastabuinhasdeMari. Sobejamsemelhanças com nomes hebreus, notavelmente com nomes da época patriarcal. Asvezesos nomessão idênticos, como no caso de Ismael, mas isso não significa referênciaao mesmo nome (v. “Manchete: a cidadeperdida de Ebla”), e sim simplesmente que o nome era comum,talvezemvoganaépoca. O grande palácio de Mari exibe a organização e a burocracia de um estado pequeno, mas poderoso. Seus arquivos proporcionamuma riqueza de inesperadas informações sobreavida dos nômades do século XVIII a.C. Apesar das alianças diplomáticas com outros reis ecom as tribos, Mari foi derrotadapelos exércitos de Hamurábi, da Babilônia, pouco depois de 1760 a.C. Outras cidades floresceramna região de tempos em tempos; hoje a mais próxima éAbu Kemal. Mas nenhuma delas foi tão formidável quanto Mari.
Entreos achados deMari havia uma estátua de uma deusa em tamanho natural. Ela segura um vasopelo qual fluía água, eseu manto está decorado com representações de riachos onde se vêem peix es nadando. A estátua data do século XVIII a. C.
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s
OS PATRIARCAS: O ARGUMENTO DO SILÊNCIO Abraão e seu pai, Tera, moraram em Ur, no sul da Mesopotâmia, e em Harã, no norte. Seus nomes não aparecem em nenhum texto antigo, nem nessas duas cidades nem em nenhuma outra cidade babilônica. Harã não foi escavada; as primeiras camadas jazem sob o castelo e a mesquita medievais. Ur, como já vimos, revelou centenas de documentos escritos. Já fora da Mesopotâmia, a história dos patriarcas se desenrola em Canaã. Ali, segundo Gênesis 21, Abraão teve uma disputa com o rei de Gerar acerca da propriedade de um poço de água. A disputa terminou
com um tratado de paz. O filho de Abraão, Isaque, teve o mesmo problema, e alcançou a mesma solução. Mas já que hoje temos acesso a vários tratados antigos, acaso não é surpreendente que nada se saiba sobre esses acordos fora da Bíblia? As cidades cananéias não revelaram absolutamente nenhum sinal da presença de Abraão. Certa época A braão foi para o Egito. O faraó tomoulhe a mulher. Sara, mas depois, diante da reprovação de Deus, devolveu-a, despedindo Abraão com valiosos presentes (a história é contada em Gênesis 12). Mais tarde, o neto de Isaque,
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José, sai da escravidão no Egito para tornar-se o braço direito de faraó. Depois levou seu pai, Jacó, e sua família para viver com ele no Egito. E o que os hieróglifos egípcios têm para dizer sobre esses fatos? Novamente, a resposta é: “Nadai". O silêncio de todas as fontes extrabíblicas a respeito dos patriarcas leva alguns autores a concluir que os patriarcas jamais existiram: são invenções de patriotas judeus exilados da sua terra, buscando criar uma história nacional; ou são homens lendários, figuras do folclore sem nenhum fundamento real. Argumentos
OS PATRIARCAS: O ARGUMENTO DO SILÊNCIO
a favor desse tipo de opinião podem ocupar várias linhas. Aqueles que usam a arqueologia como plataforma para tal conclusão, porém, não analisam corretamente as provas. Encontrar o tratado de Abraão com o rei de Gerar, por exemplo, exigiria que os arqueólogos localizassem o palácio de Gerar e descobrissem registros que tratem do reino desse soberano. Para que se descubra o tratado, é fundamental que este tenha sido registrado por escrito e redigido sobre um material resistente: pedra ou tabuinha de argila. Mas Gerar ficava no sul de Canaã, perto do Egito. Portanto, os escribas que lá trabalhavam provavelmente o teriam registrado ao modo egípcio —em papiro, que se decompõe rapidamente—, e não ao modo babilônico, em argila. Acima de tudo, ainda, a probabilidade de os arqueólogos encontrarem os registros corretos ó pequena. Quando um palácio é desenterrado, como em Mari, o que se encontra geralmente pertence aos reinos dos últimos dois ou três reis que viveram ali antes de o local ter sido abandonado. Portanto, o reino do aliado de Abraão necessariamente teria de estar situado próximo ao final de um período da
história de Gerar. Mesmo que todas essas exigências fossem cumpridas, não há garantias de que todo documento enterrado num arquivo sobreviva intacto e legível; a exposição ao tempo, a umidade, os desmoronamentos, a escavação descuidada — tudo isso pode destruir a escrita em tabuinhas de argila. A possibilidade de encontrar o tratado é remota. Atualmente seria uma descoberta acidental e inesperada, pois ninguém sequer pode ter certeza da localização exata de Gerar! No Egito, a fragilidade do papiro sempre foi um grave problema para os historiadores (v. “Algum sinal de Moisés?’’). Dos 500 anos que separam 2000 de 1500 a.C., os monumentos dos reis em templos e túmulos e os memoriais dos seus servos são praticamente as únicas fontes de informação. Pouquíssimos documentos em papiros escaparam aos efeitos corrosivos da umidade. Fragmentos de um deles relatam a situação no sul do Egito, outros lidam com os negócios de uma única cidade. Vale a pena repetir: é muito improvável que se encontre qualquer registro sobre Abraão ou José no Egito. Diferentemente de
Umnobreegípcio seorgulhava do dia, por volta de 1900 a.C., em queapresentou um grupo de estrangeirosà corteegípcia. Ele mandoupintar a cena na parededo seu túmulo emBeni-Hasam. Um escriba egípcio depele escura (à direita da ilustração exibida aqui) segura um cartaz anunciando os visitantes como asiáticos vindos da
região deShut, trazendogalena para a maquiagem negra das pálpebras, de queos egípcios gostavam. O líder échamadode “chefe estrangeiro A bushar”. Esse grupo do Sinai ou do sul de Canaã dá uma descrição visual da possível aparência dospatriarcas.
outros líderes, José não teve no Egito um túmulo esculpido ou pintado com os momentos significativos da sua carreira. Gênesis 50 afirma que seu corpo embalsamado foi levado de volta a Canaã. Ainda que não forneça referências diretas aos patriarcas, a arqueologia pode ajudar a estudar o cenário da vida deles. Será que essas histórias concordam com aquilo que sabemos sobre o período de 2000 a 1500 a.C., no qual a Bíblia ap arentemente as situa, ou será que revelam indícios de outra época? Se foram escritas em meados do primeiro milênio a.C., podiam trazer informações sôbre os Impérios Assírio ou Babilônico, sobre o Império Sírio em Damasco, sobre o uso disseminado do ferro e de cavalos. Aliás, essas coisas estão ausentes, exceto pelos carros de José no Egito, possivelmente puxados por cavalos. Outros fatos apontam a primeira metade do segundo milênio como período mais correto. O Egito então recebia um influxo constante de amorreus e de outros povos de Canaã, e alguns deles alcançaram postos importantes na corte de faraó. No final, alguns desses estrangeiros governaram o Egito por certo tempo (os reis hicsos). A carreira de
José e a emigração da sua família enquadram-se bem nesse período. Embora o modo de vida nômade (que as tabuinhas de Mari registraram) tenha sido difundido e fosse comum em mais de um período, certamente torna possível a datação da época dos patriarcas entre 2000 e 1500 a.C. Antigos escribas egípcios copiaram a história de um egípcio que fugiu da corte e viveu muitas aventuras em Canaã, voltando no final para receber as homenagens e o sepultamento adequado na terra natal. As cópias datam de 1800 a 1000 a.C. A história passa-se 150 anos antes da cópia mais antiga. Os egiptólogos asseveram que ela se baseia num fato real e é coerente com o período a que se refere. O herói da história, Sinuhe, não tinha renome nacional. Sua história era popular, ao que parece, como conto de aventura. Em Gênesis, os escritores hebreus apresentam as histórias da origem da sua nação. A arqueologia pode revelar o cenário dessas origens. Não pode fornecer provas de que sejam verdadeiras. Nem pode provar que sejam lendas infundadas. Mas pode provar, sim, que se contavam histórias semelhantes na época, e eram relatos aparentemente fidedignos.
UM POVO REDESCOBERTO Quem eram os heteus? “V
A téofinal do séculoXIX nada se sabia dos heteusfora da Bíblia. Sua redescoberta foi uma das proezas mais notáveis da arqueologia. Essa estátua, do século V IIIa.C., éde um dos últimos reis heteus.
V ede, o rei de Israel alugou os reis dos heteus e os reis dos egípcios, para virem contra nós!” Essasuspeita foi suficiente para provocar pânico no exército de Damasco. Os soldados fugiram, subitamente libertando Samaria de um cerco que deixara os habitantes à míngua (a história é contada em 2Reis 7). Os antigos egípcios deixaram uma marca por demais profunda na humanidade que jamais seráesquecida. Mas quem eram os heteus? Até um século atrás, ninguém poderia responder aessa pergunta. Os heteus, se éque existiram um dia, desapareceram junto com os heveus, os ferezeus, girgaseus e outros povos mencionados no Antigo Testamento. No entanto, embora os heteus sejam muitas vezes mencionados simplesmente como uma das muitas nações que
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ocupavam Canaã —nações que os israelitas destruiriam na conquista da Terra Prometida— , o episódio mencionado acima e mais outro, em que Salomão exportava cavalos “a todos os reis dos heteus e aos reis da Síria”, fazem crer que eram mais importantes. Contudo, como eram desconhecidos e muitas vezes classificados ao lado de outros grupos desconhecidos, alguns comentaristas acreditam que deve ter havido um erro: pelo menos em 2Reis 7 o historiador bíblico queria dizer “assírios”. Em 1876, porém, começou a redescoberta dos heteus, pelo trabalho de A. H. Sayce. Especialista inglês, Sayce passou boa parte davida viajando pelo Egito e pelo Oriente Próximo; montou sua base num barco-casa no Nilo, mas voltava a Oxford toda primavera para dar as aulas que seu cargo exigia. Sayce percebeu que aescrita
UM POVO REDESCOBERTO: QUEM ERAM OS HETEUS?
pictográfica em blocos de pedra reutilizados em construções medievais em Hamate e emAlepo, na Síria, era a mesma escrita esculpida em rochas na Turquia. Em 1876, ele associou essas escritas aos heteus do Antigo Testamento e aos “khetas” mencionados nos textos egípcios. As referências egípcias não deixavam dúvida de que os khetas eram uma “grande potência”; um dos seus reis fez um acordo com faraó Ramessés II em condição de igualdade. Os exploradores que vagavam pelaAnatólia então começaram a prestar mais atenção a essas inscrições de pedras e às ruínas de antigas cidades espalhadas pelo planalto turco.
