Rosa Virgínia Mattos e Silva
c aminhos d a linguístic a históRic a vr dível
Editor: Marcos Marcionilo Capa
E projEto gráfiCo: Andréia
ConsElho
Editorial :
Custódio
Ana Maria Stahl Zilles [Unisinos] Carlos Alberto Faraco [UFPR] Egon de Oliveira Rangel [PUCSP] Gilvan Müller de Oliveira [UFSC, Ipol] Henrique Monteagudo [Univ. de Santiago de Compostela] Kanavillil Rajagopalan [Unicamp] Marcos Bagno [UnB] Maria Marta Pereira Scherre [UFRJ, UnB] Rachel Gazolla de Andrade [PUC-SP] Salma Tannus Muchail [PUC-SP] Stella Maris Bortoni-Ricardo [UnB]
CiP-braSil. CataloGaÇÃo Na FoNtE SiNdiCato NaCioNal doS EditorES dE liVroS, rJ S583c Silva, Rosa Virgínia Mattos e Caminhos da linguística histórica - “ouvir o inaudível” / Rosa Virgínia Mattos e Silva. -São Paulo, Parábola Editorial, 2008. 208 p. (Lingua[gem] ; 30) Inclui bibliografa ISBN 978-85-88456-88-4 1. Linguística histórica. 2. Mudança linguística. 3. Filologia. 4. Sociolinguística. I. Título. II. Série 08-4415
CDD: 417.7 CDU : 81´28
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ISBN: 978-85-88456-88-4 © da edição brasileira: Parábola Editorial, São Paulo, outubro de 2008
SumáRio
“OUVIR O INAUDÍVEL”............................................................. Inroduo ............................................................................... A. De que raa a linuísica isrica? ....................................... B. Ser ossível searar sincronia de diacronia? ........................ C. Qual a dierena enre linuísica isrica e linuísica diacrônica? .............................................................................. D. É ossível aer linuísica isrica ou diacrônica se considerar a loloia? ............................................................. E. Qual a relao enre linuísica isrica e linuísica erica?
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parte i
A mUDANçA LINgUÍStICA Em pERSpECtIVA INtRALINgUÍStICA E INtRASSIStêmICA ................... 1. A eoria neoraica da udana linuísica ..................... 2. O esruuraliso diacrônico .................................................. 3. O eraiviso diacrônico .......................................................
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parte ii
A mUDANçA LINgUÍStICA Em pERSpECtIVA SóCIO-hIStóRICA OU ExtRALINgUÍStICA ............... 1 precursores ..............................................................................
55 56
2 3
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Antoine Meillet ...................................................................... 56 Michael Bakhtin ..................................................................... 58 Otto Jespersen......................................................................... 60 Ramón Menéndez Pidal......................................................... 62 Émile Benveniste .................................................................... 65 A udana linuísica no uncionaliso .............................. 71 Sobre o sociouncionalismo ................................................... 91 A eoria da variao e udana laboviana ............................. 95 A sociolinguística paramétrica: o “casamento” da variação intrassistêmica e intersistêmica............................................. 133 As tradições discursivas numa perspectiva histórico-diacrônica................................................................ 146 Aluas observaões conclusivas .......................................... 149
parte iii
A REALIzAçãO DA mUDANçA LINgUÍStICA ................... preliinar ............................................................................... 1 Aluns recursores ................................................................. J. H. Bredsdor ....................................................................... O. Jespersen............................................................................. R. Menéndez Pidal.................................................................. E. Sapir .................................................................................... É. Benveniste........................................................................... 2 Os neoraicos ................................................................... 3 O esruuraliso diacrônico .................................................. Eugenio Coseriu ..................................................................... 4 Na sociolinuísica .................................................................. 5 No eraiviso ....................................................................... R. Lass ..................................................................................... Considerao nal .........................................................................
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REERêNCIAS BIBLIOgRáICAS ............................................ 189
“ouViR o inauDÍVEL” Os principais testemunhos para o passado linguístico mais remoto são os textos escritos: inscrições, manuscritos, livros impressos (R. Lass 1997: 44).
Introdução
“O
uvir o inaudível” [“earin e inaudible” (Lass 1997: 45)] ou “a are de aer o elor uso de aus dados” (Labov 1982: 20) so aroriadas eoras, uiliadas or dois esecialisas coneorâneos, ara denir o io de dados de que disõe os que rabala no cao da linuísica isrica. meoras que abé ode, e are, deliiar o que seja o rabalo nesse cao da linuísica. Nesa inroduo, desenvolvo conceios bsicos, ano reerenes à linuísica isrica, no seu senido esrio, coo a sua relao co a loloia e co a linuísica erica. Busco abé resonder às seuines quesões: A. B. C. D.
De que raa a linuísica isrica? Ser ossível searar sincronia de diacronia? Qual a dierena enre linuísica isrica e linuísica diacrônica? Ser ossível aer linuísica isrica e linuísica diacrônica se considerar a loloia? E. Qual a relao enre linuísica isrica e linuísica erica?
