CURSO
BÁSICO
C. A. T. ¨CHILDREN’ S APPERCEPTION TEST ¨ Leopold e Sonya Sorel Bellak-l949 Bellak-l949
Professora Diana M. J. Tavares Corrêa
Foi a partir da estória do pequeno Hans, descrita por Freud, que se acumulou literatura a respeito da preferência das crianças em se identificarem com animais. Historicamente, deve-se ao Dr. Kris, a idéia de que é mais fácil para as crianças identificarem-se com animais do que com pessoas. Segundo Rabin , os animais que as crianças conhecem, costumam ser menores que os adultos humanos e de forma geral , são considerados tão fracos quanto as crianças ou mais do que estas. Os animais têm importante papel nas fantasias e nas fobias infantis. A nível consciente, destacam-se como amigos (tanto nas histórias, quanto na realidade). A nível inconsciente, o caráter primitivo dos impulsos contribui para aumentar a proximidade simbólica com as crianças. Oferecem também como facilitador a possibilidade do disfarce, além de se prestarem a qualquer idade ou sexo como estímulo. Uma relação de situações fundamentais que poderiam expor a dinâmica dos problemas infantis em contraste ao material manifesto disponível, foi feita por vários autores e, com base nesses dados, foram aceitas as figuras de animais, (preferencialmente identificadas por crianças de 3 a 10 anos) O CAT foi idealizado para facilitar o entendimento do relacionamento infantil quanto as suas figuras e desejos mais importantes , e suas ilustrações procuram retratar “situações vitais” para esta faixa etária. É uma técnica projetiva aperceptiva (apercepção é a integração de uma percepção, com uma experiência passada, mais o estado psicológico do sujeito (realidade), considerada por Anzieu (1979), como a mais eficaz e mais empregada entre as derivadas do TAT (Teste Aperceptivo Temático- para jovens e adultos). Segundo ele também, o CAT pode fornecer os mesmos esclarecimentos que o TAT, sobre identificações, conflitos, angustias, mecanismos de defesa, interação de papéis familiares, o nível de maturidade afetiva, e especialmente , sobre o desenvolvimento do superego. Bellak, ao definir o CAT como ¨um método projetivo, aperceptivo – método para investigar a personalidade, estudando a dinâmica significativa das diferenças individuais na percepção de estímulos padronizados¨ (1981),utilizou-se da hipótese projetiva básica que diz o seguinte: Além da informação destinada a satisfazer o que foi requerido pela tarefa (no caso o teste), o sujeito, numa situação com certo grau de liberdade, nos dá informações a partir das quais podemos fazer deduções relativas à sua organização única de personalidade, incluindo seus traços adaptativos e defensivos. As deduções feitas, serão decorrentes do tipo de teoria de personalidade adotada pelo psicólogo.
O referencial teórico adotado na escolha das cenas das pranchas que compõe o teste é o psicanalítico e elas exploram problemas de alimentação, rivalidade entre irmãos, complexo de Édipo, cena primária , agressão, medos, masturbação, hábitos de limpeza, etc.
O SENTIDO DAS PRANCHAS DO CAT PRANCHA 1 - Três pintinhos ao redor de uma mesa, com um recipiente com comida; um deles não tem guardanapo; atrás, a figura borrada de uma galinha. Extremamente ligada a situação de oralidade; se sente que foi ou não suficientemente alimentado por um dos pais. Podem surgir temas de competição entre irmãos...quem tem mais, quem é mais ,comportado,etc... A comida pode ser vista como recompensa ou sua ausência, como castigo. PRANCHA 2 – Um urso de um lado da corda, como se estivesse puxando, e do outro, fazem o mesmo, um urso e um urso menor. Pode ser vista como uma luta, com temor à agressão ou de uma forma mais branda. Como um jogo (cabo de guerra). Vale observar, se a criança identifica o urso menor auxiliando a um ou a outro pai , neste caso , surgindo temas relacionados à situação edípica. Às vezes a corda é objeto de preocupação, sua ruptura pode gerar culpa e castigo conseqüente. Quando vista como símbolo de masturbação, sua ruptura está ligada ao temor a castração. PRANCHA 3 - Um leão com cachimbo e bengala, sentado; abaixo, à direita, um ratinho. O leão é habitualmente identificado com a figura paterna, com atributos masculinos; às vezes a bengala é usada para torná-lo velho, a quem não é preciso temer (defesa). É necessário observar se o leão, quando é forte, é bom ou mau. O ratinho, é visto pela maioria das crianças, e com ele se identificam, mas pode ocorrer o inverso, se identificarem com o leão, ou ainda, alternarem a identificação. PRANCHA 4 – Um canguru com chapéu à frente, com uma cesta contendo leite e um filhote na bolsa; atrás um canguru um pouco maior numa bicicleta. Surgem em geral, temas relacionados à rivalidade entre irmãos, e a preocupação com o nascimento de bebês. Se a criança for irmã mais velha e se identificar com o canguru da bolsa, estará expressando desejo de regressão, de ficar mais próxima a mãe. Sendo a irmã mais jovem e identificandose com o canguru mais velho, poderá estar demonstrando vontade de independência e liberdade. A cesta pode trazer problemas relativos a alimentação. Podem também estar presentes, temas relacionados à oralidade, e basicamente a relação mãe-filho. Temas relacionados a fuga de algum perigo podem estar falando da relação entre os pais, gestação, etc.
