Apostila de Pediatria I/2010 1 Profa. Dra. Sueli Fonseca
ENFERMAGEM MATERNO INFANTIL – PEDIATRIA (1ª Parte)
Apostila de Pediatria I/2010 2 Profa. Dra. Sueli Fonseca
Enfermagem Materno Infantil – Pediatria
- Curso: Auxiliar e Técnico em Enfermagem - Objetivo: Formar Técnicos em Enfermagem - Disciplina: Enfermagem Materno Infantil – Pediatria - Professora: Enfermeira Sueli Fonseca - Duração: dependa da grade curricular da escola - Média: depende da regra da escola
Apostila de Pediatria I/2010 3 Profa. Dra. Sueli Fonseca Enfermagem Materno Infantil - Pediatria
Ao final do curso, o Aluno deverá:
• • • • • • • • • • • • • • • • • •
Conceituar pediatria; Enumerar as características de uma unidade pediátrica; Identificar as características pessoais e profissionais do técnico de enfermagem para atuar no setor de pediatria; Relacionar os aspectos da planta física, normas e rotinas com as necessidades da criança especializada Identificar fatores que interferem no crescimento e desenvolvimento de cada fase da criança Identificar as características de uma criança sadia Identificar as necessidades de uma criança doente, face a internação Atender adequadamente a criança e a família na admissão Definir hospitalismo Identificar sinais e sintomas do hospitalismo Prestar cuidados de enfermagem a criança no pré-operatório Identificar esquema e imunização da criança de acordo com o sistema do Ministério da Saúde Identificar e aplicar as técnicas de higiene e conforto a criança nas diferentes faixas etárias Preparar a unidade da criança Identificar e aplicar técnicas especiais de hidratação e alimentação a criança nas diferentes faixas etárias Identificar e aplicar técnicas especiais em enfermagem pediátrica Identificar e aplicar técnicas de preparo e administração de medicamentos em pediatria Prestar cuidados de enfermagem a criança com diarréia, anorexia, constipação, vômitos, candidíase e assaduras.
Unidade Pediátrica
Apostila de Pediatria I/2010 4 Profa. Dra. Sueli Fonseca
INTRODUÇÃO
"A criança é um ser biopsicossocial em crescimento e desenvolvimento e, como tal, deve ser atendida em toda a sua individualidade, nas suas necessidades básicas de :
nutrição,
educação,
socialização,
afetividade.
Durante
o
processo
de
desenvolvimento e crescimento, a criança está sujeita à apresentar afecções patológicas, que necessitam de uma hospitalização."
Quanto à área física, destina-se locais para atender às necessidades de recreação e bem estar da criança, junto do acompanhante. A unidade passa também a ter caracterizações infantis. A área física é considerada como um local para estimulação da criança e para o convívio família-criança-equipe. O ambiente possui caracterizações infantis, condizentes com o objetivo de propiciar um bom estado de ânimo da criança, da família e da equipe.
O hospital pediátrico, enquanto instituição que presta assistência à saúde de crianças e adolescentes, já foi historicamente representado como um ambiente potencialmente adverso e restritivo ao desenvolvimento humano. Parte desta identificação foi atribuída à adoção de modelos biomédicos de saúde, com uma filosofia de atendimento que priorizava o tratamento e a cura de doenças, em detrimento da atenção integral a crianças e adolescentes e da aquisição e manutenção de comportamentos de saúde.
Pinheiro e Lopes (1993) destacam que por muitos anos a criança foi vista no hospital como um adulto pequeno, sem condições diferenciadas a sua assistência. O enfrentamento de situações que não atendiam às necessidades mínimas de desenvolvimento conduzia a criança a manifestar comportamentos de repúdio à terapêutica prescrita, atitudes de alheamento ou, ao inverso, de agressividade, além de dificuldades de comunicação com as demais crianças e com membros da equipe de saúde, comportamentos descritos, também, em estudos mais recentes.
Apenas recentemente os profissionais de saúde passaram a discutir alternativas de
ambiente hospitalar que incorporassem
características mais
próximas aos ambientes naturais de cuidados de criança e adolescentes, tais como os geralmente proporcionados pela família e/ou pela escola. Todavia, desde a
Apostila de Pediatria I/2010 5 Profa. Dra. Sueli Fonseca década de 60 do século XX, a Organização Mundial de Saúde (OMS) já postulava uma concepção de saúde integral, enfatizando a necessidade de que as unidades pediátricas, localizadas em hospitais gerais, incluíssem planejamentos ecológicos voltados à infância e adolescência.
