Mensagens - Fernando Pessoa Análise Mensagens – Fernando Pessoa Brasão – As Quinas Quinta/ D. Sebastião, Rei de Portugal O livro mensagens é dividido em três partes: Brasão, Mar português e O encoberto. Essa primeira parte recebe esse nome, Brasão, por ter sua estrutura escrita como a do Brasão português. Esse brasão é composto por sete castelos e cinco quinas. Assim Fernando pessoa escreve essa primeira parte do livro. Em “Os castelos”, castelos”, Fernando Pessoa relata a história dos reis e rainhas de Portugal, contados em sete poemas, como o número de castelos no Brasão. Em “As quinas”, como no brasão, Fernando Pessoa conta em cinco poemas os pontos cruciais da história de Portugal. O quinto poema, que encerra essa parte, relata a história de D. Sebastião, o último rei da dinastia Avis. D. Sebastião sai de Portugal com o intuito de reconquistar Jerusalém ao catolicismo. Nisso havia interesses materiais, envaidecedores e religiosos. D. Sebastião queria grandeza – como cita Fernando no poema – mas não a conseguiu. Na luta por essa conquista, houve batalhas muito violentas, nas quais dois terços do exercito português morreram. Ao fim da “bagunça”, “bagunça”, uma simples pergunta: Onde está o Rei D. Sebastião? Sebastião? Será que morto? Mas onde está o corpo? Talvez tivesse tivesse fugido... ou teria sido seqüestrado? Enfim, o corpo sumiu e jamais foi encontrado. Assim, Fernando Pessoa escreve este poema, que retrata a “loucura” de D. Sebastião, loucura essa que faz bem ao homem, como afirma Fernando Pessoa ao fim do poema quando diz que “sem loucura o homem [...] é um cadáver adiado que procria”. Fernando pessoa encerra a parte “As quinas” do livro Mensagens (5ª parte) relatando a história de D. Sebastião por considerar o 5º ponto o mais elevado. Isso envolve uma questão metafísica, pois quando se olha uma pirâmide de cima para baixo, por exemplo, visualizamos quatro pontos iguais, os quatro cantos da pirâmide. Olhando de frente, visualizamos um ponto superior, a ponta da pirâmide, o quinto ponto, o mais elevado. Assim era considerado D. Sebastião em Portugal, alguém superior. A principal mensagem transmitida nesse poema por Fernando Pessoa foi a questão dos sonhos. No poema, Fernando Pessoa chamou de loucura. D. Sebastião sonhava em conquistar conquistar Jerusalém para o catolicismo, mas para muitos, esse sonho era visto como loucura, contudo era apenas um sonho. Assim, se substituirmos as palavras louco e loucura no poema respectivamente por sonhador e sonho, a mensagem será transmitida transmitida de forma perfeita e muito mais direta: “Sonhador, sim, sonhador, porque quis grandeza Qual a sorte não quis dar Não coube em mim minha certeza; Por isso onde o areal está Ficou meu ser que houve, não o que há Meu sonho, outros que me o tomem Com o que nele ia Sem o sonho que é o homem Mais que a besta sadia, Um cadáver adiado que procria?
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Mensagem por Fernando Pessoa
. -ilustrada por Carlos Alberto Santos, e... ... anotada por João Manuel Mimoso . - Introdução a BRASÃO . A primeira parte de Mensagem é curiosíssima na ideia que a estruturou: considera uma versão do brasão real português utilizado no século XV e a cada uma das suas partes relevantes associa um poema relativo a Portugal. O Brasão tem dois campos: o escudo central que é o campo dos cinco escudetes azuis com besantes brancos a que chamamos "quinas", e a bordadura periférica que é o campo dos castelos (ver a figura abaixo). Cada um destes campos inspirou um poema adequado: "O dos Castelos" refere-se à terra (ou mais genericamente à materialidade) e consiste numa descrição geográfica da Europa e da posição de Portugal nela; "O das Quinas" ( segundo a lenda as quinas representariam as cinco chagas de Cristo) refere-se à divindade, ao Deus Cristão cuja religião se entrelaça indissociavelmente com a história de Portugal e ao sacrifício da felicidade à obrigação para com a História (genericamente representa, assim, os valores espirituais). Nenhum dos campos é explicitamente dedicado ao povo português: Mensagem é um poema sobre elites (e, creio, também para elites). Aos poemas relativos aos Campos, segue-se um conjunto de poemas chamado "Os Castelos". A cada um dos sete castelos do brasão associa-se um herói (incluindo o mítico Ulisses) ou um monarca que pela sua acção tenha moldado a História de Portugal de uma maneira materialmente relevante. Segue-se, em "As Quinas", um conjunto de cinco poemas dedicados a figuras portuguesas que, por uma razão ou por outra, foram vítimas da engrenagem implacável da História, e dela sofreram as consequências (tais como o Infante Santo ou D.Sebastião). Num caso realça-se o triunfo da espiritualidade ("D.Fernando Infante de Portugal"), mas o tema comum é a infelicidade terrena. .