PRANCHA 5 – Um quarto às sombras, onde há uma cama de casal, e pode ser visto um vulto; num berço, dois ursinhos. Surgem temas relacionados às reações diante da cena primária. Os menores no berço, podem desencadear temas de manipulação e exploração mútua PRANCHA 6 – Uma gruta escura, com dois ursos borrados ao fundo e um menor deitado em primeiro plano. Repetem-se os temas relacionados à cena primária como na quinta prancha, às vezes, incluindo ou completando. Situação edipiana, e ainda , situações referentes à masturbação noturna , podem surgir. Pode haver reflexo de ciúme, pela relação triangular. PRANCHA 7 – Um tigre mostrando os dentes e garras, saltando em direção a um macaco que salta num ambiente de mata. Surgem aqui, os temores à agressão e como estes são manejados. Pode-se observar o grau de ansiedade da criança. As caudas dos animais servem para projeção de temores ou desejos de castração . O quadro pode se transformar numa inofensiva estória quando as defesas são muito boas ou irreais, podendo até, acontecer uma total rejeição da prancha . PRANCHA 8- Atrás, dois macacos adultos tomando chá; na frente, um macaco adulto falando (repreendendo) um menor; na parede, o quadro da criança, de uma macaca mais velha. Observa-se aqui, o papel dentro da constelação familiar, como ela se situa; sua relação com o mundo dos adultos; aspectos da educação, e a figura parental visualizada; às vezes, temas de oralidade (xícaras) e o macaco em primeiro plano como pai ou mãe significante. Verificar se com boa ou má índole. PRANCHA 9 - Um quaro às escuras, com a porta aberta, onde se vê um coelho numa cama. Surgem temas relacionados ao escuro, temor ao abandono, ao isolamento ou curiosidade em relação ao outro quarto, (situação edipiana) . PRANCHA 10 - Um cachorro pequeno deitado sobre os joelhos de um cachorro maior, num banheiro. As figuras apresentam um mínimo de expressão. Estórias aqui se relacionam a ¨crime e castigo ¨ e revelam dados sobre as concepções morais da criança. Dados sobre o controle dos esfíncteres e masturbação também podem surgir . Nesta prancha podem aparecer tendências regressivas, mais facilmente do que em outras.
APLICAÇÃO DO C.A.T. - M. C. – 10 anos – sexo feminino Mãe – 34 anos Pai - 33 anos Irmão - 12 anos A mãe casou-se aos 19 anos com o primeiro namorado e dois anos depois, nasce o primeiro filho. Nesta época, segundo ela, o marido vivia com a turma da Faculdade, bebia e estava envolvido com ¨fumo” ...não voltava para casa .. batia o carro... A mãe queria ficar com o filho, mas precisou voltar a trabalhar. Os avós maternos e paternos ficavam com o bebê. SUJEITO – Quando o filho tinha 9 meses, ficou grávida ... não queria (sic)...os testes davam negativo. A mãe já sentia que o casamento não perduraria...queria terminar a Faculdade. A menina nasceu dia 12/02e a mãe voltou às aulas dia 12/03...das 6:00 às 18:00 hs ,fora de casa. A criança era cuidada pela avó paterna “ limpa e alimentada ... sorrindo ou dormindo ¨ (sic). Segundo a mãe, a criança sempre deu respostas que agradavam a todos. A mãe procura a psicóloga com as seguintes queixas : - Bronquite com crises muito fortes, quatro no ano passado, ano em que voltou a morar com a mãe (estava morando com os avós maternos). A bronquite foi diagnosticada como bronquite alérgica e surge principalmente associada a situações ansiógenas. - Medos intensificados de sair sozinha na rua, medo de cachorro e de escuro (sombras na janela) . A bisavó materna morreu de asma; o avô materno também tinha asma mas curou-se; uma tia materna teve uma parada respiratória , 15 dias após um parto. O pai da criança está casado pela segunda vez e tem um filho de 3 anos. A segunda esposa já tinha uma filha, agora com 12 anos. O sujeito tem bastante contato com a bisavó paterna (90) anos , sua tia avó com 66 anos. A avó tem 64 anos e o avô 63 (maternos) .
