A ideo ideologia logia do trabalho Paulo Sérgio do Carmo
Orientações pedagógicas e Sugestões de atividades Maria Lúcia de Arruda Aranha
A OBRA
D esde que as sociedades se tornaram mais complexas, foi introduzida a separação entre atividade intelectual e trabalho manual, com a conseqüente desvalorização deste último, exercido por escravos e servos. Com a ascensão da burguesia, a visão pejorativa do trabalho foi substituída substit uída pela sua valorização. valoriza ção. No entanto, esse discurso mascarou a exploração da sociedade dividida em classes, ou seja, seu caráter ideológico, ao ocultar ocultar a alienação al ienação no trabalho, que traz em seu bojo também a alienação alie nação no lazer. Esses problemas ainda hoje nos afligem, apesar de termos superado as piores fases do taylorismo e do fordismo ao entrarmos entrarmos na era de ser viços e da flexibilização da produção. Se a globalização e o neoliberalismo trouxeram novas maneiras de produzir e de consumir, ainda convivemos conviv emos com formas arcaicas de exploração. Cada Cada vez mais teóricos teór icos se debruçam debr uçam sobre os temas do “fim da sociedade do trabalho”, porém o importante é rever o sentido do trabalho para a vida humana a fim de “trabalhar menos para que todos trabalhem e vivam melhor”.
Sociologia pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo. Paulo. Paulo Sérgio do Carmo Formado em Sociologia Mestre em e m Filosofia pela p ela PUC de São Sã o Paulo.Autor de O trabalho na economia global , Editora Moderna, Merleau-Ponty: uma introdução, Editora Educ, e Culturas da rebeldia: a juventude em questão , Editora Senac.
TEMAS ABORDADOS • Histórico da noção de trabalho ••Dadesvalorizaçãodotrabalhoàsuaexaltação•Aéticaprotestanteeavalorização Da desvalorização desvalorizaçãodo do trabalho à sua suaexaltação exaltação •Aéticaprotestanteeavalorização •A A ética protestante protestante e a valorização do trabalho • Capitalismo e exploração do trabalho • Conceituação de ideologia • O O tempo como como mercadoria mercadoria • Taylorismo e fordismo ••Trabalho Trabalho e lazer alienados • Correntes anarco-sindicalistas •Trabalho Trabalho feminino • O trabalho nos países socialistas • Neoliberalismo, globalização, consumismo e trabalho • O sentido humano humano do do trabalho trabalho
ORIENTAÇÕES PEDAGÓGICAS
O s suplementos que acompanham os livros da Coleção Polêmica têm a finalidade de auxiliar o
Em função dos avanços tecnológicos e da constituição de uma sociedade informatizada, as profissões nascem e se modificam com velocidade surpreendente, e o excesso de informações disponível exige uma educação diferente da tradicional. Dizendo de outro modo, no mundo do trabalho precisamos de pessoas que tenham flexibilidade para enfrentar rapidamente situações novas, com capacidade inventiva e espírito de grupo. Diante da avalanche de informações, que elas sejam críticas o suficiente para selecioná-las e avaliá-las. Diante dos riscos de massificação, que possam manter a autonomia do pensar e do agir. É verdade que o desafio é grande e exige mudanças de comportamento nas mais diversas áreas de atuação. No que se refere ao nosso espaço de leitura, as reflexões que podemos fazer a respeito se referem a alguns pontos que passaremos a destacar.
trabalho em sala de aula, dando subsídios para o melhor aproveitamento do texto. Ainda mais quando se trata de obras de leitura complementar, que visam justamente aprofundar o conhecimento, ampliar o leque de análises possíveis de determinados temas e abrir o horizonte dos alunos em múltiplas direções. Aproveitando as mudanças ocorridas na reformulação dos títulos da Polêmica, como atualização das informações, revisão dos conteúdos, mudanças gráficas e visuais, os suplementos com orientações pedagógicas e sugestões de atividades também se adaptam a essa nova visão que se fundamenta numa concepção contemporânea a respeito do que seja a aprendizagem e, dentro desse vasto espectro, o que é compreensão leitora. Em sintonia com as exigências dos novos tempos, as atividades propostas não se limitam à simples “devolução” mecânica do que foi lido, porque o mundo de hoje exige muito mais do que isso. De fato, há tempos, os pedagogos advertem sobre a importância de dar condições ao leitor para que ele se aproprie de um texto de forma adequada e se torne capaz de aplicar os conhecimentos adquiridos em situações as mais diversas. Mas o que infelizmente tem sido constatado em pesquisas educacionais realizadas até mesmo por órgãos internacionais é que nem sempre nossos jovens conseguem ser bons leitores. Para reverter esse quadro, é preciso considerar que a simples transmissão de informações não é suficiente, embora com isso não estejamos menosprezando a aprendizagem dos conteúdos. Estes são importantes, desde que sua apreensão esteja ligada ao desenvolvimento de competências, ou seja, à capacidade de utilizar, integrar e mobilizar esses conhecimentos em novos contextos, diante dos problemas e desafios que precisamos enfrentar, seja no trabalho ou na vida pessoal e social.
