Introdução Podemos dizer que fábulas, contos e sagas, de um modo geral, são as histórias das crises humanas. É só olhar: qualquer boa narrativa envolve um personagem central (ou herói) e a sucessão de eventos que o conduzem a uma crise e a consequente superação dela ou não. Por mais que esses acontecime ntos muitas vezes sejam coloridos por efeitos especiais, ambientações e universos fantástic os ou escalas cósmicas de poder, aquelas histórias que ressoam em nós costumam ter base em dramas bem comuns. Seja em Star Wars, Senhor dos Anéis, De Volta para o Futuro, Har ry Potter, Homem Aranha ou Guardiões da Galáxia, há inúmeras alegorias para esses acontecimentos que vão nos desestabilizando e nos fazem suar a camisa e derra-
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mar lágrimas, dia após dia. Para tomar um exemplo de identificação bem comum entre os homens, não é o Rocky Balboa que é especial em si mesmo. Nós nos vemos no Rocky por que, se remover mos o nome do personagem, há tanto ali de nós que, ao chegarmos ao fim do filme, gostaríamos que a nossa própria história terminasse daquele jeito, com o reconhecimento depois de uma luta difícil que não necessariamente terminou em vitória. Mas sabemos que não é bem assim. Nem sempre as pessoas es tão dispostas a nos afagar depois de uma derrota. Essa é apenas uma de muitas narrativ as possíveis que vão sendo introjeta das na nossa mente e acaba m não ganhando fruição. Terminamos com uma história mal contada, um desfecho que não se encaixa ao que esperávamos da realidade. Então, sofremos. A Saga do Herói (explicada no livro O Poder do Mito, de Joseph Campbell), é utilizada quase como um framework em Hollywood nos dias de hoje e é bastante criticada por ser um modelo narrativo baseado nos mitos que foram forjados pelos hom ens, para contar as histórias dos homens de diversas tradições e povos. Aqui, porém, esse foco no masculino acaba sendo útil. Ao observar as histórias contadas pela humanidade, podemos concluir que não há nada de especial no nosso drama em particular. Essas histórias são contadas e nos emocionam repetidamente por-
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que esses dramas não mudam em essência, apenas em forma. De uma certa maneira, quando escrevem os no PapodeHomem sobr e os diferentes dramas e alegrias dos homens, ao longo desses dez anos, pudemos identificar semelhanças e particularidades nas trajetórias, dúvidas e crises de milhões de pessoas. Quando percebemos, estávamos respondendo quase todos os dias os mesmos emails sobre traição, derrotas emocionais e dúvidas sobre como melhor ar (ou evitar que piorem) diversos aspectos da vida. Então, se tanta gente passa pelas mesmas situações e se já nos repetimos tanto, talvez pudéssemos tentar algo além. Esse livro que agora você está lendo é a forma que encontramos de condensar a informação acumulada depois de mais de 7600 textos, inúmeras respostas a emails e discussões na caixa de comentários do site. É a nata de tudo o qu e já fizemos . Óbvio que não dá pra cobrir tudo o que uma pessoa passa ao longo da vida em pouc o mais de 150 páginas, mas dá pra pegar alguma s das dúvidas e crises mais comuns e organiz ar de uma forma que pode ser útil ao maior número de pessoas possível. Esse livro é a forma que encontramo s de facilitar com que você possa ajudar a si mesmo, mas também passar adiante o que descobriu e experimentou. Selecionamos alguns dos melhores artigos do site, os adaptamos e editamos onde achamos necessário.
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Além disso, escrevemos alguns artigos do zero, quando achamos que faltava material que cobrisse aquele problema de forma efetiva. Assim, tentamos abranger as mais diferentes áreas da vida de um homem. O livro, portanto, é uma coletânea com diferentes vozes, com relatos de pessoas que passaram por essas situações e resolveram compartilhar o caminho que encontraram para sair dali. A ideia, de um modo geral, é tranquilizar quando cabe e oferecer caminhos, ampliar a visão. Sabemos, claro, que há diferentes escalas para os diferentes problemas. Sabemos que as experiências aqui narradas podem não servir para o seu caso específico . Também temos noção de que há situações nas quais um livro não vai ser o suficien te. Portanto, não entenda essa publicação como uma bala de prata capaz de fazer você superar qualquer adversidade em todas as intensidades e peculiaridade s. Contamos com seu senso crítico e com a sua capacidade de se inspirar nas ideias propostas para encontrar seu caminho e desenvolver soluções próprias. Além disso, é essencial ter em mente que às vezes (a maioria, se permite a sinceridade ), você vai precisar de família, amigos, médicos, psicólogos, psiquiatras. E tudo be m. Aliás, encorajamos que você tenha um parceiro de transformação nessa trajetória para sair da sua crise pessoal. Na nossa expe riência, é muito mais fácil lidar com crises se há uma rede de apoio ampla e forte.