O Raven Escala Especial aplicado quando o sujeito tinha 10 anos e 5 meses, mostrou um resultado ¨Definitivamente acima da média na capacidade intelectual para sua faixa etária ¨.
C. A. T. Prancha 1 - Na casa da dona galinha, os pintinhos estavam esperando a mãe para comer a sopa de minhoca. Quando a mãe se sentou na mesa, começaram a comer a sopa. A mãe falou: ¨depois que vocês acabarem de comer, tirem a mesa por favor ¨ T.R.= T.T.= 3’ ¨A galinha e os pintinhos¨ (P) O que eles pensavam? (S) Pensavam na comida... estavam com fome. (P) E quando chegou? (S) Ficaram felizes porque iam começar a comer. Prancha 2- Ia ter uma competição...naquela hora, eles estavam treinando para ver quem ia ganhar. Seria uma competição só entre eles. Eles mesmos fizeram o troféu. O troféu deles era um pote cheio de mel. Ficava o irmão mais forte de um lado puxando a corda, e do outro, ficava um urso pequeno e um urso Mais ou menos. No dia seguinte teve a competição e deu empate. T.R. = T.T. = 3’ ¨ Os irmãos ursos¨ (P) Para quem ficou o troféu? (S) Para todos. Prancha 3 – No palácio real do rei do cachimbo. O rei do cachimbo era um leão muito teimoso, ele já sabia que não podia fumar por causa da sua saúde. Todo mundo tentava convencer ele, mas ele era muito teimoso. De tanto fumar, andava até de bengala. T.R.= T.T.= 4
¨ O rei do cachimbo (P) O que aconteceu depois? Resolveu não fumar mais.
Prancha – 4 - Dona canguru tinha um filhote mais velho com sete anos e um filhote mais novo com 2 anos. Ela estava indo fazer um pic-nic. O filho mais velho ia andando de bicicleta, ela com seu chapéu, sua bolsa sua cesta de pic-nic e o filhote mais novo ia indo dentro da bolsa, com uma bola na mão . Eles iam fazer um pic-nic. T.R.= T.T.= 5 ¨A dona canguru e seus filhotes ¨
(P) O que pensavam enquanto iam para o pic-nic? (S) O mais velho pensava que não queria andar de pedalar...de bicicleta, enquanto o irmão ficava na bolsa. O mais novo, estava feliz porque só ia feliz, com a bola que segurava. A mãe cansada de tanto pular para
chegar ao lugar do pic-nic Prancha –5 – (S) Não tem ninguém nesta aqui??? (P) O que você acha? (S) Eu não estou vendo...posso ir ao ¨toillette¨? Obs.: -Ela permaneceu 5’ no banheiro. Punk e Puff eram filhos de dona ursa e sr. Urso. Dona ursa e o sr. Urso foram jantar fora mas não sabiam que horas iam voltar e colocaram Punk e Puff no berço. Punk falou: ¨mamãe volte logo¨. Puff falou : ¨ se divirta¨. Quando já estavam no berço, Punk estava apavorado e ficava choramingando no ouvido de Puff que falou: ¨Punk pare de ficar choramingando no meu ouvido e dorme quieta¨. T.R. = T.T.= 8’ ¨A casa dos ursos¨ (P) Como eles estavam se sentindo? Punk estava apavorada porque não gostava de ficar só com o irmão.E o irmão, calmo porque não tinha medo de nada. Quando os pais voltaram, os filhos já estavam dormindo.
Prancha 6 - O urso e a ursa estavam dormindo enquanto seu filho estava pensando: ¨Bem que eu queria trabalhar em um circo ¨Sonhava com isso a noite inteira . No dia seguinte resolveu falar com seu pai sobre o assunto. O filho falou ¨Pai, eu queria trabalhar em um circo¨. O pai falou: ¨Filho, é Melhor você esquecer, lá no circo eles batem na gente¨ O filhote pensou bem e esqueceu a idéia maluca. Obs.: Sua respiração estava ofegante. T.R.=T.T.=¨Os ursos da caverna¨ (P) Porque trabalhar num circo?