Compreensão do texto
Compreender um texto supõe exercitar a disposição de “ouvir o autor” (anterior à tentação de “polemizar” com ele); perceber quais as idéias centrais do seu pensamento e a maneira pela qual argumenta. Nessa fase, é importante que o professor verifique se o leitor sabe identificar o autor, a editora, se sabe consultar um sumário, se faz anotações (como esquemas e fichamentos) durante a leitura, se levanta as dificuldades de vocabulário e se discrimina os conceitos fundamentais. Interpretação e análise crítica do texto
A interpretação e a crítica revelam dois momentos posteriores à compreensão. Nessa fase começa-se a “ler nas entrelinhas”, a identificar as posições do autor, os 2
valores subjacentes, a coerência da exposição, o que significa estabelecer um diálogo com o autor, concordando ou não com algumas argumentações desenvolvidas, antepondo a elas as suas próprias visões de mundo.
Interdisciplinaridade
A interdisciplinaridade é a tentativa de superar a compartimentalização das disciplinas, integrando os conhecimentos esparsos em uma visão holística, global. De fato, se no mundo contemporâneo até as ciências rompem fronteiras com a criação das chamadas ciências híbridas, também os estudantes precisam ampliar o olhar além dos enfoques precisos de uma determinada disciplina, descobrindo a complementaridade entre as áreas do saber. Evidentemente, a ordem pela qual expusemos esses diversos passos é apenas didática, cabendo ao leitor não desprezar essas etapas, mas exercitá-las sempre que possível. É dentro desse espírito que sugerimos as questões seguintes.
Problematização
A problematização é uma espécie de coroamento do trabalho intelectual de decifração de um texto. Nessa fase é importante a contextualização, pela qual as informações e os conceitos são confrontados com nossa experiência de vida, com os problemas a serem enfrentados, identificando as ressonâncias provocadas pela leitura, vivificando-as, por assim dizer. De nada adianta acumular conhecimentos se estes não nos servirem para nosso cotidiano. Só assim poderemos dar significados ao mundo e à nossa própria realidade.
SUGESTÕES DE ATIVIDADES presentamos algumas sugestões de atividades, A lembrando que elas poderão ser aproveitadas de diversas
também por que o desenvolvimento tecnológico dos tempos atuais não cumpriu aquela previsão.
maneiras, seja para seu uso integral, seja selecionadas segundo o tempo disponível e as características dos alunos. O professor poderá ainda inspirar-se nelas para elaborar outras questões, de acordo com os acontecimentos de sua comunidade. Independentemente do tipo de questão sugerida, poderão ser escolhidas as que demandam resoluções simples ou solicitar que sejam feitos seminários ou dissertações. O esforço da elaboração pessoal das próprias idéias é fundamental para a autonomia do pensar. Quando necessário, algumas questões são acompanhadas de esclarecimentos cuja intenção é oferecer pistas que ampliem o trabalho de pesquisa dos alunos. É importante destacar que, ao lado do trabalho individual, devem ser estimulados os debates, o confronto de opiniões, as atividades em equipe: esse ainda é um exercício de pluralismo, tão essencial à democracia.
“Somente uma concepção ideológica da sociedade pôde imaginar sociedades sem ideologias.” Assim se expressou o filósofo marxista Althusser. Ao que completou o filósofo francês André Comte-Sponville: “E somente uma concepção ideológica do marxismo (...) pôde imaginar que ele escapa da ideologia”. A partir desses dois comentários, atender às questões: a) Definir o conceito marxista de ideologia. b) Mesmo tratando-se de um conceito plasmado no século XIX, pode-se dizer que a ideologia sempre existiu e ainda persiste? c) contra que ideologia os burgueses do início do capitalismo tiveram de se opor? d) Considerando a citação de ComteSponville, analisar a crise do “socialismo real” na antiga União Soviética. 2.
Organizar grupos para fazer uma seleção de poesias e letras de música cujo tema seja o trabalho, a fim de analisar que tipo de ideologia encontra-se subentendido em cada uma. Após a seleção e a análise, montar uma exposição classificando os diversos tipos de abordagem realizados. 3.
O filósofo Aristóteles disse em sua Política: “Se as lançadeiras tecessem (...) por si mesmas, os construtores não teriam necessidade de auxiliares e os senhores não necessitariam de escravos”. Explicar como essa frase reflete um modo de pensar da Antiguidade grega e romana e que tipo de ideologia do trabalho nela se encontra. Discutir 1.