Caminhos da linguística histórica
A. De que trata a linguística histórica? tradicionalene, dene-se a linuísica isrica coo o cao da linuísica que raa de inerrear udanas — ônicas, rcas, sinicas e seânico-leicais — ao lono do eo isrico, e que ua línua ou ua aília de línuas é uiliada or seus uenes e deerinvel esao eorco e e deerinvel erririo, no necessariaene conínuo. Conudo, a isria de ua línua, coo a isria dos oens, coo di m. oucaul, “no é ua durao: é ua ulilicidade de eos que se earana e se envolve uns nos ouros” (2000 [1972]: 293). Se assi é, a linearidade eoral das udanas nas línuas deve ser revisa, e a “ulilicidade de eos que se earana” deve ser levada na devida cona or aquele que a linuísica isrica. Ua rera ou lei do io neoraico, e que x (no eo A) > Y (no eo B), no se susena orque, enre A e B, úlilos aores ode er ido eeios ineserados sobre a udana de x > Y. tendo encionado ua rera ou lei do io neoraico, direi aenas, ara reornar à eoria neoraica na are I dese livro, que ela oi a rieira eoria sobre a udana linuísica. Deois do adirvel rabalo dos coaraivisas da rieira eade do século xIx, na reconsruo enéica das línuas, sobreudo as indoeuroéias, de que no raarei nese livro ( c., . e., Weedwood, 2002: 103-106; araco 2005: 139-142, ara ciar aenas auores cujos livros eso e oruus), os neoraicos ora, ceraene, coo di C. A. araco, “u divisor de uas” (id.: 139). Co base e Euenio Coseriu, no clssico Sincronia, diacronia e história, que ara que a “descrio e a isria da línua siua-se, abas, no nível isrico da linuae e consiue junas a linuísica isrica” (1979: 236) e ainda undaenada no abé clssico Fundamentos empíricos para uma teoria da mudança linguística (2006/1968), cujos auores — U. Weinreic, esudioso do conao linuísico (c. Languages in Contact), ublicado ela mouon e 1953 e reediado e 1964, m. hero, dialeloo, auor do alas linuísico do iídice na Euroa, e W. Labov, eno discíulo de U. Weinreic —, ceuei a ua orulao do que raa a linuísica isrica, ou seja, no se raa aenas das udanas das línuas ao lono do seu eo de uso. É alo ais. De eu ono de visa, j eoso e ario de 1988, que no oi conesado, considero que se ode adiir duas randes verenes na linuís
Ouvir o inaudível
ica isrica, que desinei, e aneno, de linuísica isrica lato sensu e linuísica isrica stricto sensu. A linuísica isrica lao sensu rabala co dados daados e localiados, coo ocorre e qualquer rabalo de linuísica baseado e corpora, que, necessariaene so daados e localiados, al coo os esudos descriivos, sobreudo do esruuraliso aericano, que eve seuidores no Brasil, inclusive eu esa no livro de 1989, Estruturas trecentistas. Nesse livro, descrevi os dados de u lono eo do século xIV, Os quatro livros dos Diálogos de São Gregório; os esudos dialeolicos, ano alas linuísicos, coo onoraas sobre dialeos reionais; os esudos sociolinuísicos, coo os da sociolinuísica variacionisa, que rena o éodo de quanicao or eio de roraas inoraiados, que erie cruar variveis inra e eralinuísicas e esabelece os esos relaivos dessas variveis; os esudos enolinuísicos, que, uiliando inoranes adequados aos objeivos, consiue corpora ara anlise, e eral de naurea qualiaiva. poderia ainda incluir na linuísica isrica lato sensu as eorias do eo, do discurso e da conversao, que se baseia e corpora daados e localiados. Considero a linuísica isrica stricto sensu a que se debrua sobre o que uda e coo uda nas línuas ao lono do eo e que ais línuas so usadas. É essa a radicional conceo da linuísica isrica, que, no seu senido esrio, ode ser rabalada e duas orienaões: a) a linuísica isrica scio-isrica e b) a linuísica diacrônica associal. A do io a considera aores eralinuísicos ou sociais, abé aores inralinuísicos, coo a scio-isria roosa or S. Roaine (1985) e as sociolinuísicas, que raa da udana linuísica, coo é o caso da eoria laboviana da variao e udana. Desse io de linuísica isrica raarei na are II dese livro. A do io b considera aenas aores inralinuísicos, coo é o caso dos esruuralisos diacrônicos, cujo eelo aior é o de A. marine, no seu livro de 1955, Économie des changements phonétiques, e do eraiviso diacrônico, que e coo reresenane aior D. Lioo, que, desde 1979, co o seu livro Principles o Diachronic Syntax, ve reorulando
Caminhos da linguística histórica
sua eoria da udana sinica, de acordo co as odicaões do odelo eraivisa. Desse io de linuísica isrica raarei na are I. A linuísica isrica no senido esrio deende, direaene, da loloia, ua ve que e coo base de anlise inscriões, anuscrios e eos iressos no assado, que, recuerados elo rabalo lolico, orna-se os corpora indisensveis às anlises das udanas linuísicas de lona durao. O que oi eoso aé aqui, no que se reere à queso A, ode ser sineiado no rco seuine: Filologia
Linguística histórica
A “ciência do texto”, base dos dados da linguística histórica. Stricto sensu
Lato sensu
Todo tipo de linguística que trabalha com corpora datados e localizados. Linguística histórica sócio-histórica
Linguística diacrônica associal
Considera fatores extralinguísticos ou sociais
Considera, sobretudo, fatores intralinguísticos
B. Será possível separar sincronia de diacronia? Desde que . de Saussure oi divulado no célebre Cours de linguistique générale (1916), a dicooia “sincronia” vs. “diacronia” ornou-se, ara os esruuralisos que se iniciava, u dos osulados bsicos da linuísica oderna. Saussure deendia que a langue ou “sisea” seria u coleo sisea de valores uros, ou seja, que os eros que o couna no se 10
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denia or si esos, as or relaões recírocas. Esse sisea ooneo consiuiria u état de langue e seria o objeo de esudo recíuo da linuísica, da linguistique de la langue. A diacronia, or sua ve, raaria das udanas or que ua línua assa no eo e essas udanas ocorreria na parole. Saussure deu rioridade à linguistique de la langue, e derieno da linguistique de la parole. Conudo, Saussure adiiu que a anlise aenas sincrônica seria ua absrao erica, idealiada coo ob jeo de esudo, ua ve que esava consciene do ovieno das línuas ao lono do eo. No esruuraliso aericano, sobreudo o de orienao blooeldiana, é que a descrio sincrônica, ou linuísica descriiva, eviando aruenos isrico-diacrônicos, doina soberana. Co a eeonia dos esudos sincrônico-descriivos, os esudos isrico-diacrônicos assara a lano secundrio. Enreano, no ardou que surisse os “revisionisas” dos osulados saussurianos. No que concerne à dicooia “sincronia” vs. “diacronia”, desacarei rieiro Coseriu. Coseriu, u dos randes linuisas do século xx, no seu livro Sincronia, diacronia e história: o problema da mudança linguística, ublicado e oruus e 1979, ao adiir que “a descrio e a isria da línua… consiue junas a linuísica isrica” (1979: 236) e sendo coerene co a disino que desenvolve enre uncionaeno, sincrônico, e o consiuir-se, diacrônico, e que sincronia e diacronia so duas aces do eso enôeno, ara: A línua se a…: é u aer-se nu quadro de eranncia e de coninuidade… mas o ao de se aner arcialene idnica a si esa e o ao de incororar novas radiões é, recisaene, o que asseura sua uncionalidade coo línua e seu carer de “objeo isrico”. U objeo isrico s o é, se é, ao eso eo, eranncia e sucesso (id.: 237-238).
