SOCIOLOGIA PARA LER OS CLÁSSICOS D
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org. Gabriel Cohn
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Falar de Sociologia e passar por alto os seus mestres máximos, o trio Durkheim-Marx-Weber, é esquecer mais de cem anos de debates sempre renov ados e de contínuas e fecundas rcdescobertas. Clássicos são assim: desafios inesgotáveis. liste livro ajuda a entender as razões disso.
a zou gu e
editorial
Nenhum físico consulta New ton para suas pesquisas, nem os matemáticos têm a obra de Gauss à mão para seus afazeres profissionais, por mais que reconheçam serem gênios de dimen são suprema. Nas suas áreas de atuação, porém, o conhecimento acumulado graças às suas contribui ções dispensa o retorno a eles. E nas posições de ponta da pesquisa corrente que tudo se decide. Os sociólogos são diferentes. Para eles, nenhum problema se esgota numa formulação definitiva, nenhuma grande formulação já deu o que tinha que dar e agora ocupa seu lugar em algum ponto, talvez remoto, na interminável cadeia dos resultados da pesquisa. Seu ambiente não é como uma paisagem marcada por picos sólidos, referências inabaláveis embora distantes. Assemelha-se mais a um salão no qual os novos e os antigos são convidados para uma conversação sempre renovada. Para o exercício do estudo da sociedade é impossível dispensar os pais fundadores, cuja expressão mais acabada no último século (e provavel mente por um bom tempo ainda) consiste nos três clássicos examinados neste volume. E que as referências de
tundo para o conhecim ento social são grandes épocas históricas, no que têm
de persistente e também de mudança contínua. No caso dos nossos três autores, trata-se de decifrar os fundamentos e as condições de mudança do mundo moderno. Muita coisa mudou, muito conhecimento se acumulou, e para nós os problemas não se apresentam exatamente da mesma forma. Dificilmente, porém, poderão ser identificados e formula dos com a necessária precisão sem recorrer ao legado daqueles três. Combinada, sua obra praticamente cobre o campo das propostas concei tuais na área, posteriormente refinadas e aprofundadas. Não se trata, porém, de parar neles, mas de lê-los devidamente acompanhados pelas interpretações que o confronto com as mudanças do mundo e com os avanços na formulação das questões exigiram. Este livro procura mostrar como este segundo passo é impor tante, e mesmo indispensável. Para isto, reúne textos de especialistas de primeira categoria, que examinam aspectos fundamentais da contribui ção de Durkheim, Weber e Marx na busca, que compartilharam cada um do seu modo, do melhor caminho para o conhecimento do mundo social moderno.
Soci ol ogi aP a ra 1er os clássi cos organização G a b r ie l C o h n
azougue editorial 2005
Copyright© 2005 A zoug ue E dit ori d
Nova edição, re vi st a e m od if icada , ie
Sociologia:para ler os clássicos.
R io de Janeiro , L TC - Li vr os T é cn ios e C ie ntí fi cos, 1977. projeto gráfico Sérgi o C ohn
capa Sérg io C ohn e R odrigo Rei s revisão Sebas ti ão Edson M
acedo e GrazieiaM
logot ipo baseado n
o poem a “ asa” cb R odrigo Li nar es
S6 6 2 S ociologia:
pa ra ler os cl ássic os,
orga n ização Gabri
el C ohn . -
Riode jane iro: Azougue Edit or ial, 20 05 .17 6 p. ISBN85 -88338 -52-1 1. S oc iolo gia I. Título 05-2340 CDD:301 CDU 316 azougue editorial
wwwazougue.com.br
arcol in
Apresentação
Gab ri el C ohn 7 Bases para a interpretação de Durkheim
StevenLukes
15
Uma leitura atual de Durkheim
A le ssa n d ro P iz z o r n o
55
Me'todo e visão do mundo em Weber
Karljaspers
105
Weber e o projeto de modernidade
Schluchter,
H enrich & Off e
125
História e natureza em Marx
A lfred S c h m id t
163
Essência e aparência: a análise da mercadoria em Marx
N orm an Ger as Fontes srcina
189
is dos texto s
223
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Apresentação para a nova edição G abri el C ohn
N a apres entaçãodeu ra li vrocom po stop orte xt osalhei os,por que n ão co m eça r t om an do de em présti m o pal avras de out ro s? O fi lósofo in gl ês Alf red North W hit ehead, qu e de re st o nã o era na da indifer ente à hi st óri a da ci ênci a, form ulou um a vez aq uil o qu e s e conve rt er ia nu m a espé ci e de cit açã o obri gatór ia, ao afi rm ar que “ a ci ência qu e hesit a em esquecer seus f un dad ores est á perdida ” . A re fer ênci a parece ca ber m uito bem à S ociolog ia ( sobre a qual , alguns an os ant es , o m atem átic o Henr i Poi ncar e' havia derram ado sarcasmo,dizendoqueera “ a ci ên cia quem ai s te m m ét odosem enost em re sul ta dos ” ) . Masosociól ogocontem porâneo A lv in W. G o u ld n e r te m u m a resposta bastan te po nderáv el p a ra a a firm a ção de W hi tehead. Segu ndo Gouldne r, “ para se esquecer algo é pr eci so pri m ei ro tê-l o conhecido. U m a ciência que ignoraseus fundadores é inc apaz de saber quan to cam inho u e em que di re ção . Ela tam bém es tá peorganização rdida ” . É e sta ição que nestasóe lfazivrs o.entParec deua mp osacolet âneacose admotao est idoape eviartdente irdaqueidéi aa de qu e o con tato co m as gra ndes construçõe s teó ri ca s so bre as quais repou satodo od esenvolv im entoposter ior d aS ociologiaéim presci ndívelparaa ref lexão be m inform ada , nã o apenas sobre essa partí cular ár ea d o con he -
8
ci m en to m as, princi palm ente, sobr e o m u n do em que vi vem os, cujos problem as, n o fundam Cabe dizer
ental, aind a são aqueles
que as i nspi rara m .
des de log o, po rém , qu e est a coletânea n
fundadoresda So ciol ogia, nu
m as sim daqueles aut
ão tra ta dos
m sent ido h ist órico-c ron ológico do tenno,
or es que, pe loalcan ceeprofundidade
bu ições ori ginais eporsuapresen
des uas cont ri
ça n a at ivi dadesociológicacontem
porâ
nea, m ere cem m á sd o quequá sque rout ro saqual ifi caçãode D aí a concen
tração em
lis ta de clássicos a
D urkheim
clássicos.
, W eber e M ar x. Em segund o l uga r, a
qui tr atado s n ã o tem a pretensão de ser
exausti va. No
m áx im o sepoderi adize rquesão os“ m aiores’ ’ dent re el es .M ashá out ro s, “m en ores” tal vez , m as n em p or i sso des ti tuí dos de im po rtân ciae d e re pe r cussão contem
porâ nea . A res tr ição deve- se fund am entalm ente a que, do
cont rári o,l enam osu m volum ep rol ixoetávezdi li vro be m defi nido e de
sper si vono lugardeum
uti lidade bem m arca da para est udantes e est udi
osos. E clar o qu e os t rê s aut ore s aqu i t rat ados n ão esgotam infl uên cias dec is ivas sobre a nea s. Não se encontra fas e in iciá do século pas
teori a e ap esqu isa sociol ógicas con
a ga m a de tem p orâ
aqui pelo m enos um autor de prim ei ra l inh a da sado , con tem porâ neo de W eb er e D urkhei m ,
em bo ra su a in fl u ên cia atual e stej a lon ge de ser d espre zí vel . Trata- se de G eorg Sim
m el , cuj a obra vast
a e m ult iface tada deixa m
parte. 1 Su a pre sença é níti da n as im portantes con Eli as pa ra a sociologia hist da “d ram aturgia” das
arc as po r toda
tri bu ições de Norber t
óri ca, assi m co m o n a obra d o grand e anali st a for m as de int eração soci al e da d inâm ic a i nter na
de inst itu içõe s,Ervi ngG off m an,etam
bém em doi sauto re squedesem
pe-
1
As 1 Referênci a fund am en tal r ecente sobre Sim m el po r autor brasi lei ro é Leopo ldo W aizbo rt , aventuras de Georg Sim mel,São Pa ulo,Edi to ra34 ,20 00 .0 m esm oauto r pu bli coucol etânea DossiêNorbertElias, São P aulo, de te xtos de int ere sse para o te rna: Le opoldo W aizbort (org .). Ed usp, 1999 -
nh aram o papel i m port ante a par tant es da orientação n
ti r da década
de 195 0, co m o re pr es en
ão -ort od oxa e radi cal no contexto n
ort e- am eri
can o: Charles W ri ght M ill s e Lewis A. Cos er . P or fim , a referên ci a a W ri ght M illstr azàm entea últi m aexcl usão den tre asquem erecem u m aref er ên cia especia
l, vis to que se t rat a de u m dos inspir adores di retos da su a ob ra e
tam bém dade m uit osoutrossoci
ólogos norte- am eri canos im po rt ant es .
O no m e em quest ão é o d e Georg e H. M ead. 2 Sua con tri bu ição é m ais dir etam ente rel evante pa ra a P sicologia soc
ial, m as é grand e a sua inf lu
ên ci a sobre t oda u m a corr ente m inori tár ia, porém im port ante, na S ocio log ia am eri cana. Nos últ im os vi nt e anos, M ead gan hou nov a em inê ncia po r ef ei to da atenção que
lhe f oi dedicada
“ clássico” d
soci ai s contem porâ ne os, as tr o de prim ei ra gran
dezanaconstel
os pensadores
po rjürg en H abe rmas, o m
ação deg rand esnom esdasegun
ai s
dam et aded oséculoXX,
qu e i n clui T alc ott Parsons e , passan do pe la m uito consideráve
l fi gu ra de
N ikla s Lu hm an n, outras t ant as fi gu ras de peso, co m o R obert K . Merton, Pie rr eB ourdieu e A nthon yG iddens. O qu e s e d iss e acim a per m ite m ati zar u m p ou co a afi rm ação fe it a ante s, de qu e é im portante con desenvolvi
he cer as bases sobre as quais repo
usa
todoo
m ento post eri or d a S ociol ogia. Sem dú vi da is so é im portant e,
m as esta col etân ea po r si só nã o basta pa ra real iz ar t aref a tão a brangente; elaé necessari am entesel et iva .Ass imsend o,fiquem osn aq u iloqu e diz re sp ei to a aspec tos centrais d o pe nsam ento d e f igurasincontest avelmente dom inantes. A ca b e i d e re fe r ir -m e às fig u r a s incontestavelmente dom inan tes, e issor em ete a o terc ei ro e últim o p on to des sas con si deraçõe sprel iminares. A ce rc a d a im p o r tâ n c ia fu n d a m e n ta l d e D u rk h e im e W e b e r h á , s e m d ú v id a , E m bora nã o se vol te di ret amente para a So ciol ogia m as para a P sic ologia social e da educa çã o, é im portante o li vro de Odair Sas s, Crítica da razão solitária - a psicologia segundo George Her bertMead,B ragan ça Pauli st a, Editora Universi tári a S ão F rancisco, 20 04 . 2
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con sen so univer sal . Mas, e qu an to a Mane? Aqui entram os em área m ais turbul enta. S eguram ente é d if íci l encon trar na lite rat ura argum entos sól idosc ontra a incl usão d o n om e de M arx ent re aquel esque m aism arca ram o d esenvolvi m ento da S ociolog ia e , em geral , das ci ências soc iai s. En cont ra- se m esm o o argu m ento, por ce rt o exagerado, de que toda a S ociolog ia clássica nã o pa ssa de u m con jun to de te nt at ivas de re sp os ta s parci ais à obra de Marx. Há m esm o o ca so de um auto r de cl aras posiç ões conserva doras, Alber t Sa lom on , responsável pel a insi ste nte circu laçã o, na liter atur a sobre M ax Webe r, da idéia de q ue toda a su a obra pod eria s er enten dida co m o sendo “ um long o e i nte nso de ba te co m a som bra d e Ka rl M ar x” - o que é at ribu ir a W ebe r um a m onom ania que não lhe f az justiça . (N ã o q u e W eber n ã o tivesse suas m a n ia s; os gran d es espíritos as têm tanto quan to os peque nos, só que em gera l com m el hores resul tados .) De qualquer form a, os t ext os qu e s e seguem ta lv ez ajudem a m ati zar u m p ou co essas form ula çõe s rí gidas. É fácil, de rest o, perceber a rad ical im pregna ção “so ica” dreno tamente pensam é l entoigeid ra. e MMarx ar x,coloc quan doa ns oe cent consi rodera um a pergunta que ciol ógsó apa da sua pesquis a o con ceito de modo de produção.Mas, afinal, o que o modode produ ção produz? Relaçõe s soc ia is, é claro - e n ão prod uto s tangí vei s sem m ais, m esm o porque , se ess es produtos forem m ercadorias , já in co rp ora m re la ções sociais. O essencial é q u e está e m jo g o , n ã o a m era produ ção, m as o m od o com o elase organ iza s oci al m ente . É dif íci l supe re st imaro alcancedess am an obra analí ti ca,pel aqual ga nh am re levo ,n o seu dev ido l ugar , os m odo s e a s f orm as c om o se tom am ef et ivas as rel ações doshom ensentre si , naprodu çãoen a repr oduçãodesuaconviv ênci a. É t em po d e pass ar à apresen tação dos t ext os s eleci onad os, o qu e tam bém perm it ir á e xpl ic itar o m od o de organ ização de ste vol um e.
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0 prim ei ro te xt o é um a intro dução muit o c om petente aos con cei tologs básicos à m enanLeira de Ém elail que e Durkhei auto r, o so ció te o inglêse Stev uke des, pensa escreveuraqu ai nda m. ho Seu je é provavelmen am ais com pleta exposiç ãod avi daedaobrad eD urkh eim dis poní vel .3 40 tex to aqui rep rodu zi do corresponde , em grandepar te, à i ntrod uçã o de ss e livr o. A a pre sent ação da ob ra d urkheim iana é com plem entada por u m tex todealta qualidade,e scr it op oro utrosociól ogo europ eu imp ortant e,o it alianoA lessandra P izzom o,cu j ostrabalhossob ret eoria social,especial mtercei ente rontexto, o q ue dd ize auresptoriaeit odeà aná u ito respe (U m Talcottlise políti Pa rsons,ca,qs ãoue mintegrava ae itados. d içã o ante rior de st e li vro, foi ret ir ado n est a, p orq ue fic ava um tanto d eslocado , a m eiocam inho en tre um adis cus sãodao bradeDur khe im eum aadvoca cia da ob ra do própr io Par so ns, da q ualjá te mes um a a m pla análi sepor au torbrasilei ro)A A respeito de M ax W eber tem os dois textos. 0 p rim e iro fo i s ele cio na do tendo em vi st a a exigência de u m tr at ament o abrangent e d a obra w eberi ana quesedist inga po rsua quali dade e tam bém pela autor idade intelectual de seu auto r. Es sa exigên cia é sat isfeita co m a p u blica çã o de u m trabalho de u m auto r de peso, c uj a af ini dade subj et iv a co m o pensa m en to w ebe riano é m arcante. Trata- se do fil ósofo Kar l Ja spe rs , qu e est á m ais autoriz ado d o que qua lquer outro para desempenh ar o papel de int erpr ete de Weber , pois conviveu est rei tamente co m ele, no s pla n os inte lect ua l e pessoal, at é a m orte do so ciólog o. Is so não si gn ifi ca qu e Jaspers se lim it assea esc re ver u m a exposição descr it ivae“ reut ra” da o br a weberi ana. 3 Steve
n Luk es, ÉmileDurkheim -his Ife andwork. Ahistofícalandcriticai study. Lond res, A llen L an e, 1973. 4 J os é M auríci o D om ingues, A sociologia de TalcottParsons Niteró i, Edit ora d a U niversi dade Federal Flum inense, 2001.
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N a ve rdade, a sua inter
pretaç ão tr az as m arcas d e su a própria po
sição
fi los óf ic a, de cun ho “exis tencial ” . De qualquer m od o Jaspers com parece co m o in té rpr et eal tamenteauto ri zado,n o lugardeoutros quesão habit u al m ent ei nvocadospar aocup aress aposi ção:porexem plo,R aym ondA ron ou Juli en F re und n a Franç a, Reinhard B endi x ou G ue nth erR othn os EU A, Piet ro Ross i na Itál ia, ou , em con traponto a
jasp ers n o cen ário ale m ão,
um es tudi oso emine ntenão ali nha docom aort odoxia weberi anacom oo his tori ador W olf gang M om m sen. O segu nd o t ext o subst it ui co m van tagem dois art igo s que con sta vam da e dição ant er ior . Nel es , Eugè ne Fleishm an n trat ava de W eber e Niet zsche, e R icha rd Ashcr af t di scuti a a análi se do li beralism o em W eber e M arx. A desp eito de sua q ua li d ad e e de ain da serem referênci as vál idas, es sest ext osm aisdedic ados àdefe sadeposi çõespolêm ajustam
ao caráter
icasn a ép ocan ão se
da pres ent e c oletâne a. Já cum priram seu pap el de
ch am araa tenç ãopa raodeb ateso breas rel ações deW ebe r com as gr ande s fi gu ras qu e lhe serviam de
referência.5
Sobre as relações entre W
eber e
M arx a b ibli ogr afia é abu nda nte. 6N o toc ante às r elações entr e o p ensa m en to de W eber e o de N iet zs che , é o caso de t raz er , ne st e pon to, algum
as
observ ações de u m autor qu e te ve con tri bu ição deci si va na introduç ão d o te m a no deb at e, o já m enci onado W ol fgang Mom
m se n. Num im port an
tearti gosobreo pensam entopolíti coe hist óri coem We ber, M om m sen es cr ev e: A influência de Nietzsche sobre Max Weber foi grande e duradoura,
m as nem se mpre é d et ec táv el com preci são. El a apare ce com m aior ,Perspectivas da ’ Sobre as relações Weber-Nie tzs che, t em os ag ora o li vro de R enarde Frei re Nobre razão- Nietzsche, Weber e o conhecimento, B el o Hori zo nt e, A rgu m en t™ , 2004 . 1 V eja -se, p o r e x e m p lo , a c o le t â n e a d e tex to s o r g a n iz a d a p o r R e n é G ertz, Max Weber e Karl Marx, Sã o Pa ulo, H ucite c, 199 7.
13
nit id ez na Sociologia da
reli gião weberi ana, em bora em num eros as
pass agens W ebe r assum a u m a p osição bas tan te crít ica per ante as teo rias de Nie tzsc he sobre o ressentimento e a si tua ção m arg inal (de “ pária” ) co m o f ontes de m ovim entos re li gi osos. A presença
de
Nietzsche em Weber registra-se até no piano da linguagem, tanto nas suas o bras de ju vent ude qua nto, de m od o espec ia l, na conferên cia sobre “ciência como vocação”, na qual ela aparece em pontos esse nci ais da argum entação. N oções cent rai s com o “ honest idade inte lec tual ” e “ respo nsabi lidade" em W ebe r j á s e encontram , com o m esm o signifi cado, em Niet zsc he. Quan do Niet zsc he e scr eve, em A vontad e de poder,“nosso novo mundo: precisamos conhecer até
qu e pon to som os os cri adores dos nossos senti m entos valorati vos e, portanto, podemos depositar um sentido na história”, ele permite inte rpre tar a ob ra de W eber co m o u m a pers iste nte tentati va de sat is fazer esse postulado. Igualmente, a luta de Weber em prol de uma neutrali dade valorat iva da ci ên cia pod e se r ente ndida co m o si m ples ap licação da exigên
cia de Ni etz sche : “A ci ên cia nec ess ita, em qua l
quer consideração, primeiramente de um ideal valorativo, de um po der criador d e valo res, a ser viç o d o qu al ela possa cre r em si própria - ela próp ri a ja mais é cri adora d e val or” .
N o te xtoaqu ii nclu ído,t rêse studi ososalemã esdeprim eiral inh a dis cutem o si gnifi cado da obra de M ax W ebe r para o deba te , aind a em curso n o m om en to at ual, sobr e o “ projeto da m odernidade” Off e, em bor a n ão tenha con tri bu ição específ p or suas con tri bu ições para o
estudo das tendên
. Del es , Cl aus
ica sobr e Web er, é con he cido ci as rece nte s d o capit ali s
m o n o re gi st ro polí tico e soci al , enq ua nto Die te r H enr ich é u m fi lósofo de
14
renom e, au tor de ob ra pione ira sobre W eb er nos an os 1950 , e W olf gan g Schluchter
é reconh ecido co m o espe ci al ist a de re levo na ár ea , com o de
m onst rasuapart ici paçãon aequi pequevem obracom pleta deWeb er.
cuidand
odan ovaediç ãoda
Q uan to a M arx, o tex to de Alf red Schm idt tam bé m tr at a de as pec tom uit ore lev ant e d aobram ar xi sta, co m avant agem de fazê-l ocom um desem baraço q ue der iva da ci rcun stância de se sob re o con ceito de natureza
r ele o autor de u
na d outri na de Marx,
pu blicado e
m liv ro m 1962 e é
ainda consi derad o ob ra imp ort ante n o trat am ento do tem a. Schm idt u m dos últi m os remanesce nte s ri goro sam ente f il iados à cha m ad a E sc ol a de F ra nkfur t, cu jos pri ncipais re T heod or W . Adorno. Final
pre sent antes foram M ax H orkh ei m er e
m ente,
0
art igo de Norm
an Gera s, que é um
c ol abor ador dai mpor tan te rev ista i n g l e s a i LeftReview, tr at a de u m tema , rel ati vo à a náli se das form as d e con sciênc ia social, que deverá gan ha r força no pe
rí odo próx im o, no proces
so de rei ncorporação da obra
de M arx n o est udo das te ndênc ias do m un do contem porâneo. A re fe r ê n c ia a o r e t o m o d a o b r a d e M a rx a o d eb a te a p lica -s e ig u a l m ente a W ebe r e a D urkheim. A
fi nal , el es n ão são clás si cos por m
def erênc iadospó st ero s,m aspelo renovadovigorco tes se m preque ac om plexi dad edosproblema reraograndepensam
entono lugardaroti
era
m quesef azem pre se n
sdom u nd onoslevaare
co r
nam iúda.
janeiro de 1977/maio de2005
Bases para a in terpretação de Durkheim Steven Lukes
O m od o de pensa
m ento d e D urkheim
e s eu es til o de e xpres são
possue m cer to s traç os peculi ares, cu jo re conh ecim ento só pod e escl arece r a inte rpretação
de suas idéi
as. P rim eiro, exist
em cert os con ceitos cruciais
àcom preen são dese upensa m entoq ueprecisam que são
am bíguos, sej
a porque são p
Segun do, sub jacente a ess
es conceitos, exi
se r el uci dados,se japo r
ou co fam iliares para u m lei tor .1 st e c ert o n úm ero d e dicotom
ias
acentuadas, ou “ opo sições binárias’’, sobre as qua is repou sa s eu pen sa m ento, qu e preci sam ser expli ci tadas e relaci ona da s um as às outr as. Em tercei ro l ugar, existem certos arg u m en tos c aracterí sti cos, freqüen tem ente rui ns, que tam
bém preci sam ser traz idos para o p
ri m ei ro plan o e identi
ficados. E, finalmente, o estilo de Durkheim tende freqüentemente a caric aturarseupróp
riopen sam ento. Elem uitasvez esexpres sava suas id éi as
de m an eira extrem ad a ou fi gurat iv a, o qu e dist orci a seu signifi
cad o e
obscureci a sua im p o rtâ n cia - don de res ul ta que a relaç ão ent re o est il o e 0 pensa m ento de D urkheim devaser l evada em consi deração. Est e ar ti go ded ic a-se aessaquest
ão.
A s princi pais obras de D
urkheim
1
aqu i ci tadas são
ind icadas na form a abreviada seg
uint e,
seg uida do núm erodapági na:S -Osuicídio,1897 ; R -.4 ? regras do método sociológico,1901; D —A divisão do trabalho social, 1902; F -Asformas elementares da vida rel igiosa,1912.
16
CONCEITOS Consciência coletiva
E m A divisão do trabalho, Durkheim define “a consciência col et iva ou com u m ” c om cT o con jun to d e c ren ças e s ent im ent os comu ns ao com um dos m embrosdeum adet er mina das oc ieda dequefo rm aum si stema d eterm inado co m vida própria” ; (D 46 ). A palavra fr ancesa conscienceamé bígua, com preenden do o signif icado de in stânci a m oral e de percepção de algum a coi sa. As si m, a s “ crenç as e senti m ent os” c om preendidosn acon sciênciacole tiva são,poru m lado,m oraisereli gi osose , p or outro, cog nitivos.2 A co n sciê n cia coletiva, escreve D u rkh eim , é, “ p or de fin içã o, di fun dida em toda a sociedade m as, n ão obstante , possui traç os especí ficos quef azem delaum a real idadepr ópri a” . Elaé “ in depen dent edascondi ções particulares em que o s indivíduos se encon tram si tuados ; es tes pas sam , elas, adiferen perm an ece” . É comsões,ume aoliganortas geraçõ e e ao s ules ,sucess a grandesivas eum pe quenas cidade tes profis as às ou tras. Ébemdistintadaconsclênciaindividual, “emborasópossarealizarse atr avés de indivídu os’ ’ (D 4 6 ). D urk heim nega -se sem pre a hipostasiar a con sciên cia coleti va: seu caráter dist int ivo consis te sim plesm ente em que '‘osest adosquea consti tuem difer em especif icamentedo sque consti tuem a con sciênc ia part icular” .Ess a especi fici dade provém do fato de que el asn ã o são forma das dosmesm osel ement os .Aúlti m are su ltadanat ureza 0 Larousseapresenta dois sentidos principais par a conscience : 1) Senti ment q u’on a de son exi stence etd ecelledu m ond eexté rieur;re prés entat ionqu ’on sefai tde quelquechose;2) Sentiment qui fait qu ’on p orte un jugem en t mor al sur se s a ctes, sens du bien et du ma l; re spec t du devoir . N. doT. :“S entimentoqu esete m ares pei to dap rópriaexist ên da e daexist ência do m un doexterior ; repr esen taç ão qu e se t em a re spei to de algo” ; “ Sentimen to que f az com que s e form ule um juízo m oral sobre se us próprios atos, sentido do bem e d o m al; respei to aos dev ere s” . 2
17
do ser orgâ n ico psíqu ico tom ad o is oladamen te, e a primeira, da coi na ção de u m a pl urali dade de s er es dessa natureza ( R 127-128) .
iihi
Discuti remos adi ante a m ane ira com o D urkh eim traç a a di fere nça en tr e fenôm en os sociais e indi viduai s. Aqui, deve- se notar qu e ele encar a va a consciência col eti va co m o “ o ti po psí quico de so ci edade, com su as propri edades , cond ições de existência e m od o de desenvolvimento especí ficos". El e tam bém defi ne o term o co m o “ a t ot al id ade d as s emelhanças sociai s” . O crim e seri a u m a ofensa a “ est ados fo rt es e d efi nidos da con sci ência coleti va” , re sta urad os e reforç ados pela pu niçã o (D 46 -47). Du rkhei m em pregou am pla m ente o concei to de consci ência co letiva na Divisão do trabalho. D aí por di ante usou -o m uito pou co, em bora vi ess e a enc arar o Est ad o com o “o órgão do pensam ento soci al” , concentrado, d eli berado e refl exi vo, di sti nto d a “ obscura con sciência co let iv a” 3 difundida em toda a soci edade; e veio a encarar a dem ocracia com o um al to grau de com un icação en tr e os doi s, que t om aria a úl ti m a m ais deli berada, ref le xiva e cri ti ca. Suas razões para aban don ar o co n ce i to eram provavelm ente de duas o rdens . E m p rim eiro l ugar , atese cent ral da Divisão do trabalhoeraque a ta ldiv is ãoest á‘ ‘cadavezm aispreenchen
do o papelque anter ior m ente
cabi a à consci ência com um ; é o que congrega, m ai s do que qual quer outra co isa, os con juntos soci ais d e t ipo m ais ava nça do” (D 148). Ne ss e li vroel e afi rmavaque ac onsci ênciacoletiva é“ apena sum apartebas ta n te res tr ita" d a vida psíquica de soci edades avança das (D 46 ): tom a-s e m ais fraca e m ais vaga e deixa de vincul ar os hom ens a f ins tr ansc ende nte s ou at é apro p ria soc iedade. Du rkhei m log o a ban donou es sa te se , em sua form a si m pl es , e passo u a s al ient ar o qu e el e e ncarava co m o o papel 3 Durkheim,
Leçonsde Sodologie.Physique desMoeurs et du Droit, Paris, PUF, 1950, pp. 95-97.
18
cru cialdascrençasesenti
m entosc ol eti vos,eespeci
alm ented am orali dad e
e d a reli gião, em todas a s soci edades. D aí ter aba nd on ad o u m conceito que est ava ligado ao que e le vi ra com o u m m od o próprio de coes ão de soci edadesm eno s avanç adas (sol idar iedadem ecâ n ica), carac ter izadopor “ sem elhançassoci
ais ” eporu m a leir epr es si va, centr ada na pun ição.
E m segun do lu ga r, co m o c orolário di an alíti cop ara seuspropósit des ej ava est udar com
ossubseqii
entesà
sso , era i nsufi ci entem ente Divisão do trabalho. Ele
o os indiví duos se vin culam às soc iedades e são c
on
trol ados p or el as, co m o as crenças e senti m entos c oleti vos são incu lcad os, com o m ud am , com o af et am e são af et ado s por outr os aspe ct os da vi da social, e co m o são m anti dos e ref orça dos. 0 con ceito de consciên ti va era d em asiado abrangente e crença scog niti vas ecrençasm sentim entose entr ecrençasesen
cia cole
est áti co. N ão p erm iti a dist inguir entr e orais erel igi osas,entredi
fe rent escrençase
ti m entos associ ados aestágio s di fere nte s
d o desenvo lvim ento de um asociedade.
P arafazer t ai s di st inçõe s, Du rkheim
em pregou ocon ceit ode“ re pres ent açõ esco leti vas” . 4 Representações coletivas
D urkheim qu an doescreveu qu
com eçou a em pregar es se concei e ‘ ‘av idasocialéfei
to po r vol ta de 18 97,
taessenci alm entede
represmta-
ções” (S 35 2 ). As r epre sent açõ es c ol eti vas são “ est ados da con
coleti va ” , “ di ferent es e m natu reza dos estado
sciên cia
s da con sciên cia i nd ivi du
al” .El as expri m em “ o m odo pel o qu al o grupo se concebe a s su as re laç ões co m os obj etos qu e afetam ” (R X V I). Grande
i m esm o em part e da obra
Lasoci ologieenFr anceauXIX siècle” ,Reme Bleue, XII, 1900, p. 648, escrevei 4 Durkheim,era“ que Espi nas mostrara que “ 0 obj eto ess enci al d a s ociolog ia é inves ti gar com o se forma i n e se com bin am as repre sentaçõ es col eti vas” .
1
19
pos te rio r de D urkheim
pode ser encarada c
om o o est udo si st em áti co de
re pre se ntaç ões co le ti vas. Assi m, su as ociolog ia do con he cim en to exam ina a srcem social, a refer ência social e as fun ções sociais das form as de pen sam ento cogniti
vo; sua sociologia da rel
igi ão f az o m esm o n o que diz
res pei toàsc ren ças rel igi osas ;su aprojetadas
ociolog iad am ora lteri afe it o
o m esm o q ua nto às crenças e i
deais m orais. A es se res pei to , é i m portante
notar duas
uídas n o con ceito de re
am bigüidades incl
que têm
presentaç
ão col eti va
conseq üên ci as si gnif icat ivas para a te ori a de D urkh eim . Em
prim ei ro lugar, o con ceito de repr esent ação ref er e- se tanto ao m od o de pens ar , con cebe r ou pe rcebe r5 qu an to a o que é pensado, con cebido ou percebido
. 67Ess aam bigui dade é si gnif icat ivaparasu
nhecimento
1. E m segun do l ugar, a represe ntação
ori gem , q ue de ter m ina o m odo ou
as ociol og iad o co é col
eti vat antoem sua
f orm a da m es m a, quanto em
sua
ref erênci a ou objeto (t am bém é co leti va, ev idente m ente , p or se r co m u m aos m em bros de um
a soc iedade ou
gru po ). C om iss o, D urkhei m queri a
di ze r, p or u m lado , qu e asr epre sentaçõ escol et ivassãogeradas soci alm ente e que s e re fe rem à soci eda de, e de algu m m od o são “sobre” el a. (Essa dua lidadeém aiscl araem suasoci ol ogiad a rel igião ed am oral.) D urkhei m fezm uit ocasodoq das representaç
ões coleti
5Assi m,porex em plo,F631:“O
uech am ou dere al idadei ndepende nte
vas.8 Ele usava a a
sconceitossãoreprese
n alog ia dos est ados m entais
ntaçõe sc ole ti vas(... )correspond
em àm ane ira
especi al co m o ess e ser especi al, a soci edade, conc eb e coi sas q ue s ão parte de su a experiência” . 6 A ss im,R XVII :“ Mito s,lendaspopul ares,con cep ções rel igi osasd etodosostipos ,crença sm orais, etc. ” são todos representações co le ti vas. 7 Cf. a confusão de Du rkheim ent re as cat egori as o u form as f und am entai s de pensam exe m plo, de espa ço e tem po) e divi sões espaci ais e temp orai s especí fi cas, i sto é, a
ento (p or crençasobre
com o o espa ço e o temp o s e di vi dem. 8 V er especialm ente D urk heim , “ Représent ati ons indivi du el les et repr ésentat ions col lecti ves” (1898), reproduzido in: Sociologie etphilosophie, PUF, Paris, 1951.
20
indivi duais, ou representaç ões indivi dua is que, em bo ra inti m am ente li gadas ao seu “sub stra to" , as cél ulas cere brai s, de cu ja ati vi dade com u m ela s resul ta m , nã o pod em ser reduzi das nem int eir am ente exp li cadas pelas m esm as, m as possu em suas próprias caract
erí sti cas, são rel at iva
m ente autônom as, e podem se i nfluenciar diret amente um as às out ras e com binar- se de acordo c om suas própri as l ei s. An alogam ente, af irmou ele, as represent
ações c oletivas resultam d
o substrato de indiv ídu os associ
ados (o que “vari a de acordo c om sua disposi ção geográfica e a natureza e nú m ero de se us canais de com un icaçã o”) m as nã o podem se r re duzi das nem intei ram ente explicadas pelas caract erí sti cas de ind iví duos: possu em caracterí stic as suigeneris. A cr edit ava que suas form
as srcina is e
“fundam entai s” “ le vav am as m arcas de sua srcem ” , de m od o que “ o objetoprimeiro detodacon sciênciasocialrelaci ona-seest rei tament ecom o nú m ero dee lementosso ci ai s,am aneiracom o sãoagrupadosedi st rib u ídos etc ., is to é, co m a na tureza do sub st rat o” . Mas, “ u m a vez as si m form ad a um a prim eira base de repres entações ", tor nam -se “ rea li dade s parc ia lm ent e autônomas que vi vem suaprópri a vi da” , c o m “ op ode rde at rair -s e e repeli r-s e m utu am en te, f or m ar sí ntes es de todos os tipos”
e
engend rarnovas re pr ese nta çõe s.Daí, po rexem plo,o “ luxuriant ecresci m ento de m it os e le ndas, si ste mas teogôn icos e cos m ológicos etc . ” e tam bém “ a m an eira com o as idéi as re ligi osa s (. .. ) se com binam e se par am e se t ransf ormam um as nas out ra s, dando srcem a com plexos cont raditó ri os” (R XIX ). Deve ri aex is ti r, afi rm avaD urkh eim, um ram o especi al d e soc iologia (el e o ch am av a' ‘psicologia social’
’) dedicado a est
da p rod uçã o colet iva de i déias" (que, h á toda razão
udar “ as lei s
para cr er , seri am
am plam ente dist int as das da psico logia ind ividua l) , i nvestigando “ atra vés da co m pa raçã o d e temas m ít icos, l endas e tradi çõ es populares e lí n-
guas, os m od os p elos qua is as re present ações sociai s se atraem o se exd t i em , co m o se funde m ou se tornam di sti nta s etc. " (R XVII I) . De que m od o D ürkhe im relaciona as repr esent açõe s cole ti vas com outros traços da v ida social? P ara responde r, é necess ári o voltarm o-nos para sua con cep çã o dos fen ôm eno s socia is em ger al , i st o e', a o seu con ceito de fatos sociais. ’ Fatos sociais
Dü rkhei m afi rm ava que toda a sociologia s princí piofundam ental,areal idadeobjetivadosfatos
e baseava em “ nosso soci ai s” (RX X III ).
Para que a sociolog ia sej a pos sí vel , “ deve , acim a de tudo, t er u m objeto próp ri o” , um a “real id ade que n ão est ej a n o do m ínio das outra s ci ênc ias” (S IX ). 0 que D ürkhei m com preendia en tr e os f at os soci ai s e de que m odo osclassi fi cava?E qu ecaracte rí st ic as acredi tavam arcá -l os, diferença nd oos de outros fenôm en os ou tipos de “ fato” , dos obj etos de outras ci ências ? A ntes d e co n sid e ra r essas questões, de ve-se n o ta r a estran h eza, p a r a os le it ores m odern os, do u so que Dü rkheim faz de “ fato ” , definido exclusi vam ente pe la r egr a de que os f at os devem ser est udados co m o “ coisas” (R cap. II ). Po r "fatos sociai s” ele pre tenderi a i ndicar f enô m eno s o u fa tore s ou fo rças e , co m are gra de que deveri am se r est udados co m o cois as, s ig ni fi caria que devem se r encarados co m o “ real id ades ex te ri or es a o indiví d u o” e i ndependente 9 Cf
s d o ap arel ho conceituai do observad
. a exce lente disc ussão em Roger Lacom
be,
or.9 10
La méthodesociologiquedeDurkheim,A lcan,
Paris, 1926. 10 Em S IX Durkhei m empre ga “coi sas” ( çhoses ), p elo m en os em quatro senti dos, a s aber : 1) fenôm enos com carac ter ís ti casindepe ndentesdo observ ador; 2 ) fenôm enos cu jas caracter íst icas só pod em ser determi nadas atr av és de inves ti gação em pírica (por oposiçã o a o raciocín io ou intuição apriori)\ 3) fenôm enos cu ja exist ência é independente das vont ades i ndividuais; e 4) fenôm eno s qu e só pod em serestudados atr avé s de observação externa, istoé, atr avés de indicadores,
22
Durkhei ra encar ava os fato s soci ai s com o a lgo ao long o de um con tí n u o. E m u m p ó lo estari am os( fenôm en os sociai s es trut urai s) "anatôm icos ou m orfol ógicos” , const rui ndo a “ bas e ( substrat) da vi da col eti va” : consi st em n o “ nú m ero en an atu reza da s p ar tes el em ent ares de que se com põ e a s oci edade, a m an eir a com o são arr anj adas , o grau de coalescên ciaque ati ngir am , adist ri buiç ãod apo pu lação sobr easuperf í cie do te rr itór io, o nú m ero e a nature za dos canais de com un icaçã o, a form adehabit açãoet c. ”(R 1 7 ).1 1 Exist em ainda o que se po deria cham ar dejnorm as insti tuc ional iza das ))que pod em ser m ai s ou m enosf orm ai s- “re gr asl ega isem o ra is , d og m as rel igi osos, si ste m as f inan ceiros etc. ” - crenças e prát icas est abel eci das qu e tê m srcem ou subs tr ato sej a na “ soci edad e pol ít ic a com o um tod o, ou em um dos gr upos so ci ai s que a com põe m ” (R 9 -8). Final m ente, ocup an do o res to do con tí nu o, est ão fat os soc iais n ã oinstit uciona li zad os, m as que, “ sem apresentar em ess as form as cri stal iza das , tê m a m esm a obj et ivi dade e a m esm a a scendência sobr e o indi ví d u o” . Sã o as “corren tes sociais” , e pode m se r “corr ent es de op iniã o” rela ti vam ent e es táve is ou, no extr em o, “ erupções pass agei ras ” co m o as que oco rr em qua ndo “em um aass em bl éi ag er am -segr an de sm ovi m ent osde ent usi asm o, deindignaçãoou de pie dade” (R 9-10).Durkhei m af irm ava que “ todaum asé riedegrausse m descont inuidadeli gaosfa to sd am ais claran atu reza est rutu ral co m as livre s corr entes da vida social que ainda nã o foram am ol dad as de m an eira def ini da. A s di fe renças ent re el as são, portanto, dif erenças ap enas n o grau de con solida çã o que aprese n ta is co m o cód igos legais, est atí sti cas etc. (Cf . Ben oit- Sm ullyan, ''th e S ociologism o f Ém il e Durkheim and h is Sc h ool” , i n: H. E . Barne s (or g ) , AnIntroduction to theHistoryofSociology, C hicag o Un ivers ity Press, 1948, p. 591 .) 11 Inexp li cavelm ente ess e parágrafo fal ta n a tradu ção inglesa .
23
tarn” ( R 19 ). Ness e esqu em a classi fi catório, as represe ntações col eti vas seriam , portan to, f atos si tuad os n a superest rut ura. C om over em os, o focod aa tençãod eD urkheimvolt
ou-s e,dur ante
sua vi da, d os fen ôm en os estr utur ai s para os super est rut urai s, à m edida que o p eso expli cati vo atri buído a os últ im os aum entou. C ontudo, v al e not ar que, m esm o no tem po das encarava
Regras do método sociológico, ele as
com o, ao m esm o, t em po i nti m am ente i nter -re laci onadas e do
m esm o ti po genérico.
As divi sões polít icas, afi rm ava, são m
m eram ente m ate ri ai s e geográfi est udada por inte
n u éiio da legi
m ovi m entos de popu
cas, e a org an ização so sl ação, que a deter
l ação, por exem
orais, nã o
cial só p ode se r
m ina; enqu an to que os
plo, do cam po para a s c idades ,
resul tam de corr entes de op inião, e os ti pos de h ab it açã o e cana is de com u n icaçã o, são f orm ad os pel os cost um es e pel as lei s. Es ses m od os dese r est rut ura isou m orfol ógicos “ sãoapenasm
odos consoli dad osde
agi r” ( R 18). O q ue, portanto, disti
s de ou tras espéci
ngu e os fatos sociai
es de
fato? HasRegras,D urkhei m d ef inia u m fat o soc ial com o “ to do m ei o de ag ir,fi xo ou nã o,cap azdeexerc
ers obreo indi víduou m acoe rção exte rna’ ’
e, al ém di ss o, com o “ to do m eio de agi r que é ge ra l em to da um a dada sociedade, existi
nd o por si só, indep end ente de suas m
an if estaçõ es indiv i
duai s” ( R 1 9 ) . E lepret endiaf azerdi sso ape nasum a “d ef iniç ãoprel im i nar”-
com opr ot es tou m ai stard e-,nãoae
ncar ava com ou m ad ef ini ção
intuit iva, essenci ali sta, resum indo todos os traços do fato s ocial, m as si m ple sm enteofer ecendou m si na lat ra vé sdo qua lse pudess em reconhecer fenô m en os so ciológ icos (R X X ). 12O utra s defi nições seriam possí prete ndia que
a sua co ns is tis se n u m gu ia úti l para a pes qui sa.
Cf. D urk heim , “ Représent
atio ns indivi du ell es. .. ” , p. 35, nota.
vei s: el e
24
A d e fin iç ã o d e D u r k h e im c o m p r e e n d e três cr ité r io s d istin tivo s: caráter externo, coe rçã o e generali um a u m.
dade m ais independ
ênci a. V ej am o-l os
Osf atossoci ais,esc reveuD urkheim ,existem ‘‘foradas con sci ênc ias individu
ais". Assi m, po r exem plo, as ob rigações dom
contratuais são def
ini das extem
am en te ao ind iví du o, nas l ei s e costum es;
as crença s e prática s rel igi osas “ exist em anteriorm qu e exi st em fora dele”
ésti cas, cívi cas ou
ente a o ind iví du o, por
; a lí ng ua e a m oeda , com o as prát ica s prof is si o
nai s, “f un ci ona m indepe ndent em ent e do m eu uso das
m esm as” (R 6).
D urkhei m , ne ss e ponto, com eteu u m a a m bigüi dade import só tev e parcial m ente con sciência, e é respo crí ti ca de que seu “
nsável p or gran de part e da
real ism o social ” im pli ca a exist ênciade
gru pa i”, di st inta da de se us m em bros tom
ante , de que
ad os conjuntam
soci ais pod eriam se r “ ext ernos” a qualquer indiví
um a “m ente ente. Os fat os
duo deter m inado, ou
m esm o a to do s os i ndiví duos nu m a det erm inada so ci edade ou fal ar del es co m o “externos às
consciênc
ias individua
grupo:
is” deixa aber
tas
ambas as interpretações. Ele obviamente visava a primeira, mas freqüente m ente em pregava for
m as de expres são que im
pli cavam a úl ti
m a. N egou repeti dam ente rei fi car ou hipost asi ar a sociedade e es
cre veu
que “n ad a ex ist e na vida soc ial que n ão se encon tre nas consciênci indivi dua is ” (D 3 42 ); p or outro lado,
as
em pre gou efet ivam ente ter m os t ai s
co m o “ con sciência col eti va” e “ alm a col eti va” e e sc re veu so bre “ es se se r consciente qu e é a sociedade, (... ) u m se r suigeneris com sua pr ópri a natureza especí própria dif
fica, di st in ta da de s eus m em bros, e u m a personali
er ente das p
dad e
ersonal idades indivi du ais” .13 C om o form u lou
Georges Sorel , D urk he im di sseque erades necess ári o introduzirano 13 L’éducation morale, A lcan , Paris, 1925, p.
69.
ção de
25
u m a m ente social , m as raciocina va c o m o se a e st ive ss e introdu zind o.14 A firm a n d o q u e o s fa tos socia is (e p a rtic u lar m en te as rep resen ta ções c o le ti vas ) sã o exte ri ores aos indivíduos, D urk heim deveri a t er dito q ue são ao m esm o tem po interi ores ( is to é , interi orizadas) e exteri ores a qu alqu er indiví du o da do; e que só são exte rnos a todos os indiví duos exi st ent es no sent idodeq uefora m tr ansmit idas cul tural m entedo passadoparaop resente. A n o ç ã o d e “ c o e r ç ã o ” é a in d a m a is a m b íg u a . E le a e m p re g a n o s segui ntes senti dos, sem parecer dar -se con ta de qu e são d isti ntos: 1) a autori dade das r egr as l egai s, m áx im as m orais e con ven ções ou costum es, tais co m o se m anif estam at ra vé s das sançõe s qu e vêm à baila qua nd o se tent a violá-l as^ 2) a necessi dade d e segu ir cer tas re gras, pro ced im ento s ou m étodos com o fim de des envol ver ce rt as ati vi dades co m sucesso (por exem plo,um fr ancêsde vef al ar fr ancêsparase rc om preend ido;eo indus tr ial deve em prega r m étodos usuais sob pe na de te r de enca rar a possibi li dade de ruína); 3) a influência causal de fatores ecológicos ou “ m orfol ógicos” (por exem plo, a i nfl uência de canai s d e com u n icação na dir eçãoei nt ens idadedam igraçã oedoc om érc io); 4 ) com pu lsão psicol ógica em si tuaç ão de m assa (com o em m ovi m entos col eti vos de “entusi asm o, i n dignaçã o e pi edade (. .. ) qu e nos vêm de fora e nos con du zem independe nte m ente de nós m esm os” ) (R 9 ); e 5Í determ inação c ul tura l (qua nd o c er tas idé iaseval ores dad ossocial m entesão int eri ori zadospo ri nd iví duosqu e,co m isso, ad qu irem certas crenças, desej os e sentim entos, e ag em de ce rta s m aneiras; as si m,a edu caçã oé “u m esf orç ocontí nuoparaim porà criançam odosdev er, se nti re agir aos quais n ã o t er ia che ga do espontaneam ente”) ( R 11) . M ai s u m a ve z, co m o Sore l observou , D urkheim est endeu exageradam ente o signifi cad o de “c oe rçã o” . Os senti dos 1 a 5 são cer ta14 Georges Sore
l, “ Les théories de M. Du
rkheim ” ,
Le devenir social, 1 ,1895,
p. 19 -
26
m en te di fer entes entre si . Esp ecial m ente 1 refe re- se à coe rçã o a plicad a à obriga ção at ra vé s do m ed o às sanções; 2 r ef er e- se a u m a relação m eiosfins (x é o ún ico m eio para ati ngir y ); e 3 a 5 apontam di fer ent es m odos de deter m inação dos pensam entos e açõe s hum anas. C ham á-l os t odos de “ coe rçã o” pres ta -se , n o m ínim o, a con fusão. Entende- se natural m ente “ coe rçã o” n o senti do 1, ist o é, r efer indo- se a c asos em que u m indi víduo dese jaag ir deu m m od o eél evadoa agi rdeo utr o:daíaênf asedeDurkheim sobre os laço s entr e a coe rçã o so cial e “ o p restí gio de qu e cert as r epres ent a ções s ão inves ti das” , e o fato de falar em u m ‘‘pod er coerciti vo’ ’, at ra vés do qu al “ se im põ em m odo s de ag ir, de pensar e de sent ir” aos i ndiví duos (R X X I, 8 ). M e sm o n este ca so ca b e ria u m a d istin çã o (p a rcia lm e n te p erceb i da p or Durkheim ) ent re a pu ra aut or idade, nu m extr em o (em que o asse nti m entoocorr ep ora cei taçãovoluntári ada legit im idade), e, n o ou tr o, o pod erc oerci ti vo (que sem anif esta porqu eset em em sanç õesnegati vas) . C ontud o, parece cl aro que o senti do parad igm ático de “ coe rçã o” , pa ra Du rkheim , é o exe rcíci o de auto ri dade, sus tent ado po r s anções, co m o objeti vo de con form ar os i ndivíduos a re gr as j É obviam ente forç ar um p ou co o sign if icado d a palavra apli cá-l a a o ser itido 2, segu nd o o q ua l e u estari asob “ coe rçã o” para falar fr ancêsse des ej ass e se r c om preen dido p or france ses (em bora naturalm ente s e fal e, po r exem plo, de “ coerções do m er ca d o"') ■M as ap li cá-la aos s enti dos 3 a 5 ainda ser ia m ais enganoso, já q u e se re ferem à q u ilo q u e in flu e n c ia o s d ese jos d o s h o m e n s e n ã o àq uilo que os frus tr a, às determ inações de co m o os h om ens pensam , se nt em e agem , e não à m odif icação do com port am ento, levan do os hom ens a conform arem -se a regr as que,de ou traform a,tr ansgr edi ri am. * * N. d o T. : Em inglês: “constraints iner ent es ao m ercado” .
o f t he market” ; a tradu ção m ais coere nte s eri a “ li m itações
27
(Deve-se acr escent ar que u m ti po de “fato
social” q
ue D urkh eim cedo
est udari a, a sa be r, as cha m ad as “ cor rentes su idd og ên icas ” q ue levari am os ho m en s a com eter suicí dio, eram , de seu po nto de v ist a, fat ores ca usais quele var iamosh om ensa
romperas regras.)
De fat o, o int er ess e central de D urkh eim eram m od os pelos quai os f ator es soci ais e cul turai s influen ciam , e ef eti vam ente constit grande parte
s
uem , em
, os indiví duos. N o decu rso de su a car rei ra, el e se preocu
po u
cad a ve z m ais Com os sent idos 4 e 5 a cim a, q ue con si derava est re ita m ent e vinculados, 4 caracterizando os períodos de criação e renovação ( “efervescên ci as coletivas” ) d e i déias e valores t ransm iti dos atra vés de 5 . D e fato, ap ósz ty regras dométodo sociológico , ele fi nalm ente de ixou de dar ênf ase ao cri téri o de “ coe rçã o” , o q ua l considerava, apena s par te de u m a d efinição preli es tes últ imos, ad m it iu Durkheim rí st ica oposta”
con form e es cr eveu ,
m inar, indi cati va, dos fat os soci ais: , podem “ tam bém apr es ent ar a c aract e
, ist o é, oposta a coerçã o n o sen ti do 1 - a sa be r, o p oder de
atração dos idea is (i nteri ori zados) a que os h om en s s e deixam prender e que,apa rti r daí ,infl uen ciam seucom portam ento,op óloop ostoao ‘ ‘deve r’ ’ da vi da m oral, ist o é, “ o bem ” (R XX- XXI, n ota ). De m od o ge ra l, a c oerção era u m a n oçã o dem asiado ger al para ident ifi car to dos os m odos pel os quai s D urkheim encaravao
indiví duoc om osen do afet adoporfa to re ssoc ia is .
Finalm ente, o cr it éri o de “ gen eral idad e m ais ind epen dên cia” re quer explic
açã o. Um fato social poderia
tam bém ser defi nido, e sc re veu
D urkheim , por se r “ geral n o inter io r do grupo' ” e, o qu e é i m port ante, por (existi r “ independentem entedasf orm asq ue assum eao se r gene rali zado’] ) ( R 15-16 ).P orgeneral idade,D urkh eim est avat entandoidenti res específ icosa sociedad esparti cul ares , is toé,n em sã otraçosestr te pesso ai s de indivíduos, nem
fi car fat o it am en
atr ibut os univ ersai s da na tureza hu m an a.
28
F au conn et e M auss isol aram es se aspec to dos f ato s soci ais qu an do o s car ac te ri zara m co m o “cer to sm od osdese nt ir, pen sare agi r” queos indiví duosnã o possuiri am “seti ve ss emvi vi doem outr osgruposhu
m an os” .15
Contudo, generalidade nesse sentido não basta, afirmava D urkh eim , para caracteri
zar os f atos soc iai s, já que n ão os dist ingue de
suas “ encarna ções individuais”
. São “ crenças, tendênc ias, práti cas do gru po
tom ad as col eti vam ente” p or op osição às “form as qu e os est ados col eti vos assum em qu an do re frat ados at rave 's dos indivíduos” “ as norm as leg ais e m orais, os
. E xem plos disso s
afori sm os e d it ados p opulares,
ão
art igo s de f e'
em qu e as s ei tas rel igi osas ou p olí ti cas con de n sam suas c renças, padrõe
s
degastoe sta bel ec ido s poresc ol as li ter ár ias etc. ” (R 1 2 )po ro p os ição as u as ap li cações indivi
du ais. A qui, D urk heim ap ontava as
dis ti nta s e ori entadoras d
normasenquan
to
o com po rtam en to i nd ivi dua l. N o prefácio à se
gun daed iç ãodas Regrasel e estendeu e
ss a idéia e , segu indo Fa ucon net e
M auss, falou d as ‘ instit uições’ ’ ( “ todas as crenças e m ídos pelacol et iv idade ” ) co m o op ráprioobjet
od os de cond uta ins tit u
odasoc iologia(RXX
II -XXIII ).
M as a s norm as e i nst itui çõ es não eram as ún icas f orm as em que D urkheim
recon h ecia os
f at os soci ai s c om o identi
f i cávei s in
dep enden tem entede suasen carn açõe sindivi dua is .Ases tat ís ti casdeca sa m ento, suicídio
ou taxas de natal idade r egis tr am “corr entes de op iniã o”
(cuj ai ntens idade vari a deacor docom a ép oc a eo p a is), jáq u ee leacr edi tava qu e no s da dos estat ís ti cos as circunstân cias i ndividuais se an ula va m m utuam ente. D urk heim apontava,
co m iss o, as causas soci
ais ( inf eri das
a par tir de est at íst icas ) que, segu nd o afi rm ava, i n fl u en ciam o com porta mento individual. 15M . M auss e P. Fa ucon ne t, “S ociolo gie ” , GrandeEncyclopédie.GrandeEncyclopédie, Pa ris, 1 9 0 1 , t . XXX, pp. 165 -176, especi alm ente p. 166.
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29
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0 cri téri ode gener al idade,por tanto,com
bina-se,em
Du rkhei m ,
com a i déi a d e que a form a ge ra l é i ndep ende nt e do o m portam en to indi vi dual ao m esm o tem po em que o ori ent a: o fat o sod al nã o é soc ial porq ue é geral , m as “ porqu e é colet ivo (ist o é, m ais ou m en os , obrigató rio) (.. .) é u m est ado d o gru po q ue se r epe te entr e indiví dios porqu é i m po sto” (R 14). E D urkhei m nos dá nov práti cas t ransm iti das d o passado pela edu
os e xemplos
caçã o, e de sentm
e lhe s
de crenças
e
entos coleti
vos em si tuaçõe s d e m ass a. 'M o iss o para r eproduzi r a anbigüidade que já d e te c ta m o s n a n o ç ã o d e c o e r ç ã o : as n o r m a s p o d e m se r“ im p o s ta s ” p o r m eio de san ções aos indiví duo s qu e desej am desvi ar- se d elas. Corrente s de op inião, crenças e práti
cas, s enti m entos colet ivos são “ im pos to s” aos in
diví duos q ua nd o, u m a vez i nte ri ori zados, i nfl uen ci am -nos apensar, sen ti r e ag ir de certas m Osconceit
an eira s.16 osqu evi m osexa m inan do press upõem rl ara m ent ece r
to nú m ero d e d icotom ias ce ntr ai s, sendo as princi pais er tr e soc iolog ia e ps icologia e
entr e so cial e i ndivi dual. Nes te po n to seri a ít il exam inar o
pape l des sas e de outras relaçõ es existentes
dicotom ias n o p ens am ento de Du
rkhe im , e as
en tre elas . DICOTOMIAS
Sociologia e psicologia
P rocl am and o asociol ogiacom o ciênciai nd epe nd en te, D urkhei m pen sav a s er ne cessário de clará -l a inde pe nd en te d a psicologia. 17H avia “ Nu m apassagem , D urkheimesc re ve(R 124-125)qu ea "car act erí st ic aes saci aldos ‘fenôm enos sociológicos’ é o seu po de r de ex ercer press ão externa sob re cons ciências indviduais’’ . Is so repet e a m esma am bi güi dade. 17 Nis soe leer au m bo m discí pu lo deCom te ,quebaniraap sicol ogiad ah ie arquiadas ci ências; m as ao contr ári o de C om te, que s ubm et era a psicol ogia (o u idéologie)d< se u temp o a e xam e
30
entr e e las, afi rm ava el e, “ a m esm a ruptur a de conti nu idade que ent re a b iol og ia e as ci ências fí sico- qu ím icas. Por conseg uinte, cad a vez que um fenôm en o soc ial é expli cado di re t am ent e por um f enôm eno psi cológ i co, p odem os es tar cer to s de que C om o exa tam ente el e traçou essa
a exp l icação
é f al sa” (R 128) .
li n h a es tri ta entr e a so ciolog ia e a
psicologia? D e f at o, el e a traçou de num
erosas m an ei ras e com
iss o, sem
perce ber, co n fun d iu inú m era s disti nções d ife rent es. Isso p od e ser vi st o m elhorrealç and o- seosquatrodi fer ent esm odo sco m o,em vár iospont os , Du rkhe im conceb iaa “p si col ogia" . 1.
explamnda.
E m prim eiro luga r, el e a defini a pelo seu objeto, ou
De sse ponto dev ista,ap sico log iaé “ ac iên ciad am ent ed oindi ví duo
(de
1’individu mental)’’ rel ati va aos “ est ados d a con sciên cia i n dividu al”
po r oposição
aos da “con sciência c
oleti va” , “c o m as re pre se ntaç õe s i ndivi
du ais p or op osiçã o às coleti vas ” (R X V I) . N o decu rso de sua car
rei ra, e le
passou ains ist ircada vezm aisem qu e asre al id adeses tudadaspelasocio logia e ap sicologia eram igualm ente mentai s, em bora de nat urez as di fe rent es e govern ada s p or lei s di fer entes . N ão obstan te te r co loca d o a questão sobr ese um aú nicapsicologia“
form al" nã o abrange ri a,afi naldec ont as,
o co m po rta m en to das repre
sentaç ões col eti vas e indivi dua is, el e duv idav a
m uitode que issooc orres se (R XV II -XIX ). Adis ti nção repousainte te sobre atese de D
urk he im sobre dif erent es níveis de r eali dade, con sidera
d a adi ante , e seu press nível ( para que a sociol re al idadequenão
ir am en
uposto de qu e a s ociolog ia deve possuir se u próprio og ia e xi st a, “dev e tom ar conh ecim ento de um a
sejadod om íniode ou tras ci ênci as” (S K ) .A bandonan-
det el hado, sobaalegaçãodeque“ m uti lava”o hom em , Du rkhei m nu ncatent ouum acrí ti cada p sicolo gia co nte m po rân ea . Pa ra u m a b oa d is cussão a e ss e respei to, cf . D. Es se rt ier , Psychologieet sociologie, Paris, Alcan, 1927.
