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Como funciona a música brega Autor: Mirian Fávaro Animadíssimo, um grupo de rapazes rebola ao som de “Sandra Rosa Madalena”, no mais autêntico estilo latin lover , lançado pelo cantor Sidney Magal na década de 70. Já as moças entoam “Conga La Conga”, esforçandose para imitar a coreografia da musa do rebolado dos anos 80, a cantora Gretchen . E mais toda uma seqüência de clássicos da música brega rola madrugada adentro, fazendo a galera aderir, sem culpa, ao estilo musical mais mal visto em toda a história da música popular brasileira. Não se trata, porém, de nenhuma festa no subúrbio ou no interior de alguma pequena cidade do país. O cenário é a pista de dança de uma badalada casa noturna de São Paulo. Cabe então perguntar: o que faz com que músicas bregas, banidas da “oficialidade” cultural por décadas, de repente, virem trilha sonora obrigatória em baladas descoladas dos grandes centros urbanos do país neste novo milênio? Que cantores como Odair José, Waldick Soriano, Sidney Magal, Gretchen consigam regravar seus sucessos e que suas músicas mereçam releituras de importantes nomes da MPB? Que críticos, pesquisadores e jornalistas passem a dar atenção ao estilo que nunca foi levado a sério? Qual é a mágica que faz com qu e em uma época uma manifestação cultural seja taxada de brega e décadas depois ganhe rótulo de cult ? Talvez o fato de que para ser enquadrada em uma ou em outra categoria basta cruzar uma linha imaginária qu e separa o "bom" do "mau" gosto.
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O cantor e compositor Wando no Programa do Chacrinha, símbolo do que seria o "gosto popular " na televisão, nos anos 80 Mas onde é que fica essa linha mesmo? Na música brasileira, essa fronteira foi delimitada pela primeira vez no final dos anos 50, graças ao surgimento da cultura jovem. Com o ingresso da juventude de classe média no mercado, estabeleceram-se novos padrões de
consumo materiais e simbólicos. Os jovens, que até então não tinham uma música específica feita para eles, buscavam novos sons que estivessem mais de acordo com aqueles tempos modernos. Surgiu então a bossa nova, com uma proposta de modernização da música brasileira, que fez o estilo romântico ou “de dor -de-cotovelo” tornar-se velho e de mau gosto. Com o regime militar que governou o Brasil a partir de 1964, além de antiquada, a música “de fossa” (romântica e melancólica) ganhou o rótulo de alienada. Afinal não levantava a bandeira da resistência contra a repressão, já erguida por artistas da Música Popular Brasileira, a MPB. Aí o fosso que separava a MPB, com letra maiúscula, e a música popular brasileira, com letra minúscula, tornou-se cada vez mais difícil de ser transposto. E também mais amplo, uma vez que dali pra frente qualquer música, independentemente do seu gênero ou ritmo, era facilmente jogada nele. Muitos artistas tentaram na época saltar fora dessa vala comum. Alguns conseguiram e aderiram a outros gêneros musicais. Outros, no entanto, assumiram o rótulo e passaram a faturar com ele. Tanto que, nos anos 70, quando o estilo cafona já havia sido oficialmente denominado de brega, ele ganhou mais espaço na mídia. Artistas que foram marginalizados nas décadas anteriores, e uma nova geração de cantores, conseguiram conquistar um público cada vez maior. Venderam muitos discos e se transformaram em ícones populares, confortavelmente colocados lá atrás daquela linha.
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Gretchen, uma das artistas mais "cultuadas" no revival dos clássicos populares dos anos 80, em show no Circo Voador (RJ)
Curioso é que, justamente quando esses artistas assumiram, aparentemente sem traumas, o visual, as performances, as letras simples, melosas e muitas vezes apelativas que caracterizam o gênero, o pessoal de “bom gosto” resolveu redescobrir o cancioneiro brega. De uma hora para outra, artistas consagrados da moderna música popular brasileira (aquela com letra maiúscula) resolveram gravar novas versões para clássicos do estilo. Trouxeram, com isso, diretamente do túnel do tempo, vários cantores bregas para o circuito cultural voltado para as classes mais intelectualizadas da sociedade. Conseguiram finalmente agradar muitos dos que têm idade para lembrar as músicas bregas que tocavam nos radinhos de pilha dos empregados de suas casas na infância. E divertir também uma nova geração que sequer tinha nascido quando Sidney Magal e Gretchen já davam um show de rebolado nos anos 70 e 80. Afinal, onde fica mesmo aquela linha que separava o “brega” do “chique”?