Co a sociolinuísica laboviana ou variacionisa, cai or erra a “ooeneidade” do objeo de esudo saussuriano, quando, j nos Fundamentos empíricos para uma teoria da mudança linguística, de 1968, deende os auores a “eeroeneidade” sincrônica. Essa “eeroeneidade ordenada” eriiu que a udana linuísica se inerasse a esse odelo erico, que criou o ariício eodolico do “eo aarene”, dando are à deonsrao da udana nua diacronia sincrônica, co base no esudo da variao de alanes de aias erias dierenes, convivenes nua esa counidade de ala, e u eso eo e luar. pelas resas da variao eria se evidenciava, na sincronia, a diacronia. 11
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C. Qual a dierença entre linguística histórica e linguística diacrônica? Cosua-se no disinuir linuísica isrica de linuísica diacrônica. Conudo, essa disino deve ser eia. iquei alera ara essa dierena, quando Ian Robers inisrou u curso sobre eraiviso diacrônico e, or er se ineressado elo que nosso ruo de esquisa — proraa ara a hisria da Línua poruuesa (pROhpOR) aia, disse que aíaos linuísica isrica e no diacrônica, iso é, rabalvaos co o objeivo de descobrir ou desvelar a consiuio isrica da línua oruuesa ao lono de seu eo isrico. Os eraivisas busca “elicar” (enre asas elicar, orque rero “inerrear”) as udanas — no caso, sinicas — que ocorrera se considerar aores eernos, ou scio-isricos, ineressados aenas nos aores rrios à grammar do alane, ou seja, e seu rocessaeno couacional. Essa osio erica é consequene co a eoria eraiva, que considera a linuísica coo ua “cincia naural” e no “isrica”. No livro Clause Structure and Language Change (1995), A. Baye e I. Robers so aaivos e be dene, da eoria de rincíios e arâeros, a linuísica isrica, conraondo a radio e a erseciva que adoa: A aioria do rabalo radicional na linuísica isrica e na loloia é rabalo sobre a “E-lanuae”… a anlise de ua línua coo “E-lanuae” é indeendene, e rincíio, de qualquer roriedade que ossa ser aribuída à ene/ cérebro dos alanes naivos… à raica concerne undaenalene a “I-lanuae” (id.: 7).
Deois de relacionare “quesões radicionais” aos esudos diacrônicos ara: Qualquer resosa que ossaos divisar ara as quesões dadas deender desa queso: quais so os ecanisos da udana de arâeros… Acrediaos que o esudo da sinae diacrônica, ua ve que nos d u insight sobre os ecanisos da udana de arâero, ode nos dier alua coisa sobre a arcao de arâeros, iso é, sobre a aquisio da linuae (id.: 6-8).
I. Robers ina rao ao arar que linuísica isrica é o que aeos no pROhpOR, e diacrônica, o que ae os eraivisas coo ele. Vola 12
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rei à eoria da udana nua erseciva inrassisica na are I dese livro e abé à eoria da udana no eraiviso diacrônico.
D. É possível azer linguística histórica ou diacrônica sem considerar a flologia? Ao buscar resonder à Questão A, aresenei e u rco a relao enre a linuísica isrica, que no seu senido esrio deve esar relacionada, eso deendene, do rabalo da loloia e, ali, sineicaene, dio que a loloia é a “cincia do eo”, isso na verdade di uio ouco. Buscando ua denio ara a loloia no âbio dos esudos lolicos e linuísicos sobre a línua oruuesa, coeo co o esre Leie de Vasconcellos que, nas suas Lições de flologia portuguesa, dene co aliude a loloia: A loloia abrane ois: isria da línua (looloia, lica, linuísica e seus raos) co a esilísica e a érica; isria lierria. a-se alicao rica da loloia quando se edia criicaene u eo (1950: 8).
E conclui Leie de Vasconcellos Nas inas releões, enendo de ordinrio or loloia oruuesa o esudo de nossa línua, e oda a sua aliude, no eo e no esao, e acessoriaene o da lieraura, olada sobreudo coo docueno oral da esa línua (id.: 9).
