Tam Huyen Van
O Bosque de Bambus Coletânea de Poesias Haiku Zen
Claudio Miklos 1a. Edição Rio de Janeiro 2007
Tam Huyen Van
O Bosque de Bambus Coletânea de Poesias Haiku Zen
Claudio Miklos 1a. Edição Rio de Janeiro 2007
O Bosque de Bambus Copyright by Claudio Miklos 1st Edition
Cover Design, Layout e Arte Zen: Claudio Miklos Home Page Miklos Perceptual and Neosurrealistic Artworks: http://www.neosurrealismo.com
Título: O Bosque de Bambus – Coletânea de Poesias Zen Autor: Claudio Miklos Nº de Edição: 1 Ano de Edição: 2007
Local de Edição: Rio de Janeiro - RJ Editor: Claudio Miklos IBSN: 978-85-906901-5-3 Support Independent Publishing Apóie a produção literária independente Agradeço aos leitores deste trabalho pelo seu interesse, apoio e respeito às minhas palavras, mesmo que estas venham de um mero praticante sem nenhum mérito, e nada sagrado para oferecer. Que as palavras deste livro possam beneficiar, mesmo que limitadamente, a todos que o lerem.
Sarve Bhavantu Mangalam – Que Todos os Seres Sejam Felizes
O Bosque de Bambus
ÍNDICE
Introdução ....................................................................................9 Como ler este livro?.................................................................. 15 Origami ....................................................................................... 19 Eternidade .................................................................................. 20 Silêncio ........................................................................................ 21 Disputa........................................................................................ 22 Tristeza........................................................................................ 23 Liberdade.................................................................................... 24 A Noite........................................................................................ 25
O Bosque de Bambus A Face ..........................................................................................30 Conhecimento ............................................................................31 Sabedoria .....................................................................................32 Os Mistérios................................................................................33 Caminho ......................................................................................34 Narciso.........................................................................................35 Silêncio.........................................................................................36 Mistério........................................................................................37 Espírito ........................................................................................38 A Brisa .........................................................................................39 A Pedra ........................................................................................40 O Óbvio ......................................................................................41 Zabuton .......................................................................................42 Inutilidade....................................................................................43 Chinelos.......................................................................................44 Felicidade.....................................................................................45 Miragem.......................................................................................46 Esclarecimento ...........................................................................47 Interação......................................................................................48 Nuvem .........................................................................................49 A Criança.....................................................................................50 Abrigo ..........................................................................................51 Entardecer...................................................................................52 Sussurros......................................................................................53 Despertar.....................................................................................54
O Bosque de Bambus Os Ecos....................................................................................... 59 Ausência...................................................................................... 60 Homem Velho........................................................................... 61 Caligrafia ..................................................................................... 62 Cigarras........................................................................................ 63 A Chuva ...................................................................................... 64 Pescador...................................................................................... 65 Kin-in .......................................................................................... 66 O Pulso da Terra....................................................................... 67 Devaneio..................................................................................... 68 Alívio ........................................................................................... 69 Aurora ......................................................................................... 70 Tempo ......................................................................................... 71 O Sopro....................................................................................... 72 Ninguém ..................................................................................... 73 A Meta......................................................................................... 74 Jardim .......................................................................................... 75 Chuva........................................................................................... 76 A Voz .......................................................................................... 77 Lagarto ........................................................................................ 78 Verdades ..................................................................................... 78 Verdades ..................................................................................... 79 Cântico ........................................................................................ 80 O Grilo........................................................................................ 81 Satori.....