Em relação ao ambiente hospitalar em unidades pediátricas, Quiles e Carrillo (2000) apontam uma tendência, relativamente recente, para um planejamento estratégico voltado à elaboração de práticas interdisciplinares mais sistemáticas, que favoreçam a interação ativa do paciente hospitalizado com o contexto social disponibilizado pela instituição, proporcionando-se maior controle comportamental da criança e do adolescente sobre seu processo de desenvolvimento e maior participação nas diversas etapas de seu tratamento. Na mesma direção, Fontes (2005) discute a importância de práticas pedagógicas desenvolvidas em hospitais pediátricos como alternativa de atendimento educacional diferenciado e que privilegia a expressão verbal e emocional de crianças e adolescentes internados. Por outro lado, Gariépy e Howe (2003), bem como Coyne (2006), destacam que os pesquisadores têm dado pouca atenção à experiência psicológica, à opinião e à qualidade de vida de crianças expostas à experiência de hospitalização.
Segundo Viana (1998), o hospital congrega também sentimentos e estados “positivos”. Se por um lado o sofrimento está presente, por outro, é também possível obter a cura, ou, ao menos, uma percepção de alívio. Neste sentido, ambientes
hospitalares
ecologicamente
preparados
para
crianças
poderiam
minimizar a percepção de sofrimento. Acredita-se que um destes ambientes é a sala de espera hospitalar, na qual crianças, adolescentes e familiares aguardam chamadas para consultas, procedimentos médicos invasivos, internações, entre outros
eventos
que
podem
incluir
elementos
de
impaciência,
ansiedade,
irritabilidade, apatia e isolamento.
A Unidade Pediátrica possui características bem peculiares. A começar pela sua faixa etária, que abrange desde os recém-nascidos (RN) até jovens de 18 anos. Esta faixa etária é um período muito rico na vida do ser humano. Todo o potencial de
crescimento
está
à
espera
de
estimulações
necessárias
para
que
os
desenvolvimentos físico, intelectual, emocional e social sejam desencadeados.
A hospitalização da criança desencadeia uma ruptura inevitável em sua vida cotidiana. A Brinquedoteca surge como um espaço estruturado que visa oferecer experiências positivas durante a internação e resgatar o lado mais forte e saudável
Apostila de Pediatria I/2010 6 Profa. Dra. Sueli Fonseca do paciente pediátrico. O apoio da equipe médica e dos pais, associado a medidas como essas deixam os pequenos pacientes mais à vontade, facilitando o tratamento e contribuindo para uma recuperação mais rápida.
Humanizar a assistência a crianças e adolescentes hospitalizados significa minimizar os sofrimentos proporcionados pela doença e pelos eventos estressantes típicos da experiência de internação
UNIDADE DE INTERNAÇÃO: PEDIATRIA
1-► Definição: É a área destinada a acomodar e prestar serviços de apoio á criança que facilitam a realização de um atendimento adequado.
2-► Componentes:
Diferem de hospital para hospital, mas de uma maneira geral, é composta por:
- posto de enfermagem - expurgo - sala de utilidades - copa - enfermarias ou quartos com banheiros privados - roupara - banheiro de funcionário - brinquedoteca
UNIDADE DO PACIENTE PEDIÁTRICO
1-► Definição: É o conjunto de espaços e móveis destinados a cada criança.