A maior de todas as ruínas era um local chamado Boghazkõy, cerca de 160 quilômetros a leste deAncara. Gente do local vendia pedaços de tabuinhas de argila que encontrava a turistas estrangeiros. A escrita nas tabuinhas era babilônica, mas a língua não. Duas outras tabuinhas na mesma língua foram descobertas no Egito em 1887, com letras babilônicas, até mesmo uma de um rei heteu (v. “Parentes dos hebreus?”). Mas durante alguns anos a língua desafiou os estudiosos. Boghazkõy erao lugar óbvio para descobrir mais sobre os heteus. Em 1906, uma expedição alemã, liderada por H. Winckler, começou a escavar as ruínas. O
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Leões depedra, com cerca de 3500 anos, guardam oportão da antiga capital hetèia, Hatusas, perto de Boghazkõy, na Turquia.
TESOUROS DOS TEMPOS BÍBLICOS
Em setratando devariedade de conteúdo sucesso foi imediato. Nas ruínas incineradas elínguas, as tabuinhas de Boghazkõy são de um conjunto de despensas havia mais de inigualáveis. Outras descobertas feitas na dez mil pedaços de tabuinhas de cidade revelam devários modos a cultura e a cuneiformes, bem endurecidas pelo fogo. habilidade dos heteus. (As escavações de Extraordinariamente, um dos documentos revelou-se umaversão babilônica do tratado Winckler estenderam-se de 1906 a 1912; entre Ramessés II e o rei heteu. Essee outros foram retomadas por K. Bittel em 1931, textos babilônicos provaram que Boghazkõy interrompidas em 1939, e têmcontinuado desde 1952.) eraa capital de um reino poderoso. Seu A cidade de Hatusas ocupava mais de nome antigo era Hatusas. 120 hectares. A cidade eracercada por uma Das tabuinhas babilônicas surgiu robusta muralha de pedras e tijolos, e entre rapidamente um esboço de sua história e os os textos dos arquivos encontram-se nomes de seus reis do período de 1400 a instruções para as sentinelas. No flanco 1200 a.C. Os escribas heteus usavam essa leste vê-se uma rocha alta, que era a língua paradocumentos do governo e correspondência internacional. Eramhomens cidadela fortificada. Cinco templos foram desenterrados na capazes, alguns deles exímios tradutores. área da cidade. O maior (64 por 42 Além do babilônio, seis outras línguas estão metros) era cercado por fileiras de representadas nos textos cuneiformes. A mais despensas, sem dúvida para guardar as importante éa que hoje se chama hitita, oferendas levadas ao deus. Organização escrita ao lado do acadiano em documentos considerável era necessária para manter os do governo e usada largamente para registros templos, e os textos dão detalhes dos ritos religiosos e administrativos. e cerimônias que os sacerdotes Menos de dez anos depois da executavam, alguns com a participação do descoberta de Winckler, o estudo das rei. Faziam-se celebrações longas e tabuinhas levou um especialista tcheco, Bedrich Hrozny, a publicar suas conclusões elaboradas para consagrar um novo templo ou purificar as pessoas do pecado. de que a língua hitita é parente do grego, E comum entre os estudiosos do do latim, do francês, do alemão e do inglês, membro portanto da família indo-européia Antigo Testamento afirmar que as leis de idiomas. Outro estudioso havia chegado hebréias de Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio são “avançadas” demais ou à mesma conclusão alguns anos antes, a complicadas demais para data tão primitiva respeito das duas tabuinhas do Egito. Ninguém crera nele, e as pessoas relutavam quanto o tempo de Moisés —não posterior a 1250 a.C. Mas os textos de Boghazkõy, e em acreditar em Hrozny, mas novas outros do Egito e de recentes escavações pesquisas provaram que ele estava certo. O francesas em Emar, às margens do Eufrates, hitita ocupa hoje lugar central no estudo contestam claramente esse conceito: as das línguas indo-européias e da história do cerimônias que a lei de Israel prescreve não povo que falava esse idioma. estão deslocadas no mundo do final do As outras línguas usadas nas tabuinhas segundo milênio. de Boghazkõy eram um idioma falado Ao lado do portão da cidade havia leões pelos habitantes pré-heteus, dois esculpidos em pedra, figuras mágicas para semelhantes ao hitita (um deles, o luvita, manter afastados os inimigos. Num estreito usado bem largamente) e o hurrita, desfiladeiro perto dali, ergueu-se um corrente naTurquia oriental e no norte da santuário para os deuses edeusas cujas Mesopotâmia. Os falantes do hurrita desempenharam papel importante no reino imagens estão esculpidas no paredão heteu. Poucas expressões é tudo o que resta rochoso. Outros relevos em rocha e esculturas de pedra proclamam o controle de uma sétima língua, ligada ao sânscrito. 62
UM POVO REDESCOBERTO: QUEM ERAM OS HETEUS?
heteu sobrevárias partes da Anatólia. Os heteus ampliaram seu poder a partir de cercade 1750 a.C. De cerca de 1380 a 1200 a.C., o soberano heteu foi o “Grande Rei”, suserano de numerosos monarcas até o Egeu, a oeste, e até Damasco, ao sul. Por conta desse extenso Império, o nome dos heteus ficou famoso na antigüidade. Para controlar seus súditos, os monarcas heteus faziam tratados com os reis vassalos. Duas dúzias desses tratados, completos ou não, foram encontrados entre as tabuinhas de Boghazkõy. Uma análise de 1931 revelou o formato básico desses acordos, proporcionando base fértil para a investigação dos tratados do Antigo Testamento (v. “Tratados ealianças”). Nas esculturas hetéias e nos selos impressos nas tabuinhas de argila, podemos ver o tipo de pictografia conhecida como hieróglifos heteus. Esses hieróglifos parecem-se com os egípcios, e os heteus talvez tenham até tomado a idéia do Egito, mas a escrita não é amesma. Em alguns exemplos, principalmente nos selos dos reis, os hieróglifos aparecem lado a lado com os cuneiformes babilônicos para grafar nomes e títulos reais. Usando a escrita babilônica como chave, ficaram evidentes alguns dos valores dos sinais hieroglíficos. A descoberta em 1947 de textos correspondentes muito mais longos, em hitita eem fenício, num local chamado Karatepe, deu base sólida à compreensão dos hieróglifos. Hatusas e o Império Heteu chegaram ao fim logo depois de 1200 a.C., nos distúrbios que afligiram muitas regiões
Nessa escultura em relevo do século V IIIa.C., encontrada nocentro heteu de Carquemis, apareceum príncipe ainda bebênos braços da ama; ao lado vê-seuma cabra, que talvez lhefornecesseleite. A inscrição hieroglífica hetéia dá o nomee o título dopríncipe.
do Mediterrâneo oriental (v. “Os filisteus”). As tradições hetéias duraram mais. Em pequenos estados da Anatólia e do norte da Síria, reis locais continuaram a mandar fazer inscrições em hieróglifos hititas e na língua luvita até 700 a.C. (a data das inscrições de Karatepe). Alguns desses reis talvez remontassem ao Império Heteu, enquanto outros não tinham nada de heteus. Mas, para as outras nações antigas, para os assírios e os hebreus, eles ainda eram heteus. Na época em que o exército de Damasco fugiu de Samaria, havia um forte rei “heteu” um pouco ao norte, em Hamate, às margens do rio Orontes. Talvez representasse uma ameaça para Damasco, especialmente se aliado a outros reis. Essa éa realidade por trás do relato do historiador bíblico. A redescoberta dos heteus é um dos resultados notáveis da arqueologia do Oriente Próximo.
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TRATADOS E ALIANÇAS Os reis antigos sempre desconfiavam dos seus vizinhos. Será que eles I atacariam para conquistar o reino? Ou será que eram vulneráveis a ataques de inimigos mais distantes? Uma forma de ganhar segurança era garantir um bom relacionamento com os vizinhos, e não ameaçar as fronteiras ou os interesses alheios. Reis fortes podiam firmar acordos mútuos como iguais, por meio de “tratados de paridade”, ou podiam persuadir ou forçar reis mais fracos a aceitá-los como senhores, por “tratados de suserania”. Entre as tabuinhas descobertas nas ruínas da capital hetéia, em Boghazkõy, estão os textos de pelo menos duas dúzias de tratados, alguns muito malpreservados. Um deles é o famoso acordo feito entre Ramessés II do Egito e Hattusil III dos heteus, em 1 1259 a.C. É um tratado de paridade. Os reis são irmãos: comprometem-se a respeitar os interesses um do outro, a não atacar um ao outro, a ajudar-se mutuamente contra inimigos comuns e a devolver fugitivos. A via egípcia desse tratado estava entalhada em hieróglifos na parede de um templo de Karnak. A versão egípcia contém até uma descrição detalhada da tabuinha de prata, gravada
nomes das testemunhas, bênção a todos os que o observassem e assustadoras maldições contra os que o violassem. Não era um padrão rígido; alguns elementos podiam ser deixados de fora, ou dispostos em ordem diferente. Mas esse é, evidentemente, o modelo normal. Só em 1954 um estudioso do Antigo Testamento, G. E. Mendenhall, percebeu que o modelo também se verifica no Antigo Testamento. Não há tratados desse tipo citados ali, mas os acordos são relatados em detalhes. Os relatos do tratado, ou aliança, que Deus firmou com Israel e que estabeleceu esse povo como nação sob zelo divino são especialmente extensos. Partes dele aparecem em Êxodo 20—31; e Deuteronômio apresenta uma completa renovação. Josué 24 também exibe os elementos básicos do modelo de tratado, e eles aparecem em Gênesis 31.43-54 e em outras passagens. O surgimento desse modelo nos textos heteus e hebreus traz à tona algo significativo: a datação. O Império Heteu termina pouco depois de 1200 a.C. Quando outros tratados se tornam acessíveis a nós, em textos assírios e aramaicos do
com os termos do acordo e portando com o selo real, que era exibido nela. Os homens não podem jamais confiar plenamente uns nos outros, e portanto proclamavam-se maldições formais contra qualquer futuro rei egípcio ou heteu que violasse os termos do pacto. Os deuses dos dois países eram invocados para testemunhá-lo e salvaguardá-lo. Os tratados de suserania eram mais comuns. Em troca da proteção que o Grande Rei podia oferecer, o rei menor prometia ser leal, não manter ligação nenhuma com os inimigos do suserano, nem com nenhum soberano desconhecido do Grande Rei. Se o suserano fosse à guerra, o vassalo forneceria soldados para o exército e todo ano enviaria um imposto ao Grande Rei. Deveria também mandar de volta quaisquer refugiados dos domínios do Grande Rei, mas este podia manter refugiados das terras do rei menor. Uma análise cuidadosa desses tratados foi levada a cabo em 1931. Todos seguiam o mesmo padrão básico. Depois de uma introdução, faz-se um relato dos acontecimentos que conduziram à feitura do tratado, depois vêm as exigências do acordo, as disposições para salvaguardálo e a leitura pública, os
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século VIII a.C. e posteriores, o modelo já é outro. Naquela época, a introdução era seguida pelos nomes das testemunhas, depois pelas exigências e maldições, com variações na ordem. Falta o relato dos acontecimentos que levam à confecção do tratado (existe uma tabuinha muito malpreservada que talvez contenha esse elemento), e as bênçãos praticamente não aparecem. Apesar das várias tentativas de miná-la, permanece o valor da comparação entre os tratados heteus e os dos primeiros cinco livros da Bíblia. Isso não prova que todos foram escritos no mesmo período, mas torna bem plausível essa possibilidade. Supor, como querem muitos comentaristas, que os textos bíblicos só alcançaram a sua forma atual 600 anos mais tarde exige a sobrevivência em Israel de um modelo antiquado, um modelo diferente daquele dos tratados que os reis de Israel e de Judá firmaram com os reis sírios de Damasco e com os reis da Assíria e da Babilônia. É preciso que se pesquise mais o assunto, tanto com respeito à datação quanto no que se refere à comparação dos modelos e da linguagem.
