Airá Intile : É o filho rebelde de Obatalá. Airá Intilé foi um filho muito difícil, causando dissabores a Obatalá. É dele o mito que conta a primeira vez que Airá Intilé se submeteu a aluém. Airá tinha sempre ao pesco!o colares de contas vermelhas que Obatalá desfez e alternou as contas encarnadas com as contas brancas dos seus seus pr"prios colares. Obatalá entreou entreou a Intilé o seu novo colar, vermelho e branco. #aquele #aquele dia em diante, toda terra saberia que ele era seu filho. $ para terminar o mito, Obatalá fez com que Airá Intilé o levasse de volta ao seu palácio pelo rio, carreando%o em suas costas. &este caminho, Airá Intilé dá aos seus filhos um ar altivo e de sabedoria, prepotente, equilibrado, intelectual, severo, moralista, decidido. Airá Igbonam (Agoynham) ou Ibonã : É considerado o pai do foo, tanto que na maioria dos terreiros, no m's de (unho de cada ano, acontece a foueira de Airá, rito em que Ibon) dan!a sempre acompanhado de Ians), dan!ando e cantando sobre as brasas escaldantes das foueiras. Airá Mofe, Osi ou Adjaos : É o eterno companheiro de O*aui). Aluns constam ainda Oranian, que seria seu pai+ #adá seu irm)o, Aan(u um dos seus sucessores, Oodo que seura dois o*és, sendo o seu d-n r composto de dois umes e é oriinário de tapá+ Os Airá seriam muito velhos, sempre vestidos de branco e usando sei /contas azuis0 em luar dos corais vermelhos, e seriam oriinários da rei)o de 1av'. $*iste também opini)o formada por muitos, baseada na mitoloia e nas diversas fontes sobre as oriens de 2an3, que Oranian seria seu pai+ #adá seu irm)o, Aan(u um dos seus sucessores, e Oodo, o que seura dois o*és, sendo o seu d-n r composto de dois umes e é oriinário de tapá. Os Airá s)o as qualidades de 2an3 muito velhos, sempre vestidos de branco e usando sei /contas azuis0 em luar dos corais vermelhos, e ser)o oriinários da rei)o de 1av'. 4á no entanto actualmente quem considere considere que Airá seria um Ori*á diferente diferente e n)o uma qualidad qualidadee de 2an3. $sta quest)o quest)o requer ainda alum estudo e pesquisa séria.
I: O OBÁ A!"# Obá é palavra da línua iorubá que desina rei. Obá é também um dos epítetos do ori*á 2an3 /n)o confundir Obá, rei, soberano / oba 0, com o ori*á Obá / 5b 0, que é uma das esposas de 2an30. 1eundo a mitoloia, 2an3 teria sido o quarto rei da cidade de Oi", que foi o mais poderoso dos impérios iorubás. #epois de sua morte, 2an3 foi divinizado, como era comum acontecer com os randes reis e her"is daquele tempo e luar, e seu culto passou a ser o mais importante da sua cidade, a ponto de o rei de Oi", a partir daí, ser o seu primeiro sacerdote. sacerdote. &)o e*istem reistros hist"ricos da vida de 2an3 na 6erra, 6erra, pois os povos africanos tradicionais n)o conheciam a escrita, mas o conhecimento do passado pode ser buscado nos mitos, transmitidos oralmente de era!)o a era!)o. Assim, a mitoloia nos conta a hist"ria de 2an3, que come!a com o surimento dos povos iorubás e sua primeira capital, Il'%Ifé, fala da funda!)o de Oi" e narra os momentos cruciais da vida de 2an3: 7&um tempo muito antio, na 8frica, houve um uerreiro chamado Odudua, que vinha de uma cidade do 9este, e que invadiu com seu e*ército a capital de um povo ent)o chamado ifé. uando Odudua se tornou seu overnante, essa cidade foi chamada Il'%Ifé. Odudua teve um filho chamado Acambi, e Acambi teve sete filhos, e seus filhos ou netos foram reis de cidades importantes. A primeira primeira filha deu%lhe 1