illoos brasileiros coo Sera da Silva Neo, Anenor Nascenes, Sousa da Silveira, enre ouros, lloos declaradaene discíulos de Leie de Vasconcellos, aceia essa conceo abranene ara loloia. Nesse “eo” uio be denido or Ivo Casro, abé lloo, e esudo e oenae ao rande lloo brasileiro Celso Cuna, edior dos Cancioneiros de paay goe Carino, marin Coda e Joan zorro, aroriadaene, di que era o “eo”: e que linuisas abé era enraos, isoriadores, olclorisas, arqueloos e no ina roblea de idenidade discilinar, ois se sabia aricianes de ua vasa eresa de aquisio de conecienos diversicados, as aroniveis e orno de u ineresse cou ela alavra docuenal ou arísica e elo seu cooraeno na isria. Conecere-se odos or lloos era radicional e aroriado (1995: 512). 13
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J Joaqui maoso Câara Jr., o caado “ai da linuísica” (oderna) no Brasil, conraõe a linuísica à loloia, no seu Dicionário. No verbee “Linuísica” di: traa-se de ua cincia desineressada, que observa e inerrea os enôenos linuísicos: a. nua dada línua; b. nua aília ou bloco de línuas; c. nas línuas e eral, ara dereender os rincíios undaenais que ree a oraniao e o uncionaeno da linuae enre os oens. h assi, orano, a linuísica esecial (oruuesa, rancesa ec.); a linuísica coaraiva (indoeuroéia, caíico-seíica ec.); a linuísica eral. No so eros equivalenes à raica, e qualquer de suas aceões e à flologia, que pressupõe uma língua culta e uma escrita (1970 [1956]: 1956; rios eus).
maoso Câara Jr. resrine o cao de rabalo da loloia. Dele discordo quando di que a loloia “ressuõe ua línua lierria”. Basa reerir os eos no-lierrios (ociais ou ariculares) que j ora ediados, ou eso a ser, no projeo ara a hisria do poruus Brasileiro, coordenado or Aaliba de Casilo, e a edio onuenal de L. . Lindley Cinra sobre os Foros de Castelo Rodrigo, de 1959. A loloia, oje, arece inerar-se elor coo ua das oras de abordar a docuenao escria, ano lierria coo docuenal e senido alo, enriquecida elas vias da críica eual, ano de eos anios coo odernos. Assi a loloia assue o seu luar coo a “cincia do eo”, erana benéca seeada quase vine séculos elos aleandrinos, nu reorno que, no dier do lloo oruus I. Casro, no é ua resaurao, as renovado reorno, or causa dos diensionaenos de seu objeo, or causa dos avanos da inorica (c. Casro, 1995: 531). E no que concerne aos esudos linuísicos, or causa do abé renovado reorno relaivaene aos esudos isrico-diacrônicos. Qual ser eno o rabalo do lloo? Ninué elor do que a lloa ialiana, no senido ais alo ossível do ero, Luciana Senano piccio, ara resonder a essa inerroao. No seu livro A lição do texto: flologia e literatura, di: illoo é que, uiliando odos os insruenos dos quais ode disor, esudando odos os docuenos, se esora or enerar no eisea [esaos sincrônicos ideoloicaene unirios] que decidiu esudar, rocurar a vo dos eos e de u assado que j no considera suocado elos esados sobreosos (1979: 234).
Esero que se veja que no se ode aer linuísica isrica ou diacrônica se a docuenao reanescene do assado. Lebre-se que o erai 14
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visa David Lioo no seu Principles o Diachronic Syntax, de 1979, enre ouros robleas que levana na inroduo de seu livro, ressala o ael do lloo, edior de eos do assado, se os quais se orna iossível alicar qualquer eoria sobre a udana linuísica, inclusive a eraiva. Coo no Brasil, a loloia recuou ara dar esao à linuísica oderna, aqui aorada na década de 1960, viu-se de reene, ao reornare os esudos isrico-diacrônicos — ela via da sociolinuísica, do eraiviso e, ais receneene, ela via dos uncionalisos — que uios linuisas ora e busca da releada loloia. No que se reere à eodoloia, deve-se ressalar que no se ode ne se deve uiliar qualquer edio de eo do assado ara a anlise isricodiacrônica: a edio e de er sido eia co rigor flológico e co o objeivo claro de servir a esudos linuísicos; ediões úeis ao isoriador ou ao esudioso da lieraura ou ao caado rande úblico, as que, conudo, no deve ser usadas ara esudos de isria linuísica.
E. Qual a relação entre linguística histórica e linguística teórica? E obras clssicas sobre a linuísica isrica, ais coo a Historical Linguistics, de teodora Bynon (1990 [1977]); a Historical and Comparative Linguistics, de Raio Anila (1989 [1972]); a Socio-Historical Linguistics, de Suanne Roaine (1985 [1982]) e a de Raio Lass, Historical Linguistics and Language Change (1997), no raa esses auores da relao enre linuísica isrica e linuísica erica. Rober marin, e Para entender a linguística (2003 [2002]), orania o seu livro e seis caíulos: no rieiro, raa da linuísica descriiva; no seundo, da linuísica erica; e seuida, da linuísica eral; da losoa da linuae; da linuísica isrica e da linuísica alicada. Nessa obra, que e coo subíulo Epistemologia elementar de uma disciplina, vou e deer no que di o auor sobre a linuísica erica, caíulo 2, e sobre a linuísica isrica, caíulo 5. Dene marin linuísica erica, loo no rieiro arrao do caíulo, diendo que a “nalidade da linuísica no é soene descrever, as 1
Caminhos da linguística histórica
abé elicar: dier or que os aos so coo so. Que esécie de causalidade a linuísica ode alear?” (id: 51). É a essa eruna que ele vai enar resonder. marin descara a “causalidade” isrica — “or ais esclarecedora que ossa ser, se rende a ua causalidade enoenal: u dado enôeno rové de ouro ais anio” (id.: 52). À . 53, ele di que enar osrar que a “elicao no ode escaar de ua eoria”, que deve “dar cona do discurso” (id.: 57). E elica que “dar cona” sinica “redier”. Conclui que a “uno da eoria é, eno, ua uno rediiva, se eerce essencialene e dois doínios: a cobinao e a inerncia” (id.: ib.). Coninuando, di ele que a “cobinao” deve redier as cobinaões que so aceiveis e as que no so: u dos randes érios do linuisa aericano N. Cosky oi er colocado o roblea nesses eros e -los vinculado às eincias do que se caa “oraliao” (id.: ib.).