PARENTES DOS HEBREUS? Uma camponesa egípcia revirava a terra dos cômoros próximos à sua vila em 1887. Procurava terra margosa, boa para enriquecer o campo. A terra margosa eram os escombros e tijolos em decomposição de uma antiga cidade. Às vezes, quando os aldeões escavavam as colinas, encontravam coisas abandonadas nas ruínas vendáveis por algum dinheiro a antiquários que as levavam até o Cairo com o intuito de vendê-las a colecionadores europeus. Eles gostavam de esculturas de pedra, de objetos decorativos de vidro, de estátuas de metal e dos pequenos talismãs em forma de besouro, os “escaravelhos”. Cavando, a mulher encontrou numerosas placas de argila endurecida. Não tinham valor para ela, e jamais vira nada parecido antes. Um vizinho as comprou dela por uma ninharia. As placas de argila eram, na verdade, tabuinhas de cuneiformes, e havia 400 ou mais delas. Algumas foram levadas ao Cairo, mas ninguém sabia ao certo se eram ou não realmente antigas. Jamais se haviam encontrado tabuinhas de cuneiformes no Egito, e portanto a insegurança e a desconfiança eram naturais. Durante algumas semanas os comerciantes egípcios apregoaram as tabuinhas pelo país, tentando vendê-las por bom preço. Bem no final de 1887, Wallis Budge chegou do Museu Britânico com instruções para comprar tudo o que acreditasse poder ser acrescentado às coleções do museu. Ouviu rumores sobre
estão hoje em Londres depois de ser contrabandeadas do Egito. Cento e noventa e nove tabuinhas passaram ao Museu do Estado, em Berlim, cinqüenta permaneceram no Cairo e outras quarenta e tantas foram parar em outras coleções. O número total conhecido hoje é de 378. Entre a descoberta da camponesa e o abrigo seguro dessas tabuinhas nos museus houve algum prejuízo, e um número desconhecido se perdeu. Conta-se a história de uma tabuinha bem grande. Seu dono a levava ao Cairo. Quando subiu no trem, ocultando a tabuinha sob o
novas descobertas de papiros e de tabuinhas incomuns, e assim tomou no Cairo um trem para o sul; depois pegou um vapor em Assiut para completar a viagem até Luxor, subindo o Nilo. Lá um comerciante levou-lhe algumas das tabuinhas de argila. Budge notou que não eram o tipo de tabuinhas com que estava familiarizado, da Assíria e da Babilônia, mas convenceu-se de que não eram falsificações. Quando recebeu um segundo lote, percebeu que eram cartas enviadas a reis do Egito no século XIV a.C. Comprou 82 delas, que
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Registrospictóricos eescritosforam descobertos emEl-A mama, no Egito.
PARENTES DOS HEBREUS?
manto, acabou escorregando, e a tabuinha se espatifou no chão. Ele juntou a maior parte das peças, que hoje estão em Berlim. É uma lista de preciosidades que acompanhavam uma princesa estrangeira que fora casar-se com faraó. Escavações realizadas no sítio da descoberta, ElAmarna, recuperaram mais algumas tabuinhas, todas quebradas. Foram deixadas para trás quando o governo egípcio voltou para a antiga capital, no reinado de faraó Tutancâmon. Aparentemente, eram arquivos indesejáveis do gabinete de relações estrangeiras. Reis e soberanos de todo o Oriente Próximo escreviam a faraó, e ele às vezes respondia em babilônico. Escreviam reis da Assíria e da Babilônia, assim como monarcas da Síria e de Canaã, soberanos de cidades como Tiro e Beirute, Hazor, Gezer e Jerusalém. Falavam de questões internacionais, de problemas locais, da lealdade dos reis cananeus. Aqueles que declaram fidelidade a faraó com mais veemência são os que acusam os vizinhos de deslealdade! Um problema que esses governantes enfrentavam era a ameaça de estrangeiros que vagavam pelo interior, atacando as cidades. Eram bandidos, criminosos, fugitivos de todos os tipos.
Tabuinhas deEl-Amarna, escritas por reis cananeus aofaraó egípcio, mencionam osproblemas de ataques de bandos errantes de estrangeiros—os “habirus". Seriam estesoshebreusdoA ntigo Testamento?
Desdetempos remotos o rioNilo éa grande estrada do Egito, formando umfértil corredor atravésdos desertos queseestendema lestee oeste.
acontecimentos e os povos mencionados nas cartas e os do Antigo Testamento. Embora os locais sejam bem conhecidos, os reis e soberanos são diferentes em cada documento. Há também um cenário diferente, pois todas as cartas da Palestina são de monarcas vassalos do Egito, que não é o cenário encontrado nos livros de Josué e de Juizes. Depois que as Tabuinhas de Amarna conferiram destaque aos habirus, sugiram muitos outros textos que se referem a eles. Os habirus aparecem em registros egípcios, heteus, ugaríticos (v. “Cidades conquistadas de Canaã”) e babilônicos. Em grandes números poderiam representar uma ameaça; como indivíduos eram insignificantes. Os generais
Não eram tribos comuns de pastores nômades. Os autores das cartas os chamavam habirus. Quando se leu essa palavra nas Tabuinhas de Amarna, abriuse um debate que até hoje não terminou. Seriam esses habirus, que combatiam os cananeus, os hebreus do Antigo Testamento? Se os israelitas avançaram sobre Canaã no século XIII a.C., como pensa a maioria das pessoas, os habirus das Tabuinhas de Amarna não poderiam ser eles, pois pertencem ao século anterior. Se, entretanto, a data do êxodo for recuada para 1440 a.C., como alguns preferem, os habirus poderiam ser os hebreus. Não se pode estabelecer nenhum elo entre os
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egípcios os capturavam em Canaã, e eles carregavam pedras ou serviam vinho como escravos no Egito. Na Babilônia, às vezes se vendiam como escravos em troca de comida e de abrigo. São muito comuns em documentos escritos entre 1500 e 1200 a.C., mas aparecem entre 200 e 300 anos antes na Babilônia. Todos esses textos combinados revelam que “habiru” virou rótulo de pessoas sem-teto, refugiadas. Abraão e seus descendentes enquadram-se na mesma categoria; o nome hebreu é usado principalmente na primeira parte da história de Israel, até o reinado de Saul. Os habirus não eram hebreus, mas ajudam a explicar quem eram estes!
O TESOURO DE TUTANCÂMON
L
orde Carnarvon erahomem extremamente rico, mas já havia financiado a retirada de 200 mil toneladas de areia e pedras egípcias, e, depois de seis temporadas de escavações, ainda nada fora encontrado. Continuar seria esforço inútil. Decidiu pôr fim aos trabalhos. Chamou Howard Carter à suaterra natal para lhe dar a notícia. Carter é que havia proposto e dirigido a escavação, pois estava convencido de que havia um túmulo real ainda por descobrir no vale dos Reis. Ali estavam os túmulos de todos os faraós que a história mostrava que deviam encontrarse na região, exceto um —o de Tutancâmon. Carter convenceu o patrocinador a financiar uma última tentativa. No vale quase não havia mais chão a esquadrinhar. Só uma área, que fora desimpedida para que os turistas pudessem visitar outro túmulo mais facilmente, ainda estava
Emnovembro de 1922, Howard Carterderrubou a porta lacrada queseerguia entreele eo tesouro mais rico de todosos tempos. Ladrões de túmulos dos séculos passados não conseguiram encontrar a câmara mortuária do rei Tutancâmon do Egito. Segurando uma vela pela abertura, Carterpôde ver “coisas maravilhosas”lá dentro. Foi o únicosantuário de umfaraó a ser encontrado intacto. 68
inexplorada. Certamente valeria a pena escavar também essaárea! Portanto, em novembro de 1922, Howard Carter retomou suatarefa —triunfando afinal. Os operários retiraram as pedras eas ruínas decabanas que construtores deoutro túmulo haviam erguido. Sob essas, talhada na rocha, havia uma escadaria que levava ao subterrâneo. Dezesseis degraus abaixo encontrou-se uma porta lacrada, e alguns dos selos ostentavam onome deTutancâmon. Emboraem tempos antigos ladrões tenham invadido o túmulo, os guardiães do cemitério real cuidaram de fechar o buraco aberto. Será que os ladrões haviam deixado algo de valor? Além da porta havia um corredor de cerca de nove metros de comprimento, e depois outra porta lacrada. Em 26 de novembro, lorde Carnarvon, sua filha e um auxiliar se aglomeravam em torno de Carter enquanto este segurava uma vela lá dentro, depois de abrir um buraco na barreira. O que será que via? “Coisas maravilhosas”, respondeu. Carter estava olhando a maior de quatro câmaras subterrâneas. Três revelaram-se repletas de objetos, o equipamento de que o rei necessitaria na existência seguinte. A quarta câmara abrigava o corpo do rei. O buraco dos ladrões e a confusão que fizeram ao revirar o túmulo atrás de coisas preciosas que pudessem levar mostram que o tesouro deTutancâmon foi quase destruído há séculos, pouco tempo depois de enterrado. A vigilância dos antigos guardas frustrou a tentativa. Logo depois a entrada desapareceu sob o cascalho do vale, e as cabanas dos operários posteriores a
O TESOURO DE TUTANCÂMON
A avecom sua ninhada deovos é outra das preciosidades do túmulo de Tutancâmon.
ocultaram çompletamente. Foi assim que o túmulo de um faraó pouco importante escapou ao saque que sofreram todos os túmulos dos maiores reis do Egito. O túmulo deTutancâmondáumvislumbre daglóriadequeosreisdo Egitodesfrutavam quandoanaçãoerapoderosa.O ouroafluíaà tesourariadopaíscomosaqueoutributo de paísesestrangeiros edasminasdeouro nosul do Egito. O túmulo deTutancâmon mostracomo seusavao ouro parahonraro rei.