um neto que overnou $bá, a seunda foi m)e do Alaqueto, o rei de ueto, o terceiro filho foi coroado rei da cidade de ;enim, o quarto foi Orun), que veio a ser rei de Ifé, o quinto filho foi soberano de 2abes, o se*to, rei de
m dia Orani) levou seus e*ércitos para combater um povo que habitava uma rei)o a leste do império. $ra uma uerra muito difícil, e o oráculo o aconselhou a ficar acampado com os seus uerreiros num determinado sítio por um certo tempo antes de continuar a uerra, pois ali ele haveria de muito prosperar. Assim foi feito e aquele acampamento a leste de Ifé tornou%se uma cidade poderosa. $ssa pr"spera povoa!)o foi chamada cidade de Oi" e veio a ser a rande capital do império fundado por Odudua. O rei de Oi" tinha por título Alafim, termo que quer dizer o 1enhor do
encontrou a mistura máica, que tratou de transportar numa cabacinha. 7A viaem de volta era lona, e a curiosidade de Ians) sem medida. &um certo momento, ela provou da po!)o e achou o osto ruim. uando cuspiu o ole que tomara, entendeu o poder do poderoso líquido: Ians) cuspiu foo@ 72an3 ficou entusiasmadíssimo com a nova descoberta. 1e ele (á era o mais poderoso dos homens, imainem aora, que tinha a capacidade de botar foo pela boca. ue inimio resistiria ue povo n)o se submeteria 2an3 ent)o passou a testar diferentes maneiras de usar melhor a nova arte, que certamente e*iia perícia e precis)o. 7&um desses dias, o obá de Oi" subiu a uma eleva!)o, levando a cabacinha máica, e lá do alto come!ou a lan!ar seus assombrosos (atos de foo. Os disparos incandescentes atiniam a terra chamuscando árvores, incendiando pastaens, fulminando animais. O povo, amedrontado, chamou aquilo de raio. #a fornalha da boca de 2an3, o foo que (orrava provocava as mais impressionantes e*plosBes. #e lone, o povo escutava os ruídos assustadores, que acompanhavam as labaredas e*pelidas por 2an3. Aquele barulho intenso, aquele estrondo fenomenal, que a todos atemorizava e fazia correr, o povo chamou de trov)o. 7Cas, pobre 2an3, a sorte foi%lhe inrata. &um daqueles e*ercícios com a nova arma, o obá errou a pontaria e incendiou seu pr"prio palácio. #o palácio, o foo se propaou de telhado em telhado, queimando todas as casas da cidade. $m minutos, a orulhosa cidade de Oi" virou cinzas. 7
EOba so@E, EOba so@E EO rei se enforcou@E, correu a notícia. 7Cas ninuém encontrou seu corpo e e loo correu a notícia, alimentada com fervor pelos seus partidários, que 2an3 tinha sido transformado num ori*á. O rei tinha ido para o Orum, o céu dos ori*ás.
EOba Fo so@E, EOba Fo so@E. 7#esde ent)o, quando troa o trov)o e o relGmpao risca o céu, os sacerdotes de 2an3 entoam: EO rei n)o se enforcou@E EOba Fo so@ Obá Hoss3@E EO rei n)o se enforcouE. /=f.