Conclui o ie sobre a “cobinao”, arando que, “no das conas, so eras descriões siseaiadas, aberas sobre o ossível, as uio racaene elicaivas” (id.: 62) Quano à “inerncia”, di que “ocua u luar iorane na eoria seânica” (id.: 62), e ais adiane, a arir de eelos, ara o auor que é iorane a relao inerencial, orque ua das unões da eoria ser redi-la correaene (c. . 63). Desaca ainda: ua eincia essencial: a da eneralidade. Ua elicao suõe sere que nos eleveos a u nível suerior de absrao. As eorias rediivas ode se siuar e níveis uio variveis de eneralidade (id.: 67).
Deois de desenvolver os “níveis de eneralidade”, conclui o caíulo 2, osrando que, coo a linuísica aresena “oda sore de odelos” (id.: 73), disso resula ua oridvel variedade erica, da qual no odeos dar nese livro, ne sequer u anoraa… o erio, de odo odo, é que se ulilique “as irejinas”: as oões ericas ode aé ser o eclusivas que os ebros de ua escola ole soberbaene os de oura. mas as ersecivas eso udando… Se é reciso rejeiar os ecleisos e as síneses, a linuísica erica, or ouro lado, e udo a anar se rivileiar,ara alé das dierenas, os rincíios unicadores e a invesiao de universais eodolicos (id.: 73-74). 16
Ouvir o inaudível
No caíulo 5, marin raar da linuísica isrica. Ara, de início, que “odas as línuas evolue” e s “eranece esicas as línuas oras” (id.: 135). Considera que a linuísica, orano, e obriaoriaene ua dienso isrica. Decero, é ossível desineressar-se da isria. A linuísica “esruuralisa”, aericana ou euroéia, considerou que o bo uncionaeno das línuas no suuna e nada conecienos isricos (id.: 135).
Considera marin que ua “dula dienso” na linuísica isrica: toda línua é eia de caadas diversas: é necessrio u ínio de culura isrica ara discerni-las. Elicar ua línua é, ao enos, e are, coreender sua isria… eis, orano, o que jusica a abordae isrica, eso e ura sincronia coneorânea. mas ca bvio que a isria da línua enconra e si esa alas raões ara odicar sua rica (id.: 141-142).
Ao raar da “elicao isrica”, di que essa “elicao se baseia e dois ios de noões: os universais diacrônicos e as endncias iolicas” (id.: 147). No desenvolverei aqui esse ico, que ser ocaliado na are III dese livro. Ao naliar o caíulo 5, ara marin que “de ao a isria se siua ora de oda revisibilidade” (id.: 160). E encerra: As u eríodo de relaivo aaaeno, a linuísica diacrônica recuera ua vialidade oda nova: os dados no ara de se acuular e os éodos elicaivos de se oralecer. Aqui, coo e ouros caos, o roresso eiiria u esoro de unicao. Se é ilusrio — e alve ernicioso — querer unicar os éodos, é urene aroniar da elor aneira ossível o acesso aos dados; cada ve ais docuenos so eleronicaene consulveis; s a unicao relaiva de sua baliae iereual eriiria ua elorao verdadeiraene eca (id.: 160).
Ebora os caíulos 2 e 5 de marin no ena a ineno de relacionar linuísica erica e linuísica isrica, inora, se dúvida, sobre o objeo de esudo dessas duas linuísicas. Conquano obras clssicas sobre a linuísica isrica no rae da relao enre as duas linuísicas e causa, o livro de Carlos Albero araco, Linguística histórica (2005), raa da relao enre “linuísica descriiva/ erica x linuísica isrica” (2005: 98) e di: mais odernaene, e decorrncia da ora coo se v dando os esudos sincrônicos, os anuais cosua usar a denoinao linuísica erica ara os esu 1
Caminhos da linguística histórica
dos sincrônicos (elo ao de esses esudos se ocuare anes co a consruo de odelos ericos, deduivos, dos siseas linuísicos e no co descriões induivas) e oosio à linguística histórica (id.: 99).
Ao raar de “conceões de linuae e orienaões ericas dierenes”, di araco: A orulao e a discusso críica dos conceios de sincronia e diacronia revela a queso eiseolica cenral da linuísica isrica, ou seja, a conceo do objeo de esudo que cada ua das dierenes orienaões e. Dieos que essa é a queso cenral orque é ela (a conceo de linuae) que vai direcionar o odo coo cada orienao erica vai enender a udana, o que, or sua ve, vai deerinar seus dierenes éodos (id.: 102-3).
E, à . 105, ara: E rao da diversidade erica que caraceria a cincia e cada oeno de sua isria, e e rao dos resecivos confios enre as eorias e a eoria e o real, o rocesso acuulaivo se d enos or soa do que or alas reelaboraões ericas, iso é, or reoadas de quesões eíricas e rocedienos analíicos e novas caves inerreaivas.
E “Selecionando eorias”, di araco: Ao iniciar-se e linuísica isrica… o esudane no e aenas de doinar conceios e éodos, as rincialene er clarea quano a ceras oões aneriores a conceios e éodos que ele dever aer ( id.: 105).
peruna-se araco: “o ecleiso seria ua saída?” E resonde: O ecleiso acilene era conradio inerna, o que é u deeio caial de qualquer elaborao erica. Ao eso eo, o ecleiso nunca arane ua base eodolica consisene e, jusaene or isso, acaba or no ornecer as bases ara ua ao roduiva… Isso no quer dier que no aja eorias coaíveis, enre si, ne que a oo or ua eoria sinique doaiso. A coaibilidade de eorias se d, e eral, quando elas coarila undaenos loscos (id.: 110).
