UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AGRONOMIA DISCIPLINA: CONTROLE DE DOENÇAS EM PLANTAS PROFESSOR: JULIATTI
MÉTODOS CULTURAIS PARA O CONTROLE CONTROLE DO NEMATÓIDE DAS GALHAS ( Meloidogyne spp). JADIR BORGES PINHEIRO
UDI/junho/2001
1. INTRODUÇÃO
Um dos principais obstáculos encontrados no controle de fitonematóides é, sem dúvida alguma, a falta de conhecimento dos agricultores sobre a presença dos nematóides em suas plantações e os danos econômicos que podem ocasionar. Outro obstáculo, é a dificuldade de se encontrar uma única medida de controle que seja totalmente eficiente no controle de diversas espécies dos nematóidess nos diferentes nematóide diferentes cultivos comerciais. O controle de fitonematóides é, de modo geral, tarefa de difícil realização, porque cada situação requer cuidadosa análise antes da definição das medidas a
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serem recomendadas. O princípio mais importante para o controle de nematóides é o da exclusão, ou seja, prevenir o seu estabelecimento em um local onde ele ainda não ocorra, pois após a infestação de uma área, a sua erradicação é praticamente impossível, sendo necessária a adoção de medidas de controle que reduzam sua população e permitam o cultivo de espécies suscetíveis. Os métodos mais importantes no controle têm sido o uso de nematicidas, variedades resistentes e rotação de culturas. Os nematicidas apresentam como desvantagem alto custo, além de serem detrimentais ao ambiente, ao homem e aos organismos benéficos do solo. O uso de variedades resistentes é altamente recomendável para o controle de pragas e doenças. Contudo, no caso específico de nematóides, são poucas as variedades resistentes disponíveis para o agricultor e, mesmo assim, a resistência geralmente é direcionada a poucas espécies de nematóides consideradas mais importantes para determinadas culturas. Práticas culturais, como a rotação de culturas, a solarização, a aplicação de matéria orgânica e outras, podem ser usadas efetivamente, resultando em maiores produções, sem agredir o ambiente. Para uma melhor aplicação das práticas culturais existentes, é necessário que se conheça a biologia do fitonematóide que se deseja controlar.
2. CICLO DE VIDA E ASPECTOS IMPORTANTES DO NEMATÓIDE DAS GALHAS(MELOIDOGYNE SPP.)
O ciclo de vida de Meloidogyne inicia-se com um ovo, normalmente no estádio unicelular, depositado pela fêmea que está completa ou parcialmente enterrada na raiz da planta hospedeira. Os ovos são depositados numa matriz gelatinosa que os protege chamada de massa de ovos. Mais de 1000 ovos podem ser encontrados em uma massa de ovos, que pode chegar a ter o tamanho do corpo de uma fêmea. O desenvolvimento do ovo inicia-se dentro de poucas horas depois da deposição resultando e 2,4,8 e mais células, até a total formação do juvenil no seu interior. Este é o chamado primeiro estádio juvenil ou J1 . A primeira
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ecdise ocorre no interior do ovo, e logo depois o juvenil eclode, emergindo de um orifício feito na parede da casca do ovo por meio de repetidas estocadas do estilete. Este juvenil de segundo estádio ou J2 pode ou não deixar a massa de ovos imediatamente. Normalmente encontram-se na massa de ovos vários juvenis recém-eclodidos, juntamente com ovos em vários estádios de desenvolvimento. Depois de deixar a massa de ovos , que pode estar fora da raiz ou mesmo no seu interior, o juvenil J2 move-se no solo à procura da raiz onde irá se alimentar. A procura parece ser ao acaso, e o juvenil é guiado por muitas substâncias exsudadas das raízes do hospedeiro. O juvenil J2 penetra na raiz, normalmente próximo à capa protetora na ponta da raiz. Ele move-se entre as células indiferenciadas, parando com a região anterior do corpo próximo à região de alongação celular no córtex. A parede celular é então puncionada com o estilete, injetando