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Dodecafonismo em Schoenberg, Webern, Berg e Guerra Peixe | O século da música
O século da música
Dodecafonismo em Schoenberg, Webern, Berg e Guerra Peixe Publicado em 08/06/2010
Uma das discussões provavelmente mais sem sentido que já foram entabuladas foi a questão sobre se o dodecafonismo é mecânico ou respeita a criatividade do compositor. Como Co mo qualquer técnica composicional, o composicional, o dodecafonismo é apenas uma técnica. Quem usa a técnica é o compositor. co mpositor. Ele é quem decide as coisas, coisa s, e faz o que bem entende. Na verdade, antes de ficar discutindo sobre isso, é interessante comparar obras dodecafônicas de diferentes compositores, para ver como cada um usou a série. Isso pode ser feito de várias formas. Mas proponho usar a primeira peça dodecafônica de Schoenberg: a Suíte op. 25 para para piano. Tempos atrás escrevi atrás escrevi sobre essa peça, e sobre a técnica dodecafônica. Neste texto tem a gravação do Glenn Gould, e as várias formas da série usada por po r Schoengberg. Schoengberg. Só falta a partitura, mas tem ela aqui. aqui . Quando Schoenberg inventou o dodecafonismo. dodecafonismo . Schoenberg foi o inventor da técnica, e compartilhou suas experiências com seus alunos, ou já colegas, que formaram com ele a chamada “2ª Escola de Viena”: Webern e Berg. Webern radicalizou o uso da técnica em vários aspectos, como se pode ver pela sua peça talvez mais paradigmática: o Concerto op. 24. 24. A série usada por Webern Webern já é, por si só um trabalho de contraponto dodecafônico: dodecafônico:
Pois Webern partiu de um motivo de três notas, que usou nas formas original, invertida (quando os intervalos vão na direção contrária), retrogradada (as notas de trás para frente), e retrogradada invertida (as notas de trás para frente com os intervalos na direção contrária. Tem a partitura aqui. aqui . E dá pra ver que o Webern, além de fazer uma série que já concentra o máximo de informação, ainda opta por inviabilizar toda a discursividade melódica, pois apresenta a série com pequenas seqüências de três notas que vão aparecendo cada uma num timbre diferente, e em durações diferentes. Além disso, Webern opta por “quebrar” as oitavas das notas que estariam próximas, evitando que soem no mesmo registro. Ouça, mas não se assuste:
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Já Alban Berg tem uma forma completamente diferente de usar a série. Por exemplo, no seu Concerto para violino. Partitura aqui. Ao contrário das coisas do Schoenberg e do Webern, cuja série sempre aparece enunciada já no início da obra, no concerto do Berg a série só aparece inteira no compasso 15, parte do violino solista:
Como se vê, ao contrário de Schoenberg e Webern, que preferiam construir séries totalmente isentas de sugestões tonais, a série do Berg é feita de tríades. Um Sol menor seguido de sua dominante, o que seria um sacrilégio se o dodecafonismo realmente tivesse qualquer tipo de regra estrita. Além disso, Berg não enuncia a série logo de cara, mas desmonta ela em arpejos de notas alternadas (sol-ré-la-mi e sib-fá#-dó-sol#) que formam “acordes” de quintas empilhadas. Já logo no início, há muita coisa apresentada que simplesmente não vem da série. Ou seja, Berg não usa a série como única fonte de material musical, mas mescla material da série com material não saído dela. Veja:
Berg violin concerto 1st movement (1/2)
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E para fechar as comparações, a Suite para violão, composta em 1946 por Guerra Peixe, para mostrar a seu amigo Mozart Araújo que era possível usar a técnica dodecafônica para fazer música brasileira. A suíte de Guerra Peixe tem um Ponteado, um Acalanto e um Choro. O brasileiro usa uma série construída com um motivo de três notas, como Webern, sendo o motivo transposto e ligeiramente modificado. Mas, como Berg, harmoniza com material que não vem da série. Não conheço gravação comercial, nem partitura editada. Tenho uma gravação meio precária aqui, mas não consigo um jeito de colocar isso no wordpress. Um dia eu atualizo. Tem também uma gravação não c omercial que foi tocada no programa radiofônico do Fábio Zanon (tem aqui). A partitura também preciso digitalizar, mas não existe edição. Tem um manuscrito do Guerra Peixe, se não me engano está na Divisão de Música e Arquivo Sonoro da Biblioteca Nacional. E uma edição crítica foi feita pelo Clayton Vetromilla em sua dissertação de mestrado. A série do Guerra Peixe:
Aliás, esse dodecafonismo brasileiro do guerra peixe é uma das coisas mais interessantes que já existiram. A sinfonia n° 1 dele eu já olhei a partitura, mas acho que nunca foi tocada ou gravada. E é um negócio interessante pacas. Fica a dica.
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Sobre André Egg Músico, historiador e crítico. Professor da UNESPAR/FAP. Doutor em História Social pela USP. Ver todas as mensagens por André Egg →
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5 respostas para Dodecafonismo em Schoenberg, Webern, Berg e Guerra Peixe https://oseculodamusica.wordpress.com/2010/06/08/dodecafonismo-em-schoenberg-webern-berg-e-guerra-peixe/
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Pingback: Dodecafonismo ou dodecafonismos? | Um drible nas certezas
yermandu (@yermandu) disse: 07/11/2011 às 11:47
só vou dizer uma coisa. obrigado. Responder
Marcelo Liuzz disse: 13/12/2011 às 13:23
incrível… muitas coisas fizeram sentido. Responder
Wandique disse: 19/04/2012 às 17:23
André, Me parece que que a idéia de serialismo do Webren é muito mais restritiva que o dodecafonismo de Shoenberg. Como discípulo Webern “aprimorou” a técnica dodecafônica de seu mestre … Responder
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