31
d o-se essa te
se e es se pressuposto, a plau
sibi lidade , coe rê n cia e v alor dessa
rí gi da d icotom iadesaparec em . E m borasepossadis ti nguirdi fer ent esní vei s do qu e h á para se expl ic ar, d o níve l pura m ente pes soal a o m acronível da soc iedade com psicolog
o um to do, nã o se rá o caso de
ia e o outro à sociol Em segundo
vi ncular um ní vel à
ogia.
lug ar ,Durkhei
m tam bém co nsi derav aque apsi col o
gia consi st e n u m ti po parti cul ar de expli cação, n
a f orm ulaçã o de u m
explanam. De f ato, el e apres ent ava i nú m eros exem
tipo distinto de
plos
de exp li caçã o especi fic am ente psicol ógica, sem se dar conta de q ue eram di st inta s e , portanto, sup un ha ter m ostrado que todas eram igu alm ente inapl icáveisa fenôm en os so ci ai s. 2.
P õr u m lado, encar ava a exp li cação psicol ógica co m o expli ca
çã o em te rm os do que cha
m ava f at ore s “ orgâ n ico-psí qu icos” , ist o é, ca-
rac tenst icas (pré-sociais) d
o orga n ism o indivi dua l, dada s ao nascer e i n
dependentes
de infl uê ncias soci
ais. Assi m , esc reveu qu e s e “ os f en ôm en os
sociai s (. .. ) deri vassem diret am ente da con sti tuição org ân ica ou fí sic a do h om em sem que q ua lquerou tro fat or int er vi es se em seu desenvolvi m en to, a sociolog
ia se disso lve ri a n a p sico log ia" .18Os exem plos q ue d ava desse
ti po d e explanam eram as dis posi ções psi copatológicas, a raça e a h re di ta ri edade . Su aa rgu m en taçãop arad isti ngu irda sociologia de expli cação era
e es set ipo
ao m esm o tem po em píri ca e co nceit uai. D o ponto de
vi st a em píri co, el e sust entava qu e os fat ore s orgân ico-psíqu
icos, por e
xem
p lo, nã o p od iam exp li car dif ere ntes taxas de su icí dio, e qu e as dif erenças raci ais não p ode ri am expli car as di fe renç as n a orga n iz ação soci al e n a cultura ( R 123 ss.). C onceitual m ente, el e s ustent ava que explicações de 18 Durk heim , “L as ociolo gia ed i l su o dom inio sci en tif ico” (19 00 ), traduzido em va la sociologie française?, Paris, Rivière, 1953,
p . 1 92.
A . Cuv illier,
ss e
Où
32
ti po t endem
a em pregar conceitos am
bíguos e não
-operaciona
is (tai s
co m o ra ça) e n ão con segu em ident ifi car var iáve is independent es, e com iss o tom am -se f acil m ente c ir culares (por exem plo, exp li cand o-se o cará te r ar tí sti co da sociedad e ateniense em congênitas)
. P or outr o lado, D urkheim
term os de faculd
ad es est ét ic as
sempre s e equivocou
quan to ao
pap el dos f ator es orgâ nico-p síqu icos. Ele esc reveu sobre as “na di vi duais” com fat or social determ
o sendo
turezas i n
“m eram ente o m at eri al i ndeter m inado que o
ina e transform
a” ( R 13 0); n ã o obstant e, fato res pr e' -
soc iai secondici onad osorganic am ent edesem penham um papel prepon de rant eem vár iospont osdes uast eo ri as - com o,po rexe m plo , em um a li nh ai m port antedesu (orgâ n ico-psíqu
aexpli caçãod aa nom ia,asa be r,an oç ãod edes ej os
icos) ir re st ri to s e sem lim ite s, e tam bém em sua con cep
çã o de u m a distr ibui ção natural dos t carac te rís tic as biologica 3. lógicas com
al ent os e sua doutri na sobre as
m en te deter m inada s da f em inil idade.
Em seguida, o exp li cações em
D urkh eim às vez es enca rava as explicações
te rmos de cond
du ais” p or op osição a cond ições gera
ições part icul ares ou “ indi vi
is ou “so ciai s” : ass im , e le afi rm ava
qu e as con dições qu e l evam “ es se ou aquele indivídu dizem re spe ito ao psicólogo
, n ão a o sociólog
o a m atar -se (.. .)
o” , p or oposição às “causas
capa zes de a fet ar , n ã o indiví duos separados,
m as a o g rup o” (S 15 ). A
j us tific a ç ã o p a r a es s a d is t in ç ã o é c ir c u la r o u e n t ã o a rb itrá ria . C ircu la r, s e ‘ ‘parti cular’ ’ f or defi nido c om o o que n ão e ntra em explicações sociológi cas; arbit rári a, j á qu e é d if ícil ver on de se deve si tuar a lin h a de d em arc a çã o ent re ge ra l e parti cular e, em todo caso, com com re lação a o Suicídio, cir cunstâncias se rre lac ionadasco
m aorg an izaçãoda
o Halbwachs afi
rm ou
parti culares p od em cert am ente soci edade.1 9
19M . H albw achs , Les causes du suicide, P ari s, A lcan, 1 30, p. 13.
psico
33
4.
Finalm ente, e o m ais freqüente,
el e encarava
a exp li caç ão psi
cológicaco m oexp lic açãoem te rm os dee st ado sou dis posi ções m entai s com o qu and o os te ór ic os do contrat o soci al explic am a s oci edade ‘‘com o u m si ste m a de m eios i nst it uí do pel os h om en s para ati ngir ce rt os fi ns” (R 120) ; ou qua nd o Com te apela para a t endênci a i nata do h om em para o progr ess o; ou Spencer para o m edo de v iver e de m orrer e o desej o de fel ici dade; ou
qua nd o os sociól ogo s expli cam a organ izaçã o da f am íl ia
pelos sentim entos paternos ou
fi li ais , ou o tabu d o incesto pe
la ave rsão
inst inti va, ou a vida eco n ôm ica pelo desejo de ri queza, ou a reli gião pel os sent im ento srel igi os os.Sua argu m entaçãoe m favordaex clusãod oses ta dos e di sposi ções m entai s indi vi duais com
o exp li cação de fenôm
enos
soci ais e ra de qu e se tr at ava de fenô m en os dem asiado ger ai s para dar con tad as d ife renças ent
re i nsti tui ções e soc ie dades, ou
então, q ue já sã o
conseq üên ciado qu epret endem exp lica r. C om o Durkh ei m for m ulou, “ a hist óri a m ost ra que e ss as incl ina ções , long e de serem
inere nte s à natureza hu
m an a, est ão int ei ram ente
ause nte s em cer tas cond ições soci ais, ou en tão apresent am ta is variações de um a soc iedade para out eli m ina ção de todas
ra em que o re sí duo que perm
es sas dif erenças
rado de ori gem psicol ógica -
anece após a
- o ú n ico que pode ser
re duz- se a algo vago e
es tá i nfi nitam en te long e dos f ato s qu e exigem
conside
esquem áti co que exp li caçã o. Ass im ,
es ses senti m entos resul tam de org an izaçã o coleti va , long e de se rem su a bas e” (R 131- 132) . E, de fat o, a lgum as das m el hores passagens são aqu el as em qu e el e ataca exp li cações des inútei s e f ácei s, n o ens aio sobre
cr íti cas em D urkheim
se t ipo, qu e encarav
o incesto , p or exe m plo, e nas
elementares da vida religiosa.
a co m o Formas
34
Es se s, portan to, e ram os cr it ério s pe los quais D urk heim disti ngu ia a so ciologia
da p sicol ogia. E le ef et ivam ente con ced ia que os fat
viduais e col eti vos fossem “ inti m am ente interl
igados”
ore s indi
e até que os pri
m eir os “facil it am a exp li caçã o” dos últ imos. M as sem pre i nsi st iu em qu e as “ duas c iê ncias são (. .. ) tãoclaram quaisquerquesejam
ented isti ntascom opod em serdu as ci ênci as,
asrel açõe squepossam
ex is ti r entreel as” (R 136 , XVI) .
Social e individual
D urkheim
afi rm ou queess adi sti nçãom etodo lógicas eguia- sede
u m a disti nção o n tológ ica subj acente entr
e ní vei s de real id ade: “ a socie
dade nã o é um a m era som a de i ndiví duos; ao contr d o por su a associação
ári o, o si st ema f orm a
repr ese nta u m a real idade específ
ica que tem suas
próprias c arac ter ísti cas” e era “n a na tureza de ss a indivi dua lidade, nã o na de suas unidades c
om ponen tes, que se dever
iam buscar as c ausas im edia
tas e det erminante
s dos fat os que l á ap arecem ” (R 127 -128). E el e em pre
gou inú m eras a na logi as de “ sí nt es e cri ad ora" p ara a poiar ess a te se on tológica:
as propri edades d a célu la vi va n ã o estão em
m inerais c onsti tut iva s, a dureza d
o bronze n
suas partí culas
ão se enco ntra n o cob re e no
est anho, ne m as propri edades da á gu a n o hidrog ên io e no ox igêni o. Du rkhei m es tav aequivocadoem viduali sm om etodo lógicoesuade
ac redi ta rqueseuataq
fe sada exp li caçãosociológicaexi
qu e defe ndess e essa form a extrem a de realism
o social e su
ue aoindi giam
st ent ass e qu e os
fat os sociais era m suigeneris,com subs tr at o própri o. “ Basta ri a afi rm ar que pou cas ati vi dades h um an as p od em se r identif icadas ou sat isf ato ri a m ente exp li cada s sem ref erênc ia, explí cit a ou im plíc it a, a fat ore s soci ais. 20 Cf . S. Lukes, “ M etho dological Individualism R econsidered” , BritishJoum. Sociology,XIX, 1968, pp . 119-129; reprodu zido in:D. Em m et e A. M aci ntyre (orgs .), Soàological Theory and Philosophical Analysis, Lond res, M acm illan, 1970.
35
A lé m d isso , é m u it o im p o r ta n te p e r c e b e r q u e , tr a ç a n d o e s sa lin h a e x tre m am en te nít ida ent re o so cial e o indivi du al, D uridi eim est av a, m ais um a vez , confu nd indo ce rt o nú m ero de dist inções (m u it o) di fer ent es . Ess a d icotom ia apare nte m ent e i nocen te c om preende, pelo m gui ntes di st inçõe s: 1) e ntr e o so ciám en te determ org ân ica ou biologicam
enos, as se
inad o e o qu e
é dado
en te; 2) entr e f ator es especí fi cos a soc iedades par
ti cul ares e t raços abs tr aí dos da n atureza hu
m a n a ou postulados sobre el
3 ) entre fat ore s ge rai s dentr o de um a d ad a soc iedade ou
a;
gru po e os que são
part icul aresau m ou vár iosindi ví duos;4) entr eaexperiênci aeo com por tam ento de i nd iví du os associ ados, po r op osição , aos de i nd iví du os isol a dos; 5) ent re ob rigações socialm
ente pr esc ri tas , e dese jos e com p orta m en
to s espontâneos; 6) entrefatoresprovindosd são gerados em
sua consciênci
e “ fora” d o indiví duo e os que
a; 7 ) ent re pensam entos e ações di
ri gi das
paraobj et ossoc iai so u públic oseo sq ues ãop uram entepes soai sou pri va dos; 8 ) ent re com porta m en to al tr uís ti co e egocêntrico. D urkh eim con fun diu ess as di sti nções. A lém do m ais, reif icou-as nas abs tr açõ es de “ soci edade” e “ indiví du o” . De f at o, co m o obse rvou com ju stez a M orris G in sb e rg , “ e m g e ra l la société'tinha u m efe it o i ntoxicante sobre sua m en te", i m ped indo qua lquer anál ise com plem en tar.2 1P or “so ciedade” ele às vezes entendia a transmissão social ou cultural, ou a inculcaçã
o de crenças e p
conta ” )2 2, às ve zes aexist
rát ica s ( “u m a real idade da qual fl ui tudo o
que
ên ci ade associ ação (porex em plo, “ asociedade
(. .. ) na da m ais é do que indiví duos reunidos e org
an izados” ) 23, às vez esa
21 M orr is Gi nsberg , ‘' D urk heim ’sE thicalTh eory” (19 51 ), On theDiver sityofMorais, Londres, H ei ne m ann (M ercury B ook s), 1962, p. 5 1. 22Du rkhei m , “ Déterminati on du fai tm ora!” (190 6), reproduzi do em Sociologie etphüosophie, op. Cit., p. 78. 23 Id., “Le probl èm e rel igi eux et la duali té de Ia nat ure h um aine” , Bulletin de la Societé Française de Philosophie, XIII, 1913, p. 74.
36
im po siç ão de obri gações soci grande pod
alm ente presc
ri tas ( “A socied ad e(. ..)
er m ora l”) 2', às v eze s o objeto de pensam
ento, senti
éum
m ento e
açã o (“ a soc iedade co nst itui um fi m qu e nos ul tr apassa e ao m esm o temp o nos apare
ce com o b oa e desej ável ”) e às ve ze s si m pl esmente com
o
um asoci edadere al ,conc ret a, em bo ra ainda aquiel ef oss ea m bíguo ,em pregand
o o te rmo para desi gnar a soci
co m o um todo ou pa ra i ndicar grupos e inst dela (porexem
edade (por exem
plo, a França
itui ções parti cul ares dent ro
plo,oEst ado ,afam íl iaetc. )2 í. Po r“ indivíduo
às ve ze s entendi a o indiví duo (pré-soci
)
” , D urkheim
al) vi st o co m o un idade orgâ nica
biologicam
en te deter m inada, às vez es o ind iví du o (abstrat o) vist o co m o
possuidor de
ce rt as pro pri edades i nvari antes (po
r exem plo, o h om em uti
litár io ou e co n ôm ico), à s vez es com o o ind iví du o (extr a-soci al) i sol ado d a assoc iação h u m an a, e às vezes a pesso a i ndividual real
, con creta, vi ven
do em so c ied ade - se m m enci onar u m se nt ido s upl ementa r em que o “indiví du o” se re fer eaum acon cep ção soc ia lmente deter m inadadapessoa hu m an aem ge ra l (com o na “ rel igi ãodo indi ví duo” , qu eé “o prod uto da própr ias oci edade” , em qu eo “indiv íduo” setom au m obj eto sagrad o). 2 Poi s bem , e ss a dicotom ent re o social
ia cent ral m as, com o vim os, m últ ipla,
e o indivi dual, n u m cert o senti do é a pedra de toque de todo
24 D urkh eim, “ D éterm ination...
”, p. 77.
25De fat o, Du rkheim ti nh a um a f or te tendên cia para sem pre encarar a sociedade com o u m todo, e n ão em ter m os, digam os, de um a pluralidade ou de con fli to entre dif ere nte s grupos e f orças soci ais. Is so apar ece clar am ente num com entário que fez sobr e t e classesocial s es,d e A.Bauer, para SciencesSociale s,III, 1902,pp. 257-258. B auer afir m ara que as c las ses sã o o ún ico objeto próp rio às ci ências soci ais. Durkheim escre veu: “Além da v ida de cad a órgão, exis te a vida geral da soc iedade. Há fenôm enos que n ão se locali zam em nen hu m grupo ocupa ci ona i, que est ão pre se nte sem todoseq uesãop reci sam enteosm aisessenci ais dentretodos osfat ossoc iais:com o a m oral, a reli gião, t odas as i déi as com un s etc. ”. 26 D urkheim, “ D étermination. .. ” ,p.84.
4256
37
o si st em adepensam
entodeD urkheim .P art icul armente,podese
da co m o cruci al para sua sociol reli gião, já q ue é su bjacente às disti
ogia da m
or al , do conhecim
rencara ento e da
nções qu e f ez entr e regras m ora is e
apet it es sensua is, entre con ceitos e sensa ções, e entre o sag ra do e o p rofa n o.2 7 Regras morais e apetites sensuais
D urkheim via encarava am
n a “ soci edade”
o “ fim e a fonte da m ora l” . El e
ora l com o “ social ” e m inú m eros se nt idos . As re gr as m orai s
são s oci ais n a srcem (“ as re gra s de m orali dad e são norm as e laboradas pel asociedade") a ,são ge ra isde ntr odeu m adadasoc iedade ( “ ex ist eum a m oralc om u m a to dosos indiví duospe rt en ce nt esau m acol eti vi dade” ) 29 press upõem a associ açãohu m an a ( “setodav idasoci aldes ap ar ec er ,avi da m oral des apare ce rá com el a” ) (D 394 -395), i m põem obri gações so ci ai s ao indiví du o ( “ o caráter obriga tóri o de qu e est ão recobe rt as na da m ais e' do que a autor
idade da soc
iedad e”) , 30pr opo rcionam
u m qua dro de re fe
renci a ext erno para o indiví duo ( “ com o tant as fo rm as em que devemos m ol dar n oss o com portam ento”) , 31 vinculam
-no a fins soc iai s (“ o h o
m em (. ..) ag e m oral m ente a pen as qu an do t om a um a c ol et ivi dade com o fim de sua condu ta”) e envol vem al truí sm o (“A bas e da vi da m oral é o se nt im ent o de que o
hom em não per tenc e ape nas a si m esm o” ). Em
27 C om o esc reveu o próprio D urkheim, in “Le problèm e reli gieux.. .” , pp. 72-73: “ A alm a e o corpo, as sensações e a razão, os ape ti te s egoí st as e a vontade m ora l são opostos e, ao m esm o tem po,mu tuam enterel aci onados, dam esm aform aqueo profanoeo sag ra do,quesãoproi bi dos u m ao outro, m as são mescl ados para sempre”. “ Durkhei m , “Le duali sm edelanaturehum aineets es conditi onssoci al es” (191 4),repr oduzi do e m La science sociale et l’action, intro du ção d e J. C. Filloux, “ Du rkhei m , “Déterm
inati on. .. ” , p. 5 6.
30D urk heim , “ Le dua li sm e.. .” , p. 331. 31 D ur kh eim , L'éducation morale, op. cit., p. 30.
Paris, PU F, 1970, pp. 330-33
1
*
38
cont rast e, D urk heim apres enta os “ ape tite s sensuai s” do ind iví duo, “ en rai zadose m nossosorg
an ism os” , 32co m o pes soa is,espo ntâneos, pri vadose
e g o ís ta s -e noss as “ sensi bi lidades (. .. ) n os incli n am para f ins i ndividu ais, egoístas, i rracion ais e im or ais ” .33 Con tudo,D urkh ei m foiincap
az desust ent ar coe rentem entees sa
sér ie de cont ras te s.Especi almen te ,ele dav a gran de im por tânc ia à a u ton o m ia pe sso al do hom em m oder no, que vi m oralc ontem porânea.
a com o u m traç o c ent ra l d a
3’ Encar avae ssaautonom
ia com o sendoel am es
m a gerada soci al m ente, e correl ati vad o desenvol vi m ento dape rsona li da de indi vi dual,da dif erenci ação social e da m oraldo indivi dua lis m o o u o “ culto da
ind ivi duali dade” . M as iss o, dad o seu extrem
o determ inism o
social , levo u -o à o p inião de qu e os des ejos e at ivi dades pesso ai s, espon tâneos, pri vados ou egoí st as do indivíduo são gerados social ‘‘enrai zadosn o orga n ism o' ’. Esta questão aparece co
m ente e nã o
m espec ialcl areza n a
di sc uss ão da an om ia n o Suicídio, em que D urkh ei m sus tent a que as pa ixões aná rquicas e i rre st ri tas do indivíduo se enraizam n o orga nism o, m as tam bém enxerga que são produt os s oci ai s ou cul tur ai s de um ti po parti cular de soc ie dade. E, n a m esm a obra, r esul tar ia o “eg oísm o” da au sênciaou
dapresen
çadec ausas soc ia is ?
Conceitos e sensações
Na “ordem d
o conhecim
ento” , afi rm ouD urkhe im , hav er ia um a
dicotom iapar al el a: ‘‘ exi stem ossenti doseo pen sam entosens ível ,poru m lado, e, po r outro, a c om preen são e o pen sam ento con ceituai” .35C om o as 32 Du rkheim, “ Le du alism e. ,. ” ,p . 330. 33 Durkheim, Léducation morde, p. 128. 34 D ur kh eim , Leçons7-8. 35 D urk heim , “ Le pro blèm e religieux... ” , p . 6 4.
39
re gr as m orai s, “o pen sam ento conceitua i” ser ia, segun do afirm ou, “ soci al e n ad a m ais do que u m a extensão da soci edad e” . Ass im, os concei tos, inclusive as categori as f un dam entais, seriam “ srci na lm ente repres enta çõesco leti vas” 36- causadas soci alm ente ( “ re sul tadodeu m aelaboração co let iva” ), “ m ol dados” nasoci edade (“ formados s egundo o m odelo do s fenôm enos soci ais ”) , “impessoa is” e “ com un s a u m a pl ural idade d e ho m ens” . Cont ras ta m co m el es a s “ sens açõ es” , que t êm base orgân ica (“ u m a sensaç ãodecoro u som dependee st re itamented em eu organ is m oindiv i du co mp o tamróprias” bém pes) esopraiivsadas. ( “ as perc m a pes soa cosão obra sua al”) e lhe, são Assi epçõ m , a esvi deda uintel ect ual, moa m oral, c on tém “ dois pólos” que são “ nã o som ente di st int os ent re si , m as opostos’ ’, eD urkh eim che ga aen carar ess a“ dua lidadeda nossanatureza’ ’ co m o um si m ple s caso parti cul ar de ssa divi são das c oi sas em sagr adas e profanas, que é o fun da m en to de t odas as rel igi ões e deve se r exp li cad o na bas edo sm esm ospri ncí pios . Sagrado e profano
O qu e é, portanto, essa divi são q ue tev e tão grand e influên cia e foi tãodiscuti daden tr o da antrop ologiasoci aled aso ciologia dareli gião?É, co m o esc re veu Durkheim , “ u m a divi são bipart ida de todo o univer so, con h ecido e conh ecível , em duas cl as se s que aba rcam tudo o que exi st e, m as qu e rad ic alm ente se excluem . As coisas sagr adas são aquelas protegi das e isol ada s pelas interdi ções; as coisas profan as, aqu el as a qu e se apli ca m es sa sint erdi çõesequ edevem perm an eceràd is tânci adaspri m ei ras . As cr e n ça s re lig iosa s s ã o as represen taçõ es q u e exp ressam a n a tu re za das coisas sagr adas e as r elações qu e m an têm , sej a ent re si , se jaco m as coi sas 36 Du rkheim , "L e dua li sm e... ” , pp. 330-331.
40
profana
s. Finalm
ente, os
ri tos são as regr as de con
du ta q ue prescre
vem de que m odo os h om ens deve m comp ort ar- se em rel ação às co isas sagrad as” (F 56). Ele em prestou gran
de ên fase à niti dez dess a divi são, que
ser m utuam ente e xcl udente e conj
untam ente exau
afi rm a
st iva. El a m arca um
hiat o l óg ico” , um “ abism o” ent re “dois m und os he te ro gêneo s e i n com par áv ei s : E m todaah istór iadopen sam entohu inano.não exist eexem p lo de outras duas categori as de coi sas tão profun da m ente d if eren ci adas, t ão rad ical m ente op ostas entr e s i (... ); o sagrad se m pr ef oram ,ee m t oda par te, concebi
dos pela
o e o pro fan o
m ent ehu m an acom o
cl ass es se paradas , com o doi s m un dos ent r e os quai s nad a há em co m um ” ( F 53- 55, 58, 454). Oss er es po de m passa r deu m apara aout ra,m assom enteatr av és de ri tu ai s (ta is co m o os ri tos de i n ici açã o) que signif
ic am “ um a v erda
dei ra m et am orf ose”; os “ do is m und os nã osãos om ent econcebi
dos com
o
sendo se parados , m as com o ri vai s h os ti s e i nvej osos u m d oo u tro ” , e “ as duascl ass es n ã op od em seap roxim arem anters uas própri asnatur ezasao m esm o tem po” . Considere
m os, prim ei ro, a t ent at iva de Du rkheim de
exp li car a dicotom ia, e em con ceit ua is qu e le vant a.
segu ida as vári as dif icul dad es em píri cas e
Os ex em plo s de coisas sagradas n
ão são apen as ‘ ‘es se s s ere s pessoais
cha m ad os deu se s e esp ír ito” , m as t am bém “um ape dra, um a ár vo re, um a font e, u m ped aço de m adei ra, um aca sa, nu m a pal avr a, qual quer c oi sa po d e ser sagrad a — incl usive r it os e “ pal avras, expr essõ es e fórm ulas qu e só podem
se r pronu nciadas por pe
cu lo dos objetos sagrad
ss oas consagradas”
os (. .. ) varia i nfinitam
rel igi ões” (F 51 ). 0 que é sagrado é “coloca
: aex tens ãod o “cí r
ente, segun
do as di ferent es
d o à part e' ’ e “ nã o pode, sem
41
perder sua natureza,
se r m isturado co m o p rofan o” ; insp ira-nos “ res pei to
que nos m antém d istâl nosnci a;inclinam e ao m esmos” o te.37Pois m pobem é um ,obj or e d e aspiração pa ra o àqua a te etose dede am D urkheim nas Formas elementaresé de qu e “ as coi sas sagr adas são s im plesm ente ideai s colet ivos qu e se fixam sobre objetos m ateri ais” e el e tenta exp li car es se caráter sagra do d a seguinte m an eira: “s ão a pen as f orça s co leti vas hipost asiadas, ou sej a, forças m orais; são fei tas de idéias e senti m entos enfraqueci dos em nós pe lo e spetác ulo da soci edade, e n ão de sensaçõ es pr ove ni ent es do m un do fís ic o” (F 461 ). D urkhei m dava conta do p rofano de inúm er as m anei ras s ig nif icati va m ente dif ere ntes . É fei to de “ sensações proven ientes d o m u n d o físi co” e de “ coisas vulgares qu e só i nteress am nossas individualidades fí si cas” ; e si tua-se n o ní vel da vi da ord inária, e de nossas relações com co isas ordi nári as, em que nos rel aci onam os com “ nós m esm os e com nossos int er ess ess ens ívei s,nossa vida privada e n osso eg oísm o” (F 45 3). A ssim , p o r u m la do, existe o sag ra d o - “ e la b ora d o p o r u m a coleti vidad e” , que h ipostasi a f orças col eti vas, f u sion a con sci ên cias ind ivi duai s “ em u m a com u n h ão ” , im põe res pe ito e am or , tra nsf er e a “so ci edade par a dent ro de n ós” e nos vi ncu la “co m algo qu e nos ul tra pass a” . P or outro lado exi st e o p rofano - qu e expre ss a “ nossos orga nism os e os obj etos com que s e relaciona m m ai s dire tam ente” , re fe re -se á v ida ordi nári a dos hom ens, que é e ncarada com o algo que com preende “ as preocupações pes so ai s coti dianas” , a “ vidaprivada ” e as “pa ixões egoí stas” . Jádeve es tar claro que a d icotom iad e D urkh ei m ent re o sagrad o e o profano é i som órfi ca co m rel ação às out ras di cotom ias consi deradas D urkheim, “D
éterm ina ti on.. .” , pp. 68 ,103 -
42
acim a; e qu e der iva da d ic otom ia, básica e m
últ ipla, ent re o social
eo
ind ivi du al e é expli cada po r el a. Tal d icotom ia tem si do subm eti da a am pla crít ica em píri ca e c on ceit u ai. D o pon to de vi st a em píri co, tem se obs erva do q ue e ' "n ã o util izável, a nã o ser à cus ta de i nterferência indevida co
m os f atos obser vávei s” 3* - n ão dá con ta da exis tênci a de
obj et os c om un s do m un do que nem
são af et ado s nem af et am o sagr a
do; i nte rpr et a e rr adam ent e o du ali sm o encontrado aborí gine (qu
e nã o
etno gráfica geral é duv
é
exclusi vo m as i nter dependente) e cu
problem
ento
ja a plic açã o
idosa; co n fun de as di fer ente s razões pel
as pessoas e as coi sas são isoladas do adm ite fl exibi lida de sit uacional, alguns con
n o pensam
as qu ais
s objetos e ocasiões sagrados; e n de m od o q ue o que é sagrado em
ão
textos n ã o o sej a em outros. D o pon to de vi st a con ceit ua i, é áti ca em di ve rs os aspe ct os . Por exem
plo, “ o profan
o”
uma
d
catego ria resi dua l que de f ato i n clui g rand e núm ero de classif icaçõe s m uito dí spare s; a s abe r, “ o caráter em inente de ati m enos sagr
vi dade profana
ado é "p rofano” co
coletivo
(o trabal ho
”); sac ral idade de m
“um af or m a
enor im portância
m re lação ao m ai s sagrado);
(as duas cl ass es nã o têm “ nada em
é
(o
o n ão-sac ro
com u m ” ); e o anti -sacr o (as coi sas
prof anas po dem “dest rui r” o sa cro)” .39 C om o obse rvou m uito justa m ente St anner , “ coi sas tã o dí spar es n ão pod em for m ar um a c lass e, a m enos que u m aclasse p au sência e seu contrá sagr adoeprofanop
oss a se r deter m inada por u rio” . De novo, é d
m a pro pri edade , sua
if ícil ver com o a dicotom
ia en tr e
ode ser concil iadaco m at es e deD urkhei m (segundo
“ W. E . H. S tan ner , “R efl ecti on on D urkheim an d Abori ginal R eligi on” , in:M . Free dm an (org.), Social Organisation: EssaysPresented to Raymond Firth, L ondres, Fran k Cass , 1 9 6 7 , p, 229. D evo m uito à d iscussão de Sta nner . Cf , tambe' m E. E. Evans-Pri tchard, Theories ofPrimitive Religion, Ox ford, C laredon Press, 1965, pp . 64-65 . 39 Stanner, "Re flection ... ” , p. 323.
43
Roberts on S m ith) de que o p róprio sa cro é am bíguo entr e o p uro e o im puro, o sagrado propíc io e o im prop íci o, de t al m od o qu e ex ist a um “est re ito parentesco” ent reosdoi s,m astam bém u m co ntras te queé “tão com plet o qua ntopo ssí ve le ch ega at éao antagon ism om aisr adical ” , de form ata lque “ o contatoent ree lesé consideradoap ior dasprofanações” (F585 -586), (Com o,porexem plo, di st ingui ro imp uram entes agradodo prof ano, um a prof ana ção sag rad a de um a profanação p rof an a?) Pa rte de sse pro blem a todo é que a dicotom ia en tre sagrado e profano é, por um lado, um a disti nção radic al (supostam ente f eit a pelos cr ente s rel i gioso s) en tre cl asses de “ coisa s” (inclu sive pessoas, sit ua ções etc. ) das quai s al gum as são “colocad as ap arte” d o re st o; e, po r out ro l ado, um a dis ti nção ent re o m od o com o os hom ens s ent em e agem em rel ação a es sa s c oi sas, e as avali am (por exe m plo, s e sent em ou n ão um re spe ito inte nso, ou horror r el igi oso, ou veneraç ão, ou am or em rel ação às m es m as). Pois bem , cl aram ente, a segund a dist inção adm ite gra us de fl exibi lida de si tua ci on al e, al ém di sso , nem pres supõe nem co m preende a prim eira. Asformas elementares são u m est udo das c renças e pr áti cas rel igiosas ab orígines q ue D urk heim classif icou e int erpret ou e m ter m os dessa rí gida e est áti ca dicotom ia, q ue ele tentou explicar vinc u lan doo sagr ado à “soci edade” eo prof ano à vida“ indi vi dual ” , em to dosos sent idos especif ic ados acim a. De f ato , em bo ra a sociologia d a reli gião de Du rkhei m com ece a part ir de ss a di cotom ia, não ter m ina ne la e m ui tas das i déi as que contém pod em se r cons ideradas independente m ente da m esm a. N ão e xi st e, ent ret ant o, nen hu m a dúv ida de qu e vi ci a su a aná li se de m o d o im portante. É difí cil discordar do ju ízo de St anner, de queessa dicotom ia é“em pi ri cam enteinadequa da” e“ pre sa de dif i-
44
culdad es conce it ua is e lógica s” , qu e resul ta “em difi culda des de cl assi fica çã o e aná lise, e seu va lor heu rís ti co é i lus ór io” ; e qu e s e deveu a fal sas pi st as etno grá fi cas* - m as ta lvez ac im a de tudo, ao Durkhe im pel o dual ism o”/ 1
“ gost o de
Normal e patológico
Oú lt im oexem plode ssedua lism oq uevam os consi derará adi s ti nção de Du rkheim ent
re no rm al e pa tol ógico nos
fenôm enos soci ai s,
que el e afirm ou consti tui r “ duas vari edades di fere ntes que é dist inguir” . Subjacente a essa dis fi si ologi aepatologia
imp ortante
ti nção - e à disti nção correl ati va ent re
soci al- es táo des ej odeD urkhei m dedaru m abase
ci entí fi ca a es se ju ízo de valor -
ou , co m o el e pref eri a f orm ular , dar
“ef et ivi dade práti ca” à ciência -
en con trand o “ u m cri téri o obj eti vo, ine
re nteaospróp
riosf atos,que no spe rm it adisti ngu ir ci enti fi cam ente saúde
edoen çanasvár ias ordensde fenôm eno ssoci ais” (R 59-61). Na reali dade, D urkheim
avan çou dois de
ss es cr itéri os - um dos
quais el e enu n ciou e m teo ri a, apli can do o outro n a práti ca. De a cordo com o pri m ei ro, procura-
se “ deci di rs obr eo car áte rnorm alou anorm al
dos f at os soci ais segu nd o se u grau de gen “f ato s oci al é no rm al com rel ação a um do seu d esenvol vi m ento, qua se poderiadis
rai s em toda a espécie”
ti po soci al dado, num
nd o est ápres ente na m
des se ti po n a fas e corr espondent pres supôs que
erali da de” (R 91 ). Ass im , u m
e de sua evo
aioria da s soc ie dades
lução ” (R 80 ). D urkhei m
ti nguirum acla ss edefenôm
, encontrados, s
a f as e dada
en os soci ais “ ge
e nã o em todos, cert am ente na
40 Do ti po d o tabu do s noa s. Sta nner , R efl ectio ns.. . “ Os histori adores das i déi as desejarão sem dú vida dizer m u ita coisa Adivis ão entre sagra do e sobr e a incl inação d e Durkh ei m para a dicot om ização e o d uali sm o. profan o é u m a das m ais per cep tí vei s” (p. 2 2 9 ) .
45
m aio ria do s casos, e varian do d entro d e l imites est re ito s, por o p osiçã o a u m a c lass e de fenôm enos “excepcionais”
, encontrados
em po uco s cas os e
tran si tór ios no tem po; e el e s ust ent ava que o “ ti po m edian o era um m o delo abst ra to construído ap
artirdo s el em entos da prím eira c lasse , a qua l
quer m om en todaevolução
dae spéci e” . Os fenôm enospatológi
coss er iam
aquel es que d ive rgem do ti po ger al : “ cad a d iver gência de ss e padrão saúd eé um fe nôm enom órbi do” (R 69-70).Um longe dosproblem
de
probl em ad es te cri tér io-
as teó ri cosd acon struçã odeu m atipologiasat
isfat ór ia,
da espe cif icação de estági os dentro de la e d a d if iculda de lóg ica de infer ir sa úde deu m agener al idade- era o fatonã opoderse rapl icado asoci eda de s exi ste ntes e em fun cion am en to, s uje it as a m ud an ças imp revi stas e imprev isí ve is.Co m oo próprioD
urkh ei m afi rm ou,erainapli
cávelasoci
edad es que passa sse m p or “ períodos de transi ção em que toda aesp écie est á em proc esso de evoluçã
o, sem ainda se te r est abil izado nu m a no va fo r
m a” , so ci edad es que “ ainda não com
plet aram todo o seu perc urso” (R 75
7 6 ). Is so , al iás , revel a um a nova d icotom ia rí gi da operan
do n o pensa
m ento de D urk heim , deri vada de Sa int-Sim on: ent re soci edades ‘ ‘est abil i zadas” ou
“ orgân ic as” e “trans itó ri as ” ou “ crí ti cas” . Na práti ca, Du rkh eim apli cava u m cri tér io di fe rente (qu
e el e en
car avaco m oexpli cati vod oprim ei ro),tant oparasoc ie dadesat uai scom o par apas sa da s. :Tra tav a- sed equeu m fenôm en osoci alén on n a lqu an do vinculado
“ às cond ições ge rai s da vi da coleti va no ti po social considera
d o” / (R 8 0 ). Ele usav
a e ss e vag o princ ípio n a te ntat iva de m ost rar, po r
exem plo, que n o ti po de so ci edade “ organ izad o” ou indu st ri al m oderno, a “ so lidar iedade orgân
ica” , o planejam
norm ati va e a just iça soc ial são norm nô m ica, a a n om ia, a exp loração, a ‘
ento e a organização, a regulação ai s, enquan
to que a an arqu ia eco
‘cres cente on da de suicí dios” etc. , são
46
an orm ais. M as, ev identem ente, e ss es últim os traç os eram todos gera is em todas as soci
edades desse ti
po efet ivam ente exi st ente s; su a an orm ali da de
erapostu lada ant es com rel açao a u m a fut ura soc iedade i ntegrada consi derad a l ate nte n o pre sent e, e era atri lm ída ao d esapa reci m ento da velha est rut ura social , ou “ con diçoes de exist ência” , e ao frac asso da soc iedade em aj ust ar- se à s novas. ( “N em todos os se us tr aços aind a s e form ara m (. .. ) desordenad
os em cer to s pon tos p or u m a cri se de tr ansição, el e próprio est
á
em processo de desen
volvim ento” ). '1:1Du rkheim tam bém aplic ava es se
cr ité ri o asociedades pas
sadas— com o q ua nd o es cr eve u sobre “ er ro s com e
tido s n opas sad o”,ea firmou queodesenvolvi
m cnlohu m an o “nem sem
pre foi no rm al” , co m o p or exem plo ,q uan do a Kena sc ei iça d es tr ui uo que ha via de valorperene n
o si ste m a edu caciona lescol ást ico.
0 probl em a com es se a pel o par a o f at o d e mu fonôm eno estarou n ão vincu lado às “con dições de exi
st ênci a” de u m a so e i« lado i ião é ape
nas o fato de ser extrem am ente vag o. S upõe qu e, pa ra qualqi ier sociedade ou ti po soci al n u m da do est ági o de dese nvol vi m ento e xi st a um ú n ico con ju n to de f en ôm en os soci ais “vin culado às s ci a” , “fun dam entado em
uas cond ições de exi stên
sua nat urez a norm al’’ ( R 72). Par a cad a t ipo
social , as con diçõ es d e sanidade social eram
determinadas, send
o ela ‘ ‘algo
defi nido e da do n a real idade” . Ess e pre ssupos to fech ou osolhos de Du rkheim pa ra a p ossibil idad e de al te rnati vas históri cas reai s em qu alque r estágio de desenvo
lvi m ento e levou-o a e
ncarar a pol íti ca com o a n álog aà m ed i-
c in a - um a ques tão de “tr ab al har com contí nu a pe rse ve ranç a par a m an ter o estado n orm al o u rest abelecê- lo se fo r am ea çad o, e redes cobri r se suas cond ições m u d a m ’ (R 93 ). 0 pres supos to der ivava em part e de se u t em peDurkheim, p. 36.
Dela ditisïondu Iravaüsocial,introd uç ão à prim eira edição, Pari s A lc an 1893
47
ram ento funda m entalm ente dic otom izador. Q ualquer sociedade re al er a subdividi da em : 1) seu est ado no rm al ou idealm ente integrado; e 2) as con diçõe spatológicasdesv ia dasdess eest ado.C om o resul tado,el etendiaa ideali zar as sociedades q ue con siderav a int egradas, i gn ora nd o as tensõe s e confl it os dentro de las , a o m esm o tem po e m que vi a as re al idades de sua própria soci edade som ente co m o desvi os pa tológi cos de seu futuro e st ado norm al,i deal m entei ntegr ado. A RG U M EN TO S D isc utirem os a gora brevem ente tr ês form as caracterí sti cas de ar gu m ento encontradas ao lon go de todos os es cr ito s de Durkheim . Vam os n os limitar aqui a identif icá- las, em vez de anali sá-l as o u e xp li car porq ue el e as considerava tão convincentes.
Petição de princípio
Já foi dit o qu e “ a peti ção de princípio pode ser considerada u m ví ci o inte lec tual const ante em D urkhei m ” 43 - em bora sej a u m víc io m ais prejud ici al à apresentação de suas idéi as do qu e ao va lor de suas explic ações. Assi m , p or exem plo, no Suicídio, el e com eça apres ent ando um a cl assi ficaçã odesui cí di ossegundo“ as causasqueo s prov ocam ”- de m od o que sua “ cl assif icação eti ológica” pres supõe a v er dade de suas ex p li caç ões cau sais do su icí dio, qu e o res to d o li vro se de dica a e sta bel ece r. Novam ent e, n a m esm a obr a, el e a firm a que a taxa habit ualm ente el eva43 Rod ney Needham , introduçã o à tr adução de Primitive classification, de É. D urkh eim e M. M auss, Londres, Co he n a n d West, 1963, p. XV. Cf. Cl. L évi-S trau ss, Le totémisme aujourd'hui, PUF, Paris, 196 2, p. 102, e J. D. D ou glas, The Social MeaningsofSuicide, P rinceton Universi ty Press, 19 67 , p. 30.
48
da de suicídio de
ve s er an orm al porq ue as vas tas e rápi das m ud an ças
sociai s subj acentes aos núm m ais ( S 4 23). No en
eros atuai s de suicí dio n ão p od em se r no r
sai o sob re
Classificação primitiva ele apresenta
re pet idam ent eti posdecl assif icaçãoco m osendo basea dos,m odelados ou
éj ustam ente a tes e qu e ele está pr ocu ran do es tab el ec er. De n ov o, nas Formaselementares, a “m ol dados” por formas deorgani
zação soc ial - o que
própria defi
o un ifi cadora de
nição de reli
gião com
ún ica com un ida de m oral pres supõe um
se us ade re nt es num a
a das t eses ce ntr ai s da obra, en
qu an to qu e su a hipót ese de qu e as ef erves cênci as col eti vas geram
crenças
e rit os reli giosos pressu põe essas m esm as cren ças e ri tos, j á q ue as e fe r vescênc ias são expres sãodasm esmas. Argumento por eliminação
Um segundo m éo quefoicham
od o de arg um entação m uit o t ípi co em Durkhei m
adode argum ento pore li m inação 44em quee xpl icaçõ es
al ternat ivas de um
dad o fen ôm en o são sist em ati cam ente re jei tadas de
u m a m an eir a que vi sa cl aram ente e m pre st ar aut ori dade à ú n ica rem a nesc ent e - a teor ia do próprio D urkhei m . Ass im, na Divisão do traba
lho,D urkh eime li m ina expli cações al te rnat ivasdeseudese nvolvi m ento; n o Suicídio ele elim ina si stemati camen te exp li cações em te rmos de “ fa to res extra-soci ais” ; n o e nsa io sobr e o Incesto ele exclui as exp li caçõ es con jectura is e basead as n o inst into de aversão; nas Formas elemen tares com eça elim ina n do as t eor ias anim ista e nat urali st a d a rel igi ão. A pri m ei ra di fi culdade com es se m od o de argum entação é que as exp li caçõ es re vi st as po de m n ã o ser conjun tam ente exau sti vas— as explic ações rejei ta * * Cf. Ü.HíeA,ÉmihDurkbeimtmdhisSociobgy, Nova Y or k, Russe ll and Russ el l W 6l m 87-88. '1F'
I‘>
das p od em n ã o in cluir todas as
possí veis al te rnati vas, ex ceto a de
D urkheim . A segunda, m ais sé ri a, é que pod em n ã o se r m utuaniente exc lu dente s- as caus asquep ostul am se par adamentepod em de fat os er inte rdepe ndente s; p or exem plo, as causas am
bientai s ou psicopatológicas
do suicídio po dem inter agi r co m as causas soc iai s. De fat o, D urkhei m prati cam ente recon tendência ao suicí
hece est a últim a poss ibil idade qu an do es cr eve que a dio pod e s er vi st a (pelo m eno s em parte) co m o sendo
caus ada social m ente, de ta l m an eira que os f at ore s soci ais “p redispõem
os
indiví duos a su bm ete r- se à infl uên cia c oleti va” ajudand o, po r exem plo, a tom ar ‘ ‘os sistemas n ervoso s das pessoas sens íve is e excessivam ente delica dos” (S 365-366). Talvez a principal razão para a insensibilidade de D urkheim a e ss a segund a di fi culdade este
ja em sua dou tri na de que u m
“d ado e fei to te m se mpre um a única c ausa c orr espondent e” ( R 1 57 ).E ssa doutri na (j un tam ente com sua con cep ção de que am
bos deve m te r a
m esm a natur eza) cer ta m ent e 0 levou asenti rum aseg ura nçainj usti fi cáve lde que, em cad a caso, encontrara a ún
ica causa (social ) do que buscara e xpl icar .
Out ra for m a tom ada pelo m odo de argum ent ação por el im ina ção em Durkhei m é buscar
0 ap
oio para suas defi
nições na apresent ação
das al ter nat ivas inace it ávei s com o as ún icas di sponí vei s. Um b om ex em plo é
0
argu m en to se guinte a re spei to da definição de m
ora l, m as ele se
aplic a àssuasd efi nições desoc ialism oe rel igi ão: ( I) (I) A qualifi cação “m oral” n u nc a foi at ri buí da a um ato cu jo obj eto seriam interesses individuais, ou a perfeição do indivíduo de um pon to de vis ta puram ente egoís ti co; (II) se eu, co m o indivíduo, não cons ti tuo, co m o indiv íduo , u m fi m que possua um caráte r m oral em si, isso também se aplica a outros indivíduos, que são
0
m esmo
50
que eu, dif eri ndo apenas em gra u; (III) d o que con cluím os que,
se
existe uma moral, só pode te r com o obje ti vo o grupo form ado por um a pl urali dade de indi víduos associados - ou sej a, a so ci edade, mascom acondição edque a sociedade seja considerada como uma perso nalidade qualitativamen te diferentedaspersonal i dades indivi duais u qe a compõem.*6 Tratamento das provas
Final m ent e pode m os aludi r aos m od os u m ta nto s obrance iros d e Du rkhei m paracom as pr ovas - o quee st ál igado aost ipo sm enci onados de argum
ento a par
ti r de um a not ável con fi an ça em suas própr ias
te ori as. N a E scol a N orm al Superi
or , qu an do lhe d izi am que os f atos
con trad izi am suas te ori as, ele costu m av a repli car: “ Os fat os est ão errados”.4 546 Es se e st il o de abordag em m anif est a- se tant o n a ign orân cia de exem plo s ne gat ivos quan to no que E vans -Pri tch ar d ch am ou “ a m an obra irr itant e de D urk heim qu an do u m fat o contradiz sua tes e, de as se ver ar que seu c aráter e sign if icação foram
alt era dos, qu e é u m desenvo lvi m ento
secundário
e atí pic o, em bora nã o ha ja t am po uco prova s de que t ai s m u
danças tenh
am ocorrido”
.47Exist em m uitos exem plos de am bas as ati tu
de s em Classificação primitiva (que ignora ca
sos em que a organiz
social e a cl assifi caçã o s im bó li ca nã o correspon
dem , e expli ca a classi fi
ação
ca çã o Arunta e Zu ni em term os de d esenvolvi m entos post eri ore s hipo tét icos na est rut ura social) e em A s formas elementares (que igno ra a s 45D urk heim , “ D éterm ination... ” , pp. 52 -53. 46J. C h eva lier, Entretiens avecBergson, Paris, P lon , 19 59, P- 34. 47E. E. E van s-Prichar d, i n trod uç ão a Deatb andtheRightfíand, de R. Hert z, tradução de Rod ney e Cláudia Needham , Lond res, C ohen and West , 1960, p. 12 .
51
soci edad es cl ân icas sem tot ens e as soc
iedades totêm
ic as sem cl ãs, e que
m en cion a as f orm as totêm ic as di fe rent es das da Austr ál ia Centr al co m o sendo m ais avançad as). N ovam ente, D urkheim fre qüentem ente se ba seou em
pr ovas b as tant e inadequadas -
po r exem plo, na di
Suicídio sobre os su icí dios altr uíst ic os na s sociedades
pré-i ndus tri ais, n a
Classificação primitiva, de que a organização social
tese central de corresponde à
sc ussão no
form a d e cl assif icação, nos desenvol
dascrençasnosen
vim entos conj ecturais
Incestoe as Duas leis da evoluçãopenal,
sai ossobreo
e, na s Formas elementares, n a teori a sobre a s ori gens d o totem ism o e da gêne se dos deus es com o sí nt es es de t ot ens . Em sum a, Du rkheim foi u m construtordeteo
ri ascorajoso
e aventure ir oq ue,sej á nã op ret endiaqu eos
fatos est iv ess em errados, apesar
de suas asp ir ações a u m a ciên cia em pírica
objet iva, era surpreend
entem ente insensí
caç ão ou verif icação de suas t
vel a o papel d os fat os n a fal sif i
eor ias (em bor a possa se r intei ram ente raci
on al para um ci ent is ta, evi dente m ent e, confiar m
ais em suas t eo ri as do
queem algum asdas pr ovasàsuadis posição) . Ess as fal ha s m etodo lógicas m en os evi dentes
mSuicídioe m ais ,
talvez, na s Formas elementaressão, ef eti vam ente, m uito séri as; e co lo cam to daaq ues tão decom ose de ve abo rda rs uaobr a - com ou m conjun to de expli
cações
expli cati vas. Certam
ou com o um corpo de
idéi as com
possi bi lidades
ente, m uit as de suas próprias explicações são in
quadas e f reqüent em ente apenas e
ad e
rr ada s. D a m esm a f orm a, ce rt am ent e
sua s idéi asti ver am eco ntinu am te ndou m consi derável poderdeorga ni za r, il um inar e sug erir exp li cações d e m uitos aspec tos da vi da soci al, do su icí dio e d o d esvi o a o ri tual e às crenças
rel igi osas.
52
0 ESTI LO DE DURKHEI
M
Em con clusão , algum as pal avras sobre o est il o de Du rkhei m . Ele e' ao m esm o tem po alt am ente po lêm ico e m etaf óri co, e t ant o a polêm qu an to a m etáfora t enderam
ica
a traí -l o, possi bil it and o a m á inte rpret ação
de suas i déi as e eng an an do a el e m esm o e a s eus le itor es quanto
à sua
significação. A p o lê m ic a d e riv a v a d o d es e jo c o m b a tiv o d e D u rk h e im d e a v a n ç a r as pret ensõ es da soc iologia co m o ciên cia co m real idade própri a e di st in ta . Pres on os con fi ns dad icotom iaentr efenôm en os soci ais ei ndivi duais, el e se preo cup ou exclusi real idadedosp
vam ente, quase f anatic am ente, em dem onstr ar a
ri m ei ros.D aíasuam
áx im a deque dever iam se rt rat ado s
co m o coi sas - e, ai nda m ais im port ante , a l inguagem
real ista que em
pregav a pa ra caract erizá- los. Da í, acim a de tudo, f alar de
“la société’
co m o o “ subs tr ato” de ta is fenôm eno s, o que o levou a re ifica r, e m esm o a deif ic ar a “ soci edad e” , a trat á- la co m o lhe “ pode res e qualidade bu ídos aos deuses
deus ex machina, a atri bu ir-
s tão m isteri osos e des norteantes
pelas reli giões de ssem u n d o" .* Foilevado
m esm on egand o todoo temp oqualquerdesej e assi m fi cou incli na do a ignorar
aspe ct os da vi da soc ial nã o faci lm ente os subso cíetais e insti
udo,su aconce ntraçã oexclusi van o lado soc ié taldoesque
m a, no im pa cto das con dições soci m odos co m o os i ndivíduos i levaram
ai s co m o a i nteração e as
entre ind ivídu os, e as relaçõe s entre grup
tuiç ões.Sobret
po res savi a,
odehi pos tasi arasoci edade,
as si m ilá vei s ao esqu em a soci eda de-indivíduo, t relações
qu an to os at ri
-no a deixar i
Gins ber g, “D urkheim
ais sobre os indi ví duos m ais do que n os
nte rpr et am e respon
dem às cond ições s oci ais ,
ne xp lí cit os e fora de exam
’sT h eo ry of R eli gion” , p. 42.
e os pr ess uposto s
sociop sicológicos sobre os qu
ais repousa
tendênciasófoireforçadapelalingu em pregavapa
ag em figurat iva,m etaf óri ca,qu eele
racar act eri zaros fenôm en ossoci ai s.N a Divisão do traba
lho era a a na logi a org ân ica que predom foi cada ve
vam suas te ori as. Est a últi m a
inav a;4 ’ subseqüentem
ente e le
z m ai s at raí do - m uito m ai s do que s e der am conta se us
int ér pr et es - pe la l ingu ag em das “forças col em gera l, pela an alogia com
eti vas” e “ cor rente s sociais" e
a term odinâ m ica e a el et ri ci dade.
dio es tá ch eiodes sa linguagem
,
O Suicí
:para cad apovo haveri a“ u m aforçacol
e
tiva de determ inada quanti dade de energi a, le vando os ho m ens à autodest rui ção” e t ai s f orças “determ inam nosso c om portam en to do ex ter ior , da m esm a form a que as forç as f ísi co-qu ím icas” , e sua inte nsi dade pode se r m edida “ co m o s e m ede a d e cor ren tes el ét ri cas ” (S 33 6,348 -349 ). El e em pregou essa gênese e a
lingu agem de m aneira bem
am pla para de sc reve r a
op eraçã o de idéi as e senti m entos col eti vos, e o fen
sac ral idade. Por ex
em plo, n a discussão das ori
ôm en o de
gen s dos dir eit os de prop ri
edade , descr eveu as cerim ôn ias ri tua is de m an ute nçã o de l imit es com o algoque li m pao ter renodo ‘‘excess odereli gi osi dadedem aneiraato lo profano o
m á-
u pelo m en os prof anável , sem incorr er em peri go. A rel igios i
dade, con tud o, é indes tru tí vel : só pod e, portanto, se pa ra outro. Essa
r desviada de u m p on to
forç a tem ida di sper sa no terr eno ser á ret ir ada, m as tem
que ser t ransf eri da pa ra ou tro lugar , e assim se ac u m u la na perif eri a. Es te é o prop ósito dos
sacrifí cios descri
tos” .4 950
H á con tínu os apelos a ‘ ‘f orças coleti vas’ ’ e “ m ora is” no s escri tos de D urkheim sobre rel
igião: ass im, por exem plo, a “extrem afaci lidade co m
49 Por exe m plo, D 351: “ O q u e dá un ida de às soci edades organizadas, entre osorganis m os,éocon sen soespontâneodas par tes” . 50 Durkheim, Leçons de sociobgie.. .. pp . 18 4-185 .
tant o, co m o a t odos
54
que as fo rçasre ligi os ass ees prai am e se dif und em ” écom para da àm ane i ra co m o o ‘‘calor ou a el et ri ci dade que u
m corpo re cebeu de algu
m a f onte
exte rna pode ser tr ansm iti do para o m eio circunv izi nh o” (F 4 6 l) e a rel igi ão em geral é encarad
a com o a lgo que c onsis te em “ for ças r el i
gi osas, (. .. ) forças
hu m an as, forç as m orais”
(F 5 99 ). De f ato, “ por
trá s d as crenças reli
giosas, exist em forças ” e u m a “ teori a da religi
ão
deve, antes de m ais nad a, m ostrar o que são es sas forç as, d o qu e são fei tas e qua l sua srce m ” .51 M as t oda es sa li ng ua gem das co rr ent es e f orças soci
ais er a u m a
arm anacam pan hadeD urkhei m parao bt er rec onheci m entopa rao científ ic o da sociologia.
status
Foi , entr etant o, um a m an eira cl aram ente
inaprop riada de ex pres sar o que ti n ha a di zer : pois o a op eraçã o de corrent es soci ais, m as sobre as precond
Suicídio nã o é so br e
ições soci ais d a sani
dade psicológica,
eAsformas elementaresn ão são sobr
forças coletivas, m
as sobre as srce
pretação de seu si
gn if icado e si m boli sm o, e suas consequên
e o im pacto das
n s sociai s da s crença s e ri tuai s, a int er ci as p ara o s
indiv íduos e a s oci edade co m o u m todo .
51Debate n a Soci edade F rancesa de F ilosof ia sobre “o pro blem a rel igi oso e a dualidade da nat ure za hum ana” (19 13) - Leproblème religieux..., p. 66.
Uma leitu ra atua l de Durkheim
A less andro P izzo m o
“Se quis er am adurecer op pu loso de u m grande mest
ensa m ento , dedi que-se ao estudo escr u
re, desm onte um si st em a em suas engre nagens
m ais s ec re ta s. Foi o q ue fi z e m eu e du cad or foi R en ou vier".1 Es te conse lho, que um
dia D urkhei m deu a um
de s eu s al unos, para um soci ólogo
at ual é um p ou co irr ita nte encontrar no no “ prim ei ro sociólogo
“ pai da so ciologia
ci entíf ica” ,
que f ez u m a v erdadei ra pesqui sa em píri ca” .
Sim ples m ente porqu e, o m ais das vez es , o so ciólogo eu ropeu atual é al gu ém a qu em se acon selhou , qua nd o aind a est udante de fi losofi a, a faz er exatam ente is so. Qu e, da í p or diante , tudo fez pa ra esquecer se ro s est udos e desd
enh ou os cl ássi cos em favor do traba
ci entíf ic a. Que, fi na lm ente, senti nas observações em
u a necessidade de pô
us prim ei
lho de observ
ação
r ordem no s dados,
píri cas qu e s e a cum ulav am , e te ve qu e voltar a reco rrer
aos cláss ic os, dest a vez incert
o sobre a m
elh or m an eira de u ti li zá-l os.
Tbd o is so poderia s er na da m ai s d o que u m a indis cri ção sob re u m a cert a gera ção . M as, af ina l de contas, será preciso que se pergunte, ag ora qu e o e studo d os cl ássico s est á t ão d if un dido , sobretudo entr 1Citado por R. M au blan c in.Europe,XXII (19
30 ), p. 299-
e os
56
sociólogo
s am eric an os, e m esm o entr e os “ invest ig adores” , po r que es se
estud o se rev es te de form as tão dis paratadas. Para Parso trução de u
ns, a qu em cabe em part e o m e' ri to po r e ss a recons
m a tr adição sociológica
, um a das carac ter íst icas da c ultura
am erican a é saber ext rai r das obras do p
assado con
tri bu ições li m it ada s e
par ticul are s, sem m uit o sepreoc up arcom os f und am entos “ gl obais” so bre os quais r epousam . Com isso se poderia, por exemplo, nessa abordagem, considerar Durkheim e sua
contri buição so bre a anom ia em sua rel ação com
o
suicídio, sem muito se preocupar, à maneira dos intelectuais do Co nti nente (eur ope u), co m as im plicações especi
ais de sua ver são
d a filoso fia positi vis ta. * Con tudo, a s preocupa im pli cações do con
ções de um
intel ec tual europeu
ceit o de a no m ia po dem ter a vant agem, por exem
com as plo ,
de m ost rar a s pr em issas qu e s e querem esc onder, ou as conseqü ências que se recus am a v er qu an do se em prega es se c onceito. Es sa s c on si deraçõ es li m inares visam perm it ir- nos algu m a l i berdade nessa t
ranscriç ão dos resul ta dos de u m a leit ura de D urkh eim . Se
ess e grand e so ciólog o n os int ere ss a,
é
porque el e colocou , com cl arez a,
cert os problema s qu e ainda h oje se apr ese ntam p ara a sociol ogia, e porque en con trou as m esm as di fi culdades,
se expôs à s m esm as di fi culdades em
que ainda hoje caím os qua nd o buscam os a soluçã o de c er to s prob lemas. A le m d isso, p a r e c e -n o s q u e n u m a ce r ta eta p a d e s u a p ro g re ssã o foi o b r ig a do a renunci ar, a ab dicar de s eu propósi 2 M ax Black (org.),
to ori gi nal. M as o dil em a qu e
Ue Social Théo ries of Talc ottParsons, N ova York, Fre e Pres s, 1971, p. 315
2 .