secreções das glândulas esofagianas, que causam alargamento das células no cilindro central, aumentando as taxas de divisão celular no periciclo. Isso leva à formação das chamadas "células gigantes", células nutridoras ou sincício, formadas pelo aumento das células ( hipertrofia), com a dissolução das paredes celulares, aumento do núcleo e mudanças na composição dos conteúdos celulares. Ao mesmo tempo, há uma intensa multiplicação celular (hiperplasia) em torno da região anterior do corpo do juvenil. Essas mudanças são acompanhadas normalmente, mas não invariavelmente, pelo alargamento das raízes, formando distintas galhas. Enquanto as células nutridoras e galhas estão se formando, a largura do juvenil aumenta, e as células do primórdio genital se dividem, tornandose distintas. O juvenil sofre uma série de transformações que culminam nas ecdises, dando origem aos estádios juvenis J3 e J4 e, finalmente, aos adultos macho e fêmea.(AGRIOS, 1988 )
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3. PRÁTICAS CULTURAIS 3.1 ROTAÇÃO DE CULTURAS
Rotação de culturas é um dos métodos de controle de nematóides mais utilizado e que gera melhores resultados. Porém, um importante fator a ser considerado no estabelecimento de um sistema de rotação de cultura é identificar as espécies de nematóides que ocorrem na área. É preciso, também, conhecer a gama de hospedeiros dessas espécies, inclusive as plantas daninhas que possam hospedá-las. O controle de nematóides com gama de hospedeiros restrita, como Heterodera schachtti é mais fácil; porém estabelecer um sistema de rotação para
espécies com ampla gama de hospedeiros, como é o caso de Meloidogyne incognita, é bastante complexo e requer cuidados especiais ( HEALD apud
FERRAZ, DIAS, FREITAS 2001). Outra espécie eficientemente controlada por rotação nos Estados Unidos é o nematóide de galhas, Meloidogyne hapla, em amendoim, através do cultivo de milho ou algodão. A rotação de cultura consiste em rotacionar espécies resistentes, ou preferencialmente, não hospedeiras, com espécies suscetíveis. O tempo de permanência da cultura usada em rotação é variável. Segundo SASSER apud FERRAZ, DIAS, FREITAS (2001) o cultivo das espécies não hospedeiras por apenas um ciclo é útil, no entanto, não é adequado. O ideal seriam dois ciclos de cultivo de espécies não hospedeira, intercalado com um ciclo da hospedeira. Algumas espécies de nematóides requerem ainda períodos mais prolongados de rotação, superior a dois anos. WRATHER et al. apud FERRAZ, DIAS, FREITAS (2001) consideram que o número de anos necessários para reduzir a população abaixo do limiar de dano econômico depende da densidade inicial da população, dos fatores edáficos, da localização e do ambiente. A rotação pode envolver dois anos de cultivo de não hospedeira, ou um ano de não hospedeira e , um de cultivar resistente, com um ano de suscetível. Num programa de rotação de culturas, a seqüência de culturas deve ser economicamente atrativa para o produtor (NOLING & BECKER, 1994), de forma
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que a cultura usada, preferencialmente, dê algum retorno econômico. RAYMUNDO apud FERRAZ, DIAS, FREITAS (2001), cita como exemplo o cravo de defunto, que apesar de não ter valor econômico em muitos países, no Peru é utilizado para a extração de antocianina. O autor considera ainda importante conhecer a interação dos nematóides com outros organismos como bactérias e fungos, que possa influenciar direta ou indiretamente o desenvolvimento do nematóide e a eficiência da rotação. Também deve ser considerada adaptabilidade que a cultura tem ao local onde será introduzida. Um sistema de rotação de cultura é considerado ótimo quando previne os danos que poderiam ser ocasionados à cultura principal por reduzir a espécie de nematóide predominante, porém não promovendo o aumento da população de outras espécies de nematóides (JOHNSON, 1985). Além da rotação de cultura, o plantio em consórcio de Crotalaria spectabilis também possibilitou a redução de Meloidogyne incognita na cultura do quiabeiro (ANDRADE & PONTE, 1999). Em locais onde a monocultura é indispensável, a rotação de cultura pode ser substituída pela rotação de genes (RAYMUNDO apud FERRAZ, DIAS, FREITAS 2001).O princípio é o mesmo, no entanto, ao invés do uso de diferentes plantas, cultiva-se a mesma espécie variando o gene de resistência ao nematóide que ela possui. A rotação de cultura, além do controle de nematóides, contribui para o aumento da matéria orgânica no solo e aumento nos níveis de nitrogênio. Outra vantagem deste sistema é a preservação de organismos predadores, competidores e antagonistas aos nematóides (NUSBAUM e FERRIS apud FERRAZ, DIAS, FREITAS 2001) .Dentre as limitações desta prática estão: o grau de controle depende do nível de resistência da cultura usada na rotação; o período que ela permanece entre as culturas suscetíveis, pode ocorrer o aumento de outras espécies de nematóides; e, ainda, o retorno econômico durante esse período pode se comprometido (SUBCOMMITEE ON NEMATODE apud FERRAZ, DIAS, FREITAS 2001)
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3.2 PLANTAS ANTAGONISTAS O uso de plantas antagonistas em esquemas de rotação, plantio consorciado ou como cultura de cobertura vegetal tem se mostrado uma alternativa bastante atrativa. O gênero Mucuna possui espécies com efeito nematicida bem conhecido, embora ela mesma não seja imune a várias espécies de nematóides. Resultados de pesquisas sugerem que as rizosferas de plantas antagonistas podem ser uma fonte potencial de agentes para o controle biológico de fitonematóides. Espécies de Crotalaria também são importantes antagonistas de nematóides. A espécie mais estudada com relação ao controle de nematóide é C. spectabilis. Contudo, o cultivo desta espécie no Brasil ainda apresenta alguns
problemas: dificuldade de obtenção de sementes pelo agricultor, não se desenvolve bem em algumas regiões, florindo precocemente e paralisando o crescimento, além de ser tóxica para animais. A penetração e o desenvolvimento de Meloidogyne spp. nas raízes de Crotalaria foram estudados por SILVA et al ,SANO et al e SANO e NAKASONO
apud FERRAZ, DIAS, FREITAS (2001). Trabalhando com M. incognita e C. spectabilis, os autores observaram que a penetração excedeu a 30% nas raízes
das plantas hospedeiras Lycopersicon esculentum (tomateiro) e Sorghum bicolor (sorgo) e também nas raízes de C.spectabilis. O crescimento dos juvenis de segundo estádio ocorreu nas raízes de C. spectabilis, mas eles não atingiram o terceiro estádio. Em C. spectabilis , os juvenis infectantes mostravam pequeno primórdio genital e permaneceram sexualmente não diferenciados, a despeito da formação de células gigantes. Necrose também foi observada. De acordo com VILLAR & ZAVALETA-MEJIA apud FERRAZ, DIAS, FREITAS (2001), a incorporação da parte aérea de Crotalaria ao solo não é tão necessária como no caso de mucuna, quando se visa o controle de nematóide. Esse é um ponto importante em algumas situações, como a do agricultor que faz o
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cultivo para a produção comercial de fibras e , ao mesmo tempo, deseja controlar nematóides. Diferente espécies e variedade de Tagetes ou cravo-de-defunto podem apresentar reações distintas ao mesmo nematóide. Tagetes patula, T.erecta e T. minuta são as três espécies mais utilizadas nas pesquisas de controle de nematóide, sendo que T. patula geralmente se mostra mais eficiente. Elas são comumente usadas em rotação de culturas, mas, em muitas situações, funcionam muito bem em consórcio. Pimentão- T.patula, pimentão-crotalaria e pimentão-milho reduziram a reprodução de Meloidogyne spp. e o número de galhas nas raízes de pimentão (MARTOWO E ROHANA apud FERRAZ, DIAS, FREITAS 2000). Quando banana