82
O Bosque de Bambus Memória.......................................................................................87 O Pardal.......................................................................................88 Cogumelo ....................................................................................89 Celebração...................................................................................90 Dança ...........................................................................................91 Beleza ...........................................................................................92 Fim de Verão..............................................................................93 Geixas...........................................................................................94 Pureza...........................................................................................95 Limpeza .......................................................................................96 Águas............................................................................................97 Purificação...................................................................................98 Viagem .........................................................................................99 A Partida................................................................................... 100 Montanha ................................................................................. 101 O Bosque.................................................................................. 102 O Frio ....................................................................................... 103 Corcovado................................................................................ 104 A Boneca .................................................................................. 105 Yamantaka................................................................................ 106 Nudez........................................................................................ 107 Plenitude................................................................................... 108 O Passado................................................................................. 109 Fotografia................................................................................. 110 O Rosto
111
O Bosque de Bambus As Nuvens ................................................................................ 116 Madrugada................................................................................117 Relicário .................................................................................... 118 Bailarina.....................................................................................119 Identidade.................................................................................120 Os Bambus...............................................................................121 A Queda.................................................................................... 122 Quiromancia.............................................................................123 O Nada......................................................................................124 O Toque....................................................................................125 A Espreita................................................................................. 126 Esperança..................................................................................127 Revelação..................................................................................128 O Passeio ..................................................................................129 Libélula......................................................................................130 A Face........................................................................................ 131 Tristeza...................................................................................... 132 Atrás das Nuvens .................................................................... 133 Vento......................................................................................... 134 Andorinha................................................................................. 135 Dez Mil Caminhos ..................................................................136
Sobre o Autor ........................................................ 139
O Bosque de Bambus
O Bosque de Bambus
Introdução A tradição poética clássica japonesa se caracteriza por uma busca do inefável através de um, digamos, lirismo sensível e natural. Isso significa que a arte poética, no Japão, sempre se fundamentou pela busca da sublimação, da transcendência das paixões humanas através do exercício sutil e ao mesmo tempo claro, direto — e em certos momentos, visceral — das manifestações criativas. Eis o aspecto da maravilhosa cultura japonesa que mais pode confundir algumas mentes: como é possível a arte japonesa pretender ser sutil e transcendente sem ao mesmo tempo se valer do romantismo diáfano e sonhador e das elucubrações racionais muito comuns nos movimentos criativos ocidentais? Na verdade, é preciso compreender corretamente o quanto a mente oriental se fundamenta no esforço por uma compreensão integrativa com a natureza (física ou sutil) para realizar suas aspirações espirituais e artísticas. Isso não significa, em absoluto, que a cultura oriental seja menos conflituosa ou injusta do que a ocidental, mas representa uma
O Bosque de Bambus profundas e de uma contemporaneidade muito mais pioneira do que qualquer movimento equivalente ocidental. A arte poética possui destaque e proeminência nas culturas chinesa e japonesa; isso ocorre não só pelo próprio talento no uso de belas palavras destas culturas, mas igualmente — e talvez definitivamente — pela extrema delicadeza e intensidade vocal das línguas orientais. O modo de expressão chinês e japonês, fundamentado nos ideogramas e nas vocalizações de padrão silábico sofisticado, dão o pano de fundo para que os versos e frases poéticas sejam imbuídos de uma plasticidade ainda maior do que os simples significados das palavras. Portanto, considero um erro interpretativo grave desconsiderar o papel fundamental da arte caligráfica (a pintura dos ideogramas chineses e japoneses) e da rítmica de verbalização silábica no resultado final dos poemas e poesias clássicos da tradição Waka , Renga, Haikai no Renga, Hokku ou mesmo da mais recente modalidade, a Haiku . A meta artística dos poetas japoneses não só enfatizava a realização sensível e espiritual dos significados e descrições, mas também freqüentemente incluía a harmonia dos traços caligráficos no
O Bosque de Bambus direcionada para a harmonia entre o Verbo e a Imagem , entre a vocalização das palavras e a beleza dos traços de sua escrita. A arte Hokku ( 発句 ) pode ser definida como parte de uma tradição poética antiga (séculos XIII-XVII) do Japão representada pela criação de poemas clássicos chamados Renga ( 連歌,
“versos associados”), que por sua vez se
caracterizam por longas seqüências de versos, divididos em grupos de 5-7-5 e 7-7 moras em sucessão (ou seja, sempre em continuidade de significados). Não possuem rima, e todos abordam temas associados à natureza, às estações e/ou a questionamentos diretos sobre aspectos delicados da existência. O primeiro grupo de versos 5-7-5 é denominado Hokku (“versos de abertura”), e dão o tema para toda a
seqüência Renga . O Hokku pode ser criado de forma independente de um Renga , mas deve sempre ser considerado como parte — ainda que teórica — de uma seqüência mais ampla de frases poéticas. Dois dos grandes nomes da tradição clássica Hokku/Renga foram Matsuo Basho (1644—1694) e Onitsura (1661—1738).