O que é música brega A música brega pode ser identificada como uma estética do exagero. Suas letras românticas, dramáticas ou eróticas demais, somadas à interpretação, ao gestual e ao figurino também exagerados, conferem uma característica marcante ao gênero. Principais artistas bregas : Agnaldo Timóteo, Almir Rogério, Altemar Dutra; Am ado Batista, Antônio Marcos, Banda Calypso, Bartô Galeno, Barros de Alencar, Benito Di Paula, Carmem Silva, Cláudia Barroso, Cláudio Fontana, Diana, Dom & Ravel, Evaldo Braga, Falcão, Genghis Khan, Gretchen, Genival Santos, Gilliard, Jane e Herondi, Jerry Adriani, Jessé, José Augusto, Lindomar Castilho, Luiz Ayrão, Márcio Greyck, Nelson Ned, Nahim, Nalva Aguiar, Odair José, Paulo Sérgio, Ovelha, Perla, Reginaldo Rossi, Rita Cadillac, Roberto Carlos, Ronaldo Resedá, Sidney Magal, Sílvio César, Tony Damito, Trio Los Angeles, Waldick Soriano, Wanderley Cardoso e Wando.
Clássicos do brega brasileiro: “Cigana Sandra Rosa Madalena”, com Sidney Magal; “Conga la Conga”, com Gretchen, “Eu Não Sou Cachorro Não”, com Waldick Soriano; “Fuscão Preto”, com Almir Rogério, “Garçom”, com Reginaldo Rossi; “Menina Veneno”, c om Ritchie, “Mon Amour, Meu Bem, Ma Femme”, com Reginaldo Rossi, “Não se Vá”, com Jane e Herondy; “O Meu Sangue Ferve por Você”, com Sidney Magal; “Pare de Tomar a Pílula”; com Odair José, “Severina Xique -Xique”, com Genival Lacerda; “Sorria Sorria”, com E valdo Braga; e " Sou Rebelde", com Leno e Lilian Álbuns essenciais do gênero brega: A Galeria do Amor – Agnaldo Timóteo (1975) À Procura de Você – Reginaldo Rossi (1970) Benito di Paula – Benito di Paula (1974) Luiz Ayrão – Luiz Ayrão (1977) Minha História – Sidney Magal (1994) Mundo Romântico – Wando (1988) Tudo Passará – Nelson Ned (1969) Ronaldo Resedá – Ronaldo Resedá (1979) Vou Tirar Você Desse Lugar, Tributo a Odair José – Vários Artistas (2006)
As origens do brega: de romântico a cafona Autor: Mirian Fávaro Share on facebookShare on twitterShare on google_plusone_shareShare on emailShare on p rint Se a música brega não é exatamente um gênero – afinal pode se manifestar em forma de bolero, samba, rock‘n’roll , balada – , o que ela é então? Segundo a antropóloga e historiadora Adriana Facina, há vários padrões estéticos que são comuns ao estilo brega. Eles se revelam nos temas, no vestuário, nos gestuais e na forma de cantar. Um desses padrões é o romantismo exagerado, que já estava presente nas canções brasileiras desde o início dos anos 30. Até a década de 50, a música romântica ou “de fossa”, cantada em ritmo de samba-canção, bolero ou seresta, dominou o cenário musical do país, com suas letras sentimentalistas e melancólicas.