foi consorciada com seis fileiras de T. erecta ou T. patula, as populações de Meloidogyne, Radopholus e Pratylenchus diminuiram e as raízes foram menos danificadas (SUPRATOYO apud FERRAZ, DIAS, FREITAS 2001). O número de galhas de M. javanica em plantas de tomate crescendo lado a lado com T. erecta foi significativamente menor do que em tomate plantado sozinho. O comprimento das raízes, peso da parte aérea e o número e peso dos frutos foram maiores nas plantas consorciadas com tagetes (ABID e MAQBOOL apud FERRAZ, DIAS, FREITAS 2001). O consórcio de T. erecta e berinjela em solo infestado com M. javanica resultou em melhor crescimento da beringela e redução da população de nematóide em mais de 40%. Azadirachta indica ou nim tem sido usado em diferentes maneiras nas
pesquisas visando o controle de fitonematóide: cobertura do solo com folhas frescas ou secas, extratos foliares aplicados ao solo,exsudatos radiculares, pó-deserra, cobertura de sementes com extratos ou óleo, pó de semente para aplicação no solo ou como cobertura de sementes de interesse na agricultura, tratamento de raízes de plantas por mergulho em extratos foliares, etc. Esta última técnica já foi testada em várias espécies de plantas tais como tomate, berinjela, repolho, couveflor e pimenta, com resultados muito signigicativos para M. incognita, M. javanica, Rotylenchulus reniformis , Tylenchorhyncus brasssicae e outros nematóides. O
índice de galhas e a população final de
M.
incognita decresceram
significativamente em mudas de berinjela que tiveram suas raízes mergulhadas
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em suspensão de folha de nim contendo esporos do fungo nematófago Paecilomyces lilacinus . Foi também observado um aumento na colonização das
raízes por P. lilacinus e um maior parasitismo dos ovos de M. incognita, uma indicação de uma interação complementar entre esses dois componentes para o manejo sustentado do nematóide das galhas em berinjela (RAO et al apud FERRAZ, DIAS, FREITAS 2001). O efeito de nim contra nematóides, provavelmente, é devido a presença de várias substâncias químicas, tais como azadirachtin, nimbin, salannin, nimbidin, Kaempferol, thionemone, quercetin e outros. Algumas espécies de gramíneas (família Poaceae) têm mostrado efeito antagonista sobre fitonematóides. Dez espécies de gramíneas plantadas em vasos, em um solo infestado com M. javanica, foram comparadas com relação ao controle do nematóide. Após 60 dias do plantio, a parte aérea foi eliminada e tomate foi cultivado por 30 dias nos vasos e então contaram-se as galhas nas raízes desta planta. Cinco espécies de gramíneas, Brachiaria decumbens, Eragrostis curvula ( capim chorão), Panicum maximum cv. Guiné, B. brizantha e Digitaria decumbens cv. Pangola mostraram um efeito antagonista ao nematóide
muito pronunciado. O número de galhas nas raízes dos tomateiro cultivados após estas espécies variou de 10 a 23, enquanto que 2278 galhas foram observadas após Avena strigosa, por exemplo (BRITO & FERRAZ, 1987a, 1987b). SCHEFFER et al apud FERRAZ, DIAS, FREITAS (2001), postularam que o efeito desta planta sobre M. javanica, M. acrita, M. thamesi e M. hapla foi devido à presença de catecol e suas raízes. Este composto fenólico e seus derivados são encontrados em muitas plantas e têm mostrado atividade nematicida. Catecol também apresenta atividade sistêmica. SCHEFFER et al apud FERRAZ, DIAS, FREITAS (2001), postularam que o efeito desta planta sobre M. javanica, M. acrita, M. thame decumbens ) foi muito eficiente no controle de M. javanica, M. hapla e M. arenaria. Raízes de tomateiro consorciado com a gramínea
apresentavam menor número de galhas do que havia no tomateiro plantado sozinho. Um menor número de juvenis invadiram as raízes do capim que do tomateiro e aqueles que penetraram nas raízes da gramínea não conseguiram