O Bosque de Bambus ( 俳諧の連歌, "prazerosos versos associados"). Tal estrutura se caracterizava pela ênfase em temas alegres, jocosos e banais (ou mundanos), e tornou-se muito apreciada. De fato, o padrão Haikai no Renga sempre denotou uma espécie de brincadeira com as palavras, e seu intuito era muito menos profundo do que as composições Renga anteriores. Portanto, é de todo errôneo denominar “Haikai” ao grupo isolado de 5-75 moras; o termo somente poderia ser associado aos poemas seqüenciais, englobando grupos alternados de 5-7-5 e 7-7 moras, e de cunho jocoso ou superficial. A antiga tradição Renga foi extremamente influenciada pela linguagem zen-budista assim como pelas características inerentes ao caminho religioso xintoísta. Vários autores importantes procuravam desenvolver sua poesia tendo como pano de fundo a proposta contemplativa zen, e boa parte da genialidade sutil dos Hokku e Renga (e até mesmo alguns exemplos de Haikai no Renga ) devem muito à proposta zen, assim como ao espírito japonês xintoísta de adoração às forças da natureza, às estações e aos seres vivos, profundamente arraigado no comportamento cotidiano da sociedade japonesa
O Bosque de Bambus No final do século XIX o poeta Masaoka Shiki cunhou o termo Haiku ( 俳句 ) para diferenciar sua reformadora maneira de criação poética a partir dos versos Hokku ligados à modalidade Haikai no Renga , já então muito
popular no Japão. Shiki foi um intelectual pertencente a uma nova geração japonesa admiradora da cultura ocidental, e ele via com restrições a tradição clássica dos Hokku, associada à linguagem budista; sua abordagem era denominada Shasei (“esboço da vida”), e preocupava-se mais com uma descrição direta e mais abrangente da vida. Além disso, Shiki optou pela criação de Hokku completamente dissociados dos versos seqüenciais, o que resultou na concepção particular de versos 5-7-5. Portanto, devemos considerar o termo “Haiku” como pertencente à classe muito mais mundana de textos poéticos japoneses, e fruto de uma criação isolada do padrão Renga . Neste ensaio eu gostaria de apresentar uma coletânea (2004-2006) de minhas criações em poesia Hokku e Haiku . Embora devamos considerar o fato de que o estilo Hokku/Renga possua
algumas características que são
impossíveis de reproduzir em linguagem e escrita não
O Bosque de Bambus da natureza. Crio aqui, portanto, uma linguagem particular de poesias Hokku . Em muitos casos me afastei das temáticas comuns desta arte e realizei obras de cunho mais reflexivo e abstrato, aproximando-me mais da concepção independente Haiku . Também neste caso minha intenção foi apresentar uma
assinatura própria, fundamentada no momento de inspiração e não à fria obediência de regras.