57
enfrentou, nos ter m os si ste m áti cos em qu e o co locou , const itui uniu hera nça qu e a inda podem os expl orar .3 Contrato ou coerção'
Parece- nos que exi st e n a obra de D urkhei m , por um lado, um ele m ento const antee,por outr o,u m atran sfor m açãodos int er es ses edos problem as qu e est iver am na srcem de s uas pri m ei ras pes quis as. 0 ele m entocons tant e pod es er esumirà sduasam biç õesqueD urkhei m coloca co m o o q uad ro de s eu trabal ho, as quai s va i s e es fo rçar pa ra nu nc a se 3 É bem evi dente que se pode co nte sta r que um a ta l m odifi cação, f und am ental, tenha ocorri do nas posi ções te óri cas d e D urk hei m . Pode- se m esm o chega r a negar qualquer evoluçã o em se u pensamento. Pe sso al mente, co m parti lham os o pon to de vi st a dos comen tadores para qu em , efe tivamen te, ho uv e m od ifi ca ção . P od er-se-i aexp li cá-las, m esm o, atr avés de cert as ci rcun stâncias biográ fi cas, qu e ti veram imp ortância: a es se r espei to, consu lte- se o p refáci o de M arcei Mauss a É. D urkh eim: Lesocialisme (Pari s,19 28),em quesem encion a, espec ialmente,anecess idade de dif erenci ar- se com re spei to a m arxismo ; e ssa mes m a razão, um a das m ais i m port antes, sem dúvi da, para com (Parpreender , é subliaprecinha sodalemb p or Gurarquy Ai emo ard: is,1 962D ), purkhei p.230ss m.Seri temad aDurkheim consc iênciacolet laetiScience va économique era aqu el e pelo qu al o pensa m ento de D urkheim se a fi rm ara em sua especi fi ci dade; est a é, provavelmente, um a das razões que levaram Du rkheim a privi legiá-l o, m esm o à custa da neg li gên cia co m re spei to a outr ostemasetant os probl em asco m el erel acionados. Tam bém ser ia precisol ev arem con taa reaçãoideal is tae espi ri tual is taqueseman if estou nacivili zação europ éia n o início de st e sécu lo; já s e observou (ver G. E. M aric a: Émile Durkheim: Soziologie und Soziologismusjtm,1932, cap. V II I, pp. 12 8ss.) a e n tona ção b ergson iana qu e caracteri za c ert as passag ensd asú lti m asobras deD urkhei m .R ecorrer em osa es sa di sti nçãoe nt re doi sm om entosdo pen sam entodurkh eim iano apenascomoe xped ientea nalít icoqueperm ita def ini r,nasp remiss asda pesquis a alt erdanatal iva sist em átic a aoParsonsqu e est in siimam st e na osevoluçã Durkheim,a durkheimiana, m as pri vil egi auomtermo te rnat iv a oposta h oj e. o das posições de * N. do T.: 0 termo contraintepode s er, e tem si do, corret am ente traduzi do p or coerção em português. Mas a traduçã o m ais pr eci sa de coerção e m fr ancês ser ia contraintephysique ou, m ais preci sa ainda, coercition.No cont exto, o term o contrainte clé aram ente defi nido com o barrei ra ou obstácu lo que lim it a as escol ha s, e é oposto a coerçã o com o em prego da força fí si ca. P or est arazã o,seri apreferí vel, a ri gor,traduzir com o “const ri ção” edei xarapal avra contrainte ‘ ‘coerção ”parao em pregod aforçafí si ca .Com ess ares er va, n oentanto , usamoso ter m o“ coerção” p or já fazer part e d o repert óri o du rkheim iano em português.
/
58
desment ir. Apri m ei ra,fun da da n a ant íte sei nd iví du o-soci eda de (qu evai sedesdob rarnas antí te se s privad o-púb li co,p rofan o-sag rad o etc.) , tr aduzi rse- á n a vontade de expli
car a ordem
soci al e os princí pios da m
oral por
m eio das‘ ‘real id adescol eti vas” .Asegun da,estr ei tament eligada àp rim eira,é
f de f unda r um a “ ci ência dos fenôm enos soc ia is” que se ja ao m esm o tempo específic a e dist int a das outr as ci ênc ias (especial m ente d a ps icolo gia ). Para perm
anecer f iel a es sa s am biç ões, D urkh ei m irá renu nciar a
acei tar as últi m as conseq via paraoproblem que ele assi
üên cias de s eu ra ciocí nio n a soluçã o q ue entr e
adosf unda m entosm orai sdavi dacont em porânea,e
m fo rm ulava:
Nosso dever é buscar tornar-nos um ser completo e acabado, um todo que se b ast e a si m esm o, ou , a o contrário, n
ã o ser sen ão par te de
um todo, órgão de um organismo? Em uma palavra, a divisão do tr abal ho, ao m esm o tempo em
que é l ei da nature za, t am bém seri a
regra moral da conduta humana, e em que medida?4 ■1ç .
Se, para os econom ist as, a divi são d o trabalho
era u m fat o que
pod ia expli car o fun ci on am en to do s ist ema, to rnava- se, para D urkhei m , o fat o que con vinh a explic ar e julgar em sua si gn ifi cação m oral . D aí
; . y ‘ decorriam dois
problem as: a) já que a observação
qu ea divi sãodo trabalho avança,ser a res post a a ess a questão deveri
hist óri ca nos afi rm a
ia preci socom preen der suas causas, e
a reve lar -no s as con diçõe s q ue to m am possí vel o
progr esso econ ôm ico; b ) já que a div is ão do trabalho cond
uz à espe ci ali zação
4 D.T. S. , 4. As abreviações seguin tes serão emp regada s daq ui po r diante: (D .T. S.) Dela division du travail social , Paris, 1960; (Regras) Les règles de la métbode sociologique, Paris, 1956; (S.Ph.) Sociologieetphilosophie, Paris, 1951 ; (F.E.) Lesformes âémentaim delavie religieuse. Paris, I 9 6 O; (W olff) Émile Durkheim,K. W olff (org .), C olum bus, 1960 .
das ta re fa s i ndivi duais e que ta l especial iz ação co m por ta a em an cipaç ão d a pes soa,épre ci soassegurarm dua li staepoderm
o-nosdosf un dam entosdeu m asoci edade indi vi -
osjulgaro carát er m ora l dessaespeci
N abu scadasol
ali zação.
uçãodes se s probl em as,D urkhei m pa rou n om ei o
do cam inh o.As di ficul dadesenco
ntr adaso ori entaram paraoutrosdom
í
nios da análi se sociol ógica, at é o pon to de m odi fi car, em cer ta m edi da, sua vi são geral
d o funcion
am en to do si ste m a soci al. D igam os, gro sso
m odo , q ue el e pass ou dos problem
as da dif erenci ação social aos
inte gração, de u m int er es se prim ei ro pela soc iedade contem
da
porâ nea a um
int er ess e secund ário pel as “ soci edades pri m iti vas” , d a preocu pa ção co m a es trut ur a à preocupa
ção com
os val or es, e m esm o de u m a fi losofi a
posi ti vi st a a u m a fi losof ia “ hipe re spi ri tuai ist a” , co m o a ch am ou . N ão vam os desc re ver essapa ssagem : vam os, ant es , esfor çar- nos em extr air da te nt at iva du rkheim iana a s noções q
ue el e m esm o el aborou e que pro
p õem soluçõ es alt er nati vas. As d u a s p r im e ir a s n o ç õ e s d u r k h e im ia n a s q u e in d ic a m c o m b a s ta nte exatidão a
al ter nati va possí vel são a de i
tr at o e a de coer
ção. A prim
eira aparece
nstitucionalização d
o c o n -/
pa ra resol ver os prob lem as q ue
acabam osded efini r.P orq u ea di vi sã od o job a lh o épr ocur ada jáquenão tr az feli ci dad e a osjnd iyídu os? P orque en gen dra asoli da riedade. M u m a prim eira dif iculdade : ess a sol idari edade, fruto da d lho, é fun
dad a n a int erdependênci
a entr e as funçõ
as ei s
ivi são d o traba es com parti lhada s;
pod e, por tanto , redu zi r- se a ess a inter dependênci a, sem que ca iam os n u m a des sas conce pçõ es qu e con stróem asociedade a pa rtirdosint er ess esi ndivi duai s.D am esm af orm a, as rel açõe ssoci ais n o sei odasso ci edadesorgan zadassão
deti pocon trat ual:n ão obst ante ,es sas rel açõesn ão ser eduzem
ao qu e é e sti pu lado adhocpdasdua s parte s.
i
60
. '4 '
Os te rmos da ques tã o p od em se r m ai s bem com preendidos
à luz da
p olêm ica contra o contrat uali sm o de Spe nc er . D urkhei m que ri ad em onstr ar qu e a co esã o soci al nã o po de re duzi r- se à m útu a vantagem
das pa rt es
qu eentram n ocontrat o.Oa cordo cont ratualse ri a, porsuapróprianatu rez a, i nst ável , j á que os in te re ss es dos indi víduos m ud am constan tem en te. Os con fli tos late ntes, qu e os con tratos particulares vem , reapareceri
sup ostam en te resol
am inc essant em ente s e nã o houvess e, n o con trat o, o utra
coisaa lém do própriocont
rat o.Essa outracoi saé asuaregulam
sua inst it ucionali zação, a ú n ica coisa que con tratu ais em relações estávei
entação,
pode tr ansfo rm ar as re laç ões
s e pr evi sí vei s.
Is so si gn if ic a que o q ue é posto em rel ação po r m eio d o contrato n ão são indiví duos co m int er es se s dados ef ins pes soai s,m as algo am ais e, ao mesmo tempo, algo a menos do que o indivíduo. Durkheim já em pregava o conce
it o de papel , def inido, por u m lado, co m o anteci pação
pos sí vel , po r out rem , da ação de u m indiví duo enq uanto exerc “ fun çã o” , e, p or outro
lado, com
o possi bi li dade de deli
eu m a
m it ar as ações
indivi duais graç as a um si st em a soci al ext erno em que se funda m entam definições e m od elos. Ess e s istema social extern o se m anif esta, ent re ou tr as coisas, n o c o n jun to d as regras at ravé s das q ua is s e i ns tituciona li zou o contrato,
pois t ai s re gras nã o são est ipul adas, m as “dad as social m ente” .
Os contratos
só são possí
vei s, portanto,
po rqu e exi st e u m a co n diçã o de
soci ali dade queo s prec ede,um si st emasocial qu e perm ite aval iar a dif eren ciação, co
co m sua s norm as eval ores
m o de rest o perm ite def ini r e atr i
bu ir os papéis sociai s. Ei s o senti do que se deve da r à a fi rm açã o de D urk heim '4 . de que a social idad e pr eexi st e aos contrat os. Se o si st em a soci al já nã o compreendesse,
em si m esm o, os m odelos das ações dif
ere nci adas, ou pelo
m en os o queperm iteaos i ndiv íduos pr eve rquesu aa ção di fere nci adapod e
61
tr ansfor m ar- se em papel e eng end rar ex pect at ivas e a ntecipações
a seu
re spe ito nos outr os m em bros da soci edade, não se poderia nem m esm o con ceb er a diferenciação. Em outras palavr as, pa ra m edir di fer enças é neces sári ote r val ore scom un s àsuni dades quese dif erenci am .N um pri m eiro nível , a di fi culdad e pareci a, co m isso , contornad a. Ta lvez s e devesse pergu ntar, a esta alt ura, se tod o esse esfo rço n ã o seri a i nútil j á que, atacan do o con tratua li sm o, D urk heim co rria o ri sco de m atar u m a do utrina já m orta. Est ri tamente fal an do, ser ia j ust o. Não obstante, as posições ainda hoje não estão definidas. Graças aos co ntr at ual ist as - pode-s edi zer - sabe m osqueo consenso n ã oéa uni dade j á p ron ta d o g rup o, m a s a un id a d e a ser feita. P o r o p o siç ã o , s ó teríam os a poss ibi li dade de conceber os gr upos com o com un ida de d e sent im ento s e cre nças onde o con senso nad a m ais ser ia do que a i m posição, aos indi ví duos, das norm as e v al or es d o gru po.5 Mas poderí am os hoje com preen der real m ente o que ocorre em nos sas soc iedades im ag inan do q ue os indiví du os só bu scam fi ns el aborados pes soal m ente , agem e contrat am ca lcu lan do , segu nd o se us i nte re ss es , o qu e pod em gan ha r ou perd er? É evi dente que preci sam osde ou tro m od elo de a ção social .Seri a o que D urkheim nos of erec e n o que afi rm a sob re a insti tuci onali zação do contrato? Ver emos q ue ne m toda a difi culdad e ser á afa st ada. Vam os nos de te rum po u co paraconsi derar aoutrano çã o que ,de sde o iní ci o, péara -
,*
/ lei m as que Jáconsetém em si m aesm u ma aà aldeterinstinat tuci iva: aonalização, n oçã o de coerção. falouclaram de am ente bigüidade se ua j '/ res peit o e efeti vam ente, pa ra D urk heim , a n oç ã o signifi cava du as coisas , : bastante dif erentes, po is po dia te r n o sist em a duas fun ções dive rsa s, um a de ordem m orale ou tra m etodol ógica.Est a últi m a decorri a da defini ção 5 Cf. Bou rricaud:
Esquisse d'une théorie del ’autorité, Paris,
1961, pp. 8 ss.
62
do “ fatosoc ial”,concebi
doco m o todo fenôm eno queexe rc ecoerç ãosob re
o indi víduo. l def inipaçãção éo contradit a; contr tosadiz princi palm Uentema a tapreocu de Du rkhei órim aemem defisi mniresmos concei da nov a ci ência de m od o obj eti vo, de f ora, com o ele di zi a.A coerção que u m fenôm en o exerce s obre a açã o indi vi dual,qu an do n ão e'físi ca, n ão pode se r de fato obs ervada de f ora, m as som ente perceb ida subj eti vam ente, em sua própria consciência, pelo indiví duo que age. Ainda qu e D urkhei m ja m a is r e c o n h e ç a e x p licita m e n te essa d ificu ld a d e ,'1 a p r e o cu p a ç ã o c o m Vdesem e re m baraçar-s o s m a is eadela d iai n ráteorientar a lg uameva s colu o n sçãoe q üdeêsuas n c iap s osições d e sssuces a c o n trsiavas. d iç ã o metodológica. 0 outro aspec to da n oçã o de coerçã o respondia à nec es si dade de afi rm ar a subm is são m ora l do indivíduo à soc ie dade. E xprim ia a r el ação ent reasoci edade em geral eo indiví du oem ger al .Naspr im ei rasobr asde D urkhei m ,aescolhades seter m oprovave lm ent etr aduzi au m aintenção po ilusõesdualdoporindivi li sm cid lêm o sobrica,esublinhan a con sciênc do,ia econ a açã traoasindivi tud dua o o que lhe éo,exo pesoteexerior . r Se D urkheim e osdu rkheim ianosvêm a atenuar es sa s ignifi cação d o term o, atenuam tam bém sua p olêm ica anti ind ividual ist a.7 M as es sa 6Contudo,u m adaspri m eir asc rí tic asdefun do dir igi dascontraa obradeD urkheim, adeG.Sorel nos pri m ei rosnúm erosdo Devenir social(1 89 5), já lhe cri ticava e ss e equ ívoco d o conceito de coerção .É in ter essant enota rque, após as observaçõesdeS orel,es sacríti caparecedesaparecerdos franceses ; contudo, aparece na li ter atur a am ericana com as análises de Parsons e, m ais recent em ente,nolivrode Joh n Rex: KeyProblems ofSociologicalTheory (Londres, 1 9 6 1 ), Cap. II I, que fala, a propósi to, de “ teori a parti ci pante” . Pode-se observar i gua lm ente que, qu an do quer explic ar 0 senti do concre to dess a coerção, D urkheim fala na prim eira pes soa (v er , por exemplo, Regras, 4 ss. ) segund o a tradi ção de um a ce rt a li ng uag em fi losóf ica, 7Já em 1898, em seu artigo sobre as “ Rep resentações i nd ividuais e representações co let ivas” , Du rkheim escre via : “Q uan do dissem os a respei to da obriga ção o u d a coe rção , que era c aract erí sti ca dosfa to sso ci ai s (.. .)quis em osapenasi ndicar u m si nalcôm odo atrav éd o qual 0 sociólogopode reconhecerosfatosr el ati vos à su aciên cia”(S.Ph., 35 ). É signif icati vo quen o prefáci oàsegu nda
63
atenua ção n ão re sol ve as di fi culdades lógi
cas que a po sição d a n oç ão no
pensam entodurkh ei m iano nã opod ed ei xard epr ovo ca r.Oqu eser iapr e ci so fazer nã o era dest it uir o term o de seu v igor, m as to m ar exp lí ci tas as alt ernat iv as qu e con tinh a e, se possível, dar-lhe ri gor opera tório. P or u m lado, de ver -s e- ia c onsi derar a coer çã o co m o obrigação m ri zação da n
oral, co m o int eri o-
orm a n o seio da pess oa, portant o co m o presença
col eti vos n a form aç ão dos fi ns e das necessi lado, di sti nguir a coerçã
dades indivi
dos val or es
duais; por ou
tro
o exe rci da p or indiví duos o u grupos sobre outr
os
indiví duos o u gr upos. E m suas o bras su ce ss iv as, D urkh ei m ens ina-nos m
uito sobre o pri-
m eirode ss es doisse nti dosdan oção , m asesquecerácadavezm
aiso outr o.
mDimão do trabalho social,aterm oé em pregadono
Contudo,
•
seg undo
sent idodem an eirabem esp ecí fi ca:Du rkheim dizqueexi st e coerçã o láonde fal ta “ a absoluta igualda m entação-
de n as co n diçõ es exteri ores da luta’’.
8 A regula
ist o é, om om en toinst ituc ional d ocont rat o- nes sec aso,“ sós e
sus té m p ela força ". Em bora ess a posição sej a afi rm ada m ais de u m a vez , Du rkhei m n ão se esfor çará em expli car m aispr eci sam enteem quedeve ri a m cons is ti r e ss as con diçõe s e e m que senti do e xi st e coerç ão q ua nd o el as nã o se verif ic am . E ncon trarem os m ais adiante as
con seqü ênc ias des sa recu sa.
A divisão do trabalho ou as vocações difíce is
Teri am desaparecido
/
todas as dif iculdades qua nto a sab erem q ue '
consi sti a exatam ente a sol idari edade orgân ic a? Em que condições
..
ela se \ S t ,f'
edição das Regras, Du rkheim renun ci e, pelo m en os parci alm ente, a insi st ir s obre o carát er de coerç ão c om o cri téri o específico dos fat os soci ais. E m 1960 , ai nda , Georges D avy se queixa va: 0 “ Os pe nosos mal-entendi dos, que não sã o, na ver dade , m ais do qu e m al -ent endidos , a qu e e de Sociologie,1960, p. 14). em prego do t ermo contraintedeu l ug ar (.. .)” (Revue Français 8D .T. S., 371.
64
real iz a? Q ual é a natureza da açã o qu e a sociedade exerc e s obre os indi víduos q ue efetuam tare fas dif erenciada s? Qu al é a nature zadacon s ciên cia colet iva p rópri a às soci edades contem porânea s? E m out ras pal avras , com o se dev e conce be r o si st em a de v al or es que cham am os individualistas? Se a interdepe nd ência dos inter es se s nã o bast a pa ra exp li car a coesã o nas soci edades di fe renc iadas - o que a anál ise do qu e n ão é contr atual n o contrat o dem onstr ou m uito bem - é pr eci so que al go dif e rent e, esp ecífi co, ass egure a coesã o. As soci edades h om og ên ea s possu em sua co n sciênc ia col eti va, com po sta pe lo s senti m entos com partil had os p or todos o s m em bros da soci edade. Have ri a algo an álogo nas so ci edades .^d if erenciada s?D urkh ei m dá a res pos tacom cert ahesit ação,v isí ve l, sobre tud o, em seu prim eiro li vro. N ess a obra , el e que riasu blinh ar as di fe renças Ientr e dois ti pos de es tru tur a social e tam bém acentu ar o fen óm en o da , em an cipa çã o individua l, li ga do à espec iali zaçã o das ta re fas . E ra-l he d if íci l continu ar a fal ar em senti m entos com un s, pois a generali zação d a divi são do tr abal ho só po dia ocorrer à c usta de u m obscurecim ento da consciência com u m , já que a nova sol idar iedade s e fund a n acom plem entariedad e dasati vi dade sindivi duaisdif erenc iadas. Nes sa s cond ições, qu al pod eria s er o elem ento social qu e ass egura a exis tênc ia e o funcion am en to da so ci edade enq ua nto ta l e cons ti tuio conteú do da con sciência col eti va? A p aren te m en te, D u rk h e im te m u m a re sp osta já p ro n ta : o e le m enton ovodeves er buscadojus tam ent en ofatoda em ancipaçãoi ndivi dual . Es sa sol ução já ée sb oça d a na Divisão do trabalho social:“Àm edida qu e todas a s outras crenças e toda s as outra s prát icas tom am u m car áte r c ad a vez m en os rel igi oso, o ind iví du o s e torna objeto de um a
lilt
65
espé ci e de religi ão” . E m 0 Suicídio,essa pos ição ser á precisad a a tra ve' sda aná lise do s di fer ente s ti pos de su icí dio. Em p leno affaire Dreyfus,'e m f um ar ti go na Revue Bleuesobre “ o i nd ividua li sm o e os i ntelec tuais” ,9 M D urkhei m apr ove itava a ocasi ão para afirm
/
arp úb li cae po le m icam ente
(tra tava -se de u m a re sp os ta a B run eti ère)" s ua f é n o in d ivid u a li sm o* / com o va lor , e m esm o com o re ligi ão do nosso t m od ern a o indivíd uo vê recon
hecer-se seu dir
empo. N um a soci edade^ eit o à l ivr e crítica das i
nsti
tuiç ões e à rec usa a o a pelo ind iscrim ina do aos inte re ss es coleti vos, justa m ent e em n om e d a verda dei ra re ligi ão colet iva de nosso tem po, que é a 1rel igi ão do indivíduo: a au tono m ia da razão é s eu dog m a; sa irito , a l ivr e di sc uss ão.Apessoahu
m an a ésagradan
osentidori
tual da pal avra,re ve s
te -se d e um a m aj es tade t ransc endent al . O hom em é ao m esn io tem po o . ador ad or e o deu s dessa reli gião. Percebe-se a e evidência
■
spécie de si m etria qu e es sa fé , nascida
da prá ti ca social con tem por ân ea, emprestava
ri ca de Du rkhei m . U m a con sciência col
na p rópria
à con struçã o t eó- .
eti va e xi st e e age nas socieda
hom ogênea s com o tam bém nas s oc ie dades m odernas di
1
fe renc iadas. Na s
pri m ei ras, o co nteú do d a co n sciênc ia col eti va, o princípio inspi val ore s que a soci edade im põe ao s i ndiví duos, o objeto do cu
des
rador dos lto, é a pró
pria soc ie dade. A m ed ida qu e as a ti vi dades soci ais se diferenciam
, qu e
se nti m ent os com un s ent re os m em bros de um
enuam ,
a soc iedade se at
vam o- nos ap roxi m and o de um es tág io em que “ nada m ai s have rá de com um e n tre tod osos m em bro s deum m es m ogru pohum ano,anãos er * N. T. : 0 “ caso” D re yf us f oi um episódi o de espionagem em que a cúpu la do exerci to fr ancês envolveu deliberadam ente u m oficial jud eu inocente, Dre yf us. O “ cas o” d ivi diu a sociedade francesa da ép oca e se revest iu de importante carát er sim bólico. 9 RevueBleue,IV séri e, X, 1898 , pp. 7-13- V er, tam bém ,J. Neyor: “ Individualism and S ocialism ” , em W olf f, 32-76. " N. do T : C rí ti co li terári o do final do século XIX.
/ osf f
66
o fat o de todo s se rem ho m en s” . 10Nes ta s cond ições, a i m ag em da pesso a h u m a n a subs ti tu i a da soci edade en qua nto objet o da fé s oci al. 0 fat o de u m a soci edade se r indivi dualis ta nã o signif ica, portanto, que seus m em bros n ão d isponh am de u m si st em a de val ores coletivos1 si stema n ã o se ja im posto pela sociedade. Ao contrário, a * tam bém ne st e c aso, um a nova form acei taç ão do valor
a de coerção so
1n em que es se soci edade exerc e,
bre se us mem bros , a
abso lut o da pes soa h u m an a N ão é o reco nheci m ento
ou a consa gração de um fat o nat ural , nã o é o indiví
duo que reconquist
a
seus próp rios di rei tos srcina is, é a socied ad e que atri bui a o i n d iví du o um nov o c ar át er . E o que D urkheim , po r ocasião de um a di scus são fi losófi ca, responde cl
aram en te a Brun schvi g, qu e f alara de “
m ad a " de li berdade s i nd ivi du ais em detri m ento da est
ret o
rutur a m ateri
al das soci edad es: Esses direitos e liberdades não são coisas inerentes à natureza do indivíduo enq
ua nto ta l. Anali semos
a const it uição em píri ca do h o
mem, e não encontraremos nada desse caráter sagrado de que é atu alm en te investi do e lhe confere direi tos. Tal caráter lhe
foi acres
centado pe la soci edade. Fo i ela quem co nsagro u o indi víduo; que m dele fe z a c oisa respei tável por excel ência. A em an cip açã o progressi va do indivíduo não implica, portanto, enfraquecimento, mas transformação do liame social. O indivíduo não se subtrai à soci edade; liga-se a e
la de m an eira diferent
e da que pr evalec era,
“ S.,382. 11No presente Ess e em prego utili zá-lo em de detalhe, ver
estudo, em prega rem os as expressões "con sciê n cia coletiva ’’ e “sist em a de valores” . nã o é i nteiram ente exato, deveri a s er especifi cado ; m as n ão há inconven iente em nossa s análi ses. Para um aprofun dam ento da relaçã o e ntre os t ermos e defi nições o artigo de T. Par sons em Wolff.
67
e is so porqu e ela o co nceb e e o qu er di fer ente do que o con ceb ia anteriormente.” Es sa si tuaçãofi cab em ilust radacom o exem ploclássi cod opro te st an tis m o e d o li vre- pensam ento. O li vre- pensam ento é exigência da con
sciência
coletivada soci edade rel igi osaprot est ante.Opro te st ant e,segun do afó rm u la deRousse au,es tá conden ado aser livre, co m otam bém éo caso, cad av ezmais, dos m em bros das soc ie dades m odernas .
p
O i ndividuali sm o com o princí pio de u m no vo sist em a de val or es es tá, portanto, bastante enraizad o n o pens am ento d e Durkh eim. M as se a fórm u la é nít ida, s er ia , nece ssari am ente, cl ara? 0 que entende Du rkheim por val or da pessoa hu m ana, af irm ado co m o fi m que dev e se r buscado pel as soc ieda des? A s fórm ulas surgem
facil m ente: “ G lori fi caçã o da pessoa
hu m ana ” .13 “ Cult o pela pess oa hu m an a sobr e o qual repousa t
oda a
nossa m oral” . E a inda: “A pess oah um an aé a coisa s agr ada porexcelênci a, é u m objet o que tem um valor incom parável para a consciênci a col et iv a, n en h u m fim po de sobr epuj ar a persona li dad e indivi dual ” , E ssa s re pet içõ es nã o nos escl arece m m uit o. Es se cult o pela p ess oa hu m an aé o culto da l iberdade ind
ivi dua l? Seri a, en tão, o ca so de exp li car conc reta
m ente e st e últi m o ter m o. Trat a- se de um cu lto da intang pessoa? Es se parece se
r o aspect o vi sado nos argum entos em
suic ídio, m as s e s e t rat a de um aspec to im portante,
ibil idade da torno do
é tam bém m uit o
li m it ad o, e a liás só po de ria ser vi r p ara d isti ng uir os si stemas de v res das soci edad es prim iti vas com nas em casos secundá ri os. “ S.Ph.,105ss. 13S, 381.
relação
aos das soc
a lo
ie dad es m ode r
68
Som os o bri gados a c ons tat ar que Durkhe ím nã o dá nen hum a re spo st a. C ontudo, n ã o seri a i m possí vel co m p ô-la a par ti r dos própr ios term os de seu si st ema. V ej am os. Nas sociedades f un dad as n a divis ão do trabal ho, os f ins especí ficos de u m indiví duo, n a m edida em que se invi s ta em u m pap el social, só p od em ser, po r hi pótes e, os de real iz ar com sucesso as ati vidades especiali zada s qu e seu pa pel lhe im põ e. At ra ve 's des sas ati vi dades, el e se dife rencia, realizan do, p ortanto, su a individualidade parti cular . Obte 'm, ao m esm o tem po, a ap rovaçã o dos outros que, assi m , recon he cem -no em sua espec ific idade e em su a neces si dade de i ndiví duo
\
disti nto e particul ar. Se ele rea li za co m sucesso as taref as de seu p ap el, se ap erfei çoa sua próp ria person ali da de especial izada, di st int a e em an cipa da,pode-sedizer,recorrendoaumaexpressãoreligiosaeaomesmotempo téc nica, que el e r eal iz a a sua voca ção. A vocaç ão é a escolh a ‘ ‘valor izada” de u m papel indivi dua l n o seio da di vis ão do trabalho soci al. É, na expres sãodeD ur khei m ,o m om entosagra dodeu m aescol haprof iss ional .Por consegu inte, o cu lto da personali dade indivi dua l só pode tr aduzi r- se na reali zação das cond ições soci ais que perm it em a reali zação das vocações indivi duais. Intervi ndo n a d efinição das voc açõ es parti culares, a con sci ên cia c oleti va consa gra o dir eit o absoluto de s e real iz arem . U m a soc ieda de integr ada será a que ass egu rar , a todos os seus m em bros, a possi bil idade de rea liz arsuavocação própri a,dem an eiraqu e h ajacoi ncidên cia ent re os f ins procurado s pelos indiví duo s e os f ins col eti vos. Q uan do iss o n ão oco rre ,apa re ce um es tadodeanom ia.PorqueD urkhei m nã ofor m ulou
u m a respo st a dess a ordem ? Porqu e is so tê- lo-i a necess ari am ente levado a \ t res ta bel ec er u m a coerên cia entr e a s sol uçõe s est rut urai s que pr ocurava na '"íDivisão do trabal ho socialp or u m lado, e as soluçõe s “ cul tur ali st as” para as quais co m eça a di ri gi r- se, po r outro lado, co m O suicídio.N ã o
69
obst ante, n ão haveria outra saí
da se el e ti ve ss e pro cu rad o u m a d efi nição
exata d a reli gião indivi duali sta. Pa ra explicar o
qu e el e enten dia por
'■ “ culto da pessoa” , dever ia r etomar, co m o m ostram os, às suas anál ises d a divisão d o trabal ho. Se os indiví duos tê m o d irei to e o deve r de real iz ar suas vocaç realizando
seus desti nos indivi dua is
desem penh os? S e a con sciência col
ões -
qu e cri tér ios per m item m ed ir seus
eti va tam bém consa gra o suc ess o, d ev e
per mit ir, ao ind ivíduo e aos outros, avaliá-l
o. Os val ores de u m a soci edade
individuali sta devem se r t ai s qu e pe rm it am avaliar os indiví du os em suas t aref as es peci ali zadas. Ao m esm o tei. .^*, , ------u m a so cie dad e indi vi duali st a devem perm iti r que cada
-
^
um possa escol her
sua vo caç ão . E is so só é possível se ho uv er corre spo nd ên cia ent re a di st ri b u içã o das tar ef as es peci ali zadas e a d is tri buição d as voca ções. A d ivisã o. do tr abal ho n ão engen dra coop eraçã o nem sol idari edade, sub linha
'
D urk heim , se as apti dões (os tal entos na turais) nã
'
a que sã o dest inadas.
oes po sar em as tar ef as /
3. A igualdade superficial
j/
Es se aco rd o entre apti dões e tare fas só se reali za qu a n d o exis te igualda de entr e os indivíd
uo s.1 4S om en te sob esta co n d içã o ha verá har
m on ia ent re a s naturezas i
ndivi duais e as fun ções sociai
catam bém “ ha rm oniae nt reaconsti aç ão ” , poiscad aindivídu
tuiç ão decadaindi
do p or sua vocaçã
m os, n ão é algo natural que D.T.S. , 1, III, Caps. I e ll .
ví duoesuasi
oest ar á em con dições deescolherotipode
dade q ue su a ap ti dão o p redi spõe a des em penhar, e consagra
s - o qu e si gnif i tu at ivi
a que el e se sent irá
o. Ta l si tuação, para D urkheim , co m o sabese deva deixar des envo lver -s e e spon tanea m en-
*
70
te. A o con trário, ha veria desigualdades na turais (de or d em fí sic a, intelec tual etc. ) enq ua nto q ue som ente a regu lam en tação poderia e stabe lecer a igua ldade das pos ições de acesso às fun çõe s so ci ais. , R eencon tram os, aqui, ess a n oç ão de igualdade qu e anter ior m ente se opusera à no çã o de coerção. D ir- se- ia que D urkh ei m nã o est á m uito longe d a posição cl ássi ca do rad ical ism o a nglo-saxão.0 que el e preconiza éque as pes so asseapr es ent em àcom petiçãodavidaem posiçãode igual dade, que gozem de oport unidades iguai s. Os i deó logos radi cai s, com o sabem os,se m pre foram bast ant e imp rec is osa es se re spei to , m asp elo m e nos con tam co m a j usti fi cação de sempre pode rem faz er ,por m eio di ss o, u m a rei vindicação imp ortante. E m tr oca, é bast ante surpr eendente v er u m pen sam ento so ciológico tão penet rant e, após te r reco rri do a es se co n cei todei gualdadeem u m pon tof und am entalec rí ti cod osi st ema,esq ue cerde seinter rogarsobresuas ignifi caçã os ociol ógica. Se D urkh ei m se preocu pa com es se aspec to , é em tor no da dis paridade d e don s naturai s, qu e seri a obstá culo à igua ldad e. É evi dente qu e el e visa u m a idéia abso lutam ente fí sic a daigu alda de . Tra ta -se , ain da,deum aconseqüên ci adesua concepçãoprofund aqueole vaai m ag i nar os i ndiví duos co m o u nidades bi ol ógicas, que entr am já prontos na soc iedade, a qual , por su a ve z, deve arrum á-l os, con trolá-l os, pô-los “em ord em ” . Dir- se- ia que el e nã o ésensí vel à con trad ição possível entr e tipo deorgan izaçãosocial ea defi niçãoda igualdade.Équaseu m ahi pót es e de tábula r asa so ciológ ica qu e lhe perm it e ignor ar, p or ex em plo, os prob le m as da açã o qu e a fam íl ia e, em ger al , os grupos el em ent ares , exercem sobre a form açã o d osindivíduo se sobre o si stema de dif erenç ase pr ivi lé gios e ntr e e les ; qu e lhe perm ite , assi m, ignorar o p roblem a d o pon to de parti da na car rei ra da vida; o u o prob lem a da transm is são i ndivi dual das
71
exp eriências etc. M as tudo is so só n os int eress ari a sup erfi cial m ente se ess a carên cia de sua refl exão sobre a igualda de n ã o le vas se a du as difi culdades m ais gr av es , m as ao m esm o temp o m ais fec undas. A p rim e ir a de la s é b astan te tra d ic io n a l: trata -se d a co n tra d içã o iner entea qua lquersi stemadeval oresque consagre, po ru m lado,o di rei to aosuces soi ndivi dual (vocação com ova lo rconfi rm ad ope lac ol eti vi da de) e, po r outro l ado, a nece ssi dade da igualdade com o co n diçã o para a acei taç ão m oral do suc es so . Retom am os, com isso , o p onto que aban do nára m os anter io rm ente .Os valor esdeu m a soci edade indivi duali stade vem perm iti r avali ar os desem pen hos indivi dua is. M as e ss es desem penh os sãose m pr erel at ivo sadesigual dadesqu es e form am .Nam edidaem que os valor es devem pe rm it ir avaliar ess as desigua ldades rel ati vas, tam bé m dev em d ar conta da ins ati sf ação diant e das desigual dades que en gend ram . Es se si ste m adeval ores contém ,por tant o,em sim esm o,u m acontradição. A s e g u n d a é relativa à d e fin içã o d a s a p tid ões in d iv id u a is q u e as cond ições de i gua ldade dever iam perm iti r corr esponder harm oniosam ente às t are fas soc iai s. E xi ste m naturalm ente o u seriam form ad as p ela socie dad e? Se forem naturais , serão di st ri buídas a o acaso d as ci rcunstân ci as biológicas, e então se poderá imaginar um único sistema de tarefas especial izadas que p ossa es tar de a cord o co m a distri buição natural da s apt idõe s. Ou, e ntão, são f orm adas pela soci edad e e consi stem em “ um a foiça socialque cad au m car reg a em si ” , com o di zDu rkhe im em certas passagens; constituí-las. e, nest e caso, será preciso explicar com o a soc iedade ch eg a a Pod em os, e vi dentemente, im ag iná-lo. É g raças ao proc esso de so ci ali zação que a soci edade c on form a se us m em bros de ac ordo com as exigênciasd aestrut urapr ópriadese uspapéi s.M as,ne ss ecaso,o prob lem a
72
dacorre spon dên ciaedah arm on iaent reas apt idões eas t ar ef as nã o sa tis fazane nh um aexi gênciadei gual dade.Is sot am bém quer diz er quequ ando ess a correspond
ência e a coop
era ção qu e deve deri var da í em term os de
divi são do trabal ho n ã o s e real izarem , n ã o se t rat a de um a carên ci a de açã o soci al , de regul am entação m entre du as d is tribuições vençãosoci
as, ao contrári
o, de um a contradi
ção
si stemá ti cas; o u sej a, entre d ois si stem as de inte r
al ,o que,m ais um ave z, éo m esm oqu ees tabel ec eracont ra
dição n o sei od ap rópri acon sci ênciacol et iva. Há u m ponto, é v er dade , em que D urkheim se esf ri gorosam ente o que el e ent ende por igual fun da m en to da igua ldade nas
orça em defi nir
dade ou , m ais exatamente,
po r
rel ações i nte rpe ss oai s. Tem os i gualdade,
diz el e, qu an d o se troc a, ent re duas pesso as, um va lorso cial equiv alente: N u m a so cie d ad e d ad a, c a d a o bjeto de tro c a tem , a c a d a m o m en to , um valor det erm inado que se pod eri a ch am ar de valor repres enta a qu antidade de trabalho ú
soci al . El e
ti l qu e o obje to cont ém : en ten
de- se , com iss o, n ão o trab alho integral que ten ha cust ado, m as a p a rte d essa e n e rg ia c ap az de p ro d u zir efeitos socia is úte is , is to é, q ue respondem
a necessidades
Ess a defini ção parece form
no rm ais.1 5
ulada m uito i ngen uam ente. Tem, ef
e
tivam ente , um aspect o i n gên u o, que i nfel izm ente Du rkheim m ante ve em out ras ocasi ões, especi al m ente quan
do fala d o valor eco n ôm ico que
dependeria, pelo m eno s em part e, da op inião colet ob st ant e, um el em ent o, an oç ã o de “ necessidaden
iva. Mas contém , nã o orm al” , que éi ntere s
san teseguir em suae voluçã on o sei odo si st ema .Thdo o m ai s poderi a,de 15D. T. S. ,p. 37 6 .
.v í
\
-
v
73
fato, re duzi r- se ao co n ceito clássico
d o va lor trabal ho. M as D urk heim fal a
de quantidade de trabalho útil, e o critério dessa utilidade estaria na cap acida de de sat is faz er as necess idades nor m ais. Ora , a norm al idade -
que nã o é, para Durkhe
m
im , um conce ito
puram ente e st at íst ico , co m o sabem os - é fi xad a e de fini da, nu m a dad a soci edade, pe lacon sciên ciacoletiva
. Es ta nos diz, po r exem plo, qua is são
as nec es si dade s “ norm ais” de um oper ári o, de u m agr icul to r, de um fun cion ár io e tc . N u m regim e (i de al) d e cast as, iss o se im p õe p or si só, po is ning ué m ousaria duvi dar d o q ue devem ser as j ust as neces si dades dos m em bros de um a ou de outra ca st a. N um a soci edad e des sa s, de f ato, a con sciência cole
ti va tem po r função , preci sam ente , definiras casta s e,
atr avés di sso , justi fi cá-las, tom á-las aceit as, em um ap ala vr a, consa grá -las. Em um asoc iedadeem nu a expansão e te so ci edade indi
que adi vi sãodo tr abal hoest ej aem contí
nda a e spe ci al izar -se cad a v ez m ai s (em sum a, em u m a vi duali st a, no senti do du rk he im iano ), a consciência co
ti va t em po r taref a defi nir e, portanto, con
le- -
sag rar as voc açõ es individuais .
Qu ai s s ão as necessi dad es norm ais em u m a soci edad e i ndivi duali sta? Qu al é a d efi nição da
norm ali dad e que a consciên
pro por- se a consagrar? E qual a relação ent lida de e a con sa gra ção das vocações indi
cia c ol eti va poderia
re es sa consa graç ão d a n on n a viduai s? D urkh eim parece dar
conta de t ais di ficul dades qu and o di z que o d om ínio econ
-se
ôm ico s e s ub
tr ai cad a v ez m ais ao control e da con sciência cole ti va à m edida que a di vi são do tr abal ho pr ogr ide . Mas es sa au tonom ia que s e r ef orç a nada / ; m ai s é do qu e o process o d e em an ci pação do | consciê ncia com
indiví duo em rel ação
u m , que el e col ocav a com o car áter espec ífic o das soci e-
: dade s m odernas, o qua l se tornar a fund am ento de sua m oral idade.
a f'
74
Como se formam as necessidades?
igualdade
Se a sol ução que D urkhei m se esf orç a em dar ao s probl em as da n ão é sat isf at ór ia, peim ite- nos , ent ret anto , penet rar n o âm ag o
da q uestão da s necess idades. D e f ato, se a iguald
ad e sign if ica troca de
val ores soc iai s i guais, e s e o cri téri o para m edir o valor soci m en to da do repousa sobre a no com preenderm
çã o de necessi
dade norm
al nu m m o al, s erá prec iso
oscom ose for m am as nec es si dad esi ndi vi duai sem um a
sociedad e co m tar ef as dif erenci adas. Is so nos perm it irá, tal vez, tam bém escl arecer as relações
entre u m sis tema d e valor es e os fat os d a desigualdade.
V am os n o s reportar à cr ít ic a d e D u rk h eim sob re a n o ç ã o d e p ro g resso eco n ôm ico e a o qu e se di z so bre su as r el açõe s com a f el ici dade dos h
o
m ens. O pr ogres so eco n ôm ico (progre sso da di vi são do tr abalho) n ão pode ter ori gem n odesejohu
m an ode aum entari nces sant em ent eafel ici dade.
A fe lic id a d e h u m a n a s ó p o d e ser lim ita d a , m a s n a d a p o d e p er m itir p rever li m ites ao progresso da d
ivi são d o trabalho.
cau sa essa necessi dade de au m entar a feli m uit o te m po:
Se o progresso só ti cidade, já se
ves se co m o
te ri a deti do h á
Um desenvolvimento moderado teria bastado para assegurar aos indi vídu os toda nidade ch
a som a de g ozo de que são capaz
ega ri a rapidam
ente a u m est ado estaci
es. A h u m aonári o de ond e
nã o sairia m ais.1 6
Na reali dade, o progresso e cess idades que ele m
es m o criou ou intensifi cou. Apenas repara
qu ec ausa.D urkheim derivadaísuadem D.T.S, 215.
co n ôm ico lim it a-se a s ati sf aze r a s n e onstraçãodeq
as perdas
ueospr ogr es sosda
75
di vi sãod o tr abal ho devem te r outrafunçã
o: adef un dam entarasol
idari
eda de g raças à interdep end ência que se cria ent re a s ta ref as especial izadas. M as dev em os nos perguntar po r que o avan ço da divi são do traba lho au m enta nossas ne por causa da m m ente opor o
ces si dades. D urkheim
aior f adiga que o
res ponde, prim eiro, que é
acom panh a. Ao que poderi
argu m ento pre cede nte, de que a fadiga h
tudo, li m itada, enq uan to as nec ess idades que au
am os f acil
u m an a e', apes ar de m entam co m a div is ão
do trabal ho p arecem ser, co m o a própri a divi são d o trabalho, il
im itadas.
Exi ste t am bém a com petição cada vez maior , com a p res são n er vosa que pro voc a e q ue pod eria s er cau sa des se aum ento das neces si dades. D ef ato,ocan saço nervosopod
eri aser consideradoili
sem os de su asbas esf is iol ógi cas,considerand
m it ado seod esl igá s
o-oco m ocon seqüê nciaou
m od alidad e de u m certo ti po de r elações i nterpe ssoa is , po r exem plo, as rel ações de com petição. Is
so nos aprox
im aria do pon to que nos parece
m aisjust opara acom preen são dasrel açõesent renece ssi dadesepro gresso econômico, . Podem os, t am bém , chega r a es se pon to de outra m aneir a, com m aior cl areza. A sati sfaç ão das ne ces si dades na da m ais é do que a recom pensa , para os ind
ivíduo s, de seu sucesso nas taref
ní vel i ndividual, a consa
graçã o d a voca ção corres pond ente aos valor es
afi rm ad os pe la co n sciên cia col etiva das soci parase r encaradacom
as especi ali zadas; é, n o edad es i ndivi duali st as. M as,
o rec om pensa,es sa sat is fação dev e,aom esm otem
po , poder ser ava liada e recon hecida. E m outras pal avras, é preci so qu e os indi víduospossa m m edirsati sf aç õesdadasem relação aoutrassati sf açõ es pos sí vei s, e os cri tér ios dess a m ed ida devem ser com pa rti lhado s pelos m em bros de um cer to g rup o pa ra pod erem ser reconheci co nse qüênc ias .
dos. Iss o t em duas / . .
76
f \
y j A pri m ei ra, que f oi bem perc ebi da por D urkhei m , é que o a um en
to das neces si dades est á li ga do à d if usã o d a com pa rabil idade ent re os m em bros deu m aso ci edade; m ais prec is am ente ,àc om parabil idad eent re os m od os d e sat is fação de suas necessi cas tas, po rexem plo,asnece
dades res pec ti vas . E nq ua nto hou ver
ss idadesnã op ode rãodif undir -sedeu m a cas ta
à outra, j á qu e n ão há c om pa raçã o possí vel entr e as nec ess idades do s m em bro s de cast as di fe ren te s. Para q ue a divi são d o trabalho e as necess idades se difund am , é preciso que
se desenvolva
as ba rre ir as de in com pa rab il i-
dade s ej am tra nsp as sa das ou des tru ídas . M as iss o im pli ca tam bém - e Durkhei m não o pe rc ebe u - que no sei o de um a m esma soc iedade pos sam coexisti r s ist em as de valores di
ferent es que co rre sp on de m aos dif erentes
gm po s des sas oci edade. A o u t r a c o n s e q u ê n c ia é que as neces si dades de u m indiví du o de vem se rc onsi deradas com
o fun ção desuaposição
re lat ivano si st em ada s
diferen ciaçõe s criad o entre as tare fas especializadas. Pa aval ia rasati sf açãodesuas pr
ra qu e el e possa
ópri as necess idades co m o rem un eração de
seu próprio sucesso na tarefa social, é preciso que o indivíduo possa com pa rá-lo com
as sat isf açõe s que con sagra m as posições s oci ais superio-
reso u inferi ores àsu a. As neces si dades nascem çã o entr e posições
, portanto,
d essa com pa ra-
re lat ivas . M as, a f im de p od er perceb er e avali ar as
po sições rel ati vas, é pre ciso possu
ir um si stem a de v alor es coleti vos, de
, val or es com pa rti lhado s p or t odos os m em bros d e u m cert o grupo soc ial . Ei s o liam e ent re a consc iência colet
iva e o sist
em a de n eces si da
de s. Mas n ão n o senti do de D urkhei m , i st o é , postulando-se u li dade das nec essi dad es rel ati va ao s dife rentes grup des norm ais de um indiví du o aparecem, ao contrári pazesd econ sagrarseusu
m a norm a
os soci ais. As necessi da o, co m o aquelas
cesson atarefa social escolhida.Jáque
ca
ta lsuce ss o
77
ésem pre rel at ivo e depe nde de u m a com pa ração, n ão exi st e n orm ali dade com o m odeloco nst ant e, m as um ate nsã ocontí nu aem dir eçãoapo si çõe s a ser em conquistadas. Sem pre s e t em co m o necessi dades as nec ess idades qu e ou tros s ati sfi zeram . H á ou tra conseq
uê nc ia im portante que, ali
ás, r epe te exatam ente
as c onc lusões que deri váram os d a aná lis e d o sist em a de val ores , n o sent ido em que es te se funda m enta t anto na aspir
ação à i gualdade qu
an to na de
reali zar voca ções indi viduai s. De fato, po de m os dizer que, se u m si ste m a de valores perm it e avali ar posições rel ati vas em u m a es tr utura social e , p or conseg uinte, perceber ou m edir as desi gualdades , ta l s istema afi rm a rá , ao m esm o tem po, que e las provocam
, cada vez
que s e m anif est am , a
exigê ncia de su ap róp ria aboliç ão. O sist em a pr oporá, port
anto, obj eti vos
contradit órios : n a m ed ida em que con sag ra cert a e st rutur a das rel ações soci ais, consti
tui a fonte das insatisf
e, portanto, ex
igirá su a superação.
ações n o seio dessa m esm a es trutur a
C om eçam os a ve r cl aram ente o senti
do das dif iculdades i
tr icáv ei sque D urkh ei m era forçad o aencontrarem J
nex - ,r
suat ent at ivade(un e“”
dar sim etri cam ente a co n sciên cia coleti va das soci edad es di fer enci adas n o indivi duali sm o, n o cu lto da pess oa hu m an a, n a justi fi caç ão das voca ções pe ss oai s. D evem os con cluir que sua form vasqueperm
ula ção da s cond ições posit i-
iti ri am a real ização dasol idari edaden asoc ie dadem odern a
(condições de i gualdade n a h ita so d a l, ou inter câm bio de val ore s s oci ai s igua is n o con trato) é inteir am ente i nsati sf atóri a. M as sua an áli se pe rm i ti u-nos indicar d u as direções
possí vei s pa ra o est udo d as soci edades
contemporâneas. A p r im e ir a n o s m o s tr a q u e a c o m p o s iç ã o d a s n e c e ss id a d e s e m u m a d ad a soci edad e depende da est rut ura das posições
re la tiv as e, portan -
^
78
to, d a estr utura das fun ções so ciai s, o que sign if ica, por con
segu inte,
. \
depen der d o ti po de estrati fi cação. Is so perm it e-nos ex cluir dua s posições ha bitualm ente assum ida s: que exi st e u m ú n ico si stema de neces si dades,
;
o que está im plícit o n o pe ns am en to uti li tári o clássico; ou , a o contrário,
''
que exi st e u m a expa nsão contínua , m as casual, das nece ssi dades, co m o
<}
consideram
im pli ci tam enteosq uede ri vam asnec es si dadesdoprogres
técnico.1 7Aocontrári o,deveriamosdizerque
as m ud an çasn ac om po sição
das n ecessi dad es são previ síve is apa rtir da estrutur 1
so
a dos pap eis diferencia-
dos em um dad o m om ento. Ou se ja, os m odelos de cri ação da s novas , nec es si dade s em um m om en to dado pod em se r es tud ado s a par ti r dos j m ode los que serv em pa ra avali ar as. di fer enças soci ais .
A se g u n d a d ire çã o n o s d eix a entrever u m a e x p lic a ç ã o p ossív el pa r a \ i 0 P10^ 50 econôm ico, di fer en te t an to daquel a c ri ti cad a por Durk hei m (aum ento da fel ici dade coleti va ), quanto da q ue el e propõe (f un daçã o de u m no vo ti po de soli da riedad e). Se as necess idades são fun ções das neces si dades avali ávei s ent re indivíduos,
a expan são das neces si dades pod erá
dependers implesm enteda exte nsãodacom
parabili dad edasposi çõesre
lat ivas dos m em bros de u m a soci edade. A intensi dade dos estí nô m icos pode ser c
m ulo s ec o
onsi derada f un ção das de si gual dades , na m edi da em
que as m esm as são perc ebidas co m o eliminávei apenas tr aduz a a fi rm ação dos econom
istas de que
é f un ção da e xt ensã o d o m erc ado; m as o ter m o
s. Iss o, de cer to m od o, a divi são do tr abal ho de mercado deveria
rec eber u m a defi nição qu e n ão fos se si m ples m ente dem ográfic a, nem 17Pensamos, m esm o, que é nefas to, se quisermos cheg ar a com preender as l eis de form ação das nece ssi dades hu m anas, rep eti r o lugar com um de que as necessi dades são ilimit adas. M esmo Parsons que, nes te pon to, tem pos ições extre mam ente com plexas, a caba acredit ando que as capaci dadesde expan são dos desejosindi viduai ssã oili mitadas (TheStructure ofSocialAclion, G lencoe, 1949, p. 402), o qu e é evidentemente um contra- senso.
79
si m ples m ente mone tári a. S er ia preciso entend ê-l o com o o h ori zonte das neces si dades av al iá vei s por um con jun to da do de indiví duos, ou , o qu e vem a dar n o m esm o, com o a exte nsão das re laçõe s de com parabil idade entre as po siçõe s rel ati vas desse con jun to d e i ndivíduos. A tribu in do à d ivisão d o tra b a lh o a fu n çã o de fu n d a m e n ta r u m n ovo tipo de so lidari edade, D urkheim dava u m passo i m portante para alem daspos içõesdaec on om iac lássi ca.Per m iti a,t am bém ,c om preender deque m od oo proc ess od adi vi sãodotrabal hopode,pel om enospa rci al m ente , nã o depender d o m ercado. Mas, m ost rava, tam bém , que es se nov o tipodesolidari edade n ã op ode reduz ir-s eà interdependênciad os int eres se s que se f orm am n o seio das tar ef as parti lhadas. Seria preciso, portanto, m ost rar de qu e m od o o con teúd o específ ico de c ert o ti po de sol idari edade est ava l igado aos a vanços da divi são do trabal ho. Se considerarm os que essa sol idariedade fun da a com pa rab il idad e entre s ati sfaç ões de necessi dades di fe re nt es e , ao m esm o tem po, a exigência de ir al ém das desi gual dad el atdaivadivs, tamis ãobém poderem . Isosconceber m i gualm od oseente, re focomrça coprem o aumesr ento do trabalho so perm deitque e-nos, ender po rque ass oci edadesm odernasexp ri m iram um si ste m adev al or es cont radi tó ri os que coloca co m o fi m a re ali zação da igualdade , ao m esm o tem po que a das voca ções pesso ai s. (
As insu ficiê nci as da anom ia
A gora v a m o s seg u ir D u rk h e im e m seu e s fo rço p a ra d efin ir e des cre ver as con diçõ es n egati vas d a soli dariedade, as situações em que n ão se re al iza. É n es se d om ínio, com os e sa be , que D urkheim p ropõe seu concei to de an om ia, que se tor nou fam oso, e graç as a o qu al ef et ua suas m ais pene tr ante sanál is es.C om oe m outro sset or esi m portantes do pensam ento
80
de Durkhei m , e ncont ramos, aq uit am bém , um a m udan ça em su as posi ções. É necess ári o, po r consegu inte, c on frontar as dua s análi ses da an om ia, e m Divisão do trabalho social e e m 0 suicídio. ;' 1 N oliv ro Divisão do trabalho social, a an om ia é sob ret udo caj. rênciadaregulamentaçãosocialqueasseguraacooperaçãoentrefunções separa das; é o estado social em que n ã o se realiza a soli dariedade. Os casos em pregad os para ilu st rar ess a sit uação sã o principalm ente d e natureza ec o n ôm ica e, entr e el es , os m ais s ignif ic ativos sã o as cri ses eco n ôm icas e os con fl itos capital- traba lho. É claro que D urkhe im , a essa al tura de sua pes quisa, é levado a cr er nã osom ent equeo sist emaeco n ôm icom odernoes tádo ent e, m asqueéa próp ria f onte da do en ça de nossa soc iedade. M as est á con ven cido, ent re tanto, de qu e ess a doe n ça é devi da, exclusi vam ente o u qua se is so , à rapidez com ques e produzi ram as m udan çasnavi daecon ôm ica El er eiter a com freqüência a con vicção de que, com o tempo, os co ntato s e as com u n ica çõesn ece ss ári asirão se est abel ece r dem aneiranor m al,eq ue aconseq uên cia s er á o res ta bel ec im ent o do b om fun ci ona m ento da econ om ia (da bo a coop eraçã o), com o tam bém da l im itação das si tuaçõ es d e an om ia. Es se oti m ism o é, al iás, sus te ntado pel a co n vicção d e que o m ovi m ento da hist óri a nos aproxi m a d as condiç ões que tom arão possí vel a sol idari edad e gen erali zad a nas soci eda des em que reina a | _divi são d o tr abalho. N aou traobra, Osuicídio, o em pre godoconceitode an om ia para aanáli sedasoc ie dadecon tem porân eas etom am ais prec is o. Aanom iaé se m pr ecarênci adenorm as,m asenquantona Divisão do trabalho soci~ y d a açã ° da soc iedade e ra con cebida s obr et udo co m o norm ali zação da cooperação, em O suicídio ess a açã o se t orna aqu ela que a soc iedade
81
dever ia exercer n o próprio seio d
a co nsciên cia indi vi dual. Iss o n ão fi ca
explí ci to n aform u lação do con ceit o, m aspo de-sed edu zi- lo,se ja at ra vé s de tod a u m a séri e de ilust rações de situações con cretas , seja at ra vés do se nti doprofund
odece rt asanál ise s, em queo m orali sm od urkh eim iano
parececonfundir-
se,m ais do quee m outr aspa ss agens ,co m cer to st ra ços
do m oralism o cl ássi co. Ao exp li car a an om ia, Du rkheim fala de ap et ites , de pa ixões n ã o sat is fe ita s, de m al- est ar, de inquietações, m
elan colias exasp
e
radas , am biçõe s ati çada s e fr ustr adas. A lgun s anos m ais tarde, n ã o teri a deixado de em pregar expl ici tam ente o ter m o fr ust ra ção . A an om ia da divisãod o trabal ho se transform aem an om ia da personal idade m órbi da. A d o e n ç a c a p ita list a se t r a n s fo r m a e m d o e n ç a r o m â n t ic a , e m d o r d o infi nito. T om a-se o m al de Sêneca, m an do: “ Se ri aculpa m
de Wer th er , sobretudo de R
inh a s e em toda par te encontro l
en é excla
im ite s, se o q ue é
fi nit o nã o tem, para m im , nen hu m valor ?” (é Du rkhei m qu em cita). 18 Os f ins i ndi vi duai s perdem to, pois a soci
ap recisão, esm
aecem , perdend o-s e n o infi ni
edad e n ão soub e ass eg ura r, n o h orizonte d
os obj eti vos a
atingir, aclarezanecessária. A a n o m ia é, p o r ta n to , s o b r e tu d o c a r ê n c ia d e u m a d e fin iç ã o d o s 1 fins indi vi duai s. El es s e tom am desm esur ados porque n n h u m cri tér io pa ra ava li ar sua realiz go te rm o grego
ão h á m ais ne
ação. A pa lavra despropósi
hybris,fr eqüe nt a a pena de D
to, o anti
urkhei m com o que para
subl inha ro pon todevi st arel igi oso em que se co loca cadave zm ai spara ju lg a r a m o r a l c o n te m p o r â n e a . Toda s e ss as descr ições acom
pan ha m u m a nova posição
teór ica,
rica em con sequ ênc ias. Se os fi ns indivi dua is p od em desr egul ar- se, deve exi st ir u m a “ fun çã o’ ’ da soci edade encarregad 18 Le suicide, p. 324.
a de su a regulagem
. Se são
82
p o u co claros, indi
sti ntos, indefinidos, a sociedade deve ter
p or fun çã o
defini-l os. Além dis so, essa desreg ulagem , e sse desprop ósit o nã o são n atu , ra is, aparece m nu m m om en to dad o na e st rut ur a soci al e n u m a c ivi li za çã odada, just am ent equ and o aconsciênciaco um si st em a de val or es nov o, o indivi
leti vael aborou e afi rm ou
du ali sm o. O problem
a que se
co loca para a soci
edad e n ão é, portanto, m
ais o de ordena
r e controlar
fins indi viduais di
str ibuídos a o acaso das
naturezas biol
ógicas,
m as o
de parti ci par n a próp ri a de fi nição dos fi ns q ue ori entam as ações dos \
i
indivíduos. Is so apar ec e ainda m ais c lar am ente qu an do se exam exem plo do desregramento an se do exem plo que já se de qu e a taxa de su com o nos casos
ôm ico nas so ci edades contemp orâneas. Tr at a-
encontr ava n a
é retom ado agora: o das c
ina outro
Divisão do trabalho socialeque
ri se s econôm icas. D urkheim parte
ic ídi os a um enta tanto nos
casos de
da ob serva ção “cri se s fe li zes”
de d es ast re s econ ôm icos. Em am bos, o equil
íbri o
entre as necessidades e as possibilidades de satisfazê-las se rompe: nu m , porque as nece ss idades aum entaram d es m esur adam ent e; no ou tro, porqu e os m eios para sat isf azer a s necess idades hab it uais s e tom ara m insuf ici ente s. N osdoi s caso s,asocie dad eéprovisori
am enteincap
az de exer cera
A a ç ã o m o r a l a través d a q u a l e la r e g u la m e n ta a s n e ce ssid a d e s, o s apetites, as paixões dos i
ndiví duos. U m brus co au m ento de pode
r, de f ort una, e “ a
escala com que se regulavam as nece ss idades já nã o pod e conti nua r a m esm a” .A vit ali dad e geral aum enta, os de sej os s e at içam , os i ndiví duos j á n ã o se d ã o c o n t a e x a ta m e n te d o q u e p o d e m ser, le g itim a m e n te , su a s esperanças e,
po r conseg uinte, os obj eti vos de suas ações. Perderam
cri tér ios que lhes perm
iti am avali ar seus próprios fi
ns indivi duais, a m
os e-
83
didad osvalor es,a possi bi li dade de se rinte gradosn a con sciênciaco
letiva ..