2-► Componentes:
Apostila de Pediatria I/2010 7 Profa. Dra. Sueli Fonseca - uma cama com colchão e grade - uma campainha - um suporte para soro - uma mesa de cabeceira equipada com material do uso do paciente - uma cadeira - uma mesa para refeição - uma escadinha - dois baldes de lixo com tampa e pedal - painel composto por: Saída de oxigênio (verde); Saída de ar comprimido (cinza); Saída de vácuo (amarelo) - armário para guardar pertences como roupas, escova de dente... - cadeira para responsável
RECOMENDAÇÕES GERAIS PARA A LIMPEZA E DESINFECÇÃO DE BRINQUEDOS E OBJETOS UTILIZADOS NA ENFERMARIA DE PEDIATRIA
•
Qualquer brinquedo ou objeto que entrar em contato com fluidos corpóreos deve ser limpo imediatamente;
•
Brinquedos utilizados em unidades de isolamento devem se de material lavável, não corrosivo e atóxico. Depois de usados devem ser ensacados e encaminhados para a limpeza e desinfecção;
•
Os brinquedos deverão ser preferencialmente de material lavável e atóxico (plástico, borracha, acrílico, metal). Objetos de madeira deverão ser recoberto, pintados com tintas laváveis;
•
Todo brinquedo e objeto de material não lavável deverá ser desprezado após o contato com fluidos corpóreos;
•
Brinquedos de tecidos não são recomendados, exceto para uso exclusivo;
•
Não existe restrição para o uso de livros e revistas, desde que plastificados, e se contaminadas, devem ser jogadas fora;
•
Os brinquedos após limpeza desinfecção devem ser armazenados em caixas com tampa e em armários.
Admissão na Unidade Hospitalar da Criança e Família
Apostila de Pediatria I/2010 8 Profa. Dra. Sueli Fonseca
1► Definição:
É o processo que ocorre quando uma criança juntamente com seu responsável entra em uma Instituição de cuidados à saúde para permanecer por mais de 24 horas para os cuidados e tratamento. O ideal é que a admissão na unidade seja feita pelo Enfermeiro.
Envolve quatro processos: •
Autorização médica prévia;
•
Departamento de admissão (dados pessoais, forma de pagamentos, etc...)
•
Atividades de admissão pela enfermagem;
•
Atividades médicas.
2-► Autorização Médica Prévia:
- Atendimento de Urgência/Emergência - Encaminhamento eletivo (marcado, programado)
3-► Setor de Admissão:
♫ início do prontuário (nº do registro); ♫ ficha de admissão com dados pessoais; ♫ forma de pagamento; ♫ responsável pela criança; ♫ tipo de acomodação / solicitação de vaga; ♫ notificação à unidade de destino.
4-► Atividades de Enfermagem:
Apostila de Pediatria I/2010 9 Profa. Dra. Sueli Fonseca
♦ obter na admissão, o nome, diagnóstico, condições da criança e o quarto que lhe foi designado; ♦ preparar o leito de acordo com a patologia da criança; ♦ verificar antes da chegada da criança ao leito: condições de higienização e manutenção, equipamentos básicos para os primeiros cuidados (suporte de soro, cama com grades, saída de oxigênio e aspiração completas, etc...); ♦ recepcionar a criança e responsável afetuosamente com um sorriso, para que ele se sinta bem recebido e desejado. Apresente-se à criança e responsável; ♦ confirmar a identificação com o prontuário; ♦ atender às necessidades urgentes (eliminação, dor, conforto, respiração, etc...). ♦ indicar dependências da unidade e explicar as normas e rotinas: horário das refeições, banho, visita médica, atendimento de enfermagem. ♦ apresentar aos companheiros de quarto; ♦ demonstrar a utilização da capainha, telefone, controles automáticos (cama, televisão, ar); ♦ relacionar e guardar roupas, documentos, objetos, de valor, próteses, etc. relação em duas vias assinada pelo paciente e/ou responsável. Observar normas da instituição; ♦ encaminhar ao bando, se necessário e vestir roupas adequadas; ♦ proporcionar privacidade; ♦ realizar o Exame Físico lembrar de questionar sobre patologias existentes, alergias, uso de medicações, hábitos em geral; ♦ Verificas sinais Vitais (PA, P, T, R); ♦ preparar o prontuário; ♦ comunicar ao serviço de interesse sobre a ocupação do leito (nutrição, manutenção e higienização, centro cirúrgico, hemodiálise, médico assistente...) ♦ avaliar as ações anteriores (conforto, orientação, medidas de segurança, informações coletadas precisas); ♦ realizar as anotações de enfermagem (téc. de enfermagem) e/ou evolução de enfermagem (enfermeiro).