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desenvolver-se além do segundo estádio. Trabalhos realizados por RODRIGUES-KABANA e colaboradores apud FERRAZ, DIAS, FREITAS (2001), mostraram que a rotação com Paspalum notatum ( grama batatais) aumentou a produção de amendoim e soja e foi muito
eficiente no controle de M.arenaria, M. incognita e Heterodera glycines. RODRIGUEZ-KÁBANA e colaboradores apud FERRAZ, DIAS, FREITAS (2001), demonstraram que o gergelim ( Sesamun indicum ), em rotação com amendoim ou soja, foi muito eficiente no controle de M. arenaria, M. incognita e H. glycines. Para eles, esta é uma planta "ativa", já que produz compostos
nematicidas, enquanto outras, tais como milho e sorgo, são simplesmente nãohospedeiras e, por isso, consideradas "passivas". Extratos de arruda ( Ruta graveolens) são eficientes no controle de Meloidogyne spp. Calotopis procera tem atraído a atenção de muitos pesquisadores
ultimamente. Incorporação ao solo de folhas picadas resultou em significante redução da população de muitas espécies de nematóides. O tratamento de raízes nuas de mudas de tomate e pimentão com extratos de folhas de C. procera reduziu significativamente o desenvolvimento de M. incognita (AKTHAR et al apud FERRAZ, DIAS, FREITAS 2001). O plantio consorciado de plantas antagonistas com culturas comerciais tem gerado controvérsia. Embora sempre haja benefícios, como a melhoria das características do solo e a diminuição de pragas e doenças , Freqüentemente o produtor se desaponta ao ver que não houve aumento de produção e o retorno financeiro não compensa os gastos extras. Na cultura da banana que tem sérios problemas com nematóide em todos os lugares onde é cultivada, o consórcio com plantas antagonistas pode dar bons resultados. Nematicidas naturais têm sido procurados pelos pesquisadores para substituir os atuais produtos, que são muito tóxicos e detrimentais ao ambiente. SITARAMAIAH & PATHAK apud FERRAZ, DIAS, FREITAS ( 2001),reportaram que a produção de tomates aumentou e o número de galhas de M. incognita e M.
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javanica diminuiu depois que as plantas foram pulverizadas com catecol.
A firma americana SOIL TECHNOLOGIES CORP. comercializa atualmente dois produtos: um nematicida chamado NEMASTOP, que é uma combinação de extratos de plantas e ácidos graxos e, o outro, considerado um repelente de nematóides e insetos, à base de extratos de Capsicum sp. e de óleos essenciais de mostarda. Este é comercializado sob o nome de NEMASTROY. Nematicidas naturais podem ser encontrados mesmo nos mares, onde extratos brutos de algumas algas, com Jolina laminarioides , Cystoseira tinodis e outras, já mostraram efeito sobre M. javanica 3.3 COBERTURA VEGETAL
Trata-se de uma prática que, geralmente, é usada no inverno com finalidade de conservação do solo. Também é usada entre culturas com espaçamento maiores, como árvores frutíferas. A população das espécies de nematóides podem tanto diminuir quanto aumentar com a cobertura vegetal, dependendo do comportamento da espécie usada frente a população de nematóide existente no solo (SUBCOMMITTEE ON NEMATODES apud FERRAZ, DIAS, FREITAS 2001), logo é uma medida que requer cuidado na escolha das espécies vegetais. A matéria orgânica produzida pela cobertura possibilita o aumento da população de inimigos naturais no solo, como fungos e nematóides predadores e parasitas internos, como bactérias. Outras vantagens desta prática são: controle de erosão, conservação da umidade do solo, modificação na temperatura do solo e supressão de plantas daninhas. MCSORLEY (1999) avaliou o potencial de algumas espécies para o uso como cobertura vegetal, concluindo que leguminosas como
Vigna
Aeschynomene americana
unguiculata (caupi),
Crotalaria
spectabilis
e
apresentam alto grau de resistência a diversas
espécies de Meloidogyne sendo indicadas para o uso como cobertura, destacando ainda a adição de nitrogênio que elas propiciam.