Assim narram os mitos, e a morte de 2an3 nada mais é do que a afirma!)o dos antios costumes africanos. 1ua morte teria sido in(usta e por isso o Orum o acolheu como imortal. A e*press)o 7Obá Ho so é evidentemente d?bia. 6anto pode sinificar 7Jei da cidade de =oss3, o que de fato 2an3 também era, como 7O rei n)o se enforcou, frase que poderia ser também traduzida por 7O Jei vive, ou 7Kiva o Jei, forma que é mais comum na nossa tradi!)o ocidental. A vers)o verdadeira n)o importa: divinizado, transformado em ori*á, o obá 2an3, o Alafim de Oi", alcan!ou a imortalidade, dei*ou de ser humano, virou deus. 7Obá Hoss3, 7Kiva o Jei é a f"rmula pela qual, até ho(e, em todos os templos dos ori*ás, é lorificado o nome de 2an3, o rei de Oi", o ori*á do trov)o, senhor da (usti!a. #e todos os ori*ás que marcam a saa da cidade de Oi", nenhum foi mais reverenciado que 2an3, mesmo quando Oi" passou a ser apenas um símbolo esfuma!ado na mem"ria dos atuais seuidores das reliiBes dos ori*ás espalhados nos mais distantes países da diáspora africana do lado de cá e do lado de lá do oceano. $ há muitos elementos para estribar essa afirma!)o. II: 2an3 no &ovo Cundo &o seu aue, o império de Oi" enlobava as mais importantes cidades do mundo iorubá, tendo assim o culto a 2an3, que era o ori*á do rei ou obá de Oi", portanto o ori*á do império, sido difundido por todo o territ"rio iorubano, o que n)o era muito comum, pois cada cidade ou rei)o tinha os seus pr"prios ori*ás tutelares e poucos eram os que recebiam culto nas mais diversas cidades, como $*u, Ossaim e Orunmilá. O fato é que o apoeu da domina!)o da cidade de Oi" sobre as outras resultou numa rande difus)o do culto a 2an3. #urante muito tempo a for!a militar de Oi" proteeu os iorubás de invasBes inimias e impediu que seu povo fosse ca!ado e vendido por outros africanos ao tráfico de escravos destinado ao &ovo Cundo, como acontecia com outros povos da 8frica. uando o poderio de Oi" foi destruído no final do século 2KIII por seus inimios, tanto a capital Oi" como as demais cidades do império desmantelado ficaram totalmente desproteidas, e os povos iorubás se transformaram em ca!a fácil para o mercado de escravos. Loi nessa época que o ;rasil, assim como outros países americanos, passou a receber escravos iorubás em rande quantidade. Kinham de diferentes cidades, traziam diferentes deuses, falavam dialetos distintos, mas tinham todos alo em comum: o culto ao deus do trov)o, o obá de Oi", o ori*á 2an3. Isso e*plica a enorme importGncia que 2an3 ocupa nas reliiBes africanas nas Américas, pois foi e*atamente nesse momento hist"rico da cheada dos iorubás que as reliiBes africanas se constituíram nas Américas, isto é, no século 2I2.
assim maior liberdade de movimento e oraniza!)o, podendo se reunir nas irmandades cat"licas, com novas e amplas oportunidades para recriarem aqui a sua relii)o africana. &ascido da iniciativa de neros iorubás que se reuniam numa irmandade reliiosa na ire(a da ;arroquinha, em 1alvador, o primeiro templo iorubá da ;ahia foi, emblematicamente, dedicado a 2an3. 1eus ritos, que em rande parte reproduziam a prática ritualística de Oi", acabaram por moldar a relii)o que viria a se constituir no candomblé, e cu(a estrutura!)o hierárquica sacerdotal em rande parte reconstituía simbolicamente a oraniza!)o da corte de Oi", isto é, a corte de 2an3, como veremos adiante. $mblemas que na 8frica eram e*clusivos do culto a 2an3 foram eneralizados entre n"s para o culto de todos os ori*ás, como o uso do colar ritual de inicia!)o chamado quelê. nidos. $m =uba, onde a santeria é t)o viva e diversificada como o candomblé brasileiro, s)o muitos os indícios da supremacia ritual de 2an3. 6alvez o mais emblemático se(a o fato de que, durante a inicia!)o ritual, apenas os sacerdotes dedicados a 2an3, seundo a tradi!)o cubana, t'm o priviléio sobre todos os demais de receber na cabe!a o sanue sacrificial, o que indicaria que o ori*á do trov)o tem preced'ncia protocolar, e seu tambor é o mais sarado instrumento musical da santeria. 5