5-► Anotações de Enfermagem:
Apostila de Pediatria I/2010 10 Profa. Dra. Sueli Fonseca •
Data e hora da admissão;
•
Procedência (residência, pronto-socorro, transferido);
•
Tipo de tratamento, médico ou especialidade responsável;
•
Acompanhante (familiar, vizinho, amigo, profissional de saúde);
•
Condições de locomoção (deambulando, com auxílio, cadeira de rodas, maca, carregado);
•
Condições gerais (aparência, higiene, humor, em uso de...);
•
Anotar Sinais Vitais
•
Anotar dados informados pelo paciente ou responsável (indicar fonte de informação): queixas de dor no momento, desconfortos, alergias, patologias prévias existentes, uso de medicações;
•
Pertences: descrever o que permanece com o cliente, registrar pertences devolvidos (a quem devolveu);
•
Anotar orientações feitas ao cliente ou familiares (jejum, coleta de exames, etc)
•
Assinar conforme orientação do COREN.
6-►Responsabilidades Médicas:
♫ realizar visita médica pelo menos uma vez por dia; ♫ realizar evolução clínica no memento da admissão; ♫ determinar hipótese diagnóstica ou confirmar diagnóstico (importante para a equipe de enfermagem); ♫ realizar prescrição completa e legível; ♫ preencher completamente os documentos do prontuário e exames solicitados.
7-►Reações Comuns à Admissão:
Apostila de Pediatria I/2010 11 Profa. Dra. Sueli Fonseca
8-► Modelo de Anotação para Admissão:
♥ 01/05/200798 –21:00 horas: Admitida neste setor, procedente do prontosocorro para submeter-se a tratamento clínico aos cuidados de Drª Marta, com hipótese diagnóstica de Pneumonia, veio em companhia de sua genitora. Apresenta-se consciente, orientado, bom estado de higiene, em uso de soroterapia no MSE com boa perfusão, sem sinais de infiltração, oxigenoterapia sob cateter nasal. Encontra-se dispnéico (24 rpm), febril (38ºC). Genitora relata ser alérgico à dipirona e ampicilina. Ao Exame Físico.................................... Oriento quanto as rotinas do serviço e a permanecer em jejum a partir das 24 horas para realização de exames laboratoriais. Téc. de Enfermagem Gustavo Alcantra, Coren-BA 00000.
Características do Profissional Técnico de Enfermagem em Pediatria
CARACTERÍSTICAS PESSOAIS:
Os profissionais deverão apresentar: •
bom relacionamento interpessoal,
Apostila de Pediatria I/2010 12 Profa. Dra. Sueli Fonseca senso crítico-reflexivo.
• •
autocrítica,
•
iniciativa,
•
flexibilidade,
•
senso de observação acurado,
•
capacidade de autogestão,
•
dinamismo,
•
criatividade,
•
equilíbrio emocional,
•
abstração,
•
raciocínio lógico
•
realizar assistência humanizada.
CARACTERÍSTICAS PROFISSIONAIS:
Suas atividades profissionais são desempenhadas em instituições de saúde bem como em domicílios, sindicatos, empresas, associações, escolas, lar de idosos e outros.
•Prestar cuidados diretos de enfermagem às crianças em geral e àquelas que estão em esta do grave.
•Colaborar no planejamento das atividades de enfermagem prevenindo infecções hospitalares e realizando controle das doenças transmissíveis e danos físicos que podem ser causados às pessoas durante a assistência de saúde, sob supervisão do enfermeiro.
•Executar cuidados de rotina, que compreendem,entre outros, preparar as crianças para consultas, exames e tratamento, ministrar medicamentos, fazer curativos, aplicar oxigenoterapia e vacinas, fazer a esterilização de materiais, prestar cuidados de higiene e conforto, auxiliando também na alimentação.
•Zelar pela limpeza e ordem dos equipamentos,material e de dependência dos ambientes terapêuticos.
Apostila de Pediatria I/2010 13 Profa. Dra. Sueli Fonseca
•Executar as atividades vinculadas à alta hospitalar e ao preparo do corpo pósmorte.
Estas atribuições reúnem normas e princípios, direitos e deveres pertinentes à conduta ética dos profissionais de enfermagem, priorizando a atenção à clientela prestando-lhes
ações
de
enfermagem
de
melhor
qualidade
e
sem
riscos.