(S) Porque imaginava ser bom...só se divertir, brincar. Prancha 7- Há milhares de anos atrás , existia uma selva muito perigosa, tinha onças, macacos, tigres, chimpanzés ...de tudo que você podia imaginar. Lá tinha muito verde, tinha lagoas e rios . Os macacos e os chipanzés pulavam de cipó em cipó toda hora. As onças e os tigres iam caçar. Eles caçavam coelhos, tatus. Todo dia que amanhece na selva, todos os animais já acordam. T.R. = T.T. = ¨A selva¨ (P) O que acontecia quando se encontravam? (S) Nunca se encontravam. Prancha 8 – Na casa dos macacos vivia uma macaca que se chamava ¨Bananada¨, um macaco que se chamava ¨Urangotango¨, uma outra macaca que se chamava ¨Maria Maluca¨e um macaquinho , filho da dona macaca que se chamava ¨Caçulinha¨. Todas as seis horas da tarde, ficavam na sala tomando cafezinho e assistindo TV. A macaca Bananada e o macaco Urangotango ficavam cochichando na sala , faziam fofoca s de todo mundo. O macaquinho caçulinha só estudava e a mãe dele Mª Macaca falava para ele estudar mais. T.R. = T.T. = ¨A casa dos macacos¨ (P) O que eram um do outro (Bananada e Urangotango)? (S) Eram casados (P) Onde estava o pai do Caçulinha? (S) Tinha morrido.
Prancha 9 – A casa da coelha Lúcia era toda arrumadinha. Ela colocava vasos , toalhinhas, tapetes e enfeitava tudo bem bonitinho. No quarto dela tinha uma cama branca e rosa, uma cortina branca e rosa, uma cômoda branca, um criado mudo cor-de-rosa, um abajur cor-de-rosa e um tapete branco. Ela se ajeitava bem , colocava anéis, colares, brincos e tinha muita bijuteria. Na hora de dormir, ficava pensando a noite inteira se ela se vestia bem, se a decoração da casa era bonita. A coelha Lúcia era uma coelha muito vaidosa. T.R. =T.T. = 5’ ¨A coelha Lúcia¨ Prancha 10- Lupe e Snoopi eram os nomes de dois cachorrinhos bem levados. A dona deles era D. Josefina. Um dia desses, Lupe e Snoopi Entraram no banheiro e fizeram a maior confusão. Pegaram a pasta de dente e espalharam por todo o banheiro, derramaram o vidro de perfume, quebraram o espelho, quebraram o banquinho e foi uma bagunça só. Quando D. Josefina foi até o banheiro viu que Lupe e Snoopi estavam fazendo a maior bagunça e falou: Se vocês não arrumarem obanheiro agora, vão ficar uma semana sem carne¨. Lupe e Snoopi falaram: ¨Tá bom D. Josefina, nós vamos arrumar Agora o banheiro¨. T.R. = T.T. = - 4’ ¨Os cachorrinhos sapecas
Instruções e pautas para a interpretação do C.A.T. segundo Sara B. Hirsch Sara Hirsch, no capítulo “Guia de interpretação do Teste de Apercepção Infantil (CAT-A) de L. Bellak”, no livro – O Processo Psicodiagnóstico e as Técnicas Projetivas de M.L.S. OCampo, propõe que as intruções sejam dadas da seguinte maneira: “Vou mostrar para você algumas pranchas; queria que você me fizesse uma história com cada uma delas, onde você me diga o que aconteceu antes, o que está acontecendo agora, e o que vai acontecer depois”. Quando se tratar de crianças muito pequenas (pré-escolares), pode-se pedir a seqüência temporal no momento propício: “E o que aconteceu antes?” “E o que acontecerá depois?” Quando a criança apenas descreve o que vê na prancha, sugere-se que “imagine uma história”.
Pautas de interpretação 1 - Que animais vê e como os vê. Omissões, acréscimos e distorções . Percepções e elaborações pouco usuais em relação à identidade dos animais (auxílio nos diagnósticos diferenciais). 2 - Que outros elementos não animais são vistos na prancha e de que maneira. Omissões, acréscimos e distorções no conteúdo de realidade. Comparação entre pranchas com um habitat característico do homem e aquelas que apresentam um cenário natural adequado à vida dos animais. (grande quantidade de omissões e acréscimos nesta e na pauta anterior, significa intensa inadequação perceptual e sugere a verificação de casos de psicose). 3 – Possibilidade de dar passado, presente e futuro à história.
4 – Seqüência lógica ou ilógica na construção da história. 5 – Tipo de linguagem utilizada (riqueza, exatidão, adequação à idade,etc...) 6 - Possibilidade de fantasiar, capacidade criativa. 7 – Tipo de interação entre os personagens a nível descritivo. Colocação da problemática. 8 – Qual o tema das relações objetais inconscientes na interação (a); quais as principais ansiedades associadas às relações fantasiadas (b); quais os principais meios de defesa (mecanismos) utilizados (c). 9 – Tentativa de resolver ou não o problema ou conflito na história. Tipo de solução obtida em função dos desejos, medos e defesas utilizadas.