Coninua araco: Condenar o ecleiso no sinica — é iorane reeir — que as eorias no se enrecrue… Assi, ua coisa é o ecleiso (u aonoado acríico, innuo, de eorias) e oura é a sínese erica que ilica a neao de ua eoria (ela críica a seus undaenos) e a reoada das quesões eíricas e de seus rocedienos analíicos e novo esquea erico, e nova cave inerreaiva. Se o ecleiso é condenvel, a sínese é, evideneene, desejvel (id.: 111). 1
Ouvir o inaudível
Concordo lenaene co as osiões de araco. Eorei, conudo, eu ono de visa, que no divere do dele, as es eseado na rica de quase quine anos do pROhpOR. No eo co que nos aresenaos, e 1992, ao CNpq, u de nossos robleas era eaaene ese: que lina erica seuir? Oaos no elo “ecleiso erico”, as or ser “eerodoos”; no seuir ua lina erica única. J avia no ruo “esruuralisas”, “variacionisas” e “eraivisas”. hoje abé “uncionalisas”, “lloos”, “leicloos/leicraos” e aluns que busca reconsiuir a scio-isria do oruus brasileiro. A deciso do ruo oi: qualquer rabalo/esquisa deveria er ua “base descriiva” e, de acordo co a orao e objeivo de cada u e cada rabalo/ esquisa, a base erica deveria er coerncia e consisncia erica, qualquer que osse. Esudaos eos clssicos da linuísica isrica ou diacrônica de A. Kroc, D. Lioo, S. Roaine; de uncionalisas (alees, inleses, aericanos e brasileiros), endo coo objeivo a reconsiuio do assado da línua oruuesa. S. Roaine, no seu livro de 1985 — Socio-Historical Linguistics —, nos deu ua isa undaenal, sobreudo no que se reere a u aseco eodolico (oda eoria e o seu éodo): analoaene às classes sociais dos esudos de udana linuísica no “eo aarene” da eoria laboviana, o “io” ou “nero de eo” so variveis eernas ou eralinuísicas que deve ser consideradas. A arir daí, as esquisas do pROhpOR, que raa de udana no “eo real de lona durao”, buscado levanar dados e eos de naurea disina. para o eríodo arcaico da línua oruuesa (séc. xIII a eados do séc. xVI), no so uias as oões: eos noariais (ariculares e ociais); eos isoriorcos; eos de lieraura reliiosa; eos ccionais (coo é o caso do Ciclo do graal) e a rica docuenao oéica do Cancioneiro medieval poruus, ano o roano coo o sarado. No que se reere à isria do oruus brasileiro, a esa esraéia de seleo de eos ve sendo adoada: caras ociais e ariculares; docuenos ociais (aas, esaenos/invenrios), anúncios de jornais e edioriais (eses úlios, a arir do século xIx), sere buscando se a “o” 1
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que escreveu o docueno é a de u brasileiro, de u oruus ou de u aricano ou arodescendene. Nese úlio caso es a esquisa de Klebson Oliveira, co base no Arquivo da Sociedade proeora dos Desvalidos, ua irandade de cor, criada na 2ª década do século xIx or aricanos ara alorriar escravos. Ele ve esquisando a relao ala/escria na docuenao no-lierria oiocenisa. É ineressane saber que a rieira lei ara a ororaa e línua oruuesa é do coeo do século xx. Ua queso endene e candene, no colocada no início desa inroduo, é a da relao ala/escrita na docuenao do assado. para aluns auores, a linuísica isrica é a isria da línua escria, as se a ala no se escreve, ode-se enrever ou enreouvir a vo aravés dos eos: area diícil e aenas aroiaiva, “ouvir o inaudível”. S. Roaine, e seu Socio-Historical Linguistics (1985), raa do ea língua alada vs. língua escrita. Sineiarei aluns onos do seu eo: pode-se dier que línua alada e línua escria so insâncias de ua esa línua incororada or eios disinos… A uno da escria no é silesene ravar a línua alada: o ao de escrever e ua eisncia indeendene (1985: 14-15).
À . 17, ela ara que a linuísica e arinaliado a línua escria e ara: A osio que se deve oar é esa: éodos de anlise linuísica que so vlidos, se a línua escria é ua insância da línua, eno as esas écnicas ode ser alicadas a odas as insâncias. E ouras alavras, a eoria linuísica no deveria, necessariaene, ser esendida ara cobrir odos os casos relevanes; deveria alicar-se àqueles casos da escria coo e sido eio or oda are (id.: 17).
Coo sociolinuisa que é, di Roaine: A línua escria e sido objeo de esudo, as eu ono de visa é que écnicas da sociolinuísica (ou elo enos écnicas consideradas esecicaene sociolinuísicas) no sido ereadas e aqueles que se auodenoina de sociolinuisas ainda no se enajara e ais esudos (id.: 20).
Considerando o eríodo arcaico da línua oruuesa, discue-se é ossível cear, aravés da docuenao escria, ao oruus correne. h aé que deenda que sobre a docuenao arcaica s se ossa consruir raicas de eos, nunca ua raica de u esado de línua do assado. 20
Ouvir o inaudível
Sendo a docuenao escria que eranece e sendo ela ua reresenao convencional da ala, ereos o refeo da ala, que erie irar conclusões, aé cero ono seuras, no nível oroônico, j que, no avendo ua noraiao ororca, a anlise da variao da escria oerece indícios ara alua erceo da vo, ou seja, da línua no seu uso rieiro, e qualquer dos níveis e que se ode esruur-la: ônico, rco, sinico, discursivo. tabé a ausncia de u conrole noraivo a co que no eo edieval a variao seja consane, ao que abé ode ser indicador de usos variveis da ala. O eso se ode dier da docuenao do eríodo colonial brasileiro, e que os anuscrios, às vees de leiura uio diícil, erie enreouvir a vo elas resas da variao da escria. para concluir esse ico, escoli R. Lass. Sobre a eora “ouvir o inaudível” di Lass: “muio do nosso rabalo e a ver relaivaene co línuas anias, de que no disoos de ravaões ne eos acesso aos alanes” (1997: 45). A rosio do que a escria reresena, ele oina que “inenuaene, a escria reresena a línua; as e que nível e co que reciso?” (id.: 47). Conclui o caíulo 2 — “Wrien Records” (1997: 44-103) — co o ie, draaicaene iniulado: “Inerrear vs. desaarecer” (id: 96) e di que eca o caíulo “raando de u roblea inravel” (id.: ib.), orque: eendar, noraliar e ouras oras de ediar alsica e radue sob o íulo de ornar acessível, ao eo e que reende ‘reresenar’ objeos do assado. pior ainda, ais rocessos rodue seudodados e rejudica a leiura de onuenos isricos (id.: 102).