O rei Tutancâmon, ojovemfaraó egípcio do século XIV a. C., é conhecidohojepela espetacular máscara de ouro confeccionada para a múmia real, um dostesouros do seu túmulo.
Umcachorro, representandoAnúbis, o deus egípcio da mumificação edo renascimento, guardava uma porta no túmulo do rei Tutancâmon.
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TESOUROS DOS TEMPOS BÍBLICOS
O lado lado interno interno do encosto do trono do rei Tutancâmon exibefara ibefaraó óe sua rainha. rainha. O trono trono êde madeira revestida stida de ouro cintila ntilante, nte, prata, faia faianç nça azul, calcita ita e vidr idro. E um dos tesouros mais ais vali valiosos do Egito ito.
mumif mumificado, icado, e, sobre ele, entre entre as camada camadas No primeiro relance, relance, Carter Carter viu viu uma de bandagem colocadas cuidadosamente, cama de madeira dourada, dourada, uma uma estátua estátua havia dezenas de amuletos muletos e jóias jóias de metal dourada dourada e ainda ainda outras peças peças de mobili mobiliário ário havia precioso. decoradas com ouro. Ao esvaziar o Para Para todos os efeito efeitos, s, o túmulo túmulo real real túmulo, túmulo, os arque arqueólo ólogos gos mostravam-se mostravam-se estava equipado com tudo t udo de que o rei rei incessantemente espantados diante da necessitara ou ó com tudo o que usara em va varied iedade de objetos que encont ontravam, a vida a, pa para que seu espírito pudesse manter alta qualidade qualidade da técnica técnica eo elevado elevado nível nível vid o mesmo mesmo padrão de de vida vida no além. Para artístico. garanti garantirr o bembem-estar do espírito, espírito, vários Ach Achou-se -se, po por exemplo, um trono de de textos mágicos mágico s e stavam gravados g ravados no madeira com as pernas terminando terminando em túmulo, túmulo, onde havia também também imagens imagens patas de leões, encimado encimado na frente por esculpidas esculpidas de deuses e deusas. Grande G rande foi cabeças de leões, tudo revestido de ouro. o zelo para que tudo ficas ficasse perfeito perfeito em Os braços são são entalhado ntalhadoss como serpentes benefício do falecido Tutancâmon. aladas, proteg protegendo endo o rei, e a lâmina de ouro Ele morreu por volta volta de 1350 a.C., a.C., das costas do trono mostra mostra a rainha rainha cem anos anos antes dos dias dias de Moisés. oisés. Nos atendendo atendendo o rei sentado. sentado. O brilho brilho do ouro ouro tesouros do seu túmulo, portanto, é abrandado por por detalhes realçados em podemos ver o estilo da corte egípci egípcia a da prata evidro vidro colorido colorido de azul, verde e época, em que Moisés Mois és foi educado, e o marrom-avermelhado. Embora os egípcio egípcioss Quatro carruagens foram desmontadas luxo que o cercava. Embora comuns não partilh partilhassem assem dess dessas as riquezas, e inseridas inseridas no túmulo. túmulo. A armaç armação ão de um número considerável de funcionários, madeira madeira de uma delas era revestida revestida de soldados e administrado administradores res reais gozavam ouro batido batido,, e viam-se viam-se gravada gravadass ilustrações soldados desse desseprivil privilég égio io,, como demonstram várias de inimigos do Egito amarra amarrados. dos. O rei rei descobertas. morto também possuía muitas jóias finas, Podemos supor que foi principalmente de ouro e de pedras pedras semiprecio semipreciosas. sas. Tinh Tinha a dessas pessoas que os israelitas sraelitas “tomaram “tomaram uma adaga adaga de ouro maciço, e outra mais emprestado” o ouro o uro e a prata levados ao eficaz, com com lâmina de ferro, raridade na deixarem deixarem o Egito Egito depois depois da décima praga. época. O túmul túmulo o também também abrigava abrigava 29 29 Êxodo Êxodo 12 registra: istra: “Fizeram “Fizeram, pois, pois, os arcos, alguns deles orlados ou revestidos filhos ilhos de Isra Israel confo conforme rme a palavra de de de ouro. O catálogo dessas preciosas Moisés, e pediram pediram aos egípci egípcios os jóias jóias de posses parece não não ter fim. fim. prata ejóias jóias de ouro, e roupas. roupas. O Senhor Mais magníficos, porém, e também ao povo graça aos olhos olhos dos egípcios, mais famosos, são o esquife esquife de ouro maciço deu ao de modo que estes estes lhes davam o que e a máscara de ouro que que encerravam encerravam o pediam; assim despojaram os egípcios”. corpo do far faraó. aó. Dentro Dentro dos quatro quatro Mais tarde, no deserto, segundo Êxodo Êxodo santuário santuárioss (v. “Tutancâmon, o tabernáculo tabernáculo 38, os israelitas deram deram quase quase trinta trinta e a arca da aliança”) aliança”) estava um caixão talentos talentos de ouro para a decoração do amarelo de pedra. Dentro D entro desse caixão tabernáculo (v. “Tutancâmon, o havia outro, outro, em forma forma de de múmia, de aliança”) e o seu seu madeira madeira revestida com lâmina lâmina de ouro. Um tabernáculo e a arca da aliança”) aparelhame apa relhamento nto. . Consi C onsiderando derando que um segundo segundo caixão de madeira revestida de talento eqüivale a mais ou menos 30 ouro encaixavaencaixava-se dentro do primeiro primeiro e, quando aberto, aberto, revelourevelou-se se o impressio impressionante nante quilos, o total chega perto de 900 quilos. Alg Algumas pessoas mostram-se -secéticas esquife esquife de ouro. ouro. O metal tem espessura espessura de diante di ante de quantidade quanti dade tão elevada, masem 2,5 a 3 milímetro milímetros, s, batido no forma formato to do face do tes tesouro de Tutancâm Tutancâmon ela ganha corpo e incrustado, como o segundo, com plausibi plausibililida dade. de. O esquife interno de ouro vid vidrro e pedras colori oridas. O corpo for fora
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TESOUROS DOS TEMPOS BÍBLICOS
Umbaú Um baú de madeira do túmulo do rei Tutancâmo T utancâmon, em Tebas, é decorado com cenas da sua vida. vida. O rei no seu carro de deguerra rra persegue osinimigo nimigos. No tampo eleaparec aparece caçando.
maciço pesacercade 110 quilos, quilos, pouco pouco mais de 3,5 talentos, talentos, e no túmulo havia muitos outros objetos objetos feitos feitos deouro ou ou revestidos do metal. É imp impossível ossível pesar o revestimento de ouro, mas, se 180 quilos quilos é um palpi palpite te razoável parao peso total total do ouro encontrado encontrado no túmulo, túmulo, isso repres representaum quinto quinto da quanti quantidade queos israelitas israelitaslevaram.
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O tesouro tesouro deTutancâmon utancâmon é a mais mais espetacular de todas todas as descobertas arqueoló arqueológica gicas. s. Embora Embora não haja vínculo vínculo direto entre essa essadescoberta descoberta e o Antigo ntigo Testame estamento, ela ilustra ilustra a riqueza do Egito e o cenário da narrativ narrativa a de Êxodo. Demonstra também a quantidade de ouro disponível e como ele era usado.
TUTANCÂMON, O TABERNÁCULO EA ARCA DA ALIANÇA Os tesouros de Tutancâmon ajudam a entender mais claramente duas descrições da Bíblia. Ambas pertencem ao tempo do êxodo, ou seja, um século depois do sepultamento de Tutancâmon. A primeira é a do tabernáculo, a tendasantuário sagrada onde Deus se fazia presente. Era uma estrutura pré-fabricada que podia ser desmontada, carregada em partes de um lugar para outro e depois remontada. As paredes eram uma série de pilares de madeira ligados por travessas que corriam por argolas fixadas aos postes verticais. Todas as partes de madeira eram revestidas de ouro, e os postes se apoiavam em encaixes de prata. Um conjunto de dez cortinas, brilhantemente adornadas, pendia dos lados e por cima da estrutura. Para resistir à prova das intempéries, estendia-se uma cobertura de peles sobre o conjunto. Os artesãos já faziam pavilhões e santuários préfabricados havia muitos séculos. Um deles repousou no túmulo de uma rainha desde o tempo do sepultamento, por volta de 2500 a.C., até a escavação que o revelou, em 1925. Uma armação de madeira revestida de ouro proporcionava à rainha uma proteção cortinada durante suas viagens. No túmulo de Tutancâmon, quatro santuários de madeira revestida de ouro protegiam o corpo do rei. O maior com 5 metros de comprimento, 3,3 metros de largura e 2,3 metros
de altura. Um segundo santuário encaixava-se dentro do primeiro, um terceiro, dentro do segundo e ainda um quarto, dentro do terceiro. Cada lado era feito de uma armação de madeira coberta de painéis entalhados, revestidos de delgadas lâminas de ouro. Os homens encarregados do sepultamento levaram as partes separadamente, passando pelo corredor de 1,6 metro de largura que dava acesso ao túmulo, e depois as montaram na câmara mortuária. Na pressa, acabaram não encaixando todas as partes corretamente! Cobrindo o segundo santuário havia um véu de linho decorado com margaridas de bronze dourado representando o céu estrelado. O teto de dois dos santuários imita um modelo bem antigo. São feitos de madeira com revestimento de ouro, mas, bem antes, nos primórdios da história egípcia, o santuário de uma deusa importante tinha uma leve armação de madeira encimada com pele de animal, e é esse modelo que os dois santuários reproduzem com materiais mais nobres. Nenhuma dessas coisas é idêntica ao tabernáculo israelita. Todas mostram que a idéia em si e os métodos de construção usados eram comuns no Egito na época do êxodo. O segundo elemento que o túmulo de Tutancâmon ilustra é a descrição bíblica da arca da aliança. Esta era uma caixa que continha os documentos básicos da constituição de Israel, as leis de Deus a que o povo jurava obedecer, sendo guardada no
recinto interior do tabernáculo. Havia uma argola de ouro em cada um dos cantos, onde se inseriam as traves para carregar a arca. Também entre as posses de Tutancâmon havia um baú de madeira, uma bela peça de marcenaria que tinha traves para ser carregada. Provavelmente foi feito para os pesados mantos reais. Havia quatro traves, duas em cada extremidade: quando o
baú não estava sendo transportado, as traves ficavam embutidas, deslizando por argolas fixadas debaixo da caixa. Cada trave tinha uma gola na extremidade interna, para que ninguém pudesse retirála da base da caixa. Embora esse baú fosse um pouco mais sofisticado que a arca, exibe um modelo semelhante de construção.