O Bosque de Bambus
Como ler este livro? E como devemos ler a poesia Hokku /Haiku ? Com certeza, jamais com um coração insensível aos detalhes sutis das palavras ali representadas, e que procuram falar sobre a maravilha da existência. O Haiku é é minimalista, simples, quase banal. A criação poética Zen procura atingir a nossa sensibilidade menos evidente, menos racional. Muito do sentido último desta poesia poderá ser captado por todos que possuam um olhar atento e uma mente livre. O exercício de percepção da beleza dos haiku depende muito de nossa capacidade contemplativa, nossa sensibilidade à linguagem sutil do mundo. Ao ler um haiku , nossa mente e coração devem estar afinados com a delicadeza do mundo. Perceber as sílabas, sentir o ritmo, captar o instante coloquial — eis as três pequenas regras para atingirmos o sentido da arte poética aqui apresentada. Para permitir um maior impacto na leitura dos versos,
O Bosque de Bambus varanda, um jardim, algum local silencioso e tranqüilo; leia as poesias com a alma livre de conceitos, e pré-conceitos. Apenas desta forma será possível que a experiência estética destes versos alcance a sua mente e coração em uníssono e — principalmente — sem conflitos. c onflitos. Belas palavras, se atingem a mente mas não o coração, tornam-se um frio conhecimento vazio de sonhos; se elas atingem o coração mas não a mente, transformam-se em ilusão romântica, e perdem sua sabedoria. Aquele que sabe receber belas palavras no coração e na mente em perfeita união, atingirá a sua correta plenitude e valor. A poesia zen não se lê ingenuamente, e nem racionalmente; ela é experimentada como em uma prática de simples e puro zazen , onde o nosso espírito deve se manter unido à nossa mente de uma forma fluida e casual, liberto de qualquer tipo de rigidez, paixão ou imprecisão. Desejo que todos os leitores desta obra possam usufruir da beleza desta arte milenar tanto quanto eu pude viver o prazer de sua realização.
O Bosque de Bambus
O Bosque de Bambus
Ilustração 1. Zhulin - Bosque (Floresta) de Bambus Arte Caligráfica Zen,
O Bosque de Bambus
Origami
O origami – borboleta viva em papel dourado.
O Bosque de Bambus
Eternidade
Grão de areia. Em sua pequenez, a eternidade.
O Bosque de Bambus
Silêncio
Pacificada, a mente permanece – silêncio zen.
O Bosque de Bambus
Disputa
Nuvem e lua disputam ansiosos minha atenção.
O Bosque de Bambus
Tristeza
Esta tristeza tocando meu coração – De onde veio?
O Bosque de Bambus
Liberdade
Quase um sonho: ver a dor no mundo, e saber-me livre.
O Bosque de Bambus
A Noite
Noite vestida de nuvens. As estrelas – onde estarão?
O Bosque de Bambus
Borboleta
Vem, borboleta! Toque meus dedos! Nada seria tão belo.
O Bosque de Bambus
Ser
Nascer, renascer. Que importa? Agora, eu sou – eis tudo.
O Bosque de Bambus
As Folhas
Três folhas secas à meus pés, sussurrando: "Impermanência".
O Bosque de Bambus
Mente
Mente búddhica. Aqui e agora, ser – nada mais simples.
O Bosque de Bambus
A Face
Face de Buddha. No leve sorriso, paz e vacuidade.
O Bosque de Bambus
Conhecimento
Conhecimento – chá demais para uma simples xícara.
O Bosque de Bambus
Sabedoria
Sabedoria – na xícara da mente, chá bem servido.
O Bosque de Bambus
Os Mistérios
Folhas Simsapa. Tantas quant'os mistérios da existência.
O Bosque de Bambus
Caminho
Grande Caminho. Além da cerca, onde? Qual a direção?
O Bosque de Bambus
Narciso
Sobre a pedra – e quem sabe de onde – narciso branco.
O Bosque de Bambus
Silêncio
O silêncio faz soar fundo na alma palavras mudas.
O Bosque de Bambus
Mistério
Não há mistérios. Apenas o Dharma – e grandes verdades.
O Bosque de Bambus
Espírito
Espírito Zen. Para quem se revela? Talvez ao vazio...
O Bosque de Bambus
A Brisa
Brisa soprando folhas secas no verão. Boa viagem!