PERFIL PROFISSIONAL DE ENFERMAHGEM EM PEDIATRIA
•Atuar na promoção, proteção, recuperação da saúde e reabilitação das crianças, respeitando os preceitos éticos e legais;
•Participar, como integrante da Sociedade, das ações que visem satisfazer as necessidades de saúde da criança;
•Respeitar a vida, a dignidade e os direitos da criança, em todo o seu ciclo vital,sem discriminação de qualquer natureza;
•Assegurar à criança uma Assistência de Enfermagem livre de danos decorrentes de imperícia, negligência ou imprudência;
•Exercer suas atividades com justiça, competência,responsabilidade e honestidade;
•Prestar assistência à saúde visando a promoção do ser humano como um todo;
•Cumprir e fazer cumprir os preceitos éticos e leais da profissão;
•Indicar os determinantes e condicionantes do processo saúde-doença;
•Identificar a estrutura e organização do sistema de saúde vigente;
•Aplicar normas de biosegurança;
•Aplicar princípios e normas de higiene e saúde pessoal e ambiental;
Apostila de Pediatria I/2010 14 Profa. Dra. Sueli Fonseca
•Interpretar e aplicar normas do exercício Profissional e princípios éticos que regem a conduta do profissional de saúde;
•Identificar e avaliar rotinas, instalações e equipamentos;
•Operar
equipamentos
próprios
do
campo
de
atuação,
zelando
por
sua
manutenção;
•Realizar primeiros socorros em situações de emergência pediátrica.
Necessidades de uma criança doente, face a internação
É fundamental lembrar que a vida da criança - seu crescimento e desenvolvimento físico, mental, emocional e social , não estaciona mas continua evoluindo durante a internação no hospital.
A hospitalização, impedindo suas
atividades normais junto à família e aos amigos, na escola e em tudo que é o seu dia-a-dia, quebra o ritmo e pode modificar a criança, sobretudo a mais nova, com conseqüências importantes. É o que veremos a seguir.
Razões da internação
A internação é feita para: -possibilitar o diagnóstico de doenças mais complexas, com recursos técnicos avançados, -para o tratamento de doenças agudas ou crônicas graves -para intervenções cirúrgicas.
Reações da criança à hospitalização
A internação em quarto individual, enfermaria ou UTI, com pessoas diferentes e muitas vezes em companhia de outros pacientes em estado grave, aparelhagens complicadas, rotinas, comida com aspecto e sabor não habituais, horários rígidos e sono interrompido para avaliação de temperatura corporal e
Apostila de Pediatria I/2010 15 Profa. Dra. Sueli Fonseca outros exames, palavras desconhecidas, profissionais de saúde conversando sobre coisas estranhas perto do seu leito, procedimentos invasivos e muitas vezes traumatizantes, tudo isso causa na criança ansiedade, dor e fantasias.
Estudos têm mostrado que nos primeiros 2 anos de vida, a hospitalizada
criança
tem a sensação de estar sendo abandonada pelos pais, entre os 4
e 5 anos, sente esta nova situação como castigo por faltas que tenha cometido e, dos 10 aos 12 anos, uma profunda ansiedade e medo
da morte.
Adaptação da criança à hospitalização
Nem sempre é fácil a adaptação da criança a essa situação. São comuns as seguintes
atitudes:
► choro ► revolta ► agressividade; ► silêncio ► aceitação ► recusa na alimentação ► apatia. ►depressão.
Em
hospitalizações
separação da
prolongadas
mãe, surgem sinais
de
ou repetidas, principalmente com a
carência afetiva, clinicamente como o
nanismo psicogênico, com regressão do crescimento e desenvolvimento da criança.
Conseqüências da hospitalização
Embora a internação hospitalar provoque na criança um maior e precoce amadurecimento emocional, as repercussões negativas em seu crescimento e desenvolvimento
podem
ser muito graves.
Para prevenir tais danos, a humanização dos hospitais importante,
sendo
é
muito
a Brinquedoteca um dos recursos mais eficientes.
Efeitos da Hospitalização Sobre as Crianças
Apostila de Pediatria I/2010 16 Profa. Dra. Sueli Fonseca
Apesar das muitas diferenças dos sintomas e da gravidade desses problemas, as crianças com doença podem apresentar algumas experiências em comum:
• Dor e desconforto • Retardo do crescimento e do desenvolvimento • Idas freqüentes a médicos e hospitais • Necessidade de cuidados médicos diários (algumas vezes com tratamentos dolorosos ou desagradáveis) • Menos oportunidades de brincar com outras crianças
As diferenças físicas podem fazer com que uma criança seja rejeitada por seus pares. Uma incapacidade também pode impedir que a criança atinja seus objetivos. A escassez de modelos adultos com incapacidade (p.ex., estrelas de televisão) faz com que uma criança inválida tenha ainda mais dificuldades para formar sua identidade.