Umbaú demadeira comargolas e travespara transportá-lo, descoberto no túmulo do rei Tutancâmon, ilustraa “arcada aliança" bíblica, a caixa sagrada na qual secarregavam asleisdeDeus. Notúmulodo rei Tutancâmon, quatro relicários revestidos deouro protegem ocorpo embalsamado, cada qual encaixado dentro do outro, e todosfeitos para ser desmontados — como o Tabernáculo israelita.
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NAS OLARIAS DO EGITO
O
Miniaturas encontradas em túmulosantigos mostram os egípciosfazendo tijolos, quasedois mil anos antes de Cristo.
a.C. A idéia pode tervindo da Síria ou da s turistas em visita ao Egito Palestina, onde os tijolos já eram comuns maravilham-se diante das grandes bem antes, assim como na Babilônia. pirâmides nos arredores do Cairo, depois Fazer tijolos era simples. Os viajam 322 quilômetros para o sul, trabalhadores extraíam o tipo certo de subindo o Nilo, para admirar os grandes barro e o levavam até uma área aberta, templos de Karnak. Esses imensos onde o misturavam com água, pisoteando monumentos são feitos de pedra. ou remexendo a mistura com uma enxada Organizavam-se grupos de homens para até obter a consistência correta. Basta o extrair as pedras dos montes que barro para fazer um tijolo, mas o acréscimo circundam o vale do Nilo e transportá-las de palha picada dá resistência e deixa o em carros e barcaças até o local da obra. Lá produto menos propenso a esfacelar-se. os pedreiros cortavam emodelavam as Hoje, são necessários cercade 20 quilos de rochas, preparando-as para o uso. palha para cada metro cúbico de barro, e Embora as estruturas de pedra ainda muitas vezes também se acrescenta areia. impressionem o turista (e há muito tempo Depois de misturar e remexer, os os turistas as visitam —a Esfinge e as homens levavam a massa aos fabricantes de pirâmides já eram atração no tempo de tijolos. Estes a prensavam em armações Moisés), o material de construção mais retangulares de madeira apoiadas em solo comum no antigo Egito era o tijolo. plano. A seguir, retiravam as armações e Todo ano o rio Nilo sobe cerca de 7,5 deixavam o tijolos secando. Depois de dois metros, alagando o vale. A enchente ou três dias sob sol forte, os tijolos ficavam começa em julho e as águas vão recuando gradualmente a partir do final de outubro. duros e prontos para a construção. O trabalho não era dos mais limpos, Ao descer das montanhas da Etiópia, o rio mesmo quando os tijolos já estavam secos. traz toneladas de lama suspensa na água. Um antigo escriba egípcio considerava sua Esse fértil solo negro deposita-se no chão profissão superior a todas as outras. O à medida que a água passa a se mover operário da construção, disse ele, tinha mais devagar pelo Egito, formando uma uma triste sina: “O operário carrega barro nova carnada que torna a terra bastante [...] Fica mais sujo do que [...] porcos fértil para a lavoura. Com lama por toda depois de pisotear a lama. Suas roupas parte, era natural que os egípcios a ficam duras de barro...”. usassem na construção. Os tijolos encontrados no Egito muitas Seus abrigos mais primitivos talvez tenham sido feitos simplesmente de juncos vezes ainda exibem pedaços de palha. Quando ainda moles, os tijolos destinados entrelaçados e argamassados com lama. Construções dessetipo foram feitas durante para uma obra especial podiam ser marcados com um sinete. Gravado no longo período, até que se descobriram as sinete de madeira ia o nome e os títulos de vantagens do tijolo, antes ainda de 3000 74
NAS OLARIAS DO EGITO
quando serefere ao trabalho dos israelitas um faraó ou alto funcionário (v. tb. “A glória que foi Babilônia”). Os tijolos para no fabrico de tijolos parafaraó, antes do as casas medem mais ou menos 23 x 11,5 Êxodo. “Então puseram sobre eles feitores de x 7,5 centímetros. No caso das construções mais imponentes, podiam ser obras, para os afligirem com as suas cargas. Assim os israelitas edificaram para Faraó maiores, até 40 x 20 x 15 centímetros. cidades-celeiro, Pitom e Ramessés. Mas Diversos registros trazem relatórios do quanto mais os egípcios afligiam o povo de fabrico de tijolos para fins oficiais. Listam Israel, tanto mais este semultiplicava ese turmas de doze operários, cada qual espalhava; de maneira que os egípcios se capitaneada por um capataz. Num dos inquietavam por causa dos filhos de Israel, casos, 602 homens fabricaram 39118 e os faziam servir com dureza. Assim lhes tijolos. Isso dá somente 65 tijolosper capita; o volume moderno paraum grupo amarguravam avida com dura servidão, em barro e em tijolos, e com toda asorte de quatro homens é de três mil tijolos por de trabalho no campo; com todo o serviço dia. Outros relatos dão os números de em que na tirania osserviam. [...] tijolos de vários tamanhos —23 603 de “Depois foram Moisés eArão e cinco palmos, 92 908 deseis palmos—, disseram a Faraó: Assim diz o Senhor, o num total de 116 511 tijolos. Um relato Deus de Israel: Deixa ir o meu povo, para detalhado do século XIII a.C. relaciona que me celebre uma festa no deserto. Mas quarenta homens com a meta “dois mil Faraó respondeu: Quem é o Senhor para tijolos” ao lado decada um. Depois que eu ouça a sua voz, e deixe ir a Israel? aparecem os números efetivamente Não conheço o Senhor, nem tampouco alcançados; num dos casos, “total de 1 360; déficit de 370”. Não seespecificam deixarei Israel partir. Então eles disseram: O Deus dos hebreus nos encontrou. aspenalidades para o fracasso! Tudo isso retrata o mesmo quadro que Portanto deixa-nos agora ir caminho de três dias ao deserto, para que ofereçamos a Bíblia traçaem Êxodo (caps. 1e 5)
Gravado no alto do tijolo debarro (acima) vê-seo nomedofaraó Ramessés II, em cujasgrandes obras éprovável queos israelitas tenham trabalhado comoescravos. Pintadas nasparedes de túmulos do antigo Egito encontram-secenas de fabrico detijolos. Uma mistura de barro epalha ê colocada nos moldes de madeira. Depois de secadosao sol, os tijolos sãolevadosaos canteiros de obras. Ofabrico detijolosera um trabalho sujo—obviamente reservado a mão-de-obra escrava.
Uma "olaria” moderna nas cercanias do Cairoainda usa os antiqüissimos métodos emateriais: barro do Nilo e sol quentepara secar os tijolos.
TESOUROS DOS TEMPOS BÍBLICOS
servos? Palha não se dá a teus servos, e sacrifícios ao Senhor e ele não venha sobre nos dizem: Fazei tijolos. Os teus servos nós com pestilência e com espada. Então são açoitados, mas o teu povo é que tem lhes disseo rei do Egito: Moisés eArão, por que fazeis o povo cessar das suas obras? a culpa. Disse Faraó: Estais ociosos, estais ociosos; por isso dizeis: Vamos, Ide às vossas cargas. Disse mais Faraó: O sacrifiquemos ao Senhor. Ide, pois, povo da terrajá é muito, evós os fazeis agora, trabalhai. Palha porém não se vos abandonar as suas cargas. dará, contudo dareis a conta dos tijolos. “Naquele mesmo dia Faraó deu ordem Então os oficiais dos filhos de Israel aos exatores do povo e aos seus oficiais: Daqui em diante não torneis a dar palha ao viram-se em aflição, porque se lhes dizia: Nada diminuireis de vossos tijolos, da povo, para fazer tijolos, como fizestes tarefa do dia no seu dia.” ontem e anteontem; vão eles mesmos, e colham palha para si. Mas exigireis deles a Aí estão o barro e a palha, os moldes, os mesma quantidade de tijolos que dantes oficiais e os capatazes, e as cotas diárias. A faziam; nada diminuireis dela. Eles estão narrativa bíblica ilustra o sofrimento e a ociosos; é por isso que clamam, dizendo: labuta humana por trás dos números dos Vamos, sacrifiquemos ao nosso Deus. relatos egípcios. Não é de admirar que o Agrave-se o serviço sobre estes homens, povo de Israel quisesse fugir! para que se ocupem nele, e não confiem Seu clamor era pela permissão de sair em palavras de mentira. para adorar seu Deus. Isso é coerente; “Então saíram os inspetores do povo e relatos da época informam que muitos dos seus capatazes, e falaram ao povo: Assim operários que esculpiam os túmulos dos diz Faraó: eu não vos darei palha. Ide vós faraós no vale dos Reis tiravam dias de mesmos, e tomai palha onde a achardes, folga para festivais e cultos religiosos. mas nada se diminuirá de vosso serviço. A palha faz tijolos melhores: os “Então o povo seespalhou por toda a operários israelitas tiveram de encontrar terra do Egito, a colher restolho em lugar palha por conta própria depois de de palha. Os inspetores os apertavam, fazerem o pedido ao faraó. Um dizendo: Acabai a vossa obra, a tarefa do funcionário egípcio destacado para um dia no seu dia, como quando havia palha. remoto posto fronteiriço reclamava: Foram açoitados os oficiais dos filhos de “Não há homens para fazer tijolos, nem Israel, que os inspetores de Faraó tinham palha na região”. posto sobre eles. E lhes perguntavam: Por Há milhares de anos os homens fazem que não acabastes avossa tarefa nem ontem tijolos no Egito; o relato de Êxodo e as nem hoje, fazendo tijolos como antes? fontes egípcias traçam quadros vividos dos “Pelo que os oficiais dos filhos de processos e das dificuldades existentes no Israel foram e clamaram a Faraó, segundo milênio a.C. dizendo: Por que tratas assim a teus
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A CIDADE-CELEIRO DO FARAÓ RAMESSÉS II Quando os reis egípcios queriam honrar os deuses e perpetuar o próprio nome com alguma grande obra, sempre a construíam em pedra, pois os edifícios de tijolos de barro nem de longe duravam tanto. A pedra tinha de ser extraída nas colinas e levada até as cidades. Era uma empreitada bastante dispendiosa para quaisquer obras localizadas no delta do Nilo, no norte do Egito. Portanto, quando um dos faraós do período em que o país se achava enfraquecido, por volta de 900 a.C., quis fazer obras em duas cidades do delta, viu
que não podia arcar com os custos de novas pedras. Assim, seus homens retiraram as pedras necessárias das ruínas de palácios e templos antigos. As novas construções foram erguidas em Tânis e em Bubastis. Escavações realizadas em Tânis, hoje chamada San el-Hagar, desenterraram grandes quantidades de pedras entalhadas das construções de Osorkon II (cerca de 874850 a.C.). Em muitos desses blocos aparecem os nomes e títulos do grande faraó Ramessés II, que reinou 400 anos antes.