O Bosque de Bambus
A Pedra
Pequena pedra, por que tão silente, sem nada revelar?
O Bosque de Bambus
O Óbvio
Quantas palavras são necessárias para dizer o óbvio?
O Bosque de Bambus
Zabuton
Pó no zabuton. No espelho da mente, nada a limpar.
O Bosque de Bambus
Inutilidade
As palavras vãs. Definem, inúteis, o imponderável.
O Bosque de Bambus
Chinelos
Chinelos velhos para pés cansados: que grande alívio!
O Bosque de Bambus
Felicidade
Saber encontrar o correto caminho: felicidade.
O Bosque de Bambus
Miragem
Buddha imóvel sob pequena árvore: miragem bonsai.
O Bosque de Bambus
Esclarecimento
Mente Búddhica. Num súbito instante, a claridade!
O Bosque de Bambus
Interação
O Tao da vida: por mim, ela passa; por ela, passo eu.
O Bosque de Bambus
Nuvem
O raio de sol, ond´estará? No céu, a nuvem passa...
O Bosque de Bambus
A Criança
Sorriso fugaz em rosto de criança: Iluminação.
O Bosque de Bambus
Abrigo
Céu – o abrigo de nuvens e estrelas. Vento, qual seu lar?
O Bosque de Bambus
Entardecer
Frágil beleza: gotas de sol dourando o entardecer.
O Bosque de Bambus
Sussurros
Toque do sino, sussurros n´escuridão – fim do zazen.
O Bosque de Bambus
Despertar
Velho relógio, as horas passam; algum dia, des erto.
O Bosque de Bambus
Orvalho
Frágil e leve – orvalho sob a folha. Quando cairá?
O Bosque de Bambus
Pureza
Três coisas puras: brisa noturna, bonsai em flor – e a paz.
O Bosque de Bambus
Passagem
Murmurando, me segreda o riacho: "Tudo passará!"
O Bosque de Bambus
Ignorância
Duvidas do Zen? Na verdade, és tolo – e não sabes rir.
O Bosque de Bambus
Os Ecos
Gargalhada zen: ecos vazios numa voz cristalina.
O Bosque de Bambus
Ausência
Cai uma folha. Em seu lugar, ausência – terna saudade...
O Bosque de Bambus
Homem Velho
O homem velho. Passos lentos, alma só. Os sonhos, onde?
O Bosque de Bambus
Caligrafia
Traços precisos, nanquim negro no papel – caligrafia.
O Bosque de Bambus
Cigarras
Voz das cigarras – cantando mil sutras ao entardecer
O Bosque de Bambus
A Chuva
Cinza e branco – amanhecer de nuvens. Em breve, chuva!
O Bosque de Bambus
Pescador
Velho pescador. Atento, espera a dádiva do mar.
O Bosque de Bambus
Kin-in
Passo a passo, pés descalços no zendo: kin-hin matinal.
O Bosque de Bambus
O Pulso da Terra
Passo a passo, pés firmes no Agora – pulso da Terra.
O Bosque de Bambus
Devaneio
Noite sem luar – Lá, o negro silêncio; aqui, mudo sonhar.
O Bosque de Bambus
Alívio
Calor de verão – até sombras desejam o frescor da noite.
O Bosque de Bambus
Aurora
Prenúncio do sol; dourada, a aurora veste o azul.
O Bosque de Bambus
Tempo
Noite sem fim – e o tempo escorrendo entre meus dedos.
O Bosque de Bambus
O Sopro
Dançando no ar fumaça de incenso – sopro de Buddha.
O Bosque de Bambus
Ninguém
Reflexo de mim: no espelho, um rosto – na mente, ninguém.
O Bosque de Bambus
A Meta
Falcão em vôo – Seu destino na terra, quem pode saber?
O Bosque de Bambus
Jardim
No jardim do Zen – vento, livre passagem; desejos, jamais!
O Bosque de Bambus
Chuva
Nuvens distantes encharcadas de chuva – a tarde chora.