A s o c ie d a d e está e m es ta d o d e d e s p r op ó sito , d e s re g ra m en t o, a n o m ia . Nes se po nto ,D urkh eim po de riate r-se interrogadosobre asrel ações entre es se ti po p articu lar de co n sc iên cia coletiva, es si stem a de val ores, qu e é o si stem a de valores i
ndividuali stas, e os fen ôm e
nos de a n om ia. O u seja, consag rar-se ao estudo das rel est rut ura social e conteúdos dos
se ti po p articu lar de ações entr e t ipos de
si st emas de val or es, ao est udo dos m odo s /
e r itm os das m ud an ças soc iai s - obse rve- se que, na
Divisão do trabalho
social, acau sada an om iaeraquaseexcl usi vam enteatri buí daà ra pi dez dasm uda nças- ed a foim aç ã o denovosval or es.Dev er ia, parais so ,v ol tar -
"separa os problem
as qu e o ti nh am levado a est udar a di vi são do tr abalho.
M as tudo is so j á n ã o lh e int er ess ava.
Osuicídioéapri m ei raabdicaçãono
1
que con cern e às suas antigas preoc up ações. O qu e lhe inte re ssa , da qu i po r di ant e, é saber co m o a consciênci
a col eti va pode con form ar a con sd ên cia;
indi vi dual. C om o o grau de pen
etração dos val
consciências indivi sõesea sescol ha s.
eter m inar a ori entaçã o da ação, as deci
duais pode d
ores soc iai s n o seio da s
. ..
Já m en cion am os c er tas r azões “externas” D urkheim para
que te rão ori entado
es se s nov os dom ínios. Mas é inte res sant e lem brar u m a
des sas razõe s, rel ati va ao próprio m
étod o que lhe pe rm it iu res ult ados tão
penet rant es n o est udo d o suicídi o, e que el e ti nh a exte nsam ente exa m inado nas
Regras do método sociológico-, o m étod o com parativo.
di fer ent es con j untossociai der ação , com exceção
s. Os con j un tosque D urkh eim levaem con si
da fam íl ia e do cas am ent o, são os que el e cham a
giosas: as po p ula çõe s prot esta ntes, católi cas, judias n
, ; ,
Es se
m étodo , e o em preg o particul ar da est atí st ica inerente ao a uto r, levavam el e a tom ar por o bjeto de sua pesquisa a variação da tax a dos suic ídi os nos
sociedades reli
'
o inte-
:
84
rior de certos Est
ados . O ob jetivo er a, portan to, est abelecer a va
riação d a
taxa de su icí dios seg un do as dif erente s soci edad es reli gi osas. A ex plicaç ão des sa svar iaçõespod ias er procura da sej a n o conteú do dasnorm asprópri as a cad a u m a dess as soci edad es, sej a em outros caract con teú do das n orm as específ icas, nos casos das prescri su icí dio, prati cam ente nã o varia de um
eres especí
fi cos. O
ções rel at ivas ao
a reli gião para outra. Devi
tr ata r- se, p ortan to, de ou tros caracteres espe
a
cíf icos. A pós est ud ar rigo
rosam ente cert o nú m ero del es, D urkh ei m afi rm a que a vari ável deve ri a encontrarreligiosas.
se n o grau de integraç
ão p róp rio às di fe rente s sociedades
Osj udeuspos suem u m ataxam ai sbaixadesuic ti tuem , geralm ente, grup
os m ais i ntegrados. Os
ídi osporque
prot est antes têm
cons a taxa
m ais el evada por que const ituem o grupo m eno s int egr ado. A sol ução, nota-se, era
bril ha nte e o con ceito, assi
m e m prega do, preciso e
rigoroso.
Era, port anto, pa ra as rel ações tí pic as entr e co n sciênc ia pess oal e co n sci ên ciacoletivaq ue seri aprecisovol tar- separa exp li car decis õestão capit ais para o indiví duo co m o a d o sui cí dio. O obj eto últi m o d a pesqui sa soci o lógica fi cava, com isso , igua lm ente defi nido. Mas t al defini ção era regi da pelo m étod o escolhi do. Im pedia o aprofundam
ento do problem
rent es g raus de integraçã
a at ra vé s da quest ão d o m oti vo dess w di fe
o, i st o é , em que con diçõ es u m grup o social s e
tornav am ais ou m en os inte grado. Co
m isso , i m ped ia- se de tocar n o ve r
dad eiro pro blem a so ciológ ico; ness e caso part icul ar, além di ss o, passavase ao largo d a questão m ais envol vente, saber de que m an eira a s rel ações his tóri cas entre es se s t rê s grup os reli giosos ti n h am influen ciad o o grau de int egração de um ou de outro. O f ato de que
a soci eda de p ro tes tant e er a
um a soci edade rel igi osa que se ti nh aform ad o separando-se da s
oci edade
catól ic a, e contra el a, não ter ia m esm o n ada aver, ta nto com o con teúdo do si stem ade val ores que afi rm ava, quan
to com o grau d e a cei tação e de
interiori zação qu e ex igiap or part e de se us m em bros? C ol ocan do es se t ipo de problem
as que, al iás, o ob jeto de su a pesqu isa deveria ter -lhe sugeri do,
D urkhei m te ri achegad oa oprob lem adosval or es ,n ão abe rt amente,mas atr avés do e stud o das relações
históricas entre
dif erentes sociedad
form as de con fl ito, da relação
ent re con fl ito e i ntegra ção et c.
es, das
A integração consagrada e a anomia generalizada
Em part e p or n ã o se te r dad o con ta das li m itações teó ri cas i m po s tas pelo m étodo com
parati vo, em par te devi do a u m a tendência
caracte
rí st ica d o contexto fi
losófi co em que se si tuava , Du rkheim seguiu o ca m i
nh o deu m asociol ogiada int egr aç ão. Su a escol ha viri a a ser plena de conseq conte m porânea. Para l
uên cias para
im it arm o-nos a al guns exem
a sociologia
plo s, lem brare m os
aqui o des ti no dad o p or Parsons à teor ia du rkh eim iana da integração; a análi se m ertoniana da an om ia co m o desequil íbri o ent re as defi niçõ es culturais
dos f ins e do s m eios; e, en fi m , as i nterpret ações , qu e ch am a
rí am os de “ anom izantes ” d o m un do cont em porâneo. Não ído de interess
é des ti t u
e m ostra r q u e as dificuld ad es e os defeit os dessas
posições decorrem
tr ês
da aceit açã o sem crí ti ca, exp lí cit a entr e os doi s
primeiros, explícita quanto à última, de fundamentos teóricos de tipo du rkheim iano. C om o a po sição de Pars trução da abordagem
on l iga- se di ret am ent e a u m a recons
que levo u D urkhei m à t eori a da inte graçã o, vam os
perc orr er bre vem ent e as pass agens onde D soci edade age n
o indivíduo.
urkh ei m nos m ost ra com o a
86
Pois a soci eda de, essa fonte ú nica de tudo o que é sagrado, n lim ita a mover- nos de fora e a
afet ar-nos passageiram
ão se
ente, organiza-
se em nós de m an eira dur ável . S usci ta- nos todo u m m un do de id éi as e sent imentos qu e a exprimem
, m as qu e, ao m esm o te m po, fa zem
p a rte in te g ra n te e p e rm a n e n te de n ó s m esm o s.”
O so ci al é sagrado porqu co n jun to d e valores a at m as de respei to. Diz se de um
e con st itui , para o indiví
du o, um
ingir . Já nã o e ', po rtan to, f on te de co erç ão ,
sujeit o, individ ua l ou coletivo,
qua ndo a rep res ent ação que o
qu e ele i nsp ira respei to,
expri m e nas consciê
u m a força t al que , autom aticam ente, suscit
nci as é dotada de
a ou i nibe atos ,
inde-
pendentem ente de qualquer consideração relativa aos efeitos úteis ou nocivos de uns ou de outros. Q uando o be dec emos a um
a
p esso a e m raz ã o d a a u to rid ad e m o ra l q ue n e la reco n h ecem o s, n ó s seguimos seus
pon tos de vi st a, não p orqu e nos p areçam sá bio s, m as
p o rq u e, à id éia que te m o s d essa p esso a é im a n e n te u m certo tip o de energia psíquica que inclina nossa vontade no sentido indicado. 0 I re sPeit o é a em oção que sentimo
s qua nd o percebemos essa
( interior e t otalm en te espirit ual produzir-se em
J C om iss o,asociedadese
in stal an acon sciênciai
pressão
nós.2 “
nd ivi dual. F orm a
seus fi ns pro p on d o va lor es a e ssa con sciên cia. Possui, ali ás, suas próp rias téc nic aspa raexercerdu "EE.,376. “ F. E. , 296.
ravel m enteessaaçã
o,p ara m anif est ar- seperiodi-
87
À /r '
/
• ■
cam ente. T al é, porexem
pl o, ocasodocu
lto. Jáquesem
" anif est am valor es
n o culto, o indivídu o, ao execu tar os gesto s cultua is, de sem pe nh a ato s &*' que, por opo sição aos at os da vi da coti diana, nã o são m ei os, m as fi ns em si m esm os. I ss o nã o som ent e asse gur a a or dem soc ial , m as tam bém a saúdep síquicad apess oa . A alm a pess oal se regenera, t am bém , ret em perando-se na pró
pria
fonte de ond e retira a vida; em segu ida, se nte- se m ais for te, m estra de si m esm a, m enos de pen dente da s necessidades
fí sic as. 21
Esta sér ie de anál ise s mostra , segun do Patsons, que a aç ão h u m an a não pode ser entendida à parte de Es tes são, em
um sis tema de val ores úl timos.
termos d a relação m eios -fi ns, su a próp ria just if icação,
'
e nã o m eios pa ra qu aisquer out ros f ins . A o m esm o te m po, ass um em , p a ra o in d iv íd u o , u m c a rá te r d e o b rig a ç ã o p o r s e re m b o n s , n ã o m eram ente com o mei os , m as em si mesmos. 22
A so cie d a d e se torn a fe n ô m e n o m o ra l; e la é o c o n ju n to d a s o b r ig a - j , ções m orai s que li gam um con jun to de indiví duos. A integração da pessoa / responde à integra ção n a soci edade. A an om ia ilu st ra justam ente o cas o /• em ques epodede m ons tr arqueum a ausênci ad eor dem soc ialt em com o conseqüência u e e spím ria deto, asoanrde om m psiaíqui ca . , em Parsons, a si gn if icação de Ness r eceberá confli to de papéi s dentr o da pes so a. Exi ste an om ia qua nd o a pes soa n ão é 21Ibid., p. 498.
22 T alco tt Pa rson s, The Structureof SocialAction, G lencoe, 1937, p . 391-
cap az de estabel ecer um a hierarq uia de priori péis que deve desem para escolher ent
penhar, qu
dad e entr e os dif erent es pa
er di ze r, qua n do e la nã o possu i c ri tér ios
re obedecer às
obrigações de u
m papel ou de outro. Ou,
nu m sent ido u m p ou co di fer ent e, a a nom ia é a ant ítes e polarizada da insti tucionali zação, a desintegraç ão com pleta da ordem norm ati va. Vê M port anto , que es tam os sempre n o int er ior do par ordem -des ordem e, / a le m d o m a is , c o m u m a fo rte c o r r e s p o n d ê n c ia e n tre o r d e m s o c ia l e o r ' dem psí quic a. A lé m d is s o, o s fu n d a m e n t o s d a o r d e m s ã o e n c a r a d o s e s s e n ci alm ente co m oparti ci paçãoecon form is m oco m res pe ito acer tosval o res. Ou porq ue ess es v al ores c onstit uem o si st em a de sím bolos que perm i tem a com u n icaçã o e , com iss o, a prev isão das condutas de suas expectat
ivas sobre nossas
tuem o h orizonte dos f
próprias cond
ins que orientam
Sem entr armos em ve rs ão parsoniana da heran
outrem e de
utas , ou então po rqu e con sti
as ações soc ia is .
um a crí ti ca do que poderí
am os c ham ar de
ça de D urkhei m , pod em os di zer que ela nã o
reso lve as difi culda des qu e eviden ciam os, e qu e são inevi táv ei s qua nd o n ã oseexp li cade que m od o aest rut uradas dif erenciaç õessoci aiss etradu z na s contrad ições qu eca racterizam recusa-se a int
certosi stemadevalor
es.Parsons,al
iás,
er es sa r- se po r es se pr ob lem a e ch eg a a afi rm ar qu e o in te re s
se de Durkheim, na dif erenciação s
Divisão do tvcibalho social, pel os probl em as da
oci al, perm anecerá com
o aspec to m arginal de sua
obra.
A p o s iç ã o d e M e r to n p a re ce , à p r im e ir a v is ta , m e n o s e x p o s ta às con tradições p róprias de D urk heim .23N ão obstant e, sua disti nçã o analít i ca entre os f ins da açã o, d efi nidos pela civili zaçã o e as culturas po r ela nutr idas, e os m R. K. Merton,
eios para a
ti ng i- los, regulam
entados at ra vé s de norm as
Social Jbeoiy and Social St ructure, Glencoe, 1957, cap. IY
inst it ucionais,
seri a sust ent ável ? C om o b om so ciólogo , qu an do ele f ala
do senti m ento de s ati sf ação que o
indivíduo sent
instit uciona lm ente p resc ri tos , deveria rec
e qu an do adota os
meios
on he cer qu e ess es m eios se tri ui s-
form am em fi ns n o m om en to de sua insti tuci onali zação. Se ocorr e sa tis façã o, deve hav er recon h ecim en to de cert as necessi dades sat isf ei tas , de cer tos fins at ingi dos. Es se reconh ecim ento só pode prov
irde u m gru po de
indi ví duos,re alou supo st o,quepo rhi pót es ecom partil hadeu m con jun to de val ores com u n s. Ao adotar
cer tos m eios, o indivíduo faz part
e, pelo
m enos i deal m ent e, de um grupo que o grati fica com sua ap rovação por adotar es ses m eios em ques tão : o que se tr aduz em cond uta de con form i dade co m cer tos val or es. M ert on rec usa-se , port anto, a recon he cer que ad fins e m eios, nu m a si tua ção social
concreta, si
issocia çã o ent re
gnifi ca, n a re ali dade, co n
tradição d entro do sist em a de valores d a sociedade. Se o
reconhecesse, ser
ia
levadoatr at ar op roblem adaa no m iano quad rodo sproble m asde con fl i tos sociais. Sua brilhante análise do sistema de valores americanos, do American dream,n ã o te ri a nece ssi dade, po r exem plo, de recor rer à dis
ti n ção entre fi ns e m eios. Se o sucess o m on etário é sem rel ati vo, s e s e desej a con tinua m en te exi st em ponto s de cheg ada , somente um
pre indefinido e
“just something more ”, se não
ava nço contínu
encon tra o al vo ,s e, em sum a,osobj et ivosdaaçã
o que j am ai s
oest ãos empreum
po uc o
m ais além dos que se a ca bou de at ingi r, e' porq ue o si ste m a de valor es nos im põe aavali ação de nossapróprias
ituaçãounicam
enteem rel açãoaout ra s
si tuaçõ esco m parávei s;eco m o asposi çõesr elat iva scom asquai scom pa ram os asnos sas m ud am ,sem prehaveráum
ap osiçãosuperi
orquede se jaremos at in
gi r, eo suc ess ona dam aisserádo queaou traf ace d afrus tr açã o.
90
Ess a si tuação, longe de ser
o ôn us de u m es tado de an om ia (que
tam bém éimp erm eabil idade aosval ores ),éant esc onsequ êncialógicade cer tos val ores , os que presc revem a cad a u m real izar com suces so sua voc açã o. Se nos casos concretos ess a situação n ão se veri fic a em est ado pu ro, é po rqu e a ta is val ores se opõ em outros, expr essõ es de grup os e de soli da riedades dif erente s que, entretant o, pa rti cipa m do si stem a e perm i te m se u fu n ci on am en to. 24 Ess as observaçõ es perm it em -nos, igua lm ente, cir cunscrever a va lidade des sas doutri porânea nas que ch an om aso ci edade c ontem co am m oam u moses“ tado em izantes” quesege . Elnerasalinte izarrpramet osam . próp rios traço s qu e servi ram a D urkh eim pa ra descreve r a a no m i a. Mas se V é im p ossív el, c o m o v im o s, co n ce b e r u m a so cied a d e in teg ra d a s e g u n d o o princípio da au tono m ia das vocaçõesindi vi duais (escol has que, po r def i nição , deveri am repor tar os indiví duos aos va lores), é igualm ente im pos sí vel opor-l he es se m od elo de decom po sição da soc iedade contem porânea , em indivío", “duobu hete rodi ri gietdo,c., j“con , “ caçador s ir,tat us ” , “ orgqueano izad rocrático” á n ãosum teri idor” a vo caç ão a sedegu t endo diant e de s i, no m áx im o, u m a carre ir a (e te r sucesso na car rei ra nã o é •'•ma is um ato sagrado co m o er a, po r defi nição, ter suce sso na v oc aç ão ). Fic ar á ainda m ais cl aro se consegu ir m os com preender que os va lo re s que pr esc re vi am a procura da pr ópri a vocaçã o n ão expri m iam , na re al id ade, m ais d o q ue u m aspec to parci al de u m a est rutur a social, em qupae u rtim acipaçã categoriao n o siparti un s.ções er a, por su a naturez a, excluída da stemcular a dedevalf ore 24 Is so nã o quer di zer que, tal com o especif ica Merto n, o con ceito de a no m ia sej a intei ramente dest it uído de ut il idade. É quan do o gene rali zam os que é preciso explici tá-lo co m o con ceito de confl it o. Sabe -s e, al iá s, queum a tendênci adacrim inologiac ontem porân easeo ri entanom esm o sentido. Ver G. B. Vold, Theoretical Criminology, N ora York, 1958.
Trat a- se de u m aspe ct o que con vé m anali sar detal had am ente po r que n os m ostr a, aind a um a vez, u m D ürkh ei m que recu a dia nte da i tec es -* ''si dadelóg icadereconh ecerostraço sespecí fi cosdasociedadecon tem porâ nea. A divi são d o tr abalho no
nível técnico (da un ida de produtiva) é um
de seus t raço s. Se D ü rkh eim lhe ti ve sse aplicad ent retr ansform ação dacon sciênciac
o sua aná lise das relaç
olet iva eem an cipação da perso nali
dad e indivi du al, t eri a recon he cido qu e as tar ef as divi didas tecnicam nã o poderiam
se r esc ol hidasenqu
ões
antotar ef asqueperm
ente
itam re al izar um a
vocação . O v alor da em an cipação indivi dual que deve ri a caract eri zar o av an ço da divi são d o trabalho ser ia, co m is so , nega do. E ss a po sição parti cu lar das t arefas tecn icam en te divididas e ent ret inham com o m erc ado, d o qual per
ra, ali ás, si m étrica às qu e el as m aneci am excl uídas t am bém,
por opo sição, a out ras c ategori as de fun ções econ
ôm icas. O ra, é evi dent e
que é j ustam ente e ss e t ipo de tar ef a que tom av a i m possí vel , n ão o fun ci onam ento, m as a integraç
ão da soci edade cha m ad a, ass im , de i ndi vi du
alista.
( D ürkh eim acr edi tava qu e a sol idari edade o rg ân ica se e st ende ri a
fi na lm en te at é e ss e d om ínio da divi
são técnica
el e, i sso s e reali zaria co m o tem po, pois o
d o tr abalho. Segu
há bito dos con
dosen gen drariaa sol idari edade.Já viaesboçar
ndo
tatos rei te ra
-seu m a espéc ie desoli
dariedade,
po is n o rm a lm e n te a rea liz a ç ã o de c a d a fu n ç ã o e sp ecial exig e q u e o indivíduo não se enfeixe nela estreitamente, mas se mantenha em constante relação com as funções vizinhas, tome consciência de suas necessidades, das mudanças que aí ocorrem etc. A divisão do trabalho
supõe que o trabalhador, l
onge de cur var -se i nteiram ente à
92
sua tarefa, não perca de vista seus colaboradores, aja sobre eles e receba sua ação”.25 M as é e vi dent e que D urkhei m se enganava q
uan to ao sent ido
dessa s ol idari edade. N ão po dia re fe ri r- se à sol ida riedade org ti do que dava a ess e t erm o, já que srciná riada interdepen
ân ica, n o sen
nã o se t rat ava de u m a soli dari edade
dênciadas tar
ef as.Seri atot alm enteestranho
carát er do trabal ho orga nizad o tecnicam
ao
ente atr ibuir à rel ação entre as
tar ef as parti lhad as u m a feiç ã o d e i nterdep end ência s ol idária. Operári fabri cand opeças deum o que cada u
m esm oproduton
os
ão sãoi nt er depe ndent es ,jáque
m faz nã o e ' um pro duto , m as som ente a execução
de um a
taref a determ in ad a. A soli da riedad e qu e pod e est abelecer- se entre el es, a sol idar ie dade d o om bro a om bro, que D urkhei m ent re vi a, nasc e de outra coi sa:dacon
sci ênciadas condiçõesdetrabal
com un s na est rut ura dos papéi con sciência de u
hocom u m ,ou daspos ições
s soci ai s, o q ue q uer di ze r, tam bém , da
m m esm o est ado de exclusã o co m res pei to a es se s val ore s
soci alm ente recon hecidos. Os qu e execu tam es sas t are fas nã o est ão em con dições de ter u m avoca ção. Entr e el esnasc e um aespéci ede sol idari e dade, dif erent e da sol idariedad
e org ân ica e, ao con trári o, a n álog a à que
D urkhei m cha m a de m ecân ic a, que nasce da
s se m el hanças e dos s
m entos com un s. Es sa sol idari edade i m pli ca apartici
ent i
pa ção em um con
ju n t o d e v a lo res c o m u n s q u e , n es se c a s o , se d is tin g u e m e o p õ e m a o s val ores r econ hecidos pela soci nes tepon to,s er enriquecido deDurkhei m .
D.T.S,364ss.
edad e global. O esqu em a m arxi st a pode , por u m acon tri bu içãoqu epassapelacrí
ti ca
93
Sobre os conflitos, os valores e a mudança
0 próp ri o Du rkhei m n ã o deixara de perc eber que, na soc ie dade conte m porânea, a an om ia s e gener al izava a té co nst itui r um m om en to 'V
nã o m ais re dut íve l da m esm a, e que, alé m di ss o, era prec iso reconhecer est udar a exist ência, ou
e
a possi bil idade d e f orm as d e s ol idari edade nã o
orgâ nica (i st o é , nã o li gada à interdependência on de a divi são do trabalho es
das fun ções), m esm o lá
ti ves se m u ito ava nçada.
Ele vai fo rm ular, preocup
ado c om tudo is so , seu cél ebre progra
ma
deretom o au m aorg an ização corporat ivadasoci edade.Eef et ivam ent ese em se u prim eiro l ivr o es ta va oti m is ta quan to à redução espon tânea da an om ia nas so ci edades m odernas, supe ri ori dadem oraldaform
e nã o m anif esta va dúvi das quan to à
aorg ân ica desol idari edade ,em tr oc a,em
suicídio e n o prefáci o à segunda edição da
el econceb e asoci edadecon
O
Divisão do trabalho social,
tem porân eaco m o irr emedi ave lmentedo ent e
ou quase . Em seus estudos rel igi osos, enfim , D urk heim parece consagrarse à procu ra de um a form a id eal de soci edade ou , m ais exatamente,
de
um est ado s ocial des ej ável p or sua cap acidad e de int egrar os indiví duos: es se est ado é aq uele qu e s e reali zou a lgum as vez es no passado e, qu al, contrast a o estado de incer de m oral do pres ção.Ootim
ent e que
tez a, de a gitação con
co m o
fusa , de m ediocrida
é, al iás, dest a vez, ju lga d o co m o fase de transi
ism os er eduzau m avagaes pe ra nça : Um dia c heg ará em que n ossa s so ci edade s conhecerão, novam
ent e,
ho ras de ef erves cênci a cr iadora, n o d ecurso d as quais su rgirão novos id eai s, aparecerão novas
fórm ulas que se rvi rã o, du rante a lgum tem -
po, de g u ia p a r a a h u m a n id a d e .2* *F.E.,6ll.
94
É claro qu e, nesse po n to, o s istem a de va lores indivi dua li stas, a consagração das vocaçõe s indi vi duai s,ocultodapesso ahu m an aján ão tê m p oder m oral nen hu m , n enh um a fac uldade de i nte gração. É p or i sso que D urkhei m desej a e propoe a for m ação de agrupam entos d e car át er corporat ivo, i st o é, form ad os por m em bros das m esm as prof issõe s ou do m esm oset or prof issi onal .T om and oessap osiç ãoprát ica,Durkheim reco i nhece, ant es de m ais nad a, co m o vính am os dizendo, que as for m as de • sol idar ie dade por inter dependênci a,m esm o insti tuc ional iz adas,não são suf ici ente s, e que, até m esm o em plena divi são do tr abalho, é preci so con fi ar nas “ vi rt ude sdo gru po” para qu e a sol idar ie dade seproduza. Uma vez formado o grupo, produz-se uma vida moral que leva natural m ente a m arca das condições par ticul ares em que se elabo rou. Pois e' impossível que vivam homens juntos, estando regular mente em intercâmbio, sem que se liguem a esse todo, preo cupem-se com os interesses do mesmo e os levem em conta em sua cond uta. ” H á ou tra t es e im plícita nessa posição, i
st o é, qu e os grupos qu
e
possue m tais vi rt udes se form am na base de inte res se s econôm icos aná lo gos . C om eça-se t endo in tere ss es com un s, ou pelo m
enos a nálogos; for
m a-
se um gr upo, do gr upo dest aca- se u m a di sci pli na, um a vida m oral , u m a sol idari edade, qu e vão além das funçõ es especí fi cas p ar a as qu ais se ti nh a const it uído. Com
o Du rkheim soubera ver
contr ato - ist o é, algo além
n o contr ato algo m
da est ipulaç ão de um
tam bém vê no grup o algo qu e ult rapassa os indi ví duos se r eun iram . !7D.T.S,XVIss,
ac ordo
ais do que o ad hoc
obj eti vos p ara os qu ais os
Q uan to à na turezaespecí
fi ca dos grupos
é cl aro que D urkheiin se enganava. A análi brech a estrut ural entr e du as categorias m odo , nos própr io s ter m os de sua a
cu jaform aç ão dese java,
se que vim os de esboçar sobr ea de taref as perm ite ind icar de que
nál ise, Durkheim p
oderia chegar a
revel ar os ve rdadei ros agrup am entos soci ais que caracteri
zam , pelo m eno s
em par te , a s oci edad e de seu t em po. Teri a pod ido reconh
ecer a natureza
est rut ural , e n ão som en te quantit ati va, das clas podem os opor a D
urkhei m um a solução qu
ses soc iais. M as s e nã o
e l he er a es tra nha, t em os o
direi to de lhe pergu nta r por qu ais cr itér ios ele privilegi ava aqu eles agru pam entos e nã o outr os, e em que con dições pre vi a que es ses agrupam entos seaf irm ari am . Independent ti cas , co m o s ociólogo
em ent edo conteúd ode sua s proposiçõespr
á
, e nã o m oral ist a, D urkheim dever ia t er coloc a d o o
problem ado sm odos def orm ação dosnovosgruposedo
sn ovosv al or es ,o
qu eote rialeva do àq ue stão da m ud an ça so ci al .Poroutro lado, de ve ri at er -n os dit o s e o con he cim en to cientí fi co do que é des ej áve l, tal co m o p odiaex prim ir parasi m esm oco m o sociólogo,parec
ia- lhem oti vação suf ici ent e paraa ação;
e,ne ss e caso,com o es sa form adeconhe ci m ento ci entí fic osec oncil iavaco m a fi li ação a u m grupo , com aparti ci pação e m u m a consci ência col et iva. Pa raenf rent ar o pri m ei roti podeprobl
em as,D urkheim n ão dev e
ria t er -se l im it ad o a se pe rgunt ar, ess enci al m ente, com coleti va age sobre a con questão do
sciên cia indivi dua l. Iss o, de f ato, afast ava-o da
s m odo s de f orm açã o dos novos
questão dos e
o a con sciência
val ores e, por c onsegu inte, da
fei to s qu e u m a ou outra soluçã o práti ca (do ti po da que
previ a aform açã od os agrup am entosprofi C ont udo, exi st e na obra de Durkhei portante so bre as cir cun stâncias em
ssi onais ) pod eri ate r ti do. m u m a suge st ão m uito im
que se cri am os valor es. Es tá li ga da ao
co n ceito de “ est ado f orte coleti vo” . Essa expressão ref
ere -se, co m o se sabe,
96
aos m om en tos de e ntusias m o soc ial , em que a soc iedade e st á m ais i nten sam ente pre sent e, enq ua nto qu e os i ndiví duos se apagam
ou quase e
se sent em co m o que tran spo rt ados para u m m und o dif er ent e daqu e le em qu e se desenrola sua existê
ncia priv ada. A vi da, aí, nã o so m en
te é int ensa: é qua litati vam ente difer ente. Levado pela
coleti vidade, o
indivíduo se desinteressa por si mesmo, esquece-se, dá-se inteira mente aos fins comuns.28 A d e s c r iç ã o p a r e c e s e r d e o r d e m p s ic o ló g ic a , m a s é c la r o q u e D urkh ei m tam bém vi sa u m a disti nção ca tegóri ca ent re as at ivi dades nã o cotidi an as, qu e são fins em m eios para
si m esm as, e as ati vi dades coti diana s, que são
outr os f ins. N a ati vi dade coti diana , o indiví du o é preso a u m
encadeamentodeaç
õe s ques e col ocam aom esm otempocom
om ei os e
fins um as das o ut ras . Seri a i nsuport ável se tam bém n ão houvess e m o m en tos que perm iti ssem a real iz ação de a ções buscadas
em si m esma s.
S ãoosm om entosd apresençacol et iva.Vimosq ueem su asúl ti m asi nves ti gações Du rkheim tendia a um a coincidên cia ent re es ses m om en tos e os ato s do cult o. Mas, paralelam
ente, el abo ra u m a visão d o a lcance hi st óri
co d os grandes est ados col eti vos que o con du z, m ais ou m enos abert am en te, a e m pre ga r t rê s elem en tos teó ricos. 29 a)
Es ses m om en tos de efe rves cênci a col eti va necess itam de u m a
con diçãof ísi ca ,qu eé aconcentraçãonoespaç
od eum grandenúm
erode
pes soas ; t rat a- se de m om en tos de for te densi dade m oral (“ osh om en ssã o levad os a aproxim ar-se m ais inti m am ente, as reuniões, as ass em bl éi as a S.Ph., 133. 8 S.Ph., 134.
<)7
são m ais freqüentadas, as
rel ações m ais se guidas” ; po r exem plo, a
con sda p opheu im laçãoianaest udio sarianossécul e X I1 1). Is socentra nos rem çãoeteemà i Pari déia durk srciná de que aossoXI ciIedade “ so pra” m ai si nte nsam ent e qu an do osh om ensest ão em contat o f ísi co entre si . b) Esses momentos são geralmente (se bem que não neces sari am ente) m om en tos de confli to. É nel es que os i nd iví du os s e i denti fi cam de m ane ir a m aist ot alcom se u grupo que, porconsegui nte,r eal iza su a identi dade, seus valor es próp rios e tom a-se aq u il o qu e é. Dir- se- á, então, que o grup o s e form a, enq ua nto ta l, opo nd o-se (m esm o s e es sa op osiçã o é apenas vi rtual) a outros grupos. Is so tem, ali ás, fund am en to lóg ico, pois a i den ti fi cação só pod e re al izar- se po r op osição ou , pelo m e nos,p ord ist inção d osse m elhantes.Osval orese, portanto,a integração d e u m grupo, form am -se no decurs o de u m con fl it o. 30D urkhei m em pregar a o m esm o tornei o de raciocí nio qu an do defi nir a a fun ção d o cri m e. El e é necessári o à soci edad e porqu e favorece sua i ntegraçã o, graças à reação m ora l que provoca. A soci edade se reafi rm a porq ue sent iu u m a oposição, m esm o s e, no caso do cri m e, t ra ta- se da oposição de u m indiví duo a s eu j si st em a de norm as. c) Es ses m om en tos de entusi asm o, de bru sca e rápi da cri ação de p 1 nov os val or es , são os m arcos d a m ud an ça soc ial . Sabe- se que, no iníci o de sua car rei ra, a observação da m
ud an ça social consti tuí ra com o qu e o
30Obse rv e- se ,porexem plo,que Du rkheim nosm ostraquea taxadesuicí diosdim inuino sperí odos de lutas e confl itos soci ais, e que ele atribui ess e f ato a u m a m aio r i nteg ração social que en tão se ma nif est a. Ali ás , a s passagens em que D urkhei m dá u m a avaliação posit iv a dos conf lito s soci ai s abu ndam em toda s ua obra, e nã o s omen te em O suicídio. Assi m, julgam os i nexata a afirm açã o de M arti ndaie: “ É surpree ndente até encontrar ref erência a con fli to nas obras de {The Nature and Du rkhei m ;quand oi sso ocor re,é trat adocom ou m af orm aded oen çasoc ial ” jypes of Sociological Theory, 1960, p. 128).
98
, p on to de pa rti da das pesquisas de D urk he im .31M as a teori a i m plíci ta que j
ele e m p r e g a r a e m s u a o b r a s ob re a d iv isã o d o t r a b a lh o q u a se n a d a tin h a de srcinal; tr at ava-s e de u m a a plicaçã o da teoria evolucioni sta que via, tant o na n atur eza quanto na soci
edade, um
a contínua passage
m da
hom ogen eidad e à het eroge nei dade. A ún ica inov açã o de Du rkhei m , pri m eiro tí m ida e , em seguida, m ais prec is a, nas
Regras do método socio
lógico,ti nha s ido a no ção de d ens idade di nâm ica ou m ora l que - com o
aca ba m os de ve r— tr aduz o desej
o de si tua r, nu m nív el sociológico, e não
m ais biológico, o fator prim eiro da m ud an ça. Mas re st av a a di fi culdade de saber po r que se veri fi cava e ss e au m en to con tínu o da densidade, e po r qu e es se aum ento levava à heter ogenei dade. A explicação de
D urkheim,
im plíci ta ou explí ci ta, co m o a dos evol uci oni stas , aind a er a de ordem biológica. O
ava nço d a densi dade fundav
a-se no inst
itut o de reprodução.
A h eter og en e id a d e n a s c ia d a s n a tu ra is d ifere n ça s b io ló g ic a s en tre os in d i ví duos.M ase ss aap licação do con ceitob iológico daidenti dadei ndivi dual au m raci ocí nio sociol ógico- com ovim osar es pe itodan oçã odea pt idão - er am et odol ogi cam entef rac a. C ontud o, a ind a aqu i suas i ntu ições sobre os estados vos e s eus desenvolvim
for tes coleti
entos possí veis gra ças à no çã o d e confli to poderiam
tê-l o ajudad o. 0 elem en to de heterogeneidad
e nã o na sce das dif ere nças
indi vi duais, m as das di fer enças ent re gr upos qu e se com pa ram ou se opõ em C oncluind o um art igo sobre Du rkheim e o f un cionalism o, Albe rt Pie rce l am entava que os desenvolvi m entos do pensam ento d urkh eim iano tiv es sem negligenciado qualquer teori a da m ud an ça soc ial : “ U m a par te da sociol ogia de Durkheim logi cam ente dari a l uga r ao teoriaidentificável desenvolvi m ento de um a teoria des sas: pois tenha ou não ti do um a sob re os (TheStructure sociológ ica” (Wolf f, p. 165) .N adam aisj ust o.Masc rem os, p oroposiçãoa Pars ons o fSocialAction, op.cit., p. 44 8 ), que tais preocu paçõe s jam ais est iveram total m ente ausent es do pensam ento d e Durkhe im .
00
ou que , de algum m odo, int er agem uns com
os ou tr os . A s m ud an ças' *
soci ais se verif ic anr q ua nd o na sce u m no v o grupo . E fet iva m ente , som ei iti: u m proc esso de nov a identi fi cação c ol eti va pod e defi nir o m om en to da transform
ação e dar-l he senti do.
í
C hegam os, co m isso , a u m “ m od elo” di fer ent e do pri m ei ro. 0 m om en to ini ci al da f orm açã o de um a soc ie dade se ri a aquel e em que , graç as a o processo de identif
icação soci
al, nas con dições de ex
se nti m ent os com un s e de p arti ci pação em
altação dos
um a fé co leti va, ou si m pl es
m ente em u m est ado de te nsõe s c onfli tuais n asc idas d a op osição a outros grupos , form am -se os novos val ores e , co m el es , a i denti dade d o g rupo enq ua nto ta l. Es se s m om en tos são seguidos por proc progressiva
essos de dif erenciaçã o
das fun çõe s e person alidade s indivi dua is; os f ins individuais se
especi fi cam , dife renciam -se e são consa grad os pela soci edade . Is so con du z a um a dif erenci ação cres cent e ent re indi víduos pert encent es ao m esm o grupo, portan
to partici pan do d os m esm os valor es. Es tes são, então, encar
re gados igual m ente da f u n çã o de m edir a s desi gualda des (que são o fun da m en to da constit u ição do s fi ns ind ividu ais). M as ess e processo de dif e- J renciação e de di
vergência cond
u z à f orm açã o de nov os grupos qu
di st inguem e se
opõem u m ao outro ou
em novos confl
it os, e assi m po r di ant e.
àsociedade
global.
e se J
0 qu eresult a j.
U m “ m od elo” de ss e ti po, exc lusivam ente form al e, po r iss o, de : uti lidad e bas tante l im it ada (m as já capa z de fazer- nos com preen der po r que a sol idari edade se reafi rm a nos m om entos de con fl ito) dev er ia, co n tudo, enr iquece r- se co m um ele m ento que D urkheim nã o deixou de d e se nv ol ve r, em bora um po u co am arg em de sua l inha pri nci pal d e pensa- f m ento: o av anço em direção à univ
er sal idade.
100
A universalidade e o paradoxo do sociólogo
0 últ im o e sc ri to pu bli cado em vi da por D urkhei m ti nha co m o título LAlletnagne au-dessus de touti 1915 )- Ele qu eria criticar certos asp ect osdop ensam entosociala que coloca
lem ão,enc arn ad osobretudopo
rTre its chk e,
va o Est ado com fins própri os e abso lutos , em op osição à sua
próp ria s ociedade ci vi l, co m o tam bém às outras unidad es est at ai s. A crí ti ca des sa con cep ção total itári aera f ei ta, por u m lad o, em n om e da socie dade ci vil , do p ovo , de qu e o li st ado na da m ais deveri a ser senã o express ão fi el ; por outro lado, em n om e d a soc iedade unive rs al , q ue se m anif esta na exigê ncia de u m a m ora l uni versal qu e ul tr apa ss e os dir ei to s das socieda des parti cul ares . 0 elem en to com u m a es sas duas exigências er reafirm açã o dos direi to s do ind iví du o. Se o indivíduo
aa
tem o di rei to de se
erigi r con tra o Est ado, de n ã o se dei xar absorve r p or essa enti dade absol uta, é porq ue p ode fun da m entar suas rax edade ci vi l, port anto, em
ões t anto no fat o de per tence r à soci
sua p arti cipação e m val ores c ol eti vos qu e nã o
têm neces si dade do Estado para af irmar- se ; qua nto em sua hu m anidad e, por tant o, na pres ença nel e de um val or c om um a t oda a hum todos os m em bros des sa unidade
soci al potencial que
D urkh ei m tive ss e ti do o tem po e a força necess
anidade, a
é ahum anidade.Se
ári os, ness es m om en tos
dra m áti cos de seu trabal ho, pa ra anal isar- se a s i m esm o, enqu an to soció log o escreven do ess e l ivro e a fi rm an do es sa s tes es , teri a p od ido enriquec er sua conce pçã o d a soci edade co m um a sé ri e de consi derações i m port ante s eem par tenovasco
m re spe itoàsuaob
rap reced ente.3 2
J! Sabe-se que não som ente e sta, m as tam bém a outra pu blicação de propagand a, Quem quis a guerra? , leva ra Durkhei m a posições m uito dif ere nte s de suas posições clá ssi cas . Em um importante tr abalho sobr e Durkheim (Ém ile Durkheim and Sociology ) , Aipe rt afi rm a que Du rkheim se orie ntava para um a espécie de voluntaris m o. C f. tam bém R. C. H inkle jr, “Durkheim in American Sociology”, em Wolff, op. cit.
101
El e e ra m em bro de um
a soc iedade em
confl it o com outr a e, en
qua nto tal , cum pr ia s eu deve r de contribuir para ref orçar a con sciênc ia col eti va de sua soc ie dade, afi rm an do seus val or es e den u n cian do os d a so ci edadeopos ta.Fazi a-oem nom ede u m am aioruni ver sa lidade .Acu sa va o adversári o de recusar o un
iversal pa ra a fi rm ar os dire it os d o E st ado,
qu e são os de u m a socie dad e q ue se pret ende c ir cun scri ta. P oderia t er deduzido de
sua posição
n ão som ente que um
a so ci edade em
confl it o
exige a reafirm ação d e se us própri os val ore s, m as qu e essa reafi rm ação se faz em n om e de um a unive rs al idade su peri or ao s valores opostos. Do , con fl ito entre grup os, qu e tam bé m é con fl ito entre si st em as de valo res, / sur ge e afi rm a-se u m a nov a exigência:
exigên cia de universali
dad e. ^ .
.
Para Du rkheim , es sa ex igên cia j á se m anif estara desde o início de sua obra. Se m pre s e opuse ra à rel igi ão com ti an a da hu m anidade, m encontrar a algo de m uito semelhante qua
nd o procedera à sacral
as
ização do
cul todapes so ah um ana.Ess al igaçãodir et a en tre pes soahu m ana eh u -‘ " m anidade já é evi dente em seu arti go pró- D re)f us. Em
0 suicídio, dirá :
Pois o homem que é assim proposto ao amor e ao respeito coletivos nã o e' o ind iví duo sensível , em píri co, q ue som os cad a u m de nós;
éo
homem em geral, a humanidade ideal, tal como é concebida por cada povo em cad a mom ento de sua hist ória
.53
No estudo do totemismo, além disso, longas análises são dedi cada sàsrelaçõesentret
ri bosto têm icasp arti cularesesociedadetotêm
ica
em ger al , r el açõe s em que el e vi a um a clara si m et ri a com os m odos de sup eração das so cie dades m odern as, c ircunscri tas em tot al idades soci ais » S„ 382.
102
cad avez m aioreseca pa ra a univer
davez m aisuniver sai s.Essa exigê nciadep rogr essão
sal i dad e est ava con ti da tam bém nas af i rm ações
durk heim iana s segun do as quais a ver dadei ra fun ção da sociedade ser de “ cri ar o ideal”
, o que tam bém quer diz er “ re al izar a ci vil ização”
(m as
Divisão do trabalho
n u m sent ido di fer ent e do q ue ess e t ermo tom a n a
social, ond e sign if ic a si m plesm ente o con j unto dos bens m
conseguint
ia a
ateriais) . Por
e, cad a n ovo sist em a de val ores deve carr egar em si u m elem en
to de u niversal idade p ois é iss o q ue lh e perm it e supe ra r, na bu sca dess a cria çã o de civil izaçã o, os si stema s de valores prec análi se de sua próp ri a posição de s obtido os m oldes de rea
edentes e oposto
s. D a
ociólog o em u m con fl it o, poderia t
er
li zação des sa m aior un iversa li dade. P oderi a ter
/c o m p r e e n d id o q u e a e x ig ê n c ia d e u n iv e rs a lid a d e n a s c e d o c o n flit o c o m o
f ex igên cia de superação e de com Queconcepçã m entava-se essenci
pree nsã o dos si st emas de val ores o post os.
oD urkhei m ti nhadasf unçõesdo alm ente em dua s exigências: a da obj
soci ól ogo?Funda eti vidade n o tra
y ! t> al ho cien tífi co e a da u til idad e prá tica qu e os result ados desse traba lho
devem ter. Aíre si deop ara do xo d oso ciól og o. El edeveafirm
araonipresença
daco nsciên ciacol eti va, m asn ão dev ese rati ngidop ore la Efet ivament e, se for objeti vo, deve liberar -se de todas as pre no çõe s q ue pe sam sobre o conheci m entocom
um ,n am edi daem quee ste écondici onad opel om ei o
soci al,pelofatodep
ertencerasuapróp
ri asociedade.M
em an cipado da co n sciênc ia co le ti va, do sist soci edade ou
ases se soc iólogo
em a de valor es própri os à
ao gr up o a q ue perte nce s eri a, d o po n to de vi st a sociológ ico,
u m m onstro. 34E, po r outro lado, com científ ic o pod em se rv ir pa ra recondu
o os r esul tados do conh eci m ento zir a soc iedade para
a norm ali dad e
0 para doxo aind a se t ornaria m aior se de ves se acei tar a s idéi as durkheim ianas sobre a socto logiad oconh ecim ento (we rF .E. ,pa rteI),segund oasquaisasca tegoriasraci onaisconsti tuemsc por analogia, de acord o co m as forma s de divi são e orga niza ção dos grupos soci ai s.
103
de qu e se tenh a di stanciado? 0
qu e si gnifi caria, pa ra a ciência, essa
çã o soci al? Es ses para doxos po deriam , ent ret anto, encontrar um
coer
elem en to de
ver dade se fossem in te rpr eta dos un icam ente c om o expres são da exigên cia deuniver sal idade que sem anif estanosval outr as m anif estações de
oresdaciênci
u m si stema de v al or es. Em D urkheim , a afi rm a
çã o daobjet ivi daded aciência re gra de m étodo, acaba tom
que,em pri m ei ro lug ar ,pr et endese rum a
and o-se u m a quest ão de at itude , um a r egr a de ^
m oral idade. N ão é , po rt anto , u m a con dição ini gi r, u m val or. Is so quer dizer
qu e ela possui o
un iversal idade dá aos valor es. 0 soc iólog o en contra-se no m asoperanes
sa contingên
a,co m o al iásem
ci al , m as u m fi m a at in caráter qu e a ex igên cia de
m eio dos confl
ci acom u m aexigênci
ela qu e deve vi sa r, e nã o à saú de social. N
it os, parti ci pa del es , adeuniv er sal idade. Ea
ão pod e, evi dentem ente, atingi-
la, co m o tam bém n ã o p od e real iz ar a obj et iv idade. Mas aproxi m açõesdam
pod e real izar
esm a.Is so setom apos sí ve lnã osom ent ep el anatur ez a
raciona l de seu m étodo , m as pela poss
ibi li dade histór ica ef et iva de u m a
unidade so
en os n o nível dos v al or es, com a
ci al que coi ncide, pelo m
humanidade. Est a lei tura de D urk heim ev itou volun tariam ente as querel dicionais: a antí
j as t ra- ’
tese indivídu o-soci eda de, a reali dade on tológ ica do gr u
po e a co n sciên cia coleti va, o erro sociol
ogista . Seria difí cil acresc entar
algo a e ss es deba te s. Ta m bém nã o quis prop or um a int erpr et ação de D urkheim m aisf iel do queoutr asne m der rubara sm ais co rr ent es .Tom a do com o um to do, D urkh ei m é m esm o o soci ól ogo da or dem e da integração, o Contudo,
m etod ólog o posit iv ist a da obj eti vi dad e e da coisif icação. não h á só is so em sua obr a. Propuse
m os encont rar tam bém a
104
I
via Pel a q ua l u m a teori a cl ássi ca da integração, at des e contradi ções,egraçasa é levada a coloca
ra vés de suas dif iculda
oem preg ode alguns deseus própri os te rmos,
r os prob lem as d a coerçã o, dos con
fl it os soci ai s, dai
m ud an ças de est rut ura as soci adas às c ontrad iç ões n os val ores; da form a ção das novas neces da posição
si dades p or m eio das des ig ualdades soci ais , bem co m o
incerta d o so ciólogo n o seio dos grupos di
vi di dos.
Método e visão do mundo em Weber
K a r lja s p e rs
Odom ín ioque M axWeb er ti nhadeum
aco loss almassade
con he
ci m entos n ão signif icari a m ais, de per si , do qu e a rar a capacidade de apree nsão da sua m
ente. (.. .) Sua pesqui
n o entant o, n a m edida em
sa som ente gan ha va o se u ei xo,
qu e t udo era re fe ri do ao
si tuado n a soci edade envolvida na m
homem,e ao ho m em
ud an ça hist óri ca. N ão i m porta s e a
pesqui sa dizi a res pei to ao exa m e m inu cioso da psicof ísi ca d o trabal ho industri al , ou se se t rat ava de busca r as con ex ões raciona is dos do gm as teol ógicos ou , ai nda , de est udar com parativam fi gurações
ente o si gn if icado das co n
da cidad e em todas as cul tura s: sem pre a qu est ão é sobr e os
j io m e n s , q u e s ã o d e te r m in a d o s a p a r tir d e c o n d iç õ e s c o g n o s c ív e is e q u e engen dram , n a sua ação dotada de u
m sent ido para el es, algo di ve rs o
da qu il o qu e inten cionav am . Ao invés de ent regar- se àt en tativa i nexeqüível dedaraún icaform averaze vál idaao sent idosi ngu larquefundam enta tudo o que ocorre, ou de encontrar a le i que com an de to das a s coi sas, ou ain d a de captar a
totali dad e d o s er, ele ap an ha va o s entido ve ri fi cável
co m o a quele vi sado e pro du zido p or hom ens re ai s, nas s uas deri vaçõe s e conseqüências,quesem
preesom entesãoaces
suas conexões singulares e de m
síve is aocon he cim en to n as
an eira re lat iva D aí qu e sua pes qui sa
106
pa reça est ar dis persa ao infi cuja real
nito, ainda
ização perm anece com
qu e ref eri da a um a ú n ica i déia,
o um a ta re fa sem fi m . D aí ta m bém que
sua pes qui sa nã o possaser adequadam
ente exibi da n u m a exposição do
s
se us r es ult ados ou n a reprodução de u m quadro glo bal, m as apenas pode ser senti da n a sua próp riatraj et óri a. Dois exem são dos nexos entr
plos ini ci ais il ust rar ão a m oda li da de especí fica de vi e as coi sas hu m an as que M ax W eber adquir iu:
1. A decadência do mundo antigo é ob jeto de espanto e in terrogação desde M ontesquie u e G ibbon . M ax W eber enx erga a com provável fal sidade dos argu
m entos sobr
e a im orali dad e e a degen eração rac
ial
com o cau sa da d ec adênci a. Em cont rapo si ção , u m fat or em to da a sua si ng ularidade é tornado
conv incente po
m an a a cul tura antiga
r el e: no fi na l da repúb
es tava apoi ada, em
eco n om ia de gr ande plantação, com p or com pras. Anter iormente os e
li ca ro
ter m os c api tal is tas , nu m a
es cr avo s conti nu am ente reno vados sc ravo s ainda eram m antidos em m ol des
patri arcai s; el es ti n ha m fam ília e s e reprodu ziam . Agora, el es s ão tr atado s de m od o capi tal ist a: m an ti dos em case rnas , são tangidos a
cor rent ados
ao trabal ho, po r c apataze s. C om o então se t ornava necessári
a um a ofe r
ta i ni nter rupt a de esc ravos , ess a form a de eco n om ia se m ante ve n a m ed ida em que grande s guer ras t raz iam conti nu am ente novos es ao m ercado, at é as gue rr as de Trajano. C om ap acificaçã do, cess ou o fl ux o de esc ravos , deu-se a carê vi gente foi forçada a caser nas a colonos; h
a pod er form ar
rem .C om isso ,convert eram -s ede det idose m om en s pr esos à gleba, no va m ente part ici pantes
inter ess ados em sua própria exi ec on om ia natural.As
o d o re ino, c on tu
ncia; a f orm a de econ om ia
o aba nd on o. Os esc ravos voltaram
fam íl ia, parasereproduzi
cr avo s
stênci a, m as vivend o em cond ições de
uperest rut uradeeco n om ia capit ali st aes trei ta va- se
107
gradati vam ente. * M as, co m o ess a super estr utura sus tentar a até en tão o Es tad or om ano,o exérci toeoi nter câm bi oeconôm icon odo m íniodeum M edi te rr âneo convert ido em m ar imp eri al, a vol ta à eco n om ia nat ura l si gni ficav aeconom ic am ente apas sagemparaaIda deMédi a, com o rom pim en to da rede de relações qu e cob ria todos os país es; m ili tarm ente, a dissol ução d a organ ização do exérci to rom an o, qu e repousava n o sol do; poli ti cam ente, u m a situação i nsust entá vel pa ra a unida de d o imp éri o. D aí deri vou a cresc ente f ragil idade d o im pério rom an o desde o século II I. M ax W eber n ão ti nha a intenç ão de com preender em sua to ta li da de a deca dên cia do m u n do antigo com es sa lei tur a, m as apenas de t ra ze r à luz umacau sa c om provável . 2. Um outro exem plo cond uz imediat am ente à problem áti ca que acabou set om an do a m ai sabrangent epar a We ber. 0 espírito da condu ção capitalista da economia, qu e sust enta a nos sa existência pre sent e, som entee xi st iu aquieem ne nh um outr olugardahist óri a-É ve rd ade que a concu piscência se m escr úpu los e a fom e de our o exi st ir am em toda par te ;tam bém eraf reqüente aexi stênci adeem preend im entoscapit al is ta s n o senti do de que o invest im ento calculado d e grand es quantias propi ci as se um gr ande l ucro. M as em lugar al gum hou ve algo com o h oj e: que a gran de m aioria das necessidades das m assas sej a sat is fei ta at rav és de u m cá lcu lo preci so e nu m ericam ente exato dos cust os pre vi st os e d o lucro, at ra vé sdeum a téc nic aincom parávele nu m aorgan ização deempres ascuj a existência e co ntinu idad e são independ entes dos indiví du os si ngular es. * N.T. :Apassagem doen saiodeW eberaqu e Jasp ei sfazalus ão aquiéa seguinte: “Adesagreg ação do im pério f oi a conseq üên cia políti ca necessár ia d o gradati vo desaparecim ento do interc âm bio ed ocresci m entoda econ om ianatural .El esi gnif ica,n oessenc ial,apenaso desaparec im entodo apa relho adm ini str ati vo es tat al e, com is so, da super est rut ura po líti ca baseada em econ om ia m onetári a, que nã o m ai s se aj ustava à infr a- est rut ura eco nô m ica de eco no m ia natural ” .
108
P ara q ue isso se t ornasse possí precon dições: em todos os cus
vel, eram
necessári as div ers as
prim eir o lugar , a p ossi bi li dade efet iva do cá lculo de
to s, ent ree les tam bém os s alár ios n ocontratodetrabalho
(em
cont ras te co m o car áter n ão cal culável doscusto sd o tr abal hoescravo seg un do lu gar, apre visi bili da de ra ciona l das decisões jurídi o que é pos sí vel som ente na vigência
); em
cas espe rávei s,
de um di rei to for m al , e nã o sob u m a
ju s tiç a irr a cio n a l, q u e é e n c o n tr a d a d e m o d o im p r ev isív e l atrave's d a b o a vont adehum anadeum
cádiapós serem
ouv idas as part es; em ter cei ro, a
ord em es ta ta l n a qua l rege a le i raci ona lm ente cogn oscível e nã do ou o despoti sm o ou o arbí tr io de qualquer t esc ravidão, di
rei to form al, ordem
co m u m aracionali zaçãodaexist
ipo. Desapareci
est ata l l egal são con
o o parti m ento da
diçõe s qu e têm em
ência, em prove ito da qu iloqueécal cul ável .
Todas es sas con diçõ es n ão ter iam sido suf
ic ientes , con tud o, para
produzir o espír ito d a disp osiçã o capitali sta efi ciente pa ra o trabalho.
Para i sso , W eber en con tra u m fator srci n ariam en te dif erent e e pa ra el e deci si vo: h á u m a af ini dade inte rna e nt re a m ental idade d o traba lhad or, que pref ere aos s ervi ços pess oai s o d esem pen ho de u m trabal ho contratu al m entem edido parau m aem pres ai mpessoa lecontrar em uneração ,que leva adi ante i ncansavelm ente a sua ta ref a no tr abalho, m as qu e n o de mais é livr e, e a m ental idade do em pre sá ri o qnp sa i-ri fir- i sua ^ na construção
desuaobr a,q uerei nve st etudooq ueg an h apara aam pli ação
e fort ale ci m ento de sua em propriam ente a gozar s
pres a, que se rve a sua causa
m as n ão ch ega
eu l ucro. Am bos tr abalham d e u m m od o que, v isto
da pers pec ti vadoprazerna vi da, na real idaden ão tem sent ido;am bostêm -u m id é ia de v o ca çã o jfoj e es se es pí ri to, no m ai s das ve zes na f igura do h om em espec ial izado e co m o luta vazi a e cal culi st a p elo êx ito , ainda aparece vinculado
à idéia éti
ca da vocação. A qu
est ão é sobr e a ori gem
100
de ss e im pu lso es pi ri tual , que n ão tem paralelo no
m u nd o, ness a for m a.
El e tem srcem rel igi osa, p or m ais qu e ela t enh a des apa rec ido hoje na m ental idade da vo caç ão plenam ente secul ari zada. A i déi a de vocação provém de Lute ro e sua plen a form açã o, q ue é propri am ente re spo nsá vel p or es sas not ávei s consed üên cias. vem d o calvinism
o. A dou trina reli gi osa
er a: o h om em n ão dev e s er vi r a Deus at ra vé s de u m a asce se que o expuls dom un dop arau m a oc iosi dadesem
am or; m asDeusquers
a
er se rv ido
na
te rr a, se be m que at ra vé s d a asces e. P or is so o h om em deve tr abalhar para os outr os, e para qu e a vont ade divi na se r eal ize n o m u n do at ra vés da pro du ção d as obras de êxi lucro e do sucesso
to; el e n ã o deve trabalhar
, m as vi ver sem encon trar prazer
pa ra extrai r prazer do nis so. 0 seu trabal ho
deve se r fei to na asc ese i ntram un da na, e sua ú n ica van tagem pesso al consi st en o se gui nte :D euspredet erm inou todososh om ens, sejapara um per ene est ado d e graça, s eja para a da
na ção ete rna ; h om em algu m pode
al ter ar nad a ni ss o; m as el e pode procurar si
ntom as d a con diçã o q ue o
ines crutável j uízo d ivin o lhe d eterm in ou; n em p or isso ele po de rá ret ira r qu alquer cert
eza dos sint
om as; a d úv ida sem pre pe rs ist e. U m sintom a é,
então, que el e obtenh a êxit o at ra vé s de sua açã
o n o m un do; d aí que a
inc ansável ded icação a o plan o e à obr a pelo empresário e nã o vi se m o lucro ou os pra
ze res do m un do, m as busquem
pe lo t rabal hador u m si nal de
quecad a qu al estejadetenn inadop arao est ado de graç a.C asooem pres á ri o se pu se ss e a goza r o se u gan ho, ao invé s de usá -l o para a am pli ação de seu êxit o e, po r e ss a vi a, pa ra a glorif icação de D eus ne ste m u nd o, então isso s e converteri
a n u m sin al d o contrário. A
persi st ent e incerteza sobre o
es ta do de graça, m esm o qu an do os si ntom as de êxito s ão os m ais g ran di os os , im pelem -no sem repous o em busca de m gi osa, inco rporadaàm
ai s. Es sa con cepçã o re li
ent al idadedem ui to s, tom ou -seum m otori ncom -
11 0
paráveldo trabal hobasead on o cálcu losobprem is sasrac io nais . Diss oder ivo u aquela con du ção da econ om ia que é si m ult aneam ente se cul ar e asc ét ic a, e cujafo rm ap u ram en te s ec ul ar , qua nd o a as ce se jáperdeu seu se nt ido, conti nu a hoje u m a ex ist ênci a fantasmagóri ,
ca, com binad a c om novos m ot iv os.