Quando foram descobertos os blocos, o explorador concluiu precipitadamente que o próprio Ramessés havia erigido esses importantes templos e palácios. Sabia-se que ele construíra uma nova cidade no delta (cujo nome, Pi-Ramessés, homenageia o próprio) e acreditava-se que a “Ramessés” que os israelitas construíram (v. Êxodo 1.11; a identidade do outro lugar, Pitom, é incerta) era do mesmo faraó. Mas as pedrarias de Ramessés em Tânis claramente não estão na posição original. Algumas
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Blocos depedra com inscrições do nome deRamessés IIforam transportadospara Tânis e reutilizados ali, confimdindo os arqueólogos quetentavam identificar o local das cidadesceleiro dofaraó.
A CIDADE-CELEIRO DO FARAÓ RAMESSÉS II
'das inscrições encontram-se de cabeça para baixo, ou viradas para o lado de dentro da parede. Em lugar nenhum de Tânis se encontraram fundações das obras de Ramessés II, ou qualquer bloco na posição correta. Depois das escavações de Tânis, outro trabalho foi feito num local trinta quilômetros ao sul, hoje chamado Qantir. Atualmente não há quase nada para ver acima do chão. De tempos em tempos, desenterravam-se na região tijolos e azulejos reluzentemente vidrados. Alguns haviam decorado um palácio de verão que o pai de Ramessés, Seti I, mandara construir. Boa parte pertencia a uma grande reconstrução do palácio conduzida por Ramessés. Seu nome e títulos sobressaíam em azul contra fundo branco e em branco contra fundo azul, com cenas das suas vitórias em outras cores, e figuras de estrangeiros derrotados nos degraus do trono. Obviamente fora um belo palácio, compensando a falta das pedras esculpidas, encontradas nos palácios mais ao sul, com o uso decorativo dos tijolos. Estudos revelaram que o palácio de Qantir fazia parte de uma cidade —a cidade chamada Pi-Ramessés.
Canaã e parte do Líbano. Depois de vinte anos de batalhas e campanhas na Síria e na Palestina Ramessés firmou um tratado de paz com o rei heteu cujo exército marchara até Damasco, ao sul (1259 a.C.). De Pi-Ramessés havia fácil comunicação, via terra e mar, com os governadores egípcios em Canaã, e o Nilo abria caminho ao restante do Egito, dando acesso às antigas capitais —Mênfis e Tebas— rio acima. Não se encontraram relatos da construção de PiRamessés. As obras, extensas e trabalhosas, certamente exigiram numerosos operários para preparar os canteiros de obras, fabricar tijolos e erguer as paredes. Uma grande comunidade estrangeira morando nas cercanias seria a solução ideal como mão-de-obra básica. E é exatamente isso que o livro de Êxodo menciona. Mesmo sem detalhes precisos acerca da mão-deobra do Egito, podemos perceber como a descoberta de Pi-Ramessés esclarece o relato bíblico e o endossa. De Pi-Ramessés os oprimidos israelitas não tiveram de caminhar muito até a fronteira para fugir pelo deserto do Sinai.
Havia templos para os deuses principais, e um para a deusa cananéia Astarte, casas e escritórios para a equipe de governo e alojamentos militares. Pequenas casas e oficinas acomodavam grande número de servos, artesãos e operários. Um canal desviava as águas de um braço do Nilo a outro, fazendo assim da cidade uma ilha. Navios do Mediterrâneo podiam navegar facilmente até o porto construído à margem do canal. Construíram-se armazéns para guardar bens importados e exportados e para recolher os impostos que os agentes aduaneiros do faraó arrecadavam. Tudo isso foram obras de Ramessés, algumas delas feitas às pressas. Como havia uma cidade antiga, Avaris, ao lado da nova, Ramessés mandou que se transportassem as colunas dos templos antigos para completar um dos seus novos templos, assim como um rei posterior, por sua vez. pegou os blocos de pedra e colunas de Ramessés para suas obras em Tânis. Pi-Ramessés era claramente um centro comercial. Era também um centro militar bem-situado. No reino de Ramessés II, o Egito mantinha sob controle
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A cabeça deRamessés II, faraó cuja imagem domina tantas dasgrandes ruínas do antigo Egito. Uma estátua colossal de Ramessés II repousa entreaspalmeiras de Mênfis.
ALGUM SINAL DE MOISÉS? Um dos acontecimentos mais importantes da história bíblica é a saída de Israel do Egito — o êxodo. Sem ele não existiria a nação de Israel nem a Bíblia. E sem um grande líder para guiálos e encorajá-los, os escravos fugitivos não se teriam unido para sobreviver no deserto e abrir caminho em meio a outro país. Moisés, relata o livro de Êxodo, foi criado como egípcio na família real do Egito. Fugiu do país depois de matar um egípcio que espancava um dos hebreus, o povo de Moisés. Depois de longa ausência, voltou e assumiu a liderança do seu povo, tentando conven cer o faraó do Egito a permitir que os hebreus deixassem a terra. Quando o faraó lhe negou permissão, Moisés, como agente de Deus, deflagrou uma série de pragas, a décima delas matando o primogênito de toda família egípcia. Então o faraó cedeu, e os hebreus saíram, mas ainda não tinham deixado o território egípcio quando o rei mudou de idéia e mandou que seu exército os impedisse. Assim que os carros de guerra surgiram no horizonte, as águas do mar Vermelho se abriram. As tribos hebréias cruzaram em segurança; mas, quando os inimigos os perseguiam pelo leito seco do mar, as águas voltaram e afogaram os egípcios. É de esperar que acontecimentos espetaculares como esses deixem provas arqueológicas. Há um século ou mais as
pessoas vêm procurando essas provas, e já fizeram várias asserções. Alegou-se que o corpo de um dos faraós estava coberto de sal em conseqüência do afogamento no mar. Mas logo se viu que era um sal químico produzido durante o embalsamamento do corpo. Grandes construções de tijolos foram entusiasticamente identificadas como as “cidades-celeiro” em que os hebreus trabalharam antes do êxodo, mas nada se encontrou que provasse que os tijolos tenham sido feitos por israelitas, e não por quaisquer outros operários. Vários faraós foram identificados como o opressor dos israelitas, por não terem sido sucedidos pelo seu primogênito. Mas em tempos em que muitos bebês morriam, não seria incomum que o primogênito morresse antes do pai, por isso esse fator não pode identificar o faraó do Êxodo. Quando procuramos informações nas milhares de inscrições egípcias que sobreviveram, novamente nada se encontra que possa ser relacionado a Moisés e ao Êxodo. Como uma terra tão rica e bem conhecida como o Egito não apresenta nada que possa ser claramente associado ao relato bíblico, algumas pessoas supõem que esse relato não tem base histórica. Acham inconcebível que desastres tamanhos pudessem atingir um povo tão bem-organizado como o egípcio sem deixar nenhum registro escrito.
Os grandes faraós gravavam seus feitos nas paredes dos templos, seus servos mandavam escrever suas biografias nos túmulos. Administradores e tesoureiros registravam as rendas e os gastos de palácios e templos, e secretários faziam listas dos operários, anotando seus dias de trabalho, folgas e doenças. Portanto, sem dúvida parece esquisito, à primeira vista, que não haja nos registros remanescentes do Egito nada acerca dos acontecimento do êxodo. Mas é errado concluir precipitadamente que a falta de provas no Egito implique que a história bíblica não tem fundamento. O que isso mostra de fato é que sabemos muito pouco sobre a história desse país, e que é muito pequena a quantidade de escritos antigos que realmente sobrevive. Os reis mandavam gravar em pedra seus títulos, as listas dos inimigos conquistados, relatos das batalhas que venciam. Alguns desses registros perduram até hoje, mas muitos foram destruídos por soberanos posteriores. Foi esse o destino que coube a um grande palácio que o faraó Ramessés II construiu em Qantir, a oeste do delta do Nilo (v. “A cidadeceleiro do faraó Ramessés II”). Inúmeras inscrições reais desapareceram assim. No entanto, ainda que as recuperássemos todas, não deveríamos esperar ler em nenhuma delas que o exército do Egito sucumbiu no mar. Os faraós, e isso não é surpresa, não apresentam 80
descrições das derrotas sofridas diante dos seus vassalos ou sucessores! Se os monumentos reais não podem ajudar, os distúrbios vividos pelo Egito com as pragas e a perda da mão-de-obra poderiam ter gerado mudanças administrativas. Como qualquer estado centralizado, o governo do Egito consumia grandes quantidades de papel (papiro), e boa parte da documentação era arquivada para consulta. Mas isso também não ajuda, pois, como já vimos, praticamente todos os documentos pereceram, e a probabilidade de recuperar algum que mencione Moisés ou as atividades dos israelitas no Egito é risível. Portanto, uma vez compreendidas as razões, a completa ausência de Moisés e seu povo dos textos egípcios não deve surpreender. Certamente não serve de fundamento para sustentar que ele não existiu. De fato, líderes famosos da história primitiva de muitos povos são conhecidos, como Moisés, somente por documentos herdados da tradição nacional, mas cada vez mais historiadores começam a tratá-los como homens notáveis. As próprias atitudes céticas de outrora estão dando lugar a uma abordagem mais positiva daquilo que dizem as tradições, havendo ou não sustentação arqueológica para elas.