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Uma das melhores formas de aproveitar esse livro é esc olhendo um parceiro e testar, trocar insights, checar um com o outro os avanços, com abertura e honestidade. Se tiver alguém que tope o desafio, não hesite. Enquanto isso, no que puder contar conosco, estamos aqui.
O que é uma crise? Os mitos heróicos dos quais tanto ouvimos falar, seja em filmes, histórias em quadrinhos, videogames, costumam ter como protagonistas homens fortes, destemidos, que enfrentam e vencem seus desafios com bravura. Quando crianças, brincam os de ser esses personagens. Quando adultos, é isso que devem os nos tornar. Ou, pelo menos, assim pensamos. Não é fácil confrontar essa expectativa com a realidade. O mundo é uma máquina que parece ter sido feita para testar a nossa força. Que outra alternativa nos resta nessa batalha a não ser controlar, domar, vencer? Não saber a resposta tem um custo alto. Os motivos variam de indivíduo pra indivíduo. Pode ser que você tenha comprado algo que não vai
O que é uma crise?
conseguir pagar. Talvez você tenha perdido o emprego. Quem sabe, você foi traído? Não tem amigos? Trabalha demais? Está brocha? Se sente feio? Sua vida pode estar perfeita e, de repente, nada mais está no lugar . E, por mais q ue o motivo de uma pessoa possa parecer tosco para perder a cabeça, praticamente qualquer coisa pode virar o gatilho para uma crise. Tudo vai depender de causas e condições feitas sob medida para você. Não há uma só pessoa na Terra que nunca tenha provado do amargo sabor de perder o chão, não saber mais o que está acontecendo e se desconectar da sua própria estabilidade. Não é como se essa possibili dade fosse uma característic a intrínseca aos homens, mas as crises têm um efeito especial neles. No caso, em nós. Somos campeões em contar nossas histórias com ares heróicos. Lutamos contra o câncer. Vencemos dificuldades. Superamos desafios. Sequer temos outra maneira de narrar o que vivemos. O mito do herói é praticamente a única leitura que conseguimos fazer da realidade. Por isso, nos agarramos com todas as forças a essa identidade. O Vencedor. Basta ver o que se diz sem titubear nas rodinhas de conversa. “Homem é competitivo”; “Homem não foge de briga”; “Homem não abaixa a cabeça”. Mesmo aqueles que se consideram perdedores natos não fogem do eixo. Suas narrativas só existem relativas a alguém que venceu. Ou, melhor dizendo,
O que é uma crise?
dentro de um jogo. Podemos dizer que é uma grande brincadeira de sustentar pratos. O prato profissional, o do amor, o das amizades, o da família, o do carro próprio, da casa… você mesmo pode nomear. E, se quer saber qual pode ser a sua crise de amanhã, basta listar o que te deixa orgulhoso, feliz e sorridente agora. Vamos entrar em crise na mesma medida à qual nos apegamos aos elementos que compõem nossa identidade hoje. Quanto mais alimentamos expectativas, certezas, planos infalíveis, mais vamos nos confrontar com a realidade. A esperança cega e desmedida é a faísca que nos leva ao sofrimento diante do movimento dos fatores externos. Sofrimento é uma palavra até um tanto abstrata, mas quando uma questão se transfor ma em crise, ela vira prioridade em um nível que nos faz perder completamente a noção de espaço. Uma atenção brutal a um determinado aspecto do presente. Dor. Nos tornamos uma coisa muito parecida com um rato em um lugar no qual não consegue encontrar a saída. Aceleramos, focamos intensamente na tarefa de tentar encontrar a saída. Com isso, passamos por cima de quem e do que for. Transformamos amigos em inimigos, gritamos, nos debatemos. Se há algo que conhecemos bem, é essa sensação. Todo mundo tem uma história dessas pra contar.
Como paro de surtar? Uma das características fundamentais das crises é a perda da “visão”. Não vemos quem está ao nosso redor, nem o que está ao nosso alcance e que poderia perfeitamente ser usado como escada para a tal saída que tanto procuramos. Por isso, não é raro que a solução prática para um determinado problema seja muito evidente para quem olha de fora, mas esteja totalmente fora do radar de quem está no meio do surto. Pode não parecer, mas quando uma crise se instaura há um momento de grande riqueza. Significa que os meios utilizados por aquela pessoa para sustentar uma determinada identidade pararam de funcionar. Um castelo caiu. De repente, seja qual for o aspecto que veio à falência dá lugar a espaço, uma tela em branco.
Como paro de surtar?