A anál ise í ue M ax w eber apr es ent a de ss as conex ões n o seu tr aba lho m ais aca bad o, sobre a ética prot est ante e o espí ri to do cap it alism o, é m ai scom plexa econvince entant o, perguntarm
nted oqu ees taexposi çãoes quem áti ca.Se ,no
os s e ele prete ndia com
iss o ter captado a cau sa do
ca p italism o m ode rno, sua res pos ta se ri a: ng Q, de m od o algum , El e ape nas tr az à luz, co m todo s os m eios da pesqui sa em píri ca e da inter pret ação com preensiva,
as cond ições e depoi
s u m fat or positi vo que, atuando co
qu e às c ost as do s h om ens, d esencadeou efei qu an do as coi sas ocorriam
tos dos quais ningu
. Essa s pes quisas alargam
ém cogitou
a consciên
il um inarem u m ne xoq uees tavaoc ultoequeapenaspodiaser
mo cia ao
ef icaz por
est ar ocu lt o; e el as com pree nd em a carapa ça que rest ou após a subst ância da srcem ter desapareci do. Osin ter es se sde M ax W eber diri gem -seuniver sal m entepara aqu i lo que e
especifico do Ocidente, e para o m oti vo pelo qual i
sso se tom ou
as si m aqui enãoem outrol uga r.0 m od odaci ênci araci onal(G red a), a libert ação da m guesa, a m
ag ia (j u da ísm o), as ci dades n a sua i ndepen dência b ur
odali dad e d o políti co prof is si onal e do d em ag ogo , o Est ado
con sti tuciona l, o Est ado racion
al bu rocrátic o, o de senv olvi m ento técni
co, e^a ss im p or diante, sã o ob jeto de inter rogações q
ue, da perspec ti va
econ om ica, podem ser for m uladas n a ques tão bá si ca , que tam bém deu o im pu lso para o
exam e da éti ca pr ot es ta nte
no Ocidente?Po rqu e só aqui, qu
pres ent es quase em
:por que temoscapitalismo
an do as possi bi li dades tam bém est avam
todo lugar? U m traço ess enci al do capit ali sm o é o
raci onalis rao: ocá lcu lo exat o, ap róp riaco n d ição de cal culável . É verda de que o ra ci ona li sm o ex ist iu em toda a p art e no m un do, m as e ntr e nós de m od o il im it ado. A questão seg uinte e m ais abrangente é, portanto, aq ue laacercada srcem e das consequências d a racionalização d o espíri to h u m a n o e m ger al . Para responde r a es sa pergunta, desdobra-se a hi st óri a uni ver sal na form a com o el a aparec e em M ax Web er . O pesquisador M ax W eber quer sabe r o que é, porqu e es se s aber o ati nge.Viven doo ri ginariam enten oprese nt e,el e quersaberco m op olí tic o ou co m o pos sí vel polí ti co. Assi m , el e perguntava poli ti cam ente p or que decaí a a condu ção do Est ad o alemão, e o que propr iam ent e a nação alem ã quer ia. Mas a naçã o é apenas ump on todeparti daparaavontade de sab ersociológica de M ax Webe r. Trat a- sedo no sso estado do mundo em geral. Para com pre en dê -lo, necessi ta- se da história universal ; m as, p oroutrolado,pa ra se com preen derqu alquereventohist óri co,épreci so m ergu lhar no pr es ent e do próprio m un do de cad a qual . É prec isam ente ao conc entr ar-s e n oprese nteenq ua nto suap rópriaexist ênciahi stóri ca que M ax W eber s e c onvert e em hist ori ador univ ersa l. A im po tênc ia da sua vontadep olí ti cacan ali za suaforçaparadaras asau m avontade desab er igualm en te ap aixonad a. S eu i nte re ss e hi stóri co, de h á m u ito culti vad o e que lhe proporci onavau m conh eci m entosem paral el o det odasa sé pocas eculturas,vei oen tão a seu servi ço. qua N a s ua hi st óri a unive rsa l el e n ão procurava co m o m eta os drosgra nd iosos d e culturas e
tem pos passados, n ã o o teat ro d a hist óri a m undial .Todaa exposiç ãoéparaelem eramenteum m ei o.Em bora fos se u m exposit or d e si ng ular for ça, a própri a exposição des empenha um papel dim inuto em toda as u ao b ra . Qu em va i à s su as obr as em busca de narra ções e descr ições c om preensívei s e de f iguras b em acaba das fi ca de-
/
112
cepci onad o.Fi car áperdi doem m eioàm ult idão dec oi sasapen asm en ci onada sou to cadas .M axW eber pres supõenosseus
lei to re so con hecim ento
e a vi são da his tó ri a. C onfront ados, n o entanto, co
m a pen etração e preci
são des sa com preen são hi st óri ca, a m aior par te das exposições do hi sto ri ógraf osser eduza om eram entea proxim ado, aofl utuante,atm M axW eb ert am pou coprocura,en
ênci aéquest ionável
n a,infi nita eines gotá vel pelapesquisa.C
fatos palpáveis do devi
osf éri co.
qua ntohi st ori adoruni ver sa l,a
tot ali dadedo m un do hu m an o. El esabequesuaexist e,dequalquerfon
s
om oel eprocura
r, só c on h ec e total idades r el at iv as, e n ã o a im po ne nte
constr ução dotod odas coi sas hum ana s. C onfrontada com
a hi st óri a uni ver
sal de Webe r, at é m es m o a m ais rica tot ali dade hist órico- fi losófi ca parece pobre,aind
aqu an do sedutor ana suaconf ort ávelgrandi osi dade.
A o d esistir d isso , M a x W e b e r ta m b é m n ã o se t o r n a o c o le c io n a d o r de f atos hist óri cos. El e nã o b us ca qu alquer
panorama enciclopédico
sobre tudo aq uilo de qu e tem os notí cia. Diante d a m ulti plic idade rigoros m entepens ada daspers pecti vasweberianas,tal
a
en cicl op édiap arec edis per sa .
A o m e s m o te m p o , e le resiste à te n ta ç ã o d e se a b a n d o n a r à c o n te m plaç ãodas f igur as ou àobservaçãoi m et a fi na l n ão é a s ati sf ação histórica de
m ediat adenexo s dedependênci figurativa n a a presentação de r
estatura espiritual. E m face da ref
a.Sua eal idade
erê nci a dos conh ecim entos
weberi anosao ca rá te rcom prom eti do de um aex istênci ahu m ana quesede ci de n o m undo,es saf iguraçãos eapr esent acom o um gozofel izesem comprom is sod agran dezanu m con textodedes esp ero passi vam ente cora josoecé ti co. Poris soW ebe réhist ori adoruni ver sal ,nã o co m o ex pos itor ,com o Ran ke; nem co m o f il ósofo da hi st óri a, com o Heg el ; nem co m o col eto r d e dados,
com o S chm ol ler; ne m com o obs erv ador das figura s, com o
Burckhar dt; m as com o so ciólogo . A exp osi ção, a construção, a c
ol eta, a
113
vi são ser vem -l he de m eios de li m itada im portânci a. Na m edida em qt ie el enã os edeixaenvol ver porn en hu m de sses re cur so scom o um am et a,o m un do das co isas hum anas se l he apr es ent a de i níci o co m o to tal m ent e fragm entadop arasuas perguntassobreasc ausas.Suasoc iologiaé hi st ó questões radi ri a unive rsal at ra vé s da ascensão inter m inável ru m o cais,para cheg arpel a com preensã o àsgrand es decisões , às raízesúlt im as n a m u d an ça das coi sas hum an as. El e quer c om pree nder, a par ti r de f ato re sdet er m inávei s,co m o aexist ênciahu m an ac h eg ou as er.Elequersa be r, I m as ao m esm o tem po queresc lar ecer , p ara cad ac aso , o l im ite d o sa ber . É po r i ss o que, ape sar de um con h ecim en to que pr ovavel m ente pareci a aos outr os co m o p enetrando t ot alm ente nas coi sas, el e te m u m pe r si st en te m ed o do real , que j am ais é con h ecido senã o co m re spei to a algo. A ssim c o m o p a ra M a x W eber a h is tó r ia se t o m a u m m e io p a ra encon da codos eventos n sciên cia d o realcompre sent e e d otaquerer e esle . pro curatraraaapclareza reensão passados o outros ntos prnele, es ent Essenc ia l n a su a consciênciadopresenteer a o fato de que ele nã o con si derava o pre sent e co m o se já fos se hist óri a e ocorr esse necessari am ente daquel e m od o;q uem fazis so ne m es tá no pr es en te, m asé um obs ervado r im ag iná rio de algo sempre pass ado. Sua consciência dopassado,por su a v ez, converti a-se pa ra el e n u m outro pr esen te e som en te p or is so se tom avap ropri am ente real ; quem consi dera o hist óri co apen ascom o pas sado intr oduz involuntari am ente um a fal sa sem elhan ça ent re e le e o próp rio pr es ent e.Som ente ass im W ebe r con segu ia es cl arec erao m áx im o, históri ca e con tem pora nea m ente, o que real m ente se havia decidi do. Ele pró prio exp rim iu o m étod o que é essenci al para i sso : é preci so ver os possíveispa ra captar o real . N o pres ent e, o p rojeto d o possí vel é o
114
espaço n o qu al eu m e asseguro daqu
il o qu e deci do; sem possi bi lidade , eu
n ão tenh oji berdade ; s em ver o poss ível , m inh a a ção é c ega; so m ente com o con h ecim en to d o po ss ív el eu sei o qu e real m ente faço. A ná loga a i ss o é aca tegoriad
a '‘possi bil idadeob jeti va’ ’n aca ptaç ãoh ist óricadesit
pas sa das. 0 hist ori ador tor na pr ese nte para si um asituação m en to dis poní velper m ite- lhe faz erc onstruçõesdaq era pos sí vel . E m face di sso el e m ede, prim
uações
. O con h eci-
uil o que n a oca si ão
ei ram ente, o que en tão era
amsámtemmtepossí vel pa ra aspe ssoascu ja a çã o era dec isi va. E m segu ida, ele m ede, em con fronto co m o po ss ív el , aq u il o que ef et ivam ente , parap ergun tar qual era a causa específicap ela qu al, e ntre os aconteceu m ú lti plos a con tecim en tos possí vei s, precisam ente es se tenh a s e torna do rea l. 0 hist oriador convert e novam en te em possí vel aqu il o que já ocorreu defato , pa raencontrarap
on tacrít ic adadecisão
cau sa queeleencontrapara
p elaq u aliss oocorreu.A
o eve nto queef et ivam entes edeu é desi gnada
po r M ax Web er , assim il an do trabal hos lógic os alhei os, po r “ causal idade adequ ada” . Iss o quer di zer : tam bém as si m nã o se com preende o que ocor re u co m o abso lut am ente nec ess ári o,em n om e de lei sri gor os as. Mas, com bas en on osso con he ci m en todere gr asmaisger ai s, pod em oscom preender qu e i sso tenh a ocorrido
assim po rqu e nós, se est ivéssemos dir
etam ente
envolvi dos,o esper arí am oscom o em vi asde oc or re r. Um dos cam inh os para achar o pos sí ve l é a âm bito hist óri co- universal, M
comparação. Num
ax W ebe r con ti nu am en te rel aciona entre
si
eventos to tal m ente di ver sos . Ele com pa ra desenvolvim entos na Ch ina, na índia, n o Oci dent e, nã o pa ra encon trar l ei s hist óri cas ou ti pos so cio ló g i-. coscom o abst ra çõ esdo idênti m eio para se di fer ente. Em
co ou do semel hante ,m aso sem el hante é o
cheg ar à cap tação tanto si tuações
m ais dec is iva d o especi fic am ente
hist óri cas sem elhantes, os possí
veis são sem e-
^
lhan tes . N o e ntanto, ao lon
g o do tem po o corre o op osto ou sim
plesi nei ilc
o discr epante. Atr av és das sem elhan ças, em cont raste co m el as, pod e se encont rar asrcem daqu ilo que separti culari zaem cad aca so; oparti cular , p orsu avez ,épensado
co m o poss ív el .P oress avi a,M axW eber cheg a ao
con hecim ento m ais cl aro daqu ilo que aconteceu em
cada caso . 0 ac es so
a i ss o som ente lhe é da do pe la hist óri a uni ver sal . E sta e a com preen são deci si va do n ex o con creto est ão correlaci
ona das. D aí que nas anál ise s
sociológ icas de M ax W eber repi ta- se con tinua m en te est a form a: atr avé s de com pa rações e l im it açã o dos pos sí vei s l eva- se ao extrem o a qu il o que é determ inante, em qu alqu er senti do, pa ra a seqü ência dos event os. (. .. ) Para pod er com pa rar co isa s hum an as, é preci so que eu apree nda os f at os m edi ante concei
tos que os encontre
senti do q ue el es têm p ara os agente da im portância
para outra c
m enqu anto sen ti do: co m o o
s; ou co m o sentido po
ss íve l, em ter m os
oi sa; ou com o sent ido obj eti vo, enquan
algo c orr et am ent e si gnif icado (com o n um a operação m
to
atem áti ca) . A
reali dade é u m a tess itura i nfinit a de coisas dotada s de sen tido e al heias a el e. P ara çap tá-la são neces sári os con ceitos construídos que , desenvolvidos da m aneir a mais co nsequente
qu anto a s eu se nti do, a penas ser ve m co m o ' '
instr um entos de m ed idap ara a re al idade, ao perm çorrespond
it ir em ver o qua nto ela
e a el es . Es se s c on ceitos c onstruídos são ch
tipos ideais. Para el e, es se s t ipo s sã o o instrum
am ad os po r W eber de
ento m eto d ológ ico para s e
ch eg ar à real idade, e n ã o a próp ri a real idade. El es n ã o são con ceitos refe re nt es a espéc ies, sob o s q ua is o re al possa se r cl assifi cad o, m as con ceitos re fe re nte s a sent idos, perante os q uais o real é m ed ido para, n a p ropo rção em que haja corr espondên
ci a, apanhar o
re al de m an eira pr eci sa e para
tr azer à l uz co m nit ide z aqu il o e m que nã o h aj a c orrespon ti po e o re al . El es n ão sã o alvo d o conh ecim en to, nem
dên ci a ent re o
lei s do dev ir, m as
f; ^
116
instrum entos pa ra el evar à m áx im a con sciência aqu il o qu e e 'específ ico da real ida dehu m an aem cad acaso. Ari quezadas vi sõ es weberia nasrepousa \ sobr e a co nstrução d es se s ti pos i dea is que s e r eve la m fecun dos para o c on he ci m entoconcretodoreal ; porexem plo,ost ipos ded om inaç ãoco m o tr adi ci ona l, carism ática e buro cráti ca, o s ti pos de igreja e sei ta , os ti pos de cid ad e etc . Os con ceitos típicos -i deais deve m ser claram en te del inead os, entre ele s h á sal tos ; m as a r eal idade é u m fl ux o, ne la tudo parece s e entremea r di fus am ente. Há u m a tend ência i nde st ru tí ve l da vontade nã o-crí ti ca de c o nhecer , n o senti do de tom ar o qu e é ac es sí ve l ao con he cim en to, con form e os c ri tér io s geralm ente aceit os, co m o send o o ú n ico plena e defi nit iva m en te verdadei ro, de ta l m od o que, de posse de sse sa be r, eu sei o qu e é bo m , o qu e dev o faze r, e o que é o pr óp rio s er. É con tra es se im pu lso m onísti co ! que se vol ta o co n h ecim en to crít ico de M ax Web er . Ele as pir a a um co n h e cim en toe m píri cod evali da deincontes tável epe rs ist e,enq ua ntop esqui sad or ,em sepa raç ões que el erei vi ndic ata nt oem no m e docon hecim ento legítim o q ua nto d o leg ítim o f il osof ar. Assi m , l uta pela ef eti va separação entre conhecimento empírico e julgamento valorativo; ent re o conheci e t odas as m oda li da des de captação da mentoparticular e unilateral totalidade ; en tre realidadeempíricae essência do ser. a) M ax W eber re pet iu im plac avelm ente: é im possí vel fund am entar e m qualquer pesquisa empírica o que t em valor e o q ue devo fazer.É verdade que o conhecimento empírico pode dar os meios capazes de im plem en tar ou obst ar o alcan ce de fi ns j á pres supost os, e m ost rar o s ef ei tos col aterai s de u m a li nh a de açã o pela qu al outros valor es são af et a dos. M as j am ais el e pod e provar que o va lor ou o fim sej am de val idade ger al . P el o contrári o, a clareza d o conh ecim ento em píri co, e tam bém a da valo raçãoe da escol ha adot adasrepousam so breacu idad osase par ação
117
de am bas. A neu
tral idade valorati va d a ciên cia signifi
próprios julgam
en tos para s e ter em os dad os b em cl aros, t anto em face i Ir
fat os desej ados co m o dos desconfor verdade dos fat
ca a conlençãr
>
1 1( is
távei s. A ob riga çã o científ ica de ver a * 1
os e a ob rigaç ão prática de defender os próprios i
deai s são
dever es dif erentes . Iss o n ã o q ue r dizer que
a satisf ação de u m se j a pos sí vel
sem a sati sf ação do outro. W eb er apenas se
vol ta contra a ju
coi sas ; é apenas atravá de sua
n çã o das duas
separ ação que a pu ra r eali zação de am bos s e /
tom apossí vel . N ãoh ápa rentescoentreobjet
ividadecientí
fi cae am oral idade.
0 procedim ento p elo qual s e fala de m od o aparent em ente o bjet ivo e de quesu postam entese extr aio julgam en tovalorat ivo dos atri butosuni ve r sal m ent evál idosdop rópri oobjet oé re jei tadoporM
axW ebe rcom ou m a
fal si dade de qu em e' incapazde livr ar -se do julgam entovalor ati vop or u m la do \
e, por outr o, procura exim ir- se da re sponsabi lidade por se us julgam entos. So "" m en te a distân cia e m relação questionam
ento sereno d
ao objeto e a s
i pró pr io possibi
o real . M as as valorações deci
n o atode co nhecer ,sãop orseu turnocondiçõeses
li ta o
didas , q ue s ão contidas
se nci ai sdo conh eci m ento,
porq ue e d u ca m pa ra a sensi bil idade em face de to das as valorações
po ss ív ei s.
A n e u tr a lid a d e v alora tiva d aciên cian ã o signif ica,pois,p araWeb er , a interdi ção de valorar na vi e do quere r que engendra,
da, m as p elo contrári
o: é a pa ixão d o val orar
co m o seu próprio escl areci m ento e auto-edu
ção , a legí tim a obj eti vidade d a pesqui sa. A neutral idade valorati
ca va tam
bé m n ã o qu er di ze r, p ar a el e, que va lorações efeti vam ente f ei ta s ou possí vei sn ã opossa m se robjetodepesquisam as,pelocon trári o,el asconsti tu em o objetoess enci al pa raa invest igação das coisas hu m an as; éap enasa tra vé s da neutral idadevalo rati vaqu evem aexi st iraqu elare se rv ano exa m ede cad avaloraçãoed
oseu se nti do,d esu asrcem edesuasconseqüên
efet ivam ente as t raz aos olh os e à con sciência. A neu
ci asque
tral idade valorat
iva
118
n ão si gn if ic apa ra el e, fi naim ente,que a pesquisados n
ão repouse so
val orat iva acerca daqu pa ixã on apesq ui sa. b)
escolh a dos problema
bre valorações;
sa ser em
pe lo con tr ári o, a deci são
il o qu e m e a ti nge é precond
ição para a legí
ti m a
Max Web er sa bi a que ca d a p es q u isaé /w rte to-, e que o
éi nacess ível . Se eu pu desse con he cer o geral das coisas hu m an as, se j a na form a de lei s naturai s gerai s e im utávei s, seja na sej a co m o princípio de
desenvolvi
form a d a total idade,
m ento i ne qu ívoco, então eu poderi
a
deduz irdel e o event o parti cular co m o nece ssári o.Maseu con h eço,parti n d o de pon tos de vist a rel ati vos, r egras e lei s qu e ap enas a ti n gem aspect os do re al , e som ente co n h eço to tal idades rel at ivas , n u n ca o todo. A r eal idade ind ivi du al, i nfi nita, inesgotável
em cad a u m a das suas f iguras: as l
queva lem parae stas n ão permit em quedel ass ededuzao
é ei s
re al .T am pou co
exi st e algu m est ado tem poral ori ginári o, sej a cósm ico ou h u m an o, que fun ciona com
o u m es tado ge ra l, ainda não
lidade h ist órica e a parti r do qu al então se i ri a. Sempre e
turva do por qualquer
ria i nd ividua li zan do a histó
em qu alqu er t em po a real idade é i ndividual, nu
diver si dade hist óri ca. N ada há , portanto, qu
casua m a infi nita
e perm it a ded uzir o que real
m en te ex ist e. Es te era o h orizon te de M ax W eber qu an do ele di zi a: “A corrente do devir
incom ensu rável f lui sem fi m para o infi nito’ '. Po r i sso o
h om em sópodepene
tr arna real idadeat ravé sdaciênciaem
ded u zi- la ou apreendê-l
píri caen ão
a co m o to tal idade. A conseq üê ncia des sa vi são é
porum lado resoluta captação doalreempírico, por ou tr o a repulsaa todas as infiltrações metafísicas n o sabe r e m píri co. O real em pírico deve ser preci sam ente com prováv el: el e é o sentido soment tpara hom ens n a ação hu m ana (em co nt ra st e com um se nt ido objeti vo d a hi st óri a, sub jacen te à a çã o e igno rad o pelos a gentes); el e é
todo
119
ademaisosent nos com
ens singulares(ao pass
idoparahom
o t ot al i dades,
que atuam
inconsci
o que grupo s hum a
entem ente,
nã o sã o
em piri cam ente v eri fic ávei s com o tai s) ; em piri cam ente real ação de agente s si ngu lares. A pr od u ção de representaçõ nã o cabe à sociologia
é apenas a
es de tot al idade s
em pí ri ca; e st a as exa m ina na m edida em
têm u m a im portânci a f un cional, enquan
to re pre sen ta çõ es que inf luem
n a a ção de h om ens, ou sej a, el a já as encontra pro ela nã o at ri bui c arát er absoluto aessas tot nega u m a real idade, cujos funda
que el as
ntas. Nes sa s condições,
al idades , m as ta m bém n ão lhes
m entos são alhei
os à ciência em
píri ca e
desti tuí dos de vali dad e gera l, nem tam po u co de cide que tai s repre sentações nã o possam se r usadas na açã
o. O seu m étodo indi vi duali st a n ã o signif ic a
u m av aloraçã o ind ivi dual ist a, as si m com o o car át er raci on ali stada sua form ação de conceit racionais na ativi
os nã o im pli ca a crença n a pri m azia d e m ot ivos dade hu m an a. Ap esqu isa em pírica di ssol ve i nevit avel
mente a concepção substancial de Estado, igreja, casamento etc., sem tocá- los co m o fon na s de crença; com
o ta is, el a subm ete e ss as concepções
a exam e em sua obj eti vi dade, enqua
nto repr ese ntaç ão m antida por h o
m ens e co m o m oti vo ef ici ente para a sua ação. P portanto,
a supos ta substânci
racional enqu
ara a própria
a é converti da em objeto de conh
sociol ogia, ecim en to
anto con teúd o si gnif icati vo pen sado e des ej ad o por h om ens
re ai s. N es sa acep ção, o Estado , po r exe m plo, é vi st o co m o si mples m ent e u m a probabi li dade de que u m a m odali dade Ide nt i fi cável d e açã o reci procam ente ajust ada conform e o seu c onteú do significativo só dê, ou tenha-se dado, ou venha a se dar... Nenhum outro sentido claro um Estado ainda existo.
é associável à proposição de que
12 0
Jj? po r i ss o qu e M ax Web er , com o s ociólogo
em pí ri co, é con tra
concei tos met af ísi co s com oo dej je spí ri íodeum p ov o” ou o dai deia com o u m afor çapr es en te,as si m com oécontraan necess ári o e contra a
oçã odeu m des envol vi m ent o
con ce pç ão m ate ri al is ta da hi st óri a co m o d efi nição
caha l d o cu rso da históri
a uni versal . N en hu m a vi são da total
idade da
his tóri ahu m ana ,n en hu m aconst ruçãoda hi st óri am un dial l heéperm i ti da. Ele se res tr inge a um a interm inável penetração at rav és d a pesquisa em
m etódica n o real
píri ca. N enh um a total idade se com pleta. Se el
tive sse um si st ema, só pod bási cos para cad a caso. Mas m é u m alvo se nsa to:
eria se r um si stema de
m étodos e con
ceit os
esm o es se si st ema fecha do de conceit
os n ão
e
Os pontos de partida continuam mutáveis ate' o futuro ilimitado, enqua nto a hum an idade nã o se de sac ost umar, po r um a petri fi cação chinesa da vida espiritual, a.proppr novas questões à vida jg u a lm g nte in esgotável. ~ " O car áte rr el at ivode todososconceit
sempre
osadequ adospa rao con he ci
m en to da re al idade em píri ca un e a am pli tude das possi bi li dades de co nh ecim en to à unil ateral idad e de cada caso específ fi cad o em cada caso une
ico; a ni ti dez do signi
a con creçã o à abs tr ação . Os supos tos con h eci
m entos da to tal idade enqu an to desenvol
vi m ento global da hist
dial , ou da real idade autênti ca d a qu al tudo depend
óri a m u n
e, sã o acei tos po r
Webe r,m as apenas c o m ocon struções ideal- tí pic as pos sí vei s,quesão ques tionadas quanto a sua fec undidade para o conh ecim ento concret o de fat os. Assi m, ele uso u as constru ções m arxis tas a inda que re jei ta ss e sua absoluti zaçãoesuatotali
zaçãoderi
vadadeu m avi sãod om un do.A ssi m
121
tam bém el e t entou, no m esm o ní vel , dem onstrar o car áter srcinário de fat ores rel igi osos n a su ae fi cá cia, lim itada p or seu turno, para a his tó ri a d a ec on om ia e d a sociedade, e esclarecer o qu an to aq u il o qu e p ara < x ilr<>s apenas parece u m a superes trutur a dependente pode ria assum ir um a in i port ância causal pri m ári an um exam eem pí ri co. É at ra vé s do ex am e de todos o s con ceitos e construções pera nte o cri téri o d e s e ati ng ir em pergun tas capa zes de con du zir a resultados essen ci aisn a pesquisa em pírica, que W eberc riou a possi bil idade de assi m ilálos. Assim, todos os pontos de vista se lhe tornavam acessíveis para a obser vação de qu alquerfato. É pr eci sam ente na m edida em que el e não tol erav a qua lquer s aber com pleto, n ão adm it ia qu alqu er quad ro to ta l co m o cientí fi co, não recon hecia qua lquer saber dos f ator es “ verdadei ros ” d o dev ir , que ele teve acesso às perspecti vas e orienta ções abertas que sã o a ess ênci a d o con hecim ento im pa rcial É ver dade que, para e le, qual quer m un do hu m an o, l on ge de s er expl icável a té o fim , cons ti tui problem a inf ini to. M as com iss o el e tem seguram ente um saber fi ded igno e l ogra evi tar as ilusões d ifund idas d a vis ão d o todo o u das forças, e escapa r de todas as conversões de consid eraçõe s u nil aterais em verdades absol utas. Ao ace it ar o caráte r r adical m ente un ilater al pr es ent e em todo con h ecim en to , el e n ão só supe ro u, n o con he cer a u ni later al idade, a dom inaç ão p or el a,com o gan hou ele própri o o d om ín io so br e e la. c) Na m edi da em que M ax Web er, co m o pesquis ador em píri co, se op u n h a às to ta lidades em favordo con hecim ento pa rt icul ar;àsgener ali dades , em favor do esp ecí fic o; à m era el ucu bração teór ica em favor da pes quis a co ncret a; a o relanc e e à rotul ação em favor do con hecim ento penet rante; ao f igurativo em favor da análi se causal ; à m era descri ção em favord a con strução intel ectual ;à ssub stânc ias em favor d a d is solução em
1 22
a realidade empírica,
fatores capt áveis , ele perm an ecia, n a a preensão d
distanciado doúcle n o das cois as.(. .. ) Su aextraordináriaproxim
ida de
da reali dade n ão signif ica pr eci sam ente con he cim en to d a es sê nci a. M ax W ebe r jam ais c rê te r apan had o a reali dade n o seu f un dam ento últi m o. N ocasoquem
ai sm inuciosam
depen dência do capitali
enteexam
inousobremate
ri al em pí ri co,a
sm o m od ern o em rel ação à éti ca p rot es ta nt e, el e
descobri u u m fat or causal , m as susten tou deci didam ente que havia s ido p ro v a d a a p re se n ça d e«« fat or causa l,nã ose suai m por tâ nci aquant itati va é grande ou pequena
; qua nto aele, consi
derava -a gra nde. C om o o real
nã o pod e ser conver ti do sem m ai s em obj eto de pesqui W eb er bu sca toda e qualquer form a de existência em den do em nen hu m a, inqui ri ndo cada q
sa em pír ica, M ax pírica, nã
ual sobr e sua i m portância
o se p er caus al .
Tbd o se c onvert e para el e em objet o em píri co com im portâ ncia re lat iva. C om iss o,defr onta-se dem an eiratantom em pír icas,com osf un dam entosdos nã o co m pree ndidas .
aisdeci dida,nassuaspes
qui sas
quai sel edev epar ti rcom opre m issa s
A in v es tig a çã o w eb e ria n a é o efeito m a is p u r o d o c o n h e c e r rea li sta m odern o (que só a lc an çou car áter indubit avel m ente i nequ ívoco nas ci ênciasna turai senam atem áti ca) so breoconjun na. Ess a i nvestigação W
tod aexi st ênci ahu m a
eb er ch am av a sociol ogia, inserindo
-a as si m nas
ten tat iv as d es se n om e, em bo ra n ão deve ss e a e st as m ais do que às ci ências hist óri cas,àfi los ofi ad a hist óri aeàjurispru
dên ciaC om o ciênciaem
con tud o, a so ciolo g ia n ão deveri a pe rde r- se p or ca rência de fr
pí ri ca,
ont ei ras : el e
li m it ou se u dom ínio para o plan o d o sent ido da açã o, para o ag ent e, na m edida em que ação e st á r ef er ida à conduta de out ros. 0 m odo co m o sem eou esse cam po co m se u inaudit
o sa ber não cab e nu m a expos ição
br eve; nel e, o exam e part icular m ais concreto subordina-s
e a o cam inhar
12.3
sem fim do con hecim en to uni vers al , da qu il o qu e s eres hu m an os fi ze ram e d o qu e lhes é p ossível faz er . A p o s iç ã o p ro fissio n a l de M a x W eber era d e e co n o m is ta , E le se op u n h a à cri açã o de cadei ras de sociol og ia, pois n ã o igno rava tr at ar -s e de u m aci ência queem todo o lugars eapoiaem out ras ,quee xi geu m aco nside rável experiênciade pesqu isane ssa soutras ciênciasp arti cula rese que requer um am edida pou cohabi tual decn' ti ca. “A m aior pa rte d oque pas sape lon om e de s oc iolog iaé balela’ ’, di sse el e n a sua ora ção d e despedida em Heide lb erg. A c iê n c ia d e M a x W eber te m u m d u p lo aspecto. N ã o é p ossível entender u m qu an do se esquec e do outr o. 0 empirismo universal quer conhecer o que quer que seja cognoscível. El e entr a em ação on de quer que algo possa serprov ad o. Para ele tud o se dá con form e lei s causa is susc etí vei s de com pre en são e at ra vé s de relações racionais concludentes. Tudo? Somente aquilo que é cogn oscível, e tudo, na m edida em qu e se i denti fique tudo à qu il o que é cogn oscível. N ada pode a pres ent ar- se ao saber possí vel qu e n ã o incor ra na suarelativi zação. M as o saber se defronta com Imites. Àciênciaweberiana vincula-se a consciência daquilo que não é conhecido. Desde logo a infi nitude de todo individu al é inesgotável . D epoi s, essa enti dade indivi du al, en qu an to si ng ularidade hist óri ca, pod e te r u m a significação que s e furt a a qua lque r interpretação exausti va. Finalm ente, sem pre se press u põe d e al gu m m od o a ori gem : as pri m ei ras concepções d e u m a re li gi ão n ão são compreensí vei s geneti cam ente, por m ais que se definam as con s tel açõe s e si tuações sem as qu ais ela n ã o teri a vin do a ex istir. Ess a dup li ci dade de saber e não- saber, n a q ual o con he cim en to em pí ri co com o “desenc ant am ent o do m un do” parec e dom inar i so lado nasobr asdeM axWe ber, dám argem a mal-entendidos. C oncebe-se erro -
124
neam ente es se gi gan tesc o saber converti do em investi gação com saber sob re a exis tênci a h u m an a
em si. R eage-
ou m
se de m od o tol am ente
sat is fe it o ou entã o se r es iste a i sso co m toda sor te de ob jeções equ ivocada s (...)• As objeçõe s con tra M ax W eber desem
boc am na idei a de seu f racas so
co m o investi gad or da reali dade. Efet iv am ente el e f racassou , m as f oi u m fr acasso verdadeir
o, que p ertence ao senti
fals o fr acas so alega não saber
do au têntic o da ciência.
(. .. ) O
e n ão m ai s s e e sf or ça r. Qfracasso de t
ta -
Weher cons ist e em can tar posi tivamente aq nã o-saber de
ntro do sabere
uil o que é prop üa m eate um
m pírico, il im itado, determ inad o, chega do à
coisa, e e m abri r para s i a possi bil idade de u m ser en qu an to ser autênti co e n ão co m o um se r con hecido. Es se frac ass o lev a t ant o m ai s prof un da m ente a o ser qu an to m ais o saber gigantesc os os projetos con segu ir c om pletá-los,
se tom a a brangent e; por is so são tão
de invest igação w eberi anos, a p on to de el e j am ais e suas obr as, a despeit o de sua am
apenas fo rm idáv ei s fragm entos, c onstruções
pli tude, são
n ão ter m inada s de u m titã.
A r e je iç ã o d a m e ta física e m to d a s a s su a s fo r m a s, ta m b e 'm as m a is o c u l ta s, na so ci ologi a, e tam bém a conversão d a m ental idade ci entíf ica em a lgo q ue suger e o asceti sm o si gnif ica: el e m anteve ab ert a a possibi lidade d overdadei
ro fracass oe im ped iu u m asat isf açãoespúrianaciência,que
se falsifi ca . 0 supost o saber n ã o deve tom ar f ácil aqu il o qu e só quando
é objeto
é alc
de legíti m a cren ça. A re lat ivi dade d a ciên cia parece
po r conseqü ência a queda n
ançad o te r
o a bis m o s em fun do, m as é pr eci samente del
a
que nascea consciênciad ess esol o,em suave rdadei raori gem no quere r e n o crer hist ori cam ente pr ese nte s. E e ss e so lo só s e pu rifi ca qu an do o fogo davontade
il im itadaie saberoco
nsoli dap araaverdadee
aluc ide z. (. .. )
Weber e o projeto de modernidade
S chluchter , H en ri ch & Of fe
O m undo modernocomo destinoe comoproblema. Nesta formulação resume-se a posição de Max Weber diante das tarefas teóricas e práticas que se impô s ao longo davida e cujo timbre singulariza sua obra. A modernidade como destino e comoproble ma: vale dizer, como campo deforças no qual se confrontam esco lhasfundadas no repertório de valores ueqela mesmapropõe. Nesse jogo entre o inexorável e opossível desenha-se uma concepção do mundo moderno que abdica, complena consciência doignifica s ^ do disso, da idéia de progresso. Sob a coordenação de um dos mais importantes especialistas emWeber da atualidade, Wolfgang Schluchter, confrontam-se neste debat e asposições maisà esquerda defend idaspor Claus Offe e asposições mais “ortodoxas",represen tadas pelo filósofo Dieter H enrich, autor de um importante livro sobre o pensamento de Weber e reconhecido especialista no pensa mento idealista alemão, parti cularmente de Hegel. A posição de Schluchter,favorável a uma reabilitação das teses macro-históricas e macro-sociológicas de Weber em contraste com uma abordagem micro-soci ológica da ação, transpareceao longode todo odebate e contribuipara o seu caráterinstigante.
(N.T.)
126
S chlu ch ter 0 te m a que nos foi propo st o contem n ão pod e ser atri buído a o próprio M
u m te rm o que d ec er to
ax Web er . Ele n ã o fal ava d o projet o da
m oderni dade.U m proj eto pr ess upõe um esboço e u
m port adorde ste esb o
ço, u m “ suj ei to ” . Para We be r, o d esenvol vi m ento do Oci dent e foi a con se qu ên cia de u m a con catena ção de ci rc unstânci as. Ale m di ss o, e le n u n ca usavao con ceit odem odernidadesem m oderno, do raci
qua li fi cá-l o.Falavadocapit
onali sm o m oderno, tam
al is m o
bém da l ib er dade m oderna, m as
n u nca d a m oderni dade,qu an do n ão ev itava to tal m ent e o con ceit o ‘ 'm o de rn o’ para fa lar , po r exem plo, de nosso des
env olvi m ento social e ec on ô
m ico eu ropeu -am eri can o. Sen do assi m , dever íam os e sc lare ce r, j á n o iní ci o, co m o p odem os est abe lec er um a relação raz term o“ proj etodam odern idade".P
oáve l e nt re W ebe r e o
arai ss oeparanossadis
cus são ,prop o
n h o u m esqu em a si m pl es, de tr ês pas so s. No p rim eiro passo, deveríam especi fi cidade das con
os discuti r o qu e er a, pa ra Webe r, a
diçõe s m ode rna s e qu ais as suas causas. A re
ferênci a
aqu i pode ria s er : de sen volvim ento o cidenta l especí fi co. E le falava exp li ci tamente de desenvolvimento
específico, e ist o coloca u
m probl em a d e
identifi cação e i m pu tação. Nes te senti do, t rat a- se de W eber co m o üdcry dasc on diçõesm odernas.N
questão de com
histori-
o segu ndo passo ,deverí am os propor- nos a
o el e via a es tr utura des sas con dições m odern as e as ten
dên cias de desenvolvi
m ento. A ref erência aqu i pod eria s er: o p arad oxo da
raciona li zaçã o. T rat a- se , então, d e consi derar W eber co m o diagnosticador das co n dições m odernas e, a m ente a e ssas condições
lém di ss o, de saber s e sua po sição re la ti va
era apologét
ica ou cr ítica, ou um a com bina ção
específ ica da s duas . P odem os agu çar e st a per gunta: te rá sua po siçãos ido antim odem ist a, antii lum inis ta? E, po r f im , o te rc ei ro passo: com o se d ev e reagir aestas con dições m oderna s? Qu e podem os, que dev em os fa ze r? Tra ta -
127
se , portanto, da
isenç ão de juízos valorati
vos, da teori a de valores e da
éti ca. A ref erência aqui pod eria se r: i nd ivi du alism o h eróico, capa cidade de suport ar parad oxos. Trat a- se , por tanto, deW eber co m o terapeuta das cond ições m odernas o
u, m ais pr eci sam ente, da quest ão: er a el e si m pl es
m ent eum tec nólogosoci
alou suaobrac
om preendeate
nt at ivadeum a
fil oso fia práti ca? D ever íam os tentar fazer jun tos ess es t rê s passos . Ini ci are icad apass oco m u m a br eve ci taçãod aobra deWeb er ,par a quepo ssa el em esm otom arapal av ra, ecom eçoco m u m apas sage m que se re fe re ao desen volvim ento ocide nta l específ ico, i sto é, à pergunta: o que é o espe cíf ico do O ci dente e co m o v eio a desenv ol ver- se? P ara ist o, escol ho um apas sa ge m dacham ada “H istór ia daecon om ia", um tex toq uet em sua ori gem nu m sem inário de W eb er em M unique, no final de sua e que foi rec onsti tuí do, após su
a m orte, principalm
vi da ,
en te a part ir de an ota
ções de es tudan tes . Nã o é, portan to, u m text o srcinal de Weber
, co m o
m uit as ve ze s se esquec e, m as con tém , de f orm aco n cisa, a rgum entos que pod em se r encontradostam
bém em out rasob rassua s.Es ta passagem
di z:
Pa ra exp or m ais um a ve z, de form a resum ida, a peculi ari dade do capital ismo ocidental e su
as ca usas, os tr aço s deci si vos são os seguin
tes. Som ent e el e criou um a organização racional do trabalho,1' que nã o exi st e em ne nh um outr o lugar . 0 com érci o exi st iu por toda p a rte e em todos os tem p o s e p o d em os e n c o n trá -lo , rem o n ta n d o à idade da pedra; do mesmo modo, encontramos nas épocas e cultu ras m ais d ive rs as o fi na nciam ento de guerras, o suprim
ento a o Est a
do, o arren dam ento de impost os e de cargos etc. , m as não a organi zação racional do trabalho. Alem disso, encontramos em todos os lu gare s, pr im iti vam ente, u m a econ om ia interna
ri gorosa m ent e vi n-
128
culada, de tal m
odo q ue n ão se pod e f alar de li berdade da cond
uta
econôm ica ent re os mem bros da m esm a t ri bo ou do mesm o cl ã, associada à
li berdade ab soluta do com
érci o pa ra fora ; dif erenciação
entre a ét ica i nterna e a e xterna e, sobr e i ss o, um a con du ta int eira mente descompromissada no tocante a assuntos financeiros. Nada p o d e se r m a is rig o ro sam e n te co m p ro m etid o d o q u e a e c o n o m ia de cl ã na China ou
a economia d
e ca st a na índi a, m as ta m bém não h á
nada tão inescrupuloso como o indiano no comércio exterior. Em contraste,
ci extinção das rreiras ba entr e a economiainterior e a
exterior, entre a moral interna e a externa, a penetração do princípio comercial na economia interior e a organização do trabalho sobre esta são base a se gu nd a característi ca d o capital is mo ocidental. Por fim, a decomposição da vinculação econômica p r im itiv a o c o rre u ta m b é m , p o r o u tra s p a rte s, c o m o n a B ab ilô n ia, , m as em nenh um lugar encont ra m os a
organização do trabalho
emforma de empreendimentos, tal com o a conhece o O ci den te. Se esse desenvolvimento ocorreu apenas no Ocidente, a ra zão diss o dev e ser proc urad a em deter m inados traç os de seu desen volvimen to cu ltural geral , traços que lhe são peculi Ocid ent e conhece um
ares. So m ente o
Estado no sentido moderno, com constit ui
ção estatuída, funcionários especializados e direitos de cidadão; as tentat ivas neste senti do, n a A ntigui dade e no O ri ent e, não ch eg aram a desenvolver-se plenamente. Somente no Ocidente encontramos u m direito racional, criado po r juristas e racionalm do e aplicado. Somente no Ocidente temos o conceito de
ente int erpreta cidadão
(civisromanas, cit oyen, bourgeois), p o rq u e ta m b é m so m e n te n ele existem cidades n o senti do esp ec ífic o d a p alavra. Al ém dis so, som en-
129
ciênciano sentido atual dapalavra :a
te o Ocident e pos sui u m a
teol ogia, a fi losofi a e a ref lexão sobre os
prob lem as ú lt im os d a vida
eram conhecidas também dos chineses e dos indianos, talvez até nu m a pr ofundi dade n un ca alcança
da pe los eur opeus; m as a ci ên
cia ra cional e , c om es ta, tam bém a técnicaraci onal perm aneceram desconhe cidas àqu elas culturas. P or fi m , a cultu ra ocidental dist
in
gue-se de todas as outras também pela existência de homens com uma ética racional na conduta da vida. M agi a e rel igi ão en con tr am -se por toda pa rte . M as um fund am ento re lig ioso da c ond uta da vi da, que por sua coerê ncia i nterna tinh a que con du zi r a um raciona li sm o espec ífic o, é tam b ém algo pecu li ar do Oci dent e.
Tem os aqu i, portanto, a dente e algum
caracteri
zação d a pecul iari dade do O ci
as co n dições hist óri cas prévi as que são consideradas i
m por
ta nt es pa ra o desenv olvi m ento des ta. Pod e parecer estranh o ao ouvinte que Webe r não m enci one ne sta p as sa ge m nem o Il um inis m o nem a R evolução France
sa. Tal vez devam os c om eça r po r aqui. C om o se expli ca
qu e Web er , em su a li st a de causas d o d esenvol vim ento da m odernidade ocidental, não m
en cion e e stes dois aco ntecim entos imp ort antes, tanto
sob o aspect o da hist óri a do pensam ento qua nto sob o p olí ti co? Tal ve z o sen ho r Off e qu eira f alar pri m ei ro. Offe Eu n
casos parti
ão ach o que possamos
aqui aproxim
ar- nos das expli cações de
culares e dos
est udos hist óri cos com pa rati vos d e M ax Web er ,
am bos n um erosos e ram
ificados, pela vi a de u m a aprese ntaç ão s um ári a.
A o co n tr á r io , d e v e r ía m o s c o n ce n tra r-n o s n o p r o c e d im e n t o m e to d o ló g ic o de M axWeb er,que res pondeco m todaclarezade
se jáv elàperguntaqu
eo
130
'
senh or aca ba de faz er . Para m im , o po n to de vi st a ce ntra l d o m étodo de W eber consi ste n a i déia de que os proces sos de racionali
zação, ou
de dif eren ciação um pe lo outro)
sos de m ode rnizaçã o (ou os proces
o processo d
e ‘‘desencan tam ento” ou o processo
todos e st es ter m os po de m quase sem pre ser subst it uídos se jam o decor rer de u m proc esso hist óri co n ão intencio
nal ,n ão inic iadop orm ot ivosre voluc ionár ios ,n ão provoca dovoluntári e c onsci entem ente, que consist
em portanto nu
m a con caten ação de ci r
cunstân cias, u m acon tecer evo lucion ário e desprovido de sujei a um com plex o cultural
de fat os vi ta is m uito específ
local m ente m uito i m provável do p conseqüên
ci as globais.
tante a idéia de que este
to, rel ati vo
ic o e tem poral e
onto de vi st a hi stór ico, que en
tão tê m
Em segun do luga r, pa rece-m e ser m uito imp or processo, n
ã o obstante, seja
cara cterizado po
u m a “ dial éti ca” , que basic am ente cons is te no fat o de que aqu sua gêne se apoiou-se em
a
deter m inado
gi r- se con tra as con diçõe s de sua gênese. um a int enção, m as o processo é indi
il o qu e na
ethos, em det er m inado m odelo
cult ural, con tinua a dese nvol ver- se independ sas con dições étic as dese ncad eadoras, e no
r
entem ente da p resença des
decorrer do tem
po passa a diri
0 resul tado n ão correspond
ea
ret am ente possi bi li tado por cert
a
ati tude m ora l, e es ta desap arece n o decorre r do processo. Schluchter
Talvez po ssa m os re ser var es te últim o aspect o p ara nosso se
gu nd o pass o, já q ue se tr ata do diagnóstico das tendênci m ento. Pergunto
prim eiro ao senhor Henr
fat o de que, em
Webe r, evi dentemente não
aná lise a con teci m en tos tão i m portantes m ode rni dade -
as de desenvol
ich: co m o o senhor avali
vi a est e
se enco ntram n o centr o da pa ra outros teór
icos da
es tou pe nsando , por exe m pl o, em Heg el - , com o o
Il um inis m o e a R evolução Franc
es a?
131
Henrich
U m a razão dis so , que re sul ta da orientação g
lobal da obra de
Web a ci rcunstânci de que eb er data num m uito ai s rem er, otoosé proc essosdeci sia vos paraWo desenvol vi m entotem dasf po orm as mm oder nasdev idaedasoc iedade.0 Il um inism oeaR evoluçãotêm el es própri os cond ições pré vi as que, em par te, datam de t em pos m uito rem otos e em par te pertencem à Id ade M édi a t ardi a e à época da R efor m a. E a est as con dições pré vi as at ri bui W eber infl uê nc ia e “ signif icação cu lt ural” m uito m ais for te sdoq ue ao Il um ini sm oeà R evol uçãom esm os. Jápert encema elas ao reli de Jeová e a ord jurídica ais t parte ar de , parti desengiãovolvi m ento capi taemlista que,rom p or suaanvea e, mz, em possibicularmen litou e emte part eest abil izou a sist em áti ca jurí dica ea organ ização d oEstadom ode rno. Devem os t er bem claro que, pa ra We be r, e ra evi dente u m a coisa que aind a es tava além d o h orizonte d a fi losofia clássi ca da históri a e sobr ea qua lho jenã o h á tanta segurança ent reaque le squesepronu nci am sobr e asitua ção d e nosso tem po. É que, paraele, a par ti r da pri m ei ra m etadedo séculoXIXm ult ipl ic ava-sea ext ensãotemp orald odesenvol vi m ento da cul tura hu m ana . A c onseqü ência di ss o é que acont eci m entos que outrora constit uíam u m a ép oca i ntei ra da hist óri a univ ersa l ou que at éeram separ adospo rta is épocas, ap roxim avam -sem uitoentres i.Já as rel igi ões super iore s e de salvação com o tai s aparecem então com o desen vol vi m entota rdi o na hi st óri ada hu m anidade,podendo poris sotambém se r consi deradas, de m od o dif ere nte, f ator es determinantes n o desenvol vi m ento peculiar d o O ci dente em direção à m odernidade. Além di ss o, as épocas hi st óri cas , pa ra Webe r, nã o p od em ser expli cadas p or si m esm as nem porcon diçõessi ngul are s.As si m,condiçõesde ori gem edataç ãom uito di ve rsa s po de m entr ar na exp li cação d a c on stelação cu ja con sequ ência for am as m odernas orden ações da vi da e a dinâ m ica que lhes é pr ópr ia.
132
Já est a no va pers pect iv a hist órica ti nh a qu e fazer co m que W eber consi deras se tam bém o Ilum inism o so b u m aspect o dif er ent e. É u m a f as e n o extenso processo d e ra cionalização qu e se i niciou m uito ante s e qu e alcan çou prim ei ro a organ ização das empresa s, o si st ema jurídico, os m od os de vi ver e, com iss o, a “ética” e a organ ização da adm inist ração. Pa ra Web er , a nova form a da ciên cia ocu pa um lugar ne ss e proces so. No Ilum inism o, o con jun to d o processo dir ige- se contra as i nter pret açõe s do m u n do das reli giõ es tr adici onais. C om is so, con form e Web er , abr e-s e a possi bil idade d e um a orientação do m un do sem m etaf ís ic a e sem teodic éi a. Mas , ao m esm o tempo, o Ilum inism o tr oux e consigo um aprofecíahist óric aprofan a que, p orsuapart e,l evou au m a ideal izaçãoda es fer ajur ídi ca n o direit o natural. Dev ido às difi culdad es i nternas ou até a con trad ições d a co n cep çã o d o direi to natural, as prom essas in erent es a es se desenvolvi m ento nã o pod iam ser cum pridas, evapor ando-se ass im , par a W eb er , o “ ân im o róseo” do Il um inism o. M esm o a ss im tro uxe el e c onsigo, com o tam bém a R evolução F rance sa, consequências imp ort antes que Webe r, se le vado am ani fest ar- se, pod eriadesignarcom o progr ess o. Jáa suaprópria concep ção de ci ência pod e s er co m preendi da co m o con ti nu ação do Ilum inism o, ainda que ti ve ss eque sedespe dir dasu a teleologia hist óric a ch eia deesper anças . A passag em q u e o se n h o r c ito u encon tra -se n a “ H istória da e c o n o m ia” de Web er . Pori sso , n ão pode eluci darde m od o ext enso a op inião de W eber so bre o papel hist óri co do Il um inism o n a m ode rnização. E i sto aind osporque W ebeinism r de fato e odaconsidera i rrFrael ev antncesesasa.consequên ci as econam ômen icas do Il um R evolução Ao contrár io, es tes játê m suaori gem n o desenvol vi m entoda sf orm asecon ôm icasm o dernas. E e ste desenvolvim ento con tinua depois em gran de parte indepen -
133
dentemente del rado a Marx,
es . Quase s e poderi a di zer que, ne st e pon to, m esm o com p a W eberé o m el hor teór ic o da força da determ inação econôm
i
ca na his tó ri a. Só que, para el e, a “ hi st óri a” nã o é um proc esso ho m og c neo em si e or ient ado por um fim , do m esm o m odo que para el e um a form aeco n ôm icat em out rasc ausashi st óri casalém daquel asquesedão co m o des envo lv im ent odap rodu çãom ate ri al deb ens .Queo Il um inism o som ente possa t
er continu ida de ren un ciand o a suas espera
deve- se ao fato
de qu e el e, no p rim eiro passo,
nças ró se as
de com põ e as anti gas
inte pre taç õe s do m un do, forç an do assi m o h om em , jáq u e es te r ec orr e a ta is inteqi retações tanto em virt ude de sua ra zão q u an to por suas esperan ças vitais, a distanciar-se da realidade efetiva de sua vida. Mas este dis tanci am ento tam bém lhe possi bil it a reconh ecer m ais c laram ente ess a rea li dade ef et iva e eventualm
ente f azer del a o fu nd am ento d a m aneira
co m o el e, po r u m lado, i m põe seus int er es ses e, por ou tr o, dá u m sent ido asu avida . Eu j á di ss e no com eço que a expres
Schluchter
m odernidad
são “ projet o da
e” n ão te m nece ss ari am ent e um a afi nidade el et iva com o
pen sam ento de Web er . M esm o ass im , após o se u com en tário aparece a questão: qu al era a po sição de W eber em relação a ess
e processo fata
que W eb er quer dize r que o Il um ini sm o e a R evolução F conseqüên
ci as nã o i ntencionadas de
ranc es a se ri am
um long o proc esso e que, u m a vez
que acontece ram , s e de va acei tá- los e tom ar um a po sição em el es ? Qu al é a su a op inião , senhor Off e? Offe Es te é um
aspec to qu e com cer teza se rá importante qu
sobre o d iagn óstico d a atualidade e as que
l? Será
st ões da ética polí
rel ação a
an do fal arm os tic a. M inhas
134
impressões d
a lei tura de W eber e das m últipl as te nta ti vas de inter pretá-l o,
cu jo n úm ero cresc eu m uito ult im am ente , tal vez possam se r r esumi das no sen ti do de hav er al go co m o um fat al ism o m etó dic o n a expli cação hist órica d a gênese d o raciona li sm o ocidental. Com
is to , W eber ocu pa
um a posi ção opost a àquil o que em M ar x é di to na f am osa pas sage m do “ 18 Brum ário” , ist o é, que a hi st óri a é “ fei ta” pelos hom ens. A e x p r ess ã o fa ta lism o m e t ó d ic o ” é m u ito in te ressa n te n e s
Schluchter
te contexto, e eu entendi que o
senh or quer assi m aludi r ao fato de que, em
Web er , n ão est á adequa dam ente determ e as c on seqü ências das ações. Mas eu
inada a relação entr
e as int enções
ach o justam ente i nte re ss ant e na
teor ia deW eber - eo senh orH enri ch ref er iu- seindi ret am enteaest e pon to — que ele m esm o, nu m a análi se puram ente hi st óri ca da econo nu m exam e que consci
m ia, i st o é ,
ente e unil ater al m ente coloc a o asp ec to eco n ô
m ico no pri m ei ro plan o, at ri bui um a si gnifi cação causal im u m fator al heio, ist o é, ao
ethosracional
port ante a
da con du ta da vi da. Evi den te
m ente, W eber achav a — e at rá s dis so est á a tes e desen volvida n o estudo sobre a éti ca prote st ante e o espíri to do cap it alism o - que est e on al d a con du ta da vida nã o apenas era um
dos fatore s co nsti tuti vos de ss e
dese nvol vi m ent o, m as tam bém que ti nha sua ori osa,equesem
ess a contribuiçãon
de circunstâncias à
qu al se deve a m
ethosraci
gem nu m a éti ca r el igi
ão te ri aacontec idoa quelaconcatenação odern idade ocidental. A t
es e, port anto,
n ão é j ustam ente es ta: que se devem com preend er as cond ições modernas a part ir de um a com bin açã o pecul iar de i ntençõe s econseqü ências não intencionadas das ações , um enr edo inabalável de conseq uên cias de aç ões ; prec isam ent e nã o se po de expli car e st a com bina ção co m o o fazia Mar x, mas ao contrário, cumpre distanciar-se do modelo simples segundo o
135
qua l os ho m en s f azem , si m , sua hi stó ri a, m as sob ci rcunst âncias que nã
o
escolheram? Henrich Pa
ra esclarecer
es te pon to, dev eríam os fazer algu m as d is tinçõ es.
Desd e que o c on ceito “ hist ória” sign if ica algo dive resgestae, e principalm
gra ndes espaço
ente des de que as expli cações hist óri cas abrangem
s de tem po, a op iniã o d e que os im pulsos hi st óri cos deci si
vos, e em grande m edida vi gent es, decorrem açõe s de indi víduos, tornou-se um
un icam ente de i ntenções e
a po sição si n gular raramente defendi
da. A fil oso fia da hist ória distanciou-se p
or int eir o dela, e ist o necessari a
m ente, poi s pr ete nde se r u m a teor ia do desenvolvi de seus processos pode ocorrer
rso d o qu e a narrat iv a,
m ento global da form
(si ngu lares ou cíc lico s). Nes te s processos, sem
que o s i ndiví duos causem condições f
a
dúvida,
avor ávei s ou tam bém
cat ast ró ficas para u m a regi ão, um pov o ou u m curt o espaço d e te m po. M as contra o proc
esso global n
poderiam fazê-lo acontec
ão ter ia m pod er ef eti vo, tão pou co qu anto
er em vi rt ude de sua intenç
pod eriam faz er ser ia a destrui ção do desenvolvi T am bém u m a teori a hist óri ca universal d
ão. 0 m áx im o que
m ento cult ural co m o tal . es se t ipo pod e part ir da
idéi a de q ue o decurso da his tór ia se fund am enta e m açõ es. Es tas açõe s po d em te r sujei tos i ndividu ais ou coleti vos. N a teori a de M arx, es te s sujei tos são as cl asses , em outras teori as são, p or exe m plo, os funda Estados e das reli giões . Mas as i nten ções des tes agentes devem
dores dos en tão ser
compree ndi dascom o uni médiumat ravé s do qu al se reali za a lei histó ri ca - ocorrais todeacord
ocom es sasi ntenç õesou em vi rt ude del asm as
em senti do contrário. Exis tem im portantes fi rência a s uje itos atuante
los ofi as da históri a form uladas sem ref e
s n a hi stór ia. M as tam bé m nel as h á u m suj eit o
136
d a hi st óri a,s ujei toqu en ou traoc asião,para distingui-l od o suje it oa gen te, chamei de sujeito de referência da história. Est e sujeito é aque la si ngular idade em que tod os os “ fenô m eno s” his tór icos gan ha m sua coe rência e specíf ica e dentro da qua l ou co m ref erênci a à qual se re ali zam os proces sos históricos propria m ente dit os. Sujeit os de referên cia nest e sent i do pod em se r a "cul tura” , a “soci edade” ou, por exem plo, aqui lo que Hege lcham ou de “esp íri tou ni ver sal ” . Ta m bém pode se r conceb idau m a fi losofi a da hist óri a que sup on ha u m a m ulti pli ci dade de semelhant es suj eit os e que, a part ir da interação del es , com pre end a a “ históri a" c om o um processo universa l s ing ular . M as s em elhantes f orm as de teori as não são caracte rí sti cas da fil oso fia d a hist ória, que, ao co ntrá rio, tende a ex plicar o p rocess o univers al a part ir de u m ún ico sujeit o e, dentro de st e suj eit o,com o univ ersal m entedete rm inado.Ne sses enti don ão há di fer en ça ent re Marx, qu e supõe u m suj eit o agent e, e Hegel , que apenas conh ece u m sujeito de ref erênc ia. M axW eber distanci ou-sedascon cepções da fi losof iada hi st óri a em to dase stas fo rm as. Éve rda deque el econ hece um ah ist óri adahu m a nidade,m as aconsi deraum processoquenã opodeser explic ado apar ti r deum al ei úni ca, dem odoquenem a“hu m ani dade”nem a “s oc iedad e” sã o s ujeito s de referênci a d a hist óri a. C om is so, sua ex plica çã o de proces sos hi st óri cos e tam bém a explic ação do desenvol vi m ento d a hu m an ida de ass um em um aform apoli gon al:m uit osf at or es eord ensd avi dae ngre na m -se de m ane ira di ve rs a. M esm o as si m, re sul tam de sua inte ração con stelaç e, em utod caso, de grandões relativam e alcance. Is entetoesté, r áveis, esult amaquuitail os devezes que a irr seuevers m íveis od o parti a o fi losof ia da hi st óri a, tom ad o co m o o fato fundam ental notáve l. Sem dúvi da,osf at or es decuja açãocon junta nasce m épocas p od em se rs ubm e-
137
ti do s, de algum a form a, a u m a t eor ia. M as nã o h á poss ibi lidade algu de esquem ati zá- los di ret am ent e ou nas époc as a que dão
ma
srcem n u m a
espéci ede ded uçã o históri co-fi losófi ca. C om es ta quest ão est á relacionad
a a outra: em
qu e sent ido, para
Web er, os ho m en s têm u m desti no h ist órico. Ele s e stão vin culad os às con dições de su não podem
a époc a. Mas d o saber d a inevi tabi li dade des sas con dições
ganhar algo co m o um envol vi m ent o num a or dem uni ve rs al
e com ist o t al vez u m a nob il itação de su
a si tuação ou
u m a justi fi cação de
se u faz er ou de seu conform ar-se. Sem dúv ida, qu em plane ja, part ic ular m ente n a área po lí tica, n ão deve perder de vi sta aquele desti no. M as e st e n ão “ con du z” a pesso a ta l co m o, n a teori a dos cicl os cult urai s de Spe ng le r, tam bém serv ir ia pa ra orient ar as a ções. Os processos verdad eir am ente his tóri cos t êm u m a inevi tabi li dade, tanto se apli ca ainda à própri
efet iva qu an to con tingen te (i sso
a raci onali dad e m od ern a). E po r i sso não podem ,
po r sua vez , s er objeto das inte
nções de agir
da qu el e qu e ven ha a p ôr em
prá ti ca sem elhante desti no. C om iss o, abre- se u m a m argem para o sujei
to agent e i ndiv idual :
dentro dos li m it es dos fato s fund am enta is i nalt erávei s po de influir s obre aform ad asordenaçõesd
avida e alc an çaref ei tos im prová vei sem fa vorde
in te re ss es ou coi sasa cu joservi ços ecoloca. Masa intençãod “ tr ansform ação das cond
eu m a radi cal
ições” leva inevi tavel m ent e a u m a polít ic a ca
tastrófica. Do p olíti co da catást rof e, que atua n a base de il usões, W eber di s ti ngu e o pr of et a, que pode conseguir
dar or igem a u m a nov a form ação
hi st óri ca, fazendo c om que ocorra u
m a revol ução ef et iva e ao m esm o
tem po hi st óri ca, não ap enas pa rci al e polí tica ( ain da qu e acon teça s em progn ósti co das cond ições qu e res ul ta m d ela). Mas as con dições m odernas
138
de vida f izeram co m qu e surgi ssem ti pos de coerção
m ateri al de ta l peso,
quenelasos prof et asvol ta dosparao utrotem aa lém da condutadav idao u da s in te rpr et açõ es da vida nã o apenas est ão cond enad os a o fr acass o com o tam bém a corrom per-se, sendo,
portanto, prof etas f alsos ou apena s pre ten sos .