Uma parte individual, chamada "A Coroa", distingue com um belo poema o cavaleiro que combinou em si as qualidades de comando do Rei Artur, a bravura de Sir Lancelote e a piedade pura de Sir Galahad: Nuno Álvares Pereira. Finalmente "O Timbre" (que no sécXV era uma espécie de dragão conhecido na Mitologia como grifo) justifica três poemas referidos aos três alicerces da política de expansão portuguesa: o Infante D.Henrique que a iniciou, D.João II que apontou a meta das Índias e traçou o futuro de Portugal, e Afonso de Albuquerque que foi o arquitecto e o braço do Império Português do Oriente. . Cada uma das partes do Poema inclui uma divisa ou epígrafe em latim e que em "Brasão" é: BELLUM SINE BELLO (literalmente "Guerra sem a guerra") que eu, não sendo latinista, traduziria por "Guerra sem combate". Este parece ser, pois, o mote que Fernando Pessoa associaria a Portugal através da lição da sua história e, como tal, merece-me um curto comentário, sobretudo porque, de certa maneira, me recordou o Fado Tropical do Chico Buarque (e do Ruy Guerra) em que ele diz pela boca de um português-brasileiro da época dos holandeses: "Meu coração tem um sereno jeito e as minhas mãos o golpe duro e presto, de tal maneira que depois de feito, desencontrado eu mesmo me contesto. Se trago as mãos distantes do meu peito é que há distância entre a intenção e o gesto...". BELLUM SINE BELLO é um ideal português de paz a que hoje se convencionou chamar "brandos costumes". "Guerra sem combate" é o poder associado à recusa consciente da violência, recusa essa que enobrece o poder. A divisa poderia igualmente ser "A Paz dos fortes" embora, claro, lhe faltasse então a subtileza da epígrafe escolhida por Fernando Pessoa! Uma outra explicação da epígrafe (que imaginei não porque me pareça provável mas apenas para exemplificar as dúvidas que se deparam a quem tenta interpretar alegorias alheias) poder-se-ia basear na tradução alternativa "Guerra sem armas". Neste caso a divisa representaria um ideal de conquista espiritual e humana (pela difusão da cultura portuguesa e não apenas da religião) que foi no passado um importante vector da expansão portuguesa e seria no futuro, presumivelmente, a via para o Quinto Império. A cultura é, afinal, o único remanescente da colonização que não é efémero... . Brasão inclui 19 poemas, muitos dos quais verdadeiramente extraordinários. Todos valem a pena ler! Eis alguns dos meus favoritos, com links directos para
as respectivas páginas, bem como uma selecção de grandes versos e frases escolhidas que ofereço à vossa atenção: "O dos Castelos" é um dos melhores poemas do conjunto. É nele que o poeta diz que A Europa fita com olhar esfíngico e fatal o Ocidente- o rosto com que fita é Portugal ! De "O das Quinas" (lembre-se que o nome refere O Campo das Quinas no brasão português) pode não se gostar à primeira, mas aconselho a leitura até se mudar de opinião. É nele que Pessoa escreve: Os Deuses vendem quando dão: compra-se a glória com desgraça . e também o verso maravilhoso: Foi com desgraça e com vileza que Deus ao Cristo definiu: assim o opôs à natureza, e Filho o ungiu . Em "Ulisses" escreve Pessoa uma frase famosa: O mito é o nada que é tudo. "D.Tareja" tem uma singular beleza. É neste poema que se encontra o verso:
As nações todas são mistérios, cada uma é todo o mundo a sós. Ó mãe de reis e avó de impérios, vela por nós !
