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Talvez nenhum de nós dissesse isso dessa maneira, mas eu sei que alguns dos meus colegas pensavam assim. Nas minhas aulas de teologia, muitos dos alunos estavam a caminho de se tornar pastores e líderes em igrejas pelo país ou ao redor do mundo. Entretanto, eles estavam apenas planejando. Enquanto isso, enquanto absorviam toda a teologia e aprendiam todas as técnicas de ministério, não serviam em nenhuma igreja ou ministério local. Por essa razão, alguns nem mesmo frequentavam uma igreja (shhhh! Não contem para os professores!). Não faziam parte de nenhuma mudança pequena ou local enquanto estudavam. Apenas estudavam e armazenavam grandes coisas. Isso era estranho para mim, porque Deus não dirá no dia da formatura: Agora sim! Você terminou sua graduação ou o seu mestrado em teologia. Fantástico! Aqui está um ministério itinerante; você falará para milhares de pessoas todo final de semana. Você será o pastor dessa igreja e no seu ministério haverá um crescimento de proeminência nacional.
O problema em armazenar grandezas é... bem, é impossível. Não podemos conter nossa paixão, nossa energia e nossos sonhos de agir até estarmos no lugar certo. Se tentarmos isso, chegaremos lá e descobriremos que toda a grandeza se perdeu. Se tentarmos guardar nossa visão para o dia perfeito, a perderemos. Chegaremos ao lugar em que pensamos estar prontos e descobriremos que nada restou. Se vivermos cada fase da vida como um trampolim para as grandes coisas, nos acharemos vivendo cada momento a meia força. Deus deseja que tomemos o que está se movendo
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em nosso coração hoje e façamos alguma coisa aqui e agora. Em vez de esperar que grandes coisas aconteçam, deveríamos perguntar a Deus: O que faço a respeito dessa ideia agora? Sei que talvez algum dia haja um cumprimento maior do sonho — talvez exista uma parte que será revelada somente daqui a vinte anos —, mas o que faço aqui e agora?
Tudo o que Deus colocou dentro de nós deve ser expresso e devemos agir aqui e agora — ou isso nunca se multiplicará e crescerá. Não importa quão insignificante e pequeno isso pareça ser, podemos fazer alguma coisa hoje; podemos começar com alguma coisa. Não podemos conter nossa paixão, nossa energia e nossos sonhos de agir até estarmos no lugar certo. [...] Se tentarmos guardar nossa visão para o dia perfeito, a perderemos. AQUELA GRANDE COISA
Eu trabalho em nossa igreja com universitários e muitos deles têm grandes sonhos em seus corações, mas se sentem em compasso de espera e ficam meio constrangidos com essa situação. Não é um problema de armazenar a grandeza; eles apenas não descobriram ainda por onde começar. Ouvi certa vez um comediante comentar a diferença entre estudantes de universidades e estudantes de community colleges .2 Se você perguntar para uma pessoa qual escola ela frequenta e ela for de uma universidade, a resposta será
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muito fácil. “Vou à Universidade do Colorado” ou “Vou à USC” ou “NYU” ou qualquer outra. Clara e objetiva. Mas se você perguntar a um estudante de um community college a mesma coisa, a resposta quase sempre será um pouco mais longa. “Veja bem, estou apenas experimentando... olha só, eles bagunçaram minha transcrição e estou tentando obter ajuda financeira no momento... Eventualmente vou me transferir para...” e continua assim, porque estão constrangidos por não se sentirem “no caminho”, seja lá o que isso signifique. Encontro a mesma situação com muitas pessoas que estão fora da escola, mas que não encontraram “aquela grande coisa” para devotar suas vidas. Eles dizem: Agora estou fazendo isso... trabalho na Starbucks, mas na hora certa trabalharei para um editor cristão, ou em uma igreja grande ou irei para o campo missionário ou descobrirei o lugar onde possa fazer grandes coisas para Deus.