Efeitos da Hospitalização Sobre a Família
Para a família, a doença crônica de uma criança pode acarretar uma frustração dolorosa em relação aos sonhos que tinham para a mesma. O tempo despendido com uma criança doente reduz o tempo disponível dos pais para os seus irmãos saudáveis. Outros problemas incluem o aumento das despesas, um sistema de saúde complicado, a perda de oportunidades (p.ex., quando um dos pais não pode retornar a trabalhar) e o isolamento social.
Esses problemas geram um estresse que pode inclusive levar à separação do casal, especialmente quando existem outros problemas (p.ex., dificuldades financeiras). As doenças que provocam deformidades na criança (p.ex., fenda labial ou hidrocefalia [doença na qual ocorre um acúmulo de líquido no cérebro e conseqüente compressão do tecido cerebral e aumento da cabeça]) podem interferir no estabelecimento de uma vinculação afetiva entre a criança e os familiares.
Apostila de Pediatria I/2010 17 Profa. Dra. Sueli Fonseca Os pais podem angustiar-se ao tomarem conhecimento que seu filho apresenta alguma anomalia. Eles também podem chocar-se e apresentar reações de negação, de raiva, de tristeza, de depressão, de culpa e de ansiedade. Essas reações podem ocorrer em qualquer etapa do desenvolvimento da criança e cada genitor pode reagir de forma diferente, o que pode prejudicar a comunicação entre eles. A simpatia que sentem pela criança e as demandas que recaem sobre a família podem acarretar inconsistências disciplinares e problemas de comportamento. Um dos pais pode envolver-se excessivamente com a criança doente, perturbando dessa forma as relações familiares normais. Um pai que trabalha e não pode acompanhar o filho nas visitas ao médico pode sentir-se distanciado do mesmo.
Efeitos da Hospitalização Sobre a Comunidade
Os vizinhos e os membros da comunidade podem não compreender a incapacidade da criança e os cuidados que ela requer. As políticas comunitárias e a arrecadação de fundos destinados aos cuidados e oportunidades escolares podem ser inconsistentes ou insuficientes e determinadas melhorias (p.ex., rampas nos meios- fios) podem ser inadequadas. A comunicação e a coordenação entre os profissionais da área da saúde, os pais e os administradores da área da saúde também podem ser deficientes.
Respirar, comer, beber e se defender nos permite extrair do meio o que temos de necessidade para sobreviver. Se esta criança nunca foi hospitalizada, nunca fez parte de um meio de hospitalização, ela não conhece nada e vai para o hospital completamente “nu” em termos de conhecimento, em termos de experiências de vida.
Precisamos falar das reações dos familiares frente à internação hospitalar. Eles reagem à internação: “fui eu que cuidei do meu filho, porque ele veio para cá? Ele não precisava ter vindo para cá”. A culpa é a primeira coisa que aparece, e a gente batalha para trabalhar esta questão. A mãe pega a criança e a criança sente que a mãe está se sentindo culpada. E aquela desconfiança imensa que tem até que o diagnóstico seja efetivado? O desgaste da qualidade dos exames, os sentimentos ambíguos e o primeiro sentimento que vem da relação vida – morte? Então o quê que acontece? Existe a dor da cura e a dor da morte, e como é isso?
Apostila de Pediatria I/2010 18 Profa. Dra. Sueli Fonseca
Necessidades Humanas Básicas (necessidades ( de Maslow)
A hierarquia de necessidades de Maslow, Maslow, é uma divisão hierárquica proposta por Abraham Maslow, Maslow, em que as necessidades de nível mais baixo devem ser satisfeitas antes das necessidades de nível mais alto. Cada um tem de "escalar" uma hierarquia de necessidades para atingir a sua auto-realização. auto
Maslow define um conjunto de cinco necessidades descritos na pirâmide. •
necessidades fisiológicas (básicas), tais como a fome, a sede, sede o sono, o sexo, a excreção, o abrigo;
•
necessidades de segurança, segurança, que vão da simples necessidade de sentir-se sentir seguro dentro de uma casa a formas mais elaboradas de segurança como um emprego estável, um plano de saúde ou um seguro de vida;
•
necessidades dades sociais ou de amor, afeto, afeição e sentimentos tais como os de pertencer a um grupo ou fazer parte de um clube;
•
necessidades de estima, estima, que passam por duas vertentes, o reconhecimento das nossas capacidades pessoais e o reconhecimento dos outros face à nossa capacidade de adequação às funções que desempenhamos;
•
necessidades de auto-realização, auto , em que o indivíduo procura tornar-se tornar aquilo que ele pode ser.