Cantores como Orlando Silva, Francisco Alves, Nelson Gonçalves, Lupicínio Rodrigues, Vicente Celestino e Cauby Peixoto, entre outros, faziam sucesso com suas vozes graves e performances teatrais, que remetiam ao lirismo do século 19. É de Vicente Celestino, a canção “O Ébrio”, um dos clássicos do gênero, que fez com que a música atingisse um patamar poucas vezes alcançado ao retratar o sofrimento humano:
Tornei-me um ébrio e na bebida busco esquecer Aquela ingrata que eu amava e que me abandonou Apedrejado pelas ruas vivo a sofrer Não tenho lar e nem parentes, tudo terminou Só nas tabernas é que encontro meu abrigo Cada colega de infortúnio é um grande amigo Que embora tenham como eu seus sofrimentos Me aconselham e aliviam o meu tormento Vale lembrar que, na época, canções como essa de forma alguma eram consideradas de mau gosto. Seus intérpretes eram as estrelas de sucesso do estilo musical dominante daqueles tempos sombrios. Época em que o mundo sofria os efeitos de duas grandes Guerras Mundiais, intercaladas pela Grande Depressão de 1929. E o Brasil ainda era um país agrário e patriarcal, que dava os primeiros passos em direção ao processo de urbanização e modernização. Mas no final dos anos 50, o desenvolvimento urbano, o crescimento econômico e a liberdade política fizeram surgir no Brasil uma juventude de classe média pronta para consumir novos bens reais e simbólicos mais de acordo com a modernidade daqueles tempos. Surgiu então a bossa nova, que trouxe uma forma minimalista de cantar, atuar e tocar, além de letras leves e uma harmonia sofisticada. Por contrastar totalmente com o excesso do estilo anterior, acertou em cheio nas preferências daquele novo consumidor urbano. O estilo romântico antigo passou então a ser classificado como de mau gosto ou “cafona”, conforme classificação dada pelo jornalista Carlos Imperial no começo dos anos 60.
Apesar da decadência do estilo “de fossa”, alguns artistas continuaram investindo nele. E, ao invés de atenuarem o sentimentalismo exagerado que ajudou a decretar o seu fim, acrescentaram ainda mais drama e tragédia às suas músicas, como em “Eu não Sou Cachorro Não”, composta por Waldick Soriano, e considerada um dos clássicos do gênero:
Eu não sou cachorro, não Pra viver tão humilhado Eu não sou cachorro, não Para ser tão desprezado Tu não sabes compreender Quem te ama, quem te adora Tu só sabes maltratar-me E por isso eu vou embora. A pior coisa do mundo É amar sendo enganado Quem despreza um grande amor Não merece ser feliz, nem tão pouco ser amado Tu devias compreender Que por ti, tenho paixão Pelo nosso amor, pelo amor de Deus Eu não sou cachorro, não Renegado, o romantismo exagerado, que havia reinado absoluto por décadas nas salas das famílias de “bom gosto” do país, sobreviveu nos quartos dos fundos, das casas dos grandes centros urbanos, e nas regiões rurais. Manteve-se vivo em territórios que não foram alcançados pelas novas tendências culturais do Brasil moderno que nascia.
A ditadura militar e o sucesso da anti-metáfora da canção brega
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Composições com romantismo exagerado recheadas com uma carga de erotismo fazem o sucesso de Wando
Autor: Mirian Fávaro Share on facebookShare on twitterShare on google_plusone_shareShare on emailShare on p rint A bossa nova teve um curto reinado como preferência musical das elites urbanas. O golpe militar de 1964 acabou com a liberdade política e de expressão no país. Contribuiu para a decadência do gênero mais afinado com os “anos dourados”, e não com aquele período negro que tomou conta do Brasil. Surgiu então a MPB, um movimento que tentou representar a resistência musical contra a ditadura. Principalmente a partir de 1968, com a decretação do Ato Institucional Nº 5, que instalou um amplo sistema de controle e censura de qualquer manifestação contraria à ordem dominante, os artistas da MPB, que se manifestavam abertamente contra o regime, passaram a ser