Onde quer que tenha se formado aluma manifesta!)o americana da relii)o dos ori*ás, se(a o candomblé, o *an3, o batuque, o tambor%de%mina, a santeria cubana, ou o *an3 caribenho, a mem"ria do ori*á 2an3, o obá de Oi", manteve o realce que o ori*á do império detinha na 8frica. =omo obá, 2an3 também era o mais alto maistrado de seu povo, o (uiz supremo. 1ua rela!)o com o ministério da (usti!a fez dele, entre os seuidores das reliiBes dos ori*ás, o senhor da (usti!a. &um mundo de tantas in(usti!as, desiualdades sociais, marinaliza!)o, abandono e falta de oportunidades sociais de todo tipo, como este em que vivemos, o ori*á da (usti!a anhou cada vez maior importGncia. 1eu prestíio foi consolidado. Jeiterou%se a posi!)o de 2an3 como o rande patrono do candomblé e rande protetor de todo aquele que se sente de alum modo in(usti!ado. III: A corte do rei
A importGncia de 2an3 na constitui!)o do candomblé, que é brasileiro, pode ser identificada também quando e*aminamos as estruturas hierárquicas e a oraniza!)o dos papéis sacerdotais do candomblé em compara!)o com o ordenamento dos caros da pr"pria corte de Oi", a cidade de 2an3. &)o há d?vida que as sacerdotisas e sacerdotes que fundaram os primeiros templos de ori*á no ;rasil tinham rande intimidade com as estruturas de poder que overnavam a cidade do Alafim. O candomblé é, de fato, uma espécie de mem"ria em miniatura da cidade africana que o nero perdeu ao ser arrancado de seu solo para ser escravizado no ;rasil. Ke(amos aluns dos caros mais importantes da corte de Oi" e sua correspond'ncia com a hierarquia do candomblé de na!)o na3. ;asorun S primeiro ministro e presidente do conselho real, que tinha mais poder que o pr"prio rei, e*ercendo também a fun!)o de reente quando da morte do rei até a ascens)o do sucessor. &o candomblé é título dado a homem que a(uda na administra!)o do terreiro, um dos membros do corpo de ministros em terreiros dedicados a 2an3. Alpínní S chefe do culto de eunum. &o ;rasil, iualmente alto sacerdote do culto dos ancestrais. ;alT?n S chefe militar. &o candomblé, caro masculino de chefia da casa de Oum. O falecido olu3 Aenor Ciranda Jocha, foi, por mais de UP anos, o baloum da =asa ;ranca do $nenho Kelho. 9á-nnTn S embai*ador do rei que tinha como encaro o culto ao ori*á Oc3, divindade da aricultura. &o candomblé, espécie de a(udante do pai%de%santo na provis)o do terreiro. AFiniF? S chefe dos rituais f?nebres. &o ;rasil, oficial do a*e*', que pode ser um babalori*á ou ialori*á ou alum eb3mi ou o) especializado nos ritos mortuários. Asípa S representante dos overnadores das aldeias na corte de Oi" e encarreado do culto ao ori*á Oum. &o ;rasil, dinidade masculina. Isubin S corpo de tocadores e musicistas do palácio. &o candomblé s)o chamados alab's, nome que na 8frica era dado aos escarificadores, os que faziam os aber's, as marcas faciais identificadoras da oriem. Vlrí S corpo de uardas da corte e de mulheres. Adoradores de O*"ssi e Ossaim, eram também uma espécie de mensaeiros e provedores reais. &o candomblé, sacerdotes que cuidam da casa de Ossaim. WFe(X TrXs S literalmente, a seunda pessoa do ori*á, caro sacerdotal da corte do Alafim, sacerdotisa que n)o incorpora o ori*á, mas que cuida de seus ob(etos sarados. &o candomblé, equede, todas mulher n)o%rodante confirmada para cuidar do ori*á em transe e de seus pertences rituais. O caro, 6