"D.Dinis" é uma sucessão de grandes versos (tantos que para os citar necessitaria uma transcrição integral do poema!) sugerindo imagens dos pinhais plantados pelo rei-lavrador e da sua contrapartida futura nas caravelas da Descoberta. Em "D.João, O Primeiro" diz Pessoa: O homem e a Hora são um só quando Deus faz e a História é feita.
"D.Fernando, Infante de Portugal" (também conhecido como "Gládio") é, para mim, o melhor poema de Brasão e um dos melhores de Mensagem. IMPERDÍVEL!! Finalmente em "O Infante D.Henrique" Pessoa precisa apenas de cinco versos para demonstrar, quase com desdém, a sua extraordinária craveira. 3. Morte – 3ª Parte “O Encoberto”
Morte das energias de Portugal simbolizada no “nevoeiro”; afirmação do sebastianismo representado na figura do “Encoberto”; apelo e ânsia messiânica da construção do Quinto Império.
A terceira parte ? O Encoberto ? se fixa na figura de D. Sebastião e abrange desde o seu desaparecimento, até a fase de declínio da nação. O tema subjacente na obra é o das viagens, porém há nela um convite, para que o homem viaje para dentro de si, sem medos de suas próprias contradições, e que faça uma reavaliação de seus valores mais essenciais, para que permaneçam suas vontades mais íntimas, superando a superstição e a ignorância. Fernando Pessoa mostra que a história de Portugal, a exemplo do que acontece na história da humanidade, não passa de um desfile sinuoso, enigmático, de gestos e atos cegos, cujo sentido verdadeiro é ignorado.Se não houver determinação e desprendimento para perseguir um ideal, o homem não passará de um morto-vivo.Um dos poemas mais belos e conhecidos de Fernando Pessoa está na obra Mensagem e chama-se : Mar PortuguêsÓ mar salgado, quanto do teu salSão lágrimas de Portugal!Por te cruzarmos, quantas mães choraram,Quantos filhos em vão rezaram!Quantas noivas
ficaram por casarPara que fosses nosso, ó mar!Valeu a pena? Tudo vale a penaSe a alma não é pequena.Quem passar além do BojadorTem que passar além da dor.Deus ao mar o perigo e o abismo deu,Mas nele é que espelhou o céu. A Terceira Parte de Mensagem, O Encoberto, é quase inesperada e totalmente extraordinária: Fernando Pessoa retoma o tema só indiciado em "A Última Nau" e precisa o que entende pela "Distância" que haveremos de conquistar. Trata-se do advento do Quinto Império do Mundo, um império de cultura, paz e harmonia entre os povos que será liderado por um português- O Encoberto, O Desejado, o Rei ou D.Sebastião, como é indistintamente chamado. Nesta Parte vai intercruzar profecias, mitos antigos, símbolos de vária origem, e factos históricos sempre orientado por três vectores básicos: Portugal que dorme e que tem que despertar; o Quinto Império que háde seguramente ser estabelecido mas que depende desse despertar; e O Desejado que realizará a visão do poeta. Apesar de publicado numa época em que uma revisão ortográfica tinha já imposto um padrão muito semelhante ao que ainda hoje utilizamos, Fernando Pessoa optou por utilizar em Mensagem uma ortografia arcaica. Por isso, essa ortografia é parte do Poema ( e, de facto, está-lhe de tal maneira associada que choca ler "Mar Português" em vez do clássico "Mar Portuguez") e nos textos que transcrevi optei pela fidelidade à intenção do poeta, utilizando a ortografia em que ele quis que Mensagem fosse lido. Antes de passar à apresentação detalhada de cada parte de Mensagem, deixo-vos com um pensamento: sugere a lógica e comprova a história recente que uma agregação pacífica de estados baseada no entendimento terá necessariamente que advir dentro de alguns séculos, quando a tecnologia tal como a conhecemos já for irrelevante, a menos que a Humanidade sofra um retrocesso. Os grandes passos em frente são em geral fruto da influência de alguém extraordinário, com uma visão revolucionária e a capacidade de a levar à prática. Dentro de alguns séculos, quem sabe, talvez o encoberto se descubra e seja mesmo português (ou portuguesa). Afinal, como diz Pessoa, "Deus guarda o corpo e a forma do futuro"!