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3.4 CULTURAS ARMADILHAS
O cultivo de planta armadilha pode ser usado para o controle de nematóides sedentários como Meloidogyne e Heterodera, e consiste no plantio de uma espécie altamente suscetível ao nematóide em um campo infestado, permitindo que a planta cresça durante um período suficiente para os juvenis penetrarem e iniciarem seu desenvolvimento. No entanto, as plantas têm que ser destruídas antes que os nematóides atinjam o estádio reprodutivo. Este método de controle é eficiente, porém pode promover um aumento considerável na população se as plantas não forem eliminadas antes da reprodução do nematóide. Uma outra alternativa de controle é o cultivo de plantas que são altamente suscetíveis à invasão dos juvenis do nematóide mas não possibilitam seu desenvolvimento, não ocorrendo formação de adultos ( SUBCOMMITTEE ON NEMATODES apud FERRAZ, DIAS, FREITAS 2001). Neste caso, a cultura não precisa ser destruída e pode ser usada como adubo verde. Dentre as espécies que apresentam esta característica estão aquelas do gênero Crotalaria 3.5 ADIÇÃO DE MATÉRIA ORGÂNICA
A adição de matéria orgânica ao solo leva a um aumento dos microrganismos antagonistas aos fitonematóides, além de causar mudanças nas condições químicas e físicas do solo, durante sua decomposição. Dentre as limitações desta prática estão o custo para obter a matéria orgânica, o transporte do material da fonte para o local de aplicação e a quantidade necessária para se obter o efeito esperado(DROPKIN apud FERRAZ, DIAS, FREITAS 2001). Além da matéria orgânica adicionada ao solo possibilitar uma melhora na textura, capacidade de retenção de água, entre outras características físicas, libera ainda compostos químicos com efeito tóxico aos nematóides. Dentre as substâncias liberadas no processo de decomposição, estão os ácidos orgânicos, tais como os ácidos acético, butírico e propiônico. De acordo com O'BRIEN & STIRLING apud
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FERRAZ, DIAS, FREITAS (2001), a adição de mais de 20 t/ha de matéria seca promove a produção de substâncias como amônia e nitritos, as quais podem ser tóxicas aos nematóides. A manipueira, nome dado aos resíduos do processamento da mandioca na produção de farinha, também foi testada no controle de fitonematóides. A adição de manipueira ao solo, em experimentos de casa-de-vegetação ou campo, tem possibilitado uma drástica redução da população de Meloidogyne spp.( PONTE et al., 1979; FRANCO et al., 1990; PONTE et al., 1995). 3.6 SOLARIZAÇÃO
Esta técnica combina modos de ação físicos, químicos e biológicos, e ainda possuem a vantagem de ser compatível com outros métodos de controle, como o uso de matéria orgânica, controle biológico e químico (STAPLETON apud FERRAZ, DIAS, FREITAS 2001). Uma das limitações desta técnica é o fato de restringir-se a locais onde ocorrem verões quentes e de alta intensidade luminosa. Neste caso, o solo é umedecido e coberto com plástico, o calor solar é captado pelo plástico e aumenta a temperatura do solo a níveis letais para muitos microrganismos. Quatro a oito semanas são consideradas período suficiente para atingir temperaturas que afetem os nematóides (HEALD apud FERRAZ, DIAS, FREITAS 2001). Geralmente, recomenda-se esta prática para áreas menores, como área de cultivo protegido (STAPLETON apud FERRAZ, DIAS, FREITAS 2001).O uso de solarização tem como desvantagem o elevado custo, o qual restringe seu uso. Como vantagens, além de controlar nematóides, a solarização promove a redução de outros patógenos de solo e aumenta a disponibilidade de determinados nutrientes para a planta, como nitrogênio. Além disso, é uma prática ambientalmente segura, com a execeção da produção de plástico não degradável, que tem o lixo como destino (HEALD apud FERRAZ, DIAS, FREITAS 2001). 0VERMAN apud FERRAZ, DIAS, FREITAS 2001, comenta que a solarização reduz significativamente o número de nematóides que são recuperados do solo, porém, não ocorre erradicação.