elevado na 8frica, deu s equedes posi!)o de relevo também no candomblé, onde t'em o rau de senioridade. VYá%ns" S m)e do culto do 2an3 do rei /divindade pessoal0. &o ;rasil, nome de uma das fundadoras do candomblé e título feminino. VYáalémonlé S encarreada de cuidar do assentamento pessoal do rei. $ntre n"s, quem cuida do assentamento principal do pai%de%santo. VYá%lé%Trí S m)e dos ritos de oferecimento a cabe!a do rei, mantém a representa!)o material da cabe!a do rei em sua casa. &o candomblé preside o bori. VYá mond ou bbá S Culher que cultua os espíritos dos reis mortos. =hamam%na também de ;bá. O alafim dirie%se a ela como 7pai, pois elas det'm a autoridade do 7pai, como as dirientes da umbanda brasileira, também chamadas de babá. VYá%le%abT S prepara os banhos rituais do rei. &o candomblé, mulher que cuida dos potes de amassi. VYá%Fré S chefe das mulheres ilaris+ é ela quem coroa o rei no ato de sua entroniza!)o. A atribui!)o, mantida, é ho(e no candomblé da compet'ncia de pais e m)es%de%santo que colocam no trono o novo chefe do terreiro nas ocasiBes de sucess)o. Cuitos outros títulos do candomblé foram tomados de outras cidades e institui!Bes que n)o a corte de Oi", mas é inescondível a importGncia da cidade de 2an3 na estrutura!)o dos terreiros brasileiros de oriem iorubá. #e toda sorte, s)o variadas as adapta!Bes, muitas vezes esvaziando%se o caro de suas fun!Bes oriinais. =om o sentido de refor!ar a idéia do terreiro de candomblé como sucedGneo da 8frica distante, para leitimar suas estruturas de mando e valorizar sua oriem, caros de tradi!)o africana s)o recuperados e adaptados com certa liberdade pelos dirientes brasileiros. Assim suriram os obás ou mobás de 2an3, conselho de doze ministros do culto de 2an3, instituído inicialmente no terreiro A*é Op3 Afon(á na década de MNQP por sua fundadora C)e Aninha Obabií, assessorada pelo babala3 Cartiniano $liseu do ;onfim, e depois reinstalado nos mais diferentes terreiros que t'm 2an3 como patrono. Os obás brasileiros de 2an3 t'm fun!Bes diversas daquelas africanas, mas os nomes dos caros s)o refer'ncia constante vida político%administrativa dos iorubás antios. $les s)o divididos em ministros da direita, com direito a voto, e ministros da esquerda, sem direito a voto. =ada um deles conta com dois substitutos, o otum e o ossi. O con(unto dos obás da direita criados por m)e Aninha é constituído dos seuintes caros: Abí"d?n /nome que desina aquele nascido no dia da festa0+ Zre /título que se dá a uma pessoa proeminente da corte0+ Zr"lu /o eleito da cidade0+ 6la /nome masculino da realeza de Oi"0+ Odofun /caro da sociedade Oboni0+ HaFanfT /título do eneral do e*ército0. Os da esquerda s)o: OnansTFun /pai oficial do obá de Oi"0+ Aressá /título do obá de Aresá0+ $lerYin /título do obá de $rin0+ Oni HoYí /título do obá de IFoYi0+ OlubTn /título do obá de Ibon0+ e 1Trun /chefe do conselho do rei de Oi"0. $stes nomes desinam ho(e postos sacerdotais, dinidades reliiosas+ na 8frica desinavam caros de homens poderosos que controlavam a sociedade ioruba e suas cidades. >m rei africano era, antes de mais nada, um uerreiro. Duerras, conquistas, povoamento de novas terras, escravid)o, descoberta e renascimento, tudo isso faz parte da hist"ria de 2an3, rei e uerreiro, como faz parte das mem"rias de nossa pr"pria civiliza!)o de brasileiros. Cas 2an3 é mais que hist"ria da 8frica e mais que hist"ria do ;rasil. 1eu duplo machado visa a (usti!a para cada um dos dois lados que se opBem na contenda, suas pedras%de%raio s)o o santuário uardi)o das esperan!as de 7
tanta ente que padece em conseq['ncia das mazelas de nossa sociedade: desempreo, falta de oportunidades, incompreens)o e dificuldade no trabalho, escassez de meios de sobreviv'ncia, perseui!)o e disputas insanas, inve(a, complica!Bes leais de toda sorte, e tantas outras coisas ruins. Apelar a 2an3, para o devoto, é buscar alento, realimentar esperan!as, prover%se de for!as para a difícil aventura da vida. Cas no terreiro em festa, sob o roncar frenético dos tambores, a dan!a de 2an3 n)o é t)o somente demonstra!)o de eneria e de for!a marcial, de cad'ncia e de vitalidade, mas iualmente harmonia, ra!a e sensualidade. 