Você pode usar essa experiência e a abertura que surge com ela, para se fundamentar em bas es muito mais amplas, lúcidas, para além da necessidade de sustentar pratos. Claro, é essencial saber equilibrar os pratos certos de maneira eficaz, até para poder transitar mais calmamente pelo mundo. É importante, sim, saber como se relacionar, como trabalhar bem, como fazer amigos, como gerenciar seu dinheiro. Mas você nunca vai conseguir controlar tudo. Nem mesmo vai chegar perto. Por isso, é essencial estar aberto aos imprevistos. Você pode se perguntar: “mas vocês não ensinam a superar as crises do homem”? Sim, esse livro é sobre isso. São 25 capítulos com dicas práticas para ajudar homens a lidar com crises pontuais. Mas resolver é só uma das formas de se lidar com uma crise. Não necessariamente a melhor. Certamente a menos duradoura. Para que o resolver tenha uma base sólida, é importante que venha acompanhado de mais três passos preliminares e, ao mesmo tempo, paralelos. Ou seja, você começa por aqui e segue com elas paralelamente a qualquer problema que precise sanar. 1) Prática de estabilidade:
Você não vai a lugar nenhum se estiver se debatendo. No meio do surto, é muito provável que tudo
Como paro de surtar?
o que fizer só piore sua situação. Portanto, antes de qualquer coisa, é essencial parar, respirar fundo, tentar recobrar um mínimo de lucidez e, então, partir para a sua lista de tarefas. Para cultivar estabilidade, existe uma prática reconhecida, a shamata. Um tipo de meditação que pode ser feita em silên cio e dá para cultivar como um hábito diário. A instrução resumida grosseiramente seria: - Sente em uma postura ereta, porém confortável; - Coloque um despertador para 15 minutos; - Fique em silêncio e foque na respiração. Vá relaxando os músculos das pernas, dos braç os e da face. - Não tente não pensar. É normal que você se distraia. Quando isso acontecer, apenas volte à instrução. - Quando o relógio tocar, finalize a prática e levante-se lentamente. Recomendamo s que veja a instrução mais detalhada conforme é ensinada nesse vídeo com o Lama Padma Samten . Aqui ele guia uma prática de meditação que você pode usar para começar. Como leitura, para aprofundar, recomendamos A revolução da atenção , de Alan Wallace. É um livro c om uma abordagem secular, para quem eventualmente possa ter aversão às formas religiosas da prática. 2) Prática de sabedoria:
Não à toa nos fascinamos com as crianças. Não é que elas tenham alguma sabedoria especial, longe dis-
Como paro de surtar?
so. Elas são tão ou até mais autocentradas e ignorantes do que nós. Porém, elas estão em uma posição na qual elas se permitem muito mais facilmente investigar. Elas costumam ser curiosas, vivas, cheias de energia. Não raro elas fazem perguntas que nos deixam de cabelo em pé. Nós, adultos, perdemos muito dessa curiosidade. Tomamos por certas as respostas de perguntas que estamos longe de realmente conhecer. Quem somos? Onde estamos? O que realmente está acontecendo? Não conhecemos nossas emoções, não sabemos como nos identificamos, com o nos apegamos, enfim, como nos aprisio namos. Por que algo que nos faz tão felizes hoje pode nos fazer sofr er tanto amanhã? Não sabemos. Podemos começar a olhar e obter algumas dessas respostas. Podemos começar a entender como funcionam as coisas, mas também como nós mesmos funcionamos. Assim, podemos brincar mais, realmente nos envolver com os fenômenos. Para aprofundar, recomendamos esse livro: Nada de especial , de Charlotte Joko Beck. 3) Prática de compaixão
Quando você entra em uma crise e, posteriormente, conseg ue sair dela, o maior presente que você obtém não é o de, enfim, ter se livrado de um problemão mas, sim, que agora você tem meios práticos para ajudar outras pessoas.
Como paro de surtar?
Sempre que olha uma pessoa e se pergunta “como posso ajudar?”, is so já é a compaixão dentro de você. No exato momento em que se faz essa pergunta, seu sofrimento já cessa um pouco. Sair das crises envolve uma medida de ajudar as outras pessoas. Quanto mais você se prepara e se fortalece com essa motivação, mais forte você se torna em relação aos seus próprios sofrimentos. Porém, há formas cada vez mais eficientes de exercer essa ajuda. Não é preciso que você sofra todos os sofrimentos, um por um, até conseguir estender a sua mão. Aqui entram os cultivos de todas as qualidades que nos tornam efetivamente capazes de ajudar. Empatia, amor, generosidade, alegria, equanimidade, lucidez, estabilidade, acolhimento, relaxame nto… a lista vai longe. Para aprofundar, recomenda mos o livro Um coração aberto , de Sua Santidade o Dalai Lama. *** Como já falamos, esses três processos nunca cessam. Você continua com eles, independente de qual problema esteja enfrentando nesse momento e mesmo depois que ele estiver resolvido. Também é essencial manter em mente que uma rede ampla, repleta de relações de confiança, torna tudo mais fácil. Essas parcerias fazem com que a sensação de remar pela vida s eja bem mais leve. Portanto,
Como paro de surtar?
vale aprender a nutrir essas relações e torná-las parte da sua vida como um todo. Agora, sim, com as bases fundamentadas, vamos começar a atacar de forma direta e prática as crises do homem.
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