Um a vez a ban don ada a teor ia h istóri co-fi losófi ca do desenvolv i m ento e n ão se pod end o deduzir da si tuação h ist óri ca um a ori entação para a aç ão hist óri ca propriam dev e encontrar
ente di ta, segue-s e a inda que a açã o ef et iv a
sua ori entação nã o apenas nest
no u tra coisa. Est e ra ciocín io nos levaria à teoria qu al ce rtam ente voltar em os m ais ta rd e. Schluchter
Es te é u m bo m m om ento para pa
a si tuaç ão, m as tam bém de valores de
W ebe r, à
ss ar à segunda ques
tão .
Pois aqu il o qu e o sen hor H enri ch aca bou d e diz er est á li gad o, eu ach o, \
co m outra idéia que se pode obs erva r nas obras de Web er . Trat a- se do dist anciamen
to de deter m inada form
a da teori a de evoluçã o que a inda
foi em grande part e defendida n o sécu lo XIX. A inda que seja assi m, W eber con h ece, ao m eu parece r, si tuações hist óri cas especi ais em que tudo d e pende das deci sões “ certas" de
suj eit os ori entados p or determ inados valo
res . Qu an do n est as situaçõe s
não se
esc apar a oport
unidade, e i
tom am as deci sões “ cer tas ” , deixa-se
sso para u m temp o m uito longo. D
ar ei para
ist o um exem plo dos esc ri to s pol íti cos de W ebe r que, ao m esm o tem po, se rá o pon tode parti daparao segu nd opass ode nossadis cus são . C om o sabem os, W ebe r ocupava- se nos ano s 190 5 e 19 06 de m anei ra m u ito i ntensa com para poder acom
ap rim eira revol ução rus sa . At é apr endeu a lí ngu a,
pa nh ar os aconteci
apresent ou então ao p úb lico científico se
m entos d o dia nos jor
nais r us so s. E
us re sult ados em vári os re lat óri
os .Est es sãoe m grand epart ede scr itivo s,m ascon têm tam bém passage ns
139
era que Weber che
ga a fal ar sobre o desti no d a m odernidad e e sobre os
po ucos m om en tosera q uees teseabr epara da rl uga ràs sit uaçõeses peci ai s dedeci são. Arevoluçãorus sa de 1905éparael eu m m om en tode ab er tur a. É u m m om entode abe rt ur a para a l iber dade m oderna,queconhecem os desd ea R evolução Francesa edesd easoutr asrevoluçõesdem ocráti casn a trans iç ãod o se' cul oXVI II parao XIX.Es tali berdadeéu m valorqu ena sceu naq uela ép oca e sem o qual hoje n ão p oderíam os m ais viver . Mas e la precisa sei m por;precisam osdefend ê-l a e lut arporela.Es ta l ibe rdaden ão cheg as imple um desconenvform ol viemento ôm ico ou qua lquer ou trosmente desenaomvolviunm do entograçsem asasujeito a leis. Cieconto esse texto: Ao contrário: p or m ais que a luta por estes valores “ in dividualistas" da vida te nha que contar a cada passo com as condições “ mater ia is ” do ambient e, sua “ real izaçã o” não poderia s er deixada a cargo do “desenvolvimento econômico”. Seriam hoje péssimas as chances da “ dem ocracia” e d o “ indi vi duali smo” se pus éss emos nossa confian ça de el es se desenvolve rem n o efeit o “ con form e a leis” de i nteress es materiais. Pois estes interesses assinalam inequivocamente a dire feudalism am eri cano, as cham adas “ in s ção oposta: o bmevolent tituições beneficentes” alemãs, a constituição fabril russa; por toda parte, a carapaça da nova servidão já está pronta, som ente está esper ando o mo m en to em qu e o re tardamento do “ progr esso” técni co-económ ico e a v itór ia da “ re nda” sob re o “lucro", em conexão com o esgotamento do solo ainda “livre” e dos mercados “livres”, tom ará as m assas “ dóceis” e di spo stas a n ela vi r m orar def ini tiva mente. Ao mesmo tempo, o caráter cada vez mais complicado da econo m ia, a “estati zaç ão" ou “ m unicipali zação” par cial, o tamanho
140
te rr itori al dos pov os cria ca da vez m ais papelada, m
ais especial ização,
divisão do trabalho e treinamento profissional na administração...' C om es ta passagem
po de m se r i lust radas dua s coi sas: a si tuação
especi al em qu e m uito, o u ta lvez tudo, dep end e da inten posta em
prát ica, e os entroncam
entos de vi
as que d a í res ul tam, tanto em
term os posi ti vos qua nto n egati vos. A ideia da liberdade m lizadan u m asi tuaçãohi
ção de suj ei to s od ern a foi rea
st óri cae spec ial em que oshom ens ficaram ,por
assi m di ze r, de ca be ça p ar a ba ixo. A liás, é inter essante qu pon to, atr ibua atenção especi
al à R evoluçã
e W eb er , nes se
o France sa e ao Il um inism o,
além da qu il o que já ou vim os a est e respe ito. M as o de ci si vo é q ue, para Webe r,f oiu m aconstel açãosingularem na , e é i m provável defender-
que nasceuess
al iberdadem
oder
que con si gam os ou tr a vez j untar t odas a s f orças para
nos contra
as tenta ções de um
eram es tas f orças? Eram
a n ov a carapa ça da servi dão. Quais
, além das j á m en ciona da s, ent re out ras , as f orças
da ci ênci a, que, em con ju n to com
o desenvo lvi m ent o do capit
al ism o
prim iti vo e da sit ua ção de m ercad os abert os, eram indis pensávei s para es tal iberdadem
ode rna .M as, qua issão asconseqü
ef ei to tr ouxe a ci ência? Trouxe o efei
to da con
ênciasf atai s?Queo utro
form açã o raciona
l d a vi da
ex te ri or , ao m esm o tem po qu e sem dú vida dest ruí a i nú m eros out ros va lo res.Di ss ofazpa rt e tam bém ad est rui çãoda exi st ênci ah u m an acom plet a, da personal idade unive rsa lm entedes envol vi da.E m seu lugarap ' -1 espe ci al ist a, o h om em profi ssi onal, are dasf unções.M
determ ina
as seasi tuaçãoée st a,pod e aindase rrom pida?O ndefi cam
as abe rt uras nas q uais pode
surgi r a lgo no vo? A rev olução russa
se tom ad o um ad el as , m as i ss oacabou n * N. d o Org .: W eber,
d u çã o do indivíduo a
arecem o
ãoocorrendo.
po d eria t er
Pod em os aguardar
Estudospolíticos Rússia 1905 e 1917. R io de Janei ro: A zougu e, 2005.
*
141
out ras ,h averáoutr
asn o futuro?Ist
cond ições m odernas e cou o desenvol
on oslevaà questãod
od iagnósticodas
, m ais al ém , à per gunta de com o W ebe r dia gnost i
vi m ento de ste proce sso um a ve z i nici ad o, nã o qu anto a sua
determ ina ção p or ce rt as l ei s m as sim qu an to a suas tendências cia é , port anto: o p arad oxo d a racionali
zação. O
. A re fer ên
u p odem os pergunt
ar
tam bém : er a W ebe r u m apologi sta de sse s desenvol vi m ento s - a passa gem parece di
zer o con trário—
o u seu cr íti co, e qu an do sim , em que sen ti do?
Offe Eu
gostari a de vol tar a def ender sum ari am ente a fórm u la “ fat al is m o m etódico", ce rt am ent e ousada, a des tac á- la com o m oti vo dom inan te para W eber contra o
“ ati vis m o” que apare nte m ent e s e m an if estan o te xt o
cit ado e qu e tr anspar ece cl aram ente, n outros pon tos, na s m an if estações e avali açõespolí
ti casdeW ebe r. Vej ou m passodeci
tam bém em m uit os o utr os pontos
si vo nes set recho (co m o
) n o f ato de que a própri a posi ção é
sub m eti da a u m a au to- rel ati vização. W eber diz, em outras pal avras: nós, hom ensm odernos,nã
op odem osm ais vi ve rs em esseconceit
ode libe rd a
de e, p or is so, tem os q ue reclam ar es te con ce ito de lib erdade, e ste con ceito liberal de li berdad e, con tra a queles fatos obj etivos da vida, a “ se rv idão” , a “ carap açad ura com que vieram
o a ço” etc ., com o el e se m pre a cham a,
a se for m ar . N o ní vel d a m odernidade
lut ar , t alvez desesperadam
ca rap aça d a
alc an çada , temos que
ente, con tra as con seq u ên cias dela e aproveit
ar
a h ora cer ta, assum ir a responsabil idad e e a gir poli ti cam ente. Est a é um a per spe ct iva a tivi sta, m as nã o te m sua ori gem - com o para M arx e na tr adi ção de He ge l - nu m conceito de pro hu m anidade,m corrente im
astem o carát er deu m arevo lta dem ati zpes so alcont raa
en sa e inest ruturada d
acont ecequesom
gr es so ou de r azão vi ncu lado à
a históri a. A po sição d e W eber é es ta :
oshom ensm odernosenã
opodem osp ens ar ev ive rs em
142
re cl am ar est e conc eito de li berdade. Aprend
em os a se r sens ív ei s à qu il o que
nos im põe a organ iz ação d o trabal ho em fábri cas, a organ iz açã o raci onal d o tr abalho,aciênciae
atécni ca,ab uro craciaetc.,
os exe m plos pri ncipais daq soci edad em oderna.M
uelas tendên
eestess ão ,par aWeb er ,
ci as dest rui doras d a li berdade d
as ess zpathosdeu m aresi st ênci ai nd ividualcon
aquel esf at osda vida qu ese tom ara m obrigaçõesé m uito i m port ante, que consti
a tra
, sem dúvida, u m pon to
tui tam bém o elem ento crí ti co na obra de
M ax W eber.
Schluchter
peculiar,
S enh or H enri ch, qu al é a sua imp
desse ape
res são d ess a am bivalência
lo a int ervi r ati vam ente po r um lad o e, p or outro , de st e
diagn ósti co d e u m proc esso que
parece avançar por
si m esm o, seguindo
suas leispróprias?
Henrich
As a n á lis e s d e W e b e r p e r m it e m v e r n a s c e r d e n tr o d e u m a c o n s t e
lação fun dam ental vári as tendênci as de desenvol vi m ento e perm item tam bé m qu esejulgu e se são des ej áve isseg un do po ntosd evi st a val orat ivos. Pois nã o h á ne n hu m a deter m inação hist ação con
óri ca uni ver sa l, m as apen as a
jun tad e fat or es em di reç ão a u m as itua ção glo bal e dentr o d el a.
A is s o c o r r e s p o n d e t a m b é m o fa to d e q u e se p o d e p o n d e r a r a p r o b a b ilid a d e des sas tendências de desenvol probabil
vim ento. E à valoração e pon
idade po dem seg ui r nã o apenas pro
de raçã o da
gnósti cos m as t am bém per s
pec tivas de ação e, co m iss o, apel os à ação. N ão t êm em vi st a nenh um prog ram aprof éti coou his tó ri co- univers al , m aspod em ser dei m portân ci adec isi vapar ao co nteúdo
hu m an od avi dan um aépoc a.
Q ua nd o u m a ép oca dá grande probabi que nela
lidad e a c er tas t endênci as
põe m em peri go a ess ênci a hu m an a, o im per at ivo de agir
te m
143
queadota
ra form adeum apel oa
às con diçõesdevi
opor-se.E Weber ach
dam odernastendênci
asdedesenvol
a qu e são iner ent es vim entoque,qu
an
do se i m põem , at uam n o sent ido de qu e pos si bi lidades da vi da hu m an a qu e f ora m liber adas j ustam ente nes sas con dições nã o se jam real izadas, m as a cab em per di das , se m qu e s e al te re co m iss o a con stelação hist
óri ca
fundam
sas de
ental . S egun do seu juízo, um
a des sa s t endênci as podero
des envo lvi m ent oc ondu zem di re çãoau m a n ov ase r vi dão em nos sa scon dições de vi
da. Nã o m e lem bro a go ra quan tas associ
ações hi st óri cas en
tr am n o d iscurso de W ebe r s obre a “ n ov a” ser vi dão. .. Schluchter
... a época i m peri al rom ana , o “ no vo Im pério” n
dom ínioptolom
aico-
em ge ra l,o Est ado de litur gi as , econom
m an ti do po rpres taçõ esi m postasa
Henrich
o Egit o, o i cam ente
grupos sel eci onados d aA nti güidade. ..
... c ert am ente tam bém o feud ali sm o pat ri m onial . M as a nova
ser vi dão qu e W eber tem e assem el ha-se m ais à egípci a do que à m edi eval , ai ndaque am basdese m boc as se m igual m ent en aexpl oraç ãoeconô m ica. A s e r v id ã o “ a n t ig a ” a in d a fa z ia p a r t e - o u p e l o m e n o s e r a s u s c e tív e l d e fazer part e- da inte rpr et açãodo dest inop orpar tedosexplorados;pod se r com preen didacom
o des tinoqu eri dopo rDeusou
n u m curso de vida que l
eva para além
porém , se ri a a c onseqü ência da rac ionalepuram passivo e isolad
ia
co m ofas etr ansi tó ria
des te m un do. A nova
form açã o co nti nu ada de um
ser vi dão, apara to
ente im pess oalaoqua l o ho m em acabapr eso sem saí da, o, co m seus i nter ess es de sust ento . C ontra est a si tua ção ,
opõe- se W eb er com um
pathosde l iberdade
pod i asurgi rde ntr o da scondiçõesde
que, nest a form a, som en te
vidam oder nas,m asdotadodeu
conteú do h u m a n o quen ão ér el at ivoaess asc ond içõesesp ecí ficas .
m
144
Percebem
os f acil m ente qu e es sa pa ixão de l ibe rdade nã o se s egue
pri m ari am ente de u m a d efi nição polí R evolução Frances liberdade polí bem claro que n
ti ca da liber dade . N o tem po da
a conceb ia- se a l igaçã o ent re a l iberdade hu
m an a e a
ti ca d a form a m ais í ntim a pos sí vel . Mas em seguida f icou ã o nec essar iam ente l iberdade polít ica i m pli ca tam bém
liber dade hum ana . Web er ,ao reconheceres
tadi fere nça, com preen de-a aom esm o tem
po de m od o di ver so do de M arx , que somente na li
bert ação econ
ôm ica vi a
com plet ar-se a po lí tica e, co m iss o, t am bém est abel ece r- se a hu m an a. A liber dade de W
ebe r é a da autodert erminação i
agir que ga nh asuaorientação inter pretaç ões d a vida e que
nd ivi du al, nu m m od o de
n ão das condições ef
et ivas m as de val ores e
, no entanto, deve dese nvolve r- se j un to co m
um a vi são im parci al da real id ade e em vi rt ude do con hecim ento pesso das rel ações, t endências e chan a l iberdade polí
ces objeti vam ente dadas. N
ti ca pod e coexis ti r com a perda da li
nes te s ent ido - nu m a sit uação em
al
um a soci edad e,
berdade hu
m an a
que o si st ema polí ti co fun ci on a ape
na s co m o o aparato m ais efi ci ente para equ il ibrar e est abil izar os outros aparatosque,por suaparte ,reali zam dem an eiram aisefi ci entea sa ti sf a çã o da s necessi dades; is to é, buroc racias e grandes em
presas. A circun stân
cia de qu e tam bé m as teori as neom arxist as pu dessem ref er ir- se a W eber deve- se a o fat o de q ue W eber vi a, de m od o sem el hante a Marx, a possi dadede que al iber dade polí ti case to m asseum am erafunção.Aom tem po,porém
bil i esm o
,W eber insi st iu n ac on exã o inter naentr e ali berdadepo
lí
ti ca adequadam ente orga nizad a e a possi bl idade d a l ibe rdade hum ana . M as el e n un ca recl am ou a li ber dade polí ti ca som ente porqu e s em el a a form a m ode rna da e co n om ia ent rar ia nece ssar iam ente em cr ise . El e vi u a possi bil idade d e que tam bém a li berdade polí
ti ca se i nt egra ss e n u m
145
si stem a de n ov a se rvi dão. M as a no va servidão,
pa ra e le , é algo intei ra
m ent e anti- hum ano. Schluchter
C om iss o, o co n ceito de progresso,
cu jo m últiplo si gn if icado
W ebe r exam inacom m aiorpre ci sãoem vári osl ugar esde suaobr a,tom ase bas tant e am bival ente. Por u
m lado, as con diçõe s em qu e pode surgir
ess a nov a cara pa ça d a servi dão pa recem se r de ta l natureza que sim m ente nã o se pode voltar
pa ra tr ás delas . E i sto n ã o n o sim ples senti do de
que n ão se po de desf azer o que aconteceu h se nti do de que aqu
ples
ist ori cam ente, m as sim n o
i nasceu algo qual itat ivam ente nov o, de m od o q ue a
nova ser vi dão s er ia de fato m
ai s do que um a m era variação da
se rv idão
ant iga. Es tas cond ições perm
an ecem dec isi vas , m as são ao m
esm o tempo
cond ições que n ão p ode m se r int er pr et ad as , de m aneira algum ti dodootim
a, n o sen
ism oli gad oa oprog res sono Il um ini sm oeno sécul oXI X.São
elas , ao c on trário, con
diçõ es q ue im p licam res tri ções perigosas, re
que, po r exem plo, põem em dúvida a p os si bi lidade de con
st ri çõe s
cil iação da
libe rd adepol íti caedali ber dadehu m an a- com o acabou dee xpo r,s enhor H enr ich- eis tocom oprinc ípi o. Henrich
Deve-s e m enciona r, ainda, que W
a l iberdade h u m an a propriam
eber realmen te nã o espe ra que
ente dit a possa tom ar-se , po r assi m di zer ,
u m bem decarát erabrangente, poiseladev ese rr eali zadap eloindiví duo co m o ta l, i st o é, deve ante s se r com preen dida de ta l m an eira qu e ocup e u m luga r em seu m od o de agi r ou o det ermine em suas açõe s, a pre sen tan do -se a ele com o possibi li dad e. Para Weber , est a poss ibil idad e parece es ta r em peri go.Eem facedasignif constantem
ic ação hu m an aque lheéine rent e,el ade ve
entese rlem brad ae conservadae
garantidapor
cer tasinst itui -
146
ções. 0 progresso que tem os que inici ar signifi ca, port anto, ao m esm o tem po, o i m pedim ento de u m re caí da, exi st ent e em germ e n a constel a çã o m ode rna . Ne ss e se nti do, o im pu lso à ação d e W eber n ão leva di ret a m ente a um futuro h is tór ico m el hor. P odem os diz er que se u diagnóstic o históri co lhe parec e f un dam enta r u m pessim ism o hist óri co. É possí vel obse rvar que is so anda em paralel o com um pessim ismo pesso al quanto à vi da, que tem sua razão n o seu próprio desti no pesso al, pessim ism o que, com o te ndênc ia fun dam ental , dom ina tam bém o ati vi sm o d e l ibe rda de de Web er , mas por m eio do qual el e s e l iber tou a o m esm o temp o do desespero e da resignação. A in d a vo lta re m o s a este p ro b le m a n o ú ltim o p a sso de n o ssa disc ussão. An tes , eu tenho ou tra pergunta. Q uan do lem os est a pa ssagem e podem os com plem entá-l a com out ra s pas sag ens da obra, por e xem plo , com o fam osof inalda“ Éti ca pro te st ant e” , te m osaimpres são - o senho r Schluchter
Off ej áind icou isto- de W ebert er vi st ou m atend ênciadedesenvolvi m en todeci si vadas condiçõesm odernas n o fa tode que,n o desenvol vi m entoda racion alização form al, po r assi m di zer , gastam -s e os press upostos pel os qu ais ela su rgiu pe la prim eira vez. E ist o ref ere- se tanto aos pressupost os m ate ri ai s- te m osaqu elaaf ir m ação,int ei ramenteanteci patór iadopo n to de vi st a at ual , de que o ca pitalism o m od ern o encontra rá seu f im nos lim it es d a e n e rg ia -, q uanto tam bém e sobre tudo aos pr ess upost os esp iri tuai s.Aper da liberdade tem po, u m daa per da de s entique, do.seg Vêci tada: a ci ência, que ant es er a um cesso pode r i ni ci ar- se, n ão est á em senti do. Arel igi ãopod efazê-lo,com
r v ir ,é,daaopassa m esmgemo seun istdo Wo naebconer ,estitánupoação a cond ição im port ante para es se pro cond ições de proceder essa ou torga de o sabemosde outr aspas sagen s,m as
147
no m elho r dos casos dentr
o de l im it es m uito est ri tos . Mas on de se en co n
tram en tão as res erva s i nateriais e sob retu do as espiri tuais pa ra opor-se à atraçãodessaf ér reac ara pa çad aservi dão,con traes sapetr if ic ação, co m o tam bém diz W ebe r? Ex iste apenas es sa op osiçã o pes soal , ess e “ m esm o assi m ” indivi dualis ta, ou exi stem tam bém re se rva s de tradição col e m ode los insti tuci onais aos qu
eti vas
ais pod em os reco rr er ?
O ffe Nã o se i a o certo co m o se pode descre
ver es sa at itude valor ati va de
Web er , pós-il urainista e céti ca em relaçã o ao progresso. E u pens o qu e, em Webe r, a s últi m as res er vas co m qu e se po de resi st ir con tra aq u il o q ue n os im põe a m oderni dade pode
m se r encont radas no ní ve l de u m a éti ca he
róicade cu n h o pessi m ist areferi daa personali dad e ea el ites.Gostari ci tar algum
as expres sões usadas nesse contexto, para
cam po de ass oci ações com
ade
ilustr ar qua l
que W eber aqu i t rab al ha. Na caract
é
eri zação da
“ética de respo nsabi li dade” tr at a- se de c on ceit os com o “ pa ixão” e “ gol pe de vist a” ; noutras passagens, t “força”
, “ decência”
rat a- se de c ateg ori as co m o “ m aturidad e",
, “ sel eção” , “ nobreza”
, “ gra ndeza” , “ qual idade da
exi stê nci a h u m an a” , “ personal idade” . Es tes são conceit imp ressão de u
os qu e deixam a
m sussu rr ar e xpress ivo , porque as norm as éti cas a qu e se
ref erem nã o sã o analis adas e expli cadas, m as apenas evocada ses sempre novas,
s em perí fr a-
perm an ecen do em sua essênci a i rraci onais e opacas. E m
out ras pal avr as: quand o lem os is to , nã o podem os c om preend er c laram en te po r que m oti vo alguém , em vi rt ude de sua “ responsabi
li dade", “m atu
ri dade” , “grandeza
a de faz er aquil o
m ora l” e “ nobreza”
qu e fez ou deixou de fazer de f
ato. Claro que o
fari a ou deixari conceito ob
scu ro d e ‘ ‘car is
m a ” tam bém fazpa rte dess al ist a. Por todaparte encon tram os r ef er ênc ias obstinad o-decidi da s a con vicçõe s éti cas cu ja srcem e essênci a obj eti va,
o
148
be mcom o osprincípiosem que s e bas ei am , fi cam sem n om e, s endo at é quase c aracte ri zados pela i
m possi bil idad e de no m eá -l as. P arece-m e que
em Webe r, n o lugar das cat egori as d e r azão e de progres te desm ontadas e afa
so, c uida dosa m en
st adas p or el e co m u m sarcasm o quase corro
si vo,
aparec eco m osubst itut oum tant o fracoess e ca tálo go ob scu ro de vi rt udes e caract erí st ic as pess oais m arcantes co m as qu ais W ebe r, sem dúvida, asso cia a lgo concreto, m
as qu e di fi cil m ente pod em ser general izadas porque
nã o p ode m se r rel aci onadas co
m princí pios g eneral izávei s, co m con he ci
m entos m orai s. Penso que
se t ra ta de um bastião éti co, m as de u m basti ão
frac o. Quem
W ebe r chega em
se ocupa com
al gum m om ento aesta
pe r
gun ta, t ão absurd a qua nto fasci nan te: o qu e t eri a aco nte cido se W eber ti ves se vivi do tr ez e ou qu atorze a no s a m ais? Se tive ss e ac om p an h ad o o processoded
estrui çãopreci sam entedes sas categori as,vend o-seobriga
com en tá-l o - cate gori as que consi m aturi dade, gran
deza, responsabi
do a
derava i nabal ávei s, co m o d ecênci a, li dade e tudo q ue est á vincu lado a elas ?
Em face d as práti cas das ho rda s nazi st as, pa ra as quais Karl
Kraus s en co n
tro u o be lonom e de‘ ‘subgangs ters do O ci den te", n ã oseri ael eo bri gado a reconstruir
to das as suas teor ias ? Nã o seri a força d o a sai r da so m bra de
u m a é ti ca ir raci onali st a d a personali
dad e e de el it es e a n om ea r os p ri n
cí piosf un dam entai secom preens ívei sque ai nda se pod em opo raosres ul tados fatai s de processos Schluchter
E ntãoo sen ho rdi ri a que as re se rv as ,tantoas cul
to as sociais, estão Offe
Sim.
de racion alizaçã o form al? turai s q u an
gast as; o qu e rest a sã o a pen as as reserv as pessoa is?
14')
Schluchter
A atitu de p essoa l c o n tr a as ten d ên cia s d e d esen v olv im en to,
n ofund odespr ovi dad efundam ento? Cer to , ela nã o tem fun da m en to e, p or i sso , n ão se pod e depos it ar m uit acon fi an ça ne la. Offe
Não m uitacon fi an çaporque tudodependeda al e não de um a regu lam entação insti tuci onal?
Schluchter
Offe
at itudepes so
Is so m esm o.
S ch luc h terN ar eal idade,deverí am osp as saragorapa raoutrotem a,i sto é,as propostasde W eber pa ra a reform a po lí tic a.P oi sprecisam ente nest e pon to e le apre se nt a- se co m o u m a pe sso a que tem u m con ceit o m uit o alt o da si gn if icação de reg ulam en tação insti tuci onal, ainda qu e cer tam ente n ã o atribuí sse às instituições aq u ele ethos que, po r exem plo, Hege l ai nda vincu la a el as em su a f il osofia do di rei to . El e te m u m con ceito m uito instrumentalista... Offe
É i ss o, “ de técn ica d o E st ado” ...
...das instituições, mas, não obstante, as regulamentações insti tuci onais são de im po rtân cia conside rável , pelo m en os pa ra asse gu rar a li berdad e po líti ca .. .
Schluchter
Offe
... na m edi da em qne “ criam ” dete rm inado
ethosde
elites.. .
150
Schluchter
... na s q u ais este
ethospessoal po
d e tornar-se
efet ivo.
As in stitu içõ e s q u e W e b e r d e fe n d e , p o r e x e m p lo a q u e la s d a d e m o c r a cia parl am entar , nã o têm , pa ra e le, valor éti co próp ri o, m as apenas u m a fun ção de m onitoram en to n a sel eção da s e lites. Offe
V a m o s p a ss a r n e ste p o n t o - já q u e e s ta m o s n o m e io d e le pa ra o tercei ro passo de n ossa discussão. M as ant es de ci tar de n ov o, eu gost ari a de dar ao senhor H enri ch a oport un idad e de tom ar posição em rel ação a o que o senh or Of fe aca ba de expo r. Schluchter
Bem , ch eg am os afi na l àqu ela quest ão, tão i nte re ss ante qu an to im port ante, à qua l se li ga tam bém u m a ob jeçã o sempre f ei ta a W ebe r. E o senhor Off e, a s eu m od o, f orm u lou -a com m u it o vi go r. Sobr e i st o, eu tenh o o segu int e a diz er: qu an do se part e d a idéi a de que é correto o Henrich
diagn ósti co da a tuali dade de M ax Webe r, qu an do se vê , portant o, que u m a re si stên cia - que de m odo al gum é c onse rvant ism o - to rno u- se um a tare fa tão essencial qu an to difí cil , en tão é de c erto m od o tri vi al a ev oca çã o das vi rt udes neces sári as para u m a resi stê nci a que n ão se fund am ente em son h os históricos ou utopias po lí ti cas. É verdade que est as sã o vi rt udes excep ci ona is.Ea ist o acresc enta-s e á ci rcu ns tân cia de que,se gu n do W ebe i; prec isam ente o Ilum inism o leva a con he ci m en tos que f rust ram m ui tas espe ranç as ess enci ai s dos hom ens. T am bé m o “ suportar " es se ti po de co nh eci m ento não pode se r com preend ido com o “si m pl es” vi rt ude que os h om en s po de m adqu iri r espontaneam ente. D aí re sul ta a i m pressão d e que a “é ti ca" de Web er, em con ex ão c om seu diagnósti co da atual idade, tenha assum ido tr aços de um a “ éti ca de eli te” .
151
P ercebendo i
st o, deve- se consu lt ar iniedi atam ente sua dou tri na
de valor es” para ver se es ta, com o tal , dis põe de u m a justif icação para u m a éti ca de e lites , em algu m sent ido especí fico. E ncontram os que a “ personali dad e” const itui u m con ceit o funda m ental del a. Ocor re que es te n ã o está definido secom
n o senti do de qu e a “ person ali dad e possa as soc ia r-
aconsci ênci ad epert encer au m ael ite.“P ers onali dade”jam
def inidapel apert inênci aau m grupo,nem e ainda m
uit o m enos por cr
porori gem ,f orm ação, tr ei no,
iação. N ão é o ge st o nem
un icam ente a “entregaa um a causa”
aisé
a at it ude , m as
que def ine o que c onst it ui a pe r
sonal i dad e” . N o f un do, nã o há na da que W eb er rej ei te de form a m ai s vee m en te d o qu e ati tude s egoís tas e pret ensões de
prestígi o qu e n ã o te
nh am seuf unda m ento em ca usase em açõe s re laci onadascom
dedicaçãoa conteúdos valo
rat ivos - ist o é , pr eci sam ente o contrári
um a con sci ênci a de e lite - cons t it ui conteúdos, em
ca us as . A
paraW
prim ei ro lugar , são norm
eber a person
o de
ali da de. Est es
as. E “objet ivi dad e" t em u m a
rel açãoí nti m a com ac larez ad osenso der ea lidad e. U m avi daquem
era
m ent epa s s a, s ead ap t a es e am ol dat em m ui t oem com u m com um av ida qu eq uerfug ir desi tuaçõ esa m orf asrel at ivasaprobl iss o,àm oti va ção,u san do co m o catapultao pret ensos ou apenas herdados, com a própri ar eal idadecom
em as,àv idae,com
sdi rei to sgeradose,
port anto,
fug ind o assi m do con fronto n
ão apenas
otam bém com qualquer
out ra .Cer tament e
a pers onal idade nasc e do esf orç o ínti m o, e em t odo caso el
a exi ge um a
clara “ orientação por valo res” que, co m o tal, de ve tam bém capacit ar a pessoa a “ suportar algo ” . M as os conteú do s pelos quais s e or ient a, na o pre ci sam , de m odo al gum , se r norm as que t enham
por c onseqüênci
u m aexclusi vi dade. Ja sp ers,ai nd aqu etardi am ente ,reconh
a
eceu n aob rae
n avi dadeW ebe rp rec isament eu m eno rm eesf or çoem proldanormali
dade.
152
A d is t â n c ia d e u m a te o r ia d e v a lo r e s d e e lite s f ic a m a is c la r a qu an do se vêem elêem ost ext osde W ebe r sobr eaorientaçãon
a at uali da
deem cone xão co m suasoci ologiadarel igi ão.Em pri m ei rol uga r, W eb er con h ece u m catálogo de vi rt udes si m pl es que “se com preen dem p or s i m esm as” . Mas q ua n do ch ega a f alar sobre a s possi bi lidades de agir
no
m u n d o m od ern o, ind ica doi s aspec tos : e st ar à alt ura das exigências coti diana s e exercerf rat erni dade.O correqu eest as sãod uas das vi rt udes que têm srcem em inte rpre tações rel igi osas d o m u nd o, int erpr et açõe s que out ro ra ,c om o indi fer enç aaom undo,com
o acos m i sm odoa m or ecom o
ét icapuri tanada cond utada vi da,eram den ature zaradi cal m enteopo s ta.Já e las m esm as, com o tai s, são conseq uên cias de proc essos de ra ciona li zação . M as h oje estão doutri nas de sa
pri vadas d o ap oio de vi sões rel igi osas do m u n d o e
lvação e, p or i ss o, tr ansf orma das. Am bas chega
normaspara
o co m port am ent oint ram undano,num
dif icado. Ass
im, est ão tam bém deter m inadas, em
pel as c ondições
de vi da m oder nas. Tam
ram a se r
se nt idoagor am o sua srcem
e form a,
bém exi gem cl arez a e “ aprum o
intrí nseco", i st o é, resi st ênc ia à “servi dão” , à m a n ipu laçã o p or ap arat os e à d ep en dê nc ia de inte res ses m ateriai s qu e sã o sat isf ei tos p or ess es aparatos — as si m co m o a concess ões m un da na s e à m oda . Exi gem , al ém di ss o, a c apac idadede lev ar um avi dacom cont eúdo hu m ano dem odo inde pen dente de interpretaçõesreli
giosasda vida .Nessesenti
m ente nel as a “ personali N o entanto, nã cond i ções m odernas
dad e". o são i dênti cas a o co n ceito das v
irt udes qu e as
de vi da exi gem . P ode-s e cha m á-l as de vi rt udes de
confi rm ação hu m an adentr oda s c on dições m las das v irt udes da op
do, reali za-sep recisa
odernas devi
osiçã o at iva e da perseverança em
res,t am bém exigi daspe lam odernidade,d
em aneirasdi
dae dis ti ngui-
con fl it os de v a lo fere nci adas.Mas
153
apes ar des ta di ferença,am bas est ão, em últi m ai nstânci a,n u m arelação de con cord ân cia. À dif eren ça das vi rt udes de con fi rm a ção , es tas out ras vi rtude sr equer em re al m ent etam an hoesf orç oqu es eaproxim am deum a form adecom portam en to he róicaou est ói co- di sc ipl inada . Am oderni dade gera confl itos - por exem plo, os c on flitos de con sci ên ci a d o po líti co ou tam bém do enam orado subm et ido a v íncul os i nst ituci onai s - que n ão en contram sol uçã o m edi ante t eodi céi a algum a, nem m edi ante qual quer descu lpa ou exp iação . Sem dú vi da, os predi cados “sim ple s” , “ cotidi a n o” egrup “ h eróo a ico ” difs erem e si. Mas, ão grupo, obst que ante,car consti acter tuemizamu m o q ual e opõ emm uito os pree ntrdi cados de oun tro u m com portam entoqueexi geapenasada pt aç ão, sem apo iar -senu m acau sa . A q u e la “ ca r a p a ç a d e a ç o ” d o m o d o d e p r o d u ç ã o c a p ita lista d a qu al W eber fala repet idas vezes , de form a tão im pressi ona nte, é vi st a por el e n um as pe cto dupl o: por um lado, com o u m a c on dição gl obal qu e m od ifi cou noss as con dições de vi da por u m tem po im pre vi sí vel , pois o si st emaj urídi cocon form an do-seàorgan ização econ ôm ic a, as bu rocraci as e as form asd ed om ina çã o vinculadasaes tas n ã op ode ri am ser des fei tas pelai ntrodu çãode u m a eco n om iaso lidári a.Es sa é aconstruçãoobj eti va dacar apaça.Mase st a carapaçade te rm ina ta m bém o m odo dec om porta m entoda quelesquen elat êm qu evi ver ,ei st o porqu eelasug er e- e quas e im põe - a “ no va se rv idão ” , nã o apenas com o depe ndênci a ef et iva mas tam bém co m o form adevida int rí nse ca ,m esm o naesf er a pr ivada, te ndo, m edi an te es sa quase i m posi ção, “ m u da do o semblant e es pi ri tual da h u m an idad e até tom á -l o qu ase i rreconh ecí vel. ..” . 0 fun ci on ário car ente de es pí ri to eo consum idorquepr ende ocora ção aocon sum odebe nsm ate riai s: e stes são m od os de v iver qu ese a com od am sem tensão à carapa ça, e ael esj un ta- se aind ao fugit ivointel ect ual,aque m esc apa, co m aevasão,
154
arel ação du pla parac om as coi sas,ocon da re al id ade.Assi m , ficaclaro
he ci m en todosval
or esea vi são
que,d apress ãod acara pa çaresult am preci
sam ente os m od os de vi ver di ret am ente opostos àqueles aos q n ao catálogod
up lodevi rt udes deWeb er.Acarapaçan
pensam entoi ndependenteeaa
uais se des ti ão apenasini
beo
çãopolí ti can ão adapt ada.I ni betam bém
a f rat er ni dade d a vida si m pl es e o cum prim ento se nsat o dos de ve re s na incon tom áv elvi da coti diana. M asentã op od e-se di zer ,n o senti dod eWeb er, ainda qu
e n ão sej a co m sua s pa lavras : o po lí ti co que rec usa a ad aptaç ão
at ua, co m ist o, tam bé m n o senti do de qu e a f rate rni dade e a sol si m pl es da vi da con ti nu em corresponden
do às condições púb
idari edade licas e que
nest as sej am encorajadas. W ebe r t em em alt a con ta es ta fr ater nidade , e exi ste m m uit as provasde
quee m suavidafaz
ia esfor çosconstantes
pa rareali zá-l a,sobre
tudo co m o grati dão ef usiva pel as m eno res c oi sas. Por outro l apel os do ti po “ irm ãos, ao so
l, à l iberdade” ele não d
ado, aos
á n en hu m a chance,
j á q u e te m c o m o o b je t iv o u m a c o n s t it u iç ã o e c o n ô m i c a b a s e a d a n a s o li dari edade. (P orém , as rei vindi cações polí ti cas e soci ais do m ov im en to dos tr abal hador esti nh am sua aprovaçãoesim
pati a.)
C onti nu a, todavi a, em pé a verdade de qu de W ebe r paraom
un do m odernoébidi
o de vi rt udes
m ensi onal .Ori gi nal m ent eanda
va de m ãos dada s com a raci onali zação tam m od o de vi ver eti cam ente o ri entado. Em
e o catálog
bém um a subl im ação do
se u tem po, W ebe r viu a subli m a
çã o rel egadaà áreadavida pri vada,ao passo que as vi rt ude s pu bli cam en te rel eva nt es est ão vi nculadas a u m a con sciência de confl it os pl ena m ente des envol vi da, assum
ind o com iss o aqueles t
raç os do heróic
o. T am bém na
vida pri vada, e i sso ond e q uer que se ex ij a p robi dad e intel ect ual , o co m portam entop ode es tar determ inado po r,ecarregad
ode,confl
it osde va lo-
155
res. E t al consciência supri m od o que é pou
m e a n orm ali dad e si m ples da vida, do m esm o
co pr ov áve l que j am ai s po ss a s e r um a f orm a norm al de
com portam ento.M asest abidi m ensio nali dade di fer eba st ant edeu m pro gra m ade criação deel ite sou de u m a éti cadeel ite s,na est ei ra deN iet zc he. Eag orade ves er fáci li m agina rareaçãodeWeber m ento propagad
a e prat icada pel o n acional- soci ali sm o. H á p ou co soube
m os p or Kar l Lowit h, qu e pertenci W eb er parasuas vaque
àform adecom porta
duasconf
somente M
a ao grup o de est udantes con vidad o por
erênci asem M unique, que, em 1940, el ejul ga
ax W eber se ri a cap az de re si st ir à i m p osiçã o n azist a e
suas pérf idas pr áti cas - que el e, pe lo m eno s n a un ivers idade ale m ã, at é pod eri a t er “m u da do o desti no l am entável’ ’. Schluchter
ainda ter
O com po ne nte decisi
em os que aprof
H enri chacab oudecham
vo ness e con ceito de personali
undar, parece s er a ci rcun stância arnoss aate nçãoparae
dad e, que - o senhor
la -deque, pa ra Web er,a
personal idade nu n case m anif est an u m aat itude, m as apenasnaentr aum ac aus a.
ega
A c a u s a , p o r é m , é a lg o s u p r a -in d iv id u a l. R e fe r e -s e a v a lo r e s q u e , por sua vez
, pret endem val idade. Nes te po n to surge todavia u m n ov o pro
blem a, e pa ra e le devem os diri gir nossa atenção. Tem
os, p or u m lado,
aquel aposi ção dur a,j áform ulad apel ojo vem W ebe r enu nca aban dona da,d eq ue u m aciên ciaem píri caeteóric
anad apossa dizer sobreque st ões
de valor es: o ch am a d o p ostulad o d a neutrali dad e valor ati va que, al iás, j á m arca u m a po sição v al ora ti va. C om es te postulado, W ebe r declara ao m esm o tem po su a ades ão a um va lor , o val or de um a ci ên cia l ivr e de ju íz o s v a lo r a t iv o s . T e m o s , p o r o u t r o la d o , o f a m o s o e n u n c ia d o d a c o lis ã o de valores, d
o co n fli to de val ores. Q ua l é a relaçã o entre essa teoria
da
/ 1^-
156
perso na lid ad e, cuj o c e n tro é a e n tre g a a u m a c a u sa e q u e ta m b é m leva e m co nta as condi ções i nstituciona is prévias indis pensáveis ao nasc
im ento de
certas con du tas de vi da, is to é , con du tas de vida conseq uentes e consis tent es, e estas du as posiç ões , d a ne utralidad e valorat iva, po r u m lado, e da colisão de valor
es, por ou tr o? Vo u fazer ou tra citação, d
esta ve z do en saio
“O s enti do d a n eutralidad e v alorati va das ciências soci m ica s” . D iz-s e ali :
ológi cas e econô
Poi s a tendên cia t ri vial iz adora d a “vida co tidi an a” , nes te senti do autêntic o da palavra, c onsi ste prec isamen te ni st o: que o ho m em que es tá vegetando nela nã
o tem con sciência des
ta m escl a, co n dicion a
da em part e psicológi ca, em part e pragm ati cam ente, de valor entr e s i sã o inim igos m ortai s e, sobretudo, nem del a; que ele, ao contr
es que
quer te r con sciênc ia
ário, foge da escol ha entr e “ Deus” e o “d iabo”
e da decis ão últi m a sobr e a questão de qu
al dos val ores em coli são
est á do m inad o pelo prim eir o e q ua l p elo segundo. O fruto da árvo do con hecim ento, de sag ra dáv el a t odo confort ine vi táv el , n ão é outra coisa
re
o hu m an o porém
a n ão se r i st o: sabe r daq ueles an tagonis
m os e, port anto, nã o pod er f urt ar- se a ver que cad
a a ção im port ante
e, m ai s ai nda, a v ida co m o u m todo nã o é para t ran sc or re r co m o um processo da n
ature za m as sim para ser con du zida consci entemente;
significa uma série de decisões íntimas, através das quais a alma, com o em Pl at ão,
escolheseu de
sti no, is to é, o senti do de seu fazer e de
seu ser.
Esta passagem , p ara com eçar, po deria ser interpretada no do sen hor Offe. Trat a-s e a qui evidentem
sent ido
ente de u m indivi dualism o herói-
157
co , de u m con ceito de person ali dad e qu e enf renta , po r assim diz m en te o cosm os das tradiçõe s culturais e i
er , di ret a
nsti tuiçõ es sociai s. P or i ss o,
po de dir ig ir- se t am bém con tra el as. D aí a prim ei ra pergunta, a H enri ch: i st o é corr et o? Trat a- se de u m a prova que ant es pelo sen
o senhor
ap óia a posição tom
ho r Off e? E, além di sso, outra pergunta: m
ad a
anifest a-se nist o
um ceti ci sm o radi cal , um pess im ism o? Ou ser á que contém
algo m ai s?
Há em W eb er al go com o um a fi losof ia pr át ica?
B em ,t em os aíum averdade ira profusãodeper guntas, eest am os no co m eço de um a ta re fa que exi gi ri a m uit o m ai s te m po do que nos
Henrich
re st a. “ Trivi ali zação d a vi da co tidiana ” , “ ca ir” na v ida coti diana , i st o é algo dif ere nte do “ es tar em con dições de enf rentar a vida coti dian a” . E es ta úl ti m a si tuação j á ocorre qua
nd o n u m a vi da n ão se im põe si m pl es
m ente o m od o de vi ve r con fonn e a “ carapaça contrári
o de u m m od o de v iver consci ente. No ent
con sci entização penetr todo com
de aço”
a at é a clara vi
. A se rvi dão é o
anto, qu an do essa
são d os f un dam entos ú lti m os de
portam ento, então tam
bém os confl itos de val or es deve m tor
nar -se det er m inant es . E quand
o um com portam ento s e tom a p ub lica
m ente rel evante est consci enti zação. Se
á su jei to a o im pera ti vo de n ã o f u g ir de ta l com preend em os a pas sagem que o senh
pela im pressão de seu f
raseado m
or ci tou n ão
as sim a par ti r de s eus passo s de a rgu
m entação, en tão aq uil o qu e parece ser u m a ori entação n o senti do do heroísm o é a si m pl es conseqüência do fat o de que , por um lado, n ão há arg um ent osem favor de um aconcepção do e que, por outr
harm oni osa da so rd ensdom u n
o l ado, o m un do m oderno
não exi ge e e st abi liza um
com porta m en to sub lim ado e ori entad o por val or es , m as an te s o inibe e põe em peri go. Es te m un do ge ra no lad
o subj et ivo o an tagonism
o ent re a
158
servi dão e o m od o de vi ver consci ente. E se is so ba st as se , em con ex ão com aq u ela te se, pa ra já falar de u program
m p rog ra m a de eli te s, e st e ser ia de fato ta l
a.Masde st am an eir anã opode m oscarac te ri zar adequadam
o m od o de pen sar de W ebe r. Es te não excl ui, em princípio, que t hom enspos sam e nc on t r ar ,àsua m anei ra,ocam vi ver consciente.
ent e
odos os
inh opara um m odode
W eber di ri a, e co m o so ciól og o tem qu e dizê-l o, que is to é
im prov ável . Ta m bém a m aiori a dos ét icos nã o considerou
a or ientação
práti ca p or valo res um com porta m en to m édio pr ovável . A lém di ss o, r esul t a das cond i ções de vi da m odern a, por m
ot ivos especí
f i cos , um a
im proba bil idade. M as temos q ue dis ti ngu ir ess a av ali ação de um
ape lo à
form aç ão de el ites, cu japrá ti ca.. . Offe
...com ofenôm
Henrich
Bem,com
en odem as sa s. .. ofenôm
eno de m as sa snão podes er i m agi nadaj ápor
m oti vos int rí nsecos. P ode se r, n o entan to, qu e de f ato W eber tenh a prop os to sua ét ica co m o te or ia de um m od o de vi ver de m inorias. .. Schluchter
C om o éti ca de m inorias, de f
nã o n o sent ido de que nem Henrich
to dos possam
ato, no senti
do da dif usão, m as
vivê- la à sua m anei ra?
Somente, de fato, isto explica-se do contexto. Não diríamos
ta m bém hoj eque “osbonsde m oc ra ta s”con ti nu am se ndoum am inori a? Eu m esm o gost ari a, n o entant o, que o pen sam ento de W ebe r tive ss e pe ne tr ado m ai s a d im en são de sua éti coti diana m oderna. 0
ca que trat a da f rat erni dade na vi da
que el e toca som ente em se us te xt os m ais con he ci
dos ,a s duasc onfer ênci asde M unique “ Polí ti ca com ovoca ção ”e “ Ciênc ia
159
co m o v oc aç ão ” , requer ref lexõ es ul ter io res em direção à ati tude intrí nseca des sa vi da coti diana fr at er nal , e t am bém quan to à sua rel ação co m a constituição política. Si m ,e upensoqueo an tagoni sm oqued esc obri m osna quelac itaç ão e n o q ue di ss e o sen hor H enric h é m u ito i m portante , e dá est rut ura a toda a dis cussão e recepção de W ebe r. É o an tagon ism o ent re o parcelam ento, a a com od a çã o oportunist a, passi va, nas ci rcunstân cias dadas da vi da, qu e fazem davida,por assi m di zer ,u m processod anatureza.Pe lo. outro lado, tem os o suportar au tênti co, consciente, daqu el as contradições in con cili áve is o u ri vali dades ent re orientações p or val ores . N ão h á d úv ida de que o senti dodest asegundap osiçãoéo queW ebe rpropõe,eem seudiagnóst ico da atual idade e em sua avali ação do p roc esso de m ode rnização el e nã o p od eria parti r da idéia de qu e essa ati tude ética p or ele destacada seri a prati cável po rt odas as pes soas .P roclam ou -ae ideal iz ou contratod as as Offe
probab il idades. Pod er- se- ia continu ar aqu i com a i nte res sant e per gunta: co m o estavam as coi sas co m o próp ri o W ebe r? E i st o levar ia a quest ões biográficas e até psico- históri cas, t ai s co m o foram dis cuti das po r M it zm an erecent em entetam bém p orH enni s.P oder- se- iape rg unt ar ,natura lm en te, co m vi st a ao nosso tem a “ Projet o da m odern idade” : exi stem out ras al ter nati vas, h oje m ai s com prom etedoras, àqu ela obscu ra ét ica de perso nali dade, al ter nat ivas que ainda terão val idade qu an do con ceit os co m o progr esso ,soci ali sm o,dem ocraci a,pa zetc .,jáperder am sua un ivocidade e pl ausi bi lidade norm ati va, com o presum e W ebe r? Q uan to à segunda de st as duas perguntas, eu ta lvez possa fazer u m a sugestão sucinta qu e poderianosco loca r em cond iç õesdevol tar at rat aram oderni dade,em sã consciência, co m o “projet o” e n ão apenas com o “fat al idade” . Estas uges -
160
tão r ef ere- se à reco n du ção ao n ível de u m a teori a po lí ti ca d aq uilo que W eber caracteri
za, isto é, a at it ude de u m a decisão
con sciente entr
eos
deuses e dem ôn ios em luta, e l eva àperg
un ta: quais
insti tuci onais em
m a gen erali zação des sa at itu de?
qu e ser ia provável u
Q uais sã o. as form as de con vivência e con seriaprováv
seri am as con dições
diçõe s inst ituci onais em
el que tal ati tude, dis posta a a ssum ir a responsabil
que
idad e, con s
ci ente das consequ ências e, m esm o assi m , n ão fun dam ental ist a n o sent i do de um
a ét ica de convicção,
m en os seri a de espera
m esm o que não “ at inj a a s m ass as” , pel o
r e poss ível em escala m
aior? Est a pergu nta n os
levari a a re ve r os es cr ito s de W eber de 1917 e a trabalhar novam tare fa al i form ulad a, co m apretensão, rad
ente n a
ic ali zada nest e senti do, de um
S oci ol ogia d a D em ocraci a e d a C onst it ui ção, dot ada de norm ati vo,paranossascondições busca, porventura n
a
conteúdo
at uai s. Tal proced im entoa cabariana
ã o total m ente inúti
qua is seri am hojeas inst itui ções adequad
l, de u m a res pos ta à pergunta: as para f om en tar e, usa nd o a
expre ss ãodeWeb er , para “ cri ar” no s ho m en s aque laat itu de ,qu e acabei de car acte ri zar, de u m éti ca po lí ti ca dis posta a assum ir a responsabil conscientedascon
seqü ência s?
S ch luch terM as se ráque am ensagem dest a expressão con cepçã
m ais i m port antequees
e a o m eu ver, ela e st á de f ato vinculada
o de I l um i nis m o - n ão acabará
au toconsci ência,ac
tá p ort rás
a determ ina da
se ndo e s t a: que a
laravis ãodos pr ess upost os últ im os d em inh ap osiçã o
e das pro vávei s consequên ta re fa que cabe a m
idad e e
ci as qu e t rar á para m im e para outros é um
im ac ei tar , com o ho m em ci vi lizado? E aqui t
a em os
ta m bém um a conex ão com a qu es tão, h á p ou co toc ada, da neut ral idade val orat iva. U m a ci ên cia da cult ura, qu e m edian te pesqui sas com pa rati -
161
vas de cult
uras abr e n ossos olho
s pa ra possibi
li dades d a co n du ta d a vi da,
poss ui um potenci al il um ina nte n o se nti do de que m e per m ite com pre enderospr
ess upost osúlt im ose asc onsequ ênciasdem
ção. Eu acr edi to que W ebe r descobri
inh aprópri aposi
u co m iss o um elenco m
uito i m por
tant e de u m projet o da m odern idade, a sa be r, o d a a utodeterm
inação,
m asn u m a defi niçãodi fer ent eda deKant ,queexi ge u m acl aravi sãoda s al te rnati vas e, co m ist o, do s sa crif ícios que precis o fazer a o sub ordinar-m
e
a deter m inad o deus, co m o ele di z. E a ci ên cia, parti cularm ente a ciência da cultura, qu e se m an tém con sciente de se us li m ites , qu e se del im it a a si m esm a, s erv e m edi ante o con he cim en to de fato s e a au toconsci ência a es ta claravisãoex
igida,sen
dop or is soindi spens ável .N ofam os odiscurso
“ A ciên cia com o profi ssão” , W eber decl ara, ao m
eu ve r, sua ad esão à
ciên cia nes se s enti do. N ão há dúv ida de que se pod e f azer us o dela para sol idif icaracarap
açade aço da n ova se rvi dão m as,s ecom preen didano
se nti doce rt o,éa om esm otem pou m dospou cos re cur so squen osre st am do Il um in i sm opa rau m novo es cl ar ec im ent o.
'
Hist óri a e natu rez a em Marx
Al fred S ch m i dt
P arao m ater ial is m odeM arx,adial éti ci sóépo ss ível co m o
método
.1A ss im, lê- se j á n a Ideologia alemã'. histórico Conhecem
os apenas
u m a ú nica ci ênci a, a ciência da hist
ória. A
história, considerada segundo dois aspectos, pode ser dividida em história d a nature za e hist ória d a h um ínidade. Ambos os as pe ct os, entretanto, n ão devem ser sepa rados ; enqua nto ex is ti rem ho m ens, hist ó ria da natureza e
Consequente
his tór ia do s hom ens con di ci ona m-se m utuam ente.1 2
m ente , em opo si ção ao velho Engel
pre ss a sobre a natureza “
em si ” sem pre com
afirm açõ es sobre a natureza est ça d o de su a a prop riação soci quai s os hom
grande cui
s, M arx s e ex da do. T odas as
ão rel aci onadas ao g rau res pect ivo a lcan al. C om isso , a s constel ações m utáveis pel as
ens se rel aci onam uns com
os out ro s e com a natur ez a
1 Problem a disc uti do porm enori zadanient e, co m o an títese à posição “o ntológica” de H eg el , po r Her ber t M arc use em Reason and Revolution—Hegel theRise ofSocial Tbeoty.Nova Y o rk , O x fo r d U n iv e rs it y P re ss, 1 9 4 1 . 2 Miga. vol. V , pa rte I, B erlim , 193 2, p. 567.
164
im plic am que n ão p ode se r si m pl esmente at ri buída à hi st óri a hu m an a u m a est m tura d ialét ic a u nif orm e. A dialét ic a ent re f orças p rodut ivas e rel açõe s de prod uçã o igual m ente não é, de form a a lgum a, a l ei do m ovi m en to da his tóri a, apes ar de n ão p oucas form ulações de M arx parec ere m ap oia r est a interpretação . Ele es creve emIdeologiaAlemã: Todas as col is ões d a história srcem n a co ntradição entre as for câmbio (
têm (. .. ) segu ndo nos sa c oncepção, su ças produ tivas e a form
a de i nt er
Verkehrsform). (...) Estas dif erent es condições, que prim
ram ente aparecem co
a ei
m o condi ções d a auto- at ivi dade, e m ais t arde
com o gri lhões da m esm a, form am em tod o o des envol vi m ent o hist ó ri cou m aséri eco nex adeform asdeintercâm
bio,cu jaco nex ãocons ist e
n o fat o de que n o lug ar da form a de int ercâmbio ante
ri or, que se t om ou
gril hão, é po sta u m a nov a, cor respondent e às fo rç as produti vas m ais desenvolvidas e com isso correspondente à espécie mais progressista da auto-atividade dos indivíduos, forma de intercâmbio que por sua vez tom a-se novam
ent e u m gril hão e então é subst
it uída po r um a outr a.
A “ sé rie c o n e x a d e fo r m a s d e in te r c â m b io ” to m a -s e , n o fa m o s o prefácio da a se Contribu içãopara a críticada economiapolítica, qu êncianeces sár iadasépocaspr ogr es si vasdaform ação eco n óm ico-soci al, do m od o de pro du ção asiát ico passand o para o anti go, de ste para o feuda o burguês. É f ác ila dem ostdeserarnvol que M vi marxento segue dem asil, edeste ada dif para icul dad e, o esquem d aqu a f il osofii, sema da his tór iad eHegel eq ueo cursod aH ist ór ia ef eti vaébem m aiscom plicado . M as M arx leva i st o em conta, sem por is so anular si m plesm ente s eu con ceito geral , em suas anál ises m ater iai s, cu jo con teúdo teórico ul tr a-
165
pa ssae m m uito o qu e e 'declarad
o nos program
e q ue foi sup ervalor izado p ela i nterpretaç incluin
áti cos Prefáci
o e Posf áci o,
ão de M arx a p art ir de então,
do a de Sar tre, que acredi ta pod er com preen der o m ateri ali sm o
hi st óri co m esm o s epar ado do con
teúd o da econ
om ia pol íti ca.
Tend opelaf rent eu m en orm e m ate ri alhist óri co-s oci al,M arxv êse em grande m edidaobri histór ico-fi losófico, e a
gad o aaba ndon ars eupri ncípi odeconst intr oduzir, tanto no
em su ap róp riaob rap rincipa
rução
Esboço d e O capital c om o
l, im port ante s di fere nci açõe s n oc on ceito d e
u m a d ialét ica his tó ri ca. Se a crit ica d a ec on om ia p olí ti ca apres ent a o processo de t rabalho pri m ei ram ente apena s em se us elem entos si m ples e ab stratos de trabal
- “ at ivi dad e conform
e um fi m ” , “ obj eto de tr abalho” e “
ho” 3 - e n a ve rd ade com
o “ cond ição nat ura l et er na da vi da
h u m an a e por i sso i nde pende nt e de cada for
m a des sa vi da, com u m a
toda s ass uasf orm associai s” , então n ã osetr at aapenasdeu m etodologicam d adif erençadom M edi dopeladet
m a abs tr ação
en te úti l, que op õe ao proce sso de tr abalho enqu
suas con fi gu raçõ es concretas e
an to t al
hist óri cas, m as t ra ta- se , ao m esm o tem po,
od od eprodu çãoburguêsc erm inaçãoconcre
m ei os
om oses tági os pré -burgue se s.
taqueo pr oc es sodet rab al hotom ac om o
especifi cam ente ca pit al is ta, adere -s e às form as qu e o preced
em algo p ecu
li arm en te an is tóri co e na tural ; s uas dif erenças desap arecem e as passa gens deu m paraooutronãosem
ost ram m ai s inequi voc am ent edet er m i
nad as p ela co n trad ição entr e f orças produtivas c res cent es e relações de p rod u çã o es tagnadas. A dialéti ca tem , p or as si m di ze r, u m carát er ele m entar” . N ão é à toa qu e M arx uti liza r epet idam ent e aexpressão b oli sm o” , co m a qual car volvi m ento, qua
act eri za i gu alm ente toda
nd o tem em vi st a apenas o p
'DasKapital, li vro I, B erli m , 1 95 5,18 6 ss .