perseguidos e censurados. E o esforço para protestar, mesmo que através de metáforas em suas canções, fez de alguns deles ícones da resistência contra o regime militar. O status que a MPB assumiu naquele momento histórico fez nascer um fosso quase intransponível para todas as manifestações musicais que não se enquadravam na categoria de canção engajada. Assim, a música cafona, que já era estigmatizada por uma questão estética, passou a ser marginalizada também pelo aspecto ideológico. E virou uma vala comum onde tudo aquilo que não se enquadrava na categoria da MPB seria jogado dali para a frente. Até a Jovem Guarda, movimento musical que criou uma versão nacional pop para o rock internacional, apesar do sucesso junto ao público jovem, chegou a ser considerada cafona. Estava criada assim uma fronteira estética e ideológica entre a música de “bom gosto” e a de “mau gosto”. E, de repente, muita gente que fazia sucesso até então, virou cafona. Alguns artistas conseguiram migrar para outros gêneros. Muitos, no entanto, lá ficaram a contragosto. Outros resolveram assumir o rótulo e parecem ter descoberto que isso não era tão ruim assim. Afinal, a partir do início dos anos 70, a música cafona, já denominada de brega, ganhou espaço na mídia, uma vez que a censura barrava grande parte da produção musical da MPB. Enquanto a MPB tentava driblar a censura com letras repletas de metáforas, a música brega caminhava em sentido contrário. Com uma temática popular, que tratava do dia-a-dia de gente comum, com letras simples e diretas, tornou-se uma alternativa viável para a indústria fonográfica e os veículos de comunicação. É verdade que nem por isso passou ilesa pelos censores. Várias canções de Odair José, por exemplo, foram vetadas por seu caráter “pornográfico”. Enquanto Roberto Carlos cantava os beijinhos no portão, as músicas do compositor brega incomodavam ao retratar a vida sexual que rolava às escondidas na moralista sociedade brasileira, como em “Vou Tirar Você Desse Lugar”, de 1970, que fala da paixão por uma prostituta: Olha, da primeira vez que eu estive aqui foi pra me distrair eu vim em busca de amor Olha, foi então que eu te conheci naquela noite fria nos seus braços os problemas esqueci Olha, da segunda que eu estive aqui Já não foi pra me distrair Eu senti saudades de você Olha, uhhh, eu precisei dos seus carinhos eu me sentia tão sozinho e já não podia mais te esquecer Eu vou tirar você desse lugar Divulgação eu vou levar você pra ficar comigo Sucessos de Gretchen, como “Freak Le Boom Boom”, provavelmente seriam censurados na época da e não me interessa o que os outros vão pensar
ditadura militar no Brasil
Outras composições dos artistas bregas também foram censuradas por diferentes razões. “Tortura de Amor”, de Waldick Soriano, lançada em 1974, foi vetada por causa da palavra tortura, embora tenha sido composta em 1962, período em que o golpe militar sequer tinha acontecido. Já a canção “Treze Anos”, de Luiz Ayrão, foi proibida ao ser lançada no mesmo ano em que o golpe militar comemorava também seu décimo terceiro aniversário. Trocado o título por “O Divórcio”, foi liberada, embora o conteúdo tenha continuado absolutamente o mesmo: Há treze anos eu te aturo e não agüento mais Não há cristo que suporte e eu não suporto mais Você vem me sufocando como o próprio gás As intervenções da censura na música brega foram inclusive motivo de pesquisa do historiador Paulo Cesar de Araújo, em seu livro “Eu Não Sou Cachorro, Não”, que defende a tese de que ela não era tão alienada quanto se pensava. Verdade ou não, o fato é que, os cantores da primeira geração da música brega, como Waldick Soriano ("Paixão de um Homem" e "Se Eu Morresse Amanhã"), Lindomar Castilho (“Eu Vou Rifar Meu Coração" e "Você é Doida Demais"), Odair José ("Deixa Essa Vergonha de Lado", "Uma Vida Só" e "Pare de Tomar a Pílula"), Amado Batista (“O Lixeiro e a Empregada” e “O Acidente”), Almir Rogério (“Fuscão Preto”), entre outros, fizeram sucesso falando em suas canções sobre a vida de gente de classes “menos favorecidas”, de seus problemas amorosos e desilusões. Com o tempo, essa temática foi perdendo espaço para outra tendência. Aos poucos a rigidez moral, que fazia assuntos relacionados à sexualidade não serem facilmente aceitos, deu lugar a uma permissividade cada vez maior. Não somente garantida por uma sociedade que vivia uma revolução de costumes, mas também por uma indú stria cultural que apostava cada vez mais no erotismo como modelo de entretenimento musical para as massas. Graças a isso, surgiu a partir do final dos anos 70 uma nova geração de artistas bregas, como Sidney Magal (“Se te Pego com Outro te Mato” e “O Meu Sangue Ferve por Você”), Gretchen (“Melô do Piripipi” e “Conga La Conga”) e Genghis Khan, entre outros. Artistas que investiram na junção do erotismo com uma levada pop dançante. A música “Sandra Rosa Madalena”, interpretada por Sidney Magal com um caricato estilo latin lover , recheado de rebolados e gestos afetados, tornou-se um verdadeiro sucesso do gênero: Quero vê-la sorrir Quero vê-la cantar Quero ver o seu corpo Dançar sem parar... Ela é bonita Seus cabelos muito negros E o seu corpo Faz meu corpo delirar O seu olhar desperta em mim Uma vontade De enlouquecer De me perder De me entregar...