Enquanto eu pensava sobre isso e falava com vários jovens e até mesmo lutava com essa tensão na minha vida, cheguei à conclusão de que não existe um momento em que de repente alcançamos a grandeza ou começamos a fazer grandes coisas. Acredito que temos a possibilidade de fazer parte de grandes coisas todos os dias e talvez nem mesmo perceber. Quando o personagem bíblico Jacó sonhou com a “escada para o céu” acampado em Betel, exclamou: “Sem dúvida, o SENHOR está neste lugar, mas eu não sabia!”3 Sem dúvida, Deus trabalha em nossas vidas agora, onde estamos hoje — nas conversas na rua, na hora do almoço ou em qualquer situação. Certamente, Deus está nesses lugares, mesmo que não perce-
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bamos. A grandeza não é sempre óbvia. Frequentemente, ela é tão sublime que a perdemos. Facilmente, também assumimos que o lugar que tem importância é outro lugar. Além-mar. No campo missionário. Na próxima esquina. Aos quarenta anos. Quando atingirmos nosso primeiro milhão. Onde quer que seja. Nem mesmo consideramos que uma mudança duradoura começa onde estamos. Não consideramos a possibilidade de que Deus pode nos usar aqui e agora. Não consideramos seriamente que Deus nos colocou exatamente onde estamos porque ele tem uma boa razão. Ele pode nos usar aqui. Se Deus pode nos usar em outro lugar, porque assumirmos que onde ele deseja nos usar é em outro lugar, diferente daquele onde estamos agora? Pense nisso. Quais são as coisas que estão bem na sua frente agora e que você negligencia porque está olhando para outro lugar? Quem são as pessoas que ignorou por não pertencerem a uma tribo distante que, no seu coração, você planejou alcançar? Por que não começar buscando uma oportunidade local e pequena e fazer algumas coisas boas? Abra seus olhos. Ouça mais atentamente o próximo. Dê aquele pequeno passo inicial, aquele ato simples de obediência e veja o que acontece. Neemias era apenas um homem comum, que acabou fazendo uma diferença extraordinária. FORA DO NORMAL
Uma das minhas histórias favoritas da Bíblia é a de Neemias. Sou atraído por ele porque, como muitos personagens bíblicos,
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ele teve um impacto significativo na história. Mas diferente dos nossos outros heróis da Bíblia, que são reis, profetas ou sacerdotes — ou o próprio Filho de Deus —, Neemias era apenas um homem comum que acabou fazendo uma diferença extraordinária. Ele não era um dos doze apóstolos. Pelo que sabemos, nenhum milagre aconteceu durante sua vida. Ele nunca proferiu uma única palavra profética, nunca curou uma pessoa nem ganhou uma batalha decisiva. Era apenas um copeiro e se tornou famoso pelo seu papel como empreiteiro. Não era como a média dos heróis bíblicos. Ainda assim, ele é diferenciado na minha mente exatamente porque faz parte da média. Gosto muito da história de Neemias porque, apesar dos seus começos humildes, ele se encontra no meio de um momento que muda a história. Nascido judeu em um país estrangeiro, Neemias era filho daquilo que ficou conhecido como a Dispersão. Há mais de um século, seus ancestrais judeus haviam sido cativos pelos babilônios como castigo pela desobediência a Deus. Mais tarde, quando os persas aniquilaram os babilônios, muitos judeus mudaram para a Pérsia. Este foi o lugar onde Neemias nasceu e ele não conhecia outro lar além de Susã, a capital do país. Ainda assim, ele nunca se sentia totalmente em casa lá. Havia ouvido histórias de como Deus havia prometido fazer de Abraão uma grande nação e lhe dar um filho na sua velhice; como Deus enviou Moisés para libertar os descendentes de Abraão quando em grande número foram escravizados pelo reino egípcio; como toda uma geração morreu no deserto do Sinai pela sua falta de fé; como Josué liderou uma nova geração em vitórias sobre um exército após o outro quando possuíram a terra; como Deus deu a Israel o grande rei Davi e como todo rei depois disso foi comparado a ele.