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3.7 DESTRUIÇÃO DE RESTOS CULTURAIS
A permanência do sistema radicular das plantas no solo após a colheita, permite não só a sobrevivência dos nematóides como de outros patógenos de solo. Quando a destruição das raízes não é realizada, os nematóides que se encontram no início ou no meio do seu ciclo conseguem completá-lo, além disso, cada mês de permanência das raízes no solo representa um ciclo do nematóide do gênero Meloidogyne, por exemplo, aumentando significativamente a população. O arranquio e a exposição do sistema radicular ao sol faz com que ocorra morte dos nematóides pelo calor e dessecação (SUBCOMMITTEE on NEMATODE apud FERRAZ, DIAS, FREITAS 2001)
3.8 POUSIO
Apesar do pousio ser reconhecido como uma prática eficiente na redução de nematóides, geralmente não é recomendado devido aos efeitos adversos sobre a estrutura e fertilidade do solo. Segundo McSORLEY e GALLAHER (1994), os benefícios proporcionados pelo pousio no controle
de nematóides não são
vantajosos quando se comparam os efeitos adversos desta técnica sobre a fertilidade e produção. Adiciona-se à desvantagens o culto elevado, e o fato de poder causar erosão, propiciar a perda de matéria orgânica devido à oxidação, além do gasto com operações mecânicas para manter o solo livre de plantas daninhas ( SASSER apud FERRAZ, DIAS, FREITAS 2001). Considerando que os nematóides são parasitas obrigatórios, eles necessitam da presença de plantas suscetíveis para se desenvolverem e completarem seu ciclo. Quando se utiliza pousio como medida de controle de nematóides é importante manter o solo livre de plantas daninhas que possam ser hospedeiras dos mesmo. Este tipo de prática de manejo tem a vantagem de reduzir as plantas daninhas perenes. Dois princípios de controle estão envolvidos nesta prática : 1) fome, por serem parasitas obrigatório e necessitarem de hospedeiro vivo para completarem
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seu ciclo e, 2) morte por dessecação e aquecimento ( SUBCOMMITTEE on NEMATODE apud FERRAZ, DIAS, FREITAS 2001). O pousio é eficiente em áreas em que existem longo períodos de seca, necessitando de seis meses ou mais para conseguir um resultado eficiente. 3.9 INUNDAÇÃO OU ENCHARCAMENTO DO SOLO
A inundação é uma técnica para o controle de nematóides de uso bastante restrito, devido aos quesitos necessários para sua implementação. Usa-se esta técnica onde o nível da água pode ser facilmente controlado e onde ele permanece alto por diversas semanas. Um problema que pode ocorrer é que patógenos de solo podem ser disseminados pela água de irrigação. Além disso, inundação tem pouco efeito em locais de clima frio. Segundo MACGUIDWIN apud FERRAZ, DIAS, FREITAS (2001), a inundação por 7 a 9 meses mata os nematóides por reduzir a quantidade de oxigênio disponível para a respiração e aumenta a concentração de substâncias de ocorrência natural, tais como, ácidos orgânicos e metano, os quais são tóxicos para os nematóides. Uma das desvantagens da inundação é o fato dela ser prejudicial ao solo, podendo afetar negativamente a sua biodiversidade. A temperatura è uma importante fator a ser considerado quando se realiza a inundação .KOBAYASHI (1973) citado por WHITEHEAD (1998) comenta que a inundação por 15 dias a 30oC promoveu a morte de M. incognita, enquanto 50 dias a 25OC não apresentou efeito positivo. Uma operação para tornar a inundação um método mais viável é praticar o cultivo de alguma espécie vegetal adaptada a essa condição, como o arroz, diluindo assim os custos operacionais.