“ m eta
s a s for m as de des en
roc ess o de t rabalho qu
es e
166
passa ent re ho m em e natur eza . C om ef ei to, c ad a form a dete rm inada des se processo ap “ abrandam
erfei çoa seus
entodasbarr
f un da m entos m
ater i ai s. M as o
ei ras naturai s” qued aíre sul taperm an eceapenas
quant itat ivo, e a at ivi dade hu m an a um a f u n ção m eram ente nat ura l, entr el açada com anat urez a;s om entecom a dom in ação da
apassagem paraocapit
nat ure za ganh a um a nova qual
ali sm o
idade: s om ent e ag ora o
processo de tr abal ho sobreo qu al M arxpr im ei ram enteescl arec eraque,de acord o co m suas deter
m inações ger
ai s, é o m esm o para todos os
est ági os
social,
soc iai s,tom a-se,em senti doest ri to , processodep rod uç ão paracuja análi se aqu el as determ inações ger ai s, co m o o p róprio M arx diz, n ão b as tam , e co m ist o s e apresent
am justam ente em seu c aráter abst rat o, cara c
te rí st ica s pa rao sestágio sespeci ai sd ap rod u çã o pré- burguesa. bé m a coop eraçã o capi tal ist a aparece n
o processo de trabalho,
eco n om ia c am pon esa his tori cam ente di ss ol vi da por ela ar tes ão si ndepende
Assi m , tam frent e à e à ofi cina de
nt es, nã o “ com o u m aform ahist óri ca espec ialdeco
oper ação, m as si m a pr ópri a cooperação com o um a f orm a peculi ar a o processo dep rod uç ão capi tal is taeespecif ic am ente dif erenciadorad es te ” . N o qu e d iz r espei to à coo p era çã o pré- capit ali sta, só se pode falar de
la da
perspec ti va d a coo p era çã o capit ali st a: Ela depende, po r um lado, da pro pri edade com prod uçã o, e por outro l
ado , do fat o de que o ind
u m das con dições de iví duo isolado tenh
se desl igado do cord ão u m bili cal da tri bo ou d a col eti vidade {Gemeinwesm ) , tant o quanto a a belha i ndivi dual da colm eia. De m od oan álogo, oq ueM ar x ch am adedi vi são nat ural d ot rab a lho n o inter ior deu m atr iboou deu m a fam íl ia depe ndedas dif erenças de
a-
167
sexo e i dade, ist o é, de “ u m fund am en to puram ente f isiológico” . A di vi sãodo tr abal ho adqui reum abaser eal m ent e soci alnam edidaem queos indiví duos- órgãoses pec iai sdeu m todoabs tra toporque “ im edi atamente soli dá ri o” - desli gam -s e un s dos outro s, i st o é, tom am -sepr opr iam ent e indiví duos. 0 surgim en toda troca deprodutosco m col et ivi dadesest ran gei ras éo m otivode ssa desagregaçãod a con exã on atural ent reo shom ens, paraaq ua las tesesdasociologiaorgani ci st avalem bem m ais do quepara o cap it ali sm o. Es tatrocae ' m ed iad ap elofatode que di fe rent escol eti vida de s no seu “ m eio natural” encon tram di fere nt es m ei os de produ ção e de vida: “ É est a diver sidade na tural qu e, pelo con tato d as col eti vidades, pro vo ca a troca dos produtos int ercam biávei s e , po r is so, a t ransform ação grad ua l de stes produ tos em m ercadorias” , at ra vé s d o que a con ex ão entr e os indiví du os se rest abe le ce, ag ora co m o históri co-soci al. M as enqu an to, co m o naspequenascol et ivi dadesar cai cas ,daínd iapor exem plo,am aior par te dos produt os é f ei ta par a o con sum o própri o d a com un idad e (Gemeindé) e m al se
conver te em prod uçã o de m erc adori as, a div isão do tr abalho, um a vez legal m ente f ixada, atua em gra ndes espaços de tem po co m a “ inviol abil idade de um a le i natural” , e a c ol et ivi dade le va um a exis tênci a co m o que an istó ri ca: 0 organismo produtivo simples destas coletividades auto-suficientes que se reproduzem sempre da mesma forma e, se por acaso forem dest ruí das são rec onst ruí das no m esm o lugar e com os m esm os nom es, ofer ece a cha ve do segredo d a imu tabil idade das soc iedades asiáticas, que contrasta tão extraordinariamente com a constante dissolução e t ransforma ção dos Estados asi áti cos e co m as i ncessan tes mudanças de dinastias. A estrutura dos elementos econômicos
168
fundam entais d a soci edade perm
anece intocad
a pel as te m pes tades
do m un do polí ti co.
Es te caráter na turalean
ist órico d ahistóri apré-burgu
especi al m ente cl aro n o ca pítulo te
esatom a-se
AoEsboço do
ori cam ente i m port ante
Capitalquese ocu pa das f orm as qu ea ntec edem ap rod u ção capi tal ist a. 4 O cap ít ulo m ostra que a dial éti ca (con form e a intençã
o de Hegel)
prec isa
passar pa raa his tori ograf ia,sen ão qui se rdeg ene rarem esqu em avaz io. Parte- se aqu i das con diçõ es h ist óricas da re pres supõe, po r u m lado, tr abalho livr e e sua troca
lação d e cap it al. Es te p or dinheiro, a fim
repro du zi- lo e va lori zá-lo, e po r outr o, a sepa ração descr ac im a do ind iví du o da im ediat idade natural da c
de
it a sum ari am ente
ol eti vi dade, que M
arx
ju l g a f u n d a d a n a “ u n id a d e n a t u r a l d o t r a b a lh o c o m s e u s p r e s s u p o s t o s objet ivo s’ ’,s m esm o que es saunidade edadeco
sej areal iz ada sob aform ad apropri
m u n alda ter ra ou dapeq uen apropr iedade livre: Em am bas as formas o
tr aba lhado r se re laci ona com
as condi ções
objet iva s de seu trab alho com o com su a propri edade (. ..) . O i ndiví duo relac iona-se cons su a real idade. Relaciona-
igo próprio
(. .. ) co m o se nh or das condi
ções de
se igu alm en te com os outros (. .. ) com o co-
p ro p rie tá r io s (...) o u p ro p rie tá rio s a u tô n o m o s a o s e u la d o (.. .).
Os indiví duos a inda n ão são “trabalhadores” , pois são at ivo s en qua nto m em bros d e u m a co let ivi dade, que vi sa m eram ente a s e m anter e
*
B erli m , 1 953, pp. * Publicado so b o títul oGrundrisse der Kritik der Politischm Ókonomie, 375 -413- N. doOrg.: Habitual mente citado com oGrundrisse-, docapítulo em ques tão h á edição brasileira: 1975. Formações econômicaspré-capitalistas, Rio deJaneiro, Paz e Terra, 5 Grundrisse, p. 375.
169
n ão p rocu ra a cr iaçã o de va lor . É porque M arx e st á con ve n cido de que o pas tor ei o éa “pri m ei ra form ad o m ododeexi st ênc ia”em queacom un i dade t ri bal aparec e m en os co m o re sul ta do do qu e com o pres supo st o da apropri açãodosolo (naverdade,pri m ei ram ente tem porári a). T om an dose osh om ens sed ent ár ios ,a m edidaem quees tacom un ida de ori ginári aé m od if icad a depen de tan to dos m ais di fe rente s f ator es natu rais exte ri ores qu an to da qu ali dad e na tura l- an tropo lógica da própri a tri bo. Se são at ivo s co m opast or es ,caçadores ou agri cul to res , ésem prea ‘‘horda ’’,‘ ‘acom u n ida de em sangu e, l íngua , cost um es” o pres supo st o m ais i m port ante para que el es s e ap ropriem das “ con dições obj eti vas de su a vi da ” . Nis to é decisivo , com o foi di to, que os hom ens s e r el aci onem co m estas cond ições de m odo n ão re flet ido , com o co m se uprópri ocorpop rol ongad o: A terra é o grand e labora tório, o arsenal qu e forn ece tanto o m eio de trabal ho quanto o m ater ial de t rabalho, e tam bém o lugar, a ba se da co let ivi dade. E les s e rel acio nam inge nuam ente co m ela com o c om a propriedade d a coletividade , da coletividade que se produz e se reproduz pelo trabalho vi vo. Cada indiví duo com porta-se com o pro prietário o u possuidor ape nas enq ua nto m em bro (. .. ) des sa cole ti vidade. Es sar el açã ofund am ent alpe rmanece int ac tam esm oond e- com o n o des pot ism o or ient al - as peque nas com un idades, m ai s ou m enos autárqui cas, est ão subordi nadas a u m a “u nidad e con centrad a” que s e apr es ent a com o o m ai s alt o ou m esm o co m o o ún ico pr opr iet ári o, de t al m od o qu e as com u nida des são reduzi das a possui dore s her edi tá rios . N a verda de, co m isso , o indivíduo tom a-se, d o pon to de v ist a j urídico, despro-
170
vido d e propri edade, i sto é, ap roprieda “pelaconces
sãodau nidadeg
ta co m opaidem m ediação d
de apre sent a-s e a el e co m o m edida
lobal- unidadequ
uit ascom un idad es- aosi ndiví duosi sol adosat rav és da
a c om un idade parti
cular ” . M as sem prejuízo
dade t ri bal ou com un alperm anece a bas te que, co m ef ei to , de ve coloca dis posi ção da “com soa,o que se
ee st área lizada n odéspo di ss o, aproprie
e da com un idad e auto- sufi ci en
r um a par te de sua pro du ção excedente à
un ida de m ais al ta ” , que f inal m ente ex ist e com o pes
expr es sa no tri but o qu e é pre st ado ou,co
m o d izM ar x,de um
m od o que reco rda a t eor ia de D urkhei m , “ n o tr abal ho com u m para a glorifi caçã o d a u nidad e, em part e do d éspota re al , em part e da tr ibo pensa da, de D eus” . A o se c o n s id e r a r a p e q u e n a p r o p r ie d a d e te rritoria l liv r e e , p o r ta n t o , u m a vi da das tr ibos or igi n ári as m ais m ovim en tada , hi stó ri ca, a col eti vidade o prim eiro pres supost o. Mas nest
ét
ambém
e caso, nã o “c o m o sub stân
ci a, d a qua l os i ndiví duos são m eram en te aci dente s, ou da qua l e les form am com ponen te spuram entenat urai s’ ’. 0 que agoraoc orre éque ao invés do cam po , a c idad e sur ge co m o lug ar e centro do s propr ietár ios de terra. E nquan to n a pro pri edade com
u n al ori ginária a al
dei a é um m ero
acessór io do ca m p o, aqui o ca m p o pert ence a o te rr itór io da cidade. Desd
e
qu e a t er ra em si n ã o apres ent e qu alqu er ob stácu lo a to dos os esf orços do h om em pa ra trabal há -l a, as dif iculdad es co m as quais a c ol eti vidade se defr ontapodem
apenasprovi
rdeo utrascol
eti vi dadesqu ej áocu pa ram a
ter ra ou qu e a dis pu tam à com u n idad e. A guerra, p or i ss o, é o grande
tr aba lho com un it ário qu e é obri gatór io, sej a pa ra oc up ar
as condi ções obj et iva s da ex ist ência vit al, se jap ara proteger ee a ocupação das m
tem iza r
esmas. Po r isso, a co m un a com posta de fam íl ias
171
pr imei ramente se organiza m il it arment e - com o ex érci to e m il íci a esta é u m a da s con dições de sua Q ua nto m ais a propri apenas pelo t
e
exi stê nci a com o pr opr iet ári a.
edad e ind ividual deixa d
e ser apr ove itáv el
rabal ho com u m , qu an to m ais a t ri bo per de suas quali dades
nat urai s pelo m ovi m ento his aparec e e deve apar
tó ri co, quanto m
ai s “ se u car át er com u m
ec er s obret udo co m o unidade
est á dad o o pres supost o para qu e os indiví
negati va” , ta nto m ai s
duos se tom em propri etár ios da
ter ra; en ist oacom un ida de orga nizad acom o Esta dopro te gees sa propri eda de privad a contra o exterior e a garan te no inte ri or . Se, sob rel ações tr ibai s sim ples m ente naturai
s, o indiví du o, na pro du ção de su a vi da, s e
re laci onac om ac om uni dadedom
esm om odocom
am at éri at er ra ou com se uou tr o- em am bososcas çõe s natur ai s da produ
ção - - então sua r
qua ntoco m aun ião soc ial ,cui a* ‘natureza”
oel es er el aci onac om ost ra ta- sed econdi
el ação tantoj çom a nature
za „
, em gra ndem edi da,j áéalgo
que veio-a-se r, ga nh a u m a m a ior vi tal idade di al ét ica: n a m edida em qUe se re lar ion ac om su apropr ie dade ,pri vadad a. ter ra, rel acio na-sea om esm o t empoco
m se u“ se r com om em bro dac om unidade”
t ém, m antém
a c om unidade e v
propri edade; a relação do rai s de se u trabalho dor
anto
os em an
ice -ve r sa . Por que a co m unidade -
aqui produto histórico, não apenas de enq ua nto ta l, e que port
, e enquant
“ já
fat o, m as t am bém reco nhecido
teve uma srcem" - é o pre ss upo st o da
sujei to t rabalhad avante é m
ediada
or com os pre ssupo st os natu “ pelo s er do Esta do” , com o
invers am entee st eém ediado pelaf orm adeterm
inadade propri edadedas
con diçõe s obj eti vas de tr abalho. A té o p o n t o e m q u e M a r x c h e g a , s ã o c o n h e c im e n t o s e s s e n c ia is para aq u estão d a es tr utur a di aléti ca dos estágios
pré- burgueses que:
1) em
172
to das as ci rcunstâncias
em que propri edade d a t er ra e eco n om ia agrári
a
form am a bas e econ ôm i ca, o indiví duo com porta- se em rel ação à t er ra com o a“ nat ur ez ai norgânicad nã oaparececom
e suas ubj et ivi dade ”- um aco n dição que
op rodutodo
trabal hom as queest
ádadaanter
e que 2 ) es te com po rtam en to prátic o do ind ivíduo que, ao c tar di o prol etár io nu n ca surge na a
ior m ent e; ontrário do
bst ração co m o tr abal hador, m as que
te m u m “ m odo de exi st ênci ao bj eti vo” n am ed i da em que di spõe dat er ra, desde o in íci o ém edi adop ors uaex ist ênc iacom o m em brodeum m ai s ou m enos subordinado
à hi st ór ia, um todo que,
pode fi nalm ente sai r des eu envol vi m entocom
to doj á
no entanto,
não
ana lureza^ enestam
edi-
d a é “ ani st óri co”. N ãoéaun idad edosh om ensprodut m etabo li sm o com a natureza, ela não
qu e nece ss ita, pa ra Marx,
é, por m ai s que se tenha
burguês, n
eu
de exp lic açã o;
m od ifi cad o n o d esenvol vi m ento pré-
en h u m resul tado d a hi st óri a: suas di ferent es fas es pe rm an ece m
ext eri ore s à sua essência natural
. O que à crí ti ca da e co n om ia polí ti ca
inter ess a, e o qu e ela q ue r expli car, é a burguesa,“
ivos ,com as condiçõesdes
separação tí pica para
a soci edad e
ent ree stasc on dições inorgân icasd aexi st ênci ahu m a n aeess a
exi st ênci a, u m a sepa ração qu e som ente n a relação ent éposta com
ri ad o e ca pital
re trabalho assal
a
plet am ente” . E scr avi dão e se rvi dão, pelo fat
de caber ao sujei
to at ivo ne st e ní vel , com o M arx di z, u m “ m od o de
exi st ênci a objeti
vo” , nã o conh ecem a separaçã
o do tr abalho de s
o
uas
condiç ões i norgânicas . A m bos os m om en tos f un dem - se m uit o m ai s nu m a bas e natural i nd i ferenci ad ae un itári a dos do no s de esc ravos ou senhores
feud ais , que conq
orgâ n ico” da t deprodução:
u istam escravos
er ra jun to co m es ta e os reduzem
e se rv os com o “ acessór a um fat or i no rgân i co
io
173
0 es cr av o não se encontra e
m nen hum a rel ação com
obj eti vas de seu trabalho; m
as o p róprio
es cr avo com o na do ser vo , é colocado com da prod ução, na sé ri e dos outros s
as condi ções
trabalho, ta nt o n a for m a do o
condição inorgânica
er es natur ai s, ao lado
do gad o o u
co m o apên dice da ter ra ( ...)• Frent e a i sso, o trabalha çã o capit ali st a, converte-
dor é l it eral m ente desna
turado n a prod u
se em “ cap acida de de trabalho n
ã o obj eti va,
pu ram en te subj eti va’’, qu e vê su a n eg aç ã o no s pres supost os del e ali enad os e cois ifi cados do tr abalho “ co m o v alor que é pa ra si ” . Para o capi tal , o tr abal hador nã
o é s eque r con dição de prod uçã o - é apenas
trabal ho,qu e éap ropriado a repr oduz por m
cim a d a tr oca. E , no entan
eio da tr oca e que se
indiví duosun sem rel açãoaosoutro
portador
de
to, es se todo que se
basei a no com pleto i sol am ento dos s,a “ con exã oobj eti vadesuaausên
cia de con ex ão ” , si gn if ic a u m progres so fr ent e às t ot al idades li m itadas local m en teebaseadasem
rel açõesde
Por iss o, M arx nã o procura natura l dos estági ideol ogi as neo-rom
depen dên ci apess oai sen at urai s. n em desf igurar o proc esso de vi
da
os pré-i ndustri ai s, no sentido i rraci onali sta, co m o o d as ânti cas, nem pensa em hi pos tas iar o j og o el em en
t ar ” al ter nad odo sm om ento s- a“ auto m edi ação danat ur ez a”- em que o tr abalho s e apr es ent a nec es sar iam ente ne sse grau, em m on ism o da nat ure za conceb ido àm aneira devi são dem un do. 0 m om ento es pec ul at ivo d an atureza ,6con ti do sem di scus sãon a suadescr iç ãod oproces sode traba lho totalmente ligado à natureza, que às vezes recorda a filosofia da nature za de Hegel e m esm o a de S chel ling, perm anece quas 6
e s em pre em
Sobr e os aspe ct os espe cul ati vos da qu il o qu e Marx entende por m etaboli sm o ent re h om em e Der Befriffder Natur in der Lebre von Marx, Frankfurtnat ure za, cf. tam bém m inha obra sobre-o-M
eno, 1 962, pp. 63-78.
174
sus penso .O con cei to de “ di al ét ica da naturez a” , n a m edida em
que pos sa
ser em pr eg ad o signif ic ativam ente, vale
capit ali stas
pa ra os processos pré-
li gad os àh istóri ad aproprie dade da ter ra,que est rutural m entesãosem lhantes àquel es q ue, j á an un ci an do asubjet
ivi dade hu m an a com o v er da
de m ai s al ta, p õem em confl ito com se u am bi ente o organ ou an im al. Na era pré-
capi tal ist a, a n atureza ci
lhad or e ob jeto a tr abal har perm
e
ism o ve get al
n dida e m suj ei to tr aba
anece “jun to a si" nest
a c is ão. N ão só o
h om em apa re ce com o u m m odo de e xi st ênci a orgânic a da nat ure za, m as tam bém es ta, desde o iníci o, aparece
co m o “ exi st ência i n orgâ n ic a de si
pró pria” .7Esta identi dade abs tr at a de h om em e natureza,t na “exist ência m eram ente natural”
8 do tr abalho, e
alcom o exi st e
st á desobri
gada de
todo o social , de ta l form a qu e el e de ve se r reali zado co m o “exp ressão vi ta l e prova vi ta l’’ tam bém por hom m em an orm alm ente isol
ens ai nda n ão so ci ai s. Ta m bém u m “ h o
ad o” dependeri
a de le. N a ve rd ade , n ão ter ia
nenh um apr opr ieda dedat erra . M as poder ia- com o osani m ai s- “con sum i- l acom o asubs t ânc ia” . M arx quer chega r aqu i ao s egui nte : todo confron to ent re h om em e natureza qu
e ul trapass a as form as an im ais rudim
quadros de u m a form a detenninada de so
entares acon
ci edade, m as cada u
form as n ão é “s oci eda de” n o senti do de sociedade bu
tece nos m a de ssa s
rguesa, de soci edade
par excellence.P or isso M arx e vit a ess e con ceito a respe ito das relações
pré- burguesas (q
u e e le, co m o vim os, pre fer e desi gna r com o “ col eti vi dade
na tural”, “tri bo” etc. ) o u se rv e- se del e nu m sent ido i m próp ri o. P orm u ito válidaque sej a adif erençaent redad on aturaleo qu ehist ori cam entev ei o a se r pa ra as di st intas f as es da histór 7 Grundrisse, p . 763. 8 Das Kapital,livro III, Ber
lim , 195 3, p. 8 6 9 .
ia b u rgu esa - M arx observa repe
175
ti dam ente que m
esm o toda s as form as natur ai s são “ re sul tados de proces
sos hist óri cos” 9- , m esm o assim ec on om iaes cr avi st aantigaef
a di ferença ent re despoti sm o asi át ico ,
eud ali sm om edi evals edes vanec e,enq ua n
to relações determinadas pela propriedade da terra, frente à sociedade burgu esa, cujo
apa reci m ento est abel ec e um a ces ura hist óri co- m un dial .
P or i ss o M arx pode expri
m ir de m od o lapi dar na
Crítica da economia
política: Em todas as formas em que reina a propriedade da terra, ainda a rel ação na tural é p re d o m in a n te . N a q u e las e m q u e o c a p ita l re in a , é p re d o m in a n te o e le m e n to so c ia l, h isto ric a m e n te c ria d o .10
A r e la ç ã o e n tre o n a t u r a l e o s o c ia l, n o e s t á g io p r é -b u r g u ê s , r e c a i ■ n o grand e contexto
da naturez
tange à natureza aind
a, e n o est ági o burguês,
m esm o n o que
a nã o a propri ada, reca i n o con texto d a hi st óri a.
C onseqüentem ente, na investi gação d a propri edade d a te rra , M arx pr oce de de tal m od o que, ao com pa rar u m a sé rie de t ipos geografi cam ente se parados, co
m o os ori entai s, su l- am ericano s, esl avos, germ an os e anti
gos, a q uestão da sucess
ão
temporalpassa t ot al m ente para o
plan o. As di fe rent es form as de col eti vidades pr natureza em
H egel - justapõem
ligadas . S om ente ao o
segun do
é- capi tal ist as - co m o as da
-s e co m o exi st ênci as i ndif ere nte s e des
l ha r t eóri co reve l a- se a m od i fi caçã o de um a
9 Grundrisse, p.396.Asf orm asqu eantecedema social izaçãoda produção capi tal ist as eproduzem es erepr oduzem no tempoe,ne st amedida, têm um ahi stó ri a (dom esm om odo queanature za pré-hu m an atem u m a hi st óri a ext eri oràsuaessência), m asn ãosã ohis tó ri a, porquesuascondições obj eti vas e subj
eti vas de exis
tência nã o se dest acam do todo natural para tom
hu m an oshi stór icos. 10 Zur Kritik der Politischen Ökonomie, B erl im , 195 1, pp. 264
ss .
arem -s
^produtos
176
form a, sem que f oss e res ult ado des ta co m o seu m ais alt o desenvolv i‘'Vi m ento. 0 curso da his tó ri a é, portant o, para M ar x, m uito m enos * li near do que s e s upõe com um ente; e le nã o seg ue nen hu m a i déi a com senti do u nit ári o, m as com põe -se de proc ess os i ndivi du ali zados que s e dã o perm anentem ente . À fo r m a ç ã o s o c ia l b u r g u e s a c a b e , n o m a te r ia lis m o d ia lé tic o , u m pap el m etodo logi cam en te deci si vo, n a m edida em que, a part ir del a, tanto o passad o qu an to as po ssi bi li dades do futu ro deixa m -se c apt ar. M arx ’ pod e se r conside rad o tudo, m en os u m si m ples evoluci onist a. Na v erda de, o histori cam entesu periorf un da -sen o inf erior;adi ver si dadeq uali tati va do inf erior frent e ao superio r que d el e r esul ta é n o entanto som en te com preendidoqu an do es tes edese nvol veutot almenteejáse tom ou objetoda crí ti ca im an ente: A anatom ia do hom em é um a ch av e p ara a anatom
ia do maca co. O
que n as es pé ci es a nim ais i nfer iores i nd ica u m a fo rm a superior s
ó
p o d e, a o c o n trá rio , se r c o m p re e n d id o q u a n d o se c o n h e c e a f o rm a supe rior . A econ om ia burgues
a f ornec e assim a chave da eco
no m ia
da Anti gi ii dade et c. M as d e f orm a algu m a à m ane ir a dos econom tas, que confun dem to das as di fer enças his tór icas e veem em
is
todas as
formas de sociedade a burguesa (...). 0 chamado desenvolvimento hi st óri co basei a- se em ger al no fat o de que a ú lt im a fo n n a consider a as form as passadas com
o est ági os pa ra si própria, e des de qu e rara
m en te é cap az de cri ti car- se a si p ró p ria (. .. ) concebe-os sem
pre de
m odo un il ateral (. ..). As si m, a eco nom ia burgu esa chega à co
m pre
ensão da feudal, antiga, oriental, tão logo tenha começado a au tocrí ti ca d a soci edade burguesa.
177
0 que, de m od o tão excep ci on al, conver te o capital ism o em pri n cípio de ex
plicaçã o d a hist óri a passada e futura é a
sua p rópria hist
circun stância de qu
óri a desf az defi nit ivam ente, e ap enas co m el e, sua “ pri
m eira” natural idadee passaparao Se a an is tor ici dade pecu
“ m ovim en toa bsol utod ovir -a- ser ” .11
li ar do desenvolvi
m ento pré-burguês ocorre
u por
que aí a s cond ições ob jet ivas do tr abalho - se u inst rum ento com m at er ial - ai nda não natureza pre
e
são o produto do tr
vi am ent e encontr
o seu
aba lho, m as si m a t e rra -
ada, da q ua l tam bém o suj ei to at ivo e a
col eti vidade a que pert ence , de fat o, n ão saíram entã o es tas con dições de p rod u çã o subj et ivas e obj eti vas convertem -se dor avante em algo criado pelos at or es d apróp ri ahis tó ri a.Todasas co m o d ete rm inadas pel
rel açõesaprese
ntam -s en ã o m ais
a natur eza, m as co m o pos tas pela soc iedade. As
si m ,t rans for m a- se ta m bém aeconom
iaag rá ri ae m um ram odai ndús
tri a. T om ad o capi tal ist a, o propriet ário da ter ra t ransform “ tr abal hod ate rraque, con form esuanature diata de sub si stênci a, em fonte de subsi
za,apar ec eco m ofonte im e
stênci a m ediada , dependente a
, kforma socialdo processo de tr
na s de r elações sociais”
tom ou re leva nt esom ent eco m aecon om ia burguesa, conteú do m ate ri al que, com o ta l, pareci a i gual e com for m aseque agorase m ost ra em suadeter m inaçãoabst especif icam ente p ré- burguês. Inversam
a o próp ri o
ente -
pe
abalho, qu
e se
re per cut eso bres eu u m a t oda s as ra ta- nat ura lco m o
e ist o si gn if ic a: a i lusão
m an i f est a- se por s e u l ado m es m o com o i l usão - , aqu el a m ate ri al idade abs t r at a do proce sso de prod uçã o que é com u m a t oda s as f orm as de produ
ção t or na- se i dênti ca ao au
tal que f orm a seu
conteúdo}1
11 Grundrisse, p. 387. 12Sobreessadi al éticaf orm a-conteú cf. Grundrisse , pp. 21 1-13 .
do,decisi
tom ovim ento do cap
i
vapara a constru çãod acríti cada eco n om iapolít ica,
178
M ar xnã o gl ori fica, co m o m encionam objet iva dos m corr espondem
os,asu jei çãosubj et iva ou
od os de pr od u ção p ré- capit ali stas à natureza.
Vê que
nece ssa ri am ent e “ au m desenvol vi m ento das fo rças produ
tiva s hu m an as apenas m ai s lim itadoepor si ste m a capi tal ist a, cu ja negativi
princí piom aisl im itad o". Eo
dade justam
ente nã o é m enosprezada
porM ar x,s ignif ica“ tant oum arevol uçãoto talcom ou m des envol vi m ent o da prod ução m ateri al” . 0 preçod isso équ e anatureza
deixades
nh eci da “ com o força para s i” , é que el a s e tom a “ puro obj hom em , pura que
er reco
et o para o
st ão de ut ilidade” . Se , com o expli cam os, os m odos
m ai s ant igos da m ediaçãod
anature
zaf oss em fundam ental m enteosda
sua “ autom edi ação” , na m edi da em que o suj ei to m edi ador (com víduo ou co at o,então
m o col et ivi dade) perm
anece sse um ap arte do nat
am ediati dad ed an ature zatom ar-se-iaes
porq ue soc ial . Na ver dade, m esm o agora, a naturez m in ad a do trabalho h
u m an o, é ainda i
o indi
ural im edi
tri tamentehist
óri ca,
a, com o m atéri a de ter
rr edut ível à subj et ivi dade (soc i
al) , m as s eu “ em si ” é ai nda apena s um “pa ra o apar at o de prod uçã o” , que levaoprocessodan aturezaaum processoc ienti fic am enteori entado pela té cni ca, e qu e o funde na m aqu inaria e o desf tom á-lo ir rec onhecí vel , o que te m co m o conseq cresci m ento da produti
igura at é o pon to de üên ci a um ext raor di nári o
vi dade d o tr ab alho.* 13 D o la d o d o su jei to, a essa
radic aldesqu ali fi caçãod an aturez acorr espon dea redução d o tr abalhador paraex ist irapenascom ne ga ção de sua existência n ad o int ei ram ente pela s “ algo não objet
oprodu tor deva lordetro ca, o queenv ptaJ iatot a^ natu ral” , isto é, o fat o de que ele “est á determ i oci eda de” .14O traba lho tom a-se sim ples m ente
ivo” qu e, coincidindo com
13 Cf. a respeit o ta m bé m Das Kapital, livro I, 14Grundrisse,p. 1 59 -
a “ cor porei dade i m ediat a” do loc. cit.,pp . 40 4 ss .
179
t ra bal hado r, é “ algo nã oobj eti voem f orm aobj et iva” . D om esm om odo, ess a “p obrez a absoluta” pria” é aprecond
, ess a “ negati vi dade qu e s e relaciona co
n sigo pró
içãopa rao desenv ol vim entoun iversal dasdi sposi ções e
nece ssi dades hu m ana s. 0 capi tal repr oduz- se em escal a am pli ad a so bre a ba se produzida p or el e própri o: u m a vez hist ori cam ente desenvol
vi do, com porta-se para
co m se us p re ssupo st os co m o “ est ágio s his tór icos prévi os” e passados “ se u vi r- a- ser ” - est ági os “ que são superados na su ori ginariam
do
a exi stê ncia” . 0 que
ente a pa rec iaco m o os f un dam entos do seu vi
r-a- se r, apar ec e
agora‘ ‘com opost o porel e- nã oco m o condi ções des eunas ci m ent o,m as co m o resul tad osde suaprópri
areal idade” .Dess af orm a,co m o n osi st ema
capit ali staossi st em asq ue o precederam do seele,portanto,s parao seconom
edesenvolves
hist ori cam enteestãodes
obresu apróp ri abase,étantom
apareci aisfáci l
istasbur guese sda ép ocacl ássi caco nsi der aro capi talcom o
f orm aetem adapro duçãohum
ana.Tantoquant
os eucondi
ci onam ento
histórico lhes é pres ente, tend em a a prese ntar a s con diçõe s de seu na sci m ento com o a s da sua r eal izaç ão m om entânea, i s t o é , supõem com o dec isi vas para a si tuação que se capi tal ista aind
tom ou burguesa con
a n ã o pode agir com
dições sob as
o tal . N ist o s e expressa a di
de con cil iar a pr áxis nele rei nante co m sua con sciência teór
qua is o fi culdade
ica. Mas o q
ue
int er ess a a M arx especi
alm ente nes se contexto é a circunstân
ci a já m en
ciona d a e m etodologi
cam ente im port ante de que, parti ndo do si st em a
burg uês estabel eci do, cu jo ap arecim en to signifi ca u m sal to quali tat ivo, tant o a hist óri a pas sada com
o a f utura deixam
-se acl arar nu m m ovi
m en to de pen sam ento osci latór io. Sar tre fal a, pois, co m razão, de um m étodo “p rogr es si vo- re gres si vo” em M ar x,q ue naverda dejáes tá con ti do em Hege l.
180
A m e s m a a n á lise q u e d e te r m in a a s itu a ç ã o d a d a c o m o re la tiv a a u m pass ado que repousa at rá s del a m ost ra que a si tuação é ao m esm o tem po rel at iva a um “ m ovim en to s e f azen do ” 15que o trans ce nde: Se , por um
la do, as fa ses pré-burgu
esas aparecem
com o
apenas
históricas,isto é, como pressupostos superados, então as condições
at uai s d a produção apare
as e por isso como
cem com o as que sesuperam a si própri as que põem pressupostos históricospar a um
novo estado de sociedade.
D e tudo is to r esul ta que pa ra a teoria de M arx, cu ja pri m eira ' tar ef a, al iás, n ã o é construir a hi stóri a t ot al da hu m an idad e, m as si m ças tre aral ei do m ovim entoe con ôm icodasoc iedadem odern a, ar igor há apenas duas dial éti cas verdadeiram ente h ist óri cas: a da passagem m ais ou m en os revol ucionári a, con form e as r eal idades na ci on ais, da era an ti ga-f eud al para a burgu esa e a da passagem catast róf icali bertadora dest a pa ra a social ista. É claro q ue a ê nfase m ais pesad a recaisobre est a ú lti m a. Noss écul osda “ acu m ulaçã osrci nária” , jáem si det er m inados dem od oburguês,des tac a-s e,noseio dasoci edade feudal ,em aista rdeno sei o d o si st em a f euda l m od ifi cad o de m od o absol uti st a com a tr ans for m aç ão de dinh eiro e m ercad oria em capit al, a r elaç ão de capit al caracte ríseparaçã st ica paraoaabssocitr atedade rguesa co(co m o form a de vise) da, a dosbu t rabalhadores m o clas dosquemseeios baseia de prodna u ção ,ospr ess upost osobj eti vosdo trabal ho. U m aseparaçãoque, um avez introduzida, oferece o ter reno para “ o vi r- a-ser e, aind a m ais, a exi stência Grundrisse, p . 365.
181
do capi tal enquan to ta l” ,16na m edida em m os trar , ela se reproduz “ co m o a fdo sofiadahi
que , conform
n u m a escala semp
re cresc ente” .17 Para f al ar
st óri a:ad ialét ica “ el em entar’ ’, sum am ente ab st ra
ta d o de senv olvi m ento p ré-i nd ustri al, con cretiza-se n çasprodut
ivasedasrel
e M arx procura
açõesdep
o m ar x ism o.1 8A dialéti ca históri
a dialéti ca das f or
rodu ção, em últi m aanáli sedeci si vapara ca, qu e est rutur a o cap it ali sm o m ais
de per to , nas ce Ç co m out ras pa lavr as, de um a longal
iist óri a~r p T ?m
S i M .-ser ;77do qua l s ede vereal m entedi zerqu epa ss oup araa “ exi s tênci a” apena s qu and o os a ntagon ism os obj et ivosTqüe consti t uem seu con teúd o, cr esc eram ta nto que a p ossibil ida de reã n ê su a su pe ra- ~ ção é dem ar ca da, e quando al no s êm í dõTal
cançou
“ m at uri dade e grau ^m áxi m os,
ó gí ca de H eg el , “ nos quai s sua ruí na com eça ’’. 19 So-
m ent e nes t e m om en to tor na- se tam bém pos sí ve l u m a crí ti ca da econo m i a p ol í ti ca com
o crí ti ca da al iena ção, do f
d oria e da
o vir- a-ser (j á capit ali sta) d a rel açã o de capit al
desapar
ide ologia:
ece u nu m si st em a que agora pode
/
^
eti chi sm o da m erc a
s er obser vado n a sua pura
16 Ibid., loc. cit., p. 945. 17 Das Kapital, livro I, loc. cit.,p . 75318Certamen tesignifi cariatransporest adialéti capa raa pu ra m ecân ica,sesepre tend esse afi rm ar co m Robert He iss (Diegrossen Dialektiker des 19 Jahrunderts, Co lön ia-Berlim, 1963, p . 402) qu e, para M arx, “ h á um fator posi ti vo constante, as forças produt ivas , e um fat or negativo const ante, as re laçõ es deprodução” . N enhum m om en toda tot ali dade se m antém abst rat amente idên ti co. M arx m ostra (cf. Zur Kritik derPoliscben Ökonomie, loc. cit., p . 267)que a di alética do s conceit os força produtiva e relação de produção es tá su jeita a frontei ras de fi níveis, sem qu e por is so s ua “ dif erenç a reaTseja el iminada. E xat am ent e na m edida em que a rel ação em desenvolvimen to do capi tal , en quan to rel ação de produ ção, am plia e xtraor dinari am ente as rel açõesdem ercad oep rom oveacienti fi ci zaçãoda sseqüênci asdaprodu ção,porque ist oproduz um a cooperação qual i t at ivam ent e nova, é qu e el a atua não apena s com o “form a d e desenvolvimen to” n o interi or da q ual as forças produti vas pod em se expandi r, m as é, ao m esm o tem po , forç a prod utiva e, al iás, essenci al. Ao contrá rio, um a vez est abele cid a, cab e-lhe, na verdade, aqu ele pape l de entrave ao cresc im ento das forças pro duti vas acentuado p or M ar x. 19 G. W. F. Hegel, Wissenschaft rdeLogik, II, Ed .Lasson, Le ipzig, 1951, p. 5 22.
182
imanência.*
20 A isto M arx acrescenta, n
obscu ro dos
Grundrisse, o pensam
correta apenas qu
u m text o real m ente um ento de que
“ a exposiç
tant o
ão dial ét ica é
an do con h ece se us li m ites". 21 Se tnm arm m -n rnn reit r^
d e J ^ m çâ o 2 -œ m 4 e d a a ii g 2 r^ Ma r x lhe d á , is t o é, um r ig o r nã o apenas-li terári o, o m ie
sp
m 1er diz er a qu i é que o con ceit o de um ad ialéti ca
hist óri co-m ateri ali sta valeapen desenvol relações de
vi da e para a pré-
asn araas ociedadebu
burgu esa, n a m edida em
rgu esatotal m ente que est a an tec ipa as
tr oca. D et enha m o- nosagor
anom odocom
o M ar x encam inha o pr ob le
m a d a di al éti ca. E m prim eiro l ugar, é notável que, a
o contrário de En
gel s,
n u n ca ocor reu a M arx codif ic á-l a e or denar suas fonn as de m ovim ento, a natu reza e a his
tór ia, co m o esf er as de obj etos pen sados separadam
ente.
Desde o iníci o te ve um a rel ação real m ente crí ti ca com a dial éti ca. Apesa r de ve r nel a duran te t oda sua vi
da “sem dúv ida a últi m a palavra
fi losofi a” , sem pre sali entou a necess idade de
de toda
“ li bertá- la d a aparê ncia
m ísti ca qu e tem em H egel’ ’.22Está claro, pa ra ele, que
est a taref a nã o p od e
se r re al izada ao s e t ransm utar a di alét ic a em um con ju n to con fuso de at est ad os de u m a vi são d e m un do, m as si m ao se m os tr ar em porm en or co m o el a é i nere nte ao s pr oc ess os his tór icos d o m u n do h u m an o. Por i ss o sua recusa d o “ m aterial ism o naturali sta- ci entif ici sta ab st rat o, qu e ex clui o p rocesso h istórico”
,23de cu ja pe rspec ti va só p od em se r com pre en di-
20O fatodeao m om ento ine xi st ir um a crí ti care al m ent eecon ôm icado capi tal is m o- an ão se r al gum aspouca st en tat ivas - n ão se deve, em últim ai nstância,aofato dequ eosist em aana lisado porM arxf oip rej udicadoem suapu rez apel aexis tênci ad om un do comu nist a. ..Não fazs enti do, hoje,v er o si st em aori ental co m o um m erofa tor ext ernoquesem od if icaeatuam ecanic am ente. Co m o Her be rt M arcus e dem onstrou em seu est udo s obre o m arxism o sov ié ti co , na “de fi nição ” da sociedade oci dental entra a definiçã o d a ori ental e vic e-versa. 21 Grundrisse, p. 94 5. 22 M arx para Lassa ll e, carta de 51 /5/185 8, 23 DasKapital, livro I, loc. cit.,p. 389-
in: M arx e En gel s, Werke,vol. 29, loc. cit.,p. 56 l.
183
dos asquest ões eos res ult adosd a investi gação.Anatureza apenas n
aparecesem
pre
o h ori zonte d a hist óri a que, fal an do enfat icam ente, s ó pod e j /
ocorrer ao h om em . M as a históri a é, de início e práxi s, ta l com o as tes es sobre F euerbach de
im ediatam ente, práxi s. A 1845 já est abelecer am , é
ju s t a m e n t e o c o n c e it o m a r x is t a t e o r ic a m e n t e m a is im p o r ta n t e . A e le deve-s e vol tar sem pre se se quis er obter cl areza sobre o m ate ri al ism o em M ar x, e com
qu e se ch a m a de
que di re ito e ste m erec e se r ch am ad o de
dial éti co. Em op osição a todas as
exposiç ões do m arx ism o sovié ti co, o
m arxism o autênt ico nã o é ne n hu m hegeli anism o n atural izado que s
e
li m it a si m plesm ente a subst ituir u m subs tr ato on tológ ico, o espí ri to, por um outro ,am at ér ia.Ta m pou coé, co m o Plekhanov m eio da hist
procu ras ust ent ar por
óri a do pen sam ento, u m a “sí nt es e da dial éti ca de Hegel
nat ural ism odeFeue rba ch”.E ée vi de nt equenad u m acosm ologiam
íst ica, desenvol
ti dade. A essência do enq ua nto for int
e do
atenha em com u m com
vi daporB loch com
ofi losofi ad aide n
m ateri ali sm o de M arx con ti n u ará sen do falsi fi cada er pre tada apenas c
om o inter ior à fi losof ia, e at é com o
um a vi são de m un do al ter nat iva para u m ideal ism o da m esm a es péc ie. M asel e
é
ao m esm o tem po— se bem que ai nda m ot ivado f iloso ficam ente
- a crít ica e a su peração
da fi losofi a enqu an to f il osof ia. O ri entado de
m od o inteir am ente sócio-histórico, ele na m edida em
que con cebe as que
deri vado e m ediado, sem
perm it e el evar -se sobre a fi loso fia, st õe s i nt er nas à f ilosof ia com o algo
po r i ss o nega r seu conteú
do ob jeti vo. Ass im ,
pe rd e m uit o em im port ânci a t am bém aqui lo que E ng el s em sua obra so bre Feuerbac hd esign aco m oa “ ques tãom áx im adet odaafil osofia” ,24 asab er, a “ relaçã o entre pen sar e s er, entr e e spír ito e natu reza” , se se tom a r 24 Ludwig Feuerbach und der Ausgang der Klassiscbeii Deutsáen Pbilosophie, Viena-
Berlim, 1927, p. 28.
184
claro que concei
tos com o “pen sar” e “ser ” , “espí ri to” e “na tureza ” são -
t anto quan t o osm odosdeexpl
i caç ãodaciênci
adan atureza-
pr odut os
nasci dosdapráxi s, com a aj ud adosquais oshom ensprocu ram sol uci o n arproblem ashi st ori cam ente li m it ados, de n en hu m m odo et er nos. 25 N a v e rd a d e , o s e r m a t e r i a l a n te c e d e t o d a configitrar.ãmk-práYis histórica
com o in fi nida de extensiva
e i ntensi va. M as m esm o qu e est e ser
se t om e si gnif icat ivo p ara os hom ens, n ão se t rata ab solutam ser abstr
ato-m ater ial que
ente daquele
dev e s er supost o p ela t eori a, em su a p ri m azia
genéti ca, com o m ater ial ist a, m as si m al go secun
dári o, algo a
propriadcL,
p e lo t r a b a l h o h is tó r ic o . N o c a r á t e r s o c ia lm e n t e m e d i a d o d a q u il o q u e se ch am adenatureza,apói
a- seM ar xdu rantetodooseudese
nvol vi m ent o,o
qu als erel aci onam enosco m os cont eúdosm ut ávei sdos quadrosd reza do que com
an atu
as condi çõess oci ai s de su a m ud anç a. Ai nda nu m de se us
últ im os t rabalhos, as política de Adol
anotações m
argina is ao
ph W ag ne r, obse r va i ronicam
“m est re- escol aprofess
Tratado d e econ om ia
ente qu e apenas p
ara u m
oral " as “r el ações do h om em com a n ature za de sd e
o i níci o n ão são práti cas, i st o é, re lações f un dad as n a aç ão, m as sim teóri cas” .26Os ho m ens , po rém , não se de frontam exter nos de sat isf ação de su
pri m eir o c om os m ei os
as necess idades si m plesm ente com
m u nd o exter ior”, ist o é , n u m a ati tude epis
o “coisas do
tem ológi ca.
El es com eça m , co m o q ualquer anim
al, a co m er, a beber et c. ; po r
ta nt o, nã o com eçam a “ es tar ” n um a rel ação , mas s im a com portar se ati vam ente, a dom
inar cert as coi sas d o m un do ext eri or at ra vé s da
* 0 próprio En gel s se aproxim a de u m a t al inter pretação qua nd o, levantando aqu ela questão, acr esc ent a aom esm o tem poqueela “ tem suas raí zes , d om esm om od oqu et oda s asr el igi ões, nas repre sent ações l im it ada s e ignoran tes do estado de selvageria”. * M arx e Engels,
Werke, vol. 29, Berlim,
1962, pp . 362 ss .
185
ação e assi m a sati sf azer sua nece ss id ade. El es com eçam pois com a p ro d u ç ã o .
Es tas form ulações de M
arx n ão devem, entr
et anto , se r com pree n
didas n o sen ti do de u m a h ostil idad e prati ci sta à teori a. A prá xis hi stóri ca, com o em He g e l,p ara quem elaé de t er m inada em úl ti m ains t ânc iacom o u m m od o d o s ab er, é em si “ m ais teóri ca” do qu e a teor ia. El a se m pr e ef et uou a m ediação ent
re suj ei to e obj eto - m esm o an te s de s e t om ar
tem a d a refl exão. Nes te po nto, vê-s e qu e, outra ve z, Engels f ixou m uito ta rde o p rob lem a da dial éti ca. Se a “v isão m ater ial ist a d a na tureza " n ad a m aisde vese r‘ ‘do que asi m pl escon cep ção da naturezat sem acréscim
o estranho”
,27entã o is to si gn if ica um re tr oce sso ing ên u o-
re al ist a em rel ação à posição já polêmica
al co m o elas edá ,
alcança
da p or el e próprio e
por M arx na
daldeologia Alemã contra Feue rba ch. T al “ com o ana turezase
dá ” , pri m ei ram ente, nã o é, de f orm a alg um a, u m produt o quanti tat ivos abst rat odelaborat
óri odespojadode
todososantr
opom orfism os ,m assi m
u m m u n d o m ater ial qual itat ivam ent e rico, apropri coleti vo. N a verda de, co m a progressi
ado pel o trabal ho
va ind ustrial ização, a redu
ção cien -
tffi ci ~3ê~t odas as quali
dad es a qu antidades tom
a-se tecnologicam
decisi va e a p rópria ciên
cia natural torna
m enteo proce ssodeconh
ecim en toda naturez a pod ese r di al éti co,nã oela
-se força prod
utiva.Por i
en te sso, so
própria. A na tureza pa ra si é desti tuí da de tod a negati vidade, a qu al ap a rece som ente co m o suj ei to qu e nela tra bal ha. Apenas ent re h om em e. qiat urgza é pos
sí vel u m a rel ação dial
éti ca. Fãcé ao
já n ão -dial ético
obj eti vis m odefe ndidop orEnge ls,su a quest ão- seasl ei sde m ovim ento dan atureza
sãom ecânicasou
27 Ludtvig Feuerbach, p. 80.
di al ét icas- reve la- se esc ol ást ica.“ M esmo
186
o an im al” , jádiziaH
eg el, “ n ão possu i m ais es ta f il osofia r eal ist a, pois el e
con som eas coi sasepro vacom ist oqueel as nã osãoabsol m a s” .28290 tr abal ho hu m an o é t am bém um tal consum at o, m as par a Marx (co
m o para H egel )
próp rio consu m ir; n a superaçã portanto
é
utamenteau
tôno
ir d o dado im
edi
ainda al go m ai s: “con sum ir do
o do m ateri al, supera ção des sa superação, e
posiçãod om esm o”
Ni stos ee vi denc iaoquantoéi
es te m od o de expres sãoq ueseenco ntraespeci
ns uf ic ien t e
almen ten a lite ra tu rato m is ta
sobreM arxeque afi rm ase re steum teóri coreal ist ado con he cim ento. El e o én a m edidaem
qu etoda at ivi dadeproduti
m atéri a natural i
ndepend ente dos hom
nã o perm anecem
em contem plação
ens. El e não o é, da do que es tes f euerbac
si m otransf orm am conti nu am entesegun actuu m a a niqu ilação das coi co m o m ediadas.P
vapre ss upõea exi st ênci ade
sas enqu
hiana do i m edi ato , mas
do su asl ei s.Otr abalhoé an to dadas e
sua rec onst rução
orser em des desem pref iltradas pelo tr abalhohist
as coi sas exi st ent es independ
uno
entem ente d a con sciên cia apresent
óri co, am exa ta
m ente nest a independ ênci a algo que ve io- a- ser , um “em si ” traduzi do para o “pa ra nó s” . C om iss o, desc art a-s e tam bém a re pres ent aç ão prim iti vadoconh
eci m ento com ocópia,pel
aqualconsci
am ente cont rapost osu m aoou troe em quesedei obj et o, o papel c produto soc
ênci aeobj etosãoc
ru
xadec onsi der ar ,parao
onsti tut ivo d a pr áxi s. O m u n d o ob jeti vo não é apen as u m
ial . .O q ug do lado des se produ to apare ce “ com o tr anqu ila
.quali dade, n a forn ia do ser"3 0nã o deve ocu lt a r o fato de q
ue es te é ingre
di ente p ara a n aturezao rig in a ri am ente d ad a eTan tes ~di ss o7 ap areceu do lado d o trabalhad or ‘‘na forn ia da inqu ietaçã o” , i st o é, de at ivi dade diri gida 28Sümtlicbe Werke, vol. 7, Ed. pp. 9 8 ss. 29Grundrisse, p. 208. 50 Das Kapital,vo l. I, p. 189-
G löckner
(Philosophie desRechts), Stuttgart, 1964, § 44, nota,
187
au m obj eti vo.S empre, pois ,aco n sciênciaenqu tra n a real idade p or ela reproduzi
an toespí ri toat ivopene
da. A t are fa d o con h ecim en to é n ão
capit ulardi ant edest ar eal idadequ ese co loca aoredordoshom um m u rodepe dr as .Nam edidaem
en scom o
queo conheci m entor evi ve ospr oce s
soshist óri coshu m an os apag ados nos fat osc onst itüf( fcs ,ejçrevel
aa rea li -
y
dadèc õm oal go pr o d u z id o pe l o ho m em e , p o r t a n B ^ u tá v d ^ p rá x iy^ enquanto
concei to mai s i m por tant e do con h ecm i erortra
_ação políti
ca .
il sfóm a-se em
___
Essência e aparência: a anál ise da mercadoria e m Marx
Norman Geras
Quanto à econo m ia vul gar , el a s e v anglor ia, aqui com
o em tod a
part e, co m as aparênc ias , para ne gar a le i dos fenôm eno s. Ao contrá ri o de S pinoza , acredi ta que a ign orânc ia é um a razão s ufic ie nte. 1 (O Capital,I, II, 843) A e c o n o m ia v u lg a r (...) sente-se p articularm en te à v on ta de entre as forma s a lienadas do si st ema e con ôm ico (. .. ) consider a es sa s con di ções econômicas tanto mais naturais quanto mais escondida é sua estrutura interna. (III, XXV, 1.439) O modo de examinar as coisas dos filisteus e dos economistas vulgares se enraíza (...) no fato de que é festação
das relações qu
internas.
a form a direta d e mani
e se re flete nos cérebros, e nã
o suas ligações
(Ma rx a Enge ls , 26 de j u n ho de 1869 )
1A s citações do Capitalsão reprodu zidas de a cor do cora a tradução f rance sa de Roy, rev ista po r M. Ru bel (Kart M arx, Oeimes, tom os I e II, Col. Pt ói ade, Ga ll imard). O prim eiro núm ero indic a o li vro do Capital, osegun do, o capít ulo, e o terc ei ro, a página da ed ição da Plêi ade, seguida da indicação do tomo.
190
Obse rv e- se , de um a vez po r to da s, que entend o po r econ om ia polí ti ca clássica toda a economia que, a partir de William Petty, busca penet rar na tot al idade rea l e ínti m a das rel ações de produ ção na soci edade burguesa, po r opos ição à eco n om ia v ul gar , que s e con ten ta co m as aparênci as.. (I, 4, 6.048) O grande mérito da economia política clássica é ter destruído essa fal sa apa rência e essa i lusão (. .. ) essa person ifi caçã o das coisas e essa conversão das relações de produção em entidades, essa religião da vida quotidi ana (... ). N ão é m enos verdad e que os m el hores portavoze s da econ om ia c lá ssi ca perman ecem m ai s ou m enos pr es as do m un do de il usões que sua próp ri a cri ti ca dis sol veu. Não pod eri a se r de outr a m aneir a para quem se coloca do ponto de vi st a da burgue si a, e é po r is so que todos caem m ais ou m enos n as i nconseqü ências, meias-verdades e contradições sem solução. É ne ss es te rm os que M arx avali ou, em nu m erosas oport unidades, adi st ânci a quesepar aae con om iavulgar da eco n om iap olí ti caclás si cae , a fortiori, da críti ca qu e ele próp rio f ez a respeit o desta últim a; ele nos for nec e,ao m esm ot empo, u m ac oncepçãoda condição m ín im a necessá ria a qu e deve sat isf azer todo trabalho q ue am bicione re ves tir- se de u m car áter ci entíf ico:q uees se traba lhoaba rque areal idade além da aparên cia que a esco nde. 0 objeti vo dest e art igo é t rat ar de u m con ju n to de probl em as (em part icul ar o d o f eti chis m o) ligados à m aneira com o M ar x form ulou es sa exigênc ia, e aoem preg os iste m áti codo sconceitoscorr espon dent es : ap arênci a/ essência, form a/con teú do , il usão/real idade, fen ôm en o/ subs trat orecôndit o,fon n ad eem ergê n cia/conex ão internaet c.Énec ess á
191
rio ,contudo,pre cisa rde iníci o que apenasabordaremo sa evo lução dasconcep çõesdeM arxsobre es se sproblem as,co m o derest oasrel ações entr e o Manuscri to de 1844e O Capital Q uan to às r elações entr e H egel e M arx, n ão as tr at ar emos.De m od oque,deixando-sedeladooprocesso deform ulaçã oede evolu ção intel ect ualdeM arx, osprob lem asserãot rat ados som entetai s co m o apar ece m no Capital, q ue re vel ao quep oderí am osconsi derar um aestr utura de pensamento m ai soum enosacabad aem ai soum enosc oe ren te. Os fundamentos teóricos de
Ocapital
Q uandose abordao quecham eide cond içãom ín im anec es sá ri aà ci ência, segu nd o M ar x, e ss a exigên cia m etod ológica à qua l el e atri bui u m aexcepci onalim port ânci a,col oca-seu m apri m ei raque st ão:qualé o sei l fun da m en toteór ic o?0 que équ econst ituisua neces si dade? O Capit al pro põ e-no s dois t ipos de re spo st as. N um a, M arx considera qu e se trat a da exi gên ci ac om u m aqual querc iênci a. A análise cie n tífica d a co n corrê n cia pressu põe, efetiv am en te, a a n á lise da naturez a í ntim a do cap itaL É as si m qu e o m ovim ento ap a rent e dos corpos cel est es só é intel igí vel para aqu ele que con h ece se u movimento real. (I, 12, 854) Qu e, em su a aparência, as coi
sas sejam fr equentem ente rep re se nta
das s ob u m a fornia inve rs a, é fato bem con he cido p or t oda ciência, excet o a econ om ia polí ti ca. (I , 19 ,1.033 ) Ioda ciência seria supérflua se a aparência das coisas coincidisse di ret am ente _com. sua essênci a. (I II , 25 ,1.4 39 )
192
Ness as passagens,M rê nci a e re al idade com indicand
o-nos que o
au m aexigênci
arx apresent
aadistinçãocon
cientificidade enquanto tal,
o um a f orm a da m étodo que apli
ceit ua i ent rea pa
ca à econ
om ia polí ti ca cor res ponde
a ger al paraati ngi ru m con hecim entováli
do,exi gência
que tom a de em prés ti m o às out ra s c i ênci as em que já fo i f orm ulada há m u ito tem po. E st a respost a n ã o é int eiram ente sati sf ató ri a. E la tr ansfo r m a a reco m endação m
etodol ógi ca f undam ental d e Marx - de s tru ir o
caráter evi dente das aparênci
as i m ediat as em u m a regra a bs tr at a, co m o
par ted oinst rum ental detodaci ência, independentem
entedo seuconteú
do , da n atureza d o ob jeto que e la e st uda. C onsiderada tal taainda n ão tornapreci
qu al, ess a res pos
sopo rqueco nv ir iaes tender os m étodos d aastr o
n om ia ao obj eto da econ om ia p olí ti ca Port ant o, vam os pô -l a, por en quan to, entr eparê nte ses , ped indo ao lei torqu econ si dereq ueseráretom daem u m aeta papos te ri ordaexposi
a
ção.
Passem os à segun da respos ta de M arx, qu e é de ordem
inte ira
mente diferente da primeira. Essa resposta, contida na doutrina do ‘ feti chism o, especif ica, de fato, qu ais são as prop ri edad es do ob jeto es tuda doporM
ar xque
exigemq ue as aparê ncias sej am destr uídas s e s e quis er
qu e a real idade sej a corret am ente apreendida. Ela anali pelos quais asociedade
sa os m ecan ism os
capi tal ist a aparece, necessari am ente,aseu
s a gen
tes, co m o ou tra coisa dif erent e da qu ilo que é n a real idade. A n oç ã o de feti chis m ole va nt aprobl em as m uitocom ant e; m as de ve f icar cl aro d e início qu
plexos,que
ser ãoa bordados adi
e a segun da respo st a de M a n for ne
ce-nos u m fun da m ento teóri copara adis ti nçãoess ênci a/aparên vari ações, fund am ento qu e nã o e xisti an a pri m ei ra. A relação ent m end ação m etodol ógi ca e objet
ci aesuas re r eco
o de e st udo nã o é m ai s do que u m a r el a
ção de e xt eri ori dade, co m o era o caso qu an do s e tr at ava de apli car um a
193
regra abs tr ata a qua lquer con teú do . Trat a- se, ant es , do qu e se pod eria cham ar de um a relação inadequada ent re o objet o e o m étodo, sendo o car áter de st e ú lti m o determ ina do p ela est rut ura do p ri m ei ro. É porq ue exi st e, n o seio da so ci eda de capit ali sta, u m a espécie de rup tura i nterna en treasr el açõ esso ci ai spredom inanteseam ane iraco m o el assãocon h e ci das em piri cam ente, que aqu ele que estuda ci entif ic am ente es sa socie dade f ica subm eti do à obr igaç ão de constr uir a real idade con tra as apa rênc ia s. P or coasegu inte, n ão se pod e m ais considerar es sa neces si dade co m o u m acrésci m o arbi tr ári o ao inst rum enta l especí fico de M ar x, nem co m o u m d ad o po r el e ext raído das ciênci as pre exi st ente s. E as passa gens cita dasno iníci o de steart igodevem ser com preendidascom o um aviade *■' acesso rápido a o próprio cerne da n oç ã o de feti chism o. Basta r ef er ir- se aos c om en tários m ais d if un didos dos esc ri tos d e M arx parav erquee ss an oçã on ão es tái se nt a dea m bi güidadesou con fu são, o q ue tam bém se apli ca, em cert a m edi da, à próp ri a expo sição de M arx a es se r esp ei to, no prim eiro cap ít u lo do Capital.Pa rece, portanto, necess ári o ad ot arum m étodo ana lí ti co para isol ar e exa m inarse par ada m ente os di fer ent es as pec to s do con ceito, m esm o corren do o ri sco d e, com iss o, fragm ent aroqu eM ar xconsi der avacom ou m fenôm en oun ificado . De fat o,se e ss e m étod o nos perm it e esc lare ceros diver sosaspecto sd o fen ô m en o, pod erem os com pree nd er m elhor s uas rel ações recí procas, ist o é , recom pô-las em u m a tot ali dade. U m a di sti nção inici al ent re dois as pec tosdo fe ti chis m o nosép roporcion ad apelo própri o Capital. / U m a relação socia l determ in ad a dos h om en s entre si (...) reveste-se, aqui, para el es , d a f orm a fantást ica de u m a relação das coi sas e nt re si. (I,4, 6o6)
194
Seu próprio movimento social toma, assim, a forma de um movi mento das coisas, movimento que os conduz, embora possam con duzi-lo. (1,4, 609) No so cieda d e c a pi tal ista, 0 fm n m rn r rln fptirhi sr m ^ ifi m p õp m s hom ens: 1) com o nr pp mistifirtiçãn: e 2 4 com o um a dom inação. Com toda evidênci a,osdoi saspe ct ossão int im am ente li gados,na m edldã em que os ho m en s est ão incapa ci tados de con trol ar as rel açõe s sociai s que nã oco m preen dem cor ret am ente,em vezdeso fr ê- laspassi vam ent e. Ali te ratura posteri onn ente con sag rada ao assunto aborda os dois as pect os ao m esm o tem po. É assi m que G araudy es crev e: As relaçõe s entre os h om en s to m a m a a p arência de relações entre objetos (...), as coisas regem os homens que as criaram.