Explicar como, desde o surgimento das fábricas até a adoção do sistema taylorista, a alienação no trabalho se intensificou. Discutir de que maneiras a alienação ainda persiste no trabalho e no lazer. 4.
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5. Em 1903, foi promulgada no Brasil a Lei “Adolfo
Dissertação
Gordo”, pela qual a polícia podia reprimir os movimentos grevistas, premiar delatores e punir com expulsão imigrantes estrangeiros. Proposições: a) Qual situação histórica provocou essa reação legal, mas conservadora? b) Ainda hoje, há quem defenda que greve é assunto de polícia: levantar os argumentos que costumam ser usados na defesa dessa tese. c) Considerando o ponto de vista do autor, contrapor aos argumentos anteriores a defesa de que greve é assunto de política.
Ler as duas citações a seguir e fazer uma dissertação contrapondo trabalho e lazer como duas atividades humanas importantes: a) “O trabalho árduo com um fim significativo pode ser fruído e até mesmo amado. Uma filosofia que faz do trabalho um fim em si mesmo conduz posteriormente ao ressentimento em relação a todo trabalho”. (Max Horkheimer) b) “A vida não se justifica pela utilidade, mas pelo prazer e pela alegria — moradores da ordem da fruição. Por isso Oswald de Andrade, no Manifesto antropofágico, repetiu várias vezes: ‘A alegria é a prova dos nove, a alegria é a prova dos nove...’” (Rubem Alves)
6. “Os homens da classe operária têm desde cedo
necessidade do trabalho de seus filhos. Estas crianças precisam adquirir (...) o conhecimento e sobretudo o hábito e a tradição do trabalho penoso a que se destinam. Não podem, portanto, perder tempo nas escolas.” A partir da frase de Destutt de Tracy, do início do século XIX, responder: a) Por que se trata de uma afirmação ideológica? b) Como ainda hoje persiste esse dualismo escolar? c) Por que é perversa a exclusão escolar e a obrigação de trabalho infantil?
Pesquisa O movimento feminista e a profissionalização da mulher :
verificar quais as dificuldades enfrentadas (como qualquer trabalhador do sexo masculino), a discriminação sofrida em uma sociedade machista e a dupla jornada de trabalho.Avaliar os avanços alcançados e o que ainda exige mudança.
7. Transcrever a letra da música “Comida” da banda
Titãs e justificar os versos: “A gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte”.
Algumas sugestões de filmes como temas para debate
8. “A introdução dos relógios, fabricados em massa
a partir de 1850, difundiu a preocupação com o tempo. (...) Na igreja e na escola, nos escritórios e nas fábricas, a pontualidade passou a ser considerada a maior das virtudes.” Considerando a afirmação de George Woodcock, filósofo anarquista, responder: a) Como era regulado o tempo do trabalho na Antiguidade e na Idade Média, antes do advento do capitalismo? b) Por que o relógio (e a nova concepção de tempo) foi um elemento importante para o desenvolvimento do capitalismo? c) De que forma ainda hoje vivemos a “ditadura do relógio” e como poderíamos nos desvencilhar dela?
Eles não usam black-tie (Brasil, 1981). Dir.: Leon Hirszman.
Com Gianfrancesco Guarnieri, Fernanda Montenegro. Numa fábrica em greve, o risco de desemprego e a solidariedade de classe criam um clima de tensão.
Tempos modernos (EUA, 1936). Dir.: Charles Chaplin.
Com Charles Chaplin, Paulette Godard. Filme clássico em que Carlitos satiriza a implantação do modelo taylorista nas fábricas. Segunda-feira ao Sol (Espanha,
2003). Dir.: Fernando Leon de Aranoa. Com Javier Bardem, Luis Tosar, Jose Angel Egido. Um grupo de amigos desempregados encontra-se todos os dias em um bar. O filme mostra como cada um vive seu drama particular.
9. Organizar grupos para identificar exemplos de
como entre nós ainda há resquícios de paternalismo nas relações patrão-empregado, bem como a postura “senhorial” nas relações de mando.
A vida sonhada dos anjos (França,
1998). Dir.: Erick Zonca. Com Elodie Bouchez, Natacha Regnier. Duas garotas de 20 anos, de temperamentos diferentes, enfrentam o desemprego e a luta pela sobrevivência numa França em crise e que não oferece nenhuma esperança para uma vida melhor.
10. A fim de minimizar os efeitos perversos da exclusão
social e econômica de negros e pobres, diversas empresas e instituições de ensino têm oferecido cotas para admissão ao trabalho ou às universidades. Discutir, com argumentos, se a chamada “proposta afirmativa” é válida ou não. 4