O Bosque de Bambus
A Voz
No bambu oco, vento leste a soprar. Ouve sua voz?
O Bosque de Bambus
Lagarto
O sol esquenta sonolento lagarto – hora da sesta!
O Bosque de Bambus
Verdades
O som do vento revelando verdades imediatas.
O Bosque de Bambus
Cântico
Brisa cantando mil sutras na noite – eu, simples ouvinte.
O Bosque de Bambus
O Grilo
Grilo – estás cantando ou apenas choras na noite?
O Bosque de Bambus
Satori
Sino de bambu – em sua canção, terna voz do Satori.
O Bosque de Bambus
Cata-vento
Cores girando; papel, risos e prazer – um cata-vento.
O Bosque de Bambus
Sombras
Na parede, as sombras denunciam o passar das horas.
O Bosque de Bambus
A Malabarista
Suspensa no ar por pouco, a aranha malabarista!
O Bosque de Bambus
Ansiedade
Ansiosa, a meia-lua espera o fim do dia.
O Bosque de Bambus
Memória
Erros passados – como sombras, persistem na memória.
O Bosque de Bambus
O Pardal
Só em seu ninho, sonhando com as nuvens – pequeno pardal.
O Bosque de Bambus
Cogumelo
Subitamente vivo em folhas mortas – um cogumelo!
O Bosque de Bambus
Celebração
Que linda visão: pássaros a celebrar, no céu da manhã.
O Bosque de Bambus
Dança
Dançando no ar, frágil beija-flor – sonho em movimento.
O Bosque de Bambus
Beleza
Quisera saber: das flores de verão, qual a mais bela?
O Bosque de Bambus
Fim de Verão
Final de verão – a brisa comemora soprando folhas.
O Bosque de Bambus
Geixas
Rosas ao vento – leves bailarinas com gestos de gueixa.
O Bosque de Bambus
Pureza
A flor de lótus – branca pureza em um lago dourado.
O Bosque de Bambus
Limpeza
Dia de chuva – gotas, em toda parte lavam corações.
O Bosque de Bambus
Águas
Final de verão – nas esquinas do mundo, águas de março.
O Bosque de Bambus
Purificação
Chove nas ruas. E as dores do mundo, purificadas.
O Bosque de Bambus
Viagem
Passos firmes no Caminho – viajante, eis o meu nome.
O Bosque de Bambus
A Partida
A lua se foi; vaga-lumes partem em busca do dia.
O Bosque de Bambus
Montanha
Branca montanha esconde entre brumas sua beleza.
O Bosque de Bambus
O Bosque
Bosque de Ipês – coberto pelas cores da primavera.
O Bosque de Bambus
O Frio
Noite brumosa; Até mesmo a lua treme de frio!
O Bosque de Bambus
Corcovado
Nos céus, neblina – Corcovado envolto em mistérios…
O Bosque de Bambus
A Boneca
Abandonada, sem carinhos infantis – velha boneca.
O Bosque de Bambus
Yamantaka
O Yamantaka – vozes reverberando bênçãos guturais.
O Bosque de Bambus
Nudez
Céu entre nuvens – chance para a lua mostrar-se nua.
O Bosque de Bambus
Plenitude
Num jorro de luz, raio de sol enche o copo vazio.
O Bosque de Bambus
O Passado
Na velha foto, o passado exposto em cores mortas.
O Bosque de Bambus
Fotografia
Fotografia – congelando no tempo sorrisos mudos.
O Bosque de Bambus
O Rosto
Rosto de mulher ao longe – transbordando suavidade.
O Bosque de Bambus
Despedida
Ao fim da noite, estrela a cintilar – será um adeus?
O Bosque de Bambus
Arco-íris
Após a chuva, arco-íris celebra o fim do dia.
O Bosque de Bambus
A Poça
A poça d´água – espelho mágico das folhas e nuvens.