2an3 é duro, mas também se compraz com o bom da vida. O paladar de 2an3 lembra as qualidades do bom lut)o que n)o dispensa (amais o prazer da boa mesa, tanto que até nos faz pensar nele como um rei ordo e uloso. 6anto é assim que suas oferendas votivas devem ser sempre servidas em rande quantidade, pois 2an3 aprecia que seus s?ditos comam muito e bem. 1eu prato predileto é o amalá, comida feita base de quiabo, camar)o, pimentas de várias qualidades, e tantos outros condimentos que s)o verdadeiras iuarias, utilizados pelas filhas%de%santo que muito apreciam e disputam a prepara!)o da comida para os deuses. A comida servida no terreiro serve também para 7reunir ente, e 2an3 é o ori*á que mais as acolhe, pois toda corte é repleta de s?ditos e n)o seria diferente no terreiro, onde há sempre muita ente, muita dan!a e muita comida. Além de ori*á comil)o, 2an3 também é o rande amante e teve muitas mulheres como contam seus mitos. >m deles relata que 2an3 era um rei poderoso, um dia apareceu em seu reino um rande animal que devorava a todos, homens, mulheres e crian!as. 2an3, acompanhado de suas tr's mulheres resolveu enfrentar o animal monstruoso. 2an3 amava suas esposas, mas amava também todos os homens e mulheres que o acercavam, e nada mais natural do que defend'%los de tal criatura. O ser monstruoso ruia e toda a terra tremia. 2an3 n)o quis soldados para vencer o animal. 2an3 lan!ou chamas de sua boca e derrubou o animal matando%o depois num s" olpe com seu o*é. Kitorioso, 2an3 cantou e dan!ou, estava feliz. #ali em diante foi ainda mais amado pelos homens e mulheres de seu povo e por todos aqueles que ouviram falar de seu feito. &o ;rasil, o aspecto er"tico da representa!)o de 2an3 foi muito atenuado em compara!)o a =uba, onde seus estos de dan!a insinuam rela!Bes se*uais e seus ob(etos de forma fálica enfatizam seu osto pelo se*o. Cas mesmo entre n"s é o ori*á de muitas esposas. 6antas mulheres e tantas pai*Bes carnais n)o refor!am e s)o a confirma!)o de que a vida pode ser plena das do!uras e ozos do amor O que queremos dizer é que 2an3 n)o nos remete t)o somente aos aspectos sérios, circunspectos e duros dos compromissos do dia%a%dia, mas nos faz lembrar, sim, o tempo todo, que a vida é muito boa para ser vivida, e por isso mesmo temos que lutar por ela sem descanso. É por essa raz)o que o fiel sempre pede passaem para o rei, ritando para o povo reunido em festa: 7#ei*ai passar, dei*ar passar 1ua Ca(estade, 7Ha3, Fa3 Habiessi. IK: As qualidades ou avatares de 2an3 ualidade é o termo usado no candomblé para desinar as m?ltiplas invoca!Bes ou avatares dos ori*ás, assim como no cristianismo, no caso de &ossa 1enhora e Resus =risto, as qualidades referem%se a cultos específicos do ori*á, em que s)o invocados aspectos diversos da sua biorafia mítica, o que inclui as diferentes idades, as suas lutas e aventuras, sua lorifica!)o e deifica!)o etc. &o candomblé, os ori*ás dividem%se em vários ori*ás%qualidade, e se se acredita que cada ser humano, que é considerado filho ou descendente mítico do ori*á, oriina%se de um dos ori*ás%qualidade. $ssas qualidades procuram dar conta do arquétipo de cada ori*á, uma vez que se baseiam em mitos, e é por 8
meio do oráculo do (oo de b?zios que o pai ou m)e%de%santo determina de qual delas o filho%de%santo se oriina. Ke(amos uma descri!)o de alumas qualidades que s)o ob(eto de diferencia!)o no culto de 2an3 na lituria de aluns terreiros afro%brasileiros. Agodô
1incretizado com 1)o Rer3nimo em terreiros onde o sincretismo ainda é observado+ é aquele que, ao lan!ar raios e foo sobre seu pr"prio reino, o destr"i, como contado no mito apresentado neste trabalho. Dente de Aod3 é do tipo uerreira, violenta, brutal, imperiosa, aventureira, amante da ordem e da (usti!a, mesmo que isso implique numa (usti!a pautada em seu pr"prio benefício. Obacossô