É neste último patamar da pirâmide que Maslow considera que a pessoa tem que ser coerente com aquilo que é na realidade "... temos de ser tudo o que somos capazes de ser, desenvolver os nossos potenciais".
Apostila de Pediatria I/2010 19 Profa. Dra. Sueli Fonseca
Quando o ciclo motivacional não se realiza, sobrevém a frustração da criança que poderá assumir várias atitudes: a. Comportamento ilógico ou sem normalidade; b. Agressividade por não poder dar vazão à insatisfação contida; c. Nervosismo, insônia, distúrbios circulatórios/digestivos; d. Falta de interesse pelas tarefas ou objetivos; e. Passividade,
moral
baixo,
má
vontade,
pessimismo,
resistência
às
modificações, insegurança, não colaboração, etc.
São essas necessidades básicas humanas que quando a criança está hospitalizada precisa que algum responsável por ela esteja suprindo para que ela consiga mantert-se bem, principalmente as necessidades: fisiológicas, segurança e social.
A criança busca sempre melhorias para sua vida. Dessa forma, quando uma necessidade é suprida aparece outra em seu lugar, tais necessidades são representadas na pirâmide hierárquica. Quando as necessidades humanas não são supridas sobrevém sentimentos de frustração, agressividade, nervosismo, insônia, desinteresse, passividade, baixa auto-estima, pessimismo, resistência a novidades, insegurança e outros. Tais sentimentos negativos podem ser recompensados por outros tipos de realizações.
AXENO: Artigo O Relacionamento da Enfermagem com a Criança Hospitalizada A maioria das crianças que adoecem ficam mais chorosas e agarradas aos pais. Se a sua patologia for tão grave a ponto de exigir uma hospitalização, seu quadro emocional tende a piorar, em função de encontrar-se afastada de sua casa, familiares e, principalmente, pelos procedimentos médicos e de enfermagem aos quais esta será submetida. Na maior parte do tempo de hospitalização, a criança ficará restringida ao leito, submetida à passividade, cercada de pessoas estranhas e, para ela, más por trazerem a dor e o sofrimento. Dor esta representada por todas as agulhadas, cortes e outros procedimentos desagradáveis até mesmo para um adulto. É comum a ocorrência de mecanismos de regressão onde a criança retorna a uma fase anterior à de sua idade (SADALA, 1995). Como uma forma de defesa, pode ocorrer a recusa de alimentos sólidos, aceitando apenas papinhas e líquidos; uma diminuição do vocabulário; perda do controle de esfíncteres; além de ficar muito assustada.