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Havia ouvido a respeito das profecias que previram o exílio e também a respeito da promessa do retorno para Judá quando Deus traria seu povo de volta para a terra como prova da sua fidelidade infindável. Agora, na época de Neemias, o retorno prometido estava começando a acontecer. Certamente, a situação de Neemias incitou perguntas sobre sua identidade, herança e seu verdadeiro lar. Ele havia crescido em uma cultura que questionava a justiça e a soberania divina. Havia crescido em uma cultura de dúvidas, onde a incerteza era a única coisa que fazia sentido. Isso não é tão diferente da nossa cultura. Ainda assim, de algum modo, Neemias se apegou às histórias de sua terra. Cresceu ansiando uma terra que nunca havia visto e esperando morar em uma cidade de que apenas havia ouvido falar. Cresceu crendo na redenção e confiando em um Deus que parecia distante. De alguma maneira, em meio a toda aquela confusão e questionamento, Neemias encontrou uma centelha de fé e a atiçou para se tornar uma chama ardente. Ainda assim, de algum modo, Neemias se apegou às histórias de sua terra. Cresceu ansiando uma terra que nunca havia visto e esperando morar em uma cidade de que apenas havia ouvido falar.
É difícil dizer se Neemias tinha consciência da importância da mudança mundial que estava prestes a realizar; suspeito que não. Quando o seu momento chegou, ele não planejou mudar o mundo; apenas estava fazendo a coisa necessária. Aquela coisa que precisava ser feita. Independentemente de Neemias ter ou não consciência do que faria,
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creio que podemos tirar dessa história alguns princípios de mudança de vida que influenciarão nossas histórias. Na cena de abertura do livro de Neemias, descobrimos que um dos seus irmãos, Hanani, retornara de uma visita a Judá. Aparentemente, os persas haviam permitido que alguns judeus retornassem do cativeiro para sua terra e Hanani estava em um grupo que havia voltado para Susã para relatar a situação. Quando Neemias perguntou como estavam as coisas em Judá, Hanani respondeu: Está ruim, Neemias. Ruim demais. Os muros queimados. As pedras viraram entulho. Tudo está amontoado. Tudo ruiu. Uma grande bagunça.4
Os poucos judeus que haviam retornado para Jerusalém viviam em circunstâncias horríveis. Os muros da cidade se tornaram ruínas e se abriram para todo tipo de perigo. Os portões foram queimados e não havia como repará-los. A desolação deixou a cidade exposta a todo tipo de gente, vegetação e saque. A cidade de Deus era uma árvore morta, uma concha moída. Quando Neemias ouviu as notícias, sentou-se e chorou. Embora nunca tivesse estado em Jerusalém, ele sabia que era o orgulho da nação. Era a capital e tinha sido destruída. Ele ficou tão oprimido pela tristeza, que jejuou e orou por vários dias, confessando seus pecados, os pecados de sua família e os de seu povo, os judeus. Ao orar, ele lembrou Deus de algumas promessas feitas anteriormente ao povo de Israel: Lembra-te agora do que disseste a Moisés, teu servo: “Se vocês forem infiéis, eu os espalharei entre as nações, mas, se voltarem para mim, obedecerem aos meus mandamentos e
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os puserem em prática, mesmo que vocês estejam espalhados pelos lugares mais distantes debaixo do céu, de lá eu os reunirei e os trarei para o lugar que escolhi para estabelecer o meu nome.”5
Neemias decidiu que precisava ir a Jerusalém e fazer alguma coisa em relação à condição da cidade. Ele orou para que Deus lhe concedesse favor diante do rei persa e que este atendesse a seus pedidos. O amor de Neemias por Jerusalém não permitiu que ele ficasse parado, simplesmente esperando que alguma coisa grande acontecesse.
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