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3.9.1 CONTROLE BIOLÓGICO
O controle biológico, por suas características intrínsecas que o tornam ecologicamente correto, é um método altamente desejável de manejo de nematóides. Contudo, apesar de já haver um grande volume de pesquisas nesta área, os resultados são bastante inconclusivos. A bactéria Pasteuria penetrans tem atraído a atenção de muitos pesquisadores. Esse organismo adere à cutícula do nematóide, penetra no seu corpo e aí se desenvolve, impedindo sua multiplicação. Depois de um certo tempo, com o aumento da população da bactéria, o solo pode torna-se supressivo àquela espécie de nematóide. Esta bactéria possue vários atributos desejáveis a um agente de controle biológico, tais como, especificidade para nematóides, grande resistência a fatores físicos e químicos do solo, elevada capacidade reprodutiva e outros. O grande entrave à sua utilização no campo é a dificuldade de sua produção massal, pois, aparentemente, a bactéria só se multiplica no interior do corpo do nematóide. Existem alguma preparações comerciais de fungos predadores no mercado. Entretanto, por problemas de controle de qualidade e de desempenho variável, são pouco utilizadas. Os produtos Royal 300 e Royal 350 foram desenvolvidos na França . Estes nematicidas biológicos pararam de ser produzidos, sendo substituídos por um outro produto denominado NEMATUS. Al-HAZMI et al apud FERRAZ, DIAS, FREITAS 2001, avaliaram a eficiência de um produto que consiste na mistura de fungos predadores. O nome comercial é Nemout e é produzido por uma indústria americana na formulação pó molhável. Os resultados mostram que o produto reduz o número de galhas e de ovos de M. javanica, sob condições de casa-de-vegetação. Um outro produto que tem
apresentado bons resultados é o DiTera, produzido pela firma Abbott Laboratories, de Illinois, EUA. Trata-se de um bionematicida baseado na fermentação de um isolado do fungo Myrothecium sp. Paecilomyces lilacinus é um fungo bastante promissor no controle de fitonematóides. CAMPOS (1992) relata que Meloidogyne sp., em tomate, G. rostochiensis, em batata, Radopholus similis, em bananeira, Tylenchulus
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semipenetrans, em citros, Rotylenchulus reniformis , em abacaxi, e Pratylenchus
spp. foram controlados com eficiência por esse fungo, produzido nas Filipinas com o nome comercial de Bioact ( KERRY apud FERRAZ, DIAS, FREITAS 2001). Verticillium chlamydosporium também apresenta potencial muito grande
como agente de biocontrole. O fungo apresenta alta especificidade, é capaz de sobreviver na ausência do hospedeiro, é menos dependente do ambiente e pode ser facilmente cultivado in vitro. Monacrosporium ellipsosporum é um fungo predador, formador de nódulos
adesivos, que vem apresentando resultados bastantes satisfatórios e consistentes em trabalhos realizados por SANTOS e colaboradores (SANTOS et al., 1992; SANTOS & FERRAZ, 1994a, b ), ao longo de quatro anos, em condições de laboratório e de casa de vegetação. SANTOS et al (1992) encontraram, em solos fumigados com brometo de metila, reduções de 51, 74 e 95% no número de galhas, de massas de ovos e de juvenis de segundo estádio de M. incognita, respectivamente. Existem ainda limitações técnicas e comerciais que necessitam ser superadas antes que os produtos biológicos possam, em escala significativa, substituir os químicos. Segundo LISANSKY apud FERRAZ, DIAS, FREITAS (2001), o uso de biopesticidas representa bem menos de 1% do mercado para proteção de plantas ( doenças, pragas ou plantas daninhas). Métodos de produção massal e de formulação são pesquisas que necessitam do suporte das indústrias, para que possam ser lançados no mercado.
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4. CONCLUSÕES
Considerando que o uso de controle químico é inadequado ou inapropriado para o manejo de nematóides, torna-se necessário encontrar alternativas que permitam reduzir as populações em determinada área abaixo do limiar de dano econômico. O uso de integração de medidas de controle deve ser considerado no manejo de nematóides. Por ser um patógeno de difícil controle, práticas culturais e sanitárias, rotação de cultura e uso de cultivares resistentes são importantes para um manejo adequado, considerando aspectos econômicos e ambientais. Além disso, é recomendável um monitoramento da estratégia usada no controle.
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5. Referências bibliográficas
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