O CODIGO DO REI HAMURABI EA LEI DE MOISÉS
A,
arqueólogos franceses que em 1901 e 1902 escavaram a antiga cidade de Susã. na Pérsia oriental, fizeram uma descoberta surpreendente. Em meio às ruínas de construções abandonadas no final do segundo milênio a.C., encontraram monumentos de pedra finamente esculpidos centenas de anos antes. Não eram esculturas locais elamitas, mas memoriais que reis famosos da Babilônia ergueram emsuas próprias cidades. Num breve momento de triunfo, um rei de Susãinvadira Babilônia e carregara algumas dessaspeças como troféus, relatando a vitória nas suas inscrições e escrevendo seu nome em alguns dos troféus. As pedras foram embarcadas para Paris, onde hoje adornam o Museu do Louvre. Eminente entreesses monumentos é uma coluna depedra negra. Tem 2,25 metros de altura eum relevo de 60 centímetros no alto. Centenasde linhas de escritacuneiformeestão cuidadosamente gravadas no restante da pedra. Detalhes dessa descoberta, com atradução do texto, foram publicados daí a um ano, e assim o mundo veio aconhecer o Código de Elamurábi.
Elouve grande empolgação, pois ali estava uma série de leis bem parecida em muitos aspectos com as “leis de Moisés”. Abaixo seguem traduções dos parágrafos que guardam semelhança mais estreita com Êxodo 21—23. “Se um filho bater no pai, deve ter a mão cortada.” (na195) “Quem ferir a seu pai, ou a suamãe, 81
A esteia de Hamurábi, da Babilônia, traz inscritas as leis do rei. Embora estetenha vivido vários séculos antes de Moisés, os dois códigos instigam a comparação. As diferenças são tão notáveis quanto as semelhanças.
TESOUROS DOS TEMPOS BÍBLICOS
certamente será morto.” (Êxodo 21.15) “Se um cidadão roubar o filho de outro, deve ser morto.” (na14) “O que raptar algum homem, e o vender, ou for achado na sua mão, certamente será morto.” (Êxodo 21.16) “Se um cidadão atingir outro numa briga e o ferir, esse cidadão deve jurar: ‘Eu não o feri intencionalmente’, pagando o tratamento médico.” (n=206) “Se dois homens brigarem, e um ferir o outro com pedra ou com o punho, e este não morrer, mas cair de cama, se ele tornar a levantar-se e andar fora sobre o seu bordão, então aquele que o feriu será absolvido; somente lhe pagará o tempo perdido e o fará curar-se totalmente.” (Êxodo 21.18,19)
não deve haver punição. Se o boi pertence a um cidadão que foi informado pelas autoridades de que o animal tinha propensão a atacar, mas não lhe cortou os cornos nem o manteve sob controle, e esse boi chifrar outro cidadão, matando-o, então deve pagar meia mina de prata (trinta siclos).” (n25 250,251) “Se um boi escornear um homem ou uma mulher, que morra, o boi será apedrejado, e a sua carne não se comerá. Mas o dono do boi será absolvido. Se, porém, o boi dantes era escorneador, e o seu dono, tendo sido advertido disso, não o guardou, e o boi matar homem ou mulher, será apedrejado, e também o seu dono será morto. Se lhe for imposto resgate, então dará como resgate da sua vida tudo o que lhe for exigido. Quer tenha escorneado um filho, quer tenha escorneado uma filha, conforme este estatuto lhe seráfeito. Se o boi escornear um escravo, ou uma escrava, dar-se-ão trinta siclos de prata ao seu senhor, e o boi seráapedrejado.” (Êxodo 21.28-32)
“Se um cidadão machucar a filha de outro, e ela vier a abortar, ele deve pagar dez siclos de prata pelo aborto. Se a mulher acabar morrendo, a filha do cidadão deve morrer.” (n“ 209, 210) “Se homens pelejarem, e ferirem uma “Se um cidadão roubar um boi, ou mulher grávida, e forem causa de que uma ovelha, ou um jumento, ou um porco, aborte, porém se não houver morte, ou uma cabra, se o animal for propriedade certamente o ofensor será multado do templo ou da coroa, ele deve devolver conforme o que lhe impuser o marido da trinta vezes o valor; mas, se for propriedade mulher, e pagará segundo o arbítrio dos de um servo, deve devolver dez vezes o juizes. Mas se houver dano grave, então valor. Se o ladrão não tiver como repor o darás vida por vida, olho por olho, dente valor, deve ser morto. Se um cidadão por dente, mão por mão, pé por pé, cometer roubo e for pego, deve ser morto.” queimadura por queimadura, ferida por ferida, golpe por golpe.” (Êxodo 21.22-25) (n“ 8,22) “Se alguém furtar boi ou ovelha, e o abater ou vender, por um boi pagará cinco “Se um cidadão vazar o olho de outro, bois, e pela ovelha quatro ovelhas. Se um deve ter seu olho vazado. Se um cidadão ladrão for achado arrombando uma casa, e quebrar o osso de outro, deve ter seu osso for ferido de modo que morra, o que o quebrado. Se um cidadão arrancar o dente feriu não será culpado do sangue. Se, de outro, deve ter seu dente arrancado.” porém, já havia sol quando tal se deu, (n“ 196,197,200) “Olho por olho, dente por dente, mão quem o feriu será culpado do sangue. O ladrão fará restituição total, mas se não por mão, pé por pé.” (Êxodo 21.24) tiver com que pagar, serávendido por seu “Se um boi chifrar um cidadão furto. Se o furto for achado vivo na sua enquanto esse estiver caminhando pela mão, seja boi, ou jumento, ou ovelha, pagará o dobro.” (Êxodo 22.1-4) estrada, provocando sua morte, nesse caso
O CÓDIG O DO REI HAMURÁBI E A LEI DE MOISÉS
delitos contra posses recebem penalidades em dinheiro ou bens. Na lei de Hamurábi, o destino do ladrão que não pode restituir o bem roubado é a morte, enquanto Êxodo 22.1-3 manda que ele seja vendido como escravo. As leis dos hebreus conferem mais valor ao homem que as babilônicas. As leis de Hamurábi, pelo que sabemos hoje, jamais foram efetivamente impostas. Embora os escribas babilônicos ainda as copiassem nos tempos de Nabucodonosor, bem mais de mil anos depois de Hamurábi, nenhum relato de casos jurídicos se refere a elas. Sua influência talvez se baseasse nos seus princípios, mais que na sua prática. Nisso, também, são curiosamente “Se um boi chifrar e matar outro boi, semelhantes às leis do Antigo Testamento. os proprietários devem dividir entre si o Embora os relatos afirmem que foram valor do boi vivo e o corpo do boi dadas por Moisés, os estudiosos morto.” (“Leis de Esnuna”, ns53) geralmente afirmam haver poucos “Se o boi de alguém ferir de morte o vestígios delas nos livros históricos de boi do seu próximo, então sevenderá o Samuel e de Reis. Talvez tenham existido boi vivo, e o dinheiro dele se repartirá por séculos, como as de Hamurábi. igualmente, e também o morto se Esse famoso monumento mostra que repartirá igualmente.” (Êxodo 21.35) as leis hebréias têm muitos pontos de contato com as babilônicas, mais As diferenças entre essas leis antigas. As leis hebréias podem ter babilônicas e as bíblicas são tão herdado dos babilônicos certas soluções impressionantes quanto as semelhanças. Nas leis babilônicas, a propriedade eos para problemas específicos. As comparações também revelam distinções bens são tão importantes quanto as crônicas em conceitos de vida e de pessoas. Crimes relativos a pessoas ou valores humanos, chamando atenção posses recebem indiferentemente as para um aspecto do pensamento hebreu mesmas penalidades. Nas leis bíblicas, só os crimes contra a que ainda influencia a moderna sociedade civilizada. pessoa implicam penalidades físicas;
Hamurábi foi rei da Babilônia por volta de 1750 a.C., vários séculos antes do tempo de Moisés. Suas leis tratam de muitos dos mesmos delitos porque os babilônios eram na maioria agropecuaristas que viviam em pequenas cidades, como seriam também os israelitas. Algumas das semelhanças são tão impressionantes que resta pouca dúvida deque as leis hebréias sebaseiam numa tradição largamente conhecida. Isso torna-se mais evidente nas leis sobre o boi perigoso. Outra coleção de leis babilônicas, ligeiramente mais antiga que a de Hamurábi, traz uma norma que o rei não inclui, a qual, porém, assemelha-se a um mandamento bíblico:
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DEBAIXO DO ARADO: A Cidade Enterrada de Ugarite
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m lavrador arando a terra atingiu uma evidentes os contatos com o Egito em grande pedra. Quando a tirou do caminho, virtude dos estilos dos machados de viu uma passagem que levava a uma câmara bronze e das caixas de cosméticos feitas de subterrânea. Era um túmulo antigo, que marfim. Todo o lugar fora abandonado de ainda guardava os pertences do morto. O repente; os edifícios ruíram ao longo dos lavrador tomou os objetos e osvendeu a um séculos e foram cobertos por alguns antiquário. centímetros de terra. A deduzir pelo estilo Vazaram os rumores da descoberta, das cerâmicas, Schaeffer situou o porto chegando à autoridade do governo entre os anos de 1400 e 1200 a.C. encarregada de monumentos antigos, que Nesse sítio havia muito para encontrar mandou um dos seus funcionários e estudar, mas, após apenas cinco semanas inspecionar o túmulo. O relatório desse de escavações, Schaeffer levou seus funcionário, aliado a estudos mais antigos homens a um teU do qual se podia ver o da região e a tradições locais de que houvera porto, distante dali 1200 metros. Nesse ali uma grande cidade um dia, levou à local, segundo lhe disseram as pessoas da decisão de fazer escavações. região, foram encontrados objetos de ouro Essa éa forma clássica em que se dão as e minúsculas esculturas de pedra. O tell é grandes descobertas — e foi o que uma grande colina, de até 18 metros de aconteceu. altura, que se estende por uma área de O país é a Síria; o sítio fica na costa do mais de 20 hectares. Seu nome moderno é Mediterrâneo, ao norte do porto de Ras Shamra. Latakia; o ano da descoberta foi 1928. Os Começando pelo ponto mais elevado franceses controlavam a Síria na época, da colina, os escavadores logo portanto foi uma equipe francesa, liderada desenterraram as paredes de um grande por Claude Schaeffer, que começou as edifício. Blocos de pedra escavações em 1929. Com uma interrupção cuidadosamente talhados formavam as somente, de 1939 até 1948, houve paredes, e lá dentro havia pedaços de trabalhos nas cercanias quase todo ano, esculturas de pedra. Num deles lia-se o continuando ainda hoje. nome de um faraó egípcio, noutro havia Sob o campo do lavrador espalhavam-se uma dedicação, escrita em egípcio, a um as ruínas de uma cidade portuária. Lá deus: “Baal de Zefom”. Perto do edifício estavam as casas e escritórios de mercadores, erguera-se uma coluna de pedra que com seus túmulos sob o chão, as fábricas e trazia uma representação do deus das armazéns de um porto movimentado. tempestades, Baal. Esses objetos, junto Nesses locais encontraram-se centenas de com a planta do edifício, revelavam que vasilhas de cerâmica, jarros e vasos, não fora uma casa nem um palácio, mas incluindo algumas peças importadas de um templo, presumivelmente dedicado Chipre, de Creta ou das ilhas gregas. Eram ao culto de Baal. 84
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Pouca distância a leste dali viam-se as paredese colunas de outro edifício. Era uma bela casa, com pátio central ao ar livre e recintos calçados ao redor. Uma escadariade pedra fazia supor a existência um dia de um andar superior. Sob a soleira daportada casa encontrou-seum conjunto de 74 ferramentas e armas—espadas, pontas de flechas, machados e uma trípode decorada com romãs, cada umapendendo de um laço (como os ornamentos dasvestesdos sumos sacerdotes israelitas, descritos emÊxodo 28.33,34). Foi num cômodo dessacasa, em 1929, que Schaeffer fez a descoberta mais importante. Espalhadas pelo chão havia
inúmeros tabuinhas de argila cobertas de inscrições cuneiformes. Felizmente, o diretor do instituto de monumentos antigos, Charles Virolleaud, era um especialista em babilônico. Ele percebeu de imediato que algumas das tabuinhas traziam as listas de palavras pertencentes a escolas babilònicas. Mas nem todas as tabuinhas estavam escritas em babilônico. A escrita cuneiforme de 48 delas era de um tipo desconhecido. Virolleaud rapidamente fez desenhos dos sinais, que foram publicados menos de um ano depois da descoberta, para que outros estudiosos pudessem debruçar-se sobre eles. A honra de decifrar a escrita recém-
A cidadeportuária de Ugarite, na costa síria, floresceu nos anos imediatamente anteriores ao èxodo. Foi subitamente abandonada, desaparecendopor completo. ClaudeSchaeffer começou as escavações que revelaram muitas descobertas notáveis. Entreos achados estava uma tigela de ouro (esquerda) com a representação de uma caçada a um touro selvagem. A deusa sentada de Ugarite, modelada em bronze (abaixo), data aproximadamentedoséculoXIV a.C.