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Show do cantor e compositor Wando, um dos mais bem sucedidos artistas populares no Brasil desde os anos 70 Mas foi o cantor Wando que trouxe para suas músicas e performances requintes de erotização difíceis de serem superados até hoje, como se vê na canção “Fera Louca”, de 1977: Sou bicho vadio sou fera no cio Ui-Wando paixão Sou mais que loucura te quero todinha de novo no chão Um beijo molhado nessa boca quente Eu juro que dou Te aqueço do frio, te afago em meu corpo sedento de amor Ou, ou, ou, ou, te levo pro mato Pra rede ou pro quarto te arranho de amor Te quero tão nua vem ser meu desejo Em meu cheiro e suor Te levo às estrelas, te faço menina não te deixo só
A conquista de novos públicos: de brega a cult Autor: Mirian Fávaro Share on facebookShare on twitterShare on google_plusone_shareShare on emailShare on p rint Com o processo de redemocratização do país a partir dos anos 80, o engajamento da MPB perdeu sua razão de ser e a música produzida no Brasil ganhou contornos cada vez mais leves e românticos. Isso tornou ainda mais difícil a classificação dos inúmeros “estilos” que surgiram a partir de então. Com o lançamento de novos artistas que buscaram referências na música caipira, no samba, no forró, o já tão elástico e abrangente gênero brega foi sendo subdividido em novas categorias, como brega-popularesco, breganejo, sambrega, forró-brega, brega-pop, a fim de englobar todas as novidades a partir de então. Esta profusão de novas tendências contribuiu para que a música brega ganhasse espaço também junto às camadas médias da população.
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Sidney Magal, de ídolo popular a cult Mas foi o cantor e compositor Eduardo Dusek que aproximou pela primeira vez os universos do brega e do chique, ao lançar o disco “Brega-Chique”, em 1984. Com uma forma satírica de tratar a música brega, conseguiu chamar atenção de um público mais intelectualizado até então totalmente avesso ao estilo. Movimento que foi levado à frente na década de 90 por bandas como Língua de Trapo, Vexame, os Cariocas e pelo cantor Falcão, que regravou uma versão em inglês, “I’m Not Dog No”, do clássico “Eu Não Sou Cachorro Não”. Nos anos 2000, uma verdadeira onda de resgate do brega tomou conta do cenário musical. Artistas consagrados da MPB, como Caetano Veloso, Marisa Monte, Adriana Calcanhotto, Zeca Baleiro, Lenine, Chico César e Carlinhos Brown, só para citar alguns, resolveram fazer incursões pelo gênero. Com isso, cantores como Sidney Magal, Gretchen , Odair José, Amado Batista, Almir Rogério, Waldick Soriano e Agnaldo Timo ́teo, entre inúmeros outros, foram redescobertos e conseguiram regravar seus sucessos, virando ícones cult de outras gerações.
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Trio Los Angeles, um dos grupos mais tocados no
revival do
brega-pop dos anos 80
O motivo deste revival provoca as mais diferentes opiniões: uma valorização tardia da contribuição do gênero brega para a música popular brasileira; a necessidade que a cultura tem de buscar referências em gerações anteriores para a criação de novas tendências; a pobreza da música popular brasileira na atualidade; oportunismo a fim de atrair as camadas populares para o consumo de cantores de um nível “mais elevado” da moderna música popular. Seja qual for a resposta, o fato é que este resgate fez com que novos públicos descobrissem o estilo
musical. E que, sem culpa, pudessem entoar alguns dos clássicos do cancioneiro brega. Afinal, quem nunca cantarolou um trechinho sequer de “Menina Veneno” que atire a primeira pedra.
Mais informações sobre a música brega Autor: Mirian Fávaro Share on facebookShare on twitterShare on google_plusone_shareShare on emailShare on p rint
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Como funciona Roberto Carlos Como funciona a bossa nova Como funciona Raul Seixas Fontes: ARAÚJO, Paulo César. Eu não sou cachorro não. Rio de Janeiro, Record, 2002. CABRERA, Antonio Carlos. Almanaque da Música Brega, 2007. SODR E ́, Muniz e PAIVA, Raquel. O impé rio do grotesco. Rio de Janeiro: Mauad. 2002. CASTRO, Ruy. Chega de Saudade. 3ª reimp. São Paulo, Companhia das Letras, 2006. TINHORÃO, José Ramos. História social da Música Popular Brasileira. São Paulo: Editora 34, 1999.