O Bosque de Bambus
O Agora
Nascer, renascer, que importa? Agora, eu sou: eis tudo.
O Bosque de Bambus
As Nuvens
Fios brancos de nuvem, num céu imenso. Para onde vão?
O Bosque de Bambus
Madrugada
O tempo passa – além das altas horas, o sol espera.
O Bosque de Bambus
Relicário
Relicário – olha-me em silêncio um Buddha oco.
O Bosque de Bambus
Bailarina
Solitária, negra ave bailando em brancas nuvens.
O Bosque de Bambus
Identidade
Meu rosto, mudo. Diante do espelho, outra pessoa.
O Bosque de Bambus
Os Bambus
Meus olhos fixos na paisagem – ao longe, bambus ao vento.
O Bosque de Bambus
A Queda
Ao vento, a flor dança no alto galho; súbito, a queda!
O Bosque de Bambus
Quiromancia
Nas palmas das mãos linhas de uma vida jamais prevista.
O Bosque de Bambus
O Nada
Copo de vidro – meio-vazio, quase cheio de nada.
O Bosque de Bambus
O Toque
Pingos de chuva – tocam, delicados, a alma da terra.
O Bosque de Bambus
A Espreita
Ao amanhecer, meia-face da lua a me espreitar.
O Bosque de Bambus
Esperança
A Esperança – pousada na janela ao fim da tarde.
O Bosque de Bambus
Revelação
Sob o céu azul, a tarde revela as cores da vida.
O Bosque de Bambus
O Passeio
Noite de verão. Serenas, as estrelas passeiam no céu.
O Bosque de Bambus
Libélula
A libélula asas de dez mil cores dançando no ar.
O Bosque de Bambus
A Face
Grande Mistério: No reflexo d’água, a face da lua.
O Bosque de Bambus
Tristeza
Quanta tristeza: só, a cigarra canta ao fim da tarde.
O Bosque de Bambus
Atrás das Nuvens
Atrás das nuvens a lua, ansiosa por liberdade.
O Bosque de Bambus
Vento
Ao som do vento velho sino de bambu a cantarolar.
O Bosque de Bambus
Andorinha
Em meu caminho, olhando-me serena — a andorinha.
O Bosque de Bambus
Dez Mil Caminhos
A cada passo, meu coração percorre dez mil caminhos.
O Bosque de Bambus
Sobre o Autor Nascido em 1962, Claudio Miklos iniciou sua prática no budismo aos 17 anos, através da tradição zen Soto. Participou de retiros e freqüentou locais de prática na região do Rio de Janeiro. Aos 28 anos começou a organizar grupos de estudos sobre o Budismo tradicional, sempre na qualidade de praticante zen leigo. Em 1994 viajou à China (Hong Kong) onde realizou uma peregrinação pessoal a diversos templos budistas da região do sul da China, com o objetivo de conhecer mais profundamente a tradição espiritual a qual se dedica. A partir de 1996 filiou-se informalmente à escola zen vietnamita - escola do Inter-ser (Tiep Hien) - liderada por Thich Nhat Hanh, cujos ditames e orientações vem seguindo desde então. Em 2001 recebeu, em cerimônia formal ocorria durante um retido de Plena Atenção em Teresópolis coordenado pelos monges Phap An e Phap Ung, da tradição Inter-ser e organizado pelo Centro Lótus, o Nome de Dharma Tam Huyen Van (Maravilhosa Nuvem do Coração).
O Bosque de Bambus Buddhista Brasileiro, organização sem fins lucrativos que visa fomentar o conhecimento e a tradição budista no Brasil. Miklos é também artista plástico, músico e escritor, com mestrado em Ciência da Arte. Além de seu trabalho em arte neosurrealista e perceptiva, igualmente realiza trabalhos em arte ShuFa (caligrafia chinesa), arte bonsai e origami.
Site oficial: http://neosurrealismo.com E-mail de contato:
[email protected]
Pratique a Paz.