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TESOUROS DOS TEMPOS BÍBLICOS
As ruínas da entrada dopalácio de Ugaritedão alguns indícios da sua antiga glória. Os reis viviam ali com sofisticação, usandobelo mobiliário incrustado com marfim entalhado, trazidopor princesas estrangeiras comoparte do dote. Uma tabuinha de argila (abaixo) mostra o alfabeto da escrita ugarítica. Mil e quinhentas tabuinhas que usam essetipo de escritajá foram descobertas.
descoberta pertence a Virolleaud, a outro especialista francês, E. Dhorme, e a um alemão, Hans Bauer. Trabalhando independentemente, com Virolleaud recebendo os resultados dos outros dois, conseguiram descobrir os valores dos trinta sinais diferentes usados na escrita. Os três pensavam que a língua fosse semítica, e assim selecionaram as letras mais usadas para iniciar ou terminar palavras nas línguas semíticas ocidentais, como o hebraico. O método gerou traduções coerentes (um teste vital!) e deu certo com outras tabuinhas encontradas mais tarde. Virolleaud tinha a guarda das tabuinhas e rapidamente as traduzia assim que eram
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desenterradas. A língua que elas preservam é conhecida como ugarítica, pois mostravam que o nome da cidade eraUgarite. Em quase toda temporada de escavações, mais tabuinhas eram descobertas, de modo que hoje se conhecem mais de 1500 delas em escrita elíngua ugarítica, além de grande número em babilônico (v. “Lendas e mitos cananeus”). Com o aparecimento desses documentos, a história e a cultura da cidade começaram avir à tona. Entusiasmado, Schaeffer passou a escavar outras áreas da colina. Por toda parte as construções em ruínas jaziam imediatamente abaixo da superfície do solo. Num local havia casas e oficinas de tecelões, canteiros, ferreiros e joalheiros, com muitas das ferramentas e produtos largados exatamente onde seus donos os abandonaram quando os inimigos incendiaram a cidade. Em outras partes havia casas mais suntuosas para os ricos de Ugarite. Algumas tinham seus próprios arquivos de tabuinhas de cuneiformes. Até os fictícios tesouros da tradição local tornaram-se reais. Escondidas em
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diversas casas, encontraram-se jóias de ouro e de prata e estatuetas de cobre de deuses e deusas, revestidas ou decoradas com ouro. Uma escavação, aberta em 1933, desenterrou um prato e uma tigela de ouro com elaboradas figuras em relevo. Tigelas de prata e de ouro também surgiram em escavações da temporada de 1960. De longe, a mais imponente das construções de Ugarite erao palácio real. Como o resto da cidade, fora incendiado. Embora o madeiramento tenha-se desintegrado, as paredes de pedraainda se elevam dois metros ou mais acimado chão. Uma entrada com degraus e duas colunas sustentando o lintel conduzia a um pequeno vestíbulo, depois a um grande pátio. Ali um poço fornecia água para que os visitantes pudessem lavar-se antes de se apresentar ao rei. No chão havia uma laje de pedra, onde osvisitantes ficavam para lavar as mãos e os pés; a água escorria por um dreno. Os vários reis foram acrescentando novos pátios e conjuntos de salas ao longo dos dois séculos, mais ou menos, em que o palácio ficou de pé. Os arqueólogos detectaram doze estágios de construção. Já no final desse processo, plantou-se um jardim num dos pátios, e noutro construiu-se um espelho d’água grande e raso, onde podemos supor que se criavam peixes. Vários recintos funcionavam como depósitos dos registros palacianos. As tabuinhas de cuneiformes babilônicos e ugaríticos revelam os negócios do dia-a-dia do governo. Algumas relatam negócios internacionais, acordos firmados com reis vizinhos (ou impostos pelos heteus) e até o caso de uma princesa estrangeira, casada com o rei de Ugarite, que foi executada, provavelmente por adultério. As princesas estrangeiras levavam consigo valiosos dotes, minuciosamente
discriminados em algumas das tabuinhas. No palácio haviapedaços de alguns dos móveis descritos. Uma camatinha cabeceira de marfim, entalhadacom animais e cenas de caçadas, e com ilustrações do rei e da rainha abraçados, ladeando uma imagem da deusa-mãe amamentando dois pequeninos deuses. Uma mesa redonda tinha elaborada incrustação de marfim trabalhado, retratando animais fantásticos, esfinges e leões alados. Outros móveis tinham pernas e pés de marfim no formato de pernas e patas de leões. Bem excepcional é um pedaço de presa de elefante cortado como suporte de um móvel e entalhado como cabeça humana, talvez à semelhança de um rei ou rainha de Ugarite. A riqueza de Ugarite vinha do comércio. A cidade ficava na extremidade de uma rota que partia da Babilônia, subia o Eufrates e cruzava o Mediterrâneo. De Ugarite as embarcações navegavam até Chipre e Creta, à costa meridional daTurquia e à costa de Canaã e ao Egito. Não é de admirar que influências de todas essas regiões apareçam na arte e na cultura de Ugarite. Mas essas influências são mais óbvias na escrita, pois, além do babilônico e do ugarítico, o hitita e o hurrita também eram escritos em cuneiformes, e o egípcio aparece em metal e em pedra (sendo certamente mais comum em papiros), além de também se encontrarem em Ugarite hieróglifos heteus e uma escrita silábica de Chipre. O arado do lavrador abriu um repositório inexaurível de preciosidades nas ruínas de Ugarite. Embora a cidade esteja situada fora dos limites de Canaã, fornece um panorama expressivo da vida que floresceu em Canaã antes da chegada dos israelitas. Era uma sociedade de opulentos reis e cortesãos proprietários de terras, bem como de uma multidão de camponeses.
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LENDAS E MITOS CANANEUS sobreviveram, e algumas trazem histórias sobre deuses e heróis, rituais e orações para o culto nos templos. Embora Ugarite esteja além dos limites de Canaã, os povos das duas regiões cultuavam os mesmos deuses e deusas. Existiam variações locais das crenças, mas é seguro supor uma semelhança genérica. El, o deus principal (seu nome significa simplesmente “deus”), era imaginado um velho —completamente embriagado em certa ocasião— cujo posto de deus vigoroso e ativo foi
Os livros que as pessoas lêem e as canções que cantam muitas vezes revelam suas esperanças e crenças. Nos tempos bíblicos, só as idéias de algumas poucas pessoas foram escritas, e dessas pouquíssimas sobreviveram. Dos povos que viveram em Canaã antes dos israelitas quase não há informações de sse tipo, provavelmente porque usavam o papiro como material de escrita (v. “O alfabeto”). Ao norte, em Ugarite, era mais comum o uso de tabuinhas de argila. Muitas
Baal era o deus cananeu da chuva e da tempestade. Emcontrastecom o deusprincipal, El, era vigorosamenteativo, desafiando deuses rivais com o auxílio desua irmã, Anat.
Uma tabuinha com inscrições ugaríticos contém uma sériede fórmulas mágicaspara encantar serpentes.
ocupado por Baal. Esse era o deus da chuva e da tempestade, que tinha dois rivais. Um era Iam, o mar. Iam tinha um palácio, ao contrário de Baal. Um dos mitos relata como Baal conseguiu para si um belo palácio, talvez depois de derrotar Iam. A irmã de Baal, Anate, era seu principal esteio. Certa feita ela esmagou os habitantes de duas cidades: “Eis que Anate combateu no vale, Combateu contra as duas cidades, Açoitou as multidões do litoral (?), Calou os homens do leste. Sob seus pés as cabeças eram como bolas, As palmas das mãos como gafanhotos em torno dela, As mãos dos guerreiros como montes de trigo (?). Ela pendurou as cabeças à cintura, Amarrou as mãos ao cinto. Afundou até os joelhos no sangue dos heróis, A bainha das suas saias sujas de sangue seco dos heróis. Afastava os velhos com sua vara, Com a corda do seu arco [...] Ela lutava bravamente, depois olhava em torno, Anat golpeava e ria. O coração pleno de alegria...” Depois de terminar a luta, Anate forçou El a permitir que Baal mandasse construir um palácio onde pudesse reinar. Baal tinha outro inimigo para enfrentar: Mote, a “morte”. Uma tabuinha quebrada conta como
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