ESweezy: O caráter r eal das relações en tr e os próprios produtores é, ao m esm o tempo, deformado e obscurecido (...), o mundo das mercadorias, po r assi m diz er , conq uistou sua independên cia e subord inou os pro dut or es à sua dom ina ção. 2 N ão obs tan te , m inh a intenção , pel as r azões já m encionad as, é m an ter tant o q ua nto possí vel e ssa dist inção e tr at ar separadam ente d a m isti ficação e da dom ina ção; é es te últi m o aspect o qu e abord arei an tes , Seghers, Paris, 1964, pp. 181-182; Paul Sweezy, Theoiy o f p . CapitalistD evelcpm ent, Lond res, 1946, 36. Cf . t am bém G eorg Lukács , H istória e con sciência d e classe , Ed. de M inuit , Paris, 196 0, pp. 110-1132
Cf. Roger Garaudy,
Karl M arx,
195
ainda q ue o prim rên ciaedareal
ei ro sej a m ais di ret am ente l igad o a o problem idadee coloqu em ai sprobl em as.Masnen
sobr eo feti chi sm opod eignorarto
a da a pa-
hu m adi sc uss ão
tal m ent eop roblem ad adom ina ção,e
pod e ser pref er ível ex a m iná -l o prim ei ro.
Nãoé com ado m inaçãoem form a hist óri ca especí
ge ra l que vam osl idar , m as com um a
fica de d om in açã o. E la di fer e, por exem
plo, das
rel ações de “ dep end ência pessoal ” que M arx des cr eve co m o carac te rí st icas d a Idade M édi a europeia (1 ú lti m o caso, a
,4 ,6 l 1). E i ss o por duas raz
do m ina ção é aber
ões : enqu anto, nes te
tam ent e procl am ada, el a é mascarada
n o r egim e capi tal ist a; p or ou tro l ad o, e i sso no s inte re ssa ainda
m ais no
pre sent ecaso,tr at a- se preci sam entedeu m aespeci eded om ina ção soal,exercidapelatot
al idadedas rel açõesecon
d a socied ad e capit ali sta, i nclu sive sobre
impes
todosos a gente s
ôm icassobre
o cap it ali sta, cu jo inte re sse
é
ext rai r dos t rabal hadores o m áx im o de sobret rabal ho. Tam bém el e na o po de ser t ido co m o “ res ponsável pelas r el ações de que é soci alm ente cria tura” (Prefáci todos os aspe
o à prim ei ra edição, 550
-1). N ão é necess ári o enu m erar
ct os d es sa d om ina çã o impessoal
: indep end ência do proc
esso
de pro du ção co m rel ação aos pro duto res , t rabal ho acu m ulad o pelo operá ri o que se im põ e a el e co m o força hosti m entosdetrabal
l so b a form a de capit
al, inst ru
hoqu eem prega m osope rár ios ,m ais do qu eo cont rár io,
caráter fasti dioso e em bru teced or do trab alho etc . To do s e ss es as pect os est ãoincluídos n ocon ceit ode ali en ação.Entre ta nto ,n o Capital, o conceit o de aliena ção tem u m caráter histór ic o.Su as premissas hist óricasesoci
ai ssão,
m uitopr ec isa m ent e,a s re laçõ es econôm icasf un dad asflapm du g o en o int eicâ m bio dem erc adori as. Is so ficacl aron apassagem seguin
te:
196
Nos so s cam bistas' t am bém desc obrem que a m esm a di vi são do tr a balho que os torna produtores independentes toma a marcha da produção social, e as relações por ela criadas, completamente inde pendentes de sua vontade, de maneira que a independência das pes soas um as co m rel ação às outra s t em seu com plem ento obri gató ri o em u m si ste m a de de pendên ci a recíproca, imposta pel as co is as. (1, 3, 647) [A econ om ia polí ti ca] nu nca se per guntou por que o trabal ho é rep res ent ado no val or , e a m edida do trabalho, por sua d uraçã o na grandeza de valor dos produt os. Formas que m anifes tam , à primeira vi sta , qu e pertence m a u m período social em que a produçã o e suas relações regem o homem em lugar de serem regidas por ele, pare cem , à consciência bur guesa, um a nece ss idad e tão natur al com o o próprio trabalho produtivo. (1,4, 6l5/6l) V ê -se q u e, a q u i, as ra íze s d o s fe n ô m e n o s re u n id o s s o b o te rm o “ ali ena ção” seenraí zam em re laçõ esso ci ai sen ão em u m aess ênci ai de al do h om em , s eu “ ser específi co” , que assi m se ri a ne ga do ou renegado. É aq ui qu e res ide a diferença entre O Capita le cer tas passag ens do s Manus m esm o se M arx abor da, ne st e úl ti m o, alguns traç os da critos de 1844} soci edade capi tal ist a, t ai s co m o a d om inaçã o do tr abalhad or po r se u o car logia áter messe util nciantealidest a,se ou trabalho. lugar deção f eundar-s , uprod m a uto an etropo con ceitoEm de aliena st á li gade emo à " espec if ici dadehist óri cadas form asded om ina ção. *N. T : N o sent ido de pes soas que entram 3
em u m a relação de tr oca .
Manuscrits de 1844, économiepotítique etPhilosophie, Editions Sociales, Paris, 1962, pp.
55-70.
197
Ness e senti do, as dis cussões sobre o feti ch ism o qu e se l im itam a darporcer ta acom pletau nidadeentr eos Manuscritos e O Capital 4 têm valor duvidoso, pois assim il am dois con ceitos que têm est at utos teóri cos di fe ren te s. E q u an d o Luk ács, discutindo sobre o feti ch is m o, fala d a espe ci ali zação u ni lat er al com o algo que “viol a a es sê nci a hu m an a do h o mem”,4 5tor na-se cu lpad o da m esm a assim il ação abusiva. Por ou tro l ado, A lth usser p ro p ô s u m a le itu ra d o fe tic h is m o q u e , d o s d o is a sp ectos q u e dis ti ngu im os, m isti ficação e dom ina ção, ret ém apenas o ú lti m o. A n o çã o de h om ensdo m inad ospo r se us própr ios produtosdes aparec eu (quase) sem deixar traço s. U m a inter pretação de ss e ti po e xige, evi dentem ente, que oc on ceitodefe ti chis m ose jacon ceb idoco m oindependentedo de al iena ção 6que, porsu avez,éaf as ta docom o “ ideológico” e“ pré -m arx ist a” .7 8 Ess al eit urato m aA lth uss erc ulpad o,prim eir o,d eviolaro te xt o do Capital , co m o m ostr am as passagens s eg ui nte s: t O carát er au tôn om o e al ienado que a prod uçã o capit ali st a imp rime ' em gera l às con dições e ao produto do trabalho co m rel açã o ao operário, desenvol ve- se, po rta nto, com a m áq uin a, até o antagon is mo mais pronunciado. (1, 15, 9 ® 8 Seu trabal ho, já ali en ado pelo fa to da venda d e sua for ça de tra ba lho, torn ou-se propri edade d o capit al is ta e incor pora do ao capit al , 4 P or exem plo, Gar audy , op. cit ., pp. 6 8 - 8 6 e 180-183.
5 H istoire et conscience de classe, op. 6 J. C. Forquim, “Lecture d’Althusser”, in
cit.,
128.
D ialectique m arxiste et p en sé e structurale , n°
4
esp ecial, Cah ier s du Centre d’É tudes Socialist es (7 6-8 1, f ev.- m ar., 196 8, p. 27 ). 7 L ou is Al thusser , P ou r M arx, Paris, M asp ero, 196 5, p. 246. J. Roy, qu e continh a: “O carát er 8 N ota de D. Bergen Note- se qu e M. Ru bel reviu, aqu i, a tradu ção de de i ndependê nci a que a produç ão c a p it a li s t a cf. Rub el , to m o I, p. 16 72 .
198
mesmo antes que o processo comece, e não pode, evidentemente, durante o processo, realizar-se senão em produtos que se lhe esca pam da mão. (I, 23, 1072) Cada vez m ais , o capital apa tal ist a é agente, e que p o trabalho de qua
rec e com o p oder soc ial , do q ua l o cap i
erdeu qua lquer espéci e de rel ação c om o que
lquer i n divíduo é cap
com o poder s oci al ali enado (
az de cr iar , m as se m anifest a
entfr emdt) e
autôn om o, que s e a pr e
senta ante a sociedade sob a forma de um objeto que encarna o poder capitalista. (III, terceira seção, 1044)9 E lá m esm o, ond e o ter m o “ ali en ação” es tá intei ramente au
se nt e, o
conceitoetodos os fenô m en ospo rele recob ert ose st ãosufi ci entem ente prese n
te s pa ra invali dar, neste p on to, a lei tura do
Capital p o rA lthusser. 10
N ão se tra ta, entr etant o, de u m si m ples pro blem a de vali dad e da inter pretação de M arx. Essa interpret ação tem con seq ü ên cias teóri cas sér i as . Em Al thus se r, ef eti vam ente, o c on ceito de ali en ação, c om o form a de d om ina çã o eng end rada pel as rel ações c api tal ist as dep rod u ção , é subst i tuí do pela noçã
o de qu e os hom en s são si m pl es age nte s ou por tador es
CTräger ) das rel açõe s de prod u ção que determ
inam se u lug ar e sua fun
ção ; aí se encon tra, em Al thus se r, a ú n ica rem iniscência aliena ção .110 que M arx considera c
d o con ceito de
om o traço específi co das rel ações d e
’ Nota de D. Ber ge r: A di vis ão em capítulos de M. Ru bel di fer e da edição do 39“ livr o d o reali zada por E Engels . A passagem citad a acim a e' extraí da do Cap. 15 d o li vro II I de acord o p lan o de E Engel s.
Capital
o com
” As relações entre os M anu scritos e O Cap ital são di scut idas de m an eira m agist ral no livro de Em est M andei , Lafor m a tio n de ta p en sé e éco n om iqu e de Karl M arx, M aspe ro, Paris, 1967, pp. 151-179 11 “L 'objet du Cap it al" , in: Lire le Capital, Maspero, Paris, 1966.
199
geral d o
pr od u ção capi tal ist as, Alt huss er arti cula co m o u m a propo sição m ateriali sm o hi stóri co. D esi stori ci zand o, as si m , o co n ceito de ali de m od o m uit o est ranho para um rença com
auto r m arxi st a (pois onde es
en ação, tá a di fe
rel ação a o er ro dos econom istas c lássi cos , que consi
prod ução d e m ercadoria
co m o ete rna? ), Al thus ser tom a i m pos sí vel a com
preensão,dentrodesuapersp
ec ti va,daspas
sage nsem que M arxanteci
aexi st ênci adeum aform açã osoci alf utur aondeos suas rel ações de prod uçã o em lugar de serem con cessarão, portan
deram a
to, de sere m s im ples agentes
hom enscontr
pa
ol arão
trol ado s po r el as, e ond e
e portadores
(dessas rela çõe s).
V e re m o s, a d ia n te , q u e A lth u ss e r c o m e t e u m e r r o e x a t a m e n t e p a r a le lo a respeito do outro aspecto de fetichismo: a mistificação. Basta, por en qua nto,obser
varque,aparti
rdesua ansi edadelegí
con ceito an tropo lógico de ali
ti m apordarca
bo do
en açã o, Alt huss er re jei ta , ao m esm o tem po,
o con ceit o his tóri co , desi st ori ci zand o- osob u m a f orm a “ nov a” .
A realidade das relações de valor
V o lt a n d o , a g o r a , a o p r o b le m a e s s ê n c ia /a p a r ê n c ia e a o a sp e ct o
m isti ficadord ofeti chis m o,éb om fazer u m ad isti nção sec und ári a,ent re 1) as apa rênci as, ou form as de m anif estação sob
as qua is a s r el açõe s
soci ais s e apr ese ntam , qúe n ão são ne m m ist ificadoras nem mesmas, na m edida em
são m ist ificadas a par
que correspondem
fal sas
em si
a um a real idade obj eti va; só
ti r d o m om en to em que são
co nsi der adas com
o
prod utos d a natureza ou da s i ntenções subj et ivas dos ho m en s; e 2) as aparências ou form as de m anif estações que são sim plesm ente f al sa s, i lu sõe s n o plen o se nti do do ter m o, que não corres
pondem
a nen hu m a re al i
dade obj eti va. Ess a disti nção d eter m ina a seqü ência de m inh a exposiç ão (co m a con dição, evi
dentem ente , de que f ique expli
ci tam ente prec
isado
200
que o ter m o “ ap arên ci a" n ão deve ser entend ido n o sent ido de “fal aparên ci a” ; o m esm o val e para apalavra form ção út il na m edi da em que permit ca em m uitos tr abalhos so Ka rl Kors ch fornece um
sa
a ). Tra ta- se de um a di st in
e ev itar o gênero de co
nfusão em
que
bre o fet ichis m o, do qu al o tex to segui nte de bo m exem plo :
As re la çõ e s d e v a lor, a p a r e ce n d o n o in te r c â m b io d os p ro d u tos d o trabal ho enqu an to m ercadori as, exp rim em essenci almente, nã o pro pri edades das coi sas, m as rel açõe s soci ais e ntre os h om en s que c on corr em para a p rodu ção das coi sas . A soci edade burguesa na é d o q ue ess a form a pa rt icul ar de vida soci fundamentais que se instauram entre os
da m ai s
al em que as re lações homensno quadro da
pro du ção social de sua existência
só sã o pe rcebi das po r el es re tro ati
vam ente e som en te sob a form a inver ti da de relações ent Sub m eti dos, em seus at os consci entes, a representaç
re as coi sas. ões ima ginárias
desse tipo, os membros da sociedade “civilizada” são dominados pelo trab al ho de s uas pró pri as m ãos, da m esm a m aneira com o o selvagem
o é po r seu feti ch e.12
E m bora m uit os dos argum ento s de st a passagem n ob jeções (por exem soci ai s, os hom
ão provoquem
plo, a s rel ações de valor co m o produ tos das rel açõe s
en s d om ina do s p or suas própri as cri açõe s), é incor ret o
desc rever as r el ações de va lor co m o im aginá ri as. C om o tent arei mos tr ar, M arx nad af azde semelhante.
Se be m qu eKorsc h consigam
anterdi stâ n
ciac om res pei toaes seext rem o,suad escri çãofic ap eri gosam entepróx m a de u m a expli cação puram
ente subj
i
et ivi st ado f et ichi sm o, ta l co m o a
Karl K orsch, KarlMarx, C ha m p Libr e, Paris, p. 144.
201
qu e nos é dad
a por Ber ger e P ul lber g, qu an do form ulara, n u m art igo
sobr e a so ciologia do enaçãoéoproc
con he cim en to, es ta defi nição sur pree ndent e: “ A al i
es so pel oqualo hom em es que c equeo m un doem quev ive
foi pro du zido p or el e” .13 E squecem
qu e, se se t ra tas se som en te de um a
fal ta de m em ória, bast ari aum si m pl esapelo à
lem bran çaparare so lve ros
pro blem as const itut ivos da a li en ação . E qua nto a M arx? As form as de m an ifestação de q tr atando n
o m om en to são as
segui ntes : o tr abalho é repre
ue estam
os ‘
sent ado pelo
valor de seu produ to; o tem po d e trabalho, pe la gran deza des se va lor; e as relações soc iai s, pelas relações de va lor entre m ercado rias. Para M arx, nem o val or , n em as r el ações de valor cias il usóri as, m as de
são im aginárias.
N ão se t rat a de aparên
realidades.N unca se subli nh ará dem asi ado es sa
afi rm ação.E lar epr es ent a u m prim ei ro pas so paraac o feti ch is m o im pli ca. M arx esc reve: Os tr abalhos pri divi sões do trab
vados não
om preen são d o que .
se m anif est am na real idade co m o
alho so cial, m as pelas r elações estabelecidas
intercâ m bio e ntre os prod utos do tra
pe lo
balho e, i nd iret am ente, ent re
os prod utores. Disso resul
ta q ue, para ess
internas a seus trabalhos
privados
es ú lti m os, as r elações
aparecem tais como são, isto
é, nã o relações sociais i
m ediatas da s pess oas, em seus próprios
trabalhos, mas, antes,
relações sociais entre as coisas. (I, 1,
6 o 6 , 6 0 7 ) 1415
15 P. B erger e S. Pull berg, "R eificati on an d the S ociolog ical Cr iti que of Con sciousn ess” , New Leji Review, n ° 35 , jan.- fev. 1966 , p. 6 l . 14 NotadeD.B er ge r: As passage nssãosubli nha daspo rM.Ru bel, m asn ão nap rimeiraediçãoda tradução fr ancesa. N orm an Ger as su bli nh a a passa gem aparecem tais como são.
202
É à luz des sa de claração qu e se deve i nte rpr eta r sem am bigiüdad es a n ota que se segue: Quando, portanto, Galiani diz “o valor e' uma relação entre duas pessoas” (...) deveria ter acrescentado: uma relação oculta sob o invólucro das coisas. (I, 4,608) Iss o n ão quer di zer que u m a rel ação ent re pes so as tom a a apa rência ilusóri a de um a relação ent re coi sas, m as que, l á ond e pred om ina ap rod u ção dem ercador ias,asre laçõe s ent repe ss oastom am real m entea form ade rel açõesent recoi sas.Ta l é aforn iaespecífi cadasrelaçõessoc iai s capit ali stas; as outras sociedad es, tanto pré-c ap it ali stas, c o m o p ós-ca pita listas ,caract eri zam -sepo rrelaçõessoc iai sd eform adif er ent e. U m exa m e rápido das relações qu e d efi nem a sociedade capital ist a (cap it alist as/operários. prod utores/consu m idoresd e m ercadori as) basta pa ra conf irm ar. P ara o capit al ista, o op erário só exi st e co m o fo rça de trabalho; para o operári o,ocapit al ist asóexi st eco m o capi tal.Pa ra o consu m idor,op rod u tor é m ercadoria; para o produtor , o co n su m idor é dinheiro. Alt huss er te m , portan to, razão de insi st ir sobre o fato de qu e as rel ações sociais de p rodu çã o n ão sã o si m pl es rel ações e ntr e hom ens, e que n ão se reduzem às m esm as.1 5E a resp ost a de u m de seus crí ti cos (são relações e ntre hom ens, m as m edi ati zadas pel as coisas)1 6 é m enos um a con tradi ção d o qu e a reafi rm açãod a m esm acoi sa.Épreci so,ent ret ant o, ,ter em m enteque os objetos, ou sej a, as m ercad orias, en trea s qua is se estabe lecem as rel ações 15 “0 objet o d o Capit al" , he. cit. 16 S. Pull berg, “ Not es pou r une lect ure anthrop pensée structurale, op. cit.,p. 145.
ologi que de M arx” , in: Dialectique marxiste et
203
(k va lo r, qu e são a for m a das rel ações sociais capi sociais, e n ã o naturai s.
tali st as, são ob jetos
É j ust am ente por n ão ser em ess as re laçõe s de valor ne m im ag i nári as, nem ilus óri as, m as reai s, que M arx p od e fazer o ju ízo segui nte:
\
As ca te goria s d a e c o n o m ia bu rg ue sa sã o fo rm a s d o intelecto que possuem uma veidade objetiva, en qu an to ref le tem relações sociai s re ais, m as es sas relações n ão pertencem senão a essa época histórica determinada em que a pro dução m er ca nti l é o m odo de produçã o social. (I, 1, 610)17
A o m e s m o te m p o , M a rx d escre v e essa s fo r m a s d e p e n s a m e n to s co m o absurdas . M as de qu e gên ero de absurdo s e t ra ta? Qu ando digo que tr igo, roupas ou bot as rel acio na m -s e com o tec ido co m o a encarn ação gera l do trabal ho h um an o abst rat o, a fal si dade e o caráter estranho dessa expressão salt am im ediatam ente aos ol hos. Mas qua nd o os produt ore s des sa s m erc adori as as relac ionam co m o tecido, o ouro ou o dinheiro, o que vem a dar no mesmo, como equivalente gera l, as relações entre os tr abalhos privados e o co n ju n to do trabalho social lhes aparecem precisamente sob essa forma bizarra. (I, 1, 610) É o absu rdo, nã o de u m a ilusão, m as da própria r sentido, é um abs urd o q ue éverdad ei ro.
eali dade e, nes se
Nota de D. Ber ger : N ão há passage ns subli nha das n a prim ei ra edição francesa d o Capital N orm an Geras subli nha uma verdade objeti va,e Rubel essa época histórica determinada. 17
204
A realidade social por trás das relações fetichizadas
A p ós te r in s is tid o s o b r e a realidaded o va l or e da f orm a obj et iva assum ida pel as rel ações soci relação entr
ais capit ali st as - ist o é , a form a de u m a
e objetos - especif icam os, em seguida, qu
dades sociais. M arx é bastante
exp lí cito a esse
e se tr atava de real i
res pei to :
Se nos l em brarm os (.. .) qu e os val ores das m ercadorias t u m a r eal idade puram
êm apenas
ente soci al, qu e el es só adquirem
enq uan to
expre ss ões d a m esm a ve rdade s oci al, do trabal ho h u m an o, torna- se evi dente que essa re
ali dade social t
am bém só se pode m anif estar nas
transaç ões sociai s, na s rel ações das m ercado rias en tre si . (1 ,1 ,5 7 6 ) N a expres são do valor do tec ido, o objeto corp
óreo roup a repr ese nta
u m a qua li da de sobrena tural dos dois objetos
, seu val or, o caráter d
e
um a m arca p ura m ent e social. (I, 1, 587)18 Em seguida, seri a preciso acresc entar u m a ter cei ra exp li caçã o q ue nos leva a encarar o
valor e a form
a objet iva das rel
ações soc
iai s co m o
reali dad esso ciais históricas específicas en ão com o re al idade ss oci ai sem geral . Tr ês con clusõe s im portantes deco
rrem di sso:
1. As dis ti nções form a /con teú d o e apa rência/essência
conservam
sua si gn ifi cação pa ra a an áli se e a exp li caçã o des sas real idades, co m a cond i ção dequenão çõesco m osinônim
seto m eo pri m ei rot erm ode cad au m a de ssas oposi osdeil usão.C om o asf orm as as sumida spel asre laç ões
sociais c api tal ist as, seus m od os de m an if estação
são form
as his tó ri cas
especí fic as, são en igm áticas, esc on d em u m segredo. As razões pel Passage m subli nhada n
a edição de R
ubel .
as quai s
205
as re laçõ es soc iai sadotam um aform aenã ooutranã ose m anif est am por si só s. É preciso um trab alh o de aná li se para d esven dá -l as, pa ra re vel arlhes o segredo; efetuan do -a, desvenda-s e o con teú do dess as form as e a es sê nci adesuaapar ênci a.Aom esm o te m po, ocon teúd oexpli caaform a e a es sênci a exp li ca as aparênciasq ue,com isso ,deixam am basim edi ata m ente de se r enigm áticas. N ão se dever ia, con tud o, considerar ess a opera çã o co m o u m a passagem da il usão à re al idade. Tra ta- se , ant es , de um proc ess o de el ucida ção de u m a real idade, reve lando q ue ela s e fun da m en ta em u m a ou tra r eal idade e é determ inad a po rel a. Nes se se nti do,M ar x n ão di ss ol ve nem af as ta, co m o il usór ia, afo rm a d o valor ( por exem plo, o va lor de troca) e o caráte r de ob jeto das relações soci ais; ele desn ud a seu conteúdo:os indiv íduostrabal ham independe nte m ent eeprodu zem valo res de uso, nã o para con su m i- los im ediat am ente, m as para tro cá-l os. É. a própri am ercadori a que é r espons ável p elo en igm a (1 ,4 ) e, pa ra elucidálo, é necess ári o anali sar- lhe a f orm a. D o m esm o m od o, M arx r eve la o con teúd odam ai s- vali am ost rando-l he aori gem n osobre tr abal hooper á rio. D escobre , assi m , o seuseg re do. A eco n om ia pol íti ca burg ue saé inca paz,porsi só, depôrod edones se se gr edo, sal von oN ovoM un do;e,m esm o lá, nã o ch ega at é o fi m das conclusões, e te m que tom ar a ú n ica via q ue lhe é abe rt a. D esi st ori ci za o va lor e a m ai s- vali a, tranform an do-os em prod utos d a n atur eza; considera a form a im pessoal e obj eti va das re lações sociai scapi tal ist asco m o u m est adode coi sasintei ram entenatural .Tra ns form a, portanto, a s propri edades das m ercadori as, d o capital , enqu an to objetos sociais, em qualidades naturaisdas coi sas. Aí s e encon tram o na scim en to e o in íc io da m isti fi cação d o f eti chi sm o. 2 .0 probl em a, po rt ant o, não é que um produt o i m aginári o s e dote das quali dades da re al idade. 0 m ecan ism o da m isti fi cação co nsi st e
206
n atransform
açãobrut alde fa tossociaisem
fa tos nat urai s. M arxoex prim ede
m aneiram uitocl aran u m apass agem doseg un dol ivr o, em ques er efere ao f eti chism o que carac ter iza a econ om ia bur guesa, que f carát er social , eco n ôm ico, que é da do às coi sas n o processo d uç ão social, u m carát er natural
az do de pro
des sas c oisas, decorrent e de sua
natureza material. (II, 7, 644)19 N ãofal tam exem plosem queM arx obs erv a es sa m etam orf oseem fu n çã o d os traços exem plo, a propó
pa rti culares d
a socieda
de cap it ali sta. Ele escr eve, po r
si to da força produtiva do trabalho
Sua coop era ção só com eç a no processo operári os] já deixaram ti va que os ass
soc ial : de t rabalho, m as, aí , e le s [os
de p ert ence r a si m esm os (... ). A for ça prod u
al ari ados emp regam funcion an do c om o trabal hador
coletivo e ', p or conse gu inte, f orça produ tiva do capital força social do trabalho nada custa ao capital e, por outro lado,
(.. .). C om o a
co m o o assal ari ado só a des envol ve qu an do seu tr abal ho pert enc e ao capit al, parece ser u m a força de que o
capi tal é dotad o
por nature
za, de u m a for m a produti va que l he é iman ent e. ( 1 ,13, 872)
A p r o p ó s i t o d o d in h e ir o : Uma mercadoria não parece absolutamente tornar-se dinheiro por que as outr as m erc adori as expri m em em si mesm as, rec iproc am ente , seu val or; ao con trári o, e st as úl ti m as parecem 19 N ota
de D. B erg en Trata -s e do C ap. 2 d o li vro II na ed
ição Engel
s.
exp rim ir em si m es-
207
m as seu valor porq ue esse valor é din heiro (...). Ess as coisas si m ples , prat a e ou ro ,' t ais co m o saem das entranhas da ter ra , fi gura m im e di atamente co m o en carna ção dir et a de todo trabal ho hu m an o. Daí a m ag ia do di nhe ir o. (1, 2, 630) A p ro p ó s ito d o ca p ita l p r o d u to r d e ju ro s: 0 dinheiro adquire, assim, a propriedade de engendrar valor, de re ce ber j uros , da m esm a m aneira em que est á na naturez a da per ei ra dar peras. (III, 15, ll62)20 M arx a ind a i nsi st e, co m o objeti vo de destr uir os ef ei tos m isti fi cadoresdessa m etam orfose: Mas o capital não é coisa: e' um sistema social de produção bem determ inado, per te ncent e a u m ti po históri co particul ar da socieda de, sistema que se manifesta num objeto ao qual ele imprime um caráter social específico. (III, 25,1428) A d e s m istifica çã o se re a liz a p o r m e io d e u m a d e s n a tu r a liz a çã o que n ão éam esm acoi sado que um adesobj et ivaçã o. At éades tr uiç ãoda soci eda de burguesa, o capi tal pe rm an ece form a obj eti va, ob jeto soci al , cu jocon teúd oeess ênci asãoa cum ulado spelotr abalho, objet osoci alque d om in ao sagentes des sa soci edade.Édessam ane ir aque se deveapreendê- lo . * N. T. : No con texto, t rat a-s e da ram en te de prata e ouro, m as o texto fr ancês jog a co m a am bi güidaded apalav ra argent,qu esignificaprat aou dinheiro.Em outrosc ontextos,pr efe ri m os traduzir sem prep or di nheir o. N ota de D. Berge r: Tr ata -s e do Cap. 22 n a ed ição E ngel s. 20
208
D eve- se not ar, além srcem e f eti chização das f
dis so, que as aparên
ci as
errôneas, a que dá
orm as, são a pes ar de t udo “ outra coisa e m ais
d o que il usões sem con sis tência” .21 Q uero dizer co m iss o que n ão se po de at ri buí- lass im plesm ente a u m afal tadepe rspicáci ados agent essoci ais ,a al gum m ecani sm ode "es queci m ent o”,c u jaori gem e st ar iaem um apu ra e si m ple s defi ciênci a subj et iva. Cada vez fet ichização,M
arx assum
que nos d á u m exem plo de
eas m aiores di fi culdades pa
li dad e as r aí ze s e a ra zão d e se r das il usões que am aiori a,se n ão at ot ali dade,dasi
radescobri
dela decorrem
. E m sum a,
nd ic ações que nosdá,pod
da em u m aexp li caç ão geral d o ti poseguint as r elações soci ais ent re produtores tom
e:nas soci
rnarea
ese ror dena
edades capi
ta list as,
a m a f or m a de qu ali dad es obj eti
vas pertenc entes a seus pró prios produtos, as
m ercad orias; con tud o, nad a
n am ercadori
el aposs uienqua
aindicaque
doria (por exem
as qual idadesque
plo, o valor
m one tári o) pertenc
em à sua exis
ntom erca tênci a en
qua ntocoi sa (ou ro); aqued an anatur eza , port anto, é perf ei ta m ent e “n a tura l” , is to é, com pre en sível. A ssi m , se os a gentes sociais do percebem
asocieda
de capit ali st a de m od o di fer ent e d o qu e é n a real idade,
é po r u m a razão f un dam ental: a s
oci edad e capi ta list a
própri a, co m o u m acoisa dif ere m teda qu iloqueelaér
se apresenta,ela
eal m ente. Deacor
do co m a f órm ula de M auri ce Godel ier , “n ã o é, portanto, engana,
éa realidadequeo
de natural
form as d e relações capi
. Ess a m ist if icação é o
ssí vei s consis te em reduzi r tal is tas a u m a obj eti vida
feti chism o. C ontudo, M
en un ci au m segun doti pod em isti ficação,queim 21
H enri Lefebr
o suj ei to que se
eng an a” .22
3- V im os que u m a das m is ti ficações po a obj eti vidade social das
cap itali sm o
arx t am bém
plic a areduçãodes
sas
n, La sociologie de Marx, PUF, P aris, 1966 , p . 52.
2 1 M . G odel ier, “ Syst ème, st ruct ure et contra n° 4 24 6, nov., 1966 , p. 8 3 2 .
diction d
an s le Capital
”,
m: Les TmpsModernes,
209
form as n o senti do invers o, d a obj eti vidad e social à subjetividade socia l. É o qu e acontece qu an do as declaram os for m as im aginárias , i nve nta das . Se bem quen ãoset rat e def eti chism o- pode-s em esm od izer quese trat a de u m a reação exc es si va contra o m esm o a m isti ficação n ão deixa de serreal. 0 m ovim ento das tr oc as dá à m ercadori a por el e tr ansf ormada em dinheiro não o seu valor mas sua forma-valor específica. Confun dind o duas coisas t ão dis parat adas, che gou -se a con si dera r o ou ro e a pr ata com o val ore s puram ente im aginários (. ..) . M as a par ti r do m om en to em que na da m ai s se vê do que simples si nai s nos c ar ac te re s sociais de que as coisas se revestem ou nos caracteres materiais de que se reve st em as dete rm inações soci ais do trabalho n a base de um m od o pa rti cular d e pro du ção, est á-s e- lhes prestando o senti do de fi cções convencionais, sancionad as pelo su post o con senti m ento u ni ve rs al dos hom ens. Era es se o m od o de explic açã o em vog a n o sécul o XVIII; ainda n ã o p od en d o decifrar n em a orig em n em o desenvolvi mento das formas enigmáticas das relações sociais, tratava-se de desembaraçar-se delas, declarando-as invenções humanas e não co isas ca íd as do céu. ( I, 2,62 78 ) A ssim , p orta n to , o fa to d e q u e as fo r m a s m a ter ia is d a s rela ções sociais c apital istas nã o são n aturais , n ã o as pr ivad e su a obj eti vidade, ou se ja, de se u caráter de obj etos , que assum em sua inde pen dên ci a em rel a ção aos agent es soc iai s, dom in am -no s segu nd o s uas própri as l ei s, cuja srcem eexpli caçã onã ose pode at ri bui ràs ubj et ivi dadehum an a. Im pu ta r- lhes um nascim ento de ss a ordem , se ja encaran do-as s ob a f orm a de
210
u m acor do - convenção,
cons ent im ent o, co ntr ato soc ial - ou so baf orm a
de u m a fal h a da con sci ên cia - esquecim
ento, f al ta de perspi cáci a, ardi l
da im ag ina ção - , leva a um a conclusão teór
ica pr ec isa: o escam ote io do
carát er n ão controlado
efun dam entalm ente inco ntrol áveldess eso bj eto s,
dess as form as d as relações sociais c
apital is tas. N o p rim eiro ca so, ef eti va
m ente, bast a, pa ra ajust ar a s contradições d acordop
araf azer outro, el aborarum
o capital ism o, sup ri m ir o
an ovacon ven ção.A parti rdaí ,afo
ga-se M arx n o li berali sm o polí ti co ou em sua vari ante m ais di sf arçada, o ref orm ism os oci al- dem ocrát ico.Nosegundo ênci a,u m areapr opri açãodo bast a para ati
caso ,um nov o at ode consci
m un do exc lusi vam ent epelopensam
ent o
ngir o m esm o obj eti vo. Afo ga-s e M arx em Hegel .
Uma pura aparência: a forma salário
A s r e la ç õ e s s o c ia is c a p ita lis ta s e a s fo r m a s d e s u a m a n ife s t a ç ã o d e qu e tr at ei aqui n ão são ilusórias;
sã o suj eit as a dois ti pos de tran
sform a
çã o que as tom am m isti ficadoras: são fet ichi zadas, ou sej a, fund am enta d a s n a nat ure za, ou então expli cadas de m an eira ideal ist a. Ve jam os agora as fon n as il usóri as, no p len o sentido da pal
avra, as aparên
ci as qu e são
simplesap arênc ias. P ri m ei ro, e ant es de m ais nad a, po is s e t rat a de um a
form a i lusória que est
á na o rigem de inúm eras outras i lusões, a f orm a
sal ári o. N o sal ári o, o va lor d a força de traba m an eira que se
lho é tran
sform ado de ta l
re ve st e da (f alsa ) a parên ci a do va lor d o trabalho.
A fo r m a sa lá rio ( ...) fa z, p orta n to , d esa p a recer q u a lq u e r tra ço d a div is ão da jorna da e m trabalho necessár balho pago e não-pago. (I, 19, 1.035)
io e sobr etrabal ho, em tra
211
0 que é o m esm o que di zer que esc onde o as pec to essencial das rel ações capi tal is tas :a e xp loraçã o. Esta resul ta da diferença entreo valor da força de t rabal ho, qu e o capi tal ista com pra para uti lizar dur ante um é te m po dad o, e o valor m aior que a di ta f orça de tr abalho cr ia q ua nd o uti lizada du rante es se tem po. M as com o, n a f orm a sal ário, parec e que o capi tal ist a pag a n ão a f orça de trabal ho m as o p rópri o tr aba lho, a desi gualdade d a t roca assum e abu si vam ente a m áscara da tr o ca eq ii it ativa. M arx ref er e- se à diferença entr e o va lor d a força de trabalho e o valor qu e ela cri a, em te rm os de “u m a sor te partí cul arm ente f avor ável para o co m prado r, m as que não le sa em nada o vendedor” (1, 7 ,74 5-1); m ais adiante , neg a que “ o ven ded or sej a passado para trás ” . É preci so com preend erqu ees sa sci taçõessóre flet em u m car áter provi sóri o,am bí gu o, do p ensam ento de Marx. Por um lado, é cer to que a expl oração capi tal ist a n ã o tem p or ba se f un dam ental o rou bo supost am ente com eti do p elo capit ali sta indivi du al con tra s eus operári os; de a cord o co m todas asl ei sdaecon om iam erc anti l,o operári oépa gosegun do o exatoval orda m ercad oria que vende. P or ou tro lado, es sa s l ei s prod uze m injus ti ças e abusos b em pior es do qu e a vigari ce de u m indi ví duo: as i nj usti ças e o s abu sosdeu m acl ass esob reoutra.0 caráter provi sóri odasprim ei rasdecla rações tom a-se , então, evi dent e: A troca de equivalentes, qu e aparecia c o m o a op era çã o in icia l, reve la- se u m interc âm bi o fictício (... ) a rel açã o de troca entr e o cap it ali s é ta e o operári o nada m ais é do que um a aparênci a que, com o ta l, própria do processo de circulação, simples forma estranha ao con teúdo e que apenas o mistifica. (1,24, 1.688)
212
Nes se caso, a a náli se da form a qu e revela o con teúd o, o ult rapas sar d a a parên ci a qu e desnu da a ess ênci a, é efetivamente um a pas sa ge m da il usão para a real idade. 0 m esm o ocorre n o q ue diz re spe ito a u m a outra aparênci a a q ue a f orm a sal ári o dá srcem : a aparência de que todo ope rári odis põe livrementedesuaforçade trabal ho.P uraesi m ple sa pa rênci a, i lusão cu ja natureza r eal é a obrigaçã o em qu e s e enco ntra o op erário de ven der sua força de trabalho. Passase, as si m , da esf era da circulação, “ess e verdadeir o Éden dos dir ei to s naturai s do h om em e do cida dã o (ond e) reinam apenas a Libe rdade , a I gualdade, a Propri edade e B entham ” “ ( 1 ,6 ,7 2 6 ) à da produção que r ev el a que “ o per íodo em que es tá livr e pa ravender suaforçad etrabalhoéa qu ele em que es táobrigado a fazê -l o” . Trat a- se a í de u m a tr ansi ção da il usão p ara a real idade: “ Se bem qu es epareçares ul ta r deu m acordo cont rat ualli vre m entec onsenti do , es se sobretrabalho tom a-se, essenci alm ente, t raba lho força d o” . ( II I, con clusão , 1. 486) É preciso, entret anto, da r dua s exp li cações a ess a al tura d a dis cussão. 1. Di ss e que as a náli ses qu e nos fazem passar da ap arên cia (t roca equit ati va, trabalho li vre) à essên cia (troca desigual, trabalho forçad o) tam bém são pass age ns da i lusão pa ra a r eal idade . T am bém são , co m o sobr ess ai d o que prec ede,t ransiçãod oprocessodecirculaçã opa rao proces sodeprodução. M asoproce sso de ci rculação n ão éu m ail usão.Tra ta m os , no durante efçãoeti, em vam oposição ente, das iàslusões qu e nas quescem deci rcula r eal idade u m a anále ise do proc opessrocesso o de produção perm it e de scobr ir . A pr ecisã o é im portante, po is é a bsolutam ente neces sá’ N. T .i jerem y Bentham , fil ósofo i nglês, é co nsiderad o o pai d o uti li tari sm o e u m dos inspi radore s do p ensam ento li ber al .
213
rio evi tar a dissolução d rando-os s
os div erso s “ nívei s” d a total idade social,
con side
om ente co m o sim pl es form as de m anif est ação de um
ní vel
fund am en tal , o que os pri varia de su a efi các ia especí fica . Ten tando teori sobre essa nec ess idade, graças ao deu u m a co n tri bu ição real à
zar
con ceito de “ sobrede term ina ção” , Al th uss er s di scus sões m arxi stas de no ssa ép o ca .23 O
pro blem a tam bém n ão se l im ita à rel ação ent re process o de ci rculação processo de prod
ução . C om o M arx est abel ec e clar am ente, a par
fal sas a parênci as da esf era d a circulação
e
ti r da s
, arm a-s e toda u m a est rut ur a
ideológica: Es ta form a [a for m a sal ário] qu e exprim e apenas as fal sas aparênci as d o trabalho
assalari ado to m a invi sí vel a relaçã o real entre capital
e trabal ho e m ostr a preci sam ente o con trári o da m esm a; é del a que derivam todas as noções jurídicas do assalariado e do capitalista, todas as mistificações da produção capitalista, todas as ilusões libe ra is e todas a s saí das apologéti cas da eco n om ia vul gar . (1 ,19 , 1.036 ) T od a a crí ti ca m arxista das il usões que est rutur a n ão a privam
de su a reali dade pos iti va.
2 .0 fat or deci si vo queperm çã o d a essência,
se rel evam dess a su per
das f al sas aparên
iteadesc ober ta,no processodeprodu cias da circulaçã
o re du z-se ao segui nte:
passand o-s e d a circulação à p rod uç ão, a anál ise pas sa d o estudo das r el a çõe s entr e ind iví du os ao estudo d as rel ações ent re c lasses, de qu e as pri m ei ras são fun ção . Só essa m u d an ça de plan o já é de n atureza t
al
qu e vem a des m ist ificar a s aparên ci as. Vere m os sua im po rtân ci a um p ou co adi ant e. !i “C on trad icti on et surdéterm
inati on ’’, i ri Pour Marx, op. dl.
214
A f o r m a s a lá r io , p o r o p o s iç ã o à f o r m a v a lo r , n ã o c o r r e s p o n d e a n en hu m are al idadeo bj et iva.M ar xnão dei xam argem aqu al quere quí “Valordo trabalho(...)
v oc o ness e po n to, o q u al sal ienta especi alm ente:
é u m a expres são ir raci ona l, ta l com o, po r ex em plo, o va 19 ,1.032 -1). “ O ‘preço do
tr abalho’ é t ão i rrac ional qua
lor da ter ra” (1, nto u m logari tm o
amarelo". Porém , e ss a f orm a il usóri a nã o é daquelas que s dis si pam fac il m ente. M arx elem en tosre vel adospelo
0m
e des vendam
ou
os t r abem quan dode s c r e ve com o um do s
Capital a d escoberta
da irr aciona li dad e da for Capital , el e a fi rm a nã o
m a sal ári o (M arx a Engel s, 8 /1 /1 8 6 8 ). Mas, no
m en os explic it am ente: “ Ess as expres sões i rraci on ais t êm fonte, c on tud o, nasprópri
asrel açõesdeprod O preço da força de t preço do
rabalho
tr abal ho sob
Se é necessári 0
u ção .”(1,1. 03 2)
0
(. .. ) aparece i nevit avel m ente co m o
m od o de p rod uç ão capi tal is ta. (III , cit.)
o bast ante t em po p ara que a históri a cheg ue a decif rar
segre do do sal ári o d o trabalho, nada, a
o contrário, é m
ais fáci l d e
compreender do que a necessidade, as razões de ser dessa forma fenomenal. (I, 19,1.036) C om o as i lusões do feti chism o, de qu e já fal am os, a i lusão da form asalár io éopa caete naz ;n u m caso com o n ooutro , éa r eal idade que engana 0 sujei to en ão 0 sujei to qu e s e eng an a. Ess a éa m anei ra com os e apresenta0 val or da força de trabalho. E M
nism os des se proces so - por exem de nt esà sm ud an çasnad u raçãoda
arx anali
sa alguns dos
m eca
plo, a s m ud an ças de sal ári o corr espon jornadade
tra bal ho.
0
215
Send o val or de u so e v alor de troca, por natureza,
grandezas inco
mensuráveis ,14 as expressões “valor do trabalho”, “preço do traba
lho ” nã o pare cem m ai s i rrac ionais do que “va lor do algodão ” , “pre ç o do algo d ão ” . (I, 1 9, 1 036 ) N o c aso, M ar x nos di z, co m o qu ali dad ecaract erí sti cadap rópriasoci da sociedadeque dec or re a nece
0
fez ant es , qu e a opa ci da de éuma edade capi tal ist a,dem od o que é
ss idade de um
a m etodologia
capaz de
desvendar a aparência para revelar a realidade e, então, demonstrar, retroativam
ente, po r ass im d izer, p o r qu e essa realidade d
um a aparênci
eve rev es ti r- se de
aas si m .
Ciência e ideologia: a disjunção althusseriana
M as, de qu alquer m od o, ess a opacidade
te m u m carát er hist óri co
esp ecífi co. Pa ra Ma rx, a ti pos di fer entes de relações
sociai s corresp
on dem
0
di versos graus d faz nasceraposs ções detraba
e opa cidade e de transparênci a: cap it ali sm o,p orsu avez , ibi lidadehist óri cadeu m asoc iedadeem que “ as con di lhoed evi da práti caaprese
transpar ent es e raci onais com 6 l4 ).U m asoc iedadesoci
ntar ão, pa ra
seus sem el hantes e com
al ist ase ri a, nes sa scondições
0
ho m em , r el aç ões
a natureza’
’ (1, 4,
,u m asoci edadeem
que asre laçõ es soc iai snã oseri am n em m asc ar adasne m def orm adaspor ideologias m
isti ficadoras.
M as é então
que a idéi a de qu e a d isti nção
essência/aparên ci a repr es ent au m aform adeci entif ici dade levantanovo p roblem a. E fet ivam ent e, se as rel ações ex ist ent es em u m a so ci edad e soci ali sta são tr ansparentes, cia dessa
é certo qu e essa dist
soci edade; s erá c onsi derada,
Su bli nh ado p or M. Rubel.
inção será i
nú til pa ra a ciê n
da m esm a form a q ue
0
valor e a
216
m ais- valia, co m o par te integrante d o a parelho conc eitua i neces sári o à anál isedocapit ali sm o,enão, àm aneir a,porexem plo,dasf orç asprodu tiva s e das re laçõ es de produção, co m o u m dos concei tos que o m arxis m o ap li ca àanál isedeq ualquerform açã osocial. Apri m ei radefini ção dada p orM arx sob re o est atut o teórico da disti nçã o deve, portanto, ser recoloca da em ques tã o. Dess e po n to d e vi st a, pod e ser op ortu n o observar qu e Alt huss er tantodes is to ri ci zao con ceitode ali ena ção qu an toesm aece aespeci fic idade hist órica da op acidad ecapi tal is ta; poisn ão defendea te sedeque, segun do M arx, u m a soci edad e com un ista n ão p oderia, ela própria, se r desprov ida de ideologia (no sentido marxista do termo, isto é, implicando falsa con sciênc ia)? 2SEn ão setra ta som ented ainterpr etaçãodo pen sam ento de M arx. Ess a te se tem sér ias con seq ü ên cias teóric as. Qu e vem a se r, po r exem plo ,ano ção dequeoprol et ari adotom aconh eci m entodesuasi tu açã orealna soci eda decap it ali sta n a açã o (proc essos ,práti ca) at ra vé sda qua la des tró i?E de s ua com pree nsã o dos m ecan ism os re ai s da exploração capi tal ist a, de su a revolt a contra el es , n o sentido de criar u m a sociedade n o seio da qu al n ão será nem explorad o ne m m isti ficado, e nt re out ras coi sas?Emsu m a,qu evem ase rano çã ode con sciênciade cl ass e?Des apa receu li tera lmente sem deixar tr aços . E m seu lugar , aparece um a dis ju n çã o radi cal ( u m no vo “ cort e” ) ent re a teor ia, o co n he cim en to c ientí fi co do s intele ctuai s e a ide olog ia das m assas. É assim qu e A lthus ser fala de cate gori as que conv iri am à lut a ideo lógicam as seri am def ici ente s qu an to aos finsdateoria2 6ed om arxism ocom ociên ciaqueproduz novas fo rm asde ide ologia nas m assas. 27A un idad e entre a teoria e os teór ic os, por u m lado 25 Cf. Pour Marx e LiteL
232. 27 Pour Marx, p. 199%Pour Marx,
e Cap ital , op. cit.
217
e, p or ou tro, a práti ca de clas se, fica rom pida; e o qu e se tem diante de s i na da m ai sédo queu m avari antedascar icat urashos ti squ eosbur guese s dã o d o leni nism o: os dir igentes polít icos usam de seus con he cim entos param anipularacon sci ên ciada sm as sa s. A indau m ave z,na base de ss a posiçãoerr ônea, pode-seencontrar u m apreocu paçã olegí ti m a:a depr e ser var a especi fi cidade d a p rática t eóri ca. Afi nal, ex is te realm ente u m a cert a dis tânci a e ntr e a con sciên cia d o m aisrevolucioná rio dosoperários e a ci ên cia d e M arx ou de L eni ne. Mas t rat a- se de u m a dis tânci a, e n ã o de u m a rupt ura. A lém di sso , ess a di stânci a é a de u m a rel ação dial éti ca, já que orientad a no s d ois sent idos. A teori a ci en tífi ca éd esti nad a a susci tar a con sciên cia de clas se,m as es ta diri ge e forne ce orientaçõe sà teo ri a.Des ar ti culad a ess a u nida de , torna-se difí cil fazer a d ist inção entre a teori a m arxi st a da luta pol íti ca e u m a te ori a da m an ipu laçã o. 28É sem dúv ida po r e ssa razão q ue Alt huss er se perm iti u, m u it o recent em ente, algum as form ulaçõ es m ais adequa das d a relação en tr e teo ri a e c lass e, acentua nd o pre ci sament e aca pa cidade deop rol etari ad oapreen dersu ap osi ção obj et i va e l ibe rar -se , co m iss o, de su a sujeição à ideologia, postulada co m o sen do ete rn a.2 9Fic a,entre tanto,a questão d e saberse t al form u laçã o p ode se r tom ad a coerente co m a es trut ura t eóric a q ue el e el aborara ant er ior m enteou se,além di ss o, el es er á obrigadoa aba nd ona r su asposi ções u m a após outra para m elho r def endê-l as e funda m entá-l as. A o r ig e m d o erro de A lth usser resid e n o fa to d e q u e e le n ã o le u n o m a t eor ia da raison d ’êtred a m istif icação, teoria que, cert am ente, se en con tra pre sent e na obra. M as n o decu rso de sua lei tur a, n ãop ôde descobr iroutrateo ri aquetam bém es tápr ese nte ,u m ateori adas senão u Capital
28J. C. F orqu in, op. cit.,p. 31. 29 L . Althusser , “Ave rti ssem ent a ux lectors d u livre I du Flammarion, Paris, 1 9 6 8 , p. 25 .
Capita l”, in: Le Cap ital,li vro ï, Garnier-
218
con dições e d a possi bil idade d a desm isti fi cação. Est a é sem dúv ida m en os 0 Capital desenvolvi dado que apri m ei ra;éj ustam enteporque t erm ina abrupt am ente n o m om en to em que M arxv ai nosfal ar da s clas se s.“ Vi nt e linh as, dep ois sil ên cio” , 30M as j á bas ta . M arx, f alan do da m an eira co m o aexp loração e'veladap eloprocessod a circulação,p ros segue: É be m verdade qu e as coi sas se apr esent am sob u m a luz intei ram en te diferente se se considerar a produção capitalista no movimento con tínu o de sua renov açã o e se se substi tui r o capitali sta e os op erá ri os pela classe capi tali sta e a classe operária. Mas seri a ap li car u m a m edida inte ir am ente e str anha à prod uç ão m erc antil . (I, 24, 1.08 8) A c o is a s e ap re se n ta d e m o d o m u ito d iferen te: a a p a r ê n c ia d e u m a rel ação de igualdad e ent re i nd ivíduos dá lug ar à real idade d a exploraçã o col etiva. Ch ega-se a ela at ra vés da a nálise da s rel ações essenciaisd asoci eda de cap it ali sta, isto é, as relações de classe. M as a an áli se teó rica n ã o é a ú n ica a ter ef ei to . A luta política da classe operária é sua répli ca exata . Ness e casó, n ã o é o anali sta , m as a cl asse operári a org an izad a que apli ca “ um a m edida i ntei ram ente est ranha à produ ção m ercanti l” . El a de ixa d e considerar as rel ações entre capital ist a e op erário individua l e as perc ebe “em su a tot ali dade” , enfrentand o ef eti vam ente acl asse capi tal is ta em seu con jun to. C om isso , vai at é o fun do das f al sas aparências da ideologia burguesa , is so absolut am ente n ã o põe em quest ão a a fi nn ação de Marx de que os trabalhadores são inevitavelmente mistificados na m edi da e m que (e enq ua nto) perm anecerem pri si onei ros das re laçõ es burguesas de pro du ção. Pois é assim qu e ocorr e. Mas o prol etari ad o nã o 30
Lire Le Capital.
219
escapa a es
sas r el açõe s de pr od u ção som ente n o d ia da revolução social
is
ta. C om eça a l ivr ar -se del as a part ir d o m om en to em que se engaj a na lut a polí ti ca organiz
ada , j á que est a im pli ca a ad oção de u m a posição de
cl asse , ess e cri téri o intei ram ente estranh o à p ro d u çã o m ercantil , e a recu sa em pensar excl
usivam ente em ter m os de rel ações i ndivi duais. P or ess a
razão, as con cep ções “ est rut ura list as” d a revo lução en qu an to ruptura (Al thusse r) ou lim it e (G odeli er) são m
en os pr ec isas d o que a no çã o de revo
lução c o m o práxi s (evi dente m ente , co m seu própr assi m , a grand e força das observaç sobre o pap el desm isti fi cador da
io po nto de rup
tura). E
ões i nsi st ent es de R osa L uxem bu rgo açã o p olí ti ca de m assa apa rece plena
m ente. Ao m esm o tem po, a disj un ção op erada por Al
thus se r ent re a cons
ciên cia das m assa s e a d o teóric o reve la- se sem fund am ento. A r el ação int egral entr e e ss as duas con o teóri co retom
sciências
baseia- se n o fato de que, n a an áli se,
a as posiç ões q ue as m ass as adotam
tudo , éevi dent equeess aconstataç
n a luta polí ti ca. Con
ão n ão deve ser tom ad ap oru m a redu
ção, do t ipo: “ ateo ri aé a prátic a” . A p a s s a g e m c it a d a t a m b é m c o n fe r e o u t r a d im e n s ã o à d is t in ç ã o essência/
apa rência.Herb
er t M arcuse ,m ai sd oq ueq ua lqueroutro,sal
tou -a m u it o b e m .31 C om o vi m os, todos M arx esp ecif ic a as r el ações esse
os conceitos at
nci ais da soci
edade cap
ien
ra vé s dos quais it ali sta t êm u m a
fun ção cogni ti va. El es tom am pos sí vel u m con he ci m en to da real idade op osto às f al sas evi dências das
ap arên ci as im ediatas. M as se, pe lo fato de
terem essa fun ção , el es se ref erem a “ cri téri os intei ram ente est ranh os à pr od u çã o m ercanti l’’, tornam -se, po r i ss o m esm o, c on ceit os crí ti cos. E ass im queo concei to dem ai s- val ianã osom ent e per m iteum acom preen são d o m ecan ism o da exploração J1 Herbert Ma
rcuse,
ca pi tal ist a. P ondo a n u a di vi são da
Raison et révolution, Pa
ris, M inu it, 1969-
220
jo r n a d a d e t r a b a lh o e m t e m p o d e t r a b a lh o n e c e s s á r io e s o b r e tr a b a lh o , de ixa e nt re ver um est ado de coi sas do qu al a ex ploraçã o teri a desap areci do. Conté
m “ u m a acu sação e um
im perat ivo” .32N ão ob st ant e, a fun çã o
crí ti cados conceit osnã op oderi as er com preen didacom de posição,
osi m pl estom ada
co m o a lgo m oral izante. Se os conceit os nã o cum pre m su a
fun çãocognit
iva,nã otêm ne nh um valor crí ti co.Qu and oM arx s edi st an
ciacl aram entecom
re sp ei toa “es sa form adecrí ti caque sabeco m o julgar
e con den ar o pre se nt e, m as ignora co queos conceitos nã parti cular qu alquer
m o apreen dê-l o” , el e nos ass inal a
o ret iram su apar tedeval idadedeu
(rel ati vis m o). D evem -na a o f ato de que perm
u m aorgan ização co ere ntedasapar gens que n
m est atut om oral
en h um outro con
item
ênc iaseu m aex pli caçãodesuasor
i
ceit o perm iti ri a. Es se é, co m toda ce rt eza , o
cri téri o de val idad e dos con ceit os. C om o afi rm ou M arcus e: Se a est rutu ra histórica (... çã o (... ) p erm it e explicar
) postulada co
à ex plica
a si tuação, tanto em suas f ases parti culares
co m o na s t endências que se ma qu e é ess encial nessa m
m o “ essencial”
nif estam, en tão se tr at a re almente do
u lt ipli cidad e de a parê ncias. Ess a det er
m ina çã o da essência é verdadei
ra; ela res
ist iu às pr ovas den tr o
da teoria. Rest a exp licar a idéi ci a e aparênci
a de qu e, n o
a é , do m esm o m odo que qual quer out
entr e a tot ali dade e suas par te s. C ada fato ou rênciacuj
relação
ên
ra , u m a di st inção isol ad a
éum aap a
a plen asi gn if icação (ou real idade) sópod es erart iculadacom
a con d ição de se r t eori cam ente integrada e 52Herbe
Capital, a disti n ção entre ess
rt Marcuse , "T he Con ceptofEssence”
m su a t otal idade est rut urada .
, in: Negations, Lond res, 1968, p . 86.
221
V im o - l o a re s p e ito d a lu z c o m q u e a c o n s id e r a ç ã o d a s r e la ç õ e s e n tre a s classes esclare ce as relações individu
ais.
Mas a questão tem alcance mais geral. Limitar-me-ei a certos “ pares ” def at os dequeM arxt rat aem seu c apít ulos obre o m aq uinism oe a i ndú st ri am odem a. 0 m aqu inism o é o ins trum ent o m ai s po deros o pa ra tom ar o tr abalho m m ento da exp
ais l eve ; sua uti lizaçã o capi tal ist a prod uz u m au
loração e da d
om in ação . A ci ên ci a e a tecnologi
sob o capitali sm o, i m ensos progr
essos , absolutam
a f ize ram ,
ente sem prec edent es n a
hist óri a, m as em detri m ento das cap acidades fí si cas e intel ect uais dos operár ios.0 m aq uin ism om od ern odes art icul aasf orm aspetr ificadas da divi são d o trabalho e cri portant o de u m desenvol
a a neces si dade de u m a va ri abil idade das funções, vi m ento m enos uni lat er al , m en os f echa do em si
m esm o; nas con dições a ná rquicas d o capital is m o, entr etant o, o operári o vi vee experi m entae ss ate nd ênci asobaform e d o sofrim en to. Es se s pares de fatos
ada insegura nçado em prego
sã o realm ente con tradições. P
or i sso ,
en carn am te ndênci asquen ã osão si m pl esmente pr ogr es si st as , n em si m plesm ente re gre ss ivas ,porq ue sã o
contraditórias. A essênci
ca epri vade qua lquerap arênciade
contingê
a qu e as exp li
nciaé acontrad
içãocen tra l
ent reas forç asprodut ivasporu m lado- acapacidadeprodutivac
re sc ent e
d o tr abalho soci
al - e, por o utro, as re laçõ es de prod uçã o - a apropri
privad a con tínu a d a m ais- va li a. Ess es par es de fat os partici
ação
pa m des sa
con trad içãocentr ale ,atí tul ode fat osparc iai s,só po d em se rcom preen di do s co m rel ação à tot al idade social d a q ual e ss a con tradição f a z par te, do m esm o m od o q ue e les.
i
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