Se seuísseos o essiiso de R. Lass, no averia linuísica isrica! Ne ele eso, que é auor de u volue alenado — 423 inas —, Historical Linguistics and Language Change, ublicado e 1997 or insisncia de J. Aylin, sua aia, ara que ublicasse o “bloody book”, coo se ode ler no recio (. ). Se elas eorias da linuísica isrica e co o suore de eorias linuísicas e eral, se ode cear à caraceriao esqueica de u oeno da isria assada de ua línua, so os dados eíricos, ornecidos ela docuenao reanescene, que conraro ou no as eorias e que erie rasrear e e are reconsruir seu uso vivo. Assi, ara cear, 21
Caminhos da linguística histórica
or eelo, às ossibilidades raaicais do oruus arcaico, as eorias e os dados devero esar inerliados. Ainda desaco o que die R. Lass e Labov sobre o carer aradoal da linuísica isrica e da udana linuísica. Di o rieiro na equena noa que inrodu o livro: “A concluso aradoal é que nossos éodos isoriorcos so requeneene elores do que os dados co que se e de rabalar” (1997: s/n). tabé Labov desaca o carer aradoal da linuísica isrica, que dene coo “aradoo isrico”: Sendo o assado dierene do resene, no coo saber quo dierene ele oi … O enôeno que esaos esudando — a udana linuísica — é irracional, violeno e irevisível. Desenvolver rincíios de udana linuísica ode arecer u ereendieno quioesco, coo uios esudiosos j concluíra… A linuísica isrica é arcada ela revalncia de conradiões aradoais que oerece u rico leque de desaos ara o esecialisa que deseje resolv-los (1994: 21).
para concluir esa inroduo buscarei diensionar ainda aluas quesões que envolve a linuísica isrica: por que as línuas uda? Coo as línuas uda? So essas as erunas ririas e rieiras ara as quais a linuísica isrica busca resosa, desde que se consiui, co rioroso éodo, a arir do século assado, as ceraene desde anes, coo eseculao e orno de robleas cruciais ara a coreenso do enôeno da linuae uana, ou eso desde uio anes ainda: lebro o io de Babel, nos conns de nossa isria. Na coneoraneidade, a areenso do enôeno se vola, co redoinância, ara ca-lo nas sincronias convenienes e deerinado oeno e luar da isria, no eo aarene da diacronia sincrônica. E assi o âbio da linuísica isrica se alara e se esreia, no se odendo oje deiar de ensar ano na linuísica isrica no seu senido esrio e anio — a udana das línuas ao lono do eo —, coo na linuísica isrica, e u senido lao e recene, que abarca as aniesaões coneorâneas de aos linuísicos no coeâneos. Daí or que oje a linuísica isrica enloba os esudos de línuas inerados no ovieno sincrônico das sociedades e que so usadas. Inclui, orano, asecos doinanes da sociolinuísica da seunda eade 22
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dese século, abé da dialeoloia, nascida j no século assado, coo desdobraeno subsequene e naural do isoriciso neoraico doinane na seunda eade do século xIx. Nessa conjuao da linuísica isrica no seu senido esrio, o da udana no eo real, co a que rabala co dados das línuas na sua variao e udana social e esacial sincrônicas, v-se e causa o osulado laboviano conecido coo “rincíio unioririo”, o de que o conecieno das realidades in praesentia abre caino ara elor coreenso de enôenos assados e o conecieno de realidades assadas docuenadas clareia a coreenso de enôenos da aualidade. posio be eressa nesa assae do Building on Empirical Foundations de Labov: A aliana que Weinreic-Labov-hero (1968) rouna enre dialeoloia, sociolinuísica e linuísica isrica é orienada ara u io de eoria que equilibraria a balana enre elicao isrica e sincrônica, corriindo o viés a-isrico da linuísica eral do século xx. (1982: 21).
mais receneene, v-se que o rocesso de consiuio das línuas coea a enrar coo arueno de eorias linuísicas que coo ob jeivo undaenal no o resonder ao orqu e ao coo as línuas uda, as coo elas se desencadeia onoenicaene no indivíduo e coo reresenar essa ossível raica “naural”. É cao novo de busca e que arece se odero enconrar verenes aníodas das línuísicas dese século, e que as orulaões dos siseas e/ou raicas e as orulaões isricas sobre o consruir-se das línuas seria incoaíveis. Esse enendieno da osio do esudo da udana linuísica e ua eoria da raica es eliciado e uios rabalos de D. Lioo, orulado coo na assae seuine de The Language Lottery: Se olaros ara o ono e que ceras udanas ocorre, odeos ober inoraões sobre os liies de raicas ossíveis, sobre o oeno e que o abiene linuísico uda de al aneira que desencadeie u dierene io de raica (1984: 149).
Co essas novas abordaens que arca a cincia da linuae dos ns dese século, e-se u renascieno da linuísica isrica, io de linuísica que e nascer a cincia da linuae no século assado. 23
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Deve-se noar, conudo, que esse renascer no ilica nua revoluo aradiica na linuísica isrica, uio enos na linuísica e eral, as aenas nua reenrada da linuísica isrica no cenrio das correnes linuísicas eeônicas. No sou eu, nos liies de ina circunsância, que aro isso. Concordo enreano, co h. h. hock que, e seus Principles o Historical Linguistics, deois de analisar os ercursos da linuísica isrica na aualidade, conclui: Vale noar que, ao lono desse ercurso, no se conduiu a refeo sobre a linuísica isrica e sua rica a ua colea “revoluo”, as anes a odicaões — ela incororao de conceios que rovara ser úeis e sucieneene ioranes ara sere adoados, e rejeiando (ou inorando) ouros (1986: VI).