$m sua passaem pela cidade de =oss3, 2an3 recebe o nome de Obacoss3, ou se(a, o rei de =oss3. =onta o mito que, depois de passar pela terra dos tapas, 2an3 refuiou%se na cidade de =oss3, mas a dor de haver destruído seu povo, levou o rei a suicidar%se. &o momento da morte de 2an3, Ians) cheou ao Orum e, antes que 2an3 se tornasse um eum, pediu a Olodumare que o transforme num ori*á. Assim 2an3 foi feito ori*á pelo pedido de sua mulher Ians). Os filhos de Obacoss3 s)o serenos, tiranos, cruéis, aressivos, severos, amorosos, moralistas. Jacutá
É o senhor do edun%ará, a pedra de raio. =onta o mito que o reino de Racutá foi atacado por uerreiros de povos distantes, num dia em que seus s?ditos descansavam e dan!am ao som dos tambores. 4ouve muita correria, muita morte, muitos saques. Racutá escapou para a montanha seuido de seus conselheiros, donde apreciava o sofrimento de seu povo. Irado, o rei chamou sua mulher Ians), que, cheando com o vento, levou consio a tempestade e seus raios. Os raios de Ians) caíram como pedras do céu, causando medo aos invasores, que fuiram em debandada. Cais uma vez, Racutá fora acudido por Ians), e mais, sua eterna amante deu%lhe, dessa feita, o poder sobre as pedras de raio, o edun%ará. Dente de Racutá tem espírito de um velho pensador, (usticeiro, incansável, brutal, colérico, impiedoso, preocupado com a causa dos outros. Afonjá
m dos mitos que relata tal passaem nos conta que Afon(á e Oum sempre lutaram entre si, ora disputando o amor da m)e, Ieman(á, ora disputando o amor de suas eternas mulheres, Oiá, O*um e Oba. 9utaram desde o come!o de tudo e ainda lutam ho(e em dia. &o entanto, naquele tempo, ninuém vencia Oum. $le era ardiloso, desconfiado, (amais dava as costas a um inimio. >m dia, Afon(á cansado de tanto perder as batalhas para Oum, convidou%o para ter com ele nas montanhas. Afon(á sempre apelava para a maia quando se sentia amea!ado e n)o seria diferente daquela vez. Ao chear no pé da montanha de pedra, Afon(á lan!ou seu machado o*é de fazer raio e um rande estrondo se ouviu. Oum n)o teve tempo de fuir, foi soterrado pelas pedras de Afon(á. 2an3 Afon(á venceu Oum naquele dia e somente naquele dia.
Baru
=onta o mito em que 2an3 recebe de O*alá um cavalo branco como presente. =om o passar do tempo, O*alá voltou ao reino de 2an3 ;aru, onde foi aprisionado, passando sete anos num calabou!o. =alado no seu sofrimento, O*alá provocou a infertilidade da terra e das mulheres do reino de ;aru. Cas 2an3 ;aru, com a a(uda dos babala3s, descobriu seu pai O*alá preso no calabou!o de seu palácio. &aquele dia, ele mesmo e seu povo vestiram%se de branco e pediram perd)o ao rande ori*á da cria!)o, terminando o ato com muita festa e com o retorno de O*alá a seu reino. Assim seus descendentes míticos air)o sempre como um (ovem desconfiado, ambicioso, eleante, teimoso, hospitaleiro, alante+ neste avatar, e somente neste, 2an3 sure como um rei humilde e solidário com a causa de seu povo. Airá
$m aluns terreiros de candomblé cultua%se um rupo de qualidades de 2an3 que recebe o nome de Airá. 6ambém se acredita que Airá se(a um ori*á diferente de 2an3 e que participa de aluns de seus mitos. O mais comum é considerar%se Airá como um 2an3 branco. Ke(amos alumas das subdivisBes de Airá. Airá Intilé
É o filho rebelde de Obatalá. Airá Intilé foi um filho muito difícil, causando dissabores a Obatalá. >m dia, Obatalá (untou%se a Odudua e ambos decidiram prear uma reprimenda em Intilé. $stava Intilé na casa de uma de suas amantes, quando os dois velhos passaram porta e levaram seu cavalo branco. Airá Intilé percebeu o roubo e sabedor que dois velhos o haviam levado seu cavalo predileto, saiu no encal!o. &a perseui!)o encontrou Obatalá e tentou enfrentá%lo. O velho n)o se fez de roado, ritou com Intilé, e*iindo que se prostrasse diante dele e pedisse sua ben!)o.