Apostila de Pediatria I/2010 20 Profa. Dra. Sueli Fonseca Neste cenário a enfermagem precisa se inserir de maneira a tornar o mais agradável possível a estadia da criança no hospital. Gostaria de sensibilizar os profissionais da área de saúde para que consigam captar as reais necessidades das crianças com a maior paciência possível. Para que o tratamento tenha êxito, num período menor de internação, é importante o estabelecimento de vínculo e confiança da criança com o profissional. Atitudes sinceras e verdadeiras, vendo a criança como um indivíduo que tem direitos e deveres, com certeza são fundamentais para o sucesso. Não é perda de tempo! Familiarize a criança ao ambiente hospitalar, explicando as rotinas e procedimentos que serão realizados e o porquê de cada um, que poderá doer ou demorar, mas que você estará junto com ela para dar força e coragem. A mãe estando junto é importante que ela seja previamente informada e conscientizada para que assuma a mesma conduta. Ameaças do tipo: "se você não ficar quietinha vou chamar a enfermeira para te dar uma injeção!", ou "não vai doer, viu filhinho!" em nada contribuem para a cura e confiança da criança no profissional. Possibilitar à criança um espaço para que ela possa expressar seus sentimentos à respeito das experiências traumáticas, assim como suas ansiedades, raiva e/ou hostilidade. Além disso, a doença pode trazer à criança sentimentos de culpa ou abandono, como se fosse um castigo por algo errado que ela cometeu (SEIBEL, 1992). Através de um relacionamento seguro e construtivo é possível uma atuação adequada da enfermagem, podendo ajudar a criança a lidar melhor com suas dificuldades. A comunicação e o brinquedo terapêutico são recursos adequados que a enfermagem pode lançar mão, oferecendo a oportunidade da criança expressar-se verbalmente ou não (SIGAUD, 1996; SADALA, 1995). Ajuda a criança a lidar com diversas situações, como: "separação de pessoas significativas, procedimentos invasivos e/ou dolorosos, entre outras" (SIGAUD, 1996). Um ambiente estranho e desconhecido pode trazer na cabeça da criança fantasias e imagens muito ruins da situação vivida (CHIATONE, _____). Concordo com a mesma autora quando ressalta "o quanto todos que ficam hospitalizados tornam-se despojados de seus aspectos existenciais para se tornar um objeto, um número de leito ou prontuário, uma síndrome ou órgão doente". Acredito ser inadmissível, que em pleno século XXI, o atendimento à criança seja realizado sem se levar em conta que esta é um indivíduo, inserida num contexto familiar, e esta numa estrutura ainda maior, numa comunidade. ELSEN e PATRÍCIO (apud SCHIMITZ, 1989) abordam os tipos de abordagem que uma instituição pode adotar em função de seus "valores, crenças pessoais e profissionais dos elementos que compõe a equipe de saúde e administrativa". Podendo, com isso, a metodologia da assistência de enfermagem ser centrada: na patologia da criança; na criança; ou na criança e sua família. Isso nos leva a confirmar que a: "visão transcultural do desenvolvimento da criança nos leva a refletir que, embora as pessoas sejam dotadas do mesmo equipamento anatômico, a sua prática de vida varia em função do contexto em que vive. Ou seja, o fato de todas
Apostila de Pediatria I/2010 21 Profa. Dra. Sueli Fonseca as pessoas serem fisicamente iguais, e terem a mesma arquitetura, não quer dizer que as utilizem do mesmo modo"( CABRAL, 1995). A criança é fruto do ambiente que vive, ou seja, sua organização familiar irá influenciar sua experiências infantis e todo seu processo de socialização. Portanto "o trabalho de enfermagem que cuida de crianças deve respeitar as diferenças culturais existentes dentro dos grupos sociais, e sobretudo aliando-se ao estilo de cuidar da mãe que foi herdado culturalmente" (CABRAL, 1995). Assim consiguiremos obter o bem estar da criança e a segurança da mãe com as novas situações vividas. "É imprescindível que o saber científico não seja formado como dogma, refletir sobre isto permitirá uma melhor consecução do trabalho da enfermeira, em particular, e da enfermagem, em geral." (CABRAL, 1995)
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
- CARDOSO et ali. A Higienização dos Brinquedos no Ambiente Hospitalar. - JUNIOR et ali. recreação planejada em sala de espera de uma unidade pediátrica: efeitos comportamentais1 - Manual de Enfermagem. Técnicas Gerais de Enfermagem. - WIKPÉDIA, A Enciclipédia Livre. CABRAL, I.E. O Estilo de Cuidar da Mãe e o Trabalho da Enfermagem . Rev. Enferm. UERJ, 3 (2), p.189-195. Rio de Janeiro: out. 1995. ELSEN, I. & PATRÍCIO, Z.M. Assistência à Criança Hospitalizada: Tipos de Abordagem e suas Aplicações para a Enfermagem. In: SCHMITZ,E.M. et al A Enfermagem em Pediatria e Puericultura. Rio de Janeiro/São Paulo: Livraria Atheneu, 1989. Associação Brasileira de Brinquedotecas. A Criança Hospitalizada e suas necessidades
Questões para ser entregue individual ou conforme outra orientação da Professora 1. Monte um quadro focando a assistência à criança hospitalizada: tipos de abordagem e suas aplicações para a enfermagem. 2. O modo de cuidar da mãe interfere na assistência de enfermagem na pediatria? Justifique. 3. Explique como deve ser realizada a higienização dos brinquedos no âmbito hospitalar. Justifique.