E 1977, no seu discurso coo residene da Linuisics Sociey o Aerica — Rethinking Linguistics Diachronically (1979: 275) —, J. h. greenber assue o crescene ineresse ela linuísica isrica e o aueno do ael dos aores diacrônicos na eoria sincrônica. Ara que uios cainos so indicadores de que coea eles a enrar e vrios níveis coo aricianes na esruura elanaria da cincia da linuae. Ressalva, enreano, que essa nova ace da linuísica coneorânea no indica que se ena oso abaio a dicooia saussuriana que oôs a abordae sincrônica à diacrônica, as que udou a relao enre elas na coreenso do enôeno linuísico, levando as anlises sincrônicas a ornare-se dinâicas. Dia-se, alis, que isso j vina sendo rooso elos esruuralisas do Círculo de praa, nos idos de 1920, as se diluiu no rocesso de desenvolvieno dos esruuralisos e oseriorene dos eraivisos que se encainara ara raar as línuas coo enôenos a-isricos. Quando a LSA assue essa realidade, de ao esava “ocialiando” aos que coeara a surir na década anerior. Vale desacar que, a arir do Sisio do teas, oraniado or W. Leann e Y. malkiel, e 1966, coeara a suceder-se, e vrios onos, enconros, seinrios e conressos sobre a linuísica isrica, suas ersecivas, seus avanos e j e 1973 ocorre o First International Congress o Historical Linguistics. Sabeos odos que, na linuísica eeônica de eno, oi de sinicao crucial ara os desinos da linuísica isrica o clssico da onoloia eraiva, Sound Pattern o English (1968), de Cosky e halle, e que aruenos diacrônicos so considerados ara as inerreaões da eoria 24
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onolica adro. Roe-se assi a urala que anaoniava as abordaens sincrônica e diacrônica. Recorde-se que arios aneriores de m. halle so os redecessores de roosas que vincula diacronia/sincronia no anual de onoloia anes reerido. Coneoraneaene ao que aconecia nas oses da onoloia eraiva, coea a oar vulo, a arir de 1966, as roosas de W. Weinreic, Labov e m. hero, ublicadas e 1968 nos Fundamentos empíricos para uma teoria da mudança linguística, undadas nos rabalos de cao recedenes de Labov e mara’s Vineyard e Nova York, nos esudos de conao linuísico de Weinreic e na eerincia dialeolica de m. hero. Esava lanada no cao a eoria da variao e udana da sociolinuísica aericana. Assi, concoianeene se esarava a oosio eodolica que anaoniava os éreis conceios saussurianos e abé se volava a linuísica ara os dados das línuas enquano enôenos isricos, deois de rioroso jeju que ecluía o corpus de dados da eodoloia e da anlise linuísicas. O eo clssico de 1970 (ublicado no Brasil e 1976) de p. Kiarsky “Linuísica isrica” — úlio caíulo dos Novos horizontes em linguística, oraniado or J. Lyons, veicular ara u úblico ais alo as relaões enre aruenos diacrônicos e sincrônicos na anlise onolica sincrônica e rocessos diacrônicos. Nesses rabalo, Kiarsky aleja, ao nali-lo, que o ndulo enre eoria linuísica e linuísica isrica ena ceado à osio de equilíbrio (id.: 304). No que se reere à eoria onolica, o desejo de Kiarsky se conrou. Enreano, arece ainda lone de equilibrar-se o ndulo que balana enre as eorias linuísicas essencialene a-isricas, que no aceia aruenos isricos ara aereioare-se, e as caadas eiricisas que, a arir dos dados, evidencia realidades scio-isricas das línuas. A baala ocorre aora nessa rene. Desses conronos (aesar de oros e eridos) crescido sucessivaene, e co sucesso, as eorias que busca a coreenso do enôeno da linuae uana ano na sua ace biosíquica quano na scio-isrica. O reconecieno da coleenaridade — arece-e que ossível — desses cainos que corre aralelos ser a ea de ua eoria elicaiva abranene ara a linuae uana. 2
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Surreende que o suerido or Kiarsky e 1970 ena oado ruos indeendenes e oje leos ericos eraivisas que rabala co udana linuísica que no reconece a sociolinuísica e vice-versa. No reerido eo, se ara que ais orienaões so coleenares, elo enos no que se reere à queso basilar da linuísica isrica, que é a udana linuísica: As esquisas que ocalia o coneo social da ala e a aquisio da linuae ela criana colea a abordae dessa queso undaenal que é a das udanas… As oras e ronúncias varianes, indeendeneene de sua conscieniao elo alane, ode coner conoaões sociais caaes de infuenciar o curso das udanas (1976: 292).
U indicador ineressane de que al divrcio erdura e no a coleenao suerida or Kiarsky es no caíulo “Linuísica isrica” de R. Coaes, ublicado e 1987 nos New Horizons in Linguistics 2, abé oraniado or J. Lyons. Aí ca aene que no converia os eraivisas e os sociolinuisas na enaiva de u eoria coreensiva da udana. A orienao desse eo deonsra que a oo oi eia: rivileia-se, co quase eclusividade, as conribuiões das escolas sociolinuísicas — a aericana e a inlesa — ara a queso da udana e ouco se enciona coo o roblea é raado nos eraivisos. A coleenaridade suerida no eo anloo de 1970 no se aerialiou subsancialene no ercurso da linuísica isrica dessas úlias décadas, no senido de se consruir ua eoria da udana que conjuasse odelos eraivos e sociolinuísicos, as se dúvida, ara os que no ilia e ua ou oura ose, os cainos aberos so roissores.
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