É considerado o pai do foo, tanto que na maioria dos terreiros, no m's de (unho de cada ano, acontece a foueira de Airá, rito em que Ibon) dan!a acompanhado de Ians), pisando as brasas incandescentes. =onta o mito que Ibon) foi criado por #adá, que o mimava em tudo o que podia. &)o havia um s" dese(o de Ibon) que #adá n)o realizasse. >m dia #adá surpreendeu Ibon) brincando com as brasas do fo)o, que n)o lhe causavam nenhum dano. #esde ent)o, em todas as festas do povoado, lá estava Airá Ibon), sempre acompanhado de Ians), dan!ando e cantando sobre as brasas escaldantes das foueiras. &essa qualidade, os seuidores de Airá t'm espírito (ovem, perioso, violento, intolerante, mas s)o brincalhBes, aleres, ostam de dan!ar e cantar. Airá Osi
É o eterno companheiro de O*aui). >m dia, passando O*aui) pelas terras onde vivia Airá Osi, despertou no (ovem rande entusiasmo por seu porte de uerreiro e vencedor de batalhas. 1em que O*aui) se desse conta, Airá trocou suas vestes vermelhas pelas brancas dos uerreiros de O*aui), misturando%se aos soldados do rei de $(ib3. &o caminho encontraram inimios ao que Osi, medroso que era, escondeu%se atrás de uma rande pedra. O*aui) observava a disputa do alto de um monte, 10
esperando o momento certo de entrar nela, mas, para sua surpresa, percebeu que um de seus soldados estava de c"coras, escondido atrás da pedra. 1orrateiramente O*aui) interpelou seu soldado e para sua surpresa deparou%se com Airá que chorava de medo, implorando seu perd)o, por haver enanado o rande uerreiro branco. O*aui), por sua bondade e sabedoria, compadeceu%se de Airá Osi. &o entanto, como puni!)o pela mentira de Airá, decidiu que naquele mesmo dia o (ovem voltaria sua terra natal vestindo%se de branco e nunca mais usaria o escarlate, devendo dedicar%se a arte da uerra para poder seuir com ele em suas eternas batalhas. Os filhos de Airá Osi s)o considerados (ovens uerreiros, lutam pelo que querem, mas as vezes dei*am%se enanar pela impetuosidade. 1)o calmos, n)o tidos a trabalhos intelectuais, s)o amorosos, aleres e sentimentais. 1)o muitas as invoca!Bes ou qualidades de 2an3, que, como vimos, se (untam s outras tantas de Airá. $m diferentes países e reiBes da diáspora africana em que a relii)o dos ori*ás sobreviveu e prosperou, há diferentes variantes das qualidades dos ori*ás, pois cada rupo, eoraficamente isolado, ao lono do tempo, acabou por selecionar esta ou aquela passaem mítica do ori*á. Cuitas foram esquecidas, outras anharam novos sinificados. =ada qualidade é representada por diferentes cores e outros atributos, de modo que, pelas vestes, contas e ferramentas, ritmos e dan!as, é possível identificar a qualidade que está sendo feste(ada, principalmente no barrac)o de festas dos terreiros. &)o s" por esses aspectos, mas também pelas oferendas votivas e pelos animais que s)o sacrificados em favor da divindade. O culto se multiplica, o poder de 2an3 se e*pande. Laces diferentes para outras faces. #iz um oriFi: 5lT á\á la \ul? Olod" TlT od" OYá \alé ni il Irá 1anT \alé ni Hos". 1enhor do som do trov)o 1enhor do pil)o Oiá desaparece na terra de Irá 2an3 desaparece na terra de =oss3 2an3 de Oi", 2an3 de =oss3. #a 8frica e das América. 2an3 é um e é muitos, mas, como indica o sentimento dos devotos, essa multiplicidade pode ser reunida numa s" pessoa: 2an3. É o mesmo que dizer, nas palavras de pai <ércio de 2an3, babalori*á do Il' AlaFetu A*é Airá: É tudo 2an3
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